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Arnóbio Paganotto

ARTIGO

REFLEXÕES SOBRE GESTALT-TERAPIA


Possibilidades e limites no tratamento da

depressão do sujeito contemporâneo


REFLEXÕES SOBRE GESTALT-TERAPIA

Possibilidades e limites no tratamento da depressão do sujeito contemporâneo

Arnóbio Paganotto

RESUMO

Este artigo caracteriza-se por uma reflexão sobre depressão, suas causas, sintomas,
assim como sua expansão no contexto de vida do homem contemporâneo. Além de
reflexões sobre a doença depressão, há também considerações sobre o entorno
social, político e econômico da atualidade. Relata ainda as possibilidades de
intervenção clínica na perspectiva da Gestalt-terapia, a partir dos pressupostos do
humanismo e existencialismo, segundo os quais o homem globalizado tende a se
massificar, perdendo a sua individualidade. Neste contexto social turbulento que tem
propiciado avanço de estados depressivos não excetuando nem mesmo crianças,
tem-se a Gestalt-terapia como uma modalidade terapêutica afinada com a proposta
de devolver ao homem a capacidade de se auto gerir e buscar novas diretrizes para
sua vida.

Palavras chaves: depressão, contemporaneidade, gestalt-terapia.

ABSTRACT

This article is characterized by a reflection about depression, its causes, symptons,


as well as its expansion in the context of contemporary men. Besides the reflections
on social, politic and economic context of the present time, It also relates the
possibilities of clinic intervention based on the gestalt-therapy perspective, on the
principle of the Humanism and on the principles of Existentialism which say that the
globalized men can easily lose their identity, loosing their individuality. In this social
disturbing context that has propitiated advances of depressives states not even
excluding children, gestalt-therapy appears as a therapeutic modality in tune with
the proposal of offering people the capacity of self management and of searching
for new directions and goals to their lifes.

Key words: Depression, contemporanity, gestalt-therapy.


O termo depressão assume diferentes significados quando utilizado na
linguagem científica e na linguagem popular. Se na linguagem científica indica um
quadro clínico denominado distúrbio depressivo que se caracteriza por sintomas
biológicos e psíquicos, aparentemente desproporcionais em intensidade e duração
aos acontecimentos que o provocaram, na linguagem leiga indica popularmente um
estado de tristeza e desânimo que acomete o sujeito diante de acontecimentos
desagradáveis, decepções ou perda. No entendimento popular e no científico o que
se pode afirmar é que os distúrbios depressivos se distinguem por sintomas como:
perda de interesse, astenia, incapacidade de sentir prazer, insônia, falta ou aumento
de peso, diminuição da libido, além de alterações psicomotoras, cognitivas e
neurovegetativas. Este artigo elabora considerações a respeito do assunto proposto,
e se alicerça em reflexões fundamentadas no conhecimento já adquirido sobre
depressão.

O homem da atualidade vive momentos difíceis, está dividido entre aquilo que
é oferecido através da mídia e o que é real e objetivo. Neste contexto globalizado,
em que o capital domina todos os setores da vida humana, surge o discurso
neoliberal prometendo ao homem o resgate da sua autonomia, a possibilidade de
fazer escolhas, a igualdade, o bem estar social, porém esse é o discurso de fachada;
por detrás desta dialética se confirma e se reafirma o discurso do capitalismo atual
que em seus pressupostos assevera que tudo é mercado, e é este mercado o
mediador de todas as coisas, incluindo a própria vida das pessoas. Neste contexto, a
depressão surge como reflexo dessa alienação política, social e psíquica, em que o
homem desamparado pelo estado e pelo seu próximo, (que é um obstáculo à sua
realização pessoal, visto ser também seu concorrente), remaneja toda sua
potencialidade para si mesmo, criando uma ilusão de auto-suficiência e mais uma
vez indo ao encontro da depressão, quando percebe que encontra-se só mesmo em
meio a multidão. O imediatismo cultural se reflete nas relações interpessoais,
quando esta tem como base uma relação de utilidade e não de afetividade, criando
mais um fator que favorece a depressão.
Como se configura a depressão neste homem atual? Até que ponto o homem
consegue preservar sua individualidade nesse mundo globalizado e invasivo? Como
a Psicologia da Gestalt-terapia, alicerçada em seus três pilares, humanista,
existencialista e fenomenológico, pode contribuir para o resgate da autonomia do
sujeito? Por que os estados ditos “depressivos”, assumem hoje um caráter cada vez
mais coletivo?. É neste contexto social que as doenças psicossomáticas encontram
um fértil terreno para se desenvolverem, sendo a depressão uma das doenças que
mais se propaga nos dias atuais. É uma doença que se mostra bastante limitadora
em seus aspectos físicos, psíquicos e emocionais e a Gestalt-terapia se apresenta
como uma intervenção psicodinâmica, que ajuda este sujeito no resgate de suas
possibilidades.

O objetivo deste artigo é levar o leitor a refletir sobre a importância dos


aspectos que levam o homem a depressão. Segundo DE PAULO (2005, p. 31):

Dentre as queixas que já fazem parte do discurso comum entre as pessoas,


a depressão, segundo estimativa da OMS desde 1950, é apontada como a
doença psiquiátrica mais diagnosticada: Ocupa o quarto lugar entre os
maiores problemas de saúde do Ocidente, e ainda, para 2020 as projeções
são de que a depressão vai ocupar o segundo lugar de incapacitação e
desajustamento.

Dentro desse contexto social, no qual todos estamos inseridos, é que nascem
as doenças psico-sociais individuais e coletivas, gerando a insegurança pela perda
da “autonomia”, o medo social instalado pela violência crescente, o medo da perda
da estabilidade no emprego e outros mais. Para tanto, veja Gentilli (1995, p. 79),
“(...) em síntese, o neo-liberalismo se põe como uma alternativa à crise deste final de
século. Uma alternativa que deriva do “delírio” de uma razão cínica; que protagoniza
o fim da história”.
Esse “fim da história” é entendido como uma negação de tudo que foi feito
antes do chamado neo-liberalismo e a conseqüente derrocada dos valores e
consequentemente do humanismo e do subjetivismo. Neste contexto é que a
depressão encontra terreno fértil para se desenvolver e se propagar. É, então,
tarefa primordial da psicologia, ou para ser mais incisivo, do “psicólogo” a orientação
ao homem para viver além do imediatismo vigente, fazer a restauração de sí,
resgatando sua subjetividade e auto-crítica, podendo, a partir daí, modificar sua
trajetória, fazendo novas escolhas conscientes, que lhe sirvam como escudo,
preservando-o, dos distúrbios depressivos. Ao psicólogo cabe também a
responsabilidade de estar atento às ideologias vigentes com um olhar crítico que
atue na transformação social, não correndo o risco de banalizar ou legitimar este
estado social atual.

A Gestalt-terapia, tem muito a contribuir nesse sentido, visto que em suas


bases humanistas, existencialista e fenomenológicas, resgata no sujeito, o
compromisso e a liberdade de se auto gerir ou segundo Heidegger (1984, p.138): “A
liberdade não é somente aquilo que o senso comum faz com a felicidade... A
liberdade é o abandono ao desvelamento doente como tal.”

A palavra depressão é comumente usada para descrever sentimentos de


tristeza, desânimo, solidão, etc. É comum que as pessoas sintam-se desanimadas
de vez em quando, no entanto a depressão, enquanto distúrbio psíquico é algo
bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento. É uma
atitude popular comum, pensar em ajudar pessoas, que padecem deste mal
incentivândo-as a reagir de qualquer forma. No entanto, a pessoa com sintomas de
depressão deve procurar um profissional, quando perceber que sua tristeza se
apresenta com características de tristeza crônica.

São muitos e variados os sintomas da depressão, indo desde as sensações de


tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação
corporal como dores e enjôos. No entanto, para se fazer o diagnóstico é necessário
um grupo de sintomas principais:

• Perda de interesse e de energia

• Mal humor

• Dificuldade de concentração

• Alterações do apetite e do sono

• Lentificação das atividades físicas e mentais

• Sentimento de pesar ou fracasso

Segundo o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-IV, as


características de um episódio depressivo é um período mínimo de duas semanas
as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas
as atividades. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas
adicionais, extraídos de uma lista que inclui alterações no apetite ou peso, sono e
atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa; dificuldade para
pensar, concentrar-se ou tomar decisões; ou pensamentos recorrentes sobre morte
ou ideação suicida.

Entre os sintomas que se manifestam no corpo, os mais comuns são: dores de


cabeça, constipação, dificuldades de concentração, perda de reflexos, insônia ou
períodos de sonolência incomum, boca ressecada, e raciocínio lento; sensação de
desconforto com batimentos cardíacos irregulares, cansaço excessivo, dificuldades
digestivas, perda ou ganho de peso e alterações no apetite; nos membros: falta de
mobilidade, falta de equilíbrio, tensão muscular.

Períodos de melhoria e piora são comuns, o que cria a falsa impressão de que se
está melhorando sem ajuda, quando durante alguns dias o paciente sente-se bem.
Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os
sintomas sendo intercorrentes. Até que se faça o diagnóstico praticamente todas as
pessoas possuem explicações para o que está acontecendo com elas, julgando ser
um problema passageiro.

A depressão, às vezes, inicia-se, com um sentimento comum de tristeza que, aos


poucos, vai se agravando. Uma pessoa normal, após situações adversas tende a
recuperar suas energias e esperanças, mas na pessoa deprimida, a disposição para
uma reação é bastante limitada e o quadro avança interferindo negativamente em
todas as esferas do trabalho, relacionamentos afetivos e sociais causando um
desequilíbrio psicológico interno que o leva a uma vida insatisfatória. O deprimido,
então incapacitado, revela desânimo, reage de forma pessimista e se desqualifica,
expressando uma tensão interior desagradável, uma espécie de dor psíquica,
caracterizada pela angústia, raiva, medo e desespero. Quintella (1992, p. 63),
definiu assim a depressão:

Um sentimento de tristeza que pode variar de um abatimento brando, ou um


sentimento de indiferença até a desesperança. Reação da pessoa à perda e
suas tentativas de enfrentá-la, com decréscimo no desempenho cognitivo,
perceptivo ou motor. Estado patológico de sofrimento psíquico com apatia e
desânimo.

Os sintomas psicológicos também podem vir associados aos sintomas


centrais, são eles: constante pessimismo, dificuldade para tomar decisões,
dificuldade para começar a fazer suas tarefas, impaciência e irritabilidade, a
inquietação junto com a idéia de que não vale a pena viver e o desejo de morrer,
chorar à-toa ou dificuldade para chorar, dificuldade de terminar as coisas que
começou, sensação de que nunca vai melhorar, desesperança, sentimento de pena
de si mesmo, persistência de pensamentos negativos, queixas freqüentes,
sentimentos de culpa injustificáveis e perda do desejo sexual.
Os aspectos psíquicos dinâmicos e a vivência do indivíduo podem ser
diferentes, apesar da sintomatologia expressa parecer similar. A depressão é uma
doença potencialmente fatal, pois pensamentos de suicídio podem surgir. Esse
quadro deve durar pelo menos duas semanas para se poder dizer que o paciente
está deprimido.

A explicação do quadro depressivo sob o ponto de vista bioquímico nos diz


que a depressão resulta do desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis
pelo controle do estado de humor. Esta afirmação baseia-se na comprovada eficácia
dos antidepressivos. O fato de ser um desequilíbrio bioquímico não exclui
tratamentos psicoterápicos. Contudo, temos que considerar todo o entorno da
doença sem menosprezar nenhum indício. Sendo assim, eventos que desencadeiam
a depressão são muito estudados e de fato encontram-se relação entre certos
acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o início de um episódio
depressivo. No entanto, tais eventos não podem ser responsabilizados pela
manutenção da depressão. Na prática, a maioria das pessoas que sofre um
infortúnio se recupera com o tempo. Se os infortúnios da vida causassem depressão,
todas as pessoas a eles submetidos estariam deprimidas e não é isto o que se
observa. É provável que eventos estressantes disparam a depressão nas pessoas
predispostas, vulneráveis. Podemos tomar como exemplos de eventos estressantes
a perda de ente querida, perda de emprego, mudança de habitação, mudança de
comportamento contra vontade, doença grave. Pequenas contrariedades não são
consideradas como eventos capazes o suficiente para desencadear depressão.

Embora a depressão, na maioria das vezes, necessite de um


acompanhamento psiquiátrico e de utilização de fármacos, pode-se dizer que, em
todos os casos, seria imprescindível que a pessoa tivesse um acompanhamento
terapêutico com um psicólogo. Segundo Maldonato em um artigo, “Aposento vazio
da depressão”, publicado na Revista Mente & Cérebro nº 160 Ano XIV diz: “Para
além de toda absolutização biológica, o emaranhado dos conflitos imanente ao
arquipélago da loucura não pode abrir mão de uma presença humana que ouça e dê
assistência”.

A influência genética é muito estudada. Trabalhos¹ recentes indicam que além da


influência genética, outros fatores desencadeantes e estressantes, podem ser um
agravante que poderá predispor as pessoas ao estado depressivo. No entanto, o
fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais
deprimidos do que os gêmeos não idênticos.

A GESTALT-TERAPIA COMO POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO


NO TRATAMENTO AO DEPRESSIVO.

A depressão é uma doença de várias facetas limitadoras: física, psicológica e


emocional. A Gestalt-terapia, com seus pressupostos teóricos, possibilita uma
intervenção psicodinâmica fenomenológica em que o terapeuta trabalha engajando-
se num diálogo, em vez de manipular o cliente em direção a um objetivo terapêutico.
De posse de conceitos como: figura e fundo, aqui e agora, o todo e a parte, a
relação dialógica, a Gestalt-terapia mune o terapeuta com estas ferramentas para
facilitar a caminhada de seu cliente na busca da solução de seus problemas, através
do exercício do auto-conhecimento.

Ao falar de figura e fundo, estamos falando de percepção. Muita vezes o que


está por trás do que levou o cliente a um estado depressivo é o que ele privilegia
como figura, ou seja, aquilo que para ele parece mais importante naquele momento,
no entanto a figura não existe sem o fundo, ou seja, o que está por trás daquela
aparente queixa, muitas das vezes, se constitui a própria causa. Assim a realidade e
figura-fundo, como Ribeiro (1985, p. 74) afirma:
A figura não é uma parte isolada do fundo, ela existe no fundo. O fundo
revela a figura, permite à figura surgir. O que o cliente diz jamais pode ser
entendido em separado, pois a figura “tem” um fundo que lhe permite
revelar-se e do qual ela procede.

Quando o indivívuo se reporta à questão figura-fundo, está diante de um


fenômeno que oferece mil possibilidades de ver a coisa em si. Neste contexto de mil
possibilidades, é que o terapeuta encontra material para o seu trabalho junto ao
cliente depressivo, uma vez que aquilo que é importante agora, não é mais que uma
necessidade, que figura e fundo se complementam, uma não pode existir sem a
outra, a não ser por momentos em que não conseguimos distinguir as duas
realidades.

No cliente depressivo, trabalhar figura e fundo significa oferecer-lhe


possibilidades de ver tudo aquilo que o angustia de ângulos diversos e poder
compreender que as coisas não estão dissociadas, muito embora possam ser
remanejadas invertendo seus lugares, oferecendo, assim, outras possibilidades de
solução.

Quando se entra em contato com a realidade, chega-se a ela com todo seu
modo de ser, e esse modo pode estar privilegiando apenas um aspecto desta
realidade, o que ela revela para o sujeito. Na verdade, é como o sujeito se revela
nela. Sem falar que, na maioria das vezes, as pessoas estão tão perdidas perdidas
na realidade que se fundem com ela, não se permitindo separar o que é figura e o
que é fundo. Por outro lado, quando terapeuta e cliente estão tão imersos na
realidade que os unes, ou seja, a demanda trazida pelo cliente recebe toda a
atenção do terapeuta, abre-se ai um universo de muitas possibilidades, onde
terapeuta e clientes deixam os seus papéis para se tornarem pessoas,
possibilitando, a partir daí o processo de cura.
Juntamente com o conceito de figura-fundo, o artigo destaca o conceito do
aqui e agora que, segundo afirma Ribeiro, (2006, p. 69) “Aqui-agora significa
presença total de um dado em questão. Estou totalmente presente, minha
existência, (meu tempo) se confundem plenamente com minha essência (meu
espaço)”.

Ao falarmos no aqui e agora, reportamo-nos à possibilidade de um evento


anterior afetar o que se apresenta neste exato momento. O terapeuta gestáltico, sem
deixar de levar em conta o que está no passado do cliente, privilegia mais o que ele
traz no aqui e agora, pois é neste cenário que ele está vivendo, e, em contato com o
que acontece com ele, estão sua reação e seu sofrimento. Isto é pertinente a alguns
pacientes depressivos que tendem a viver no passado, presos às suas memórias.
Assim, trabalhando o aqui e agora apresentam-se todas as possibilidades, não
importando mais o passado, tudo se resume neste instante, o passado trouxe-lhe
reações agora, e é no agora que ele pode projetar o futuro. Entã,o este momento se
apresenta para ele como um momento de infinitas possibilidades, ou seja, ele pode
se reabilitar com o passado e escrever um novo futuro, tudo neste momento.

Estar no aqui e agora, como afirma Ribeiro (2006, p. 79) “(...) é abrir-se à
análise e à informação, viver o aqui e agora é um experienciar da realidade interna e
externa, como ela acontece, tenha ou não antecedentes que a expliquem ou
justifiquem”.

Ainda Ribeiro:

Aqui-agora e aqui e agora, são processos básicos do agir humano, estamos


necessariamente em um ou em outro. Realidade e fantasia, querer e não
querer são processos que se sustentam a partir do sentido de especialidade
e temporalidade que o sujeito vive. Algumas psicopatologias são disfunções
do uso do tempo e do espaço que, como fatores estruturantes da
personalidade, supõem que a pessoa esteja auto regulada na experiência
imediata de seu aqui e agora. Vivemos em um grande campo e leis que o
regem supõem um profundo contato entre as variáveis psicológicas e não
psicológicas como fatores de equilibração. Nossas questões estão entre o
espaço e o tempo e além de ambos (2006, p. 71).
Assim como o aqui e agora, o todo e a parte, parte e todo são também
conceitos da Gestalt-terapia que se complementam no processo terapêutico. O todo
e a parte, a parte e o todo, estão intimamente ligados à experiência do homem,
assim como o aqui e agora não podem ser entendidos como partes isoladas do
passado, isto implica em que o todo e parte estejam contidos também no aqui e
agora. As nossas percepções primeiramente nascem de um dado externo à nossa
consciência para depois adequarem-se às idéias impressas que vão constituir a
consciência do dado percebido. O todo é feito de partes, porém uma vez constituído,
ele será diferente da soma de suas partes, ou seja, o todo não é mais a soma das
partes. Na prática clínica, o processo terapêutico será um contínuo passar da parte
para o todo, isto é, do sintoma para o todo e deste para o processo, levando o
cliente em estado depressivo a compreender estas dualidades da vida, onde elas se
assentam e a importância da coexistência dos diferentes e das diferenças, ajudando
o ser humano a compreender melhor o processo que está vivendo e a sair de seu
estado depressivo, buscando um novo sentido para viver.

Na visão gestáltica o terapeuta privilegiará o cliente sempre como uma


totalidade no mundo. É certo que, ao tocarmos uma das partes, o todo se
reconstituirá por igual. Segundo Ribeiro (2006, p. 71).

A tendência do organismo é ver a realidade como um todo, capta-la como


um todo. As coisas se oferecem por inteiro à nossa percepção. Quando
contemplamos a realidade, vemos ao mesmo tempo, como totalidades
inúmeras coisas como objeto de nossa percepção. Em um segundo
momento, e dependendo de nossas necessidades, começamos a observar
as parte que compõem o objeto sob observação. Aludimos a como
percebemos a realidade, no dia a dia, mas temos de ir além deste modo
rotineiro de funcionar se queremos pensar a realidade como um dado para
a consciência, na medida em que parte e todo e parte-todo passam a
pertencer, ao mesmo tempo, a outra esfera, aquela da espacialidade e da
temporalidade. Quando dizemos parte e todo, nos referimos a espaço e a
tempo, isto é a maneira como a consciência seleciona a sua percepção na
escolha pelo objeto. Neste caso, poderia ser atraído tanto pela parte quanto
pelo todo e um me conduziria ao outro. Quando digo parte-todo, espaço e
tempo se fundem, e o objeto de minha escolha será pelo objeto enquanto
uma totalidade. Minha consciência precede a minha escolha, fazendo a
opção pela totalidade.

Para se trabalharem os conceitos de figura e fundo, aqui e agora, parte e todo


é preciso informar que, na relação dialógica, o terapeuta se expressa encorajando o
paciente a seguí-lo, já que este, em seu estado depressivo, muitas vezes não tem
disposição para mostrar-se.

O diálogo se dá no relacionamento que não é apenas um estado de escuta, é


um estado interacional, no qual o terapeuta participa com o cliente de seus
momentos de alegria, rindo com ele, e da tristeza, entristecendo-se com ele. É um
estado vivencial, embora o nome seja diálogo, ele se dá na relação de vivência, de
participação efetiva, em que, nas horas que o cliente esta presente, ele é tudo. Por
isso se pode afirmar que este diálogo vai além do que as palavras possam
expressar. Ele pode se dar através da dança, da arte, musica ou qualquer meio que
possa levar o cliente a se movimentar e se expressar. A relação dialógica não se
realiza sem um contato Eu-Tu entre cliente e terapeuta, pois, um relacionamento se
desenvolve quando duas pessoas, cada uma com sua existência e necessidades
independentes, contatam uma à outra, reconhecendo e permitindo diferenças entre
si, o que significa ser mais do que uma combinação de monólogos, mas duas
pessoas em trocas significativas. Esta relação no tratamento da depressão é de
grande eficácia, porque permite ao cliente criar um vínculo de confiabilidade com o
terapeuta e consequentemente não se sentir mais tão só, como é uma das
características do quadro depressivo. Como diz YONTEF (1998, pg. 253):

O terapeuta faz o seu contato com uma atitude Eu-Tu, em vez de Ter
espírito de controle, condicionamento, manipulação, exploração do paciente
ou outras formas de Eu-Isto. O compromisso com o diálogo significa
relacionamento baseado explicitamente no que a pessoa está
experienciando, e respeito ao que a outra experiência.
Pode-se perceber o quanto a modalidade terapêutica denominada Gestat-
terapia pode fazer por este homem contemporâneo em seu estado depressivo. Ela
apresenta, em seu aspecto filosófico, uma visão humanista e existencialista deste
homem, acreditando nele como centro, com valores e capacidade para se autogerir
e traçar o seu caminho. Então, ela se alia às psicoterapias humanistas, estando de
fato junto e com o homem. Ele é o que, de fato, existe como diz Heidegger: “Só o
homem existe, as coisas são” (HEIDEGGER Appud RIBEIRO, 1985, p. 28). O
homem em seu ewxistir, luta desesperadamente para estar como um ser que tem
poder, e consciente deste poder ele pode transformar o seu ambiente para a sua
felicidade e realização. Enquanto ele não se conscientiza desta sua capacidade
transformadora e realizadora, ele pode estar sendo joquete das coisas, o seu existir
passa para segundo plano e o poder de sua humanidade já não mais existe. A
Gestalt-terapia se coloca como uma terapia humanista vendo o homem como um ser
capaz de gerenciar a própria vida e regular-se, levando em consideração todo o
poder que ele tem sobre as coisas e não o contrário, que é ser dominado por ela.

A Gestalt-terapia proporciona ao homem este olhar sobre o mundo e as


coisas nele existentes. Para a Gestalt-terapia, o ato de existir trás muitas
interrogações, por isso o seu olhar de fora, vendo o homem com sua capacidade
transformadora para realizar e realizar-se o coloca num constante vir-a-ser. O modo
existencialista preconizado pela Gestalt-terapia é um modo singular de ser e de agir.
Concebe o homem como único no universo, onde ele se individualiza quando
encontra, concebe e experimenta sua subjetividade e singularidade como algo só
seu. Percebe, a partir daí, que no seu agir existe e deve existir uma intencionalidade
que pode ser direcionada, quando percebida, que na intencionalidade se encontram
o desejo, a vontade e sua liberdade de poder fazer ou não. Esta é uma das
ferramentas que a Gestalt-terapia tem para despertar no cliente depressivo o estado
de consciência de si, e consequentemente, a sua intenção e o seu agir tem
possibilidade de ser modificado. Este é modo da Gestalt-terapia ver o sujeito
depressivo diante de sua existência. Se ele pode erguer troféus de vitória, deve
também reconhecer como seus, os das derrotas, caso existam.
Para o existencialismo o homem é o centro de tudo e é nele depositado toda
confiança. É no seu existir que reside todas as possibilidades que só poderão ser
concretizadas, se na vida este homem tiver um sentido. Podemos, ainda, citar
Kierkegaard, “O homem não pode viver sem sentido”, ele dizia ainda que “a
subjetividade é a verdade, a subjetividade é a realidade”. Este homem dever ser
compreendido a partir de sua singularidade. (KIERKEGAARD Appud RIBEIRO,
1985, pg.32). A partir deste pressuposto, a Gestalt-terapia vê no encontro terapeuta
cliente, um encontro existencial com base numa relação de confiança, que pode ser
muito criativa e singular, incentivando o cliente depressivo a enfrentar suas questões
com responsabilidade, mas também, com a possibilidade de soluções inovadoras,
que passarão a existir a partir de uma posição existencial.

Outro aspecto que se abre em novas possibilidades para este cliente em


estado depressivo, é o método fenomenológico. A fenomenologia com seus métodos
e processos, abre muitas possibilidades para o homem. Através deste método
singular de ver e lidar com a realidade, para o terapeuta, quando o cliente revela
algo, ele revela a si próprio, ele não fala da coisa, a coisa em si mesmo é que fala
dele, através de suas próprias palavras. A análise fenomenológica se coloca diante
de dados que não se poderia ser explicitados, mas que aparecem num ato contínuo
de revelar-se através das coisas. A coisa em si revela a existência do que se
observa e através dela pode-se chegar a sua essência. Para o terapeuta a presença
do cliente é um fenômeno que pode vir a revelar-se. O terapeuta é apenas um
facilitador desta possibilidade. Por isso a importância da escuta, não a escuta a partir
do terapeuta, mas uma escuta a partir do cliente. É o cliente que deve ouvir-se e
perceber-se, porque, na medida em que ele é capaz de escutar-se, ele se
redescobre, se admira ou se decepciona, criando possibilidades de mudanças. A
condução fenomenológica, nos processos depressivos, facilita o atendimento a este
tipo de cliente porque o fenômeno por sí só se revela desobrigando o cliente de uma
dificuldade de verbalizar sobre o seu problema, implicando numa constante atenção
do terapeuta na leitura desses fenômentos.
Todas as experiências psicológicas humanas são marcadas pela presença do
fator tempo, não somente o tempo cronológico mas também um tempo interior. Um
tempo vivido que muda em cada um de nós de momento a momento, de situação
em situação. É trabalhando também com o tempo presente que a Gestalt-terapia se
coloca como um contraponto no quadro clínico do depressivo, alterando sua
consciência interna de tempo, trazendo-o para uma vivência do aqui e agora numa
consciência existencialista, com a qual ele deve perceber que é dono de seu
destino e de suas dores, podendo mudá-los, caso se esforce para este fim.

Na Gestalt-terapia o dialógo e a sua conscientização são processos em


aberto, estão centrados no presente. A própria emergência orgânica interna do
paciente na sua conscientização e no mundo é a sua própria cura. O encontro entre
o cliente e o terapeuta é o compartilhar dos Selfs, o “si mesmo” de cada um. Neste
relacionamento horizontal o foco é o estar totalmente um com o outro, é a relação
Eu-Tu, vendo, ouvindo e se expressando integralmente de maneira centrada no
presente.

No contexto de vida atual em que se está inserido, é difícil imaginar-se uma


relação social do Eu-Tu, pois o homem, no seu individualismo exacerbado, tem
dificuldade nas relações interpessoais. Muito mais urgente se torna então, a
existência de um programa de prevenção em todos os segmentos da sociedade,
programa que esteja alicerçado em mudanças de paradigma que dizem respeito ao
homem, a sua individualidade, às suas relações interpessoais, ao resgate de seus
valores e de sua qualidade de vida. Embora possa parecer utópico, quando se parte
do pressuposto que todos podemos estar vulneráveis às doenças psicossomáticas,
esta utopia poderá tornar-se realidade, na medida que, a minoria que se encontra no
poder, em todos os âmbitos da sociedade, se conscientize que também eles estão
sujeitos aos mesmos males. Talvez este fenômeno possa levar a uma tomada de
consciência e de compromisso humanista existencial.
Cremos que, num futuro não muito distante, seja possível vislumbrar
mudanças de pensamentos e atitudes que contemplem transformações em todas as
direções da vida, e para todos os seres que compõem o existir, mudanças que nos
unam como habitantes de um mesmo mundo, que o pensar, o sentir e o fazer
contemplem o todo e a parte, a parte e o todo, num pensamento sistêmico de
completude, segundo o qual as doenças oriundas da insatisfação, da solidão e de
outras tantas carências humanas, possam ir se extinguindo, na medida que renasça
o homem uno com tudo que o cerca. Este é um desafio que se apresenta ao ser
humano neste início de século.
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¹ PERES, Urânia Tourinho. Depressão e Melancolia, Ed. Jorge Zachar, 1ª edição,


Rio de Janeiro, RJ, 2003.

¹ ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (org). Depressão e Psicanálise, Ed.


Pioneira, São Paulo, SP, 2001.

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