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Depois, toda esta situação que vivemos implica várias questões: lidar com o vírus em si; gerir o impacto que
trouxe às nossas vidas – afastamento da escola/dos amigos/dos familiares, ficar em casa com um ou ambos
os progenitores (que eventualmente também deixaram de trabalhar); encarar a incerteza e o futuro, incluindo
a possibilidade de muitas coisas não voltarem mais a ser como eram; ouvir falar de temas que habitualmente
nos são mais distantes - mortes, emergência (posso dizer-vos que o S. - sendo o mais pequeno do grupo –
foi a primeira pergunta que fez: “Mãe: o que é emergência?”)... Ou seja, estamos a lidar com uma realidade
complexa e que, portanto, não se reduz ao que vos apresento abaixo. É apenas uma “pequena” ajuda (espero
que sim!!!).
As crianças podem responder ao stresse de maneiras diferentes. Por exemplo, podem pedir mais colo;
mostrarem-se mais dependentes, ansiosas, agitadas ou zangadas; isolarem-se, fazerem xixi na cama, ter
pesadelos; podem não querer comer; etc. As crianças tendem a personalizar, por isso, é natural que os seus
medos e preocupações estejam relacionados com o seu próprio bem-estar, da sua família e amigos.
Responda às reações da criança sendo compreensivo e mostrando apoio, escutando as suas preocupações
e dando-lhe uma dose extra de atenção e carinho. Apresente factos sobre o que se passou, explique o que
se passa agora e dê-lhe(s) informação clara sobre como reduzir o seu risco de infeção pelo covid-19 com
palavras adaptadas à sua idade, garantindo que as compreendem. De uma forma tranquilizadora, ofereça
informação sobre o que pode acontecer (por exemplo, se um familiar e/ou a própria criança se começarem a
sentir mal, terão de ir para o hospital durante algum tempo e receber ajuda dos médicos, que os vão ajudar a
sentir-se melhor). Procure manter as crianças próximas dos seus pais/familiares e evite, na medida do
possível, separá-las dos seus cuidadores. Se a separação ocorrer (por exemplo, hospitalização) garanta que
existe um contacto regular (por exemplo, via telefone) e mantenha a criança tranquila e segura. As crianças
precisam do amor e da atenção dos adultos durante períodos difíceis. Dê-lhes mais tempo e atenção. Lembre-
se de escutar o(s) seu(s) filhos, fale com eles com carinho e tranquilize-o(s). Se possível, crie oportunidades
para a criança brincar e relaxar. Tanto quanto possível, mantenha as rotinas e os horários habituais ou ajude
a criar novas rotinas no novo ambiente, incluindo momentos de aprendizagem/escola e tempo para brincar e
relaxar em segurança. Tranquilize e transmita segurança: “podes falar comigo sempre que quiseres”,
“estamos seguros em casa”, “para te sentires melhor: vamos respirar devagar, eu faço contigo” ou “vamos
fazer uma atividade juntos”. Transmita à criança que existem muitos profissionais que estão a ajudar as
pessoas afetadas. É uma boa oportunidade para mostrar às crianças que, quando algo assustador acontece,
há pessoas que ajudam.
A palavra “morte” suscita fantasias e constitui-se a partir de muitos significados, o que faz,
frequentemente, com que os adultos evitem usá-la na presença de uma criança. Seria uma daquelas palavras
proibidas, pois a mera enunciação pode dar-lhe vida! As palavras têm poder, produzem sentido, criam
realidades, determinam o pensamento: “Quando fazemos coisas com as palavras, ... damos sentido ao que
somos e ao que nos acontece”. E as crianças são “esponjas”: ouvem tudo e estão mais atentas do que o que
julgamos ao que acontece.
Até aos cinco anos, a criança percebe a morte como temporária e gradual, podendo ainda considerá-
la reversível. Ou seja, acham que a pessoa pode voltar, por exemplo. Não entendem que estar morto e estar
vivo é mutuamente exclusivo – não adianta explicar que morrer é deixar de viver! Existe um medo mais
consciente de ser abandonada ou separada das figuras de vinculação principais. É a fase do egocentrismo,
do pensamento mágico e das causas fantasiosas: podem ver a morte como um castigo ou por se terem
portado mal pelo que é muito importante explicar o que vêm na televisão. Como?
- Perceber o que entende sobre o que está a ver: por vezes, surpreendem-nos com as suas
respostas e ajudam-nos bastante na formulação das mesmas! Habitualmente, são os adultos que complicam
as respostas... e têm medo de falar sobre “um tema difícil”
- Perceber o que quer saber: habitualmente, desejam respostas muito curtas e concretas/objetivas,
exatamente aplicadas ao que estão a ver ou ouvir.
- Responder de forma concreta e curta àquela situação específica (“aquelas pessoas morreram
porque estavam doentes”; “um caixão é onde se colocam as pessoas depois de morrerem para ficarem
protegidas”, ...)
- Responder às emoções e sentimentos: ficar preocupado, triste e chorar perante o que se vê não é
problema! É “normal”! E não há problema nenhum em validar isso porque afinal perder uma coisa ou uma
pessoa de quem se gosta custa muito. Aproveitemos o momento para o dizer e expressar também os nossos
próprios sentimentos e emoções para que não vivamos todos num “novelo” e numa encruzilhada de
sentimentos difíceis de gerir. É muito mais fácil que façam parte do nosso dia-a-dia. Validar os seus
sentimentos pode ser algo do género: “estou a ver que estás preocupado(a)” ou “percebo bem como estás a
sentir-te nesta situação”.
Devemos começar por explicar que a morte é um processo natural que faz parte da vida de todos os
seres vivos: pessoas, animais e plantas (de certeza que já viram ou vivenciaram a morte de um animal de
estimação, uma planta que morreu, ...) e avançar para as razões pelas quais a morte aconteceu (doença,
acidente, ...).
Portanto, privar as crianças de uma explicação sobre o que está a acontecer ou sobre o que estão a
ver pode não ser uma boa ideia porque, de uma forma ou de outra, vão perceber que “algo não está bem”.
Com isto não estou a dizer que devemos expor sucessivamente a notícias sobre o que está a acontecer.
Adequar o que se diz e como se diz é a palavra certa! Estamos assim a ajudar a crescer e a tornarem-se
adultos autorregulados!
Deixo um pequeno quadro resumo do que podemos esperar desta fase de desenvolvimento das
crianças:
Fatores cognitivos
Fontes:
Ordem dos Psicólogos Portugueses
DGS
OMS
Armstrong-Dailey, A., Zarbock, S. (2009). Hospice Care for Children. New York: Oxford University Press.