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Contextualização do Ensino de Química

em uma Escola Militar

Sérgio Henrique Frasson Scafi

O presente trabalho aborda a contextualização do ensino de química aplicado a uma escola militar, onde
atividades práticas de laboratório e demonstrações de reações químicas com enfoque ou aplicabilidade militar
são desenvolvidas de forma contextualizada, permitindo aos alunos o desenvolvimento do raciocínio químico
e despertando maior interesse pela aula. Os temas englobam assuntos ministrados na Escola Preparatória de
Cadetes do Exército e servem de preparação para o futuro cadete nas atividades previstas na cadeira de química
da Academia Militar das Agulhas Negras. São trabalhados em concomitância com o conteúdo dos conceitos
teóricos aplicados em sala de aula. Constatou-se que, quando a atividade prática está relacionada com o cotidiano
do militar ou à sua carreira, os alunos tornam-se mais acessíveis no processo de aprendizagem, e o interesse
pela atividade se mostra muito mais efetivo, resultando numa melhora no processo de ensino e, por conseguinte,
nos resultados obtidos pelos educandos em termos de notas, fixação dos conteúdos e aprendizagem.
176
ensino militar, experimentos de química, práticas de laboratório

Recebido em 23/10/09, aceito em 27/05/10

O
conhecimento químico é uma taposição e compreensão de fatos ou pelo conhecimento com aproximações
ferramenta de extrema valia situações hodiernos do cotidiano dos entre conceitos químicos e a vida do
à vida humana. Desde os alunos e conhecimentos formais esco- indivíduo. É também criar um ambien-
primórdios, a química se faz presente lares. Devido à sua potencialidade, o te propício de ensino no qual o aluno
seja na formulação de pigmentos tratamento do conhecimento de forma possa vislumbrar a aplicabilidade dos
usados nas paredes das cavernas, contextualizada fulgura aprendizagens conceitos em sua vida ou carreira como
seja na produção de cerâmicas ou significativas mútuas entre o aluno e o militar e interligar com experiências
artefatos bélicos como pólvoras objeto do conhecimento, suplantando pessoais vivenciadas.
das guerras etc. Atualmente, essa o âmbito conceitual. Tratar a química no cotidiano do alu-
presença é mais acentuada e hoje Tal conceito traduz a conexão no de forma contextualizada (Almeida e
somos dependentes das invenções entre as porções de um todo, o con- cols., 2008; Freire e cols., 2008) é uma
científico-tecnológicas que ela nos catenamento de pensamentos, a dificuldade enfrentada por grande parte
proporciona (Gomes e cols., 2007). problematização e a interpretação de dos professores, devido principalmente
Nesse contexto, o objetivo de circunstâncias expressivas para os ao preconceito gerado contra a disci-
relacionar conteúdos químicos com alunos ou sua carreira, de tal modo que plina (Uhmann e Maldaner, 2006). Esse
aspectos e temas da vida aparece os conhecimentos químicos assesso- preconceito pode ser ocasionado por
referido em documentos oficiais por rem na compreensão e resolução dos combinação da complexidade do as-
meio do conceito da contextualiza- problemas ou das missões. sunto atrelado à falta de pré-requisitos
ção (Marcano e Schnetzler, 2008), Contextualizar consiste em rea- por parte dos alunos ou, ainda, pela
facilitando, assim, que os alunos lizar ações buscando estabelecer a prática docente ser distante da ideal.
compreendam algumas importantes analogia entre o conteúdo da edu- Infelizmente, muitas vezes, a difusão do
contribuições da ciência química à cação formal ministrado em sala e o conhecimento químico ainda é feita de
sociedade e à vida das pessoas. cotidiano do aluno ou de sua carreira, forma tradicional, em que os alunos são
A contextualização pode ser qualifi- de maneira a facilitar o processo de meros expectadores, e os conteúdos,
cada como uma estratégia metodológi- ensino-aprendizagem pelo contato ministrados de forma desvinculada
ca ou um artifício facilitador para a jus- com o tema e o despertar do interesse do cotidiano com conceitos e fórmu-

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las prontas para serem decorados e militares deve contemplar os conte- aluno. Em regime integral, as atividades
escassos de interdisciplinaridade (Sá údos previstos pelos PCNEM, estar incluem instruções militares, treinamen-
e Silva, 2008). Com isso, não desen- adequado aos requisitos inerentes à to físico-militar, além das disciplinas
volvem o interesse e a capacidade profissão militar e buscar um ensino componentes do ensino médio.
de trazer os conceitos ministrados contextualizado e atinente à carreira. Uma das características da carreira
para o exercício de sua cidadania, o Dentro dessa perspectiva, procurou- militar é possibilitar ao profissional
que acaba tornando-a uma disciplina se contemplar no currículo da Escola que, ao se encontrar em uma situação
abominada por muitos (Gomes e cols., conteúdos, situações e problemas de adversa, seja capaz de utilizar-se do
2007). Aliados aos fatores em comento, interesse dos alunos e de relevância que o meio lhe oferece, fazendo uso
têm-se muitas vezes a falta de uma para a carreira militar. desse recurso como mecanismo de
estrutura que possibilite a execução de Quando se fala em ensino militar no solução do problema. Sendo a Quími-
aulas práticas de qualidade, muito im- Brasil, uma das referências é a Escola ca uma disciplina predominantemente
portantes para a melhor compreensão Preparatória de Cadetes do Exército prática, ter o conhecimento de algumas
das transformações químicas. (EsPCEx), que é o acesso para a car- técnicas simples e experimentos que
Uma das propostas atuais no en- reira de oficial combatente do Exército possam ser realizados com material de
sino de química visa à aprendizagem Brasileiro. Sediada em Campinas (SP), fácil obtenção pode ajudar sobrema-
por meio da descoberta, na qual o tem por objetivo selecionar e preparar neira o militar em inúmeras situações.
professor, por meio de experimentos, o futuro Cadete da Academia Militar No mais, o conhecimento químico é
auxilia os alunos a tirar suas próprias das Agulhas Negras (AMAN). É uma de fundamental relevância na carreira
conclusões a respeito do processo instituição reconhecida pela excelência militar, uma vez que muitas substâncias
tratado e que este seja de interesse do de seu ensino por realizar inovações químicas são empregadas na compo-
aluno ou esteja voltado para aspectos pedagógicas e dinamizar as atividades sição de artefatos militares.
do cotidiano ou da carreira do instruen- que tenham por função auxiliar o aluno
do (Gomes e cols., 2007). no processo de aprendizagem para de- Disciplina de Química na EsPCEx
Ao se propor trabalhar uma disci- dicar-se à pesquisa e ao estudo. Para
plina ou um conteúdo dentro dessa ingressar na EsPCEx, o estudante deve Em conjunção aos assuntos mi- 177
abordagem, invariavelmente se é leva- ser aprovado em concurso público nistrados na cadeira de química da
do a considerar que tudo é importante, nacional, que exige como pré-requisito AMAN (AMAN, 2009), foi elaborado
relevante, instigante e que poderá ser mínimo a conclusão do 2º ano do ensi- no curso da EsPCEx um plano de
aplicado futuramente. É com esse olhar no médio. O curso preparatório militar disciplina (PLADIS), conforme exposto
que o professor deve procurar selecio- na Escola corresponde ao terceiro ano no Quadro 1. O conteúdo ministrado
nar os assuntos a serem abordados, do ensino médio e funciona em regime adequou-se ao proposto pela legis-
balizando-se pelos Parâmetros Cur- de internato, com alunos oriundos de lação e, também, às necessidades
riculares Nacionais do Ensino Médio todas as regiões do Brasil, e tem du- inerentes à continuação dos estudos
(PCNEM) (Brasil, 1999) preconizados ração de um ano. Os aprovados em na Academia Militar e posteriormente
pelo Ministério da Educação (MEC), todas as disciplinas no curso estão ha- à vida profissional do militar.
área de atuação e outros referenciais bilitados à continuação dos estudos na Durante o ano letivo, os alunos são
importantes para o educando e a AMAN, onde darão continuidade aos submetidos a avaliações diagnósti-
comunidade em que está inserido, estudos em nível superior. Na Escola, cas, formativas, a quatro avaliações
sempre de forma contextualizada. os estudantes ingressantes na carreira somativas escritas e a confecção de
Contextualizar o ensino de quí- militar possuem a graduação militar de relatórios a respeito dos experimentos
mica é buscar motivar os alunos e
potencializar o processo de ensino- Quadro 1: Assuntos ministrados pelas cadeiras da disciplina de Química da EsPCEx
aprendizagem, recorrendo à realiza- e da AMAN.
ção de experimentos com materiais Unidade Assuntos ministrados na Unidade Assuntos ministrados na
do cotidiano do instruendo como um didática EsPCEx didática AMAN
simples café, produção de sabão, cos-
I 1. Química orgânica (fun- I 1. Explosivos
méticos, biodiesel ou ainda em temas ções orgânicas, nomen- 2. Propelentes
mais aprofundados como cinética de clatura e propriedades) 3. Agentes químicos de
reações químicas, conteúdos interdis- 2. Polímeros guerra
ciplinares (Sá e Silva, 2008) e atividades 4. Munições e artifícios piro-
experimentais investigativas. técnicos
Buscando a melhoria da qualidade 5. Estabilidade química
do ensino, o Exército Brasileiro tem II 1. Termoquímica II 1. Água
procurado adequar o currículo e os 2. Cinética química 2. Corrosão
conteúdos aos novos rumos e velo- 3. Equilíbrio químico 3. Tópicos especiais em ma-
cidade com que o conhecimento tem 4. Eletroquímica teriais de emprego militar
se mostrado. O ensino nas escolas 4. Combustíveis

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realizados. Além da área cognitiva, teóricas, que envolvam conceitos estu- ções em sala de aula ou laboratório,
existe a preocupação com o desen- dados anteriormente e/ou no decorrer baseados em uma apostila elaborada
volvimento nos alunos dos atributos da da abordagem dos assuntos e ainda contendo roteiros de centenas de di-
área afetiva (AAA) que compreendem que tenham uma relação direta com ferentes experimentos que abrangem
atributos como cooperação, criativida- a profissão, o que reforça a atenção todos os conteúdos ministrados na
de, responsabilidade etc., dentre outros e o interesse dos alunos no decorrer Escola de forma contextualizada à
muito importantes para a carreira do da atividade. Isso também auxilia no carreira militar. As aulas práticas são
oficial militar e líder. Na Química, são rompimento do estereótipo de que a cuidadosamente preparadas com o
especialmente desenvolvidos os atri- Química versa apenas e tão somente objetivo de serem atrativas e possi-
butos responsabilidade e cooperação, sobre fórmulas e assuntos complexos bilitarem ao aluno a compreensão da
particularmente pela metodologia de de interpretação inatingível e incom- teoria e sua aplicabilidade na carreira,
trabalho em grupo. preensível, mostrando ser possível o o que quase sempre apresenta rela-
É importante salientar que um dos entendimento mesmo de assuntos ção direta com a carreira militar.
objetivos particulares da disciplina é considerados abstrusos. Antes da realização de experimen-
que o aluno compreenda os “fenôme- Estabelece o artigo supracitado: tos propriamente ditos, é realizada
nos químicos” relacionados ao seu “não haverá dissociação entre forma- uma primeira atividade de laboratório
cotidiano, particularmente aqueles ção geral e a preparação básica para que visa fomentar o aluno com noções
que se aplicam à sua futura atividade o trabalho, nem esta última se con- básicas laboratoriais e ambientá-lo a
profissional, e que demonstrem a fundirá com a formação profissional” essa prática. Esta consiste em oficinas
sua capacidade de tomar decisões, (Brasil, 1998, p. 6). de manuseio de equipamentos e vidra-
desenvolvendo também atributos da Os experimentos visam abordar a rias, como transferências de líquidos
área afetiva, capacidade de contribuir Ciência Química de maneira contex- entre vidrarias, técnicas de filtração,
espontaneamente para o trabalho de tualizada com assuntos escolhidos pesagem em balança, aquecimento
alguém e/ou de uma equipe (COO- especialmente em função do plano com bico de Bunsen e pipetagem, con-
PERAÇÃO), cumprir suas atribuições, de disciplina da AMAN como, por duta em laboratório e, especialmente,
178 assumir e enfrentar as consequências exemplo: o programa de produção e regras de segurança. Durante toda
de atitudes e decisões (RESPONSA- uso do biodiesel (Rinaldi e cols., 2007) execução das atividades, os alunos
BILIDADE). adotado pelo Exército Brasileiro (uma usam obrigatoriamente equipamentos
vez que grande parte da frota de via- de segurança como jalecos e óculos
Atividades práticas contextualizadas de turas do Exército é movida a diesel); de segurança fornecidos pela Escola.
laboratório de Química a produção de etanol para utilização A seguir, são apresentadas al-
como combustível; as propriedades gumas atividades práticas contextu-
Em consonância com os PCNEM, o de combustíveis e sua importância alizadas de laboratório de química
enfoque dado pela EsPCEx às ciências estratégica; nomenclatura e proprie- desenvolvidas na Escola e trabalhadas
naturais tem como objetivo desenvolver dades das substâncias químicas de forma simultânea ao assunto teórico
competências e habilidades que sirvam controladas pelo Exército que podem ministrado em sala de aula.
para o exercício de intervenções e ser utilizadas na produção de explo-
julgamentos práticos, criando, assim, sivos ou agentes químicos de guerra; Unidade didática I (Química orgânica)
um significado amplo de cidadania produção, manuseio e estocagem
para a vida do militar. Um dos pontos de explosivos e estudo para desen- A química orgânica ministrada na
de partida para esse processo é tra- volvimento de materiais sintéticos de Escola, com o estudo da nomenclatura,
tar, como conteúdo do aprendizado interesse das forças armadas como propriedades de compostos orgânicos
científico e tecnológico, elementos coletes à prova de bala, capacetes, ar- e polímeros, visa fomentar a prepara-
do domínio vivencial dos alunos. Para mamentos, fumígenos, dentre outros. ção do futuro Cadete nos assuntos
facilitar a compreensão dos fenômenos Nas atividades práticas de labora- diretamente relacionados à cadeira de
químicos, o aluno tem à sua disposi- tório, algumas experiências simples química da Academia Militar.
ção um laboratório onde as práticas são realizadas pelos alunos e têm o Dentro da Unidade Didática I (UD
são contextualizadas, particularmente intuito de oferecer a eles uma visão I), a segunda atividade laboratorial (a
aquelas voltadas à sua futura ativida- prática da aplicação de algumas primeira atividade prática envolvendo
de profissional e particularidades. Em técnicas, materiais e experimentos de experimentos) explora a produção de
razão de o conteúdo ministrado estar fácil realização cujos resultados são sabão, utilizando-se como reagente o
obrigatoriamente adequado tanto aos de grande valia para o desempenho óleo vegetal usado nos ranchos (refei-
preceitos do MEC (Brasil, 2008) quanto eficaz de algumas missões, além de tórios) em uma reação com uma base
à Academia Militar, os professores da suscitar o interesse pela disciplina. forte que fornece como subproduto,
EsPCEx procuram, atendendo ao artigo São desenvolvidas durante o ano além do sabão, a glicerina, que pode
12 dos PCNEM, desenvolver atividades várias atividades laboratoriais, envol- ser utilizada militarmente como base
práticas de laboratório que possam vendo inúmeros experimentos em na produção de explosivos. Simulta-
ser realizadas paralelamente às aulas cada atividade, além de demonstra- neamente é realizada também a deter-

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minação do teor de etanol na gasolina de obtenção de um biocombustível propelentes, munições e estabilidade
tipo C, utilizada por algumas viaturas do a partir de recursos simples (além de química, assuntos basais na cadeira de
quartel, para verificação da conformida- ser um tema estratégico no âmbito de química da AMAN. Alguns dispositivos
de do combustível conforme legislação geração de energia) e processos de utilizam reações químicas exotérmicas
vigente, fomentando, assim, conteúdos separação, fato que pode ser útil ao para gerar o aquecimento instantâneo
que serão estudados na Academia militar em necessidade. Exploram-se em refeições de campanha.
como o tema combustíveis. A técnica conceitos de propriedades físicas Nessa unidade didática, são reali-
denominada Teste da proveta é o teste como ponto de ebulição, métodos de zados quatro experimentos termoquí-
oficial adotado pela Agência Nacional separação, polaridade e interações micos: a) os estudos endotérmicos da
do Petróleo (ANP). intermoleculares. Discute-se também dissolução de tiocianato de amônio
Destaca-se aqui o fato de que as a questão da segurança no manuseio em água; b) estudos da reação entre
peças de sabão produzidas foram de substâncias químicas corrosivas e cloreto de amônio e hidróxido de bário;
utilizadas por alguns alunos que tes- a periculosidade do manejo de ácidos c) estudos exotérmicos da dissolução
temunharam a admiração diante dos fortes como o sulfúrico, além da com- de cloreto de cálcio em água; d) rea-
resultados de limpeza satisfatórios na provação de que a matéria orgânica ção exotérmica de sódio metálico (ou
lavagem de suas fardas após ativida- em tese é composta por carboidratos. potássio) com água. Os dois primeiros
de de campo. Da mesma forma, em A admiração dos alunos é evidente resultam em intenso abaixamento da
relação ao experimento envolvendo a quando o odor do etanol é emanado temperatura da solução e absorção de
qualidade da gasolina, no qual alunos e constatam a possibilidade de atear calor do meio, e os dois últimos, em in-
relataram que, para averiguar a quali- fogo ao destilado produzido, garantin- tensa liberação de energia para o meio
dade do combustível durante abaste- do que o álcool foi gerado no processo. e elevação da temperatura da solução.
cimentos de veículos particulares em Da mesma forma, mostram-se admira- O experimento com sódio é feito em
postos de combustível, começaram dos diante da reação de desidratação pequena escala pelos alunos dentro
a exigir a execução do teste, como que se processa com significante alte- do laboratório, onde são explorados
previsto em legislação. ração do aspecto do produto, seguido os conceitos de calor de reação,
Nesses experimentos contextualiza- de um aumento expressivo do volume observando-se a variação da tempe- 179
dos, além de explorados os conceitos pela geração de carvão e liberação de ratura da solução (que pode chegar a
de propriedades de compostos orgâ- gases, principalmente vapor de água. 30 ºC) e produção de bases inorgâni-
nicos como polaridade, miscibilidade Outra atividade que também se cas, conforme a equação da reação:
e reações orgânicas, espargem ainda mostra muito importante é a aula sobre 2 Na(s) + 2 H2O(l) → 2 NaOH(aq) + H2(g),
a possibilidade futura de obtenção de polímeros, que fomenta assuntos mi- verificada pela adição de fenolftaleína.
sabão em campanhas militares e em nistrados na Academia como materiais Posteriormente, de maneira segura, é
quartéis isolados, partindo-se de ma- de emprego militar. Nessa atividade, realizada a demonstração em maior
térias-primas locais e de fácil obtenção além da exposição de slides, são escala num grande gramado no inte-
como cinzas e gordura animal, o que apresentados pellets de diferentes po- rior da Escola, que desperta grande
também suscita a questão ambiental, límeros que darão origem aos produtos interesse dos alunos, pois normalmente
trabalhando questões como o despejo finais e objetos confeccionados com ocorre uma reação de explosão do
inapropriado de óleo usado. Corrobora esses polímeros como embalagens, gás hidrogênio gerado (conforme a
também o controle de qualidade do telhas, copos descartáveis e garrafas. equação: 2 H2(g) + O2(g) → 2 H2O(g)) e
combustível de um quartel, missão No entanto, o que mais desperta a fragmentação do recipiente onde se
essa pertencente aos militares respon- atenção é a poliamida Kevlar® muito realiza o experimento com projeção de
sáveis pela fiscalização administrativa utilizada militarmente em capacetes, estilhaços, processo muito semelhante
da organização militar. Aborda-se coletes à prova de bala e blindagem de à detonação de granadas.
ainda a possibilidade da separação e aeronaves militares como helicópteros. Os experimentos que podem ser
nitração da glicerina obtida para ob- São expostos retalhos de Kevlar, blin- aplicados militarmente atraem extre-
tenção de explosivos militares como a dagens e coletes feitos à base desse mamente a atenção dos alunos. Dentre
nitroglicerina (NG) da função orgânica polímero, possibilitando aos alunos eles, destacam-se os que ocorrem de
nitrocompostos, fomentando, assim, os a oportunidade de manuseio e uso maneira ativa com intensa liberação de
assuntos da UD I da Academia. desses artefatos militares. energia, como é o caso da demonstra-
A terceira atividade laboratorial ção da reação enérgica de oxidação
consiste na obtenção de etanol a Unidade didática II (Físico-Química): da glicerina pelo permanganato de
partir da destilação de garapa de potássio com a intensa liberação de
cana-de-açúcar fermentada e verifica- Os assuntos abordados em Termo- energia e geração de chama que pode
ção da ação de ácidos fortes sobre a química e Cinética Química têm por se propagar a outro material inflamável.
matéria orgânica no experimento de objetivo a análise de situações que Durante a aula, é explanado que a
desidratação de açúcar com ácido envolvam calor e velocidade de rea- glicerina e o permanganato de potás-
sulfúrico concentrado. Esses experi- ções, diretamente relacionados ao uso, sio podem ser levados pelo militar em
mentos demonstram a possibilidade manuseio e estocagem de explosivos, seu kit de primeiros-socorros durante

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campanhas. Os alunos aprendem que como granadas iluminativas que são
a glicerina pode ser aplicada como lançadas sobre as linhas inimigas em
agente umectante e hidratante, e o ignescência e, caindo com auxílio de
permanganato pode ser usado como paraquedas, iluminam a área ocupada
antisséptico para ferimentos ocasiona- pelo inimigo; aplicação desse material
dos durante as atividades militares. Em na formulação de algumas munições
caso de necessidade, ambos podem traçantes que se incendeiam em atrito
ser misturados para obtenção de fogo, com o ar durante um disparo e fornece
que pode ser ignificado sobre papel ou a trajetória do projétil em condições de
vegetação seca. baixa luminosidade; e na formulação
De forma contextualizada, essa de artefatos militares para a geração Figura 1: Ignição do fumígeno fabricado
reação pode ser aplicada também, por de fogo de campanha. Cita-se aqui a durante uma aula e usado militarmente
exemplo, em um sistema de alarme utilização de sílex pirômacos capazes para distração, sinalização e camuflagem.
de acampamento que, montado em de produzir faíscas quando percutidos
posição estratégica, é acionado pelo ou atritados por peças metálicas, que gia. É o caso da síntese do sulfeto de
inimigo ao esbarrar em um cordel de podem ser facilmente utilizadas pelo zinco (Zn + S → ZnS) que, em uma
tropeço transparente, promovendo a militar para geração de fogo pelo reação enérgica, libera fumos ama-
adição da glicerina sobre o perman- simples atrito com materiais metálicos relados após encetada por chama, e
ganato, dando início à reação que como uma faca de campanha. da síntese do iodeto de alumínio (3 I2
provocará o acendimento de explosi- Um experimento que atrai muito + 2 Al → 2 AlI3) que libera fumos de
vos unidos ao sistema. Esse artifício a atenção dos alunos é a fabricação cor fúcsia após reação iniciada por
foi utilizado na prática por um grupo de artefatos militares como fumígenos adição de água.
de alunos durante um treinamento de (Figura 1), que são misturas químicas Um dos experimentos que mais
atividade de campo. A mesma reação é que após reação geram ampla quan- atraem a atenção dos alunos é a rea-
utilizada como iniciadora da reação alu- tidade de fumaça e têm por objetivo ção de queima da pólvora negra (pode
180 minotérmica da termita, demonstrada distrair e diminuir a visibilidade da tropa ser empregada a nitrocelulósica de
em aula, que é a reação entre o óxido inimiga durante um combate ou camu- munições) para geração de fogo em
de ferro e alumínio que gera intensa flar ações coordenadas de ataque ou campanha, ocasionado pela faísca
liberação de calor, podendo chegar até retirada. Muitas vezes, emitindo fumos obtida por meio de um curto-circuito em
a 3000 oC. A reação de termita é empre- coloridos, estes possuem também uma palha de aço causado por uma pi-
gada militarmente, principalmente por a função de auxílio na localização e lha ou bateria. As pilhas que alimentam
meio de granadas de mão, na destrui- resgate. Esse tipo de reação química lanternas e os pequenos pedaços de
ção de peças de artilharia inimiga ou é amplamente utilizado principalmente palha de aço fazem parte da compo-
para imobilização e ataque a carros de em granadas e munições fumígenas, sição dos kits de sobrevivência que o
combate. Em vez de glicerina, também que são facilmente transportadas e militar carrega consigo em campanhas.
podem ser empregados outros alcoóis, empregadas pelo militar para gerar Ao se desmontar uma munição,
com o permanganato em meio ácido, uma distração durante uma ação. Po- é possível atear fogo à pólvora e, em
obtendo-se como resultado a geração dem ser fabricados misturando-se sob consequência a um material inflamável,
de fogo e até pequenas explosões. aquecimento proporções estequiomé- ocasionar uma faísca por meio de um
Essas práticas possibilitam ao aluno tricas de alguns carboidratos, corantes curto-circuito com a palha de aço. Tal
pensar em como obter calor e fogo em orgânicos, sais com caráter oxidante e conceito é muito empregado em ins-
instruções de sobrevivência, bem como substâncias retardadoras de chamas truções de sobrevivência em selva e
as condições de armazenamento e que originam uma pasta de fácil trans- em centros de referência de instruções
estabilidade de produtos químicos. porte e ignição, podendo ser deixada especializadas do Exército Brasileiro.
Dentre os experimentos que podem em local estratégico e sua combustão Todavia, a atividade prática de labo-
ser aplicados militarmente, há também iniciada por meio de um pavio ou es- ratório que mais desperta o interesse
a reação de oxidação do magné- poletas elétricas. Outro fumígeno em dos alunos refere-se ao uso militar do
sio metálico (conforme a equação: pó semelhante pode ser obtido pela fósforo branco - P4 (do inglês: White
2 Mg(s) + O2(g) → 2 MgO) que gera mistura direta desses ingredientes com Phosphorus – WP). Apesar de ser
intensa luminosidade e tem aplicação outros sais com caráter oxidante. muito utilizado como artefato militar e
na confecção de granadas ilumina- Os alunos produzem em aula considerado como um agente químico
tivas, munição traçante e artefatos quantidade reduzida de fumígeno, que de guerra, o fósforo branco não possui
individuais para geração de fogo. Um são iniciados no exterior do laboratório restrições ao uso quando utilizado
pequeno pedaço de magnésio metá- para verificação da eficácia da produ- em algumas situações como agente
lico é queimado, e os alunos podem ção de fumaça. fumígeno. Tais aspectos estão ratifica-
visualizar a intensa emissão de luz Outras reações trabalhadas tam- dos na Convenção sobre proibições
gerada. São comentadas as aplicações bém geram grandes quantidades de ou restrições ao emprego de certas
desse material em artefatos militares fumos com intensa liberação de ener- armas convencionais, que podem ser

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consideradas como excessivamente imperceptível. São trabalhados os con- triazinotriona de sódio (fornecido no kit
lesivas ou geradoras de efeitos indis- ceitos de combate a incêndio a esses de alimentação de campanha - Ração
criminados, de 3 de outubro de 1995, combustíveis, assunto que é ministrado operacional) no tratamento químico
sendo o Brasil signatário a partir de 2 durante as instruções militares. de água para consumo da tropa, além
de abril de 1996. Por meio de experimentos reali- dos processos físicos de separação de
Em contato com o oxigênio do ar, zados que abordam os conceitos de misturas para purificação da água de
o fósforo branco entra em combustão cinética química, são evidenciados campanha, realizando-se uma filtração
imediatamente, gerando um fluído a influência da temperatura, da con- em filtro de pedra e areia improvisado
incandescente segundo a seguinte re- centração e da superfície de contato com garrafa PET e purificação da água
ação: P4(s) + 5 O2(g) → P4O10(g). Por essa na velocidade da reação, conceitos com agentes floculantes como sulfato
razão, é utilizado como arma de guerra essenciais para o assunto Explosivos, de alumínio em meio básico e esterili-
de maneira encapsulada em munições que será abordado na Academia. Para zantes como o dicloro-S-triazinotriona
de artilharia, munições de carro de tanto, são utilizados comprimidos de sódio. Destaca-se aqui o entusias-
combate ou granadas que, quando efervescentes, variando-se as con- mo dos alunos ante o entendimento do
deflagradas, liberam o fósforo branco dições experimentais (água quente e processo de tratamento de água, suas
que se espalha atingindo o inimigo gelada, comprimido inteiro e em pó características e a possibilidade dessa
com uma “chuva de fogo”, gerando etc.) e cronometrando-se o tempo aplicação em campanhas militares.
uma intensa cortina de fumaça tóxica. de decomposição em cada condição Para enriquecimento curricular,
Apesar de seu emprego principal ser (Lima e cols., 2000). são realizadas visitas às estações
de agente fumígeno, ele é muito em- Um experimento visualmente atrati- de captação e tratamento de água
pregado como agente incendiário, pois vo e que contempla o assunto catálise e esgoto da Sociedade de Abasteci-
causa inúmeras baixas e vítimas pela é realizado colocando-se uma mistura mento de Água e Saneamento S.A.
toxicidade de seus fumos e também equivalente de peróxido de hidrogênio de Campinas (Sanasa), ampliando
adere e se difunde na pele na forma 10 volumes e detergente líquido em contato, exploração, vivência e co-
de fluído incandescente, causando uma proveta. A decomposição do nhecimento no tratamento de água.
severas queimaduras e podendo gerar peróxido de hidrogênio é acelerada Outra prática realizada que versa 181
ácidos em contato com água. (catalisada) pela adição de iodeto sobre equilíbrio químico consiste na
Nessa etapa dos estudos, é reali- de potássio ou óxido de manganês, reação entre cobre metálico e ácido
zada com os alunos uma demonstra- gerando uma estrutura volumosa de nítrico, formando, após sucessivas
ção da combustão de um pequeno espuma causada pela liberação de O2 reações, o dióxido de nitrogênio (NO2)
pedaço de fósforo branco em am- que chega até a se projetar para fora da e tetróxido de dinitrogênio (N2O4) em
biente externo ao laboratório, onde proveta, o que chama muito a atenção equilíbrio, que pode ser deslocado
se comentam os aspectos da sua dos alunos que conseguem, assim, com a variação de temperatura, desta-
utilização como arma, bem como os compreender um pouco mais a ação cando-se o equilíbrio químico segundo
critérios de segurança no manuseio. de catalisadores. “Le Chatelier” (Ferreira e cols., 1997).
Para enriquecer a experiência, são No estudo do equilíbrio químico, Em eletroquímica, o objetivo é
apresentados vídeos de ataques recen- o objetivo principal é a compreensão utilizar conceitos químicos para a
tes de alguns exércitos que utilizaram de reações reversíveis e potenciais produção e condução de energia
o fósforo branco como artefato militar hidrogeniônicos (pH) e sua aplicação elétrica a partir de reações químicas,
e de vítimas do ataque. no controle de tratamento de água. bem como manutenção, conservação
Explorando-se conceitos de or- Os conceitos explorados em equilí- e proteção de materiais metálicos
gânica e termoquímica, realizam-se brio químico preparam o aluno para o quanto à corrosão (Palma e Tiera,
demonstrações que despertam muito a tópico de química didaticamente de- 2003; Merçon e cols., 2004). Esse
curiosidade, envolvendo combustíveis nominado Água, estudado na AMAN, assunto é ministrado em consonân-
como etanol, metanol e gasolina tipo que se reporta ao tratamento de água. cia com o assunto Corrosão da UD II
C. Nessa demonstração, é ateado fogo Busca-se desenvolver a compreensão visto na AMAN.
aos três combustíveis e comparada a dos fatores relevantes no tratamento No que se refere à oxirredução,
queima de cada um e a chama produ- químico de água de campanha para reatividade de metais e corrosão,
zida. Expõem-se os conceitos da influ- consumo da tropa e da posição ge- os conteúdos são explorados com
ência do tamanho de cadeia carbônica ográfica para construção de fossas. o objetivo de entender, minimizar
e ligações químicas na combustão, São realizados experimentos que e evitar efeitos de corrosão, que
evidenciando-se que a queima da ga- abordam reações reversíveis, deslo- podem prejudicar os inúmeros
solina gera uma quantidade grande de camento de equilíbrio e medida do materiais metálicos utilizados pelo
fuligem e chamas amareladas devido a potencial hidrogeniônico de soluções. Exército como carros de combate,
uma reação incompleta, enquanto que Estuda-se o conceito da utiliza- barcos e helicópteros, além do
a do metanol, por uma reação comple- ção de substâncias químicas como manuseio de armamentos, em que
ta, praticamente não gera resíduos e o hipoclorito de sódio no tratamento os militares são obrigados a fazer
apresenta uma chama clara e quase de água e da substância dicloro-S- a manutenção de primeiro escalão,

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que consiste na limpeza e lubrifica- relógios ou lâmpadas de lanternas caiu da janela de seu apartamento
ção dos equipamentos. tipo LED. A montagem é realizada se e que teve grande repercussão na
São realizadas atividades práticas valendo de frutas ou batatas como mídia. A perícia forense realizou
como a construção de uma pilha meio condutor, artigos facilmente o reconhecimento de resíduos de
eletroquímica e associação em série encontrados nos acampamentos. A sangue, por meio do reagente qui-
e reatividade de diferentes metais admiração dos alunos é inconteste, mioluminescente Luminol que, de ma-
frente a ácidos e soluções salinas. especialmente ao constatarem a neira simplificada, reage com sangue,
Durante a aula de laboratório, os possibilidade de acionar calculadores emitindo uma luz de coloração azul e
alunos constroem duas pilhas de e lanternas a partir de pilhas descarta- permitindo a identificação da presença
Daniell, medindo suas diferenças de das e de materiais alternativos como de sangue em locais de crime. A reali-
potenciais, valendo-se de multímetros frutas e metais do cotidiano como um zação de uma demonstração da ação
e verificando o aumento da d.d.p. simples clipe de papel. do reativo Luminol suscitou grande
pela associação em série. Verifica-se A reatividade dos metais é abor- interesse. Trazer aspectos do cotidia-
também a alteração na d.d.p. quando dada utilizando-se placas de diferen- no, além de enriquecedor, desperta a
se utiliza solução de cátions diferente tes metais mergulhadas em soluções busca pelo saber.
do metal utilizado na placa do ele- ácidas e salinas de íons de potenciais
trodo. Nessas atividades, são explo- diferentes dos do metal. O experimen- Outras metodologias de ensino
rados os conceitos de oxirredução to permite que o aluno, ao visualizar
e associação em série de circuitos a ocorrência da reação, construa Além das atividades práticas,
(interdisciplinaridade com a disciplina uma fila de reatividade das espécies outros recursos didáticos tornam a
de Física) na montagem de pilhas. químicas, ordenando-as conforme o aula dinâmica, possibilitam maior
Com o intuito de demonstrar ao potencial de redução. participação dos alunos e facilitam
aluno a possibilidade de adaptação Outros estudos envolvem a dispo- o processo ensino-aprendizagem.
de materiais às necessidades do sição de rebites ou pregos de ferro Destacam-se a utilização de modelos
momento, são utilizados também colocados em tubos de ensaio em moleculares (modelos de bolas), que
182 materiais alternativos (laranja, batata diferentes condições: imerso total- permite a visualização espacial da es-
etc.) na construção de pilhas (Figura mente em óleo vegetal; parcialmente trutura molecular e suas propriedades;
2) e evidenciada a reutilização de imerso em água e envolto por sílica recursos audiovisuais de animações e
pilhas usadas com aproveitamento gel em um tubo seco e com tampa slides feitos em computador; vídeos
da carcaça e eletrodo de grafite na ou três pregos parcialmente imersos de experimentos; e utilização de pro-
confecção de pilhas alternativas. em água, sendo que um deles está gramas computacionais específicos
envolto em um fio de cobre e outro em de química como o Chemwindow
uma fita de magnésio para se avaliar e o Chemsketch para desenho de
o efeito de proteção catódica desses moléculas, estudo de nomenclatura e
metais e sua relevância na manu- configuração espacial e das proprie-
tenção da integridade dos materiais dades atinadas à estrutura molecular.
bélicos. Esses experimentos são
muito bem recebidos e interpretados Considerações finais
pelos alunos, principalmente quando
remetidos a materiais militares am- Baseado nessa sistemática de
plamente empregados pelo exército ensino, constata-se maior interesse
como barcos de alumínio que usam e motivação dos alunos, interagindo
Figura 2: Arranjo de pilhas montadas rebites do mesmo material para mini- com as atividades, passando de me-
com materiais alternativos (laranja) para mização de corrosões eletroquímicas. ros espectadores a agentes atuantes,
geração de energia para funcionamento Vários outros experimentos con- desenvolvendo sua capacidade de
de equipamentos simples como calcula- textualizados e de cunho militar estão observar, analisar, sintetizar e agir
doras e lanternas. disponíveis e podem ser trabalha- pronta e apropriadamente frente às
dos durante o ano letivo de modo diferentes situações, qualidades ine-
O conhecimento da montagem a despertar maior interesse e fixar a rentes à carreira militar.
de pilhas pode ser aplicado em situ- atenção dos alunos para as aulas. Por serem muito mais dinâmicas e
ações de combate, usando-se, por A oportunidade de contextualização participativas, as atividades práticas
exemplo, barras de ferro da estrutura igualmente pode ser aproveitada em mostraram resultados animadores,
de sustentação das barracas de casos específicos. Situações fáticas pois instigam os alunos a fazer parte
campanha ou facas de campanha e são utilizadas para exemplificar tec- do processo e, assim, desenvolver
fios de cobre, além de outros metais nicamente os conceitos abordados, de maneira mais concisa o raciocínio
disponíveis, com o intuito de acender como num caso de comoção social químico, vivenciando inteiramente o
dispositivos elétricos de baixa resis- amplamente noticiado, no qual houve processo de ensino-aprendizagem.
tência interna como calculadoras, o falecimento de uma menina que Observou-se que quando os ex-

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perimentos possuem um objetivo de graus, estão os progressos do ender que a teoria e a prática a ela
militar implícito, a participação dos processo de ensino construídos na associada não constituem um mundo
alunos é muito maior, mais efetiva e perspectiva da contextualização, fechado, mas apenas o horizonte que
ativa. Não são raras as vezes em que observados pela empolgação e deve ser vislumbrado, permitindo a
permanecem no laboratório após o participação ativa dos alunos nas conexão dos conteúdos vivenciados
encerramento das aulas para debates atividades e maior interesse pelos na escola à prática da carreira militar.
sobre os conceitos desenvolvidos e tópicos. No entanto, há de se realçar A contextualização do ensino é uma
projeções sobre o futuro na carreira que a média final das notas dos alu- ferramenta importante para instigar
militar, sacrificando até mesmo os nos na disciplina obteve ascensão o interesse pela ciência. Acredita-se
intervalos entre as aulas. Assim, crê-se em torno de 1,3 pontos nos últimos que de maneira efetiva a subseção
que o emprego de atividades práticas quatro anos, passando de 6,3 para de química da Escola contribui no
de laboratório e a contextualização do 7,6, particularidade creditada funda- aprendizado de instruções militares
ensino voltado à carreira militar, além mentalmente à metodologia adota- com aplicação de reações químicas e
de motivar a participação dos alunos, da. Outro detalhe destacado é que o capacita o aluno no desenvolvimento
são fatores preponderantes que con- percentual de alunos que obtiveram do raciocínio lógico crítico.
tribuem para um crescente aumento graus excelentes (estabelecidos
das médias das notas na disciplina em termos de menção E com notas
Sérgio Henrique Frasson Scafi (shfscafi@espcex.ensino.
nesses últimos anos. superiores a 8) passou de 0,93% no
eb.br), bacharel e licenciado em química, mestre em
Há de se destacar também a ano de 2006 para 10,57% no ano de química analítica e doutor em ciências pela UNICAMP,
contribuição da experiência viven- 2009, com gradual crescimento. 2º Ten. R/2 do Exército Brasileiro, é professor efetivo
ciada, em que, mais relevante que Por meio do trabalho realizado, de química e de atividades práticas de laboratório
os resultados expressos em termos os alunos são levados a compre- da EsPCEx.

ROCHA-FILHO, R.C. Algumas experiên- 5, p. 1374-1380, 2007.


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Abstract: Contextualization of the Teaching of chemistry in a Military School. This paper refers the contextualization of teaching chemistry applied to a military school, where practical laboratory
activities and demonstrations of chemical reactions with a focus or military application are developed in a contextualized, allowing students to the development of reasoning and arousing greater
chemical interest in the class. Activities include themes and subjects taught in EsPCEx serve as preparation for the future Cadet activities planned in the chair of the chemistry of AMAN. Are worked
in conjunction with the content of the theoretical concepts applied in the classroom. It appeared that when the practical activity is related to the daily military or their career, students become more
accessible to the learning process and the interest shown by the activity more effective, resulting in an improvement in teaching process, and therefore, the results obtained by students in terms
of grades, setting content and learning.
Keywords: military education, chemical experiments, laboratory practice

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