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ÁREA: 2 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

CLASSIFICAÇÃO JEL: O10, O20, B50

DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO AO SOCIAL DESENVOLVIMENTISMO: A


RETOMADA DO PROJETO TRABALHISTA

Cássio Silva Moreira 1

Resumo: O artigo sugere que, embora em contextos históricos distintos e com diferenças políticas e
econômicas, há um caráter de continuidade entre o nacional-desenvolvimentismo e o social-
desenvolvimentismo, um dos elos entre esses dois modelos de desenvolvimento seria o crescimento com
distribuição de renda. Os projetos dos governos de Getúlio Vargas e João Goulart são tipificados como
nacional-desenvolvimentistas. Parte da literatura também defende que, em especial, o segundo governo Lula
e o governo Dilma como social-desenvolvimentista. Devido a essas diferenças conceituais, o artigo propõe a
tese de que o projeto de desenvolvimento adotado durante os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff
seria a retomada de um projeto de desenvolvimento, iniciado no governo Vargas e continuado no governo
Goulart, com o intuito de superar o subdesenvolvimento. Todavia atualizado para um novo contexto político
e econômico do século XXI. Portanto, o artigo defende que há um resgate histórico do projeto trabalhista
interrompido pelo golpe civil-militar de 1964. Esse projeto teria como elo a consolidação de um mercado
interno e a distribuição de renda propostas com as Reformas de Base com as políticas de crescimento da
renda e do emprego e as políticas de inclusão social atuais.

Palavras-chave: nacional-desenvolvimentismo, social-desenvolvimentismo, Vargas, Goulart, Lula, Dilma e


trabalhismo

Abstract: The article suggests that although in different historical contexts and political and economic
differences, there is a continuity of character between the national developmentalism and social
developmentalism, the link between these two development models would be growth with income
distribution. The projects of the government of Getúlio Vargas and João Goulart are typified as a national-
development. Part literature also argues that, in particular, the second government Lula and Dilma
government and social-developmental. Because of these conceptual differences, the article proposes the
thesis that the development project adopted during the Lula government and Rousseff would be the
resumption of a development project, initiated in the Vargas government and continued in the Goulart
government in order to overcome underdevelopment. However upgraded to a new political and economic
context of the twenty-first century. Therefore, the article argues that there is a historical project of the labor
interrupted by the civil-military coup 1964.Esse project would link the consolidation of an internal market
and income distribution proposals with the Grassroots Reform with growth policies of income and
employment and social inclusion policies.

Keywords: national developmentalism, social developmentalism, Vargas, Goulart, Lula, Dilma and Labour

1
Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul: Câmpus Porto Alegre (IFRS), Doutor em Economia do Desenvolvimento
pela UFRGS. E-mail: cassio.moreira@poa.ifrs.edu.br. Site: www.cassiomoreira.com.br.
Introdução

Um país necessita, para ter uma trajetória sustentada de desenvolvimento, de autonomia para
decidir acerca de sua política interna e externa. Por isso é fundamental buscar independência política,
econômica, financeira, tecnológica e cultural. Uma nação precisa traçar um caminho que vise reverter
processos antigos de inserção subordinada na economia mundial, e assim construir sua própria história.
Acredita-se que apenas o movimento das livres forças de mercado não é capaz de levar economias
capitalistas (em vias de desenvolvimento) a uma situação que alie crescimento e geração de emprego com
distribuição de renda e a atenuação das disparidades regionais. Portanto, estes são objetivos de uma nação em
prol do bem-estar coletivo. Esse caminho é possível por meio de um conjunto de políticas públicas que
articulam virtuosamente os diversos agentes sociais em torno de um projeto de desenvolvimento nacional
sustentável e que seja inclusivo. A literatura econômica mostra que a maioria das experiências exitosas de
desenvolvimento teve como papel fundamental o Estado como ator estratégico nos processos nacionais de
construção política, econômica e social.
Ao mesmo tempo, por mais que a maioria dos países tenham suas economias internacionalizados
num ambiente de mundialização do capital, importantes dimensões da vida social ainda permanecem sob a
tutela das políticas nacionais. Ainda existe a ideia de que o Estado-Nação é a principal referência no que se
refere à regulamentação das diversas ações que acontecem dentro dos seu espaço territorial. Desse modo, são
imprescindíveis pesquisas sobre a estrutura e organização do Estado brasileiro, bem como refletir sobre
os possibilidades de desenvolvimento existentes que devem conjugar Estado, mercado e sociedade. Esses
diversos modelos podem ter medidas e caminhos diferentes no que tange questões de inclusão social e
soberania.
O governo Dilma Rousseff está sendo um governo extremamente controverso nesse sentido, pois
desde que assumiu a presidência do país houve uma enorme contestação por segmentos da sociedade sobre
os rumos que o país estaria tomando e seu desempenho econômico, além da indagação quanto à existência de
um projeto de nação. Dilma Rousseff foi eleita em virtude da enorme popularidade do seu antecessor, Luis
Inácio “Lula” da Silva. Durante seu governo ocupou o Ministério de Minas e Energias e o cargo mais
importante depois da presidência, em conjunto com o Ministério da Fazenda, que é a Casa Civil. Eleita pelo
Partido dos Trabalhadores (PT), tradicionalmente um partido de centro-esquerda, manteve uma aliança com
um dos principais partidos brasileiros, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Este,
embora representando diversas correntes ideologicamente antagônicas, alcançou o posto da vice-presidência
da república. Eleita, teve seu primeiro governo marcado por constantes ataques e um segmento do setor
político e empresarial a acusando de aumentar a intervenção do Estado na economia, ser displicente em
relação à estabilidade monetária e de não realizar reformas que permitissem um novo ciclo de crescimento
econômico ao país. Entretanto, por outro lado, seus defensores argumentam que manteve uma taxa de
desemprego em níveis historicamente baixos, assim como manteve as políticas sociais de inclusão social por
meio da valorização do salário mínimo real e da ampliação de programas de transferência de renda.
Entretanto, o questionamento levantado na literatura a esse respeito é se há um projeto de
desenvolvimento no governo Dilma Rousseff e qual seria, ou se foram medidas adotadas apenas por pressões
conjunturais. Para isso é importante compreender o que se entende por projeto de desenvolvimento nesse
artigo. Consideramos o sentido mais amplo do termo projeto, ou seja, a existência de um plano de governo
delineado com objetivos claros e conectados. Nesse sentido, o artigo visa demonstrar a retomada, pelo
governo Lula e Dilma Rousseff, de um projeto de desenvolvimento existente em nosso país nos anos de 1960
nos marcos do nacional-desenvolvimentismo atualizando-o em outro conceito: o social-desenvolvimentismo.
Esse artigo sugere a tese de que há um resgate histórico do projeto trabalhista e que esse projeto teria como
elo as políticas de crescimento da renda e do emprego e as políticas de inclusão social. Apesar que a variável
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que os diferencia seria o papel dado a industrialização (o que pode ser explicado pelo contexto histórico
diferente, onde o setor de serviços ganha destaque no mundo). Em virtude de todos esses questionamentos
não terem respostas claras, o artigo visa incentivar a pesquisa nesse tema de forma a diminuir a lacuna
existente. E contribuir para responder a dúvida se os governos de Lula e Dilma podem ser considerados
governos trabalhistas como foram os governos de Vargas e Goulart, ao invés de ser um governo baseado em
medidas conjunturais, ambíguo e sem projeto definido. Em outros termos, procurar-se-á mostrar que o
nacional-desenvolvimentismo, levando-se em conta um contexto histórico diferente, se transmutou no
chamado social-desenvolvimentismo retomando o projeto trabalhista.

1 –Desenvolvimentismo e trabalhismo

No campo conceitual e teórico cabe definir a relação entre o trabalhismo e o desenvolvimentismo.


O primeiro é visto como uma ideologia política. O segundo como uma ideologia econômica. Embora as duas
estejam intimamente associadas não se deve confundi-las. Lima Junior (2013) define ideologia enquanto um
pensamento social produzido por um grupo social a partir das suas condições materiais e simbólicas de
existência com a perspectiva de alteração da ordem social de forma subjugada ao seu projeto próprio de
existência. As ideologias políticas não são conteúdos fixados, imutáveis ao longo do tempo, pois sofrem
inumeráveis redefinições.

As ideologias políticas operam como alavancas de conservação da sociedade ou, ao contrário,


fornecem os conteúdos dos programas reformistas e dos projetos revolucionários. Ora, de que forma
elas influenciam os acontecimentos sociais? Da mesma maneira que muitas ideias o fazem: guiando e
incitando os agentes a agir em determinado sentido. Mas cuidado, as ideologias políticas não
designam conteúdos fixados para todo o sempre, porque esses se movem ao longo do tempo e sofrem
inumeráveis redefinições (SROUR, 2013, p. 147).

Conforme Srour (2013) as ideologias econômicas põem em jogo as relações entre o Estado e a
economia, ou entre o Plano e o mercado. O autor lembra a clássica distinção entre liberalismo político e
liberalismo econômico para verificar que não há simples coincidência ou superposição entre os dois ideários.
Esclarece ele que é possível ser liberal do ponto de vista econômico, ao mesmo tempo em que se é
politicamente conservador. Entende-se nesse artigo, portanto, o termo “ideologia política” como um conjunto
de idéias, de uma pessoa ou partido, que traz uma visão, ideal, de como deveria ser a relação entre as pessoas
em determinado espaço público, enquanto a ideologia econômica traz uma visão de como deveria ser o papel
dos agentes econômicos, e suas relações, na busca por solucionar problemas no âmbito da produção,
distribuição, acumulação e consumo de bens e serviços. Nesse sentido, o desenvolvimentismo seria uma
ideologia econômica, enquanto o trabalhismo uma ideologia política.
Nesse ponto é importante conceituar a expressão desenvolvimentismo. Devido à complexidade do
tema, e que isso desviaria o foco do objetivo desse artigo, adotar-se-á o conceito formulado por Fonseca
(2013):

Entende-se por desenvolvimentismo a política econômica formulada e/ou executada, de forma


deliberada, por governos (nacionais ou subnacionais) para, através do crescimento da produção e da
produtividade, sob a liderança do setor industrial, transformar a sociedade com vistas a alcançar fins
desejáveis, destacadamente a superação de seus problemas econômicos e sociais, dentro dos marcos
institucionais do sistema capitalista (FONSECA, 2013).

Esclarece Fonseca (2013) que “fins desejáveis remete ao desenvolvimentismo como ideologia, pois
incorpora no conceito os valores maiores que justificam a estratégia e o projeto para o futuro, a sua utopia em
busca de outra sociedade melhor”; tais fins, ainda, podem atualizar-se, como incorporar cidadania,
democracia e meio ambiente, atributos que não aparecem ou pouco destaque mereciam no período da

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amostra pesquisada; incorpora-se, portanto, no conceito, variável axiológica, a qual se expressa como
ideologia ou ideias que explicitam e justificam determinados fins ou valores (ação social racional referente a
valores).
Portanto, desenvolvimentismo é uma ideologia econômica consubstanciada em um projeto que
firma o desenvolvimento econômico como a principal tarefa do governo, o epicentro de suas ações e da
política econômica, tendo como objetivo maior a industrialização do país. Mais que progresso ou evolução, o
desenvolvimento torna-se o fim último da ação estatal, supõe colocar todos os instrumentos e meios para a
consecução de um objetivo bem definido: o crescimento da economia (e não mais a evolução moral ou
intelectual) (FONSECA, 2004).
Bielschowsky (1988) complementa que o sentido de desenvolvimentismo a inexistência de um
pensamento desenvolvimentista único, e por isso estabeleceu uma tipologia criando conceitos radiais para
captar a diversidade dentro do mesmo conceito: (a) desenvolvimentismo do setor privado; (b)
desenvolvimentismo do setor público não nacionalista; (c) desenvolvimentismo do setor público nacionalista.
Lembra, ainda, os socialistas, que eram em certo sentido ‘desenvolvimentistas’, mas que não se encontrava
dentro da esfera capitalista.
Entendemos por desenvolvimentismo [...] a ideologia de transformação da sociedade brasileira
definida pelo projeto econômico que se compõe dos seguintes pontos fundamentais: (a) a
industrialização integral é a via de superação da pobreza e do subdesenvolvimento brasileiro; (b) não
há meios de alcançar uma industrialização eficiente e racional através da espontaneidade das forças de
mercado, e por isso, é necessário que o Estado a planeje; (c) o planejamento deve definir a expansão
desejada dos setores econômicos e os instrumentos de promoção dessa expansão: e (d) o estado deve
ordenar também a execução da expansão, captando e orientando recursos financeiros e promovendo
investimentos diretos naqueles setores em que a iniciativa privada for insuficiente
(BIELSCHOWSKY, 1988, p. 7).

O desenvolvimentismo pode ser visto como uma resposta aos desafios criados pela Grande
Depressão dos anos 1930. Os projetos nacionais de desenvolvimento, por meio da industrialização, nos
países periféricos nasceram no mesmo contexto que produziu o Keynesianismo nos países centrais. Tanto a
onda desenvolvimentista e a experiência keynesiana tiveram o seu apogeu nas três décadas que sucederam a
quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. O clima político, social e econômico estava propicio para a idéia
de que seria possível adotar estratégias nacionais de crescimento, industrialização e avanço na área social.
Políticas econômicas, anticíclicas, implementadas no primeiro governo Vargas e no governo Roosevelt
(antes mesmo da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de Keynes) como a política de valorização
do café e o New Deal já tinham o objetivo de recuperar e reformar a economia.
Fonseca (2013) classifica em dois subtipos de desenvolvimentismo consagrados na literatura
brasileira: o chamdado “nacional- desenvolvimentismo e o “desenvolvimentismo dependente-associado”.
Diferenciava nacional-desenvolvimentismo como uma ideologia econômica mais nacionalista, que propunha
maior papel ao estado para alavancar recursos e realizar investimentos tidos como prioritários. A produção
centrava-se nos bens de consumo populares, liderado pelo setor privado nacional, e como projeto propunha
avançar a industrialização para os bens de capital e intermediários; politicamente se expressava como uma
aliança entre este empresariado, segmentos das “classes médias” (nestes incluídos a burocracia) e
trabalhadores urbanos, propondo a “incorporação das massas”. Já o segundo assentar-se-ia nos investimentos
externos, principalmente de grandes empresas oligopolistas, para alavancar um padrão de “industrialização
restritiva”, pois assentado na produção de bens duráveis de consumo e na indústria pesada, cuja demanda
voltava-se às camadas de rendas mais altas; não excluía de vez o estado nem as burguesias locais, mas
estabelecia entre eles outro tipo de associação, numa relação de subordinação ou dependência ao capital
estrangeiro.
Nas esferas das ideologias econômicas, o desenvolvimentismo seria o opoente do liberalismo
econômico dentro do sistema capitalista. A questão chave que diferencia esses conceitos é o papel reservado

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ao Estado. Para o primeiro, o Estado tem papel fundamente para a definição de qual estratégia seguir no
longo prazo, enquanto que o segundo aponta que o papel do Estado é não ter papel algum ou preponderante
nesse processo. Portanto, enquanto o pensamento liberal via na estabilidade monetária e no aumento da
produtividade os fatores importantes para o crescimento econômico; os desenvolvimentistas veem a
participação do estado como fundamental na elaboração de estratégias de expansão do produto e da renda no
longo prazo.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) fez uma analise em cinco fases
para demonstrar a evolução histórica desse processo na região. A primeira, nos anos 1950, foi marcada pelo
processo de industrialização; a segunda, anos 1960, pelas reformas que visavam eliminar os entraves à
industrialização; a terceira, nos anos 1970, pela reorientação do modelo de desenvolvimento; a quarta, na
década de 1980, pela superação do endividamento externo e, por fim, os anos 1990, marcados pela
estabilização e reinserção produtiva na globalização. Especialmente no que tange às três primeiras fases
havia várias correntes de pensamento para o desenvolvimento no Brasil. Entre elas podemos citar os
desenvolvimentistas, os liberais e os socialistas. Os desenvolvimentistas estavam divididos entre os ligados
ao setor privado, como Roberto Simonsen e Almeida Magalhães, e os desenvolvimentistas ligados ao setor
público, como Celso Furtado e San Tiago Dantas (corrente nacionalista) e Roberto Campos (corrente não
nacionalista), assim como, o pensamento liberal de Eugênio Gudin e a corrente socialista de Inácio Rangel.
Os desenvolvimentistas eram influenciados pelas idéias da CEPAL. Para o pensamento desenvolvimentista a
transformação da economia brasileira seria impossível sem industrialização, planejamento econômico e
participação do Estado no processo produtivo. Essas idéias foram inspiradas no pensamento de Raul Prebisch
e Hans Singer. Eles defendiam que para a América Latina sair do subdesenvolvimento ela deveria
implementar sua industrialização por meio da substituição de importações
Conforme Fonseca (2013) desenvolvimentismo pertence à mesma família de termos como
“ortodoxia”, “neoliberalismo” e “keynesianismo”, os quais servem para designar alternativamente duas
coisas por certo indissociáveis, mas que não são exatamente o mesmo nem do ponto de vista epistemológico
nem, tampouco, na prática cotidiana: (a) um fenômeno do “mundo material”, ou seja, um conjunto de
práticas de política econômica propostas e/ou executadas pelos policymakers, ou seja, fatos concretos ou
medidas “reais” que compartilham um núcleo comum de atributos que os caracteriza como tal; e (b) um
fenômeno do “mundo do pensamento”, ou seja, um conjunto de ideias que se propõe a expressar teorias,
concepções ou visões de mundo. Essas podem ser expressas: (i) seja como discurso político, por aqueles que
as defendem ou as criticam (e que mais usualmente se denomina ideologia - outro termo polissêmico); ou (ii)
seja para designar uma escola ou corrente de pensamento, ao abranger teorias e estudos segundo cânones
reconhecidos como saber científico. Embora a ideologia e as experiências históricas desenvolvimentistas
tenham uma longa história, cuja gênese remonta a meados século XIX, foi a partir da Grande Depressão da
década de 1930 que tomaram vulto em boa parte dos países latino-americanos, destacadamente Argentina,
Brasil, Chile e México, mas também Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela, para mencionar os casos mais
típicos. Já o pensamento econômico teórico só se consolidou nas décadas de 1950 e 1960. Para tanto, foi
fundamental a criação da CEPAL e sua capacidade para catalisar e difundir trabalhos clássicos de nomes
como R. Prebisch, C. Furtado, A. Pinto, O. Sunkel, M. C. Tavares e E. J. Medina, dentre outros.
Portanto, durante a década de 1960 essas estratégias de desenvolvimento para o Brasil acabaram se
aglutinando em dois projetos. De um lado tínhamos correntes de pensamento que defendiam o que se
chamou na época, de nacional-desenvolvimentismo, de outro lado o que era chamado de desenvolvimento
dependente-associado. Ambos ficaram claros em dois períodos da nossa história. O primeiro teve sua
germinação na Era Vargas, em especial nos governos de Vargas e Goulart, e o segundo teve sua hegemonia
após o golpe militar de 1º de abril de 1964. Entretanto, foi a partir do governo de Juscelino Kubitschek, no
inicio da década de 1950, que essa divisão começou a emergir com maior nitidez, ficando evidentes durante
a década de 1960 os interesses políticos conflitantes. O modelo dependente-associado de certa forma
“cooptou” o capital nacional associando-o com os interesses do capital estrangeiro, sob a tutela e parceria do
Estado Nacional. Essa aliança propiciaria a atração de capitais e a modernização do parque industrial por
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meio de aporte tecnológico. De fato no governo JK, e em especial pós-golpe de 1964, houve uma
modernização da economia, porém as velhas estruturas sociais e a dependência externa não foram alteradas.
O resultado seria um aumento da dependência tecnológica e estrutural, visto a importância crescente das
empresas multinacionais no fornecimento de componentes industriais e bens e serviços; e uma dependência
financeira com o brutal endividamento externo, acirrado com a elevação da taxa de juro norte-americana em
1979. Segundo, de meados dos anos 1960 até o final da década de 1970, a estratégia de crescimento passou
do modelo de substituição de importações ao de exportação de bens manufaturados e exclusão dos
trabalhadores. (BRESSER, 2012). Portanto na literatura, na busca de uma maior especificidade e precisão
analítica, é comum a referência ao “Nacional-Desenvolvimentismo” para designar o projeto varguista, mais
nacionalista e com proposta de incorporação dos trabalhadores urbanos pela legislação trabalhista e
previdenciária, e o “Desenvolvimentismo-Associado” ou “internacionalizante” iniciado por Kubitschek e
cuja consolidação teria ocorrido com os governos militares após 1964 (BICHARA, FONSECA, CUNHA,
2012).
Desse modo o ano de 1964 é um marco para visualizar de forma clara a interrupção da ideologia
nacional-desenvolvimentista, que tinham na participação do estado seu principal instrumento. A partir desse
momento, a ideologia desenvolvimentista associada-dependente passou a ser hegemônica, tendo no binômio
desenvolvimento (visto como sinônimo de crescimento) com segurança o objetivo principal do novo
governo, dessa forma a estratégia de crescimento com distribuição de renda foi interrompida.
Se por um lado o desenvolvimentismo (por consequência, também, os seus tipos) seria uma
ideologia econômica, o trabalhismo seria uma ideologia política.
O conceito de trabalhismo, surgido na Inglaterra, passou por transformações adaptando-se à
realidade brasileira e adquirindo características próprias. Saudado por seus contemporâneos como o ideólogo
maior do trabalhismo brasileiro (SILVA, 2012) os escritos de Alberto Pasqualini tiveram papel importante
nessas mudanças, pois trouxe um tratamento teórico para o trabalhismo, tendo como base os princípios do
solidarismo cristão (democracia-cristã). Pasqualini definia o trabalhismo como expressão equivalente a de
capitalismo solidarista.
A seguir a compilação de alguns trechos de discursos de Pasqualini serve para esclarecer sua
essência:

O trabalhismo não é, pois, necessariamente, um movimento socialista. Como vimos, o socialismo não
é um fim, mas um meio, isto é, uma forma de organização econômica tendo em vista a eliminação da
usura social. [...] Devemos, pois, permanecer no sistema da iniciativa privada, isto é, no regime
capitalista. Mas, se é conveniente que se mantenham em seus delineamentos gerais, a estrutura do
regime capitalista, isso não significa que seja qualquer tipo de capitalismo que o trabalhismo possa
admitir e defender. Em primeiro lugar, o trabalhismo brasileiro não poderia solidarizar-se com um
capitalismo de caráter individualista e parasitário; em segundo lugar, há certas atividades e
empreendimentos, certas riquezas e certas formas de poder econômico que devem ser socializados. [...]
Nos sistemas individualistas, o capital visa exclusivamente o lucro, que poderá proporcionar a seus
detentores possibilidades de consumo sem limites, à custa do produto social, isto é, do trabalho do
proletariado. O trabalhismo não poderá admitir tal forma de capitalismo. Para o trabalhismo, o capital
deve ser um conjunto de meios instrumentais ou aquisitivos, dirigidos e coordenados embora pela
iniciativa e atividade privadas, tendo em vista o desenvolvimento da economia, e o bem-estar coletivo.
[...] O capital de caráter meramente especulativo e explorador não poderia encontrar guarida e
tolerância no verdadeiro pensamento trabalhista. [...] A parte do lucro, que é invertida, não representa
uma injustiça social. Pode haver injustiça na parcela do lucro que é consumida pelo capitalista, sempre
que o consumo exceda os limites razoáveis da remuneração devida à atividade empreendedora. [...] E
de perguntar como será possível corrigir, praticamente, as injustiças e inconveniências do regime
capitalista. Poder-se-á responder que, se não é possível eliminá-las, será sempre possível atenuá-las.
Taxar, por exemplo, os rendimentos, e aplicar o produto da taxação em inversões socialmente úteis
será uma forma de canalizar o lucro e os rendimentos capitalistas para as suas verdadeiras finalidades.
Taxar fortemente os artigos de luxo é, em geral, o supérfluo, e, com o produto da taxação custear
serviços de assistência social, será outra forma de corrigir certas injustiças. Será uma maneira de

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obrigar os que podem adquirir o supérfluo a contribuir para resolver os problemas daqueles que não
têm o necessário. E apenas isso que pretende o trabalhismo, isto é, tornar efetiva a solidariedade social.
[...] A socialização integral dos meios de produção, no estado atual da humanidade, poderia trazer
ainda outros inconvenientes, pois o Estado se tornaria todo-poderoso e seria difícil encontrar homens
perfeitos para geri-lo. É certo que a tendência é para aumentar as funções do Estado, evoluindo da
função simplesmente policial à função social e à função econômica. Essa evolução, porém, está
condicionada a um maior grau de perfeição dos homens. Por outro lado, não será demais observar que,
se a forma socialista da produção pode ser desaconselhada, não será para atender aos interesses
capitalistas, mas para atender ao maior interesse da própria coletividade. [...] Será desnecessário
esclarecer que há setores da economia onde a socialização ou a estatização se impõe. Não há hoje
países onde impere o puro regime capitalista. Há países de economia exclusivamente socialista e países
de economia mista (MOREIRA, 2014, p 45-62).

Procurando contribuir na elaboração de um conceito de trabalhismo e inspirado nas ideias de


Pasqualini, definimos trabalhismo como uma ideologia política formulada e/ou executada, de forma
deliberada, e implementada por um partido político, tendo como principio básico a co-existência de
solidariedade com as liberdades individuais. Na esfera econômica, acredita na prevalência do trabalho
sobre o capital, buscando a sua convivência harmônica, bem como a superação das diferenças de
classe, sem violência, por meio da melhor distribuição da riqueza e da promoção da justiça social.
Embora seja uma ideologia política, o trabalhismo reconhece o capitalismo como sistema econômico,
defendendo conseqüentemente a propriedade privada. O trabalhismo está umbilicalmente associado
com uma ideologia econômica, que em determinado contexto histórico foi nacional-
desenvolvimentismo, que defende a intervenção do Estado na economia, de modo a corrigir os excessos
do sistema capitalista e tornar o capitalismo mais humano e equilibrado, por meio da ênfase nas
políticas públicas, principalmente na área da educação (educação como a única forma de emancipar o
povo e consolidar uma ideologia do desenvolvimento nacional) e do assistencialismo, com objetivo de
melhorar a condição de vida dos trabalhadores buscando uma conciliação de classes dentro de um
ambiente cada vez mais participativo e democrático. No âmbito externo, defende uma política externa
independente e que preserve e fortaleça a autonomia e soberania nacional.
Resalta Pasqualini que o ‘trabalhismo não é, pois, necessariamente, um movimento socialista’, visto
que o socialismo não é um fim, mas um meio, isto é, uma forma de organização econômica tendo em vista a
eliminação da usura social.
[...] sustenta o princípio de que nenhum ganho é justo desde que não corresponda a uma atividade
socialmente útil... Nem sempre o que constitui um ganho legal é um ganho justo... Todo ganho deve
estar sempre em função do valor social do trabalho de cada um. Onde há ganhos sem trabalho, há
parasitismo e usura social... Para o trabalhismo, o capital deve ser um conjunto de meios instrumentais
ou aquisitivos, dirigidos e coordenados embora pela iniciativa e atividade privadas, tendo em vista o
desenvolvimento da economia e o bem-estar coletivo... O capital de caráter meramente especulativo e
explorador não poderia encontrar guarida e tolerância no verdadeiro pensamento trabalhista
(PASQUALINI, 2005, p. 145).

As ideias de Alberto Pasqualini centravam-se numa plataforma reformista que tinha como objetivo
transformar o capitalismo individualista em capitalismo solidarista, com uma socialização parcial do lucro.
Pasqualini acreditava que a ação governamental deveria ser eminentemente pedagógica. A condução política
far-se-ia pelo esclarecimento da sociedade, via mudança de mentalidade. O sistema educacional era, para ele,
o caminho mais eficaz para realizar as reformas sociais, políticas e econômicas, superando assim o
subdesenvolvimento do país. Sua concepção de Estado era a de que ele era fruto da evolução da sociedade.
Ao fazer uso de uma analogia entre “cérebro e corpo”, o Estado é o cérebro da sociedade, o órgão mais
especializado e complexo ao qual cabe um papel de direção e organização (MOREIRA, 2014).

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A doutrina trabalhista tem influências do cristianismo que, associadas ao projeto nacional-
desenvolvimentista de Vargas, corporificam o trabalhismo brasileiro. Outro aspecto a salientar são as
influências do keynesianismo na ideia de planejamento econômico e intervenção do Estado na economia, que
são visíveis no governo Vargas.
Em síntese, o trabalhismo recebeu influência de três correntes de ideias o positivismo, a Doutrina
Social Cristã e o socialismo, principalmente através de sua vertente social-democrata (FONSECA, 1989).
Ângela de Castro Gomes (1988) nos ajuda a entender e caracterizar esse partido por meio do que ela chama
de trabalhismo. Segundo a autora o trabalhismo foi inventado no período do Estado Novo, principalmente de
1942 a 1945, quando o ministro Marcondes Filho ocupava o Ministério do Trabalho do governo Vargas. Esse
trabalhismo se tornou a ideologia do governo estado-novista de Vargas e possuía as seguintes características:
1) apagar o discurso, a “palavra” dos trabalhadores brasileiros – principalmente socialistas, comunistas e
corporativistas – da República Velha que valorizavam o trabalho manual e a figura do trabalhador - e se
apropriou desse discurso transformando a “palavra” em um discurso do Estado; 2) uma dimensão
personalista, em relação ao poder público e ao povo; 3) a promoção por intermédio do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) da figura do presidente Vargas; 4) trabalhador como figura central; 5) relação
povo/presidente baseada em dar/receber/retribuir (SILVA, 2008). Trabalhismo é um certo conjunto de idéias
e práticas políticas, partidárias e sindicais, o que poderia ser identificado para além de seu contexto de origem
histórica: o Estado Novo. Como todas as "palavras", trabalhismo também não estava desprovida de
significados sociais, estando ligada a alguns partidos e lideranças, especialmente e não casualmente, do pós-
45 (FERREIRA, 2005, p. 55).
No segundo governo Vargas (1951-1954), o projeto trabalhista já estava mais definido. No âmbito
econômico havia forte conteúdo nacionalista e intervencionista, sendo realizados substanciais investimentos
em aço, petróleo, cimento, na indústria química, entre outras atividades voltadas para bens de capital. Esses
investimentos demonstravam a determinação do governo em acelerar a industrialização do país,
principalmente apontando para os bens de produção. Esse conjunto de medidas, aliado às políticas públicas
implementadas a partir da década de 1930 (investimentos na industrialização pesada, as leis sociais, a
expansão do setor público, a intervenção estatal na economia e nas relações entre empresários e
trabalhadores), consolidou como projeto político de Vargas, e mais adiante o de João Goulart, tendo o
programa do PTB como vetor desse processo.
Portanto, o desenvolvimentismo seria uma ideologia econômica e o trabalhismo seria uma ideologia
política. Desse modo, o trabalhismo brasileiro seria a expressão política de determinado tipo de
desenvolvimentismo em seu contexto histórico. No período dos governos de Vargas e de Goulart: o nacional-
desenvolvimentismo. No período dos governos de Lula e de Dilma: o social-desenvolvimentismo.

2 – O contexto histórico do nacional-desenvolvimentismo

Para traçar mais semelhanças entre esses projetos políticos e econômicos, que seria dois lados da
mesma moeda, é salutar realizar uma breve retrospectiva histórica. O nacional-desenvolvimentismo, no
Brasil, teve três fases com distintos objetivos econômicos e sociais. O primeiro engloba o primeiro governo
de Getúlio Vargas |(1930-1945). Nesse governo pode-se destacar a prioridade para a política de
industrialização e a consolidação da legislação trabalhista. Nesse período foi germinado o que se chamou de
nacional-desenvolvimentismo tendo o papel do Estado como fundamental na implementação das ações
industrializantes. O segundo período, marca o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) de caráter
democrático e nacionalista. A criação da Petrobrás e do BNDE constituiu os pilares desse governo tendo o
confronto com as forças conservadoras, aliadas com o capital estrangeiro, o seu principal contraponto. O
terceiro período marca o governo de João Goulart (1961-1964) e é marcado pela continuação do projeto

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trabalhista por meio de ações distributivas que visavam fortalecer o mercado interno e intensificar o
departamento de bens de capitais no país as propostas das Reformas de Base. (MOREIRA, 2014).
O nacional-desenvolvimentismo teve sua germinação durante o primeiro governo de Vargas.
Getúlio ascendeu ao poder por meio de um golpe de estado. A Revolução de 1930, comandada por Vargas,
veio romper com a chamada política do “café com leite”, onde paulistas e mineiros alternava-se na
Presidência da República por meio de eleições manipuladas. Com o rompimento do acordo por parte dos
paulistas, os mineiros uniram-se aos gaúchos e a outras oligarquias e Vargas tomou o Palácio do Catete,
capital do país e sede do Governo na época. Iniciava-se o governo provisório e em 1937 um novo golpe onde
instala um regime ditatorial. O Estado Novo, em que pese à censura, tortura e restrição às liberdades, foi
essencial para a consolidação do estado nacional. Em 1951, Vargas volta ao poder nos braços do povo por
meio de eleições democráticas e aprofundou mudanças iniciadas em seu primeiro governo.
Críticos de Vargas atribuem a ele o termo populista, não no sentido de governo popular, e sim no
sentido de demagogo, manipulador das massas. Por outro lado, foi o governo que criou a maior estrutura de
proteção ao trabalho nas cidades da nossa história. No final do seu primeiro governo, Vargas incentivou a
criação de dois partidos no Brasil. No espectro mais de centro surgiu o Partido Social Democrático (PSD) de
base getulista e ruralista. Mais à esquerda, dentro dos limites do capitalismo, criou-se o Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) de base operária e também getulista. Fazendo o contraponto ao getulismo, no espectro mais
de direita, surgiu a União Democrática Nacional (UDN), posteriormente transformada em ARENA que deu
sustentação à ditadura militar. No segundo governo Vargas, eleito pelo antigo PTB o novo presidente
imprimiu a marca de seu governo, com a criação do PETROBRAS e do BNDE (décadas depois foi
acrescentado o “S” de social) consolidou o Estado como principal direcionador do desenvolvimento
socioeconômico. Com a renúncia de Jânio Quadros, o vice-presidente João Goulart, o herdeiro político de
Vargas, assumiu o poder em 1961 e tentou retomar o projeto varguista. No aspecto da legislação trabalhista,
Jango expandiu a legislação para o campo e institui o décimo terceiro salário entre outras medidas. Na parte
econômica e social tentou instituir as mudanças estruturais de uma economia em vias de industrialização,
acrescentando novo ingrediente ao trabalhismo brasileiro: as reformas de base. Conforme Moniz Bandeira
(2001), esse projeto visava implementar uma espécie de social-democracia no Brasil.
O projeto político e econômico de Vargas, nos marcos do nacional-nesenvolvimentismo, era
representado pela tríade nacionalismo-industrialização-intervencionismo. No governo de João Goulart esse
projeto teve o acréscimo da preocupação com a distribuição de renda (por meio das reformas de base). O
governo trabalhista de Goulart incorporou uma nova variável ao nacional-desenvolvimentismo: a
redistribuição de renda. O trabalhismo foi se transmutando ao longo do tempo.

[...] as ideologias políticas não designam conteúdos fixados para todo o sempre, porque esses se
movem ao longo do tempo e sofrem inumeráveis redefinições. É o caso patente, por exemplo, da
social-democracia contemporânea. Evoluiu de um ideário revolucionário, no final do século XIX, para
proposições reformistas já nas primeiras décadas do século XX. Encetou sua ruptura com o marxismo
em meados dos anos 50 e passou a adotar um ideário moderado de democratização do capitalismo,
num processo que a aproxima cada vez mais do liberalismo político.21 No início do século XXI,
liberada do estatismo e dos exageros assistencialistas do welfare state, a social-democracia converteu-
se em estuário das tendências mais avançadas do capitalismo social (SROUR, 2012, p. 142).

Portanto, o trabalhismo, enquanto ideologia política, não é um conceito estático, e sim adaptado ao
seu contexto histórico. Scour (2012) salienta que o caminho dado pelas ideologias é conjuntos coerentes de
percepções e de representações da realidade. Em particular, as ideologias políticas e as ideologias
econômicas nos oferecem a trama que justifica as decisões que se tomam e as ações que se executam em uma
nação.
Assim, o nacional-desenvolvimentismo foi à ideologia econômica formulada durante os governos
Vargas e Goulart. Nacional por que via na dependência comercial, tecnológica e financeira os principais
entraves ao desenvolvimento. Para isso seria necessário o desenvolvimento do capital nacional de forma a
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romper com a dominação estrangeira e promover uma forte indústria nacional. Como esse capital era
incipiente, visto que grande parte ainda estava direcionado para a economia agroexportadora, a etapa inicial
do projeto de industrialização deveria ser promovida pelo Estado, que relegaria a segundo plano o capital
estrangeiro.
O nacional-desenvolvimentismo estava estruturado com a participação do Estado na economia nas
seguintes formas. Primeiramente, com a atuação das empresas estatais no setor produtivo da economia. Em
segundo por meio do planejamento e distribuição setorial dos investimentos. Em terceiro por meio da
subordinação da política monetária, fiscal e cambial ao desenvolvimento. Em quarto, a promoção do
mercado interno por intermédio de uma redistribuição de renda mais eqüitativa. Por fim, pelo controle dos
fluxos de capital estrangeiro (MOREIRA, 2014). Essas medidas, especialmente a política cambial, visavam
industrializar o país por rodadas, com forte componente nacional. Conforme Bielschowsky (1998), o que
diferenciava a corrente nacionalista das demais correntes desenvolvimentistas era a idéia do controle por
agentes nacionais, privados e estatais, dos centros de decisão sobre poupança e investimento; a necessidade
de gerar autonomia financeira com relação a fontes internacionais de capital; e maior sensibilidade com
relação às questões ligadas a distribuição da renda, entre setores econômicos, classes sociais e regiões.
Empiricamente, durante o primeiro governo Vargas, os principais instrumentos para a promoção da
industrialização foram o confisco cambial e a seletividade das importações praticadas pelo Estado. Essas
medidas iam contra os interesses dos agroexportadores, dos grupos ligados a importação e ao capital
estrangeiro. De certa forma o nacional-desenvolvimentismo surgiu como forma de superar o
subdesenvolvimento, que era atribuído ao grau de dependência para com o exterior. O auge desse modelo se
deu nos governos de Vargas (1951-1954) e João Goulart (1961-1964).
Durante o governo Vargas, o Brasil passou de uma economia agrária para um país industrial com
pretensões ao modernismo. A infraestrutura do país foi desenvolvida com a criação de siderurgias e com a
indústria de extração de recursos naturais, como o caso do petróleo. O capital estrangeiro era de certa forma
tolerado mas amplamente controlado por meio de legislação nacional, inclusive com a proposta de restrição
das remessas de lucros das empresas estrangeiras instaladas no país. O objetivo era, claramente, desenvolver
o mercado interno e a indústria nacional. O governo Goulart foi a retomada de pontos programáticos do
governo Vargas, quando, talvez, o regime democrático no Brasil atingiria o seu ápice. Além da criação da
Eletrobrás, o seu principal objetivo era as reformas. As reformas de base propostas por João Goulart visavam
ampliar a democratização do Estado e da educação, assim como o acesso a terra, por meio de uma reforma
agrária, da mesma forma que combater os monopólios privados e a crescente evasão de divisas por meio das
remessas de lucros. Ademais, visava uma reestruturação do módico sistema financeiro da época, com a
criação de um banco central e da estatização do sistema bancário.
O projeto trabalhista de Vargas tinha como alicerce a participação do Estado na economia e essa
atuação deveria respaldar-se por meio de vários instrumentos. Primeiramente, com a atuação das empresas
estatais. Em segundo, por meio do planejamento e da distribuição setorial dos investimentos. Em terceiro,
pela subordinação das políticas monetária, fiscal e cambial ao objetivo prioritário do desenvolvimento. Em
quarto, pelo controle dos fluxos de capital estrangeiro. Em quinto, pela expansão da previdência social e da
legislação ao trabalho. Por fim, a promoção do mercado interno. Que mais adiante se tentou ampliar, no
governo Goulart, por intermédio de uma redistribuição de renda mais equitativa.
O trabalhismo brasileiro iniciou no governo de Vargas e foi se transformando ao longo do tempo,
principalmente, conforme mencionamos anteriormente, com as contribuições de um dos principais teóricos
do PTB: Alberto Pasqualini. Esse projeto tinha como núcleo a participação de quatro elementos, arrolados a
seguir: trabalhismo, nacionalismo, estatismo e desenvolvimentismo. A finalização desse projeto se dá,
portanto, com o viés distributivo das reformas de base do governo Goulart e que configuraria o que
chamamos de projeto trabalhista brasileiro.
Entretanto, tanto os projetos do governo Vargas e a sua continuidade no governo Goulart estão
dentro dos marcos do nacional-desenvolvimentismo. Para entender a formulação desse conceito é importante
salientar a criação de duas organizações. Até o final dos anos 1950, o projeto intelectual e político de forjar
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uma ideologia que impulsionasse o desenvolvimento do país unificou um conjunto de intelectuais reunidos
em torno do ISEB. Entretanto, notadamente este projeto carregava pensamentos heterogêneos sobre os rumos
desenvolvimentistas no país. A origem do ISEB encontra-se no Grupo Itatiaia, que visava a elaborar um
projeto para o desenvolvimento econômico-social. O tempo de vida do Grupo Itatiaia foi bem curto.
Contudo, logo adiante, foi criada uma entidade privada, IBESP, que teria atividades mais amplas como
cursos e a publicação de uma revista e depois alguns membros formaram o ISEB (ABREU, 2007. p.412-
413). O ISEB foi um dos centros mais importantes de elaboração teórica de um projeto que ficou conhecido
como nacional-desenvolvimentista: “a agência tornou-se a matriz de um certo tipo de pensamento destinado
à mobilização social em torno do progresso do país” (MENDONÇA, 1990, p. 347).
Entre esses integrantes do ISEB2, podemos destacar Álvaro Vieira Pinto que publicou um livro
intitulado “Ideologia do Desenvolvimento Nacional”. Para o autor qualquer projeto nacional de
desenvolvimento deveria cumprir as seguintes premissas: i) sem ideologia do desenvolvimento não há
desenvolvimento nacional, ii) a ideologia do desenvolvimento tem necessariamente de ser fenômeno de
massa, iii) o processo de desenvolvimento é função da consciência das massas e iv) a ideologia do
desenvolvimento tem de proceder da consciência das massas. Salientava ele ainda que só estariam
credenciados para promover o desenvolvimento nacional aqueles que fossem escolhidos pelas massas ou,
noutras palavras, não pode haver solução política para os problemas brasileiros fora do voto popular.
Ademais, para ele (como para o teórico do trabalhismo, Pasqualini) acreditava que a educação era o aspecto
capital dessa teoria do desenvolvimento e a forma de difusão dessa ideologia.
Conforme Delgado (2005), podemos apontar os seguintes vínculos do período nacional-
desenvolvimentista de Goulart com o de Vargas em relação à opção por um projeto de caráter trabalhista de
governo, entendendo-se para isso: a) enfoque distributivo, especialmente no segundo; b) adoção de medidas
de caráter nacionalista; c) objetivo de um capitalismo “humanizado”, por meio de políticas sociais pelo
Estado. Esses vínculos influenciaram os dois governos e permitem detectar uma sinalização da continuidade
de programa pelo governo de Goulart. Reforçando o aspecto de continuidade entre os dois governos,
podemos destacar as seguintes semelhanças em relação aos fatores externos que os desestabilizaram: a)
pressão permanente a que foram submetidos; b) contundente ação oposicionista, dificultando as condições de
governabilidade; c) articulações voltadas ao impedimento da posse dos dois presidentes, assim como para sua
deposição; e d) forma trágica que marcou o final dos dois mandatos presidenciais. Entretanto, cada um teve
suas peculiaridades. Sustenta Delgado (2005), que o governo Vargas, especialmente no segundo,
caracterizou-se por maior eficácia desenvolvimentista, com a adoção de políticas industrializantes
sustentadas por forte intervencionismo. Enquanto que João Goulart, apesar de enfrentar uma crise
econômica, teve como característica um enfoque mais social do que econômico em seu governo. Um
exemplo claro é a questão agrária, Goulart, ao contrário de Vargas, levou adiante o projeto de reforma
agrária, assim como, estendeu a legislação trabalhista ao campo por meio do Estatuto do Trabalhador Rural
de 1963. Delgado (2005) salienta que de um projeto nitidamente getulista, o PTB teria evoluído para um
projeto primordialmente reformista e mais ideológico. A ascensão de Goulart representou um marco na
trajetória do PTB. Seria o início da consolidação do projeto mais reformista, programático e ideológico.
Sustenta Bandeira (2001), assim como Ferreira (2005), Fonseca (2009) e Moreira (2014), que o
projeto trabalhista de desenvolvimento, de caráter reformista, tinha os moldes da social-democracia europeia
e que – erroneamente – foi atribuído o termo populista para (des) caracterizá-lo.
O PTB, desde sua concepção e fundação, apresentou, portanto, um programa que traduz, quase na
integridade, o projeto de Getúlio Vargas para o Brasil. Embora o partido apresentasse diferentes correntes
internas, a questão nacional era herança do getulismo, uma espécie de eixo, marcando o trabalhismo como

2
Além dele, outros pensadores foram importantes para a formulação do que se chama de nacional-desenvolvimentista. Tais como Celso Furtado,
Ignácio Rangel, Roland Corbisier, San Tiago Dantas, Cibilis da Rocha Viana, Alberto Guerreiro Ramos, Hélio Jaguaribe, Candido Antônio Mendes de Almeida.

11
projeto para o país. Em suma, era caracterizado pelo nacionalismo-desenvolvimentista, com aumento da
intervenção estatal. Goulart atualizou o projeto de Vargas na década de 1960, com propostas para por em
prática mudanças econômicas e sociais com maior enfoque à distribuição de renda, consolidadas nas
“reformas de base” e a ampliação da Política Externa Independente e da continuação do processo de
substituição de exportações focado no departamento de bens de capital (MOREIRA, 2014).
Esse projeto consubstanciava-se no programa do PTB com 10 propostas de: a) a manutenção e
ampliação das leis e dos benefícios sociais; b) soberania nacional; c) reforma agrária; d) defesa das empresas
estatais em setores estratégicos, como a Petrobras; e) unicidade sindical; f) demandas por educação e saúde
públicas de qualidade; g) reajustes salariais garantindo o poder de compra dos trabalhadores; h)
fortalecimento do poder público frente aos interesses privados; i) regulamentação e disciplinarização do
mercado; j) programas para desconcentrar a renda, entre outras políticas públicas. Assim, o trabalhismo no
Brasil pode ser considerado uma mistura de nacionalismo, forte intervencionismo estatal e
desenvolvimentismo distributivo. Enfim, o governo João Goulart e o PTB de sua época defendia um
atualizava um programa que traduzia, quase na integra, o projeto de Getúlio Vargas para o Brasil. Portanto, o
trabalhismo, por meio do PTB, foi a expressão política de uma ideologia econômica e social: o nacional-
desenvolvimentismo.

3 – O contexto histórico do social-desenvolvimentismo

Após uma “década perdida”, o Brasil voltou aos fluxos dos capitais internacionais no início dos
anos 1990. O Estado completamente endividado passa a ter um papel subserviente ao capital estrangeiro e as
reformas liberalizantes sobrevoam a América Latina e reformulavam o papel do estado na economia.
Iniciava-se a inserção do país num mundo cada vez mais globalizado. As vitórias de Collor/Itamar e
Fernando Henrique Cardoso (FHC) colaboraram para o avanço de reformas liberais e combateram a inflação
de forma a estabiliza-la a níveis irrisórios a partir de 1994. O Brasil se inseria na globalização e os projetos
desenvolvimentistas perderiam espaços para o neoliberalismo sob o lastro do chamado Consenso de
Washington.
Entretanto, ao longo dos últimos anos, em que ficaram claros os movimentos característicos da
chamada globalização (em seus aspectos produtivos e financeiros), a economia brasileira foi capaz de
aproveitar a combinação excepcional de expansão da liquidez financeira internacional, da demanda e dos
preços das commodities, e promoveu mudanças importantes em seu modelo de desenvolvimento. Em
especial a partir da ascensão de Luis Inácio “Lula” da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT). Quando o PT
chegou ao poder em 2003, conforme as diretrizes do seu programa de governo havia um objetivo focado no
combate a fome, geração de emprego e distribuição de renda.
No “Programa de Governo 2002”, da Coligação Lula Presidente, as linhas do novo modelo estavam
assim anunciadas: “(…) O motor básico do sistema é a ampliação do emprego e da renda per capita e,
consequentemente, da massa salarial que conformará o assim chamado mercado interno de massas. O
crescimento sustentado a médio e longo prazo resultará da ampliação dos investimentos na infraestrutura
econômica e social e nos setores capazes de reduzir a vulnerabilidade externa, junto com políticas de
distribuição de renda”. Esse documento estava dividido em três grandes áreas: 1) Crescimento, Emprego e
Inclusão Social, 2) Desenvolvimento, Distribuição de Renda e Estabilidade, e 3) Infra-estrutura e
Desenvolvimento Sustentável (PROGRAMA DE GOVERNO, 2002).

Nas eleições de 2002, a candidatura da esquerda moderada, capitaneada por Lula, vence o pleito e
toma possa em 2003. O Plano Plurianual 2004-2007, intitulado, Orientação estratégica de governo –
Um Brasil para todos: crescimento sustentável, emprego e inclusão social, ao abordar o projeto de
desenvolvimento, além de explicitar que o Estado terá papel decisivo em sua condução, diz: “O PPA
2004-2007 terá como objetivo inaugurar a seguinte estratégia de longo prazo: inclusão social e

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desconcentração da renda com crescimento do produto e do emprego. Crescimento ambientalmente
sustentável, redutor das disparidades regionais, dinamizado pelo mercado de consumo de massa, por
investimentos e pela elevação da produtividade. E redução da vulnerabilidade externa através da
expansão de atividades competitivas que viabilizem esse crescimento sustentado. As políticas e
programas que darão substância a essa estratégia distribuem-se em cinco dimensões: social,
econômica, regional, ambiental e democrática.” O conteúdo desse documento explicita o propósito
social-desenvolvimentista da política do Estado desde 2003 (IANONI, 2014, p.8).

Lopes (2012) afirma que se em 2003 e 2004 era adequado afirmar que o governo Lula constituía a
continuação do programa solidificado por Fernando Henrique, mas, com o aumento da intervenção estatal e
medidas anticíclicas consideráveis foram postas em ação pelo segundo Governo Lula, não é mais possível
igualar os dois regimentos. Mercadante (2010) sustenta o argumento de que o Governo Lula poderá entrar
para a história como um ponto de inflexão ao promover a ruptura com programa neoliberal típico dos anos
1990, é o ressurgimento de temas como desenvolvimento nacional, expresso principalmente no neologismo
“novo desenvolvimentismo”. A nova expressão indica que os eventos do presente têm algum elemento em
comum com o aquele momento (governo Vargas) importante da criação do Estado capitalista brasileiro.
Como ressaltado, é necessário hoje, fazer as mediações dessa nova ideologia com suas contrapartidas na
estrutura. Só assim será possível descobrir quais são as forças políticas contemporâneas agindo sobre o
estado brasileiro no presente. É importante destacar, no entanto, que o formato das ações do governo em
direção ao sustento da reprodução de capital na economia brasileira está fortemente condicionado por
circunstâncias internacionais alheias ao poder de decisão dos brasileiros. Por isso, a análise da conjuntura
nacional nunca pode abstrair dos acontecimentos econômicos e políticos no exterior. E nesses contextos as
décadas de 1950, 1960 são bem diferentes da desse início do século XXI. Esses momentos iniciais dos anos
2000 estavam condicionados por fatores internacionais bem mais semelhantes aos dos anos 1990, o que
camuflava os traços de ruptura que só se tornaram realmente visíveis a partir de 2008. Nesse momento,
quando analisamos o uso dos recursos sob controle do Estado, é possível averiguar a mudança para um
Estado que lembra aquele Estado desenvolvimentista da década de 1960, como por exemplo, o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e sua função na crise 3. Outro exemplo mais
recorrente é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que nada mais é do que a parte mais exaltada
do PPA (Plano Plurianual) 2008-20114. Pode-se constatar, portanto, um aumento do controle econômico a
partir dos programas específicos de política fiscal para amainar a recessão.
Os programas do PT, “Programa de Governo 2002: Coligação Lula para presidente” e “Lula de
novo com a força do povo: Lula presidente 2007-2010” existam muito objetivos semelhantes à Mensagem ao
Congresso Nacional do governo João Goulart de 19645. Inclusive no segundo programa de governo, logo na
página seguinte a capa, há a seguinte citação: “O nome do meu segundo mandato será desenvolvimento.
Desenvolvimento com distribuição de renda e educação de qualidade” (PROGRAMA DE GOVERNO,
2006). Entretanto, será a partir da entrada de Dilma Rousseff na Casa Civil e de Guido Mantega no
Ministério da Fazenda em 2006 (no núcleo do governo) que os termos trabalhismo e social-
desenvolvimentismo começaram a ser usados seguidamente. Esse projeto, portanto, começou a ganhar
concretude no seu segundo mandato. Muitas das ações que marcaram o governo Lula surgiram após o
ingresso deles, tais como: a criação de uma estatal para gerir o Pré-Sal, o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), o Programa Luz pra Todos e o Programa Minha Casa minha Vida, a criação da Rede
Federal de Educação Profissional e Tecnológica, Plano Nacional de Educação (PNE), a Política de
Desenvolvimento Produtivo, entre outros. Houve a retomada de uma de programas de infraestrutura, que há
muito tempo (desde o II PND) o Brasil não tinha. Cabe mencionar o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC I e PAC II) em conjunto com o Programa de Investimento em Logística e a Política de
Concessões de Rodovias, Ferrovias, Portos e Aeroportos do governo Dilma Rousseff.
3
Ver Coutinho (2009).
4
Ver Macedo (2011).
5
Ver Moreira (2014)

13
Em termos de política econômica, o primeiro governo Lula manteve o tripé macroeconômico do
governo FHC de superávit primário, taxa de câmbio flutuante e regime de metas de inflação. Contudo,
podemos acrescentar a isso uma crescente ingerência do governo nessa poítica. As características do segundo
governo Lula seriam: a) expansão do mercado interno sustentada pelos investimentos e pelo consumo das
famílias, b) políticas creditícias expansionistas e de combate a crise internacional e, c) ampliação dos
programas sociais por meio das políticas de renda e distributivas. Com a eleição, de Dilma Rousseff em
2010, esse tripé começa a ser desmontado ou afrouxado. Entretanto, a análise em questão não deve se
restringir no curto prazo e sim no longo prazo em termos de projeto.
Um projeto de nação consiste na existência de uma estratégia de transformação econômica e social
que vise à elevação da produtividade e ao aumento do bem-estar a médio e a longo prazo de uma população
dentro de determinado território. Tanto o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(PRONATEC), a expansão da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica como o
Programa Brasil sem Fronteiras parecem estar em consonância com aqueles objetivos de longo prazo, ou
seja, elevar a produtividade e o aumento do bem estar no médio e longo prazo das empresas e da população.
Nesse sentido, o governo Dilma parece ter implementado uma estratégias e políticas públicas para implantar
um padrão de desenvolvimento para o país. Isso caracterizaria um desenvolvimentismo. Esse padrão é uma
combinação peculiar de incentivos para o investimento privado, aumento da produtividade e da renda
(setores, agentes, financiamento, regulação, composição e organização dos mercados, distribuição da renda,
etc.).
Salienta Fonseca (2013) que no desenvolvimentismo há uma política pró-ativa com o objetivo de
desenvolver o país. É um projeto com um objetivo deliberado, que, por via do aumento da produção e da
produtividade, visa atingir determinados fins. As transformações recentes na economia brasileira
reacenderam o debate sobre o desenvolvimento e o desenvolvimentismo. Os êxitos do desenvolvimento
inclusivo e os limites das exportações de commodities – primárias e industriais – colocam desafios extras à
superação do subdesenvolvimento brasileiro, que se atualiza mais uma vez sob o véu da combinação do
crescimento econômico e da mobilidade social. Decorridos quatro anos do governo Dilma, parece-nos já
configurada uma tendência ou sentido de conjunto que este imprimem à sua política econômica, não apenas
na acepção de gestão macroeconômica, mas no conceito de um projeto de longo prazo que lida com aspectos
mais estruturais da produção e repartição da renda. Há mudanças em relação ao governo Lula, mas há
também um forte caráter de continuidade no sentido estrutural em três pilares fundamentais: manutenção da
valorização real do salário mínimo e das políticas de transferência de renda, expansão da infraestrutura física
e capacitação profissional. Ademais, há sinalização para a necessidade da realização de reforma política e de
uma reforma tributária. Além disso, a manutenção de nova dinâmica de inserção internacional, iniciada no
governo Lula, focada na cooperação do tipo Sul-Sul e diversificação das exportações para outros mercados
trazem semelhanças com a Política Externa Independente do governo Goulart. Esse novo modelo se
contrapõe ao chamado modelo neoliberal, e tem semelhanças com o que se convencionou chamar de
nacional-desenvolvimentismo. Em relação à indústria (ponto mais frágil da tese de uma nova etapa de
desenvolvimentismo) podemos destacar durante o governo Dilma algumas ações que parecem, pelo menos
em termos teóricos, uma tentativa de incentivar o setor industrial a responder, de forma robusta, um novo
contexto econômico. Cabe salientar as diferenças com o nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950 e
1960, em virtude do elevado aumento da participação das exportações da indústria chinesa no mercado
internacional e do crescente aumento da participação dos serviços em detrimento da indústria na composição
do PIB na maioria dos países. Mesmo assim, os governos Lula e Dilma adotaram as seguintes medidas para
incentivar a indústria: a política de compras de produtos fabricados no país (em especial para a indústria
petrolífera e naval), a política de Desenvolvimento Produtivo e o Plano Brasil Maior, redução do IPI,
aumento da taxação de produtos importados e imposição de barreiras comerciais e tarifárias. Ademais, no
início do governo Dilma houve uma tentativa de mudança na política de juro (com uma política monetária
menos ortodoxa com redução mais rápida da taxa SELIC e redução dos juros dos bancos públicos) que
expressariam uma tentativa de ruptura da hegemonia do segmento bancário-financeiro no poder. Portanto,
14
essas medidas e outras nos levam a sustentar que estamos num novo modelo de desenvolvimento chamado
de social-desenvolvimentismo. Enfim, esse seria caracterizado por intermédio de uma estabilidade
econômica, consolidação da democracia, manutenção do crescimento do emprego e da renda com elevação
da inclusão social.
À medida que as promessas neoliberais não se realizavam, não só no Brasil, mas em todo o
continente latino-americano, e que, ao contrário do idealizado, o baixo crescimento econômico persistia e a
questão social não era equacionada a contento, a hegemonia do ideário neoliberal foi, pelo menos no
discurso, se deteriorando progressivamente, o que promoveu a eleição de um governo liderado por um
partido político dito de matriz trabalhista e historicamente não-alinhado ao neoliberalismo. Juntamente,
percebe-se uma reversão nos indicadores típicos do período 1980-2000, com melhorias nos níveis de
crescimento econômico, desemprego, concentração de renda e salário mínimo. É nesse contexto que
ressurgem estratégias nacionais de desenvolvimento que em oposição, ao menos em tese, ao neoliberalismo,
pretendem reinterpretar o capitalismo brasileiro contemporâneo e elaborar estratégias de desenvolvimento
não-neoliberais. Nesse sentido, o novo-desenvolvimentismo e o social-desenvolvimentismo emergem como
principais variantes do neodesenvolvimentismo contemporâneo (OLIVEIRA, MANDARINO).
Da mesma forma, as propostas do “social-desenvolvimentismo”, tais como apresentadas por
Carneiro (2012), Bielschowsky (2012) e Bastos (2012), frisam a importância de um desenvolvimentismo
com redistribuição de renda e esta, para fins de argumentação, como o atributo mais reivindicado como
marca das propostas desses autores, constata-se que a mesma não precisaria de um conceito radial, pois basta
a inclusão do novo atributo. Fonseca (2013) atribui ao social-desenvolvimentismo uma posição semelhante a
última versão do nacional-desenvolvimentismo (antes de ser interrompido com o golpe contra o Governo
Goulart). Esse conceito recuperaria a tradição histórica estruturalista de desenvolvimento com redistribuição
de renda, como aparece na Mensagem ao Congresso Nacional de 1964 e nas Reformas de Base sugeridas por
Celso Furtado também no Plano Trienal.
Essa singularidade do desenvolvimento brasileiro – união entre crescimento econômico e
distribuição da renda – representa um processo de atualização das contradições e dos desafios pertinentes ao
vasto campo teórico do pensamento econômico que emergiu da necessidade de superar o
subdesenvolvimento durante a década de 19650 e 1960. O social-desenvolvimentismo coloca em pauta temas
estratégicos, relativos às alternativas e aos obstáculos que se põem à sua continuidade e que terão de ser
equacionados, por meio de um novo consenso social que leve a uma política de conteúdo
“desenvolvimentista” – vale dizer, uma política industrial, tecnológica, de comércio exterior, tributária, de
financiamento, de distribuição da renda e da riqueza etc. – e que viabilize um bloco integrado de
investimento produtivo e em infraestruturas econômica (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia
elétrica, petróleo e gás natural, biocombustíveis e telecomunicações) e social (saúde, educação, habitação,
saneamento e equipamentos de transporte coletivo) (CALIXTRE; BIANCARELLI, CINTRA, 2014).
Celso Furtado, durante a III Conferência Internacional Celso Furtado em maio de 2004, nos deu
uma pista. Num pequeno texto lançado com o título de “Os Desafios da Nova Geração” afirmou que os
projetos de país podem seguir dois enfoques distintos. O primeiro é o do Crescimento Econômico, e que
perdurou por todo o período do Regime Militar e nos governos neoliberais dos anos 1990, o qual era
caracterizado pela preservação dos privilégios das elites com a inclusão da modernização. O segundo, do
Desenvolvimento Socioeconômico, se caracteriza pelo seu projeto social. Celso Furtado acreditava que para
melhorar os indicadores sociais não bastava recursos para investir, e sim a execução de um projeto social que
priorizasse a efetiva melhoria das condições de vida dessa população. Portanto, para Furtado, o crescimento
se metamorfoseia em desenvolvimento por meio da junção entre crescimento da renda e do emprego com
uma política social ativa. Dessa equação, conforme Costa (2012), surge às bases para a corrente de
pensamento social-desenvolvimentista a respeito de como reunir os aspectos econômicos e sociais em uma
associação biunívoca. Salienta o autor que o social-desenvolvimentismo representa a superação do nacional-
desenvolvimentismo. O social-desenvolvimentismo é um contraponto ao chamado novo desenvolvimentismo
(voltado para as exportações) formulado por Bresser Pereira para definir o governo Lula. É
15
desenvolvimentista pela importância atribuída à intervenção do Estado, ao desenvolvimento das forças
produtivas e à constituição de um projeto nacional. Ademais, ele é social, pois atribui à inclusão social o eixo
principal e o objetivo último do processo de desenvolvimento (CARNEIRO, 2012).
Em síntese, a estratégia do social-desenvolvimentismo é aquela que busca um dinamismo
econômico capaz de permitir o aprofundamento do processo de distribuição de renda e de expansão da
infraestrutura. Este dinamismo econômico pode ser encontrado potencialmente em três frentes de expansão:
a) no consumo de massas (onde a distribuição de renda assume sua característica funcional para o
crescimento econômico), b) na exploração dos recursos naturais (Pré-Sal), e c) na expansão da infraestrutura
produtiva e social. No social-desenvolvimentismo, o aspecto social é o elemento novo. Este elemento pode
induzir o crescimento econômico por meio do processo de distribuição de renda que pode dinamizar o
mercado de consumo doméstico, como mostrou a história recente brasileira (BIELSCHOWSKY, 2012). Essa
expansão da infraestruttura social teria impacto de longo prazo no investimento e na competitividade do setor
produtivo ao melhorar o nível educacional, a saúde e a qualidade de vida da força de trabalho. Nesse sentido,
há uma interação reforçadora entre os aspectos social e econômico do desenvolvimento com o potencial de
viabilizar um processo virtuoso de crescimento. A corrente social-desenvolvimentista unifica-se na “ênfase
no mercado interno e no papel do Estado para influenciar a distribuição de renda e a alocação de
investimentos”. Entre seus expoentes no governo, destacam-se Guido Mantega, Luciano Coutinho e a
presidenta Dilma Roussef (BASTOS, 2012). Mantega, em entrevista em 2007, procura conceituar o social-
desenvolvimentismo:

O social-desenvolvimentismo é isso, é uma nova modalidade de crescimento econômico. É para


distinguir do desenvolvimentismo, porque nós já tivemos no Brasil o desenvolvimentismo. O que era o
desenvolvimentismo? Era um crescimento conduzido pelo Estado - que não é o caso agora - um
crescimento mais vigoroso da economia, mais rápido. Nós chegamos a crescer 10, 12, 14%, porém,
sem a inclusão dos trabalhadores. Os salários diminuíam, o salário mínimo era menor. Você não tinha
distribuição de renda naquela ocasião. E agora o que você tem é um crescimento mais harmônico, com
inclusão social por causa dos programas sociais e do tipo de crescimento. Mas, eu queria destacar uma
outra diferença do crescimento do passado. No passado, quando a economia crescia, ela crescia
criando desequilíbrios, criava mais inflação, na base do endividamento externo ou interno, com dívida
pública, com déficit público. E agora a diferença é que nós estamos crescendo mais e com a inflação
sob controle, com a dívida pública diminuindo, com o endividamento externo diminuindo, com a
vulnerabilidade externa menor. Então, essa é a novidade no país. Nós nunca tivemos isso no Brasil
antes. [Podem chamar de] social-democracia. Eu chamo de social-desenvolvimentismo porque o
desenvolvimento é uma palavra forte (MANTEGA, 2007b).

No início de 2015, entretanto, com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda
(economista pertencente a uma corrente diferente do social-desenvolvimentismo) e suas primeiras medidas
como ministro, dúvidas surgem se o governo abandonaria o social-desenvolvimentismo e adotaria uma linha
mais próxima do novo-desenvolvimentismo 6.

O novo núcleo da política econômica terá, na Fazenda, um nome proveniente do setor privado e, a
rigor, identificado com o projeto derrotado. Por outro lado, o Planejamento será comandado por um
economista desenvolvimentista e o Banco Central continuará presidido pelo mesmo quadro que hoje o
dirige. A presidenta Dilma é desenvolvimentista. Se a orientação de política econômica, mesmo que
não no plano imediato, devido ao aperto fiscal conservador que se anuncia, mas, ao fim e ao cabo,
como resultante dos próximos quatro anos de governo, será de oposição à primazia dos mercados,
conforme esperam os desenvolvimentistas, que modelo de desenvolvimentismo eles almejam para o
Dilma 2? Uma relevante síntese desse debate foi feita por Pedro Paulo Zaluth Bastos (2012), da
Unicamp, no artigo “A economia política do novo-desenvolvimentismo e do social

6
Ver Bresser (vários)

16
desenvolvimentismo”. O trabalho aborda duas grandes concepções estratégicas para o
desenvolvimento do capitalismo no Brasil delineadas desde a vitória de Lula, nas eleições de 2002, em
decorrência da crise do neoliberalismo. Por um lado, o “novo-desenvolvimentismo”, cujo conteúdo
mais denso ele chama de desenvolvimentismo exportador do setor privado. Por outro, o “social-
desenvolvimentismo”, qualificado como desenvolvimentismo distributivo orientado pelo Estado
(IANONI, 2014b).

Afirma Ianoni (2014b) que embora o social-desenvolvimentismo tenha encontrado no governo Lula e
Dilma e na intelectualidade desenvolvimentista, ainda não conta com uma adequada sistematização
acadêmica.

Considerações Finais

O nacional-desenvolvimentismo, historicamente, foi representado pela tríade nacionalismo-


industrialização-intervencionismo. Celso Furtado faz a síntese de sua obra numa equação para uma estratégia
de desenvolvimento nacional que são os pilares do chamado social-desenvolvimentismo e, de certo modo, o
elo com o nacional-desenvolvimentismo. Afirma ele que o desenvolvimento é fruto da junção de duas
varáveis. A primeira é o crescimento da renda e do emprego. A segunda é a adoção de uma política social
ativa. Essa associação, entre aspectos econômicos e sociais, poderia atribuir ao social-desenvolvimentismo
um elo de continuidade com o nacional-desenvolvimentismo, mas como uma adaptação a um novo contexto
marcado pela globalização e forte internacionalização das economias. Pois procura fortalecer a associação
entre povo e estado por meio da democratização econômica e reconhece que o papel do Estado continua
sendo o de indutor do desenvolvimento. A nova tríade, que compõe o núcleo duro do social-
desenvolvimentismo, consistiria, portanto, em: inclusão social - infraestrutura econômica e social -
capacitação profissional. No âmbito político, o trabalhismo resurge como uma alternativa de esquerda dentro
do capitalismo. No âmbito econômico a volta de muitos objetivos, que existiam no nacional-
desenvolvimentismo, com o social-desenvolvimentismo mostra que existem muitas semelhanças entre alguns
pontos das Reformas de Base propostas pelo governo João Goulart e as ações implementadas e propostas nos
discursos da presidenta Dilma Rousseff.
A manutenção da equação de Celso Furtado “Desenvolvimento = crescimento da renda e emprego
+ política social ativa” seria, portanto, o principal elo para a continuidade do projeto trabalhista de Vargas e
Goulart pelos governos de Lula e Dilma. Nesse sentido é reforçada a tese que o atual governo de Dilma
Rousseff do PT executa um projeto trabalhista. Não é um projeto acabado, mas em vias de implementação.
Esse projeto está consubstanciado na Constituição de 1988 que é a corporificação teórica das Reformas de
Base de João Goulart. No aspecto político partidário se por um lado o PDT foi o herdeiro programático do
PTB antigo. Por outro lado, o PT foi o herdeiro das massas desse mesmo PTB. Nesse sentido, o PT é o maior
partido trabalhista do Brasil e o herdeiro eleitoral do velho PTB. Em termos práticos, é ele que executa o
projeto trabalhista delimitado pelo presidencialismo de coalizão. Assim como Getúlio e Goulart governaram,
tendo como aliança central no congresso PTB-PSD. O governo Lula e Dilma tem como aliança central PT-
PMDB.
O PT não nasceu trabalhista. Até duas décadas atrás criticava, ferrenhamente, os governos de
Vargas e Goulart. Entretanto, os governos Lula e Dilma executam um projeto trabalhista, principalmente, a
partir da ascensão de Dilma Rousseff ao núcleo do poder. Se por um lado algumas das Reformas de Base
ainda se encontram na pauta do dia, como mencionadas anteriormente, por outro lado várias ações
executadas pelo Governo Federal, como o programa “Minha Casa Minha Vida” (que pode ser considerado
um outro aproche para a Reforma Urbana), o Plano Nacional de Educação (PNE), a expansão da Rede
Federal e do PRONATEC, o PAC, a própria tentativa de redução da taxa de juro, entre outros, vão ao
encontro dos postulados trabalhistas. Presidentes como Getúlio Vargas, João Goulart, Lula da Silva e Dilma

17
Rousseff tem muitas diferenças, desde as suas origens até as formas que conduziram seus governos, mas
inegavelmente possuem o mesmo projeto econômico adversário: o liberalismo econômico.
Em dois discursos durante sua primeira e segunda campanha, Dilma lembrou sua militância dentro
do PDT e também fez referência à história do trabalhismo, citando as trajetórias de Getúlio Vargas, João
Goulart e Leonel Brizola, fundador do PDT. Conforme palavras da presidenta Dilma ”Nós podemos dizer
hoje que somos a continuidade desse processo” (refererindo-se a história do trabalhismo) e cita que o
objetivo do seu governo é mesmo do governo do ex-presidente João Goulart: “promover“progresso com
Justiça, desenvolvimento com distribuição de renda” (ROUSSEFF, 2010). Em outro discurso de 10.06.2014
faz questão de citar conquistas sociais e econômicas promovidas pelos governos dos presidentes Getúlio
Vargas e João Goulart – como a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce e do BNDES e, também, a
permanente luta de Brizola e Darcy Ribeiro pela educação pública de qualidade. Dilma salientou a
importância e o legado de Getúlio Vargas. "Sem ele não teríamos o Estado nacional e a sua estrutura que
temos hoje". Sobre João Goulart, o Jango, classificou-o como "um democrata que construía consensos" e que
colocou no centro dos debates pautas que até hoje são exigidas pela população. Para definir Darcy Ribeiro,
Dilma afirmou que foi "o homem capaz de pensar a Universidade de Brasília, como ela é hoje, e de também
projetar os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública)". Por fim, emocionada, referiu-se a Leonel
Brizola como o político da legalidade e que "deu início a política de expansão da educação". Continua,
citando que uma das maiores contribuições do PT a esse projeto é a diminuição das desigualdades sociais
alcançada nos últimos anos. Segundo ela, houve um aumento expressivo do salário mínimo real. "Enquanto a
renda per capita cresceu para os mais pobres, daqueles que saíram da miséria e ascenderam socialmente. Por
isso, conseguimos diminuir as desigualdades sociais (que é um problema histórico) nos últimos anos",
enfatizou. Nesse mesmo discurso a presidenta associou a antiga União Democrática Nacional (UDN) (que
fazia oposição aos governos de Getúlio e de Jango) com os principais oposicionistas ao governo do PT que
são o PSDB e o DEM e faz outro elo com o trabalhismo de Vargas e Goulart. Afirmou que o trabalhismo
conhece todas as artimanhas e o golpismo dos nossos adversários. Da UDN, no passado, aos opositores
atuais", declarou Dilma (ROUSSEFF, 2014). No segundo mandato, essa visão é reforçada desde o início com
a escolha do lema do novo governo “Brasil, Pátria Educadora”, sendo que Dilma afirmou, em discurso de
posse, que essa frase sintetiza a educação como prioridade de seu governo.
Conclui-se que há indícios que os governos de Lula e Dilma Roussef podem ser considerados
governos trabalhistas, o que traz um caráter de continuidade com os governos de Vargas e Goulart, todavia
em condições históricos completamente diferentes. Ambos defendem uma maior intervenção do Estado na
economia e com o constante aumento do espaço da classe trabalhadora nesse projeto. Trabalhismo e social-
desenvolvimentismo seriam dois lados de uma mesma moeda. Conforme um dos primeiros a usar a
expressão social-desenvolvimentismo, o ex-ministro Guido Mantega em setembro de 2007, afirmou, em
entrevista que o Brasil já entrou em um novo ciclo econômico, que ele chamaria de ''social-
desenvolvimentismo''. Segundo Mantega (2007), o país experimentava um momento novo: 'chamo esse novo
ciclo de social-desenvolvimentismo porque é um crescimento que ocorre concomitantemente ao aumento da
renda da população, aumento do poder aquisitivo e fortalecimento do mercado de massa. É um novo tipo de
crescimento que o Brasil nunca trilhou''. Nunca trilhou por que esse projeto foi interrompido com o golpe
civil-militar de 1964, pois no discurso e na Mensagem ao Congresso Nacional de 1964 do governo de João
Goulart ele já existia. Portanto, o social-desenvolvimentismo seria a atualização econômica de um antigo
projeto político: o trabalhismo.

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