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Prefácio
Introdução
Tempo do Advento 5
Tempo de Natal 42
Tempo de Quaresma 71
Dizia um grande estudioso das Sagradas Escrituras, o Frei Carlos Mesters, que a
Bíblia pode ser comparada a um coco. Dentro dela tem a deliciosa Palavra de Deus
para matar nossa sede, mas é preciso um instrumento, uma ferramenta adequada,
para extrair esta água viva. Ou seja, precisamos de um método que nos ajude a ler,
meditar, orar e contemplar esta Palavra de vida e salvação. Um método capaz de
transformar a Palavra que recebemos de Deus em fonte que jorra para a vida
eterna. Um método que nos ajude a crer no que se lê, ensinar o que se crê e viver o
que se ensina.
O autor desta obra foi muito feliz ao registrar sua experiência, acumulada ao longo
de vários anos e orientada por este método da leitura bíblica. E sua grande riqueza
é de nos oferecer nestas páginas, não somente um método aplicado aos textos
bíblicos do anuário litúrgico, mas, mais do que isso, uma riquíssima experiência
compartilhada com uma comunidade orante, uma comunidade de fé.
Portanto, esta publicação chega em boa hora em nossas mãos! Meu desejo é de
que ela possa contribuir com o crescimento e o amadurecimento espiritual de todos
quantos fazem da Bíblia a fonte de sua espiritualidade.
Querido leitor, desejo colar nesse livro o quanto esse momento de oração
marcou a minha vida. Foi um ponto decisivo onde um caminho novo se abriu.
Tudo começou no início de 2003, quando o pároco da época, o Pe. Paulo
Crozera, trouxe para a paróquia Santa Ana de Sumaré, esse método de oração.
Nomeou treze ministros para levarem esse método para as treze comunidades.
Fui escalado para a Comunidade Divino Espírito Santo, localizada no
Assentamento II. Aceitei com muita alegria, participei de todos os encontros de
preparação. E por fim tivemos o início.
Fui muito bem acolhido pela comunidade Divino Espírito Santo e até hoje
participo com eles todas as semanas nesse importante momento de oração em
torno da Palavra de Deus.
No início o Pe. Paulo preparou folhetos para melhor realizarmos a Leitura
Orante da Bíblia. Para cada semana um folheto explicando detalhadamente o
método e uma pequena reflexão da passagem do Evangelho indicado para a
oração. Com o passar dos meses o Pe. Paulo me nomeou para ajudá-lo a
preparar esses folhetos. Escrevia, então as reflexões dos Evangelhos, para esse
fim consultava os textos escritos pelo Pe. José Bortolini – Roteiros Homiléticos -
Revistas Vida Pastoral da Editora Paulus e os livros: Os Evangelhos I e II do
Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni.
No início fizemos a LOB de todos o Evangelho de Marcos e em seguida
nos fixamos nos Evangelhos do domingo onde passamos por todos, ano A, B e
C. Com essa bagagem de textos escritos resolvi colocar em um livro para que
assim todos pudessem usá-los. Nesse momento já havia passado mais ou
menos cinco anos de experiência em torno da Leitura Orante da Bíblia. Comecei,
então a reescrever esses textos, melhorando a sua qualidade de informação.
Antes, os folhetos eram pequenos e com uma explicação do texto bem resumida.
Agora reescrevia com mais detalhes tentando trazer o Evangelho para a vida.
Notem que após cada momento de oração que fazíamos na comunidade, ao
voltar para casa reescrevia o texto usado colocando novas ideias que surgiam
junto com os irmãos da comunidade. O tempo foi passando... Desse modo o livro
foi tomando forma, crescendo... A cada ano fazia mais e mais modificações nos
textos até chegar nesse ponto, depois de treze anos de caminhada nesse
método de oração, entrego para vocês, meus amigos, esse livro. Desejo de
coração que façam bom uso e tenham momentos sublimes em torno da Palavra
de Deus. Sei que esse livro ainda não está pronto e nunca ficará, pois a Palavra
de Deus está viva, não deve ser engessada, manipulada. Dessa forma, coloco
esse trabalho em suas mãos apenas para orientar o caminho. Com certeza nos
próximos anos estarei refazendo e acrescentando ideias novas em cada texto e
sempre terei algo para acrescentar... Volto a afirmar a Palavra está viva!!!
O Senhor vos dê a Paz!
Diácono Luizinho,ofs
LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
Origem
Como fazer
Você vai ler a Palavra de Deus para escutar o que Ele tem a lhe dizer. É
necessário abrir o seu coração ao novo, não se prenda ao velho, o que está
impregnado em você. É preciso começar a Leitura Orante da Bíblia, preparado
para fazer mudança na sua vida, sempre de acordo com a vontade de Deus.
Observe que não é o momento de procurar aumentar o seu conhecimento
e sim ler a Palavra para ter experiências. É importante desejar conhecer a Sua
vontade e procurar vivê-la em todos os momentos da vida. O caminho que
Jesus seguiu tem que ser o seu caminho, em você deve estar à pobreza, essa
palavra é abrangente, podemos acrescentar, desapegar-se de tudo, ser
simples. Lembre-se das palavras que Jesus disse a Nicodemos: É preciso
nascer de novo! (Jo 3, 3)
1
Entenda que você está fazendo um diálogo com Deus, o texto o leva a
esse fim. Viva-o hoje!
Terceiro Degrau: Oração
Quem ora, tem necessidade de Deus. Esse é o ponto crucial, saber que
sozinho você não é nada. Jesus foi o ser humano que passou por esse mundo
que mais teve necessidade de Deus, orava em todos os momentos. Orar é
entrar em diálogo com Deus, na Leitura Orante da Bíblia é dar uma resposta
solicitada pela Palavra, que é claro, foi dirigida por Ele.
“A leitura sem a meditação é morna e a meditação sem a oração é
infrutífera.” Palavras que o monge Guido dizia.
É o momento de vigiar, deixar a Palavra cair no seu coração e dar uma
resposta a Ele.
Até agora eu via o mundo do meu jeito, agora chegou a hora de ver do
jeito de Deus. A Leitura Orante da Bíblia leva ao entendimento da vontade de
Deus, a seguir os passos de Jesus. Nessa hora eu posso sentir a liberdade que
Jesus veio trazer para o ser humano. É bom que se entenda esse paradoxo: É
na obediência a Deus que encontro a minha liberdade. Chegou o momento de
analisar a minha caminhada anterior e concluir que muitas vezes fui carregado
pela fidelidade aos meus pensamentos, a minha forma de ver, do meu
interesse. Percebo que o “eu” sempre tomou conta da minha vida. Com esse
entendimento, viro o jogo e percebo e vivo o amor de Deus, o amor que se
revela no amor ao próximo. Finalmente livre, ou caminhando para a liberdade,
consigo entender e começar a viver as palavras que Maria disse ao Anjo: “faça-
se em mim segundo a tua palavra!”
2
REFLEXÕES SOBRE A MÍSTICA QUE DEVE ANIMAR A LEITURA ORANTE
DA BÍBLIA
1) Acolhida, pacificação.
2) Leitura do texto
3
4) Oração
5) Contemplação
4
ADVENTO
ANO A
5
1° DOMINGO DO ADVENTO - A
Fiquem vigiando...
Mt 24,37-44
37
Como nos dias de Noé, será a Vinda do Filho do Homem. 38Com efeito, como
naqueles dias que precederam o dilúvio, estavam eles comendo e bebendo, casando-
se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, 39e não perceberam
nada até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na Vinda do Filho do
Homem. 40E estarão dois homens no campo: um será tomado e o outro será deixado.
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Estarão duas mulheres moendo no moinho: uma será tomada e a outra deixada.
Nestes versículos, Jesus vem chamar a atenção de todos nós sobre o que estamos
fazendo com a nossa vida. Estou mergulhado totalmente nas coisas desse mundo, na
matéria e me esqueço do lado espiritual? Estou no mundo, entorpecido por ele, vivendo da
mesma forma que os outros estão vivendo, sigo o fluxo que todos seguem, sou apenas mais
um?
Na verdade, a nossa sociedade está caminhando para um desastre eminente. O que
antes era errado, hoje se tornou normal, praticado pela maioria das pessoas. Com isso,
ocorre o caos na sociedade, a começar pela família.
Portanto, não estamos muito diferentes do povo que vivia no tempo de Noé, do dilúvio;
estamos no mesmo caminho.
Jesus vem advertir, pois devemos estar preparados, não sabemos quando chegará a
hora. Uns, porém, estão prontos, vigilantes; não caíram na armação do mundo,
permaneceram livres da ganância, do egoísmo, do ter. Outros, porém, deixaram se levar pelo
que o mundo oferece e se entregaram de corpo e alma aos prazeres do mundo. Estes
encontraram a perdição o caminho para as trevas.
Essa advertência que Jesus faz, é realçada em duas pequenas parábolas, isso pelo
fato de ser muito importante o seu significado. Ele quer mostrar que o mal está levando para
si metade da humanidade.
Hoje, parece que o mal está vencendo, mas é ilusória esta visão: Jesus já venceu, já
trouxe a salvação. Mas, somente para aqueles que querem ser salvos.
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42
Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia vem o Senhor. 43Compreendei isto: se
o dono da casa soubesse em que vigília viria o ladrão, vigiaria e não permitiria que sua
casa fosse arrombada. 44Por isso, também vós, ficai preparados, porque o Filho do
Homem virá numa hora que não pensais.
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Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Quais são os meus planos, em casa, no trabalho, em minha comunidade, para estar
preparado à volta de Jesus? Estou realizando a vontade de Deus em minha vida? Tenho
meus momentos de oração e louvor, e levo o meu próximo a fazer o mesmo? Agradeço a
Deus todos os dias? Estou disponível a servir o próximo na comunidade e fora dela?
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2° DOMINGO DO ADVENTO - A
Mt 3,1-12
João é o último profeta do antigo testamento, aquele que veio preparar o caminho
para o Senhor. Assim estava previsto nas escrituras: “Eu vos enviarei o profeta Elias antes
que chegue o dia do Senhor, grande e terrível. ” (Ml 3,23)
Ele levava uma vida muito simples no deserto. Vestia-se com pelos de camelo e um
cinturão de couro em torno dos rins e se alimentava com gafanhotos e mel silvestre.
O deserto relembra a viagem dos israelitas e simboliza uma nova peregrinação, lugar
em que todos nós devemos ir para efetuar uma mudança de vida. Cada um tem que
encontrar o seu deserto.
Uma vez renovado, com um novo rumo traçado, devemos ir ao encontro dos irmãos,
principalmente os desfavorecidos, assim como fez João Batista: confundiu os planos
econômicos da época, onde tudo era exploração, lucro, provocando fome e miséria.
Da mesma forma como fez João, nós também devemos ser anunciadores do
Salvador, Jesus. Temos que estar prontos a servir Jesus, a construir um novo Reino.
As pessoas corriam ao encontro de João, uma multidão o seguia diariamente. Pela
sua forma de vida simples, ou seja, pela sua ação a palavra tomava força, vida. Esse é o
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caminho que todos nós devemos seguir, ou seja, primeiro fazer a vontade do Pai, colocar em
prática o Evangelho em nossa vida e só depois sair a pregar a Palavra, assim ela se torna
viva e com toda a certeza conseguiremos multidões.
6
E eram batizados por ele no rio Jordão confessando os seus pecados. 7Como visse
muitos dos fariseus e saduceus que vinham ao batismo, disse-lhes: “Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir da ira que está por vir? 8Produzi, então, fruto digno de
arrependimento. 9e não pensais que basta dizer: ‘Temos por pai a Abraão’. Pois eu
vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
O que João prega no deserto é a conversão. Lembre-se, não é apenas querer mudar,
mas sim uma transformação de vida, uma mudança radical tendo como meta o Evangelho.
Geralmente queremos fazer uma mudança em nossa vida, mas fica apenas na
palavra, da boca para fora, o que Deus quer de nós é uma verdadeira mudança de vida. Se
essa transformação não for feita serei apenas um sepulcro caiado, isto é, belo por fora, mas
podre por dentro.
A conversão exige muito de nós, temos que nos despojarmos, sair do nosso
comodismo, nos libertarmos de todos os apegos. Não é fácil, às vezes gastamos uma vida.
Mudança de vida, aniquilar-se, ou seja, viver para o outro. O mal da humanidade é o
egoísmo, e dentro de cada um de nós impera solenemente, faz parte do nosso dia-a-dia,
toma conta de nós, como uma erva daninha, um câncer.
A verdadeira conversão é sair de dentro de si, entregar-se ao outro sem nada querer
de volta, é puro altruísmo. Jesus fez isso por nós e foi a pessoa mais feliz do mudo.
João chama a nossa atenção e nos corrige, dizendo: “Demonstrai, com fatos, que
quereis verdadeiramente mudar de vida. ” (V.8)
Hoje, no mundo, tenho que ser diferente, tenho que dar o meu testemunho perante
todos. Renascer, essa é a palavra, deixar o velho homem e se revestir do novo.
Os meus planos estão em segundo lugar. Que o Espírito Santo deixe sua marca sobre
mim, dê os dons de sabedoria, discernimento, de conselho e fortaleza, de ciência e temor de
Deus.
10O
machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom fruto
será cortada e lançada no fogo. 11Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas
aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem
ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
12A pá está na sua mão: vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro: mas, quanto
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3° DOMINGO DO ADVENTO - A
Mt 11, 2-11
2João,ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou a ele alguns dos
seus discípulos para lhe perguntarem: 3“És tu aquele que há de vir, ou devemos
4Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estai ouvindo
esperar um outro? ”
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e vendo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados,
os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados 6E bem-
aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim! ”
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O Messias já veio, deixou o seu exemplo para que novos Cristos apareçam e também
deixem o seu testemunho.
O que você está esperando?
7Ao partirem eles, começou Jesus a falar a respeito de João às multidões: “Que fostes
ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8Mas que foste ver? Um homem
vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas finas vivem nos palácios dos reis.
9Então, que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta.
10É dele que está escrito:
Eis que eu envio meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de
ti.
11Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior
do que João, o Batista, e, no entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.
Nessa passagem do Evangelho, Jesus vem mostrar para nós quem é João Batista.
Um ser que não se deixou levar pelo mundo, pela ganância, egoísmo, esquemas.
Não, ele se manteve firme em Deus, no seu plano.
Não foi um caniço agitado pelo vento, assim como todos nós somos. Vivemos
introduzidos em uma sociedade que marginaliza, explora, desrespeita o irmão menor.
Misturamo-nos e entramos nos esquemas para assim manter a nossa posição, o nosso
modo de vida. Deixamos de lado a proposta de Deus, pois se contrapõe com a proposta da
sociedade.
Mas, João deixou o mundo e superou os profetas, ele é o mensageiro, aquele que
veio preparar o caminho do Messias, o filho de Deus; entretanto é menor, muito menor que
Jesus.
João conseguiu viver aquele que anunciou. Tanto é verdade que o confundiram com
Cristo.
Hoje, somos nós esse profeta, devemos nos colocar no lugar de João e anunciar a
todos o Reino de Deus. Devemos ser imitadores de Cristo, uma réplica de Jesus.
Nossa vida tem que ser dedicada a Ele, pois só assim mudaremos o mundo.
Precisamos de Cristo no nosso meio. Não só de pessoas ardentes de fé, que tem
esperança, que se dedicam na oração; mas aqueles que dediquem a sua vida aos irmãos,
que põe em prática a sua fé.
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Meditar: O que o texto fala para mim?
Estou caminhando de acordo com a vontade de Deus, apesar das dificuldades ou
perseguições que posso encontrar? Sirvo, compreendo e sigo Jesus, aquele que mais
serviu? Sei ver os sinais do Reino presentes no mundo de hoje?
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4° DOMINGO DO ADVENTO - A
Nascimento de Jesus
Mt 1,18-24
18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento
com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. 19José, seu
esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em
segredo. 20Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em
sonho, dizendo: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que
nela foi gerado vem do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o
nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados. ”
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criança teria que realizar. Com isso, José, através do pedido em sonho, põe o nome no seu
filho de Jesus, que significa: Deus salva.
Confirma-se assim, mais uma vez a descendência de Davi.
22Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta:
23
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de
Emanuel, o que traduzindo significa: “Deus conosco”. 24José, ao despertar do sono,
agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua casa sua mulher.
25Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o
nome de Jesus.
Mateus insiste, quer mostrar que em Jesus cumpre-se a profecia: “Eis que a Virgem
conceberá e dará à luz um filho que se chamará Emanuel. ” (Is 7,14)
José aceitou, portanto, é considerado pai de Jesus e descendente de Davi.
Embora não se fale da descendência de Maria, por ser uma sociedade patriarcal, ela
também é descendente legítima de Davi, com isso, confirma-se a descendência de Jesus.
É interessante notar a grande preocupação de Mateus para provar que Jesus é filho
de Deus e que em sua pessoa se realiza as escrituras.
Realmente Mateus mostra do início ao fim do seu Evangelho que Jesus é aquele que
realiza as escrituras e faz acontecer a sua Missão. O seu nome, Jesus, significa: “Deus
Salva”. Aquele que veio para salvar a todos, sem distinção.
É importante notar que, pelo Evangelho de Mateus, Jesus sempre esteve e estará no
meio de nós, Ele é o Emanuel, que significa: Deus está conosco.
Dessa forma, onde está a nossa fé?
Acreditamos em Jesus que está sempre do nosso lado?
Mateus insiste nessa verdade e encerra o seu Evangelho com a seguinte frase: “Eis
que eu estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo (28,20b) ”.
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Senhor, aumenta a minha fé. Que eu seja um instrumento em suas mãos. Que eu leve os
meus irmãos à conversão. Que minha vida seja um reflexo constante de sua presença em
mim.
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ADVENTO
ANO B
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1° DOMINGO DO ADVENTO - B
Mc 13,33-37
33Atenção, e vigiai, pois não sabeis quando será o momento. 34Será como um homem
que partiu de viagem: deixou sua casa, deu autoridade a seus servos, distribuiu a cada
um sua responsabilidade e ao porteiro ordenou que vigiasse. 35Vigiai, portanto,
porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do
galo, ou de manhã, 36para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo. 37E o
que vos digo, digo a todos: vigiai!
Jesus revela para nós a importância de estarmos sempre atentos, vigilantes, pois não
sabemos a hora de sua volta e o fim dos nossos dias nessa vida. Quando Jesus revelou
essa parábola os seus dias sobre essa terra estavam contados, mas Ele nos alerta: voltarei.
Quando? Ninguém sabe. Por isso Ele conta essa parábola do homem que deixa a sua casa
e parte deixando tudo aos cuidados dos empregados. Jesus é o dono da casa, a casa é esse
planeta e nós somos os empregados, ou seja, todo aquele que diz sim a Deus.
É preciso saber que no Evangelho de Marcos a palavra “casa” tem uma simbologia
especial, ela aparece em vários textos: voltar para casa, estar em casa. Sabemos que Jesus
viajou muito, mas para nós a nossa casa é única, contudo Ele diz que tem casa em qualquer
lugar aonde vai. Assim, compreendemos que casa simboliza estar com Ele no mesmo
projeto de vida, assumindo as mesmas responsabilidades. Viver nesse mundo, em casa, é
aderir ao projeto de Deus, fazer a sua vontade, seguir os passos de Jesus.
Ele não mediu forças para fazer a vontade do Pai, vigiava, estava constantemente em
oração. Estar preparado, estar pronto, isso é tão importante que nessa breve parábola
aparece três vezes a palavra vigiar: no início, no meio e no final. Faz lembrar a todos nós o
momento em que Jesus pede para os discípulos, no monte das oliveiras, para vigiar, ficar em
constante oração. Entretanto os discípulos dormiram, não ficaram vigiando, orando.
É preciso orar sempre, como diz o texto, Jesus pode voltar a qualquer hora: à tarde, à
meia-noite, de madrugada, pelo amanhecer, ou seja, sempre.
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Concluímos que somos chamados a fazer a vontade do Pai, logo, temos que ficar
acordados, atentos para não cairmos nas estruturas do mundo e fugir da realidade
verdadeira que Jesus propõe para todos.
Jesus quer vida plena para todos, temos que ficar acordados e lutando contra as
estruturas de morte.
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2° DOMINGO DO ADVENTO - B
João Batista
Mc 1,1- 8
Marcos lembra no começo do seu livro Gn 1,1, a criação do mundo que agora é
recriada com a vinda de Jesus Cristo. É o início de uma nova fase, o amadurecimento da
humanidade, o ponto em que dividiu toda a história do povo em duas partes: antes e depois
dele.
O termo usado, Evangelho, significa “alegre anuncio”, “boa nova”, “boa notícia”. Era
comum na época de Jesus como prática dos imperadores proclamarem o evangelho, ou
seja, divulgar uma boa notícia para o povo, como exemplo: uma vitória em uma batalha.
Portanto esse termo era usado como propaganda política.
Sendo assim, nesse versículo é posto abaixo a figura do imperador, desaba o poder
político. Agora quem proclama a boa nova é Jesus, o Messias. Essa é a boa notícia que não
passa, não envelhece, é atual, está sempre viva.
2Eis
que eu envio o meu mensageiro diante de ti, a fim de preparar o teu caminho; 3voz
do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas.
21
Batista e alcança o seu auge em Jesus o maior de todos os profetas, o primeiro e único do
Novo Testamento. João Batista encerrou o Antigo Testamento e Jesus inicia o novo.
4
João Batista esteve no deserto proclamando um batismo de arrependimento para
remissão dos pecados. 5E iam até ele toda a região da Judeia e todos os habitantes
de Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando seus pecados.
22
João apenas batizou com água. Jesus batizará com o Espírito (Is 11,2). É o Espírito
que conduzirá Jesus durante toda a sua missão.
23
3° DOMINGO DO ADVENTO - B
Jo 1,6-8.19-28
6Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. 7Este veio como
testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.
8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
João foi enviado por Deus para dar testemunho da luz, mas ele não era a luz. Depois
dele virá à verdadeira luz que iluminará todo o mundo.
Ele, João, foi o precursor, aquele que preparou o caminho para a chegada do
verdadeiro Messias, Jesus.
O tempo da promessa encerra-se em João, agora chegou o tempo aonde vai se
cumprir o prometido.
Deus é fiel e sem esperar nada de nós, prometeu grandes bens. Para Ele a simples
promessa foi pouca. Para que as promessas se realizem Ele enviou o seu Filho, esse vai
indicar o caminho onde os homens encontrarão a divindade, a imortalidade, a justificação de
seus pecados e aos humilhados a glória.
19Este
foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes
e levitas para o interrogarem: “Quem és tu? ” 20Ele confessou e não negou; confessou:
“Eu não sou o Cristo”. 21Perguntaram-lhe: Quem és, então? És tu Elias? ” Ele
disse: “Não o sou”. - “És o profeta? ” Ele respondeu: “Não”. 22Disseram-lhe, então:
“Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti
mesmo? ” 23Disse ele: “Eu sou uma voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do
Senhor, como disse o profeta Isaías” (40,3). 24Alguns dos enviados eram fariseus.
25Perguntaram-lhe ainda: “E por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o
profeta? ” 26João lhes respondeu: “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém
que não conheceis, 27aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de
24
28
desatar a correia da sandália”. Isso se passava em Betânia, do outro lado do
Jordão, onde João batizava.
É bom lembrar que nessa época em que viveu João Batista havia uma grande
expectativa messiânica por parte dos judeus. O Messias era muito esperado e deveria surgir
a qualquer hora. Portanto, as autoridades judaicas estavam em alerta e ficaram curiosas
quanto às atitudes de João Batista.
Por isso mandaram mensageiros ao encontro de João para saberem a verdade. Com
certeza estavam com medo de perder o poder sobre o povo. Mas ao encontrarem João,
recebem três respostas claras e negativas, afastando-o da possibilidade de ser ele o
Messias.
João nega ser o Messias, Elias e o Profeta. É preciso entender que naquela época os
judeus pensavam que a vinda do Messias seria precedida pela volta de Elias, mas isso não
aconteceu, João nega ser Elias. Na verdade João age de uma forma bem diferente a qual
Elias agiu, ele rompe completamente com a instituição judaica, sua ação é fora dos meios
políticos e religiosos do seu tempo.
João veio preparar a chegada do Messias, aquele que trará a liberdade, vivendo a
verdadeira liberdade. Em primeiro lugar se desapegou totalmente do mundo, se afastou de
tudo o que o mundo oferece. Assim ele agiu, vivendo o que prega, foi para o deserto (lugar
retirado, longe da sociedade, das pessoas, procurou a solidão), separado de todos até
mesmo da família. Desapegou-se do ter, se fez pobre, o mais pobre de todos, se libertou dos
prazeres. Ficou livre, totalmente livre. Mas a sua demonstração radical de liberdade foi o
desapego do “Eu”, ou seja, ele que poderia trazer facilmente o nome de Messias para a sua
pessoa, disse não, não sou eu (isso sem vacilar, rapidamente). Estava livre, não sou eu, se
desapegou do querer ser, ter, ser melhor, elogiado por todos, procurado por todos, o mais
querido... O Messias. Nesse momento João soube ser pequeno para que o verdadeiro
Messias pudesse crescer, aparecer. Disse ele: “Eu não sou digno de lhe desatar a correia do
calçado”. (Ver lei judaica do levirato, Dt 25, 5-10). João quis dizer com essa frase que ele não
tem direito nenhum de tomar a humanidade como esposo. Jesus é o esposo, Ele é que vai
assumir a humanidade.
Podemos enfatizar que o batismo de João é feito com água, onde acontece um
rompimento com o mundo político e religioso. Portanto levava o povo à liberdade. Jesus,
porém, batizará com o Espírito, atingirá o centro da pessoa, trazendo para ela uma liberdade
total do corpo e da alma.
Jesus vem para inaugurar um novo tempo, uma nova história, uma nova criação, uma
nova aliança.
25
coisas que esse mundo proporciona. Sou um escravo, não tomo as minhas decisões, o
mundo toma-as por mim.
26
4° DOMINGO DO ADVENTO - B
A anunciação
Lc 1,26-38
26Nosexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada
Nazaré, 27a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o
nome da virgem era Maria.
Isabel já estava no seu sexto mês de gravidez quando essa cena da aparição do Anjo
a Maria ocorreu.
O lugar era em uma cidade da Galileia, chamada Nazaré. É bom pararmos aqui e
contemplarmos a cena. Uma cidade muito pequena, insignificante de tal forma que nunca
apareceu o seu nome no Antigo Testamento. Era realmente conhecida como o fim do
mundo, terra esquecida, de má fama (Jo 1,46: “De Nazaré pode vir algo bom? ”). É esse o
lugar escolhido por Deus, uma localidade pobre, afastada do centro religioso e político, o lar
dos humildes, dos esquecidos pelas autoridades, por todos.
É difícil entendermos a vontade de Deus, por que escolheu esse lugar. O “Filho do
Altíssimo” vai nascer pobre e entre os pobres, é dessa forma que vai viver toda a sua
passagem sobre a terra. O mesmo caminho Deus escolheu para o seu precursor, João
Batista, tudo isso para mostrar para nós que o caminho do desapego é a melhor direção a
ser seguida nessa terra. Assim, podemos concluir que devemos fazer o mesmo, procurar
levar uma vida desapegada as coisas desse mundo, “livre”. Esse é o significado de ser
pobre, inicia-se com as coisas que a matéria proporciona e encerra-se com o desapego do
ego, eu nada sou sem Deus. É o dizer não ao ter, ao ser, ao querer aparecer, ao querer ser
melhor, a receber elogios e muito mais…. É o caminho da completa humildade, o querer
desaparecer para que Deus apareça.
27
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Entrando onde ela estava, disse-lhe: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está
contigo! ” 29Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o
30
significado da saudação. O Anjo, porém, acrescentou: “Não temas, Maria!
Encontraste graça junto de Deus. 31Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um
filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do
Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33ele reinará na casa de
Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim”. 34Maria, porém, disse ao Anjo: “Como
é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum? ” 35O anjo lhe respondeu: “O
Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por
isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta,
concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de
estéril. 37Para Deus, com efeito, nada é impossível. ” 38Disse, então, Maria: “Eu sou a
serva do senhor; faça se em mim segundo a tua palavra! ” E o anjo a deixou.
Maria se encontra em sua casa, sozinha, talvez cuidando dos seus afazeres
domésticos, quando um anjo entra onde ela está. Podemos imaginar a grande surpresa de
Maria, e como tudo indica, foi uma cena rápida, não deu tempo para pensar muito. O Anjo
apareceu e em seguida fez a saudação: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo! ”
Podemos imaginar o susto que essa pobre jovem sentiu nesse momento tão sublime
de sua vida e que emoção indescritível deve ter brotado de seu coração. Sem dúvida a
alegria era imensa, entretanto a alegria que o Anjo propõe a ela é uma alegria muito maior,
pois ela foi a escolhida. Sem dúvida foi uma graça de Deus, mas Maria teve os seus méritos,
realmente era uma jovem santa, pura, sem pecados. Nela havia tudo que era bom aos olhos
de Deus: alma pura, simples, humilde, desapegada a matéria, ao ser, ao ter, ao ego e pronta
para servir, ou seja, uma jovem de muita fé. Por esses motivos foi bem vista aos olhos de
Deus, estava cheia de graça, dessa forma, o Senhor estava com ela, morava com ela. Ela
era um templo vivo de Deus. Seu coração estava mole e de portas abertas, totalmente
escancaradas para Deus.
Entretanto, Maria fica apreensiva, no momento da saudação ela não entende o motivo
da presença do Anjo. Assim, notando o Anjo a dificuldade de compreensão de Maria,
acrescenta: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberá no teu
seio e darás a luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será
chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará
na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim”.
Somente agora ela entende. Ela vai ser a mãe do Messias esperado e anunciado na
história de Israel.
Sem dúvida alguma, aqueles minutos tornaram-se para Maria uma eternidade. O
tempo parou, em sua cabeça aflorava toda a sua vida até aquele momento. Uma cena fora
do comum, indescritível, longe da nossa imaginação. Pois se eu fosse descrever certamente
o meu ego entraria em ação, mas Maria não era escrava do ego, era um ser livre e por esse
motivo, também, foi escolhida para ser a mãe de Jesus.
28
Mas, mesmo assim, Maria tem uma dúvida: “Como é que vai ser isso, se eu não
conheço homem algum? ” Ela não duvidou, como fez Zacarias (Lc 1, 18), apenas quis saber
como o problema vai ser resolvido. O Anjo então responde que sua gravidez será obra da
intervenção de Deus: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a
sua sombra”. Ou seja, Deus esta nela, ela é a sua morada. Depois, o Anjo acrescenta,
mostrando para Maria que para Deus nada é impossível: “Também Isabel, tua parenta,
concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam estéril. Para
Deus, com efeito, nada é impossível. Maria compreendeu a resposta do Anjo e sem vacilar
responde com muita fé: Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim seguindo a tua palavra!
E o Anjo a deixou”.
Só um pobre em espírito tem a sensibilidade de perceber a atuação de Deus, aquele
que está comprometido com os planos de Deus, se desligou desse mundo, não vive mais
para si, não existe mais os seus planos, pois Deus é tudo. Maria é essa pessoa, totalmente
integre a vontade de Deus, “livre”.
29
ADVENTO
ANO C
30
1° DOMINGO DO ADVENTO - C
Lc 21,25-29.34-36
31
Hoje, como ontem, a história é a mesma, a dificuldade é a mesma, e são os mesmos
obstáculos. Comprova-se mais uma vez que a Bíblia é viva, atual, conduzindo-nos sempre
no presente.
34“Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados pela devassidão, pela
embriaguez, pelas preocupações da vida, e não se abata repentinamente sobre vós
aquele Dia, 35como um laço; pois ele sobreviverá a todos os habitantes da face de toda
a terra. 36Ficai acordados, portanto, orando em todo momento, para terdes a força de
escapar de tudo o que deve acontecer e de ficar de pé diante do Filho do Homem”.
Lucas pede para nós ficarmos atentos, vigilantes, pois não sabemos quando Jesus
voltará ou quando vai ser a nossa volta para o Pai.
É comum nos perdermos na vida, no nosso dia-a-dia e esquecermos que temos um
fim, não sabemos se está perto ou longe. Na verdade, agimos como imortais, o que
realmente somos, mas não com esse corpo, essa forma de vida. Dessa forma ficamos
entorpecidos com os processos do mundo e nos esquecemos da nossa verdadeira missão:
“construção do Reino de Deus”.
É por esse motivo que temos que estar vigilantes, perseverantes em nossa oração,
não desanimar nunca. Hoje eu posso estar firme em minha fé, sei qual é o meu caminho, a
minha missão. Mas, com a loucura do mundo, entorpecendo-me diariamente, me perco na
ilusão e náufrago a minha fé. É preciso perseverança diária, em todo o momento; as
tentações, para nos tirar do caminho, estão a nossa volta.
Devemos observar o grande exemplo de Jesus, que manteve a sua fé, sua missão, no
auge durante toda a sua vida. Isso Ele conseguiu através da oração. Os versículos 37 e 38
demonstram isso: durante o dia evangelizava, colocava em ação a sua fé e durante a noite
caminhava até o monte das Oliveiras e se colocava a rezar. Ele não perdia tempo e logo de
madrugada, lá estava Ele, no meio do povo para ensinar.
Fica para nós a lição: “Vigiai, portanto, rezai em todo tempo, para terdes a força de
escapar dessas coisas que devem acontecer, para comparecer na presença do Filho do
Homem” (36).
32
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Obrigado, Senhor, por abrir os meus olhos. Agora eu sei o tempo que perdi no mundo e
quero me recompor, ir ao seu encontro. Iludiram-me e deixei-me iludir, caí nas garras do
mundo, mas agora eu sei me defender, tenho arma, que é a oração diária, perseverante.
33
2° DOMINGO DO ADVENTO - C
Lc 3,1-6
1No
ano décimo quinto do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia
e da Traconítide, Lisânias tetrarca da Abilene, 2sendo Sumos Sacerdotes Anás e
Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. 3Ele
percorreu toda a região do Jordão, proclamando um batismo de arrependimento para a
remissão dos pecados,
Lucas, nestas linhas quer dar uma dimensão histórica à vida de Jesus. Quer mostrar
claramente em que mãos estavam o poder da época. Não é muito diferente dos homens de
hoje, pois o poder geralmente está marcado pela ambição, jogo de interesse, ou seja,
“esquemas”, até mesmo de morte. É esse o lugar onde Jesus vai agir pôr em prática os
planos de Deus.
Primeiro veio João, o profeta que abre caminho para Jesus; ele é o último profeta do
Antigo Testamento e o maior deles.
João prega a conversão, o arrependimento, uma preparação para a chegada do maior
Profeta, o Filho de Deus, Jesus.
No deserto João anuncia a chegada de Jesus, no deserto Jesus inicia a sua missão. O
deserto na Bíblia é um lugar de encontro com Deus, de escuta da Palavra de Deus, de
conversão. É preciso estar atento para acolher aquele que está chegando.
Hoje nós estamos atentos?
Como anda a nossa conversão?
Lembre-se, aquele que está entorpecido pelo mundo, não consegue perceber a
presença de Jesus no nosso meio, está preocupado apenas com o seu dia-a-dia, não teve
34
uma verdadeira conversão. Quem não alcança a conversão, que tem que ser conquistada
com muita perseverança, diariamente, não consegue ver Jesus.
4conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no
deserto: Preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas; 5todo vale será
aterrado, toda montanha ou colina será abaixada; as vias sinuosas se transformarão
em retas, e os caminhos acidentados serão nivelados. 6E toda a carne verá a salvação
de Deus.
João, em suas pregações, repete as palavras do profeta Isaías, mostrando assim que
os profetas estão se realizando em Jesus.
Com isso, João proclama o início de uma nova vida para o homem. Certamente, uma
vida mais fácil e agradável do que a anterior: morros aplainados, caminhos esburacados que
são nivelados, passagens com muitas curvas que são alinhadas. Ou seja, agora fica mais
fácil com a chegada de Jesus.
O Salvador veio para todos: “Todo homem verá a Salvação de Deus” (6). Não existem
escolhidos, privilegiados, todos são iguais perante Deus.
A Salvação, portanto, bate diariamente em nossa porta pedindo a nossa mudança de
vida, conversão. Qual é a nossa resposta?
Infelizmente ainda o nosso caminho é tortuoso, damos muitas voltas no decorrer da
nossa vida e quase sempre caminhamos no erro. Dedicamos nossa vida aos prazeres que o
mundo oferece, nos iludimos, somos como cegos que não podem ver a luz.
Por causa da nossa ignorância, egoísmo, maldade…. Nosso caminho se torna mais
difícil, temos que ultrapassar enormes obstáculos. Nosso caminho está repleto de altas
montanhas e profundos vales, e nossa estrada repleta de buracos. Tudo isso é decorrente da
nossa falha, do nosso erro. Entretanto, a vinda de Jesus tornou nossa vida, nosso caminho,
nosso caminhar por essa terra, mais fácil. Mas, tudo ainda depende de nós, da nossa
escolha.
E você, qual é o caminho que deseja seguir?
35
o caminho de volta, mas existe aquele que trilha pelos caminhos que Jesus deixou. Esses
são felizes, acharam o paraíso.
36
3° DOMINGO DO ADVENTO - C
Lc 3,10-18
37
Existem outros fatores, mas essas são as principais causas de desordem em uma
comunidade: Não partilhar, não fazer justiça e abuso do poder.
Todas elas são formas de roubar o povo e, como fruto de tal roubo, conquistam a
prisão. São prisioneiros dos bens que possuem.
João quer conduzir a todos para Jesus, aquele que vem trazer a verdadeira liberdade.
15
Como o povo estivesse na expectativa e todos cogitassem em seus corações se
João não seria o Cristo, 16João tomou a palavra e disse a todos: “Eu vos batizo com
água, mas vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a
correia das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo. 17A pá está
em sua mão; limpará a sua eira e recolherá o trigo em seu celeiro; a palha, porém, ele a
queimará num fogo inextinguível”. 18E, com muitas outras exortações, continuava a
anunciar ao povo a Boa Nova.
João impressionou muito o povo, levando as pessoas a pensarem que ele era o
Messias tanto esperado.
Realmente João era um homem notável, vivia de uma forma muito simples e
totalmente fora da sociedade corrupta da época. De nenhuma maneira entrou no esquema
do mundo. Por esse motivo encontrou mais tarde a morte.
Embora ele tivesse muito a seu favor para ser proclamado o Messias, ele, na sua
humildade, se colocou como aquele que apenas veio para preparar o caminho, e completou:
“Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou
digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”
(16).
João veio trazer a conversão e Jesus o julgamento. Não que Ele faça julgamento, mas
sim, leva a cada um fazer o seu próprio julgamento. Ou seja, as pessoas entenderão que
estão erradas e terão uma oportunidade de mudança. Caso contrário, se queimarão num
fogo que não se apaga.
Todos saberão quem é quem e toda a sua armadura cairá ao chão. Os esquemas
serão entendidos e desmanchados e todos os que participam deles serão conhecidos. Essa
é a realidade de uma verdadeira sociedade, um povo livre, sem ganância e egoísmo.
Jesus veio nos ensinar a alcançar a esse fim, essa meta. Mas, o homem pouco
entendeu; continua a fazer os mesmos erros de dois mil anos atrás; ainda estão presos,
entalados no mundo, na matéria.
É importante nos voltarmos rapidamente para uma nova sociedade, onde há partilha,
justiça e sem abuso de poder.
38
Meditar: O que o texto fala para mim?
Hoje vivemos no mundo e somos escravos do mundo; a matéria nos prende de uma tal
forma que passamos toda a nossa vida, hipnotizados pelo ter, poder, ganância…. Nada
vemos, a não ser a realização de nossos planos, objetivos mundanos. O homem está podre,
estagnado, pois a vida é uma ilusão. Tudo passa, só a vida que há de vir é verdadeira, real.
Ainda não aprendemos a lição que Jesus trouxe para nós, somos péssimos alunos.
39
4° DOMINGO DO ADVENTO - C
Lc 1,39-45
Isabel ficou repleta do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és
tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! 43Donde me vem que a mãe do
meu Senhor me visite? 44Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a
criança estremeceu de alegria em meu ventre. 45Feliz aquela que creu, pois o que lhe
foi dito da parte do Senhor será cumprido! ”
O grande exemplo que Maria traz para todos, nesse trecho do Evangelho é a sua
disposição de se colocar a serviço imediatamente, com muita pressa. Ela estava cheia do
Espírito Santo e quando isso acontece em nós, como consequência temos a ação. Não
conseguimos ficar parados, estagnados. É bom lembrar os grandiosos exemplos de serviço
que temos em nossa Igreja atual, homens e mulheres de fé que tudo fazem pela Igreja, pela
comunidade.
Maria deu o exemplo, apresentou-se a serviço, foi ao encontro de Isabel para ajudar,
contribuir, pois já estava no sexto mês de gravidez.
É importante notar que Maria teve a sensibilidade de perceber que Isabel estava
precisando da sua ajuda; já era velha e não tinha quem a ajudasse. É isso que a fé traz:
sensibilidade para percebermos o que Deus quer de nós, onde devemos atuar.
Acredito que a viagem que Maria efetuou não foi fácil. A casa de Isabel se encontrava
muito longe, em torno de 100 km de distância, uma longa caminhada por entre as
montanhas. Não foi fácil. Da mesma forma não é fácil dizer o nosso sim e nos colocarmos a
serviço. É uma longa caminhada.
40
Quando Maria, finalmente, encontrou Isabel, esta também fica repleta do Espírito
Santo e assim entende claramente tudo o que está acontecendo. A fé abre os nossos olhos e
faz ver claramente o que devemos fazer, o que devemos falar. Tudo fica claro, como o dia.
Isabel, cheia do Espírito Santo, declara: “É bem-aventurada aquela que acreditou no
cumprimento daquilo que lhe foi dito pelo Senhor”.
Para aquele que tem fé, não existe limite, tudo vê, tudo sabe, é como se as portas do
céu estivessem abertas, tudo é revelado.
Hoje, ainda temos o exemplo de Maria que se põe a nos servir, através das inúmeras
visitas que ela tem feito para a humanidade: Nossa Senhora Aparecida, Maria de Fátima,
Maria de Guadalupe e tantas outras.
Devemos agradecer a Deus por ter dado a nós uma mãe que nos ama tanto.
Obrigado, Senhor.
41
TEMPO DO NATAL
42
Natal – Missa da noite
Lc 2,1-14
César Augusto foi um imperador romano que reinou entre os anos 30a.c. a
14d.c..É bom notar que a realização das profecias se faz acontecer com a
colaboração de todos, incluindo até mesmo dos pagãos. Quando o imperador
decretou o recenseamento, onde ordenava que todos devessem se dirigir para a
sua cidade natal, não imaginou que estava sendo usado por Deus. José nasceu
em Belém, era descendente de Davi, portanto tinha que se locomover até essa
cidade com toda a sua família.
É extraordinário o sincronismo histórico com as profecias. Segundo o
profeta Miquéias (5,1): “Mas tu (Belém), Éfreta, embora o menor dos clãs de Judá,
de ti sairá para mim aquele que será dominador em Israel”. A profecia se realiza
em Maria, José e o menino Jesus.
Maria, estando grávida em tempo de dar à luz, teve que fazer essa viagem
junto do seu marido. Como a cidade estava cheia de pessoas vindo de todas as
regiões, não foi encontrado lugar em nenhuma hospedaria. Restou para Maria
apenas um estábulo, um lugar entre os animais. Uma manjedoura serviu de berço
para o recém-nascido.
43
Podemos comparar o nascimento de Jesus com o seu precursor João
Batista. Esse nasce em casa e recebe a visita de parentes e amigos. Nasce em
casa pobre, entre os pobres, mas recebe o conforto de uma casa. Com Jesus,
porém, não acontece o mesmo. Esse nasce longe de sua casa e seu lugar fica
entre os animais. Fez-se ainda mais pobre que João.
Loucura para nós? Não vemos com os olhos de Deus, mas sim com o
modo de ver do mundo. Para entendermos essa passagem, acreditar que ela
realmente existiu, temos que nos transportar para o interior de uma criança, temos
que nos tornarmos criança, olhar como uma criança. Ou seja, livres das crenças
do mundo. Libertos!
Com certeza Deus deu o melhor para o seu Filho. Desde o seu nascimento,
entregou para Jesus a liberdade plena. E, é essa liberdade que Jesus quer dar
para todos. Se não entendemos, é por que não acolhemos ainda Jesus, não
entendemos Jesus, não conhecemos Jesus. Assim, não somos livres, estamos
presos aos nossos pecados, ao mundo. Fazemos dessa terra em que vivemos
uma prisão, Entretanto Deus fez desse lugar um paraíso, um lar perfeito. Nós,
porém, querendo ser Deus, destruímos esse jardim florido.
Mais uma vez Deus quer mostrar para toda a humanidade, através de seu
Filho, que Ele quer ver o ser humano livre e feliz. Essa é a sua vontade. Jesus
mostrou esse caminho: amor, humildade, pobreza, desapego... Vida simples e de
muita oração.
8Na
mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que
durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. 9O Anjo do
Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram
tomados de grande temor. 10O Anjo, porém, disse-lhes: “Não temais! Eis que
eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: 11Nasceu-vos
hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. 12Isto vos
servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado
numa manjedoura”. 13E de repente juntou-se ao Anjo uma multidão do
exército celeste a louvar a Deus dizendo:
14“Glória
a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele
ama! ”
44
na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido
envolto em faixas deitado numa manjedoura”.
Desde o nascimento de Jesus, Deus esclarece para todos quais foi o
motivo de enviar o seu Filho. Mesmo recém-nascido, atrai para si os pobres, os
marginalizados, os esquecidos pela sociedade. Hoje, como ontem, são os
humildes, simples, pobres que conseguem perceber Deus entre os homens. Os
grandes, ou, que se fazem grandes, não têm tempo para Deus; são escravos do
mundo, do ter; não precisam de Deus, são autossuficientes. Pelo menos, é assim
que pensam!
As lições se repetem: pobreza, humildade, desapego... Caminho que
conduz a liberdade plena. Foi isso que Jesus veio trazer para os homens da terra:
Liberdade. Com Jesus, portanto, libertos encontramos a verdadeira felicidade,
aquela que não tem fim, é eterna. Já nessa vida viveremos o Reino de Deus, o
paraíso tão rejeitado pelo homem.
Deus quer para nós a felicidade plena, por esse motivo enviou o seu Filho.
Alegremo-nos, pois Deus nos ama muito!
45
Natal – Missa do dia
Jo 1,1-18
1No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.
2No
princípio, ele estava com Deus. 3Tudo foi feito por meio dele e sem ele
nada foi feito. 4O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens;
5
e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.
46
Entretanto, apesar do homem, a luz já venceu. Basta você fazer a sua
escolha. Você é livre! A luz e as trevas estão te esperando! Qual é a sua escolha?
6
Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. 7Este veio como
testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por
meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9O
Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo.
10Ele
estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o
reconheceu. 11Veio para o que era seu e os seus não o receberam. 12Mas a
todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que
creem em seu nome, 13ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma
vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus.
14E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória
que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.
47
Depois dos versículos que relatam a presença de João, volta-se ao texto
que fala sobre Deus, com o tema da luz aceita ou rejeitada.
É interessante notar que esses versículos demonstram o que aconteceu
com Jesus no meio dos judeus. Experiência de aceitação e rejeição. Há aqueles
que aderem aos planos de Deus e tornam-se filhos de Deus (12); e aqueles que o
rejeitam totalmente, tornando-se filhos das trevas. Esta história se repete nas
comunidades cristãs e continua a se repetir ainda hoje no nosso meio.
Quando no texto aparece a palavra mundo, está se referindo ao homem,
portanto: “Ele estava no homem e o homem foi feito por meio dele, mas o homem
não o reconheceu”.
Deus se fez homem, habitou entre os homens. Ele já existia, apenas se fez
homem, para salvar os homens.
Essa terra e o homem são uma criação de Deus, para que ocorra o
crescimento espiritual do ser humano. Sem a fragilidade da carne, seus apegos,
seu ego, não ocorreria essa fase de desenvolvimento. Com certeza estamos longe
de entender o homem e o espaço onde vive. Mas, Jesus deu muitas pistas que
todos nós devemos seguir. Aliás, pistas essas que vem ao encontro do homem em
toda a história do povo de Deus. Mudam os personagens, entretanto a lição é
sempre a mesma: o caminho do desapego total, o amor a si e ao próximo, o não
ao ego, o não a matéria... Convites que demoramos a entender.
Como Jesus fez, Deus quer que todos nós façamos. Segui-lo em tudo, dizer
um sim sem medida. Comprometer-se totalmente com o Reino de Deus. Como
disse Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
48
João apenas serviu, Jesus veio para servir. Esse é o caminho. Servir! Quando
trilho por esse caminho sou UM com ELE e somente assim encontro a
LIBERDADE.
49
Festa da Sagrada Família – Ano A
Mt 2,13-15.19-23
José é um homem santo, não vive mais para realizar os seus planos, mas,
os planos de Deus. Novamente em sonho ele recebe uma nova mensagem de
Deus: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que
eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar. ”
Ele é obediente ao Senhor e segue fielmente os pedidos do Anjo em sonho.
Quando estamos em sintonia com o Senhor, ele se manifesta em nossa
vida de variadas maneiras, sendo a mais comum através dos sonhos. O sonho é
um portal que nos liga a Deus, é como se abrisse uma porta que nos conduz a
casa do Pai, ao nosso lar definitivo. Todos nós podemos, em sonho, visitar esse
lugar sagrado, basta estar em sintonia com o Senhor, fazer a sua vontade.
A sagrada Família está com o Senhor, seguem as suas ordens e partem
para o Egito.
Dessa forma, Jesus é comparado a Moisés que cruzou o deserto em
direção à terra prometida. Conduziu o povo para a libertação. O mesmo faz Jesus,
é ele que conduzirá todo o povo do mundo para a verdadeira “libertação”.
Dessa forma, cumpre-se mais uma vez a escritura: “Eu chamei do Egito o
meu filho. ” (Os 11,1)
50
Revela-se, assim em Jesus, o Messias tanto esperado.
Jesus transcende Moisés, pois esse veio trazer a libertação do corpo, da
matéria e Jesus vem trazer a libertação do Espírito, da alma.
Novamente em sonho, José recebe uma boa notícia: está morto aquele que
queria matar o menino. José, então faz uma investigação e descobre que
Arquelau entrou como sucessor de seu pai Herodes. Ainda não satisfeito, pois
Arquelau pode ser igual ao seu pai. Volta para Israel, mas prefere morar em
Nazaré na Galileia, longe das mãos de Arquelau.
Mateus, querendo sempre justificar que Jesus é realmente o filho de Deus,
o Messias tanto esperado, mais uma vez recorre às escrituras para identificar
Jesus como o Nazareno, o nome previsto pelos profetas. No entanto, não há na
Bíblia tal citação. O que podemos concluir é que Mateus se referiu ao significado
dessa palavra Nazareno, que é desdém, ou seja, um servo de Deus que mora em
uma pequena aldeia do interior, desconhecida por muitos, uma pessoa humilde,
simples e desprezado. Nazareno, também serviu para identificar os primeiros
cristãos.
Nazareno também tem o significado de um iniciador de um novo povo, um
fato que ocorreu com Jesus. Mas o importante é que Jesus se fez homem, viveu
no meio de gente humilde, simples. Passou pelas mesmas dificuldades em que
todos nós passamos dentro de nossa família. Ele fez questão de ser igual a todos
e escolheu o lar mais humilde.
Vamos encerrar esse ano, toda essa caminhada para chegarmos mais
próximo do Senhor, com muita paz, alegria e uma grande disponibilidade de
querer imitar Jesus nesse ano que há de vir.
51
O que mais me marca lendo este trecho? Escuto e faço a vontade de Deus, com
disponibilidade a seu plano, também quando pede sacrifício, como a José?
Ilumino a minha história pessoal e a história do mundo com a Palavra de Deus?
Como olho às situações de “fraqueza”: com esperança sabendo que o Bem no
final vencerá ou com desânimo?
52
Festa da Sagrada Família – Ano C
Lc 2,41-52
43Terminados
os dias, eles voltaram, mas o menino Jesus ficou em
Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensando que ele estivesse na
caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre os
presentes e conhecidos. 45E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua
procura.
46Três
dias depois, eles o encontraram no Templo, sentado em meio aos
doutores, ouvindo-os e interrogando-os; e todos os que o ouviam ficavam
extasiados com a sua inteligência e com suas respostas.
53
Os dias correram, a festa acabou. Cansados e com o dever realizado,
voltam rapidamente para suas casas. Novamente tomaram a estrada em suas
caravanas.
Depois de um dia de caminhada, Maria e José, procuraram Jesus entre os
seus familiares e amigos, pensando que estivesse brincando com uma das
crianças. É de se pensar que Jesus já fez o mesmo em outras viagens, quem
sabe ficava brincando com o seu parente próximo, João Batista. Portanto, uma
cena comum.
Já estava chegando à noite. Mas onde está Jesus?
Não o encontrando em lugar algum, partiram de volta para Jerusalém, à
procura do menino.
Após três dias, ou seja: um dia de caminhada de retorno para casa, um dia
de regresso para Jerusalém e, portanto, mais um dia gasto procurando Jesus pela
cidade. Encontraram-no finalmente.
Quantas aflições passaram Maria e José até encontrar o menino no templo,
junto com os mestres, aprendendo, ou quem sabe, ensinando. É natural que
Jesus fosse um menino fora de comum; com certeza tinha muita inteligência e
grande sabedoria. Provocava em todos que o ouvia uma grande admiração, que
os levava a perguntar: De onde vem toda essa sabedoria?
Era grande o prazer que o menino e os mestres sentiam, pois se passaram
três dias de grande alegria entre eles.
48Ao
vê-lo, ficaram surpresos, e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que agiste
assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. 49Ele
respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de
meu Pai? ” 50Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes
dissera.
51Desceu
então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém,
conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração. 52E Jesus
crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos
homens.
55
Ano novo 1º de Janeiro
Lc 2, 16-21
Esse versículo inicia mostrando a pressa dos pastores para chegarem junto
a Jesus. É a mesma pressa que aconteceu com Maria logo depois da visita do
Anjo: “Poucos dias depois, Maria se pôs a caminho rumo à região montanhosa, e
alcançou às pressas uma cidade da Judeia”. Quem encontra Deus, tem fé, está
com pressa de servi-lo, fazer a sua vontade.
Deus vai ao encontro das pessoas simples, de coração aberto, para revelar
a sua vontade. Esses compreendem, deixam tudo para satisfazer os planos de
Deus. Os outros estão muito presos a esse mundo, o coração está duro, não se
abrem para Deus. Esse mundo basta! É o que tem sentido, dá para ver, tocar.
Identificam-se com o povo da época de Moisés, que faziam bezerro de ouro para
poder vê-lo, toca-lo, a todo o momento. Não precisavam de um Deus invisível.
Os pastores, escolhidos por Deus, para serem os primeiros a ser revelado o
nascimento do Salvador. Esses são marginalizados pela sociedade, não têm
terras, e por esse motivo invadem propriedades dos outros; assim, acabam sendo
marginalizados. Pessoas de vida simples, pobres, mas vivem em liberdade, não
se prendem a sociedade e as suas regras.
Vão ao encontro do recém-nascido, o Salvador, e o reconhecem, pois está
de acordo com o anúncio do Anjo (Lc 2,11-12). O Salvador se fez igual a eles,
também é excluído, teve que nascer entre os animais, da forma mais simples e
humilde. Eles sabem que são marginalizados e excluídos, mas seus filhos vêm ao
mundo numa forma mais digna.
56
É bom destacar que os simples pastores agora têm fé e, passam a anunciar
o Evangelho e convertem a muitos corações. Essa é uma atitude de quem
encontrou Jesus. Agora a vida tem outro sentido, é nascer de novo.
19
Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos
e os meditava em seu coração. 20E os pastores voltaram, glorificando e
louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora
dito.
21Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe
dado o nome de Jesus, conforme o chamou o Anjo, antes de ser concebido.
57
Quem é Jesus para mim? Consigo ver o Salvador? Preciso Dele? Ou será que o
meu coração está endurecido, estou preso a este mundo de tal forma que não
abro as portas para Jesus entrar. Os simples conseguem ver a presença de
Deus, em tudo. E eu, consigo?
58
Epifania do Senhor
Mt 2,1-12
1Tendo Jesus nascido em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que
vieram magos do Oriente a Jerusalém, 2perguntando: “Onde está o rei dos
judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e
viemos homenageá-lo”.
Está escrito nas escrituras que o rei dos Judeus nasceria em Belém de
Judá (Mq 5,1). Embora conhecedores da escritura, não perceberam que a hora
chegou, não estavam preparados, não viram os sinais. Foi preciso um povo de
uma terra distante, pagãos, perceberem, através da estrela que o Rei dos Judeus
nasceu.
Os magos são um símbolo das diversas nações, que buscam e descobrem
o Messias. Vão à busca de esse novo poder que nasce e, dessa forma procuram
informações no centro da política, religião da Palestina.
Hoje Jesus espera que cada um de nós também perceba os sinais de que
ele está presente, vivo no nosso meio. Entretanto, se nós não somos capazes de
receber Jesus junto de nós, então certamente outros perceberão!
É lógico e claro que o Reino de Deus não pode parar de avançar, se eu não
faço nada, ou sou uma pedra de tropeço, então outro tomará o meu lugar.
Lembre-se, epifania significa que ele veio para todos os povos, não há
privilégio, todos são escolhidos.
Os sinais estão a nossa volta: os magos tiveram as estrelas, Herodes teve
a palavra dos magos, os judeus as escrituras e hoje nós temos a luz no sacrário
acesa, indicando que Jesus está presente e pode nascer e fazer morada em seu
coração.
59
Você tem fé?
3
Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. 4E,
convocado todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou
saber deles onde havia de nascer o Cristo. 5Eles responderam: “Em Belém
da Judeia, pois é isto que foi escrito pelo profeta:
6
E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de
Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, meu povo” (Miq 5,2).
7Então
Herodes, mandou chamar secretamente os magos e procurou
certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido.
8
E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações
exatas a respeito do menino e, ao encontra-lo, avisai-me, para que também
eu vá homenageá-lo.
9Aessas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto
no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se
60
encontrava o menino. 10Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente.
11
Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o
homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe
presentes: ouro, incenso e mirra. 12Avisados em sonho que não voltassem a
Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região.
Herodes não viu a estrela, ela sumiu. Nem todos conseguem ver os sinais,
é preciso que outros vejam e ensine.
Fora da cidade, a estrela reaparece para os magos e os conduz até o
menino.
Os magos perceberam que a salvação não vem do poder dominante, mas
sim do pequeno, da periferia e não do centro.
Um menino numa manjedoura, ao lado sua mãe, mais ao longe alguns
animais.
Pensavam em encontrar um rei num palácio e encontraram em uma forma
mais humilde possível.
Entendido o recado e avisados em sonho, voltaram para a sua terra por
outro caminho, não passaram mais por Jerusalém.
Definitivamente a salvação não deriva de Jerusalém, centro do poder e
ainda menos se relaciona com Herodes. Por esse motivo partem de volta por outro
caminho.
Hoje, a resposta para os nossos problemas partirá das comunidades, do
povo. Não devemos cometer o mesmo erro dos magos, ou seja, procurar Jesus no
palácio, no poder. Não, ele está no nosso meio, dentro de cada um de nós.
Jesus veio para todos e vive principalmente no mais pobre e necessitado da
sociedade.
Em muitas ocasiões, a estrela some de nossa vista, ficamos perdidos, sem
rumo. Mas Jesus está sempre do nosso lado. O importante é estar sempre à
procura de Jesus, nem que isto leve uma vida.
61
Senhor, faça que eu aceite Jesus de coração sincero, com fé, prepara-me para
que eu faça uma verdadeira conversão, desejo seguir os passos de Jesus, fazer o
que Ele fez.
62
Ano A
Batismo do Senhor
Mt 3,13-17
13Nesse tempo, veio Jesus da Galileia ao Jordão até João, a fim de ser
batizado por ele.
Jesus se dirige até João Batista para ser batizado. João fazia um batismo
de penitência, preparava as pessoas para a chegada do Messias.
João não esperava batizar Jesus. Não passava pela sua cabeça essa cena.
Ele estava anunciando o Messias, e este vem ao seu encontro para ser batizado!
Mas, por que Jesus queria ser batizado? Quais foram os seus pecados?
Quantas perguntas rolaram pela cabeça de João.
Jesus sempre nos impressiona com a sua extrema humildade, mais uma
vez ele se coloca como o menor, aquele que mais serve. Mais uma vez ele coloca
os nossos pecados em seus ombros para serem perdoados.
De fato, Jesus não precisa do batismo de João, mas faz esse ato, por nós.
Com o batismo de Jesus, os nossos pecados começam a ser lavados,
purificados. Com o seu batismo ele diz sim ao projeto de Deus, é o que nós
fazemos hoje no nosso batismo, aceitamos participar da Igreja e fazer a vontade
do Pai.
Com o sim de Jesus, inicia-se a sua vida pública.
14Mas
João dissuadi-lo, dizendo: “Eu é que tenho necessidade ser batizado
por ti e tu vens a mim? ” 15Jesus, porém, respondeu-lhe: “Deixa estar por
enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça”. E João consentiu.
63
João não entendeu a atitude de Jesus. Precisou um diálogo entre os dois
para João entender e realizar o batismo de Jesus.
Apesar de João conhecer Jesus e fazer também a vontade do Pai, Jesus o
surpreendeu. Realmente este não é um homem normal, como todos os outros, ele
é o Filho de Deus.
Sendo uma pessoa livre, não amarrada, acorrentada, aprisionada pelo
mundo e seus prazeres, suas atitudes são diferentes e assim, difícil de ser
entendido por nós. Até mesmo João não entendeu!
A conversa entre eles é interessante e Jesus coloca os dois como um
instrumento nas mãos de Deus para realizar o seu projeto: “Deixa estar por
enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça” (vv. 15b). Jesus se
referiu a si próprio, a João, ao Espírito Santo e a todos aqueles que se
comprometem à realização do projeto de Deus. Todos nós somos chamados,
escolhidos para essa missão.
O batismo introduziu Jesus na vida pública, aceitou o projeto do Pai. E,
hoje, através do nosso batismo, nós também aceitamos participar desse projeto e
o confirmarmos na crisma. Sou um instrumento nas mãos do meu Senhor.
16Batizado,
Jesus subiu imediatamente da água e logo os céus se abriram e
viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele. 17Ao
mesmo tempo, uma voz vinda dos céus dizia: “Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo. ”
Logo depois de Jesus ser batizado, saiu da água e os céus se abriram. Isto
vem mostrar para nós que Jesus está em plena comunhão com o Pai, o plano de
Deus será realizado. Em seguida, o Espírito Santo desceu sobre ele.
Quando nós aderimos fielmente ao Senhor, o mesmo acontecerá conosco,
ou seja, o Espírito Santo também descerá sobre nós e dessa forma estaremos em
comunhão com o Pai.
Lembre-se, tudo o que ocorreu com Jesus foi uma demonstração do que
pode acontecer com cada um de nós. Basta dizer sim.
Jesus disse sim e Deus se comunicou com todos nós dizendo: “Este é meu
Filho amado, em que me comprazo” (vv. 17b).
Nós também somos filhos amados, Deus está esperando o nosso sim.
64
Somos todos iguais, filhos do mesmo Pai e temos como exemplo para
seguir o nosso grande amigo e irmão, Jesus.
65
Ano B
Batismo do Senhor
Marcos 1,7-11
7E proclamava: “Depois de mim, vem o mais forte do que eu, de quem não
sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. 8Eu vos tenho
batizado com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito santo”.
66
é o Messias, o próprio Deus que irá renovar o coração da humanidade. E, esta
será diferenciada pela ação do Espírito Santo.
67
Ano C
Batismo do Senhor
Lc 3,15-16.21-22
68
21
Ora, tendo todo o povo recebido o batismo, e no momento em que Jesus,
também batizado, achava-se em oração, o céu se abriu 22e o Espírito Santo
desceu sobre ele em forma corporal, como pomba. E do céu veio uma voz:
“Tu és o meu Filho, eu, hoje, te gerei! ”
69
comunidade e além da comunidade? Levo a esperança, com a minha vida, para
um mundo mais justo e fraterno?
70
TEMPO DE QUARESMA
ANO A
71
1° Domingo da Quaresma – Ano A
Tentação no deserto
Mt 4, 1 – 11
1Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo.
2Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois, teve fome. 3Então,
aproximando-se o tentador, disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras
4Mas Jesus respondeu: “Está escrito:
se transformem em pães. ”
Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8,3).
Logo depois do batismo no rio Jordão, por João Batista, Jesus se dirige ao deserto
para se preparar para o início de sua vida pública.
Jesus quer mostrar para nós que é possível viver o Reino de Deus sendo um simples
homem e fazer com justiça. Com isso, ele quer viver toda a sua vida passando pelos
mesmos problemas e tentações que todos nós passamos no nosso dia a dia.
Essas tentações que Jesus sofreu no deserto foram apenas um sinal do que Ele irá
enfrentar na vida, pois elas se repetem diariamente.
Foram quarenta dias (tempo simbólico) que Jesus passou no deserto, podemos
comparar ao tempo que o povo de Deus passou no deserto, quarenta anos, ou se preferir,
toda uma vida. Jesus estava se preparando para o início de sua caminhada. Lembremos,
que toda a sua vida não foi premeditada, mas sim, planejada detalhadamente.
Essa forma de agir nós temos que imitar. Em tudo que formos fazer, tem que ser
pensado e aprovado por Deus. É a Ele que devemos nos dirigir pedindo auxílio, e, através da
sua força realizaremos o sonho de Deus. Agora, os nossos sonhos... É Ele que vai realizá-
los.
Na primeira tentação, Jesus está com fome, o diabo entende e aproveita de todas as
formas as nossas necessidades diárias para tirar proveito. Dessa forma ele propõe que
Jesus transforme uma pedra em pão, ou seja, mediante um passe de mágica, sem fazer
72
nenhum esforço garanta que sua missão vai ser um sucesso. O diabo sugere que Jesus não
precisa fazer nada, pois o seu Pai tudo pode.
Não, Deus quer a nossa ajuda, o nosso esforço, Ele quer que todos nós possamos
vencer a matéria, que não nos deixemos escravizar por ela. Fazendo isso acontecerá à
partilha, a justiça se realizará e o Reino de Deus estará entre nós.
Com a vida fácil, ou seja, o acumulo de bens, abundância para poucos, a pedra se
transforma em pão.
Observemos que a matéria e tudo mais, estão aqui para o nosso benefício, devemos
saber fazer uso dela, com moderação, caso contrário nós seremos escravos dela, e é isso
que o diabo quer.
Jesus não quer ser um messias que abuse do seu poder, por isso Ele escolhe o
caminho do desapego total da matéria, um caminho que todos nós devemos procurar seguir,
a qualquer custo.
Lembremos que todos os grandes santos seguiram por esse caminho e é por isso que
são lembrados até hoje, deixaram marcas profundas em sua passagem sobre a terra.
Hoje, somos nós os convidados a seguir Jesus, a construir o Reino de Deus. Sabemos
qual o caminho a seguir, que é o desapego, é ser livre, assim como o Mestre foi.
Dessa forma, eu posso perguntar: Você é escravo da matéria? Você está apegado às
coisas desse mundo, até a sua vida? Você deixa ser levado pela tentação do ter, da
abundância, da vida fácil?
Cuidado, essa foi a primeira tentação de Cristo e nos segue por toda a nossa vida.
5Então 6e
o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo
disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito:
Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito e eles te tomarão pelas mãos, para que não
tropeces em nenhuma pedra” (Sal 90,11s). 7Respondeu-lhe Jesus: “Também está
escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Dt 6,16).
Passada a primeira tentação, Jesus é levado pelo diabo a um ponto mais alto do
templo. Inicia a segunda tentação, o diabo quer que Jesus pule, pois, sendo filho de Deus
será salvo.
Em outras palavras, o diabo quer que Jesus abuse do poder de Deus.
Mas como irá se realizar o projeto de Deus, que é liberdade para todos, por um
homem que abusa do poder, que quer prestígio, glória e recusa-se a escapar da morte?
Não, por mais poder que Ele tenha em suas mãos, não abusou dele uma só vez. Ser
um messias de prestígio é o mesmo que dizer: Eu sou Deus, tudo posso.
73
Mais uma vez a tentação se repete diariamente em nossa vida e se repetiu em toda
vida de Jesus.
Hoje somos nós que passamos constantemente por essas tentações, em casa, na
Igreja, na escola, no serviço. Todos os dias somos tentados a abusar do poder que temos,
queremos ser valorizados mesmo pelo pouco que fazemos; queremos prestígio, que todos
reconheçam o nosso valor, somos indispensáveis; queremos glória, reconhecimento dos
nossos atos.
Dessa forma, nos tornamos escravos do nosso ego, mas o que Jesus veio trazer para
nós foi à liberdade, ser livre do nosso egoísmo.
Na verdade, o que Jesus quer de nós é o desapego total, ou seja, se você quer poder
então seja aquele que mais serve, se põe a serviço. Jesus quer que sejamos humildes,
simples e que toda a glória seja voltada para Deus que tudo pode; nós, nada somos, tudo
vem de Deus.
Jesus quer o nosso desapego total, até mesmo de nossa própria vida, nada sou, nada
tenho, tudo vem de Deus e volta para Deus.
8
Tornou o diabo a leva-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os
reinos do mundo com o seu esplendor 9e disse-lhe: “Tudo isto te darei, se, prostrado,
me adorares. ” 10Aí Jesus lhe disse: “Vai-te, Satanás, porque está escrito:
Ao Senhor teu Deus adoraras e só a ele prestará culto” (Dt 6, 13).
11Com
isso o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a
servi-lo.
Mais uma vez o diabo volta para tentar Jesus. Ele propõe que Jesus construa o Reino
de Deus usando o poder que Ele tem em suas mãos. Jesus, pela opção do diabo, seria o rei
todo poderoso, dono de tudo e de todos. Um chefe para todas as nações, tudo passaria por
suas mãos. Dessa forma, a paz vai reinar, mas pela força, poder.
Lembremos que o poder e reinos deste mundo são coisas diabólicas que levam o
homem à corrupção, ao erro, ao pecado.
Não, Jesus tem outros planos, outros caminhos para realizar o plano de Deus. Jesus
não quer ser o messias do poder.
Da mesma forma que Jesus passou pelas tentações e as superou, nós também, em
nosso dia a dia, temos que superá-las também. Temos que perceber toda a injustiça que
está em nossa volta, decorrente do egoísmo, do acumulo de bens. Temos que ir contra a
busca animalesca do prestígio, do querer ser mais e melhor que todos e a todo custo. Temos
que procurar o caminho da humanidade, do serviço da dedicação pelo próximo sem
nenhuma necessidade de poder, de querer algo em troca.
Lembremos também da nossa posição como religiosos que somos, temos que estar
sempre a serviço; sem procurar prestígio, glória, fama; sem querer ser poderoso, usar do
74
poder que temos nas mãos para o nosso benefício. Todos nós corremos esse risco de
explorar a fé dos nossos irmãos.
Que a humildade, o serviço e desapego total sejam a nossa meta para a construção
do Reino de Deus.
75
2° Domingo da Quaresma – Ano A
Transfiguração
Mt 17,1-9
1Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou para um
lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E ali foi transfigurado diante deles. O seu
rosto resplandeceu como o sol e suas vestes tornaram-se alvas como a luz. 3E eis que
lhe apareceram Moisés e Elias conversando com ele. 4Então Pedro, tomando a palavra,
disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas:
uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
76
Pedro quis colocar Jesus como sendo igual a Moisés e Elias, fazendo uma tenda para
cada um deles. Mas Jesus é aquele que cumpre fielmente todas as profecias e veio trazer
para nós nova Lei.
5Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz,
que saia da nuvem, disse: “Este é o meu Filho muito amado, em quem me comprazo,
ouvi-o! ”. 6Os discípulos ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no
chão. 7Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse: “Levantai-vos e não tenhais
medo”. 8Erguendo os olhos, não viram ninguém: Jesus estava sozinho.
9Ao
descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém essa visão, até
que o Filho do Homem ressuscite dos mortos”.
77
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Meu Deus, nada sou. Reconheço a minha fragilidade, a minha pequenez. Não irradio a sua
luz, sou morno ou até mesmo frio. Mas quero melhorar, quero ser um instrumento em suas
mãos para assim poder refletir um pouco de sua luz. Ajude em minha caminhada, transforme
o meu ser, quero imitar Jesus.
78
3° Domingo da Quaresma – Ano A
A samaritana
Jo 4,5-42
5Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó
tinha dado a seu filho José. 6Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada,
Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta.
79
7
Um mulher Samaritana chegou para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber! ”
8 9
Seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimento. Diz-lhe, então a
samaritana: “Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana? ”
(Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.) 10Jesus lhe respondeu:
“Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe
pedirias e ele te daria água viva. ”
11
Ela lhe disse: “Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde,
pois, tiras essa água viva? 12És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos
deus este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais? ”
13Jesus lhe respondeu:
“Aquele que beber desta água terá sede novamente; 14mas quem beber da água que eu
lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte
de água jorrando para a vida eterna. ”
15Disse-lhe
a mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu já não tenha mais sede,
nem tenha de vir mais aqui para tirá-la! ”
Jesus está sozinho no poço, quando chega uma mulher samaritana. Os judeus e
samaritanos se detestavam a ponto de condenarem as mulheres samaritanas em
permanente estado de impureza. “Jesus lhe disse: Dá-me de beber” (7b).
Começa o diálogo, como sempre, Jesus tem a iniciativa: quebra os preconceitos,
convenções que oprimem e marginalizam as pessoas. Jesus é livre e prega essa liberdade,
para que todos façam o mesmo.
Com o diálogo, Jesus vai aos poucos superando o nível de separação entre os dois.
Progressivamente leva a samaritana a compreensão de quem é Ele. Entender Jesus e segui-
lo.
Jesus nos leva a ter sede, sede de água que só Ele pode nos dar. Ele nos leva a sair
de nossa vida normal e enxergar mais longe, com os olhos do Espírito Santo. Ele quer a
nossa procura constante do Reino de Deus e tudo faz para que o sigamos. Ele tem paciência
e nos espera com muita alegria. Ele faz sinais para nós, nos chama pelo nome, nos dá
inúmeras pistas e nós dificilmente percebemos a sua presença constante em nosso dia a dia.
Ele surpreende a samaritana. Ela percebe que Jesus não é um homem qualquer, é
diferente e se deixa levar pelas suas palavras a ponto de reconhecê-lo, de ser respeitado,
valorizado. Chama-o de Senhor e pede dessa água que gera vida eterna. Foi o primeiro
passo.
O mesmo faz Jesus com cada um de nós, ou seja, nos leva progressivamente a
conhecê-lo. Se não o fazemos, a culpa é nossa, estamos de coração duro, fechado, Jesus
não consegue entrar, não abrimos a porta.
Jesus é um presente que Deus deu para os homens, precisamos conhecê-lo.
80
16
Jesus disse: “Vai, chama teu marido e volta aqui”. 17A mulher lhe respondeu: “Não
tenho marido”. Jesus lhe disse: “Falaste bem: ‘não tenho marido’, 18pois tiveste cinco
maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade”. 19“Disse-lhe a
20
mulher: “Senhor, vejo que és um profeta... Nossos pais adoraram sobre esta
montanha, mas vós dizeis: é em Jerusalém que está o lugar onde é preciso adorar”.
21
Jesus lhe disse:
“Crê mulher, vem a hora em que sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o
Pai. 22Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a
salvação vem dos judeus. 23Mas vem a hora - e é agora - em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o
Pai procura. 24Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adora-lo em espírito e
verdade”.
25A mulher disse: “Sei que deve vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele
vier, nos anunciará tudo”. 26Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que fala contigo”.
27Naquele
instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se de que falasse com
uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou: “Que procuras? ” ou: “O que falas
81
com ela? ” 28A mulher, então, deixou o seu cântaro e correu à cidade, dizendo a todos:
29
“Vinde e ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o Cristo? ” 30Eles
saíram da cidade e foram ao seu encontro.
31
Enquanto isso, os discípulos rogavam-lhe: “Rabi, come”. 32Ele, porém, lhes disse:
“Tenho para comer um alimento que não conheceis. ” 33Os discípulos se perguntavam
uns aos outros: “Por acaso alguém lhe teria trazido algo para comer? ” 34Jesus lhes
disse:
“Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra.
35
Não dizeis vós: ‘Ainda há quatro meses e chegará a colheita’?
Pois bem, eu vos digo:
Erguei os vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita. Já 36o
ceifeiro recebe o seu salário e recolhe fruto para a vida eterna, para que o semeador se
alegre juntamente com o ceifeiro.
37Aqui,
pois, se verifica o provérbio:
‘um é o que semeia, outro é o que ceifa’.
38Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam e vós entrastes no
trabalho deles ”.
39
Muitos samaritanos daquela cidade que creram nele, por causa da palavra da mulher
que dava testemunho: “Ele me disse tudo o que eu fiz”. 40Por isso, os samaritanos
vieram até ele, pedindo-lhe que permanecesse com eles. Ele ficou ali dois dias. 41Bem
mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele 42e diziam à mulher:
“Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos
que esse é verdadeiramente o salvador do mundo”.
82
Assim como Jesus foi enviado pelo Pai, nós hoje somos enviados por Jesus. Da
mesma forma que Ele plantou, progressivamente a semente na samaritana e outros
colheram o fruto, com o seu testemunho; nós devemos fazer o mesmo. Devemos ser,
sempre, imitadores de Jesus.
83
4° Domingo da Quaresma – Ano A
O cego de nascença
Jo 9,1-41
1Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença. 2Seus discípulos lhe perguntaram:
“Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego? ” 3Jesus respondeu:
“Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras
de Deus.
4Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem a noite,
quando ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo ".
6Tendo
dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do
cego 7e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” – que quer dizer ‘Enviado’”. O cego
foi, lavou-se e voltou vendo.
Esta passagem do Evangelho de hoje é o sexto sinal que João traz para nós, ele quer
que todos venham a conhecer Jesus através desses sinais. A intenção é provocar a fé,
amolecer o coração, para que assim Jesus possa entrar.
O milagre é narrado em poucas palavras, mas, a discussão que causa o interrogatório
que o cego sofre e o seu crescimento progressivo em direção a Jesus é o ponto mais
sublime.
Na verdade, o cego é um símbolo do povo oprimido, vítima de preconceitos sociais e
religiosos. Era considerado um pecador que estava pagando pelos seus erros, portanto, um
castigo de Deus.
Dessa forma, o máximo que ele podia fazer era esmolar, dependia cada vez mais da
sociedade opressora.
Jesus vem quebrar essas amarras, vem libertar. Ele é a luz do mundo, vem trazer a
nova Lei. Portanto, Ele pode curar no sábado e quebrar o elo da doença com o pecado.
84
O cego abre os olhos e vê, mais um milagre efetuado por Jesus, agora ele vê o
mundo e devagar ele enxerga Jesus como o Messias, o enviado, o Filho de Deus.
Jesus quer mostrar a sua independência em relação a tudo e nesta passagem Ele
focaliza a lei do sábado. Ele é livre, e veio trazer para nós essa liberdade.
O homem nasce livre e quer viver livre de todo tipo de preconceitos religiosos e
sociais. Resta a nós, hoje, sermos luz para o mundo, nos colocarmos no lugar de Jesus,
somos continuadores do projeto de Deus.
8Os
vizinhos, então, e os que estavam acostumados a vê-lo antes, porque era
mendigo, diziam: “Não é esse que ficava sentado a mendigar? ” 9Alguns diziam: “É
ele”. Diziam outros: “Não, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu
mesmo”. 10Perguntaram-lhe, então: “Como se abriram os teus olhos? ” 11Respondeu:
“O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e me disse: ‘Vai a Siloé
e lava-te’. Fui, lavei-me e recobrei a vista”. 12Disseram-lhe: "Onde está ele? ” Disse:
“Não sei”.
13
Conduziram o que fora cego aos fariseus. 14Ora, era sábado o dia em que Jesus
fizera lama e lhe abrira os olhos. 15Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha
recobrado a vista. Respondeu-lhes: “Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo”.
16Diziam, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, porque não
guarda o sábado”. Outros diziam: “Como pode um pecador realizar tais sinais? ” E
havia cisão entre eles. 17De novo disseram ao cego: “Que dizes de quem te abriu os
olhos? ” Respondeu: “É um profeta”.
18Os judeus não creram que ele fora cego enquanto não chamaram os pais do que
recuperara a vista 19e perguntaram-lhes: “Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido
cego? Como é que agora ele vê? ” 20Seus pais então responderam: “Sabemos que este
é o nosso filho e que nasceu cego. 21Mas como agora ele vê não o sabemos; ou quem
lhe abriu os olhos não o sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se
explicará”. 22Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus tinham
combinado que, se alguém reconhecesse Jesus como o Cristo, seria expulso da
sinagoga. 23Por isso, seus pais disseram: “Ele já tem idade, interrogai-o”.
24Chamaram,
então, uma segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: “Dá
glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador”. 25Respondeu ele: “Se é pecador,
não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo”. 26Disseram-lhe, então:
“Que te fez ele? Como te abriu os olhos? ” 27Respondeu-lhes: “Já vos disse e não
ouviste. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus
discípulos? ” 28Injuriaram-no e disseram: “Tu, sim, és seu discípulo; nós somos
discípulos de Moisés. 29Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de
onde é”. 30Respondeu-lhes o homem: “Isso é espantoso: vós não saibais de onde ele é
e, no entanto, abriu-me os olhos! 31Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas,
se alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele escuta. 32Jamais se ouviu dizer
que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. 33Se esse homem não
85
viesse de Deus, nada poderia fazer”. 34Responderam-lhe: “Tu nasceste todo em
pecados e nos ensinas? ” E o expulsaram.
O centro do Evangelho de hoje inicia agora, o cego, curado por Jesus, “começa a
enxergar” e vira um discípulo.
Percebendo as articulações do poder, ele se põe de frente e dá testemunho de Jesus.
Começa o interrogatório: Primeiro perguntam ao cego como aconteceu a cura, e ele
responde que foi um homem que se “chama Jesus” (11). Depois é interrogado novamente,
pelos fariseus: “Que dizes tu daquele que te abriu os olhos? ” ── “é um profeta”, respondeu
ele (17). Novamente é interrogado e o seu testemunho permaneceu firme em favor de
Jesus, entretanto com mais fé. Ele responde: “Se não fosse de Deus, não poderia fazer isso”
(33).
Progressivamente o homem vai se aproximando de Jesus, um longo caminho, com
obstáculo, mas que leva a liberdade plena: viver Jesus.
Podemos comparar essa passagem com a nossa vida, com a nossa caminhada na
Igreja. Em primeiro plano vamos conquistando, para Jesus, aqueles que estão mais próximos
de nós, os que primeiro nos questionaram. A nossa fé ainda é pequena e aos poucos vamos
reconhecendo Jesus. No segundo momento ampliamos o nosso horizonte, vamos ao
encontro de outras pessoas que não são do nosso grupo, o nosso testemunho tem mais
força, conquistamos mais pessoas para Jesus. Progressivamente, num crescimento
contínuo, a nossa fé aumenta até um dia em que realmente conhecemos Jesus, é o ápice, o
ponto mais alto, aqui na terra. Viver Jesus, liberdade plena.
35Jesus
ouvir dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: “Crês no Filho
do Homem? ” 36Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia? ” 37Jesus lhe
disse: “Tu o estás vendo, é quem fala contigo” 38Exclamou ele: “Creio, Senhor! ”. E
prostrou-se diante dele.
39Então disse Jesus:
“Para um discernimento é que vim a este mundo: para que os que não veem, vejam, e
os que veem, tornem-se cegos”.
40Alguns
fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: “Acaso
também nós somos cegos? ”
41Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas dizeis: ‘Nós
vemos! ’
Vosso pecado permanece.
86
O ponto alto desse trecho do Evangelho é quando Jesus desmascara e desqualifica
os que mantêm o povo na cegueira, impedindo-os de serem livres.
Jesus derrubou, desmascarou aquele que “possuía”, mais do que os outros, a
verdade. O povo era considerado um bando de ignorante, pecador, incompetente. Por esse
motivo, os fariseus não aceitaram a explicação do homem que era cego, e por serem duros
de coração, agora são eles os cegos.
O que era cego agora vê, é livre, não está mais preso ao mecanismo opressor e se
torna discípulo de Jesus. É o último passo para começar a viver Jesus plenamente.
Após a exclusão daquele que era cego da sinagoga, pelos fariseus, entra em cena
novamente Jesus e vai ao seu encontro. Quando tudo parece perdido, aparece uma luz.
Deus julga de outro modo os homens. Na verdade, Ele não veio para julgar, mais sim trazer
luz para que o próprio homem faça o seu julgamento. Ele é a luz, quem é cego acolhe, quem
pensa ver o recusa (39).
Será que nós somos cegos? Não, pois sabemos distinguir o certo do errado,
pecamos, escolhemos um caminho. Portanto, vemos e assim o pecado permanece em nós
(41).
Com isso, a nossa culpa é maior, conhecemos o caminho para chegar até Jesus e se
não vamos a ele, então o nosso pecado é maior. Somos como cegos.
Avaliemos a nossa caminhada, ainda é tempo de conversão, arrependimento, acertar
o caminho. A hora é agora.
Ressurreição de Lázaro
Jo 11,1-45
1Havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. 2Maria
era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com os seus
cabelos. Seu irmão Lázaro se achava doente. 3As duas irmãs mandaram, então, dizer a
Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente. ” 4A essa notícia, Jesus disse: “Essa
doença não é mortal, mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o
Filho de Deus”.
5Ora, Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro.
6Quandoas
soube que este se achava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar em
que se encontrava; 7só depois, disse aos discípulos: “Vamos outra vez até a Judéia! ”
8Seus discípulos disseram-lhe: “Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te e
88
Jesus se encontra na Transjordânia, a uma jornada de caminho de Betânia. Estava
refugiado, escondido como um fora da lei, tentava escapar das mãos dos que queriam
prendê-lo. Jesus não teve pressa, depois de ter sido avisado da doença de Lázaro, Ele ainda
permaneceu no mesmo lugar dois dias. Com certeza Jesus sabia claramente que realizaria o
maior e último sinal de sua vida, e que o levaria a morte.
Entretanto, os discípulos não queriam voltar, pois estavam com medo. De fato,
Betânia se encontrava apenas a três quilômetros de Jerusalém. Os discípulos relutam em
aceitar o projeto de Deus. Eles sabem que vão ao encontro da morte e não aceitam.
Jesus é um verdadeiro profeta e nada acontece com um profeta enquanto ele não
realiza a sua missão. Dessa forma, Jesus está na luz, é a luz e quem está com Ele não
tropeça. Mas a sua missão tem um fim e encerrado a missão vem à morte. Note que, à noite,
quando os discípulos se encontram sós (sem Jesus), tropeçam, caem no erro, no medo,
enfrentam a covardia, fogem da morte. Mas a luz volta no terceiro dia, definitivamente, na
manhã da ressurreição.
Enquanto os discípulos estavam na luz, com Jesus, enfrentavam o medo, seguiam
Jesus. Por isso Tomé disse: “Vamos também nós, para morrermos com ele”.
17A chegar, Jesus encontrou Lázaro já sepultado havia quatro dias. 18Betânia ficava
perto de Jerusalém, a uns quinze estádios. 19Muitos judeus tinham vindo até Marta e a
Maria, para as consolar da perda do irmão. 20Quando Marta soube que Jesus chegara,
saiu ao seu encontro; Maria, porém, continuava sentada, em casa. 21Então, disse Marta
a Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido 22Mas ainda agora
sei que tudo o que pedires a Deus, ele te concederá”. 23Disse-lhe Jesus: “Teu irmão
ressuscitará”. 24Sei, disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia! ”
25Disse-lhe Jesus:
Jesus chegou, passou quatro dias que Lázaro havia sepultado. Para o povo da época
o quarto dia significava perda total, não havia mais esperança.
Marta e Maria estavam em casa recebendo condolências pela morte. Era um costume
da sociedade. Vinham visitar, fazer companhia, chorar com eles se lamentando, gritando,
rasgando as vestes, enfim um grande drama de expressão e dor.
Jesus, porém, não entra, não quer participar do desespero de todos.
89
Marta vai ao encontro de Jesus, desesperada e diz: “Senhor, se estivesses aqui, meu
irmão não teria morrido! (21) ”.
Lembremos que Marta sabia que Jesus traz a vida, quem está com Jesus não teme a
morte, não há lugar para ela. Embora Lázaro esteja morto e sepultado, Marta tem fé, acredita
em Jesus, sabe que Ele tudo pode. (22)
Jesus trabalha, conduz Marta a uma fé plena e diz: “Eu sou a ressurreição. Quem crê
em mim, ainda que morra, viverá”. (25)
Aos poucos Jesus leva Marta a crer, Ele se revela perante a amiga. Quem crê em
Jesus já vive a “vida eterna”, já passou da morte para a vida.
Jesus encerra o diálogo com uma pergunta: “Crês nisto? ” O qual Marta responde:
“Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo”.
Essa mesma pergunta é feita para nós, hoje. Qual é a nossa resposta?
O ideal seria se professássemos a nossa fé, com todo o nosso coração, com toda a
nossa alma e todas as nossas forças e agradecermos a Deus.
28
Tendo dito isso afastou-se e chamou sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: “O
Senhor está aqui e te chama”. 29Esta, ouvindo isso, ergueu-se logo e foi ao seu
encontro. 30Jesus não entrara ainda no povoado, mas estava no lugar em que Marta o
fora encontrar. 31Quando os judeus, que estavam na casa com Maria, consolando-a,
viram-na levantar-se rapidamente e sair, acompanharam-na, julgando que fosse ao
sepulcro para aí chorar.
32Chegando
ao lugar onde Jesus estava, Maria, vendo-o, prostrou-se a seus pés e lhe
disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido! ” 33Quando Jesus a
viu chorar e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e
ficou conturbado. 34E perguntou: “Onde o colocastes? ” Responderam-lhe: "Senhor,
vem e vê! ” 35Jesus chorou. 36Diziam, então, os judeus: “Vede como ele o amava! ”
37Alguns deles disseram: “Esse, que abriu os olhos do cego, não poderia ter feito com
não morresse? ” 38Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta,
com uma pedra sobreposta. 39Disse Jesus: “Retirai a pedra! ”. Marta, a irmã do morto,
disse-lhe: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia! ” 40Disse-lhe Jesus: “Não te disse
que, se creres, verás a glória de Deus? ” 41Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os
olhos para o alto e disse:
“Pai, dou-te graças porque me ouviste.
42Eu
sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia,
para que creiam que me enviaste”.
43Tendo
dito isso, gritou em alta voz: “Lazaro, vem para fora! ” 44O morto saiu, com os
pés e as mãos enfaixados e com rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse:
“Desatai-o deixai-o ir embora. ”
45Muitos
dos judeus que tinham vindo à casa de Maria, tendo visto o que ele fizera,
creram nele.
90
Quando Maria ficou sabendo da presença de Jesus, sai correndo ao seu encontro e
ajoelha-se aos seus pés e repete a mesma frase de Marta: “Senhor, se estivesses aqui, meu
irmão não teria morrido! ” (32b)
Vendo o choro de Maria e a dos que estavam a sua volta, Jesus se comoveu e
também chorou com eles. Entretanto não é um choro de desespero e sim de solidariedade
para com os que estavam a sua volta.
Depois se dirige ao sepulcro e sob os olhos incrédulos dos presentes, manda tirar a
pedra do túmulo. Marta, porém, recorda mais uma vez que não há mais esperança. Onde
Jesus responde: “Disse-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? ” (40)
Jesus fez esse sinal para aumentar a nossa fé: “Eu sabia que sempre meu ouves;
mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que me enviaste”, (42)
Depois de uma prece dirigida ao Pai, Jesus clamou em alta voz: “Lázaro, vem para
fora! ”.
O seu lugar não é entre os mortos, mas sim com os vivos. Lázaro ouve Jesus e sai.
Jesus encerra com essa ordem: “Desatai-o deixai-o ir-se”.
É essa a nossa missão, hoje: libertar as pessoas do erro, do pecado, da morte.
Devemos devolver a vida àqueles que estão mortos para Jesus e só vamos conseguir
realizar a vontade de Deus através do nosso testemunho constante, perseverante.
Temos que acreditar, nos unir, crer em Jesus.
Lembrem-se: muitos creram, mas para outros foi um motivo a mais para condenar
Jesus.
ANO B
92
1º Domingo da Quaresma – Ano B
A tentação no deserto
Mc 1,12-15
12Elogo o Espírito o impeliu para o deserto. 13E ele esteve no deserto quarenta dias,
sendo tentado por Satanás; e vivia entre as feras, e os anjos o serviam.
Ao ser batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus recebeu o Espírito Santo. A
partir desse momento Jesus se entregou totalmente nas mãos de Deus. Que a sua vontade
seja feita, não a minha. Agora é o Espírito Santo que conduz Jesus, Ele conduzirá os seus
passos até a Cruz.
Ao deserto Ele envia Jesus para que se prepare para iniciar a sua missão salvífica,
libertadora. Quarenta dias em oração, de penitência e jejum. Faz lembrarmos os quarenta
anos que o povo de Deus passou no deserto se preparando para entrar na terra prometida.
Lembra também os quarenta dias que durou o dilúvio onde renasce uma nova humanidade
renovada. Não podemos esquecer os dias que Moisés permaneceu no monte para receber a
aliança. Lembra também os quarenta dias em que Elias permaneceu na montanha. Mas a
mudança radical, a aliança que dura para sempre se inicia em Jesus.
Quarenta Dias Jesus passou no deserto e ali foi tentado por Satanás. É interessante
destacar que Marcos não conta para nós o conteúdo das tentações, como fazem os outros
evangelistas. A resposta é que essas tentações aconteceram também durante toda a missão
de Jesus. Ele é perseguido por Satanás até o fim. Na verdade, quem é Satanás? O próprio
significado da palavra já responde: adversário. Ou seja, tudo o que vai contra, impede o
projeto de Deus.
No deserto Jesus convive pacificamente entre os animais e é servido pelos Anjos.
Deus sustenta, cuida daquele que dedica a vida, ao Reino de Deus.
93
14
Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de
Deus: 15“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede
no Evangelho”.
Tem início a missão de Jesus. O tempo é logo depois da prisão de João Batista, o
lugar é a Galileia. João sai de cena, encerra a sua missão. Jesus entra em cena dizendo: “O
tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no
Evangelho”.
A Galileia foi a região escolhida por Jesus, deixando bem claro o motivo de sua vinda.
Esse lugar era um sinônimo de marginalidade, lugar de gente pobre, sem valor, esquecidos
pela sociedade. É nesse meio que Jesus começa a agir.
Quando Jesus anuncia o Reino, Ele está dizendo que Deus tomou a decisão de
reinar. Deus reina em nós, através dos atos que geram liberdade, vida. O Reino se torna
uma realidade em Jesus, em seus discípulos e hoje em nós quando aderimos ao seu projeto.
Converter-se, crer na Boa Notícia é sinal de adesão e prática. Jesus deu início a esse
processo, abriu o céu, fez a ligação perpétua entre o céu e a terra. A liberdade nos espera: o
paraíso. O Reino de Deus está próximo.
Todos são convidados, mas os excluídos são os primeiros a receber a boa Notícia.
Deus quer a igualdade entre os homens, não quer pequenos e nem tão pouco grandes, mas
sim iguais.
São os pequenos que entendem a aproximação do Reino, são eles que aderem a Boa
Notícia, pois estão necessitados, são explorados, manipulados e anseiam a liberdade
verdadeira. Mas os grandes se sentem plenos, satisfeitos, acreditam não depender de Deus.
Esses se excluem enquanto os excluídos começam a participar do Reino.
Devemos lembrar que Deus quer a nossa felicidade plena, logo, o Reino de Deus é
onde vivemos essa felicidade. Assim, chegou a nossa hora, cumpriu-se o tempo, é a
oportunidade de sermos felizes. E, como vamos chegar a esse Reino? Jesus já deu a
resposta: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Arrepender tem o significado de largar o
que nos escraviza, desapegar-se, dizer não ao ego, encontrar a liberdade. Agora, como
seres libertos, vamos seguir os passos de Jesus, vamos ser obedientes a Deus. Lembre-se:
é na obediência a Deus (crer no Evangelho) que encontramos a liberdade, a felicidade plena.
94
Senhor, meu Pai querido. Eu quero participar dessa felicidade sem limites que o Senhor veio
trazer para nós. Mas, eu estou apegado as coisas desse mundo, falta fé, muita fé. Por isso
eu peço, venha ao meu encontro, eu quero ser inteiramente seu, fazer a sua vontade.
95
2º Domingo da Quaresma – Ano B
A transfiguração
Mc 9, 2-10
2Seisdias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos,
para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles.
3Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal
Marcos inicia esse relato da transfiguração indicando que é o sexto dia. Em Gênesis
(1, 1 – 31) relata a criação do homem e da mulher. Podemos tirar um paralelo e dizer que a
partir da transfiguração, Jesus dedica a maior parte do seu tempo para ensinar os seus
discípulos. Portanto, a criação de um novo homem.
Três foram os escolhidos: Pedro, Tiago e João. Note que são três dos quatro
primeiros a serem chamados por Jesus.
A cena faz lembrar o que ocorreu com Moisés quando sobe a montanha
acompanhado por Aarão, Nadab, Abiv e setenta anciões. Mas somente Moisés se aproxima
de Javé (Ex 24). Quando ele volta trazendo a lei gravada em tábua de pedra, que
representam a aliança feita por Deus, seu rosto estava todo iluminado e assim permaneceu
por longos dias.
Com Jesus, porém, acontece diferente. Ele se transfigura totalmente, todo o seu corpo
fica iluminado. Revela, assim, para os seus discípulos, apenas um reflexo da luz do Pai e
mesmo assim tiveram que virar o rosto para não queimar os olhos.
Jesus realizou plenamente a vontade do Pai, por isso Ele refletiu a sua luz. Lembrem-
se, nós também podemos refletir a luz de Deus e devemos refletir. Basta fazer a sua vontade
e não a nossa. Que possamos a cada dia apagar a nossa luz para acender a luz de Cristo.
Humilhar-se para que Jesus possa renascer em cada um de nós.
96
4
E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus. 5Então Pedro,
tomando a palavra, diz a Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três
tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 6Pois não sabia o que dizer,
porque estavam atemorizados.
7E
uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este
é meu Filho amado; ouvi-o”. 8E de repente, olhando ao redor, não viram ninguém:
Jesus estava sozinho com eles.
9Ao descerem da montanha, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham
10Eles
visto, até quando o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos.
observaram a recomendação perguntando-se o que significaria “ressuscitar dos
mortos”.
Nesse momento, quando estavam com muito medo e nada entendendo, uma nuvem
desceu sobre eles e uma voz disse: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.
97
Essa cena pode ser comparada com o batismo de Jesus, podemos dizer que a
transfiguração é uma espécie de segundo Batismo, preparando-o para o final de sua Missão.
Nas duas cenas acontece a revelação de Deus (uma voz saindo da nuvem), pedindo para
que todos (nós) escutar o seu Filho, que é muito amado. Ser muito amado é sinal da entrega
total que Jesus fez a seu Pai. A vontade do Pai se realizou plenamente em Jesus.
Escutar Jesus é o mesmo que dizer: Ir com Jesus até o fim, ou seja, fazer o que Ele
fez.
De repente, Jesus fica sozinho. Agora Jesus é a única representação de Deus entre
os homens. Hoje Ele está sempre conosco ajudando-nos a dominar o medo e ir ao encontro
do próximo.
Quando desceram da montanha, Jesus pediu a eles para não dizer nada aos outros
sobre o que ocorreu na montanha, pelo menos, até que Ele ressuscitasse dos mortos. Eles
obedeceram, mesmo sem entender o que significava ressuscitar dos mortos.
Na verdade, os discípulos só vão entender a transfiguração com a ressurreição de
Jesus, antes não. Portanto, o que valeria se narrasse esse acontecimento aos outros
discípulos? Certamente a dúvida ia ser grande e também nada entenderiam. Logo, não vale
a pena, é preciso esperar.
98
3º Domingo da quaresma – Ano B
A purificação do Templo
Jo 2,13-25
13Estando próximo a Páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. 14No Templo,
encontrou os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados.
15Tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo, com as ovelhas e com
os bois; lançou ao chão o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas 16e disse aos
que vendiam pombas: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa
de comércio”. 17Recordaram-se os discípulos do que está escrito: O zelo por tua casa
me devorará.
Jesus e seus discípulos estão totalmente integrados aos costumes propostos pela
religião dos judeus e vão para Jerusalém para comemorar a Páscoa. Todo ano o povo se
dirigia para Jerusalém para celebrar a Páscoa, a festa principal. Comemoravam a liberdade
da escravidão do Egito. Mas, com o passar dos anos, essa festa passou a ser manipulada
pelas lideranças religiosas e políticas daquele tempo. Usavam o poder para explorar o povo,
cobrando altas taxas pelos animais oferecidos em sacrifício. Cobravam, também, tributos do
Templo ou para oferendas voluntárias e adotaram como forma de pagamento a moeda tíria
(cunhada em Tiro, cidade pagã). Portanto, era usada uma moeda pagã em um lugar
sagrado, isso por ser uma moeda forte, não perdia o seu valor.
Com isso o povo saia de suas casas, percorria grandes distâncias para celebrar a
liberdade, e o que encontravam era a exploração, eram enganados e manipulados.
Deus usa o homem para se manifestar entre os homens, mas os homens que
deveriam ser uma manifestação de Deus, estão preocupados com os seus próprios
interesses! Portanto, não existe uma entrega total a Deus para que assim Ele possa se
manifestar neles. Percebendo esse abismo que havia entre os doutores da Lei e Deus, tendo
como consequência um abuso de poder, exploração do povo, e o que é pior, feito em nome
de Deus; Jesus toma uma decisão radical. Lembremos, Jesus se entregou plenamente nas
mãos do Pai, não é ele mais que vive, mas sim Deus que vive nele. Portanto Deus se
99
manifesta totalmente em Jesus, nesse caso não poderia ter tomado outra decisão, vai ao
encontro desse povo sofrido e expulsa do Templo os pombos, as ovelhas, os bois e outros
animais usados nos sacrifícios. Derruba a mesa dos cambistas, colocando ao chão todo o
dinheiro pagão. Para Jesus, era invalido todos esses sacrifícios e todo o culto que se
aproveitava dessa exploração.
Deus está ao lado dos sofredores, dos excluídos, dos marginalizados e explorados
pela sociedade e, porque não, pela própria religião (portanto, deixou de ser obra de Deus e
sim dos homens). Deus não precisa de sacrifícios, Ele não precisa ser comprado por
dinheiro. O homem não precisa desses artifícios para ser ouvido por Deus. Basta abrir o
coração, entregar-se a Ele.
18Os judeus interpelaram-no, então, dizendo: “Que sinal nos mostras para agires
assim? ” 19Respondeu-lhes Jesus: “Destruí este templo, e em três dias eu o
levantarei”. 20Disseram-lhe, então, os judeus: “Quarenta e seis anos foram precisos
para se construir este Templo, e tu o levantarás em três dias? ” 21Ele, porém, falava do
templo do seu corpo. 22Assim, quando ele ressuscitou dos mortos seus discípulos
lembraram-se de que dissera isso, e creram na Escritura e na palavra dita por Jesus.
Com essa ação radical de Jesus, os dirigentes e todos aqueles que se sentiram
lesados, se colocaram contra Jesus. Questionaram: “Que sinal nos mostras para agir assim?
” Jesus, porém, responde sabiamente: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei”.
Mas, eles nada entenderam.
Pensavam os doutores da Lei e também os próprios discípulos de Jesus, que a sua
missão era apenas um reformador das antigas instituições, do Templo. Não, Jesus é a
própria Aliança é a manifestação de Deus entre os homens. Ele veio ensinar para nós que o
verdadeiro Templo de Deus é o próprio homem, isso quando ele faz uma entrega total a
Deus, quando Deus pode se manifestar livremente nesse homem. É importante destacar,
que Deus respeita o nosso não, a humanidade é livre para aceitar ou rejeitar o Reino de
Deus. Mas, se eu aceito, então Ele se manifesta em mim. Eu passo a ser a sua morada, um
Templo vivo de Deus.
Jesus, o verdadeiro Templo de Deus, aboliu os sacrifícios e ainda mais, decretou o fim
do Templo feito pelos homens. Jesus é a nova aliança, a definitiva, é através do seu corpo
ressuscitado que a humanidade se reencontra com Deus, e agora sim, celebrar a verdadeira
Páscoa da libertação.
Hoje, o verdadeiro Templo de Deus é a comunidade, somos nós.
Repito, os doutores da Lei, nada entenderam e tão pouco os próprios discípulos de
Jesus. Na verdade, os discípulos só foram entender quando Jesus ressuscitou e apareceu
no meio deles.
Jesus não reformou o templo, Ele o substituiu.
100
23
Enquanto estava em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que fazia,
24
muitos creram em seu nome. Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os
25
conhecia a todos e não necessitava que lhe dessem testemunho sobre o homem,
porque ele conhecia o que havia no homem.
101
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Agora eu entendo o que vem a ser um verdadeiro Templo de Deus. Eu posso e devo ser um
Templo vivo. Mas, para que isso se concretize, é preciso da minha vontade, decisão.
Portanto, a partir de hoje eu vou levantar, todas as manhãs e entregar o meu dia a Deus, que
Ele faça a sua vontade em mim, que eu seja, pelo menos durante esse dia, um instrumento
vivo de sua paz. Um Templo de Deus.
102
4º Domingo da Quaresma – Ano B
Jo 3, 14-21
14Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado
o Filho do homem, 15a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna.
103
16
Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha vida eterna.
17Pois
Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o
mundo seja salvo por ele.
18Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no
Nome do Filho único de Deus.
19
Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz,
porque as suas obras eram más.
20Pois
quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam
demonstradas como culpáveis.
21Mas
quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras
são feitas em Deus”.
104
Viver nas trevas é uma opção do homem. Ele é livre para escolher passar a vida na
ilusão, escravizado pelos prazeres que o mundo oferece ou viver a verdadeira felicidade
seguindo os passos de Jesus. Mas, os homens preferem as trevas ao invés da luz, é o que
aconteceu com Nicodemos: ele se envolveu por inteiro com o Sinédrio. Entretanto, o
supremo tribunal, odeia a luz, não se aproxima da luz para não ser desmascarado.
Jesus nos ensina a praticar a verdade, ir ao encontro da luz. Portanto nós temos que
procurar viver Jesus no nosso dia a dia. Fazer uma entrega total nas mãos de Deus, assim
como fez Jesus. Só assim a obra de Deus se manifestará entre os homens pelo homem.
Quem pratica a verdade, sabe claramente que Deus está se manifestando nele.
É fácil percebermos se estamos sendo guiados por Deus ou se o caminho que
estamos seguindo é somente o nosso. Por exemplo, quando Jesus estava diante de uma
pessoa passava para esse ser muita paz, luz, alegria, felicidade; dessa forma, essa pessoa
se sentia agradecida por tê-lo conhecido, sentia animada, fortalecida, até podemos exagerar,
grande. Fazendo um paralelo, quando estamos diante das pessoas que têm uma verdadeira
autoestima, estão convictas da verdade, então nos sentimos mais à vontade e com poder.
Logo essa pessoa é guiada por Deus. Pelo contrário, quando estamos diante de alguém que
tem uma falsa estima, está tentando compensar essa deficiência com arrogância, não está
convicta da verdade, então nos sentimos diminuídos, totalmente intimidados, rebaixados é
como se estivessem pisando em cima de nós. Logo isso não vem de Deus é próprio dessa
pessoa.
105
5º Domingo da Quaresma – Ano B
Jo 12, 20-33
20Havia alguns gregos, entre os que tinham subido para adorar, durante a festa.
21Estes
aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia e lhe pediram:
“Senhor, queremos ver Jesus! ” 22Felipe vem a André e lho diz; André e Filipe o dizem
a Jesus.
O texto inicia com alguns gregos procurando Jesus. Observe que não se dirigem ao
Templo, como todos fazem quando vão para Jerusalém. Provavelmente eles são helenistas
simpatizantes da religião hebraica, tementes a Deus. Entretanto não estão apegados ao
“velho”, mas sim a Boa Notícia, portanto, para eles Jesus é o Templo de Deus vivo.
Enquanto os judeus rejeitam, recusam Jesus; os gregos, pelo contrário, vão ao seu encontro.
Jesus veio para todos, não apenas para um determinado povo, nação. Os gregos dão
esse sinal, antecipam a universalidade de Jesus, sua glorificação que vem ser definitiva
como fruto de sua morte.
Note que os gregos, ao entrar em Jerusalém, procuram Felipe para que esse os
levasse até Jesus. Esse detalhe é importante: Felipe e André são nomes gregos. Felipe tem
a sua origem em Betsaida, terra além do Jordão, portanto território pagão. Jesus não
discrimina, os aceita.
Portanto a ação missionária de Jesus em direção a terras pagãs, não foi sem motivo.
Jesus quer se dirigir a todos os povos, ninguém deve ficar de fora.
Logo, os gregos não são intrusos, e sim convidados, assim como todos nós somos.
23Jesus
lhes respondeu:
“É chegada a hora em que será glorificado o Filho do Homem.
106
24
Em verdade, em verdade, vos digo:
Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer
produzirá muito fruto. 25Quem ama a sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste
mundo guardá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém quer servir-me, siga-me; e onde
estou eu, aí também estará o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.
Parece que Jesus não liga para os gregos, ignora o pedido deles. No entanto, ele vai
mais fundo. Chegou à hora em que Ele vai se entregar totalmente a toda à humanidade.
Ele não pode mais ir ao encontro, mas outros irão. É preciso que “o grão de trigo caia
na terra e produza muitos frutos”. Acabou o seu tempo, mas com a sua morte e
ressurreição, outros farão o mesmo que Ele fez. Com isso ele revela o caminho dos
discípulos, portanto, o nosso caminho. Os gregos também são convidados, todos são
convidados.
Por isso Jesus disse: “Quem ama a sua vida a perde; quem, ao contrário, odeia a sua
vida neste mundo a conserva para a vida eterna. Se alguém quer servir-me siga-me, e onde
eu estiver, ali estará também o meu servo. Se alguém me serve, o meu Pai o honrará”. O
que Jesus deseja para todos é que encontremos o nosso verdadeiro caminho. Ele quer a
alegria para todos, felicidade, paz, harmonia neste mundo e com Deus. Tudo isso só vamos
encontrar com Ele. Portanto, o caminho é o desapego de tudo que nos prende a essa vida:
começando pelo dinheiro, depois o ter, o poder, o ser e tudo mais que nos torna escravos. O
que Ele quer para nós é que encontremos a verdadeira “liberdade”. Ser livre é não ser
escravo do “pecado”, é viver o Reino de Deus, aqui, agora. Jesus veio para mostrar o
caminho.
27
Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora?
28Pai,
Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. glorifica o teu nome”.
Veio, então, uma voz do céu:
“Eu o glorifiquei e o glorificarei novamente! ”
29
A multidão, que ali estava e ouvira, dizia ter sido um trovão. Outros diziam: “Um anjo
falou-lhe”. 30Jesus respondeu: “Essa voz não ressoou para mim, mas para vós.
31É
agora o julgamento deste mundo, agora o príncipe desde mundo será lançado fora;
32e,
quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”.
33Assim
falava para indicar de que morte deveria morrer.
107
Jesus se entrega a Cruz. Um ato de obediência do Filho ao Pai e também de um total
despojamento. Ele se desapegou de tudo, se entregou totalmente. Esse é o verdadeiro amor
de Deus por nós.
Nesses versículos (27-28), se desenrola uma oração de Jesus, lembra a oração de
Jesus no Getsêmani e recorda também a transfiguração.
Jesus conversa com o Pai e o Pai responde, e todos podem ouvir. O que ocorreu, na
verdade, é uma confirmação da veracidade dos versículos anteriores. O que Jesus ensinou
(24-25) é a prova, a revelação.
Jesus é o vencedor e vence na cruz. A cruz, portanto, significa um lugar que ninguém
quer ir, a recusa definitiva dos homens em relação ao projeto de Deus. Porém, é a
manifestação do amor de Deus e de sua vitória. Logo, a cruz é um sinal de que a lógica
desse mundo está totalmente derrotada, ultrapassada, desmentida.
Portanto, a cruz é a base para a nossa caminhada rumo à liberdade, a Deus. Para
aqueles que entenderam, Jesus atrai a todos por esse caminho, chama os seus, pelos quais
ele morreu a participar na glória. Jesus atrai os seus a “Cruz”.
108
TEMPO DE QUARESMA
ANO C
109
1° Domingo da Quaresma – Ano C
Tentação no deserto
Lc 4,1-13
1Jesus,pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através
do deserto 2durante quarenta dias é tentado pelo diabo. Nada comeu nesses dias e,
passando esse tempo, teve fome.
Jesus está cheio do Espírito Santo. Acabou de ser batizado no rio Jordão por João
Batista. Ainda não começou a sua vida pública.
Há de se notar que Jesus passou pelas mesmas tentações que todos nós passamos
diariamente, mas com uma grande diferença: Ele foi vencedor, derrotou o demônio em todas
as suas tentações.
Lucas fez questão de mostrar que Jesus foi humano, igual a nós; mostra a sua
genealogia para confirmar a sua descendência.
Esta é a verdade de Jesus: passar pelos mesmos obstáculos, tentações que todos
nós passamos durante a vida. Mas, vem mostrar que é possível superar a todas; é possível
levar uma vida santa.
Lembremos, porém, que as tentações que Jesus sofreu no deserto foram apenas o
começo, pois durante toda a sua vida pública, as mesmas tentações se repetem
constantemente. Jesus venceu no deserto e como vencedor segue firme até à cruz.
Hoje, somos nós que recebemos as tentações diariamente, queremos uma vida fácil
onde podemos mandar sempre; e, sermos respeitados como seres superiores, queremos ter
prestigio, ser valorizados por todos.
É esse o caminho que escolhemos, enquanto Jesus escolheu o caminho da
humildade, simplicidade, serviço.
3Disse-lhe,
então, o diabo: “Se és filho de Deus, manda que esta pedra se transforme
em pão”. 4Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Não só de pão vive o homem”.
110
Nessa primeira tentação, o demônio sugere a Jesus usar a sua qualidade de Filho
único de Deus, aquele que tem poder e pode usá-lo de acordo com o seu interesse.
Jesus tem o poder de transformar a pedra em pão. O diabo sabe disso e Jesus
também, assim como tem o poder de libertar o povo.
Não, Jesus veio viver como um homem. Apesar de ter muito poder, não o usa para o
seu benefício, não abusa da bondade de seu Pai.
Ele não veio trazer abundância da matéria. “Não só de pão vive o homem” (4).
É tentador ter o que comer, beber, vestir, morar, de uma forma mágica, fácil. Seria
bom para todos. Mas não é bom para o desenvolvimento espiritual. Uma pedra com arestas,
rombuda, é uma pedra feia. Mas uma pedra que desceu o rio rolando, chocando-se contra as
outras se torna no final da jornada uma pedra lisa, talhada, trabalhada e atraente. Da mesma
forma é o homem, precisa ser trabalhado, passar pelas dificuldades que a vida oferece para
se tornar um homem bom, desenvolvido espiritualmente. Se, porém, tiver uma vida fácil,
então nada será construído nele. Gastou o tempo, é um ser inútil.
5O
diabo, levando-o para mais alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra
6e disse-lhe: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi
entregue e eu a dou a quem eu quiser. 7Por isso, se te prostrares diante de mim, toda
ela será tua”. 8Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a
ele prestarás culto”.
A proposta do diabo é que Jesus use o seu poder para libertar o povo oprimido. Ele
quer que Jesus se torne um rei e faça tudo acontecer de acordo com a sua vontade.
Jesus não veio para aparecer perante os homens, usar o seu poder para se promover,
mas sim para levar uma vida simples, humilde, confiando todos os dias na generosidade do
Pai. Ele veio ensinar o homem a viver, a libertar-se. Ele veio trazer a liberdade espiritual e
não material.
Quanto mais coisas nós temos, mais presos ficamos. Dependemos em todos os
momentos dos objetos que possuímos. Precisamos do nosso dinheiro, enfim de todas as
nossas posses. Hoje o homem se frustra quando nada tem, se torna para ele e a sociedade
um inútil, desvalorizado. Mede-se o homem pelo que ele possui.
O homem de hoje está dominado pela proposta do demônio, dedica a sua vida ao
poder, ao ter. O Homem está preso, dominado.
Jesus veio trazer a liberdade, mas nós continuamos a desprezá-lo na cruz.
Novamente volto a dizer que essas tentações perseguiram Jesus durante toda a sua
vida. Entretanto, ele venceu sempre.
Esta última ocorreu em Jerusalém. O diabo tenta para que Jesus pule do ponto mais
alto do templo, pois é Filho de Deus e por isso será salvo pelo seu Pai.
Jerusalém foi a escolhida, pois é nela que Jesus vai enfrentar os chefes dos
sacerdotes, os doutores da lei e anciãos, o poder político e religioso da época. É em
Jerusalém que Jesus vai enfrentar a sua última tentação no alto da cruz. Vai sofrer por nós,
morrer por nós, sem permitir a intervenção de seu Pai.
Volto a afirmar que Jesus poderia ser salvo se pulasse do templo e até mesmo
libertar-se do alto da cruz. Dessa forma não se concretizariam os planos de Deus e com isso
a salvação nunca chegaria até nós, hoje e sempre. Com certeza, nós iríamos conhecer
Jesus, hoje, apenas como um qualquer, como tantos outros, nos livros de história.
Recusou-se a ser o messias do prestígio, o todo poderoso, o “filhinho querido do Pai”,
que tudo pede, tudo consegue. Para ser o nosso salvador, desprezado e abandonado por
todos na cruz.
A transfiguração
Lc 9,28-36
28Mais ou menos oito dias depois dessas palavras, tomando consigo a Pedro, João e
Tiago, ele subiu à montanha para orar. 29Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se
alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura.
Jesus convida Pedro, Tiago e João para orar. É um costume de Jesus pedir que
outros o acompanhem na oração, é um sinal de que nós também devemos fazer o mesmo,
ou seja, orar na comunidade em comunhão com os nossos irmãos e principalmente em casa,
pais e filhos. Jesus disse: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei
no meio deles”.
Orar é aproximar-se do Pai, é modificar o nosso ser para melhor, é estar em
comunhão com Deus. Quem ora, não permanece o mesmo, não fica estagnado, é um ser
que se renova, cresce. A transformação que Jesus sofreu foi intensa, de tal modo que podia
ser vista; Jesus e o Pai tornaram-se um; era tanta luz que não dava para olhar; é Deus
presente em Jesus.
Conosco pode acontecer o mesmo: a oração nos une ao Pai, a Jesus, ao Espírito
Santo e faz acontecer uma mudança em nosso ser, não da mesma grandeza que aconteceu
com Jesus, mas acontece realmente. Através da oração nos comunicamos e nos unimos
com o nosso Criador.
“Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito um
coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ezequiel 36,26).
30E
eis que dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias que, 31aparecendo
envoltos em glória, falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém.
113
Moisés e Elias representam o Antigo Testamento, as Leis e os Profetas
respectivamente. Apresentavam para Jesus o que vai acontecer em Jerusalém, a sua morte.
Vieram para mostrar a Jesus que tudo isso tinha que acontecer, pois faz parte do plano de
Deus; e, obviamente estavam ali para animá-lo.
Na verdade, tudo o que aconteceu com Jesus pode e deve acontecer conosco, é claro
que numa proporção bem menor, pois nunca chegaremos a ser iguais a Jesus, aqui neste
mundo, nesta vida. Mas, como eu já disse, também acontece conosco; todas as vezes que
entramos em oração, estamos em contato com Deus e este contato pode ser através dos
anjos, dos nossos guias espirituais. Esse ou talvez, esses guias, estão sempre à nossa volta
durante toda a nossa vida, prontos para nos ajudar.
Seguindo os planos de Deus entramos, automaticamente, em uma maior sintonia com
os nossos guias. Assim tudo fica mais fácil. Embora passemos a vida sem dar crédito a essa
verdade, sem querer a ajuda deles, pois não temos fé, assim mesmo eles estão aqui, prontos
para nos dar a mão. Infelizmente nós os rejeitamos através da nossa incredulidade, causada
pelo apego à matéria.
Vamos pedir ajuda ao nosso anjo da guarda!
É só entrar em oração e seguir a vontade do Pai e tudo mais será realizado em nossa
vida; basta crer, ter fé.
114
Hoje somos fracos, frágeis, pois nos encontramos sós. Pelo menos é o que
pensamos. E assim o nosso querer se torna realidade. Mas, com certeza um dia vamos
entender que Deus está presente em nós, não estamos sós e nunca estaremos.
Assim, com a ajuda de Jesus venceremos o mundo, seremos imitadores do Mestre.
33
E quando estes iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos
aqui; façamos, pois, três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”,
mas sem saber o que dizia. 34Ainda falava, quando uma nuvem desceu e os cobriu
com sua sombra; e ao entrarem eles na nuvem, os discípulos se atemorizaram.
É bom ficar nessa situação; ver Jesus sendo glorificado e estar juntos de Moisés e
Elias. Para eles foi um grande acontecimento, inesquecível; e por isso Pedro desejava ficar
mais tempo nesse lugar.
Mas como fica a realização do projeto de Deus?
Eles têm que descer do monte para que o plano de Deus se realize em Jesus.
Foi importante para os discípulos conhecer esse momento da glorificação do Filho de
Deus, para assim poder entender e acompanhar os passos finais de Jesus a Jerusalém.
Na transfiguração, Jesus deixa claro aos discípulos os dois lados do mistério: o
sofrimento, humilhação e morte; e, por outro lado, a ressurreição e a glória.
Porém, mesmo assim, vendo a vitória de Jesus, o abandonaram, assim como os
outros durante a Paixão.
Hoje temos que estar firmes na nossa fé, e ter a certeza que, dá mesma forma que
Jesus realizou o projeto do Pai, e foi glorificado, nós também, realizando o projeto que Deus
tem para nós, encontraremos a mesma graça.
35Da
nuvem, porém, veio uma voz dizendo: “Este é meu Filho, o Eleito; ouvi-o”. 36Ao
ressoar essa voz, Jesus ficou sozinho. Os discípulos mantiveram silêncio e, naqueles
dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto.
Jesus está em plena sintonia com o projeto de Deus, por isso Ele diz: “Este é o meu
filho muito amado; ouvi-o! ”
Com essas palavras os discípulos compreenderam que Jesus é o filho de Deus e que
deve passar por todos os sofrimentos, e, por fim, morrer na cruz e ressuscitar no terceiro dia.
Eles devem ouvi-lo sempre.
115
Jesus é a última revelação, é a Ele que devemos ouvir. Hoje, nós somos os discípulos,
e a mesma frase Ele vai nos dizer: “ouvi-o sempre”.
Nós sabemos que Jesus é o caminho a verdade e a vida. É através dele que
chegamos ao Pai. Temos que ouvi-lo, temos que ser imitadores de Jesus.
Ouvir Jesus hoje é anunciar de todas as formas o Evangelho, principalmente através
da nossa vida, da nossa ação. Ouvir Jesus é trazer a libertação aos oprimidos, é trazer a paz
ao mundo.
116
3° Domingo da Quaresma – Ano C
A conversão e nós
Lc 13,1-9
1Nesse momento, vieram algumas pessoas que lhe contaram o que acontecera com os
galileus, cujo sangue Pilatos havia misturado com o das suas vítimas. 2Tomando a
palavra, ele disse: “Acreditais que, por terem sofrido tal sorte, esses galileus eram
mais pecadores do que todos os outros galileus? 3Não, eu vos digo; todavia, se não
vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
117
4
Ou os dezoito que a torre de Siloé matou em sua queda, julgais que a sua culpa tenha
sido maior do que a de todos os habitantes de Jerusalém? 5Não, eu vos digo; mas, se
não vos arrependerdes, perecereis todos de modo semelhante”.
Jesus deu esse exemplo e eu posso dar outros: Que culpa tiveram milhares de
pessoas que estavam nas torres gêmeas no momento da queda do avião sobre elas? Que
culpa tiveram os habitantes de Hiroshima e Nagasaki quando caiu sobre elas a bomba
atômica? São mais culpados, mais pecadores do que nós? Não, Deus não os castigou; foi o
próprio homem a causa desses males.
Por causa do egoísmo, muitos padecem: sem comida, sem teto, sem terra, sem
escola, sem saúde...
Enquanto não aceitarmos o projeto de Deus, nos destruiremos a nós mesmos e por
consequência geramos a violência, a marginalidade, o excluído...
Mas aderindo ao projeto de Deus, teremos vida nova. Não seremos mais causadores
de tantas mortes, de tantas desgraças. Não seremos mais cúmplice da morte de Jesus.
O homem encontrará a paz, a felicidade, a harmonia, o verdadeiro paraíso, quando
abraçar fielmente o projeto de Jesus. O Reino de Deus será implantado na face da terra, mas
antes tem que ser plantado dentro de cada um de nós.
Consertaremos a terra quando o homem for consertado.
Esse caminho é Jesus, sua proposta de vida, seu Evangelho, sua vida.
Ele disse: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. ”
6Contou
ainda esta parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha.
Veio a ela procurar frutos, mas não encontrou. ” 7Então disse ao vinhateiro: “Há três
anos que venho buscar frutos nesta figueira e não encontro. Corta-a; por que há de
tornar a terra infrutífera? ” 8Ele, porém, respondeu: “Senhor, deixa-a ainda este ano
para que eu cave ao redor e coloque adubo. 9Depois, talvez dê frutos... Caso contrário,
tu a cortarás”.
119
4° Domingo da Quaresma – Ano C
Lc 15,1-3.11-32
Jesus se encontra no meio de sua viajem até Jerusalém. Nesse lugar aproximaram-
se algumas pessoas marginalizadas para ouvir o Mestre. Como eram considerados impuros,
quem comia com ele repartindo o mesmo alimento, também se tornava impuro. Jesus estava
com eles e, assim (de acordo com as leis dos judeus), corria-se o risco de se tornar impuro.
Sabendo claramente o que murmuravam, Jesus conta a parábola do filho pródigo.
Há que se dizer que naquele tempo era costume dar duas partes ao filho mais velho,
na divisão da herança, depois da morte do pai.
Nessa passagem, porém, o pai está vivo e os bens são distribuídos em igualdade,
não há separação, todos são iguais.
Na nossa vida ocorre o mesmo, todos somos iguais perante o nosso Deus. Ele não
faz diferença. Distribuiu para cada um de nós a parte que nos cabe. Mas, nesse ponto vem a
pergunta: “Qual é o destino que nós damos à parte que nos cabe? ”
Deus nos deu a vida, o que fazemos dela?
Deus nos deu o mundo todo, tudo é nosso! Porque então nos preocuparmos com as
migalhas que adquirimos?
13
Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para
uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa.
120
O filho mais novo achou que ele estava certo, que deveria aproveitar a vida do seu
jeito, não deu ouvido ao seu pai e ao irmão. Temos que destacar a grande liberdade que o
pai oferece ao seu filho. No entanto, podemos sentir a mágoa, a frustração, que guarda em
seu coração. Sempre quis dar o melhor para os seus filhos, deu com igualdade amor,
carinho: alimento, casa... tudo o que eles precisavam para levar uma vida feliz e saudável.
Mas, não foi compreendido. Mesmo assim respeitou o seu filho e deu para ele plena
liberdade de escolha.
O filho, nada entendendo da bondade, do amor do pai, foi para terras distantes, ou
seja, se afastou o mais longe possível do pai e lá acabou com toda a sua fortuna.
Nós fazemos o mesmo em nossa vida: pegamos o que é nosso, e nos afastamos do
nosso Deus.
Passamos a vida correndo atrás dos nossos planos, dos nossos objetivos, dos nossos
sonhos. Não preciso de Deus, sou autossuficiente, me cuido sozinho, sei o que estou
fazendo, a vida é minha e faço dela o que eu quero. É assim que agimos; fazendo o que é
errado nos afastamos da luz, a maior distância possível.
Quantos vivem nessa situação?! No início é só alegria, felicidade; são exemplos
clássicos: droga, bebida, fumo, sexo, dinheiro... Mas, tudo acaba, e logo você se encontra no
fundo do poço, entrou em uma estrada sem saída, atolou. E agora? O que vai fazer? Muitos
esperam apenas a morte, tudo acabou. Ilusão!
14E
gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar
privações. 15Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o
mandou para seus campos cuidar dos porcos. 16Ele queria matar a fome com as
bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
Quando nos afastamos dos planos de nosso Deus, do projeto que Ele fez com tanto
carinho para nós, encontramos o caos.
Não aceitar o projeto de Deus é, por consequência, afastar-se do Criador.
Hoje nós presenciamos diariamente inúmeros casos de pessoas que entraram em um
completo caos em suas vidas; afastaram-se do Mestre achando que o dinheiro era tudo,
traria paz e felicidade, e o que encontraram foi doença, morte.
Longe do Pai somos como peixes fora d’água, logo morremos. A vida não tem mais
sentido. Viver para que? Seres egoístas que vivem na depressão por causa da falta de Deus
no coração.
Felizes são aqueles que conseguem encontrar o caminho de volta, mas antes que isso
aconteça sofrem, e muito, pelos seus erros, por estarem longe do Pai.
Coitados são aqueles que não encontram a saída, “comem o pão que o diabo
amassou”, não existe outro, pois estão longe do Pai. Na verdade, são apenas eles que estão
121
longe; o Pai está muito perto, na frente deles, estendendo as mãos e esses nada percebem,
não enxergam a graça de Deus.
Eles sofrem e o Pai sofre com eles. Com paciência Deus aguarda o nosso sim, a
nossa decisão de voltar a Ele. Deus nos espera de braços abertos, ansioso pela nossa volta.
17
E caindo em si, disse: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão com
fartura, e eu aqui, morrendo de fome! 18Vou embora procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai,
pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me
como a um dos teus empregados. 20Partiu, então, e foi ao encontro do seu pai.
Ele estava ainda longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e
lançou-se lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21O filho, então, disse-lhe: “Pai, pequei
contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”.
Felizes são aqueles que, embora afastados do Pai, entendem os seus erros e têm a
humildade suficiente para regressar à casa do Pai e pedir perdão.
Muitos não acham o caminho de volta, ou demoram em entender que estão errados;
preferem passar a vida na miséria, comendo comida dos porcos, do que admitirem que estão
errados e voltar para casa.
Perceba o grande exemplo de humildade desse jovem que volta para casa, vencido,
derrotado. Mas volta, e nada mais quer para si a não ser que o tratem como um simples
empregado.
Mas a bondade, o amor que o nosso Pai tem por nós está longe da nossa
compreensão. Ele nos aguarda pacientemente de braços abertos e faz uma grande festa por
causa do nosso retorno.
Com certeza o Pai sabe que um dia voltaremos para casa. É só ter paciência e muito
amor; e isso nós sabemos que Deus tem por nós.
É só esperar.
22Mas
o pai disse aos seus servos: “Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o
com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o novilho cevado e
matai-o; comamos e festejemos, 24pois este meu filho estava morto e tornou a viver;
estava perdido e foi reencontrado! ” E começaram a festejar.
O pai tratou o filho como se não tivesse acontecido nada; mandou que o filho se
vestisse, devolveu o seu lugar, a sua dignidade; colocou o calçado que é um sinal de
liberdade, o anel que era um sinal de poder da família; com isso ele pode usar novamente
tudo o que o pai possui.
122
Notem o amor do pai: não fez perguntas, não quis saber o passado do filho, os erros
que cometeu. Nada disso importa, pois ele voltou. Sem dúvida alguma o pai sabe o que
aconteceu com o filho, mas... não importa, o passado já foi, o que interessa é o presente, o
arrependimento, a volta do filho.
Além disso o pai faz uma grande festa, está muito feliz pelo retorno do filho.
Deus faz o mesmo conosco. Ele nos ama tanto e torce muito pelo nosso
arrependimento, o nosso regresso e, quando esse desejo finalmente se realiza, Ele fica
muito alegre, feliz.
O amor de Deus por nós é muito grande, está totalmente fora da nossa imaginação.
Ele nos espera de braços abertos, com muita paciência, com muita bondade, com muito
carinho.
Se queremos agradar a Deus, então devemos nos voltar para Ele, nos entregar a Ele
de corpo e alma; que seja feita a sua vontade e não a minha. E como filhos amados de Deus,
temos a obrigação de conduzir os nossos irmãos que estão vivendo no pecado, ao
arrependimento, ao retorno ao Pai.
25
“Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa, ouviu
música e as danças. 26Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
27Este lhe disse: É teu irmão que voltou e teu pai matou um novilho gordo, porque o
recuperou com saúde. 28Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai
saiu para suplicar-lhe. 29Ele, porém, respondeu ao seu pai: Há tantos anos que te sirvo,
sem jamais transgredir um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito
para festejar com os meus amigos. 30Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus
bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado! ” 31Mas o pai lhe disse:
“Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso que
festejássemos e nos alegrássemos, pois, este teu irmão estava morto e tornou a viver;
ele estava perdido e foi reencontrado! ”, porém, fazermos festa, pois este teu irmão
estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado.
O Amor do Pai é muito grande e nos perdoa quando há o arrependimento. Para nós,
porém, é muito difícil de entender esse grande amor que o Pai tem por nós. Muitas vezes,
por falta de entendimento, nos comportamos exatamente como esse filho mais velho, ou
seja, não damos oportunidades àqueles que erraram para se arrependerem e voltarem. Para
nós está consumado, é um pecador, então não merece perdão.
Assim como esse filho mais velho agiu, a maioria de nós faz o mesmo, não aceita o
retorno do nosso irmão no nosso meio.
Já ouvi pessoa de muita vivência na Igreja dizer assim: “Como pode tal pessoa
distribuir comunhão, eu conheço o passado podre dele? ” Este é um exemplo do filho mais
velho agindo em nós.
123
Pergunto ainda: O filho mais velho aceitou o seu irmão, entrou na festa e se
reconciliou? Ou preferiu ficar do lado de fora, não concordou com o pai, não perdoou o
irmão?
Nesta parábola não se diz qual foi a atitude final do filho, somos nós que vamos
responder, completar a história.
Muitas vezes nos comportamos como o filho mais novo e nos afastamos do Pai,
buscamos somente os nossos interesses, realizamos os nossos planos e objetivos. Outras
vezes nos comportamos como o filho mais velho que embora tendo tudo o que o Pai tem,
ainda assim, se comporta como um escravo. É assim o nosso relacionamento com o Pai, de
apenas servos e não filhos muitos amados.
124
5° Domingo da Quaresma – Ano C
A Mulher Adúltera
Jo 8,1-11
Estava Jesus no monte das oliveiras com seus discípulos. Costumava ir a esse lugar
para passar a noite, descansar e rezar. Era um lugar próximo ao templo e por esse motivo
facilitava a sua ida e vinda constante. Esse monte era sagrado para Jesus, é onde assume o
projeto de Deus para levar a vida a todos nós.
Imaginemos a cena: Jesus sentado no chão e os seus discípulos perto dele ouvindo
as mensagens, discutindo sobre os acontecimentos do dia e depois de uma longa conversa
com seus amigos, se põem a dormir. Jesus olhando-os com muito amor e carinho se retira a
um canto para rezar, e nesse lugar passa longas horas em profunda comunhão com o Pai.
É nesse silêncio da noite que Ele fala com o Pai, é nesse silêncio que encontra Deus e
forças para continuar a sua jornada. O silêncio é o lugar em que encontramos o Pai e
podemos conversar com Ele, contar as nossas dúvidas, problemas e desabafar. Ele, por sua
vez, nos encoraja a continuar a nossa caminhada, nos dá força, paciência e paz.
É no silêncio que Ele fala conosco e se deixa conhecer. É no silêncio que percebemos
o nosso ser superior que surge e traz a paz.
Devemos criar um tempo de silêncio diário para acalmar-nos e ouvir. Não devemos
fazer mais nada; é só esperar que Ele conversará conosco, é infalível!
À luz do luar Jesus rezava, falava com o Pai. Momentos íntimos com Deus, constantes
e de grande renovação e paz.
A comunhão de Jesus com o Pai foi fundamental para a realização do projeto de Deus
em Jesus e é fundamental a nossa comunhão com o Pai, com Jesus. Todos nós fazemos
parte do projeto de Deus, basta ouvir, no silêncio, o chamado, a proposta de Deus.
125
2
Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no Templo. Todo o povo vinha a ele e,
sentando-se, os ensinava.
3
Os escribas e os fariseus trazem-lhe uma mulher surpreendida em adultério e,
colocando-a no meio dizem-lhe:
Mais um plano preparado para derrotar Jesus. Pela lei de Moisés, a mulher que fosse
apanhada em adultério devia ser apedrejada como um exemplo para que outros não
fizessem o mesmo.
Para os doutores da lei e os fariseus, era preciso seguir a lei ao pé da letra. Portanto a
morte daquela mulher deveria acontecer, era fato consumado, não havia dúvidas sobre isso.
Era um poder opressor, não perdoava jamais era fato consumado, o pecador não tinha
nenhuma chance de corrigir os seus erros. Pecou, morreu.
Portanto, o Templo era um lugar em que Jesus se opunha a todo o sistema que
atuava desde o tempo de Moisés. Um sistema de dominação que tinha como base as leis de
Moisés que eram usadas pelo poder religioso para oprimir e dominar o povo.
126
Jesus, por sua vez, veio para trazer a liberdade ao povo oprimido. Veio pôr toda a lei
opressora abaixo de seus pés. Veio com o poder de julgar, mas não julgava ninguém.
Jesus veio trazer a liberdade, o autojulgamento: aderir à vida ou à morte.
Devemos seguir Jesus e realizar os planos de Deus em nossa vida, imitar Jesus em
tudo. Assim sendo, não julgar jamais o nosso semelhante, mas sim provocar julgamento.
4 5
“Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei,
Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes? ”
A armadilha estava pronta. Era só aguardar, que Jesus certamente cairia. Pelo menos
era o que pensavam.
Achavam que não havia saída para Jesus, pois se perdoasse a mulher iria ficar contra
a lei de Moisés que dizia claramente que a morte era certa e por pedradas.
Mas se falasse para cumprir a lei, matando a mulher, onde ficaria todo o ensinamento
de Jesus? Ele dizia que deveríamos perdoar infinitas vezes! Que devemos dar uma outra
chance ao pecador! Não devemos julgar as pessoas, mas sim provocar o julgamento no
próprio pecador. Devemos conduzir a vida toda às pessoas. Devemos correr atrás da ovelha
desgarrada e, quando esta for encontrada, devemos ficar alegres, fazer uma festa por tê-la
encontrada, livrando-a da morte certa.
Com isso, pensavam, Jesus não tem saída. Finalmente conseguimos um jeito para
derrotá-lo. Desta vez Ele não escapa e sairemos de cabeça erguida, vencedores. Jesus,
porém, sairia derrotado e não ousaria falar mais em público, a entrar no Templo e tudo
voltaria ao normal como sempre deveria ser.
Mas a história não se desenvolveu como eles esperavam e Jesus mais uma vez
colocou todos debaixo de seus pés.
6Elesassim diziam para pô-lo à prova, a fim de terem matéria para acusá-lo. Mas
Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
Jesus não se intimida. Em nenhum momento deixa transparecer que o problema não
está sob controle. Mas, deixa uma tremenda interrogação na cabeça de todos, até mesmo
um gostinho de vitória para os doutores da Lei.
Jesus se inclina e começa a escrever no chão, despreocupadamente; como se nada
tivesse acontecido, como se toda aquela cena fosse normal para ele. No entanto, e eu posso
dizer com toda a certeza, Jesus já tinha a resposta para aquele povo e estava certa a sua
vitória perante os doutores da Lei.
127
Às vezes o mal parece vencer o bem, mas é uma vitória passageira, sem significado
algum. É o que acontece na nossa vida, na nossa sociedade; o mal parece se destacar e
vencer, mas lembre-se: Jesus já venceu com a sua morte na cruz e ressurreição. O mal foi
vencido, aniquilado, posto debaixo de seus pés para sempre. Na verdade, o mal só existe ou,
se preferirem, Jesus deixa existir por causa da liberdade que ele deu ao homem; nós
podemos e devemos escolher entre o bem e o mal e é por causa da nossa escolha errada
que o mal parece vencer.
Assim como Jesus esperou para dar a resposta, mas com a certeza da vitória, hoje
também ele espera a nossa volta, mas com a certeza da vitória. Só o tempo vai dizer.
Eles insistiam, pois se achavam vitoriosos. Os poderosos estavam com a situação nas
mãos; finalmente conseguiram vencer o Mestre.
Nós também, quando erramos, seguimos o caminho do pecado, do mal, sentimos o
gostinho da vitória; nós é que estamos certos, os outros estão errados. O mundo também se
movimenta dessa forma e se sente todo poderoso, dominador.
Mais uma vez a liberdade é posta em ação e Jesus deixa o mal tomar um gosto de
vitória, pois se assim não fosse, onde estaria a nossa escolha? Seria fácil opinar, escolher o
caminho, seguir o bem. Mas qual será a vantagem, o que aprenderíamos com isso?
Jesus, porém, acaba com esse jogo e pergunta: “Quem de vós estiver sem pecado,
seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”.
Jesus novamente fica neutro, nem condena a mulher que pecou e nem tão pouco
derruba a lei de Moisés, mas todos são derrotados. Mais uma vez Jesus se inclina e espera
pacientemente a resposta.
Jesus não veio para condenar, mas sim para libertar o ser humano. Na verdade,
somos nós que nos condenamos, nos julgamos. Jesus apenas indica o caminho.
Temos que seguir Jesus, olhar apenas para os nossos erros, pecados e corrigi-los.
Para os outros temos que ser apenas setas que indicam o caminho.
9Eles,
porém, ouvindo isso, saíram um após outro, a começar pelos mais velhos. Ele
ficou sozinho e a mulher permanecia lá, no meio.
128
A nossa consciência pesa e os erros afloram em grande número. Tudo é posto para
fora, onde todos podem ver, e nós nos sentimos pequenos, envergonhados perante o
Criador.
Somos nós que nos condenamos, somos nós que apontamos e destacamos os
nossos próprios erros. Jesus apenas aguarda a nossa resposta, pacientemente. Ele não tem
pressa, pois sabe aonde vamos chegar.
Jesus é o fim da estrada, não existe outro. Portanto, não importa o caminho que
vamos seguir, chegaremos a Ele. Demoramos muito em certas estradas, nos desviamos do
caminho verdadeiro, mas as setas estão por toda parte e, com toda a certeza do mundo,
mais cedo ou mais tarde voltaremos a Ele.
Assim como todos saíram, se afastaram, pois eram pecadores, toda a humanidade
também perceberá os seus erros e se voltará para junto do Pai. O pecado tem o seu fim
marcado. Todos se voltarão a Jesus.
10
Então erguendo-se, Jesus lhe disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te
condenou? ” 11Disse ela: “Ninguém, Senhor”. Disse, então, Jesus: “Nem eu te
condeno. Vai e de agora em diante não peques mais”.
Mais uma vez Jesus demonstra claramente que ele respeita a nossa liberdade,
embora não esteja de acordo com a nossa escolha e sofra muito pelos nossos erros.
Jesus compreende e aceita pacientemente o erro humano.
Estava agachado no chão escrevendo com o dedo, esperando a autocondenação de
cada um dos presentes. Esperou pacientemente, sem nenhuma pressa, até o último sair. Na
nossa vida acontece o mesmo, Jesus espera a nossa decisão de acompanhá-lo, o nosso
sim, talvez toda uma vida. Ele não tem pressa, tudo tem o seu tempo, é só esperar. Hoje nós
erramos e Jesus chora por esse erro. Amanhã acertamos e Jesus esquece o erro e só
aplaude o acerto.
Na verdade, está longe de entendermos a bondade e a misericórdia de Deus. Posso
até dizer: É impossível entendermos.
Olhem como é profunda a frase que Jesus disse à mulher: “Nem eu te condeno. Vai e
não tornes a pecar“.
Essa pequena frase diz tudo. Ele não condena ninguém. É claro que não está de
acordo com o erro. Mas não condena e não cobra de nós em nenhum momento, pois somos
livres. Apenas adverte, para seu bem: não torne a pecar. Acrescentou “para o seu bem”, pois
é a pura verdade: sofremos sempre por causa das nossas decisões erradas, por causa dos
pecados, e Jesus quer, acima de tudo, a nossa felicidade total e só vamos encontrar junto
dele.
129
Meditar: O que o texto fala para mim?
Jesus não veio para julgar e sim salvar. Como é que eu vivo essa situação em minha vida e
em minha comunidade? Sei perdoar? Alguma vez já dei o meu perdão?
Como comunidade, estamos ajudando as pessoas que estão separadas, divorciadas?
130
DOMINGO DE RAMOS
131
Domingo de Ramos – Ano A
Mt 21,1-11
A cena ocorre com a peregrinação do povo Galileu, que vinha em caravana para
Jerusalém, à festa da Páscoa. Uma solene liturgia, em Israel, denominada a festa das
tendas, onde o povo ritmado por aclamações tiradas do salmo 118 e a agitação de feixes
compostos de ramos de palmeiras, murtas, salgueiros, entravam em Jerusalém.
Ao chegar a Jerusalém, no monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos ao
vilarejo de Betfagé, em busca de um jumentinho.
Mais uma vez se comprova o messianismo de Jesus, tudo estava preparado para a
sua entrada triunfal em Jerusalém.
Jesus veio realizar as profecias: “Dizer à cidade de Sião: Eis que o teu rei vem a ti,
manso e montado um jumento, em um jumentinho, filho de uma jumenta (Zc 9,9)”.
O jumento era, em tempo atrás, a cavalgadura real, mas típica de um rei pacífico.
Jesus é o Messias que triunfa, mas é humilde, simples. Um rei sem aparato militar ou
cortesão, ele não alarma os romanos, não monta um espetáculo, pois até mesmo o
jumentinho está a sua disposição por desígnio superior.
132
Jesus aceita tudo, ele é o centro dos destinos da humanidade, ele é o Libertador, o
Salvador. Está presente em nossa comunidade cristã como o Senhor e a sua vontade vale
como lei. Da mesma forma como ele deu uma ordem aos seus discípulos e tudo foi feito de
acordo com a sua vontade, hoje somos nós esses discípulos que estamos sobre as suas
ordens.
6Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara: 7trouxeram a jumenta e o
jumentinho e puseram sobre eles as suas vestes. E ele, sentou-se em cima. 8A
numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam
ramos das árvores e os espalhavam pelo caminho. 9As multidões que o procediam e
os que o seguiam gritavam:
“Hosana ao filho de Davi!
Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hosana no mais alto dos céus! ”
10E,entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se e dizia: “Quem é este?" 11A isso
as multidões respondiam: “Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia”.
133
Hoje, devemos nos entusiasmar por Cristo, chegar a conhecê-lo mais a fundo, pois ele
é a alegria do mundo, a nossa alegria.
134
Domingo de Ramos – Ano B
Mc 11,1-10
7
Levaram a Jesus o jumentinho, sobre o qual puseram suas vestes. E ele o montou.
8
Muitos estenderam suas vestes pelo caminho, outros puseram ramos que haviam
apanhado nos campos. 9Os que iam à frente dele e os que o seguiam clamavam:
“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! 10Bendito o Reino que vem, do
nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus! ” 11Entrou no Templo, em Jerusalém e,
tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os Doze.
As aclamações que cercam Jesus, como outrora cercavam a Arca, fornecem pistas
interessantes para aprofundar a primeira pergunta de Marcos. E deve-se notar que é o povo
quem reconhece essas coisas, e não o grupo próximo dos Doze.
Em primeiro lugar, a palavra “Hosana”. Na sua origem, significa “salva-nos! ”, e
expressa muito bem a situação do povo e a função do Messias. No tempo de Jesus era
comum tomar uma aclamação para destacar uma personagem importante.
A esperança do povo estava reanimada, mas o que se vê agora é apenas o começo
dessa caminhada.
É importante notar que essa entrada triunfal de Jesus em Jerusalém não ocasionou
uma reação da autoridade, não foi uma provocação pública. O fato é que, como foi citada
anteriormente, a aclamação popular era comum fazer aos peregrinos importantes.
Em segundo lugar, o fato de reconhecer Jesus como aquele que “vem em nome do
Senhor” o aproxima dos grandes temas de Marcos: Messias, Filho querido, Servo.
A menção ao Reino de Davi coroa o tema “Messias”, unindo terra e céu num mesmo
desejo e projeto. Jesus anunciou a proximidade do Reino (1,15); o povo sente que nesse
Messias pacífico o reino do antepassado Davi está chegando.
Para encerrar, o jumentinho foi, no passado, a montaria de juízes (Juízes 10,4), fato
que reforça o tema “Messias –juiz” no presente texto, até o fim do relato da paixão.
136
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Eu fico imaginado o que os discípulos devem ter sentido diante desse “ingresso triunfal” de
Jesus em Jerusalém. Então pondero: Qual seria a minha reação? Senhor, ajude-me a
compreender e fazer o mesmo que seu Filho fez.
137
Domingo de Ramos – Ano C
Lc 19,28-40
28E, dizendo tais coisas, Jesus caminhava à frente, subindo para Jerusalém.
29Ao se aproximar de Betfagé e de Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras,
enviou dois discípulos, 30dizendo: “Ide ao povoado da frente e, ao entrardes,
encontrareis um jumentinho amarrado que ninguém ainda montou: soltando-o, trazei-
o.
Se obedecemos a Jesus sem fazer perguntas, sem duvidar, com fé, tudo em nossa
vida acontecerá de acordo com a vontade de Deus. E qual é a vontade de Deus? Sem
dúvida nenhuma é a nossa felicidade total, o nosso bem. Assim como os discípulos foram
fiéis a Jesus, nós também deveremos ser em nossa vida, no dia a dia.
Porque então duvidamos?
Jesus quer o nosso bem!
Porque nos desviamos e seguimos os nossos planos, os nossos caminhos?
Tantos por quês e tudo por falta de fé!
139
O Senhor precisa de nós também, assim como precisou dos discípulos. Devemos
estar sempre prontos para dizer sim, acolher Jesus em todos os momentos de nossa vida.
Você já pensou que a nossa vida veio de Deus? Ele deu tudo para nós e por sua vez
nós nos agarramos em tudo o que é material pensando que isso é tudo!
Lembre-se: Nós somos seres espirituais, viemos de Deus e neste momento estamos
fazendo uma experiência material e em breve voltaremos para Deus.
Não vamos nos apegar a esta vida, pois os nossos dias estão contados.
Nada de material nos pertence, tudo foi emprestado para fazermos esta experiência
na terra. Não vamos nos apegar a nada, não vamos ser tolos.
Jesus é o único caminho, a verdade e a vida.
35Levaram-no
então a Jesus e, estendendo as suas vestes sobre o jumentinho, fizeram
com que Jesus montasse.
Imagine a cena, Jesus um homem alto, forte, montado em um jumentinho; os seus pés
tocavam o chão, era preciso levantá-los. Humilhar-se, era o que ele queria, o povo sabia
quem ele era e queriam proclamá-lo Rei. Jesus sabia disso e quis que esse fato ocorresse
na maior simplicidade possível, não queria se exaltar.
Um Rei, mas o mais simples e humilde que já passou sobre a terra e o maior deles.
Outro fato que merece destaque é que Jesus sabia claramente o que lhe aguardava
em Jerusalém, sabia que ia ser preso e posteriormente condenado à morte. Mas o lado
humano de Jesus, o respeitar e conservar a vida também estão vivos nele. Lembremos:
Jesus não quer morrer, não quer sofrer, quer viver! Mas o que são os seus planos? Nada,
pois os planos de Deus prevalecem, Jesus chegou a dizer: “Se for possível afaste de mim
este cálice. ” Entretanto, não foi possível realizar o desejo de Jesus, não podiam ser
mudados os planos de Deus.
Podemos dizer também que Jesus entrou em Jerusalém carregado por um jumento e
não pelas próprias pernas, não era a sua vontade, mas a vontade de Deus, do Pai.
Assim como o jumento conduzia Jesus para a morte sem saber o que estava fazendo,
o povo também fez o mesmo. Aclamou Jesus como Rei e isto foi o fim de Jesus, os doutores
da lei não aguentaram mais de tanto ódio, inveja, ciúme e condenaram Jesus.
36Enquanto ele avançava, o povo estendia suas próprias vestes no caminho. 37Já
estava perto da descida do monte das Oliveiras, quando toda a multidão dos
discípulos começou, alegremente, a louvar a Deus com voz forte por todas os milagres
que eles tinham visto. 38Diziam:
140
“Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor!
Paz no céu e glória no mais alto dos céus! ”
Jesus filho de Deus que está vivo no meio de nós, o povo o conhece plenamente por
causa dos feitos, dos milagres que Jesus fez e assim o aclamavam como Rei.
Imagine a cena: o povo jogando no chão os seus mantos e folhas de palmeiras,
fizeram um tapete para o Rei passar. Foi uma festa, um triunfo para Jesus, estava se
realizando a vontade do Pai e por isso encontrava-se muitíssimo feliz.
O povo gritava com toda força e clamando o Rei e certamente o Espírito Santo estava
presente e iluminava a cada uma daquelas pessoas, principalmente os discípulos que o
seguiam mais de perto.
Certamente a aclamação que faziam não vinha deles, mas do Espírito Santo, de Deus.
Não sei se o povo e os discípulos estavam entendendo o que estava ocorrendo, o que
iria acontecer logo depois, a ira que estava sendo erguida nos doutores da Lei. Enfim, penso
que só Jesus sabia claramente onde tudo isso ria levá-lo, o seu fim estava próximo. Esse
fato foi o pingo no í, o que estava faltando para prenderem Jesus e o crucificar.
141
Com isso Jesus tentava dizer para eles que não havia alternativa, esse fato tinha que
acontecer para se manifestar a glória de Deus.
142
TEMPO DA
PÁSCOA
143
Domingo da Páscoa
Ressurreição
Jo 20,1-9
144
3
Pedro saiu, então, com o outro discípulo e se dirigiram ao sepulcro. 4Os
dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro
chegou primeiro ao sepulcro. 5Inclinando-se, viu os panos de linho por terra,
mas não entrou. 6Então, chega também Simão Pedro, que o seguia, e entrou
no sepulcro; vê os panos de linho por terra 7e o sudário que cobrira a cabeça
de Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas
enrolado em um lugar, à parte. 8Então, entrou também o outro discípulo que
chegara primeiro ao sepulcro: e viu e creu. 9Pois ainda não tinham
compreendido que, conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos.
145
Obrigado, Senhor, por ter se entregado a morte na Cruz, por mim. Não sou digno
do Senhor, mas humildemente agradeço por tudo que tem feito por mim. Eu sei
que acredita que sou capaz, tenho condições de crescer e muito. Mas, sou fraco,
tenho pouca fé, ajude-me.
146
TEMPO DA
PÁSCOA
ANO A
147
2° Domingo da Páscoa – Ano A
Jo 20,19-31
148
Agora somos nós aqueles que vão continuar a construir o projeto de Deus,
quem permanece fechado a esse projeto continua em pecado, por isso Ele disse:
“Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados; os pecados
daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados (22b-23) ”.
24
Um dos doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio
Jesus. 25Os outros discípulos, então, lhe disseram: “Vimos o Senhor! ”. Mas
ele lhes disse: “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não
puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei”
26Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro da casa e
Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio
deles e disse: “A paz esteja convosco! ” 27Disse depois a Tomé: “Põe teu
dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não
sejas incrédulo, mas crê! ”. 28Respondeu-lhe Tomé: “: Meu Senhor e meu
Deus! ” 29Jesus lhe disse: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e
creram! ”
30
Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não
se acham escritos neste livro. 31Esses, porém, foram escritos para crerdes
que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em
seu nome.
149
Guardemos a frase de Jesus em nosso coração: “Felizes os que não viram
e creram! ” (29b).
150
3° Domingo da Páscoa – Ano A
Os discípulos de Emaús
Lc 24,13-35
13Eisque dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado
Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém; 14e conversavam sobre todos
esses acontecimentos. 15Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o
próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; 16seus olhos,
porém, estavam impedidos de reconhecê-lo.
151
Certamente falaram sobre a libertação de Israel, era o que esperavam do Messias
e não aconteceu.
Isso que ocorreu com os discípulos também acontece conosco. Apesar de
sentirmos tristes, desanimados, confusos, desiludidos com relação ao projeto de
Deus, mesmo assim não conseguimos esquecer, queremos nos animar, nos
aproximarmos de Jesus, queremos ter fé e nesta busca nos aproximamos de um
amigo com o objetivo de animar um ao outro na fé.
Com toda a certeza, quem teve um encontro com Jesus nunca mais
esquece.
Jesus, porém, percebe o nosso desejo de aproximar e toma a iniciativa de ir
ao nosso encontro. Ele conhece a nossa posição de pecador, sabe quais são os
nossos pontos frágeis. Jesus não tem pressa, caminha pacientemente ao nosso
lado, conversa demoradamente conosco, nos introduz silenciosamente de volta
para o caminho da fé. Sua alegria é estar sempre do nosso lado, aguarda o nosso
sim, o sinal verde para penetrar em nosso coração. Basta querer, pensar em
Jesus que ele já se põe a caminhar ao nosso lado.
Os discípulos deram esse sinal verde e Jesus se colocou perto deles,
falando com eles, dando sinais, pistas, mas eles não entendiam. A paciência de
Jesus foi grande, passou horas conversando e caminhando com eles, mas
estavam cegos.
O que impede o reconhecimento de Jesus é a falta de fé. Hoje, Jesus
caminha fielmente ao nosso lado, dando pistas e mais pistas e nós nada
percebemos. Estamos parados no tempo, na Sexta-feira da Paixão, estamos
mortos enquanto Cristo vive.
17Elelhes disse: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides
caminhando? ” E eles pararam, com o rosto sombrio.
18Um
deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: “Tu és o único forasteiro em
Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias? ”
19“Quais?
”, disse-lhes ele. Responderam: “O que aconteceu a Jesus, o
Nazareno, que foi um profeta poderoso em obra e em palavra, diante de Deus
e diante de todo o povo: 20nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o
entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. 21Nós
esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel; mas, com tudo isso, faz
três dias que todas essas coisas aconteceram! 22É verdade que algumas
mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao
túmulo 23e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que tinham tido
uma visão de anjos a declararem que ele está vivo. 24Alguns dos nossos
foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam
dito; mas não o viram! ”
152
25
Ele, então, lhes disse: “Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que
os profetas anunciaram! 26Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e
entrasse em sua glória? ” 27E, começando por Moisés e por todos os
Profetas, interpretou lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito
28Aproximando-se
do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais
adiante. 29Eles, porém, insistiram, dizendo: “Permanece conosco, pois cai a
tarde e o dia já declina”. Entrou então para ficar com eles. 30E, uma vez à
mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a
eles. 31Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou
invisível diante deles. 32Disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração
quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as escrituras? ”
153
O peregrino aceitou. Entraram, ele é um hóspede na casa de seus
discípulos, mas se comporta como o dono da casa, o anfitrião.
Imaginem a cena: Jesus sentado no chão ou numa almofada, em frente de
uma mesa baixa e os discípulos ao lado. Pão e vinho era a refeição. Jesus olha
profundamente para Cléofas e para o seu companheiro, um olhar que revela o
interior de cada um, estão como que hipnotizados e em silêncio permanecem
parados, esperando. Jesus é o centro, é ele quem toma as decisões e
instintivamente aguardam o desenrolar da cena. “Ele tomou o pão, abençoou-o,
partiu-o e distribuiu-o a eles” (30b).
Nesse momento, na partilha do pão, entendem quem é aquele homem
misterioso, abre-se o coração, passam a ver claramente. É Jesus! Nesse
momento Jesus desaparece da frente deles, mas permanece com eles em
espírito.
Se formos analisar, concluímos que naquele momento em diante é
indispensável, supérfluo a presença de Jesus visível na frente deles, pois o
objetivo já foi alcançado.
Hoje, para sentirmos a presença de Cristo, basta participarmos da partilha
do Pão Eucarístico, pois nesse momento Jesus se revela para todos nós. Ele está
no nosso meio.
33Naquela
mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam
aí reunidos os Onze e seus companheiros, 34que disseram: “É verdade! O
Senhor ressuscitou e apareceu a Simão! ” 35E eles narraram os
acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do pão.
154
Lembremos que quem fez o encontro com o ressuscitado não tem mais
medo. Olhem o exemplo de Cléofas e o outro discípulo, não tiveram mais medo da
noite escura, voltaram para Jerusalém sem medo algum, a noite para eles era
como se fosse o meio dia.
Chegam finalmente em Jerusalém, cansados, ofegantes, pois vieram
correndo. Batem na porta onde os discípulos estavam reunidos. Para esses, foi
um desespero, quem pode procurá-los há essa hora? Estavam com medo dos
judeus e se prepararam para se defender. Mas logo percebem que é Cléofas,
esse entra rapidamente e quase não consegue se expressar.
Logo todos tinham a certeza e diziam: “O Senhor ressuscitou
verdadeiramente e apareceu a Simão”. Eles por sua vez, contaram o que lhes
havia acontecido no caminho e como o tinham reconhecido ao partir o pão.
155
4° Domingo da Páscoa – Ano A
O Bom Pastor
João 10,1-10
1“Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil das
ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante; 2o que entra pela
porta é o pastor das ovelhas. 3A este o porteiro abre; as ovelhas ouvem a
sua voz e ele chama as ovelhas uma por uma e as conduz para fora. 4Tendo
feito sair todas as que são suas, caminha à frente delas e as ovelhas o
seguem, pois conhecem a sua voz. 5Elas não seguirão um estranho, mas
6Jesus lhes
fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.
apresentou essa parábola. Eles, porém, não entenderam o sentido do que
lhes dizia.
156
Entretanto, eles pagarão pelo mal que fazem ao povo. Mas, nós mesmos
devemos tomar cuidado para não nos transformarmos em lobos, pois é isso que o
mundo prega. Devemos tomar cuidado e permanecermos firmes nas propostas de
nosso Mestre Jesus.
7
Disse-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das
ovelhas. 8Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas
as ovelhas não os ouviram. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será
salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão vem só para roubar,
matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. ”
Quando Jesus afirma que ele é a porta, se refere que é preciso passar por
ele para ser um verdadeiro pastor. Também podemos afirmar que ele é a porta
para entrarmos no Reino de Deus, para alcançarmos a salvação.
Quem não se identifica com Jesus e a sua proposta, não passa por ele.
Jesus veio trazer a vida, liberdade para todos. Os seus ensinamentos vão além da
parábola. Realmente, o pastor usufrui do seu rebanho (lã, leite, carne) para poder
viver. Mas Jesus jamais se serviu do povo, muito pelo contrário, se doou
totalmente por nós.
Entrando por Jesus encontraremos a salvação (9 a), ou seja, segurança,
liberdade, abundância, harmonia. Enfim, é viver bem, sentir-se bem. Fora de
Jesus, ou seja, não passando por ele, não aceitando a sua proposta de vida,
encontraremos a morte, tristeza, caos, desilusão.
Jesus ainda afirma que o ladrão só vem para roubar, usufruir (10 a). Mas
ele veio para trazer vida e para que tenha em abundância (10 a).
Hoje somos nós que temos que passar pela porta, que é Jesus, para
sermos um bom pastor, sem ele nada somos. Temos que seguir o Mestre,
desinteressados em conquistas pessoais, sem usufruirmos do povo ou do nosso
cargo, temos apenas que servir. Caso contrário seremos como os ladrões, falsos
profetas.
158
5° Domingo da Páscoa – Ano A
Jo 14,1-12
159
suas ovelhas. É por isso que o Espírito Santo está sempre presente, pronto para
servir aquele que o invoca, tem fé.
5Tomé lhe diz: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos
conhecer o caminho? ” 6Diz lhe Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. 7Se me conheceis, também
conhecereis ao meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes”.
Tomé, como sempre, está preso a essa vida e as suas estruturas, Não
compreende as palavras de Jesus, por isso ele pergunta: “Senhor, não sabemos
aonde vais. Como podemos conhecer o caminho? ”
Jesus estava se referindo a toda revelação que ele fez aos seus discípulos,
todo ensinamento, todo testemunho de vida; enfim, tudo o que ele fez é exemplo
que conduz ao Pai. Por isso ele é o caminho, pois a vontade do Pai está
plenamente realizada em Jesus. Quem faz a vontade do Pai chega até Ele, faz
parte Dele.
Por esse motivo Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai se não por mim. ” Ele é a realização plena do Pai, por esse
motivo, é o Pai,
Jesus não é a verdade dos filósofos que significa: felicidade plena,
estabilidade, mas sim a verdade que é estar em harmonia plena com o projeto de
Deus. É ser fiel a Deus em tudo! Jesus conseguiu, foi fiel, portanto ele é a
verdade, aquele que leva a vida.
Jesus é a vida, longe de Jesus vivemos na ilusão sem fim, morremos para
Deus. Hoje os homens estão hipnotizados pelo mundo, entorpecidos pelo dinheiro,
posse; fechados em si mesmos, encontram a escuridão, desilusão, morte.
Devemos trazer os homens a realidade, “a vida” e o único caminho é Jesus.
Quem experimenta Jesus renasce para a verdadeira vida, agora a vida tem
sentido, objetivo, não é mais ilusão passageira.
8Filipelhe diz: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta! ” 9Diz -lhe Jesus:
“Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces, Filipe!
Quem me vê, vê o Pai.
Como podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?
10Não
crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo,
não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza
suas obras.
11Crede-me:eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa
dessas obras.
160
12
Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que
faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai. ”
161
6° Domingo da Páscoa – Ano A
Promessa do Espírito
Jo 14,15-21
162
Esse é o único sentido de nossa vida, seguir o caminho do Pai,
acompanhado constantemente pelo Espírito Santo. Dessa forma, estamos em
harmonia com Deus, repletos, plenos.
18
Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. 19Ainda um pouco e o mundo não
mais me verá, mas vós me vereis porque eu vivo e vós vivereis. 20Nesse dia
compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós.
21Quem
tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me
ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele.
Jesus promete aos seus discípulos que não os deixará só, portanto, cabe a
nós, hoje, essa mesma promessa. Não estamos sós. Para que isso se realize
plenamente basta viver a experiência do Espírito Santo, que Jesus viverá em nós.
Ele não deixou os seus discípulos órfãos, ou seja, sem cuidado, sem
proteção (18). Hoje ele está em nós, em cada homem que segue o seu caminho.
É certo que hoje o mundo não vê Jesus, a matéria dominou o homem,
entorpeceu, deixou o homem sonhando num mar de ilusões sem fim. Para esses,
Jesus está morto, porque a fé é morta, não vivem Jesus.
Mas para aquele que tem fé, Jesus está vivo e vive em cada um de nós. Se
hoje eu fizer realizar a vontade de Jesus, então não sou eu que vivo, mas sim
Jesus que vive em mim.
O Espírito não é para o mundo e nunca vai ser, pois o mundo está
embriagado com a matéria, com o ter, poder... Dessa forma, com essa oposição
do mundo com os verdadeiros discípulos, como se fosse cara ou coroa, branco ou
preto. Não há como fazer um meio termo, não dá para ser morno. Ou você é
quente, ou você é frio!
É drástico, extremamente radical, temos que nos abrirmos a Deus e
recusarmos o mundo. Essa foi à opção dos apóstolos e de muitos Santos que
conhecemos. É claro que Deus entende e respeita os nossos limites e espera
paciente pelo nosso sim. Mas, sabendo da bondade de nosso Deus, não devemos
fazer corpo mole, mas sim ir ao seu encontro, com pressa, pois esse é o nosso
objetivo nesta vida.
163
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Perdoe-me, Senhor, por duvidar e não seguir fielmente o que nos ensinou. Vivo no
mundo e deixo-me escravizar por ele, com isso, não permito a aproximação do
Espírito Santo. Mas, apesar de tudo, peço a sua ajuda, venha ao meu encontro,
transforme a minha vida, não quero permanecer como escravo, quero ser livre.
164
Ascensão do Senhor – Ano A
Aparição na Galileia
Mt 28,16-20
16Os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes
determinara. 17Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, duvidaram.
165
19
Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-
as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo 20ensinanando-as a
observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos! ”.
Agora Jesus não está mais agindo pelo poder de Deus, Ele é autoridade, é
o Ressuscitado (18b). Todo esse poder foi dado pelo Pai.
Dessa forma, Jesus pode dar esse poder para quem Ele quiser.
Os discípulos foram os primeiros a receber esse poder: “Vão e façam com
que todos os povos se tornem meus discípulos” (19 a). Novamente a Galileia é o
ponto de partida, simbolizando que devem ir ao encontro dos mais necessitados.
Hoje, nós somos os escolhidos e sobre cada um de nós cai a
responsabilidade de evangelizar e fazer discípulos, ou seja, não só levar as
pessoas a seguirem o Mestre e fazerem a sua vontade no dia a dia, mas também
dar testemunho. Fazer discípulos, novos anunciadores do Evangelho, não apenas
praticante.
Jesus pede para sermos seus discípulos e batizar a todos, em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Receber o batismo é se comprometer com a
prática de Jesus, se dedicar, se consagrar a vontade de Deus, ser posse da
Trindade. Portanto, todo batizado é um evangelizador, tem plenas condições de
ser um bom discípulo de Jesus.
Não devemos ter medo, pois Jesus fez a promessa de estar sempre
presente no nosso meio: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do
mundo” (20b). Se eu tenho medo, então não tenho fé, não acredito no
Ressuscitado. Mas, como fica a promessa de Jesus? Não cabe a nós retrucar,
pois é uma promessa que Jesus fez!
Jesus é glorificado e está com a sua Igreja para sempre. Viva Jesus e verá!
166
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Agora eu compreendo a minha solidão, estou só porque eu quero, foi minha
opção. Quero mudar, estou disposto a seguir os ensinamentos de Jesus. Quero
realmente deixar de ser escravo. Quero receber o Espírito Santo, sempre, em
todos os momentos da minha vida.
167
TEMPO DA
PÁSCOA
ANO B
168
2° Domingo da Páscoa – Ano B
Jo 20,19-31
169
Jesus sopra sobre os discípulos e nesse momento abrem as suas mentes e
o Espírito Santo desce sobre eles. Agora eles não têm mais medo, tem fé,
acreditam no ressuscitado.
Agora somos nós aqueles que vão continuar a construir o projeto de Deus,
quem permanece fechado a esse projeto continua em pecado, por isso Ele disse:
“Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados; os pecados
daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados (22b-23) ”.
24Um dos doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio
Jesus. 25Os outros discípulos, então, lhe disseram: “Vimos o Senhor! ” Mas
ele lhes disse: “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não
puser o meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei”
26Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro da casa, e
Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio
deles e disse: “A paz esteja convosco! ” 27Disse depois a Tomé: “Põe teu
dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não
sejas incrédulo, mas crê! ” 28Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu
Deus! ” 29Jesus lhe disse:
170
Ele reconheceu Jesus de igual para igual com o Pai, Jesus é Deus. É a
primeira vez em que Jesus é chamado de Deus.
Guardemos a frase de Jesus em nosso coração: “Felizes os que não
viram e creram! ” (29b).
171
3º Domingo da Páscoa – Ano B
Testemunhas da Ressurreição
Lc 24, 35-48
172
que era perigoso e mesmo assim Jesus toma essa firme decisão. Nós o seguimos,
é claro, mas com muito medo. Enfim aconteceu o que já esperávamos: Jesus foi
preso, julgado, condenado e morto em uma cruz.
O jeito foi se esconder para evitar o mesmo fim. Estávamos totalmente
desencantados com a vida, com medo, perdidos. Embora ainda estando unidos,
reunidos em uma casa e de portas bem fechadas. Procurávamos uma resposta e
esperávamos talvez o pior. Foi quando entraram dois discípulos e alegremente
começaram a narrar o que aconteceu com eles. Mas a dúvida ainda persistiu não
dava para acreditar.
Note que a cena se desenrola à noite. São os discípulos de Emaús que
estão relatando o que aconteceu com eles pelo caminho. Nesse instante Jesus
aparece no meio deles e os saúda: “A paz esteja com vocês! ”
A nossa reação foi de medo, ficamos assustados e não acreditávamos que
era Jesus, talvez fosse um fantasma!
Então Jesus começa a esclarecer, mostra para cada um de nós que ele não
é um fantasma, um espírito. Mostra os seus ferimentos e pede para ser tocado,
para evidenciar que ele tem corpo, é de carne e osso. Ele quis mostrar que não
estava mais no reino dos mortos, como os espíritos, pois ele come e bebe com os
vivos. Com isso ele enfatiza: “Sou eu mesmo”. Esse é o clima característico da
Páscoa, em resultado enchemo-nos de alegria, o medo foi sepultado.
A partir de então nos tornamos verdadeiros discípulos de Jesus. Ele clareou
a nossa mente e nos mostrou a história salvífica, dessa forma podemos entender
a caminhada de Jesus entre nós. Jesus é a chave da leitura das antigas
escrituras.
Com isso concluímos que agora é a nossa vez, é preciso deixar o passado
de inúmeros fatalismo e medo que geraram violência, escravidão e injustiça. Um
passado em que o homem quis se tornar o centro, ser Deus. Nessa busca
desenfreada do eu como centro, o homem regride. Torna-se escravo, banaliza o
templo de Deus (o seu próprio corpo).
Jesus veio trazer a liberdade. Liberdade essa que só é conseguida
quando deixamos o Espírito Santo agir em nós. Ele nos ensinou a seguir por
esse caminho e assim agindo seremos presença permanente do Senhor
ressuscitado.
173
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Meu Deus, quando terei fé, pressa, para ir correndo evangelizar através da minha
ação diária, do meu comportamento e através das minhas palavras? Peço ajuda,
complete o meu ser, faça de mim a sua morada?
174
4º Domingo da Páscoa – Ano B
O Bom Pastor
Jo 10, 11-18
11Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.
12O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o
lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e
dispersa, 13porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas.
Jesus disse que ele é o Bom Pastor. Aquele que ama profundamente o
povo, chegando a ponto de dar a sua vida. Outro fator importante do Bom Pastor é
a entrega total, a escolha definitiva do “sim”, não há meio-termo: ou seja, está a
serviço do povo, entregando a sua vida por ele até o fim. Por outro lado, o
mercenário é um explorador, aproveita das ovelhas, tira a vida, gera a morte.
Quando Jesus diz que ele é o Bom Pastor, na verdade ele está se
igualando a Deus. O que Deus quer de nós? Nada mais que vida em plenitude,
paz, harmonia, felicidade. É isso que o pastor quer para as ovelhas!
Lembremos que as ovelhas enxergam muito mal, estão desprotegidas dos
assaltantes e dos animais selvagens, e se perdem facilmente por ter pouca visão.
É necessário, portanto, a presença do Bom Pastor para conduzir a verdes
pastagens, água fresca e ao chegar da noite, conduzi-las para o redil.
Jesus é o nosso Pastor, nós somos essas ovelhas quase cegas, não
percebemos as ciladas dos assaltantes, nos perdemos facilmente. Portanto, nos
afastamos do Pai e quando isso acontece, dificilmente voltamos usando as nossas
próprias forças, recursos. Assim, é necessária a presença de Jesus, o Bom Pastor
para nos levar de volta para o Pai.
175
14
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me
conhecem, 15como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida
pelas minhas ovelhas.
16
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las
também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só
pastor.
Jesus é o Bom Pastor, ele nos conhece pelo nome, e nós o conhecemos.
Isso leva a uma questão: Conhecemos realmente Jesus? Conhecer Jesus se
traduz em fazer experiência da vida de Jesus. Fazer o que ele fez. Levar a
liberdade e a vida a todos.
Ele fez a vontade do Pai, viveu o Pai, por isso ele disse: “Como o Pai me
conhece e eu conheço o Pai” (15 a). O Pai e ele são um. Jesus viveu o Pai. Cabe
a nós analisarmos se vivemos ou não, Jesus?
Se não vivemos, então não pertencemos ao seu redil. Mas ele nos quer, ele
quer a todos. Ele quer cuidar de toda a humanidade, sem fazer diferença.
Lembremos que o caminho é “um só”. Não existe outro. Embora os homens
procurem a felicidade correndo por outros caminhos e, só depois de uma longa
caminhada se defrontam ao pé de um precipício, numa estrada sem saída. Só
então, com o passar do tempo, ou seja, “algum dia”, voltarão e aceitarão Jesus
como sendo o único caminho, o verdadeiro. Isso é um fato consumado (16).
Cabe então, a nós, nos voltarmos inteiramente para Jesus. É necessário
seguir os seus passos, o único caminho que ele abriu, com a sua vida, para todos
nós. Para que então retardar a nossa felicidade?
Chegou à hora, decida-se, ele é o caminho a verdade e a vida. Só ele.
17Por
isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la.
18Ninguém
a tira de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-
la e poder de retomá-la; esse é o mandamento que recebi do meu Pai”.
Como ele faz a vontade do Pai, se torna como o Pai, doa a sua vida, então
o Pai o ama. Jesus é livre, encontrou a sua felicidade plena pela razão de ser
obediente ao Pai, fez a vontade do Pai.
Para nós pode parecer estranho essa liberdade. Encontrar a liberdade
sendo obediente ao Pai. Encontrar a liberdade entregando a vida. Logo, para
Jesus, liberdade e obediência ao Pai se coincidem.
176
É difícil entendermos, mas Jesus foi livre e nos ensina a sermos livres:
Jesus foi obediente ao Pai, foi livre. Abnegou-se de si e das coisas, foi livre. Fez
penitência, sacrifício, foi livre. Desapegou-se de todos os prazeres que o mundo
pode oferecer, foi livre.
Logo a liberdade não está no ser humano. Mas sim quando nos afastamos
do lado humano, nos tornamos verdadeiramente filhos de Deus, a sua imagem e
semelhança, isso tudo através da obediência ao Pai. Ou seja, ser livre é ser
amado pelo Pai.
177
5º Domingo da Páscoa – Ano B
João 15,1-8
Deve-se esclarecer que já teve outras videiras, mas essas não produziram
frutos (ver: Is 5,1-7; Jr 2,21 ; Ez 15,1-6 ; Mt 21,33-46 ; Mc 12,1-12 ; Lc 20,9-19).
Logo, leva-nos a entender que a videira não é um povo messiânico, mas o Cristo.
Lembremos que no Antigo testamento Deus tinha uma vinha, agora o Senhor é
esta vinha.
Sendo o Senhor a própria vinha, os seus frutos finalmente estão na
expectativa de Deus.
Jesus se declara a verdadeira videira, “Eu sou a verdadeira videira”, nessa
afirmação ocorre uma ruptura com Israel e uma aliança com aqueles que se ligam
a Ele, esses são verdadeiramente o povo de Deus.
2Todo
ramo em mim que não produz fruto ele o corta, e todo o que produz
fruto ele o poda, para que produza mais fruto ainda.
3Vós
já estais puros, por causa da palavra que voz fiz ouvir.
4Permanecei
em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por
si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós, se não
permanecerdes em mim.
5Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanecer em mim e eu nele
produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer.
178
6
Se alguém não permanece em mim é lançado fora, como o ramo, e seca;
tais ramos são recolhidos, lançados ao fogo e se queimam.
7Se
permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi
o que quiserdes e vós o tereis.
8Meu
Pai é glorificado quando produzis muito fruto e vos tornais meus
discípulos.
179
A chave é o amor fraterno. O mesmo amor que eu tenho comigo mesmo devo ter
com o meu irmão. Devo viver em comunhão com o meu irmão a exemplo de Cristo
com o Pai.
180
6º Domingo da Páscoa – Ano B
Doar a vida
Jo 15, 9-17
181
Guarde essa frase: A obediência ao Pai tem como resultado a liberdade.
Observar os mandamentos, cumpri-los, tem como repercussão imediata, já, agora,
a alegria, felicidade, harmonia plena com Deus e com o mundo. Portanto, é
encontrar o paraíso. É viver o céu na terra.
Ele disse: “Se obedecermos aos seus mandamentos, permanecerão no
meu amor” (10 a). Com isso concluímos: Quem não faz a vontade do Pai, não
permanece no amor de Jesus, ou seja, vai ao encontro apenas de seu interesse,
desejo; é um ser escravo desse mundo e pensa que a felicidade está na matéria,
no ter, no ser. Engana-se.
Em João 14, 23, Jesus disse: “Quem me ama realmente guardará minha
palavra, e meu Pai o amará, e a ele nós viremos”. É uma promessa de Jesus que
certamente se realizará em nós, basta a nossa adesão a Ele, basta dizer sim,
basta ser obediente a Deus.
12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
13Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus inimigos.
14Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando.
15Jánão vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz;
mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu vos dei a
conhecer.
16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos
designei para irdes e produzirdes fruto e para que o vosso fruto permaneça,
a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome ele vos dê.
17Isto
vos mando: amai-vos uns aos outros.
182
servos, aquele que serve sem questionar, sem pensar no que está fazendo. Mas,
está além, ele sabe o que o Senhor quer, está de acordo, e faz porque gosta, tem
prazer. É diferente, se torna um amigo, um parceiro, andam juntos. Embora a
aprendizagem continua, talvez seja eterna, quando nos referimos ao amor.
Todos nós somos chamados a trilhar por esse caminho proposto e seguido
por Jesus. Ele nos escolheu, cabe a nós a resposta. Se for sim, produziremos
muitos frutos e em abundância (16 a). Tornar-nos-emos exemplares de nosso
Mestre, podemos dizer que nos tornaremos um. Quando isso acontece, estamos
fazendo a vontade do Pai, e assim, unidos a Ele nós podemos pedir ao Pai em
nome de Jesus e o Pai nos concederá (16b). Isso é lógico, pois o que pedimos
não é para nós, mas sim para realização do projeto do Pai. É bom destacar que
quem segue a vontade do Pai, é obediente a Ele, não precisa de nada para si,
está completo, pleno, feliz, em harmonia com o Pai e com o mundo em que vive.
Logo, o que Ele pede é para os outros, para a realização do projeto de Deus. É
bem claro, nestas condições, o seu pedido não será negado.
Jesus encerra esse testamento dizendo: “Isto é que vos ordeno: amai-vos
uns aos outros” (17).
183
Ascensão do Senhor – Ano B
Mc 16, 15-20
184
caminhos diferentes, que às vezes parece bom, mas que me levam ao abismo.
Estrada sem saída. É preciso voltar.
Mas existe um consolo para aqueles que duvidam, não crê: Deus está
sempre nos esperando de braços abertos, feliz pela nossa volta. Não importa qual
foi a estrada que você seguiu e o tempo que levou. Nada importa. O que Ele
deseja é a sua decisão de voltar para casa do Pai.
Portanto, cabem a nós, discípulos de Jesus, ser setas no caminho de nossos
irmãos. Temos que indicar o caminho que conduz ao Pai. Portanto, a felicidade,
ao paraíso, ao Reino de Deus.
17Estes
sãos os sinais que acompanharão aos que tiverem crido: em meu
nome expulsarão demônios, falarão em novas línguas, 18pegarão em
serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as
mãos sobre os enfermos, e estes ficarão curados”.
19Ora,
o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao céu e
sentou-se à direita de Deus. 20E eles saíram a pregar por toda parte, agindo
com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a
acompanhavam.
185
Libertar da doença é dar condições de vida digna, com direito de saúde, moradia,
escola, trabalho. Curar o homem por inteiro (18b).
Em seguida (19) Jesus foi elevado ao céu. Ele está do nosso lado, dando
força para fazermos o que Ele fez. Para quem crê, Ele dá sinais, nos conduz. Mas,
repito, para quem crê, está de coração aberto, sensível a sua presença no nosso
meio. Mas, quem se fechou, tem coração duro, não tem sinais!
A escolha é nossa.
186
TEMPO DA
PÁSCOA
ANO C
187
2° Domingo da Páscoa – Ano C
A nova criação
Jo 20,19-31
188
Sem Jesus nós vivemos sem rumo, perdidos neste mundo materialista e de
ilusão, Observem as pessoas que vivem sem Jesus e notarão a infelicidade, a
falta de objetivo, desilusão, depressão, doenças...
Mas com Jesus não precisamos ter mais nada. Só Ele basta para sermos
completos, felizes, estarmos em paz, em harmonia com o mundo. Temos como
exemplo os santos e, em especial São Francisco de Assis, que dizia: “Rir sempre,
temos que rir a todo o momento”.
Jesus mostrou as mãos e o lado para indicar que realmente era Ele, para
que não houvesse dúvidas sobre isso.
Os discípulos estavam amedrontados e incrédulos, assim como a maioria
de nós está. Demoramos em acreditarmos em Jesus e em tudo o que Ele fez.
Apesar de presenciarem três anos da vida de Jesus, apesar de terem visto os
inúmeros milagres que Jesus fez, mesmo assim demoraram em acreditar.
Jesus teve que aparecer para eles, teve que mostrar as suas feridas e só
assim acreditaram. E nós? É preciso que Jesus apareça novamente e mostre as
mãos e o lado para acreditarmos?
Na verdade, vivemos a nossa vida acreditando e ao mesmo tempo
desconfiados. Queremos confiar, ter fé, mas continuamos presos no mundo, na
nossa vida. Se realmente acreditássemos em Jesus, certamente a nossa vida iria
ser bem diferente, tomaríamos um rumo que tantos já seguiram.
Agora eu pergunto a você: Como anda a sua fé? Se você ver Jesus e as
suas chagas, qual vai ser o rumo de sua vida?
Estamos muito longe de uma fé verdadeira, estamos longe de entender
Jesus e o que Ele quer de nós.
É preciso parar a nossa vida, ver Jesus na natureza, no céu azul, no mar,
nas flores, nas pessoas, em nós. Sentir a sua presença sempre do nosso lado. É
preciso parar e mudar o rumo, a direção que leva a Jesus.
21Ele
lhes disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou,
também eu vos envio”.
189
realizar em nossa vida à vontade de Jesus; quando deixarmos de lado os nossos
planos e vivermos os planos de nosso Deus.
Viver Jesus é encontrar a paz, a felicidade, um sentido verdadeiro na vida.
Quem nesta vida procura ser feliz sem Jesus encontrará o caos, a
desilusão.
Jesus disse: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”.
Jesus fez realizar a obra de Deus em sua vida e, com certeza, foi a pessoa mais
feliz que passou na face desta terra. Agora Ele quer e, pacientemente nos pede
para segui-lo, fazer o mesmo que Ele fez, seguir os seus passos, o seu caminho.
Todos nós somos enviados para uma missão. Qual será a nossa resposta?
Jesus chama você!
Jesus quer a sua ajuda!
Jesus precisa de você!
Não diga não a Jesus e verá a felicidade acontecer em sua vida.
Não se deixe iludir pelas ilusões que o mundo proporciona para você. A
matéria passa rapidamente e traz felicidade que se desfaz; é momentânea, não
tem raiz e por isso morre logo.
Lembre-se das palavras de São Francisco: “É morrendo que se vive para a
vida eterna”. Morrer para a vida, para o mundo, para a matéria é viver para Deus,
para os seus planos e não para os nossos.
22Dizendo
isso, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo.
23Aqueles
a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados: aqueles a
quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”.
190
Na verdade, quando nos inclinamos em direção aos planos de Deus,
certamente o Espírito Santo vai nos animar, nos ajudar; vai enfim, dar força para
continuarmos a caminhada. Entretanto, quando nos afastamos dos planos de
Deus, logo presenciaremos a diferença, as coisas não andarão tão bem, e nós
ficaremos sós e infelizes.
Seguir os passos de Jesus é ter o Espírito Santo sempre ao seu lado; é ter
paz, felicidade, estar em harmonia com você mesmo e com o mundo. Seguir os
passos de Jesus é encontrar o verdadeiro caminho que leva ao Pai.
24Um
dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio
Jesus.
25Os outros discípulos, então, lhe disseram: “Vimos o Senhor! ” Mas ele
lhes disse: “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser
meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei”.
191
Que bom seria se um seguidor de Jesus viesse até nós, repleto de fé, para
nos animar, para pôr a nossa fé em dia. Mas são poucas essas almas santas,
raríssimas; e assim, continuamos a ir com a maioria.
Somos como Tomé. Só acreditaremos se conseguirmos ver, se colocarmos
a mão em Jesus. Como é pouca a nossa fé! Como estamos longe de
acompanharmos Jesus!
Hoje eu paro e penso na vida, nas tantas bobagens que faço e fiz, o quanto
me afastei de Jesus, o quanto segui os meus planos, os meus ideais, objetivos.
Como coloquei os planos de Jesus em segundo lugar e os meus sempre na frente.
Mesmo assim Ele espera a minha resposta, o meu sim. Jesus não tem
pressa, Ele sabe esperar; Ele é o senhor da paciência e nós, o senhor da
negação, do não. Mas Ele é bondoso e quer o nosso bem, sempre; e assim Ele
apoia os nossos planos e nos conforta quando caímos e choramos por seguir o
caminho errado.
Espero que o nosso dia chegue logo, o “não” suma definitivamente de
nossa boca e o “sim” impere em nossa vida.
Discípulos verdadeiros de Jesus, é o que devemos ser.
192
28
Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus! ”
29Jesus lhe disse: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram! ”
Seria fácil acreditar em Jesus depois de vê-lo ou tocar nele. Assim como
aconteceu com Tomé, poderia ter acontecido com cada um de nós. Sobre esse
fato não tenho dúvida. Para Tomé adquirir a fé não precisou do seu esforço, não
precisou rezar, escutar a palavra de Deus, mudar de vida. Bastou Jesus se
colocar no meio deles e mostrar as suas feridas.
Mas hoje é diferente, Jesus não vai aparecer de corpo e alma para nós, só
para acreditarmos nele! É por isso que ele deixou as escrituras, Maria que sempre
intercede por nós, todos os santos que já passaram sobre a terra e os santos que
vivem entre nós.
Como, então, anda a nossa fé?
193
Acreditamos naqueles que Jesus deixou, nesse mundo para nos animar,
fortificar?
Somos homens de pouca fé. Vivemos em um mundo que nos ensina desde
pequenos que a matéria é o que interessa. Como então vamos acreditar em quem
não podemos ver, tocar?
Por causa da descrença, o homem sofre e transforma esse paraíso, que é a
Terra, em um verdadeiro inferno.
Por causa da descrença o homem mata, rouba e faz toda a espécie de
pecado imaginável.
Por causa da descrença, toda espécie de males e doenças caem sobre o
homem.
Quando vamos crer, sem precisar ver?
30Jesusfez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não
se acham escritos neste livro. 31Esses, porém, foram escritos para crerdes
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em
seu nome.
Com certeza Jesus fez muitos outros milagres, o que chegou até nós, foi
apenas uma fração, uma pequena parte dos feitos de Jesus.
Resta para nós acreditarmos nestas poucas palavras que chegaram até
nós e ter fé.
Jesus esteve entre nós e quanto a isso não há dúvidas. Marcou tanto a vida
das pessoas, que chegou ao ponto de dividir o tempo em antes de Cristo e depois
de Cristo. Hoje seguimos um calendário que nasceu com Cristo, século 21 depois
que Cristo nasceu.
Ainda assim duvidamos, demoramos em crer, nos acomodamos no nosso
pequeno mundo, arrastados pelos nossos sonhos, planos, objetivos e nos
afastamos de Jesus.
Isso aconteceu com todos, um menos e outro mais, mas é geral. É natural
de um ser material, isto é, feito de matéria, pensar somente na matéria. É difícil
imaginar outro mundo, outra dimensão, outro plano de existência de vida.
Deus sabe da nossa fraqueza e entende o nosso atraso. Resta a cada um
melhorar a cada dia o seu ser material, transformando-o aos poucos em um novo
ser espiritual.
194
Meditar: O que o texto fala para mim?
Como participo da Eucaristia no domingo? Experimento que Jesus está presente
com a sua Palavra e o Perdão de vida? Tenho fé que ele verdadeiramente
ressuscitou e, com ele, também eu ressuscitarei? Tenho dúvida na minha fé?
Quero ver sinais, mais do que confiar em Deus, sem ver? O que me marcou mais
lendo esse trecho do Evangelho?
195
3° Domingo da Páscoa – Ano C
Aparição na Galileia
Jo 21,1-19
196
2
Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de
Caná da Galileia, os filhos de Bedel e dois outros de seus discípulos.
3
Simão Pedro lhes disse: “Vou pescar”. Eles lhe disseram: “Vamos nós
também contigo”. Saíram e subiram ao barco e, naquela noite, nada
apanharam.
197
O mesmo acontece conosco. Com Jesus nós vamos à luta, sentimo-nos
fortes, vencedores, antes mesmo de começar a luta. Mas sem Jesus somos
massacrados antes mesmo de iniciar a batalha.
Infelizmente o mundo está passando por um grande período onde a noite
impera, a escuridão está sobre todos.
Resta a nós sermos luz para o mundo, assim como Jesus foi. “Eu sou a luz
do mundo”. Sem Jesus nada podemos fazer.
O mundo continuará em uma eterna noite enquanto estivermos afastados
de Jesus. Ele é a única solução, o único caminho.
5Então
Jesus lhes disse: “Jovens, acaso tendes algum peixe? ”
Responderam-lhe: “Não”!
198
Jesus está tão próximo de nós, em todos os momentos de nossa vida, pode
até ter falado conosco e não percebemos. Estamos vinte e quatro horas do dia
iludidos por esse mundo, vivendo no faz de conta e não enxergamos a verdadeira
realidade da vida.
Assim como a fé dos discípulos vacilava de um extremo ao outro, a nossa
também vacila. Nesse vai e vem da nossa fé, nos afastamos de Jesus. Eles não
perceberam que era Jesus que estava falando com eles. É difícil de acreditar, pois
viveram juntos por mais de três anos e ainda assim não reconheceram Jesus.
Imaginem agora cada um de nós, que não vivemos com Jesus, não
conversamos com Ele, não sabemos como Ele é realmente. Por isso, é muito mais
difícil para nós descobrir Jesus do nosso lado, perto, falando conosco.
O que é preciso para que possamos vê-lo?
A resposta é: viver Jesus!
Ele está dentro de nós!
Ele quer se comunicar!
Ele quer ser entendido!
Ele quer viver em nós!
Nós, porém, não damos ouvidos, viramos as costas e continuamos a nossa
vida. Voltamos ao nosso serviço, a nossa pescaria, mesmo sem nada pescar,
desiludidos, afastados, com medo.
199
Mas quando abraçamos o projeto de Deus, tudo fica ao nosso favor, e uma
grande multidão atrairemos para o Senhor. Com Cristo tudo podemos,
venceremos; sem Cristo somos perdedores, fracassados.
7
Aquele discípulo que Jesus amava disse então a Pedro: “É o Senhor! ”
Simão Pedro, ouvindo dizer “É o Senhor! ”, vestiu sua roupa – porque estava
nu – e atirou-se ao mar.
8Os
outros discípulos, que não estavam longe da terra, mas cerca de
duzentos côvados, vieram com o barco, arrastando a rede com os peixes.
200
Não tem sentido pescar fora da barca, não tem sentido pescar sozinho. Da
mesma forma, não tem sentido ficar fora da Igreja de Jesus e não tem sentido
Evangelizar sozinho. Pescar em comunidade, unidos, juntos, pescaremos muito
mais.
Hoje a Igreja está dividida em muitas partes, graças a Lutero. Infelizmente
esse fato ocorreu, resta a nós buscar a união, fortalecer os laços que podem unir
as Igrejas.
9Quando saltaram em terra, viram umas brasas acesas, tendo por cima peixe
e pão.
Jesus já está com os peixes prontos na praia, vamos dizer assim. Ele não
precisa de nossa ajuda para evangelizar, para atrair as pessoas até Ele, mas Ele
quer a nossa ajuda, a nossa adesão ao seu projeto.
Vem mostrar também este versículo o quanto Jesus nos ama, pois está
sempre com a mesa preparada e nos oferece comida em abundância. Ele nos
preenche, nos completa, dá para nós o que mais precisamos. Sem Ele não teria
sentido a nossa vida. Seríamos animais inteligentes perdidos num mundo que não
nos pertence.
10Jesus
lhes disse: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes”.
Jesus é o Bom Pastor, aquele que vai à busca das ovelhas, cuida delas,
trata bem delas, dá carinho e tudo o que elas precisam para viver. Mas Jesus quer
que façamos o mesmo, cada um de nós deve ser esse Bom Pastor que também
vai ao encontro das ovelhas, e cuida delas com carinho, amor. Ele quer a nossa
ajuda, a nossa colaboração para implantar definitivamente o Reino de Deus na
Terra.
Quando Ele diz para trazer os peixes que apanharam, é para nós trazermos
até Ele as pessoas que Evangelizamos durante a nossa breve estadia nesta
Terra. Ele quer a nossa colaboração, a nossa ajuda.
201
11
Simão Pedro subiu ao barco e arrastou para a terra a rede, cheia de cento e
cinquenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se
rompeu.
Foi Simão Pedro quem puxou a rede, ele o escolhido por Jesus para
governar a Igreja. Ele já demonstra ser aquele que comanda, vai à frente a todas
as atitudes, ou seja, pula primeiro do barco, puxa a rede sozinho.
A rede vem cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes,
simbolizando totalidade, multidão. Lembremos que na época conheciam cento e
cinquenta e três variedades de peixes. Portanto, Jesus quer demonstrar com esse
fato, que na rede da Evangelização tem que ter todo o tipo de pessoas, todas as
raças, nada deve faltar, todos são escolhidos.
Outro fato importante é que a rede não se rompe, apesar da grande
quantidade de peixes. Na nossa caminhada acontecerá o mesmo, uma multidão
de pessoas vamos acolher e todas terão o seu lugar na Igreja de Jesus. Não
devemos fazer diferença entre elas. Lembre-se, Jesus escolheu a todos, sem
distinção.
12Disse-lhes
Jesus: “Vinde comer”. Nenhum dos discípulos ousava
perguntar-lhe: “Quem és tu? ”, porque sabiam que era o Senhor.
“Vinde comer”. Jesus é a fonte que sacia. Com ele nós estamos completos,
plenos. Com Jesus nós encontramos a nossa morada, o nosso lugar aqui neste
planeta.
Jesus, na maioria das vezes, encontra-se com os discípulos ou com outras
pessoas para fazer uma refeição. Ele quer nos mostrar que temos que buscar nele
o alimento para continuarmos a nossa caminhada aqui na Terra. Todos aqueles
que procuram respostas no mundo, nas coisas materiais, não encontrarão.
Ficarão frustrados, tristes, perdidos e muitos mergulharão no vício para tampar o
nada que encontraram na vida. Pobres coitados, mendigos do verdadeiro Reino,
fracassados totalmente para os planos de Deus, não desenvolveram em nada a
sua missão. Mortos vivos.
Mas quem vai ao encontro de Jesus e se alimenta nele, faz realizar a sua
missão, o projeto de Deus. Entende, percebe Jesus ao seu lado, sempre próximo
dele em todos os momentos de sua vida.
Quem segue Jesus entende Jesus, vive Jesus e em tudo vê Jesus.
202
Bendito, feliz, agraciado, quem procurar em sua vida realizar os projetos de
Deus. Nele Jesus encontra a sua morada e se sentirá pleno, satisfeito, vivendo
desde já no paraíso, no Reino de Deus, já, neste mundo.
13
Jesus aproxima-se, toma o Pão e o distribui entre eles; e faz o mesmo com
o peixe. 14Foi esta a terceira vez que Jesus se manifestou aos discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Jesus é aquele que nos completa, nos transforma, nos dá a paz neste
mundo. O homem não está em sua casa neste planeta, está longe, em viagem,
em missão, a trabalho para aprender e ensinar. Quando ele tenta fazer morada
definitiva nesta Terra, amarrando-se nas coisas do mundo, nos prazeres, e em
tudo o que a matéria oferece, entra em declínio, em queda livre. E em pouco
tempo se arrebenta em tristeza, em doença, em morte para si e para aqueles que
o acompanham.
Temos que nos livrar do mundo e de tudo o que nos prende a ele, alçar voo
e encontrar o verdadeiro lugar nesta vida.
Jesus apareceu pela terceira vez aos seus discípulos e muitas outras
vezes. E para nós, quantas vezes ele já apareceu? Quantas vezes nós o vimos?
Lembre-se, ele está sempre do nosso lado, principalmente nos momentos
mais difíceis de nossa vida. Será que percebemos a sua presença?
Jesus torce por nós, aplaude os nossos acertos e chora pelos nossos erros,
mas perdoa-nos integralmente.
Quando vamos aprender, entender que ele é o único caminho?
O mundo é uma ilusão, um mar de ilusão, e nós navegamos nele, e muitas
vezes nos perdemos. Jesus é aquele que vem caminhando, e nos leva para terra
firme.
15Depois
de comerem, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu
me amas mais do que estes? ” Ele lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes
que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16Uma
segunda vez disse: “Simão, filho de João, tu me amas? ” ── “Sim, Senhor,
disse ele, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas
ovelhas”. 17Pela terceira vez disse-lhe: “Simão, filho de João, tu me amas? ”
Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara “Tu me
amas? ”, e lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. Jesus
lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”.
203
Assim como Pedro negou Jesus três vezes, amedrontou, se escondeu,
fugiu por medo de perder a sua vida, agora Pedro afirma que ama Jesus por três
vezes, e é indicado como aquele que conduz a Igreja, o primeiro Papa.
Pedro sempre foi o primeiro a sair ao encontro de Jesus. Ele sempre se
colocou à frente dos seus amigos, e agora novamente é ele que é o escolhido
para apascentar o rebanho.
Jesus também espera de nós o nosso sim, apesar de o negarmos
constantemente até mais do que Pedro. Mesmo assim ele nos espera
pacientemente, ele aguarda o nosso sim, ele também tem para cada um de nós
uma missão preparada. O que faremos então? Ficamos escondidos, fugimos e
não voltamos mais para Jesus? Ou nos inclinamos para Jesus, e aderimos ao seu
plano e deixamos os nossos planos de lado definitivamente? Cada um de nós tem
uma resposta diferente, um “sim” ou um “não” diferente. Mas para Jesus todos são
exatamente iguais.
Quando era moço Pedro seguia o seu modo de vida, os seus planos, os
seus ideais; ou seja, estava ligado ao mundo. Mas, a fé entrou em Pedro e com a
fé ele entende o verdadeiro sentido da vida, a ilusão desse mundo. Com isso,
deixa de lado os seus preciosos sonhos e vai ao encontro dos planos de Jesus.
Portanto, quando era novo, sem fé, seguia o seu caminho, agora mais velho
e com fé não segue mais os seus caminhos, mas o caminho de Jesus.
Conosco acontece o mesmo, seguir Jesus é abandonar os nossos planos e
seguir os planos do Mestre. No começo parece que nunca vamos conseguir, mas
somente o tempo vai dizer e aos poucos nos envolvemos tanto com os planos de
Jesus que o nosso acaba virando fumaça, pó.
Tente seguir Jesus e verá uma grande mudança em sua vida!
204
Na Igreja de Jesus, todos são igualmente discípulos e alguns têm funções
específicas de serviço para o bem de todos. Qual serviço estou prestando em sua
comunidade?
205
4° Domingo da Páscoa – Ano C
Jo 10,27-30
206
28
eu lhes dou a vida eterna e elas jamais perecerão, e ninguém as arrebatará
de minha mão.
Sem dúvida, ele irá nos dar uma vida eterna, mas enquanto estamos neste
mundo Ele nos entregará o dom do Espírito Santo.
Meu amigo, viver com a presença do Espírito Santo ao nosso lado, vinte e
quatro horas do dia, é uma graça muito grande que só é dada àquele que
reconhece Jesus como o Bom Pastor. Reconhecer Jesus é seguir Jesus, fazer
realizar os seus planos em nossa vida.
Mais uma vez, recomendo, que seguir Jesus é encontrar a paz, a felicidade
sem fim. Tudo em nossa vida ocorrerá muito bem, não haverá tropeços, pois é
Jesus que está tomando conta de nós.
Seguindo Jesus e ouvindo a sua voz, estaremos protegidos de todo o mal.
Ele estará sempre ao nosso lado. Como ele disse: “Ninguém os roubará da minha
mão”.
Não precisa mais ter medo, ficar ansioso, se preocupar com o dia de
amanhã, pois Jesus nos completará.
Deixe-se levar por Ele e verá a diferença. Deixe de lado a sua vida que Ele
cuidará dos seus planos, de seu bem-estar. Ele é tudo, tudo é Dele, Ele está em
tudo.
Quem se apegar a esta vida irá perdê-la, mas quem a rejeitar encontrará a
vida eterna.
29MeuPai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da
mão do Pai.
207
conduzirá, pois Ele faz o melhor para nós. Temos sim que ter a plena certeza,
mesmo de olhos fechados, que Jesus está do nosso lado, nos conduzindo.
Viver Jesus é presenciar Jesus em cada momento de nossa vida. Ele
aparecerá nas mínimas coisas da vida, em cada detalhe, e certamente você
perceberá a sua presença.
Seguindo Jesus, ninguém nos afastará para o mal, e o mal não terá vez em
nós, pois estamos nas mãos de Jesus! Quem ousará se aproximar para nos tirar
de lá, de suas mãos?
208
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Quantos de nós podemos nos considerar ovelhas unidas ao verdadeiro Pastor?
Quantas ovelhas deixamos de trazer junto ao nosso caminhar? Quantas ficaram
fora de nossas pastorais e se extraviaram? Quantas ovelhas não têm vez nem voz
em nossas comunidades? Que tal considerarmos, de um modo especial, as que
mais sofrem, as que estão mais desligadas do rebanho?
209
5° Domingo da Páscoa – Ano C
Jo 13,31-33 a:34-35
31Quando ele saiu, disse Jesus: “Agora o filho do homem foi glorificado e
Deus foi glorificado nele”.
210
32
Se Deus foi nele glorificado, Deus também o glorificará em si mesmo e o
glorificará logo.
Durante a vida de Jesus, Deus foi glorificado nele, usou toda a sua vida
para fazer a vontade do Pai. Em todas as suas obras Deus estava presente. Jesus
realizou o projeto de Deus, foi fiel até o fim, por isso que Jesus disse: “Eu e o Pai
somos um”. (Jo 10,30)
Agora acaba a ação de Jesus, é a vez do Pai se manifestar nele e se
manifesta plenamente na ressurreição de Jesus.
Jesus foi fiel, feliz, e Deus manifestou a sua vontade, a sua glória Nele.
Conosco também acontece, ou melhor, pode acontecer o mesmo. Temos que
seguir os planos de Jesus, imitá-lo até o fim. O projeto de Deus tem que se
realizar em cada um de nós. Não é um processo externo, mas interno. O Reino de
Deus deverá se instalar em nós. Feito esse processo, o mundo vai acompanhar.
O Reino de Deus já se realizou nesta Terra em muitas pessoas. Podemos
destacar: São Francisco de Assis. Mas temos o exemplo de muitos outros santos.
Entretanto, o primeiro foi Jesus. É Ele, portanto, que temos que seguir, imitar os
seus passos na íntegra. Temos que conhecer Jesus cada vez mais. Temos que
estudá-lo em todo momento, temos que fazer da sua vida a nossa vida.
Assim, um dia, teremos a nossa recompensa, Deus também nos glorificará.
O fim está próximo, vamos caminhar.
33Filhinhos,
por um pouco ainda estou convosco. Vós me procurareis e,
como eu havia dito aos judeus, agora também vo-lo digo: Para onde vou vós
não podeis ir.
Jesus é obediente ao Pai até a morte. Sabe o que vai acontecer com Ele,
tudo o que vai passar, a sua prisão, a fuga dos discípulos amados, a negação de
Pedro, o seu martírio e a morte na cruz. Mesmo assim Ele ama a todos, não faz
diferença. Ele quer o bem de todos e trata a cada um com muito carinho, chama-
os de “filhinhos”.
Somos muitíssimos pequenos para entender o grande amor que Jesus tem
por nós. Mesmo depois de todo o nosso desprezo, a nossa fuga, egoísmo, o
nosso “não” pelos seus planos... Mesmo assim Ele nos ama muito e nos trata com
carinho.
Ainda temos muito que aprender com Jesus, ele é o nosso Mestre querido
e nós somos os seus alunos. Essa Terra é a escola onde aprendemos as lições, e
a maior lição é o amor. Quando aprendermos verdadeiramente a amar, então, só
então, estaremos prontos para partir para um novo nível, um novo mundo.
Resta a nós aproveitarmos o tempo que temos e utilizá-lo da melhor
maneira possível.
211
O tempo é agora, amanhã não sei.
34
Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu
vos amei, amai-vos também uns aos outros”.
212
Seguir Jesus é ir ao encontro dos mais pobres e necessitados; e só faz isso
quem ama!
Seguir Jesus é ir ao encontro da natureza, da vida, dizer não à poluição e
aos maus tratos da flora e da fauna. Só faz isso quem ama!
Seguir Jesus é estar no mundo, no meio da guerra desta vida, do dia a dia
e ainda assim permanecer intocável, em paz. Só faz isso quem ama!
Seguir Jesus é viver sabendo que este mundo é uma ilusão, que logo vai
passar, dele nada levaremos a não ser o amor. Só faz isso quem ama!
Somente com amor nós nos aproximamos do nosso Mestre Jesus.
213
6° Domingo da Páscoa – Ano C
Jo 14,23-29
24“Quem
não me ama não guarda minhas palavras; e a palavra que ouvis não
é minha, mas do Pai que me enviou”.
214
Aquele que não ama Jesus, não vive Jesus e não o entende, e não o
segue. Mas quem ama vive Jesus.
Jesus ama o Pai e o Pai vive plenamente Nele. É o Pai que o anima em
todos os momentos, é o Pai que coloca as palavras em sua boca, é o Pai que faz
acontecer os milagres.
O mesmo deve acontecer conosco. O Pai tem que fazer a sua morada em
nós, Jesus tem que viver plenamente em nós, fazer em cada um à sua morada.
Quando aderimos ao projeto de Deus e nos livramos da prisão desse
mundo, encontramos a liberdade que é Jesus, a paz, a plenitude.
Viver Jesus é encontrar o paraíso que há muito tempo está perdido neste
mundo.
Viver Jesus é ser feliz, e encontrar a Paz.
Viver Jesus é desligar-se, morrer para o mundo; é viver no mundo, mas fora
dele; é viver no mundo, mas observá-lo de longe, do alto, estar acima dos
prazeres e das ciladas que o mundo oferece.
Viver Jesus é colocar o diabo debaixo dos nossos pés, dominado
plenamente.
Viver Jesus é encontrar o Pai.
25“Essas
coisas vos tenho dito estando entre vós. 26Mas o Paráclito, o
Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos recordará tudo o que eu
vos disse.
Enquanto Jesus está no meio dos discípulos, vivo, ele ensina diretamente,
mas quando ele partir, o Espírito Santo tomará o seu lugar.
Portanto, para nós, é o Espírito Santo que vai nos animar, nos instruir. Ele
recordará tudo o que Jesus ensinou em vida e ainda mais.
A Bíblia foi escrita pela inspiração do Espírito Santo e só vamos entendê-la
se o Espírito Santo traduzi-la para nós. Todas as vezes que formos fazer a leitura
da Bíblia, todas as vezes que estivermos reunidos, o Espírito Santo tem que estar
na frente da nossa vida, em primeiro lugar. Com isso, também em nossa vida, no
dia-a-dia, temos que pedir a inspiração do Espírito Santo em todas as decisões
que tomarmos.
Quando deixamos o Espírito Santo tomar conta da nossa vida, da nossa
caminhada aqui na terra, veremos que tudo mudará para melhor, muito melhor,
pois ele sabe o que é bom para nós.
Porque então não aceitamos a ajuda do Espírito Santo e levamos a nossa
vida do nosso jeito? Caímos a todo o momento, sofremos, caminhamos por
215
estradas que nos levam ao nada, estradas sem sinais, da perdição deste mundo.
Envolvemo-nos na escravidão que o mundo oferece e nos distanciamos de nosso
Deus.
O Espírito Santo está presente para nos unir, para nos transformar em
verdadeiros Santos, basta o nosso sim.
27
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.
Não se perturbe nem se intimide vosso coração.
A paz que Jesus deixa é Ele próprio. Ele estará sempre conosco em todos
os momentos de nossa vida e nos fortalecerá, transformará a cada momento o
nosso coração. Ele nos completa, Ele é a nossa felicidade plena. Com Ele nós
achamos o nosso lugar aqui na terra. Mas, sem Ele estaremos em pedaços,
faltando sempre algo em nossa vida. Por mais intensa que seja a nossa procura,
neste mundo não vamos encontrá-lo.
A paz que Jesus traz é plena, nos satisfaz, nos preenche em todos os
espaços do nosso ser. A paz que o mundo oferece é curta, dura pouco, é uma
ilusão passageira, sem sentido. Coitados daqueles que procuram a paz nos vícios:
bebida, droga, fumo, sexo, ter, poder; e tantas outras formas que o mundo
oferece. Nada encontrarão a não ser ilusão, frustração, desânimo, nada.
Tudo o que o mundo nos proporciona é passageiro, assim como é
passageira a nossa vida. Tudo dura pouco e fica sem sentido se Jesus não
estiver presente.
Meus irmãos, procurem a paz, somente em Jesus, que tudo mais será
dado. É só tentar que irá encontrar o verdadeiro caminho para a felicidade plena,
para o paraíso.
28Vós
ouvistes o que vos disse: Vou e retorno a vós. Se me amásseis,
ficaríeis alegres por eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que eu. 29Eu
vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais.
Jesus partiu e voltou ressuscitado no meio dos discípulos como ele lhes
havia prometido. Mas Jesus também partiu e voltou para nós na forma de Espírito
que nos transforma, que nos vivifica, nos anima, nos completa.
Ele está conosco mais do que antes. Ele está em cada um de nós, basta
ter fé, deixá-lo agir em nós. Lembre-se, a nossa porta só abre por dentro, não abre
pelo lado de fora. A decisão é só nossa.
216
Jesus quer agir em nós e espera pacientemente o nosso sim. Cada um tem
o seu momento, sua hora.
É importante que nos afastemos das garras do mundo, das ilusões que o
mundo oferece e nos voltemos para Jesus, o único que pode nos salvar e trazer a
paz e a felicidade.
O que mais é preciso acontecer para que possamos crer em Jesus?
217
Ascensão do Senhor – Ano C
Lc 24,46-53
Jesus seguiu fielmente a vontade do Pai. Toda a sua vida foi dedicada a
nós, pelos nossos pecados. Mas Cristo venceu o pecado e a morte, e ressurgiu
dos mortos no terceiro dia.
Jesus na ressurreição entrou definitivamente na Santíssima Trindade.
Peçamos a Jesus que nos oriente, faça descer sobre nós o Espírito Santo
para nos animar, fortalecer, dar vida e sentido à nossa caminhada aqui na Terra.
Nosso objetivo neste mundo é seguir a vontade do Pai, aprender a amar,
ser bom. No entanto, nós nos iludimos com o mundo e nos perdemos durante a
nossa breve vida.
Quando seguimos os nossos planos, nos afastamos do verdadeiro
caminho, o caminho que Deus preparou tão carinhosamente para nós, o caminho
do paraíso, do amor.
Seguir Jesus é ser feliz, é encontrar a paz, o amor.
Olhe para trás e veja quantas vezes você foi levado pela ilusão do mundo, e
com isso a perda de tempo, as frustrações, o desânimo, a infelicidade, a doença...
Encontre e siga o verdadeiro caminho que é Jesus.
47e
que, em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão
dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém.
218
Nós somos responsáveis pela morte de Jesus. Podemos dizer que ainda
matamos Jesus todos os dias através dos nossos erros, dos nossos pecados. Por
isso todos nós somos convocados para a conversão dos nossos pecados.
Fazer penitência é aprender aos poucos se desligar deste mundo que nos
aprisiona diariamente, é deixar de lado os nossos planos e unir mais à vontade de
Jesus.
Muitas vezes os nossos planos nos levam ao pecado, a crucificar Jesus.
Pecamos quando pensamos somente em nós, no nosso ego, no ter mais sem
medidas; não nos contentamos com o que temos, aprisionando-nos aos vícios,
estando nervosos, não estando felizes com a própria vida, com o que Deus nos
deu.
Lembremos que os nossos sofrimentos vêm para o nosso bem, para
endireitarmos o nosso caminho, para irmos ao encontro de Jesus.
Começando por Jerusalém. Isso significa que aqueles que mais se
aproximam de Jesus, são aqueles que mais percebem os seus erros, defeitos,
pecados. Eles são os primeiros a se penitenciarem por todos os seus erros. Os
outros ainda não acordaram, ainda estão na ilusão da vida.
48Vós
sois testemunhas disso.
49Eis
que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na
cidade até serdes revestidos da força do alto”.
219
Mas quando o Espírito Santo nos fortalecer, então o mundo não terá mais
forças sobre nós e assim poderemos sair sós e dar o nosso testemunho.
50 51
Depois, levou-os até Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou-os. E
enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu.
52Eles
se prostraram diante dele, e depois voltaram a Jerusalém com grande
alegria, 53e estavam continuamente no Templo, louvando a Deus.
220
É necessário que hoje, em nossa caminhada de Igreja, venha acontecer o
mesmo que aconteceu com os discípulos, que cada um de nós tenha essa mesma
fé.
Sem a ajuda do Espírito Santo, nada faremos, seremos apenas mornos em
nossas atividades e pouquíssimos frutos colheremos. Venha Espírito Santo sobre
nós e nos transforme, mude a nossa vida. Só assim mudaremos a vida dos
nossos irmãos que estão à nossa volta.
Nada sem o Espírito Santo e tudo com Ele, e quando este tudo acontecer
faremos como os discípulos de Jesus: louvaremos e bendiremos a Deus em todos
os momentos de nossa breve vida.
221
PENTECOSTES
222
Pentecostes
Jo 20,19-23
223
20
Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então,
ficaram cheios de alegria por verem o Senhor.
21Ele
lhes disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou,
também eu vos envio”.
Novamente Jesus diz: “A paz esteja convosco! ”, pois Ele é a paz, sem Ele
nós somos animais vivendo em uma selva de pedra, pisando e matando um ao
outro, vivendo somente no egoísmo, onde só os nossos planos subsistem.
Ele é a paz, a paz que dá tranquilidade, esperança, vida, amor. Ele nos
coloca no caminho de casa, nos conduz para Deus onde está a nossa verdadeira
morada. Neste mundo nós estamos apenas de passagem, para aprender. Não
podemos fazer deste mundo a nossa morada definitiva. Querer se fixar
definitivamente, criar raízes através de nossas posses, tudo é loucura.
Com Jesus estamos em paz, no caminho verdadeiro. Só ele nos satisfaz, e
quando estamos plenos e entendemos o propósito desta vida, então Ele pode nos
enviar, assim como Deus o enviou.
Temos que seguir Jesus, imitar Jesus, ser Jesus, e para isso Ele tem que
habitar em cada pessoa. Temos que procurar ser um, assim como Jesus e Deus
são um.
224
Esse é o nosso destino, o nosso caminho. Temos que nos aproximar o
máximo possível desse objetivo.
Jesus nos convida, e qual é a nossa resposta?
Estamos seguindo os planos de Jesus, ou estamos seguindo os nossos
planos?
Só você sabe a resposta.
22Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo.
23Aqueles
a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles
aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos”.
Nós somos os que vão continuar o projeto de Deus. Jesus realizou esse
projeto fielmente em sua vida, agora é a nossa vez.
Agora nós temos a força do Espírito Santo agindo em nós, e com isso
devemos ser fortes e nos colocarmos a serviço de Deus. Mas, infelizmente, nós
não sabemos da força que está a nosso favor. Somos como um enorme elefante
que deixa ser governado pelo seu domador. Não sabemos da força que está sobre
nós, à nossa disposição. Preferimos passar nesta terra comendo pão e bebendo
água quando um belo banquete nos espera todo dia.
Temos que parar a nossa vida e irmos ao encontro do verdadeiro caminho
que Jesus preparou para nós. Temos que refrear os nossos ânimos materiais e
reviver no Espírito.
Assim agindo vamos ser agentes de transformação neste mundo onde
questionaremos a todos, levar a cada um a ser julgado, não por nós, mas por eles
mesmos.
Não é nossa missão, nem da comunidade e nem foi a de Jesus, julgar os
homens, mas sim, levar o homem a fazer o seu próprio julgamento, escolher o
caminho, o caminho de Deus que leva a paz, a felicidade, ao paraíso sem fim.
225
Senhor, sou fraco, minha fé é pouca, por isso eu me escondo, afasto-me do
serviço. Entretanto, envergonho-me dos meus atos e quero melhorar. Ajude-me na
caminhada em direção ao Pai.
226
SOLENIDADES DO
SENHOR NO TEMPO
COMUM
227
Santíssima Trindade – Ano A
Jo 3, 16-18
16PoisDeus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna.
228
17
Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para
que o mundo seja salvo por ele.
18Quem
nele crê não é julgado; quem não crê já está julgado; porque não
creu no Nome do Filho único de Deus.
230
Corpo e Sangue de Cristo – Ano A
Jo 6,51-58
52Os judeus discutiam entre si, dizendo: “como esse homem pode dar-nos a
sua carne a comer? ”
53
Então Jesus lhes respondeu:
231
“Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do
Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.
54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia.
55Poisa minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é
verdadeiramente uma bebida.
56
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu
nele.
Sabemos que o sentido que Jesus deseja passar é vivê-lo integralmente, por
isso ele faz essa comparação, tudo o que comemos e bebemos se torna nossa
carne, sangue, energia. Comer a carne e beber o sangue de Jesus não é mero ato
de compaixão, mas uma espécie de encarnação do Filho do Homem em nossa
vida. Essa é realização do plano de Deus, de seu grande sonho. Viver Jesus
plenamente é fazer a vontade do Pai. Assim, as nossas ações, palavras,
sentimentos… se tornam suas ações, palavras, sentimentos… Ou, em outro
aspecto, ele atua, fala e sinta em nós e por meio de nós.
.
57Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele
que de mim se alimenta viverá por mim.
58Este
é o pão que desceu do céu.
Ele não é como o que os pais comeram e pereceram; quem come este pão
viverá eternamente.
232
Meditar: O que o texto fala para mim?
Ouvir o chamado de Deus é aderir a Jesus e fazer o que Ele fez. Simplesmente,
amar e entregar-se à comunidade.
233
Sagrado Coração de Jesus – Ano A
Mt 11, 25-30
25Por esse tempo, pôs-se Jesus a dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e
da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelastes
aos pequeninos. 26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27Tudo me foi
entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém
conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
234
Passou-se trinta anos de prisão, uma tentativa de calar a Igreja de Jesus Cristo.
Quando solto esse líder teve uma grande surpresa. Aberta a porta da Igreja o
número de fiéis se multiplicou e muito, agora são mais de dois mil fiéis. Quem
manteve a Igreja viva foram, mais uma vez, os pequeninos.
Jesus compreendeu a vontade do Pai, estava profundamente ligado a Ele.
Mas essa relação não está fechada a dois, pois o Filho inclui a todos aqueles que
o ouvem, aqueles que seguem o seu caminho. Só dessa maneira podemos entrar
em comunhão com Deus.
28Vinde
a mim todos o que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu
vos darei descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para
vossas almas, 30pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
235
Meditar: O que me diz a Palavra?
O plano de Deus está em primeiro lugar em minha vida? Que fardo eu coloco nos
ombros dos pequeninos? Compreendo a Palavra de Jesus, sou misericordioso,
faço tudo com amor?
236
Santíssima Trindade – Ano B
Mt 28,16-20
16Os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes
determinara. 17Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém,
duvidaram.
237
seja mais rápido e nos esforçarmos para que isso se realize, temos que ser
perseverantes.
18
Jesus, aproximando-se deles, falou: “Toda autoridade sobre o céu e sobre
a terra me foi entregue. 19Ide, portanto, e fazei que todas as nações se
tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo 20ensinanando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos! ”
Agora Jesus não está mais agindo pelo poder de Deus, Ele é autoridade, é o
Ressuscitado (18b). Todo esse poder foi dado pelo Pai.
Dessa forma, Jesus pode dar esse poder para quem Ele quer.
Os discípulos foram os primeiros a receber esse poder: “Vão e façam com
que todos os povos se tornem meus discípulos” (19 a). Novamente a Galileia é o
ponto de partida, simbolizando que devem ir ao encontro dos mais necessitados.
Hoje, nós somos os escolhidos e sobre cada um de nós cai a
responsabilidade de evangelizar e fazer discípulos, ou seja, não só levar as
pessoas a seguirem o Mestre e fazer a sua vontade no dia a dia, mas também dar
testemunho e levar os outros a seguir Jesus. Fazer discípulos, novos
anunciadores do Evangelho, não apenas praticante.
Jesus pede para sermos seus discípulos e batizar a todos, em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Receber o batismo é se comprometer com a prática
de Jesus, se dedicar, se consagrar a vontade de Deus, ser posse da Trindade.
Portanto, todo batizado é um evangelizador, tem plenas condições de ser um bom
discípulo de Jesus.
Não devemos ter medo, pois Jesus fez a promessa de estar sempre presente
no nosso meio: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”
(20b). Se eu tenho medo, então não tenho fé, não acredito no Ressuscitado. Mas,
como fica a promessa de Jesus? Não cabe a nós retrucar, pois é uma promessa
que Jesus fez!
Jesus é glorificado e está com a sua Igreja para sempre. Viva Jesus e verá!
238
interesse e os interesses do mundo? O que significa amar a Deus? Qual a relação
entre amar a Deus, o próximo, a comunidade, a fé?
239
Corpo e Sangue de Cristo – Ano B
Mc14,12-16.22-26
240
para transmitir a sua mensagem. Preste atenção, para ser lembrado ele quis ser
Jesus de todos os dias, de todos os momentos, ao lado dos pobres e dos ricos.
Ele não escolheu um grande momento, mas sim um momento que se repete
sempre.
Novamente podemos observar na ação de Jesus grandes sinais:
simplicidade, humildade, pobreza... Hoje esse momento escolhido por Jesus se
faz ser lembrado na eucaristia. Jesus se esconde em um simples pedaço de pão.
É bom saber que corpo e sangue na Bíblia representam a totalidade do ser
humano. Ao mesmo tempo indica a fragilidade, um ser que está sujeito às
intempéries, um homem que nasceu de uma mulher. Um Deus que deseja ser
homem e com isso mostrar a todos que é possível viver o seu Reino.
Pense no que Jesus fez por nós, foi se entregando aos poucos: cansaço,
fome, frio... Noites em oração sem dormir. Aceitou a cada um como eles eram e
nos aceita hoje do jeito que nós somos! Até o último momento soube entender e
perdoar.
Devemos agradecer a Ele por essa grandiosa lição. Lição de amor,
simplicidade, desapego, humildade... que se repete infinitamente em cada Santa
Missa.
241
Só Deus ama assim
Jo 19,31-37
outro, que fora crucificado com ele. 33Chegando a Jesus e vendo-o já morto,
não lhe quebraram as pernas, 34mas um dos soldados transpassou-lhe o
lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água. 35Aquele que viu dá
testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a verdade,
para que também vós creiais, 36pois isso aconteceu para que se cumprisse a
Escritura:
37E
uma outra Escritura diz ainda:
242
Observe que a nossa vivência cristã é alertada nesse Evangelho, não
podemos ter uma vivencia cristã aérea, abstrata, angelical, temos que cair na
realidade, colocar o pé no chão.
Do coração de Jesus nasceu a Igreja, cuja missão é testemunhar o amor de
Jesus em todos os lugares. Uma Igreja de amor, de doação, de serviço ao
próximo.
Esse Evangelho escolhido para a festa do Sagrado Coração de Jesus
recorda o mistério da Encarnação do Verbo que assumiu plenamente a natureza
humana.
O convite está feito, Ele tem paciência, vai esperar pacientemente o nosso
sim com a certeza da vitória. Sou eu e você que retardamos a entrada para o Seu
Reino. Com isso, meu irmão, vamos nos aproximar do coração do dulcíssimo
Senhor Jesus, nele exultemos e nos regozijemos. Está fora da nossa
compreensão o quanto é bom e doce habitar nesse coração! São Francisco disse
que tudo nesse mundo é lixo comparado a esse tesouro escondido, a pérola
preciosa, Jesus. Que bom seria se entendêssemos essa verdade, assim como
Francisco e tantos outros entenderam, dessa forma poderia dar todos os meus
bens, trocar todas as minhas preocupações, todos os meus afetos. Com certeza
colocaria todas as minhas inquietações no coração de Jesus. Com isso poderia
repetir as palavras da São Francisco de Assis: Só Deus basta!
243
Santíssima Trindade – Ano C
Jo16,12-15
12Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar.
Jesus ensinou os seus discípulos e muito, mas será que entenderam tudo?
Não, muitos dos ensinamentos de Jesus passaram despercebidos, era uma
grande incógnita para eles. Muitas destas questões que Jesus passou para os
seus discípulos, e que ficaram sem ser compreendidas, só foram ter sentido
quando ele ressuscitou e apareceu no meio deles.
Com isso, não adiantava Jesus ensinar mais, aprofundar mais, pois eles
nada entenderiam. Ainda não era o momento certo, tudo tem o seu devido tempo,
sua hora.
O mesmo acontece conosco. Quantas vezes lemos e refletimos uma
passagem da Bíblia e nada entendemos! Em consequência não colocamos em
prática. Somente quando estamos maduros é que lendo essa mesma passagem
entenderemos e, quem sabe, pôr em ação.
Na verdade, sozinho nós não somos nada, não conseguimos caminhar e
quando o fazemos vamos muito devagar. É preciso algo mais para nos levar à
frente, nos dar ânimo e entendimento: o Espírito Santo.
13Quando
vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois
não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as
coisas futuras.
244
Jesus é a verdade, pois realizou plenamente na sua pessoa a vontade do
Pai. Tudo o que ele quer é o bem da humanidade. Jesus é uma aliança de Deus
com o homem através da inspiração do Espírito Santo.
Com o fim da missão de Jesus entre os homens, como homem, tem início
agora a nossa missão; e, o mesmo Espírito que ensinou Jesus irá nos ensinar e
nos acompanhar em nossa caminhada.
Jesus disse: “Quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará
maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” (14,12).
Agora a responsabilidade é nossa, sou eu e você que vamos “fazer a
verdade” e “obras maiores”, somos nós que faremos realizar o projeto de Deus.
Nós somos convidados a ser ajudantes na construção do Reino de Deus, do
paraíso.
Devemos em nossa caminhada prestar atenção no que o Espírito Santo quer
nos comunicar. Mas, se não temos tempo para ouvi-lo, como falará conosco?
Todo o nosso tempo fica destinado ao trabalho do dia a dia, não paramos para
ouvir, para meditar e contemplar. Como então realizaremos o projeto de Deus?
Temos que parar, aprender a ouvir, pois Deus fala conosco sempre. Somos
nós que não queremos ouvir. Temos que parar o mundo, a nossa vida e dar mais
atenção a Deus. Pensar menos em nós e mais nos irmãos, no próximo; lembre-se:
“É dando que se recebe. ”
14Ele
me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará.
O Espírito Santo glorificará Jesus, pois falará para nós o que vem de Jesus e
ensinará a verdade. O Espírito Santo é, portanto, um elo que nos liga a Jesus e
assim poderá continuar a nos ensinar sempre que tivermos disposição e interesse
em aprender.
O Espírito Santo não fala por si, mas está em plena comunhão com o Pai e o
Filho. Como Jesus disse: “O Pai e eu somos um” (10,30). Assim sendo, o Espírito
ouve e transmite fielmente o que Jesus quer dizer, ensinar para nós.
Mas existe uma falha nessa comunicação e essa falha está em nós, pois não
estamos sintonizados em Jesus, no Espírito Santo, mas sim no mundo, na
matéria, na vida.
O Espírito Santo não fala no barulho da nossa vida, mas sim no silêncio, nas
nossas orações. É através da oração que entramos em sintonia e assim
poderemos ouvi-lo.
Jesus quis falar e transmitir a vontade do Pai a todos, mas poucos o ouviram
e seguiram os seus ensinamentos.
245
Hoje acontece o mesmo. Jesus continua a bater à nossa porta, a transmitir
os mesmos ensinamentos e nós não damos ouvidos a Ele, preferimos o mundo, a
ilusão.
O caminho é o silêncio e a oração diária. Afaste-se do mundo e assim
poderá receber as mensagens que Jesus tem para cada um de nós, hoje, agora.
15
Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse: ele receberá do que é meu
e vos anunciará.
246
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Senhor, eu peço ajuda. Quero ser o seu discípulo e testemunhar na minha
comunidade e na sociedade onde vivo.
247
Corpo e Sangue de Cristo – Ano C
Lc 9,11b-17
Todos devem conhecer Jesus, recebê-lo, Ele deve fazer parte da nossa vida.
Para alcançar esse fim todos são convidados a trabalhar na evangelização.
A eucaristia é o grande alimento que Jesus deixou para ser distribuído, e o
nosso trabalho é conduzir as pessoas a aceitar Jesus. Volto a afirmar, é
responsabilidade de todos, pois no sacramento do batismo nos tornamos Igreja, a
missão de Jesus passa a ser a nossa missão, temos que ajudar na distribuição
desse alimento. É errado pensar que apenas os ministros da eucaristia devem
distribuir o corpo de Cristo, é na vida, no dia a dia que devemos dar testemunho e
levar Cristo aos irmãos afastados.
Essa abundância do alimento narrado no evangelho, relaciona-se a
abundância de amor do nosso Pai por nós. Ao agregarmos a esse trabalho de
248
amor não mediremos esforços para ir ao encontro do nosso irmão. A partilha toma
forma e o que parecia pouco se transforma em muito. Saber ouvir um irmão, fazer
uma visita a um doente... A partilha acontece.
Se entendêssemos o sentido do dar! Jesus disse: “Daí, e vos será dado; será
derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante,
pois com a medida com que medires sereis medidos também”. (Lc 6, 38)
249
Sagrado Coração de Jesus – Ano C
Lc 15,3-7
250
Deus não quer perder nenhuma de suas criaturas. Todos nós temos
oportunidades de dizer sim, até mesmo o maior pecador que está na prisão
esperando a sua sentença de morte. A ovelha desgarrada.
Hoje, existem inúmeras ovelhas desgarradas que se afastaram do Mestre,
ou quem sabe, nunca estiveram juntas no redil.
O materialismo é a causa da dispersão dos homens. Vão iludidos ao
encontro do mundo e se perdem.
Jesus é o bom Pastor, aquele que conduz as suas ovelhas para boas
pastagens, água fresca e as protege das ciladas do mundo. Nós somos as
ovelhas e, infelizmente, não queremos ficar sob a sua proteção, queremos mais;
afastamo-nos dele e vamos ao encontro dos nossos planos, objetivos e assim
caímos nas armadilhas do mundo. Jesus, porém, vem ao nosso encontro, mostra
o caminho de volta, coloca setas em todo o caminho para retornarmos a ele, mas
nada fazemos, estamos hipnotizados pelo mundo, pela matéria.
É agonizante a espera de Jesus pelo nosso sim, ele sofre diariamente por
estarmos envolvidos no mundo, atolado na matéria, escravos. Ele quer a nossa
felicidade e nada pode fazer, pois respeita a nossa decisão, a nossa liberdade de
escolha.
Ele quer salvar a todos, sem exceção: ricos, pobres, marginalizados,
excluídos, letrados... É tão importante a salvação que Deus, mesmo respeitando a
nossa liberdade, procura todos os meios possíveis para mostrar para nós o
verdadeiro caminho. Mandou seu Filho para nos salvar, morreu por nós, sofreu por
nós e não podia ser diferente, pois Ele respeita a nossa liberdade.
Não dá para imaginarmos o quanto Deus espera pela nossa conversão, não
dá para imaginarmos a paciência que Ele tem por cada um de nós. Nesta parábola
é mostrado que Deus faz muita festa pelo pecador que se arrepende e volta para
Ele; é uma alegria imensa, fora de nossa compreensão.
Depois de tudo isso, resta a nós irmos ao encontro de Jesus, pedir perdão,
arrependermos realmente e nos voltarmos totalmente para Ele. Lembremos
também que devemos ser setas no caminho, sinais para que outros possam ver,
imitar e ir ao encontro de Jesus. Temos que ir ao encontro do nosso irmão que
está perdido. Longe de Jesus.
251
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Agradeço a Deus que me perdoa sempre. Peço ao Senhor, misericórdia, o dom do
perdão (rezar o Salmo 50 ou 24).
252
TEMPO COMUM
ANO A
253
2° Domingo do tempo comum – Ano A
Quem é Jesus?
João 1,29-34
29No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: “Eis o cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo. 30Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que
passou adiante de mim, porque existia antes de mim. 31Eu não o conhecia, mas, para
que ele fosse manifestado a Israel, vim batizar com água”.
Nestes versículos, João identifica Jesus, ele sabe que é Jesus, pois dá testemunho,
ele vive Jesus.
Todos nós, no nosso dia a dia buscamos Jesus, queremos conhecer Jesus, queremos
pistas para que assim aumente a nossa fé.
Foi o que João fez, caminhou em direção a Jesus, viveu Jesus e assim não precisou
de pistas, pois pela sua vivência já conhecia Jesus.
Assim como nós caminhamos por etapas, João também o fez, aos poucos foi vivendo
Jesus e aos poucos foi reconhecendo.
Hoje nós estamos presos na matéria, na carne, escravos do pecado. A nossa vida
está saturada pelas ervas daninhas do egoísmo, mentira, ganância, poder... Jesus veio nos
libertar da escravidão.
Com o passar do tempo, por meio da oração e grande sacrifício de nossa parte,
vamos nos libertando lentamente e assim a luz de Jesus entra em nossa vida.
Lembre-se, Jesus já fez a sua parte, morreu por nós e por sua causa o céu se abriu.
Antes foi fechado pelos pecados de Adão e Eva e agora reaberto por Jesus. Com o céu
aberto, todos nós somos convidados a entrar. Agora a responsabilidade é nossa, Jesus
espera pacientemente o nosso sim.
Vamos seguir o exemplo de Paulo que chegou a dizer: “Não sou eu que vivo. É Cristo
que vive em mim. ” (Gl 2,20)
254
32
E João deu testemunho, dizendo: “Vi o Espírito descer, como uma pomba vindo do
céu, e permanecer sobre ele. 33Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para
batizar com água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer
é o que batiza com o Espírito Santo.” 34E eu vi e dou testemunho que ele é Eleito de
Deus.”
Seguindo fielmente os passos de Jesus iremos conhecê-lo. Não existe outro caminho.
João entendeu, seguiu os seus passos e recebeu a força do Espírito Santo e com
essa força permaneceu até o fim de seus dias. Deu testemunho, pois em prática o Jesus que
estava dentro dele.
João viu o Espírito Santo, em forma de uma pomba descer sobre Jesus. É o amor do
Pai que habita em Jesus.
Com João também aconteceu o mesmo, foi morada do Espírito Santo e também o
mesmo pode acontecer com cada um de nós.
Basta querer, ter fé. Com certeza Jesus nos levará até ele, nos conduzirá a
reconhecer em Jesus o Messias.
Hoje eu quero sinais, nós queremos sinais! Mas que sinais tiveram os santos? Por
exemplo: que sinal teve Madre Tereza de Calcutá? Ela descobriu Jesus na prática de Jesus.
É entregando-se a ele, sem vacilar que o descobriremos, saberemos quem ele é.
Se caminhamos no caminho que Jesus traçou, mas estamos incertos, falta fé, é
porque o nosso caminhar é lento, não damos testemunho, não conhecemos Jesus.
O caminho é a entrega: Faça de mim um instrumento de vossa paz. Como disse São
Francisco de Assis, aquele que pronunciou as mesmas palavras de Paulo: “Não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim. ” (Gl 2, 20)
255
Senhor, estou longe de entendê-lo, na minha pequenez. Eu penso que O conheço, mas na
verdade nada sei. Faça de mim a sua morada, me ensine o caminho, faça que cada dia eu
dê testemunho verdadeiro, viva o Senhor.
256
3° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 4,12-23
12Ao ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galileia 13e, deixando Nazaré,
foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, 14para que se
cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: 15Terra de Zabulon, terra de Neftali,
caminho do mar, região além do Jordão, Galileia das nações! 16O povo que jazia nas
trevas, viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma
luz. 17A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: “Arrependei-vos,
porque está próximo o Reino dos Céus”.
Estamos no início das atividades de Jesus. Depois da prisão de João Batista, Jesus se
dirige para a Galileia e se estabelece em Cafarnaum.
Começa a missão de Jesus e como partida ele escolheu uma terra de gentios. É
interessante destacar que na dominação desse território, foi trocada a população da cidade
por um povo de outra região, eram pagãos. Mas, Jesus não os excluiu, pelo contrário, é
nesse lugar que inicia a sua evangelização.
Essa ação de Jesus vem mostrar para nós que ele veio para todos os povos,
principalmente para aqueles mais afastados, oprimidos, marginalizados.
Cumprem-se também as escrituras: “A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao
mar, a terra além do Jordão, a Galileia dos gentios, este povo, que jazia nas trevas viu
esplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da
morte.” (Is 9,1)
Jesus veio para todos, sem distinção. A liberdade, a verdadeira liberdade é para
todos. Liberdade do corpo e principalmente a da alma, do espírito.
A todos ele convida ao arrependimento, a aceitá-lo e o seu projeto que vem de Deus.
Por isso ele disse: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”.
257
18
Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado
Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 19
Disse-lhes: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens”. 20Eles, deixando
imediatamente as redes, o seguiram.
21
Continunado a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu
irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. 22Eles,
deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram.
Era comum no tempo de Jesus haver mestres e seus seguidores. Jesus foi o
verdadeiro Mestre, teve um objetivo de vida e para que o plano de Deus se cumprisse
fielmente necessitou de seguidores.
A margem do mar da Galileia encontra pessoas simples trabalhando, ganhando o pão
no seu dia a dia e os convidam a uma mudança radical de vida. Venham, sigam-me.
Normalmente eram as pessoas que resolviam, por livre e espontânea vontade, sem
nenhum convite, seguir um determinado mestre. Entretanto, Jesus muda essa situação, é ele
que faz o convite. Com isso vem mostrar para nós a sua pressa na realização da vontade do
Pai e a grande importância que “todos nós” temos nesse projeto.
Hoje, somos nós os escolhidos e Jesus tem pressa em ouvir o nosso sim e ver a todos
trabalhando pelo Reino de Deus.
Jesus continua a nos chamar e nós não damos ouvidos. Nos chama através de uma
outra pessoa, de um padre em um sermão, de um livro e tantas outras formas... Mas, qual é
a nossa resposta?
Assim como Pedro e seu irmão largaram as redes e seguiram Jesus, nós também
devemos fazer o mesmo. O que está nos segurando? O que nos prende a essa vida?
Você precisa de sinais para crer?
Lembre-se, primeiro Jesus quer ouvir o seu sim e só depois enviará sinais.
É necessário primeiro abraçar a causa de Jesus, o projeto de Deus. Feito isso, os
sinais serão simples consequência de nossas atividades, do nosso sim.
258
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Meu Senhor, minha fé é pequena, sou fraco e não consigo entendê-lo, eu sei que eu tenho
uma missão e o Senhor está sempre me chamando para realizá-la. Ajude-me, faça que eu o
entenda e realize a sua vontade.
259
4° Domingo do tempo comum – Ano A
Sermão da montanha
Mt 5,1-12a
1Vendo
ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os
seus discípulos. 2E pôs-se a falar e os ensinava, dizendo:
260
3
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
A primeira e a oitava bem-aventuranças vêm trazer para nós uma afirmação, uma
realidade, não é uma promessa de Jesus. Quem as colocar em ação, nesta vida, já é dele o
Reino do Céu.
Mas o que significa o Reino do Céu? Para ser mais simples e exato possível, é o
sinônimo do paraíso, da felicidade eterna. Portanto, os pobres em espírito e os perseguidos
por causa da justiça já vivem, na terra, o paraíso.
Ser pobre em espírito é aquele que dedica a sua vida, o seu tempo a Deus, ao seu
plano, a construção do Reino de Deus. São aqueles que se desapegaram de tudo nesta vida,
nada mais neste mundo tem valor, Deus e seu plano, é tudo.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, ou seja, aqueles que já
dedicaram totalmente a sua vida a Deus, já vivem a primeira bem-aventurança e agora nada
mais tem a perder, até a vida é entregue pela construção do Reino. Nada temem, são livres
como os pássaros. Suas palavras não têm limites, freios; são profetas que denunciam, que
falam a verdade sem temer as consequências. Dessa forma, sofrem perseguições, não é
entendido pela sociedade que prega a ambição, poder, glória, riqueza... De forma alguma
suportam a liberdade desses profetas e assim os conduz a morte.
Com isso, eu pergunto: Você é feliz?
Tente viver essas duas bem-aventuranças e será feliz, assim como foram tantos
outros antes de você. Como exemplo: São Francisco de Assis.
4
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
5Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Nesses versículos, Jesus está se dirigindo ao povo que estão a sua volta. Mas, quem
são eles? São os aflitos, explorados pela sociedade atual; os mansos que se submeteram ao
poder opressor; a todos aqueles que querem justiça, mas nada podem fazer. São para esses
que Jesus se dirige e hoje se dirige a todos nós.
Mas, quem são os aflitos de hoje? São todos aqueles que estão cativos da sociedade
cruel. Não conseguem sair da situação em que se encontram, a sociedade não lhes
proporciona alternativa, trabalham para subsistir, nada mais. Existem também os que se
tornaram cativos de suas posses e para manter certa posição de vida, se obrigam a
trabalhos exaustivos, são escravos da sua própria ganância, egoísmo.
261
Muitos, ou até mesmo a maioria desses, são mansos, aprenderam a ser mansos, pois
são subjugados pelos poderosos. Foram amansados, são escravos ou se tornaram escravos,
por livre e espontânea vontade. São impossibilitados de reivindicar os seus direitos.
Entretanto existem os que lutam pelos seus direitos com mansidão. Como exemplo tem
Jesus, o maior manso que passou sobre a terra; podemos citar também Mahatma Gandhi, o
homem que conquistou a liberdade da Índia sem fazer violência. Esses, que não se
acomodam, possuirão a terra, mas possuir não significa ser dono, mas sim ter mais que o
suficiente para sobreviver, ter fartura e ser feliz.
Entre todos esses, também são felizes aqueles que lutam pela justiça, que percebem
o mau que é implantado pela sociedade e tenta modificá-lo, porque serão saciados.
Jesus quer homens livres, sem laços com esse mundo, dessa forma se construirá o
Reino de Deus e todos serão felizes, vivendo com fartura. É a realização do paraíso, aqui na
terra.
263
5° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 5, 13-16
13Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com o que o salgaremos?
Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.
14Vós
sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte
15Nem
se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e
assim ela brilha para todos os que estão na casa. 16Brilhe do mesmo modo a vossa luz
diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai
que está nos céus.
264
Jesus nos lembra que enquanto Ele estiver no mundo, será a luz do mundo (Jo 9,5).
Ele foi um reflexo de Deus entre os homens. Viveu Deus, e por isso todos puderam ver sua
luz.
Hoje, somos nós os convidados para sermos luz do mundo: “Vocês são a luz do
mundo. ” Para alcançarmos esse fim nós temos que viver Jesus a tal ponto de dizer: Não sou
eu que vivo é Cristo que vive em mim.
Dessa forma, nós temos que ser continuadores do projeto de Deus, temos que ser luz
que afasta as trevas. Temos que procurar entrar nos corações das pessoas, limpar as suas
vidas das trevas e conduzi-las a Jesus.
Jesus é a grande luz, o grande exemplo que temos que seguir a todo custo. Temos
que ser luz, igual a Jesus.
Não há tempo para preguiça, corpo mole, tempo de se esconder; chegou a nossa hora
de iluminar a todos.
O que adianta você ser luz que fica escondida? Para nada serve!
É preciso arregaçar as mangas e se colocar a serviço do Reino. Fazendo isso você
será feliz, encontrará a paz, harmonia, o paraíso.
Hoje, por causa da pouca fé que temos, demoramos a dizer o nosso sim, nos
escondemos, fugimos do paraíso. Dizemos não há Deus e sim aos nossos projetos de vida.
Grande ilusão! Não sabemos o que estamos perdendo.
Temos que dizer sim ao projeto de Deus e fazer a nossa luz brilhar intensamente, pois
intensamente vivemos Jesus, e só assim todos poderão ver as nossas obras e nos seguir.
265
6° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 5, 17-37
17Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes
pleno cumprimento, 18porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a
terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja
realizado. 19Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e
ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus.
Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos
Céus.
20Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a
dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.
Note que Jesus não veio fazer uma ruptura com o passado e ao mesmo tempo não veio
confirmar o que fora dito. Parece uma contradição, mas não é. O que Jesus veio trazer foi
uma nova maneira de ver, viver, interpretar as Leis.
Era costume de aquela época tentar viver os mandamentos de uma forma radical, mas
fechada no texto numa interpretação simples e superficial. Não se preocupavam em
mergulhar em um entendimento mais profundo que hoje sabemos que é à vontade de Deus.
Logo, depois de Jesus ter mostrado a tarefa aos discípulos nas bem-aventuranças,
agora nesse texto nos revela a vontade do Pai. Nessa revelação, que estava escondida aos
olhos de todos, Jesus revive o debate das tendências opostas. Enquanto uns pensavam que
Jesus veio para anular a lei de Moisés, outro afirmava que Jesus veio para sustentar tudo o
que fora escrito.
Nenhuma das hipóteses estão corretas, Jesus veio completar. Não houve ruptura e tão
pouco houve repetição e confirmação. O que Jesus trouxe foi novidade!
No modo antigo a simples observância dos mandamentos não garante entrar no Reino
de Deus.
266
21
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; aqueles que matar terá de responder
no tribunal. 22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão,
terá de responder no tribunal; aqueles que chamar ao seu irmão “Cretino!” estará
sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar “Louco” terá de responder
geena de fogo. 23Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te
lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa a tua oferta ali diante
do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar a tua
oferta. 25Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás
com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz
ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. 26Em verdade te digo: dali não
sairás, enquanto não pagares o último centavo.
27Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. 28Eu, porém, vos digo: todo aquele
que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu
coração. 29Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti,
pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja
lançado na geena. 30Caso a tua mão direita te leve a pecar, corta-a e lança-a para longe
de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo vá
para a geena.
31Foi
dito: Aquele que repudiar a sua mulher dê-lhe uma carta de divórcio. 32Eu, porém,
vos digo: todo aquele que repudiar sua mulher, a não ser por motivo de ‘fornicação’,
faz com que ela adultere; e aquele que se casa com a repudiada comete adultério.
33Ouvistes também que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus
juramentos para com o Senhor. 34Eu, porém, vos digo: não jureis em hipótese
nenhuma; nem pelo Céu, porque é o trono de Deus, 35nem pela Terra, porque é o
escabelo dos seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei, 36nem
jures pela tua cabeça, porque tu não tens o poder de tornar um só cabelo branco ou
preto. 37Seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não. O que passa disso vem do
Maligno.
Jesus é a realização do sonho de Deus para toda a humanidade. Ele sabe qual é a
vontade do Pai e revela essa vontade para que cada um de nós venha seguir os seus
passos, fazer o que Ele fez.
Com isso Ele leva a humanidade a aderir a fé, somente acreditando nEle e seguindo
pelo seu caminho viveremos o Reino de Deus.
Não basta viver uma fração da Lei, mas sim a Lei no todo. Quando ficamos na
superfície vemos a Lei de uma forma primitiva, uma interpretação física. Mas quando nos
aprofundamos no entendimento dessa Lei entramos na melhor parte, o lado espiritual. Veja o
exemplo desse mandamento: não mataras. Se formos aprofundar o sentido se torna muito
amplo. Não se finda em apenas matar o corpo, vai além... muito além... Podemos citar
apenas alguns exemplos: desamor, desprezo, ressentimento, raiva, inveja, descriminação,
intolerância, preconceito... Formas diferentes de matar.
267
É importante perceber que Jesus não se prende ao lado externo da ação, mas observa
o que vem do coração, aí se encontra o âmago do problema. Assim o critério de julgamento
vai além da materialização da ação. Veja o exemplo dado por Jesus sobre o seguinte
mandamento: Não cometerás adultério. Para Jesus um olhar cúpido é um verdadeiro
adultério que foi consumado no coração.
Para aquele que ama é fácil entender a proposta de Jesus e colocar em prática os seus
ensinamentos. Pois aquele que ama é livre, não está preso a regras e mesmo sem conhecer
os mandamentos é fiel a todos eles.
268
7° Domingo do tempo comum – Ano A
Amar os inimigos!...
Mt 5, 38-48
38Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
São Paulo disse: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4, 3). Jesus nos
convida a viver um novo paradigma, largar o egoísmo, o apego exagerado do eu e finalmente
se comprometer de corpo e alma com a caridade indo nessa jornada para além dos critérios
humanos. Amar a todos, essa é a meta, sem nenhuma discriminação, pois assim seremos
perfeitos como o Pai Celeste é perfeito. O Senhor nos convida a sermos santos como Ele é
santo! A santidade a que somos chamados consiste em fazer a vontade de Deus nosso Pai,
que ama a todos, sem distinção.
39Eu, porém, vos digo: não resistais ao homem mau; antes, àquele que te fere na face
direita oferece-lhe também a esquerda;
Jesus Cristo estabelece novas bases perante a lei do talião – o amor, o perdão das
ofensas, a superação do orgulho e do ego; sobre os quais os homens entendem a uma
defesa dos seus direitos. Mas, que direitos? Pois, a busca agora é o amor, tudo mais se
torna lixo. A prática da justiça deve ser praticada, mas com amor. Em todo esse processo o
homem é chamado a praticar a mansidão, a não usar de violência e a buscar o bem da
pessoa que a prejudicou. É o libertar-se.
40e
àquele que pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se
alguém te obrigar a andar uma milha, caminha com ele duas. 42Dá ao que te pede e não
voltes as costas ao que te pede emprestado.
43
Ouviste que foi dito: Amarás o teu próximo e odiaras o teu inimigo. 44Eu, porém, vos
digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 45desse modo vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol
269
igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos. 46Com efeito, se
amais aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos
a mesma coisa? 47E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não
fazem também os gentios a mesma coisa?
48
Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.
Podemos imaginar que esse ensinamento de Jesus é impossível de ser praticado! Não,
essa expressão não é um paradoxo, pois rigorosamente falando, é impossível que a criatura
alcance a perfeição de Deus. Mas, esta é a finalidade que deve acercar todo o discípulo de
Cristo. A convocação à santidade não é uma insinuação, mas um ensinamento de Jesus
Cristo: A missão de Jesus é a nossa missão, se Jesus foi santo cabe a nós também nos
santificarmos. A todos, sem ressalva, disse o Senhor:
Como já disse, a missão de Jesus é a nossa missão. O Venerável João Paulo II propôs
como objetivo para o caminho da Igreja no Terceiro Milênio a santidade de vida para todos:
“Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco, vendo
nele um caminho extraordinário, capaz de ser percorrido apenas por algum gênio da
santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um.
Agradeço ao Senhor por ter me concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos
cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da
vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta medida alta da vida cristão
ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta
direção. Mas é claro também que os percursos da santidade são pessoais e exigem uma
verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos;
deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda
pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos
reconhecidos pela Igreja”.
270
Meditar: O que o texto fala para mim?
Desde criança nos ensinam a vivermos em cima de um paradigma corrompido, fracassado,
que está levando a todos a tristeza, a morte. Jesus veio trazer um novo paradigma e ainda
assim a humanidade se recusa a ser livre e feliz.
271
8° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 6,24-34
24Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou
se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servia a Deus e ao
Dinheiro.
25Por
isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de
comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do
que o alimento e o corpo mais do que a roupa? 26Olhai as aves do céu: não semeiam,
nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, o vosso Pai celeste as alimenta.
Ora, não valeis vós mais do que elas? 27Quem dentre vós, com as suas preocupações,
pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? 28E com a roupa, por que
andais preocupados? Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e
272
nem fiam. 29E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se
vestiu como um deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e
amanhã será lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé?
31
Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos
beber? Ou, que iremos vestir? 32De fato, são os gentios que estão à procura de tudo
isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas.
33Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão acrescentadas. 34Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois do
dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.
Esse texto vem para advertir aqueles que estão desesperados, a falta de confiança dos
crentes. A dificuldade vem e com ela o desânimo, desconfiança, tristeza.
Ficar ansioso é o mesmo que falta de confiança em Deus! Mas esse é um mal que se
estabelece em quase todos. Coloca-se a confiança nas coisas, no ter. E, se nada tem, ou
quando se perde o que tem, para muitos é sinônimo de morte, fim da vida. Mas quem está na
frente, a vida ou as coisas? Para a maioria o importante é a matéria e não o ser.
Para Jesus o que deve estar no ápice da nossa procura é o Reino de Deus. Mas para
os homens o importante é o nosso reino, fazer a vontade do corpo.
273
9° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 7,21-27
21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim
aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. 22Muitos me dirão naquele
dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que
expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres? 23Então eu lhes
declararei: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’.
Nesse trecho do Evangelho, Mateus coloca o homem que crê, encenando o Juízo
final. O que fizemos para merecer o Reino de Deus? Lembremos que a carteirinha que dá
acesso ao Reino é o AMOR.
Se faço obras espetaculares em nome de Jesus, então não sou eu que faço, mas sim
Jesus. Sou apenas um instrumento em suas mãos, frágil instrumento que tem pouco valor.
Não devo me vangloriar com o meu ato: pregação, cura... Pois toda essa força vem de nosso
Deus.
Dessa forma: O que vale a obra se você não ama?
Temos que viver o amor, essa é à vontade do Pai, e dessa forma fazer justiça, que
traz liberdade e vida.
Nós somos apenas homens de boa vontade que são enviados, “em nome de”,
representado Jesus. Entretanto, esses vasos de barro são delicados e se quebram
facilmente, estão sujeitos às intempéries do tempo. Não somos imunes ao pecado. Cuidado,
os falsos profetas também fazem boas obras. O que nos diferencia é o amor.
Amar é viver Jesus em sua plenitude, não apenas ação, mas, sobretudo na oração, no
sentir. Personalizar Jesus, é derreter o nosso coração de pedra, é deixar de ser eu para ser
Ele.
274
Para ser verdadeiro Profeta, você tem que amar, agir, sentir e aniquilar-se, pois Deus
tudo pode, nós nada somos. Não devemos esquecer: somos apenas frágeis instrumentos,
com muitos defeitos, nas mãos de Deus, a sua disposição.
24
Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática será
comparado a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a
chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela
não caiu, porque estava alicerçada na rocha. 26Por outro lado, todo aquele que ouve
essas minhas palavras, mas não as prática será comparado a um homem insensato
que construiu a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, vieram as enxurradas,
sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande sua ruína.
Nós devemos construir a nossa fé com base nos ensinamentos de Jesus. Essa
construção, porém, é lenta, não se faz de um momento para o outro; às vezes demora uma
vida!
Hoje construímos a nossa vida em cima de falsos valores, basta um pequeno
solavanco e tudo vai ao chão. É por isso que existem tantas pessoas com depressão, stress.
A busca de falsos valores torna a vida vazia, sem sentido.
Mas, o verdadeiro cristão, procura sempre Deus em primeiro lugar. Seguir Jesus é
construir uma casa, mas sobre rocha firme. Dessa forma, vem à tempestade da vida, tentam
nos derrubar a todo custo, mas, mesmo assim, permanecemos fortes, inabaláveis.
Lembremos também que a chuva, enxurrada e ventos fortes, nos fazem pensar sobre
o juízo final de Deus. Quem vive a vida apenas com bonitas palavras é um estúpido, não
entendeu a proposta de Jesus. Apenas acomodou-se.
Devemos, sim, seguir Jesus na íntegra. Ser um verdadeiro discípulo, profeta. Temos
que viver Jesus.
O juízo final nos espera e quem vai me condenar não é Deus, mas sim tudo o que eu
fiz sobre a terra. Será que eu personalizei um verdadeiro profeta? É o que Jesus espera de
mim! Somente eu posso responder, ninguém mais. Dessa forma eu indago: Quando será o
meu juízo, o meu fim sobre essa terra?
Tenho que estar preparado, sempre, trabalhando pelo Reino de Deus e pronto para o
meu momento final.
Levemos, pois, uma vida de fé, de amor, com ação, tentando a todo o momento viver
Jesus.
275
Meditar: O que me diz a Palavra?
Os verdadeiros discípulos de Jesus são firmes como a rocha, nada que o mundo oferece
abala a fé. Estão prontos para enfrentar os dissabores da vida, as tentações. Contentam-se
com pouco, pois já tem muito, que é Jesus.
276
10° Domingo do tempo comum – Ano A
Vocação de Mateus
Mt 9,9-13
277
10
Aconteceu que estando ele à mesa na casa, vieram muitos publicanos e pecadores e
se assentaram à mesa com Jesus e seus discípulos. 11Os fariseus, vendo isso,
perguntaram aos discípulos: “Por que come o vosso Mestre com os publicanos e os
pecadores? ” 12Ele, ao ouvir o que diziam, respondeu: “Não são os que têm saúde que
precisam de médico, mas sim os doentes. 13Ide, pois, e aprendei o que significa:
Misericórdia é o que eu quero, e não sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar os
justos, mas pecadores”.
Depois do seu sim, vai ao encontro do seu Senhor, acompanha-o durante todo o dia.
Nesse convívio como verdadeiros irmãos, Mateus faz um convite a Jesus para ir a sua casa.
É claro que a resposta de Jesus não poderia ser outra, disse sim. Mateus prepara
uma festa e convida todos os seus amigos. São eles: os cobradores de impostos e
pecadores publicanos, pessoas que foram rejeitadas pelos judeus, não seguiam a Lei.
Mas, Jesus não põe obstáculo, vai ao encontro do pecador, não importa o que ele fez.
Imagine a cena: Jesus e seus discípulos conversando, comendo e bebendo junto com
os cobradores na casa de um cobrador! Os judeus, por sua vez, ficaram olhando do lado de
fora, não ousavam aproximar, pois não queriam ficar impuros. São cegos, pertencentes a
uma religiosidade estéril, morta. Não compreendem a missão de Jesus, não se abrem, são
fanáticos, hipócritas e arrogantes. Só pensam em seus méritos pessoais. Engessaram Deus,
segundo a sua vontade, costumes.
Jesus é aquele que vem trazer a liberdade para a humanidade, uma nova vida. Ele
resgata a dignidade de um pecador e o torna seu discípulo.
Hoje, o mundo está cheio de fariseus que estão envoltos numa falsa religiosidade,
donos de si e de seus interesses pessoais. Claramente se escondem atrás de um falso deus
e se acham todo poderoso, os melhores. Essa é a religião que o mundo oferece e o seu deus
é o dinheiro.
Não podemos seguir a dois senhores: Deus e o dinheiro. Mateus deu a sua resposta.
Qual é a sua?
278
Meu Senhor, eu quero segui-lo, mas aumenta a minha fé! Que pena que esta frase ainda faz
parte da minha vida. Eu ainda necessito de provas, sinais para segui-lo, não sou digno do
Senhor. Entretanto, olhe para esse seu servo e tenha pena, pois nada sou.
279
11° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 9,36-10,8
36Ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como
ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos: 37“A colheita é grande, mas
poucos os operários! 38Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua
colheita”.
280
A família é a primeira Igreja e é nela que devem nascer novas vocações. Com isso, é
grande a responsabilidade dos pais como agentes formadores de seus filhos. Eles têm que
dar exemplo de vida, constante, perseverante.
Lembre-se: Todos nós somos chamados, mas são poucos os escolhidos.
10.1
Chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos
e de curar toda a sorte de doenças e enfermidades.
2Estes
são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e
André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão: 3Filipe e Bartolomeu;
Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão, o Zelota, e
Judas Iscariotes, aquele que o traiu.
5Jesus enviou esses Doze com estas recomendações:
“Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. 6Dirigi-
vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7Dirigindo-vos a elas, proclamai que
o Reino dos Céus está próximo. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os
leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça daí.
Jesus tem poder que foi entregue por Deus. Dessa forma Ele pode dar esse poder a
quem Ele quiser.
Constatando a realidade e a necessidade de novos colaboradores para a plena
realização da missão, Jesus chama os seus discípulos e lhes dá poder, autoridade para agir
em seu nome. Eles devem realizar as mesmas ações que Ele vem realizando, ou seja: ação
de libertação, vida, expulsando espíritos maus, curando a todos e qualquer doença e
enfermidade.
Hoje, os discípulos ordenados por Jesus são os Bispos, Padres e Diáconos, mas
todos os batizados também são chamados.
Jesus chama a todos: hebraicos, gregos, pescadores, publicanos, zelotas... Todos são
chamados a realizar a missão que Jesus deu início: o Reino de Deus.
Portanto, ser “Apóstolo” (enviado), é um dom de Deus, é Ele que escolhe e envia. Nós
podemos ser chamados por Deus através de um Padre, de um ministro da Igreja, através de
um amigo... São várias as maneiras de Deus se revelar a nós.
Mas, devemos levar em consideração, que muitos são os chamados e poucos são os
escolhidos. Não estão prontos para assumir a missão, dizem não a Deus. Sentir ser
chamado, “ter vocação”, é um dom de Deus, são poucos os vocacionados a uma entrega
total, radical aos planos de Deus.
O que Jesus quer, são pessoas decididas a enfrentar todos os problemas da vida pelo
Reino de Deus. Ele não quer morno, mas quente, ou seja, prontos, preparados e
entusiasmados com as propostas de Deus.
281
Dessa forma, posso questionar: Qual é o meu lugar como ser humano chamado por
Jesus?
282
12° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 10,26-33
26“Não tenhais medo deles, portanto. Pois nada há de encoberto que não venha a ser
descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado. 27O que vos é dito às
escuras, dizei-o à luz do dia: o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os
telhados.
Depois de Jesus ter chamado os seus discípulos para segui-lo, faz descer sobre cada
um deles o poder, o mesmo poder que Ele recebeu do Pai. Dessa forma, eles estão prontos
para seguir os passos de Jesus, para fazer o mesmo que Ele fez. Entretanto, o medo toma
conta dos seus amigos. Percebendo o ocorrido, Jesus intervém novamente dizendo: “Não
temais...”.
Jesus repete essa expressão três vezes, para mostrar para nós a importância desse
convite que faz para todos que querem segui-lo.
O primeiro convite se refere aos perseguidores, não devemos ter medo deles. Nada
irá impedir a divulgação da mensagem de Jesus. Tudo o que Jesus falou aos seus
discípulos, hoje nós conhecemos, foi revelado a todos. Ou seja, nada ficou escondido,
enterrado. Conosco também acontecerá à mesma coisa. Tudo o que falarmos ou fazermos
em nome de Jesus, tem que ser proclamado a todos. Não podemos nos esconder, guardar o
que nós sabemos apenas para si próprio. Temos sim que proclamar em alta voz, usar todos
os meios possíveis de comunicação para que todos possam aprender, crescer.
Lembre-se, nada poderá nos deter, pois não é apenas a realização da nossa vontade,
mas sim a de nosso Deus.
Portanto, não devemos ter medo dos possíveis seguidores que iremos encontrar. Já
sabemos, por antecedência, que nada poderão fazer para segurar a vontade de Deus.
283
28
“Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes
aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena. 29Não se vendem dois pardais por
um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso
Pai! 30Quanto a vós, até mesmo os vossos cabelos foram todos contados. 31Não
tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais.
O segundo convite se refere aqueles que perdem a sua vida por Jesus, pelo Reino de
Deus. Os perseguidores conseguem matar o corpo, mas não conseguem matar a alma, que
é o principal.
Com toda a certeza, o que falta para nós agir e pensar dessa forma tão radical é a fé.
Duvidamos, e por isso vacilamos.
Mas, Jesus deixou bem claro: A vida continua, pois, a alma permanece viva.
O que falta para nós é encontrar a liberdade. Estamos presos neste mundo através do
egoísmo, falta amor ao próximo, achamos que nossa vida é imortal. Entretanto, um dia
acabará e só depois veremos quanto tempo perdemos, pois, a alma é imortal.
Jesus disse: O que devemos temer é aqueles que podem matar e nos enviar para o
inferno, esse sim, devemos temer. Quem são eles?
São aqueles que conseguem apagar a chama da nossa fé. Aqueles que nos
convencem de que o mundo está certo, que o egoísmo, a ganância, o ter e poder são o
caminho certo. Agindo dessa forma nos conformamos com o sistema de morte que a
sociedade nos envolve e assim jogamos fora a nossa vida.
Lembremos, estamos nas mãos do Pai. Principalmente aqueles que Ele enviou. Tudo
Ele conhece, cada passo que é dado, o mais profundo de nossa alma, nada passa
despercebido.
Assim, devemos ter confiança no Pai, pois tudo pode. Ele conhece a nossa fraqueza e
certamente nos fortalecerá. Ele nos ama e muito.
32Todo
aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me
declararei por ele diante de meu Pai que está nos céus. 33Aquele, porém, que me
renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus.
284
Jesus colocou em nossas mãos a tarefa de terminar o que Ele começou, a plena
realização do Reino de Deus.
Entretanto, todos nós nos escondemos dessa realidade, nos acovardamos, temos
medo.
Mas, Jesus disse, não tenham medo. Mesmo nas tribulações da vida, sendo
perseguido de todas as formas, temos que permanecer fiéis e testemunhar, sempre: Jesus
ao mundo, não só com meras palavras, mas principalmente por ações.
A nossa vida tem que ser um exemplo continua de vida que Jesus quer para todos,
assim outros poderão, através do nosso exemplo, seguir Jesus.
Essa é a nossa missão. Mas se negarmos Jesus indo ao encontro dos nossos
objetivos, planos, ideais, como se esse mundo fosse o mais importante, então Ele nos
negará também diante do Pai quando chegar o nosso dia.
Negamos Jesus por causa do medo, mas Ele disse três vezes: Não tenham medo.
Mas, como estou preso ao mundo, ainda não conquistei a liberdade, penso que esta vida é
tudo, a matéria é a realidade que eu posso ver, tocar, é o “ídolo” que eu tenho acesso. Dessa
forma esqueço-me de Deus, falta fé para perceber a sua presença em tudo e em todos, e,
assim me afasto do ideal.
Não ter medo é sinônimo de fortaleza, de muita fé, demonstra um ser livre, onde
“nada” o prende a esse mundo. É a superação total do ego, a realização plena do despego.
É isso que Jesus espera de nós, que conquistemos a nossa liberdade e que
possamos dar exemplo e convencer os outros a seguir o mesmo caminho.
285
13° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 10,37-42
37Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que
ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. 38Aquele que não toma a sua
cruz e me segue não é digno de mim. 39Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas
quem perde a sua vida por causa de mim, vai achá-la.
Jesus continua falando aos seus discípulos sobre a missão de cada um deles. Ele
quer discípulos que se entreguem ao serviço do Reino na radicalidade.
Quando Jesus diz que quem ama o seu pai, a sua mãe ou seus filhos, mais do que a
Ele, está querendo dizer que os laços familiares não podem ser obstáculos para a realização
do Reino.
Precisamos entender as propostas de Jesus, o desapego dos bens materiais, de
todos os laços que nos prende a esse mundo. Foi desse jeito que Ele viveu e é dessa forma
que Ele quer que todos nós vivamos.
Não conseguiremos ser verdadeiros discípulos de Jesus se não houver uma ruptura
com o “mundo”, ou seja: ter, poder, prazer, riqueza, prestígio... Precisamos nos desligar do
mundo, viver a simplicidade, a humildade, o desapego total. E quem sabe chegar a ponto de
dizer: Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim.
Com isso, os desafios são muitos. Jesus disse: Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la,
mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai achá-la. É preciso que eu me lembre que
este mundo é uma ilusão, que os meus sonhos e ideais são ilusões. Só o Reino de Deus é
verdadeiro, tem sentido.
Se não entendemos, é porque estamos longe de entender, somos escravos do mundo
e dos nossos prazeres. Mas, Ele espera, é paciente. No entanto, é um desafio que Ele jogou
sobre cada um de nós e ainda não entendemos. É por isso que a humanidade sofre, não
procura a justiça e sim os seus interesses.
286
Jesus nos mostra o caminho, nos envia em missão e espera pacientemente o nosso
sim. Ele é bom e nos dá a liberdade de escolha, e respeita essa liberdade. Quando digo sim,
Ele vem correndo ao meu encontro e faz grande festa. Quando continuo a dizer não, Ele
permanece firme do meu lado e chora pelos meus erros, pela minha decisão.
Insistimos em viver em um mundo de ilusão, de “faz de conta”, e por isso sofremos as
consequências dessa escolha. Mundo de ilusão, que todos nós transformamos em uma
verdadeira penitenciaria, por não viver o Evangelho. Sofremos porque queremos e com isso
levamos outros a sofrer: sem casa, sem-terra, sem escola, sem hospital... O egoísmo impera,
colocamos tudo a perder. Por isso perdemos tempo e a nossa vida.
É por isso que Jesus disse: “Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno
de mim”. Com isso Ele quis dizer que viver o Evangelho não é fácil, mas não é impossível, e
“só assim seremos felizes”.
Não existe outro caminho, Jesus é o único, portanto, viva o Evangelho.
40Quem
vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou.
41
Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de
profeta. E quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá uma recompensa de
justo.
42E
quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por ser meu
discípulo, em verdade eu vos digo que não perderá sua recompensa. ”
O mundo daquela época, assim como hoje, estava voltado ao acúmulo, prestígio,
poder, ganância, egoísmo... É no meio dessa sociedade enferma, desestruturada, corrupta,
que os discípulos estavam agindo.
Posso então perguntar: Como estavam sendo recebidos? Para elucidar eu dou como
exemplo a seguinte proposta: Vá pregar no bar da esquina, dizendo que não se deve beber!
É nadar contra a correnteza!
Os discípulos não tinham moradia fixa, não carregavam bens, não eram bem-vistos
pela sociedade e pregavam o Reino de Deus, a chegada da justiça. Mas como pregar a
justiça para uma sociedade injusta?
São como cordeiros no meio de lobos.
Entretanto Jesus declara: “E quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes
pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade eu vos digo que não perderá sua
recompensa. ”
Ou seja, acolher, não importa como, pode ser integralmente ou parcialmente, como é
o caso do copo d’água, mas houve um acolhimento, alguma coisa boa ficou plantada nessa
pessoa, ficou receptivo pela mensagem dos discípulos, quer por isso fazer uma mudança.
287
Então, houve frutos, pois escutou e creu na pregação. Por isso “não perderá a sua
recompensa”.
Acolher é o mesmo que dizer: estou de acordo. Mesmo se o meu acolher é prestar
uma ajuda fraterna, amorosa. Algo aconteceu, teve início uma mudança. É um bom começo.
288
14° Domingo do tempo comum – Ano A
Canto de louvor
Mt 11, 25-30
25Por esse tempo, pôs-se Jesus a dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelastes aos pequeninos.
26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai, e
ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele
a quem o Filho o quiser revelar.
Jesus agradece ao Pai o seu fracasso perante os que retêm conhecimento e poder,
mas exulta de alegria, pois os pequenos conseguem entender a sua mensagem.
Essa oração de Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, vem mostrar o quanto devemos
colocar os planos de Deus totalmente a frente do nosso plano. Devemos aprender com
Jesus, pois Ele se alegrou diante os desígnios do Pai. Sua Palavra foi rejeitada pelos chefes
espirituais do povo, mas acolhida pelas pessoas simples.
É bom notar que Jesus se admirou com o resultado do seu trabalho, foi uma
assombrosa descoberta, talvez esperasse outro final! Mas, o que vale a expectativa Dele?
Apenas aprecia e acolhe louvando a Deus.
De fato, Jesus não tem importância nenhuma para aqueles que têm o coração duro,
para aqueles que pensam que são autossuficientes, para aqueles que pensam que retém o
conhecimento, para aqueles que pensam que os seus planos são os mais importantes. Não,
esses não têm tempo para Deus e se não têm tempo para Deus não terão tempo para o
próximo, principalmente para os pequeninos.
Assim como Jesus louvou a Deus pela acolhida dos pequeninos, hoje a igreja deve
louvar a Deus pelo mesmo motivo. São os pequeninos que têm o coração repleto de fé que
mantém a igreja viva. Não pensem que são os lideres, mas sim os pequenos. Isso me faz
lembrar uma história: Um líder religioso foi preso na China. No momento da prisão ele tinha
em torno de trezentos fiéis. Passou-se trinta anos de prisão, uma tentativa de calar a Igreja
de Jesus Cristo. Quando solto esse líder teve uma grande surpresa. Aberta a porta da Igreja
289
o número de fiéis se multiplicou e muito, agora são mais de dois mil fiéis. Quem manteve a
Igreja viva foram, mais uma vez, os pequeninos.
Jesus compreendeu a vontade do Pai, estava profundamente ligado a Ele. Mas essa
relação não está fechada a dois, pois o Filho inclui a todos aqueles que o ouvem, aqueles
que seguem o seu caminho. Só dessa maneira podemos entrar em comunhão com Deus.
28
Vinde a mim todos o que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei
descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, 30pois o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve”.
Aqueles que retêm o poder, que estão cheios de conhecimento, geralmente impõe
sobre os pequeninos um tremendo fardo. São as leis, os impostos. Enfim tudo é feito para
sufocar os pequeninos.
Isso aconteceu no tempo de Jesus e continua acontecendo hoje. Acontece dentro da
Igreja e fora da Igreja. Todo lugar que existe o poder, existe leis inescrupulosas que
massacram o pequeno. Não vamos nos colocar fora dessa verdade.
No entanto, Jesus mostra-se diferente, assim como são os seus ensinamentos. Quem
adere a ele não pode ser opressor, arrogante e nem se impor com violência. Pelo contrário
devemos ser solidários com os pequeninos. Não devemos colocar pesados fardos nos
ombros dos pequeninos e sim imitar Jesus no caminho do amor e da misericórdia com o
próximo.
Jesus, no seu tempo, convida o povo a se libertar das mãos dos dirigentes religiosos.
O povo estava sendo massacrado pelos impostos dos sábios e inteligentes.
Jesus se referia ao jugo da Tora. Antes a lei era fonte de vida, mas nas mãos dos
doutores da Lei e dos fariseus tornou-se um fardo insuportável. Jesus vem trazer um novo
jeito de viver: a justiça de Deus.
Não pensem com isso que Jesus veio extirpar a Lei, pelo contrário, veio completá-la.
Desde o seu nascimento Jesus se revela aos pobres e oprimidos e a eles abre as portas da
misericórdia, do amor e os convidam a fazer o mesmo.
Hoje, para saber se estou seguindo os passos de Jesus basta olhar com quem estou
caminhando, do lado de quem eu estou.
290
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Pai querido, conduza-me pelo seu caminho. Faça que esse seu servo compreenda os seus
ensinamentos e os coloque em prática. Quero ser seu discípulo, sem ser opressor e
arrogante.
291
15° Domingo do tempo comum – Ano A
O Semeador
Mt 13,1-23
1Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-se à beira-mar. 2Em torno dele reuniu-se
uma grande multidão. Por isso, entrou num barco e sentou-se, enquanto a multidão
estava em pé na praia. 3E disse-lhes muitas coisas em parábolas:
Jesus se encontra em casa com os seus discípulos, ou seja, eles são os destinatários
das mensagens de Jesus. Entretanto, Ele sai da casa e vai em direção do lago, vai ao
encontro do povo. Agora as mensagens são destinadas ao povo que está ali reunido.
A multidão era tanta que foi preciso Jesus se retirar para o acolhimento, a proteção de
uma barca, usando-a como púlpito. Lembremos que a barca significa na Bíblia a Igreja, com
isso podemos concluir que é na Igreja, agindo juntos, em comum união entre Jesus e os
homens, conseguiremos Evangelizar multidões.
Jesus quer alcançar a todos e por esse motivo fala em parábolas, um meio eficaz de
catequese para o povo diversificado que se reunia em sua volta. Uns compreendem, outros
nada compreendem, outros não querem compreender, esses são judeus incrédulos. Mas,
alguma mensagem sempre fica plantada, a semente não morre.
Entretanto, para aqueles que são receptivos a Palavra, aqueles que creem, Jesus
quer infundir coragem, oferecer uma certeza eficaz da missão messiânica, apresentar a
revelação dos segredos do Reino de Deus.
4Eis
que o semeador saiu para semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à
beira do caminho e as aves vieram e a comeram. 5Outra parte caiu em lugares
pedregosos, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco
profunda. 6Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. 7Outra parte,
292
finalmente, caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e a abafaram. 8Outra parte,
finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto, uma cem, outra sessenta e outra trinta.
9
Quem tem ouvidos, ouça! ”
É bom saber, para melhor entender essa parábola, que naquela época a colheita não
era farta. Esperava-se de uma boa colheita a proporção de dez por um. O terreno não era
todo cultivado e semeava-se antes de lavrar a terra. Dessa forma, é compreensível a perda
de tantas sementes.
Portanto, a um insucesso dos esforços do semeador, Cristo contou essa parábola
levando em conta o insucesso aparente da sua missão, pois era o que seus discípulos
estavam pensando. Portanto, há uma crise no ar. Duvidava-se de Jesus.
Por esse motivo Jesus conta essa parábola que é definida como a parábola da
confiança. O sucesso virá certamente, mesmo passando pelo risco do insucesso e do
fracasso.
O Reino de Deus está acontecendo e acontecerá, apesar dos obstáculos e das
dificuldades que encontramos pelo caminho.
Sabemos que há forças contrárias agindo sobre nós, que podem atrapalhar a
construção do Reino de Deus em nós. Na parábola, esses obstáculos são os pássaros que
comem a semente, o terreno pedregoso, os espinhos. Com isso concluímos que alguns se
perderão na caminhada, mas muitos chegarão a alcançar o objetivo que Jesus planejou.
Como Jesus disse na parábola: “Uns deram frutos, cem por um, sessenta por um,
trinta por um”. Com isso Jesus põe em evidência que a sua colheita ficou muito acima das
expectativas da época, que era de dez por um.
Por esse motivo essa é a parábola da confiança, embora possa parecer um fracasso.
Hoje Jesus quer mostrar para nós que o Reino de Deus está acontecendo e continuará a
acontecer, mesmo no meio das tribulações do mundo.
10Aproximando-se
os discípulos, perguntaram-lhe: “Por que lhes falas em parábolas? ”
11Jesus Respondeu: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus,
mas a eles não. 12Pois àqueles que tem, lhe será dado em abundância, mas ao que não
tem, mesmo o que tem lhe será tirado. 13É por isso que lhes falo em parábolas: porque
veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. 14É neles que se cumpre a profecia de
Isaías, que diz:
Certamente haveis de ouvir, e jamais entendereis.
Certamente havereis de enxergar, e jamais vereis.
15
Porque o coração deste povo se tornou insensível:
293
E eles ouviram de má vontade, e fecharam os olhos, para não acontecer que vejam
com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e
assim eu os cure.
16
Mas felizes os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem!
17
Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não
viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram.
295
Meu Deus, perdoa-me por ser um terreno pedregoso, não produzo frutos, demoro a
entender. Estou longe de dar bons frutos e em quantidade e por isso peço a sua ajuda.
Quero ser um discípulo que põe em prática a sua Palavra.
296
16° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 13,24-43
297
O que Deus faz para nós é colocar setas no caminho, nos indicar a direção. Resta a
nós permanecermos de coração sensível e ver as setas, os sinais. Não podemos deixar o
mundo tomar conta da nossa vida, nos escravizar.
31
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é semelhante a um grão de
mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32Embora seja a menor de
todas as sementes, quando cresce é maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto
que as aves do céu se abrigam nos seus ramos”.
298
Esta parábola é análoga a do grão de mostarda. A mensagem que Jesus quis
transmitir é a mesma. Portanto, são parábolas paralelas.
Notem a semelhança: três porções de farinha equivalem a cerca de 42 quilos. Dessa
forma, um punhado de fermento é insignificante diante de toda aquela farinha. O fermento
some na massa, se esconde, não dá para ver, ser notado. Mas, transforma a massa
totalmente.
É assim que age Jesus e é assim que todos nós devemos agir, com humildade,
simplicidade, parecendo nada para os outros, embora exista uma grande força agindo dentro
de nós, que é o Espírito Santo.
Notem que ao divulgar essa parábola, as mensagens de Jesus já estão fazendo efeito
no meio das comunidades. Os pagãos são convertidos e a Igreja se solidifica entre os
homens.
Mas o povo não entende as parábolas, embora nela se revele todo o mistério
escondido e que se torna vivo em Jesus. Nele se realizam as profecias do Antigo
Testamento, assim como se realiza o Salmo 78,2: “Abrirei a boca para ensinar em parábolas;
revelarei coisas ocultas desde a criação”.
Novamente, Jesus estando a sós com os seus discípulos, explica para eles a parábola
do joio. O ambiente é outro, eles têm que olhar para dentro e refletir.
A parábola leva a um contraste entre os filhos da luz e os filhos das trevas.
Aquele que acolhe a Palavra de Jesus é a boa semente e o joio são os que fazem os
outros pecar. O campo é mundo. Quem semeia é o demônio. A colheita é o fim do mundo ou
se preferir o fim dos nossos dias sobre a terra.
Na parábola o inimigo aproveita o momento que os homens estão dormindo,
despreparados, para semear o joio no meio do trigo. O mesmo ocorre em nossa vida, o
demônio aproveita os nossos momentos de fraqueza para plantar em cada um de nós o mau.
299
Cabe a nós estarmos sempre preparados, ou seja, sempre em oração para que assim ele
não nos pegue desprevenido.
Jesus enfatiza o que vai acontecer, não o que está acontecendo.
Hoje vivemos o presente e cabe a nós evangelizar com a nossa vida, com a nossa
palavra. Não devemos julgar, mas sim levar o nosso irmão ao julgamento. Temos que fazer
acontecer à conversão em nós e nos nossos irmãos. Essa é a nossa tarefa no momento. O
futuro a Deus pertence, cabe a ele separar os bons e os maus.
Lembremos que o Juízo final vai acontecer, não interessando mais o crescimento
simultâneo do trigo e do joio, mas sim a sua colheita.
Dessa forma, cada um deve olhar para dentro de si e converter-se fielmente a Jesus,
pois nem sempre nos comportamos como o trigo, às vezes tomamos a forma de joio.
Não é o fato de estar dentro de uma Igreja que acontecerá a salvação, mas sim
fazendo a vontade do Pai.
300
17° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 13,44-52
Estamos diante de duas parábolas paralelas, isto é, tem o mesmo significado e, por
sinal, muito importante, caso contrário Jesus não iria se preocupar em dar dois exemplos.
Jesus está se dirigindo apenas aos discípulos e quer mostrar que o Reino de Deus é o
tesouro mais importante desse mundo, não existe outro.
O importante nessas parábolas é o estado de ânimo daquele que encontra o tesouro.
É este estado de ânimo que todos nós temos que ter na nossa vida diária, estar sempre
alegres, dispostos a evangelizar e viver o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Dessa forma eu posso perguntar: Qual é o seu estado de ânimo hoje?
Lembremos que esse tesouro não está longe de nós, ele está a nossa volta, a nossa
disposição, é só pegar. Assim aconteceu na parábola. O agricultor encontrou o tesouro por
acaso, estava debaixo de seus pés, ao seu alcance. Ele não estava à procura do tesouro,
estava sim preocupado com a sua plantação. Concluímos, portanto que este tesouro é uma
graça de nosso Deus, é um presente para aqueles que trabalham pelo seu Reino, que se
dedicam pela causa da justiça. O trabalho no campo significa o trabalho no Reino.
Outro fato importante que devemos destacar é que o desprendimento total, o
desapego total, não vem antes de encontrar o Reino, mas sim a sua descoberta possibilita
despojar-se alegremente de tudo que nos prende a esse mundo.
Também podemos destacar que Jesus estava se dirigindo aos discípulos chamados
por Ele. Como exemplo tem Mateus que era um cobrador de impostos, ou seja, estava
trabalhando, levando a sua vida normalmente, quando inesperadamente Jesus o chamou.
Foi uma graça, um tesouro que caio em suas mãos. O mesmo aconteceu com Pedro e os
301
outros discípulos que foram convidados a seguir Jesus. Homens que trabalhavam no
“campo”, no mundo e acharam um grande tesouro, que é Jesus e em decorrência o Reino de
Deus.
45
O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de
pérolas finas. 46Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a
compra”.
O mesmo tema, objetivo, continua nessa parábola. Mais uma vez eu destaco a
importância do conteúdo que Jesus quer demonstrar para nós.
Notem, porém, que na primeira parábola o homem encontra o tesouro por acaso,
estava muito próximo e não conseguia ver. Na segunda parábola o homem já estava à
procura de uma pérola preciosa, quando de repente, encontra uma de grande valor. As
outras, diante desta, podem ser jogadas fora, pois é essa que interessa.
Para aquele que está trabalhando pelo Reino, mais ainda não descobriu o seu
verdadeiro valor e para aquele que trabalha no Reino e sabe do seu valor, tem fé madura, e
se entrega mais ainda pela causa da justiça. Vale a pena abandonar tudo e se dedicar de
corpo e alma pelo Reino que vem ao seu encontro como um “Dom”.
É bom destacar que o Reino de Deus vem para aqueles que estão vivendo a justiça,
ou seja, a vida de Jesus, o seu Evangelho. Para esses, aos poucos são revelados os
mistérios do Reino e dessa forma essa vida passa a ter mais sentido. Tudo vem ao seu
tempo. Mais um sinal eu posso destacar: Quem está trilhando pelos passos de Jesus,
encontra a felicidade continua, crescente que tende ao infinito. Dessa forma podemos
concluir que saindo do caminho que Jesus propôs encontraremos a infelicidade, o desânimo,
o caos.
Acredito fielmente que quem já está seguindo os passos do Mestre, já percebeu a
grande alegria da descoberta.
Esse é o caminho que devemos seguir e ser setas para que outros possam nos seguir
também.
Volto a destacar que nessa parábola, Jesus está se dirigindo aqueles que já estão
vivendo as alegrias do Reino, ou seja, já começaram a encontrar os tesouros, a felicidade de
realizar a vontade de Deus. Dessa forma, nessa parábola, Jesus está se dirigindo aos
discípulos que vieram ao seu encontro de livre espontânea vontade, são aqueles que viram
em Jesus o Messias e por isso passaram a segui-lo. Como exemplo tem aqueles discípulos
que antes estavam seguindo João Batista e depois passam a seguir Jesus.
302
47
O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha de
tudo. 48Quando está cheia, puxam-na para a praia e, sentados, juntam o que é bom em
vasilhas, mas o que não presta, deitam fora. 49Assim será no fim do mundo; virão os
anjos e separarão os maus dentre os justos 50e os lançarão na fornalha ardente. Ali
haverá choro e ranger de dentes.
Essa parábola da rede lançada ao mar é uma extensão, continua a dizer as mesmas
mensagens da parábola do joio e do trigo.
Sabemos que vivem homens bons e maus numa mesma sociedade e não podemos
separá-los, eles têm que viver juntos. A nossa função na construção do Reino é modificar o
que não é bom, trazendo-os para Jesus.
No entanto, a liberdade de Deus impera neste mundo e a decisão daqueles que não
querem aderir é respeitada.
Porém, no final dos tempos, os bons serão separados dos maus.
Observemos também que cada um de nós, que têm aparência de bons, pode ainda ter
muita maldade em seu interior, despercebida, escondida. Ora somos bons e em outro
momento podemos ser maus.
Na verdade, temos muito ainda que aprender, mas, cuidado, o fim se aproxima em
largos passos.
Mas se formos perseverantes, continuarmos firmes em nossa fé, apesar dos fracassos
que enfrentamos constantemente; no final, espera por nós o Reino definitivo de Deus. Ou
seja, viveremos o Reino de Deus, aqui, já nesta terra. Seremos felizes, estaremos em
harmonia com Deus e o mundo. Nada faltará para nós, seremos plenos, satisfeitos.
Na primeira parábola Jesus se dirigiu a uma parte dos discípulos, na segunda se
dirigiu aos outros e agora Ele se dirige a todos. Todos têm que ser perseverantes, continuar
firmes na fé, pois a maldade está dentro de cada um. A oração é indispensável, todos têm
que estar sempre atentos, em alerta contra o maligno.
51Entendestes
todas estas coisas? Responderam-lhe: “Sim”. 52Então lhes disse: “Por
isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai
de família que do seu tesouro tira coisas novas e velhas”.
303
Esse texto é a conclusão das parábolas. Note que os discípulos compreenderam a
palavra de Jesus, a revelação do Reino de Deus, mas a multidão ou se preferirem, uma
grande parte dela, nada entendeu.
Dessa forma, os discípulos, ou seja, aqueles que entenderam a mensagem do Reino
de Deus são os novos Mestres da Lei. São novos porque são seguidores de Cristo, portanto
participam da última revelação.
Os discípulos estão em condições de ensinar, passar adiante as mensagens do Reino
e mostrar a continuidade do Antigo Testamento.
Hoje nós somos esses novos discípulos que estão construindo o Reino de Deus nos
corações dos homens. Dessa forma, temos que nos adaptarmos a sociedade a essa nova
realidade das comunidades, pois a justiça do Reino tem que acontecer sempre. As doutrinas
antigas têm que andar juntas com as novas, uma tem que dar continuidade à outra. Temos
que nos adaptarmos ao mundo, falar a sua língua e mostrar que o Reino de Deus está
presente, vivo, no nosso meio. Hoje e sempre.
Temos que levar os nossos irmãos a conversão. Temos que ser instrumentos da
evangelização, seguidores de Cristo, sempre. O nosso objetivo, neste mundo é ir ao
encontro da ovelha perdida, dessa forma estamos sendo colaboradores com a construção do
Reino de Deus.
304
18° Domingo do tempo comum – Ano A
O Banquete da vida
Mt 14,13-21
13Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim
que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. 14Assim que
desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus
doentes.
Depois de Jesus ter recebido a mensagem da morte de João Batista, se dirige numa
barca, para um lugar distante. Ele se retira, pois se vê ameaçado pelo poder de Herodes.
Herodes estava celebrando em meio aos poderosos, onde o povo não tinha vez.
Festejam o seu aniversário e as suas vitórias sobre o povo. Assim, o banquete de Herodes é
um banquete de morte, onde imperam jogos de interesse, egoísmo, poder, ganância,
sistemas que trazem a morte das esperanças populares.
O povo, por sua vez, compreende o que está acontecendo. Herodes acaba de matar
sua esperança de vida, João Batista. Agora acompanham, portanto, sua nova esperança,
Jesus. Saem da cidade, abandonam o lugar de morte e procuram pela vida, esperança.
Segue Jesus, por terra, uma grande multidão. Aconteceu, assim, um novo êxodo, o povo
escravizado, oprimido, marginalizado parte em rumo à liberdade.
Quando Jesus desembarcou e vendo aquela enorme multidão, teve compaixão, ou
seja, estava sofrendo por eles, com eles. Não pensou duas vezes, se colocou a serviço,
curando as suas enfermidades do corpo e principalmente as da alma.
Só quem tem um coração mole, ou seja, totalmente aberto a Deus, consegue sentir,
viver e sofrer com quem sofre. Jesus teve compaixão, sofreu com eles, sentiu na carne os
seus problemas, suas aflições.
Esse é o termômetro que vem indicar o fogo de Deus abrasando o nosso coração.
Coração duro significa não sentir a presença de Deus, do Espírito Santo e se alienar dos
305
problemas do povo, da sociedade. Coração mole é estar ligado ao Espírito Santo,
comprometido com o Reino de Deus.
comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Caiu à tarde. Pressupõe-se que Jesus passou um grande espaço de tempo com
aquele povo, animando-os, curando-os e ensinando sobre o Reino de Deus.
Como já era tarde e o lugar deserto, os discípulos se preocuparam com o povo, pois
eram muitos. Estavam com fome, sede e a noite se aproximava. Pensavam os discípulos que
o melhor jeito de se livrarem do problema era mandá-los embora, que cada um cuide de sua
vida, voltando para casa.
Mas Jesus os põe contra a parede. Ficaram admirados com a resposta de Jesus:
“Dai-lhe vós mesmo de comer”. E agora, o que fazer? Comprometer-se com o Reino de Deus
e encontrar soluções, é ir ao encontro das pessoas, ajudando-as. Entretanto, os discípulos
estavam impotentes diante desta situação. Responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois
peixes” (17).
Jesus, porém, acredita na providência divina. Pede para trazerem os pães e os peixes
e em seguida convida o povo a sentar para comer. Sentar para comer era um gesto que só
as pessoas livres podiam fazer. Não precisam voltar para a cidade onde reina a morte. Jesus
os acolhe e os liberta.
Jesus agradece a Deus e abençoa o alimento e todos comem livremente, à vontade.
Deus dá de graça, Jesus distribui, prolongando essa partilha com os discípulos e hoje
para cada um de nós, seus seguidores.
A gratuidade era tanta que todos comeram e ficaram satisfeitos (20a). Lembremo-nos
da Bem-aventurança: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”
(5,6).
306
Com as sobras que foram doze cestos, significando todos os povos, Jesus vem
mostrar para nós que a solução dos problemas da humanidade é definitivamente a partilha.
307
19° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 14,22-33
O texto de hoje começa com uma frase estranha, onde Jesus obriga os seus
discípulos a entrar na barca. É a única vez que essa palavra, “obrigar”, aparece no
Evangelho de Mateus.
Partem para o outro lado do mar, terra de pagãos. Essa é a nova missão dos
discípulos, partilhar a boa nova, ir ao encontro dos mais necessitados.
Mas, como deveriam agir, comportar-se, exercer essa missão? Ora, na barca, juntos,
ou seja, na Igreja!
Obrigar tem a conotação de que uma vez ciente da existência do Reino, uma vez que
entenderam que Jesus é o Mestre, o Filho de Deus, pois presenciaram o grande milagre da
partilha; agora eles têm a obrigação de passar adiante tudo o que aprenderam. Não podem
mais esperar, ficar de braços cruzados, o conhecimento foi grande. Não dá para continuarem
sendo os mesmos!
Feito isso, Jesus subiu à montanha para rezar. A noite chega e lá estava sozinho. A
atitude de Jesus, de se pôr em oração, conversar com o Pai, de agradecer, de pedir ajuda,
de se humilhar perante o Pai, é um exemplo que todos nós devemos seguir, sempre.
A sua missão estava correndo conforme Deus planejou. Tudo estava acontecendo no
seu tempo. Certamente Jesus orou pelos seus discípulos que partiram em missão, não vai
ser fácil, enfrentarão inúmeros desafios, pois estão se defrontando com os objetivos do
mundo. É como remar contra a correnteza, não pode parar, e se isso acontecer volta tudo
para trás. Tem que recomeçar tudo de novo.
É por isso que nós temos que ser perseverantes, não desanimarmos nunca.
308
24
O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas
ondas, pois o vento era contrário. 25Na quarta vigília da noite, Ele dirigiu-se a eles,
caminhando sobre o mar. 26Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar,
ficaram atemorizados e diziam: “É um fantasma! ” E gritaram de medo. 27Mas Jesus
lhes disse logo: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”.
Jesus orou, pois sabia que os problemas a serem enfrentados são muitos.
Realmente, não muito longe dele, os discípulos estão passando por dificuldades. A
barca era agitada pelas ondas, pois o vento estava contrário.
Portanto, a barca simboliza a Igreja, e o vento contrário são os obstáculos que
encontramos na evangelização, na implantação do Reino de Deus.
Mas, não estamos nesta caminhada sozinhos. Deus está sempre conosco, do nosso
lado. Realmente, é o que aconteceu com os discípulos, pela quarta vigília da noite, ou seja,
de madrugada, Jesus vai ao encontro deles, mas andando sobre as águas. Note, porém que
a barca não estava tão longe assim de onde partiu, pois Jesus foi andando a pé e logo os
alcançou. Concluo que estar na barca sem Jesus, sem a sua ajuda, navegaram muito pouco,
quase nada. Parece que tudo está contra eles, conspirando para derrotá-los. Mas com Jesus
caminham sempre, não importam os obstáculos, conseguem vencer a todos. O mesmo
acontece conosco em nossa Igreja, hoje. Com Jesus somos fortes, invencíveis, sem Jesus
nada somos.
Quando os discípulos finalmente observam a figura de Jesus, ficam com medo,
aterrorizados e pensam que é um fantasma! Observe que esse risco nós também sofremos.
Quantas vezes não captamos a presença de Jesus no nosso meio? Principalmente nas
horas mais difíceis, Ele está do nosso lado, em Espírito. É Ele que nos dá forças para
continuarmos firmes, com fé, até a execução do objetivo final.
Jesus vem, então, tranquilizar, dar coragem e pede para os discípulos não ter medo.
Ele tudo pode, tem poder até mesmo sobre as forças mais terríveis. Temos que confiar nele,
isso é indispensável, caso contrário falharemos na nossa missão.
28Pedro,
interpelando-o, disse: “Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro
sobre as águas”. 29E Jesus respondeu: “Vem”. Descendo do barco, Pedro caminhou
sobre as águas e foi ao encontro de Jesus. 30Mas, sentindo o vento, ficou com medo
31Jesus estendeu a mão
e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me! ”
prontamente e o segurou, repreendendo-o: “Homem fraco na fé, por que duvidaste? ”
32Assim que subiram ao barco, o vento amainou. 33Os que estavam no barco
309
Mas a nossa falta de fé é grande, duvidamos constantemente, é próprio do ser
humano. É por isso que Pedro quer uma prova, e diz: “Senhor, se és tu, manda que eu vá ao
teu encontro sobre as águas. ”
Jesus, então pede para ele vir, dá uma prova para ele, mas exige fé, coragem. Pedro
sai ao seu encontro caminhando sobre as águas, mas a sua fé é pouca, o vento é forte e
logo ele afunda. Jesus então diz, depois de salvá-lo: “Homem fraco na fé, por que
duvidaste? ”
Pedro quer ir ao encontro de Jesus, quer imitá-lo, fazer o mesmo que Jesus faz, mas
não tem muita fé e logo deixa ser levado pelos obstáculos do caminho. Isso também não
acontece conosco?
Na verdade, enquanto estamos tentando imitar os passos de Cristo e deixamos Ele
nos usar, que seja feita a sua vontade e não a minha; assim estou vencendo, caminhando
sobre as águas. Mas, quando penso em mim, nas minhas qualidades de nadador e sentindo
o impacto do vento, começo a afundar. Sou grande com Jesus, nada sem Ele.
Jesus, porém, foi ao encontro de Pedro e segurou-o pela mão. Ao entrar na barca o
vento cessou. Ele sempre nos dá a mão e oferece para todos nós a segurança da barca, que
é a Igreja.
Depois da tempestade. Vem a bonança e todos se prostraram diante de Jesus
reconhecendo-o como o verdadeiro Filho de Deus.
310
20° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 15,21-28
21Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia. 22E eis que uma
cananéia, originária daquela terra, gritava: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim!
Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio”.
Jesus e seus discípulos estavam passando por um território pagão. Foi quando, uma
Cananeia, ou seja, uma pagã, foi ao seu encontro pedindo socorro. Ela queria
desesperadamente uma cura, não para ela, mas para a sua filha que estava sendo
atormentada por um demônio.
Analisando a cena, podemos claramente concluir que essa mulher já conhecia Jesus,
ou ouviu falar dele e muito bem. Conhecia muitos dos milagres que Jesus efetuou, quem
sabe, esteve presente em alguns deles. O fato é que ela vai ao encontro de Jesus, certo de
que a sua filha vai ser curada.
Mulher de fé, muita fé, uma convertida, podemos dizer. Uma entre tantas que recebeu
a boa semente e deu frutos. Essa semente, porém, não era para cair sobre essa terra, mas
lá estava ela. Acolheu a mensagem de Jesus, guardou em seu coração e soube fazer uso
dela.
Evangelizar é seguir os passos de Jesus. É através do nosso bom exemplo que
converteremos muitas pessoas para Jesus, até mesmo aqueles que não conhecemos, que
viram de longe as nossas atitudes, o nosso modo de ser, de agir. Esses foram tocados pelo
exemplo e procuram nos seguir e, por conseguinte seguir a Cristo.
Lembremos, portanto, de dar um bom exemplo de vida, sempre, não importa o lugar,
seja dentro da Igreja ou fora dela. Não podemos de forma alguma ser hipócritas, falar uma
coisa e fazer outra totalmente diferente.
311
23
Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe
disseram com insistência: “Despede-a, ela nos persegue com os seus gritos”.
Jesus, porém, nada responde a essa mulher. Mas os seus discípulos ficam
incomodados com aquela situação. Talvez estejam indignados por ser uma pagã e cansados
com a insistência da mulher, pedem para Jesus despedi-la.
Imaginem a cena. Uma mulher, aos gritos, perseguindo a caminhada de Jesus e seus
discípulos. Uma pessoa que no primeiro momento, não merece credito algum. Para eles, ela
estava perturbada, atrapalhando a caminhada.
Nesse trecho do Evangelho, podemos destacar a força que nós temos em nossas
mãos, a oração. Somos como aquela mulher, pecadora, apegada aos ídolos desse mundo,
sendo o maior deles o dinheiro e quando fazemos um pedido ao nosso Deus, nos colocamos
no mesmo lugar da Cananeia. Não somos dignos de pedir, de perturbar, mas pela insistência
de nossas preces Ele nos atende. Apesar de não sermos dignos de uma graça, Ele olha para
nós e resolve os nossos problemas.
Esse é o caminho: oração insistente, perseverante, ter fé.
Quando os discípulos pedem para Jesus despedi-la é o mesmo que pedir para Jesus
acolher o seu pedido logo, depressa, pois ela estava aborrecendo. Faça logo à vontade dela,
assim ela vai embora e podemos caminhar em paz.
Talvez os discípulos não estivessem comovidos com os problemas dela, mas
perturbados pela insistência. Não importa o que eles pensaram, mas sim o resultado obtido.
Esse é o caminho, sabemos que não somos dignos, mas temos que ser
perseverantes em nossos pedidos. Fazendo isso certamente seremos atendidos.
24Jesus
respondeu-lhes: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de
Israel. ” 25Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: “Senhor, ajuda-
me! ” 26Jesus respondeu-lhe: “Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. ”
─ 27“Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as
migalhas que caem da mesa de seus donos...” 28Disse-lhe, então, Jesus: “Ó mulher,
grande é tua fé! Seja feito como desejas. ” E na mesma hora sua filha ficou curada.
312
Ele tinha uma missão, foi enviado a esse mundo apenas aos israelitas.
Mas a mulher insiste e pede ajuda novamente. Então Jesus responde: “Não convém
jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. ”
Os pagãos eram considerados impuros, cães que naquela época não tinham casa,
dono, para os israelitas. Na sua maioria viviam perdidos. Da mesma forma os pagãos, não
acreditavam em um só Deus, estavam perdidos na fé, podemos até dizer: sem donos.
Então a mulher sabiamente responde a Jesus: “Certamente, Senhor, replicou ela; mas
os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...” Então,
diante desta resposta, Jesus responde com muita alegria: “Ó mulher, grande é a tua fé! Seja
feito como desejas. ”
Jesus priorizou o povo Israelita. Isso não significa excluir os outros povos! Se na
casa dela o pão era destinado as pessoas, as crianças, isso não implica que os cachorros
não podem comer o resto, ou seja devam morrer de fome.
Não, Jesus veio para aqueles que creem nele. Lembre-se de que a mulher que era
considerada impura mostrou-se mais pura do que os discípulos ou nós. Com certeza essa
Cananéia passou a ser mais uma discípula de Jesus.
Com tudo isso podemos concluir que através da nossa fé, insistência, seremos bem
vistos aos olhos de Jesus e poderemos converter a muitos.
313
21° Dom do tempo comum – Ano A
Mt 16,13-20
314
14
Disseram: “Uns afirmam que é João Batista, outros que é Elias, outros, ainda, que é
Jeremias ou um dos profetas”.
Neste momento em que Jesus toma a decisão de ir para Jerusalém, onde ia ser
condenado, sofrer a Paixão e morrer na cruz. Ele quer saber do povo e dos seus amigos se o
seu trabalho está rendendo frutos.
Jesus está tão ligado ao povo e é tão humano que os homens têm uma imagem
distorcida do Mestre. Ele é o Filho do homem, filho de Maria e José, é feito de carne e osso
como todos nós, então, por esse simples motivo, o tratavam como um de nós.
Respondiam que Jesus era João Batista, por não conhecerem João, apenas ouviu
falar dele; e por apenas agora conhecerem Jesus, não havia separação, para eles era a
mesma pessoa. Outros ainda iam mais longe, já viam em Jesus um ser superior, já não
estava entre os mortais, talvez fosse Elias ou Jeremias ou ainda um dos profetas.
Portanto, a diversidade de opiniões era grande, mas nenhum realmente conhecia
Jesus e principalmente a sua missão.
Sabiam muitos deles, que Jesus não era uma pessoa comum, não era como eles.
Esse é um ponto positivo, mas, não iam mais além. Jesus é um ser que para eles estava
aqui para ajudá-los, defendê-los. Jesus é como um antigo profeta, apenas.
Hoje, as respostas dadas são as mais variadas, ainda não entendemos o projeto de
Jesus. Essa resposta nos fará optar por aderir ou rejeitar Jesus.
E nós, qual é a nossa resposta?
15Então
lhes perguntou: “E Vós, quem dizeis que eu sou? ” 16Simão Pedro,
respondendo, disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! ” 17Jesus respondeu-lhe:
“Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou sangue que
te revelaram isso, e meu Pai que está nos céus.
Depois dessas respostas, agora Jesus se volta para os discípulos, e faz a mesma
pergunta a eles.
Embaraçados, sem saber o que dizer. Permanecem mudos. Pedro, então, rompe o
silêncio e responde com muita certeza: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! ”
Essa é a resposta que só podemos dar na fé, não é para qualquer um que Deus faz
essa revelação, mas sim para quem ele quer revelar.
Pedro foi agraciado, mas não foi à toa, sem motivo. Ele procurou de todas as formas
para entender “quem é Jesus”, e ele o fez comprometendo-se com a proposta de Jesus, a
justiça do Reino. Pedro procura estar em sintonia com o Pai.
315
E nós, hoje, conhecemos Jesus?
Estamos trabalhando para a evangelização?
Lembre-se, só conhece Jesus quem vive Jesus!
Pedro, na sua simplicidade procurou conhecer Jesus, lutou muito para entendê-lo,
largou família e tudo que possuía para seguir o Mestre.
Nós devemos fazer o mesmo, colocar os planos de Deus em primeiro lugar em nossa
vida; procurar seguir Jesus de todas as formas possíveis e assim, quem sabe um dia,
poderemos dizer como Pedro disse: Eu conheço Jesus.
O auge de nossa vida é poder repetir as palavras de Paulo: “Não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim”. Ou seja, fazer a vontade de Jesus de tal forma que nos apagamos,
aniquilamos para que Cristo renasça em cada um de nós. Assim seremos felizes, estaremos
em paz, finalmente encontraremos o paraíso.
18Também
eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as
portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos
Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será
desligado nos céus”. 20Em seguida, proibiu severamente aos discípulos de falarem a
alguém que ele era o Cristo.
Jesus chama Pedro para ser o líder da Igreja, ele vai ser a rocha que vai sustentar a
Igreja. Mas Pedro é medroso, fraco, tem pouca fé; entretanto, é transformado em rocha pelo
poder de Jesus.
Conosco acontece o mesmo, somos fracos e medrosos, mas pelo poder de Jesus, nos
tornamos fortes e vencedores; onde as portas do inferno, ou seja, a maldade não achará
repouso em nós. Na fé, todos nós somos escolhidos, somos verdadeiros filhos de Abraão e
nada nos afastará de Deus. Jesus já venceu o inferno por nós. Portanto a Igreja não terá fim,
permanecerá sempre, enquanto existir o mundo.
A Igreja tem as chaves do Reino dos céus, ou seja, o direito de ensinar claramente o
que é certo ou errado. O grande objetivo é levar os homens ao julgamento, ao seu próprio
julgamento, assim como fez Jesus.
Nós somos a Igreja, e sobre essa fragilidade que Deus vai agir. Portanto, em Deus
somos fortes e com isso temos a obrigação de levar uma vida santificada. Assim agindo
levaremos o nosso próximo ao julgamento e em consequência desses atos, eles nos
seguirão; esse é o verdadeiro poder de ligar e desligar que se esconde sobre cada um de
nós.
Nós somos os chamados, os escolhidos. Temos que permanecermos firmes na fé, na
Igreja. Quanto ao juízo final, pertence só a Deus.
316
Meditar: O que o texto fala para mim?
Quem é Jesus para mim? Aceito Jesus como o Messias, o seu caminho que leva à Cruz, ao
martírio, à entrega da vida, à renúncia de si mesmo? Sinto-me em comunhão com a vida de
fé de minha comunidade? Já me senti desligado dela?
317
22° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 16,21-27
21A partir dessa época, Jesus começou mostrar aos seus discípulos que era
necessário que fosse a Jerusalém e sofresse muito por parte dos anciãos, dos chefes
dos sacerdotes e dos escribas, e que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia.
318
Agora podemos compreender essa necessidade de Jesus querer ir a Jerusalém. Só é
compreendido pela fé.
A oração é um ponto muito forte, só através dela podemos compreender o mistério da
necessidade da morte de Jesus Cristo.
22
Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita,
Senhor! Isto jamais te acontecerá! ” 23Ele, porém, voltando-se para Pedro, disse:
“Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as
coisas de Deus, mas dos homens! ”
Deparamo-nos com a fragilidade do ser humano. Um pouco antes, Pedro faz uma
revelação da messianidade de Jesus e agora se recusa a acolher um Messias sofredor.
Não é diferente do nosso modo de pensar, hoje. Eu aceito Jesus, mas segundo os
critérios do mundo! Também é para nós um escândalo a humilhação o final da vida de Jesus
e sua morte na cruz.
Não nos escandalizemos, mas é esse o nosso comportamento. A nossa fé é
submetida as mais diversas tentações: poder, privilégio, triunfo... Mas o que fazemos pelos
pobres, marginalizados, simples...?
Agora imagine a cena: Jesus olhando diretamente para Pedro, ou se preferir, para
você e diz: “Sai da minha frente! Para trás, Satanás! ”
É novamente o desenrolar da terceira tentação de Satanás no início do ministério de
Jesus (“Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorará o Senhor teu Deus, e só a ele servirás
(4,10) ”). É a encarnação de Satanás, o mundo prevalece, tenta afastar Jesus do caminho
que Deus propôs.
Coloquemo-nos no lugar de Pedro: Antes sendo usado pelo Espírito Santo e agora
usado pelo adversário! Por isso Jesus foi duro com ele e disse: “Sai da (minha) frente! Para
trás (de mim), Satanás! ” É onde Pedro deve estar, seguir os passos de Jesus e não querer
ficar a sua frente.
Esse é um momento de extrema solidão para Jesus. Ninguém o compreende. Seguir
Jesus é passar pelos mesmos problemas que Ele passou. Seguir Jesus é ser
incompreendido, é estar só, é ser rejeitado até mesmo pelos familiares! É ser um louco
nesse mundo de ilusões.
A experiência que Pedro passou é a experiência que cada um de nós certamente vai
passar se nos voltarmos a Jesus. De um lado nós nos revelamos como seu discípulo e
somos agraciados com o dom da fé e por isso somos bem-aventurados. Por outro lado,
estamos sujeitos às tentações do mundo, caímos nas armadilhas do tentador e recusamos
em carregar a nossa cruz. É por isso que precisamos uma correção constante, quem sabe
com palavras duras e dessa forma sermos novamente reconduzidos ao caminho que Jesus
nos indicou, o caminho da cruz.
319
24
Então disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome sua cruz e siga-me. 25Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai
perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 26De fato,
que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida? Ou que
poderá o homem dar em troca de sua vida? ”
27
Pois o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então
retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento.
Você é livre para escolher, se quer ou não seguir Jesus, É sua a resposta. Mas se a
sua resposta for sim, então, “Negue-se a si mesmo. ”
É romper com todos os laços que ligam o ser humano a ele mesmo. A sua vida não
pode girar em torno de você, mas sim do outro, do próximo. Portanto, desejos pessoais,
gosto individual, prazer, projetos pessoais... Tudo deve ser deixado em segundo plano.
Uma entrega livre que vem trazer alegria.
O que Jesus pede para nós é: Ser pobre. Desapegar de tudo que nos prende a essa
terra.
Portanto, aquele que faz da vida uma busca egoísta, a todo custo querendo aproveitar
e gozar, esse acabará perdendo-a. No entanto, aquele que parece que perde, doando-se
para o outro, acaba encontrando a vida em sua plenitude em decorrência a vida eterna.
Só o amor permanecerá, tudo mais acabará.
Na verdade, só ganhamos, quando doamos. Jesus foi um homem pleno, perfeito, pois
se doou até o fim.
Peçamos a graça de Deus para viver essa verdade, pois fora dessa graça é
impossível. Com isso, insisto que a oração perseverante, constante é primordial para
alcançar a graça.
Continuando esse modo de pensar, no versículo 26 se enfatiza o que já foi dito
anteriormente. O mundo e o Espírito estão em lados contrários. Nesse sentido, tudo que vem
do mundo (riquezas, bens...), são insignificantes para a outra vida (eterna) que Jesus nos
oferece.
Podemos concluir que os bens desse mundo se tornam um mal quando esses são
usados para nos afastar de Jesus.
Quem procura fazer o bem verá Jesus em sua glória.
320
Vivo a minha religião de acordo com a vontade do mundo ou a vontade de Jesus? Sou,
muitas vezes, uma pedra de tropeço para a realização do Reino de Deus? Dou mais
importância a essa vida terrena, passageira ou a vida que a de vir?
321
23° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 18,15-20
15“Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. 16Se
não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão
seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. 17Caso não lhes der ouvido,
dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvido, trata-o como um gentio ou o
publicano.
Jesus está a caminho para Jerusalém. Ele quer a salvação de todos. Mas, e aqueles
que não querem se salvar? Esses são convidados a se retirarem da comunidade. Entretanto,
não antes de passarem por várias tentativas para conservá-los unidos a nós.
Lembremos que nós fazemos parte da comunidade, da Igreja e por extensão somos
aqueles que têm o poder de ligar e desligar. A responsabilidade é nossa de reconquistar um
irmão que está perdido, no pecado.
Devemos ter criatividade, usar todos os meios possíveis para converter o nosso irmão.
Jesus, no primeiro momento, propõe três graus de intervenção, mas tudo é válido para
trazer de volta a ovelha perdida. São eles: A primeira exige certo cuidado, reserva para não o
humilhar. No segundo momento deve-se estar presente duas ou mais pessoas para dar mais
peso, testemunha para se resolver o problema. Em seguida devemos levá-lo a Igreja. Se por
fim ainda recusar a deixar o erro, falido “todas” as tentativas possíveis, então poderemos
considerar essa pessoa não cristã, um pagão. Não pertence mais a nossa comunidade, a
Igreja de Jesus Cristo,
Esse é um caso extremo, pois é a nossa obrigação usarmos todos os meios possíveis
para trazer as pessoas afastadas à conversão. Essa é a nossa missão, obrigação.
322
18
Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto
desligardes na terra será desligado no céu.
Essa frase Jesus já falou para Pedro (16,19) e, portanto, estendido para todos nós.
Agora se percebe claramente nessa passagem a veracidade de tal fato.
Eu gosto de citar a passagem do texto da “Mulher adúltera” (João 8), pois vem mostrar
para nós que toda a comunidade já havia desligado a mulher pecadora do meio deles, a tal
ponto de tirar a sua própria vida.
Mas, Jesus intercede por ela dizendo: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o
primeiro a lhe atirar uma pedra” (João 8,7b).
Não precisou mais do que isso. Todos foram se retirando aos poucos e a mulher ficou
só ao lado de Jesus.
Então Ele diz: “Mulher, onde estão os que te acusaram? Ninguém te condenou? ”
Respondeu ela: “Ninguém Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não
torne a pecar” (João 8, 10-11).
Observem a responsabilidade que todos nós temos em nossas mãos! Se um irmão
vem a pecar, eu posso tomar a decisão de me afastar dele, rejeitá-lo e fazendo isso
automaticamente estou desligando-o. E, é isso que nós fazemos de uma forma natural como,
por exemplo: com um viciado qualquer, seja na bebida, nas drogas, no sexo, no ter, no
poder, dinheiro... É fácil desligar uma pessoa do nosso meio social, tirar o peso de nossas
costas, de nossas comunidades; é o que mais fazemos! Mas, ligar, isso é difícil. Só quem
ama verdadeiramente compreende e sabe ligar.
19
Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre
qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que estás nos
céus. 20Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no
meio deles. ”
Nesses versículos Jesus vem mostrar para nós que o céu e a terra estão em sintonia,
ligados através da oração, ainda mais se for feita entre duas ou mais pessoas.
Essa é uma promessa de Jesus que devemos acreditar sem vacilar. É claro que não
vamos pedir coisas absurdas que não vão trazer nada de bom para nós, nesses casos
certamente não seremos atendidos. Mas se o nosso pedido visa o bem comum, então
seremos atendidos. Jesus disse e eu acredito fielmente.
323
Portanto, todas as vezes que estivermos reunidos em seu nome, Ele estará no nosso
meio, nos ajudando, nos fortalecendo, nos animando.
Lembremos que Jesus estará no meio de nós, sejamos: dois, três ou mais. Não
simplesmente de uma forma mental, Ele estará realmente presente no nosso meio. É a
oração que faz essa ligação e Jesus vem ao nosso encontro.
Peçamos, portanto a presença de Jesus sempre, em nossos encontros. Que Ele
sempre faça parte do nosso grupo, esteja sempre conosco.
324
24° Domingo do tempo comum – Ano A
Perdão ilimitado
Mt 18,21-35
21Então Pedro chegando-se a ele, perguntou-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar
ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes? ” 22Jesus respondeu-lhe: “Não te
digo até sete, mas até setenta sete vezes. ”
325
23
Eis porque o Reino dos Céus é semelhante a um rei que resolveu acertar contas com
os seus servos. 24Ao começar o acerto, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos.
25
Não tendo este com que pagar, o senhor ordenou que o vendessem, juntamente com
a mulher e com os filhos e todos os seus bens, para o pagamento da dívida. 26O servo,
porém, caiu aos seus pés e, prostrado, suplicava-lhe: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei
tudo’.
27
Diante disso, o senhor, compadecendo-se do servo, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
28
Mas quando saiu dali, esse servo encontrou um dos seus companheiros de servidão,
que lhe devia cem denários e, agarrando-o pelo pescoço, pôs-se a sufocá-lo e a
insistir: ‘Paga-me o que me deves’. 29O companheiro, caindo aos seus pés, rogava-
lhe: ‘Dá-me um prazo e eu te pagarei’. 30Mas ele não quis ouvi-lo; antes, retirou-se e
mandou lançá-lo na prisão até que pagasse o que devia. 31Vendo os seus
companheiros de servidão o que acontecera, ficaram muito penalizados e, procurando
o senhor, contaram-lhe todo o acontecido. 32Então o senhor mandou chamar aquele
servo e lhe disse: ‘Servo mau, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me rogaste.
33Não devias, também tu, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão
de ti? 34Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse
toda a sua dívida. 35Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não
perdoar, de coração, ao seu irmão. ”
326
Meditar: O que me diz a Palavra?
Eu sei qual é o significado de “perdoar setenta vezes sete” e coloco em prática em minha
vida? Para mim, qual é o significado do perdão? Quantas vezes recebi o perdão e não
soube fazer o mesmo, perdoar?
327
25º Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 20,1-16
1Porque o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo
2Depois de combinar com os
para contratar trabalhadores para sua vinha.
trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. 3Tornando a sair pela hora
terceira, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e disse-lhes ele: “Ide,
também vós para a minha vinha, e eu vos darei o que for justo”. 5Eles foram.
Tornando a sair pela hora sexta e pela hora nona, fez a mesma coisa. 6Saindo pela
hora undécima, encontrou outros que lá estavam e disse-lhes: “Por que ficais aí o dia
inteiro desocupados? ” 7Responderam: “Porque ninguém nos contratou”. Disse-lhes:
“ide, também vós, para a vinha”.
8Chegada à tarde, disse o dono da vinha ao administrador: “Chama os trabalhadores e
paga-lhes o salário começando pelos últimos até os primeiros”. 9Vindo os da hora
undécima, receberam um denário cada um. 10E vindo os primeiros, pensaram que
receberiam mais, mas receberam um denário cada um também eles 11Ao receber,
murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12“Estes últimos uma hora só e tu os
igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e do calor do sol”. 13Ele, então, disse a
um deles: “Amigo, não fui injusto contigo. Não combinaste um denário? 14Toma o
que é teu e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. 15Não tenho o direito de
fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom? ”
16“Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. ”
328
um pedaço de terra? É natural pensarmos que o egoísmo aflorou, tomou conta de quase
todos. A partilha não estava acontecendo. O ideal dos israelitas foi ao chão.
Com isso, concluímos que o povo judeu não deu conta da vontade de Deus,
prevaleceu à ganância, a matéria. Sendo assim, não eram mais privilegiados por Deus.
Agora todo povo tem direito a salvação.
Esse privilégio foi derrubado no desenrolar dessa parábola. Ou seja, os primeiros, que
eram os judeus, receberam o mesmo pagamento do que os últimos que são representados
pelos não judeus. Todos têm o mesmo direito.
Outra forma de entendermos essa parábola é em relação a nossa caminhada na
Igreja, a busca pelo Reino de Deus.
Uns se voltam para Deus muito cedo, trabalham pelo Reino durante toda a vida.
Ótimo, terá a sua recompensa. Outros, porém abraçam o ideal cristão com o passar dos
anos, uns mais cedo, outros mais tarde. Até mesmo no último momento de sua vida. É o
exemplo dado por Jesus quando estava preste a morrer na Cruz. O bom ladrão se arrepende
no último momento: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” Jesus
respondeu-lhe: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23,42-43).
Não existe mais privilégio, agora é tempo de misericórdia, a humanidade encontra-se
em idêntica posição de chamado a conversão e a fé.
Deus dá a salvação a todos e de graça, basta ter fé!
A parábola termina com a seguinte citação: “Assim, pois, os últimos serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos” (16). É uma reviravolta de posição, ou seja, a Igreja
substitui o povo eleito, os judeus. Agora todos são escolhidos, mas, repito, depende da fé.
Jesus vem ao encontro de todos, principalmente dos rejeitados, dos pobres
marginalizados, da ovelha perdida. Ele quer salvar a todos.
Ele se mostra justo, bondoso, misericordioso com os últimos, embora não sendo
injusto com os outros, os primeiros.
330
26° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 21,28-32
28Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: “Filho,
vai trabalhar hoje na vinha”. 29Ele respondeu: “Não quero”; mas depois,
30
reconsiderando a sua atitude, foi. Dirigindo-se ao segundo, disse a mesma coisa.
Este respondeu: “Eu irei, senhor; mas não foi. 31Qual dos dois realizou a vontade do
pai? ” Responderam-lhe: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo
que os publicanos e as prostitutas estão vos precedendo no Reino de Deus! 32Pois
João veio a vós, num caminho de justiça, e não crestes nele. Os publicanos e as
prostitutas creram nele. Vós, porém, vendo isso, nem sequer reconsiderastes para crer
nele.
Esta parábola dos dois filhos é exclusiva de Mateus. Ele quer mostrar a todos a justiça
do Reino. Nessa parábola, Jesus está se dirigindo aqueles que conduzem o povo, a
sociedade. São eles os sacerdotes, que representam o poder religioso e os anciãos do povo,
aqueles que mantêm o poder econômico.
É interessante notar que em outros momentos, eram os sacerdotes que pressionaram
Jesus a dar uma resposta. Nessa parábola, porém, é Jesus quem toma a iniciativa. Ele os
provoca, são forçados a se posicionarem e em consequência emitem sua própria sentença.
Jesus prepara, sabiamente, uma cilada, os encurrala de tal forma que não têm saída. Conta-
lhes então a parábola dos dois filhos:
Um homem tinha dois filhos e uma vinha. Logo cedo se dirigiu ao primeiro filho e pede
para ir trabalhar com ele na vinha. Entretanto este responde que não quer ir, mas se
arrepende e vai. Ao outro filho, o pai fez a mesma pergunta, este responde prontamente,
sem vacilar: “Eu vou.” Mas, não foi.
331
A parábola é clara. O primeiro filho é representado por todas as pessoas que são
marginalizadas: prostitutas, cobradores de impostos... Não vamos nos esquecer de que
Mateus foi um cobrador de impostos, portanto se inclui nestes que disseram não e depois
foram trabalhar pelo Reino.
Mas, os religiosos decretaram que esses não têm parte no Reino, mas sim, eles os
“escolhidos”. Estavam certos que estão cumprindo a vontade de Deus. Talvez um dia
trabalharam pelo Reino, mas foi apenas um dia. No entanto Deus quer um compromisso
muito maior. Quando Ele nos convida é para trabalhar sempre, todos os dias, todas as horas.
Depois de contar essa parábola, Jesus questiona os sacerdotes e anciãos: “Qual dos
dois fez a vontade do Pai? ”.
Não dá para fugir, não tem outra resposta. Comprometer-se com o Reino não é ficar
somente com palavras bonitas, fachada. Tem que fazer cumprir a justiça do Reino,
comprometer-se com ele, arregaçar as mangas e trabalhar, mostrar serviço, fazer justiça.
A esses Jesus disse: “João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os
publicanos, porém, e as prostitutas creram nele”. Concluímos, portanto, que são esses que
disseram sim e não foram trabalhar pelo Reino. Com isso, Jesus dá um desfecho muito forte:
“Eu vos asseguro que os cobradores de impostos e as prostitutas entrarão no Reino de
Deus, mas vós não”.
Mesmo antes de sua morte, Jesus cumpriu essa promessa na figura do bom ladrão
que foi crucificado ao seu lado. Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Esse
disse não a vida toda e agora no último minuto de vida, arrependido, disse sim. Entrou
primeiro no Reino.
332
27° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 21,33-43
33Escutai outra parábola. Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com
uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso, arrendou-a a
vinhateiros e partiu para o estrangeiro. 34Chegada a época da colheita, enviou os seus
servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos. 35Os vinhateiros, porém,
agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro.
36Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, mas eles os
trataram da mesma forma. 37Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: Irão poupar
o meu filho. 38Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: ‘Este é o herdeiro:
vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança’. 39Agarrando-o, lançaram-no
para fora da vinha e o mataram. 40Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer
com esses vinhateiros? ” 41Responderam-lhe: “Certamente destruirá de maneira
horrível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que entregarão os
frutos no tempo devido”. 42Disse-lhes então Jesus: “Nunca lestes nas Escrituras:
‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; pelo Senhor foi
feito isso e é maravilha aos nossos olhos’?
43Por
isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que
produza seus frutos”.
333
do lugar. Também era de conhecimento de todos que na morte do proprietário que não tem
herdeiros, as terras eram passadas para as mãos do primeiro ocupante.
Sabendo que esses fatos eram de conhecimento de todos, Jesus conta essa
parábola.
Notem também, que Jesus, mais uma vez quer mostrar o seu fim trágico, o seu
destino. Mas, deixou bem claro que Ele é o Filho de Deus e o terrível mal que eles estavam
para praticar.
Sem dúvida são os momentos finais da existência de Jesus sobre a terra.
A parábola é clara: Deus enviou o seu Filho como última e definitiva possibilidade de
Salvação para Israel.
O relato da história é sintetizado nesta parábola. Deus, representado pelo proprietário
da vinha, vem mostrar para nós que se dedicou extremamente pela salvação do povo. Ele
cercou a vinha, pôs no centro uma torre de vigia e até cavou um lugar para pisar as uvas.
Com isso, a vinha tem condições de dar bons frutos.
Podemos então perguntar: Que frutos são esses que Deus espera de nós?
Certamente Ele não quer nada para si e espera os frutos da Justiça e Direito.
Na parábola, chegando o tempo da colheita, o proprietário enviou empregados para
receber os frutos (talvez os profetas enviados antes do exílio). Mas foram recebidos com
desprezo, ódio. Foram, enfim mortos, apedrejados. Novamente o proprietário enviou novos
empregados e em maior número, mas o mesmo fim caiu sobre eles (talvez profetas
posteriores ao exílio da Babilônia). Enfim, enviou o seu próprio filho.
Entretanto, os lavradores vendo a possibilidade de ficar com as terras, mataram
também o filho do proprietário (esse Filho é Jesus).
Com isso, concluímos que Jesus não foi morto por acaso, havia um plano e bem
bolado pelos dirigentes da época para que assim permanecessem no poder.
Depois de narrar essa parábola, Jesus provoca as lideranças com a seguinte
pergunta: “Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros (40)? ”. A
armadilha está pronta. Responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses
perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo
certo (41) ”.
Eles se alto condenam. São eles os lideres perversos e são eles que merecem ser
mortos por enganar o povo, por praticar a injustiça.
Para concluir, Jesus cita o Salmo 118,22s: “A pedra que os construtores rejeitaram
(Jesus) tornou-se a pedra angular, isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos
olhos (42) ”. Jesus é a pedra angular, sem ele o povo de Deus não tem sustentação.
Os judeus negaram Jesus e por isso a sociedade deles não dá frutos de justiça e
direito. Mas os outros povos que vierem a aceitar Jesus terão como frutos à justiça e o direito
(43). Israel é um exemplo infiel e é colocado diante de nós como advertência. Nós hoje,
somos o povo escolhido, mas se permanecermos firmes na fé, fiel a Deus. Caso contrário,
teremos o mesmo fim de Israel.
334
Meditar: O que me diz a Palavra?
Estou vivendo de acordo com os planos de Deus? Ou será que levo uma vida buscando os
meus interesses e com isso a justiça e o direito ficam em segundo plano?
335
28° Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 22,1-14
1Jesus voltou a falar-lhes em parábolas e disse: 2“O Reino dos Céus é semelhante a
um rei que celebrou as núpcias do seu filho. 3Enviou seus servos para chamar os
convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. 4Tornou a enviar outros
servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus
touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. 5Eles,
porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para seu campo, outro para o seu
negócio, 6e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. 7Diante
disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles
homicidas e incendiou-lhes a cidade. 8Em seguida, disse aos servos: ‘As núpcias
estão prontas, mas os convidados não eram dignos. 9Ide, pois, às encruzilhadas e
convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. 10E esses servos, saindo pelos
caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala
nupcial ficou cheia de convivas.
11Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste
nupcial 12e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial? ’ Ele, porém,
ficou calado. 13Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e
lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. 14Com efeito,
muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
Quando o rei entra para ver os convidados, percebeu que um deles não usava traje
apropriado. Pediu então aos servos para expulsá-lo da festa.
Deus é exigente. Esse homem é aquele que embora seja excluído pela sociedade, um
pobre marginalizado, pensa e age como os doutores da Lei e os fariseus; ele pratica a
injustiça, portanto, não é digno de participar da festa.
Dessa forma podemos entender melhor o versículo 14: “Porque muitos são os
chamados, e poucos os escolhidos”.
Muitos são chamados a participar da Religião, mas nem todos aceitam o convite.
Assim se tornam pessoas infelizes, não entendem e não vivem o Reino de Deus.
337
Meditar: O que me diz a Palavra?
Eu sou um dos convidados para a festa, e qual é a minha resposta? Eu pratico a justiça? Eu
faço realizar em minha vida os planos de Deus ou realizo apenas os meus planos, vivo de
uma forma egoísta, mesquinha, desumana?
338
29º Domingo do tempo comum – Ano A
Imposto ao imperador
Mt 22,15-21
15Quando eles partiram, os fariseus fizeram um conselho para tramar como apanhá-lo
por alguma palavra. 16E lhe enviaram os seus discípulos, juntamente com os
herodianos, para lhe dizerem: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato,
ensinas o caminho de Deus. Não dás preferência a ninguém, pois não consideras um
homem pelas aparências. 17Dize-nos, pois, o que te parece: é lícito pagar imposto a
César, ou não? ” 18Jesus, porém, percebendo a sua malícia, disse: “Hipócritas! Por
que me pondes à prova? 19Mostrai-me a moeda do imposto”. Apresentaram-lhe um
denário. 20Disse ele: “De quem é esta imagem e esta inscrição? ” 21Responderam:
“De César”. Então lhes disse: “Devolvei, pois, o que é de César a César, e o que é de
Deus, a Deus. ”
339
Reconhecem Jesus como verdadeiro, mas não têm forças para largar aquela situação
cômoda em que vivem. Preferem levar uma vida falsa de hipócritas.
Depois do elogio vem à pergunta: “Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não
pagar o imposto a César? ”
Para eles, em seu modo de pensar, não há saída, Jesus está encurralado. Se disser
que se deve pagar os impostos ao imperador, então estará contra o povo. Mas se disser que
não deve se pagar, com certeza seria preso e condenado.
Mas, para Deus há sempre uma saída, há sempre uma solução para todos os
problemas. Aqueles que estão com Deus não são imunes aos problemas, esses fazem parte
da nossa vida, mas a grande diferença é que um bom cristão sempre encontra soluções.
Assim, inspirado por Deus, Jesus responde em dois momentos: o primeiro é para
desmascarar os discípulos dos fariseus: “Hipócritas! Por que me pondes à prova? ” Em
seguida pede uma moeda para esses discípulos dos fariseus. Observem que Jesus não
carrega nenhuma moeda consigo, mas os discípulos dos fariseus sim. Essa cena vem
mostrar que Jesus não fazia parte do poder opressor, mas os fariseus sim. Estavam usando
a moeda, portanto são partidários do poder dominante. Eles se entregaram sem saber! Ao
apresentar a moeda, um denário, Jesus pergunta: “De quem é esta imagem e esta
inscrição? ” Responderam, sem hesitar: “De César”. Disse-lhes então Jesus: “Devolvei,
pois, o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus. ”
O que Jesus quis dizer com essa frase?
Se formos analisar realmente, Ele vem a dizer que não devemos depender do poder
econômico opressor. Devemos devolver a ele tudo o que lhe pertence. Podemos ainda ir
mais longe, César se considerava, além de um simples rei, mas um verdadeiro deus. Dessa
forma, aceitar a moeda com a imagem de César é uma idolatria. Ou seja, fazer do dinheiro o
seu ídolo, o seu deus, o mais importante para a vida.
Hoje Jesus ainda nos questiona: Será que nós somos hipócritas?
Devemos dizer não ao poder opressor dominante e nos voltar a Deus. Devolver a
Deus o que é de Deus é ir ao encontro da verdadeira liberdade, dizer não a matéria e a todos
os seus vícios, dizer não a dominação e a morte.
340
Meu Deus, eu sempre fiz parte desse mundo e vivo de acordo com as suas regras, por isso
eu peço: ajude-me a encontrar a verdadeira liberdade, eu quero dizer não ao mundo e sim a
Deus.
341
30º Domingo do tempo comum – Ano A
O grande Mandamento
Mt 22,34-40
34Osfariseus, ouvindo que ele fechara a boca dos saduceus, reuniram-se em grupo 35e
um deles – a fim de pô-lo à prova – perguntou-lhe: 36“Mestre, qual é o maior
mandamento da Lei? ” 37Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu
coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento. 38Esse é o maior e o primeiro
mandamento. 39E o Segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. 40Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
O conflito entre Jesus e as lideranças da época continua. Mas dessa vez são os
fariseus que sabendo da derrota dos saduceus perante Jesus (23,33) se aliam, e tentam
novamente uma nova armadilha.
É bom saber que o grupo dos saduceus era formado pelos grandes proprietários de
terra e pela elite dos comerciantes. Entre eles estavam os anciãos e a elite sacerdotal. Eles
foram os principais responsáveis pelo julgamento e morte de Jesus.
Os fariseus eram formados por leigos, principalmente artesãos e pequenos
comerciantes. Quanto ao aspecto religioso, cumpriam as Leis rigorosamente. A própria
palavra “fariseu” significa separados, se achavam amigos de Deus e afastados do povo
pecador e ignorante que não sabiam ler e desconheciam as Leis.
Existiam 613 mandamentos: 365 proibições e 248 prescrições. Dessa forma, seguindo
essas Leis, se consideravam amigos de Deus.
Mas, como fica o povo? Analfabetos, não tinham acesso as Leis e, portanto, não
cumpriam com fidelidade. Assim, eram considerados impuros.
Com isso, posso perguntar: E Jesus? Ele estava sempre envolvido com o povo,
portanto cumpre as Leis?
342
Tentam então armar uma armadilha contra Jesus. Fazem a seguinte pergunta:
“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? ”.
Para os fariseus e saduceus as Leis eram todas de mesmo valor, não existia a melhor.
Assim, pretendem que Jesus responda que todos os mandamentos são iguais. Entretanto
Jesus não cumpria fielmente a todas!
Jesus responde (37-38) citando uma passagem do Deuteronômio: “Amarás o Senhor
teu Deus de todo coração, de toda a tua alma, e de todo o teu atendimento (6,5) ”. Mas,
Jesus que sempre se misturava com o povo, com o pobre, acrescenta: “Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (39 Lv 19,18). E termina dizendo: “Esses dois mandamentos é o
resumo de toda a Bíblia”.
Os fariseus se calam, pensavam que podiam ser fiéis a Deus sem ser fiel ao povo.
Eles é que caem em sua própria armadilha, entram em contradição.
Para encerrar, destaco o Evangelho de João 13,34: “Dou-vos um novo mandamento:
Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos
uns aos outros”.
343
31º Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 23,1-12
1Jesus então dirigiu-se às multidões e aos seus discípulos: 2“Os escribas e fariseus
sentados na cátedra de Moisés. 3Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem.
Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem. 4 Amarram fardos pesados
e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se
dispõem a movê-los. 5Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos
homens. Com efeito, usam largos filactérios e longas franjas. 6Gostam do lugar de
honra nos banquetes, dos primeiros assentos nas sinagogas, 7de receber as
saudações nas praças públicas e de que homens lhe chamem ‘Rabi’.
8Quanto
a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e
todos vós sois irmãos. 9A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o
celeste. 10Nem permitais que vos chamem ‘Guias’, pois um só é o vosso guia, Cristo.
11Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve. 12Aquele que se exaltar será
345
32º Domingo do tempo comum – Ano A
Mt 25,1-13
1Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas
lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. 2Cinco eram insensatas e cinco, prudentes.
3As insensatas, ao pegarem as lâmpadas, não levaram azeite consigo, 4enquanto as
prudentes levaram vasos de azeite com as lâmpadas. 5Atrasando o noivo, todas elas
acabaram cochilando e dormindo.
346
6
Quando foi aí pela meia noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo vem aí! Saí ao seu
encontro! ’ 7Todas as virgens levantaram-se, então, e trataram de aprontar as
lâmpadas. 8As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as
nossas lâmpadas estão se apagando’. 9As prudentes responderam: ‘De modo algum, o
azeite poderia não bastar para nós e para vós. Ide antes aos que vendem e comprai
para vós’. 10Enquanto foram comparar o azeite, o noivo chegou e as que estavam
prontas entraram com ele para o banquete de núpcias. E fechou-se a porta.
11
Finalmente, chegaram as outras virgens, dizendo: ‘Senhor, senhor, abre-nos! ’ 12Mas
ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço! ’ 13Vigiai, portanto, porque
não sabeis nem o dia nem a hora.
Com o descuido, deixam de vigiar, afastam Jesus do seu interior. É muito fácil para as
pessoas interpretarem erradamente a demora da vinda do Senhor. Elas veem isso como
motivo para descuido e descrença, quando deviam vê-la como evidência da longanimidade
do Senhor que conduz à salvação. A expressão “Fechou-se a porta”, encontrada na parábola
das dez virgens, é uma das expressões mais tristes nas Escrituras para todos aqueles que
não estiverem preparando prudentemente a vinda do Senhor.
O que Jesus prega é a humildade, vida simples, desapego, uma vida de serviço a Deus, ao
próximo, ser servo. E completa: “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se
humilha será exaltado” (Mt23,12).
O agir correto de alguns e a imprudência de outros, é o deixar Jesus nascer em mim ou
afastá-lo do meu coração.
Devo me aproximar mais e mais de Jesus a ponto de ser Jesus. Essa é a meta do ser
humano.
A vigilância não consiste em uma espera passiva, mas sim em colocar-se a serviço.
Observar os mandamentos, ir ao encontro do próximo.
347
Hoje percebo o quanto me afastei de Deus, fui ao encontro apenas dos meus interesses, não
fui diferente do povo que Moisés estava conduzindo. Adorei outros ídolos e por isso Jesus
não se manifesta plenamente em mim. Vou orar mais, ter mais necessidade de Deus, ser
obediente a ele, servir, pois só assim serei livre!
348
33º Domingo do tempo comum
Mt 25,14-30
14Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus
próprios servos e entregou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois,
a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, 16o
que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. 17Da
mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. 18Mas aquele que recebera
um só tomou-o e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor.
19Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a justar contas
com eles. 20Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco,
dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’.
21Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o
muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor! ’ 22Chegando também o dos dois
talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos
que ganhei’. 23Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste
fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor! ’ 24Por fim, chegando
o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que
colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. 25Assim, amedrontado, fui
enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. 26A isso respondeu-lhe o senhor:
‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não
espalhei? 27Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao
voltar, eu receberia com juros o que é meu. 28Tira-lhe o talento que tem e dai-o àquele
que tem dez, 29porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas
daquele que não tem, até o que tem será tirado. 30Quanto a servo inútil, lançai-o fora
nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes! ’
Mateus, nesta parábola, se preocupa com o fim do mundo. Essa parábola faz parte do
“discurso escatológico”.
349
Podemos fazer uma ligação com a “parábola das dez virgens”, cujo tema é a
vigilância. Mas, nesta parábola, Mateus acrescenta que é necessária a prática da justiça,
esse é o nosso maior compromisso.
A todos, é dado um dom, e cabe a cada um colocar esse dom em prática, para o bem
de todos, para o Reino de Deus. Esses que fazem a vontade de Deus, como diz a parábola,
vão fazer parte do Reino de Deus: “Venha participar da minha alegria! ” (21.23).
Entretanto, o enfoque maior dessa parábola não está sobre o que faz o bem, o certo,
mas sim sobre o empregado infiel, preguiçoso. Esse recebeu um só talento, ficou com medo
de perder o pouco que lhe foi atribuído aos seus cuidados, não se preocupou com a vontade
do senhor, e enterrou, é mais fácil enterrar e não pensar mais nisso. Passou todo o tempo
dedicando-se a sua vida, aos seus interesses. Seu único objetivo era a satisfação pessoal,
gozar a vida gastando o tempo realizando os seus sonhos e não o sonho do patrão. Foi
egoísta, mesquinho, só pensou em si. Um dom enterrado, parado é o mesmo que dizer não a
Deus. É passar toda uma vida vivendo somente para si, para a matéria. Pensa que está
lucrando, que é rico, poderoso, mas o que acumulou foi a sua desgraça, traça. Gastou a vida
sonhando, brincando, perdendo-se.
É bom lembrar que o Senhor tratou com igualdade os empregados que receberam
cinco e dois talentos. Ou seja, para o Senhor, os méritos desses dois são iguais. Um não é
melhor que o outro. O mesmo vai acontecer com cada um de nós. A cada um é dado um
dom, não importa qual seja, o que fazemos com ele? Para Deus todos os dons são iguais,
nós somos iguais, o que Ele quer de nós é o “sim”, fazer algo pelo Reino. Feliz aquele que
diz sim, não se importando com os riscos que enfrentará.
O servo infiel teve medo, disse não, deixou de enfrentar os riscos e por isso não foi
merecedor do Reino de Deus. Mas o outro que disse “sim”, que se desapegou dos seus
interesses pessoais, que se dedicou totalmente ao interesse do senhor receberá a sua
recompensa que é muito maior que os bens que produziria sozinho de uma forma desumana,
mesquinha, egoísta. Deus dá valor e trata muito bem o que faz a sua vontade, que adere ao
Reino.
Com cada um de nós pode acontecer o mesmo. O que eu faço com os meus dons?
350
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Agora eu sei o quanto sou infiel a Deus. Muitas vezes enterrei os meus dons, não dei frutos,
sou um péssimo filho. Mas quero melhorar, eu tenho esse firme propósito em minha vida:
Quero servi-lo, dedicar toda a minha vida em prol do Reino de Deus. Quero conquistar almas
para o Senhor, converter os meus irmãos. Quero ser inteiramente seu.
351
34º Domingo do tempo comum
O juízo final
Mt 25,31-46
31Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se
assentará no trono da sua glória. 32E serão reunidas em sua presença todas as nações
e ele separará os homens um dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos
cabritos, 33e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Mateus quer mostrar em seu Evangelho o final dos tempos, o “juízo final”. Todos os
povos se reunirão diante do Filho do homem e esse separará os bons dos ruins. A
comparação é feita através da figura do pastor; ele separa as ovelhas dos cabritos, ou seja,
os justos são as ovelhas, os abençoados que ficarão a sua direita; enquanto os cabritos, ou
seja, os injustos, os malditos, ficarão à esquerda; portanto é um sinal de condenação.
O tempo de escolha é agora, a nossa vida. Somos livres para dizer sim ou não a
Jesus. Sou eu que vou decidir ser justo ou injusto, assim, sou eu que vou julgar os meus
atos, eu farei a escolha; Jesus apenas vai fazer a separação das ovelhas e dos cabritos.
34Então
dirá o rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei
por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. 35Pois tive fome
e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me
recolhestes. 36Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me.
37Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te
alimentamos, com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos forasteiro e
te recolhemos ou nu e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso e
fomos te ver? 40Ao que lhe responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que
fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. ’
352
Há um grande prêmio esperando pelos justos. Esses deixaram de usar sua vida para
o seu próprio benefício, dedicaram exclusivamente ao próximo: aos que passam fome e
sede, aos que não têm casa e terra, aos que não têm direitos a saúde e educação, a todos
aqueles que foram marginalizados pela sociedade, manipulados, excluídos, a todos que
sofrem alguma forma de pré-conceito.
É interessante destacar que o justo não faz o bem interessado apenas no prêmio do
“juízo final”, não, ele faz por amor, por estar de acordo com os planos de Deus, por ser um
justo desprovido de interesses mundanos. Ele não se interessa por glória, elogios, prêmios;
ele faz, é justo simplesmente porque ele é bom. Esse se desapegou do orgulho, do ter, do
aparecer, do ser melhor, e colocou Deus em primeiro plano. Humilhou-se para que Deus
fosse realçado. Essa é a verdade que está sublinhada claramente nessa seguinte frase:
“Senhor, quando foi que fizemos isso a você? ” Os justos ficam impressionados, pois viveram
o Evangelho porque é a forma correta de vida, o único caminho para o Pai, para a felicidade.
Para eles, esse tipo de vida, é natural. Esse é um justo, amado por Deus.
41Em
seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Porque tive fome e
não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. 43Fui forasteiro e não
me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes’.
44Então, também eles responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome ou
com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos? 45E ele responderá
com estas palavras: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que deixastes de fazer a um
desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer’.
Entretanto aos que estiveram à esquerda... Jesus dirá: “Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos”. Esses tiveram as mesmas
chances que os justos, mas passaram a vida dizendo não. O seu único interesse era o “eu”,
foram egoístas ao extremo, viveram a matéria, se iludiram com o mundo, idolatraram o
dinheiro, se deixaram levar pelos vícios, fizeram a vontade do demônio. Esses se
enriqueceram à custa dos pobres, manipularam os menores, excluíram a muitos, viveram em
palácios, esbanjaram os alimentos e bebidas, ficaram fartos, empanturrados. Esses são
dignos de dó. Passaram a vida na ilusão, não perceberam o verdadeiro sentido da vida, não
se encontraram nesse mundo, nunca ficaram satisfeitos, queriam sempre mais. Não
conseguiram ver Jesus, sentir a sua presença, viveram sós.
Esses, os injustos, deixaram-se enganar pelo demônio e sem perceber, entorpecidos
pelos prazeres; agora fazem a seguinte pergunta: “Senhor, quando é que te vimos com
forme ou sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos”? Não conseguiram ver
Jesus e por isso sucumbiram, escolheram o pior caminho. “E Irão estes para o castigo
eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna” (46).
353
Não praticar a justiça é servir ao diabo, mesmo que aos olhos de muitos nos
escondemos como uma falsa aparência de piedade. Cuidado, não se engane!
354
TEMPO COMUM
ANO B
355
2° Domingo do tempo comum – Ano B
Os primeiros discípulos
Jo 1,35-42
35Nodia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de seus discípulos. 36Ao ver
Jesus que passava, disse: “Eis o cordeiro de Deus”.
João, o precursor de Jesus Cristo, tinha muitos discípulos. Pensavam que ele era o
Messias tão esperado. No entanto, o próprio João desmente, mostrando para os seus
seguidores quem é o verdadeiro Messias. Esse é aquele a quem vocês devem seguir; disse:
“Eis o Cordeiro de Deus”.
Chegou à hora, João sabia que seu momento estava no fim, não tem mais sentido a
sua existência. Agora resta desaparecer para que Cristo apareça. Envia então, os seus
discípulos ao encontro de Jesus informando que é este a quem devem seguir.
João fica só. Sua missão foi cumprida.
Pouco tempo depois, João é feito prisioneiro. Sabia que sua missão estava terminada.
Embora sendo o ser humano mais livre e feliz desse mundo sabia que o seu fim se
aproximava no cárcere.
Com certeza o testemunho de João Batista mudou a vida de muita gente,
principalmente de seus seguidores mais diretos. Confiaram plenamente em João, e suas
palavras bastam. Não precisam de mais sinais.
O anjo enviado por Deus encerra os seus dias entre os homens. Ele não foi uma
pessoa qualquer, mas sim um mensageiro escolhido por Deus. Sua vida tinha um sentido
especial.
João compreendia sua missão. Estava plenamente ligado ao Pai. Fazia acontecer a
sua vontade. Sua fé era imensa e tudo fazia para a realização dos planos de Deus.
37Os
discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, vendo que
eles o seguiam, disse-lhes: “Que estais procurando? ” Disseram-lhe: “Rabi (que,
356
traduzido, significa Mestre), onde moras? ” 39Disse-lhes: “Vinde e vede”. Então eles
foram e viram onde morava, e permaneceram com ele aquele dia. Era a hora décima,
aproximadamente.
40
André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e
seguiram Jesus. 41Encontrou, primeiramente Simão e lhe disse: “Encontramos o
Messias (que quer dizer Cristo) ”. 42Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhe Jesus:
“Tu és Simão, o filho de João; chamar-te-ás Cefas” (que quer dizer Pedra).
357
3º Domingo do tempo comum – Ano B
O tempo já se cumpriu
Mc 1,14-20
14Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de
Deus: 15“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede
no Evangelho”.
É interessante notar que se fecha a missão de João Batista, encerram-se os seus dias
sobre a terra. Com a morte de João terminou também o Antigo Testamento e agora se abre o
novo com a pessoa de Jesus. O tempo de promessas e expectativas chegou ao fim.
Até esse momento, no Evangelho de Marcos, o foco era João Batista. Agora tudo vai
apontar para Jesus, o portador da Boa Notícia, o Filho amado de Deus que está repleto do
Espírito Santo.
Jesus parte para a Galileia, uma região que era sinônima de marginalidade, onde vivia
gente sem valor e, o que é pior, impuros. Esse foi o lugar escolhido por Jesus para anunciar
o seu programa de vida.
O que João anunciava já se cumpriu, o Reino de Deus está próximo, todos devem se
converter e crer na Boa Notícia, chegou o tempo, Deus está em Jesus. Ele é o caminho que
todos devem seguir, imitar. Caminhar junto com os marginalizados, oprimidos, esquecidos
pela sociedade.
O Reino está próximo, junto de nós. Deus está reinando em nossos corações. Fazer a
vontade do Pai é deixar Deus reinar em nós, é ser verdadeiro discípulo de Jesus. Mas é
preciso uma conversão diária continua, aderir a cada dia a pratica de Jesus. A libertação
definitiva nos espera.
358
16
Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, o irmão de Simão.
Lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17Disse-lhes Jesus: “Vinde em meu
seguimento e eu vos farei pescadores de homens”. 18E imediatamente, deixando as
redes, eles o seguiram.
19
Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, eles também no
barco, consertando as redes. 20E logo os chamou. E eles, deixando o pai Zebedeu no
barco com os empregados, partiram em seu seguimento.
Depois do Batismo de Jesus, e após a tentação no deserto, tem início a sua missão.
Ele quer a adesão de todos a Boa Notícia. Mas Jesus sabe que sozinho não conseguirá
atingir a todos, precisa de colaboradores. Vai então à procura dos seus discípulos. No
princípio é um Galileu a procura de Galileus, indicando com essa atitude que não há
preconceitos. Não, todos são escolhidos. Jesus deixa bem claro para nós que para ser seu
seguidor não é preciso ter cultura, conhecimento; basta querer, ter fé e assim o Espírito
Santo fará o resto, nos conduzirá.
Lembremos que a iniciativa do chamado é de Jesus e os escolhidos são pessoas
comuns, com uma vida simples, normal, nada de extraordinário. Não importa qual é a pessoa
chamada, o desafio é igual para todos.
O que aconteceu com eles acontece conosco, hoje. Sentimos chamados por Jesus. O
“sim” é dito e o compromisso com o Reino tem o seu início. A sociedade grita por socorro, é
preciso mudanças. Ser seguidor de Jesus é ser profeta, se não existir o espírito profético,
mesmo que seja o mínimo possível, então você não é discípulo de Jesus.
Jesus chama aquele que quer mudanças, os que não se conformam e lutam para
mudar o homem, a sociedade.
359
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Eu sei que não basta o meu querer, tem que ter o seu consentimento. Mas, meu desejo é
servi-lo, quero ser seu discípulo, quero fazer a sua vontade. Continuarei pedindo com
paciência e perseverança. Um dia, quem sabe, o Senhor ouvirá o meu pedido. O que resta a
mim é pedir, orar, sempre. Sou teimoso, vou continuar a bater em sua porta.
360
4º Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 1,21-28
Estamos vivenciando um dia típico de Jesus. Trata-se do primeiro ato público. Não é
muito diferente dos outros dias, a não ser que é sábado e Jesus está na sinagoga
acompanhado de seus discípulos.
A sinagoga é a casa de oração, de catequese dos judeus. Nesse lugar qualquer judeu
adulto podia se apresentar para fazer a leitura e o sermão. Mas não era bem dessa forma
que estava acontecendo, os doutores da Lei e fariseus tomaram o controle das sinagogas e
com os seus ensinamentos faziam a cabeça do povo, controlavam o povo. Entretanto Jesus
vem quebrar esse domínio das autoridades, se apresenta para ensinar e fazia com
autoridade.
Jesus ensina e traz liberdade para as pessoas, não é apenas um discurso vazio, sem
vida. Não, ele mostra fatos e completa com atos de libertação. Dessa forma a Boa Notícia se
espalha rápido, não são apenas palavras, mas é a vida de Jesus.
Com isso as autoridades ficam apreensivas e com medo dessa forma de agir e falar
de Jesus. Pensam que vão perder a autoridade, seu padrão de vida, suas regalias. Jesus
torna-se um perigo para eles e desde então ficam vigiando os seus atos, querem domina-lo,
tirar a sua autoridade. Começa aqui a perseguição que culminará na Cruz.
23Na
ocasião, estava na sinagoga deles um homem possuído de um espírito impuro,
que gritava 24dizendo: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-
361
nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus” 25Jesus, porém, o conjurou severamente:
“Cala-te e sai dele”. 26Então o espírito impuro, sacudindo-o violentamente e soltando
grande grito, deixou- o. 27Todos então se admiraram, perguntando uns aos outros:
“Que é isto? Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos
impuros dá ordens, e eles lhe obedecem! ” 28Imediatamente a sua fama se espalhou
em todo o lugar, em toda a redondeza da Galileia.
Jesus ensina com autoridade e liberta as pessoas. É diferente dos doutores da Lei e
fariseus que ensinam, mas em vez de trazer liberdade as pessoas, os escravizam.
Imagine como vivia o povo, dominado pelos romanos, obrigado a pagar altas taxas de
impostos, sem vez de falar na sociedade. Homens sem valor, vistos como escravos. Da
mesma forma acontecia na religião. Eram dominados pelas autoridades judaicas, eram
obrigados a respeitar e seguir seiscentas e treze leis. Um fardo pesado que não conseguiam
cumprir, portanto, estavam em constante pecado, não agradavam a Deus. Sem vez na
sociedade e sem vez na religião, sentiam-se presos e manipulados por todos os lados, não
viam saída, viviam sem objetivos, descaracterizados, uma vida de revolta e medo.
O homem possuído pelo demônio simboliza todo o povo, despersonalizado, impedido
de falar e agir, não são donos da sua própria vida, outros os dominam.
O que o espírito mal quer? É simples, a infelicidade do povo, todos aos seus pés para
servi-lo, jamais pensam na liberdade do povo. Note que eles conhecem a verdade, sabem
que ela existe, mas não aderem a ela, também são escravos do ter, poder, o ego. “O que
queres de nós? ” (24 a). É importante notar que são muitos os demônios e representam tudo
o que despersonaliza e aliena as pessoas.
Como já foi dito, eles conhecem Jesus, sabem o que deve ser feito para libertar o
povo, mas nada fazem. Esse é o ponto alto do Evangelho de Marcos. Jesus veio trazer
liberdade para o povo e os que têm um espírito mal sabem disso. Reconhecem a autoridade
de Jesus. Mas são contra.
Com esse milagre Jesus quer mostrar a todos que ele vem trazer liberdade para
todos. As autoridades entendem, mas não querem essa forma de liberdade. Entretanto o
povo reconhece a autoridade de Jesus. A sua fama se espalha por todo o lugar.
362
Senhor, meu Pai querido, preciso muito da sua ajuda. Não quero me prender a essa terra
assim como fizeram os doutores da Lei e os fariseus e todos os dominados pelo demônio.
Quero ser livre e levar essa liberdade a todos os meus irmãos. Quero ser um instrumento de
sua paz!
363
5º Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 1, 29-39
29E logo ao sair da sinagoga, foi à casa de Simão e de André, com Tiago e João. 30A
sogra de Simão estava de cama com febre, e eles imediatamente o mencionam a
Jesus. 31Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e
ela se pôs a servi-los.
É ainda um dia de sábado, Jesus sai da sinagoga e se dirige para a casa de Simão e
André. A menção a casa aparece pela primeira vez, mas retornará muitas outras vezes no
Evangelho de Marcos. Na verdade, ela se opõe à sinagoga. Estar em casa é sinônimo de
estar a favor dos planos de Deus, todos estão de acordo com o modo de agir e ser de Jesus.
O contrário é a sinagoga, é nesse lugar que inicia os primeiros conflitos que conduzirá ao seu
fim na Cruz.
A sogra de Pedro está enferma, com febre. Jesus vai ao seu encontro e a livra desse
mal. Naquela época, estar com febre era sinônimo de possessão demoníaca. A pessoa está
incapacitada, dominada. Mas, Jesus é aquele que foi enviado para trazer a liberdade para
todos! Ele não pode ficar de braços cruzados, vai ao encontro da mulher e a liberta. Quem
encontra a liberdade passa a entender Jesus e a trabalhar por sua causa. Foi o que ela fez,
começou a servir imediatamente.
Jesus não descrimina, vai ao encontro de quem está precisando. Primeiro ele cura a
alma, a liberta e só depois, por consequência, vem a cura do corpo.
Não podemos canalizar esse pensamento com uma regra geral: estar com Jesus e
seguir os seus planos, ser livre, é trazer para o corpo a saúde. Com toda a certeza, é mais
saudável aquele quem tem fé e caminha com Jesus.
364
32
Ao entardecer, quando o sol se pôs, trouxeram-lhe todos os que estavam enfermos e
endemoninhados. 33E a cidade inteira aglomerou-se à porta. 34E ele curou muitos
doentes de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios. Não consentia,
porém, que os demônios falassem, pois eles sabiam quem ele era.
35De
madrugada, estando ainda escuro, ele se levantou e retirou-se para um lugar
deserto e ali orava. 36Simão e os seus companheiros o procuravam ansiosos 37e,
quando o acharam, disseram-lhe: “Todos te procuram”. 38Disse-lhes: “Vamos a outros
lugares, às aldeias da vizinhança, a fim de pregar também ali, pois foi para isso que eu
saí”. 39E foi por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os
demônios.
Passou o dia, Jesus se retira para descansar. De manhã, de madrugada, antes do sol
nascer, ele se afasta dos seus amigos para rezar a sós. Este é um convite que Jesus faz
constantemente para nós. É preciso refazer as forças, alimentar a fé, pedir firmemente ajuda
a Deus, ao Espírito Santo, sem ele nada podemos fazer. Jesus tinha conhecimento desse
fato e sempre arranjava tempo para entrar em comunhão com o Pai. Ele sabia que estava
sendo usado por Deus, um instrumento do Pai. Ele tinha toda certeza da atuação frequente
do Espírito Santo em seu ser.
365
Depois de algum tempo em oração, os discípulos o acharam, pois estavam aflitos a
sua procura, e disseram: “Todos te procuram”. Eles estavam felizes, o Mestre é famoso,
valorizado e reconhecido por todos, logo, em decorrência eles também receberiam o prêmio.
Quem sabe o que pode ter passado pela cabeça deles! Fama, poder... Um rei que traria a
liberdade para o povo...
Mas, Jesus destrói o castelo de areia que eles construíram: “Vamos a outros
lugares...” (38).
Jesus vence a tentação de glória e poder, pois os discípulos queriam que ele ficasse
em Cafarnaum usufruindo o poder adquirido. A glória e poder tomaram conta deles, sentiam-
se melhores do que os outros. Não! Não é esse o caminho do cristão, do servo de Deus.
Vamos para outros lugares onde ninguém nos conhece, vamos começar tudo de novo.
O verdadeiro evangelizador não para, não cria raízes, está sempre a caminho.
366
6º Domingo do tempo comum – Ano B
Cura de um leproso
Mc 1, 40-45
40Um leproso foi até ele, implorando-lhe de joelhos: “Se queres, tens o poder de
purificar-me”. 41Movido de compaixão, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: “Eu
quero, sê purificado”. 42E logo a lepra o deixou. E ficou purificado. 43Advertindo-o
severamente, despediu-o logo, 44dizendo-lhe: “Não digas nada a ninguém; mas vai
mostrar-te ao sacerdote e oferece por tua purificação o que Moisés prescreveu, para
que lhes sirva de prova”. 45Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar ainda
mais e a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa
cidade: permanecia fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
367
preocupado com a quebra das regras por parte do leproso, não, ele se solidariza com ele e
faz o mesmo.
É interessante notar que Jesus poderia curar o leproso sem quebrar as regras dos
judeus, de longe, sem tocá-lo. Porém, Jesus vai longe, toca no leproso igualando-se a ele na
impureza prescrita pelos judeus. Jesus, com esse gesto, nos mostra claramente que ele não
está de acordo com essas regras, por isso as transgride. A Lei é feita para libertar o homem,
não para escravizar, excluir. Portanto, não vem de Deus, mas dos homens.
No desenrolar da cena, Jesus adverte severamente para não dizer nada a ninguém.
Era para ele ir secretamente ao sacerdote mostrar que estava curado e com isso ser incluído
na sociedade novamente.
Mas, o homem curado não obedece a Jesus, com grande demonstração de gratidão,
conta o ocorrido a todos que encontrava pelo caminho. Pensou que estava fazendo um
grande bem, no entanto estava excluindo Jesus da sociedade. Quem não segue os passos
de Jesus cai no erro e acaba se tornando pedra de tropeço, atrapalha a evangelização. Por
esse motivo é importantíssimo deixarmos ser levados pelo Espírito Santo; só ele nos conduz
por caminhos verdadeiros que nos leva diretamente ao Pai. Quando interferimos, talvez
pensando em ajudar, caímos no erro e atrapalhamos os planos de Jesus. É necessária
constante oração, estar plenamente em comunhão com Jesus.
Depois desse dia, Jesus não podia mais entrar na cidade, permanecia fora. Entretanto
as pessoas saem a sua procura, esses, talvez quase a totalidade, são aqueles que o
procuram apenas para satisfazer as suas necessidades pessoais, não estão preocupados
com o Reino de Deus. Nota-se também que a partir desse milagre os sacerdotes sentindo-se
traídos por Jesus, desmoralizados perante o povo, preocupados em perder o status
adquirido, a posição social que alcançaram, se colocam contra Jesus e tentam calar a sua
voz a todo o custo.
368
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Eu me acostumei a ver a favela lá longe e eu aqui, tranquilo, confortável. Dificilmente
envolvo-me com os problemas alheios. Quando vejo uma cena na televisão de catástrofe eu
fico frustrado, mas o meu coração está duro, eu me comovo só no momento em que vejo a
cena, não ligo, logo esqueço. No entanto Jesus ensinou a ser misericordioso, fazer o que ele
fez, tocar o irmão, se tornar igual a ele, sofrer com ele. Portanto, a partir de hoje, tentarei
seguir os passos de Jesus, o caminho da solidariedade, da misericórdia.
369
7º Domingo do tempo comum – Ano B
Cura do Paralítico
Mc 2,1-12
1Entrando de novo em Cafarnaum, depois de alguns dias souberam que ele estava em
casa. 2E tantos foram os que se aglomeravam, que já não havia lugar nem à porta. E
anunciava-lhes a Palavra.
370
3
Vieram trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4E como não
pudessem aproximar-se por causa da multidão, abriram o teto à altura do lugar onde
ele se encontrava e, tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
5
Jesus, vendo sua fé, disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”.
6Ora,
alguns dos escribas que lá estavam sentados refletiam em seus corações: 7“Por
que está falando assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados a não ser Deus? ”
8Jesus imediatamente percebeu em espírito o que pensavam em seu íntimo, e disse:
“Por que pensais assim em vossos corações? 9O que é mais fácil dizer ao paralítico:
Os teus pecados estão perdoados”, ou dizer: “Levanta-te, toma o teu leito e anda? ”
10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar pecados na
terra, 11eu te ordeno ── disse ao paralítico ── levanta-te, toma o teu leito e vai para
tua casa”. 12O paralítico levantou-se e, imediatamente, carregando o leito, saiu diante
de todos, de sorte que ficaram admirados e glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca
vimos coisa igual! ”
371
Jesus conhece o homem por dentro, ele sabia que o paralítico não tinha pecados, ele
não sofria por causa dos possíveis erros cometidos. Conhecia também os doutores e sabia o
que pensavam.
Naquela época, pensavam que para se obter um perdão dos pecados era necessário
um sacrifício, não havia outro meio. Só Deus perdoa, entretanto Jesus se iguala a Deus,
perdoa os pecados. Para eles era um motivo grave de blasfêmia e era punido com a
sentença capital (Lv 24,16).
Jesus perdoa, devolve a dignidade à pessoa e não exige sacrifício, é de graça. Para
os doutores era muito difícil de entender Jesus. Impossível.
Percebendo a reação deles, Jesus vai mais longe. Para que acreditassem nele, curou
a paralisia do doente. Curou-o por dentro e por fora. Liberdade plena, Jesus quer o homem
livre! Agora ele pode servir, ajudar a construir o Reino de Deus.
As pessoas entendem, louvam a Deus, aceitam a proposta de Jesus, solidarizam-se,
estão de acordo, abrem os seus corações, libertam-se. Mas, os doutores se fecham ainda
mais, para eles nada adiantou o milagre realizado por Jesus. Em seus corações não há lugar
para o novo. As portas estão fechadas, estão presos dentro de si, juntos com suas ideias.
Trancafiados em um mundo que criaram que se igualou ao mundo de todos os homens. Aos
poucos foram fechando as portas, aos poucos manipularam a vontade de Deus. Na verdade,
se endeusaram e não querem perder esse poder conquistado.
372
8º Domingo do tempo comum – Ano B
O Jejum
Mc 2, 18-22
18Os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando, e vieram dizer-lhe: “Por que
os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e teus discípulos não
jejuam? ”
373
19
Jesus respondeu: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com
eles? Enquanto o noivo estiver com eles, não podem jejuar. 20Dias virão, porém, em
que o noivo lhes será tirado; e então jejuarão naquele dia”.
Como costume da época, o jejum era e talvez ainda seja, apenas para chamar a
atenção de Deus. Ele parece estar longe, não liga para nós, um Deus distante que não se
preocupa com o homem. Mas, quando chamamos a atenção Dele, através do jejum, então
podemos fazer um pedido ou receber um perdão, pois Ele está me ouvindo, sou alvo de sua
atenção.
Que bobagem, coisa de criança! Jesus é Deus. Com isso, quando estava entre os
discípulos em corpo e alma, como qualquer mortal, não era necessário chamar a atenção
com a prática do jejum! Ele estava presente, perto deles. A prática que interessava era a
prática do amor, solidariedade, justiça. Ele quer a alegria para todos, felicidade plena, paz,
harmonia.
Jesus veio trazer uma nova aliança, um casamento entre o céu e a terra. Ele é o
noivo que representa o Céu e os homens são os que são convidados a unir-se a Ele.
Portanto, estamos em festa e enquanto existir essa festa, a aliança, o jejum está abolido. A
não ser quando aconteceu a ausência do noivo, momento esse em que Jesus estava morto.
Hoje só se admite a prática do jejum para denunciar uma ausência, ou seja: falta de
alimento na mesa, falta de saúde, terra, casa, educação, agressão ao meio ambiente...
Portanto o jejum não é para chamar a atenção de Deus, mas sim do próprio homem.
Lembremos, Jesus ressuscitou e prometeu que sempre estará entre nós. Ele disse:
“Eis que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
21“Ninguém
faz remendo de pano novo em roupa velha; porque a peça nova repuxa o
vestido velho e o rasgo aumenta. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso
contrário, o vinho estourará os odres, e tanto o vinho como os odres ficam
inutilizados. Mas, vinho novo em odres novos! ”.
374
Jesus não veio trazer um remendo para as velhas instituições, e, ele não quer
pessoas remendadas. O novo se faz necessário.
A novidade trazida por Jesus é absoluta e solicita de cada um de nós mudanças
radicais. O Evangelho é o caminho para essas mudanças. É a vida de Jesus, o caminho.
Viver o velho é ser um cristão triste, “Tristão”, desanimado, sem forças, sem fé,
aniquilado. Está parado no tempo, vivendo a morte de Jesus. Mas, Jesus não parou na
morte, ressuscitou e está entre nós.
Devemos renascer. Colocar-nos a disposição, nas mãos do Espírito Santo. Que Ele
nos conduza em todos os momentos de nossa vida.
375
9° Domingo do tempo comum – Ano B
O homem e o sábado
Mc 2,23-3,6
23Aconteceu que, ao passar num sábado pelas plantações, seus discípulos começaram
a abrir caminhos arrancando as espigas. 24Os fariseus disseram-lhe: “Vê! Como fazem
eles o que não é permitido fazer no sábado? ” 25Ele respondeu: “Nunca lestes o que
fez Davi e seus companheiros quando necessitavam e tiveram fome, 26e como entrou
na casa de Deus, no tempo do Sumo Sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da
proposição, que só os sacerdotes podem comer, e os deu também aos
companheiros? ”
Interessante notar que Jesus rejeita as tradições antigas de Israel. Os chefes religiosos
usavam essas tradições para oprimir, excluir. Jesus veio abrir um caminho de liberdade, uma
nova vida para todos.
Perceba a ação de Jesus nos seus discípulos, colhem milho em um dia de sábado,
estavam com fome. Com esse ato, agiram contra a Lei e a ordem religiosa opressora
imposta na época. Dessa forma são acusados de não observarem o repouso no sábado. E
Jesus responde recordando o que aconteceu com Davi e seus companheiros, quando fugiam
de Saul, estando eles com fome entraram no templo e comeram os pães consagrados do
santuário, que era permitido somente aos sacerdotes fazerem isso. E Jesus encerra com
essas palavras: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. ”
Tanto Davi, como Jesus e seus discípulos agiram por necessidade e não por atitude
leviana. Com essa forma de agir Jesus coloca o ser humano em primeiro lugar, acima de
qualquer lei que impeça a vida, e a dignidade.
O caminho da liberdade foi aberto. Liberdade para segui-lo com amor, e assim abrir os
caminhos do direito da justiça e alcançar a paz no mundo. Jesus nos ensina a prática da
religião com bom senso, criticando quando as tradições religiosas e suas práticas se chocam
com o direito da vida.
27Então
lhes dizia: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado;
28de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado”.
376
3,1
E entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada.
2
E o observavam para ver se o curaria no sábado, para o acusarem. 3Ele disse ao
homem da mão atrofiada: “Levanta-se e vem aqui para o meio”. 4“E perguntou-lhes: É
permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar? ” Eles,
porém, se calavam. 5Repassando então sobre eles um olhar de indignação, e
entristecido pela dureza do coração deles, disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a
estendeu, e sua mão estava curada. 6Ao se retirarem, os fariseus com os herodianos
imediatamente conspiraram contra eles sobre como o destruiriam.
É bom que se entenda que o dia é sábado, uma das coisas mais sagradas para o povo
judeu, alguns consideravam o descanso desse dia como o mais importante de todos os 613
mandamentos. Assim, transgredir o descanso do sábado, para os fariseus, era violar a
aliança. Com essa forma de pensar os fariseus atacam.
Jesus e seus discípulos estão correndo risco de vida, pois Êxodo 31,14 prevê pena de
morte para quem transgredir essa lei.
Entretanto, Jesus não volta atrás. Mais uma vez entra na sinagoga em um dia de
sábado. Um doente é apresentado. O espetáculo está montado, um teste para examinar
Jesus.
Jesus sabia que era previsto pelos peritos judaicos a intervenção de cura num dia de
sábado só no caso de uma necessidade grave, risco de vida. Em cima desse saber Ele
pergunta se no dia de sábado é permitido fazer o bem ou o mal? Perceba que os fariseus se
calam. Na verdade, já decretaram a morte de Jesus, os seus planos estavam acima dos
planos de Deus.
O olhar de Jesus, olhar de indignação foi a resposta. Em seguida cura o doente e dessa
forma assina a sua sentença de morte.
O homem dividido
Mc 3,20-35
20E voltou para casa. E de novo a multidão se apinhou, de tal modo que eles não
podiam se alimentar. 21E quando os seus tomaram conhecimento disso, saíram para
detê-lo, porque diziam: “Enlouqueceu! ”
Jesus se encontra em casa, rodeado por uma multidão. O grupo dos Doze estão
reunidos, juntos Dele. Esse é um laço profundo e estreito, que é a adesão à Boa Notícia.
Esses são a nova família de Jesus.
Mas, os outros que estão a sua volta não o entendem e o julga dizendo:
Enlouqueceu...; ou: Está possuído por Beelzebu...
Jesus vem ensinar durante toda a sua vida a não julgar e sim levar o próximo ao
julgamento. Aquele que julga está sendo julgado e se condena.
Perceba, a quem é tributada a palavra enlouqueceu, a Jesus ou ao povo que está ao
seu redor? E ainda, na verdade quem está sendo guiado pelo demônio, é Jesus ou os
fanáticos da cúpula que mantém o poder religioso?
22E
os escribas que haviam descido de Jerusalém diziam: “Está possuído por
Beelzebu”, e também: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios”.
23Chamando-os para junto de si, falou-lhes por parábolas: “Como pode Satanás
expulsar Satanás? 24Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não poderá
subsistir. 25E se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não poderá manter-se.
26Ora, se Satanás se atira contra si próprio e se divide, não poderá subsistir, mas
378
28
Na verdade eu vos digo: tudo será perdoado aos filhos dos homens, os pecados e
todas as blasfêmias que tiverem proferido. 29Aquele, porém, que blasfemar contra o
Espírito Santo, não terá remissão para sempre. Pelo contrário, é culpado de um
pecado eterno”. 30É porque eles diziam: “Ele está possuído por um espírito impuro”.
Note que os escribas já tomaram a sua decisão, fecharam o seu coração ao novo.
Acusam Jesus de estar “possuído pelo Beelzebu” e também que a origem de seu poder é o
príncipe dos demônios que faz expulsar demônios.
A resposta de Jesus, colocada pelo evangelista como parábolas, tem pontos a
considerar. Se a origem provém de Satanás, então é um reino dividido que nunca poderá
subsistir. Para melhor ser entendido diz: Para arrombar uma casa onde mora um homem
forte, é preciso primeiro amarrá-lo antes e derrubá-lo. Só dessa forma é possível roubar sua
casa. Observe que aquele homem tem menos poder porque foi vencido. O pecado contra o
Espírito Santo é uma menção à força de Deus que se revela na atuação de Jesus vencendo
todo o mal.
31Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram
chamá-lo. 32Havia uma multidão sentada em torno dele. Disseram-lhe “Eis que tua mãe,
teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram”. 33Ele perguntou: “Quem é minha
mãe e meus irmãos? ” 34E, repassando com o olhar os que estavam sentados ao redor,
disse: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu
irmão, irmã e mãe”.
379
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Meu Pai querido, eu quero pertencer a família de Jesus. No entanto, eu sou fraco, pecador,
estou muito ligado a esse mundo. Por favor faça que eu encontre a verdadeira liberdade,
quero ser um discípulo do seu Filho.
380
11° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 4, 26-34
26E dizia: “O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: 27ele
dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba
como. 28A terra por si mesma produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim,
a espiga cheia de grãos. 29Quando o fruto está no ponto, imediatamente se lhe lança a
foice, porque a colheita chegou”.
Essa parábola tem como objetivo superar as crises da caminhada. Os discípulos estão
desanimados, não observam mudanças nas pessoas, nas comunidades. O projeto de Deus
está sofrendo rejeição forte.
Com essa parábola da semente espalhada na terra, fica claro para nós que o Reino
de Deus será implantado no coração do ser humano. Não podemos ter pressa, querer
resultados rápidos, cada um vai responder no momento oportuno. Temos que esperar, ter
paciência.
A nossa missão é semear a semente no coração das pessoas. Continuar a fazer a
nossa parte, semeando e vivendo o que Jesus semeou. Quando o Reino de Deus se
estabelece em nós, claramente, nos tornamos um reflexo de Deus. Uma luz que ilumina o
caminho. É como um esguicho espalhando água em todas as direções, tornando assim, a
terra preparada para que a semente espalhada possa germinar e dar frutos.
Um fator é muito importante, a nossa perseverança. Não podemos ser pedra de
tropeço para os nossos irmãos, temos que ser firmes na evangelização e na vivência do
Evangelho.
Não existe outra saída, caminho. Certamente o Reino de Deus vai acontecer, cedo ou
tarde. Cabe a nós apressar esse processo.
Primeiro é preciso fazer o Reino de Deus se estabelecer em nós. Só então, repletos,
em harmonia, em paz, felizes, conseguiremos espalhar esse Reino.
381
Muitos já passaram por essa faze. O Reino de Deus foi implantado neles. Como
consequência deixou marcas, fortes marcas na sociedade. Jesus foi um deles, o maior.
Depois vieram outros, os discípulos que se espalharam pelo mundo, até hoje. Muitos viveram
o Reino de Deus, mas poucos viveram esse Reino como Jesus viveu. Alguns se
aproximaram muito de Jesus, é o caso de São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá
e tantos outros. Deixaram marcas na sociedade, setas que são seguidas.
Portanto, que cada um de nós possa entrar rapidamente por esse caminho. Se
aproximar mais de Jesus. Implantar o Reino de Deus no coração.
30E
dizia: “Com que compararemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o
apresentaremos? 31É como um grão de mostarda, o qual, quando é semeado na terra
── sendo a menor de todas as sementes da terra ──, 32quando é semeado, cresce e
torna-se maior que todas as hortaliças, e deita grandes ramos, a tal ponto que as
aves do céu se abrigam à sua sombra”.
33Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas como essas, conforme
podiam entender; 34e nada lhes falava a não ser em parábolas. A seus discípulos,
porém, explicava tudo em particular.
383
12º Domingo do tempo comum – Ano B
A tempestade acalmada
Mc 4, 35-41
35E disse-lhes naquele dia, ao cair da tarde: “Passemos para a outra margem”.
36Deixando
a multidão, eles o levaram, do modo como estava, no barco; e com ele
havia outros barcos.
O dia está chegando ao fim. Esse foi um longo dia para Jesus e seus discípulos.
Revelou para eles e a multidão diversas parábolas, como a do semeador, da semente e a do
grão de mostarda. Ele queria que o povo entendesse a sua proposta e tudo fazia para
alcançar esse fim. Entretanto o coração estava duro, nem mesmo os próprios discípulos
entendiam Jesus, era preciso um ensinamento a sós com eles.
Terminado então esse longo dia, Jesus se dirige com os discípulos para a outra
margem. Dirigem-se para o outro lado do mar da Galileia, terra dos pagãos. Jesus não
discrimina, vai ao encontro de todos. Todos são escolhidos, convidados a participar do Reino
de Deus.
Um fato importante que aconteceu é a presença de outras barcas além da que
estavam Jesus e seus discípulos. Portanto, não só a comunidade dos primeiros discípulos
está convidada a fazer essa travessia, mas as de todos os tempos. Hoje, somos nós os
convidados.
A travessia também nos leva a fazer algo diferente, sair do velho e ir ao encontro do
novo, descruzar os braços e nos atirarmos ao encontro do desconhecido. Para que isso
aconteça, nós temos que estar ligados a Ele e não ter medo, pois Ele tudo pode e estará
sempre conosco, na nossa frente.
37
Sobreveio então uma tempestade de vento, e as ondas se jogavam para dentro do
barco, e o barco já estava se enchendo. 38Ele estava na popa, dormindo sobre o
travesseiro. Eles o acordam e dizem: “Mestre, não te importa que pereçamos? ”.
384
Na barca, rumo ao desconhecido, os discípulos remam em direção à outra margem.
Destacamos aqui um fator importante: Jesus está com eles, mas atrás da barca, dormindo
sobre um travesseiro. Está junto, mas quem conduz a barca, rema, são os discípulos.
É bom pararmos e esclarecer a cena. A barca entra nessa história simbolizando a
comunidade Igreja. Essa Igreja, a qual nós fazemos parte, é conduzida pelo homem. Jesus
está presente, mas somos nós os responsáveis pela condução dessa Igreja.
Voltando ao texto de hoje, a barca está atravessando o mar, que representa um lugar
de perigo, desconhecido, onde o “demônio” faz sua morada. Portanto, o mar simula todas as
forças que lutam contrário ao Reino de Deus.
É interessante essa comparação em relação a nossa comunidade que apesar dos
inúmeros conflitos, obstáculos..., acaba vencendo. E Jesus, onde está? Parece que está
alheio, dormindo. Não aparece, não intervém, pois somos nós que estamos na direção. Essa
é apenas nossa impressão, porque na verdade Jesus está bem acordado e do nosso lado. É
Ele que faz o vento parar e acalma o mar. Sem Ele certamente estaremos fadados ao
fracasso.
Com certeza o que nos desespera é a nossa falta de fé. Ressaltamos diante de
nossos olhos a derrota. Enquanto Jesus dorme tranquilamente, certo da vitória, pois tem fé,
acredita no Pai, é um vencedor.
385
Somente quem adere plenamente consegue responder essa pergunta, não tem medo
e, reconhece Jesus como Filho de Deus.
386
13° Domingo do tempo comum – Ano B
O Senhor da vida
Mc 5, 21- 43
21E de novo, Jesus atravessando de barco para o outro lado, uma numerosa multidão o
cercou, e ele se deteve à beira-mar. 22Aproximou-se um dos chefes da sinagoga, cujo
nome era Jairo, e vendo-o, caiu a seus pés. 23Rogou-lhe insistentemente, dizendo:
“Minha filhinha está morrendo. Vem e impõe sobre ela as mãos, para que ela seja salva
e viva”. 24Ele o acompanhou e numerosa multidão o seguia, apertando-o de todos os
lados.
25Ora, certa mulher que havia doze anos tinha um fluxo de sangue 26e que muito
sofrera nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo que possuía sem nenhum
resultado, mas cada vez piorando mais, 27tinha ouvido falar de Jesus. Aproximou-se
dele, por detrás, no meio da multidão, e tocou-lhe a roupa. 28Porque dizia: “Se ao
menos tocar as suas roupas, serei salva”. 29E logo estancou a hemorragia. E ela sentiu
no corpo que estava curada de sua enfermidade. 30Imediatamente, Jesus, tendo
consciência da força que dele saíra, voltou-se para a multidão e disse: “Quem tocou
minhas roupas? ” 31Os discípulos disseram-lhe: “Estás vendo a multidão que te
comprime e perguntas ‘Quem me tocou? ’ ” 32Jesus olhava em torno de si para ver
quem havia feito aquilo. 33Então a mulher, amedrontada e trêmula, sabendo o que lhe
tinha sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade. 34E ele disse a ela:
“Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e estejas curada desse teu mal”.
35
Ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: “Tua
filha morreu. Por que perturbas ainda o Mestre? ” 36Jesus, porém, tendo ouvido a
palavra que acabava de ser pronunciada, disse ao chefe da sinagoga: “Não temas; crê
somente”. 37E não permitiu que ninguém o acompanhasse, exceto Pedro, Tiago e João,
o irmão de Tiago. 38Chegaram à casa do chefe da sinagoga, e ele viu um alvoroço.
Muita gente chorando e clamando em voz alta. 39Entretanto, disse: “Por que este
alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está dormindo”. 40E caçoavam dele. Ele,
porém, ordenou que saíssem todos, exceto o pai e a mãe da criança. 41Tomando a mão
da criança, disse-lhe: “Talítha kum”─ o que significa: “Menina, eu te digo, levanta-te”.
42No mesmo instante, a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos. E
387
ficaram extremamente espantados. 43Recomendou-lhes então expressamente que
ninguém viesse a saber o que tinham visto. E mandou que dessem de comer à menina.
De volta à Galileia, Marcos intercala duas histórias: a cena da mulher com hemorragia e
a ressurreição da filha de Jairo. Os dois episódios são dramáticos, cheios de tensão,
expectativa e suspense. Jairo firma que a filha dele “está morrendo”. Mas o evangelho
desvia nossa atenção para uma mulher doente. E quando a narração volta a falar da
menina, Jairo recebe a notícia trágica: “sua filha morreu”.
As duas estórias não estão entrelaçadas ocasionalmente, mas estão profundamente
relacionadas. Vejamos: Trata-se de duas mulheres, uma começa a reconhecer o seu corpo
de mulher (naquela cultura, com cerca de doze anos as meninas eram dadas em casamento;
idade aproximada do início da menstruação); a outra sofre em seu corpo uma enfermidade
que lhe custa muito sofrimento; religioso/social (ritualmente impura, excluída); econômico
(gastou tudo que tinha e a situação só piorara) e familiar (impossibilidade de gerar filhos).
Doze anos é a idade da menina, e aí a morte chega. Aos doze anos começa a exclusão da
menina, pois com início da menstruação, começa a morrer! Há doze anos essa mulher
carrega a enfermidade que a exclui de tudo. A jovem, morta aos doze anos; a adulta, morta
há doze anos. Uma, morta na cama; a outra, morta viva ambulante. A morte da menina
seria o "destino" daquela que estava morrendo há doze anos. Conforme a mentalidade
daquela época, qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada
impura. As duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da participação da
comunidade.
Ao ouvir falar de Jesus, nasceu dentro da mulher uma nova esperança: “Se ao menos
eu tocar…” Ela tomou coragem, transgrediu a lei e tocou na roupa de Jesus. Aquilo que ela
acreditava aconteceu de fato e ela ficou curada. Jesus acolhe a atitude da mulher,
reconhece sua fé e a recebe na nova família, na comunidade que se formava ao seu redor
“Minha filha, sua fé curou você”. Com relação ao episódio da menina, Jesus pede a Jairo
“Não tenha medo. Creia somente”. O pessoal da casa deu risada quando Jesus disse que a
menina estava dormindo (compare com o riso de Sara, Gn17,17; 18, 12-14). Para eles a
morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar. Jesus mostra que são eles quem
estão dormindo. Transgredindo também a lei que exclui, Jesus toma a criança pela mão e diz
“Levanta-se”. Assim, duas mulheres são curadas! Jesus tem poder maior e ressuscita:
“Levanta-se! ”
388
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Senhor, Deus da vida, bendito sejas pela ação de Jesus que liberta as pessoas da exclusão,
da morte, e as coloca de pé. Ajudai-me a romper as barreiras que impedem a comunhão
universal. E reuni, ó Pai, “no mundo novo, onde brilha a vossa paz, os homens e as
mulheres de todas as classes e nações, de todas as raças e línguas, para a ceia da
comunhão plena. ”
389
14° Domingo do tempo comum – Ano B
Rejeição
Mc 6, 1- 6
1Saindo dali, foi para a sua pátria e os seus discípulos o seguiram. 2Vindo o sábado,
começou ele a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados,
dizendo: “De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como
se fazem tais milagres por suas mãos? 3Não é este o carpinteiro, o filho de Maria,
irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós? ” E
escandalizavam-se dele. 4E Jesus lhes dizia: “Um profeta só é desprezado em sua
pátria, em sua parentela e em sua casa”. 5E não podia realizar ali nenhum milagre, a
não ser algumas curas de enfermos, impondo-lhes as mãos. 6E admirou-se da
incredulidade deles.
Nesse trecho do Evangelho de Marcos, narra à última vez que Jesus vai à sinagoga. As
semelhanças são importantes: sábado, sinagoga, ensino e admiração. Mas agora estão em
Nazaré, a terra de Jesus.
Há em Marcos, três aparições importantes de Jesus na sinagoga. Na primeira (1, 21-
28), o sucesso é pleno. Na segunda (3,1-6), a tensão aumenta (tomam a decisão que Jesus
deve morrer). Na terceira (6, 1- 6a), tenta-se desmoralizar totalmente as palavras e ações de
Jesus.
É necessário entender que as sinagogas eram redutos dos doutores da Lei e fariseus.
Além de ser casa de oração, funcionava também como lugar de estudo e catequese. O
Evangelho de João (7, 15) é muito claro ao mostrar Jesus como alguém que não frequentou
essa escola formada de doutores da Lei. Por isso diziam: “De onde vem tudo isso? Onde foi
que arranjou tanta sabedoria? ” A ação de Jesus foi minada por não ter sido formado na
“escola oficial” de Jerusalém. Tenta-se desmoralizar Jesus por não ter “formação acadêmica”
como seus opositores.
A segunda objeção diz respeito à prática, os milagres: “E esses milagres que são
realizados pelas mãos dele? ”
390
A terceira objeção atinge Jesus na carne: “Esse homem não é o carpinteiro, o filho de
Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão”. Há dois detalhes importantes: O
primeiro é que chamam Jesus de “o carpinteiro”, não “filho do carpinteiro” como Mateus 13,
55. Na época, ser carpinteiro englobava ser serralheiro (trabalhava com ferro), pedreiro
(trabalhava com pedras) e é claro o trabalho com madeira. O segundo é que Jesus é
chamado de “o filho de Maria”. O artigo definido dá a entender que devia ser o único.
Portanto, os irmãos e irmãs que vêm a seguir costumam ser entendidos em sentido amplo,
como parentes próximos.
Fato é que Jesus provoca escândalo, ou seja, é rejeitado.
391
15° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 6, 7–13
Depois da rejeição da Boa Notícia na terra de Jesus, Marcos mostra Jesus plenamente
mobilizado, com algumas estratégias novas. A primeira é percorrer as redondezas e ensinar
para novos povoados. Nota-se uma mudança importante. A partir de agora Jesus não
ensinará mais nas sinagogas, mas sim nas casas. A segunda estratégia é buscar reforços
para o anuncio da Boa Notícia, ou seja, engajar os Doze na mesma missão de Jesus.
Jesus estabelece normas para o ser e o agir dos Doze. Não podemos deixar de
observar o detalhe de serem enviados “dois a dois”.
“Dois a dois” eles recebem de Jesus poder sobre os espíritos impuros. Note que Jesus
sempre foi guiado pelo Espírito Santo e agora envia os discípulos em grupos de dois, ou
seja, palavras de Jesus: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei no
meio deles”. De dois em dois temos a certeza de que somos guiados pelo Espírito Santo.
Recebem, pois, aquilo que o próprio Jesus possui, ou seja, a autoridade para libertar as
pessoas de tudo aquilo que as aliena, oprime e despersonaliza. Há tantos demônios no
nosso meio que nos afastam do seguimento de Jesus, que nos escravizam, tiram a nossa
liberdade e nos afastam do Reino de Deus. Podemos citar alguns: inveja, egoísmo, raiva,
preguiça, gula, vicio (fumo, bebida, drogas, sexo...), busca desenfreada do ter, do ser...
Enfim, a lista continua, é grande demais para ser citada. É bom recordar que o ser humano
foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1, 26). Todavia, há tantas situações,
geralmente provocadas pela ganância humana, que desfiguram essa imagem. Cabe aos
392
discípulos devolverem ao ser humano à imagem e a semelhança de quem o fez. Jesus nos
dá a autoridade sobre todos esses demônios, os discípulos têm essa força. É importante
destacar que para ser discípulo houve um sim, uma disposição para uma caminhada, um
compromisso com o Reino, uma escolha que conduz a liberdade. Para esses que disseram
sim, Jesus os protege com a sua força, note que não é nossa essa autoridade, tudo vem
Dele. Essa autoridade de expulsar os demônios é um dos sinais (em Marcos) — talvez o
mais forte — da proximidade do Reino de Deus.
8Recomendou-lhes
que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado apenas;
nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto. 9Mas que andassem calçados com
sandálias e não levassem duas túnicas. 10E dizia-lhes: “Onde quer que entreis numa
casa, nela permanecei até vos retirardes do lugar. 11E se algum lugar não vos receber
nem vos quiser ouvir, ao partirdes de lá, sacudi o pó de debaixo dos vossos pés em
testemunha contra eles”. 12Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. 13E
expulsavam muitos demônios, e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo.
393
hora, a semente nascerá quando as condições forem oportunas. É só esperar. Não sabemos
como isso acontece, mas Deus sabe e isso basta.
A nossa missão é divulgar o Reino, levar a liberdade para todos e prepará-los para as
ciladas do demônio. Esse preparar é representado com o óleo. É bom saber que há muito
tempo o óleo era usado para ser passado em todo o corpo dos homens que iriam para o
campo de batalha. Ficavam escorregadios e dessa forma era difícil de serem agarrados.
Hoje a ideia é a mesma o óleo nos prepara para o campo de batalha. Ungimos com óleo os
nossos filhos quando os alertamos contra os perigos dos vícios, principalmente o das drogas.
É um alerta, preparar para a batalha.
394
16° Domingo do tempo comum – Ano B
O Banquete da vida
Mc 6, 30-34
30Os
apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
31Ele
disse: “Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco”. Com
efeito, os que chegavam e os que partiam eram tantos que não tinham tempo nem de
comer. 32E foram de barco a um lugar deserto, afastado. 33Muitos, porém, os viram
partir e, sabendo disso, de todas as cidades, correram para lá, a pé, e chegaram antes
deles. 34Assim que ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de
compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-
lhes muitas coisas.
Os apóstolos (que significa enviados) retornam da missão. Relatam tudo o que fizeram
e ensinaram, verbos que, como já se viu, caracterizam a prática de Jesus.
A missão cresce, as necessidades do povo se tornam evidentes, a ponto de não sobrar
tempo sequer para comer. Mas, nota-se a diferença: os apóstolos (e Jesus) não têm tempo
para comer, enquanto o povo não tem comida. Como poderá haver anúncio da Boa Notícia
se o povo está passando fome?
Outro detalhe importante é que antes Jesus se dirigia para um lugar afastado, mas
sozinho. Agora os seus discípulos vão juntos, ou seja, estão fazendo o que Jesus fez, estão
em comunhão. Enganamo-nos se pensarmos que Jesus nos leva a um oásis de paz, longe
dos problemas que tocam a sobrevivência do ser humano para aí desfrutar as glórias. Não,
quando chegam ao lugar deserto, aí estão as pessoas com suas necessidades urgentes,
como a comida da qual depende a sobrevivência.
Estamos, portanto, participando de um novo êxodo: o povo sai de todas as cidades em
que passa necessidade por ser explorado pela ganância dos grandes, e se dirige ao deserto,
onde celebra o banquete da vida e da abundância de alimentos para todos.
395
Jesus vendo o povo teve compaixão (sofreu junto). Foi ao encontro e começou a
ensinar.
396
17° Domingo do tempo comum – Ano B
Jo 6,1-15
1Depois disso, passou Jesus para a outra margem do mar da Galileia ou de Tiberíades.
2Uma
grande multidão o seguia, porque tinha visto os sinais que ele realizava nos
doentes. 3Subiu, então, Jesus à montanha e aí se sentou com os discípulos. 4Estava
próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
5Levantando Jesus os olhos e vendo a grande multidão que a ele acorria, disse a
Filipe: “Onde compraremos pão para que eles comam? ” 6Ele falava assim para pô-lo à
prova, porque sabia o que iria fazer. 7Respondeu-lhe Felipe: “Duzentos denários de
pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço”. 8Um de seus
discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, lhe disse: 9“Há aqui um menino, que tem
cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isso para tantas pessoas? ” 10Disse
Jesus: “Fazei que se acomodem”. Havia muita grama naquele lugar. Sentaram-se pois
os homens, em número de cinco mil aproximadamente. 11Tomou, então, Jesus os pães
e, depois de dar graças, distribuiu-os aos presentes, assim como os peixinhos, tanto
quanto queriam. 12Quando se saciaram, disse Jesus a seus discípulos: “Recolhei os
pedaços que sobraram para que nada se perca”. 13Eles os recolheram e encheram
doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados de sobra pelos que
se alimentaram. 14Vendo o sinal que ele fizera, aqueles homens exclamavam: “Esse é,
verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo! ” 15Jesus, porém, sabendo que
viriam buscá-lo para fazê-lo rei, refugiou-se de novo, sozinho, na montanha.
Caiu à tarde. Entende-se que Jesus passou um grande espaço de tempo com aquelas
pessoas, animando-os, curando-os e ensinando sobre o Reino de Deus.
Como já era tarde e o lugar era deserto, os discípulos se preocuparam com as
pessoas, pois eram muitos. Estavam com fome, sede e a noite se aproximava. Pensavam os
discípulos que o melhor jeito de se livrarem do problema era mandar eles embora, que cada
um cuide de sua vida, voltando para casa.
397
Mas Jesus os põe contra a parede. Ficaram admirados com a resposta de Jesus:
“Dai-lhe vós mesmo de comer”. E agora, o que fazer? Comprometer-se com o Reino de Deus
e encontrar soluções, é ir ao encontro das pessoas, ajudando-as. Entretanto, os discípulos
estavam impotentes diante desta situação. Responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois
peixes”
Jesus, porém, acredita na providência divina. Pede para trazer os pães e os peixes e
em seguida solicita para o povo sentar-se para poder comer. Sentar para comer era um
gesto que só as pessoas livres podiam fazer. Não precisam voltar para a cidade onde reina a
morte. Jesus os acolhe e os liberta.
Jesus agradece a Deus e abençoa o alimento e todos comem livremente, a vontade.
Deus dá de graça, Jesus distribui, prolongando essa partilha com os discípulos e hoje
para cada um de nós, seus seguidores.
A gratuidade era tanta que todos comeram e ficaram satisfeitos. Lembremos da Bem-
aventurança: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
Com as sobras que foram doze cestos, significando todos os povos, vem mostrar para
nós que a solução dos problemas da humanidade é definitivamente a partilha.
398
18° Domingo do tempo comum – Ano B
Jo 6, 24-35
24Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiu aos
barcos e veio para Cafarnaum, à procura de Jesus. 25Encontrando-o do outro lado do
mar, disseram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui? ” 26Respondeu-lhes Jesus: “Em
verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas
porque comestes dos pães e vos saciastes.
Mais uma vez a multidão não entende os sinais de Jesus. Isto é prova de que as
pessoas estão presas apenas à vida material e só isso importa. É o egoísmo que aflora e
domina a todos.
Jesus vem mostrar que o ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, e
somente com Deus ele é pleno. Mas, está livre para se afastar de quem o criou. Note que o
ser humano não é pleno quando se afasta do criador, ele precisa dominar a si mesmo, o ego,
ou seja, voltar para Deus e responder com amor. Dessa forma, somente dessa forma
acontecerá a partilha.
A multidão não entende e se fixa em Jesus, eles querem depender de um líder, ou
melhor, dos esforços apenas de um líder. Mais uma vez esperam que a resposta venha de
cima. Eles estão fora, cruzam os braços e esperam.
27Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a
vida eterna, alimento que o filho do Homem vos dará, pois Deus, o Pai, o marcou com
seu selo”. 28Disseram-lhe, então: “Que faremos para trabalhar nas obras de Deus? ”
29
Respondeu-lhes Jesus: “A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou”.
30Então lhe perguntaram: “Que sinal realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que
399
obra fazes? 31Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: Deu-lhes
pão do céu a comer”.
32Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem
vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu; 33porque o
pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.
34
Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre deste pão! ” 35Jesus lhes disse: “Eu sou o
pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais
terá sede”.
No antigo testamento, Moisés conduziu o povo para a liberdade. Mas as pessoas tudo
esperavam dele. Sem Moisés o povo padecia.
Jesus é aquele que conduz para um novo êxodo, mas o povo ainda está preso ao
velho, necessita de um líder que tudo faz para eles. Aquele que veio trazer a liberdade é
transformado em alguém que mata a fome.
No deserto Moisés dava ao povo o maná. Mas não foi Moisés quem deu o maná e sim
o Pai. O Pai mantém a vida e para isso Ele não necessita fazer um comércio entre os
homens, fazer trocas. É de graça, mas é preciso aceitar essa graça.
O povo entendeu que Jesus é um profeta, mas ainda as pessoas estão presas ao
passado. O pão é um presente e representa tudo o que o homem precisa para viver e ser
feliz, pleno. Quando Jesus diz que Ele é o pão está querendo dizer que Ele é a
representação definitiva de tudo aquilo que o Pai deseja para o homem. Entretanto o povo
continua inerte, passivo, pois somente pede: dá-nos sempre desse pão.
Jesus vem mostrar o caminho, apenas veio mostrar o caminho e Ele é o caminho.
E, nós temos que passar por esse caminho, Jesus não pode passar por nós. Assim,
não tem como Jesus acabar com a nossa sede, é preciso que eu vá até ele e beba dessa
fonte, ou seja, eu tenho que ser Jesus, fazer o que ele fez. Volto a repetir, Ele não pode fazer
essa caminhada por mim, sou eu que tenho que caminhar.
Aquele que entrar por esse caminho, assimila Jesus e com isso não sente mais
necessidade, pois Jesus é o pão. Quando atingimos esse ápice aprendemos finalmente a
amar, a doar-se. Somos livres, o ego está dominado, não nos escraviza mais.
Quando aprendermos a ser Jesus não haverá mais carentes, pobres ou
marginalizados, pois o projeto de Deus se tornou realidade.
400
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Pai querido. Abra a minha mente, o meu coração para que entenda a verdade, a sua verdade
e dê forças para esse pobre servo deixar de lado as minha verdades e interesses.
401
19° Domingo do tempo comum – Ano B
Jo 6,41-51
41Os judeus murmuravam, então, contra ele, porque dissera: “Eu sou o pão descido do
céu”. 42E diziam: “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos?
Como diz agora: Eu desci do céu?!”
Percebemos que a proposta de Jesus está encontrando rejeições por parte da multidão
e da autoridade.
Jesus é o caminho, a realização plena da vontade de Deus. É nele que devemos nos
espelhar, seguir.
Entretanto para muitos um Deus que nasce no meio dos pobres e vive entre eles não é
significativo, não chama a atenção. Foi o que aconteceu com as autoridades judaicas. Seguir
a ele?! Esperavam um líder poderoso capaz de resolver os problemas “sozinho”, sem a
intervenção deles. Eles não podiam colocar em risco o lugar, posição social que alcançaram.
Mas, aceitar Jesus, um ser humano, pobre! Não, isso não é possível. Lembremos o que
Natanael disse: “De Nazaré pode sair algo que preste? ” (1,46).
Ser gente entre a gente é ser pedra de tropeço para aqueles que vivem apenas dos
frutos do mundo.
43Jesus
lhes respondeu: “Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim se o
Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos
profetas: E todos serão ensinados por Deus. Quem escuta o ensinamento do Pai e
dele aprende vem a mim. 46Não que alguém tenha visto o Pai; só aquele que vem de
junto de Deus viu o Pai.
402
Jesus se revela humano e é dessa forma que vamos entender quem é Deus. Para a
grande maioria das pessoas isso é impossível, pois esperam o sobrenatural, esperam o
milagre, podemos até dizer que aguardam que tudo se realize em um passe de mágica.
Lembremos que Jesus rejeitou tudo isso quando foi tentado no deserto. Logicamente
podemos dizer que o que vem fácil não é de Deus.
Quem ainda não entendeu essa mensagem, então não se sentiu atraído por Deus. Está
esperando ser chamado.
Note que Deus está ensinando a todos, não faz diferença. Mas poucos entendem os
ensinamentos que vem de Deus. Na verdade, não querem ouvir, não querem aprender e sim
preferem ouvir aquele que promete vida fácil.
Jesus é a nova lei e quem o procura e aceita os seus ensinamentos e quer seguir pelo
mesmo caminho, é porque escutou o Pai.
Nós não conhecemos o Pai, só Jesus conhece o Pai e vê continuamente o Pai. E, só
vamos conhecer o Pai se vivermos integramente Jesus, pois Jesus viveu o Pai.
Jesus é a realização plena da vontade de Deus para toda a humanidade. Não é para
alguns poucos escolhidos e sim para todos.
O nosso objetivo nesta vida, a nossa missão é viver Jesus.
47Em
verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. 48Eu sou o pão
da vida. 49Vossos pais no deserto comeram o maná e morreram. 50Este pão é o que
desce do céu para que não pereça quem dele comer. 51Eu sou o pão vivo descido do
céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne
para a vida do mundo”.
No deserto o povo de Deus comeu o maná e voltaram a ter fome e morreram sem ter
entrado na terra prometida. Observe o paralelo, entrar na terra prometida significa viver o
Reino de Deus. Mas quem vive o Reino de Deus é aquele que aceitou fielmente os seus
ensinamentos, a sua verdade. O povo que vagava pelo deserto duvidou e se desviou do
verdadeiro caminho. Apesar de a terra prometida estar perto, ou seja, o Reino de Deus estar
muito próximo de nós, somos nós que decidimos não entrar nessa terra prometida e ficamos
vagando todo uma vida no deserto. Por causa da nossa escolha, por não ter ouvido o
chamado de Deus passamos necessidade, sofremos, somos infelizes. É importante dizer que
Deus quer o nosso bem e sofre pelo nosso não. Mas a escolha é nossa, somos livres para
escolher: ser feliz ou ser infeliz!
É contraposto dois alimentos para que possamos entender: um que não conduz a vida
e o outro que conduz a vida definitiva.
403
Logo, Jesus suplanta a lei antiga. A vida definitiva está em seguir Jesus. Em sua
condição de pão que simboliza tudo o que o ser humano precisa para ter uma vida feliz, livre,
que se revela a humanidade de Deus. Aceitar Jesus é passar da morte para a vida.
404
20° Domingo do tempo comum – Ano B
Banquete da vida
Jo 6,51-58
É bom entender que, segundo o conceito judaico daquele tempo, carne e sangue
designavam o homem completo; assim podemos indagar, de qual carne se trata aqui? O
sacrifício de Jesus na cruz, carne crucificada e imolada para “salvação do mundo”. Temos
aqui o caráter sacrifical da Eucaristia subentendido nessa afirmação de Jesus.
No costume antigo, comia-se a vítima oferecida em sacrifício e dessa forma se
participava do mesmo. Pois este é o objetivo essencial de São João no presente versículo,
ou seja, o de aguçar o efeito redentor e universal da morte de Jesus, em benefício do mundo.
52Osjudeus discutiam entre si, dizendo: “como esse homem pode dar-nos a sua carne
a comer? ”
Com essa afirmação de Jesus os escribas e fariseus partiram para a censura enérgica
à promessa de Jesus, recusam em aceitar, consideravam uma proposta descabida e
atentatória à lei e aos costumes.
53Então
Jesus lhes respondeu:
405
“Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.
54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei
no último dia.
55Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é
verdadeiramente uma bebida.
56
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele.
Sabemos que o sentido que Jesus deseja passar é vivê-lo integralmente, por isso ele
faz essa comparação, tudo o que comemos e bebemos se torna nossa carne, sangue,
energias. Comer a carne e beber o sangue de Jesus não é mero ato de compaixão, mas uma
espécie de encarnação do Filho do Homem em nossa vida. Essa é realização do plano de
Deus, de seu grande sonho. Viver Jesus plenamente é fazer a vontade do Pai. Assim, as
nossas ações, palavras, sentimentos… se tornem suas ações, palavras, sentimentos… Ou,
em outro aspecto, ele atue, fale e sinta em nós e por meio de nós.
.
57Assim
como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de
mim se alimenta viverá por mim.
58Este
é o pão que desceu do céu.
Ele não é como o que os pais comeram e pereceram; quem come este pão viverá
eternamente.
No Batismo começa em nós a vida sobrenatural onde o autor da vida se entrega a nós
como alimento e passa a sua missão a cada um de nós. Da mesma maneira pela qual Jesus
recebe a vida do Pai, nós a recebemos do Filho como de fonte e princípio.
Essa é a graça de Deus, mesmo que não entendemos o Espírito Santo faz morada em
nós e aguarda o momento para se manifestar.
Viver Jesus, essa é a meta do ser humano e é na eucaristia que nos aproximamos
ainda mais, assemelhando-nos a Jesus.
Jesus passou a sua vida em estreita comunhão com o Pai, e agora deseja que essa
comunhão continue em cada um de nós. A vida que o Pai partilhou com o Filho é partilhada
também com quem adere ao Filho, formando uma trindade de comunhão.
406
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Pai querido, apesar de ouvir o seu chamado ainda estou ligado a vida fácil, falta muito para
realmente eu poder viver Jesus. Mas imploro por sua misericórdia, venha ao meu encontro e
transforme a minha vida, faça que eu o ouça plenamente e faça a sua vontade.
407
21° Domingo do tempo comum – Ano B
Escolher a Cristo
Jo 6,60-69
60Muitos de seus discípulos, ouvindo-o, disseram: “Essa palavra é dura! Quem pode
escutá-la? ” 61Compreendendo que seus discípulos murmuravam por causa disso,
Jesus lhes disse: “Isto vos escandaliza? 62E quando virdes o Filho do Homem subir a
onde estava antes? ... 63O espírito é que vivifica, a carne para nada serve. As palavras
que vos disse são espírito e vida. 64Alguns de vós, porém, não creem”. Jesus sabia,
com efeito, desde o princípio, quais os que não criam e quem era aquele que o
entregaria. 65E dizia: “Por isso vos afirmei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe
for concedido pelo Pai”.
66A
partir daí, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele.
67
Então, disse Jesus aos Doze: “Não quereis também vós partir? ” 68Simão Pedro
respondeu-lhe: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e 69nós cremos
e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
É muito importante notar que Pedro fala em nome dos doze. Todos aceitaram a
proposta de Jesus, talvez ainda não entenderam o que vão encontrar pelo caminho, mas
estão convictos de que esse é o único caminho.
Essa opção é um dom de Deus e ao mesmo tempo, livre escolha de cada um de nós.
Essa graça Ele distribui para todos, mas poucos entendem e acolhe.
Quem escolhe esse caminho sabe que haverá dor, pois temos que ser moldados,
lapidados, é preciso tirar arestas! No entanto, para aquele que crê, entende a vontade de
Deus aceita tudo com alegria, pois sabe que é para o seu próprio bem. Deus sabe o que faz
e tudo o que Ele faz é bom.
409
22° Domingo do tempo comum – Ano B
Conservar ou mudar?
Mc 7,1-8.14-15.21-23
Esse trecho que é contra as tradições que impedem a vida tem três momentos. Dois
acontecem fora de casa: Jesus contra os fariseus e doutores da Lei (7, 1-13); Jesus e o
410
povo, anunciando-lhe uma nova moralidade (7, 14-16). Em casa, temos Jesus e os
discípulos (7, 17-23), reforçando e ampliando a reflexão proposta à multidão.
Com esse texto retorna-se ao clima das controvérsias. Mas agora o ponto é outro.
Trata-se de apresentar a nova compreensão da vontade de Deus, sem barreiras nem
privilégios.
Jesus os acusa abertamente de hipócritas, ou seja, bons atores, que fingem uma
religião de louvor ou exterioridade (lábios), sem compromisso (coração, isto é, “constância”,
distante). Ele estabelece nítida distinção entre “Mandamentos de Deus” e “tradição dos
homens”, dando ao primeiro o peso da norma, e tirando do segundo qualquer
obrigatoriedade.
Quanto ao “honrar” pai e mãe esconde-se muito mais do que vemos à primeira vista.
Honrar significa também sustentar economicamente (Eclesiástico 3, 2-16).
Agora se pode entender melhor a hipocrisia dos fariseus. Ostentando religiosidade e
querendo escrupulosamente agradar a Deus, tiravam o pão da boca dos pais para oferecê-lo
a Deus.
Em outro cenário (7, 14-16) mostra Jesus com a multidão reunida em volta dele, para
aprender algo novo; depois, a explicação em particular aos discípulos (7, 17-23). Jesus
conclui que não sãos as coisas exteriores que podem tornar o homem impuro, Isto é, inábil
para o encontro com Deus, mas é o relacionamento que o homem estabelece com as coisas
que saem do homem que o tornam inábil para a comunhão com Deus.
411
23° Domingo do tempo comum – Ano B
A Fé e a Palavra
Mc 7,31-37
Ainda estamos em território pagão. Jesus não se encontra mais na terra da mulher
sábia, mas em Decápole, ou seja, ao lado oriental do mar da Galileia. Continuamos, portanto,
em terra de não judeus.
Pode-se perguntar se a fama de Jesus nessa região não é devida àquele homem que
tinha sido possuído pela legião.
Mais uma vez temos o fenômeno da ausência dos discípulos, e esse detalhe reforça a
pergunta: “Quem é o discípulo de Jesus? ”
Jesus executa vários gestos cujo significado às vezes nos escapa: com o homem
afasta-se da multidão, põe os dedos no ouvido dele, cospe, toca com sua saliva a língua
desse homem, olha para o céu, suspira e fala. Nota-se um detalhe: são sete ações, e a
sétima e última culmina na fala de Jesus: “Effatha! ” (Abre-se!). O suspiro de Jesus, é gesto
único nos quatro evangelhos, e faz pensar no gemido dos hebreus sob o peso do novo
Faraó.
O silêncio exigido por Jesus não é respeitado. O efeito é contrário: quanto mais é
exigido, mais é transgredido. O resultado disso é a constatação de que Jesus faz bem todas
as coisas. Esse detalhe é importante no plano de Marcos. Jesus inicia uma nova criação em
412
que todas as coisas são bem-feitas. Com isso o Reino está se aproximando sempre mais, e
isso constitui Boa Notícia não só para os judeus, mas também para os pagãos.
413
24° Domingo do tempo comum – Ano B
O Messias sofredor
Mc 8, 27-35
31E
começou a ensinar-lhes: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos
anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três
dias, ressuscitar”. 32Dizia isso abertamente. Pedro, chamando-o de lado, começou a
recriminá-lo. 33Ele, porém, voltando-se e vendo seus discípulos, recriminou a Pedro,
dizendo: “Afasta-te de mim, Satanás, porque não pensas as coisas de Deus, mas as
dos homens! ”.
34Chamando
a multidão, juntamente com seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém
quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35Pois aquele
que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas, o que perder a sua vida por causa de
mim e do Evangelho, irá salvá-la.
Jesus conduz seus discípulos para uma região pagã, os povoados de Cesaréia de Filipe.
Esse detalhe é importante. Nota-se que não é região controlada por Herodes. Além disso, o
local fica longe de Jerusalém. Com isso, temos então a seguinte constatação: A resposta de
“quem é Jesus” deve estar isenta de influência vinda da opinião pública. Deve ser coisa
pessoal.
Longe da opinião pública, que diz que Jesus é um profeta, apenas, Pedro responde
precisamente: “Tu és o Messias”.
414
Exige-se compromisso. Talvez seja por isso que Jesus proíbe severamente espalhar a
notícia.
O porquê dessa ameaça parece claro, pois a resposta de Pedro declara Jesus “o Messias”.
“Essa palavra hebraica significa ungido”, e faz logo pensar nos antigos reis do povo de Deus.
Declarar abertamente que Jesus é o Messias, como vimos, tinha repercussões políticas
sérias, além do desconhecimento da real dimensão do messianismo de Jesus.
Depois do anuncio da Paixão, Pedro reage duramente. O momento é grave e tenso, e parece
ser a suprema tentação sofrida por Jesus. Ele manda o satanás Pedro passar para trás dele
(33b). É interessante, que mesmo chamando-o de Satanás, Jesus crê que Pedro poderá se
tornar bom seguidor, mas, toda pessoa que deseja ser discípulo de Jesus terá de aprender o
seguinte: Não posso pretender um Messias feito sob medida para mim, feito à minha imagem
e semelhança, conforme meu interesse ou capricho, mas sou eu que devo me tornar à
imagem e semelhança dele, caminhar atrás dele.
Sendo assim, há apenas uma forma de ganhar a vida e salvá-la: doando-a, como o Messias
Jesus.
415
25° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 9, 30-37
30Tendo partido dali, caminhava através da Galileia, mas não queria que ninguém
soubesse, 31pois ensinava aos seus discípulos e dizia-lhes: “O Filho do Homem é
entregue às mãos dos homens e eles o matarão e, morto, depois de três dias ele
ressuscitará”. 32Eles, porém, não compreendiam essa palavra e tinham medo de
interrogá-lo.
33E
chegaram a Cafarnaum. Em casa, ele lhes perguntou: “Sobre o que discutíeis no
caminho? ” 34Ficaram em silêncio, porque pelo caminho vinham discutindo sobre qual
era o maior. 35Então ele, sentando-se, chamou os doze e disse: “Se alguém quiser ser
o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”. 36Depois tomou uma criança,
colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes: 37“Aquele que receber
uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe,
não é a mim que recebe, mas sim aquele que me enviou”.
416
A expressão “em nome” (9,37) passa para a cena seguinte. É a primeira “grande ação”
dos discípulos: impedir alguém de expulsar demônios, já que não conseguem fazer o que
lhes tinha sido confiado. É mais uma situação crítica no caminho do discípulo que, tendo
recebido de Jesus a autoridade sobre os demônios, encontra-se incapaz de fazê-lo.
“Ser de Cristo” não significa necessariamente ser do grupo que segue de perto, mas
estar sintonizado com ele numa prática que é a Boa Notícia aos excluídos, tornando o Reino
cada vez mais próximo. O menor gesto de “acolhida” não ficará despercebido a Deus.
A última unidade desse trecho tem este significado: os pequeninos servidores que
acreditam, vendo os seguidores de Jesus brigando, competindo e se destruindo por causa do
poder, desistem da caminhada e do serviço gratuito e desinteressado. As palavras de Jesus
contra essa proposta são extremamente severas: seria preferível a morte.
O sal era, ainda, símbolo de aliança, como se explica em Mateus 5,13. No passado,
parceiros de uma aliança costumavam selar o pacto comendo sal. A última frase parece
referir-se a isso, acrescentando o tema paz. A ausência da paz é um sintoma de briga pelo
poder.
417
26° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 9, 38-43,45,47-48
38Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em
teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”. 39Jesus, porém, disse: “Não o
impeçais, pois não há ninguém que faça um milagre, em meu nome e logo depois
possa falar mal de mim. 40Porque quem não é contra nós é por nós”.
41De fato, quem vos der a beber um copo d’água por serdes de Cristo, em verdade vos
digo que não perderá a sua recompensa.
42Se
alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que lhe
prendessem ao pescoço a mó que os jumentos movem e o atirassem ao mar. 43E se a
tua mão te escandalizar, corta-a: melhor é entrares mutilado para a Vida do que, tendo
as duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível.
45
E se teu pé te escandalizar, corta-o: melhor é entrares com um só pé para a Vida do
que, tendo os dois pés, seres atirado na geena. 47E se teu olho te escandalizar,
arranca-o: melhor é entrares com um só olho no Reino de Deus do que, tendo os dois
olhos, seres atirado na geena, 48onde o verme não morre e onde o fogo não se
extingue.
418
Assim como Jesus tem os seus seguidores, os discípulos se viam na mesma situação,
queriam ser seguidos. No entanto, se esquecem de que não são os discípulos que têm
seguidores e sim Jesus!
“Ser de Cristo” não significa necessariamente ser do grupo que segue de perto, mas
estar sintonizado com ele numa prática que é a Boa Notícia aos excluídos, tornando o Reino
cada vez mais próximo. O menor gesto de “acolhida” não ficará despercebido a Deus.
A última unidade desse trecho tem este significado: os pequeninos servidores que
acreditam, vendo os seguidores de Jesus brigando, competindo e se destruindo por causa do
poder, desistem da caminhada e do serviço gratuito e desinteressado. As palavras de Jesus
contra essa proposta são extremamente severas: seria preferível a morte.
419
27° Domingo do tempo comum – Ano B
Os dois serão um
Mc 10, 2-16
É a primeira intervenção de Jesus na Judeia (10,1), e com isso ficamos alerta com o
perigo que se aproxima quando ele chega a Jerusalém (11,1).
Novamente os fariseus se aproximam para “testar” Jesus. Satanás aparece na ação
dos fariseus, que perguntam se a Lei permite um homem se divorciar de sua mulher.
A resposta de Jesus é cautelosa e abrangente. Pergunta o que Moisés manda fazer,
recebendo dos fariseus a resposta (4). Jesus enfrenta a permissividade excludente dos
fariseus com uma acusação: dureza de coração, expressão que caracteriza, entre outras
coisas, a resistência do Faraó ao projeto de Liberdade e de vida que vem de Deus. Ao
mesmo tempo, faz a relação homem-mulher com toda a intensidade que o projeto de Deus
lhe destinou (10, 6b-8).
420
O casamento é a validação da vocação à vaidade e à comunhão na diversidade do
homem e da mulher. A expressão “uma só carne” é tirada de Gênesis 2, 24, a segunda
narrativa da criação.
Em casa (10-12) continua o ensinamento personalizado a respeito desse tema.
Sublinha a igualdade e a corresponsabilidade de homem e mulher.
A cena da criança com Jesus (13-16) tem contatos com o que antecede. De fato, se os
fariseus discriminavam as mulheres, os discípulos descriminam as crianças, repreendendo-
as.
Jesus entende a ação dos discípulos como proibição, e esse fato está estreitamente
ligado à ação aprofundada no capítulo anterior, dando-nos, mais uma vez, a sensação de
que os seguidores de Jesus estão muito longe de serem como o seu Mestre.
421
28° Domingo do tempo comum – Ano B
Riqueza e disponibilidade
Mc 10, 17- 30
17Ao retornar o seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante dele, perguntando:
“Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? ” 18Jesus respondeu: “Por que me
chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. 19Tu conheces os mandamentos: Não
mates, não cometas adultérios, não roubes, não levantes falso testemunho, não
defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe”. 20Então ele replicou: “Mestre, tudo isso
eu tenho guardado desde minha juventude”. 21Fitando-o, Jesus o amou e disse: “Uma
só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu.
Depois, vem e segue-me”. 22Ele, porém, contristado com essa palavra, saiu pesaroso,
pois era possuidor de muitos bens.
23Então Jesus, olhando em torno, disse a seus discípulos: “Como é difícil a quem tem
riquezas entrar no Reino de Deus! ” 24Os discípulos ficaram admirados com essas
palavras. Jesus, porém, continuou a dizer: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de
Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no
Reino de Deus! ” 26Eles ficaram muito espantados e disseram uns aos outros: “Então,
quem pode ser salvo? ” 27Jesus, fitando-os, disse: “Aos homens é impossível, mas
não a Deus, pois para Deus tudo é possível”.
28Pedro
começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Jesus
declarou: “Em verdade vos digo que não há quem tenha deixado casa, irmão, irmãs,
mãe, pai, filhos ou terras por minha causa ou por causa do Evangelho, 30que não
receba cem vezes mais desde agora, neste tempo, casas, irmãos e irmãs, mãe e filhos
e terras, com perseguições; e, no mundo futuro, a vida eterna.
O encontro de Jesus com o homem rico tem semelhança com o chamado dos primeiros
quatro discípulos (1, 16-20). Mas há também diferenças, como o fato de não ser Jesus quem
422
chama, pois, o próprio homem rico se apresenta perguntando e, de certa forma,
espalhafatoso e adulador.
Mesmo assim, Jesus faz gesto único e irrepetível: “Olhou para ele com amor” (10,21). É
o encontro de dois caminhos, e nesses dois caminhos percebem-se as duas perguntas
básicas de Marcos.
É importante notar, dede já, que o homem rico pergunta o que deve fazer para herdar a
vida eterna, e lhe é dito que, se der aos pobres tudo o que possui e seguir Jesus, terá um
tesouro no céu. Vida eterna será o dom futuro de quem tiver deixado tudo, como os
discípulos (30).
É importante notar que na série de condições propostas por Jesus ao homem rico
(mandamentos), faltam exatamente as que se referem à relação com Deus. Esse fato nos
leva a constatação de que Deus não pede nada para si. Se quisermos fazer algo a ele, deve-
se fazê-lo à pessoa necessitada ou excluída.
E aqui se toca uma questão central quanto ao perfil dos seguidores de Jesus. Há uma
incompatibilidade de base entre a concentração de bens e o seguimento. Na verdade, são as
pessoas que com sua prática de concentração tornam impossível a salvação. O que será
dessas pessoas que souberam se desfazer do próprio eu? Simplesmente passam a fazer
parte da grande família de Jesus (3, 31-35).
A vida eterna, busca que preocupava o homem rico, reaparece aqui, como dom de
Deus para quem souber partilhar a vida terrena. E a frase final mostra que, nessa busca,
podemos nos enganar, pensando ocuparmos o primeiro lugar na fila, quando, na verdade, é
o contrário que acontece.
Mc 10,35-45
424
Nessa caminhada, Tiago e João – representando-nos como discípulos, pedem o poder.
Mas o poder que eles pedem é aquele que causou a morte de Jesus: o poder religioso (chefe
dos sacerdotes) e o poder judiciário (doutores da Lei).
“Estar na Glória”. O que será que os discípulos entenderam com essa expressão?
Jesus lhes dá nota zero dizendo: “Vocês não sabem o que estão pedindo”.
Os outros discípulos ficam escandalizados, não porque entenderam a proposta de
Jesus, mas por inveja desses dois ousados irmãos. Não é à toa que Jesus chama todos eles
e lhe apresenta uma síntese do que ele entende por poder e como o traduz no dia-a-dia.
A ação de Jesus nos libertou para sempre, a fim de que não sejamos escravos de
nenhum poder, e para que possamos compreender que a força do poder é o serviço.
425
30° Domingo do tempo comum – Ano B
O caminho da fé
Mc 10,46-52
426
e assim como fez o cego Bartimeu, continuamos o nosso caminho, continuamos a gritar e
cada vez maia alto.
Note que esse Evangelho nos educa a fazermos o pedido certo, somos como esse
cego, vivemos na escuridão, nada entendemos, falta fé, demoramos em seguir os passos de
Jesus, o nosso coração está endurecido.
Um outro detalhe importante que nos leva a questionar sobre a nossa caminhada na fé,
rumo a Jesus. O cego é aquele que fica sentado, esperando que alguém o ajude, tenha
misericórdia dele. No entanto, o cego Bartimeu, que nem tem nome, pois Bartimeu significa
filho de Timeu, é aquele que não tem valor, está parado, não tem valor para a sociedade.
Será que somos esse cego? Estamos parados, não influenciamos em nada a nossa
sociedade, a nossa igreja, a nossa comunidade?
427
31° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 12, 28b-34
A pergunta é ardilosa, é claro, não podia ser diferente, pois vinha de um mestre da Lei.
Dessa vez essa questão não vem para tentar desmascarar o Mestre, não se trata de mais
uma armadilha. O ensinamento de Jesus vem no contexto de uma pacífica discussão com
um escriba, onde ele pergunta: “Qual é o maior de todos os mandamentos? ”
A resposta de Jesus vem de um nível de um verdadeiro Mestre, do Mestre dos Mestres.
A sua resposta desmantela a espiritualidade daquele “pobre mestre da Lei”. O
comportamento religioso fica definido na sua relação com Deus e com o próximo. A sua ação
com relação ao seu irmão que está do seu lado vai medir a sua religiosidade.
Parece que o mestre da Lei entendeu a mensagem de Jesus, amar a Deus e ao
próximo é melhor do que as práticas religiosas, no caso os holocaustos e os sacrifícios, e
Jesus confirma isso ao afirmar que ele não está longe do reino de Deus.
A nossa vida religiosa só tem sentido enquanto é um reflexo do amor vivido
concretamente, ou seja, enquanto é manifestação da nossa solidariedade. Caso contrário, a
religião se reduz a práticas mágicas, rituais vazios, que nada acrescentam a ninguém e não
nos aproxima de Deus.
428
Muitas pessoas acham que para serem salvas, é suficiente cumprir todas as suas
obrigações de ordem religiosa como a participação nas celebrações e atos devocionais.
Hoje Jesus está esperando a nossa resposta, será que eu entendo assim como o
mestre da Lei entendeu?
429
32° Domingo do tempo comum – Ano B
Mc 12, 38-44
38E dizia no seu ensinamento: “Guardai-vos dos escribas que gostam de circular de
toga, de ser saudados nas praças públicas, 39e de ocupar os primeiros lugares nas
sinagogas e os lugares de honra nos banquetes; 40mas devoram as causas das viúvas
e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa”.
41E, sentado frente ao Tesouro do Templo, observava como a multidão lançava
pequenas moedas no Tesouro, e muitos ricos lançavam muitas moedas. 42Vindo uma
pobre viúva, lançou duas moedinhas, isto é, um quadrante. 43E chamando a si os
discípulos, disse-lhes “Em verdade eu vos digo que esta viúva que é pobre lançou
mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. 44Pois todos os outros
deram do que lhes sobrava. Ela, Porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha,
tudo o que possuía para viver”.
431
33° Domingo do tempo comum – Ano B
As últimas realidades
Mc 13, 24-32
24Naqueles dias, porém, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a
sua claridade, 25as estrelas estarão caindo do céu, e os poderes que estão nos céus
serão abalados. 26E verão o Filho do Homem vindo entre nuvens com grande poder e
glória. 27então ele enviará os anjos e reunirá seus eleitos, dos quatro ventos, da
extremidade da terra à extremidade do céu.
Jesus usou uma parábola a qual tinha a certeza da compreensão por parte de todos os
habitantes da Palestina. Uma árvore comum, conhecida por todos, sabiam que a figueira
perdia as suas folhas no inverno e na chegada do verão as folhas começam a brotar. Assim,
da mesma forma, aqueles que seguem Jesus conseguem perceber a sua presença, sabem
que Ele está próximo, às portas. Quem adere a Ele, começa a viver Jesus, sente a sua
presença constantemente. Já está vivendo o Reino de Deus. Já chegou o Reino. Por isso
Jesus disse: “Essa geração não passará até que isto aconteça” (30).
É interessante destacar que não é ignorância dos que seguem Jesus não saber a hora
em que Ele vai chegar. E sim, é um alerta para continuar na vigilância. Temos que vigiar
sempre, pois é nossa a responsabilidade de manter a fé. Temos que nos esforçarmos para
manter Jesus dentro de nós. Perceba que ele está sempre conosco, dentro de nós e, no
entanto, eu não percebo a sua presença! É preciso um estado de espírito aberto, sensível
para perceber Jesus em nós. É preciso o desligar-se.
433
34° Domingo do tempo comum – Ano B
Jo 18, 33b-37
33Então Pilatos entrou novamente no pretório, chamou Jesus e lhe disse: “Tu és o rei
dos judeus? ” 34Jesus lhe respondeu: “Falas assim por ti mesmo ou outros te
disseram isso de mim? ” 35Respondeu Pilatos: “Sou, por acaso, judeu? Teu povo e os
chefes dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? ” 36Jesus respondeu:
“Meu reino não é desse mundo.
Se meu reino fosse deste mundo,
Meus súditos teriam combatido
Para que eu não fosse entregue aos judeus.
Mas meu reino não é daqui”.
37Pilatos lhe disse: “Então, tu és rei? ” Respondeu Jesus: “Tu o dizes: eu sou rei.
Para isso nasci
É para isto vim ao mundo:
Para dar testemunho da verdade.
Quem é da verdade escuta a minha voz”.
Observem a pergunta que Pilatos fez: “Tu és rei dos judeus? ” Na verdade, não veio
dele essa pergunta, mas sim foi imposta pelos judeus. Ele apenas passou a mensagem.
Assim, ele não está sendo um protagonista, ele não está dominando a cena, nunca dominou.
Jesus, sim é o protagonista, ele sabe o que está fazendo e domina totalmente aqueles que
estão a sua volta. Quando Pilatos fez a pergunta, não houve resposta por parte de Jesus e
sim outra pergunta a qual Pilatos responde prontamente. Vejam o domínio de Jesus, a
clareza de pensamento, Ele induz o outro a fazer a pergunta certa. Pilatos, nesse momento é
quem está nas mãos de Jesus.
434
Pilatos, agora interrogado, não percebe a mudança realizada e responde, agora sim ele
faz uma pergunta que veio dele e não dos judeus. Mas é uma pergunta diferente, não tem
nada a ver com a pergunta feita anteriormente: “Que fizeste? ” Ele estava querendo saber o
motivo da entrega de Jesus por parte dos judeus?
Jesus, porém, não responde e deixa no ar a resposta para Pilatos responder. É
importante destacar que Jesus disse três vezes a palavra meu reino. Não foi à toa, temos
que prestar atenção, pois Jesus assim o quis.
Os judeus interpretavam a realeza de Jesus de uma forma totalmente diferente. Sim
Jesus é rei, mas não como o mundo quer, manifestando-se no poder, na glória, na
imposição, na busca desenfreada do eu. A realeza de Jesus se manifesta de outra forma,
através do amor, do serviço a verdade. Os judeus não entenderam essa realeza e muito
menos Pilatos.
Ainda sem nada entender, perdido, Pilatos continua a questionar sobre a realeza de
Jesus, e novamente Jesus continua a ser o protagonista e não responde diretamente. Note
que em nenhum momento Jesus se deixa dominar, Ele é o centro e sempre será.
Jesus vive a verdade, é a verdade e pela verdade se entrega nas mãos de Pilatos. Ele
disse: “Quem é da verdade escuta a minha voz”. Podemos concluir que é um apelo para
decidirmos pela verdade. Só quem pratica a verdade compreende o testemunho de Jesus.
Essa condição se deflagra negativamente em Pilatos. Em nada praticava a verdade,
governava com o poder, imposição, destaque do ter, do ser... Totalmente contraria a pratica
de Jesus. Pilatos ouviu o apelo e nada entendeu. Estando próximo a verdade, mesmo assim
nada viu. Com certeza não estava interessado na verdade.
Aquele que acredita e aceita livremente Jesus, mantém a fé, esse entende e começa a
viver a verdade.
435
TEMPO COMUM
ANO C
436
2° Domingo do tempo comum – Ano C
As bodas de Caná
Jo 2,1-11
1No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá.
2Jesus
foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. 3Ora, não havia
mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe
disse: “Eles não têm mais vinho”. 4Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim,
mulher? Minha hora ainda não chegou”.
Nos dias anteriores a essa festa, Jesus convida alguns discípulos para segui-lo. Ele não
se encontrava mais sozinho. Estava pronto para iniciar a sua missão.
Na festa, encontrava-se Maria, Jesus e seus discípulos. Era costume, naquela época, a
festa durar vários dias e nesse tempo veio a faltar vinho. Que falha! Acabou a festa do
casamento. Sem vinho certamente o povo iria se retirar; era uma decepção para todos. Que
vexame para o novo casal.
Provavelmente Maria fazia parte da família, e prevendo o fracasso, olhou para esse
fato, assim como hoje ela olha por todos nós, e intercede perante o seu Filho.
Maria é a nossa intercessora, ela sabe o que está faltando para nós antes mesmo de
pedirmos. Jesus, por sua vez, não mede esforço para ouvi-la, não nega o seu pedido.
Mas a hora de Jesus ainda não chegou, Ele ainda não iniciou a Nova Aliança.
Sabemos que o casamento é sinônimo de aliança. A Aliança Antiga não tem mais razão
de existir: “Eles não têm mais vinho. ”
Assim, tudo estava preparado para o início da missão de Jesus.
Vou destacar, também, que Maria aparece no Evangelho de João apenas duas vezes:
Em Caná e ao pé da Cruz. O começo da missão de Jesus e o seu fim.
437
5
Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”.
6
Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo de
duas a três medidas. 7Jesus lhe disse: “Tirai agora e levai ao mestre-sala”. Eles
levaram.
Note que Maria pediu a Jesus uma solução para o problema e “não” esperou uma
resposta afirmativa. Ela conhece o seu Filho e sabe que vai ser atendida.
“A mãe disse ao pessoal de serviço: O que ele vos disser, fazei-o”.
Maria antecipou o início da ação de Jesus. A Nova Aliança estava inaugurada.
As talhas, na aliança antiga eram usadas nos rituais de purificação, e estavam vazias.
Não servem mais para nada, não tem mais sentido esse ritual.
Jesus derruba a velha aliança colocando nessas talhas vinho da melhor qualidade,
símbolo de amor, que faz esquecer o antigo.
São mais de 600 litros de vinho da melhor qualidade, simbolizando a chegada do
Messias que veio trazer abundância de amor para todos.
É a hora de Jesus: iniciou o seu tempo de plenitude, vinho novo.
Ele nos deixou tudo pronto, é só o seguir. Por que, então vacilamos, temos medo, não
vamos ao seu encontro?
Jesus deixou a estrada limpa para a nossa caminhada, tudo está pronto, faltam
somente os seus seguidores.
Agora é a nossa vez, o nosso tempo já começou, apressemos a nossa ação, o nosso
serviço, pois o fim se aproxima.
Maria é um exemplo de ser humano que devemos imitar a todo custo. Ela se preocupa
com a humanidade, sensibiliza-se com a dor, o sofrimento e faz mudar essa situação. Jesus,
filho de Maria, também leva esse ensinamento para a vida, segue o exemplo de sua mãe
fielmente.
Sua mãe pede e Ele acolhe. Falta vinho, então, terão o melhor vinho! Ele não só fez o
que a mãe pediu, mas fez o melhor possível.
Esse foi o início do tempo de Jesus e levou o ensinamento de Maria até o fim.
438
Ele fez como Maria ensinou: Deu o melhor de si para nós, sua vida, seu amor...
Maria antecipou o início da vida pública de Jesus e certamente ela sabia como ia ser o
fim. Apesar de tudo, levou os planos de Deus à frente, mesmo sabendo de sua
consequência, dos perigos que seu Filho passará. Doou a sua vida e a vida do seu Filho por
nós.
Hoje, é a nossa vez, devemos fazer o mesmo que fez Jesus e Maria.
Nada somos, mas pela graça de Deus nos tornamos fortes e vencedores. Devemos
aniquilar-nos, assim como faz a lagarta para nascer uma borboleta; nada somos sem Deus.
Por mais que eu queira melhorar, encontrar o caminho para o Pai, ser santo, nada sou; mas,
serei tudo em Deus.
Devo colocar tudo nas mãos de Deus, e nada em minhas mãos. Ter certeza de que
todas as minhas vitórias vieram das mãos do meu Senhor, que todas as derrotas vieram das
minhas mãos.
Que o Espírito Santo faça a sua morada em nós, assim como fez em Jesus e Maria.
439
3° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 1,1-4;4,14-21
1Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre
nós ── 2conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas
oculares e ministros da Palavra ── 3a mim também pareceu conveniente, após
acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre
Teófilo, 4para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste.
Lucas é um exímio escritor. Apesar de não ter conhecido Jesus, fez uma profunda
pesquisa sobre a vida de Jesus, para assim entregar esse documento ao seu amigo Teófilo.
Esse nome tem como significado: “amigo de Deus. Sendo assim, todos nós somos Teófilo”.
Este Evangelho é o que traz mais detalhes da vida de Jesus, principalmente a sua
infância. É de se imaginar que Lucas ficou muito tempo aos pés de Maria, escutando as suas
narrações sobre a vida de seu Filho, principalmente a infância. Por esse motivo, eu gosto de
chamar o Evangelho de Lucas como se fosse o Evangelho de Maria.
Lucas escreveu esse Evangelho com a intenção de manter firme a nossa fé, uma
afirmação segura sobre tudo que foi dito e ensinado a respeito de Jesus e os primeiros
cristãos.
Sem dúvida alguma, é uma obra literária no estilo dos escritores gregos da época.
Nós hoje, somos esse Teófilo, amigo de Deus, que agradece esse trabalho minucioso
de Lucas para manter e aumentar a nossa fé.
14Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15Pois ele
será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida embriagante; ficará
pleno do Espírito Santo ainda no seio de sua mãe 16e converterá muitos dos filhos de
Israel ao Senhor, seu Deus. 17Ele caminhará à frente, com o espírito e o poder de Elias,
a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à prudência dos
justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto”. 18Zacarias perguntou ao
440
Anjo: “De que modo saberei disso? Pois eu sou velho e minha esposa é de idade
avançada”. 19Respondeu-lhe o Anjo: “Eu sou Gabriel; assisto diante de Deus e fui
enviado para anunciar-te essa boa nova. 20Eis que ficarás mudo e sem poder falar até
o dia em que isso acontecer, porquanto não creste em minhas palavras, que se
cumprirão no tempo oportuno”.
Lucas enfatiza o poder do Espírito Santo agindo sobre Jesus. É através dessa força
que Jesus é levado a iniciar a sua vida pública.
Podemos citar também a ação do Espírito Santo no batismo de Jesus, quando Maria
disse sim para o Anjo, quando Isabel proclamou Maria bem-aventurada... e outras passagens
do Evangelho de Lucas.
Com isso, Lucas deixa bem claro que sem a ação do Espírito Santo, os planos de Deus
não seria uma realidade no meio de nós.
Hoje, como ajudantes na realização do plano de Deus, em cada um de nós, há a
presença marcante do Espírito Santo; sem Ele nada podemos fazer.
Quando Jesus se encontrava na sinagoga, cheio do Espírito Santo, abriu o livro de
Isaías e leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar um ano de graça do
Senhor” (18-19). Da mesma forma que Jesus veio para os pobres, marginalizados e
proclamou o ano da graça do Senhor, (ou seja, quem tinha dívidas recebeu o perdão, quem
tinha vendido ou por outro motivo perdido a sua terra, essa era devolvida) nós temos que ter
a mesma prática de Jesus. Devemos ir ao encontro dos pobres e marginalizados e lutar
contra a ganância, o egoísmo que existe dentro de nós.
Implantando o amor, o egoísmo cai, não tem mais valor, encontramos a liberdade.
441
4° Domingo do tempo comum – Ano C
O Profeta rejeitado
Lc 4,21-30
21Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem
da Escritura”. 22Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras
de graça que saíam de sua boca. E diziam: “Não é o filho de José? ”
442
24
tua pátria”. Mas em seguida acrescentou: “Em verdade vos digo que nenhum
profeta é bem recebido em sua pátria”.
Na verdade, o projeto que Jesus veio realizar é bem diferente do projeto dos homens.
Ele não veio trazer libertação material antes da libertação espiritual. Primeiro o Espírito,
depois a carne; tratando o espírito, por decorrência a libertação da matéria se realizará.
Jesus não veio para apenas amenizar ou tirar a dor, mas sim agir na causa da dor e da
doença. Assim fazendo, a dor cessará.
Mas o povo esperava o messias que lutaria contra o poder dominante, libertar o povo
da escravidão, como fez Moisés no Egito. Mas, fazendo apenas isso, Jesus tiraria apenas
essa dor, e, com certeza outras dores surgirão, pois, a doença está enraizada no homem.
Não entenderam a proposta de Jesus. Queriam um milagreiro que viesse ao encontro
de suas necessidades, que fizesse os mesmos milagres que realizou em Cafarnaum.
Entretanto, para que seja visto um milagre externo é necessário que antes ocorra o
milagre interno, é preciso ter fé. Mas como ter fé em Jesus? Eles o conheciam desde
criança! Sabiam a sua origem.
Diziam: “Médico cura-te a ti mesmo...” Como libertar o povo, se a sua família ainda era
escrava, estava no meio deles? Mas não sabiam que a família de Jesus já estava curada por
dentro, já estava livre do egoísmo e pronta para amar.
E a nossa libertação, já teve início?
O grande milagre de Jesus está se realizando em nós?
25De
fato, eu vos digo que havia em Israel muitas viúvas nos dias de Elias, quando por
três anos e seis meses o céu permaneceu fechado e uma grande fome devastou toda a
região; 26Elias, no entanto, não foi enviado a nenhuma delas, exceto a uma viúva, em
Sarepta, na região de Sidônia. 27Havia igualmente muitos leprosos em Israel no tempo
do profeta Eliseu; todavia, nenhum deles foi purificado, a não ser o sírio Naamã”.
28 29
Diante dessas palavras, todos na sinagoga se enfureceram. E, levantando-se,
expulsaram-no para fora da cidade e o conduziram até um cimo de colina sobre a qual
a cidade estava construída, com a intenção de precipitá-lo de lá. 30Ele, porém,
passando pelo meio deles, prossegui seu caminho...
O povo da Galileia rejeitou Jesus e seu plano de libertação. Nesse lugar não obteve
vitória, não gostaram dele e do projeto do Pai. Tentaram matá-lo, queriam jogá-lo do alto do
monte; mas o projeto do Pai não pode parar, não será derrotado. Jesus passa no meio deles
como se nada tivesse acontecido e vai embora, retira-se para evangelizar em outra região.
Jesus já venceu o mal, venceu a morte, o projeto de Deus já foi realizado, e nós o
estamos completando, mas como vencedores.
Nada nesse mundo impedirá a realização do Reino de Deus no homem e na terra.
Às vezes pensamos que Deus está perdendo, quando vemos tanta violência no mundo;
o egoísmo e o mal parecem reinar. Mas, na verdade são apenas como aquele pequeno
grupo na Galileia. O plano de Deus apenas passa por eles e nada podem fazer.
Somos ajudantes na construção do Reino de Deus e por antecipação, vencedores.
Mesmo nós, às vezes, nos comportamos como o povo da Galileia; agimos como pedra
de tropeço, atrapalhamos a passagem de Jesus. Outras vezes, porém, ajudamos,
colaboramos com a construção do Reino.
E você, qual é a sua posição?
444
Contemplar: O que vejo melhor e vou fazer?
Será que o nosso grupo está aberto ao Projeto de Jesus? Qual é o compromisso que posso
assumir diante dessa situação?
De mãos dadas, em torno da Palavra, vamos rezar.
445
5° Domingo do tempo comum – Ano C
Pesca milagrosa
Lc 5,1-11
1Certavez em que a multidão se comprimia ao redor dele para ouvir a palavra de Deus,
à margem do lago de Genesaré,
446
que se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava do barco às
multidões.
O povo estava aglomerado em torno de Jesus; não dava espaço e condições para que
Ele o ensinasse. Subiu então, em uma das barcas e se afastou um pouco da margem, usou-
a como púlpito para falar ao povo. Temos de destacar que Simão, o dono da barca, não
estava muito interessado nas palavras de Jesus, queria continuar o seu serviço, limpar as
redes; mas, acolhe o pedido do Mestre.
Barca na Bíblia simboliza a Igreja. Podemos assim realçar que é mais fácil pregarmos
o Evangelho, ou seja, evangelizar quando estamos inseridos na Igreja que Jesus criou.
Assim sendo, eu posso perguntar: Como está o nosso trabalho na Igreja? Somos
atuantes, prontos para evangelizar a todo o momento, ou somos como Pedro, estamos
preocupados apenas com o nosso dia a dia, o nosso serviço, o nosso bem-estar?
Devemos colocar o Reino de Deus à frente de nossa caminhada, de nossa vida; e, com
certeza, todo o mais será acrescentado.
Procurar satisfazer a vontade de nosso Deus em primeiro lugar, sempre.
Mas não devemos nos esquecer de que a Igreja é a base onde devemos colocar os
nossos pés e começar a agir, dar frutos.
Devemos imitar Jesus, ensinar sentado, ou seja, com autoridade, como um verdadeiro
Mestre.
4Quando
acabou de falar, disse a Simão: “Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a
pesca”. 5Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar;
mas, porque mandas, lançarei as redes”.
Simão era um pescador experiente, há muitos anos atuava nessa profissão, talvez toda
a vida. Tinha pescado a noite inteira e nada encontrou, e por esse motivo sabia com clareza
que durante aquele dia aconteceria o mesmo.
Mas, o Mestre mandou que fosse com o barco para águas mais profundas e lançasse a
rede para pescar. Pedro pode ter pensado: Ele não é pescador, não tem experiência, é um
carpinteiro, como pode dar ordem a mim que sou o chefe, tenho sob comando todos essas
pessoas?
Entretanto, Pedro se cala, obedece. Agora ele não é mais o chefe, Jesus toma o seu
lugar.
Observamos nesta passagem a grande estima, respeito que todos tinham por Jesus.
Mesmo em condições adversas, como esta, não impunham resistência. Ele é o Mestre,
aquele que tudo sabe e em que devemos acreditar, pôr fé.
447
E nós, em nossa vida colocamos Jesus em primeiro lugar? Aceitamos a sua palavra
sem questionarmos?
Não, não é dessa forma que a grande maioria do povo atua. Em primeiro lugar
colocamos em destaque os nossos planos, objetivos e somente depois nos preocupamos
com as palavras de Jesus, com o seu pedido.
Não damos atenção à palavra de Deus. É loucura para nós. Não conseguimos
entender; preferimos a loucura do mundo, os nossos planos.
Como resultado, a humanidade colhe: guerra, desamor, egoísmo, ódio, raiva, doença,
morte...
6Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam.
7Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles
vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem.
Aderir à palavra de Jesus, ao seu projeto, nos leva à plena paz, à alegria, à
abundância, à felicidade ilimitada. Pedro escutou Jesus, jogou a rede e pegou tanto peixe
que apenas uma barca não foi o bastante; precisou usar duas e as encheram de tal forma
que quase afundaram.
Em nossa vida temos que agir como fez Pedro, confiar em Jesus, mesmo que sua
palavra não tenha sentido, pareça loucura.
Para Pedro era loucura voltar e pescar, ainda mais durante o dia, mas a vontade de
Jesus prevaleceu e o resultado foi surpreendente.
Conosco pode acontecer o mesmo. Entregue a sua vida nas mãos do Mestre e ele fará
maravilhas.
Mas será que temos fé igual à de Pedro?
Acreditamos em Jesus?
Pedro colocou toda a sua vida nas mãos de Jesus, ele é o chefe. Com isso foi feliz,
colheu frutos.
Devemos segui-lo, dizer sim ao projeto de Deus e pescar homens durante o dia ou à
noite. Para a realização do projeto de Deus não existe hora, qualquer hora é hora para
evangelizar.
Acredite! Seguindo Jesus estaremos definitivamente livres.
Seguir Jesus é o caminho mais rápido e seguro para chegarmos ao Pai.
O que você está esperando? Lance as redes!
8À
vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Afasta-te de mim,
Senhor, porque sou um pecador! ” 9O espanto, com efeito, se apoderara dele e de
448
todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de
fazer; 10e também de Tiago e João filhos de Zebedeu, que eram companheiros de
Simão. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador
de homens”. 11Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o
seguiram.
449
6° Domingo do tempo comum – Ano C
Sermão da Montanha
Lc 6,17.20-26
17Desceu com eles e parou num lugar plano, onde havia numeroso grupo de discípulos
e imensa multidão de pessoas de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e
Sidônia.
Jesus veio para mudar o sistema de vida dos homens de toda a terra. Ele veio trazer a
paz, a partilha, o amor... Os poderosos não querem ficar com Jesus, pois vivem contrariando
a proposta de uma nova sociedade que o Mestre tanto prega. Mas, o povo da roça, os
sofridos, os marginalizados, os excluídos estão à sua volta e o entende. Para eles Jesus diz
palavras bonitas, os conforta e os anima.
Vem gente de toda parte: Judeia, Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia...
todos vêm procurá-lo, todos são sofridos, usados pela sociedade.
São pobres, sofredores, porque existe o rico que acumulou o que não lhe pertence,
tirou dos outros para trazer só para si. Esse ri enquanto o outro chora.
Na forma que a sociedade está implantada o caos reinará com mais força a cada dia
até o ápice, onde o povo não aguentará e se colocará contra esse reino falido.
Jesus era visto por todos como uma porta de saída, um caminho para uma vida melhor,
por isso todos o seguiam.
Hoje os homens fogem de Jesus, não querem entendê-lo, é loucura segui-lo.
21Bem-aventurado
vós que agora tendes fome, porque sereis saciados!
Bem-aventurado vós, que agora chorais, porque haverei de rir!
Se você tem fome é porque outros estão empanturrados, se você chora é porque outros
estão rindo.
Ter fome é sinônimo de ser pobre, está faltando algo: casa, terra, saúde, escola, justiça.
Ter fome é dizer não ao ter, ao poder, à ganância, ao egoísmo... é ir contra o mundo, é
ser insatisfeito.
Por que uns conseguem tudo e outros nada? A resposta é clara: Para a grande maioria,
levado pela ganância, pelo lucro fácil e pela falta de solidariedade para com os irmãos mais
pobres, a corrupção tem o papel principal. Essas pessoas tudo fazem para acumular, não
importam por cima de quem vão passar.
Entretanto a felicidade dessas pessoas dura pouco. Ficam fartas por alguns anos, logo
vem à tempestade. Aqueles que fazem acontecer o projeto de Deus, podem sofrer, passar
fome, chorar, mas têm uma eterna felicidade esperando por eles.
Na verdade, quem tem fé, está cheio do Espírito Santo, está morto para as coisas deste
mundo; nada mais lhe importa, tudo suporta com muita paciência e mansidão. Quem tem fé
é feliz, se encontrou neste mundo; passa fome, mas é feliz! Não tem casa, onde dormir, mas
é feliz!
451
Bem-aventurado, já nesta terra, quem encontrou o caminho, o paraíso. Mesmo nada
tendo, chora por aqueles que, “aparentemente”, tudo têm.
Parece loucura para os homens, mas para Deus, são os escolhidos.
E você, é bem-aventurado? Tem fome e sede de justiça? Você se encontrou neste
mundo?
22
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem,
insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem.
23Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque no céu será grande a vossa recompensa.
Proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo não é fácil. Com certeza não vai
alegrar a todos e, se alegrar, então você é um falso profeta.
Anunciar o Evangelho é ir contra, principalmente, os poderosos; esse serão os mais
incomodados.
Proclamar o Evangelho é dizer a verdade, doa a quem doer. Não devemos esconder,
escolher palavras apenas para agradar. Fazendo isso, não incomodando, deixou de ser sal,
deixou de ser luz; para nada serve.
Mas, felizes são os que são perseguidos por causa de Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo, aqueles que proclamam a verdade. Alegrem-se, pois é grande a vossa
recompensa.
Observe bem, Jesus disse: “porque grande é o vosso galardão no céu”. É o presente,
está acontecendo, não é uma promessa para o futuro, é já, agora.
Somente quem tem fé, quem está cheio do Espírito pode afirmar esta verdade. Para
nós, resta observar em cada um deles a extrema felicidade que deles emana. Realmente,
vivem o Reino de Deus já nesta terra.
E você, é feliz, está vivendo, ou, pelo menos, tentando viver o Evangelho?
24Mas,
ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!
25Ai de vós, que estais saciados, porque tereis fome!
Ai de vós, que agora rides, porque conhecereis o luto e as lágrimas!
26Ai
de vós, quando todos vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais tratavam
os falsos profetas.
452
Parece que os ricos estão sempre ganhando, tudo dá certo para eles, são ajudados de
todas as formas; em contraste temos os pobres, pisados por todos, ninguém os ouve, ou
querem ajudá-los.
Nos nossos dias a sociedade é organizada pelos ricos a favor dos ricos. Quase todas
as organizações, grupos da sociedade, são formadas pela elite, os melhores, os mais ricos.
Entre eles há uma autoajuda, uma grande discriminação, que os afastam cada vez mais do
Reino de Deus.
Mas, como disse Jesus: “Ai de vós...”
Todos receberão as suas recompensas.
Como fica a nossa postura perante a sociedade?
Vamos ao encontro dos marginalizados, explorados?
Agimos como verdadeiros profetas, denunciamos?
Ou será que somos aqueles que nada estão fazendo, apenas estão rindo?
Jesus veio para mudar a sociedade, propor uma nova vida com igualdade. Um mundo
sem ricos e pobres, mas iguais, sem favorecidos e desfavorecidos.
Vamos realizar a vontade de Deus, transformar esse mundo em um verdadeiro Reino
de Deus, vamos destronar o maligno e o homem.
453
7° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 6, 27-38
27Eu,porém, vos digo a vós que me escutais: Amais os vossos inimigos, fazei o bem
aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos
difamam. 29A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar a capa, não
recuses a túnica. 30Dá a quem te pedir e não reclames de quem tomar o que é teu.
Jesus quer implantar nesta terra, entre os homens, uma nova sociedade, onde o centro
de união é o amor.
Esses versículos são uma continuação do Sermão da Montanha, onde Jesus mostra
uma sociedade corrupta, destruída pela falta de amor, uma sociedade egoísta, sem futuro.
Agora Jesus mostra como construir uma nova sociedade, baseada na lei do amor. Não existe
outro caminho, todos os outros levam ao caos.
Jesus pede a todos para amar até mesmo os inimigos, aqueles que nos amaldiçoam,
aqueles que querem o nosso mal.
Nesses versículos, Jesus se dirige aos discípulos. Eles são a base da construção desse
novo mundo, nova sociedade.
Através de seus discípulos e seus seguidores, um novo dia há de nascer, sem injustiça,
sem dor, onde somente reinará o amor.
Hoje somos nós que temos o dever em nossas mãos para construir esse sonho de
Jesus. Dessa forma, o que estamos fazendo? Somos mais um no meio dessa sociedade ou
será que sou aquele “um” que faz diferença?
Amo os meus inimigos? Falo bem daqueles que falam mal de mim? Rezo pelos que me
caluniam?
Com certeza estamos longe de realizarmos a vontade de Deus, nos resta o consolo de
estarmos no caminho que Jesus preparou para nós.
454
31
Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. 32Se amais os que vos
amam, que graça alcançais? Pois até mesmo os pecadores amam aqueles que os
amam. 33E se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Até mesmo os
pecadores agem assim! 34E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que
graça alcançais? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores para receberem
o equivalente. 35Muito pelo contrário, amai vossos inimigos, fazei o bem e emprestai
sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos
do Altíssimo, pois ele é bom para com os ingratos e com os maus.
36Sede
misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis, para não
serdes julgado; não condeneis para não serdes condenados; perdoai, e vos será
perdoado. 38Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida,
calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis
medidos também.
455
Esse trecho inicia-se com compaixão: “Tenham compaixão dos outros, como o Pai de
vocês tem compaixão de todos. ”
Compaixão e misericórdia são sinônimos, tem o mesmo significado. Essa frase é o
coração do Evangelho de Lucas.
Lembrem-se, Deus é extremamente misericordioso com cada um de nós, e espera que
tenhamos misericórdia com o irmão que está no erro.
Eu também estou no erro, assim como você está, todos nós falhamos e muito; estamos
longe da perfeição. Sendo assim, todos nós temos pontos bons e ruins, e dessa forma,
portanto, estamos juntos na caminhada para o Pai.
Como ninguém é perfeito, por mais que eu me esforce, nunca devo julgar o meu irmão
que está no erro, mas sim ajudá-lo a sair do pecado.
Nunca devo julgar o meu irmão, pois caso contrário, serei julgado; muito menos devo
condenar, pois assim fazendo, serei condenado. Todos nós temos chances iguais para
acertar a nossa vida, de crescer para chegarmos mais próximo de Jesus. Até mesmo o pior
ladrão e assassino pode encontrar graça perante Deus.
Não importa o grau de proximidade que estou diante de Jesus, seja qual for a minha
posição, ainda estou muito longe. O que significa metros e quilômetros para quem está a
anos-luz de distância? Dessa forma, com esse pensar, estamos todos juntos neste planeta
Terra. Não há muita diferença entre um e o outro. Assim sendo: “Sejam, portanto,
misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso”.
456
8° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 6, 39-45
39Disse-lhes
ainda uma parábola: “Pode acaso um cego guiar outro cego? Não cairão
ambos num buraco?
É preciso primeiro se encher para depois dar. Ninguém dá aquilo que não tem.
Naquele tempo Jesus entendia a realidade dos escribas e mestres da lei tentando
convencer os outros com suas próprias doutrinas e, ao mesmo tempo, observa a cegueira
que lhes fecha os olhos à luz de sua mensagem. Disse isso de forma muito clara: “Pode
acaso um cego guiar outro cego? Não cairão ambos num buraco? ”.
Observe que isso acontece conosco hoje. Muitos mestres tratando de ensinar os
outros. Mas não põe em prática o que ensinam! Jesus primeiro colocava em prática, dava
testemunho e depois ensinava por palavras. Quem faz o contrário é hipócrita, tenta
convencer, mas suas palavras são vazias. No entanto, os seguidores de Cristo falam da
verdade.
40Não
existe discípulo superior ao mestre; todo o discípulo perfeito deverá ser como o
mestre. 41Por que olhas o cisco no olho de teu irmão, e não percebes a trave que há no
teu? 42Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’,
quando não vês a trave em teu próprio olho? Hipócrita, tira primeiro a trave de teu
olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
43Não há árvore boa que dê fruto mau, e nem árvore má que dê fruto bom; 44com efeito,
uma árvore é conhecida por seu próprio fruto; não se colhem figos de espinheiros,
nem se vindimam uvas de sarças. 45O homem bom, do bom tesouro do coração tira o
que é bom, mas o mau, de seu mal tira o que é mau; porque a boca fala daquilo de que
está cheio o coração.
457
Jesus ensina a não julgar, essa palavra não deve existir no nosso dicionário. Mas, o
nosso exemplo deve arrastar as pessoas, fazer a devida correção.
Perceba que a correção fraterna é boa quando é mediação da caridade, e feita com
humildade, ─ volto a dizer ─ sem julgar o interior do outro, pois o coração só Deus conhece.
Uma das traves no nosso olho é o orgulho, que gera o fanatismo diante das fraquezas
do nosso próximo. Esse erro vem fazer o seu próprio julgamento, está preso ao ego. Acredita
que é melhor do que o outro. “Não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados”. O orgulho nos torna cegos e, portanto, incapazes de guiar outros cegos.
Observe que Jesus não fazia diferença das pessoas, aceitava a todos do jeito que elas
eram. Assim podemos entender: “um discípulo não é maior do que o mestre”. Deus nos ama
e nos aceita a todos do jeito que somos, com defeito e tudo. Essa é a atitude do nosso
Mestre, que devemos imitar, tendo um amor universal e sem fronteiras.
Em momento algum Jesus julgou e sim levava a própria pessoa ao julgamento. Lembra-
se da passagem da mulher adúltera que ia ser apedrejada? (Jo 8, 1-11) Pois é! Jesus não
julgou e não deixou ninguém julgar. No momento final na cruz ao seu lado estava um homem
que se arrepende dos seus erros e Jesus disse: Hoje mesmo estará comigo no paraíso (Lc
23, 43). Ele não fez pergunta, não quis saber qual era o motivo da sua condenação, apenas
perdoou sem fazer julgamento.
458
9° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 7,1-10
1Quando acabou de transmitir aos ouvidos do povo todas essas palavras, entrou em
Cafarnaum. 2Ora, um centurião tinha um servo a quem prezara e que estava doente, à
morte; 3Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns dos anciãos dos judeus para
pedir-lhe que fosse salvar o servo.
4Estes, chegando a Jesus, rogavam-lhe insistentemente: “Ele é digno de que lhe
concedas isso, 5pois ama nossa nação, e até nos construiu a sinagoga”. 6Jesus foi
com eles. Não estava longe da casa, quando o centurião mandou alguns amigos lhe
dizerem: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha
casa; 7nem mesmo me achei digno de ir ao teu encontro. Dize, porém, uma palavra,
para que o meu criado seja curado. 8Pois também eu estou sob uma autoridade, e
tenho às minhas ordens; e a um digo ‘Vai! ’ e ele vai; e a outro ‘Vem!’ e ele vem; e a
meu servo ‘Faze isto!’ E ele o faz”. 9Ao ouvir tais palavras, Jesus ficou admirado e,
voltando-se para a multidão que o seguia, disse: “Eu vos digo que nem mesmo em
Israel encontrei tamanha fé”. 10E, ao voltarem para casa, os enviados encontraram o
servo em perfeita saúde.
O ponto central dessa narrativa está na fé, o milagre em si está em segundo plano. O
objetivo é a fé do centurião composta de muita humildade e confiança. Observe que Jesus
está aberto a todos, não importa a origem étnica, social... Ele recebe a todos.
Sem dúvida foi a humildade do centurião é que chamou a atenção de Jesus, os anciãos
tentaram eleva-lo por outros méritos: “Ele é digno de que lhe concedas isso, pois ama nossa
nação, e até nos construiu a sinagoga”. Por sua vez o centurião responde para Jesus com
muita humildade: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha
casa”. Naturalmente, para Jesus são mais importantes estas palavras, que indicam uma
grande e sincera humildade, do que as dos anciãos interesseiros.
Com esse episódio podemos colocar que é um prelúdio da chegada dos pagãos à
Igreja. Jesus nos ensina que a nossa oração deve ter um sentido universal, abrir o coração
459
às necessidades do mundo inteiro, não se preocupando apenas com os próprios interesses,
com as próprias necessidades ou dos mais próximos. Se quisermos estar unidos a Cristo, a
nossa oração tem que ser dirigida a todos.
O Papa Francisco lançou um apelo à Igreja para ela não se transformar numa espécie
de “alfândega pastoral”, com controladores da fé em vez de pastores prontos para acolher
aqueles que batem à porta.
Ele dá um exemplo concreto: “Pensem em uma mãe solteira que vai à igreja, à paróquia
e ao secretário: ‘Quero batizar meu filho’. E depois esse cristão ou essa cristã lhe diz: ‘Não,
você não pode porque você não é casada! ’. Mas, veja, essa jovem teve a coragem de levar
adiante a sua gravidez e não devolver o seu filho ao remetente, e o que ela encontra? Uma
porta fechada! Esse não é um bom zelo! Afasta do Senhor! Não abre as portas! E assim,
quando nós estamos nesse caminho, nessa atitude, não fazemos bem às pessoas, ao povo,
ao Povo de Deus. Mas Jesus instituiu sete Sacramentos, e nós, com essa atitude, instituímos
o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral! ”.
.
Meditar: O que me diz o texto?
A Palavra de hoje leva-me a rever a minha ação na Igreja, devo ir ao encontro de todos sem
fazer diferença. Jesus veio ao encontro de todos e me ensina a fazer o mesmo.
460
10° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 7,11-17
11Ele foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Seus discípulos e numerosa
multidão caminhavam com ele. 12Ao se aproximar da porta da cidade, coincidiu que
levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade
estava com ela. 13O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe “Não chores”!
Tente entrar na cena, dois cortejos se encontram à porta da cidade: Um é Jesus com os
seus seguidores e um grande número de pessoas, e o outro uma mãe extremamente triste
desolada, perdida, acompanhando o caixão do seu único filho e uma grande multidão da
cidade. Note o estremo, de um lado uma grande multidão seguindo alegre um líder que os
está conduzindo a paz a um caminhar seguro, a seguir um objetivo nessa vida. No outro
lado, temos uma multidão seguindo um ser desolado, triste, sem objetivo. Jesus vendo essa
cena teve compaixão, sofreu junto. É importante observar o abrir do coração de Jesus, é
instantâneo, ele participa da dor imediatamente. Então, Ele se aproxima e diz: “Não chores! ”
Mas como não chorar, é um paradoxo! Pode até parecer, mas não é, Jesus fez uma
promessa.
461
Faça a comparação do que ocorreu com o profeta Elias (1Rs 17, 20,23): 21Estendeu-
se por três vezes sobre o menino e invocou Iahweh: “Iahweh meu Deus, eu te peço, faze
voltar a ele a alma deste menino! ” 22Iahweh atendeu à súplica de Elias e a alma do menino
voltou a ele e ele reviveu. 23Elias tomou o menino, desceu-o do quarto de cima para dentro
da casa e entregou-o à sua mãe, dizendo: “Olha, teu filho está vivo. ” 24A mulher respondeu
a Elias: “Agora sei que és um homem de Deus e que Iahweh fala verdadeiramente por tua
boca! ” Agora compare com o texto de hoje. Lucas coloca Jesus como o Senhor (13), não
um simples profeta que pede, que se debruça três vezes sobre o morto implorando a Deus
um milagre, não, ele ordena que o jovem levante. Ele é Deus! Agora é o próprio Deus que
interfere de maneira decisiva para a salvação do povo.
Jesus venceu a morte e abre um novo tempo, um tempo de esperança e paz para os
que creem.
462
11° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 7,36-8,3
36Um fariseu convidou-o a comer com ele. Jesus entrou, pois, na casa do fariseu e
reclinou-se à mesa.
Um fariseu, cumpridor da Lei, homem piedoso ou, pelo menos, tinha esta posição
perante o povo; convida Jesus, um hóspede muito desejado, a comer em sua casa. Para o
fariseu isso era uma grande honra e possivelmente toda a cidade ficou sabendo do fato.
Jesus era uma pessoa muita conhecida e valorizada por todos, um Profeta que só fazia
o bem, sem importar a quem; não fazia separação entre as pessoas, todas são iguais
perante o Criador.
Imaginem a pessoa de Jesus; um homem que conversava com todos: pobres, ricos,
doentes, aleijados, doutores, escravos, soldados, ladrões, prostitutas.... Para Jesus todos
são filhos de Deus e isso é o que importa.
Quando convidado, ia a casa deste sem nenhum preconceito. Podia ser um santo ou
mesmo um extremo pecador, não importa. Ele amava a todos; veio salvar a todos e com
todos queria ficar.
É difícil imaginar o grande amor que Jesus tem por nós. E ele deseja que façamos o
mesmo, amar como ele amou.
Jesus se moldava a quem estava com ele, e aos poucos o modificava, o transformava;
fazia entender os seus erros, pecados e os conduzia gentilmente a uma nova vida. O
passado não importa mais, mas sim o desejo de melhorar, crescer, se espelhar no nosso
Mestre Jesus.
463
37
Apareceu então uma mulher da cidade, uma pecadora. Sabendo que ele estava à
mesa na casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume.
38E,ficando por detrás, aos pés dele, chorava; e com as lágrimas começou a banhar-
lhes os pés, a enxugá-los com os cabelos, a cobri-los de beijos e ungi-los com
perfume.
Jesus não veio neste mundo para julgar os homens, para condenar, mas sim para
provocar julgamento. Pelo modo de agir de Jesus, o seu testemunho de vida, pela
Evangelização através da sua palavra, as pessoas eram conduzidas a fazer um
questionamento de seu comportamento, de sua vida.
Imagine somente o olhar de Jesus: converteu Mateus, o cobrador de impostos, e muitos
outros os seguiram, apenas com um olhar penetrante cheio de paz.
A mulher pecadora já não aguentava mais viver naquela situação, era marginalizada e
desprezada por todos. Mas via em Jesus um refúgio, um jeito de escapar daquela vida.
Arrependida dos seus atos vai correndo ao encontro de Jesus e, sem nada dizer, cai em
lagrimas aos seus pés, do único homem que podia compreendê-la.
Jesus sabe dos nossos pecados e da nossa intenção de não mais pecar, nos conhece
profundamente, e fala conosco, nos perdoa apenas com um olhar.
Basta querer ser melhor, que Jesus já está ao nosso lado nos ajudando, nos
perdoando. Ele nos ama intensamente, ele quer o nosso sim.
39Vendo
isso, o fariseu que o havia convidado pôs-se a refletir: “Se este homem fosse
profeta, saberia bem quem é a mulher que o toca, porque é uma pecadora! ” 40Jesus,
porém, tomando a palavra, disse-lhe: “Simão, tenho uma coisa a dizer-te”. — “Fala
Mestre”, respondeu ele. 41“Um credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos
denários e o outro cinquenta. 42Como não tivessem com que pagar, perdoou a ambos.
Qual dos dois o amará mais? ” 43 Simão respondeu: “Suponho que aquele ao qual
mais perdoou”. Jesus lhe disse: “Julgaste bem. ”
44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e
não me derramaste água nos pés; ela, ao contrário, regou-me os pés com lágrimas e
enxugou-os com os cabelos. 45Não me deste um ósculo; ela, porém, desde que eu
entrei, não parou de cobri-me os pés de beijos. 46Não me derramaste óleo na cabeça;
ela, ao invés, ungiu-me os pés com perfume. 47Por essa razão, eu te digo, seus
numerosos pecados lhes estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Mas
aquele a quem pouco foi perdoado, mostra pouco amor. ”
464
Um dos nossos grandes pecados é pensar que somos melhores do que os outros,
quando para Deus todos nós somos iguais. O fariseu, por ser um seguidor das Leis, pensava
que era melhor perante os olhos de Jesus do que aquela mulher da vida. Jesus entendeu os
seus pensamentos, por isso conta esta história para Simão.
A mulher arrependeu-se totalmente de seus pecados e foi perdoada por Jesus, e
agradecida profundamente banhou os pés do Mestre com suas lágrimas. Antes mesmo de
entrar na casa de Simão, a mulher já se sentia perdoada. Somente o olhar que Jesus deu
quando passou por ela foi o bastante para sentir a misericórdia de Deus.
Portanto, quando entrou na casa, ela o fez para agradecer, mostrar gratidão a Deus.
Lembremos que Jesus veio para libertar o homem das garras do pecado. Ele veio para
os pobres e marginalizados.
Jesus era amigo dos pobres e dos ricos, dos pecadores e dos cobradores de impostos,
bebia e comia com toda essa gente. Por isso a prostituta sentiu em Jesus algo diferente. Ele
não era como os outros, ela podia se aproximar d`Ele sem medo.
Cabe neste ponto uma grande lição para nós; Jesus foi no seu tempo de vida um
motivo de união, Ele trazia as pessoas a Ele e as conduzia para um bom caminho. Como é a
nossa vida? Somos humildes o bastante, a tal ponto de atrairmos para nós, seja um povo
pobre, analfabeto, até o mais letrado? Jesus tinha essa plena capacidade, todos viam Nele
um “igual, ” em que podia se aproximar e conversar.
Como eu vou me aproximar de uma pessoa menos favorecida, se eu não me igualo a
ela? Há entre nós um grande abismo. Eu não consigo chegar até ela, e ela muito menos até
a mim.
Jesus teve esse grande dom de ser igual, apesar de ser o maior de todos, mesmo
daqueles que se sentem favorecidos, dos mais ricos e letrados.
Essa humildade está longe de alcançarmos, mas é uma meta que devemos trilhar se
realmente queremos seguir o nosso verdadeiro Mestre, Jesus.
48Em
seguida, disse à mulher: “Teus pecados estão perdoados. ” 49Logo os convivas
começaram a refletir: “Quem é este homem que até perdoa pecados? ” 50Ele, porém,
disse à mulher: “Tua fé te salvou; vai em paz”.
A fé da mulher já fez efeito em seus pecados, antes mesmo dela entrar na casa. Jesus
foi um provocador da fé, aquele que a transportou para um arrependimento total.
Perguntaram: “Quem é este homem que até perdoa pecados? ”
Nós também somos esse homem, ou seja, como imitadores de Jesus, temos a
obrigação de levar aos nossos irmãos a fé; através de nosso agir, falar, olhar, tudo em nossa
vida tem que ser motivo para elevar a fé dos nossos irmãos.
465
Hoje, portanto, em nossa vida, no nosso dia a dia, temos que ser imitadores de Cristo.
Seja em casa, na família, no trabalho, na escola, na comunidade, em todo lugar e momento
temos que levar as pessoas a adquirir a fé.
Devemos usar todos os meios possíveis para chegar a esse objetivo, assim como
Jesus usou: humildade, mansidão, amor, paciência, perdão...
Que lindo seria se essa cena do Evangelho chegasse a se realizar plenamente em nós,
chegando a ponto de compreendermos claramente, assim como Jesus percebeu o total
arrependimento da mulher, e com isso concluirmos que os seus pecados foram perdoados
plenamente.
8,1
Depois disso, ele andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa
Nova do Reino de Deus. Os doze o acompanhavam, 2assim como algumas mulheres
que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena,
da qual haviam saído sete demônios; 3Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes,
Susana e várias outras, que o serviam com seus bens.
Jesus andava por todo lado anunciando o Reino de Deus, curando as enfermidades e
expulsando demônios. Ele não escolhia as pessoas, não queria saber se era pobre ou rica,
preto ou branco, mulher ou homem, judeu ou ateu. Para Jesus todos são iguais e carecem
da mesma atenção.
Como seguidores, imitadores de Jesus, é nossa obrigação, missão, fazer o mesmo.
Devemos ser anunciadores do Reino de Deus em todas as ocasiões da nossa vida.
Recebemos o Espírito Santo de graça e de graça devemos Evangelizar, anunciar o
Reino de Deus. Não devemos escolher o lugar, nem a hora. Temos que estar prontos
sempre.
Somos discípulos imitadores de Cristo, pescadores de homens.
O nosso objetivo, neste mundo, é encontrar o caminho que leva ao Pai, e quando o
encontramos devemos ensinar esse caminho aos nossos irmãos. Devemos ser setas
espalhadas pelo mundo indicando a estrada que leva a Jesus, Deus.
466
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Senhor, faça que eu seja uma pessoa nova, que possa testemunhar o amor recebido,
amando sem prejuízo e sem discriminação. Torne-me uma pessoa mais comprometida com
os mais necessitados, fazendo com que transforme a minha vida, dando testemunho do
vosso amor para com todos.
467
12° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 9,18-24
18Certo
dia, ele orava em particular, cercado dos discípulos, aos quais perguntou:
“Quem sou eu, no dizer das multidões? ”
Cansados por tantas perseguições pelo dono do poder religioso e abandonados pelo
povo, Jesus e seus amigos se retiram para um lugar isolado, longe das multidões.
Durante anos os discípulos acompanharam Jesus e apreciaram muitos milagres e
outros fatos que realizou. Estando agora reunidos em oração, Jesus os interroga dizendo:
“Quem dizem que eu sou? ”
Os discípulos pararam as orações e ficaram inertes, pensando sobre quem é esse
Mestre que estão seguindo. Nem mesmo para eles estava muito claro, quem dera aos
outros; envolveram-se com Jesus por causa da sua palavra, dos seus atos, do seu pedido de
segui-lo, mas a pergunta sempre ficou no ar: Quem é Jesus?
De fato, os discípulos e o povo, não sabiam dizer a verdade, pois ainda não viveram
Jesus. Sabiam claramente que Jesus veio da Galileia, seus pais eram José e Maria, ganhava
o seu sustento como carpinteiro e mais nada.
Perguntavam entre si: Onde Ele aprendeu tudo isso!? Nós o conhecemos, a sua vida é
igual a nossa. Onde adquiriu tanta sabedoria!? Não sabiam a resposta, mas seguiam Jesus,
perceberam nele a presença de Deus. Havia algo especial nesse homem simples que os
cativou e arrastou a todos.
Só mais tarde, vivendo Jesus, finalmente responderiam com firmeza quem é o Mestre.
Somente vivendo Jesus é que descobriremos quem é Jesus e um dia, se Deus quiser, e Ele
quer, poderemos dizer como Paulo disse: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em
mim” (Gl 2,20).
468
19
Eles responderam: “João Batista; outros, Elias; outros, porém, um dos antigos
profetas que ressuscitou”.
Está claro que, com essa pergunta de Jesus, as pessoas não conseguiram ainda
descobrir quem é Ele. Uns pensavam que era João Batista, faziam uma confusão de
identidade entre os dois; outros pensavam que Jesus fosse Elias ou outro profeta antigo.
Na verdade, a maior parte do povo seguia Jesus por causa dos seus milagres, não
pensavam em uma mudança de vida, de comportamento; mas sim, em obter uma cura,
alimento, ou outra coisa que viesse satisfazer as suas necessidades mundanas. Jesus sabia,
desde o início, que isso aconteceria, que o povo não estava preparado para receber o Reino
de Deus, mas a semente tinha que ser plantada, essa era a sua missão. Se formos analisar,
nem mesmo os discípulos mais próximos de Jesus entendiam a proposta, o projeto de Deus
na vida do Filho do Homem. Só foram entender quando o Espírito Santo desceu sobre eles
depois da ressurreição.
Não vão pensar que se Jesus aparecesse hoje, no meio de nós, iria acontecer tudo
diferente. Não, a história iria se repetir, pois ainda não estamos preparados para receber o
Reino de Deus.
Hoje nós presenciamos o êxodo das pessoas para as igrejas protestantes, pois elas
oferecem “milagres” e com isso o povo vai a busca desses enganadores para satisfazer as
suas necessidades; vai à procura de empregos, alimentos, curas...
Será que entendemos o projeto de Deus? Sabemos quem é Jesus?
Se sabemos..., então pouco fazemos para a realização do Reino de Deus. Somos
apáticos aos ensinamentos de Jesus, estamos longe de entendê-lo. Procuramos em primeiro
lugar os nossos interesses pessoais e só depois vamos ao encontro da proposta de Jesus.
20Ele
replicou: “E vós quem dizeis que eu sou? ” Pedro então respondeu: “O Cristo de
Deus”.
Deus só revela a identidade de Jesus, o seu projeto, àquele a quem Ele quer. Pedro foi
o escolhido entre os doze. Ele disse: “O Cristo de Deus. ” O Messias, um profeta, um
revelador, um ser movido pelo Espírito Santo.
Pedro recebeu a graça da revelação, recebeu a inspiração do Espírito Santo, soube
reconhecer o filho de Deus vivo.
Mas será que Deus escolheu Pedro por acaso? Não. Certamente Pedro já vinha
merecendo receber a visita do Espírito Santo mais intensamente, já há muito tempo. Apesar
de sua dificuldade de entender, compreender Jesus e o que é mais importante, imitá-lo.
Deus, percebeu o grande interesse de Pedro e fez por bem, o escolhido para essa revelação.
469
Conosco pode acontecer o mesmo. Temos que procurar a fé em todos os momentos de
nossa vida, não importa o lugar e quando. Temos que ser perseverantes, teimosos como foi
Pedro.
Pedro se esqueceu da sua vida e se dedicou plenamente ao plano de Deus, é por isso
que foi escolhido.
E nós, somos instrumentos nas mãos de Deus?
Queremos, mesmo pouco entendendo, nos aproximar de Jesus e ajudar na realização
do projeto de Deus?
Ou será que estamos presos à nossa vida, ao nosso projeto, ao nosso conhecimento e
nos fechamos ao Espírito Santo, não escutamos a sua revelação em nós?
Estamos trancados, fechados, de coração duro à ação do Espírito Santo?
21
Ele, porém, proibiu-lhes severamente de anunciar isso a alguém. 22E disse: “É
necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefe dos
sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia”.
Agora eles sabem que Jesus é o Messias tão esperado. Mesmo assim nada entendem
do projeto de Deus. Da mesma forma não adianta contar a todos, pois também não irão
entender, e talvez viesse a dificultar a sua missão.
É importante que seja dito que Jesus tem que passar por muito sofrimento, ser rejeitado
pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. Jesus tem que passar por
tudo isso como homem, como “filho do homem”. Deus não dará nenhum tipo de recurso,
nenhuma ajuda. Jesus passará por todos os sofrimentos e humilhações sozinho. Em Jesus
será realizado o projeto de Deus.
Pelas mãos do poder Jesus vai ser condenado: anciãos, sumo sacerdote e doutores da
Lei, membros do sinédrio, o supremo tribunal. Jesus deve morrer pelas mãos desses
homens, por seus ensinamentos estarem contrários aos do sinédrio.
Mas, Deus vai triunfar com a morte de Jesus pelas mãos dos poderosos, pois
ressuscitará no terceiro dia.
Tudo está muito claro para Jesus, mas os seus amigos não estão entendendo. Sabem
que Jesus é o Messias, mas não entendem porque Ele tem que passar pelo sofrimento e
morte.
O meio que Deus escolhe para salvar a humanidade não é através da matéria, não é
deste mundo, deste reino e sim do Reino de Deus.
Não devemos procurar a resposta na matéria, mas sim do que vem do alto: amor,
humildade, paz, harmonia, mansidão...
470
23
Dizia ele a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz cada dia e siga-me. 24Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o
que perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.
Para seguir Jesus temos que renunciar a nós mesmos, ou seja, desfazer dos nossos
planos, projetos, toda a nossa ambição. Devemos nos desapegar das coisas deste mundo:
dinheiro, carro, casa... enfim, tudo o que possuo até mesmo do meu tempo e do meu corpo.
Na verdade, nos prendemos neste mundo, nos escravizamos na matéria e achamos
que é esse o caminho verdadeiro, pois é o que conhecemos desde criança. Mas Jesus
trouxe para nós um novo caminho, uma nova forma de vida, uma vida sem ilusão que nos
leva a Deus. Diz Jesus que aquele que se dedica somente em seu próprio interesse perde a
vida, ou seja, não cresce espiritualmente, cultiva apenas o egoísmo, só fica centrado em si e
com isso perde o sentido da vida; o projeto de Deus fica posto de lado. Vida gasta para nada,
sem valor, ilusão.
Mas aquele que banir da sua vida o egoísmo, o seu próprio interesse, realizará o plano
de Deus, viverá em função do amor, do próximo, encontrará o paraíso, o caminho da
santidade, a felicidade. Esse caminho é o caminho que Jesus ensinou, o que leva a Deus.
471
13° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 9,51-62
Jesus tem pleno conhecimento do que vai acontecer com ele. Na transfiguração o
Espírito Santo mostrou o caminho, por tudo o que ele vai passar.
Portanto, aproximando-se o tempo, Jesus sabendo que chegou a hora, dirigiu-se para
Jerusalém. Nessa caminhada Jesus leva o julgamento a todos e mostra como devemos
segui-lo. Ele aos poucos vai ensinando como seguir os seus passos.
Ele se despoja de tudo, nada nessa terra o prende, tudo é feito para a realização do
projeto de Pai.
O seu fim está próximo, caminha para Ele.
Com esse exemplo de Jesus, nós que também caminhamos para o nosso fim, embora
não sabendo quando vai ser, nos comportamos como imortais e fazemos desta terra nossa
eterna morada.
Jesus sabendo que o seu fim está próximo, faz tudo o que pode para o bem de todos e
a execução do projeto do Pai.
E nós?
Nosso fim também está próximo, e o que fazemos?
Continuamos a ajuntar tesouros que não vamos levar. Tudo vai ficar aqui! Só levaremos
o amor.
Quem é louco nessa história: Jesus ou nós?
472
52
e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num
povoado de samaritanos, a fim de preparar-lhe tudo. 53Eles, porém, não o receberam,
pois caminhava para Jerusalém.
54Em
vista disso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que
ordenemos desça fogo do céu para consumi-los? ” 55Ele, porém, voltando-se,
repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado.
Por causa da negação da hospedagem, que era um fato muito grave naquela época,
Tiago e João se veem ofendidos e pedem permissão a Jesus para destruí-los com um raio.
Além da pouca humildade de Tiago e João, o texto esclarece para nós, hoje, a fé que
eles tinham em Jesus. Eles, realmente, estavam repletos de fé, uiam em Jesus um homem
extraordinário, que emanava muito conhecimento e poderes que eles não conheciam. Mas,
473
estavam longe de entender o projeto de Deus: implantação do Reino de Deus no homem,
felicidade, liberdade, a morte do egoísmo e o reinado do amor.
Como, então, matar um homem? Jesus responde aos dois: “Eu não vim para perder
vidas, mas para salvá-las”.
Não existe o melhor ou o pior. Para Jesus todos nós somos iguais, todo somos
merecedores da salvação. Para Deus não há excluído.
O pior dos homens, aquele que menos ama, ainda assim é animado por um espírito e
merecedor da salvação.
Nós não podemos julgar, mas sim ser um instrumento para o julgamento, ou seja,
devemos levar os nossos irmãos a reconhecerem que estão errados e ter muita paciência
esperando a sua volta para Deus.
É assim que Jesus agiu, e é assim que nós devemos agir.
Nós temos que ser imitadores do nosso Mestre.
57
Enquanto prosseguiam viagem, alguém lhe disse na estrada: “Eu te seguirei para
onde quer que vás”. 58Ao que Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e as aves do
céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.
474
59
Disse a outro: “Segue-me. ” Este respondeu: “Permite-me ir primeiro enterrar meu
pai”. 60Ele replicou: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; quanto a ti, vai
anunciar o Reino de Deus”.
Mais uma pessoa pensando em seguir Jesus. Mas havia um problema: ele quer
primeiro enterrar o seu pai. Naquela época o enterro era sagrado, portanto, muito importante
para aquele povo.
Mas o Reino de Deus é mais importante!
Jesus disse: “Deixe que os mortos enterrem os seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o
Reino de Deus”.
Devemos crer que o Reino de Deus é vida; o projeto de Deus é muito importante,
podemos dizer que é mais importante do que tudo o que fazemos em nossa vida; isso inclui
os nossos sonhos, objetivos, emprego, família; ou seja, tudo mesmo! Tudo nesta vida, a não
ser o amor, é ilusão. Agimos como mortos!
Foi por isso que Jesus disse: “Deixe que os mortos enterrem os seus mortos”. Para
aquele que não segue os planos de Deus, para Jesus, são como se estivessem mortos! As
suas atitudes não têm fundamento, proveito, frutos; apenas vivem ou vegetam. Passam a
vida, simplesmente. Não crescem, não amam. São mortos-vivos!
Quantos vivem nesta situação de morte?
Sem crescimento, sem vida, é só trabalho e volta para casa, no outro dia: mais trabalho
e retorno ao lar... São como abelhas em uma colmeia, uma engrenagem em uma máquina.
Mortos.
Deus não nos criou para vivermos estagnados! Temos vida! E a nossa função maior
nesta vida é aprender a amar. Fora isso, é ilusão, perda de tempo, é morte.
Deixe tudo, e anuncie a vida, o Reino de Deus.
61Outro disse-lhe ainda: “Eu te seguirei, Senhor, mas permite-me primeiro despedir-me
dos que estão em minha casa. ” 62Jesus, porém, lhe respondeu: “Quem põe a mão no
arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”.
Jesus tem inúmeros seguidores, esse é mais um no meio de tantos. Talvez centenas ou
milhares, que o seguem diariamente, já optaram por ele.
É bem provável que esse novo seguidor veio até Jesus, ou por curiosidade, ou foi
ocasional. Talvez estivesse retornando para casa quando encontrou o Mestre. A palavra e a
475
vida de Jesus o cativou de tal forma, que se encontrava disposto a unir-se àquela multidão,
mas... e a família, como fica? Tem que ser avisada!
Na verdade, ele não estava preparado ainda, foi amor à primeira vista. Ainda não
pensou nas consequências que esta decisão irá trazer. Talvez, depois de repensar volte
atrás.
Por isso Jesus disse: “Aquele que toma a decisão de me seguir não deve voltar atrás;
ficar indeciso é falta de fé, e, com certeza, vai me deixar pelo caminho; portanto não é apto
para realizar o projeto do Pai”.
Assim sendo, vá para casa, reflita se é esse o caminho que deseja seguir realmente, e
só depois me siga.
Hoje ele diz o mesmo para nós: Você está pronto para me seguir, está preparado, tem
fé? Então me siga e não volte atrás.
Quantas vezes esse fato aconteceu conosco? Entusiasmamo-nos com os
ensinamentos do Mestre, tomamos a iniciativa de segui-lo e logo nos vemos na mesma vida
de ontem. Nada mudou!
Jesus quer uma decisão forte, com fé, sem arrependimento, pois o Reino de Deus é
mais importante, é tudo.
476
14° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 10,1-12.17-20
1Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua
frente a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.
Lucas narra pela segunda vez Jesus enviando os discípulos em missão. Na primeira, os
responsáveis são os Doze (9,1-6) e na segunda os missionários são os 72 discípulos.
Percebe-se claramente a intenção do evangelista, o anúncio do Reino é para todos e
toda a comunidade de discípulos é enviada em missão.
É bom lembrar que todo batizado é convocado a participar dessa missão. Mas, nunca
sozinho e sim em comunidade. Nesse ponto podemos entender o significado de Jesus enviar
os discípulos em dupla. Podemos ainda citar as seguintes palavras de Jesus: “Onde dois ou
mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei entre vós” (Mt 18,20).
2E dizia-lhes:
“A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita
que envie operários para sua colheita.
Observe qual é o olhar e a atitude que o evangelizador deve possuir. Deus está sempre
trabalhando, Ele chega primeiro, prepara tudo e nos prepara, assim pensando a missão não
começa com o evangelizador, ele é apenas um dos operários.
A colheita é grande, Deus é o grande semeador e é somente Ele que colherá no seu
tempo. Perceba que Ele é o dono de tudo, é a Ele que devemos pedir os operários
necessários para a missão.
477
3
Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforje,
nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho.
Perceba que não vai ser fácil a missão. Nesse sentido Jesus vem alertar: “Estou
enviando vocês como cordeiros para o meio de lobos”.
É necessário colocar toda a fé em Deus, ser guiado em todos os momentos pela força
do Espírito Santo. Por isso Ele disse para realizar a missão com extrema pobreza: sem
bolsa, nem sacola, nem sandálias. A missão é urgente e nada pode travá-la: não parem no
caminho. Observe que o livre arbítrio deve ser preservado, os missionários não devem forçar
ninguém para que os escutem, mas têm o dever de anunciar a boa nova do Reino, todos têm
direito a escutar sua proposta de Vida.
5Em
qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa! ’ 6E se lá houver
um filho de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; senão, voltará a vós.
7Permanecei nessa casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu
salário. Não passeis de casa em casa.
8Em
qualquer cidade em que entrardes e fordes recebidos, comei o que vos servirem;
9curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de
vós’. 10Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as
478
praças e dizei: 11‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nós a
sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de Deus está
próximo’. 12Digo-vos que, naquele Dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para
aquela cidade.
O evangelizador tem que ter a consciência de que apenas deve semear, ou seja, a
colheita dos frutos vem a seu tempo. Dessa forma, não deve desanimar, pois a graça está
acontecendo, mesmo que não venha a ser percebida. É bom destacar que todo esforço por
parte do cristão sempre dará fruto.
Devemos respeitar o livre arbítrio, as pessoas não devem ser forçadas a mudar de vida,
a seguir pelo caminho que Jesus propôs, tem que ser uma decisão só dela.
O Reino de Deus tem que ser anunciado, todos devem saber que o Reino está próximo,
muito próximo. Se o homem prestar atenção à palavra do Evangelho e acreditar nela e vivê-
la encontrará a paz e a salvação. Mas, se rejeitar a palavra, infeliz será.
17Os
setenta e dois voltaram com alegria, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos
submetem em teu nome! ” 18Ele lhes disse: “Eu via Satanás cair do céu como um
relâmpago! 19Eis que eu vos dei o poder de pisar serpentes, escorpiões e todo o poder
do Inimigo, e nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os
espíritos se vos submetem; alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos
nos céus”.
480
15° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 10,25-37
25Eisque um legista se levantou e disse para experimentá-lo: “Mestre, que farei para
herdar a vida eterna? ”
Mais uma vez é questionado pelos doutores da Lei, procuram de todas as formas
derrubá-lo.
Esses doutores são pessoas que tentam agradar a Deus somente dentro do templo,
ficam presas as regras, as Leis, aos costumes; ficam totalmente apáticas a vida fora da
“Igreja”. São pessoas insensíveis, voltadas somente a si e a Deus.
Os perseguidores de Jesus estão muito longe de entenderem a sua proposta de vida.
Como essas pessoas letradas entenderiam que Jesus veio salvar, os pobres, os
marginalizados, os necessitados? Não, não eram sensíveis a vida fora do templo, para eles
Deus estava somente lá dentro das quatro paredes.
Jesus, porém, estava totalmente contra o modo de agir desses doutores; ia ao encontro
daqueles mais rejeitados, os considerados impuros. Com essa atitude colocava em cheque a
religião da época, e os seus costumes.
Entretanto esses doutores, embora estivessem longe da prática, da misericórdia,
chegaram próximo da verdade, mas seus olhos estavam tampados; viam, ouviam, mas nada
entendiam; eram cegos a guiar outros cegos.
E nós, fazemos como estes doutores da Lei?
Colocamos em prática as lições que o Mestre nos ensinou?
Ou achamos tudo muito bonito, lindo, mas estacionamos na beleza do texto e nada
fazemos?
26Ele
disse: “Que está escrito na Lei? Como lês? ” 27Ele, então, respondeu: “Amarás o
Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de
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todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo”. 28Jesus disse:
“Respondeste corretamente; faze isso e viverás”. 29Ele, porém, querendo se justificar,
disse a Jesus: “E quem é o meu próximo? ”
Eles chegaram próximo da verdade, mas apenas isso, não foram mais além.
Os doutores da Lei estavam interessados no seu próprio bem-estar, desfrutando as
regalias que aquela posição oferecia. Apenas tinham uma grande cultura, um grande
conhecimento das Leis de Deus, e usavam como um poder para dominar e tirar proveito do
povo.
O que adianta ter todo o conhecimento das Escrituras, das leis, se você não tem a
capacidade de amar, falta fé? Jesus os comparou a sepulcros caiados, apenas tem beleza
exterior, apenas o conhecimento, mais nada.
Hoje muitos caem no mesmo erro, correm atrás do conhecimento, da Teologia e nada
fazem pelos nossos irmãos. Para Jesus, apenas o conhecimento não tem valor algum, é
como uma bexiga cheia de ar.
O que Jesus veio trazer para nós é o amor, e amar, servir, ir ao encontro do próximo,
usar o nosso conhecimento, a nossa cultura e todos os dons que temos para nosso próximo.
Jesus ensinou que devemos agir, pôr em prática o conhecimento em nossa vida e, só
depois falar, Evangelizar através das palavras. Nós fazemos o contrário, ensinamos e
depois, quem sabe, praticamos o que ensinamos.
Será que somos como os doutores da Lei?
30Jesus
retomou: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de
assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se deixando-o
semimorto. 31Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou
adiante. 32Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu.
O sacerdote estava preocupado apenas com o templo, com o Deus que está preso
entre quatro paredes, com isso, tocar em um morto, ou sangue o tornaria impuro. Portanto
não socorreu o homem, passou adiante para ir ao encontro do Deus no templo.
Com o segundo homem ocorreu o mesmo, era uma pessoa que tem religião, não quer
ficar impuro. Como entraria no templo tendo tocado aquele homem?
A vida destes dois personagens estava repleta de Leis que deviam seguir a todo custo
para obter a salvação. Não pensavam, os religiosos, em nada mais.
Hoje acontece o mesmo. Quantos se preocupam apenas com a fachada, com a
aparência, com o que os outros vão pensar, e se esquecem do irmão, do próximo?
Há muitos falsos religiosos que são como sepulcros caiados, apenas tem a beleza
exterior, nada mais.
482
Outros ainda usam a religião para se promoverem, para tirar lucros, enfim, não tem fé,
apenas acharam um meio fácil de ganhar a vida, de usar o próximo para seu próprio
benefício.
Hoje, qual é a nossa atitude? Somos como os doutores da Lei e os levitas? Nós somos
também sepulcros caiados?
33
Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de
compaixão. 34Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois
colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados.
35No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele, e o
36Qual
dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos
assaltantes? ” 37Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”.
Jesus então lhe disse: “Vai, e também tu, faze o mesmo”.
483
Quantos que pensam dessa forma, só encontram Deus nas orações, na missa, nos
grupos..., mas não experimentam Deus na vida.
Um dia estou com Deus, faço a “sua vontade” e no outro dia, fora da Igreja, faço a
minha vontade, realizo o meu ego.
Temos que ser imitadores de Jesus, Deus está em todos os lugares, portanto, temos
que ser a mesma pessoa em todos os momentos da nossa vida, seja dentro da Igreja ou fora
dela.
Não adianta ter oração sem ação e ação sem oração. Temos que ter as duas coisas
juntas, só assim encontraremos o caminho que nos conduz a Deus.
Qual é a nossa posição dentro da Igreja?
Somos de oração?
Estamos em ação?
Conseguimos unir os dois?
484
16° Domingo do tempo comum – Ano C
Marta e Maria
Lc 10,38-42
38Estando Jesus em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta,
recebeu-o em sua casa.
39Sua
irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra.
485
Maria pressentiu que Jesus não iria mais voltar, quer então aproveitar ao máximo a
presença do Mestre. Todo tempo ela quer destinar somente a Jesus.
Não sabemos qual foi o teor da conversa entre os dois, mas, podemos imaginar. Talvez
Jesus relembrou a ressurreição de Lázaro, a perseguição que ele enfrentou, por parte dos
judeus, logo depois de ter voltado à vida. Falou também sobre a sua caminhada, a
dificuldade que encontraram, as pedras de tropeço que tentaram impedir o seu caminho; a
negação da pousada da samaritana, o quanto sofreu por isso.
Jesus passa para a sua discípula e amiga, momentos importantes de sua caminhada e
fala sobre o seu futuro em Jerusalém. Mostra claramente para Maria o risco que vão passar
indo para Jerusalém, mas, que eram necessários para cumprir à vontade, os planos do Pai.
Maria, por sua vez, só houve, com lágrimas nos olhos, não fala nada, não oferece
resistência, entende os planos de Jesus, sofre calada.
A nossa caminhada tem que ser a mesma de Maria, ou seja, procurar entender o
projeto de Jesus e deixar que esse plano se realize em nossa vida, não podemos ser pedra
de tropeço. Temos que deixar os nossos planos e ouvir o Mestre; e aceitar o seu projeto do
jeito que ele é.
A nossa vida é curta e muito importante, por esse motivo, temos que seguir o exemplo
de Maria, aproveitar todos os momentos da nossa vida para realização do projeto de Deus.
40Marta
estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: “Senhor, a ti não
importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que
me ajude”.
Maria está em sintonia com o Mestre, apesar de não gostar dos perigos que Jesus ia
passar, calava-se perante a vontade de seu amigo. Tanto Marta como Maria entendem que
essa é a última visita de Jesus, certamente não irão mais se encontrar.
Sabendo disso, Maria apenas ouve Jesus, e Marta tenta dar a melhor acolhida,
hospitalidade, prepara o almoço.
Duas escolhas diferentes para agradar o Mestre. Marta, porém, sente-se prejudicada,
quer também ouvir o amigo e por isso repreende a sua irmã, dizendo a Jesus: “Senhor, a ti
não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe que me
ajude”.
Há várias maneiras de servir Jesus, uns servem através da oração, contemplação e
outros através da ação. Na verdade, devemos mesclar os dois, fazer os dois: orar e servir.
Quem apenas ora tem a necessidade de servir e quem apenas serve, tem a
necessidade de orar; um completa o outro.
Entretanto há momentos que devemos discernir qual é o mais importante para
determinada situação; talvez mais oração e menos ação e em outro caso mais ação e menos
oração. Devemos pedir a inspiração do Espírito Santo para que nos oriente no decorrer de
nossa vida.
486
Neste caso, em particular, de Marta e Maria, era a hora de oração, contemplação, pois
o momento final do plano de Deus estava para se realizar em Jesus.
Peçamos a Deus que nos ajude sempre e que possamos servi-lo da melhor forma
possível, sendo orando, agindo ou ambos.
41
O Senhor, porém, respondeu: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas
coisas; 42no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito,
escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
No capítulo 12, versículo 31, Jesus disse: “Buscai antes o Reino de Deus e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão dados por acréscimo”.
Maria soube entender, tomou a decisão, escolheu a melhor parte.
Muitos ainda hoje são bem criticados porque escolheram o caminho da oração e da
contemplação, não entendem que servir a Deus através do amor é a única coisa que não é
ilusão neste mundo.
Quantos passam a vida da forma mais egoísta, trabalhando apenas para satisfazer os
seus prazeres e esquecem do amor, do próximo. Servem apenas ao seu próprio interesse,
não entenderam Jesus e o seu projeto de vida.
Como você está vivendo?
Todos os dias, você procura somente os seus interesses?
Vai ao encontro do próximo através do seu trabalho, ação?
Ou será que a oração é o ponto alto de sua vida?
Procuremos nos livrar das armadilhas do mundo, da matéria, dos prazeres; se
identifique cada vez mais com Deus, e seu plano, através da oração em conjunto com a
ação, tudo em benefício do próximo, do amor, do Reino de Deus.
Assim fazendo encontrará a paz, a felicidade, o paraíso já nesta vida.
487
17° Domingo do tempo comum – Ano C
Oração
Lc 11,1-13
Jesus e seus discípulos estavam caminhando para Jerusalém, e nessa grande viagem
os seus seguidores sentem a necessidade de imitar o seu Mestre na oração. Pede, então,
um dos discípulos, que Jesus os ensinem a rezar.
Tantas vezes Jesus repetiu esse ato, se colocava a sós a rezar; os discípulos ficavam
curiosos e queriam saber o teor dessa oração e, quem sabe, tentar fazer o mesmo.
Queriam que Jesus os ensinassem, assim como João ensinou os seus discípulos. Mas,
agora eu pergunto: Como era a oração de João? Qual era o relacionamento de João para
com Deus?
Certamente o relacionamento era bem diferente, comparado a de Jesus. João significa
o velho, um relacionamento de um ser superior, que está no alto, para um ser inferior que
espera, está a servir. João é apenas um profeta que traduz a vontade do Criador. Mas, o
relacionamento que Deus tem com Jesus é de Pai para filho, é de união, de comunhão a tal
ponto de as duas pessoas se fundirem em apenas um.
É isso que Jesus quer de nós: acolher em profundidade o projeto do Pai a tal ponto de
chegarmos a ser um; não sou eu que vivo é Jesus que vive em mim.
2Respondeu-lhes:
“Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso Nome;
venha o teu Reino;
3
o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia;
4perdoa-nos
os nossos pecados,
488
pois também nós perdoamos aos nossos devedores;
e não nos deixeis cair em tentação”.
Este é o novo relacionamento que Jesus quer que as pessoas tenham com Deus: Pai
para filho. Não somos apenas criaturas de Deus, mas sim filhos que Ele ama muito.
João tinha um relacionamento de amigo para com Deus, e agora nós temos um
relacionamento de filho e muito amado.
Quando pedimos: “venha o vosso Reino”. Estamos automaticamente querendo fazer
parte do projeto de Deus. Que o Reino de Deus se realize em nós, em cada um, que dê
frutos e modifique o mundo. Agindo assim, de acordo com a vontade do nosso Criador;
vamos dizer não a nossa vontade, não aos nossos planos, projetos.
Agora, se eu estou realizando o projeto de Pai, por consequência, Ele me dará o pão de
cada dia, Ele me sustentará. Mas que projeto é esse? É a felicidade do homem: Pão,
moradia, educação, saúde...
Mas se falhei, caí no erro, perdoa-me, pois vou continuar tentando ser melhor. Assim
como eu vejo a minha falha, também vejo e entendo as falhas dos meus irmãos. Entretanto,
meu Deus, afaste de mim as tentações para que eu erre menos, caia menos no erro do
pecado. Sou fraco e preciso muito da sua ajuda.
Essa parte da oração é uma declaração que indica que sou fraco, mas tenho a
capacidade de perceber esse erro, e humilho-me perante o meu Deus, pedindo perdão.
5Disse-lhes
ainda: “Quem dentre vós, se tiver um amigo e for procurá-lo no meio da
noite, dizendo: ‘Meu amigo, empresta-me três pães, 6porque chegou de viagem um
dos meus amigos e nada tenho para lhe oferecer, 7e ele responder de dentro: ‘Não me
importunes; a porta já está fechada, e meus filhos e eu estamos na cama; não posso
me levantar para dá-los a ti; 8digo-vos, mesmo que não se levante para dá-los por ser
amigo, levantar-se-á ao menos por causa da insistência, e lhe dará tudo aquilo de que
precisa.
Nós não somos apenas amigos do nosso Deus, mas sim filhos.
Se nessa parábola um amigo foi acolhido pela sua insistência, quanto mais a nós Deus
nos acolherá em nossos pedidos, pois somos filhos.
Mas, temos que saber pedir, Deus só nos dará aquilo que for bom para nós. Temos que
pedir: saúde, inteligência, sabedoria... e principalmente a presença do Espírito Santo agindo
sobre nós, não precisamos de mais nada, já temos tudo.
Porque então, pedimos mil coisas e nos esquecemos do principal?
Simplesmente porque vamos ao encontro somente dos nossos interesses pessoais; só
satisfazemos o nosso egoísmo.
489
São Francisco encontrou a felicidade, a liberdade, quando se despojou de tudo; mas,
ficou com o principal, o Espírito Santo.
Que nós também aprendamos a escolher a melhor parte.
9Também eu vos digo: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será
aberto. 10Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá”.
Quando caminhamos de acordo com os planos de nosso Deus, estamos sendo bons
filhos e, portanto, muito querido. Mesmo quando tropeçamos, Ele entende a nossa fraqueza
e continua sempre junto de nós, nos ajudando.
Portanto, se fazemos a sua vontade ou, pelo menos, nos esforçamos para fazer o
melhor possível, então ele estará sempre conosco e dará, com toda a certeza, a sua ajuda.
Por isso ele disse: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto.
O mesmo acontece comigo, em relação ao meu filho se tenho condição darei o que ele
quer, se for para o seu bem, antes mesmo de ele fazer o pedido; quanto mais se pedir!
Com Deus ocorre o mesmo, se é para o nosso crescimento, se vai fazer bem para nós
e para o próximo, então certamente Ele não negará o nosso pedido. Mas se o nosso pedido
for egoísta, voltado para interesses pessoais, ou ainda se tal pedido vai me prejudicar de
alguma forma, então Ele negará, e com toda a razão.
Deus é bom e nos acolhe com muito amor, somos nós os ruins nesta história.
Aprendamos a viver, primeiramente, de acordo com os desígnios de nosso Deus;
vamos procurar de todas as formas fazer a sua vontade e tudo mais nos será dado por
acréscimo.
Como é duro de entendermos e aplicarmos a vontade de Deus em nossa vida!
Basta dizer não ao egoísmo, ao mundo.
11Quem
de vós, sendo pai, se o filho lhe pedir um peixe, em vez do peixe lhe dará uma
serpente? 12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós, que sois
maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o
Espírito Santo aos que o pedirem! ”.
Se nós sabemos dar coisas boas aos nossos filhos, então nosso Pai certamente nos
dará o melhor para nós. E, o melhor presente que Ele pode nos dar é o Espírito Santo.
Jesus, que era um filho bondoso, recebeu o Espírito Santo que o conduziu, o animou
durante toda a sua vida, levando-o a plena realização do projeto do Pai; conosco também
pode ocorrer o mesmo. Temos que acolher a vontade de Deus em nossa vida, temos que
realizar o seu projeto, temos que ser imitadores de Cristo.
490
Para que isso se realize, Deus deixou para nós um ser que nos acompanha durante a
nossa vida, um ser de luz, um Anjo. Ele está sempre pronto para nos ajudar, nos fortalecer,
nos conduzir para a realização do projeto do Pai.
Mas, somos fracos, temos pouca fé e rejeitamos a ação desse ser em nós, escolhemos
somente os nossos caminhos; prendemo-nos a matéria e nela ficamos toda a vida.
Entretanto esse Espírito está aqui, do nosso lado; ele respeita a nossa posição, o nosso
pensamento, a nossa liberdade e está pronto para agir quando procurado.
Resta somente a nossa decisão.
491
18° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 12,13-21
13Alguém da multidão lhe disse: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a
herança. ” 14Ele respondeu: “Homem, quem me estabeleceu juiz ou árbitro da vossa
partilha? ”
Jesus, quase sempre, está rodeado por inúmeras pessoas, cada um com seus
problemas e procurando as respostas com o Mestre. Mas será que Jesus veio para esse
fim?
Hoje não somos diferentes, nós também procuramos Jesus para resolver os nossos
problemas, que são muitos. O povo está com fome da verdade, da justiça, mas nada
encontram. Por esse motivo existe um êxodo em direção para aqueles que aparentemente
encontram uma solução para os problemas, são falsos pastores que sugam ainda mais a
miséria do povo. Falsos profetas que dominam o povo e os colocam sobe o seu comando;
são cegos guiando outros cegos.
Mas, Jesus não veio trazer a solução para todos os problemas sociais, não veio para
julgar os homens, mas sim para trazer julgamento; que o próprio homem encontre soluções
para os problemas da sociedade, através dos caminhos, das propostas de vida que Jesus
deixou.
Como disse Jesus nesse versículo do Evangelho: “Homem, quem me constituiu juiz ou
árbitro da vossa partilha? ” Não, Ele não veio trazer a resposta pronta, mas trouxe
ferramentas, meios, para que nós encontremos a nossa resposta.
Jesus não pode resolver o problema desse homem, simplesmente porque esse ser
humano, não quer! A resposta, sem dúvida é a partilha, o desapego de bens injustamente
acumulados por toda uma vida. Pessoas poderosas que vivem na cidade aproveitando-se
dos trabalhadores do campo.
Certamente a proposta de Jesus seria acolhida com um grande “não” como resposta.
492
15
Depois lhe disse: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo
na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens. ”
Jesus não está de acordo com a sociedade injusta que acumula bens para poucos
enquanto muitos sofrem na miséria. Mas, isso é fruto do egoísmo do homem que cai sobre
todos, ricos e pobres, dominados e dominadores.
Dessa forma, Jesus discursa para todos, não faz diferença.
Na verdade, esta terra, este mundo, tudo é passageiro, estamos em viajem, não
paramos, não estacionamos. Desde o nosso nascimento estamos caminhando, sem parar,
para a morte, para outra vida. Estamos aqui apenas para aprender lições e a maior delas é
aprender a amar; mas o egoísmo atrapalha, está encravado no homem como um câncer
maligno que suga todas as suas forças.
Desde pequenos nós somos extremamente egoístas e levamos esse egoísmo para
toda a vida. Ele é a fonte da nossa avareza, ganância, sede de poder e riquezas. O egoísmo
nos cega e nos prende a essa vida, a esse mundo como se ele fosse nosso. Prendemo-nos
a vida e nos enganamos pensando que ela é eterna, que nunca vamos morrer que todos os
nossos bens são nossos e para sempre.
O que Deus quer de nós é o desapego, não se prender a nada, pois nada é nosso, tudo
está emprestado. Você apenas usa o seu corpo como usa uma roupa, ou um carro que em
breve será jogado fora, sem valor algum; tudo volta para a natureza, será reciclado para
outros fins. O que pertence realmente a você é a sua alma, imortal, que vive para sempre.
Essa vida é apenas uma viajem que logo terá o seu fim.
Você tem fé?
Então se livre do egoísmo e seja feliz, encontrará a verdadeira paz, a liberdade
definitiva.
16Econtou-lhes uma parábola: “A terra de um rico produziu muito. 17Ele, então, refletia:
‘Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. 18Depois pensou: ‘Eis o
que vou fazer: vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher toda
o meu trigo e os meus bens. 19E direi à minha alma: Minha alma, tens uma quantidade
de bens em reserva para muitos anos; repousa, come, bebe e regala-te’. 20Mas Deus
lhe diz: ‘Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que
ajuntaste, de quem serão? 21Assim acontece aquele que ajunta tesouros para si
mesmo, e não é rico para Deus.
É pura ilusão acreditar que com o acumulo de bens estaremos plenamente seguros.
Mesmo com os bens em mãos, você não encontrará a felicidade, vai ter um aborrecimento
em sua vida que tirará a sua paz aparente.
Nesta parábola, o homem já era rico e através da sua grande propriedade e inúmeros
trabalhadores que estavam ao seu serviço lucrou ainda mais. Agora, pelo menos por
enquanto, ele está satisfeito, acha que está seguro, pleno.
493
Ilusão, o acumulo é uma ilusão, que todos, ou quase todos a procuram e caem no
vazio, numa estrada sem saída. Passam à vida lutando, se esforçando, aproveitando de
muitos, roubando, trapaceando. Para que? Nada é seu?
Felizes aqueles que buscam o Reino de Deus e a sua justiça, nele irão encontrar a
verdadeira paz, liberdade.
Jesus prometeu que se buscarmos primeiro o Reino de Deus, tudo mais virá em
acréscimo, não precisamos correr atrás, Ele fará por nós!
Você acredita, tem fé?
O que você põe em primeiro lugar em sua vida?
Quais são os seus tesouros?
Você é feliz; encontrou a liberdade?
494
19° Domingo do tempo Comum – Ano C
Lc 12,32-48
32Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o
Reino!
495
33
Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro
inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. 34Pois onde está o
vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Parece loucura, não dá para pôr em prática, mas é isto que Deus espera de nós.
Enquanto não abraçamos o projeto do Pai, tudo que vem de Deus parece loucura.
Na verdade, o Reino se manifesta nos pequenos, aqueles que menos têm, é nesse
meio que ocorre a partilha, o desapego. Para aqueles que têm coisas materiais fica difícil
entender a proposta, o projeto do Pai.
Observo nas comunidades que os mais simples são os que mais ajudam, não só
materialmente: repartindo objetos, alimento, dinheiro; mas repartindo também o seu tempo, o
que eles são.
Quem muito tem, pouco dá, é difícil fazer o “rico” partilhar, ele tem o coração duro, é
egoísta, só pensa em si, no seu crescimento, no seu bem-estar. Mas o pobre, pelo menos a
sua maioria, tem um coração mais mole, sabe repartir o pouco que tem, sabe doar o seu
tempo.
Acumular, ajuntar tesouro é sinônimo de escravidão, quanto mais você possui, mais
dependente você é, fica preso a seus bens. Lembre-se: “Onde estiver o vosso tesouro, ali
estará também o vosso coração”.
Onde está o seu tesouro?
Você está preso em algum bem desta terra?
Ir ao encontro do Reino de Deus é ser livre, não se apegar a nada, nem mesmo ao seu
corpo, a sua vida.
Ser livre é encontrar, definitivamente, o caminho que conduz ao Pai.
Deus pede para nós a vigilância, estar atentos, prontos para quando Ele chegar.
Este modo de agir só fará bem para nós, pois estaremos constantemente vigilantes com
o nosso ser, sobre os nossos erros diários. Fazendo a vontade de Deus, seguindo o seu
projeto seremos felizes, encontraremos felicidade plena; mas para seguirmos fielmente
temos que estar atentos, caso contrário os nossos objetivos tomarão a frente e talvez, sem
percebermos, voltamos ao mundo.
Da mesma forma acontece com as tentações, que nos arrastam para baixo, para a
lama. Temos que estar atentos, rezar sempre, estarmos em alerta, de prontidão. Jesus que
tanto rezou, estava sempre alerta, pronto para receber as tentações; Ele que é filho de Deus,
é Deus, passou por tudo isso, quem déramos nós! Se fossemos analisar teríamos que rezar
muito mais que Jesus rezou. Mas, eu pergunto: Como anda a nossa oração?
496
São Francisco de Assis passava a noite pedindo perdão pelos seus erros. Um homem
santo pedindo perdão, humilhando-se perante Deus.
E nós, estamos preparados? Fazemos o mesmo?
Hoje o mundo está envolto em trevas e nos quer levar juntos, colocam-nos aos seus
pés. Basta você querer melhorar, sair das trevas para as tentações crescerem, tomar forma.
É preciso estar atento em constante oração.
37
Felizes os servos que o senhor, à sua chegada, encontrar vigilantes. Em verdade vos
digo, ele se cingirá e os colocará à mesa e, passando de um a outro, os servirá. 38E
caso venha pela segunda ou pela terceira vigília, felizes serão se assim os encontrar!
O nosso Deus é um Pai bondoso e quer o nosso bem, já aqui nesta vida. Mas isso tudo
não vem como se fosse um passe de mágica, precisa do nosso esforço, do nosso trabalho,
de nossa dedicação diária.
É por isso que temos que estar sempre atentos, vigilantes, pois se baixarmos a guarda
o mal entra em nós. É isso que o maligno quer de nós, abaixar a guarda, ser como a maioria:
seres egoístas, gananciosos, violentos, prontos para passar por cima de qualquer um dos
irmãos. Esse é o mundo, o mais forte, o mais esperto vence.
Mas o Reino de Deus não é desse mundo, entretanto, seguindo os planos de Deus
poderemos começar a vivê-lo agora, basta o nosso sim e a nossa luta diária, constante.
Não é fácil seguir Jesus, realizar o projeto de Deus, mas é o único e verdadeiro
caminho, não existe outro. Tudo o que nos apresenta o mundo é falso, ilusório, que traz
felicidade passageira, dura pouco e logo caímos em si com depressão e outros males.
O que vem do mundo nos aprisiona, escraviza; no início é bom, mas depois você paga
o preço. Mas o que vem de nosso Deus e obtido devagar, com paciência, aos poucos vamos
enxergando as suas maravilhas, mas nada vem à toa, é preciso da nossa luta constante.
Você quer seguir Jesus? Então se prepare para a luta!
Estejam sempre preparados, prontos.
39Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, não
deixaria que sua casa fosse arrombada. 40Vós também, ficai preparados, porque o
Filho do Homem virá numa hora que não pensais! ”.
Não sabemos quando o mal está a nos esperar, pode ser a todo o momento, ou não.
Na verdade, para aqueles que estão longe da luz, o maligno não se importa muito, pois já
estão sobre o seu domínio, já fazem o que ele deseja. Entretanto para aqueles que estão na
luz, que seguem os passos de Jesus, são esses os perseguidos. Quanto mais fazemos o
497
bem, mais ainda ele está pronto a nos atormentar; na primeira oportunidade ele ataca sem
dó.
Da mesma forma, se estamos preparados, prontos para receber Jesus, então não
importa o momento que Ele vem, toda a hora é hora. Estamos sempre de casa limpa
esperando a chegada do Mestre.
Vivendo na luz estaremos felizes, plenos e nesse lugar não sobra espaço para o mal;
estamos salvos.
Mas não somos perfeitos e caímos com facilidade, por esse motivo temos que rezar
sempre, pedir constantemente a ajuda do Espírito Santo, para nos animar, fortalecer, guiar o
nosso ser. Sem o Espírito Santo fica difícil permanecermos na luz, sem Ele certamente não
venceremos.
Que no nosso dia-a-dia aprendamos a orar cada vez mais, a todo o momento nós
temos que estar prontos e firmes em nossa fé. Que Deus nos ajude!
Você é feliz, está na luz?
41Então Pedro disse: “Senhor, é para nós que estás contando essa parábola ou para
todos? ” 42O Senhor respondeu: “Qual é, então, o administrador fiel e prudente que o
senhor constituirá sobre o seu pessoal para dar em tempo oportuno a ração de trigo?
43Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado!
44Verdadeiramente, eu vos digo, ele o constituirá sobre todos os seus bens. 45Se
aquele servo, porém, disser em seu coração: “O meu senhor tarda a vir”, e começar a
espancar servos e servas, a comer, a beber e a se embriagar, 46o senhor daquele servo
virá em dia imprevisto e em hora ignorada; ele o partirá ao meio e lhe importará a sorte
dos infiéis.
47Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não
agiu conforme sua vontade, será açoitado muitas vezes. 48Todavia, aquele que não a
conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes.
Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado,
mais será reclamado
Os discípulos aprenderam muito com Jesus, com isso a responsabilidade deles era
maior. Quem mais conhecimento tem, mais será cobrado.
Conosco acontece o mesmo, se já foi apresentado para nós o projeto de Deus, se já
começamos a trilhar os passos de Jesus, então para nós muito será cobrado.
Perceba como a responsabilidade é maior?!
Se eu sei o que é o pecado, onde está a minha falha, porque então eu volto a pecar, a
cair no mesmo erro?
Na verdade falta fé, demoramos em acreditar, queremos provas, duvidamos.
498
Conhecemos a verdade, sabemos o que Jesus quer de nós, mas fazemos como Pedro,
nos escondemos, negamos Jesus. O mundo ainda nos atrai.
O caminho que devemos seguir é o da oração diária, constante; pedir a Deus a força do
Espírito Santo, e não nos deixe cair nas tentações do mundo.
499
20° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 12,49-53
49Euvim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso! 50Devo receber
um batismo, e como me angustio até que esteja consumado!
51Pensais
que vim para estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas a
divisão. 52Pois doravante, numa casa com cinco pessoas, estarão divididas três contra
duas e duas contra três; 53ficarão divididos: pai contra filho e filho contra pai, mãe
contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra”.
O ser humano é livre para escolher qual o caminho vai seguir. Jesus veio trazer uma
nova proposta de vida, mas são poucos os que compreendem e fazem uma mudança de
comportamento. Enquanto um não consegue ficar neutro diante de Jesus e do Evangelho, o
outro cruza os braços. Dessa forma ocorre a divisão: os que se apegam, os avarentos e os
que se desapegam, desejam dar sem medida; os oprimidos e os opressores...
Preste atenção, é no batismo que acontece a graça, a semente é lançada, o fogo
começa a arder... O tempo é quem vai dizer, mas chegará a hora. Uns entendem cedo,
outros tarde. No meio do caminho ocorre à divisão, o que poderia unir, separa. Mas, não é o
fim, dois reinos são formados, um que vem de Deus e o outro que o mundo oferece, o
primeiro dominado pelo amor e o segundo pela cobiça.
Pela falta de entendimento, de compreensão da palavra, as famílias são rachadas. No
entanto o livre arbítrio é respeitado, é importante um sim verdadeiro, que nasce do coração.
Nesse campo de batalha, já existe um vencedor, o bem, o amor vence.
Hoje o mundo segue o seu caminho, caminho de dor, sofrimento, desigualdade,
cobiça... Longe de ser o caminho do Espírito, o caminho do amor, do equilíbrio, da harmonia,
da paz, da felicidade sem fim.
500
No entanto a graça de Deus está presente, Ele é paciente, amoroso e extremamente
misericordioso. O tempo chegará e Ele estará esperando de braços abertos. Tudo isso é
necessário, é preciso cair, para aprender a andar.
Vamos recordar as palavras de Paulo: “Realmente não consigo entender o que faço;
pois não pratico o que quero, mas faço o que detesto. [...] Eu sei que o bem não mora em
mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance, não, porém o praticá-
lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. ” (Rm 7,
15.18-19)
501
21° Domingo do tempo comum – Ano C
A porta estreita
Lc 13,22-30
502
23
E alguém lhe perguntou: “Senhor, é pequeno o número dos que se salvam? ” Ele
respondeu: 24“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos
procurarão entrar e não conseguirão.
Muitos pensavam que somente o povo judeu podia se salvar; outros pensavam que
somente os judeus que seguiam fielmente as Leis iriam se salvar.
Hoje, ainda, muitos pensam que somente os que estão inseridos em uma determinada
Igreja é que serão salvos, ou seja, fora da Igreja não há salvação.
Jesus nada responde, ou seja, não dá uma resposta objetiva, pois a salvação depende
de cada um, do nosso esforço pessoal. Para Jesus, o caminho da salvação é uma porta
estreita, temos que desapegarmos de inúmeras coisas de nossa vida, os nossos planos,
objetivos e aprender amar.
Não basta querer se salvar, é preciso abraçar o projeto de Deus, colocar em ação o que
Jesus tanto pediu para nós.
Na verdade, nós procuramos sempre o caminho mais fácil, mais cômodo, que nos dá
maior prazer. Dificilmente escolhemos caminhos apertados, sempre vamos ao encontro do
que parece melhor para nós. Não queremos trabalho, fazer esforço.
Quando entramos por caminhos estreitos é para obtermos algo em troca, não fazemos
sem objetivo material, para o nosso bem.
Dessa forma podemos perguntar: Quem, então, se salvará?
25Uma vez que o dono da casa houver se levantado e tiver fechado a porta e vós, de
fora, começardes a bater à porta, dizendo: ‘Senhor, abre-nos’, ele vos responderá:
‘Não sei de onde sois’. 26Então começareis a dizer: ‘Nós comíamos e bebíamos em tua
presença, e tu ensinaste em nossas praças’. 27Ele, porém, vos responderá: ‘Não sei de
onde sois; afastai-vos de mim, vós todos, que cometeis injustiça! ’ 28Lá haverá choro e
ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas do Reino de
Deus, e vós, porém, lançados fora. 29Eles virão do oriente e do ocidente, do norte e do
sul e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.
30Eis que há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão os últimos.
O caminho é estreito e difícil. Muitas vezes pensamos que estamos seguindo os passos
de Jesus: vamos à Igreja, participamos de encontros, retiros; vamos à Missa. Mas será que
colocamos em prática todo o nosso conhecimento?
Jesus pode responder para nós: “Digo-vos que não sei donde sois”.
Podemos replicar: “Comemos e bebemos com o Senhor e nos ensinou muitas vezes,
mesmo assim não nos conhece? ”
Na verdade, o que fizemos foi apenas receber os ensinamentos de Jesus; aprendemos,
mas nada damos em troca.
503
Jesus nos ensinou a amar, partilhar, ir ao encontro dos mais necessitados, dos pobres,
famintos, encarcerados, marginalizados. Mas, nada fazemos!
Ser amigo de Jesus, ser reconhecido por Ele, é fazer a vontade do Pai e seguir os
planos de Deus; é largarmos os nossos planos, os nossos objetivos e nos dedicarmos
inteiramente a Deus.
Se não seguirmos os planos de Deus, nos arrependeremos no futuro, pois tínhamos
tudo em nossas mãos e nada fizemos, cruzamos os braços. Observem os exemplos de
Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas; estes fizeram a vontade do Pai, foram abençoados,
o Pai os conhecem e os acolhem. Devemos segui-los, imitá-los a todo custo.
Não nos enganemos pensando que estamos certos, salvos; pois muitos que estão fora
da Igreja podem estar fazendo muito mais que nós; estes que para nós são os últimos, na
verdade podem ser os primeiros.
504
22° Domingo do tempo comum – Ano C
Lições de humildade
Lc14,1.7-14
1Certo Sábado, ele entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma
refeição, e eles espiavam.
7Em
seguida contou uma parábola aos convidados, ano notar como eles escolhiam os
primeiros lugares. Disse-lhes: 8“Quando alguém te convidar para uma festa de
casamento, não te coloques no primeiro lugar; não aconteça que alguém mais digno
505
do que tu tenha sido convidado por ele, 9e quem convidou a ti e a ele venha a te dizer:
‘Cede-lhe o lugar’. Deverás, então, todo envergonhado, ocupar o último lugar. 10Pelo
contrário, quando fores convidado, ocupa o último lugar, de modo que, ao chegar
quem te convidou, te diga: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isso será para ti uma glória
em presença de todos os convivas. 11Pois todo aquele que se exaltar será humilhado e
quem se humilha será exaltado.
Jesus conta essa parábola a esse povo elitizado, favorecido, mas, será que eles
entendem? Nem sempre, ou pelo menos entendem, mas não tem forças, falta fé para mudar
aquela situação de erro.
Quem entende, ou não quer entender, são os falsos, os túmulos caiados.
Jesus quer que seu discípulo seja humilde, puro de coração. Não procure, de forma
alguma, se destacar, aparecer, procurar os primeiros lugares. Ele disse: “Quem se eleva,
será humilhado, quem se humilha será elevado” (11).
Deus vai sempre ao encontro dos humilhados. Por que, então, queremos aparecer, ser
exaltados?
Essa questão é para você refletir. Mais uma vez, vamos ao encontro do mundo, da
vaidade, do egoísmo, da posse, do querer ser mais. Ainda estamos longe de entender Jesus
e aderir fielmente ao seu projeto de vida.
Hoje os homens vão ao encontro dos primeiros lugares, sempre: Melhor emprego,
destacando-se na empresa; melhor carro, casa, posição social; até na Igreja, mais destaque,
o melhor de todos.
Esses, para Deus, são e sempre serão os últimos, os piores de todos.
12
Em seguida disse àquele que o convidara: “Ao deres um almoço ou jantar, não
convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos;
para que não te convidem por sua vez e te retribuam do mesmo modo. 13Pelo
contrário, quando deres uma festa, chama pobres, estropiados, coxos, cegos; 14feliz
serás, então, porque eles não têm com que te retribuir. Serás, porém, recompensado
na ressurreição dos justos.
Agora Jesus se dirige claramente ao dono da festa e aos seus convidados, talvez do
mesmo nível; pois era comum entre eles esta troca de convites. Entretanto, os pobres não
tinham vez, os convites eram só para aqueles que podiam retribuir com igual valor.
Jesus vai contra essa sociedade que discrimina, que desvaloriza os pobres e
marginalizados. Não então construindo o Reino de Deus, muito pelo contrário, nestas
condições poucos têm sua vez.
Há de se notar, que nas aldeias acontecia à partilha, não passavam fome, nada tinham,
mas eram felizes. Ao contrário acontecia na cidade, o poder e o dinheiro estavam nas mãos
506
de poucos, entre eles não havia partilha, mas sim trocas de gentilezas. Mas, não
encontravam a felicidade verdadeira, viviam em um mundo de faz de conta.
Trazendo o Evangelho para nós, hoje, poço perguntar: Como está a nossa sociedade?
E nossas celebrações, têm lugar para os excluídos?
Lembremos que na eucaristia ocorre à partilha, com igualdade, pelo menos é o que
deveria acontecer, pois onde estão os pobres, marginalizados em nossas celebrações?
Será que nossa Igreja é a casa do pobre? Os favelados saem de suas casas para
celebrarem conosco?
507
23° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 14,25-33
Jesus está a caminho de Jerusalém, e muitos o seguem querendo imitá-lo, não sabem
a dificuldade que têm que passar aquele que diz sim ao projeto de Deus.
Olhando para Jesus e seguindo-o de perto, ficam maravilhados com o modo de falar e
seus vários milagres que deixa por onde passa. Por esse motivo ficam hipnotizados, não
querem mais deixar o Mestre.
Jesus, porém, responde para eles: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai,
mãe...” Ele percebeu no povo a vontade de segui-lo, de estar sempre com Ele, mas será
que esses homens têm uma fé verdadeira a ponto de deixar tudo, mudar completamente seu
modo de vida, se dedicar apenas aos planos de Deus?
Não, com certeza, não; estavam perplexos e totalmente dominados pela pessoa de
Jesus, mas uma vez afastados voltavam para os seus afazeres. São poucos os que se
firmam em uma fé verdadeira e tudo deixam para seguir o Mestre.
Hoje, entre nós acontece o mesmo, são poucos aqueles que abandonam a sua vida, os
seus planos, ideais para se unirem unicamente a Jesus.
E você, quer ser um discípulo de Jesus?
27Quem
não carrega a sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.
508
Carregar a cruz é assumir um compromisso por toda a vida, é passar pelos mesmos
sacrifícios que Jesus passou.
Mas, vamos ter cuidado, não vamos partir em uma busca de sacrifícios, mortificações;
mas sim aderir ao projeto de Deus sem reclamar, sem por oposições.
Aderir, ir à luta com a certeza que irá ocorrer perseguições, mas permaneceremos
firmes, pois temos fé em Jesus.
Não devemos nos precipitar, querer ser rapidamente um discípulo de Jesus, pois não
conhecemos as consequências, os perigos que poderemos encontrar pelo caminho. Quem
sabe, no primeiro tropeço não levantamos mais, falta força, falta fé.
Jesus não quer discípulos mornos, que estão entre o sim e o não, ou seja, não
demoram em dizer “não” quando não lhe convêm. Jesus quer um verdadeiro sim, aquele que
você não pensa em dizer, é espontâneo, cheio de fé; Jesus quer um sim onde não é medida
as consequências, não é posto em uma balança para saber se é bom ou ruim.
De preferência, Jesus quer um sim igual ao sim de Maria, entrega total sem vacilar, sem
medida.
Com isso, vamos examinar a nossa vida, o nosso sim ou não e nos entregarmos cada
vez mais nas mãos de nosso Deus.
28Quem
de vós, com efeito, querendo construir uma torre, primeiro não se senta para
calcular as despesas e ponderar se tem com que terminar? 29Não aconteça que, tendo
colocado o alicerce e não sendo capaz de acabar, todos os que o virem comecem a
caçoar dele, dizendo: 30‘Esse homem começou a construir e não pôde acabar. 31Ou
ainda, qual o rei que, partindo para guerrear com um outro rei, primeiro não se senta
para examinar se, com dez mil homens, poderá confrontar-se com aquele que vem
contra ele com vinte mil? 32Do contrário, enquanto o outro ainda está longe, envia uma
embaixada para perguntar as condições de paz. 33Igualmente, portanto, qualquer de
vós, que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.
Renunciar a tudo para seguir Jesus é a nossa meta, para ela nós estamos caminhando,
pode até ser uma utopia.
Na verdade, devemos estar prontos para deixarmos nossas coisas quando estas
começarem a ser obstáculo para chegarmos até Ele.
Jesus quer uma nova sociedade, sem pobres e ricos, quer iguais; mais uma vez, utopia,
parece que está muito longe de acontecer: renuncia, partilha, igualdade...
Esse é o caminho e para Ele nós estamos indo, passo a passo, bem devagar, mas o
homem chegará. Entretanto nessa estrada temos que avaliarmos se somos capazes de
chegarmos e nos prepararmos antes.
Lembre-se, temos que carregar a nossa cruz até o fim, pode parecer pesada,
impossível, mas na verdade ela foi feita sob a nossa medida, é minha. Devemos continuar o
509
nosso trabalho diário e achar tempo para a meditação, para oração, para a Igreja, para o
próximo. Seguir Jesus não é fácil, exige muito de cada um de nós, mas é o único caminho.
Não fuja, desviar desse caminho é perder tempo, é ir atrás de ilusão, mais tarde se
arrependerá e voltará a trilhar o caminho que Jesus propôs.
Agora faça uma análise sobre a sua vida e responda com sinceridade: Realmente eu
quero seguir Jesus? Vou suportar a minha cruz até o fim? Quero uma nova sociedade?
Que Deus nos ajude a enfrentarmos essa vida, ir contra o mundo, renunciar. O Espírito
Santo precisa estar sempre do nosso lado, ajudando, animando, caso contrário não
convenceremos.
Você quer entrar por esse caminho?
510
24° Domingo do tempo comum – Ano C
As parábolas da misericórdia
Lc 15,1-32
3Contou-lhes,
então, esta parábola: 4“Qual de vós, tendo cem ovelhas e perder uma,
não abandona as noventa e nove no deserto e vai em busca daquela que se perdeu,
até encontrá-la? 5E achando-a, alegre a coloca sobre os ombros 6e, de volta para casa,
convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a
511
minha ovelha perdida!’ 7Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu
por um só pecador que arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam
de arrependimento.
Deus não quer perder nenhuma de suas criaturas. Todos nós temos oportunidades de
dizer sim, até mesmo o maior pecador que está na prisão esperando a sua sentença de
morte. A ovelha desgarrada.
Hoje, existem inúmeras ovelhas desgarradas que se afastaram do Mestre, ou quem
sabe, nunca estiveram juntas no redil.
O materialismo é a causa da dispersão dos homens. Vão iludidos ao encontro do
mundo e se perdem.
Jesus é o bom Pastor, aquele que conduz as suas ovelhas para boas pastagens, água
fresca e as protege das ciladas do mundo. Nós somos as ovelhas e, infelizmente, não
queremos ficar sob a sua proteção, queremos mais; afastamo-nos dele e vamos ao encontro
dos nossos planos, objetivos e assim caímos nas armadilhas do mundo. Jesus, porém, vem
ao nosso encontro, mostra o caminho de volta, coloca setas em todo o caminho para
retornarmos a ele, mas nada fazemos, estamos hipnotizados pelo mundo, pela matéria.
É agonizante a espera de Jesus pelo nosso sim, ele sofre diariamente por estarmos
envolvidos no mundo, atolado na matéria, escravos. Ele quer a nossa felicidade e nada pode
fazer, pois respeita a nossa decisão, a nossa liberdade de escolha.
8“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perder uma, não acende uma lâmpada,
varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la? 9E encontrando-a, convoca as
amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma que havia
perdido! ’ 10Eu vos digo que, do mesmo modo, há alegria diante dos anjos de Deus por
um só pecador que se arrependa”.
Nós somos os pecadores, a moeda perdida. Jesus vem ao nosso encontro e procura de
todos os modos nos levar para uma verdadeira conversão.
Tão importantes são essas duas parábolas que Jesus repete-as. São parábolas
diferentes, mas com o mesmo significado; são parábolas gêmeas que vem demonstrar o
grande amor que Deus tem por todos nós.
Ele quer salvar a todos sem exceção, ricos, pobres, marginalizados, excluídos,
letrados... É tão importante a salvação, que Deus, mesmo respeitando a nossa liberdade,
procura todos os meios possíveis para mostrar para nós o verdadeiro caminho. Mandou seu
Filho para nos salvar, morreu por nós, sofreu por nós e não podia ser diferente, pois Ele
respeita a nossa liberdade.
Não dá para imaginarmos o quanto Deus espera pela nossa conversão, não dá para
imaginarmos a paciência que Ele tem por cada um de nós. Nestas três parábolas é mostrado
que Deus faz muita festa pelo pecador que se arrepende e volta para Ele; é uma alegria
imensa, fora da nossa compreensão.
512
Depois de tudo isso, resta a nós irmos ao encontro de Jesus, pedir perdão,
arrependermos realmente e nos voltarmos totalmente para Ele. Lembremos também que
devemos ser setas no caminho, sinais para que outros possam ver, imitar e ir ao encontro de
Jesus. Temos que ir ao encontro do nosso irmão que está perdido. Longe de Jesus.
11
Disse ainda: “Um homem tinha dois filhos. 12O mais jovem disse a pai: ‘Pai, dá-me a
parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias
depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região
longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa.
14E
gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar
privações. 15Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o
mandou para os seus campos cuidar dos porcos. 16Ele queria matar a fome com as
bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17E caindo em si, disse:
‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome!
18Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti;
19
já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus
empregados. 20Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai.
Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e
lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei
contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado de teu filho’. 22Mas o pai
disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela,
ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o novilho cevado e matai-o;
comamos e festejemos, 24pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi reencontrado! ’’ E começaram a festejar.
25Seu
filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto da casa ouviu
músicas e danças. 26Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
27Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o
recuperou com saúde’. 28Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai
saiu para suplicar-lhe. 29Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te
sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito
para festejar com meus amigos. 30Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens
com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado! ’
31Mas
o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas
era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois este teu irmão estava morto e
tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado! ’ ”
Esta parábola é um verdadeiro espelho da nossa vida, de cada um de nós. Ela vem ao
nosso encontro, pois todas as vezes que erramos, cometemos algum pecado, nos afastamos
do Pai. Usamos a nossa liberdade para irmos ao encontro dos nossos sonhos, planos,
prazeres, vida fácil... e quando tudo isso acaba, voltamos para Ele. Isso acontece se temos
humildade suficiente para voltarmos, caso contrário nos distanciamos cada vez mais.
Embora usando da liberdade e nos afastando, mesmo assim Ele nos espera de braços
abertos e faz uma grande festa quando um de nós se arrepende e volta para Ele.
513
Deus é extremamente misericordioso e quer ver todos nós, do seu lado, felizes. Mas,
não acreditamos. Temos que cair primeiro, sofrer e só depois nos voltamos para Ele. Se
desde o início tivéssemos obedecido a Deus, certamente a nossa vida teria sido bem melhor,
estaríamos felizes há muito tempo. Na verdade, todos nós vamos aprender, por bem ou por
mal; resta a cada um decidir qual vai ser o caminho.
Portanto, vamos valorizar a nossa vida, procurar a cada dia seguir o caminho que Jesus
deixou para nós, vamos parar de nos comportarmos como filho pródigo que vai ao encontro
da matéria, da sua própria desgraça, infelicidade. Lembre-se, Deus nos espera sempre de
braços abertos; Ele quer desesperadamente a nossa volta, sofre com os nossos erros e se
alegra com a nossa vitória.
Chegou a hora, mude o rumo da sua vida e volta-se definitivamente a Deus e será feliz.
514
25° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 16,1-13
1Dizia ainda a seus discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi
denunciado por estar dissipando os seus bens. 2Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é
isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não podes ser
administrador! ’
Jesus se dirige aos fariseus, que iam ao encontro do ter, da matéria. Pensavam que
possuir riquezas era um presente de Deus, mereciam ser ricos, pois faziam a vontade de
Deus obedecendo às Leis.
Na parábola, o administrador infiel dissipou os bens do patrão, abusou de sua
autoridade, pegou para si o que não era seu de uma forma injusta.
Jesus faz a comparação do fariseu com o administrador infiel, pois os fariseus
abusavam do poder religioso que estava em suas mãos e usavam esse poder para tirar
benefícios próprios; enriqueciam-se às custas dos pobres, dos sofredores.
Entretanto, perante o povo, eram vistos pela grande maioria como bons, seguidores
fieis das Leis de Deus, pessoas dignas e justas que estavam prontas para ajudá-los. Alguns,
porém, perceberam a trama, mas como eram poucos, nada podiam fazer.
Na verdade, os fariseus, eram muito amigos do dinheiro e tudo faziam para obtê-lo.
Eram, portanto, escravos deste mundo, faziam parte da trama e, uma vez dentro, não saíam.
Serviam, com isso, somente ao dinheiro, mas usavam o nome de Deus.
Dessa forma, podemos perguntar: Hoje, nós nos comportamos como os fariseus?
Usamos a Igreja para nos destacarmos, aparecermos, tirar proveito?
515
3
O administrador então refletiu: ‘Que farei, uma vez que meu senhor me retire a
administração? Cavar? Não posso. Mendigar? Tenho vergonha... 4Já sei o que vou
fazer para que, uma vez afastado da administração, tenha quem me receba na própria
casa’.
5
Convocou então os devedores do seu senhor um a um, e disse ao primeiro: ‘Quanto
deves ao meu senhor? 6‘Cem barris de óleo’, respondeu ele. Disse então: ‘Toma tua
conta, senta-te e escreve depressa cinquenta’. 7Depois, disse a outro: ‘E tu, quanto
deves? ── ‘Cem medidas de trigo’, respondeu. Ele disse: ‘Toma tua conta e escreve
oitenta’
8E
o senhor louvou o administrador desonesto por ter agido com prudência. Pois os
filhos deste século são mais prudentes com sua geração do que os filhos da luz.
A trama, tão escondida aos olhos dos homens, é descoberta aos olhos de Deus. Com
isso, o administrador percebendo a sua queda, o seu erro perante o patrão, que certamente
com ele não teria mais vez, usa da sua inteligência para tirar proveito de uma situação que já
estava perdida, condenada.
Esperteza do homem com as coisas desta terra! Tira vantagens de tudo, nada faz
pensando em servir, ajudar... tudo tem um preço.
Mesmo esperando uma possível demissão, ele elabora um plano que vai favorecê-lo.
Quando estiver fora do emprego, as pessoas que ele ajudou vão ter a obrigação de restituir a
ajuda, vão dever-lhe um favor.
Tal atitude é elogiada pelo Senhor, pois foi esperto perante os homens.
Quem dera se os filhos da luz tivessem a mesma disposição, o mesmo interesse, a
mesma esperteza em relação aos planos de Deus.
Na verdade, a maioria das pessoas consideradas boas ficam pulando entre dois
extremos: luz e trevas. São mornos, ainda não decidiram com clareza o caminho que devem
seguir. Por esse motivo não administram com esperteza os bens terrenos e tão pouco fazem
realizar em plenitude os planos de Deus. Muitas vezes se acomodam, desanimam, estão
sempre cansados.
Os bens deste mundo foram destinados a todos e para o nosso benefício. Não são obra
do mal, mas do bem, e devemos usá-los para o nosso benefício e do próximo e nunca os
idolatrar.
9E
eu vos digo: fazei amigos com o Dinheiro da iniquidade, a fim de que, no dia em que
faltar, eles vos recebam nas tendas eternas. 10Quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel
também no muito, e quem é iníquo no mínimo, é iníquo também no muito. 11Portanto,
se não fostes fiéis quanto ao Dinheiro iniquo, quem vos confiará o verdadeiro bem?
12Se não fostes fiéis em relação ao bem alheiro, quem vos dará o vosso?
516
13
Ninguém pode servir a dois senhores: com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou
se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”.
Jesus quer de nós uma posição radical, pois ora estamos a serviço do Reino de Deus e
em outro momento estamos à procura dos nossos interesses e nos esquecemos
completamente do Reino de Deus.
Falta fé! Se tivéssemos fé verdadeira, mesmo vivendo no mundo, trabalhando para
obter o nosso sustento, mesmo assim, em primeiro lugar sempre estaria o Reino de Deus.
Com essa falta de fé, acabamos sendo mornos, balançamos entre filhos da luz e filhos das
trevas, não temos uma posição fixa, verdadeira.
Podemos dizer que a maioria das pessoas se encontram entre dois pontos. São
cristãos de nome, de missa e não se entregam a serviço do próximo.
Jesus quer de nós uma postura mais firme. Ele quer que sejamos espertos para a
realização dos planos de Deus, da mesma forma que as pessoas das trevas são espertas
para a realização dos seus planos, para o seu benefício.
Não podemos mais ficar em cima do muro, alheios a tudo que está acontecendo, não
podemos ao mesmo tempo servir a Deus e ao dinheiro.
Devemos usar os bens deste mundo, que foram deixados para nós, e colocá-los à
disposição, a serviço do próximo. A riqueza não é obra do mal, mas sim o seu uso egoísta.
Isto é apoderar-se do que não é seu, é idolatrar o dinheiro, é colocá-lo na frente de Jesus.
517
26° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 16,19-31
19Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se
banqueteava com requinte. 20Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de
úlceras. 21Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... E até os cães vinham
lamber-lhe as úlceras.
Novamente Jesus se dirige aos fariseus tentando mostrar a eles o perigo da riqueza, da
vida fácil, do egoísmo. Os fariseus se fechavam em seu conhecimento religioso, nas suas
posses como se fosse graça de Deus e não se abriam aos pobres, desprezavam os
sofrimentos, as necessidades que passavam a maioria das pessoas. Para eles eram apenas
pecadores que estavam pagando pelos seus erros.
Por esse motivo, para esclarecer os fariseus, Jesus conta esta parábola do rico e o
Lázaro. O rico que esbanjava os seus bens com festas diárias e desprezava totalmente o
pobre que estava a sua porta pedindo comida.
Um fato importante, que não pode passar despercebido, é que o rico não tem nome, é
desprezado como se fosse uma pessoa inútil, sem valor; por outro lado, o pobre recebe um
nome, é Lázaro, que significa Deus auxilia.
Jesus quer destacar o perigo da riqueza, que na sua grande maioria é injusta e como
consequência, usada também de forma injusta; o egoísmo, a obsessão desenfreada pelo ter,
entregar-se a uma vida boa sem se preocupar com os pobres, os necessitados. Ricos que
nada fazem pela realização dos planos de Deus, sem valor algum para a construção do
Reino de Deus.
Lázaro, como muitos Lázaros de hoje, é incapaz de sair daquela situação, tantas foram
às vezes que o despiram, tiraram-lhe tudo o que tinha deixando-o sem forças, chegando a
ponto de não poder espantar os cachorros que lambem as suas feridas.
Hoje não é diferente, a exploração do pobre é tanta que se tornam escravos dos
poderosos, não sobra nada para eles, nem mesmo vontade para continuarem a viver.
518
22
Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu
também o rico e foi sepultado.
23Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe
Abraão e Lázaro em seu seio. 24Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e
manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou
torturado nesta chama. 25Abraão respondeu: Filho, lembra-te de que recebeste teus
bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui
consolo e tu és atormentado. 26E além do mais, entre nós e vós existe um grande
abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o
possam, nem tampouco atravessem de lá até nós.
Na verdade, não é a riqueza ou a pobreza que levará o homem para junto de Deus,
mas sim o seu grau de desapego que ele tem com as coisas deste mundo. Há ricos e pobres
desapegados à matéria. Deus não julga, nem um e nem o outro, somos nós que nos
julgamos.
Mas, Deus tem uma predileção pelos pobres, os excluídos, os marginalizados da
sociedade. Homens que não tiveram oportunidade de viver, de tomar decisões, apenas
vegetaram, sem vida.
Nesta parábola, Jesus mostra o grande abismo que existe na outra vida, entre o céu e o
inferno, um abismo parecido com o que há na terra entre o pobre e o rico. É intransponível,
não há acesso de um lado para o outro. Ou seja, o remorso é muito grande, o saber
claramente que muitos foram os erros, os pecados cometidos; grandes foram às
oportunidades de aprender e ajudar o próximo, mas nada foi feito, agora é tarde, é
impossível o retorno. Como acontece aqui na terra, também ocorre no céu, podem estar
juntos, mesmo que entre eles haja um grande abismo.
A riqueza neste mundo se comporta como uma grande armadilha para o homem. Como
é difícil um rico desapegar-se de seus bens. Quanto mais tem, mais ele quer ter, é uma bola
de neve que parece não ter fim.
Disse Jesus: “Um camelo entrará pelo vão de uma agulha mais facilmente que um rico
no reino de Deus” (Lc 18,25).
27Ele
replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, 28pois
tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles
também para este lugar de tormento’.
29Abraão,
porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. 30Disse
ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se
arrependerão’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutaram nem a Moisés nem aos
Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’ ”.
519
Uma vez no céu nos desprendemos dos laços que nos seguram neste mundo, não
somos mais escravos, agora podemos ver claramente todos os erros que cometemos. Não
existe mais o egoísmo, pois não tem matéria. Mesmo o mais pecador, agora entende e se
arrepende de todos os pecados praticados, somente agora, com a mente aberta, são sábios
e inteligentes e se preocupam com o próximo.
Este homem que era rico, por sua vez, preocupou-se com os parentes que ficaram na
terra, presos ainda à matéria. Quer de todas as formas, ajudar os seus irmãos que ainda
estão escravizados. Mas, agora é tarde, nada mais pode fazer, acabou o tempo.
Esta parábola serve muito bem para nós, que não temos fé, que queremos provas para
acreditar, para fazer algo pelo próximo.
Nós, hoje, temos o Papa, Bispos, Padres, Diáconos, Religiosos e até mesmo muito
leigos comprometidos fielmente com o Reino de Deus que estão sempre prontos para nos
ajudar, para nos orientar. Não precisa vir ninguém dos mortos para que possamos crer. Aliás,
Jesus já ressuscitou e mesmo assim duvidamos. Quantos se entregam realmente ao Reino
de Deus?
Cabe a cada um de nós ocuparmos o nosso papel na verdadeira evangelização para
que outros possam crer. Se há poucos que acreditam é porque estamos falhando em nossa
missão, quase nada estamos fazendo. Lembre-se, o que aconteceu com o rico na parábola!
Agora é a nossa vez, depois não haverá mais chance. Vamos aproveitar o momento.
520
27° Domingo do tempo comum – Ano C
Aumenta a nossa fé
Lc 17,5-10
521
Seguir Jesus, procurar a fé, não é um caminho fácil. É ir contra o mundo, a instituição
falida que domina o homem. Ter fé significa ir ao encontro da cruz, assim como foi Jesus.
Você quer ter fé?
7Quem de vós, tendo um servo que trabalha a terra ou guardar os animais, lhe dirá
quando volta do campo: ‘Tão logo chegues, vem para a mesa’? 8Ou, ao contrário, não
lhe dirá: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, até que eu tenha comido e bebido;
depois, comerás e beberás por sua vez’? 9Acaso se sentirá obrigado para com esse
servo por ter feito o que lhe fora mandado? 10Assim também vós, quando tiverdes
cumprido todas as ordens, dizei: Somos servos inúteis, fizemos apenas o que
devíamos fazer”.
Com certeza, por mais que eu faça de bom, por melhor que eu seja perante os olhos
dos homens, nada sou; aliás, sou apenas um servo inútil que tenta melhorar a cada dia.
A nossa aprendizagem parece não ter fim. Quando pensamos que melhoramos,
dominamos um vício, um pecado, logo surge outro e recomeça a luta.
Somos filhos da luz e estamos aqui para aprender, nos desenvolver, crescer. O nosso
maior desafio é aprender a amar e colocar sobre os pés o egoísmo que é antônimo do amor.
A nossa busca é continua, diária, em todos os minutos estamos aprendendo. A nossa
meta é a liberdade, passamos grande parte ou até mesmo a totalidade da vida presos,
emaranhados nesta teia da matéria, tudo nos confunde.
Mas que liberdade é essa?
Jesus era pobre, sem segurança, era livre, não tinha poder e nem queria; nada o
prendia a essa terra. Para chegarmos a esse ponto, o lugar que a maioria dos santos tentou
chegar e ficaram muito próximos do objetivo, basta caminharmos ao encontro da fé.
Quem adere a essa forma de vida que Jesus viveu é somente aquele que tem fé. Para
aquele que não crê, é loucura, perda de tempo. Mas, tudo o que fazem é inútil, para nada
serve.
Na busca da liberdade, entendo que tudo o que eu faço é nada perante o meu Deus.
Conheço a minha insignificância e rogo por uma graça; peço fé, muita fé.
522
pelos serviços que presto à minha comunidade? Humilho-me perante meu Deus, sabendo
que não sou digno de minha salvação?
523
28° Domingo do tempo comum – Ano C
O leproso agradecido
Lc 17,11-19
524
samaritano. 17Tomando a palavra, Jesus lhe disse: “Os dez não ficaram purificados?
Onde estão os outros nove? 18Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus
senão este estrangeiro? ” 19Em seguida, disse-lhe: “Levanta-te e vai, tua fé te salvou”.
Apenas um voltou para agradecer. Era um pagão, que percebeu a força que vinha de
Jesus.
Os outros, talvez judeus, adquiriram a cura como direito exclusivo, achavam que não
precisavam agradecer. Ao contrário, o samaritano, estrangeiro, excluído, voltou agradecido.
Ele foi salvo, não somente curado; foi o único que abraçou a fé em Jesus e teve uma
mudança de comportamento, de vida. Os outros... Apenas foram curados, voltaram aos seus
afazeres, ao mundo.
A fé foi o motivo da volta, ele agradeceu porque teve fé e essa mesma fé o levou a uma
mudança de vida.
Não saber agradecer é sinônimo de falta de fé; não entendeu o que aconteceu. A graça
vem de Deus.
São Francisco, por exemplo, agradecia a Deus por tudo: pela vida, pelo ar que
respirava, pela chuva, pelo sol, pela água... Tudo era motivo de agradecimento, pois via
Deus em toda criação. Tinha fé e em abundância.
Infelizmente a porcentagem daqueles que agradecem é pouca, a maioria das pessoas
são escravas do mundo e não conseguem ver as maravilhas de Deus; tudo passa
despercebido, sem valor, é comum. E quando um consegue ver Deus em toda a sua criação,
é considerado um louco, sem valor e é logo descartado da sociedade.
E você, agradece a Deus o Dom da vida? Quantas graças já recebeu e quantas vezes
parou para agradecer?
525
29° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 18,1-8
1Contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar sempre, sem
jamais esmorecer.
Jesus quer mostrar aos seus discípulos a necessidade da oração. Ele não vai ficar
muito tempo junto deles e percebe que não estão prontos para atuarem sozinhos; falta fé. E,
com essa parábola, quer mostrar aos seus amigos que é através da oração, do pedido
incessante que fazemos ao nosso Deus que iremos obter mais e mais fé.
Podemos questionar: Como os discípulos permanecerão firmes na evangelização, na
construção do Reino de Deus, se não têm a plena certeza de que Deus está sempre com
eles? Sem Deus, sem Jesus, nada podemos. É preciso a fé para nos dar forças para
caminharmos.
Muitos discípulos, depois da ressurreição de Jesus, e até mesmo antes, quando
voltavam para Jerusalém, desistiram, voltaram para casa, para a vida cotidiana. Faltou fé.
Hoje a história se repete. Não sabemos rezar, não sabemos pedir e assim
abandonamos a nossa fé.
Começamos os trabalhos na Igreja, traçamos objetivos e aos poucos observamos tudo
ruir, desabar.
O nosso mundo precisa de Deus mais do que podemos imaginar, é uma busca
constante, perceba que mesmo entre os ateus, pois, ninguém consegue viver sem Deus.
Buscamos Deus, sem mesmo sabermos, de diversas formas diferentes e quase todos o
encontram. Não é necessário estar dentro de uma instituição religiosa, basta querer.
Desconhecemos a força de Deus agindo em cada um de nós, desprezamos, por
ignorância essa força, nos contentamos com migalhas que sobram da mesa, quando na
verdade podemos estar sempre fartos.
526
Jesus disse aos seus discípulos: “Peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão!
Batam, e abrirão a porta para vocês! “ (11,9).
2“Havia numa cidade um juiz que não temia a Deus e não tinha consideração para com
os homens. 3Nessa mesma cidade, existia uma viúva que vinha a ele, dizendo: ‘Faz-me
justiça contra o meu adversário! ’ 4Durante muito tempo ele se recusou. Depois
pensou consigo mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus, nem respeite os homens 5como
essa viúva está me dando fastio, vou fazer-lhe justiça, para que não venha por fim
esbofetear-me’ ”.
Na mesma cidade vivia um juiz opressor, que não temia a Deus, e uma viúva, uma
pessoa oprimida por todos.
Duas situações que levavam, sem dúvida alguma, à prática da injustiça. Por um lado, o
juiz que não temia a Deus e com isso não aplicava a Lei, não fazia justiça; a viúva, por sua
vez, morava na cidade, onde a opressão e a prática da injustiça em relação aos pequenos
eram constantes.
Como, então, fazer justiça?
Parece impossível para nós.
Por esse motivo Jesus contou essa parábola. Impossível para nós, mas, através da
insistência, torna-se possível.
A viúva azucrinou tanto o juiz, que se deu por vencido.
A força da oração, constante, diária é a nossa “arma”. Através da nossa insistente
oração conseguiremos realizar os nossos pedidos perante o nosso Deus; isso se for bom
para nós!
Mas, a nossa fé é pouca. Quando fazemos os nossos pedidos, oração, que nem
sempre é constante, insistente, caímos logo no erro de exigir que a nossa prece seja aceita e
com rapidez. Além de a nossa fé ser pouca, queremos uma resposta rápida.
Tolos, somos como criança que não sabe o que quer.
Deus espera de nós uma fé madura com muita oração.
Entretanto, qual é a nossa atitude? Pedimos uma vez ou outra, mas se não há
resposta, perdemos a fé, nos afastamos de Deus. Parecemos uma criança emburrada.
Lembre-se, a melhor oração que fazemos a Deus é através da nossa ação, atuação na
sociedade. Temos que ser agradáveis a Deus, a nossa vida tem que estar de acordo com os
planos de Deus.
Como anda a sua vida, a sua oração diária?
6E
o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz esse juiz iníquo? 7E Deus não faria justiça
a seus eleitos que chamam a ele dia e noite, mesmo que os faça esperar? 8Digo-vos
que lhes fará justiça muito em breve. Mas quando Filho do Homem voltar, encontrará á
fé sobre a terra? ”
527
São poucos aqueles que têm uma vida que vai ao encontro do projeto de Deus. Não é
uma vida de oração.
Mas, os poucos que têm essa vida, que sabem orar, esses são atendidos.
Ser perseverante é ter uma vida justa diariamente, é estar sempre vivendo de acordo
com a vontade de Deus. Assim agindo, basta pedir para ser atendido.
Quem agrada a Deus é o seu escolhido e Deus fará justiça e a sua resposta não tarda,
é rápida.
Portanto, não basta apenas pedir. Às vezes pedimos e queremos uma resposta rápida,
mas, como anda a sua fé?
Sabemos que não é fácil manter-se na luta, falta fé. Somos fracos e caímos no erro
facilmente. Mas, temos que ser perseverantes e continuarmos firmes no nosso testemunho e
na nossa oração. Muitos irão vencer e muitos irão fracassar.
Mas a parábola termina com a seguinte pergunta: “Mas quando o Filho do Homem
voltar, encontrará a fé sobre a terra? ”
Hoje podemos fazer a mesma pergunta, aqui entre nós: Temos fé? Agimos de acordo
com a vontade de Deus?
Cabe a cada um parar e meditar. Se as minhas orações não estão sendo atendidas é
porque não são perseverantes e a minha vida não está de acordo com o projeto de Deus.
Não dou testemunho, não faço a vontade de Deus. Como então ser atendido?
528
30° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 18,9-14
9Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos,
desprezavam os outros:
Esse texto, próprio de Lucas, vem mostrar para nós que aquele que confia na sua
salvação, por causa de seus méritos, está muito enganado. A salvação vem apenas de
nosso Deus.
Isso não quer dizer que temos que ficar de braços cruzados. De forma alguma.
Devemos fazer o melhor possível, trilhar com firmeza o caminho da santidade. O que não
devemos fazer é nos vangloriarmos, querer aplausos, por causa dos nossos atos,
comportamentos, exemplo de vida.
Hoje o homem quer tirar vantagens de tudo. Assim, o mínimo que faz para o próximo, o
Reino de Deus, tem que servir para alguma coisa, caso contrário, foi tempo perdido. Dessa
forma, muito de nós se comporta: rezam para conseguir algum benefício, ou agradecem pelo
mesmo motivo; se participam de algum movimento ou pastoral da Igreja, têm que tirar
vantagens; querem ser destacados, elogiados, aplaudidos.
Na verdade, devemos nos apresentar a Deus como servos inúteis, fizemos apenas o
que deveria ser feito, nada mais. Cultivar a humildade em todos os momentos, ser o último,
aquele que mais serve.
Com certeza somos como aquele filho pequeno que quer ajudar o pai, o qual concorda
apenas para alegrar o filho; no entanto o filho atrapalha muito mais do que ajuda. Mesmo
assim, o pai bondoso gosta, e muito, da presença do filho.
Nós somos esse filho que mais atrapalha do que ajuda e achamos que estamos
fazendo grandes coisas. Só Deus sabe!
Vamos cultivar a humildade, a simplicidade. Que cada um se coloque no seu lugar de
filho de Deus; mas, também de servos inúteis.
529
10
“Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. 11O
fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘Ó Deus, eu te dou graças porque não
sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano;
12
jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. 13O
publicano, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas
batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, pecador! ’
14Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, o outro não. Pois todo o
que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.
Com certeza, o publicano voltou para casa, salvo, leve, não tinha mais em seus ombros
o peso do pecado. E o fariseu? Certamente, não. Ele conhecia os seus pecados que foram
escondidos, camuflados atrás de seus méritos.
Dessa forma, qual foi o escolhido por Deus?
O que se considerou o primeiro, o justo, o bom, aquele que estava “separado” dos
outros por causa das suas inúmeras qualidades; esse foi considerado o último, o pior de
todos. Entretanto, o publicano que se considerava o último, o maior pecador do mundo;
530
desprezado por Deus; era o que pensava, por esse motivo tinha medo de chegar até Deus.
Esse se tornou o primeiro, o escolhido.
Por isso Jesus disse: “Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha
será exaltado”.
Hoje, como você se apresenta perante Deus? É um fariseu ou um publicano?
Lembre-se que aos olhos de Deus não existe justo ou santo. Somos iguais.
A salvação não é fruto do nosso trabalho, mas sim da misericórdia, é graça de Deus.
Deus quer a salvação de todos e por isso valoriza mais um pequeno ato bom de um
pecador que caminha para a conversão, do que uma grande obra que faz um justo.
Talvez, não seja muito fácil o nosso entendimento, estamos longe de entendermos o
nosso Deus. Mas, devemos acreditar em sua sabedoria. Ele é tudo.
O que resta para nós?
Apenas tentar melhorar a cada dia, servir sempre e com humildade.
531
31° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 19,1-10
Está chegando ao fim a viagem de Jesus à Jerusalém. Jericó é a última parada antes
de Jerusalém, todos que chegavam de viagem tinham como costume parar em Jericó.
Cidade da fronteira e de grande comércio. Lugar onde os cobradores de impostos
faziam a sua morada. Zaqueu vivia nesse lugar, era um cobrador de impostos e muito rico.
Como podemos imaginar a salvação de um homem que vive nessas condições:
cobrador de impostos e rico? Impossível. É realmente uma ovelha perdida.
Mas a conversão de Zaqueu já teve o seu início. Percebendo que Jesus estava na
cidade e que por sua baixa estatura não conseguiria vê-lo, subiu em uma árvore para ver
Jesus.
É comum quem vive no erro, se esconder da luz, ele não quer aparecer. Mas, Zaqueu
sai dessa postura e quer ver a luz, que é Jesus. Com certeza ele está cansado dessa vida e
procura desesperadamente uma mudança.
Analisando um pouco mais, observamos a mudança de postura de Zaqueu: Homem
rico, tinha o seu lugar na sociedade, separou-se totalmente desse lugar de dignidade e
prestígio; corre e sobe em uma árvore.
Zaqueu já tomou a sua decisão. Ele quer mudar de vida, está à procura de algo mais;
ele não está feliz com a vida que leva e vê em Jesus uma saída e vai ao seu encontro, larga
tudo.
532
5
Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse-lhe: “Zaqueu, desce
depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”. 6Ele desceu imediatamente e recebeu-o
com alegria. 7Á vista do acontecido, todos murmuravam, dizendo: “Foi hospedar-se na
casa de um pecador! ”
Jesus passando em baixo da árvore vê Zaqueu, não só por fora, mas vê o seu interior,
a mudança que está ocorrendo e vai ao seu encontro.
Jesus chama Zaqueu e este responde prontamente, depressa, não faz pergunta, acolhe
Jesus. Zaqueu já estava preparado para acolher Jesus. O impossível aconteceu.
Deus nos conhece por dentro, basta o querer mudar, melhorar o nosso modo de vida, e
Ele já está nos esperando, nos aguardando. A resposta de Deus é rápida, instantânea, pois
ele quer de volta a ovelha perdida.
Foi isso que aconteceu com Zaqueu. Ele deixou abrir uma brecha em seu coração e por
esse vão Jesus entrou. Ele não podia perder essa oportunidade, não pensou duas vezes, foi
ao encontro de Zaqueu. Mas, e o povo, o que disseram? É claro que não entenderam a
atitude de Jesus e murmuravam: “Foi hospedar-se na casa de um pecador! ”
Jesus tem pressa pela nossa conversão, Ele espera ansioso o nosso sim. Não importa
o seu modo de vida, o que você é hoje. O que importa é o seu sim.
Hoje essa história se repete inúmeras vezes, e a nossa atitude é a mesma: Não
aceitamos a conversão do pecador, ou quando muito, demoramos em aceitá-lo. Duvidamos.
Jesus aceitou, foi ao encontro e se auto convidou para hospedar-se em sua casa. Ele
entra diretamente na vida de Zaqueu e apressa a conversão.
Imagine a cena. Além de dar ouvidos a um pecador, vai ao seu encontro e hospeda-se
em sua casa! O povo não entende. É muito para eles e hoje ainda é muito para nós. Jesus
está longe da nossa compreensão.
8Zaqueu,
de pé, disse ao Senhor: “Senhor, eis que eu dou a metade de meus bens aos
pobres, e se defraudei a alguém, restituo-lho o quádruplo”. 9Jesus lhe disse: “Hoje a
salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão. 10Com efeito, o
Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
A mudança de vida de Zaqueu foi radical. Não pensou duas vezes, aceitou Jesus.
Ele que estava acorrentado à vida, à matéria; escravo do mundo e de tudo que possuía,
encontrou a liberdade. Desfez-se de todos os bens que injustamente adquiriu e, sem nada,
se colocou aos pés de Jesus.
533
Antes era um ser poderoso que amava a vida e seus prazeres, agora um ser que
aprendeu o sentido da vida, sabe o que é partilhar e servir o próximo.
Dessa forma podemos analisar quanta miséria se esconde por trás de um rico, preso ao
poder, dinheiro, prazer... Tempo gasto por nada, ilusão.
Hoje existem muitos Zaqueus em nossa sociedade, mas infelizmente ainda estão
acorrentados à matéria. São ovelhas perdidas esperando a salvação.
Por isso fico pensando: O que nós estamos fazendo por essas criaturas? Percebemos
em cada uma dessas pessoas a intenção de mudança de vida? Quando pedem socorro,
vamos ao seu encontro?
Temos que aproveitar as brechas abertas no coração de cada um e trazê-los para
Jesus.
E você? É um Zaqueu convertido, ou é um Zaqueu pecador?
Na verdade, todos nós estamos no erro, no pecado, no mundo. Mas, será que
percebemos o nosso erro, queremos mudar de vida realmente? Ou será que estamos
satisfeitos? Lembre-se, eram muitos os cobradores de impostos e apenas um obteve a
conversão. E os outros, onde estão?
Que a misericórdia de Jesus caia sobre cada um de nós e transforme a nossa vida, que
aconteça a nossa conversão.
534
32° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 20,27-38
O Evangelho de hoje vem questionar o que acontece depois da morte. Existe vida,
ressurreição?
Os saduceus não acreditavam na ressurreição. Por outro lado, os fariseus afirmam a
existência da ressurreição, dos anjos e acreditam no juízo final de Deus .
Lucas destaca as duas realidades e seus respectivos critérios nas quais o homem vive
a sua vida, continuamente em tensão entre dois “mundos”. No início do mesmo capítulo
encontramos a dificuldade das autoridades religiosas de admitir que o “mundo” das
realidades do céu possa realmente entrar a fazer parte do “mundo dos homens”. Vemos
ainda em seguida a incapacidade das pessoas que estão embrenhadas no mundo do lucro
de se desvincular do mesmo, tendo-o como mais importante do que a vida de uma pessoa.
Ainda dois mundos em conflito: o de “César”, isto é, do poder em todos os seus níveis e o
“mundo” de Deus.
28interrogaram-no:
“Mestre, Moisés deixou-nos escrito: Se alguém tiver um irmão
casado e este morrer sem filhos, tomará a viúva e suscitará descendência para seu
irmão. 29Ora, havia sete irmãos. O primeiro tomou mulher e morreu sem filhos. 30
Também o segundo, 31e depois o terceiro a tomaram; e assim os sete morreram sem
deixar filhos. 32Por fim, também a mulher morreu. 33Essa mulher, na ressurreição, de
qual deles vai se tornar mulher? Pois todos os sete a tiveram por mulher”.
A classe dos Saduceus era uma parte da alta aristocracia; estes deviam sua riqueza a
patrimônios obtidos através de posições políticas, de favores, de heranças vindas de famílias
535
que haviam conseguido fortunas com privilégios acordados... O principal interesse deles não
era realmente religioso, mesmo que fizessem parte do Sinédrio e tivessem vários direitos no
Templo. O objeto do questionamento é uma lei, chamada “Levirado” (“levir” significa
“cunhado”); esta Lei, descrita em Dt. 25,5s previa o seguinte: em caso de morte de alguém
que não tivesse filhos homens, o irmão deste poderia (deveria) desposar a mulher do irmão.
Poderíamos ver nesta lei uma tentativa de proteção da família, uma vez que uma viúva não
tinha vida fácil no Oriente, mas o intuito, de fato era bem outro: garantir a sobrevivência da
dinastia à qual era ligado um patrimônio como por uma sorte de elo misterioso ente as duas
coisas. Sabemos que era considerado uma abominação se desfazer de um patrimônio de
família; foi o caso de Nabot ao qual Acab havia proposto de comprar uma vinha: «Nabot
disse a Acab: “Guarde-me o Senhor de que eu dê a herança de meus pais”» (1Rs.21,3).
Acreditava-se que o patrimônio fosse a demonstração objetiva da benção de Deus, de seu
favor como reconhecimento.
34Jesus
lhes respondeu: “Os filhos deste século casam-se e dão-se em casamento;
35mas os que forem julgados dignos de ter parte no outro século e na ressurreição dos
mortos, nem eles se casam, nem elas se dão em casamento; 36pois nem mesmo
podem morrer: são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da
ressurreição. 37Ora, que os mortos ressuscitem, também Moisés o indicou na
passagem da sarça, quando diz: O Senhor Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de
Jacó. 38Ora, ele não é Deus de mortos, mas sim de vivos; todos, com efeito, vivem para
ele”.
Jesus vem explicar que Deus é fiel à aliança que fez com seu povo, e essa fidelidade é
salvadora. Por isso os justos, aqueles/as que vivem conforme a sua lei, não conheceram a
corrupção, senão a vida em plenitude que Deus lhes dará em recompensa.
Jesus se situa em continuidade a esta fé, tomando as palavras de Moisés, afirma sua
crença num Deus que “não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele”.
Ele conhece o amor de seu Pai a cada uma de suas criaturas e sabe também que esse
amor criador, incondicional, é mais forte que a morte, a ponto de ele mesmo chegar a
proclamar: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra,
viverá” (Jo 11, 22).
Após a morte começa uma nova vida, não é uma repetição desta vida, anulando a
novidade que a ressurreição cria, gera, não regida mais pelas leis físicas ou biológicas,
senão pelo amor de Deus no qual a criatura ressuscitada participa.
Isso não quer dizer que a pessoa, ao ressuscitar, perde sua identidade, diluindo-se na
presença de Deus.
Ao contrário! Assim como Jesus, ao ressuscitar, alcança sua plenitude humana, seus
irmãos e irmãs que morrem, ao ressuscitar, não perdem sua identidade, continuam sendo
eles/as e seu mundo de relações que os/as definem, mas de uma maneira mais plena, total,
que transcende as barreiras do tempo e do espaço.
536
Assim sendo, esse evangelho é um convite a renovar nossa fé no Deus da vida, que fez
de seu filho Jesus o primogênito dos que ressuscitam dos mortos, criando para nós o
caminho da vida eterna.
Crer na ressurreição de Jesus nos leva a crer na nossa própria ressurreição, a celebrar
a vida nova de nossos mortos e a esperar ativamente nos encontrarmos todos e todas no
banquete eterno, onde todos, sem exceção, nos sentaremos na mesma mesa dos filhos e
filhas de Deus.
537
33° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 21,5-19
5Como alguns estavam dizendo a respeito do Templo que era ornado de belas pedras e
de ofertas votivas, ele disse: 6“Estais contemplando essas coisas... Dias virão em que
não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida! ”
538
7
Perguntaram-lhe então: “Quando será isso, Mestre, e qual o sinal de que essas coisas
estarão para acontecer? ”
8Respondeu: “Atenção para não serdes enganados, pois muitos virão em meu nome,
dizendo ‘Sou eu! ’ E ainda: ‘O tempo está próximo! ’ Não os sigais! 9Quando ouvirdes
falar de guerras e subversões, não vos atemorizeis; pois é preciso que primeiro
aconteça isso, mas não será logo o fim”. 10Disse-lhes então: “Levantar-se-á nação
contra nação e reino contra reino. 11E haverá grandes terremotos e pestes e fomes
em todos os lugares; aparecerão fenômenos pavorosos e grandes sinais vindos do
céu.
Toda sociedade que não vem ao encontro do plano de Deus, que não está alicerçada
em Jesus, terá fatalmente sua destruição.
Com isso, uma nação lutará contra a outra, até que venha atender e satisfazer a
vontade de Deus.
Isso também cabe a cada um de nós, pois deixamos o egoísmo, a maldade invadir o
nosso coração. Construímos castelos, fortalezas, templos, dentro de nós; mas, é fruto de
nossa ignorância e maldade. Portanto, tem o seu fim marcado.
Deus não quer a maldade no homem e por consequência, no mundo; isso é fruto da
nossa liberdade de escolha, somos livres.
Ele não é culpado pelas doenças, guerras... Somos nós os culpados, mas tudo terá o
seu fim.
Por causa da ganância da humanidade, do orgulho, da opressão, injustiça, corrupção...
Tudo cairá, como Ele disse: “Não ficará pedra sobre pedra”.
Muitos aproveitarão essa situação de desarmonia do homem para tirar proveitos; são
eles os falsos profetas que se intitulam: padres, bispos, pastores e outros nomes, aparecerão
em nome de Jesus. Nesses não podemos acreditar.
Devemos tomar cuidado, também, com a nossa Igreja, para que ela não seja como o
templo em Jerusalém. Um sacerdócio que não esteja a serviço do povo, de Deus. Templo
lindo que traz dentro de si a podridão, o farisaísmo.
Vigilância e oração são o que devemos fazer todos os dias de nossa vida. Assim o erro,
a maldade, não vai encontrar lugar em nós. Esperança em Jesus que há de vir.
12Antes
de tudo isso, porém, hão de vos prender, de vos perseguir, de vos entregar às
sinagogas e às prisões, de vos conduzir a reis e governadores por causa do meu
nome, 13e isso vos será ocasião de testemunho. 14Tende presente em vossos corações
não premeditar vossa defesa; 15Pois eu vos darei eloquência e sabedoria, às quais
nenhum de vossos adversários poderá resistir, nem contradizer. 16Sereis traídos até
por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio,
17e sereis odiados de todos por causa de meu nome. 18Mas nem um só cabelo da
vossa cabeça se perderá. 19É pela perseverança que mantereis a vossas vidas!
539
Se seguirmos retamente os passos de Jesus, encontraremos com toda a certeza do
mundo a perseguição, prisão e até mesmo a morte. Não importa a época, o tempo que
estamos vivendo, pois, o homem é o mesmo.
Assim como aconteceu com Estêvão e Tiago, a perseverança de Paulo e tantos outros
mártires de nossa época, tudo porque seguiram Jesus.
Jesus pede perseverança, fé, firmeza em nosso propósito. E assim, aos poucos vamos
minando a estrutura do poder até vencermos definitivamente.
Para que isso aconteça, Ele estará sempre conosco e colocará em nossa boca a
defesa que nenhum inimigo poderá resistir ou combater.
Olhem os exemplos de inúmeras resistências populares que através da perseverança
de poucos obtiveram a vitória. Na sua maioria pessoas sem estudo, que não são valorizadas.
Elas vão à frente e se tornam o Cristo.
O que não pode morrer em nós é a esperança. É permanecendo firmes que
alcançaremos a vitória. Hoje, sem Jesus, o mundo está perdido, sem esperança, parece que
as trevas tomaram conta de tudo. Mas, quem está com Cristo tem esperança; só está
aguardando o momento certo para dar o golpe final. Tudo vai passar, a morte já foi vencida,
o pecado está derrotado pelo sangue do Cordeiro.
O que importa para nós é manter a fé, a oração e a esperança. Ele vai voltar.
540
34° Domingo do tempo comum – Ano C
Lc 23,35-43
35O povo permanecia lá, a olhar. Os chefes, porém, zombavam e diziam: “A outros
salvou, que salve a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito! ” 36Os soldados também
caçoavam dele; aproximando-se, traziam-lhe vinagre, 37“e diziam: “Se és o rei dos
judeus, salva-te a ti mesmo”. 38E havia uma inscrição acima dele: “Este é o Rei dos
judeus”.
Acreditar, ter fé, sempre foi um problema para os homens. Mesmo depois de tudo o que
Jesus fez: curou doentes, deu visão aos cegos, ressuscitou mortos... Mesmo assim não foi o
bastante para acreditarmos. É preciso mais: já na cruz, quase morto, esperavam um último
sinal: “Salva-te, se és o rei dos judeus”. Queriam mais, um espetáculo para poder crer.
Na verdade, a nossa lembrança é curta. Quantos milagres Jesus já realizou em nossa
vida e nós deixamos no esquecimento, preferimos duvidar. Olhem o exemplo de Tomé, que
presenciou de perto todos os milagres de Jesus e mesmo assim não acreditou. Ficou
incrédulo diante da cruz e somente quando Jesus ressuscitou e pôde colocar o seu dedo nas
feridas, aí, nesse momento acreditou.
Nós somos como São Tomé. Só acreditamos realmente quando podemos ver e tocar.
Assim como zombaram de Jesus quando estava preste a morrer na cruz, hoje também
fazemos o mesmo, sem querer, pois, falta fé em nós.
Mas a entrega de Jesus, por nós, é total. Mesmo diante da morte, do povo zombando,
ainda assim Ele nos salva, entrega a sua vida por nós. Este é o verdadeiro Messias, o Rei
dos judeus.
Os homens, sem querer, zombando, deram esse titulo a Jesus, escrevendo no alto da
cruz: “Este é o Rei dos judeus”.
39
Um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: “Não és tu o Cristo?
Salva-te a ti mesmo e a nós! ” 40Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: “Nem
sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? 41Quanto a nós, é de justiça;
541
estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. 42E acrescentou:
“Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu Reino! ” 43Ele respondeu: “Em
verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.
Enquanto a maioria zombava de Jesus, preso na cruz, sem nada mais poder fazer, um
deles, aquele que sofre ao lado de Jesus, entendeu o que estava acontecendo, teve fé.
Disse ele: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu Reino”.
Esta passagem é única na Bíblia, é própria de Lucas e vem mostrar para nós que a
misericórdia de Deus é ilimitada, não tem fim. Mesmo em condições de muito sofrimento,
prestes a morrer, Jesus é misericordioso. Em segundo lugar vem mostrar a salvação que
Jesus trouxe para aqueles que se arrependem: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo
no Paraíso”.
Nesse momento, na cruz, Jesus abre a porta do paraíso para todos os homens; basta
crer. Na cruz Ele inicia o processo da salvação da humanidade. O ladrão que pecou durante
a vida, agora arrependido recebe de Jesus o perdão.
Jesus veio para aqueles que estavam perdidos: prostitutas, ladrões, criminosos,
leprosos... Chamou a todos à conversão.
Hoje, Jesus nos chama à conversão, e qual é a nossa resposta?
Aprisionados no ter, egoísmo, ganância e tantos outros pecados, nos distanciamos de
Jesus, não aceitamos a salvação. Lembre-se, um ladrão foi salvo pela misericórdia de Jesus.
Foi aquele que se arrependeu. E o outro, onde está? Obteve a salvação?
Temos que deixar de ser como Tomé e crer realmente, para que assim a misericórdia
de Deus entre em nós e um dia, certamente, estaremos com ele no paraíso.
543
2 de fevereiro
APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Lc 2,22-40
544
29
“Agora, Soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a
tua palavra; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparastes em
face de todos os povos, 32luz para iluminar as nações e gloria de teu povo,
Israel”.
Simeão era um justo que esperava a salvação de Israel. Ele era portador de
uma grande esperança. O encontro dele com o menino é o encontro de duas
épocas: o fim, o cumprimento da espera e o início da nova era salvífica.
Agora ele pode morrer em paz, porque lhe foi dado contemplar aquele que
“muitos profetas e reis desejaram ver” (10,24): a salvação messiânica, atribuindo a
ele os antigos títulos de Deus: luz, glória de Israel.
33Seu
pai e sua mãe estavam admirados com o que diziam dele.34Simeão
abençoou-os e disse a Maria, a mãe: “Eis que este menino foi colocado para
a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de
contradição ── 35e a ti, uma espada traspassará tua alma! ── para que se
revelem os pensamentos íntimos de muitos corações”.
36
Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada, filha
de Fanuel, da tribo de Aser. Após a virgindade, vivera sete anos com o
marido; 37ficou viúva e chegou aos oitenta e quatro anos. Não deixava o
templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações. 38Como chegasse
nessa mesma hora, agradecia a Deus e falava do menino a todos os que
esperavam a redenção de Jerusalém.
39Terminando de fazer tudo conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia,
para Nazaré, sua cidade. 40E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se
de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
As alegrias dos pais marcam esse texto, estavam maravilhados com aquilo
que diziam do menino. É a ação de Deus na vida do justo que encaminha cada
vez mais para a fé.
Simeão diz a Maria que o seu menino vai ser causa tanto de queda como de
reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. E quanto a
Maria, uma espada traspassará a sua alma. Vemos aqui o anúncio do sofrimento
de Maria. Que também representa o percurso de quem quer seguir Jesus. Não se
pode seguir a nova luz destinada ao mundo inteiro sem pagar o preço, sem se
arriscar, sem renascer sempre de novo, do alto para uma nova criatura.
Enfim, interessante é notar que todo o episódio dá ênfase às situações mais
simples e familiares: o casal Maria e José com o menino no braço; o ancião que
se alegra e abraça, a anciã que prega e anuncia os interlocutores que aparecem
545
indiretamente envolvidos. E também a conclusão do texto deixa ver o lar de
Nazaré, o crescimento do menino num contexto normal.
546
24 de junho
Lc 1,57-66.80
Perceba que está realçada nesse texto uma intensa manifestação divina. O
nascimento de João Batista se realizou através da vontade de Deus, a ele foi
confiada a tarefa de preparar o caminho do Messias Jesus. É bom destacar que o
nascimento de João foi um fato que ficou marcado em toda a região, o poder de
Deus mexeu com o povo de tal forma que não tinham dúvida sobre a grande
missão do menino que acabara de nascer e diziam: “O que será que esse menino
vai ser? ”
547
Para anunciar o Messias, preparar o seu caminho, é bom entender que não
poderia ser uma pessoa qualquer, com certeza estava sendo guiado
constantemente pela vontade de Deus. Sendo assim a sua vida era perfeita, vivia
da forma que o Messias viveria. Viveu no deserto, afastou-se dos homens,
conviveu com as feras, alimentando-se daquilo que a natureza lhe oferecia. Assim,
em total desapego, cresceu no silêncio.
Esse foi o lugar necessário para ouvir a voz interior, o sussurro do Espírito
que conduz o homem a sua missão. Volto sempre a lembrar que Deus não se
manifesta diretamente aos homens, mas deseja usar e usa o próprio homem para
se manifestar, para fazer a sua vontade. João entendeu e trilhou pelo caminho de
Deus. Hoje sou eu e você que temos que ficar atentos a vontade de Deus para
que assim Ele possa se manifestar em nós. Por isso é necessário encontrar o seu
deserto e se preparar para ouvir o que Deus tem a dizer...
Outro ponto que é bom ficar bem claro, se refere a Zacarias, observe que a
sua mudez foi indício de que algo maravilhoso estava acontecendo e nos ensina,
hoje, a prestarmos atenção a vontade de Deus na nossa vida. Perceba que ele
voltou a falar quando cumpriu a ordem divina. Quando nos fechamos à vontade de
Deus, bloqueamos a sua ação em nós. Dessa forma Deus não pode nos usar para
fazer a sua vontade. Muitos hoje vivem essa mudez.
Contudo a vontade de Deus prevalece, se eu não falar as pedras falarão (Lc
19, 40).
548
29 de junho
Mt 16,13-19
549
14
Disseram: “Uns afirmam que é João Batista, outros que é Elias, outros,
ainda, que é Jeremias ou um dos profetas”.
15Então lhes perguntou: “E Vós, quem dizeis que eu sou? ” 16Simão Pedro,
respondendo, disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! ” 17Jesus
respondeu-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não
foi a carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos
céus.
550
Essa é a resposta que só podemos dar na fé, não é para qualquer um que
Deus faz essa revelação, mas sim para quem ele quer revelar.
Pedro foi agraciado, mas não foi à toa, sem motivo. Ele procurou de todas as
formas para entender “quem é Jesus”, e ele o fez comprometendo-se com as
propostas de Jesus, a justiça do Reino. Pedro procura estar em sintonia com o
Pai.
E nós, hoje, conhecemos Jesus?
Estamos trabalhando para a evangelização?
Lembre-se, só conhece Jesus quem vive Jesus!
Pedro, na sua simplicidade procurou conhecer Jesus, lutou muito para
entendê-lo, largou família e tudo que possuía para seguir o Mestre.
Nós devemos fazer o mesmo, colocar os planos de Deus em primeiro lugar
em nossa vida; procurar seguir Jesus de todas as formas possíveis e assim, quem
sabe um dia, poderemos dizer como Pedro disse: Eu conheço Jesus.
O auge de nossa vida é poder repetir as palavras de Paulo: “Não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim”. Ou seja, fazer a vontade de Jesus de tal forma
que nos apagamos, aniquilamos para que Cristo renasça em cada um de nós.
Assim seremos felizes, estaremos em paz, finalmente encontraremos o paraíso.
18Também
eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as
chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o
que desligares na terra será desligado nos céus”.
Jesus chama Pedro para ser o líder da Igreja, ele vai ser a rocha que vai
sustentar a Igreja. Mas Pedro é medroso, fraco, tem pouca fé; entretanto, é
transformado em rocha pelo poder de Jesus.
Conosco acontece o mesmo, somos fracos e medrosos, mas pelo poder de
Jesus, nos tornamos fortes e vencedores; onde as portas do inferno, ou seja, a
maldade não achará repouso em nós. Na fé, nós somos escolhidos, somos
verdadeiros filhos de Abraão e nada nos afastará de Deus. Jesus já venceu o
inferno por nós. Portanto a Igreja não terá fim, permanecerá sempre, enquanto
existir o mundo.
A Igreja tem as chaves do Reino dos céus, ou seja, o direito de ensinar
claramente o que é certo ou errado. O grande objetivo é levar os homens ao
julgamento, ao seu próprio julgamento, assim como fez Jesus.
Nós somos a Igreja, e sobre essa fragilidade que Deus vai agir. Portanto, em
Deus somos fortes e com isso temos a obrigação de levar uma vida santificada.
551
Assim agindo levaremos o nosso próximo ao julgamento e em consequência
desses atos, eles nos seguirão; esse é o verdadeiro poder de ligar e desligar que
se esconde sobre cada um de nós.
Nós somos os chamados, os escolhidos. Temos que permanecermos firmes
na fé, na Igreja. Quanto ao juízo final, pertence só a Deus.
552
6 de agosto – Ano A
Transfiguração do Senhor
Mt 17,1-9
1Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou
para um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E ali foi transfigurado
diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes
tornaram-se alvas como a luz. 3E eis que lhes apareceram Moisés e Elias
conversando com ele. 4Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus:
“Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres levantarei aqui três tendas: uma
para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
553
Pedro quis colocar Jesus como sendo igual a Moisés e Elias, fazendo uma
tenda para cada um deles. Mas Jesus é aquele que cumpre fielmente todas as
profecias e veio trazer para nós nova Lei.
5
Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e
uma voz, que saia da nuvem, disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo, ouvi-o! ”. 6Os discípulos, ouvindo a voz, muito assustados,
caíram com o rosto no chão. 7Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse:
“Levantai-vos e não tenhais medo”. 8Erguendo os olhos, não viram ninguém:
Jesus estava sozinho.
9Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém essa
visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos”.
554
Meditar: O que o texto fala para mim?
Sigo os passos de Jesus, tento imitá-lo no meu dia-a-dia? Sou um reflexo de Deus
em minha comunidade, no trabalho, em casa, em todo o momento de minha vida?
Tenho fé, acredito fielmente em Jesus?
555
6 de agosto – Ano B
Transfiguração do Senhor
Mc 9, 2-10
2Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou,
sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi
3Suas vestes tornaram-se resplandecentes,
transfigurado diante deles.
extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as
poderia alvejar.
556
4
E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus. 5Então
Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui.
Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para
Elias”. 6Pois não sabia o que dizer, porque estavam atemorizados.
7E
uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma
voz: “Este é meu Filho amado; ouvi-o”. 8E de repente, olhando ao redor,
não viram ninguém: Jesus estava sozinho com eles.
9Ao
descerem da montanha, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que
tinham visto, até quando o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos
10Eles observaram a recomendação perguntando-se o que
mortos.
significaria “ressuscitar dos mortos”.
557
Nesse momento, quando estavam com muito medo e nada entendendo, uma
nuvem desceu sobre eles e uma voz disse: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.
Essa cena pode ser comparada com o batismo de Jesus, podemos dizer que
a transfiguração é uma espécie de segundo Batismo, preparando-o para o final de
sua Missão. Nas duas cenas acontece a revelação de Deus (uma voz saindo da
nuvem), pedindo para que todos (nós) escutar o seu Filho, que é muito amado.
Ser muito amado é sinal da entrega total que Jesus fez a seu Pai. A vontade do
Pai se realizou plenamente em Jesus.
Escutar Jesus é o mesmo que dizer: Ir com Jesus até o fim, ou seja, fazer o
que Ele fez.
De repente, Jesus fica sozinho. Agora Jesus é a única representação de
Deus entre os homens. Hoje Ele está sempre conosco ajudando-nos a dominar o
medo e ir ao encontro do próximo.
Quando desceram da montanha, Jesus pediu a eles para não dizer nada aos
outros sobre o que ocorreu na montanha, pelo menos, até que Ele ressuscitasse
dos mortos. Eles obedeceram, mesmo sem entender o que significava ressuscitar
dos mortos.
Na verdade, os discípulos só vão entender a transfiguração com a
ressurreição de Jesus, antes não. Portanto, o que valeria se narrassem esse
acontecimento aos outros discípulos? Certamente a dúvida ia ser grande e
também nada entenderiam. Logo, não vale a pena, é preciso esperar.
558
6 de agosto – Ano C
Transfiguração do Senhor
Lc 9,28b-36
Ler: O que diz o texto?
28bTomando consigo a Pedro, João e Tiago, ele subiu à montanha para orar.
29
Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-
se de fulgurante brancura.
Jesus convida Pedro, Tiago e João para orar. É um costume de Jesus pedir
que outros o acompanhem na oração, é um sinal de que nós também devemos
fazer o mesmo, ou seja, orar na comunidade em comunhão com os nossos irmãos
e principalmente em casa, pais e filhos. Jesus disse: “Onde dois ou mais
estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”.
Orar é aproximar-se do Pai, é modificar o nosso ser para melhor, é estar em
comunhão com Deus. Quem ora, não permanece o mesmo, não fica estagnado, é
um ser que se renova, cresce. A transformação que Jesus sofreu foi intensa, de tal
modo que podia ser vista; Jesus e o Pai tornaram-se um; era tanta luz que não
dava para olhar; é Deus presente em Jesus.
Conosco pode acontecer o mesmo: a oração nos une ao Pai, a Jesus, ao
Espírito Santo e faz acontecer uma mudança em nosso ser, não da mesma
grandeza que aconteceu com Jesus, mas acontece realmente. Através da oração
nos comunicamos e nos unimos com o nosso Criador.
“Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do
peito um coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ezequiel 36,26).
30Eeis que dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias que,
31aparecendo
envoltos em glória, falavam de sua partida que iria se
consumar em Jerusalém.
559
Moisés e Elias representam o Antigo Testamento, as Leis e os Profetas
respectivamente. Apresentavam para Jesus o que vai acontecer em Jerusalém, a
sua morte. Vieram para mostrar a Jesus que tudo isso tinha que acontecer, pois
faz parte do plano de Deus; e, obviamente estavam ali para animá-lo.
Na verdade, tudo o que aconteceu com Jesus pode e deve acontecer
conosco, é claro que numa proporção bem menor, pois nunca chegaremos a
sermos iguais a Jesus, aqui neste mundo, nesta vida. Mas, como eu já disse,
também acontece conosco; todas as vezes que entramos em oração, estamos em
contato com Deus e este contato pode ser através dos Anjos, dos nossos guias
espirituais. Esse ou talvez, esses guias, estão sempre à nossa volta durante toda
a nossa vida, prontos para nos ajudar.
Seguindo os planos de Deus entramos, automaticamente, em uma maior
sintonia com os nossos guias. Assim tudo fica mais fácil. Embora passemos a
vida sem dar crédito a essa verdade, sem querer a ajuda deles, pois não temos fé,
assim mesmo eles estão aqui, prontos para nos dar a mão. Infelizmente nós os
rejeitamos através da nossa incredulidade, causada pelo apego à matéria.
Vamos pedir ajuda ao nosso Anjo da guarda!
É só entrar em oração e seguir a vontade do Pai e tudo mais será realizado
em nossa vida; basta crer, ter fé.
32Pedro
e os companheiros estavam pesados de sono. Ao despertarem,
viram sua glória e os dois homens que estavam com ele.
560
Tudo isso vamos alcançar, através da nossa oração diária, constante. Vamos
crescer ajudados pelos nossos guias espirituais, e um dia renovaremos a face da
Terra. Isso vai acontecer, é só esperar.
Hoje somos fracos, frágeis, pois nos encontramos sós. Pelo menos é o que
pensamos. E assim o nosso querer se torna realidade. Mas, com certeza um dia
vamos entender que Deus está presente em nós, não estamos sós e nunca vamos
estar.
Assim, com a ajuda de Jesus venceremos o mundo, seremos imitadores do
Mestre.
33
E quando estes iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom
estarmos aqui; façamos, pois, três tendas, uma para ti, outra para Moisés e
outra para Elias”, mas sem saber o que dizia. 34Ainda falava, quando uma
nuvem desceu e os cobriu com sua sombra; e ao entrarem eles na nuvem,
os discípulos se atemorizaram.
É bom ficar nessa situação; ver Jesus sendo glorificado e estar juntos de
Moisés e Elias. Para eles foi um grande acontecimento, inesquecível; e por isso
Pedro desejava ficar mais tempo nesse lugar.
Mas como fica a realização do projeto de Deus?
Eles têm que descer do monte para que o plano de Deus se realize em
Jesus.
Foi importante para os discípulos conhecer esse momento da glorificação do
Filho de Deus, para assim poderem entender e acompanhar os passos finais de
Jesus a Jerusalém.
Na transfiguração, Jesus deixa claro aos discípulos os dois lados do mistério:
o sofrimento, humilhação e morte; e, por outro lado, a ressurreição e a glória.
Porém, mesmo assim, vendo a vitória de Jesus, o abandonaram, assim como
os outros durante a Paixão.
Hoje temos que estar firmes na nossa fé, e ter a certeza que, dá mesma
forma que Jesus realizou o projeto do Pai, e foi glorificado, nós também,
realizando o projeto que Deus têm para nós, encontraremos a mesma graça.
35Da
nuvem, porém, veio uma voz dizendo: “Este é meu Filho, o Eleito; ouvi-
o”. 36Aoressoar essa voz, Jesus ficou sozinho. Os discípulos mantiveram
561
silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham
visto.
Jesus está em plena sintonia com o projeto de Deus, por isso Ele diz: “Este é
o meu filho muito amado; ouvi-o! ”
Com essas palavras os discípulos compreenderam que Jesus é o filho de
Deus e que deve passar por todos os sofrimentos, e, por fim, morrer na cruz e
ressuscitar no terceiro dia. Eles devem ouvi-lo sempre.
Jesus é a última revelação, é a Ele que devemos ouvir. Hoje, nós somos os
discípulos, e a mesma frase Ele vai nos dizer: “Ouvi-o sempre”.
Nós sabemos que Jesus é o caminho a verdade e a vida. É através dele que
chegamos ao Pai. Temos que ouvi-lo, temos que ser imitadores de Jesus.
Ouvir Jesus hoje é anunciar de todas as formas o Evangelho, principalmente
através da nossa vida, da nossa ação. Ouvir Jesus é trazer a libertação aos
oprimidos, é trazer a paz ao mundo.
562
15 de agosto
Lc 1,39-56
Maria estava repleta do Espírito Santo e quando isso ocorre queremos nos
colocar a serviço, temos pressa para agir. Foi o que Maria fez, ela não via a hora
de encontrar-se com Isabel; sabia, através do Anjo, que Isabel estava esperando
um filho; queria partilhar os seus sentimentos e ajudar Isabel, que já estava em
idade avançada.
Nada é impossível, Deus tudo pode. Isabel estava velha, passou o tempo
normal onde uma mulher pode gerar um filho e saudável. Maria, por sua vez, não
teve relacionamento com nenhum homem. O Espírito Santo foi quem agiu nestas
duas mulheres, foi obra e graça de Deus.
Portanto, neste versículo nós temos dois pontos muito importantes para
refletirmos em nossa vida: Para Deus nada é impossível, o que para nós parece
caso perdido, impraticável, para Deus é totalmente possível; e, é o Espírito Santo
que age em nós, apesar de nossa pouca fé, duvidamos, mas é ele que está
sempre do nosso lado.
Podemos então questionar: Como anda a nossa fé?
Você tem fé, acredita que Deus tudo pode?
Como anda a sua atuação na Igreja, se coloca a serviço, está sempre
disposto a realizar o projeto de Deus?
40Entrou
em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Ora, quando Isabel ouviu a
saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta
do Espírito Santo.
563
Maria finalmente chega à casa de Zacarias, saudou Isabel, e neste mesmo
instante é notada pela criança no seio de Isabel. O salvador está aqui, vem nos
visitar, Isabel percebe e se enche do Espírito Santo.
Imaginemos a cena, deve ter sido um acontecimento sublime, sem
precedente, único na história.
Deus vai ao encontro das pessoas mais simples, pobres, humildes, para
revelar nelas a sua graça. Os escolhidos para realizar o projeto do Pai.
É difícil imaginarmos o que estas duas criaturas sentiram, estavam tomadas
completamente pela força do Espírito Santo, desfrutavam de uma felicidade sem
limite. Estavam, as duas, vivendo o céu na terra.
Trazendo para nós, conosco pode acontecer o mesmo, talvez não nessa
magnitude, mas pode ocorrer. Basta estarmos de coração abertos para o Espírito
Santo, livre das contaminações do mundo, desta terra, longe do pecado.
Podemos começar a viver a felicidade do Reino de Deus, já nesta vida, basta
ter fé, entregar-se a Deus, dizer não ao mundo, a matéria.
O mundo te aborrece? Então é sinal que você está se entregando a Deus.
Seja perseverante e encontrará, com certeza, a paz, a felicidade sem fim. Em
breve o Espírito Santo tomará conta de sua vida, é só manter a fé, a ação e
esperar.
42Com
um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e
bendito é o fruto do teu ventre! 43Donde me vem que a mãe do meu Senhor
me visite? 44Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a
criança estremeceu de alegria no meu ventre. 45Feliz aquela que creu, pois o
que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido! ”
46
Maria, então, disse: “Minha alma engrandece o Senhor, 47e meu espírito
exulta em Deus em meu Salvador, 48porque olhou para a humilhação de sua
serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada,
49pois o Todo poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo
Maria estava repleta do Espírito Santo, com certeza foi a criatura que mais
recebeu a graça de Deus; ela se entregou a Deus e o Espírito Santo tomou conta
dela durante toda a sua vida. Não houve em toda a história da humanidade uma
pessoa que mais tenha se aproximado de Deus, como foi Maria.
Deus, mais uma vez, escolhe os mais simples, humildes, de coração limpo,
puro.
Ele é misericordioso e olha para nós, assim como olhou para Maria, basta-
nos tentarmos ser como Maria foi.
Deus vai ao encontro dos pobres e humildes; e os mais favorecidos, os
poderosos, os ricos que só pensam em si, são extremamente materialistas; estes
não encontram a graça de Deus.
Vamos ser sábios, vamos cultivar a simplicidade, a humildade, abrir o nosso
coração a Deus.
565
Luto e acredito na possibilidade de um mundo novo? Opto pela justiça dos
orgulhosos, ricos e poderosos, ou dos humildes, famintos e que confiam em Deus.
566
14 de setembro
Jo 3, 13-17
13Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do
Homem.
14Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja
levantado o Filho do Homem,
15a
fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna.
16Pois
Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna.
567
Hoje nós fazemos o mesmo que Nicodemos, procuramos Jesus, mas
ficamos ligados no nosso mundo, queremos seguir Jesus, mas estamos presos
aos nossos planos, objetivos, sociedade.
Jesus veio para mostrar qual é o caminho e para alcançar esse objetivo não
mediu esforço. Ele morreu por nós e assim inseriu no ser humano o mistério de
Deus. Não há mais volta, esse é o caminho e para lá, para Jesus, nós vamos.
Todos são chamados.
17PoisDeus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para
que o mundo seja salvo por ele.
568
Meditar: O que me diz a Palavra?
Eu acredito realmente em Jesus e na salvação que ele trouxe para todos nós e,
por esse motivo eu sou feliz, vivo na luz de Jesus? Alcanço a cada dia a
salvação?
569
12 de outubro
Jo 2,1-11
chegou”.
Nos dias anteriores a essa festa, Jesus convida alguns discípulos para segui-
lo. Ele não estava mais sozinho. Estava pronto para iniciar a sua missão.
Na festa, encontrava-se Maria, Jesus e seus discípulos. Era costume,
naquela época, a festa durar vários dias e nesse tempo veio a faltar vinho. Que
falha! Acabou a festa do casamento. Sem vinho certamente o povo iria se retirar;
era uma decepção para todos. Que vexame para o novo casal.
Provavelmente Maria fazia parte da família, e prevendo o fracasso, olhou
para esse fato, assim como hoje ela olha por todos nós, e intercede perante o seu
Filho.
Maria é a nossa intercessora, ela sabe o que está faltando para nós antes
mesmo de pedirmos. Jesus, por sua vez, não mede esforço para ouvi-la, não nega
o seu pedido.
Mas a hora de Jesus ainda não chegou, Ele ainda não iniciou a Nova
Aliança.
Sabemos que o casamento é sinônimo de aliança. A Aliança Antiga não tem
mais razão de existir: “Eles não têm mais vinho. ”
Assim, tudo estava preparado para o início da missão de Jesus.
Vou destacar, também, que Maria aparece no Evangelho de João apenas
duas vezes: Em Caná e ao pé da Cruz. O começo da missão de Jesus e o seu
fim.
570
5
Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”.
6
Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma
contendo de duas a três medidas. 7Jesus lhe disse: “Tirai agora e levai ao
mestre-sala”. Eles levaram.
Notem que Maria pediu a Jesus uma solução para o problema e “não”
esperou uma resposta afirmativa. Ela conhece o seu Filho e sabe que vai ser
atendida.
“A mãe disse ao pessoal de serviço: O que ele vos disser, fazei-o”.
Maria antecipou o início da ação de Jesus. A Nova Aliança estava
inaugurada.
As talhas, na aliança antiga eram usadas nos rituais de purificação, e
estavam vazias. Não servem mais para nada, não tem mais sentido esse ritual.
Jesus derruba a velha aliança colocando nessas talhas vinho da melhor
qualidade, símbolo de amor, que faz esquecer o antigo.
São mais de 600 litros de vinho da melhor qualidade, simbolizando a
chegada do Messias que veio trazer abundância de amor para todos.
É a hora de Jesus: Iniciou o seu tempo de plenitude, vinho novo.
Ele deixou tudo pronto, é só segui-lo. Por que, então vacilamos, temos medo,
não vamos ao seu encontro?
Jesus deixou a estrada limpa para a nossa caminhada, tudo está pronto,
faltam somente os seus seguidores.
Agora é a nossa vez, o nosso tempo já começou, apressemos a nossa ação,
o nosso serviço, pois o fim se aproxima.
9
Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho ── ele não
sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a água
── chamou o noivo 10e lhe disse: “Todo homem serve primeiro o vinho bom
e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu
guardaste o vinho bom até agora! ” 11Esse princípio dos sinais, Jesus o fez
em Caná da Galileia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram
nele.
Maria é um exemplo de ser humano que devemos imitar a todo custo. Ela se
preocupa com o ser humano, sensibiliza-se com a dor, o sofrimento e faz mudar
essa situação. Jesus, filho de Maria, também leva esse ensinamento para a vida,
segue o exemplo de sua mãe fielmente.
Sua mãe pede e Ele acolhe. Falta vinho, então, terão o melhor vinho! Ele não
só fez o que a mãe pediu, mas fez o melhor possível.
571
Esse foi o início do tempo de Jesus e levou o ensinamento de Maria até o
fim.
Ele fez como Maria ensinou: Deu o melhor de si para nós, sua vida, seu
amor...
Maria antecipou o início da vida pública de Jesus e certamente ela sabia
como ia ser o fim. Apesar de tudo, levou os planos de Deus à frente, mesmo
sabendo de sua consequência, dos perigos que seu Filho passará. Doou a sua
vida e a vida do seu Filho por nós.
Hoje, é a nossa vez, devemos fazer o mesmo que fez Jesus e Maria.
Nada somos, mas pela graça de Deus nos tornamos fortes e vencedores.
Devemos aniquilar-nos, assim como faz a lagarta para nascer uma borboleta;
nada somos sem Deus. Por mais que eu queira melhorar, encontrar o caminho
para o Pai, ser santo, nada sou; mas, serei tudo em Deus.
Devo colocar tudo nas mãos de Deus, e nada em minhas mãos. Ter certeza
de que todas as minhas vitórias vieram das mãos do meu Senhor, que todas as
derrotas vieram das minhas mãos.
Que o Espírito Santo faça a sua morada em nós, assim como fez em Jesus e
Maria.
572
1° de novembro
Todos os Santos
Mt 5,1-12 a
Jesus vem instituir uma nova regra para o povo de Deus. E quem são eles?
São uma grande multidão, pessoas simples vindas da Decápoli (formada por dez
grupos de pessoas que viviam próximas das margens do mar da Galileia), de
Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.
Jesus não tem fronteiras, todos são bem-vindos. Ele vem para acolher a
todos, não importa a sua raça, a sua cor, ou onde está a sua fé; todos são bem-
vindos.
No alto da montanha, Jesus se põe a ensinar para os marginalizados, aos
pobres, despossuídos, famintos... Povo que se esforça para mudar de vida. Na
montanha, que é um lugar que Deus escolhe para falar com o povo, como
aconteceu com Moisés que recebeu as tábuas da Lei, agora é Jesus que vem
trazer uma nova Lei.
Na verdade, Jesus vendo aquele povo sofrido, se solidariza com ele. Depois
de tanto sofrimento, ainda estão esperando uma nova vida, a esperança nunca
morre. Jesus, então fala para os seus discípulos e para esse povo: Vocês são
felizes, herdeiros do Reino de Deus.
Com certeza, Jesus neste momento está comovido, de coração derretido,
cheio do Espírito Santo e dessa forma faz um discurso brilhante, um dos mais
bonitos e arrebata todos os corações para si.
3“Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
573
São duas bem-aventuranças em que Jesus diz claramente que já “é deles” o
reino de Deus, não é uma promessa futura; são elas: a primeira e a oitava.
Nessa primeira bem-aventurança, pobre em espírito não é simplesmente
uma pessoa despojada de bens materiais, mas sim aquele que despojou de tudo
apenas para seguir Jesus, os planos de Deus. Todo aquele que dedica toda a sua
vida para a realização do Reino, já é dele o Reino dos céus. Não é uma promessa
futura, é o presente, agora.
Para isso se realizar em nós, é necessário ter fé, depositar toda a confiança
em Deus, aniquilar-se para que assim Deus faça sua morada em nós.
Com isso, com a presença de Deus, você já está vivendo o Reino de Deus,
aqui na terra.
4Bem-aventurados
os mansos, porque herdarão a terra.
5Bem-aventurados
os aflitos, porque serão consolados.
6Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados.
Nestes versículos, Jesus se dirige aos pobres que buscam a libertação, que
querem viver o plano de Deus, estão caminhando em direção ao Reino de Deus.
Para estes que estão no caminho, Jesus faz uma promessa futura, que está para
acontecer se continuarem por esta trilha.
Se não são felizes hoje, choram pela consequência da maldade, dos
egoístas que só pensam em acumular, ter. Estes que choram começaram a
perceber e seguir o caminho que Jesus preparou e sentem a dificuldade em segui-
lo; mas, têm a promessa de Jesus: “Serão consolados”.
Os mansos são esses que choram, privados da terra, sem possibilidade de
reivindicar os seus direitos, manipulados pelos poderosos. Mas, são pacientes,
não usam da violência para adquirir os seus direitos.
É de se notar que a palavra “manso” aparece mais duas vezes no Evangelho
de Mateus e se dirige a Jesus. Ou seja, Ele faz uma revolução no mundo na
mansidão, sem violência, em paz.
Jesus disse que são bem-aventurados os que querem a justiça, os que são
inconformados com a injustiça desse mundo. Mas, cuidado. Não é apenas querer,
mas colocar em prática no dia a dia, é denunciar as pequenas injustiças. Como
discípulos de Jesus temos a obrigação de ser como Ele foi, é claro que não vamos
chegar nem aos seus pés, mas temos que tentar imitá-lo. Dessa forma não
devemos ficar de braços cruzados aceitando todos os males desse mundo.
Temos que agir e assim fazendo Jesus nos promete a resolução das
injustiças.
574
7
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus.
9
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos
de Deus.
10
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o Reino dos Céus.
Essa oitava bem-aventurança nos revela que todos aqueles que aderiram
aos planos de Deus, que já estão vivendo esse Reino, geralmente são
perseguidos.
A sociedade egoísta e ambiciosa, não tolera a partilha, a comunhão de bens,
eles querem a riqueza, o poder. Portanto, quando encontram um homem que os
denuncia, que diz que estão errados, esses não suportam, se voltam contra ele.
Muitos são levados à morte.
Lembre-se, que esta perseguição não é à toa, e sim pela justiça do Reino,
que vem trazer solidariedade, igualdade e fraternidade.
575
11
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e
regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
576
2 de novembro – I Missa
Jo 6,37-40
37Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vem a mim eu não o
rejeitarei, 38pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou.
39E
a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nada do que
ele me deu, mas o ressuscite no último dia.
40Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o filho e nele crê tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
Jesus vem nos ensinar sobre o Pão da vida, que é Ele mesmo. Depois da
multiplicação dos pães, Jesus quer fazer entender a multidão e principalmente os
discípulos que há algo mais além de matar a fome de cinco mil homens.
A realidade do homem sempre foi de conquista e disputa. O homem vê o
seu irmão como um forte concorrente. Jesus vem quebrar essa forma de viver, Ele
quer que os homens sejam realmente irmãos, livres. Mas vejam o que ocorre com
o homem, se comporta como um animal, vive concorrendo com o seu irmão em
todo lugar e momento de sua vida! Concorre por alimento, por serviço, por amor...
Assim, como uma ave de rapina disputa um pedaço de carne estragada. Elas
vivem em bando, procuram alimento em bando, mas na hora de se alimentar
sempre come primeiro o mais forte.
A proposta de Deus é diferente da forma que o homem vê e vive nesse
mundo. É por isso que enviou o seu Filho, para nos ensinar o caminho da
liberdade. Ele quer atrair a todos, sem fazer diferença. Ele quer salvar a todos.
Jesus é o Pão que desceu do céu para nos saciar com a verdadeira vida.
Essa é a vontade do Pai.
577
Note que a “vontade do Pai” aparece quatro vezes nesses versículos. Não é
sem razão, mas vem mostrar o grande amor que Deus tem por nós. Jesus é a
manifestação do amor do Pai. E, aderir ao Filho é compreender esse grande amor,
é dizer sim a vontade do Pai, é amar os irmãos, é viver o Reino desde já. Essa é a
vitória sobre a morte, uma vida eterna, sem tempo, sem espaço. É uma nova
condição de vida, uma mudança de paradigma.
Estar em comunhão com o Pai é estar em comunhão com o princípio da
vida, é viver em plenitude a nossa humanidade.
578
2 de novembro – II Missa
Mt 25,31-46
31“Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele,
então se assentará no trono da sua glória. 32E serão reunidas em sua
presença todas as nações e ele separará os homens um dos outros, como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos, 33e porá as ovelhas à sua direita e os
cabritos à sua esquerda.
Mateus quer mostrar em seu Evangelho o final dos tempos, o “juízo final”.
Todos os povos se reunirão diante do Filho do homem e esse separará os bons
dos ruins. A comparação é feita através da figura do pastor; ele separa as ovelhas
dos cabritos, ou seja, os justos são as ovelhas, os abençoados que ficarão a sua
direita; enquanto os cabritos, ou seja, os injustos, os malditos, ficarão à esquerda;
portanto é um sinal de condenação.
O tempo de escolha é agora, a nossa vida. Somos livres para dizer sim ou
não a Jesus. Sou eu que vou decidir ser justo ou injusto, assim, sou eu que vou
julgar os meus atos, eu farei a escolha; Jesus apenas vai fazer a separação das
ovelhas e dos cabritos.
34Então
dirá o rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu
Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do
mundo. 35Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de
beber. Era forasteiro e me recolhestes. 36Estive nu e me vestistes, doente e
me visitastes, preso e vieste ver-me. 37Então os justos lhe responderão:
‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te
demos de beber? 38Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou
579
nu e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te
ver? 40Ao que lhe responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que
fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. ’
41Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos.
42Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de
580
Passaram a vida na ilusão, não perceberam o verdadeiro sentido da vida, não se
encontraram nesse mundo, nunca ficaram satisfeitos, queriam sempre mais. Não
conseguiram ver Jesus, sentir a sua presença, viveram sós.
Esses, os injustos, deixaram-se enganar pelo demônio e sem perceber,
entorpecidos pelos prazeres e agora fazem a seguinte pergunta: “Senhor, quando
é que te vimos com forme ou sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te
servimos? ” Não conseguiram ver Jesus e por isso sucumbiram, escolheram o pior
caminho. “E Irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida
eterna” (46).
Não praticar a justiça é servir ao diabo, mesmo que aos olhos de muitos
nos escondemos como uma falsa aparência de piedade. Cuidado, não se engane!
581
2 de novembro – III Missa
Mt 5,1-12
582
Abra o seu coração para ouvir o Sermão da Montanha, transforme o seu
coração de pedra em coração de carne que pode ser transformado com facilidade.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
3
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Nesses versículos, Jesus está se dirigindo ao povo que estão a sua volta.
Mas, quem são eles? São os aflitos, explorados pela sociedade atual; os mansos
583
que se submeteram ao poder opressor; a todos aqueles que querem justiça, mas
nada podem fazer. São para esses que Jesus se dirige e hoje se dirige a todos
nós.
Mas, quem são os aflitos de hoje? São todos aqueles que estão cativos da
sociedade cruel. Não conseguem sair da situação em que se encontram, a
sociedade não lhes proporciona alternativa, trabalham para subsistir, nada mais.
Existem também os que se tornaram cativos de suas posses e para manter certa
posição de vida, se obrigam a trabalhos exaustivos, são escravos da sua própria
ganância, egoísmo.
Muitos, ou até mesmo a maioria desses, são mansos, aprenderam a ser
mansos, pois são subjugados pelos poderosos. Foram amansados, são escravos
ou se tornaram escravos, por livre e espontânea vontade. São impossibilitados de
reivindicar os seus direitos. Entretanto existem os que lutam pelos seus direitos
com mansidão. Como exemplo tem Jesus, o maior manso que passou sobre a
terra; podemos citar também Mahatma Gandhi, o homem que conquistou a
liberdade da Índia sem fazer violência. Esses, que não se acomodam, possuirão a
terra, mas possuir não significa ser dono, mas sim ter mais que o suficiente para
sobreviver, ter fartura e ser feliz.
Entre todos esses, também são felizes aqueles que lutam pela justiça, que
percebem o mau que é implantado pela sociedade e tenta modificá-lo, porque
serão saciados.
Jesus quer homens livres, sem laços com esse mundo, dessa forma se
construirá o Reino de Deus e todos serão felizes, vivendo com fartura. É a
realização do paraíso, aqui na terra.
7Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus.
9Bem-aventurados
os que promovem a paz, porque serão chamados filhos
de Deus.
585
Eu busco as bem-aventuranças e tento colocá-las em prática em minha vida?
Tento vencer o egoísmo, o apego exagerado que tenho pela matéria? Vivo
tentando realizar os meus planos ou o plano de Deus? Tento ser um profeta em
minha casa, na comunidade, na sociedade?
586
9 de novembro
Jo 2,13-22
devorará.
587
doutores da Lei e Deus, tendo como consequência um abuso de poder,
exploração do povo, e o que é pior, feito em nome de Deus; Jesus toma uma
decisão radical. Lembremos, Jesus se entregou plenamente nas mãos do Pai, não
é ele mais que vive, mas sim Deus que vive nele. Portanto Deus se manifesta
totalmente em Jesus, nesse caso, não poderia ter tomado outra decisão, vai ao
encontro desse povo sofrido e expulsa do Templo os pombos, as ovelhas, os bois
e outros animais usados nos sacrifícios. Derruba a mesa dos cambistas,
colocando ao chão todo o dinheiro pagão. Para Jesus, era invalido todos esses
sacrifícios e todo o culto que se aproveitava dessa exploração.
Deus está ao lado dos sofredores, dos excluídos, dos marginalizados e
explorados pela sociedade e, porque não, pela própria religião (portanto, deixou
de ser obra de Deus e sim dos homens). Deus não precisa de sacrifícios, Ele não
precisa ser comprado por dinheiro. O homem não precisa desses artifícios para
ser ouvido por Deus. Basta abrir o seu coração, entregar-se a Ele.
18Os
judeus interpelaram-no, então, dizendo: “Que sinal nos mostras para
agires assim? ” 19Respondeu-lhes Jesus: “Destruí este templo, e em três
dias eu o levantarei”. 20Disseram-lhe, então, os judeus: “Quarenta e seis
anos foram precisos para se construir este Templo, e tu o levantarás em três
dias? ” 21Ele, porém, falava do templo do seu corpo. 22Assim, quando ele
ressuscitou dos mortos seus discípulos lembraram-se de que dissera isso, e
creram na Escritura e na palavra dita por Jesus.
588
Hoje, o verdadeiro Templo de Deus é a comunidade, somos nós.
Repito, os doutores da Lei, nada entenderam e tão pouco os próprios
discípulos de Jesus. Na verdade, os discípulos só foram entender quando Jesus
ressuscitou e apareceu no meio deles.
Jesus não reformou o templo, Ele o substituiu.
589
8 de dezembro
Lc 1,26-38
26No sexto mês, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da
Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um varão
chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28Entrando
onde ela estava, disse-lhe: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está
contigo! ” 29Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria
o significado da saudação. 30O Anjo, porém, acrescentou: “Não temas, Maria!
Encontraste graça junto de Deus. 31Eis que conceberás no teu seio e darás à
luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. 32Ele será grande, será
chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu
pai; 33ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim”.
34Maria, porém, disse ao Anjo: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço
homem algum? ” 35O Anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o
poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que
nascer será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu
um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de
estéril. 37Para Deus, com efeito, nada é impossível. ” 38Disse, então, Maria:
“Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! ” E o
Anjo a deixou.
590
O encontro do céu e a terra se fez, a Encarnação do Verbo de Deus.
Observe que esse diálogo entre Deus e os homens é representado pelo Anjo
Gabriel e pela virgem Maria.
Novamente um ser humano é despertado para fazer a vontade de Deus
entre os homens. Maria, agora iluminada pelo Espírito Santo, personagem
agraciada. Nela se realizou plenamente a vontade do Pai.
Mais uma vez acontece o anonimato, no silêncio, na pobreza, na
simplicidade, no desapego Deus se faz presente. Nessas condições Deus toma a
iniciativa, Ele vem ao encontro, desce até nós. Nesse encontro o Anjo disse:
“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo! ” Perceba que a iniciativa foi
de Deus.
Da mesma forma que Maria se sentiu pequena diante do projeto de Deus,
hoje aquele que vive na simplicidade e com o coração aberto a vontade de Deus
também aparece a dúvida: “Como é que vai ser isso...”
O mesmo Anjo esclarece falando que para Deus tudo é possível e narra
sobre Isabel que vai conceber um filho na velhice.
A resposta de Maria veio de imediato, não pensou, não vacilou, confiou
plenamente na Promessa de Deus e disse: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se
em mim segundo a tua palavra! ”
Essa passagem do Evangelho nos desafia hoje, para abrir nossos olhos a
acolher e servir ao nosso Salvador, que nos visita em cada um de nossos irmãos e
irmãs, especialmente nos pequenos e nos pobres, porque, como Jesus mesmo
nos fala: “Estive com fome e me deste de comer, com sede e me deste de beber,
eu era estrangeiro e me acolheste em casa, estava sem roupa e me vestiste,
estava doente e cuidaste de mim, estava preso e foste me visitar” (Mt 25,37-39).
É bom ainda lembrar que Maria em seu constante diálogo com Deus, abraça
hoje e sempre, toda a humanidade, vem ao encontro de todos, se preocupa com
as nossas necessidades, como podemos apreciar, por exemplo, nas Bodas de
Caná (Jo 2, 1-11).
Ficamos admirados diante do milagre da encarnação, de nosso Deus se
fazer homem no ventre de uma mulher. No entanto, essa é a vontade de Deus
para toda a humanidade. Esse é o sonho de Deus, Ele quer viver em nós
plenamente, assim como viveu em Jesus.
591
Orar: O que a Palavra me faz dizer a Deus?
Senhor, não vou ficar esperando e sim ir ao seu encontro. Obrigado por ter aberto
o meu coração através desse Evangelho, agora entendo e vou procurar seguir
fielmente pelo seu caminho.
592