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O SOFRIMENTO PSÍQUICO DE ADOLESCENTES QUE COMETEM

AUTOLESÃO.

RESUMO

Os casos de autolesão em adolescentes se expandiram muito, assim fui impelida a investigar


como os aspectos psicossociais favorecem no sofrimento psíquico, consequentemente,
provocando a autolesão de jovens. Para tal, foi utilizado a abordagem teórica a partir da
psicanálise a fim de compreender os fatores psíquicos, portanto, o objetivo geral dessa
pesquisa é analisar como o sofrimento psíquico pode contribuir no processo de autolesão em
adolescentes, e os objetivos específicos são: identificar as principais causas que justificam a
autolesão, investigar como os aspectos psicossociais favorecem na potencialização desse
sofrimento. O presente estudo trata de uma pesquisa bibliográfica exploratória e descritiva de
abordagem qualitativa. As seleções das fontes de interesse sobre o tema foram feitas a partir
de critério como publicações em revistas nacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Autolesão. Psíquicos. Psicossociais. Adolescentes.

ABSTRACT

The cases of authentication in adolescents expand a lot, as well as impel to investigate how
psychosocial aspects favor psychological suffering, consequently, provoking the
authentication of young people. To this end, a theoretical approach was used based on
psychoanalysis in order to understand psychological factors, therefore, the general objective
of this research is to analyze how psychological suffering can contribute to the authentication
process in adolescents, and the following objectives are: to identify as the main causes that
justify authentication, investigate how psychosocial aspects favor the potentiation of this
suffering. The present study deals with an exploratory and descriptive bibliographic research
with a qualitative approach. How the selections of sources of interest on the topic were made
based on criteria such as publications in national magazines.

KEYWORDS: Self-injury. Psychic. Psychosocial. Teens.

INTRODUÇAO

Vista como uma forma pessoal de reagir a emoções desagradáveis, a autolesão está
associada a problemas de dificuldade interpessoais que levam ao pensamento negativo,
gerando sentimentos como: raiva, tensão, angústia e ansiedade, provocando um sofrimento
psíquico. Apesar desse tema ter sido discutido de maneira recente em nosso país, estudos -
que serão discutidos nesse trabalho - mostram que a prática de cortar a pele, arranhar-se,
beliscar-se, morder-se, puxar cabelos e ingerir produtos tóxicos, são as forma mais
costumeiras de se cometer a autolesão.
Então, os autores Barrocas, Hawton & James, Muhlnkaamp, Nock & Mendes,
Whitlock, Eckenrode e Silverman (apud OTTO ;SANTOS, 2015) definem a auto lesão como
um ato de violência infligido a si próprio sem a intenção de suicídio, embora sua constante
repetição possa gerar graves danos ao corpo e ocasionar a morte.
“Nos dias de hoje, vivemos num mundo altamente competitivo, numa sociedade
imediatista que impõem com urgência resoluções rápidas, práticas sem tristeza nem dor”
(VILHENA; PRADO, 2015. p. 95). Partindo desse pressuposto percebe-se como o modelo da
sociedade de consumo no qual estamos imersos interfere nas relações humanas, deixando-as
frágeis de forma a afetá-las pelo individualismo, ideia de autonomia plena e competitividade.
O “ter” ocupa o lugar de importância do “ser”, e a felicidade pode ser vendida e consumida de
forma efêmera. Em meio a esse turbilhão de cobranças sociais, para o adolescente as
mudanças apresentam-se de formas mais intensas, o que contribuem para que ele se sinta
confuso ou perdido. Tais cobranças podem refletir de forma negativa em sua saúde psíquica.
Segundo o filósofo Renato Janine Ribeiro, “estar triste significa sinal de fraqueza”
(VILHENA;PRADO,p.95). Staley Hall considerou a adolescência como um novo nascimento,
um período dramático marcado por fortes conflitos e tensões ( ADÃO ano , p. 8). Discute
sobre a fase da adolescência como um estágio no qual a pessoa experimentava todas as etapas
anteriormente do seu desenvolvimento pela segunda vez ou seja, adolescentes
experimentariam de novo a infância, mas em um nível mais complexo. Por isso, para suportar
essas tensões vividas nessa fase de vida, esses jovens buscam uma forma de escoar sua dor.
Dessa forma, a motivação para essa pesquisa foi suprir, em alguma medida, algumas
lacunas sobre o tema no tocante às especificidades aqui expostas. Percebendo através de
algumas leituras o quanto os casos de autolesão em adolescentes tinham se expandido, fui
impelida a investigar como os aspectos psicossociais favorecem no sofrimento psíquico,
consequentemente, provocando a autolesão desses e dessas jovens. Para tal, utilizei a
abordagem teórica a partir da psicanálise a fim de compreender os fatores psíquicos.
Portanto, o objetivo geral dessa pesquisa é analisar como o sofrimento psíquico pode
contribuir no processo de autolesão em adolescentes, e os objetivos específicos são:
identificar as principais causas que justificam a autolesão, investigar como os aspectos
psicossociais favorecem na potencialização desse sofrimento.
SOBRE A AUTOLESÃO

Atualmente, na quinta versão do manual estatístico e diagnóstico de Transtornos


Mentais – DMS-5, a auto lesão não suicida aparece como uma dimensão diagnóstica
independente. Entretanto, foi colocada na sessão III na categoria dos transtornos que necessita
de mais pesquisas e revisão dos seus critérios diagnósticos Américan Psychiatric Association
(2014, apud FONSECA; SILVA; ARAÚJO; BOTTI; 2018). É importante ressaltar que A
Organização Mundial de Saúde (OMS) inclui a autolesão no contexto da violência
autoinflingida, correspondendo ao uso intencional de força física real ou de ameaça contra si
próprio Organização Mundial de Saúde - OMS ( 2014, apud FONSECA; SILVA; ARAÚJO;
BOTTI; 2018). De acordo com o autor, existem vários tipos de violência autoinflingida, sendo
elas: tentativas de suicídio, suicídio, autoflagelação, autopunição e autolesão (BRASIL,
2016). Esse texto também mostra que existe um trabalho de vigilância lançado pela OMS em
2016, o Practice manual for establishing and maintaining surveillance systems for suicide
attempts and self-harm (Manual e boas práticas para estabelecer e manter sistemas de
vigilância para tentativas de suicídio e autolesão). Portanto, esse monitoramento da autolesão
ajuda a identificar aspectos de comportamentos que são relevantes para a prevenção do
suicídio e para tratamentos alternativos (OTTO; SANTOS 2015).
Segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-v), a
automutilação ou autolesão consiste em várias formas de agressão que alguém possa cometer
a seu próprio corpo sem necessariamente a intenção de suicidar. As condutas autolesivas são
classificadas como Transtornos dos hábitos e impulsos, não especificados (CID F63.9) e
Transtorno disruptivo do Controle e da conduta não especificada (CID F1. 9) (FONSECA;
SILVA; ARAÚJO; BOTTI; 2018). Dessa forma, este comportamento pode ser percebido
tanto em pessoas com desenvolvimento típico - que pode estar associado ou não a tipos de
transtornos como o transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno de personalidade, o
transtorno autístico ou pessoa que convive com transtornos mentais graves.
Desse modo, os comportamentos autolesivos são, na maioria das vezes, classificados
como “movimento estereotipado com auto lesão” (REZENDE, 2017).

ADOLESCÊNCIA

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência compreende a faixa


etária de 10 a 19 anos, sendo de 10 a 14 a adolescência inicial, de 15 a 17 adolescência média,
de 17 a 19 a adolescência final (OMS, 1986). O conceito de adolescência começou a ser
construído em 1904, por Granville Stanley Hall (Hall apud Adão, 1994). Anteriormente,
atribui-se o conceito de meninos e meninas ao de jovem. Hall passou a ser considerado como
o pai da psicologia da adolescência por querer encontrar forma diferente para descrever esses
jovens. Ele foi o primeiro a falar no adolescente levando em conta sua singularidade, falando
sobre a turbulência que é vivida pelos jovens nesta fase de sua vida. Stanlley Hall ressalta
ainda que esse período de tempestade, estresse e forma radical de ser consistia numa forma
estereotipada a respeito do adolescente, assim como são considerados atualmente.

CARACTERÍSTICAS DO COMPORTAMENTO AUTOLESIVO E SUAS FUNÇÕES.

Compreendemos o comportamento autolesivo quando este é caracterizado pela


repetição do ato de se ferir ou ingerir substâncias provocando lesões. Geralmente, o objetivo
de tal atitude é diminuir as emoções negativas, como tensão, ansiedade e autosenso. A lesão
mais frequente é cometida com faca, agulha, lâmina ou outro objeto. São exemplos de
comportamentos autolesivos: cortar-se, morder-se, queimar-se, beliscar-se, socar-se, enfiar
objetos pontiagudos dar tapas e arrancar cabelos (REZENDE, 2017).
A automutilação ou autolesão afeta 20% dos adolescentes e pode estar associada a
transtornos psiquiátricos (WEINMANN; ZACHI, 2003).1 É mais comum em adolescentes
entre 12 a 15 anos, mas pode começar antes dos 7 anos. Mas, o que leva um adolescente a se
autolesionar?
Segundo Ryan K. et al (2008) o ato de ferir-se serve como “âncora para a realidade”,
proporcionando senso de autocontrole para pessoa que tem suas habilidades adaptativas
comprometidas (ZALESKI, 1986). Percebemos que é bastante comum ouvir relatos de jovens
que praticam autolesão como válvula de escape para o seu sofrimento. Em geral, esse
comportamento acontece porque acreditam que terão seus sentimentos de raiva, tensões, medo
e outros, aliviados. Ainda é relatado por eles que esses cortes feitos em seu próprio corpo é
um forma de aliviar o sofrimento psíquico vivido naquele momento. O ato de cortar os pulsos
ou outra parte do corpo pelos jovens geralmente acontece após um evento que deixa o
adolescente incapaz de tomar decisão frente aos obstáculos vividos.
A autolesão não suicida acontece não só uma vez, mas, várias vezes intencionalmente,
entretanto, sem intenção de se matar. É importante lembrar que essa prática não é bem vista

1
WEINMANN, Karina; ZACHI, Elaine. Automutilação afeta 20% dos adolescentes e pode estar associado a
transtornos psiquiátricos[Neurokinder Cuidado infantil] Disponível em <
https://www.neurokinder.com.br/2017/03/automutilacao-afeta-20-dos-adolescentes-e-pode-estar-associado-a-
transtornos-psiquiatricos/>
ou fácil de ser compreendida pela nossa sociedade, por não fazer parte de nossa cultura.
Portanto, é comum ouvir pessoas justificando como: falta de amor próprio, uma forma de o
adolescente chamar a atenção de alguém, ou até “falta de Deus”. É necessário perceber, no
entanto, que o jovem está em sofrimento psíquico, e não consegue sair dele sozinho.
Percebemos que é próprio do adolescente ser impulsivo, portanto, existe a dificuldade
para ele analisar com calma uma situação e conseguir responder às consequências de um
evento desagradável que viveu, algo difícil pra quem apresenta tal comportamento. Daí, as
dificuldades para esse jovem se apresentam, inclusive, relacionadas a fazer escolhas
adequadas para sua vida social.

PRINCIPAIS CAUSAS DA AUTOLESÃO

São várias as causas para o comportamento autolesivo, porém, a autolesão se


configura como sintoma em estados depressivos, crises de ansiedade, em momentos de
impulsividade, agressividade e em período de isolamento social e de desesperança ROSS &
HEATH; FAVAZ ( ano apud OTTO; SANTOS, 2015). Não é uma manifestação própria de
uma doença, ela se apresenta trazendo várias demandas.
A tomada de decisão é algo fundamental na vida do sujeito. Quando o adolescente não
consegue tomar decisões e sair de situações que o angustiam, os cortes servem como anestesia
emocional para suportar situações como: processo de luto, ansiedade, estresse, baixa
autoestima - até mesmo raiva de si mesmo e do outro - sofrimento provocado pelo abuso
sexual e tensões. Dessa forma, o adolescente consegue desviar o foco da atenção da dor
emocional para a dor física (RYAN et al 2008).
Existem também as questões neurológicas que são causas da autolesão. Quando
sentimos uma dor, várias regiões do cérebro são ativadas. A repetição do ato de se ferir em
algumas pessoas pode ser devido à dependência da B-endorfina, que é liberada quando há
danos corporais (RICHADSON; ZALESKI, 1986).
Por isso, lembranças estressantes, ansiedade ou depressão podem atuar como um gatilho
para ativar o comportamento autolesivo, pois envolve a memória autobiográfica e o
hipotálamo, bem como a amígdala que ativa respostas emocionais e comportamentais. Na
regulação emocional ocorre um problema na conexão que liga o sistema límbico e o córtex
cerebral. Tal problema pode estar associado à autolesão. O córtex órbito-frontal é responsável
pelo planejamento de ação, raciocínio, tomada de decisão, resolução de problema e ajuste
social do comportamento (ACOORVERDE, 2012). Portanto, se a adolescência já é um
período difícil onde o jovem passa por uma fase de curiosidade e busca por novas
informações, há uma necessidade de novas experiências que o cérebro “sente”.

A PSICANÁLISE E A DISCUSSÃO SOBRE A AUTOLESÃO.

Apesar de, na literatura nacional serem escassos os estudo epidemiológicos sobre


autolesão, especificamente, na adolescência, não podemos ignorar o fato de vivermos uma era
de patologização (FONSECA; SILVA; ARAÚJO; BOTTI; 2018). Ou seja, não é difícil ver
adolescentes buscando se enquadrar em um tipo de transtorno que muitas vezes ele já se
identificou através do Google. Acreditando que, nomeando seu sintoma, automaticamente,
desaparece sua dor.
Para tanto, é fundamental que o sujeito seja escutado de forma dialogada, ou seja, é
importante levar em conta essa espécie de patologização que o sujeito traz na análise. Deve-se
compreender que a rotina de vida hoje é pautada com base em muitas cobranças,
principalmente na vida social. Imaginemos que não é fácil fazer uma reorganização mental,
assim como mudanças no comportamento conveniente aos padrões sociais. Dessa forma, as
respostas dadas por esses jovens também mudaram, e, muitas vezes são interpretadas – a
menos ou a mais – como se fossem anormais.
Os profissionais da saúde mental devem entender e buscar amenizar o sofrimento, sem
esquecer que o sintoma - o “estranho” - faz parte do sujeito, é algo dele e há uma razão para
ele existir. Desta forma, o sofrimento psíquico passa e fica um resíduo que faz parte do
sujeito. O comportamento autolesivo é a forma que o jovem tem de mostrar que o sofrimento
trasbordou e precisa ser escoado por alguma via. Esse sintoma esta representado por um
conjunto de experiências subjetivas e uma vez resolvendo o sofrimento ficarão as lembranças.
Essas lembranças fazem parte da construção do sujeito e não há como apagá-las, porque elas
estão armazenadas no inconsciente.
Favaza (2006) relata que até o final da década de 1980 a maioria dos psiquiatras e
psicólogos considerava a autolesão como um comportamento singular “horrível” e “sem
sentido”, e que deveria estar de alguma forma ligada ao suicídio (FAVAZA 2006, apud
OTTO; SANTOS, 2015; p. 30). Passaram-se trinta anos e ainda são insuficientes as pesquisas
brasileiras que tentaram entender as especificidades deste fenômeno. Entretanto, há autores
que discutem de diferentes formas tais definições:

“Conhecida também como automutilação, a auto lesão é um tema que vem sendo
abordado recentemente no Brasil [...] Portanto, o termo “autolesão” neste estudo se
deu por ser uma tradução aproximada dos termos self injury utilizados amplamente
em publicação no exterior, além de o termo já ter sido usado em estudos brasileiros”
(BORGES, 2012; ARCOVERDE, 2013, apud OTTO; SANTOS, 2015; p. 30).

É relevante compreender a utilização do termo pelo fato de que “autolesão” seria mais
apropriado para descrever o fenômeno de que estamos nos reportando, e a “automutilação”
seria uma autolesão maior, tendo como característica a nucleação dos olhos e amputações de
membros, estando geralmente associada às psicoses (FAVAZA, 2006, apud OTTO;
SANTOS, 2015).
“Autores definem a autolesão como um ato de violência, infligindo a si próprio sem a
intenção de suicídio, embora sua constante repetição possa gerar graves danos ao corpo e
ocasionar a morte” (OTTO; SANTOS, 2015; p. 30). Por esse motivo, Hawton e James (2005)
sugerem que o termo autolesão é preferível à “tentativa de suicídio” ou à “parassuicídio”,
“sendo que a gama de motivos e razões pra o ato inclui várias intenções não suicidas”
(HAWTON & JAMES, 2005, apud OTTO; SANTOS, 2015; p. 30). Para os autores, mesmo
quando a morte é o resultado de um comportamento autolesivo, isso pode não ter sido
planejado.
Alguns teóricos mostram também que a “auto lesão ocorre nos transtornos alimentares
e no estresse pós traumático, relacionada principalmente à punição e ao domínio da angústia”.
Portanto, enquanto alguns sintomas são próprios de um determinado sofrimento, “a autolesão
se configura como um sintoma que se adapta a diferentes demandas” (OTTO; SANTOS,
2015; p. 31)
De acordo com as formulações de Lacan, “no inconsciente existe a pulsão enquanto
conceito-limite entre o simbólico e o real, o simbólico carregado dos significantes que
representam a pulsão, e o real enquanto libido, “cuja manifestação dos sintomas se dá pela
angústia e se faz presente como gozo do sintoma” (QUINET, 2008, p.47 apud OTTO;
SANTOS, 2015, p. 33). Esta é a maior diferença entre os dois, o sintoma não é um apelo ao
outro, ou aquilo que se mostra ao outro enquanto que o acting out é algo que pede uma
interpretação e ganha seu valor nesse apelo. O acting out é “antes visível ao máximo e é
justamente por isso que num certo registro é invisível, mostrando sua causa” (LACAN ano ,
apud OTTO; SANTOS, 2015; p. 35). Ou seja, ao mesmo tempo em que é algo que se mostra
de modo evidente, é velado, pois indica outra coisa pra além do que esta sendo atuado.
Podemos pensar a autolesão enquanto acting out, de modo que o sujeito endereça sua
mensagem ao outro. “Da mesma forma como no sintoma, o acting out é uma manifestação do
inconsciente tem valor e tem valor de verdade, mas com uma estrutura de ficção, sendo dois
modos de satisfação (parcial) da pulsão no retorno do recalcado” (QUINET ano apud OTTO;
SANTOS, 2015; p. 36).
É importante entender que muitas de nossas atitudes acontecem a partir da ordem do
inconsciente. Portanto, a pessoa que se autolesiona, muitas vezes, não tem uma explicação ou
justificativa para o ato. Assim, o sofrimento que estava em sua mente é transferido para o seu
corpo, assim o que antes estava invisível agora pode ser visto.

Para o psicanalista Christian Dunker (2017),

[...] a auto lesão é vista como um conjunto de práticas de característica clinica, é um


sintoma multi determinado porque há várias fantasias. Também é uma prática para a
redução da angústia, são momentos em que a jovem fala: “eu não consigo caber
mais em mim mesma, estou com uma espécie de aflição” (adolescente). Essa aflição
fica oscilando entre o corpo e a coisa psíquica, entre o corpo e a idéia que tenho,
essa indeterminação é uma das faces da angústia, são narrativas e estórias que vai
ser substituído por outro corpo ainda indeterminado e que será ainda inventado. Para
a psicanálise, esse corpo tem a ver não só com o olhar do outro, mas, com suas
experiências corporais e com a primeira sensação de prazer. Quando eles dizem que
estão com o corpo que não lhe pertence, um corpo no qual ele não cabe, um corpo
que deveria ser maior, deveria ser menor, os cortes funcionam como forma de
estabilizar essa dor que está relacionada aos seus impasses subjetivos.2

Vários autores falam sobre a importância da perda da infância dos jovens. Porém,
Mauricio Knobel (1992) denomina esse estado como de Síndrome da Adolescência Normal,
onde ressalta que esse período da adolescência é difícil de ser compreendido e respeitado
pelos outros. E pontua, ainda, que o adolescente é um sujeito que tem sofrimento, por não ter
feito o luto da perda da infância.
Portanto, refletindo sobre a contribuição de Knobel, entendemos que essa perda pode
gerar impasses subjetivos, esses impasses são dificuldade para entender a razão de tantas
mudanças e a dificuldade para se adaptar a um mundo novo: o mundo dos adultos. Se é difícil,
normalmente, entender tais obstáculos, imaginemos como é para o adolescente tentar
encontrar uma resolução para um problema que nem ele mesmo sabe definir. Agora,
pensemos sobre essa dificuldade em relação às meninas, que convivem com seu cérebro em
turbulências hormonais.

UMA QUESTÃO DE GÊNERO

Dr. Eliezer Berenstein fala que “a mulher é um ser hormonal e que toda a sua vida é
marcada por esta orquestra bioquímica que, por sua vez, tem uma relação direta com as
2
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ngi_oZVXBWo&feature=youtu.be). Acesso em 15 de fevereiro de
2020, às 23:15.
emoções”. Ele percebia em muitas de suas pacientes que “elas apresentavam uma perturbação
que poderia estar em sua feminilidade” (BERENSTEIN, 2001; PP 10-11). Tal feminilidade é
descrita por ele como um conjunto de fatores (físicos, emocionais e sociais) que caracterizam
o ser humano do sexo feminino.
Os estudos sobre a autolesão apontam como sendo um fenômeno predominantemente
feminino (OTTO; SANTOS, 2015; p. 31). De acordo com a pesquisa realizada no artigo
“Autolesão sem intenção suicida entre adolescentes”, há uma

frequência mais elevada da autolesão entre adolescentes do sexo feminino, o que


consta também na literatura. Um estudo português apresentou frequência de 57,0%
de autolesão no público feminino. Estudos com adolescentes espanhóis de 10 a 18
anos mostram frequência de 54,0% (Guerreiro, 2014). Estudos com adolescentes
estudantes espanhóis mostram frequência de 57,0% (Kirchner, Ferrer, Forns, &
Zanini, 2011) e 54,0% (Hernando, 2014) e entre adolescentes ingleses frequência de
74,5% (Brooks et al., 2015) de autolesão em meninas escolares. Pesquisa norte-
americana com a aplicação da ECA em adolescentes escolares encontrou a
frequência de 54,0% (Lloyd-Richardson et al., 2007). Noutra pesquisa norte-
americana utilizando de entrevista estruturada em 665 adolescentes escolares, de
8,0% que relataram envolvimento com comportamentos autolesivos, 57,3% eram do
sexo feminino (BARROCAS, HANKIN, YOUNG, & ABELA, 2012; apud
FONSECA; SILVA; ARAÚJO; ;BOTTI, 2008, pp 9-10)

A frequência relativa em meninas é de 69,39% dos casos no Brasil (FONSECA;


SILVA; ARAÚJO; BOTTI, 2008). Refletindo à luz da questão de gênero, desde cedo,
meninas vivem uma posição social muito diferente do menino. Quando criança, os
“brinquedos femininos” estão sempre representando “o cuidar do outro”, enquanto os dos
meninos representam independência, capacidade e força. Portanto, o meio social em que a
menina vive pode influenciar positivamente ou negativamente na sua feminilidade. É,
inclusive, bastante comum perceber o quanto a sociedade e a mídia contribuem para esse
“enquadramento feminino” nas propagandas de televisão e ou redes sociais, ao mostrar o
produto associado à mulher de modo que ela esteja sempre à disposição do homem. Portanto,
todas essas cobranças, punições, tentativas de enquadramento fazem com que ela receba esses
impactos, afetando, consequentemente, sua feminilidade.
Essa feminilidade é afetada pela forma em que a mulher vivencia os eventos de sua
vida. Tais eventos, por sua vez, estão ligados às emoções e essas emoções, se são boas ou
ruins, virão refletir em seu bem estar psíquico de modo positivo ou negativo. A feminilidade
seria também uma tentativa de buscar seu lugar numa sociedade patriarcal, onde a mulher,
frequentemente, é vista como menos capaz do que o homem.
“A resposta humana feminina é sempre global” (BERNSTEIN, 2001, p.10). Com essa
afirmação, Dr Bernstein nos faz refletir o quanto é difícil lidar com os sentimentos e dissociar
a razão da emoção. Porque quando a mulher recebe os impactos das emoções vividas, tanto é
atingido seu psicológico quanto o biológico, assim, ela responde aos eventos de forma
diferente, a depender do seu estado emocional, podendo reagir a uma situação corriqueira de
maneira muito diferente da habitual.
As autoras Stephanie Cristin Otto e Kátia Alexandra dos Santos, no artigo Cortes: O
discurso sobre a autolesão feminina no tumblr (2015), se debruçaram em um estudo que teve
como foco a incidência da autolesão em mulheres. Whilock (2006) ressalta que “uma vez que
a comunidade sobre a autolesão na internet são visitadas com freqüência, acaba fornecendo
um meio para divulgação da prática, assim a tendência é que a autolesão siga os padrões de
epidemia em contextos institucionais, refletindo também em contextos não clínicos”
(WHILOCK, 2006 apud OTTO; SANTOS, 2015; p. 31).
Percebe-se que, nesse estudo, as autoras buscavam compreender qual era o discurso
que acontecia nos ambientes virtuais sobre autolesão. Dessa forma, através de uma plataforma
blogging, com cadastro gratuito, era permitido aos usuários que publicassem textos, imagens,
vídeos, áudios e “diálogos, sendo que nesse mesmo tempo em que faziam suas postagens,
poderiam seguir outros usuários e ver os posts em seu painel (dashoard). Os autores
perceberam também que muitos usavam os bloggs como um diário virtual, desta forma, os
adolescentes relatavam o que estavam vivendo e sentindo. Após as autoras terem acesso a um
numero de 50 bloggs, destacaram quatro imagens onde as adolescentes traziam em seu corpo
a autolesão. Delas, trouxe três que mais chamaram a atenção para o presente estudo
Titulo da imagem

Fonte:

Titulo da imagem
Figura
1http://www.seer.unirio.br/index.php/psicanalise-
barroco/article/viewFile/7349/6477

Compreendendo o discurso trazido por essas meninas, podemos perceber que há uma
idealização de si mesmas. Cortando a pele, elas trazem para seu corpo o sofrimento que antes
estava apenas em seu psique, mostrando que há uma demanda de amor, e sinalizando o quanto
elas gostariam de ser notadas, amadas e compreendidas. A prática da autolesão é, nesse
sentido, uma tentativa de aliviar sua dor, através dos cortes elas buscam “uma forma de tornar
o desprazer tolerável” como afirmou Freud (1926 apud OTTO; SANTOS, 2015; p. 32).

A IMPORTÂNCIA DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO

No livro Adolescência Normal, a autora Arminda Aberastury fala que “A problemática


do adolescente começa com as mudanças corporais, com a definição do seu papel na
procriação e segue-se com mudanças psicológicas” (ABERASTURY, 1992, p. 16). Percebe-
se que o processo de entender e aceitar sua sexualidade está diretamente ligado à saúde
mental. Quanto mais esse jovem se conhece e se aceita, mais tranquilo ele fica consigo
mesmo.
Dentre essas mudanças, a descoberta sexual configura-se como um fator a mais para ser
relacionado ao problema de autolesão na adolescência, especialmente se essa descoberta for
em direção a uma sexualidade socialmente não aceita e estigmatizada.
Knobel ressalta que a questão de tal aceitação é bastante complexa. Quando se trata de
uma identidade sexual diversa do padrão heteronormativo é muito delicado para um jovem
lidar com a situação, principalmente se a família não o entender e não o apoiar em suas
escolhas e orientações.
Assim, “na sua busca da identidade adolescente, o indivíduo nessa etapa de vida
recorre como comportamento defensivo à busca de uniformidade que pode proporcionar
segurança e estima pessoal” (KNOBEL, 1992, p. 31). Por isso, há uma necessidade de
pertencer a um grupo, e é nos integrantes desses grupos que os jovens fazem suas
identificações encontram apoios para situações que muitas vezes não encontram na família.
Como essas questões psicossociais podem contribuir para o adolescente carregar esse
problema psicológico para a vida adulta? Segundo a psicanálise, antes de completar um ano
de vida a criança começa a formar sua estrutura de personalidade e é fundamental que ela
conviva em ambiente sadio.
Também é importante que os pais prestem atenção para que essa criança tenha suas
necessidades supridas sem passar por privações. Assim como ensiná-la e ajudá-la a resolver
seus pequenos problemas, criando um laço afetivo e dando-lhe amparo. Dessa forma pode-se
evitar que ela traga para a adolescência a dificuldade de resolução de problemas.

TRATAMENTO

O tratamento farmacológico e psicoterápico é de fundamental importância. O paciente


deve ser encaminhado ao profissional de psiquiatria, para acompanhamento e tratamento mais
específico, pois o comportamento autolesivo pode ser sintoma de diversos transtornos
mentais. Portanto, é de fundamental importância que o jovem seja acompanhado pelo
especialista, para esse comportamento ser avaliado por um quadro de diagnóstico mais amplo.
É indispensável que o adolescente seja acompanhado por um serviço de psicoterapia
para que seja feita uma escuta singular e subjetiva, visando uma compreensão de seus
conflitos frente a esse ato. Além disso, o psicólogo trabalhará amenizando seus sofrimentos
psíquicos, restabelecendo laços afetivos com familiares, que muitas vezes são interrompidos,
orientando essa família quanto à melhor forma de lidar com o jovem que está passando por
esse processo delicado.
É importante ressaltar a promulgação da lei Nº 13.819, publicada no dia 29 de abril de
2019 (BRASIL, 2019) que institui a Política Nacional de Prevenção à Automutilação e ao
Suicídio, e possibilita a promoção da saúde mental e a prevenção à violência autoinflingida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a construção desse artigo foram selecionados livros de autores essenciais para
esse trabalho. Kleber do Sacramento Adão (1994) foi importante para compreender o conceito
de Stanley Hall sobre adolescência como construção social. Através de Adão (1994), percebe-
se que Hall começou a entender o adolescente, em suas particularidades, descrevendo esse
período de vida com foco nas mudanças que esses jovens apresentavam, tanto corporais
quanto psicológicas. Ele ressaltava que essa etapa de vida do ser humano era descrita por ele
na faixa entre 12 a 25 sendo essa fase marcada por mudanças, conflitos típicos estariam
associados à necessidade sexual. Falava também que essa fase vital seria como viver a
infância novamente, porém, de forma mais complexa.
Tais complexidades foram relatadas por outros autores igualmente importantes para
minha pesquisa. Arminda Aberastury e Mauricio Knobel, ambos psicanalistas, no livro A
adolescência Normal(1992) abordam, pelo enfoque psicanalítico, a “síndrome da
adolescência”. De acordo com os autores, existe um período de vida que não era reconhecido,
tampouco respeitado em suas peculiaridades. Nesse período da vida, ocorre um luto tanto para
os filhos quanto para os pais, considerado a “perda da infância” para os adolescentes,
enquanto os pais vivem o luto pela perda da infância do filho. Mauricio Knobel fala sobre a
síndrome da adolescência normal, e uma experiência clínica psicanalítica quando os
adolescentes são levados, pelos pais, para a análise, como se tivessem uma anormalidade e a
vivência de quem realmente tem patologias. Devo lembrar que Arminda Aberastury, mostra
os problemas que ainda perduram numa sociedade hostil, o que dificulta o ingresso dos jovens
na vida dos adultos. Apesar de o livro ter sido escrito em 1992, foi fundamental para as
reflexões sobre a adolescência, por trazer uma perspectiva atual e complexa sobre tal período
de vida. Através desses autores também foi realizada a discussão pelo viés da psicanálise.
Ainda sobre a questão específica da adolescência, analisei o capítulo Adolescentes e
Adolescências de Elder Cerqueira-Santos, Othon Cardoso de Melo Neto e Sílvia H. Koller, no
livro Trabalhando com Adolescentes (org. Habigzang, Diniz & Koller, 2014). Tais autores
ressaltam a importância de Stanley Hall, teórico sobre o qual se tratou no artigo As
implicações pedagógicas da teoria do desenvolvimento humano em Stanley Hall.
Num segundo momento, partiu-se para a discussão específica sobre gênero e
autolesão. Como fonte, foi inserido o livro A inteligência Hormonal da Mulher (2001), do
doutor Eliezer Berenstein, com objetivo de apurar a visão sobre os aspectos biológicos –
inclusive, sócio-históricos – que interferem na vida das mulheres, especialmente, enquanto
adolescentes. Ele contribui para pensar a menstruação como uma “inteligência hormonal”,
relacionando com as emoções vividas por elas, e que o ciclo menstrual é um “aliado número
um da mulher”. Portanto, o organismo feminino sempre está em sintonia com a natureza
porque seu cérebro vive repleto de hormônios durante todo o mês.
Seguindo na mesma linha de pensamento sobre feminilidade, Stephanie Cristin Otto e
Kátia Alexandra dos Santos, com o artigo (Re)Cortes: O discurso sobre a autolesão feminina
no tumblr (2015), trouxe uma nova possibilidade de recurso para a pesquisa. As autoras
analisaram imagens de meninas que se autolesionam, publicadas na plataforma tumblr, o que
permitiu refletir sobre a autolesão em contextos não clínicos. O estudo foi feito por meio da
plataforma blogging tumblr, onde as adolescentes mostram seu sofrimento psíquico, e sua
demanda de amor. Foram trazidas, para o presente trabalho, as imagens disponibilizadas no
artigo. Assim, foi realizada a análise destas, com base na discussão das autoras. Por meio
delas foi possível desenvolver sobre psicanálise e autolesão, através de referências da
abordagem lacaniana.
Devo citar ainda a valiosa contribuição dos autores Paulo Henrique Nogueira da
Fonseca; Aline Conceição Silva; Leandro Martins e Nadja Cristiane Lappann Botti. No artigo
Autolesão sem intenção suicida entre adolescentes (2018), estes trazem as características da
autolesão entre adolescentes mostrando através de escalas de comportamento autolesivo
(ECA), trazendo resultados e conclusões de números de adolescente que se autolesionam e a
prevalência em público feminino. O artigo também traz dados quantitativos importantes
relacionados à autolesão, com indicativos como gênero, contexto social, idade, dentre outros,
além de possibilitar o acesso a dados da versão do manual estatístico e diagnóstico de
Transtornos Mentais – DMS-5 (Américan Psychiatric Association, 2014). A discussão sobre o
conceito de autolesão também é abordada pelos autores e contribuiu para refletir sobre os
sentidos do termo neste trabalho.
Não obstante à questão do gênero, outros fatores, como orientação sexual do
adolescente, surgiram como fundamentais, uma vez que o presente trabalho esboça as
descobertas dessa fase, e muitas delas estão associadas a um comportamento fora dos padrões
sociais. Mauricio Knobel e Marilha vilhena junto a Yumnah Zein Costa Prado (as duas
últimas com o artigo Dor, Angústia e automutilação em jovens - considerações
psicanalíticas, 2015) foram basilares para nortear essa temática - apesar de este artigo não
pretender se debruçar sobre ela - além de contemplar a discussão sobre a sociedade e o
sentimento de não-pertencimento. Elas falam o quanto as cobranças sociais interferem de
forma negativa na vida dos jovens, fala também do desamparo psíquico que os jovens
apresentam frente à tomada de decisão diante de um problema. A crescente busca pelo setor
de saúde mental por adolescentes que cometem a autolesão em um atendimento clínico
(NESSA) com alunos que dão entrada apresentando sintomas difusos, são atendidos através
de solicitação da escola. Quando o adolescente é incapaz de simbolizar sua dor, na clínica
psicanalítica o profissional deve prestar atenção para decifrar e reposicionar o que é subjetivo.
Dentre essas fontes, foi pesquisada a lei nº Nº 13.819/ 2019 (BRASIL, 2019) pela
Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Apesar de, na construção
oficial do artigo, ser abordada no tópico sobre Tratamento (um dos últimos) ela consistiu num
dos primeiros aspectos a ser trazido para a pesquisa. Isso foi relevante para pensar a
justificativa do trabalho e perceber que, ao menos institucionalmente, a conscientização
adequada sobre a automutilação é recente.
Consequentemente, isso representa um avanço, na medida em que políticas públicas
serão direcionadas ao problema, entretanto, mostra que ainda não há um arcabouço
satisfatório sobre as várias nuances que permeiam o tema.
Em geral, a bibliografia específica sobre autolesão foi possibilitada, majoritariamente,
por artigos publicados e pesquisas recentes.
Outro artigo que contribuiu para a revisão sobre a coleta de dados, elaborado por
Karina Weinmann e Elaine Zachi (2003) foi acessado no site Neurokinder Cuidado infantil.
Foi, igualmente, incluído na discussão sobre comportamento autolesivo, o artigo O que é
comportamento autolesivo, escrito por Eduardo de Rezende (2017), disponível no site
PsicoEdu – Psicologia para educadores.
Para além dos livros, artigos impressos e virtuais, o recurso de vídeo virtual foi
utilizado para expandir as fontes sobre a autolesão e tratamento com psicanálise. Assim,
analisei o vídeo intitulado Automutilação, adolescentes e psicanálise, do psicanalista
Christian Dunker (2017).
Ao final dessa pesquisa de revisão narrativa pôde-se concluir: a adolescência foi vista
durante muito tempo como uma fase natural do desenvolvimento com característica única a
todos os jovens. Reforçando a importância dada a essa fase de vida, pode-se considerar que os
autores psicanalistas presentes nesse estudo delineiam tal período como conturbado por conta
dos lutos vividos, onde perde-se sua condição física e psicológica de criança. Além de que
existem as exigências da sociedade que recaem sobre o(a) adolescente de modo singularmente
pesaroso, justamente por conta desses processos típicos.
Especificamente falando, por questões biológicas hormonais e, não menos importante,
sociais, as meninas sofrem com a autolesão, recorrentemente, em maior numero, quando em
comparação aos meninos. Afinal, como tratado anteriormente, prevalece em nossa sociedade
atual a dominação dos espaços de poder pelo gênero masculino, assim, a subjetividade e
atividade hormonal feminina são diretamente afetadas pelo contexto social em questão.
Não somente as mulheres, mas pessoas que representam um grupo de “minorias”
marginalizadas e que não fazem parte do socialmente e convencionalmente aceito dentro dos
padrões – como jovens LGBTQ+, negros e negras ou de identidade étnica e racial diversa –
têm suas subjetividades afetadas.
Esse sentimento de não pertencimento, na adolescência, é mais um atalho para a
autolesão. Existem diversos trabalhos que lidam com o tema relacionado ao suicídio,
entretanto, como aqui lida-se especialmente com a autolesão, surgiu a dificuldade em
encontrar autores que tratassem, especificamente, sobre a relação do problema psicológico em
questão com a descoberta da sexualidade.
No mais, a intenção da pesquisa não foi suprir integralmente essas lacunas, e sim,
provocar mais possibilidades e questões que estão envolvidas ao comportamento autolesivo
na adolescência, e sensibilizar para o desenvolvimento de outros trabalhos nessa área.

METODOLOGIA

O presente estudo trata de uma pesquisa bibliográfica exploratória e descritiva de


abordagem qualitativa. As seleções das fontes de interesse sobre o tema foram feitas a partir
de critério como publicações em revistas nacionais encontradas no Scientific Eletronic Libray
Online – SciELO, BIREME – Biblioteca virtual em Saúde que reúne base de dados como
LILACS e MEDLINE, utilizando os seguintes descritores: sofrimento psíquico em
adolescentes que cometem autolesão. Foram usadas também outras fontes e, inclusive, livros,
artigos, teses, páginas virtuais e vídeos da internet (como citado no tópico Resultados e
Discussão). O quadro abaixo define os principais autores e os respectivos títulos dos trabalhos
que nortearam essa pesquisa:

Autores Título Ano


ABERASTURY, Arminda; A adolescência Normal 1992
KNOBEL, Mauricio.
ADÃO, Kleber do As implicações pedagógicas 1994
Sacramento. da teoria do
desenvolvimento humano de
Stanley Hall.
BERENSTEIN, Eliezer. A inteligência Hormonal da 2001
Mulher
CERQUEIRA-SANTOS, Adolescentes e 2014
Elder; NETO, Othon Adolescências
Cardoso de Melo; KOLLER,
Sílvia H.
FONSECA, Paulo Henrique Autolesão sem intenção 2018
Nogueira da; SILVA, Aline suicida entre adolescentes.
Conceição; ARAUJO,
Leandro Martins Costa de;
BOTTI, Nadja Cristiane
Lappann.
OTTO, Stephanie Cristin; (Re) Cortes: O discurso 2015
SANTOS, Kátia Alexandra sobre a autolesão feminina
dos. no tumblr.
VILHENA, Marília; Dor, angústia e 2015
PRADO, Yumnah Zein automutilação em jovens -
Costa. considerações psicanalíticas.
WEINMANN, Karina; Automutilação afeta 20% 2003
ZACHI, Elaine. dos adolescentes e pode
estar associado a
transtornos psiquiátricos
REZENDE, Eduardo de. O que é comportamento 2017
autolesivo.
DUNKER, Christian. Automutilação, adolescentes 2017
e psicanálise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto trabalho, podemos compreender o quanto a autolesão, sem


intenção suicida tem ganhado maiores proporções. A autolesão não apresenta uma causa
própria, portanto não deve ser vista como um sintoma de uma determinada doença, e sim
como um comportamento que está diretamente ligado a várias demandas pessoais. Devemos
levar em conta que estamos vivendo um momento em que a sociedade imediatista impõe
regras e cobranças, podendo refletir de forma negativa sobre o indivíduo, o que gera uma
pressão psíquica no jovem. Dessa forma, estamos desamparando-os, e inconscientemente,
suprindo tal desamparo com objetos de valor.
Além disso, não devemos esquecer que, atualmente, parece não haver um lugar
reservado para nossas angústias. Por vezes, o adolescente angustiado não tem com quem falar
sobre sua dor. Essa dor que muitas vezes está sendo sinalizada com angústia e com cortes pelo
corpo, e que ainda pode ser vistos pelos familiares como algo sem devida importância. É
necessário compreender o comportamento autolesivo como uma forma de endereçar o
sintoma ao “outro”, o que gera uma demanda de amor em que o sujeito pede para ser
percebido. Essa também é uma forma pessoal de se livrar do sofrimento psíquico, no
momento em que se está desamparado.
Para concluir, reitero: o presente artigo foi constituído a partir de recortes acerca da
temática a autolesão em adolescentes, considerando os fenômenos que levam aos sintomas e
provocam a autolesão. Assim, considera-se que esse recorte, na realidade, não deve ser visto
como esgotado, portanto, para uma compreensão mais profunda desses fatos, deve haver
indicações de estudos futuros para que seja aprofundada ainda mais essa temática.

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio - A adolescência Normal. Porto Alegre,


Artes Médicas, 1992.

ACORVERDE, Renata Lopes et al. Funções Neuropsicológicas Associadas a Condutas


Autolesivas: Revisão de literatura. Psicologia: Reflexão e Crítica. 25 (2), 293 – 300, 2012.
Disponível em: <WWW.scielo.br/prc> Acesso em: 28 de fevereiro de 2020.

ADÃO, Kleber do Sacramento. As implicações pedagógicas da teoria do desenvolvimento


humano de Stanley Hall. R. min. Educ. Física, Viçosa, 2 (2): 5-15, 1994.

BERENSTEIN, Eliezer. A inteligência Hormonal da Mulher. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

BRASIL. Lei nº Nº 13.819, de 26 de abril de 2019. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13819.htm> Acesso em:
28 de fevereiro de 2020.

CERQUEIRA-SANTOS, Elder; NETO, Othon Cardoso de Melo; KOLLER, Sílvia H.


Adolescentes e Adolescências In.: Trabalhando com Adolescentes (org. Habigzang, Diniz &
Koller). Porto Alegre: Artmed, 2014.

DUNKER, Christian. Automutilação, adolescentes e psicanálise. 2017. Disponível em


<https://www.youtube.com/watch?v=ngi_oZVXBWo&feature=youtu.be>. Acesso em 15 de
fevereiro de 2020, às 23:15.

FONSECA, Paulo Henrique Nogueira da; SILVA, Aline Conceição; ARAUJO, Leandro
Martins Costa de; BOTTI, Nadja Cristiane Lappann. Autolesão sem intenção suicida entre
adolescentes. Arquivos Brasileiros de Psicologia, vol. 70, n.3, Rio de Janeiro sept./dic. 2018.
OTTO, Stephanie Cristin; SANTOS, Kátia Alexandra dos. (Re) Cortes: O discurso sobre a
autolesão feminina no tumblr. Psicanálise e Barroco em revista. V. 13, n1: 29 – 56. Jul. 2015.

REZENDE, Eduardo. O que é comportamento autolesivo? Disponível em:


<WWW.psicoedu.com.br201705comportamentoautolesivo-agressões-aoprópiocorpo.html>
Acessado em 27 de setembro de 2019 às 16 horas.

RICHARDSON, J. S.; ZALESKI, W. A. Endogenous opiates and self-mutilation. American


Journal of Psychiatry. 143 (7), pp. 938 – 939, 1986.

RYAN, K.: et al. Superficial self-harm: Perceptions of Young woman Who hurt themselves.
Journal of Mental Healt Counseling. 30 (3), PP. 237 – 254.

VILHENA, Marília; PRADO, Yumnah Zein Costa. Dor, angústia e automutilação em jovens
- considerações psicanalíticas. Adolescência e Saúde, Rio de Janeiro, v. 122, n.2, p. 94-98,
abr/jun 2015.

WEINMANN, Karina; ZACHI, Elaine. Automutilação afeta 20% dos adolescentes e pode
estar associado a transtornos psiquiátricos [Neurokinder Cuidado infantil] Disponível em <
https://www.neurokinder.com.br/2017/03/automutilacao-afeta-20-dos-adolescentes-e-pode-
estar-associado-a-transtornos-psiquiatricos/> Acesso em 16 de fevereiro de 2020, às 01:10.

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