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Elementos Cinéticos do Conceito Agostiniano

de Pecado

Maurizio Filippo Di Silva


Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução

O objetivo desta comunicação é o de analisar se e como nas refle-


xões agostinianas concernentes à ação, aparece uma estrutura do agir,
coincidente com o mudar ou o permanecer das entidades. Tendo em
vista tal fim, o primeiro momento desta análise coincidirá com a indi-
viduação das diferentes modalidades da ação, entendidas, por Agosti-
nho, como as formas de relação com as entidades. Mais precisamente,
à luz da perspectiva mencionada, para alcançar o objetivo será reque-
rida, em primeiro lugar, a análise das reflexões agostinianas relativas à
luta contra as tentações, assim como elas aparecem no livro X da obra
Confessiones (27.38-39.64), o que nos permitirá indicar as direções do
amor e as relações entre a mens e os desejos da alma e do corpo. Com
base nisto, considerar-se-á a noção cinética do pecado coincidente com
a negação da forma e da unidade das entidades (Conf., X, 34.53; 29.40),
o que nos consentirá esboçar, preliminarmente, a identidade entre a
ação e o movimento. Em segundo lugar, o fato de a determinação dos
elementos cinéticos da noção de ação depender da análise do conceito
de ordo e da relação entre alma e corpo, assim como eles aparecem na
obra De libero Arbitrio (I, 7.16-12.24), nós permitirá esclarecer como o
agir não corresponde a uma específica tipologia de movimento, ine-

Carvalho, M.; Hofmeister Pich, R.; Oliveira da Silva, M. A.; Oliveira, C. E. Filosofia Medieval. Coleção
XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 29-39, 2015.
Maurizio Filippo Di Silva

rente a um elemento das entidades, mas ao movimento da realidade


mesma das criaturas. Por fim, as análises sugerirão que a ação, nas
suas formas e na sua natureza, coincide com a corruptio, o permanere e a
conversio das entidades (De moribus Manichaeorum, II, 6.8).

Confessiones, X (27.38-39.64)

Conforme o que foi esclarecido nas observações inicias, o primei-


ro ponto desta comunicação coincide com a individuação das possíveis
formas da ação e, assim, com a determinação das diferentes modalida-
des da relação com as entidades. Neste sentido, o ponto de partida da
análise é a individuação agostiniana do comando divino, coincidente
com a continência e a pluralidade das suas direções: “Sem dúvida, or-
denas-me que contenha a concupiscência da carne, e a concupiscência
dos olhos, e a ambição do século” (Agostinho, 2001, X, 30.41, tradução
levemente modificada) 1. A lei divina, como ordem da continência, su-
gere a possibilidade de duas formas de agir, isto é, o conter, ou não, as
tentações do corpo e da alma, o que coincide com a boa ação ou o peca-
do. Assim, para determinar se o agir seria ou não movimento, será ne-
cessário aprofundar a análise das formas de ação referidas, tendo em
vista tanto as direções do amor quanto a relação entre a mens e os de-
leites da alma e da carne. Na perspectiva exposta, o ponto de partida
da análise são as reflexões agostinianas concernentes às tentações da
carne, assim como elas aparecem na obra Confessiones (X, 30.41-34.51).
Mais precisamente, em tal âmbito temático, as reflexões agostinianas
concernentes ao amor pelas formas belas obtêm especial valor, sendo
que nelas aparecem, muito claramente, tanto as formas do amor quanto
as relações entre a mens e as tentações da carne: “Os olhos amam as for-
mas belas e variadas, as cores vivas e alegres. Oxalá estas coisas se não
apoderem da minha alma; que dela se apodere Deus que, na verdade,
fez estas coisas muito boas. Porque o meu bem é ele mesmo e não es-
tas coisas” (Agostinho, 2001, X, 34.51) 2. Como as próprias palavras de
Agostinho revelam, se os homens amam as criaturas por si mesmas,
1
Cf.: Iubes certe, ut contineam a concupiscentia carnis et concupiscentia oculorum et ambitione saecu-
li. O texto latino das obras agostinianas citadas nesta comunicação é o da NBA (1965-2007).
2
Cf.: Pulchras formas et varias, nitidos et amoenos colores amant oculi. Non teneant haec animam
meam; teneat eam Deus, qui fecit haec bona quidem valde, sed ipse est bonum meum, non haec.

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eles pecam; mas, se eles as usam para amar a Deus, fazem o que é bem.
O pecado corresponde ao domínio do corpo sobre a alma, ao passo que
a boa ação coincide com o controle da mens sobre as tentações da carne.
Os elementos mencionados na análise das reflexões agostinianas
referentes às tentações do corpo também aparecem nas observações
agostinianas sobre a curiositas. A curiosidade é, para Agostinho, um
apetite da alma, coincidente com o desejo de conhecer e experimentar
por meio dos sentidos do corpo tudo o que está ao nosso redor: “A isto
acresce outra forma de tentação, perigosa sob muitos mais aspectos.
Com efeito, além da concupiscência da carne, que é inerente ao deleite
de todos os sentidos e prazeres, postos ao serviço da qual perecem
os que se afastam de ti, existe na alma, disfarçado sob o nome de co-
nhecimento e ciência, uma espécie de apetite vão e curioso, não de se
deleitar na carne por meio dos mesmos sentidos do corpo, mas sim de
sentir por meio da experiência da carne” (Agostinho, 2001, X, 35.54)
3
. Assim, seja no caso das tentações da carne seja no da curiositas, a
lei divina define duas formas de agir, isto é, a continência e a incon-
tinência. Cabe agora compreender o que são o pecado e a boa ação
na análise agostiniana da curiosidade. Ainda, na perspectiva exposta,
os elementos teóricos da análise são as direções do amor e as relações
entre a mens e os deleites: “No entanto, quem poderá contar a grande
quantidade de coisas tão insignificantes e desprezíveis, com que dia-
riamente é tentada a nossa curiosidade, e quantas vezes nos deixamos
levar? [...] E que dizer quando, sentado em casa, muitas vezes me atrai
a atenção uma osga a caçar moscas, ou uma aranha a enredar nas suas
teias as que nelas caem? Acaso, porque são animais pequenos, não é o
mesmo o que se passa? Passo daí ao teu louvor, ó criador admirável
e ordenador de todas as coisas, mas não é para te louvar que começo
a reparar nisso. Uma coisa é levantar-me rapidamente e outra é não
cair” (Agostinho, 2001, X, 35.57) 4. Assim como as próprias reflexões
3
Cf.: Huc accedit alia forma temptationis multiplicius periculosa. Praeter enim concupiscentiam car-
nis, quae inest in delectatione omnium sensuum et voluptatum, cui servientes depereunt qui longe
se faciunt a te, inest animae per eosdem sensus corporis quaedam non se oblectandi in carne, sed
experiendi per carnem vana et curiosa cupiditas nomine cognitionis et scientiae palliata.
4
Cf.: Verum tamen in quam multis minutissimis et contemtibilibus rebus curiositas cotidie nostra temte-
tur et quam saepe labamur, quis enumerat? [...] Quid cum me domi sedentem stelio muscas captans vel
aranea retibus suis inruentes inplicans saepe intentum facit? Num quia parva sunt animalia, ideo non res
eadem geritur? Pergo indem ad laudandum te, creatorem mirificum atque ordinatorem rerum omnium,
sed non inde esse intentus incipio. Aliud est cito surgere, alid est non cadere. Em que concerne à relação
entre curiositas e ciência no pensamento agostiniano, cf. também: Confessiones, V, 3.3-4.7.

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agostinianas sugerem, se os homens procuram o conhecimento pelo


desejo de conhecer e de experimentar, eles pecam; ao contrário, se os
homens buscam o saber para louvar Deus, eles agem em respeito à lei
divina. O pecado é, portanto, o domínio da curiositas sobre a mens, isto
é, o controle de um desejo da alma sobre a alma mesma; a boa ação, ao
contrário, coincide com o domínio da mens sobre a curiosidade, isto é,
com o controle da alma sobre si mesma e sobre os seus desejos.
Os elementos expostos na análise das reflexões agostinianas so-
bre as tentações da carne e sobre a curiositas também aparecem nas
observações relativas à soberba. Assim como a curiosidade, a soberba
é um apetite da alma e corresponde, precisamente, ao desejo de ser
temido e amado pelos humanos. À luz da ordem da continência, trata-
-se de esclarecer quais formas de agir correspondem ao conter ou não
a soberba. Mais especificamente, o objetivo da análise é compreender
o que o pecado e a boa ação são nas reflexões agostinianas sobre a
ambitio mundi, tendo em vista tanto o motivo do amor quanto as rela-
ções entre a mens e os desejos da alma: “E assim, como, por causa de
certos deveres da sociedade humana, é necessário ser amado e temido
pelos homens, o adversário da nossa verdadeira felicidade não nos dá
tréguas, espalhando por toda a parte nos seus laços um «muito bem!
muito bem!», para que, enquanto recebemos avidamente estes aplau-
sos, sejamos apanhados incautamente, e desliguemos a nossa alegria
da tua verdade, e a coloquemos na falsidade dos homens, e nos agrade
ser amados e temidos, não por causa de ti, mas em vez de ti” (Agosti-
nho, 2001, X, 36.59)5. Assim como as palavras de Agostinho nos suge-
rem, quando os homens amam as criaturas por si mesmas, eles pecam;
mas, quando as amam por causa de Deus, eles respeitam a lei divina.
O pecado é, assim, o domínio da ambitio mundi sobre a mens, isto é, o
controle de um desejo da alma sobre a própria alma; a boa ação, ao
contrário, coincide com o domínio da mens sobre a soberba, isto é, com
o controle da alma sobre si mesma e sobre os seus desejos.
À luz das análises desenvolvidas, podem-se reconhecer duas
tipologias da ação, isto é, o pecado e a boa ação, as quais correspondem

Cf.: Itaque nobis, quoniam propter quaedam humanae societatis officia necessarium est amari et timeri
5

ab hominibus, instat adversarius verae beatitudinis nostrae ubique spargens in laqueis euge, euge,
ut, dum avide colligimus, incaute capiamur et a veritate tua gaudium nostrum deponamus atque in
hominum fallacia ponamus, libeatque nos amari et timeri non propter te, sed pro te.

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ao conter, ou não, os deleites da carne e da alma. Além disso, no que


concerne às direções do amor, o pecado revelou-se o amor pelas cria-
turas em si mesmas, ao passo que a boa ação corresponde ao amor por
Deus. Enfim, no plano da relação entre a mens e as tentações da carne e
da alma, a análise esclareceu que o pecar coincide com o domínio dos
desejos do corpo e da alma sobre a mens, ao passo que a boa ação é, ao
contrário, o controle da mens sobre as tentações referidas. Com base
nisto, podem-se agora indicar, se bem só preliminarmente, os aspec-
tos cinéticos da noção de ação. A identidade entre agir e o movimento
aparece, em primeiro lugar, nas reflexões de Agostinho sobre o pe-
cado entendido como a negação da forma. Neste sentido, quando os
homens pecam, eles destroem a forma que Deus criou; ao contrário,
quando eles fazem o bem, eles a guardam: “Que inumeráveis coisas
acrescentaram os homens às tentações da vista com as variadas artes e
requintes no vestuário, no calçado, nos utensílios, em outros produtos
do mesmo género, nas pinturas e esculturas várias que muito ultra-
passam o seu uso necessário e equilibrado e o seu piedoso significado,
seguindo exteriormente aquilo que criam, abandonando interiormente
aquele que os criou, e destruindo em si aquilo que ele os fez” (Agos-
tinho, 2001, X, 34.53) 6. A coincidência de ação e movimento aparece
também nas reflexões agostinianas sobre a ação como a negação da
unidade das entidades. Neste caso, o pecado revela-se, para Agosti-
nho, como a negação da unidade da entidade, ao passo que a ação
conforme à lei divina coincide com a custódia da unidade: “Efectiva-
mente, pela continência saímos da dispersão e somos reconduzidos à
unidade, da qual nos dissipámos em muitas coisas.Na verdade, ama-te
menos aquele que, ao mesmo tempo que a ti, ama alguma coisa, que
não ama por causa de ti” (Agostinho, 2001, X, 29.40) 7.
Com base nisto, parece, claramente, que a ação, na sua dúplice
modalidade, corresponde ao movimento e ao permanecer da forma
das entidades: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te
amei! E eis que estavas dentro de mim e eu fora, e aí te procurava, e eu,
6
Cf.: Quam innumerabilia variis artibus et opificiis in vestibus, calciamentis, vasis et cuiuscemodi
fabricationibus, picturis etiam diversisque figmentis atque his usum necessarium atque moderatum
et piam significationem longe transgredientibus addiderunt homines ad inlecebras oculorum, foras
sequentes quod faciunt, intus relinquentes a quo facti sunt et exterminantes quod facti sunt.
7
Cf.: Per continentiam quippe colligimur et redigimur in unum, a quo in multa defluximus. Minus
enim te amat qui tecum aliquid amat, quod non propter te amat.

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deforme, precipitava-me nessas coisas belas que tu fizeste. Tu estavas


comigo e eu não estava contigo” (Agostinho, 2001, X, 27.38, tradução
levemente modificada) 8. Nesta perspectiva, a qual parece sugerir a
ideia de que o agir seria um movimento inerente apenas a algumas
qualidades da criatura, aparece, contudo, a exigência de uma análise
da coincidência de forma e ordem das entidades, a qual permite, ao
mesmo tempo, esclarecer qual elemento está sujeito ao movimento e
determinar o que a ação, enquanto movimento, seria.

De libero Arbitrio (I, 7.16-12.24)

As reflexões agostinianas sobre a forma e a unidade dos homens,


enquanto entidades, aparecem nas análises contidas na obra De libero
Arbitrio e, precisamente, nas observações agostinianas relativas ao con-
teúdo da lei divina. Neste contexto, Agostinho esclarece que o conter
as tentações da carne e da alma corresponde ao guardar a ordem en-
tre a mens os desejos referidos. Em primeiro lugar, Agostinho define o
domínio da mens sobre as tentações nos termos de uma relação entre
o que é mais e o que é menos forte, sugerindo, assim, a presença de
uma hierarquia entre os elementos que nos constituem. Neste sentido,
quando os homens pecam, o que neles é menor predomina sobre o
que é maior; ao contrário, quando eles agem conforme à lei divina, o
que é maior neles exerce seu controle sobre o que é menor: “A- Pensas
que a paixão é mais poderosa do que a mente, à qual reconhecemos ter
sido confiado, por lei eterna, o domínio sobre as paixões? Eu, de facto,
de modo algum penso que assim seja. E não seria absolutamente or-
denado que as realidades mais fracas dominassem as mais fortes. Por
isso, julgo que é necessário que a mente seja mais poderosa do que o
desejo desenfreado, precisamente porque é recto e justo que ela o do-
mine” (Agostinho, 2001, I, 10.20) 9. A relação de ordem aparece, ainda
mais claramente, nas reflexões agostinianas concernentes ao domínio
da mens sobre a curiositas e a ambitio mundi. Nesta perspectiva, Agosti-
8
Cf.: Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua e tam nova, sero te amavi! Et ecce intus eras et ego foris et
ibi te quaerebam et in ista formosa, quae fecisti, deformis inruebam. Mecum eras, et tecum non eram.
9
Cf.: A- Putasne ista mente, cui regnum in libidines aeterna lege concessum esse cognoscimus, poten-
tiorem esse libidinem? Ego enim nullo pacto puto. Neque enim esset ordinatissimum, ut inpotentiora
potentioribus imperarent. Quare necesse arbitror esse ut plus possit mens quam cupiditas, eo ipso quo
cupiditati recte iusteque dominatur.

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nho define o controle da mens sobre os desejos irracionais da alma nos


termos de uma relação entre o que é mais e o que é menos perfeito.
Neste sentido, quando os homens agem conforme à lei divina, o que
neles tem um grau de perfeição maior domina sobre o que tem um ní-
vel de perfeição menor; mas, quando os homens pecam, o que é menos
perfeito domina sobre o que é mais perfeito: “A- Em suma, dir-se-á
que o ser humano está ordenado, quando a razão domina sobre estes
movimentos da alma. De facto, não se há-de falar de uma recta ordem
ou, sequer, de ordem, onde as realidades superiores estão subjuga-
das às inferiores. Não te parece? E- É evidente. A- Portanto, quando
esta razão– mente ou espírito – governa os movimentos irracionais da
alma, então domina, no ser humano, aquilo que nele deve dominar, de
acordo com aquela lei que descobrimos ser eterna” (Agostinho, 2001, I,
8.18) 10. Parece, portanto, claramente, que a ação, na sua dúplice moda-
lidade, não coincide apenas com o movimento inerente a algumas das
qualidades das entidades, mas com o movimento e a permanência da
ordem axiológica delas.
Contudo, tal compreensão do caráter axiológico da ação requer
uma análise da dimensão ontológica da relação entre a mens e as ten-
tações, de modo a esclarecer a coincidência do agir e do movimen-
to. A noção agostiniana de ordem coincide, de fato, com o conceito
de essência, o que sugere, portanto, que os homens, como entidades,
correspondem a uma relação hierárquica dos elementos que os com-
põem. Neste sentido, quando os homens pecam, eles destroem a pró-
pria natureza; contudo, quando eles agem em respeito à lei divina, eles
preservam a própria essência: “A- O que eu quero dizer é o seguinte:
seja lá o que for isso pelo qual o ser humano se sobrepõe aos animais,
quer se lhe chame mente ou espírito, ou, de modo mais adequado, am-
bas as coisas – de facto, encontramos uma e outra nos livros divinos -,
se dominar e imperar sobre as demais realidades de que o ser huma-
no se compõe, então ele estará perfeitamente ordenado” (Agostinho,

10 Cf.: A- Nemo autem cuiquam miseria se praeponendum putavit. Hisce igitur animae motibus cum ra-
tio dominatur, ordinatus homo dicendus est. Non enim ordo rectus aut ordo appellandus omnino est,
ubi deterioribus meliora subiciuntur. An tibi non videtur? E- Manifestum est. A- Ratio ista ergo vel
mens vel spiritus cum inrationales animi motus regit, id scilicet dominatur in homine, cui dominatio
lege debetur ea quam aeternam esse comperimus.

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2001, I, 8.18) 11. Com base nisto, mostra-se claro, que a ação não é um
movimento inerente às qualidades singulares das entidades, mas é o
próprio movimento do ser delas, sugerindo, assim, que a forma não
é uma das propriedades das criaturas, mas a essência delas: “A- Por
conseguinte, aquele movimento de aversão, que reconhecemos ser o
pecado, na medida em que é um movimento de defecção e que toda a
decadência provém do nada, repara bem naquilo a que ele se refere, e
não duvides que não pertence a Deus” (Agostinho, 2001, II, 20.54) 12.
Nesta perspectiva, a qual sugere a ideia de que o agir é um movi-
mento inerente ao ser das entidades, apresenta-se, também, a exigência
de uma análise das formas de coincidência de ação e do movimento,
que permita esclarecer, com base na identidade entre agir e negação ou
custódia das entidades, quais seriam as formas cinéticas da ação.

3. De moribus Manichaeorum (II, 6.8)

Com base nos resultados da primeira e da segunda fase desta aná-


lise, cabe, agora, examinar quais seriam, para Agostinho, as formas de
movimento e assim determinar o que seria a ação enquanto movimento.
Os elementos mencionados aparecem nas reflexões agostinianas sobre
a corrupção, a permanência e a conversão, contidas na obra De moribus
Manichaeorum. Neste contexto, Agostinho analisa tanto as modalidades
cinéticas citadas quanto o seu estatuto ontológico e axiológico.
O primeiro ponto da análise agostiniana mencionada é a cor-
rupção, a qual coincide, para Agostinho, com a negação da essência
e do ser das criaturas. Mais precisamente, a corruptio é o movimento
que, negando os elementos essenciais das entidades, isto é, a medida,
a forma e a ordem, nega, assim, o ser das criaturas: “Quare ordinatio
esse cogit, inordinatio ergo non esse; quae perversio etiam nominatur atque
corruptio” (Agostinho, 1997, II, 6.8). O segundo elemento da análi-
se agostiniana corresponde, por outro lado, à permanência. Uma tal
forma cinética coincide, mais precisamente, para Agostinho, com o


11
Cf.: A- Illud est quod volo dicere: hoc quidquid est, quo pecoribus homo praeponitur, sive mens sive
spiritus sive utrumque rectius appellatur – nam utrumque in divinis libris invenimus -, si dominetur
atque imperet ceteris, quibuscumque homo constat, tunc esse hominem ordinatissimum.

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Cf.: A- Motus ergo ille aversiosnis, quod fatemur esse peccatum, quoniam defectivus motus est, omnis
autem defectus ex nihilo est, vide quo pertineat, et ad deum non pertinere ne dubites.

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subtrair-se à corruptio. Neste sentido, a permanência revela-se como o


permanecer da estrutura ontológica da entidade: “Deficiunt autem om-
nia per corruptionem ab eo quod erant et non permanere coguntur, non esse
coguntur. Esse enim ad manendum refertur” (Agostinho, 1997, II, 6.8). A
terceira forma cinética analisada por Agostinho corresponde à conver-
são, a qual revela-se como o movimento de reconstituição da essência
e do ser das criaturas: “Nam quod mutatur in melius, non quia manebat
mutatur, sed quia pervertebatur in peius, id est ab essentia deficiebat” (Agos-
tinho, 1997, II, 6.8). A tais formas cinéticas correspondem, além disso,
no plano ontológico e axiológico, diferentes graus de valor e realidade.
A corrupção coincide, de fato, com o mal e o não-ser, ao passo que a
permanência e a conversão correspondem ao bem e ao ser.
Com base nisto e nas análises concernentes às modalidades da
ação, pode-se, agora, determinar o que é o agir enquanto movimento.
Em primeiro lugar, se o pecado coincide com a negação da ordem on-
tológica das entidades, torna-se evidente que ele coincide com a cor-
rupção, sendo que a corruptio corresponde à negação da essência da en-
tidade. Em segundo lugar, se a boa ação coincide tanto com a custódia
quanto com a reformação da ordem ontológica das entidades, torna-se
evidente que ela tem que corresponder à permanência e à conversão,
enquanto movimentos de custódia do ser. À luz desta análise, torna-se
clara a coincidência das modalidades da ação e dos sentidos agostinia-
nos do movimento, o que sugere a exigência de um exame dos graus e
dos níveis da relação mencionada.

Conclusões

Conforme à análise desenvolvida, pode-se concluir que a ação é,


para Agostinho, o movimento da forma e da unidade da entidade, isto
é, o movimento do ser das criaturas. Neste sentido, a ação não corres-
ponde ao movimento inerente às qualidades singulares das entidades,
mas ao movimento da essência e às suas diferentes modalidades, isto
é, a corrupção, a permanência e a conversão. Assim como a própria
terminologia agostiniana sugere (Agostinho, 1997, 7)13, torna-se claro,
Cf.: Creaturis autem praestantissimis, hoc est rationabilibus spiritibus, hoc praestitit Deus ut si no-
13

lint, corrumpi non possint, id est si obedientiam conservaverint sub Domino Deo suo ac sic incorrup-
tibili pulchritudini eius adhaeserint. Cf. também: Agostinho, 1997, 37.

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portanto, que a identidade entre a ação e o movimento é completa e


intrínseca, o que indica a exigência de um exame da ética em termos
cinéticos. À luz dos resultados expostos, o objetivo das próximas in-
vestigações será, assim, o de examinar a ética agostiniana enquanto
expressão da ontologia e dos seus conceitos fundamentais, isto é, as
noções de matéria e forma.

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