Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Aula 04
AULA 04
DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL
.................................
Sumário
Sumário .................................................................................................... 1
Considerações Iniciais ................................................................................ 2
DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL ............................................................... 3
1. Da codificação à recodificação ............................................................... 3
2. A caminho de um direito civil-constitucional ......................................... 11
Jurisprudência e Súmulas Correlatas .......................................................... 15
Questões ................................................................................................. 25
Questões sem comentários..................................................................... 25
Gabaritos ............................................................................................. 26
Questões com comentários ..................................................................... 26
Resumo .................................................................................................. 28
Considerações Finais ................................................................................ 28
Considerações Iniciais
Esta é uma aula completamente diferente das demais. Não trata de uma lei
específica ou de um conjunto normativo. Ao contrário, trata de um tema, qual
seja o impacto da CF/1988 no ordenamento civil, inicialmente no CC/1916 e,
depois, no CC/2002.
A Constitucionalização do Direito Civil é muito mais um arsenal teórico, que serve
de compreensão do sistema jurídico interprivado, do que manuseio prático. O
pouco alcance desse tema nas primeiras fases dos concursos se explica por meio
de uma ambiguidade: é um tema simples e complexo demais para provas
objetivas.
Explico. Simples porque fazer uma questão objetiva, em poucas linhas, de trate
de um método tão abrangente, rico e de consequências tão profundas, de
aplicação tão sutil e de impacto abissal, certamente precisa trazer resolução
bastante evidente. Não há como se escapar de um certo “senso comum teórico”
ao discutir a constitucionalização do direito civil em poucas linhas: colocar no
texto constitucional a disciplina do Direito Civil e ler o CC/2002 a partir dos
princípios trazidos pela CF/1988.
Complexo porque questionar verdadeiramente o sentido da constitucionalização,
aplicar a constitucionalização em sua vertente mais técnica, profunda e sensível,
a constitucionalização em seu sentido prospectivo, é das tarefas mais difíceis. O
fazem os Ministros do STF quando discutem a inconstitucionalidade de um artigo
do CC/2002, por exemplo. Essas decisões têm páginas e páginas de
argumentação jurídica profunda, de questões de cunho filosófico razoável, de
discussões sociais intensas, de disputas econômicas severas.
Levar o direito civil-constitucional a sério é tarefa para poucos abnegados. Exige
sensibilidade social, conhecimento técnico-jurídico e prudência (no sentido mais
romano do termo) ímpares. Eu, pessoalmente, posso apontar alguns poucos
civilistas que fazem da constitucionalização mais do que um jogo de palavras ou
de mero desvirtuamento das normas constitucionais em benefício de um ponto
de vista mais ou menos defensável. Por isso, essa aula, mais do que contribuir
para sua aprovação na prova objetiva do seu certame, certamente servirá mais
adequadamente para as fases subsequentes, nas quais você precisará de
argumentação jurídica sólida ao defender ou criticar determinado instituto jus-
civilístico.
Por isso, essa aula é peculiar. Não há que se falar em legislação pertinente;
jurisprudência e súmulas correlatas; questões de treino. Trata-se de uma aula
“diferentona”, portanto.
DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL
1. Da codificação à recodificação
Tal qual ocorreu com o Direito Penal, que viu uma profusão de normas especiais
a tratar de determinados delitos, o Direito Civil também teve parte de suas
normas pulverizada nos Estatutos, surgidos a partir dos anos 1990. Exemplos
óbvios são o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e o Código de Defesa
do Consumidor – CDC.
Essa “onda” de Estatutos vem na esteira do
movimento conhecido como “descodificação do
Direito Civil”. Explico-me rapidamente. Em meados do séc.
XIX, o Brasil, apesar da Independência, ainda vivia, no plano
legislativo, submetido à Metrópole, pela virtual ausência de codificação nacional.
Em todas as áreas a legislação brasileira ainda era a mesma que a portuguesa.
A Constituição do Império, de 1824, assim determinava (art. 179, item l 8):
“Organizar-se-á, quanto antes, um código civil e criminal, fundado nas sólidas
bases da justiça e da equidade”. A recém ex-colônia precisava de legislação
própria e em 1830 surge a primeira delas, o Código Criminal, primeiro passo
rumo ao expurgo das Ordenações Filipinas. Esse Código seria revogado em 1890
por outro, também revogado em 1940, pelo atual Código Penal.
Posteriormente, em 1850, tivemos o Código Comercial, que ainda continua
parcialmente em vigor, em relação ao Direito Marítimo (arts. 457 e ss.), mas
revogado quase integralmente pelo CC/2002 e pela Lei 7.661/1945 (a antiga Lei
de Falências e Concordatas, revogada pela Lei 11.101/2005, a Lei de
Recuperações e Falências – LRF).
Por fim, o último dos grandes Códigos, apesar de ter iniciado suas discussões e
tramitação ainda no séc. XIX, só viria a se transformar em Código Civil em
1916. Com ele, fecha-se o ciclo da Codificação, esse movimento de
criação dos grandes Códigos característicos do séc. XIX.
O CC/1916 é exemplar, bem mais conciso que seus pares europeus, contando
com “apenas” 1.807 artigos (o Code Napoléon tinha 2.281 artigos, o BGB, outros
2.382 artigos, e o Codice italiano, 2.969 artigos). O Código brasileiro unia o
melhor dos dois mundos: as concepções jusprivatísticas liberais, de cunho avant-
garde francesa, com técnica e o apuro, a Technik alemã.
Ainda assim, o CC/1916 era fruto de seu tempo e espaço. A realidade brasileira
era bastante distante do dever-ser codificado. O país era ainda dominado pela
“prole” da aristocracia agrária luso-brasileira, receosa quanto aos “novos
tempos”. Essa classe, porém, já sentia os impactos da nova burguesia liberal e
da nova classe média conservadora.
O Código se torna um produto de seu tempo, com as contradições que lhe são
evidentes. O Direito de Família é marcadamente patriarcal, com clara opção pelo
absolutismo do poder marital, da submissão da mulher ao marido e do controle
da sociedade conjugal pelo homem, com poder praticamente ilimitado sobre os
filhos. Moralista – numa perpetuação da falsidade dominante numa sociedade
que se constitui à margem dos preceitos pios –, impede o divórcio e a filiação
ilegítima; discrimina os filhos e a mulher em nome da manutenção da instituição
familiar.
Era um Código que aspirava os ideais liberais
e progressistas da nova burguesia, mas
mantinha os pés firmes no conservadorismo
aristocrático. Refletia técnica e dogmática
típicas de um punhado de juristas da “capital”, sem grande consideração
com a realidade interiorana do país, marcada pela informalidade, pela
ausência de conhecimento acadêmico e pelo vasto analfabetismo.
Orlando Gomes, em sua magistral e atemporal obra “Raízes históricas e
sociológicas do Código Civil brasileiro”, de 1958, desvela os meandros da
monumental obra do Direito Civil nacional. Talvez uma frase do “pai” do Código,
Clóvis Beviláqua, revele as ambiguidades que marcaram tão importante lei:
Se cumpre evitar do individualismo o que ele contém de exageradamente egoísta e
desorganizador, não é perigo menor resvelar no socialismo absorvente e aniquilador dos
estímulos individuais.
1
Ou, numa mais direta e literal, o “Livro de leis dos burgueses”. Burgueses no sentido de
“habitante do burgo”, obviamente, sem a noção ideológica eventualmente aí encarada, mas no
sentido de “civil”, de “cidadão”.
é também constitucional, quando aquela nesta encontra escora. Mas não só. A
constitucionalização é também substancial.
A constitucionalização substancial “é a expressão normativa e vinculante
dos princípios, expressos ou implícitos na ordem constitucional
positivada, e que compõem o ordenamento”. Assim, necessário que as
normas infraconstitucionais sejam reinterpretadas à luz dos princípios contidos
no texto constitucional. Não apenas os princípios explícitos, mas também os
implícitos, geralmente ignorados pelo intérprete.
A doutrina mais apressada geralmente para por aí, crendo que a
constitucionalização tem esse duplo aspecto formal e substancial/material; crê-
se que a constitucionalização do direito civil seja a inserção de suas normas no
texto constitucional (numa via) e sua reinterpretação a partir dos princípios
constitucionais (na outra via). Não obstante, essa dupla perspectiva ignora a mais
relevante das vertentes da constitucionalização: a prospectiva.
A constitucionalização prospectiva busca:
(...) os significantes cujos sentidos são apropriados pela representação jurídica,
num determinado espalho e ao curso de certo
tempo, ora com o fim de legitimar escolhas
previamente levadas a efeito na supremacia
cultural dos interesses sociais, econômicos e
históricos, ora na contramão de tais interesses.
Constitucionalização formal
Constitucionalização substancial
Constitucionalização prospectiva
Nada obstante, se ao longo da aula ficou claro que a distinção repugnante entre
a união estável e o casamento em diversos momentos era inconstitucional,
tratam-se de dois institutos diversos, especialmente porque a primeira espécie
de união é marcada por ser fática, ao passo que a segunda, o casamento, pela
formalidade jurídica típica. Por isso, ainda que em termos diversos seja
necessário, a partir da constitucionalização prospectiva, apagar as diferenças
entre os institutos, em determinados momentos essas distinções se
mostram salutares, como bem aponta o STJ:
DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO DE FAMÍLIA. CONTRATO DE LOCAÇÃO.
FIANÇA. FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA DE OUTORGA
UXÓRIA. DISPENSA. VALIDADE DA GARANTIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ.
1. Mostra-se de extrema relevância para a construção de uma jurisprudência consistente
acerca da disciplina do casamento e da união estável saber, diante das naturais diferenças
entre os dois institutos, quais os limites e possibilidades de tratamento jurídico diferenciado
entre eles.
2. Toda e qualquer diferença entre casamento e união estável deve ser analisada a partir
da dupla concepção do que seja casamento - por um lado, ato jurídico solene do qual decorre
uma relação jurídica com efeitos tipificados pelo ordenamento jurídico, e, por outro, uma
entidade familiar, dentre várias outras protegidas pela Constituição.
3. Assim, o casamento, tido por entidade familiar, não se difere em nenhum aspecto da
união estável - também uma entidade familiar -, porquanto não há famílias timbradas como
de "segunda classe" pela Constituição Federal de 1988, diferentemente do que ocorria nos
diplomas constitucionais e legais superados. Apenas quando se analisa o casamento como
ato jurídico formal e solene é que as diferenças entre este e a união estável se fazem
visíveis, e somente em razão dessas diferenças entre casamento - ato jurídico - e união
estável é que o tratamento legal ou jurisprudencial diferenciado se justifica.
4. A exigência de outorga uxória a determinados negócios jurídicos transita exatamente por
este aspecto em que o tratamento diferenciado entre casamento e união estável é
justificável. É por intermédio do ato jurídico cartorário e solene do casamento que se
presume a publicidade do estado civil dos contratantes, de modo que, em sendo eles
conviventes em união estável, hão de ser dispensadas as vênias conjugais para a concessão
de fiança.
5. Desse modo, não é nula nem anulável a fiança prestada por fiador convivente em união
estável sem a outorga uxória do outro companheiro. Não incidência da Súmula n. 332/STJ
à união estável (REsp 1299866/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 25/02/2014, DJe 21/03/2014).
A licença maternidade prevista no artigo 7º, XVIII, da Constituição abrange tanto a licença
gestante quanto a licença adotante, ambas asseguradas pelo prazo mínimo de 120 dias.
Interpretação sistemática da Constituição à luz da dignidade da pessoa humana, da
igualdade entre filhos biológicos e adotados, da doutrina da proteção integral, do princípio
da prioridade e do interesse superior do menor. 2. As crianças adotadas constituem grupo
vulnerável e fragilizado. Demandam esforço adicional da família para sua adaptação, para
a criação de laços de afeto e para a superação de traumas. Impossibilidade de se lhes
conferir proteção inferior àquela dispensada aos filhos biológicos, que se encontram em
condição menos gravosa. Violação do princípio da proporcionalidade como vedação à
proteção deficiente. 3. Quanto mais velha a criança e quanto maior o tempo de internação
compulsória em instituições, maior tende a ser a dificuldade de adaptação à família adotiva.
Maior é, ainda, a dificuldade de viabilizar sua adoção, já que predomina no imaginário das
famílias adotantes o desejo de reproduzir a paternidade biológica e adotar bebês.
Impossibilidade de conferir proteção inferior às crianças mais velhas. Violação do princípio
da proporcionalidade como vedação à proteção deficiente. 4. Tutela da dignidade e da
autonomia da mulher para eleger seus projetos de vida. Dever reforçado do Estado de
assegurar-lhe condições para compatibilizar maternidade e profissão, em especial quando
a realização da maternidade ocorre pela via da adoção, possibilitando o resgate da
convivência familiar em favor de menor carente. Dívida moral do Estado para com menores
vítimas da inepta política estatal de institucionalização precoce. Ônus assumido pelas
famílias adotantes, que devem ser encorajadas. 5. Mutação constitucional. Alteração da
realidade social e nova compreensão do alcance dos direitos do menor adotado. Avanço do
significado atribuído à licença parental e à igualdade entre filhos, previstas na Constituição.
Superação de antigo entendimento do STF. 6. Declaração da inconstitucionalidade do art.
210 da Lei nº 8.112/1990 e dos parágrafos 1º e 2º do artigo 3º da Resolução CJF nº
30/2008. 7. Provimento do recurso extraordinário, de forma a deferir à recorrente prazo
remanescente de licença parental, a fim de que o tempo total de fruição do benefício,
computado o período já gozado, corresponda a 180 dias de afastamento remunerado,
correspondentes aos 120 dias de licença previstos no art. 7º, XVIII,CF, acrescidos de 60
dias de prorrogação, tal como estabelecido pela legislação em favor da mãe gestante. 8.
Tese da repercussão geral: “Os prazos da licença adotante não podem ser inferiores aos
prazos da licença gestante, o mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação
à licença adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da idade da criança
adotada” (RE 778889, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
10/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG 29-
07-2016 PUBLIC 01-08-2016).
à moradia não atinge apenas o casal, mas todos os que se encontram em situação
equivalente. Cuida-se, portanto, de direito individual indisponível, sobre o qual não pode
transigir. Hodiernamente, não podemos perder de vista a evolução do direito civil, com a
sua crescente constitucionalização, principalmente com a entrada em vigor do novel Código
Civil, que possibilita a proteção plena da pessoa humana contra a ingerência do Estado.
Sem esquecer que o direito à moradia se constitui em um direito da personalidade, por isso
é inato e indisponível. Dessarte, não existe dúvida sobre a legitimidade ativa do MPF (REsp
1602907/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017,
DJe 30/06/2017).
Questões
Gabaritos
Resumo
Constitucionalização formal
Constitucionalização substancial
Constitucionalização prospectiva
Considerações Finais
Chegamos ao final desta aula e, com ela, chegamos ao final do nosso Curso!
Inclusive, ficam os meus parabéns antecipados para você, que está se
fazendo preparação de longo prazo, mais cuidadosa, e já voltada à
carreira que pretende apostar alto! =)
Como de hábito, quaisquer dúvidas, sugestões ou críticas, entrem em contato
comigo. Estou disponível no fórum no Curso, por e-mail e, inclusive, pelo
Facebook.
Espero que tenha gostado das aulas e da disciplina de Direito Civil e que
elas possam efetivamente ajudar você no dia da prova! Espero comentários sobre
o curso, sejam eles positivos (fica a dica!), sejam negativos. Sempre, é claro,
nos apontando o que pode ser melhorado e aquilo que ficou marcado como legal
para você.
Sei que prova que você pretende prestar é disputadíssima, dado o cargo, mas eu
sinceramente, de todo o coração, espero que você consiga a tão sonhada
Chegamos ao final desta aula. Vimos mais uma Lei Especial que pode aparecer
na sua prova. Você pôde ver, ela vem caindo, ainda que não muito, com
continuidade nos certames de Nível Superior.
Por se tratar de uma lei mais curta e simples, não muito sujeita a pegadinhas e
coisas do gênero, vale dar uma boa lida nela. Não mais que isso, já que é melhor
rever as leis mais espinhosas que aparecem no seu Edital.
Na aula que vem, continuaremos com nossa Legislação Civil Especial. Quaisquer
dúvidas, sugestões ou críticas entrem em contato conosco. Estou disponível no
fórum no Curso, por e-mail e, inclusive, pelo Facebook.
Aguardo vocês na próxima aula. Até lá!
Paulo H M Sousa
prof.phms@gmail.com
facebook.com/prof.phms