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Perspectivas cristãs para o século XXI

Introdução

Com este título, “perspectivas cristãs para o século XXI”, proferi uma longa
palestra, no Colégio Máximo Palotino, dia 23 de setembro último, fazendo a
apresentação de meu livro “A novidade da Novidade”. Vou tentar neste artigo dar
aos leitores um eco do conteúdo dessa palestra.
Com a palavra “perspectivas” pode-se entender, antes de mais nada, aquilo
que se prevê para um futuro próximo ou longínquo. Sendo para o século XXI, é
também para o terceiro milênio. Pode-se, ainda, entender aquilo que se espera ou
se deseja que aconteça para os próximos tempos. Naturalmente, essas previsões e
essas esperanças, a que vou referir-me, dizem respeito à imagem que o
cristianismo irá apresentar no século XXI e, por decorrência, no terceiro milênio.
Muitos autores já trataram desse assunto. Poderíamos formular várias
caracterizações a respeito. Alguns falaram do século da “civilização do amor”.
Outros, na esteira de João Paulo II, falaram do século da “Nova Evangelização”.
Terceiros, falaram da volta à “espiritualidade”, à “vida mística”. Finalmente, um
quarto grupo está falando do “século do Espírito”, concretamente, do Espírito
Santo. Essas quatro formulações se entrecruzam, se condicionam mutuamente, de
sorte que não se pode tratar uma, com exclusão das demais.
Em meu livro, “A novidade da Novidade”, enfoquei as “perspectivas” pelo
prisma da Nova Evangelização, sendo que o subtítulo soa assim: “Novo milênio,
nova Evangelização”. O último capítulo, ademais, leva esse título.
Entretanto, todos os demais capítulos não tratam diretamente das perspectivas,
mas dos pressupostos para que se realizem as perspectivas da Nova Evangelização.
Entendi que mais importantes que as previsões e as esperanças são os pressupostos
para que tais previsões e esperanças se realizem. De sorte que esses pressupostos,
de forma alguma, poderão ser supostos. Deverão ser levados em conta, sob pena de
não acontecer o que se prevê, o que se espera.
São, na verdade, os fundamentos para a Nova Evangelização. É ilusório querer
“construir sobre a areia”, sem fundamentos.
Posterior à minha palestra de 23 de setembro, Frei Clodovis Boff manifestou-
me, em carta, essa mesma compreensão, a respeito de meu livro. Escreveu: “Seu
livro chegou tão rápido quanto o li de um sorvo. Gostei. Partilho com o núcleo de
sua preocupação: Volta aos fundamentos... Também acho que existe um “olvido da
arché”... o princípio, o fundamento.” Frei Clodovis fala, em seguida, de um artigo
seu que aparecerá proximamente com o título “Retorno à arché da teologia”.
Igualmente, o diretor do Instituto de Teologia dos jesuítas de Belo Horizonte,
Pe. João A. Mac Dowell, escreveu ao Pe. Ilvo, com data de 04 de setembro,
confirmando que meu livro trata dos fundamentos da evangelização. Escreve:
“Peço-lhe que transmita ao autor o testemunho de minha admiração pela sua obra
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de estudioso sério, animado de grande espírito apostólico, que com clareza e


profundidade apresenta as grandes linhas da missão evangelizadora da Igreja.”
Quais, então, os necessários pressupostos à Nova Evangelização que se
encontram em “A novidade da Novidade”? São, fundamentalmente, dois núcleos.
Primeiro, o reconhecimento da verdadeira identidade de Jesus. Segundo, decorrente
do primeiro, o reconhecimento da verdadeira prática de Jesus.

1. O reconhecimento da identidade de Jesus

A maior de todas as questões, a pergunta, a maior de todas quantas foram


proferidas em toda a história da humanidade, certamente, foi esta: “E vós, quem
dizeis que eu sou?” (Mt 16,15).
A vida eterna, nada menos que a vida eterna, depende da resposta a essa
pergunta. Pois “assim é necessário... a fim de que todo aquele que crer tenha nele a
vida eterna... todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,15-16);
e, “quem crê no Filho tem a vida eterna, quem recusa crer no Filho não verá a vida”
(Jo 3,36); e, “aquele que crê em mim..., de seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo
7,38); pois, “a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para
a vida eterna” (Jo 4,14); “Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o
único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
É por essa identidade, é por esse nome, que se dá no mundo a salvação: “Pois
não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser
salvos!” (At 4,12).
Acaso não se poderia interpretar o “pecado contra o Espírito Santo”, (Mt 12,
31-32), simplesmente, como o não reconhecimento da identidade de Jesus? A
Bíblia de Jerusalém diz que esse pecado consiste em não crer nas obras do Espírito
que são realizadas por Jesus. Entretanto, os escribas e fariseus não criam nas obras
porque tinham problemas com a identidade de Jesus. Como pode ser o Messias, se
ele se apresenta tão diferente do personagem que nós estudamos e entendemos no
Antigo Testamento?
Portanto, em primeiro lugar, trata-se do pecado de não reconhecer quem é
Jesus. Acabei de citar, com efeito, que “quem recusa crer no Filho não terá a vida”.
Pois a vida consiste em acolher a salvação, o perdão. Recusar-se a crer nele, não
crer quem Ele é, seria como fechar-se para o perdão. Explicitamente Jesus mesmo o
afirma: “se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados” (Jo 8,24).
Portanto, não sereis perdoados.
Pior ainda, em segundo lugar, esse pecado chega ao cúmulo de identificar
Jesus com Seu inimigo maior, Belzebu, “o príncipe deste mundo que, agora, será
lançado fora” (Jo 12,31). Há aí todo um contexto no Evangelho de Mateus a
respeito do pecado contra o Espírito Santo, desde o versículo 22 do capítulo 12.
Jesus cura um endemoninhado cego e mudo. “Toda a multidão ficou espantada e
pôs-se a dizer: ‘Não será este o Filho de Daví’? Mas os fariseus, ouvindo isso,
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disseram: ‘Ele não expulsa demônios, senão por Belzebu, príncipe dos demônios”.
(Mt 12,24).
Aí está, certamente, o maior pecado contra o Espírito Santo. Não poderá ser
perdoado. Pois inclui uma blasfêmia de suprema malícia. Identifica Jesus com seu
maior inimigo. Não só significa dispensar, abandonar Deus na vida, não só
significa negar Deus mas, ainda, trocá-lo pelo seu maior inimigo. Trocar o bem
pelo mal. É o desvio total do caminho da vida. “Acaso troca um povo de deuses? –
e esses não são deuses! Mas meu povo trocou a sua Glória pelo que não vale nada.
Espantai-vos disso, ó céus, horrorizai-vos e abalai-vos profundamente – oráculo de
Javé. Porque meu povo cometeu dois crimes: Eles me abandonaram, a fonte de
água viva, para cavar para si cisternas, cisternas furadas, que não podem contar
água” (Jr 2,11-13). Trocaram a fonte de água viva pela cisterna rachada.
Jesus é, com efeito, o divisor das águas da humanidade, pois “este menino foi
colocado para a queda e para o soerguimento de muitos, e como um sinal de
contradição” (Lc 2,34). E de escândalo. Hoje, mais que nunca, essa profecia
continua acontecendo. E, naturalmente, não acontece entre os que não conhecem
Jesus. Acontece entre os que se dizem seus seguidores.
Qual, portanto, a identidade de Jesus? Para a crise cultural e de fé em que
vivemos, é urgente recordar o fundamento e não se perder em questões periféricas.
Essa era também a intenção primeira dos evangelistas. Desde os primeiros
versículos até os últimos ressoa a mesma insistência: “Princípio do Evangelho de
Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1); “Verdadeiramente este homem era filho de
Deus” (Mc 15,39). A intenção mais patente dos evangelistas, em verdade, era de
confirmar na fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, as comunidades nascentes.
Quem é, portanto, Jesus? A identidade de Jesus Filho de Deus, “unigênito do
Pai” (Jo 1,14), “um com o Pai” (Jo 10,30), “consubstancial com o Pai”, “Deus de
Deus”, “luz da luz”.
Se esse homem, Jesus Cristo, é Deus, por mais que ele tenha sido humano, não
podemos sequer sonhar em rebaixá-lo ao nível dos demais homens. Não podemos
nos prevalecer por ele ter-se recusado até a morte de cruz comportar-se como
Deus. A rotina, por outro lado, é como a ferrugem que tira o brilho dos metais
preciosos. Assim nossa rotina de cristãos dilui essa realidade estupefaciente, que
ultrapassa todo entendimento, na confusão das obviedades e até das banalidades
cotidianas.
É ela, entretanto, que faz nascer em nós o que se tem chamado de
“radicalidade do Evangelho”. Não são os conselhos morais, como se costuma
afirmar, o que por primeiro apela para essa “radicalidade”. Os conselhos morais do
Evangelho a supõem. Somente essa realidade estupefaciente poderá produzir
comportamentos de ordem moral, despertando energias desconhecidas de nossa
natureza, como sucedeu com João Pozzobon, Teresa de Calcutá, Vicente Pallotti, e
outros muitos santos e mártires.
Há uns trinta ou mais anos atrás preguei um retiro aos então seminaristas
argentinos sobre o tema: Por onde se poderia começar a entender o cristianismo? O
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tema girou em torno da seguinte afirmação: O cristianismo começa quando


levamos o Deus de Jesus Cristo a sério!
Jesus de Nazaré, em verdade, continua sendo, hoje ainda, “sinal de
contradição”. Muitos ouvidos modernos habituados ao humanismo reducionista não
suportam as conseqüências radicais de um Deus feito homem. Jesus mesmo nos
havia prevenido: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora
suportar” (Jo 16,12).
Não será essa uma das razões porque a Declaração “Dominus Jesus”, de 06 de
agosto último, tem provocado tanto reboliço? Não discuto a oportunidade ou a
pedagogia usada nessa declaração, pela qual muitos sentem-se “atropelados”.
Limito-me a chamar a atenção para sua intenção primeira. “Dominus Jesus”, na
minha percepção, quer, em primeiro lugar, prevenir a que não se nivele por baixo a
pessoa de Jesus Cristo, reduzindo-o ao nível dos outros personagens históricos da
humanidade. Como poderíamos, os que cremos em Jesus, “sofrer” que Ele, o Filho
de Deus, aquele que se definiu como o “EU SOU” (Jo 8,24; 8,58; 13,19), numa
referência explícita à definição de Deus dada a Moisés, seja reduzido ao nível de
Gandhi, Luther King, Che Guevara, Chico Mendes?
Já citei outras vezes Aleksandr Mien, em seu livro “Jesus Mestre de Nazaré”.
Parece que a intenção primeira desse precioso livro, encontra-se também na
seguinte página que repete o que venho dizendo:
“A pergunta de Jesus: “Quem o povo acha que eu sou?”, ressoa ainda hoje.
Também hoje, como há dois mil anos, muitos vêem em Jesus de Nazaré só um
profeta ou um mestre defensor de uma doutrina moral, e se perguntam por que
milhões de pessoas reconhecem precisamente nele, e não em Isaías ou em Moisés,
o “Filho da mesma natureza do Pai”? Em que consiste de fato a atração exclusiva
exercida por Jesus? Apenas na sua doutrina moral? Mas Buda, Jeremias,
Sócrates, Sêneca também propunham uma ética elevada....Entretanto, o Evangelho
em nada se assemelha a uma simples pregação moralizadora. Com esta pergunta,
penetramos em um campo que toca o que de mais misterioso e difícil existe na
Nova Aliança. Aqui se escancara de improviso, diante de nós, o abismo que separa
o Filho do homem dos filósofos, moralistas e fundadores de religiões de todas as
épocas... Quando Filipe lhe pediu timidamente que lhes mostrasse o Pai, Jesus
respondeu com palavras que nem Moisés, nem Confúcio, nem Platão jamais
poderiam proferir: ‘...Quem me vê, viu o Pai!’”(p.163).
A identidade de Jesus é o primeiro pressuposto da Nova Evangelização, um
pressuposto que não pode ser suposto.

2. Os pressupostos da prática de Jesus

A prática de Jesus é também o que “de mais misterioso e difícil existe na


Nova Aliança”. Abrir o coração, deixar-se invadir por esse mistério, é o segundo
pressuposto para a Nova Evangelização.
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A prática de Jesus, com efeito, é tão misteriosa quanto a sua identidade. Foi
por isso que os judeus em geral, incluídos os discípulos, não conseguiam entender
Jesus. Estes últimos começaram a entendê-lo somente dez dias após a Ascensão. E
assim será por todos os séculos, pois, “este menino foi colocado...como um sinal de
contradição” (Lc 234). Mais. A espada que traspassará o coração da Mãe Maria
será “para que se revelem os pensamentos íntimos de muitos corações” (Lc 2,34-
35).
Neste capítulo vou recordar, antes de mais nada, o que Jesus veio fazer em
nós. Veio da parte do Pai a fim de partilhar conosco tudo quanto de melhor possuía,
de vez que essa é a dinâmica do amor. A dinâmica do amor é partilhar com a
pessoa amada tudo quanto de melhor se possui. Ora, o que se tem de melhor é a
própria natureza. Partilhar da própria natureza significa gerar um filho. Gerar outro
igual a si é, portanto, o que há de mais sublime e “divino” na natureza.
Em Deus, a “ação” de gerar é idêntica e simultânea, “tota simul”, com a
natureza de Deus. É a realidade da Trindade: Um Pai e um Filho na eternidade de
um Amor; um eterno Amante de um eterno Amado num eterno Amor.
Esse amor a Trindade o difundiu na criação e “nestes dias que são os últimos,
falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,2). O Unigênito do Pai, desde então, tornou-se
Primogênito, porque se tornou Filho “entre muitos irmãos”, segundogênitos. O Pai,
sempre “por obra do Espírito Santo”, partilhou conosco, “à imagem de seu Filho”,
o que tinha de melhor, sua própria natureza. Fez-nos “participantes da natureza
divina” (2Pd 1,4). “Participantes da natureza” é a própria definição de geração.
Significa que somos gerados filhos. Deus repete no tempo, participativamente, sua
“ação” eterna de gerar.
Jesus foi incisivo com Nicodemos: “quem não nascer do alto”...(Jo 3). E João
acentua: “A todos que o receberem deu o poder de se tornarem filhos de Deus, aos
que crêem em seu nome...”(Jo 1,12). E, então: “Vede que prova de amor nos deu o
Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1Jo 3,1).
A geração é o fruto supremo do amor. Mas, o amor não se esgota no puro ato
da geração. A tendência do animal para com o filho, praticamente, se esgota no ato
da geração. Pois, o animal, propriamente, não ama. Nos humanos o amor, por ser
amor, não se esgota no ato da geração. O amor é dotado de uma dinâmica de
continuidade, de perenidade e de crescimento indefinido em relações interpessoais.
Expressando essa realidade, um autor falou do “segredo de Jesus”. O segredo
de Jesus consiste em não somente partilhar de sua natureza conosco mas também
em partilhar conosco das relações do amor trinitário. Deveria ser o mais óbvio.
Pois, nele a perenidade do amor é absoluta, porque nele o amor é plenitude infinita.
Assim que um dos núcleos da Bíblia é, precisamente, “o Deus Fiel”.
Quando Jesus disse, “eu vos chamo amigos” (Jo15,15), não quis dizer que se
tratava somente de uma relação bilateral entre ele e os discípulos. Tratava-se, muito
mais, de uma relação trilateral, como é próprio do amor. Com efeito, “quem me
ama será amado por meu Pai” (Jo14,21). Isto é, o mesmo amor eterno entre o Pai e
o Verbo eterno é partilhado: “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei”
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(Jo 15,9). Jesus partilha conosco o amor trinitário. É o segundo “segredo” de Jesus
que se fundamenta naquele que Jesus revelou a Nicodemos. Fundamenta-se na
filiação.
“Participantes da natureza divina”. A Bíblia de Jerusalém comenta que aqui
“se exprime a plenitude da vida nova em Cristo, isto é, a comunicação que Deus faz
de uma vida que só a ele pertence”. Por isso, “está aqui um dos pontos de apoio da
doutrina da “deificação” dos Padres gregos”.
Nisso está a primeira prática de Jesus. Afirma-se aqui, em primeiro lugar, a
que veio Jesus, da parte do Pai, fazer entre nós. Em teologia tem-se chamado essa
realidade de “graça”. A graça, portanto, é, sim, “algo” que Deus fez em nós e não é
“somente a sua presença em nós”. É muito mais que só presença.
Com o tema da graça tocamos aqui aquilo que o Cardeal Danneels chamou de
“o verdadeiro drama da Igreja de hoje” (Cfr “30 Dias”, nº 5,1997). Qual o nome do
“verdadeiro drama” da Igreja, hoje, apontado pelo Cardeal? É o mesmo de 1600
anos atrás e se chama de pelagianismo.
Em que consiste o pelagianismo? Pelágio, monge irlandês, de vida muito
austera, começando a ensinar que o pecado original não teve maiores implicâncias
para nossa natureza, minimizava a natureza e o papel da graça em nós.
A graça não seria, como toda natureza é, um princípio ativo em nós, donde
brota “o querer e o operar” (Fl 2,13). A graça seria somente um auxílio. O agir é
nosso, Deus nos ajuda em nosso agir. Mais. Segundo o testemunho de Santo
Agostinho sobre o pelagianismo, a graça seria somente para nos auxiliar nos
empreendimentos que não estivessem em nosso poder. A justificação, a salvação,
vencer as tentações, estariam em nosso poder ascético.
Em conseqüência, Jesus, na descrição do “Dictionaire de Théologie
Catholique”, “não é um princípio vivo, criador e santificador; Ele é somente um
modelo que nos encoraja a nos aperfeiçoar...; a graça não é outra coisa que a
influência do exemplo de Cristo, exercida sobre o homem”.
Ainda, segundo L. Bouyer, em seu “Diccionario de Teologia”, “a graça, de
acordo com o pelagianismo, não faz mais que iluminar o homem a respeito do fim
que deve alcançar, para em seguida coroar os esforços feitos para alcançá-lo”.
Observe, o “amável leitor”, o que se escreve e o que se prega, hoje. Observe e
pergunte-se, por favor: quem, hoje, ao se referir à ação de Jesus sobre nós,
caracteriza essa ação mais que uma simples ajuda, ou uma luz que ilumina nossos
projetos, nosso agir? Repete-se, constantemente, “à luz da fé”, “à luz do
Evangelho”, “à luz de Deus”, e se fica nisso. E quem, hoje, considera Jesus mais
que um modelo encorajador, um exemplo a seguir, ao par de outros exemplos de
personagens históricos?
A graça, portanto, é verdadeiramente um princípio infundido em nossa
natureza, desde o batismo, do qual deverá brotar toda ação do cristão. Não é um
elemento justaposto à nossa natureza, não é um auxílio à nossa natureza. É nossa
própria natureza que é “refundida”, “deificada”. Nossa natureza de “natural” é
refeita “sobrenatural”. É re-gerada, regenerada.
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Levando em conta o que acabo de considerar, cabe aqui considerar qual o


sentido da tão badalada “ação social da Igreja”. A “ação social” do cristão, no meu
entender, não pode ficar sem os respetivos pressupostos cristãos.
Quais seriam esses pressupostos da “ação social da Igreja”? Este,
provavelmente, representa um dos aspectos mais problemáticos na Igreja de hoje.
Estou, em “A novidade da Novidade”, a propor esse tema à reflexão dos teólogos
para que juntos, acaso, possamos encontrar o cominho.
Começo por afirmar que é decisivo, de acordo com que vimos acima,
sensibilizar-nos à voz da “natureza divina” em nós que nos dirá, pela sua própria
dinâmica interna, como deverá acontecer nossa “ação social”.
Repito, Deus Pai, “aos que de antemão ele conheceu, esses também
predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de ser o Primogênito
entre muitos irmãos”, (os segundogênitos). (Rom 8,29). Deus Pai, “deificando”
nossa natureza, nos constituiu com isso, parceiros livres de Sua ação no mundo.
Em que sentido nos constituiu parceiros livres de sua ação no mundo? Nos
constituiu “conformes à imagem de seu Filho”, outros Cristos, animados,
internamente, visceralmente, da mesma “forma” de Cristo, “conformes à imagem
de seu Filho”. Na expressão de Beata Isabel da Trindade, Deus Pai nos constituiu
“outra humanidade Sua”, isto é, outra humanidade de Cristo.
Acaso não foi esse mistério insondável que São Paulo experienciou, quando
pôde exclamar: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)?
Para tirarmos as conseqüências desse fato primeiro há que recordar, com
outras palavras, o que disse acima. No universo, há um dado elementar. Em
primeiro lugar, todo efeito, todo “fruto”, emerge, brota de algum princípio de agir.
E os princípios do agir chamam-se de naturezas. Em segundo lugar, toda natureza
produz efeitos, frutos, semelhantes a si. Dos animais nascem animais, das plantas
nascem plantas. Com isso, o efeito repete, de alguma forma, a causa e é sempre
semelhante a essa sua causa de origem. Sua estrutura, sua “fisionomia” e até sua
índole manifestam ao exterior a origem. O filho é semelhante aos pais e revela ao
exterior sua procedência.
Da mesma sorte, se somos “participantes da natureza divina”, segundogênitos,
filhos de Deus, é dessa natureza que deverá brotar, emergir, toda ação, todo
dinamismo do cristão. Por sua vez, essa ação, esse dinamismo revela ao exterior a
“cepa” donde brota, a “fonte” donde nasce.
Ao mesmo tempo, é verdade que se deve acrescentar que essa ação, esse
dinamismo, reflui para a cepa e para a fonte. Não reflui, porém, pelo seu próprio e
originário vigor, mas pelo impulso, pelo vigor da seiva da cepa e da vertente da
fonte donde se originou.
Esse “jogo” é expresso por místicos insignes. Guilherme de Saint Thierry,
místico medieval, numa obra sobre a contemplação, nos diz que o primeiro dom
que recebemos é o dom do desejo de Deus. O desejo vem a ser, a seguir, saciado
por Deus. Essa saciedade produz maior desejo. Maior desejo desperta maior
saciedade. E, assim, em espiral, indefinidamente.
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Santo Agostinho, em sua carta a Proba, nos fala que na oração “o intuito de
nosso Senhor e Deus não é ser informado sobre nossa vontade... Mas despertar
pelas orações nosso desejo, o que nos tornará capazes de conter aquilo que se
prepara para nos dar” (Liturgia das Horas, IV, 353).
Jesus convida e insiste que os ramos permaneçam sempre unidos à cepa
porque, só assim, “aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
A conclusão que tiro dessa reflexão é que a tão acentuada “ação social” da
Igreja é tomada em sentido unívoco. Isto é, salvo engano, em nenhum escrito
teológico e pastoral encontrei que se faça a necessária distinção entre uma “ação
social” e outra “ação social”, entre a ação social do líder popular que não age por fé
e aquela do evangelizador, que age por fé, consoante o que nos é dito: “Nele a
justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: ‘O justo viverá da
fé’” (Rom 1,17). E em outra passagem se diz: “O meu justo viverá pela fé” (Hb
10,38).
Sem essa distinção entre uma e outra ação social, toda ação social é nivelada
por baixo e o cristão termina entrando no jogo do “mundo”, lutando no mesmo
campo, aceitando as mesmas regras do jogo, usando as mesmas armas. Escutei que
o Pe. Henrique Vaz, ter-se-ia sentido muito incômodo, quando a JUC que ele
assessorava, nos inícios dos anos sessenta, entrou nesse “jogo”, aceitou as regras do
jogo, o “Betinho” à frente. Naquela época critiquei em aula um livro publicado em
parceria entre o Pe. Henrique Vaz e o Betinho.
A Igreja como um todo também corre esse risco de deslizar, univocamente,
para esse nível da ação social. Em conseqüência, assume tarefas que são da
competência do Estado e se expõe a protelar para um futuro incerto sua ação
específica evangelizadora. Não estaríamos assim sonhando ou, inconscientemente,
encaminhando-nos para uma nova “era da cristandade”, desde que a Igreja passa a
se ocupar das competências do Estado?
É verdade que há uma urgência no socorro aos injustiçados, pobres e
excluídos. Santo Agostinho, porém, adverte seus contemporâneos de que os
imensos males que eles vivem lamentando, são até inferiores aos dos séculos
passados e que não seria o caso de ficarmos lamentando-nos.
Essa urgência, por isso, que não é novidade desde Caim e Abel, não estará
criando na Igreja a ilusão de que as soluções mais imediatas, aparentes e
“humanas”, seriam mais eficazes que aquelas da fé? É verdade que nenhum cristão
admite que a fé seja “ópio do povo”. Mas, estaríamos suficientemente isentos da
contaminação desse bacilo quando, na prática, agimos como se a fé fosse, não digo
nociva, mas inoperante? Tenho lido uma piada que dizia que os americanos que
combateram o marxismo ficaram contaminados por ele como os antropófagos que,
tendo devorado os inimigos deram-se conta, no fim da festa, que esses inimigos
eram aidéticos. Ora, muitos cristãos não foram antropófagos mas viveram na
promiscuidade com o inimigo. A agora têm dificuldade de discernir e admitir a
contaminação.
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Ainda até pouco tempo tenho escutado de uma pessoa que trabalhava nas
comissões da CNBB, que não podemos evangelizar enquanto não elevarmos o
povo a um nível de vida aceitável. Muito bem, pergunto, quando nós vamos atingir
o nível de vida, por exemplo, da Alemanha? E, perguntemos aos próprios alemães
que atingiram um razoável nível de vida, se resolveram o problema da
evangelização! Fora assim, Jesus também não teria evangelizado, pois, as
condições de vida da época eram ainda piores.
Fala-se com uma impressionante e louvável freqüência da “prática da fé”, de
buscar a transformação das estruturas “à luz da fé”, “à luz do Evangelho”. Mas,
além do que disse acima do pelagianismo, minha dúvida, e suspeita, é de que essa
“ação social”, que é chamada de “prática da fé”, vem a ser tomada em sentido
unívoco e, com essa ambigüidade, não chega a ser mesmo “prática da fé”.
Acabo de ler, na última “Convergência” de novembro de 2000, um artigo de
um jovem jesuíta italiano, Mássimo Pampaloni. O artigo intitula-se “O Palhaço de
Keirkegaard, a urgência da redescoberta da Iniciação Cristã”. Mandei-lhe logo um
exemplar de “A novidade da Novidade”, dizendo-lhe que me sentiria honrado se
esse artigo figurasse como introdução ao meu livro. O autor não trata
explicitamente da prática de Jesus, mas aponta para a direção certa no trato da
iniciação cristã, como pressuposto dessa prática. É um artigo que representa uma
nota dissonante na “orquestra teológica de uma nota só” montada no Brasil.

3. A Prática de Jesus

Falei no capítulo anterior dos pressupostos da prática de Jesus, visualizando o


que Jesus veio partilhar conosco e a conseqüência que decorre daí para “a ação
social” do cristão.
Agora digo uma palavra sobre a prática de Jesus em relação, precisamente, aos
fatos sócio-históricos. Tem-se insistido que essa prática é paradigmática para nossa
prática. Considero esse procedimento legítimo.
Antes de mais nada, a primeira prática de Jesus é sua própria Encarnação. A
teologia empregou sempre uma palavra muito esclarecedora. Trata-se do verbo
“assumir”. Isto é, pela Encarnação o Verbo Eterno assumiu a natureza humana.
Mais propriamente, assumiu uma natureza humana. Não foi o homem que se fez
Deus, foi Deus que se fez homem.
É verdade, por isso, como se costuma acentuar, hoje, que o Verbo Eterno
desceu a nós. Muitos, entretanto, consideram somente esse “movimento”. E com
isso, na era dos humanismos em que vivemos, ficam enleados em considerações
humanistas. Se essa é a misteriosa e imensa realidade, Deus ter descido até nós, não
foi, entretanto, para nos deixar em nossos baixios humanos. Ele desceu até nós a
fim de nos elevar até ele. Já os Santos Padres, como vimos, firmemente afirmaram
que Deus se fez homem a fim de nos “deificar”.
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É verdade que o verbo “assumir” vem do latim “assumere” que quer dizer
“tomar sobre si”, “tomar para si”, ou “avocar”. Mas também sugere o substantivo
“summus”, elevado, o lugar mais alto. Costuma-se dizer, por exemplo, “em sumo
grau” ou “summum jus, summa injuria”. Daí que quando a teologia diz que o
Verbo Eterno “assumiu” uma natureza humana, poderia significar ambas as coisas:
Tomou-a para si e também elevou-a a um sumo grau. Não só a dele mas, como
vimos, participativamente, também a nossa. Essa elevação, pela participação da
natureza divina, vimos ainda, chamou-se de graça ou também elevação ao
“sobrenatural”.
O estado sobrenatural em que fomos elevados não nos permite mais reduzir a
vida humana em termos de puro humanismo. A cultura, sobretudo, dos últimos
séculos, usou de todos os meios de persuasão para implantar esse reducionismo. É
por isso que os anticorpos de defesa contra essa contaminação estão muito
debilitados, também entre os cristãos.
Agora, vou resumir a última reflexão em torno dos pressupostos da Nova
Evangelização. A última e, sem mesmo dizer “modéstia à parte”, digo que me
parece ser original, junto com ser também problemática.
Isto é, O Verbo Eterno não somente assumiu, elevou a um sumo, nossa
natureza mas também assumiu, elevou a um sumo, a história. Ele se tornou
verdadeiramente o Senhor da História.
Em conseqüência, como não podemos reduzir nossa vida ao puro humanismo,
igualmente, não podemos reduzir os acontecimentos e os fatos históricos à pura
história tomada como nossa ciência humana. Esta significa somente as leis de
explicação dos acontecimentos que nós com nossos instrumentos cognoscitivos
podemos alcançar. Ficar buscando compreensões somente nesse nível chama-se de
“historicismo”,o que foi sempre apontado como negação do cristianismo.
Assim como a “ação social” e também a “natureza humana”, para o cristão,
não são mais conceitos unívocos, da mesma forma a história não é mais um
conceito unívoco. Assim como há uma “sobrenatureza”, analogamente, há também
uma “sobrehistória”.
Ambas, tanto a “sobrenatureza” quanto a “sobrehistória” não são,
evidentemente, visíveis, não podem ser reduzidas a padrões sensíveis ou
quantificáveis. Jesus nos tinha prevenido: “Interrogado pelos fariseus sobre quando
chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhe: ‘A vinda do Reino de Deus não é
observável. Não se poderá dizer: Ei-lo aqui! Ei-lo ali, pois eis que o Reino de Deus
está no meio de vós” (Lc 17,20-21).
Com efeito, se o Reino de Deus fosse visível, observável, a pergunta dos
fariseus seria ociosa, pois, o Reino de Deus estava no meio deles de bem que o
poderiam ver.
Jesus é o Senhor da História, pois, a partir dele toda a história se tornou
“crística”, assim como nós nos tornamos “cristãos”. Os filósofos da história
discutem sem fim o sentido filosófico dos acontecimentos humanos. Perguntam-se
ansiosos se esse sentido é “linear” ou “cíclico” ou, ainda, “misto”. O cristão,
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entretanto, o que “vive pela fé”, busca “ver”, abre a mente para o que não é
“observável”, para presença misteriosa na história do Senhor da História.
Desde que se abominou a ciência humana que ultrapassa o puro sensível, a
metafísica, todos, incluídos os teólogos, tentaram fazer teologia daquilo que “não é
observável”, com paradigmas do observável, do sensível, que são os paradigmas
das ciências sociais.
Escrevi uma segunda carta ao Frei Clodovis Boff na qual digo que a tão
decantada “análise sócio-crítica” não tem condições de nos revelar o sentido dos
“sinais dos tempos”. É preciso buscar outros critérios para se poder “ver” as
intenções misteriosas de Deus nos “sinais dos tempos”. O “ver-julgar-agir” não é
suficiente para se fazer teologia.
Finalmente, decisivo também é perguntarmo-nos como o próprio Jesus viu os
acontecimentos, os fatos históricos. Longamente tratei desse tema em “A novidade
da Novidade”. Recordo somente isto. Jesus distanciou-se dos acontecimentos
epocais, circunstanciais. Não se envolveu com eles. Viu a história de um patamar
mais alto, mais “panorâmico”. Viu-a do monte das Bem-aventuranças. Em
conseqüência, não aceitou as regras do jogo desses acontecimentos circunstanciais.
Pois, “quanto os céus estão acima da terra, tanto os meus caminhos estão acima dos
vossos caminhos, e os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos” (Is 55,9).
A “Fides et Ratio” acentua que a verdade contida na Bíblia “está para além
dos condicionamentos das circunstâncias históricas e contingentes”. Essa verdade,
por isso, “é conhecida na história, mas supera a própria história” (nº 95).
Jesus quis curar o mal que não está circunscrito nos fatos sócio-históricos
circunstanciais e contingentes. Quis curar o mal da humanidade, o mal de ontem,
hoje e sempre. Também por este motivo Jesus é ontem, hoje e sempre.
Recordo, apenas, a passagem do Evangelho onde Jesus toma distância dos
acontecimentos circunstanciais. Os escribas e fariseus fizeram tudo para provar a
Pilatos que Jesus estava “subvertendo nossa nação, impedindo que se pague os
impostos a César e pretendendo ser Cristo Rei”, pois, “ele subleva o povo...” (Lc
23,2 ss.). Pilatos reconheceu: “Vós me apresentastes este homem como um
agitador do povo...” (Lc 23,14).
Essa era a interpretação histórico-circunstancial dos escribas e fariseus. Se
conseguissem convencer Pilatos desses “crimes”, Pilatos não teria dúvidas.
Crucificaria Jesus e todos os seus discípulos. Os romanos não brincavam em
serviço. Os judeus sabiam disso.
Diante dessas tentativas de envolver Jesus nos fatos “contingentes” sócio-
político-históricos, é João que nos revela de como Jesus tomou distância deles,
negando simplesmente que estivesse envolvido nisso: “Meu reino não é deste
mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que
eu não fosse entregue aos judeus” (Jo 18,36). Em outras palavras: Se eu fosse
aquilo que me acusam, achas que seria tão estúpido de me apresentar sozinho e de
mãos vazias?
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Concluindo, como, então Jesus se portou? Somente recordo duas direções.


Primeiro, Jesus, com a Encarnação e, depois com a Cruz, assumiu em seus
“ombros” toda a humanidade. Isto é, assumiu toda injustiça, todo sofrimento, toda
lágrima. “Propter nos homines et propter nostram salutem descendit de coelo”. Para
isso, “livremente humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao
matadouro” (Is 53,7). E, quando abriu a boca, foi para perdoar: “Pai, perdoa-lhes:
não sabem o que fazem”; e, “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,34 e 43).
Para isso, em segundo lugar, entendeu e propôs que o remédio da raiz de todo
mal, o remédio para curar-nos da ambição, seria começar por “esvaziar-se” de
todos os seus títulos, a começar – coisa inaudita – pelo maior de todos, o título de
ser Deus (Fl 2,6-7). Foi tão impressionante sua atitude que o Comandante do
destacamento que o foi prender e que acompanhou todo o processo, “vendo que
Jesus havia expirado desse modo, disse: Verdadeiramente, este homem era filho de
Deus!” (Mc 15,39).

Conclusão

Propus-me somente, na apresentação de “A novidade da Novidade”, salientar


os pressupostos que considero indispensáveis para que as expectativas cristãs de
uma Nova Evangelização para o Século XXI ou, ao menos, para o Novo Milênio,
possam realizar-se.
Dedico estas páginas a Claudemir, Vanderlei, Cesar, Jadir, Sebastian e Adrián
que, no apagar das luzes do segundo milênio e na aurora do terceiro milênio, serão
ordenados presbíteros para a Nova Evangelização.
Cascavel, dezembro de 2000
Pe. Achylle Alexio Rubim –E-mail:achylle@zaz.com.br

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