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BRASILEIRA I
Introdução
A história é um importante elemento para a observação de fenômenos
sociais, tais como as práticas alimentares, possibilitando o entendimento
do homem como ser integral e permitindo verificar potenciais evoluções
em seu comportamento ou formas de lidar com panoramas de crise.
Neste capítulo, você vai descobrir como ocorreu a constituição histó-
rica da cultura alimentar brasileira, verificando suas principais influências
e interações, as quais contribuíram para a riqueza culinária do país. Além
disso, serão provocados pensares sobre a dinâmica da alimentação con-
temporânea e seus aspectos globais e locais e sobre como todo esse
contexto pode gerar inovação.
Influências gastronômicas
Colonização portuguesa
Além de contribuir com a criação da feijoada, a mais forte influência gastro-
nômica portuguesa está associada ao consumo de doces, que, trazidos com
Cabral, foram pela primeira vez degustados pelos índios (LESNAU, 2004).
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Além disso, o uso farto de gemas de ovos na doçaria, trazidos pelo costume
português, simbolizava civilidade e riqueza no Brasil Colônia, haja vista que as
galinhas, vindas com as caravelas, eram raras e caras. Nesses termos, deu-se
a incorporação do consumo de aves e ovos pela população brasileira em for-
mação, como símbolo de status social, e a introdução da galinha doméstica no
ecossistema brasileiro, modificando hábitos alimentares desde os períodos mais
iniciais de colonização da América Portuguesa (VANDER VELDEN, 2012).
Remetendo-se também à influência portuguesa, Freyre (2003, p. 65)
descreve que a nascente sociedade brasileira formada na América tropical,
“[...] agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica,
híbrida de índio – e mais tarde de negro – na composição [...]”, tinha singular
predisposição portuguesa para a colonização híbrida, a qual era relacionada
ao seu passado étnico, inter-relacionando fortemente Europa e África, cujos
resultados se observam na diversidade de estereótipos físicos, em padrões
alimentares e em crenças religiosas.
Portanto, é importante esclarecer que a miscigenação também é um legado
de Portugal, já não conformado com europeus puros, mas acostumados à
mescla cultural que encontrou no calor dos trópicos, possibilidades outras
que também se traduziram em novas práticas alimentares.
Assim, surgiu nossa adaptabilidade e a capacidade de absorver influências
culturais, seja por gosto ou por necessidade, que possibilitam a configuração
de novos hábitos ou de ressignificados, os quais Kaspar (2016, p. 4) ilustra
com um emblemático exemplo:
Cultura indígena
A influência indígena na alimentação brasileira pode ser vista em diversos
elementos, entre eles, o milho, a batata doce, a banana da terra, o mate e o
feijão. Entretanto, a mais marcante delas é, sem dúvida, a mandioca.
Silva e Murieta (2014) destacam que o tubérculo já era domesticado pelos
ameríndios há, pelo menos, 8 mil anos antes da chegada dos europeus, havendo
6 História da alimentação no Brasil
Vale salientar que a dupla feijão com arroz, comentada pelo autor, guarda
em verdade dois legados históricos: a leguminosa de uso indígena e o arroz,
hábito alimentar africano.
Cultura africana
Quanto aos hábitos africanos, é preciso esclarecer que, além da cultura dos
insumos típicos, a tradição alimentar africana no Brasil está inicialmente
História da alimentação no Brasil 7
Pela calamidade das condições, como foram trazidos para o Brasil, se torna
óbvio concluir que, ainda que desejassem, os negros escravizados não tiveram
a possibilidade de trazer consigo os insumos necessários para a preparação
de suas receitas tradicionais.
Mas, por outro lado, foram paulatinamente adaptando suas receitas, com
gosto de saudade, aos produtos encontrados no Brasil e aos pratos portugueses
e indígenas, com o jeito africano de preparar, construindo uma alimentação
legitimamente afro-brasileira. Um comentário de Cascudo (2011) ilustra bem
essa ideia, pois, com o passar do tempo, os africanos ocidentais teriam difi-
culdades em compreender que o milho, o amendoim e a mandioca não seriam
nativos de sua terra-mãe, sendo estes fundamentais na sua nutrição.
Por outro lado, Dória (2014) dissocia a visão romântica que afigura a
imagem histórica das negras como grandes cozinheiras, argumentando, com
precisão, que a escravidão, ao suprimir a liberdade, também impossibilitou
a criatividade culinária. O autor completa ainda que os pratos africanos não
foram transplantados da África e que estes só passaram a surgir com a ocor-
rência da abolição.
Assim, as técnicas de preparo e os modos de manuseio foram as primeiras
influências, sob a ótica do africano escravo, da comida brasileira, embora, com
o tempo e as modificações dos processos históricos, tenham sido observados
mais e mais legados africanos na cultura.
Os negros de ganho, que comercializavam produtos nas ruas em nome do
seu senhor, vendiam comidas que se aproximavam, cada vez mais, da culinária
da África, além das comidas de orixá, as quais ressignificavam a cultura
africana, fortalecendo suas origens e simbolizando a resistência do povo negro.
8 História da alimentação no Brasil
Para saber como a manutenção das crenças religiosas e a prática de oferendas aos
orixás estimularam a preservação da cultura africana no Brasil, acesse o link a seguir.
https://goo.gl/UWLLkR
Fonte: lazyllama/Shutterstock.com.
Por ter uma cor roxa escura e sabor exótico, sem nota doce, somando-se o apelo
de ser um produto nutracêutico, o açaí ganhou o interesse de consumidores do
mundo inteiro.
Apesar disso, pouco já foi feito em termos de comprovação científica de suas pro-
priedades funcionais e antioxidantes (CARMELIO, 2010, p. 14).
10 História da alimentação no Brasil
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Leitura recomendada
SANTOS, C. R. A. A alimentação e seu lugar na história: os tempos da memória gustativa.
Revista da Academia Paranaense de Letras, n. 51, p. 165-188, 2005. Disponível em: <http://
www.historiadaalimentacao.ufpr.br/artigos/artigo001.htm>. Acesso em: 24 abr. 2018.
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