Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
período
º
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Didática
didática
2ª EDIÇÃO
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da Educação Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Aloizio Mercadante Oliva Betânia Maria Araújo Passos
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
As concepções de educação que fundamentam o ato de ensinar: Expressão da ação
política do homem, para educar o homem, que, por meio de suas ações, produz e
reproduz a história do universo onde habita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
As tendências pedagógicas implantadas na educação escolar brasileira: propostas de
ensino- aprendizagem/viabilização de interesses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Planejamento de ensino: importância e elementos estruturantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Diferentes formas de trabalho pedagógico na contemporaneidade: projetos de
trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2 O contexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Ciências da Religião - Didática
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a),
Bom estudo!
9
Ciências da Religião - Didática
Unidade 1
As concepções de educação que
fundamentam o ato de ensinar:
expressão da ação política do PARA SABER MAIS
1.1 Introdução
clara a necessidade
de formar pessoas
capazes de falar e agir
por si próprias, o que
significa capazes de se
Caro(a) acadêmico(a), apresentamos a (1991), Haidt (2003), Veiga (2001-2002), Saviani libertar da condição de
você a primeira unidade da disciplina Didá- (1991-1993), Gasparim (2007), Silveira Rodri- tutela para se tornar
um ser crítico diante da
tica I. O nosso objetivo principal é oferecer gues (2006), Suchodolski (1984), Damis (2001),
sociedade. Assim, preci-
elementos necessários à reflexão acerca da Resende (1989), Platão (1989), Agostinho samos ter claro que, na
Didática norteada pelas diversas concepções (1980), Aquino (2001), Marx (1996), Descartes lógica aqui atribuída,
de educação, as quais fundamentam as ten- (1979), Chatelet (1974), Gramsci (1995). a educação emancipa-
dências pedagógicas que norteiam as relações Iniciaremos nosso estudo alertando que tória é condição para
o desenvolvimento
ensino-aprendizagem que permeiam as práti- pensar a Didática implica pensar no ato de en-
das relações sociais,
cas educacionais nas escolas brasileiras. sinar, o qual, por sua vez, traduz uma ação do políticas, econômicas
Queremos que você saiba que, ao ler os homem, que, como qualquer outra ação, traz e culturais de forma
textos encontrados nesta unidade, vamos dia- em si uma intenção. Afirmar que cada ação ex- contextualizada,
logar a respeito de questões referentes às con- pressa uma intenção é basear-se no ponto de condição indispensável
ao fortalecimento do
cepções de educação presentes no decorrer vista de que o homem é um animal político,
trabalho pedagógico
da história da humanidade, com base em uma como já dizia Aristóteles. de qualidade, o que,
perspectiva histórico-crítica. Diante da colocação acima, podemos por sua vez, é necessá-
Sendo assim, é importante esclarecermos concluir que as ações do homem são políti- rio para a formação de
que, aqui, partimos dos pressupostos de que a cas, ou seja, precisamos compreender que ne- sujeitos emancipados.
Ou seja, preparados no
educação, como todos os elementos que com- nhum ato do homem é neutro. Nessa direção,
sentido que se refere
põem as relações entre homem e natureza, é compreendemos que a forma como nós seres aos aspectos culturais,
produto do trabalho do homem, realizado no humanos agimos diante de qualquer situação antropológicos, eco-
decorrer da história da sociedade. é determinada pela nossa maneira de conce- nômicos e políticos, de
Portanto, para estudarmos tais assuntos ber o mundo, que, por sua vez, define os nos- forma que se tornem
capazes de viver de
propostos, ancorar-nos-emos no pensamen- sos interesses.
forma autônoma.
to de teóricos que serão utilizados para nos Com base nas considerações acima, res- Fonte: www.dicionario-
proporcionar espaço de problematização e re- saltamos que o ato de ensinar também não online.com.br
flexão acerca dos conteúdos de Didática aqui é neutro. Sendo assim, para deslanchar esse
abordados. Dessa forma, buscaremos respal- estudo, você precisa levar em conta que parti-
do no pensamento de autores como: Libâneo mos do pressuposto de que o professor ensina
11
UAB/Unimontes - 1º Período
PARA SABER MAIS de uma forma ou de outra porque aprendeu seguintes indagações: Quais as concepções de
Quando falamos de ou aprimorou aquela maneira, cujos funda- educação que fundamentam as teorias do en-
emancipação não mentos foram pensados, no contexto de uma sino-aprendizagem propostas pelas tendên-
estamos falando
segundo a versão
sociedade em alguma circunstância histórica, cias pedagógicas que fundamentam as práti-
dicionarizada por pessoas movidas pelos interesses que pre- cas educacionais nas escolas brasileiras? Quais
que concebe a dominavam em cada época da história. as visões de mundo que fundamentam essas
emancipação como a Esclarecemos que, na direção ora propos- concepções de educação? Em que contexto
libertação; chegada à ta, entendemos que a maneira como o profes- e a serviço de que interesses tais concepções
maioridade. Porém, o
sentido que atribuímos
sor ensina expressa o que ele pensa, sente e, foram produzidas? Quais são suas característi-
à palavra emancipação principalmente, o que deseja, ou seja, a sua in- cas? Até que ponto essas concepções se crista-
aqui está de acordo tenção, caso tenha consciência do que faz. lizaram e permanecem presentes na educação
com Adorno (2003), Lembre-se de que, caso o professor ensi- escolar atual?
quando esse fala a ne repetindo mecanicamente uma forma de Diante da contextualização e da proble-
respeito da educação
emancipatória como
ensinar que aprendeu, sem pensar em quan- matização que apresentamos, faz-se necessário
caminho para formar do, onde e como, em que contexto essa for- iniciarmos esse estudo com uma reflexão acer-
o sujeito racional, ma de ensinar foi criada, esse professor estará ca das diferentes concepções de educação que
não de acordo com correndo o risco de expressar a concepção de deram origem às teorias clássicas do ensino-
a razão instrumental mundo de outros, que o leva a realizar os in- -aprendizagem produzidas no decorrer da his-
e manipuladora,
mas sim por meio
teresses de outros, e de negar seus interesses, tória da civilização e que vêm fundamentando
de um caminho que assumindo a condição de alienado. as tendências pedagógicas que definem a Di-
eleva o homem a se Gostaríamos que, na direção das refle- dática vivenciada na prática pedagógica das es-
desenvolver autônomo. xões que apresentamos nos parágrafos ante- colas brasileiras no decorrer da história da edu-
Nessa direção, Adorno riores, você pensasse conosco a respeito das cação deste país até os dias atuais.
afirma que uma
educação verdadeira é
aquela com- prometida
12
Ciências da Religião - Didática
-conhecimento, relacionava sua concepção de a prática do pensar e, assim, conduzia-se o PARA SABER MAIS
educação com a profissão de sua mãe, que era parto espiritual que proporcionava condições Com base nas ideias
parteira. ao aluno para o autoconhecimento e desco- dos filósofos que vive-
Esclarecemos que Sócrates tinha uma vi- berta do belo. ram na Grécia a partir
são de mundo que se manifestava idealista, Ao pensarmos a respeito da concepção do século IV a.C. é que
essencialista quando propunha a busca do co- de educação de Sócrates, vamos voltar o nos- foram elaboradas várias
concepções de homem
nhecimento da identidade, ou seja, do conhe- so olhar para a concepção de educação de Pla- que até hoje definem
cimento da essência que cada um já traz consi- tão, discípulo de Sócrates, pertencente a uma as visões de mundo e,
go desde que nasce. nobre família ateniense, o qual dá continuida- consequentemente,
Alertamos, assim, que, nessa perspectiva, de às ideias de seu mestre. a maneira de agir das
a concepção de educação é inatista, lembran- Para continuarmos nossa conversa, você pessoas, os valores;
enfim, a sociedade. Ao
do-se de que, para Sócrates, a pessoa só pode precisa ter clara a afirmação de Platão de que falar da Grécia, estamos
se conhecer por meio de seus pensamentos, só os cidadãos livres passavam do mundo das falando de um aglome-
ao buscar voltar-se para si mesma. aparências para o mundo das ideias da essên- rado de cidades (polis),
Dessa forma, podemos compreender cia, do mundo da opinião para o mundo da que não dependem
que, para Sócrates, o professor não devia ensi- razão. Assim, fica visível o caráter excludente e umas das outras e que,
na maioria das vezes,
nar diretamente, pois ele nada sabe. elitista do pensamento de Platão que selecio- são rivais. Essas cidades
Você precisa saber que, nessa direção, ao na as pessoas capazes de pensar lógica e me- se modificavam de
professor cabia tirar da alma do aluno o que todicamente, que eram os cidadãos filósofos, acordo com o poder
estava sendo gerado. E, na convivência de seres libertos da ilusão, capazes de governar. adquirido ou perdido,
ambos, por meio de indagações, promovia-se Segundo Platão, por meio de derrotas e
vitórias, ao se enfrenta-
rem guerreando.
Um homem perfeito só pode ser um perfeito cidadão. É necessário conhecer o A forma de governo
bem para ser um homem de bem ou um bom cidadão. Se não o conhecer por naquele contexto era
si mesmo em todo seu esplendor, convém pelo menos ser orientado por aque- a democracia. Os es-
les que se elevaram até este conhecimento, ou seja, os filósofos. Eis por que é cravos eram as pessoas
necessário, para o bem de todos, que os filósofos sejam considerados os líderes que pertenciam às ci-
da cidade (PLATÃO, 1989, p.32). dades derrotadas pelas
suas rivais durante as
Ressaltamos que, de acordo com o pen- Salientamos, portanto, que, nesse con- batalhas. O homem era
samento de Platão, conforme apresentamos texto, sendo a educação uma necessidade livre somente entre os
anteriormente, em uma fase de sua vida, con- do Estado, inclusive para se manter, o Estado seus iguais. No governo
democrático, cidadãos
cebia que o homem era livre perante os seus é responsável pela educação, e o legislador é livres não passavam
pares e apenas poucas pessoas tinham a capa- também um educador, em prol da formação de 500 homens, sendo
cidade de ver os fenômenos além das aparên- de homens com as características necessárias estes aristocratas, o que
cias, esta qualidade era para poucas pessoas. ao exercício da obediência às leis, necessárias não incluía escravos,
Dessa forma, a educação era concebida por para uma cidade justa. mulheres e campone-
ses.
Platão como o resultado da natureza de cada
indivíduo.
Enfatizamos que, aqui, os processos edu-
cativos priorizavam os homens considerados
livres, assim como nos dias atuais a educação
◄ Figura 1: Platão
é concebida com um caráter seletivo e exclu-
Fonte: Disponível em:
dente, por mais que não seja o que consta nos http://www.suapesqui-
discursos oficiais. sa.com/grecia/
Para darmos sequência aos nossos diá-
logos, lembramos-lhe que Platão, em outra
época de sua vida, vê o mundo de forma mais
realista. E, assim, ele muda sua maneira de
conceber o homem: não como livre, mas obri-
gado a agir sob as instâncias da lei.
Na perspectiva que caminha nossa refle-
xão, você precisa ter claro que, diante da nova DICA
visão de mundo de Platão, a sua concepção de
educação encontra-se ligada às leis, partindo Leia Mito das cavernas,
de Platão, In OS PENSA-
do entendimento de que, para cumprir as leis, DORES, São Paulo: Abril
o homem precisa ser educado. Assim, a edu- Cultural, 1980.
cação é concebida como a preparação do ho-
mem para ser cidadão, de acordo com os pa-
râmetros exigidos para a sociedade, o que não Desse modo, ressaltamos que se torna
é diferente da nossa realidade nos dias atuais. necessário pensar como as ideias de política e
13
UAB/Unimontes - 1º Período
PARA SABER MAIS ética teriam que ser passadas para o bom con- com os interesses das classes sociais que se en-
Platão propõe a divisão vívio social. Ou seja, que tipo de educação te- contram no poder em cada época da história.
de classes e estabelece ria de ser proposta. Assim, podemos perceber Podemos, ainda, exemplificar essa pro-
que cada pessoa tem que a educação é concebida como produto do blematização da seguinte maneira: Para os go-
obrigação de cumprir homem, que a projeta e a vivencia, de acordo vernantes, uma educação que prepara para o
seus papéis de forma com interesses de determinados grupos de exercício do poder, o pensar, o falar e o fazer
a manter a harmonia
entre a hierarquia. Para pessoas. direcionado ao uso das armas; para o produ-
isso, era preciso deixar Diante dessa reflexão, lembramos-lhe que tor, o treinamento por meio da observação e
de lado as desilusões a origem dos sistemas educacionais relaciona- da imitação; para os considerados governados
criadas pelos interesses -se aos interesses ligados à sustentação da desi- e para os “socialmente excluídos”, nenhum
individuais. Platão apre- gualdade social de uma determinada época. tipo de educação.
senta suas ideias de
liberdade ainda jovem, Considerando as colocações anteriores, Para você compreender melhor a influ-
no livro A República. urge problematizarmos que, no decorrer da ência do pensamento idealista e seletivo de
Porém, depois de viver história das civilizações, os processos educa- Platão nas diversas concepções de educação,
várias decepções, já em tivos são criados de acordo com as classes so- é pertinente citar Suchodolski quando ele se
uma fase mais madu- ciais. Para você entender melhor, de acordo refere à filosofia de Platão:
ra, ele nega as ideias
idealistas propostas na
República e apresenta Sua importância capital na história espiritual da Europa resulta não só de ter
no livro às Leis ideias sido, por diversas vezes, ponto de partida de várias correntes filosóficas, desde
realistas. Muda, assim, a época helenística, ao Renascimento, mas também de algumas das teses desta
sua concepção de filosofia terem entrado por vezes no domínio público quase geral, tornando-se
homem quando nega a expressão da posição idealista mais vulgar em relação à realidade. Isto revelou-se
liberdade da República particularmente fértil no campo da pedagogia (SUCHODOLSKI, 1984, p.19).
por meio da proposta
da ordem natural. A Ressaltamos, também, que, dessa maneira, filósofo, por meio do seu pensamento, dá con-
esse respeito, Chatelet esta concepção de educação separa teoria da tinuidade às várias ideias de Platão, até mesmo
1974 comenta que, nas prática quando define que algumas pessoas já porque era seu discípulo. Contudo, ressalta-
Leis, é proposto um
estado definitivo do nascem com a capacidade de praticar, enquan- mos que essa continuidade ao pensamento de
ensinamento político to outras nascem com a capacidade de pensar. Platão não é na integra, pois Aristóteles rompe
do platonismo, em que Tais qualidades são determinadas de acordo com algumas ideias de Platão, o que influencia
Atenas é governada com a identidade da classe social de cada um. em sua concepção de educação, como vere-
pelas regras das leis, Caro(a) acadêmico(a), após as nossas con- mos a seguir.
que demandam um
legislador para criá-las versas anteriores, nós podemos concluir que Caríssimos(as), após termos refletido
e colocá-las em prática a concepção de educação centrada nas ideias acerca de elementos referentes à concepção
para organizar a vida socrático-platônicas não é dialética porque de educação de Platão, dedicaremos agora as
coletiva atual do ser defende que a verdade está pronta e acabada nossas reflexões a respeito do pensamento
humano. por ser centrada na alma, na essência, e, assim, de Aristóteles, considerando que ele diz que
traz um modelo ideal de mundo pré-determi- o homem é um ser racional e, assim, é um ser
nado, que precisa apenas ser descoberto no pensante. Dessa maneira, o homem deve viver
decorrer do processo educacional. de acordo com sua consciência reflexiva, que é
Desde que já tenhamos consciência do a essência do ser racional.
que discutimos, para continuarmos nossas re- Para continuarmos, precisamos, portanto,
flexões, lembramos-lhe que já dialogamos a esclarecer-lhe que, para Aristóteles, o ato de
respeito da concepção de educação presente pensar é um ato racional, que é a essência da
na filosofia ou maneira de pensar de Sócrates natureza humana. O pensamento comanda os
e Platão. demais atos humanos que podem ser condu-
Sendo assim, conforme propomos no iní- tas éticas, que o direcionam ao equilíbrio e de-
cio desse diálogo, agora convidamo-lo (a) para finem sua postura.
pensarmos na concepção de educação pre- Dessa forma, queremos que você se lem-
sente na visão de mundo de Aristóteles. bre de que Aristóteles, ao considerar o homem
Precisamos que você tenha claro que esse com ser pensante, nega o pensamento de Pla-
convite ajudará conhecer um pouco mais a tão, o qual defende que a qualidade de pensar
respeito de como as ideias dos filósofos que não era para todos os homens, mas apenas
representam a Paidéia Grega ainda encon- para os aristocratas.
tram-se presentes na maneira de ensinar uti- Assim sendo, afirma a ideia de que o ho-
lizada nas práticas pedagógicas que vivencia- mem tem como potência a possibilidade de
mos na escola atualmente. transformar o mundo em que vive. Nesse con-
Vamos, agora, dialogar buscando pensar- texto, entendemos que Aristóteles busca de-
mos a respeito da concepção de educação de fender a ideia da dialética, mesmo não conse-
Aristóteles (384-322 a.C.), e, para tanto, caro (a) guindo, como veremos logo mais.
acadêmico (a), você precisa ter claro que esse Para a sua melhor compreensão do as-
14
Ciências da Religião - Didática
sunto, você não pode se esquecer de que, ao lógica, podemos perceber a defesa de uma PARA SABER MAIS
contrário de Platão, Aristóteles é mais realista concepção de educação que se fundamenta Aristóteles organiza o
do que idealista. Concebe a educação de for- em condicionamentos. Afirmamos porque conhecimento grego
ma realista e diz que o desenvolvimento do sabemos que, por meio de condicionamento, e , com essa organiza-
homem segue uma lógica que é: potencial podemos modelar as pessoas a adquirir de- ção, ele exerce forte
inato (natureza), hábito, ensino (razão). terminados hábitos conforme determinadas influência na cultura do
Ocidente? Aristóteles
Esclarecemos-lhe que, por meio dessa conveniências. diz que o homem é
um animal político e
que a ciência teria que
observar a constituição
dos seres por meio dos
sentidos. Segundo ele,
para alcançar a essên-
cia, é preciso ir do espe-
cífico para o genérico.
Defende, assim, a tese
de que o conhecimento
é construído por meio
da indução que é a
base intelectual.
◄ Figura 2: Modelo de
escola na Idade Média
Fonte:http://www.educa-
dores.diaadia.pr.gov.br/
arquivos/
File/tvmultimidia
/imagens/2010/
pdagogia/4histedidade
mediauniv.jpg
GLOSSÁRIO
Dialética: (do grego
διαλεκτική). Era, na
Grécia Antiga, a arte do
Alertamos para o fato de que, naquele elaborada pelas mãos do homem, rompen- diálogo, da contrapo-
contexto, a educação era concebida como do com a ideia platônica de que a educação é sição e contradição de
ideias. www.dicionario-
um processo no qual o mestre dava ao ho- uma atividade meramente teórica. online.com.br
mem as condições de aprendizagem prati- Chamamos a sua atenção para o fato de
cando, por entender que, por meio do hábito, que, nessa perspectiva, a educação se dá por Maiêutica: Criada por
deve-se aprender o que é preciso fazer. Desse meio do uso dos sentidos e das mãos. Nasce Sócrates no século IV
modo, o homem aprenderia a ser um nobre a ideia do aprender fazendo que predomina a.C., a maiêutica é o
momento do “parto”
ou um ser inferior. nas abordagens em que o professor não ensi- intelectual da pro-
Gostaríamos que você compreendesse na, mas orienta por meio de suas atitudes, fato cura da verdade no
que Aristóteles valoriza a atividade prática, que não significa conceber a educação de for- interior do Homem. A
que antes era destinada apenas aos conside- ma dialética. auto-reflexão, expressa
rados seres inferiores. É importante você en- Logo, posicionamo-nos quando lembra- no nosce te ipsum -
“conhece a ti mesmo”
tender, também, que Aristóteles discorda de mos que Aristóteles diz que o homem já nasce -, põe o Homem à
Platão quando esse diz que a aprendizagem com potência que se materializará por meio procura das verdades
é inata e torna-se material por meio da mai- da observação e do ato, repetido por várias universais que são o
êutica. vezes, que consiste no treino, como propõem caminho para a prática
Na concepção aristotélica, a educação as concepções técnicas, condicionantes. A do bem e da virtude.
Sócrates aplicou-a
ocorre por meio da experiência da prática esse respeito, Marz afirma: para questionar os da
nobreza grega, que se
[...] podemos dizer que Aristóteles é realista também nas suas ideias sobre o julgava superior e apta
homem. Se considerarmos os três fatores principais, que, segundo ele, deter- a controlar e orientar os
minam o desenvolvimento espiritual do homem - isto é: disposição inata, há- demais, pertencentes
bito e ensino - é altamente significativa a modesta importância que atribui ao ao povo. www.diciona-
ensino. Aproxima-se neste ponto, do resignado idealista Platão. Manifesta-se rioonline.com.br
favorável às medidas educacionais condicionantes: discurso e instrução (...) cer-
tamente não tem eficácia para todos os homens; a alma do ouvinte precisa ser
15
antes cultivada pelo hábito (...) (MARZ ,1987, p.11).
UAB/Unimontes - 1º Período
Erram, pois, os homens ao chamar de mestres os que não são, porque na maio-
ria das vezes entre o tempo da audição e o tempo da cognição nenhum inter-
valo se interpõe; e porque como depois da admoestação do professor, logo
aprendem interiormente, julgam que aprenderam pelo mestre exterior que
nada mais faz do que admoestar (...) (AGOSTINHO,1980, p. 323-324).
Assim, podemos considerar essa concep- comodado e busca a contemplação que o leva
ção de educação contemplativa, em que, por ao auto-conhecimento que significa encontrar
meio do verbalismo do professor, o aluno é in- a essência por meio da reflexão. Concebe que
16
Ciências da Religião - Didática
(...) alma intelectiva, sendo compreensiva dos universais, tem faculdade para
infinitas coisas. E, por isso, a natureza não lhe podia estabelecer determinados PARA SABER MAIS
conhecimentos naturais, ou ainda, determinados auxílios de defesa ou de pro- Quando nasce a nova
teção, como para os outros animais, cujas almas têm apreensão para cousas escola burguesa, nasce
particulares. Mas, em lugar de tudo isso, o homem tem naturalmente a razão; e o humanismo, um mo-
as mãos, órgãos dos órgãos, e com elas pode preparar para si instrumentos de vimento de cunho aris-
modos infinitos e com infinitos efeitos (AQUINO, 2001, p. 663). tocrático, contrário à
cultura medieval. Nesse
Ao compreendermos que Aquino nega Ressaltamos, também, que Aquino trata a contexto, formam-se as
que a pessoa já nasce com o conhecimento, educação intelectual como intencional. Ou seja, classes sociais do clero,
da nobreza e da bur-
pressupõe-se que elas não precisam ser edu- os atos do homem não são neutros, pois ele é guesia. Nesse ambiente,
cadas. Para acontecer a educação, é necessária um ser pensante. Logo, se entendemos que a dá-se início ao processo
uma relação íntima entre a razão e as mãos. O Didática diz respeito ao ato de ensinar do pro- de venalidade da ciên-
professor não ensina, mas, por meio dos atos, fessor que é um homem, a Didática não é neu- cia, em que se procura
oferece um ambiente adequado à observação tra, mas sim carregada de interesses. Diante da formar o profissional do
mundo, que busca uma
dos alunos, que, por sua vez, memoriza-os por premissa ora apresentada, pode afirmar que, profissão.
meio da imitação. Afirma, ainda, que tal relação para Aquino, a educação não é neutra. Martinho Lutero foi o
é a característica do homem, possibilitando-lhe Precisamos entender que Aquino conce- primeiro a propor a uni-
transformar o mundo. be a educação como um fenômeno ativo, não versalização do saber?
Na obra de Magistro, ao defender que o mecânico. Com base nas ideias de Aristóteles, ATENÇÃO! Ele foi o
primeiro a pensar
espírito é integrado à matéria, Aquino contradiz a educação é como a condução da potência, em ensino básico
as ideias da existência de um só intelecto para a qual é a predisposição inata que a pessoa público gratuito para
todos os homens, defendendo as doutrinas do- tem ao ato estimulado, com fim em si próprio. todos, com interesses
minantes na época. Sua concepção de educa- Aprender fazendo. relacionados à fé, e de
ção também contradiz as doutrinas dominantes Diante dessas ideias, podemos problema- acordo com o espíri-
to do individualismo
na época, ao defender que a pessoa não apren- tizar: Até que ponto a presente concepção de burguês, por meio da
de por si própria, só ouvindo o professor falar e educação pode ser entendida como uma con- defesa da vontade livre
meditando. cepção dialética? do homem, em relação
Podemos observar a defesa da concepção Ora, se seus pressupostos se referem ao que é inferior a ele.
de que a educação é, ao mesmo tempo, ativa e ao entendimento de que a educação não é
contemplativa (teórica e prática), que se inicia por neutra, valoriza a teoria e a prática, ou seja,
meio do intelecto que ilumina tudo que vê, ou propõe o aprender fazendo, não concebe o
seja, pelos órgãos do sentido da visão que apre- aluno como um ser passivo. Dessa forma, po-
ende a imagem de forma a possibilitar a ação in- demos entender que, mesmo não se concre-
telectual intencional que é o pensamento. tizando de forma dialética, a concepção de
17
UAB/Unimontes - 1º Período
18
Ciências da Religião - Didática
mercantil, menos dependente da igreja e Nesse caminho, esclarecemos-lhe que PARA SABER MAIS
do império. E, assim, os interesses políticos Bacon propõe uma ciência que defende a A concepção de
e econômicos revolucionam os métodos de lógica indutiva por meio do método experi- homem de Bacon e
ensino por meio da venda da ciência. mental, com base em generalizações oriun- Descartes que apresen-
Enfatizamos, ainda, que, com o renasci- das de observações repetidas de fenômenos, tamos se tornou o pa-
mento, as ideias racionalistas valorizam a in- com a finalidade de formular leis científicas. radigma dominante da
ciência moderna, que,
telectualidade com o interesse de explorar a Logo, podemos considerar que a concepção por sua vez, considera
natureza e conhecer e controlar as leis que a de educação proposta por meio das ideias que o mundo regido
regem, por meio da observação e experimen- empiristas de Bacon encontra-se em conso- por modelo mecânico
tação dos fenômenos, com o propósito de con- nância com o pensamento de Aquino na Ida- está pronto para ser
firmar ou não hipóteses sobre eles. de Média, quando ele afirma que o conheci- conhecido, por meio
da intervenção técnica.
No cerne desse contexto, a ciência passa mento é construído da abstração intelectual Dos pensamentos dis-
a ter um caráter ativo, de acordo com a lógica a respeito do que é percebido pelos sentidos cutidos nesta unidade,
mecanicista, quantitativa de causa e efeito, por na natureza. A respeito do pensamento em- nasce o humanismo,
intermédio do pensamento de Galileu. Logo pirista, nas palavras de Resende: com base em ideias de
mais esse método é formalizado por Bacon. individualidade, e o
conhecimento é visto
de acordo com os racio-
(...) teoria do conhecimento que explica a origem das idéias a partir de um pro- nalistas. Ou seja, dedu-
cesso de abstração que se inicia com a percepção que temos das coisas através tivo, das ideias para os
de nossos sentidos. “Nada está no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos, ou de acordo
sentidos” – eis um dos lemas do empirismo. É a partir dos dados de nossa sen- com os empiristas:
sibilidade que o entendimento produz, por um processo de abstração, as idéias indutivo, dos sentidos
(RESENDE, 1989, p. 99). para as ideias.
Nessa direção, podemos entender que a nantes, que, por meio da proposta de educação
concepção de educação que origina o pensa- via experiência prática, ou aprender fazendo,
mento em questão tem suas raízes no pensa- que se relaciona com o aprender a aprender,
mento realista de Aristóteles, que se encontra estão a serviço dos interesses originados nas
presente na história da educação brasileira por ideias iluministas, as quais afirmam que o aluno
meio de tendências pedagógicas aqui adota- constrói gradativamente o conhecimento no
das, as quais pressupõem que o aluno constrói decorrer de sua existência, por meio dos estí-
seu conhecimento ao observar a natureza e mulos apresentados no meio em que vive.
escutar o mundo, independentemente do ver- Após termos pensado na concepção de
balismo de professor. Aprender fazendo, mani- educação de Bacon, que podemos observar
pulando, experimentando. ser essencialista, porém realista, podemos dar
É preciso lembrarmos, também, que tais sequência às nossas reflexões na direção de
tendências consistem em concepções domi- buscarmos agora o pensamento de Descartes.
◄ Figura 5: Descartes
Fonte: DESCARTES, René.
Discurso do Método;
Meditações; Objeções
e respostas; As paixões
da alma, Cartas. In. OS
PENSADORES, São Paulo:
Abril Cultural, 1979.
Sendo assim, salientamos que, no desen- meio do pensamento, de forma a fazer esco-
rolar desse contexto histórico, Descartes, com lhas convenientes.
o seu pensamento, passa a ser visto como o Essa concepção rompe com o conheci-
pai do racionalismo, influenciando decisiva- mento originado na fé e concebe o sujeito
mente a maneira de pensar predominante na como conhecedor, afirmando que o homem
cultura ocidental. existe a partir de sua capacidade de elabora-
Precisamos ter claro que Descartes de- ção do pensamento, por meio de uma razão,
fende o homem como um ser pensante e direcionada à busca do conhecimento pelo
racional, independente, capaz de perceber menor número de regras.
o mundo sensorialmente e conhecê-lo por Com base nas ideias que apresentamos
19
UAB/Unimontes - 1º Período
20
Ciências da Religião - Didática
Agora, daremos início a uma reflexão educação estudadas. Assim, afirmamos que, a GLOSSÁRIO
acerca de elementos que nos mostram que, princípio, essa concepção se embasa em uma
Cosmopolita: pes-
mesmo em meio a uma história de milhares de filosofia que vê o mundo de forma dinâmica,
soa que se considera
anos, existiram pessoas que pensaram de for- afirmando que a mudança do mundo se dá cidadão do mundo e
ma diferente da cultura produzida na Grécia por meio do enfrentamento das contradições que em toda a parte
e difundida a serviço de interesses das classes vivenciadas pelas diferentes classes sociais no há conhecimentos,
dominantes. decorrer da história da humanidade, por meio adaptando-se facilmen-
te aos costumes das
Vamos, nesse momento do nosso estudo, da ação do homem que é um ser pensante, in-
diferentes terras por
dialogar a respeito da concepção de educação dependentemente da classe social em que se onde passa, vivendo
histórico-crítica, que, por meio de uma visão encontra inserido. em todas perfeitamen-
de mundo materialista histórico-dialética, con- Dessa forma, urge esclarecermos que a te e adaptando-se ao
cebe o homem como produto e produtor das concepção de educação histórico-crítica tem meio ambiente. www.
dicionarioonline.com.
ideias que compõem a história. seus fundamentos na concepção filosófica,
br.
Estudaremos, então, a concepção de materialista, histórica e dialética, produzida
educação histórico-crítica que compreende- por Marx e Engels, que, segundo Silveira Ro- Materialismo: é o tipo
mos contrapor-se a todas as concepções de drigues, de fisicalismo o qual
sustenta: que a única
(...) contrariando os interesses que fundamentam as concepções filosóficas coisa da qual se pode
aqui estudadas até então, vem fundamentando uma nova concepção de ensi- afirmar a existência é a
no-aprendizagem, que tem o trabalho como ponto de partida e ponto de che- matéria; que, funda-
gada. Por meio de suas idéias esses pensadores problematizaram a necessida- mentalmente, todas as
de da revolução proletária, a fim de construir uma sociedade mais justa e digna coisas são compostas
para todos (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p. 64 ). de matéria e todos
os fenômenos são
resultado de interações
Diante do exposto até então, nessa etapa dialética, não se trata da dialética proposta materiais; e que a maté-
desse estudo, esclarecemos que, para com- por Hegel. ria é a única substância.
preendermos a concepção de educação, é Esclarecemos, assim, que Marx e Engels www.dicionarioonline.
necessário entendermos que Marx e Engels, rompem com a visão apriorística das ideias. com.br
filósofos e economistas alemães, em defesa do Porém, buscam em Hegel a visão de totalida-
proletariado, defendem a concepção dialética de, que sustenta a concepção histórico-crítica,
do mundo, negando o princípio da identidade que compreende a construção das ideias a
defendido por Platão. partir da realidade material concreta, vivencia-
E, diante da concepção de mundo deles, da nas relações contraditórias existentes entre
eles constroem uma teoria conforme o méto- consumo e produção.
do dialético. Porém, é preciso deixar claro que, Para entendermos essa visão, precisa-
conforme esses pesquisadores, ao se falar de mos ter claro que, nessa perspectiva, as ideias
21
UAB/Unimontes - 1º Período
são construídas pelos homens, e não apenas ria, promovendo a mudança contínua da natu-
PARA SABER MAIS conhecidas por eles a partir da sua existência, reza, ou seja, o homem faz a Dialética.
Hegel, filósofo alemão, por meio de experimentações ou de contem- A respeito dessa concepção de homem,
do qual Marx e Engels plações. Gramsci (1995), ao indagar o que é o homem,
eram discípulos, conce- Sendo assim, deixamos claro que a dia- responde afirmando o homem como um su-
be que o mundo não é
estático, mas sim dia-
lética concebida nessa perspectiva é explica- jeito que pode se transformar. E, assim, pode
lético. Porém, concebe da pelas leis do pensamento organizadas por controlar seu próprio destino, produzir ou criar
que as ideias nascem Engels. Leis que, segundo ele, regem o pensa- sua própria vida.
antes do homem, que, mento e promovem a dialética. É importante termos claro aqui que a
no decorrer da sua Quanto a essas leis, Engels afirma que a concepção materialista-histórico-dialética,
existência, conhece as
ideias que já existiam
primeira consiste na visão de que não se se- conforme abordamos, nega a visão apriorísti-
antes de ele nascer para qualidade de quantidade e vice-versa; a ca do mundo e entende que a dialética acon-
e que, ao conhecê- qualidade será obtida somente acrescentan- tece por meio da contradição, e não a partir
-las de acordo com do-se ou retirando-se alguma quantidade de de interesses individuais advindos da essência
seu ponto de vista, ele matéria. A segunda diz respeito à continuida- dos seres.
interpreta as ideias que
já existiam antes de ele
de da mudança constante da natureza. Essa Compreendendo a concepção de homem
nascer (a priori). Assim, lei é chamada de compenetração dos opostos. de Marx e Engels e a dialética proposta por
conhecendo as ideias, Para entendê-la, precisamos lembrar que a so- eles, lembramos que entender esses elemen-
ele vai adaptando-as ciedade é organizada por classes diferentes e tos foi indispensável para compreendermos a
ao contexto micro em que cada classe tem seus próprios interesses. concepção de educação desses filósofos.
que ele se encontra
inserido. E, dessa forma,
Quando os diversos interesses se chocam, Ressaltamos que a concepção de educa-
de acordo com os seus provocam atritos que poderão ser geradores ção de Marx e Engels foi produzida com base
interesses individuais, de propostas de mudanças para atender aos nas relações vivenciadas no trabalho, conside-
o homem vai transfor- diversos interesses. Já a terceira lei é chamada rando que a atenção deles se relacionava com
mando as ideias, ou de negação da negação. Essa lei nega a exis- as contradições vivenciadas pela classe prole-
seja, faz a dialética do
mundo. Marx e Engels
tência de uma verdade única, ao garantir que tária no contexto da sociedade capitalista.
consideram seu méto- toda conclusão pode tornar uma indagação, Nesse contexto, a concepção de educa-
do como a antítese da em vez de uma verdade. Sendo assim, é pos- ção parte do pressuposto de que o estudo tem
dialética de Hegel. Po- sível ser contestada e transformada em outra de ser unido ao trabalho; enfim, a educação é
rém, valorizam o mérito conclusão. Ou seja: cada síntese é, por sua vez, construída em direção da formação crítica do
de Hegel ao conceber
o mundo, a natureza e
a tese de uma nova antítese, que dará lugar a cidadão, construída na coletividade. Portan-
o espírito em constante uma nova síntese. to, entende-se que, para os referidos autores,
movimento, mudança, De acordo com as ideias expostas, pode- a educação encontra-se sempre implícita em
transformação. mos concluir que Marx e Engels concebem o seus pensamentos, considerando a compreen-
homem como sujeito de sua própria história. são da existência de uma relação estreita entre
E, assim, por meio das leis do pensamento, pedagogia e a política.
constantemente constrói e reconstrói a histó- Segundo Silveira Rodrigues,
Finalmente, esclarecemos que a tendên- do individuo isolado. Também não pode ter
cia pedagógica alicerçada na ideologia mar- como base a relação professor-aluno no con-
xista embasa o pensamento de intelectuais, texto micro da sala de aula, sem levar em
como Makarenko e Gramsci, ao buscar elabo- conta as contradições vivenciadas na realida-
rar uma pedagogia socialista, cuja proposta de social.
pedagógica nasce a partir da ideia de solida- Diante de todos os elementos discutidos,
riedade dentro de um complexo social. podemos compreender que a presente con-
Enfatizamos, também, que a concepção cepção, contrariando as teorias essencialistas
de educação nessa perspectiva defende a elaboradas até então, defende o conhecimen-
ideia de que o método de ensino tem de ser to como produto da ação humana. Com rela-
pensado a partir da organização da escola ção à concepção de educação, nessa perspec-
em uma perspectiva coletiva. Assim, o ensino tiva, Wachowicz esclarece que diz respeito à
não pode ser pensado vislumbrando a ideia práxis social:
22
Ciências da Religião - Didática
Como práxis social, a educação é uma ação que se desenvolve segundo a in-
tenção específica de uma classe social. Nosso pressuposto é o de que a apro-
priação do saber é a intenção específica da classe “que está na vanguarda em DICA
cada etapa histórica, a classe efetivamente capaz de exercer a função educa-
tiva”. Sendo a intenção especifica, é uma práxis, sendo própria de uma classe Marx e Engels, na
social e até da sociedade inteira, é uma práxis social. Sendo seu objeto o saber, obra Ideologia Alemã,
a práxis educativa cuida de realizar sua apropriação e nisso está sua especifici- afirmam: “A produção
dade (WACHOWICZ, 1995, p. 51). das idéias, das repre-
sentações, da consci-
ência é, em primeiro
Assim sendo, a práxis educativa deve ser compreendida como uma possibilidade de desen- lugar, diretamente
volvimento da práxis social. entrelaçada com a
atividade material e
com as relações dos
homens, linguagem da
MANACORDA, M. A. Historia da Educação: Da Antiguidade aos nossos dias. Editora Cortes, 1988.
MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. São
Paulo: Loyola. 1995, 181p.
______. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 6ª ed. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 1998.
______. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 6. ed. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 1993. 153p.
23
UAB/Unimontes - 1º Período
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP:
Papirus, 2001. 183p.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus,
2002. 158 p.
24
Ciências da Religião - Didática
UnidAde 2
As tendências pedagógicas
implantadas na educação escolar
brasileira: propostas de ensino-
aprendizagem/viabilização de
interesses
Rosângela Silveira Rodrigues
Rose Mary Ribeiro
2.1 Introdução
Pensar a Didática implica pensar no ato mem que produz as ideias no decorrer de sua
de ensinar, que, por sua vez, traduz uma ação história, por meio das relações com os outros
do homem, que, como qualquer outra ação, homens no contexto social em que vive.
traz em si uma intenção. Afirmar que cada Os pressupostos teóricos que utilizamos
ação expressa uma intenção é basear-se no para discutirmos os elementos propostos para
ponto de vista de que o homem é um animal essa unidade se encontram no pensamento dos
político, como já dizia Aristóteles. seguintes autores: Libâneo (1991), Haidt (2003),
Portanto, podemos compreender que o Veiga (1989-2000), Saviani (1986-2006), Gaspa-
ato do homem não é neutro. A forma com nós rim (2007), Silveira Rodrigues (2006) e outros.
seres humanos agimos frente a qualquer que
seja a situação é determinada pela nossa ma-
neira de conceber o mundo, que, por sua vez,
define os nossos interesses.
Nessa segunda unidade objetivamos co-
nhecer as tendências pedagógicas vivenciadas
no contexto da educação brasileira no decor-
rer da história da educação desse país.
Por meio das discussões que aqui realiza-
remos sobre as tendências, buscaremos pro-
blematizar as concepções de ensino-apren-
dizagem presentes em cada uma. Assim,
proporcionaremos condições para você com-
preender os interesses políticos, econômicos
e ideológicos implícitos nas referidas concep-
ções em questão.
Assim como no primeiro capítulo, ao ler
os textos, iremos realizar uma discussão fun- ▲
damentada numa visão histórico-crítica que, Lembramos-lhe que a Didática tem Figura 7: Escola
de acordo com nossos estudos na primeira como objeto de estudo os elementos que Tradicional
unidade, concebe a educação como um pro- compõem o ato de ensinar presente nas rela- Fonte:http://3.
cesso dinâmico e dialético, negando os prin- ções ensino-aprendizagem, sejam eles implí- bp.blogspot.com/--u4mol-
pEAHXU/UIGdTkihs_I/
cípios essencialistas, que concebem que as citos, sejam explícitos nas práticas pedagógi- AAAAAA- AAAB4/H1gEw-
ideias nascem antes do homem. cas que não são neutras, mas sim carregadas 0MEwlo/s320/charlie.gif
Nessa direção, defendemos que é o ho- de intencionalidades, de acordo com os inte-
25
UAB/Unimontes - 1º Período
DICA resses sociais predominantes em cada época pedagógicas que fundamentam o proces-
Platão defendia a ideia da história. so de ensino-aprendizagem vivenciado nas
de que o homem é Com base nas considerações acima, res- escolas brasileiras? Quais as implicações das
constituído de uma es- saltamos que o ato de ensinar do professor concepções de educação essencialista e his-
sência universal e imu- também não é neutro. O professor ensina de tórico-dialética nas tendências pedagógicas
tável. Diante da visão uma forma ou de outra, porque aprendeu ou predominantes nas escolas brasileiras?
de homem de Platão,
podemos entender que aprimorou aquela maneira, cujos fundamen- Caro(a) acadêmico(a), a fim de nortear
a sua concepção de tos foram pensados, no contexto de uma so- essa segunda unidade, continuamos inda-
educação fundamenta- ciedade em alguma circunstância histórica, gando: De que forma é concebida a Didática
-se na visão essencialis- por pessoas movidas pelos interesses que pre- nas tendências pedagógicas que norteiam
ta de homem. dominavam. as concepções de ensino-aprendizagem pre-
Nessa direção, entendemos que a manei- dominantes na educação escolar no Brasil?
ra como o professor ensina expressa o que ele Quais os princípios da Didática? A serviço de
pensa, sente e, principalmente, o que deseja, quais interesses tais Didáticas foram implan-
ou seja, a sua intenção, a sua visão de mundo, tadas no Brasil? É possível pensar que a Didá-
se o professor tiver consciência do que faz. tica traz em si um conteúdo implícito e que
Caso o professor ensine repetindo meca- esse conteúdo se manifesta na relação ensi-
nicamente uma forma de ensinar que apren- no-aprendizagem? Qual a relação da Didáti-
deu, sem pensar em quando, onde e como, ca com o processo de ensino-aprendizagem?
em que contexto essa forma de ensinar foi Até que ponto a Didática pode influenciar a
criada, estará correndo o risco de ela expressar relação ensino-aprendizagem?
a concepção de mundo de outros, que o leva Com a problematização que ora apresen-
a realizar os interesses de outros e negar seus tamos, buscamos promover uma inquietação
interesses, assumindo a condição de alienado. com o intuito de provocar desconfiança no
que diz respeito ao fato de que as tendências
pedagógicas não existem independentemen-
te dos interesses que as produziram. Interesses
que, por sua vez, relacionam-se às questões
político-econômico-ideológicas presentes no
contexto social em que foram produzidas as
referidas tendências.
Deslanchar as reflexões propostas para
essa unidade requer retomar elementos apre-
sentados na primeira unidade desse cader-
no didático para enfatizar que não podemos
nos esquecer de que foi a Paidéia grega que
deu origem às concepções de educação pre-
sentes nas tendências pedagógicas adotadas
para fundamentar a educação escolar viven-
ciada nos países ocidentais.
Justificamos essa nossa consideração ao
▲ entendermos que as tendências pedagógicas
Figura 8: Escola Crítica Considerando nossas colocações a res- se sustentam em uma concepção de edu-
Fonte:http://2. peito da não neutralidade da didática, pro- cação, que, por sua vez, se sustenta em uma
bp.blogspot.com/-y5Re- blematizamos: Quais tendências pedagógicas visão de mundo. E que toda visão de mundo
FDxwBOI/UIG-c5CwXLmI/
AAAAAAAAA- Bw/GO- vêm norteando a educação brasileira no de- expressa uma corrente filosófica. Assim, fun-
e6JEF4TQA/s1600/ima- correr de sua história? Quais são suas caracte- damentamos nosso entendimento nas pala-
gem4.JPG rísticas? Em que contexto e a serviço de que vras de Haidt:
interesses foram produzidas as tendências
PARA SABER MAIS Todo sistema educacional está baseado numa concepção do homem e de
mundo. São os aspectos filosóficos que dão à educação seu sentido e seus
A concepção de educa-
fins. A Filosofia, sendo a reflexão sistemática sobre a concepção da vida,
ção de Platão, confor-
exerce influência direta e está em estreita conexão com a Pedagogia, que é a
me ele expõe na obra
reflexão sistemática sobre o ideal de educação e da formação humana (HAI-
“As Leis”, encontrava-se
DT, 2003, p.13).
a serviço dos interesses
de quem?
Pensar as tendências pedagógicas pre- povo brasileiro. Nasceu para servir aos inte-
dominantes na educação brasileira requer resses da coroa portuguesa e, posteriormen-
lembrarmos, a princípio, que educação bra- te, aos interesses das classes dominantes.
sileira não nasceu a serviço dos interesses do Diante do exposto, vale ressaltar que
26
Ciências da Religião - Didática
27
UAB/Unimontes - 1º Período
PARA SABER MAIS ora estudamos, para nortear a educação que nhecimento é visto de forma dogmática e
Ratio Studiorum Sum- os Jesuítas ministravam no Brasil. que seu critério de verdade consiste na sa-
ma Theológica de São Tendo realizado essa breve abordagem, grada escritura.
Tomás de Aquino, que vamos, agora, atender ao nosso objetivo nes- Nesse contexto, é preciso entendermos
consiste em um plano se momento desse estudo, ou seja, refletir um que a educação, de acordo com essa vertente,
de instrução consu- pouco a respeito da tendência pedagógica é uma forma de instrução e nega, pois, o pen-
bistanciado na Ratio
Studiorum trazida da tradicional na vertente religiosa. samento critico, priorizando a quantidade de
Europa para o Brasil, Para dialogarmos a respeito dessa ten- conteúdos em detrimento da qualidade. É im-
resultando em uma dência, valemo-nos do nosso entendimento portante ressaltarmos que, nessa perspectiva,
orientação universalista das ideias de Saviani (1986) de que a tendência a educação tem como objetivo moldar o aluno
por todos os jesuítas, tradicional na vertente religiosa fundamenta- por meio da memorização, objetivando alcan-
assim como pelo uso
de programas e dos -se em uma visão essencialista de homem. çar a perfeição.
mesmos procedimen- Sendo assim, compreendemos, por A respeito da tendência pedagógica tra-
tos metodológicos e meio de uma visão essencialista, que o co- dicional na vertente religiosa, para Saviani:
elitistas por se destinar
aos filhos dos colonos. A educação cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à
O ideal da Ratio Stu- essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Para a vertente
diorum era a formação religiosa, tendo sido o homem feito por Deus à sua imagem e semelhança, a
do homem universal, essência humana é considerada, pois, criação divina (SAVIANI, 1986, p.12).
humanista e cristão.
A educação se preo-
cupava com o ensino A fala do Saviani remete-nos, também, É importante ressaltar, também, que, para
humanista de cultura a considerar que essa tendência pedagógi- os filhos dos colonos que eram a elite brasilei-
geral e enciclopédi- ca é originada nas concepções medievais de ra naquele contexto, a educação era diferente.
co; era alicerçada na educação que resgatam o pensamento gre- Não era catequese, porém com base na instru-
Summa Theológica de go, com base na lógica Cristã, que concebe o ção. O parâmetro dessa tendência nos moldes
São Tomás de Aquino.
Esta obra corresponde homem à imagem e semelhança de Deus, e utilizados para os filhos da elite era o plano de
a uma articulação entre a educação como a condição de busca desta instrução de Santo Tomás de Aquino.
a filosofia de Aristóte- imagem por ser o modelo ideal. Tendo já refletido um pouco a respeito da
les e a tradição cristã, Com os Jesuítas, essa tendência peda- tendência pedagógica tradicional na vertente re-
base da Pedagogia gógica foi usada para catequese dos índios e ligiosa e, também, entendido que essa tendência
tradicional na vertente
religiosa (VEIGA, 2000, negros no Brasil, pois ela era adequada à for- foi adotada no Brasil colônia como instrumento
p. 40). mação do perfil de pessoas dóceis e servis, de dominação e que, por meio da aculturação,
conforme pretendia a classe dominante da se manteve a serviço dos interesses dos coloni-
época, assim como foi adequada aos interes- zadores, vamos continuar essa reflexão buscan-
ses do clero na Idade Média, e da aristocracia, do entender um pouco a respeito da tendência
na Grécia. pedagógica tradicional na vertente leiga.
É preciso que tenhamos claro que, de um país rural, mas sim um país urbano, onde
acordo com essa tendência pedagógica, o cri- as pessoas precisavam saber ler, escrever,
tério de verdade do conhecimento são as leis contar e assinar o nome para poder votar e
da natureza, o que difere da tendência tradi- eleger seus representantes na cidade, exer- PARA SABER MAIS
cional com vertente religiosa, cujo critério de cer o papel de cidadãos e se sentir realizados O Positivismo é uma
verdade era a sagrada escritura. como pessoa. corrente sociológica
Assim, podemos entender que se troca Porém, vale lembrarmos que ensinar a cujo precursor foi o
francês Auguste Comte
o Divino pela ciência com base em uma visão maior quantidade de conteúdos para a maior
(1789- 1857). Surgiu
mecanicista, dogmática, conforme propõe o quantidade de alunos, sem problematizar os como desenvolvimento
positivismo de Comte. Compreendemos que o conteúdos, desvinculando a teoria da práti- sociológico do Iluminis-
conhecimento não é produzido pelo homem. ca, torna visível que o que se pretendia era a mo e das crises social e
O conhecimento é dado pela natureza de cada formação em massa, e não uma educação de moral do fim da Idade
Média e do nascimento
espécie ou fenômeno. Portanto, não justifica qualidade.
da sociedade industrial.
pensar a respeito dos conteúdos estudados, Compreendemos que, naquele contexto Propõe a existência
pois o homem é neutro frente ao que já vem social brasileiro, essa tendência se adequava humana de valores
determinado. à demanda de formação de mão-de-obra ba- completamente huma-
Assim sendo, podemos considerar que os rata para o mercado de trabalho emergente nos, afastando-se radi-
calmente da teologia
homens também são iguais de acordo com a e para a difusão da visão burguesa de mun-
ou metafísica. Assim, o
natureza de sua classe social. E, como huma- do, a serviço da classe dominante. Assim, por Positivismo - na versão
nos, têm sua própria natureza humana de ser meio da implantação da tendência pedagó- comtiana, pelo menos
racional. Dessa forma, a educação escolar deve gica tradicional liberal, a educação do país é - associa uma inter-
ser gratuita para todos. vivenciada com a intenção de atender ao in- pretação das ciências
e uma classificação do
Nessa perspectiva, a educação tem como teresse político e econômico de consolidar a conhecimento a uma
fim difundir o conhecimento, de forma a capa- burguesia industrial. ética humana, desen-
citar todos a serem cidadãos e capazes de vi- Após termos realizado essas reflexões, an- volvida na segunda fase
verem como tal na cidade. O ensino aqui é hu- tes de dar continuidade pontuando as outras da carreira de Comte.
manístico, enciclopédico, meramente teórico. tendências pedagógicas propostas, valemo- www. dicionarioonline.
com.br
Ressaltamos que o Brasil já não era mais -nos das palavras da Veiga para enfatizar que:
29
UAB/Unimontes - 1º Período
BOX 1
Contextualizando:
30
Ciências da Religião - Didática
▲
Diante das características apresentadas, precisamos pensar: Considerar que essa tendência Figura 9: Escola nova
pedagógica, para ser vivenciada, necessita de um ambiente adequado, como condições para vi- Fonte: Arquivo pessoal
vência da prática pedagógica. Rosângela Silveira Rodri-
gues, 2009
Sendo assim, indagamos: Até que ponto as condições estruturais e o ambiente da escola
pública encontravam-se adequados a tal proposta de prática pedagógica? Até que ponto os pro-
fessores foram capacitados para a mudança radical de uma tendência pedagógica autoritária,
dogmática para uma proposta na ideia de democracia? DICA
Se pensarmos nas contradições encontradas na proposta de uma educação humanista, bem
Recomendamos, uma
como no contexto de viabilização dela, podemos desconfiar que se encontra inserida aqui uma vez mais, que você leia
farsa, a fim de promover a alienação por meio do discurso veiculado entre os professores. E, con- no caderno de Filosofia
sequentemente, promovendo a exclusão social das classes menos favorecidas economicamente, da Educação a unidade
por não terem condições materiais de acesso às escolas privadas que se expandiam, dado ao am- em que se discute a
biente favorável a investimentos na escola como empresa lucrativa. filosofia humanística.
Precisamos ficar atentos e entendermos que, por trás do discurso de valorização da digni-
dade do aluno, dos direitos do ser humano, do desenvolvimento da autonomia, da alegria e do
amor de ensinar, passado pelas ideias humanistas, existe uma política perversa que, desde a dé- PARA SABER MAIS
cada de 30 no Brasil, coloca os educadores na condição subumana de alienados, a trabalho do É possível conceber a
seu desserviço. prática pedagógica,
independentemente
Para entendermos que não estamos sozinhos na direção denunciada, apresentamos as fun-
do contexto histórico
damentações do nosso posicionamento, nas palavras de Veiga, quando afirma: sociopolítico em que
a escola se encontra
O escolanovismo propõe um novo tipo de homem, defende os princípios de- inserida?
mocráticos, isto é, todos têm direito a assim se desenvolverem. No entanto,
isso é feito em uma sociedade capitalista, onde são evidentes as diferenças
entre as camadas sociais. Assim, as possibilidades de se concretizar esse ideal DICA
de homem se voltam para aqueles pertencentes ao grupo dominante. A ca-
racterística mais marcante do escolanovismo é a valorização da criança, vista A escola nova ou
como ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade, iniciativa, autonomia tendência humanista
e interesses devem ser respeitados. O professor passou a ser um auxiliar do de- encontra-se fundamen-
senvolvimento livre e espontâneo da criança; é ele o facilitador de aprendiza- tada em uma visão de
gem. Os processos de transmissão recepção são substituídos pelo processo de mundo fenomenoló-
elaboração pessoal e o saber é centrado no sujeito cognoscente e não mais no gica, que compreende
objeto de conhecimento. A valorização do clima de harmonia na sala de aula é os fenômenos em si,
uma forma de vivência democrática. O movimento escolanovista preconiza a independentemente do
solução de problemas educacionais numa perspectiva interna da escola, sem contexto em que estes
considerar a realidade brasileira nos seus aspectos político, econômico e social. se encontram inseridos,
O problema educacional passa as ser uma questão escolar técnica. A ênfase re- e de acordo com o
cai no ensinar bem, mesmo que a uma minoria. A Escola Nova transfere, por- ponto de vista de cada
tanto, a preocupação dos objetivos e conteúdos para os métodos, e da quanti- indivíduo.
dade para a qualidade (VEIGA, 1989, p. 50).
31
UAB/Unimontes - 1º Período
DICA Essas nossas colocações acerca da tendência pedagógica liberal renovada nos remetem à
Os Parâmetros Cur- concepção de educação essencialista-realista proposta por Aristóteles na Grécia, ao afirmar que
riculares Nacionais – a educação é, ao mesmo tempo, ativa e contemplativa e que a pessoa se educa por meio do de-
PCNs – e os Conteúdos senvolvimento do seu potencial inato, por meio da ação prática. A respeito da escola nova, Veiga
Básicos Comuns – CBCs ainda diz que esta dá ênfase ao método, em detrimento dos conteúdos, e que permite
– adotados no Estado
de Minas Gerais estão secundarizar a transmissão dos conteúdos, provocando o rebaixamento da
fundamentados na qualidade do ensino. Desta forma, contribuiu para diferenciar qualitativamente
lógica da tendência a educação que era destinada às diversas classes sociais. A escola nova não é
pedagógica humanista crítica e nem revolucionária, mas se reveste de uma importância social quando
moderna. recoloca em causa os modelos sociais tradicionais e reafirma o valor, a dignida-
de e os direitos humanos (VEIGA, 1989, p. 51).
PARA SABER MAIS
A fenomenologia Diante dessas reflexões, ressaltamos, ainda, que a contraposição da tendência liberal reno-
exalta a interpretação vada à tendência tradicional liberal nos remete, também, à contraposição em relação ao pensa-
do mundo que surge mento de Aristóteles, em relação ao pensamento essencialista – idealista de Platão que afirma
intencionalmente na que a educação não é ativa, mas sim contemplativa, ou seja, apenas teórica.
nossa consciência.
Por isso, na pesquisa,
Para entendermos melhor, lembramos que a concepção de educação de Aristóteles, levada
eleva o sujeito, com para a Idade Média por São Tomás de Aquino, tem sua continuidade na modernidade por meio
suas percepções dos do pensamento empirista, experimental de Bacon, de forma a fundamentar as teorias de ensino-
fenômenos, sobre o -aprendizagem de cunho psicológico, que vêm sendo adotadas no contexto da história da edu-
observador positivista. cação brasileira.
Percebe-se que, na
análise dos conceitos
Segundo Silveira Rodrigues, os fundamentos dessa tendência pedagógica não estão mais
fenomenológicos, em
nenhum momento, (...) nos princípios lógicos, mas sim em uma lógica psicológica; o conteúdo da
esta corrente do pensa- disciplina Didática é norteado por norte-americanos como Dewey, que, por
mento está interessada meio de uma proposta de respeito à individualidade e liberdade do aluno, en-
em colocar em relevo tende o ensino como processo de pesquisa, onde professor e aluno são envol-
a historicidade dos vidos em um clima de sintonia, para que o professor possa orientá-lo à direção
fenômenos. A busca da conveniente (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p.130).
essência, isto é, o que
o fenômeno verdadei- meno, a fim de desvelá-lo por meio de expe-
ramente é depois de riência e de acordo com sua intencionalidade.
sofrer um isolamento
total, uma redução,
Enfim, diante das considerações que
eliminando o eu que vi- apresentamos nos últimos parágrafos, pode-
vencia e o mundo com mos compreender que as tendências pedagó-
seus valores, cultura gicas adotadas para fundamentar a educação
(TRIVIÑOS, 1995, p. 47). brasileira são fundamentadas em uma visão
de mundo essencialista, idealista ou realista.
E, assim, se opõem à visão dialética, a serviço
Figura 10: Educação ►
Ativa dos interesses do progresso econômico das
Fonte: Arquivo pessoal classes dominantes de cada época.
Rosângela Silveira Rodri- Ressaltamos que a direção conveniente Tendo realizado essa discussão, bem como
gues, 2009 mencionada é definida de acordo com os in- problematizado a tendência pedagógica libe-
teresses de cada sujeito, que, por sua vez, não ral renovada, daremos sequência a esse estu-
se prendem a conceitos anteriores sobre o fe- do abordando questões referentes à tendência
nômeno estudado, ao buscar consciência dos tecnicista. Sendo assim, apresentamos a seguir
fenômenos. a contextualização indispensável para nosso
Esclarecemos que, através da interpreta- entendimento da tendência a ser estudada.
ção do sujeito, busca-se a essência do fenô-
Voltar o nosso olhar para a tendência pedagógica tecnicista requer situarmos o projeto de
desenvolvimento econômico do Brasil proposto pelo governo militar, porque, diante das exi-
gências desse contexto, o qual tinha a necessidade de formar mão-de-obra especializada para o
mercado de trabalho, é que, mais uma vez, a tendência da educação desse país foi norteada.
32
Ciências da Religião - Didática
Dessa forma abordada, precisamos con- em conformidade com os Estados Unidos, cujo
siderar que, com a vivência da educação com modelo educacional influencia diretamente
base na tendência liberal renovada, o processo toda estrutura educacional, visando ao plane-
de ensino-aprendizagem vivenciado nesse país jamento, à execução e à racionalização do pro-
é marcado pela valorização das técnicas de en- cesso produtivo.
sino, sempre com base em fatores psicológicos De acordo com a direção em evidência,
experimentais e pedagógicos, independente- você precisa considerar que a prática pedagó-
mente da realidade social encontrada. gica liberal pragmática, inspirada no modelo
Diante da realidade apresentada, com a norte-americano, valoriza os processos meto-
crise da pedagogia nova, é articulada a ten- dológicos, em detrimento da própria aquisição
dência tecnicista por intermédio dos militares, do conhecimento.
BOX 2
Contextualizando: ▲
Figura 11: Frederic B.
Em meio à implementação do movimento escolanovista, também atendendo a interes- Skinner
ses político-econômicos, foram realizadas reformas no sistema educacional brasileiro, e, assim, Fonte: Didática e Prática
convênios foram feitos entre o MEC e os Estados Unidos, com vistas à capacitação dos pro- de Ensino: uma introdu-
fessores. Para efetivação de tal proposta, cria-se o PABAEE (Programa Americano-Brasileiro de ção crítica. PENTEADO,
José de Arruda. São Pau-
Auxílio ao Ensino Elementar) voltado para o aperfeiçoamento dos professores do curso nor- lo: Mc Graw-Hil, 1979.
mal. Assim, por meio desse convênio, é inserido no Brasil o modelo educacional técnico ame-
ricano. Nesta fase o ensino da Didática também se inspirou no liberalismo e no pragmatismo
norte-americano.
Fonte: VEIGA .I.P.A. A prática pedagógica do professor de Didática. Campinas: Papirus, 1989, p. 56
33
UAB/Unimontes - 1º Período
BOX 3
Contextualizando:
Fonte: VEIGA .I.P.A. A prática pedagógica do professor de Didática. Campinas: Papirus, 1989, p. 56.
Podemos perceber nessa citação acima que o autor classifica a tendência tecnicista como uma
tendência renovada, considerando que a sua implantação inicia-se no momento da escola nova, cuja
proposta de ensino se baseia na atividade do aluno, e, para tal, o professor aos poucos se coloca no
papel de controlar o desenvolvimento eficiente das técnicas adotadas.
Sendo assim, podemos entender a tendência tecnicista como uma sequência da concepção
humanista, que ganha, por meio da influência das terminologias técnicas utilizadas no âmbito
educacional, uma tendência não psicológica e meramente instrumental, que, conforme Savia-
ni (1986), relacionada com a concepção analítica da filosofia da educação, que, conforme Veiga
(1989), por meio dos pressupostos de objetividade, racionalidade e neutralidade científica.
E, assim, essa tendência se coloca a favor da divisão do trabalho de quem faz e de quem
pensa, conforme determinado na Grécia por Platão a serviço dos interesses aristocráticos.
Ressaltamos que, da mesma forma que no contexto histórico grego mencionado, essa con-
cepção, ao reforçar a divisão do trabalho, atende aos interesses de fazer da escola um espaço de
reprodução da ideologia dominante. Assim, afirmamos de acordo com autores que fundamen-
tam as tendências de cunho progressista que discutiremos no próximo tópico desta unidade.
34
Ciências da Religião - Didática
Fonte: VEIGA .I.P.A. A prática pedagógica do professor de Didática. Campinas: Papirus, 1989. p.6
35
UAB/Unimontes - 1º Período
PARA SABER MAIS das por Saviani (1986) como teorias crítico- domínio dos conteúdos podem estar conde-
Pesquisadores brasi- -reprodutivistas que, segundo Veiga, apesar nados a ser excluídos do processo de seletivi-
leiros, como: Saviani, de elas considerarem a educação a partir dos dade do mercado.
Wachowicz, Sánchez seus aspectos sociais, concluem que sua fun- É nesta direção de pensamento que
Gamboa, Duarte, Scal- ção primordial é a de reproduzir as condições compreendemos que, ao serem vivenciadas
con, Gasparin, Zanella, sociais vigentes. Elas se empenham em fazer a essas teorias ou tendências críticas no con-
Silveira Rodrigues, vêm
procurando explici- denúncia do caráter reprodutor da escola. Há texto educacional brasileiro, mesmo com um
tar as bases de uma uma predominância dos aspectos políticos, discurso de cunho crítico, dialético, mesmo
educação cuja Didática enquanto as questões didático-pedagógicas problematizando a escola como aparelho
se fundamente em uma são minimizadas. ideológico do estado e, consequentemente,
Pedagogia histórico- Ponderamos que, no interior das escolas, reprodutora da classe dominante por meio
-crítica, a ser adotada
pelos professores professores alunos e demais sujeitos inseridos do discurso veiculado, por exemplo, nos li-
brasileiros nas escolas no contexto educacional assumem uma pos- vros didáticos, a educação nesse contexto
do Brasil. tura de denúncia, e a educação em si fica em não pode ser entendida como dialética. Mas,
segundo plano, dando espaço às discussões por isso, não podemos desconsiderar a im-
dos problemas sociais. Assim, a educação es- portância desse momento de articulação e
colar prioriza a escolha de métodos e técnicas denúncia que esta tendência proporcionou
adequadas para criar um ambiente propício ao espaço educacional brasileiro.
aos debates e denúncias. É a partir desse contexto que a educação
Dessa forma, compreendemos que, no brasileira passa a ser pensada por educadores
processo de ensino, o conteúdo fica em se- pesquisadores brasileiros que trabalham em
gundo plano. Ao mesmo tempo em que existe prol da elaboração de uma tendência pedagó-
a intenção de denunciar, contraditoriamente, gica a ser adotada no contexto da educação
existe o reforço à própria situação denunciada. brasileira, mesmo que essa tendência se colo-
Salientamos que, levando em conta que que contra os discursos pedagógicos oficiais.
o domínio dos conteúdos é condição para Diante dessas colocações, dedicar-nos-
uma postura emancipada no convívio social -emos a discutir e buscar entender a Tendên-
e para a inserção no mercado de trabalho, cia Pedagógica Crítico-social dos Conteúdos,
podemos compreender que aqueles que não denominada por Saviani como Pedagogia His-
têm uma educação que lhes proporcione o tórico-crítica.
Tendo em vista superar as concepções sentar propostas de superação da realidade PARA SABER MAIS
crítico-reprodutivistas, que são muito impor- social denunciada, por meio de proposta de É necessário conside-
tantes como expressão da resistência às po- uma pedagogia para além da perspectiva rar, ainda, que hoje se
líticas estabelecidas, mas, que não saem do crítico-reprodutivista, a esse respeito Saviani estrutura também, após
nível de denúncia, considerando não apre- diz: a década de 1980, uma
tendência denominada
É esta análise que em nosso país começa a adquirir forma mais sistemática a pósestruturalista ou
partir de 1979, quando se empreende a crítica da visão crítico-reprodutivista pós-moderna, cujas
e se busca compreender a questão educacional a partir dos condicionantes pesquisas são constitu-
sociais. Trata-se, assim, de uma análise crítica porque é consciente da deter- ídas em rede fragmen-
minação exercida pela sociedade sobre a educação; no entanto, é uma análi- tada, buscando estudar
se crítico-dialética e não crítico-mecanicista. Com efeito, a visão mecanicista em torno da ideia de
inerente às teorias crítico-reprodutivistas considera a sociedade determinan- cotidiano, descaracteri-
te unidirecional da educação. Ora, sendo esta determinada de forma absolu- zando completamente
ta pela sociedade, isso significa que se ignora a categoria de ação recíproca, a visão de totalidade
ou seja, que a educação é, sim, determinada pela sociedade, mas que essa que possibilita des-
determinação é relativa e na forma de ação recíproca – o que significa que velar os subterfúgios
o determinado também reage sobre o determinante. Conseqüentemente, a utilizados a serviço dos
educação também interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para sua interesses das políti-
própria transformação. Em suma, a passagem da visão crítico-mecanicista, cas que organizam a
crítico-aistórica para uma visão crítico-dialética, portanto histórico-crítica da sociedade no decorrer
educação é o que queremos traduzir em pedagogia histórico-crítica (SAVIA- da história.
NI, 1986, p. 92-93).
De acordo com esta tendência pedagó- to das análises propostas é necessário para a
gica histórico-crítica, a educação é um cami- busca da superação do problema estudado DICA
nho para o alcance da emancipação. Por esse que faz parte da realidade material imediata Precisamos ficar
motivo, é proposta na direção dela a não di- dos sujeitos envolvidos nos processos. atentos para o fato de
que tal tendência vem
cotomização entre teoria-prática, a partir do Lembramos, também, que, de acordo
sendo difundida de
momento em que as contradições (problemas) com a segunda lei, unidade e a continuidade forma sutil, por meio da
vivenciadas na realidade imediata são proble- da constante mudança da natureza, denomi- infiltração de determi-
matizadas em sala de aula, de forma que se nada de compenetração dos opostos, e a ter- nadas literaturas que
tornam questões geradoras do conhecimento. ceira lei, que diz respeito à negação da nega- priorizam o estudo
de determinadas
De acordo com a maneira apresentada, ção, a ideia de uma verdade única é negada,
categorias que, para
percebe-se a negação do verbalismo exces- porque a verdade poderá ser contestada de serem entendidas, não
sivo do professor e também do ativismo do forma a provocar superação da conclusão an- necessitam de análises
aluno. Valoriza-se, assim, a prática do pensar terior. históricas. E, assim, res-
como condição para o conhecimento das te- Conforme ideia apresentada, a cada sín- tringem-se a um olhar
no contexto micro em
orias a respeito dos elementos que compõem tese é, por sua vez, a tese de uma nova antí-
que os fenômenos se
o problema estudado. tese que dará lugar a uma nova síntese. Ou encontram inseridos.
Precisamos ter claro que, de acordo com seja, o conteúdo poderá ser contestado pro- Precisamos nos ater
a direção apresentada, propõe-se que as prá- vocando a superação do pensamento de alu- para o fato de que,
ticas pedagógicas consistam em um espaço nos e professores, que resultará em uma nova diante das colocações
acima, ressaltamos que
de estudo histórico sustentado em uma visão elaboração do conhecimento.
a adoção desta tendên-
de totalidade, conforme proposto por Engels Na direção desta tendência, a educação cia denominada “pós-
na aplicação da lógica das leis do pensamen- consiste em um instrumento de luta que pro- -moderna” vem sendo
to, conforme discutimos no final da unidade I move situações que irão desvelar as intenções utilizada para sustentar
deste caderno. implícitas em cada contexto histórico em ques- o modelo de mundo
globalizado, confor-
Dessa forma, lembramos que, conforme tão. Assim, coloca em evidência contradições
me é vivenciado na
as leis do pensamento, é indispensável tanto vivenciadas historicamente, permitindo a cons- sociedade atualmente,
a qualidade das análises realizadas quanto a ciência dos mesmos. Condição necessária à for- por meio da difusão
quantidade de conteúdos ou de tempo ne- mação do cidadão emancipado, capaz que so- de uma “Pedagogia da
cessário à realização de tais análises. mar forças para transformação das condições Hegemonia”.
Ressaltamos, ainda, que o entendimen- materiais de vida de um contexto social.
37
UAB/Unimontes - 1º Período
Para pensar a Didática à luz da tendência tradicional liberal, é necessário lembrarmos que
esta tendência norteou a educação brasileira desde o período colonial, com os jesuítas, conside-
rados os primeiros educadores brasileiros, até o período de 1920.
É importante lembrarmos que esta tendência predominou na educação brasileira em dois
momentos distintos e em duas vertentes diferentes. Como já dissemos no tópico anterior desse
estudo: uma vertente religiosa e uma vertente leiga.
BOX 5
ANTES DE INICIAR NOSSA REFLEXÃO ESPECIFICAMENTE A RESPEITO DE DIDÁTICA, VOCÊ
PRECISA SABER QUE:
O sentido da palavra “didática” implica esclarecer que sua origem vem do grego didakti-
kós. Segundo Olanda (1996, p. 679), o termo é relativo ao “ensino ou instrução, técnica de di-
rigir e orientar a aprendizagem, técnica de ensino, o estudo dessa técnica”. Segundo Astolfi,
quanto aos dicionários e enciclopédias: É o adjetivo didático que primeiro aparece na Idade
Média: em 1554, relata o Grand Larousse enciclopédique. O termo vem do grego didaktitos e
se aplica então a um gênero de poesia que toma como assunto a exposição de uma doutrina,
de conhecimentos científicos e técnicos. O advérbio didaticamente é admitido pela academia
em 1835, e o substantivo masculino didatismo aparece em meados do século XIX. (...) Pode-
mos deduzir que em torno de 1955 o substantivo feminino didática aparece formando para
▲ os catálogos de conhecimento. Ele remete de maneira geral ao ensino, sem precisões particu-
Figura 12: O Professor lares (Libâneo,1991, p. 7). Pensar a respeito do significado da palavra didática implica lembrar
é o mestre, dono de Comenio, considerado o Bacon da pedagogia e o Galileu da educação, em sua busca de
do saber, que
pensar a Pedagogia como uma ciência moderna, por meio da elaboração da Didactica magna,
ensina tudo a todos.
Verbalmente ensina a onde este concebe o professor como um “servidor da natureza”, que ensina de forma eficiente.
maior quantidade de Comênio, ao escrever a mencionada obra, direciona o entendimento da didática a uma visão
conteúdos para a maior cartesiana da educação, desde que este se ocupe de elaborar um método seguro de ensinar.
quantidade de alunos Conforme as origens do significado da palavra didática aqui apresentado,é possível explicar o
possível, sem distinção.
relacionamento que até então é estabelecido entre as aulas de didática e o ensino de métodos
Fonte: COMÉNIO, J. A.
Didática Magna. Lisboa:
e técnicas de ensino. Assim como uma disciplina do campo da pedagogia, a Didática se ocu-
Fundação Caouste Gul- pa de reflexões acerca das relações que envolvem o fenômeno do ensino-aprendizagem que
benkian 1957 compreendem as relações professor-aluno, planejamento, avaliação, relação ensino-pesquisa,
bem como os métodos e técnicas de ensino. Nos tempos atuais, no que se refere ao Brasil, a Di-
dática é entendida como um campo de estudo da área da educação e acerca do seu conceito,
Libâneo, escrevendo para alunos do magistério do segundo grau a classifica dizendo que:
38
Ciências da Religião - Didática
Fonte: SILVEIRA RODRIGUES, R. Teoria Critica da Didática: contraposições epistemológicas possibilidades políticas e
tendências atuais. Tese de Doutorado Campinas: Unicamp, 2006.
Esclarecemos, ainda, que, no contexto dessas duas vertentes, a Didática, ou a forma de en-
sinar é a mesma. O que muda de um contexto para o outro nesta tendência pedagógica é o cri-
tério de verdade do conhecimento. Na vertente religiosa, consiste na sagrada escritura, e na ver-
tente leiga, nas ciências da natureza, ou seja, na concepção positivista.
Sendo assim, ressaltamos que, como já foi dito no tópico anterior, a didática nessa perspec-
tiva fundamentava-se no plano de instrução utilizado pelos jesuítas, que era fundamentado na
Ratio Studiorum, o qual se alicerçava filosoficamente em ideias essencialistas e idealistas do pen-
samento, que têm origem nas intencionalidades políticas do cristianismo.
Nessa perspectiva, Didática contribuía para atender à finalidade de formar o homem univer-
sal humanista e cristão, por meio da transmissão de conteúdos de forma dogmática, descontex-
tualizada, com base na memorização.
39
UAB/Unimontes - 1º Período
Considerando a didática no contexto ora discutido, Veiga afirma que essa foi marcada pe-
las formas dogmáticas de pensamento contra o pensamento crítico. Privilegiavam o exercício da
memória e o desenvolvimento do raciocínio VEIGA (1989, p. 26).
A respeito da Didática sob esta ótica, podemos buscar, também, Libâneo (1991), ao falar da
disciplina Didática:
Considerando todas as nossas colocações a respeito da Didática na perspectiva tradicional
liberal, ressaltamos que esta maneira de ensinar foi produzida por filósofos pedagogos como:
Comênio, Rousseau, Herbart, cuja origem de suas ideias se encontra nas teses defendidas por Só-
crates e Platão na Grécia clássica, Santo Agostinho na Idade Média, e Descartes na Modernidade.
Focada no intelecto, na essência, destina aos conteúdos uma caráter dogmático, cujos métodos
são baseados nos princípios lógicos e universais.
De acordo com Veiga:
Podemos entender que a Didática proposta por essa tendência fundamenta-se em uma
concepção de educação cujas origens se encontram no pensamento empírico de Bacon e pode
ser entendida de acordo com a lógica da corrente filosófica denominada fenomenologia, con-
cepção que defende que cada sujeito elabora seus conceitos de acordo com sua visão de mun-
do, que, por sua vez, depende dos interesses de cada indivíduo.
Sendo assim, a Didática é utilizada como meio de direcionar a aprendizagem, atribuindo
ao professor o papel de orientador que incentiva e controla a aprendizagem, que, por sua vez, é
considerada como produto da ação prática da criança. Nessa ótica, Silveira Rodrigues afirma:
No que se refere à forma como a Didática é vista, na direção humanista moderna, como dis-
ciplina dos cursos de formação de professores, afirma Veiga:
40
Ciências da Religião - Didática
Quanto à Didática utilizada para ensinar, proposta pela concepção humanista moderna, o
professor necessita assumir a condição de orientador e, para isso, “ele” desce do tablado, descarta
a palmatória e deixa de ser proprietário do conteúdo para ser aquele sujeito que controla o pro-
cesso ensino-aprendizagem por meio da escolha e aplicação de técnicas de ensino.
Enfim, no que se refere ao papel atribuído ao aluno, é o de sujeito da aprendizagem, que
exerce atividades de investigador e tem liberdade de escolha, sendo constantemente ativo no
decorrer do processo ensino-aprendizagem.
Para continuarmos essas nossas reflexões, lembramos que, ao estudarmos a tendência pe-
dagógica tecnicista, enfocamos que, quando esta tendência pedagógica norteia a educação bra-
sileira, são realizados convênios entre Brasil e Estados Unidos, a fim de aperfeiçoar os professores
do curso normal, ministrar aulas de forma técnica e ensinar aos futuros professores os princípios
da tecnologia educacional importada.
Nessa direção, a Didática sustenta-se na concepção de neutralidade científica, cuja origem
está nos princípios da racionalidade, indicando a produtividade e a eficiência.
Os professores ensinam por meio do uso de manuais técnicos e exercem a posição de ad-
ministradores que executam planejamentos, por meio de materiais instrucionais, livros didáticos
descartáveis, utilizados para treinar os alunos por meio da repetição, tendo em vista a memoriza-
ção dos conteúdos, independentemente do contexto político-social no qual estão inseridos.
A Didática vivenciada atribui ao professor o papel de técnico, que organiza estratégias e
transmite matérias, enquanto o aluno recebe e memoriza informações por meio do treino. A res-
peito desta didática, Silveira Rodrigues afirma que professores e alunos,
41
UAB/Unimontes - 1º Período
Não tem uma proposta explícita de Didática, e muitos dos seus seguidores, en-
tendendo que toda didática resumir-se-ia ao caráter tecnicista, instrumental,
meramente prescritivo, até recusam admitir o papel dessa disciplina na forma-
ção de professores. No entanto, há uma didática implícita na orientação do tra-
balho escolar, pois, de alguma forma, o professor se põe diante de uma classe
com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A aprendizagem é cen-
trada na discussão de temas sociais e políticos; poder-se-ia falar de um ensino
centrado na realidade social, em que professores e alunos analisam problemas
e realidades do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com
seus recursos e realidades (LIBÂNEO, 1991, p. 68).
Assim sendo, entendemos que o professor utiliza, no decorrer das aulas, técnicas de ensino
como: seminários, trabalhos em grupo, júri simulado. O professor se coloca como animador do
processo de debates e, ainda, como aquele que suscita discussões colocando em evidência as
contradições vivenciadas na realidade social do contexto em que a escola se encontra inserida.
Quanto ao aluno, assume uma postura de denúncia de indignação em relação aos problemas
sociais, ocupa-se muitas vezes de levantar documentários, reportagens, artigos, para serem di-
vulgados em forma de seminários em sala de aula.
Ressaltamos que as atividades dos alunos são compostas de organização e apresentação
de encenações teatrais, paródias, poemas, filmes, ou seja, artifícios que possibilitam a apresen-
tação de mensagens que suscitam a reflexão dos alunos e professores a respeito das temáticas
que dizem respeito aos conteúdos das ementas das disciplinas e que representam os proble-
mas sociais.
Por meio desta Didática, os professores, em um clima de denúncia, caem na armadilha de
contribuir com a distorção do seu papel de quem ensina, quem orienta, quem instrui, para assu-
mir a condição de quem anima, assiste e, consequentemente, de quem assume o papel de diver-
sos profissionais que se relacionam com trabalhos de assistência social e de saúde.
42
Ciências da Religião - Didática
A Didática, ao ser posta pelo método dialético, vai tratar do ensino enquanto
apropriação do saber, enquanto ação-trabalho que se passa em uma realidade
específica que é, na maioria de suas expressões, a sala de aula (WACHOWICZ,
1995, p. 41-42).
Agora que você já estudou sobre as tendências pedagógicas e didáticas adotadas nas rela-
ções de ensino-aprendizagem norteadas pelas tendências, convidamos você a refletir conosco
na unidade III sobre o planejamento no contexto educacional.
43
UAB/Unimontes - 1º Período
Referências
COMÊNIO, J. A. A Didática Magna. Lisboa: Fundação Caoustre Gulbenkian, 1957.
GASPARIM, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas/SP: Autores
Associados, 2007. 191p.
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2003. 327p.
______. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 6ª ed. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 2006.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5 ed. Campinas, SP:
Papirus, 2000. 183p.
44
Ciências da Religião - Didática
Unidade 3
Planejamento de ensino:
importância e elementos
estruturantes
Laura Maria Pinheiro Leão
Liliane Campos Machado
3.1 Introdução
Nesta unidade, dialogaremos com você sobre os elementos que compõem o planejamento
de ensino, bem como sobre a importância de se planejar a ação educativa de forma consciente,
considerando que o ato de planejar consiste na programação da materialização de uma intenção
educativa, a fim de alcançar determinados objetivos.
Dessa forma, esclarecemos-lhe que estudar o planejamento de ensino implica possibilitar
a compreensão de que ele é essencial à formação, bem como é essencial à atuação do professor
no contexto da prática pedagógica.
Nessa perspectiva, vamos problematizar as condições históricas que produziram a neces-
sidade da prática de planejar o ensino por parte dos professores e, ainda, pensar a respeito de
como vem sendo a postura do professor diante do ato de planejar o ensino, sem perdermos de
vista as políticas que vêm norteando as ações de planejamento pelos sujeitos do processo edu-
cativo.
Ao falar a respeito do planejamento de ensino, Menegolla e Sant’Anna fazem a seguinte
problematização:
Planejar ou não o ensino. Eis a questão que sempre repete a mesma história,
sem que coisa alguma seja mudada. Planeja-se, projeta-se, prevê-se, realizam--
-se reuniões, tomam-se decisões, que fielmente são registradas em atas e ha-
bilmente arquivadas, mas tudo fica por isso mesmo. A rotina se repete dia a
dia, ano após ano. Esta parece ser a lamúria que prevalece na mente dos pro-
fessores, já cansados de tanto planejamento e de poucas mudanças no ensino
e na escola. E a descrença herética se difunde, se propaga de geração em gera-
ção (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 1992, p. 24).
45
UAB/Unimontes - 1º Período
GLOSSÁRIO Ao abordarmos a fala dessas autoras, a nossa intenção é alertar a respeito da importância
Planejar: fazer previsão do ato de planejar o ensino para o alcance dos objetivos almejados. Afinal, você já pensou como
e decidir sobre o que poderão ser os resultados de uma ação que não é planejada? Já pensou nas possibilidades de os
pretendemos realizar; o resultados esperados nunca serem alcançados por meio das ações escolhidas para ir ao encontro
que vamos fazer; como deles?
vamos fazer; o que e
como devemos analisar
a situação, a fim de
verificar se o que pre-
tendemos foi atingido.
Plano: é o resultado,
é a culminância do
processo mental de
planejamento, poden-
do ou não assumir uma
forma escrita.
É nessa direção que você precisa se conscientizar de que o planejamento de nossas ações,
independentemente de quais sejam, deve ser objetivo, simples, possível e funcional. No que se
refere ao planejamento educacional, mas especificamente do ensino, deve ser pensado como
uma ação política, que direciona o caminho para a realização de determinadas intenções que
se referem às atribuições do professor, na direção de preparar o homem para o enfrentamento
dos problemas encontrados no decorrer da vida, objetivando aprender a viver melhor.
Diante do exposto, para deslancharmos essas reflexões propostas nessa etapa, precisamos
lembrar que o ato de planejar é uma ação que o homem adota desde os tempos primitivos
para agir, vencer ou superar obstáculos, como, por exemplo, pensar e criar estratégias para ca-
çar, pescar, defender-se, etc. Para tal ação, fica evidente a necessidade do uso do pensamento
a respeito do passado, presente e futuro. O ato de pensar pode ser entendido como um ato de
planejar e tomar decisões das mais simples às mais complexas, no que diz respeito às questões
como: o que fazer, como fazer, para que fazer, para quem fazer e, especialmente, por que fazer.
PARA SABER MAIS Portanto, planejar a educação e mais precisamente o ensino implica pensar: o que ensinar,
Como tornar impor- para que ensinar, como ensinar, para quem ensinar e, especialmente, por que ensinar. Sendo
tante e única cada assim, alertamos que o planejamento de ensino é uma ação política, é movido por uma in-
atividade, cada tarefa, tenção, a serviço da necessidade de reconstrução do homem em dimensões sociais, pessoais,
cada proposta para a
vida de seu aluno? políticas e históricas. Devemos considerar, ainda, que esse ato envolve a racionalização do uso
de recursos humanos ou não, a fim de alcançar objetivos que devem ser definidos de forma
consciente na direção das escolhas do como fazer coerente com suas escolhas.
Nessa medida, num primeiro momento, discutiremos a respeito do planejamento de um
sistema educacional. Dando prosseguimento ao nosso estudo, discutiremos sobre planeja-
mento escolar, plano curricular, plano de ensino e seus tipos. Depois, discutiremos, também,
sobre plano de unidade e plano de aula.
Enfim, realizaremos uma reflexão envolvendo as características dos planos de ensino, bem
como os elementos que os compõem: objetivos, conteúdos, métodos, recursos didáticos e
avaliação.
46
Ciências da Religião - Didática
Nessa perspectiva, você precisa ter claro que a preocupação ao planejar o ensino é com a
produtividade como produto eficiente e eficaz do trabalho docente. Tal proposta de planejamen-
to predomina na década de 1960, período em que a educação brasileira é influenciada pela ten-
dência tecnicista, conforme estudamos na unidade II deste caderno. Portanto, a prática de pla-
nejar a educação nesse momento se ocupa das preocupações oriundas do modelo técnico da
educação, que se volta à instrumentalização, por meio do treino, para atender aos interesses de
uma sociedade que busca o desenvolvimentismo econômico.
Outro modelo de planejamento predominante na realidade educacional brasileira é difun-
dido desde o final da década de 1970, com o objetivo de negar o modelo de planejamento edu-
cacional predominante anteriormente. Dessa forma, lembramos-lhe que a concepção crítica da
PARA SABER MAIS
educação era difundida por meio de debates, discussões; enfim, de críticas realizadas a respeito
da realidade dogmática autoritária vivenciada no interior das escolas brasileiras. Qual a importância
Para entender melhor a prática de planejamento de acordo com essa visão, lançamos mão política e pedagógica
do planejamento de
também do pensamento de Lopes para mostrar que o modelo de planejamento educacional, ensino?
Diante das duas abordagens de planejamento apresentadas, você pode observar que uma
se fundamenta no princípio da racionalidade, e a outra, em princípios postos pela teoria crítica
originada pelas teorias da reprodução social que concebem a escola como aparelho ideológico
do Estado.
Portanto, você pode perceber que, de acordo com a primeira perspectiva de planejamento
educacional aqui abordada, demonstra-se uma total aceitação da racionalidade, de modelos pré-
-determinados, por meio de textos, livro didático, etc. Já na outra perspectiva, podemos perce-
ber uma rejeição aos moldes da primeira perspectiva. Sendo assim, torna-se necessário rever tais
47
UAB/Unimontes - 1º Período
Logo, você precisa considerar que sabe- bojo das reflexões acerca da elaboração da ten-
mos que, na prática pedagógica atual, é neces- dência pedagógica norteada pela pedagogia
sário ser repensado o processo de elaboração histórico-crítica, o planejamento educacional é
do planejamento, pois hoje os planejamentos pensado nessa direção. Diante dessa realidade,
são elaborados de forma a seguir orientações pesquisadores brasileiros concebem que o pla-
dos programas oficiais e dos livros didáticos, nejamento educacional não pode ser pensado
que, na maioria das vezes, desconsideram a isoladamente por um professor, mas sim coleti-
realidade sociopolítica do contexto no qual vi- vamente, no interior das escolas, considerando
vem os alunos. o contexto sócio-histórico vivenciado.
Diante do exposto, é preciso considerar Você precisa ter claro que o planejamento
que o ato de planejar não é neutro, porque o educacional, alicerçado em uma ação pedagógi-
sujeito que planeja tem em vista determinada ca histórico-crítica, é pensado por educadores-
visão de mundo que, por sua vez, determina -pesquisadores que defendem a ideia de que é
sua intenção, ou melhor, sua política. De acordo necessário que o professor tenha ações emanci-
com a ótica aqui apontada, você precisa levar padas para administrar a relação educativa que
em conta que as diretrizes adotadas em um de- ocorre na sala de aula e no interior da escola.
terminado planejamento estão de acordo com Dessa forma, o planejamento deve ser pensado
a visão de mundo que fundamenta os interes- de forma articulada entre os professores, objeti-
ses de quem planeja. Afinal, você age conforme vando levar em conta a prática social no contex-
pensa. E você pensa da maneira como concebe to no qual a escola se encontra inserida.
o mundo. E a maneira como você concebe o Gostaríamos de que você compreendesse
mundo vai depender da sua história, da educa- que, sob essa ótica, o planejamento não é nor-
ção que recebeu no decorrer da sua vida. teado por uma lista de conteúdos, livro didá-
Na sequência dessa reflexão acerca do tico, nem é pensado objetivando atender aos
planejamento, precisamos considerar que, interesses e necessidades apresentadas indi-
além das duas perspectivas de planejamento vidualmente pelos alunos. Mas é pensado en-
que apresentamos, existe outra possibilidade tre os professores que, articulados, procuram
de planejamento que foi criada com a inten- situar os conteúdos com a prática social dos
ção de superar a visão de planejamento que alunos, com a finalidade de superar o enfoque
norteia as que predominavam no contexto que dicotomiza a relação teoria-prática.
educacional brasileiro. A respeito do planejamento segundo
A partir de meados da década de 80, no essa visão, Lopes (2002, p. 51) afirma que, de
48
Ciências da Religião - Didática
49
UAB/Unimontes - 1º Período
objetivos a serem atingidos e à previsão de ações tanto pedagógicas como administrativas. Ele é
o mais próximo da comunidade escolar, pois suas ações devem ser executadas por ela, prevendo
o bom andamento da escola.
Além do que afirma essa autora, entendemos que ainda é necessário esclarecer que a ela-
boração de um planejamento escolar, para além da definição de metas, elaboração de objetivos
e previsão de ações, implica a definição da política da escola que, por sua vez, traz implícita em
si os interesses do grupo que a dirige. Nessa perspectiva, é necessário que os professores se ar-
ticulem de forma a criar condições para que o planejamento escolar seja realizado a partir dos
interesses da comunidade escolar. É preciso que fique clara a visão de mundo que norteará o
trabalho pedagógico proposto no planejamento. Esclarecemos que a prática de planejar nessa
ótica torna-se uma prática emancipada e que as pessoas envolvidas no processo de planejamen-
to se posicionam como verdadeiros sujeitos da história da educação no contexto em que vivem.
Diante da postura acima mencionada, esclarecemos que cada escola tem a liberdade de
criar o seu planejamento. Ressaltamos que é extremamente importante você saber que, quando
falamos de modelo de planejamento, estamos falando de política, de intenções, de ideologias.
Quando nos referimos ao modelo de gestão a ser definido e adotado pela direção, não estamos
nos referindo apenas à estrutura de um planejamento escolar, estamos nos referindo a um posi-
cionamento que será expresso por meio de um esquema que pode seguir o modelo do esquema
abaixo:
a. Sondagem e diagnóstico da realidade da escola para levantar dados atualizados sobre:
• Características da comunidade e da clientela escolar;
• Levantamento dos recursos humanos e materiais disponíveis;
• Avaliação das ações da escola no ano anterior: evasão, repetência, percentagem de apro-
vação, qualidade do ensino ministrado, dificuldades e problemas superados ou não supera-
dos.
b. Definição dos objetivos e prioridades da escola.
c. Proposta de organização geral da escola:
• Quadro curricular e carga horária dos diversos componentes do currículo;
• Calendário escolar;
• Critérios de enturmação dos alunos;
• Definição do sistema de avaliação, contendo normas para a adaptação, recuperação, reposi-
ção de aulas, compensação de ausência e promoção dos alunos.
d. Elaboração de plano de curso contendo as programações das atividades curriculares.
e. Elaboração do sistema disciplinar da escola com a participação de todos os membros da
escola, inclusive do corpo discente.
f. Atribuição de funções a todos os participantes da comunidade escolar: direção, corpo do-
cente, corpo discente, corpo administrativo e equipe pedagógica.
Carvalho afirma:
51
UAB/Unimontes - 1º Período
e. Precisão e clareza: Devem apresentar uma linguagem simples e clara – os enunciados devem
ser exatos e as indicações precisas–, pois não podem ser objeto de dupla interpretação.
Salientamos que o planejamento de ensino não deve ser apenas uma formalidade, que vise
apenas à elaboração de um plano vazio e sem sentido para satisfazer uma exigência burocrática.
Assim, a elaboração de um planejamento de ensino envolve: objetivos, conteúdos, procedi-
mentos didáticos, recursos de ensino e avaliação, os quais serão detalhados nos próximos itens.
PLANO DE ENSINO
CENTRO DE
CURSO:
DISCIPLINA: DEPARTAMENTO:
PROFESSOR:
Período C/Horária Semanal C/Horária Total Semestre/Ano Letivo
Teórica Prática
EMENTA
OBJETIVOS
Geral:
Específicos:
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Unidade I
Figura 16: Roteiro de um ► Unidade II
Plano de Curso. Unidade III
Fonte: Universidade Esta-
dual de Montes Claros
METODOLOGIA DE ENSINO
RECURSOS DIDÁTICOS
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
52
Ciências da Religião - Didática
Você precisa ter claro que, ao definir os objetivos do planejamento, o professor estará tra-
çando a metodologia, os recursos e o processo de avaliação do trabalho pedagógico, porque os
objetivos se referem à busca de concretização de uma intenção. E, para tal, é necessária a realiza-
ção de ações e a utilização de recursos adequados ao ensino dos conteúdos das disciplinas pre-
vistas, de forma que permitam práticas adequadas à realização da direção proposta.
Você precisa ter claro que, na definição dos objetivos, tendo em vista um processo de ensi-
no transformador, será essencial considerar o nível de aprendizagem a ser atingido, a aquisição,
a reelaboração dos conhecimentos aprendidos e a produção de novos conhecimentos. Para tan-
to, como afirma Lopes (2002, p. 47), “os objetivos deverão expressar ações, tais como a crítica, a
curiosidade científica, a investigação e a criatividade”.
Lembramos-lhe, também, que, para Castanho e Castanho (2001), os objetivos da educação
são resultados da ação dos comportamentos individuais e sociais, das instituições dedicadas ao
ensino e das organizações responsáveis por políticas educacionais.
Ressaltamos que há muitos nomes para os objetivos, mas o importante é apreender de fato
o que significa um objetivo para a vida do aluno e do professor. Castanho e Castanho (2001, p.
59) chamam a atenção para “a preocupação exagerada com a definição de objetivos que possam
ser previstos, observados, medidos, comparados pode levar o professor a pensar que só esses
objetivos podem ser ensinados”.
53
UAB/Unimontes - 1º Período
Assim, futuro professor, ao definir os objetivos educacionais, deve estar atento aos interes-
ses envolvidos e ao tipo de objetivo mais adequado e quais instâncias sociais pretende atingir.
Falando de objetivos, Gasparim afirma:
Esclarecemos que, para a formulação dos objetivos, Gasparim (2007) considera dois elemen-
tos básicos:
• O que estudar, que evidencia o conteúdo a ser aprendido, apropriado intelectualmente
pelo aluno e
• Para que estudar, que explica a finalidade da aquisição do conteúdo e a ação do professor.
Específicos:
• Apresenta aos alunos a perspectiva do que se espera deles ao término de cada atividade ou
ação realizada no estudo de uma unidade ou de um projeto de trabalho.
• Podem ser tantos quantos forem necessários para realizar o objetivo geral proposto.
Para facilitar sua compreensão, vamos colocar neste espaço alguns objetivos, segundo Gas-
parim (2007).
Exemplos de verbos que podem ser usados nos objetivos:
Analisar, anotar, aplicar, aprender, avaliar, calcular, citar, conceituar, comparar, compor, com-
preender, conhecer, criticar, debater, definir, desafiar, discutir, descrever, desvelar, diferenciar,
discriminar, distinguir, dominar, elaborar, entender, esclarecer, escolher, escrever, esquematizar,
exemplificar, explicar, formular, julgar, identificar, inferir, interpretar, justificar, ler, localizar, obser-
var, ordenar, planejar, possibilitar, preservar, problematizar, produzir, refletir, registrar, relacionar,
resolver, responder, resumir, selecionar, sensibilizar, utilizar, verificar.
Agora vamos dialogar um pouco a respeito da seleção e organização dos conteúdos. Para
conversarmos a respeito desse assunto como processo pedagógico, precisamos considerar a ne-
cessidade de um resgate histórico das abordagens da Didática para se tornar possível pensar a
questão: A quem compete a seleção e organização dos conteúdos escolares? Diante dessa ques-
tão, não podemos esquecer que as orientações para escolha dos conteúdos assumem diferentes
formas, conforme as várias tendências pedagógicas construídas historicamente.
Exemplo:
Conteúdo: Água
54
Ciências da Religião - Didática
Objetivo geral:
• Aprender o conteúdo água em suas diversas dimensões, a fim de adquirir um novo conceito
e uma consciência crítica sobre o tema, assumindo um compromisso efetivo de uso adequa-
do da água.
Objetivos específicos:
• Conhecer cientificamente a água para distingui-la de outros líquidos usados na vida cotidiana.
• Conhecer os processos de transformação dos estados físicos da água, a fim de entender
como o homem os utilizou e os utiliza cientificamente em seu benefício.
• Entender a água como um elemento socionatural em suas dimensões econômica, política,
social, religiosa e histórica, para criar uma consciência crítica sobre o seu uso pelo homem. ▲
• Analisar o ciclo da água, buscando compreender a influência sobre o homem e a agricultura. Figura 18: Sala de
• Aplicar os conhecimentos adquiridos e com isso economizar água e não poluir os rios, as aula tradicional
fontes. Fonte: aprendizadocon-
tinuo.blogspot.
• Verificar o nível de poluição dos rios próximos à cidade, à escola, a fim de encaminhar às au-
toridades competentes sugestões para o saneamento.
Para continuar nossa reflexão, remetemo- cimento a partir da atividade do aluno, do pro-
-nos agora à tendência pedagógica escolano- cesso de ele aprender o conteúdo.
vista ou humanista moderna, que, como já es- Diante da lógica escolanovista, precisa-
tudamos na segunda unidade, em sua teoria, a mos ter claro que os conteúdos são escolhidos
Escola Nova valoriza a redescoberta do conhe- e organizados com base na manifestação dos
55
UAB/Unimontes - 1º Período
interesses dos alunos, com o intuito de aten- Dessa forma, a seleção, bem como a or-
der às diferenças individuais e levar em conta ganização dos conteúdos, não compete ao
as manifestações das representações presen- professor, pois ele já os recebe organizados,
tes no ambiente onde a criança reside. padronizados, por meio dos manuais e livros
didáticos, o que justifica serem treinados para
decodificar e aplicar as atividades previstas.
Cabe ao professor apenas a atividade prática
Figura 20: Conteúdos ► que se refere à aplicação da teoria produzida
Tecnicistas
por especialistas distantes da realidade do co-
Fonte: professorarosange-
la.zip.net tidiano escolar.
No que se refere às teorias progressistas,
podem ser consideradas várias tendências,
como a necessidade de transmissão compe-
Ao voltarmos nossas atenções para a ten- tente do saber acumulado pela humanidade
dência pedagógica tecnicista, consideramos e a redefinição dos conteúdos a partir de um
que, nessa tendência, a educação centra-se na determinado ponto de vista de classe, em que
instrução por meio do treino. Podemos obser- alguns conteúdos são mais verdadeiros e, ain-
var que nela a ênfase está nas informações es- da, os que acreditam na sistematização cole-
pecíficas e objetivas, cientificamente ordena- tiva do conhecimento a partir de problemas
das, tendo em vista a produtividade. O aluno postos pela prática social.
é preparado para ser capaz de desempenhar Numa perspectiva histórico-crítica de
bem no trabalho, em testes ou exames. educação, como afirma Gasparim:
Neste estudo, podemos ainda lembrar que, dependendo do interesse de quem planeja a
educação, o processo de seleção e organização dos conteúdos pode ser caracterizado de ma-
neiras diferentes. Nesse caso, atendendo à referência bibliográfica proposta para esse conteú-
56
Ciências da Religião - Didática
do, podemos citar as palavras de Haidt (2003) quando diz que existem duas modalidades de
organização do conteúdo, de acordo com o seu nível de operacionalização. Vejamos:
a. Programa escolar oficial: É o guia que traça em linhas gerais os fins e os conteúdos da
ação educativa. Em geral, é elaborado no nível de sistema oficial de ensino e visa dar uma
unidade ao trabalho do professores de uma determinada rede de escolas de um estado
ou município.
b. Programa pessoal de cada professor: É o plano de ensino de cada professor, em que são
operacionalizados os objetivos e os conteúdos da ação educativa, de acordo com o nível
de desenvolvimento e com as aprendizagens anteriores dos alunos.
Haidt (2003) afirma, ainda, que a seleção dos conteúdos deve se basear nos seguintes cri-
térios:
a. Validade: Os conteúdos devem estar adequados e vinculados aos objetivos propostos.
São válidos quando há uma atualização dos conhecimentos do ponto de vista científico. O
educador precisa fazer ajustes na sua programação incorporando os conhecimentos mais
atualizados da ciência.
b. Utilidade: Quando há possibilidade de aplicar o conhecimento adquirido em situações
novas. São considerados úteis quando estão adequados às exigências e condições do
meio em que os alunos vivem, satisfazendo suas necessidades e expectativas, e quando
têm valor prático para eles, ajudando-os na vida cotidiana a solucionar seus problemas e a
enfrentar as situações novas.
c. Significação: Um conteúdo será significativo e interessante para o aluno quando estiver
relacionado às experiências por eles vivenciadas.
d. Adequação ao nível de desenvolvimento do aluno: O conteúdo deve respeitar o grau
de maturidade intelectual do aluno e estar adequado ao nível de suas estruturas cogni-
tivas. Devem corresponder às aprendizagens essenciais e desejáveis, contribuindo para o
desenvolvimento das potencialidades do aluno, de acordo com sua fase evolutiva e com
os interesses que o impelem à ação.
e. Flexibilidade: O critério estará sendo atendido quando houver possibilidade de fazer al-
terações nos conteúdos selecionados, suprimindo itens ou acrescentando novos tópicos,
a fim de ajudá-los ou adaptá-los às reais condições, necessidades e interesses do grupo de
alunos.
Além disto, para a mencionada autora, o aluno deve ter oportunidade de elaboração
pessoal do conteúdo trabalhado, operar intelectualmente o conteúdo aprendido, fazendo as-
sociações e comparações, relacionando e integrando os novos elementos aos já assimilados,
pesquisando e organizando novas informações, selecionando alternativas e avaliando ideias.
Assim, o aluno estará construindo, ou melhor, reconstruindo o conhecimento.
57
UAB/Unimontes - 1º Período
Dedicaremos também um espaço deste estudo à reflexão a respeito da escolha dos procedi-
mentos de ensino, devendo levar em consideração que escolher métodos implica escolher cami-
nhos a seguir e que escolhê-los depende da visão de mundo de quem escolhe. Ou seja, você age
de uma forma porque pensa de uma forma que lhe orienta a agir como tal. Escolher métodos
implica definir formas de agir.
Metodologia de ensino
Esclarecemos-lhe que pensar os métodos e técnicas de ensino implica levar em conta que
eles não são neutros, pois estão baseados em pressupostos teóricos implícitos, que determinam
a prática docente e suas intenções ao escolher os métodos que serão utilizados na sala de aula.
Além disso, sua escolha e aplicação dependem dos objetivos propostos.
Recomendamos que, ao escolher um procedimento de ensino, o professor deva considerar
os seguintes aspectos básicos:
a. adequação aos objetivos estabelecidos para o ensino e a aprendizagem;
b. a natureza do conteúdo a ser ensinado e o tipo de aprendizagem a efetivar-se;
c. as características dos alunos: faixa etária, o nível de desenvolvimento mental, o grau de
interesse, suas expectativas de aprendizagem;
d. as condições físicas e o tempo disponível.
É a partir desses critérios que se estabelece o como ensinar, isto é, que se definem as formas
de intervenção na sala de aula para ajudar o aluno no processo de reconstrução do conhecimento.
Alertamos, ainda, que estamos de acordo com Gasparim (2007) quando esse autor chama
atenção para as técnicas convencionais de ensino que existem há muito tempo e que são de
grande importância para a mediação pedagógica. São processos ativos que possibilitam o con-
tato entre o conteúdo e os alunos na realização da aprendizagem. Nesse momento, o que conta
é a capacidade de o professor selecionar procedimentos eficientes que provocam o interesse do
aluno em participar das atividades propostas.
Destacamos, também, que Gasparim (2007, p.111), apud MASETTO (2000, p.146-163), classi-
fica os procedimentos dinâmicos, em três grupos:
1º Grupo: Técnicas de apresentação simples, apresentação cruzada em duplas, tempestade
cerebral e outras. Geralmente, são usadas no início de um curso para entrosamento do grupo,
em que os membros comecem a estabelecer um clima agradável de trabalho, de aprendizagem
individual ou de grupo.
2º Grupo: Técnicas de simulação, como: dramatização, desempenho de papéis, jogos de
empresa, estudo de caso, etc., as quais desafiam o educando a buscar soluções para problemas,
analisar variáveis que afetam uma situação, preparando-o para enfrentar situações reais.
3º Grupo: Técnicas que põem o aluno em contato direto com situações reais. São os está-
gios, excursões, aulas práticas, visitas a locais, como: indústrias, escolas, empresas, consultórios,
escritórios, fórum, etc. São excelentes meios para verificar a concordância ou a divergência entre
teoria e prática. A própria realidade torna-se mediadora da aprendizagem.
58
Ciências da Religião - Didática
Você não pode se esquecer de que abordar sobre recursos didáticos implica pensar nas pos-
sibilidades de materiais que auxiliam no processo ensino-aprendizagem, provocando o interesse
dos alunos e facilitando a participação destes durante as aulas.
Ao selecionar os recursos, você deve ter em vista os objetivos propostos no planejamento e
verificar se estão condizentes com o conteúdo e com a natureza da matéria que será trabalhada.
Para garantir a eficácia do recurso didático, você deve também conhecer a sua aplicabilida-
de e funcionalidade, tendo o cuidado de testá-lo com certa antecedência, evitando, assim, a im-
provisação. Deve, ainda, verificar as condições do ambiente, uma vez que o funcionamento ade-
quado de alguns recursos depende de que a sala tenha disponíveis: tomadas de energia elétrica,
ausência de claridade, espaço suficiente para realização da atividade.
Ao planejar as atividades, você deve prever, com cuidado, o tempo disponível para a utiliza-
ção dos recursos para sua realização. Quando necessário, buscar alternativas com os alunos e até
mesmo com outros professores e com outros funcionários da escola.
O professor Nélio Parra, citado por Haidt (2003, p. 236), classifica os recursos didáticos divi-
dindo os materiais auxiliares do ensino-aprendizagem em três categorias, de acordo com o senti-
do para o qual se dirigem:
• Recursos visuais, que apelam apenas à visão;
• Recursos auditivos, que se dirigem somente à audição;
• Recursos audiovisuais propriamente ditos, que reúnem os estímulos visuais e auditivos.
São critérios para a utilização dos recursos audiovisuais, segundo Haidt (2003, p.238):
• Adequação: Ao ser utilizado como meio auxiliar do processo ensino-aprendizagem, deve ser
adequado não só aos objetivos propostos e ao conteúdo a ser assimilado, como também ao
grau de desenvolvimento, necessidades e interesses dos alunos.
• Funcionalidade: Deve possibilitar uma utilização dinâmica ativando o pensamento reflexivo
do aluno.
• Simplicidade: Deve, de preferência, ser de baixo custo e fácil manejo, permitindo a manipu-
lação tanto pelo professor como pelo aluno.
• Qualidade e exatidão: Devem transmitir com exatidão a mensagem que se deseja comuni-
car, oferecer informações claras, objetivas e precisas e facilitar a compreensão do conteúdo.
Devem, ainda, ser atraentes, despertando o interesse dos alunos e incentivando sua partici-
pação na aula.
59
UAB/Unimontes - 1º Período
▲
Figura 23: Sala de aula 3.6.3.5 Avaliação da aprendizagem
Fonte: http://educacao-
-especial.madeira-edu.
pt/Portals/2/imagens/ Iniciaremos o diálogo sobre a avaliação de aprendizagem alertando para o fato de a avaliação
inaug2.JPG
ser um dos elementos do planejamento de ensino e que deve ser definida no início do processo
quando o professor define os objetivos de ensino. Como bem lembra Luckesi (2000, p.118), ao afir-
mar: “a avaliação atravessa o ato de planejar e de executar; por isso contribui em todo percurso da
ação planificada”.
Você deve ficar atento para o fato de que avaliamos constantemente sem darmos contas
do ato de avaliar. Em todos os momentos de nossa vida, avaliamos uma situação, uma atividade
ou uma pessoa, partindo de juízos provisórios, opiniões assumidas como corretas e que ajudam
a tomar decisões, avaliando, também, permanentemente o cotidiano da sala de aula. Contudo,
Kenski afirma:
Você não pode se esquecer de que nas Alertamos, ainda, sobre o fato de que
relações cotidianas de sala de aula professores professores influenciados por esses juízos são
e alunos emitem juízos, emitem opiniões e até levados a decidir entre o castigo, punições ou
fazem julgamentos sobre a turma e/ou sobre elogios conforme suas expectativas, de sua
cada aluno em particular. Juízos que, muitas concepção do que seja correto, do seu sentido
vezes, são responsáveis pelas atitudes toma- particular de verdade.
das por ambas as partes, que vão desde a cola- Ainda, lembramos-lhe que a avaliação
boração e participação positiva até os atos de deve estar vinculada a um projeto educativo
resistência e oposição da turma. mais amplo, que deve contar com a participa-
60
Ciências da Religião - Didática
61
UAB/Unimontes - 1º Período
ATIVIDADE
Considerando o que
discutimos sobre os
níveis de planejamento
e os detalhamentos
sobre a elaboração do
“PLANO DE ENSINO”,
solicitamos como ati-
vidade dessa unidade
que você escolha uma
disciplina da sua área • Planejamento não é apenas um
de formação e, a partir
dessa escolha, elabore amontoado de planos.
um plano de ensino.
• Ele tem de ser flexível
Daqui está
ótimo
• Lembre-se sempre de que, no contexto
Figura 27: Caricatura ► da sala de aula, vamos encontrar diver-
do que é bom para um sidades. Isso significa que o que é bom
pode não ser para o para um pode não ser bom para outro.
outro
Por isso, você teve ter a flexibilidade
Fonte: Arquivo pessoal de
Liliane Campos Machado, como a base do seu planejamento.
2012
Referências
CARVALHO, Irene Mello. O processo didático. 4. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1973. 400p.
CASTANHO, M. E.; CASTANHO, Sérgio E. M. Revisitando os objetivos da educação. In: VEIGA, Ilma
Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.
p. 53-64.
CASTANHO, M. E.; CASTANHO, Sérgio E. M.Os objetivos da educação. In: VEIGA, Ilma Passos Alen-
castro (Coord.) Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002. p.53-76.
62
Ciências da Religião - Didática
DÍAZ BORDENAVE, Juan; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. 25. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. 312p.
GASPARIM, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas/SP: Autores
Associados, 2007. 191p.
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2003. 327p.
KENSKI, Vani Moreira. Avaliação da aprendizagem. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Di-
dática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 1999. p. 131-144.
LOPES, Antônia Osima. Planejamento do ensino numa perspectiva crítica de educação. In: VEIGA,
Ilma Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus,
2001. p. 41-52.
LOPES, Antônia Osima. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA,
Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 180p.
MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. São
Paulo: Loyola. 1999. 181p.
MENEGOLLA, M. SANT’ ANNA. I. M. Porque planejar? Como planejar? Currículo- Área - Aula. Rio
de Janeiro: Vozes 1992.
63
Ciências da Religião - Didática
Unidade 4
Diferentes formas de
trabalho pedagógico na
contemporaneidade: projetos de
trabalho
Rosângela Silveira Rodrigues
Rose Mary Ribeiro
4.1 Introdução
Caro(a) acadêmico(a), estamos iniciando a terceira unidade desse caderno e, para tal, preci-
samos lembrar-lhe de que nesta unidade oferecemos ao futuro professor oportunidade de ques-
tionar sobre o modelo de ensino-aprendizagem que está sendo vivenciado no espaço escolar.
Dessa forma, convidamo-lo(a) a enveredar neste debate sobre a importância do trabalho
com projetos como possibilidade de avanço no trabalho pedagógico na sala de aula. Assim afir-
mamos porque consideramos que muitas são as tentativas da escola de encontrar novas formas
de trabalho para amenizar as dificuldades de aprendizagem dos alunos enfrentadas pelos pro-
fessores no cotidiano escolar, na maioria das vezes, tentativas frustrantes. Gasparim (2007, p. 2)
acredita que “pode ser que a escola, hoje, não esteja acompanhando as mudanças da sociedade
atual e por isto deva ser questionada, criticada e modificada para enfrentar os novos desafios”.
Nesse contexto, o nosso estudo tem como objetivos:
• Compreender a cultura da organização escolar, a fim de refletir acerca da importância do
uso adequado do tempo e do espaço na escola no processo ensino- aprendizagem.
• Problematizar as contradições presentes na realidade da cultura e organização escolar bra-
sileira, tendo em vista a atual realidade das políticas educacionais que propõem o modelo
predominante de organização escolar por meio de projetos de trabalho que visam adequar
o processo ensino aprendizagem ao tempo e espaço escolar.
• Desvelar a dinâmica proposta para a vivência dos projetos no trabalho com os temas trans-
versais, de forma a refletir acerca das implicações políticas presentes na ideia de valorização
da pluralidade cultural brasileira para a cidadania como participação social e política.
• Compreender os fundamentos pedagógicos que sustentam o trabalho com projeto, bem
como as intenções implícitas na realidade histórico-social e política que demandam a vivên-
cia do ensino- aprendizagem por meio de trabalhos com projetos.
• Pensar a concepção de ensino-aprendizagem que está presente nos projetos de trabalhos, a
fim de escolher conscientemente os procedimentos e os recursos didáticos adequados para
a prática pedagógica.
4.2 O contexto
Após apresentarmos os objetivos das nos- siderar que, na atual realidade social, o mundo
sas conversas nesta unidade e antes de iniciar- em que vivemos se encontra organizado por
mos a reflexão a respeito do eixo teórico que políticas que determinam um retorno ime-
discutiremos aqui, ressaltamos que, para dis- diato no que se refere às reações das diversas
cutirmos o assunto aqui proposto, requer con- ações, sejam sutis, sejam explícitas.
65
UAB/Unimontes - 1º Período
Dessa forma, podemos pontuar que o ral buscou se articular, se arejar frente às novas
cenário em que se situa a escola pública con- demandas da sociedade capitalista, a escola
temporânea determina a essa instituição o foi chamada para incutir valores sociais desejá-
dever da transmissão dos conhecimentos veis para o momento histórico”, e, consequen-
historicamente acumulados, relegando ao temente, promove a desigualdade entre as
conhecimento a condição de ser consumido, classes, excluindo as economicamente menos
o que faz dele um investimento, de forma co- favorecidas.
erente com a sociedade globalizada, a qual Todavia, precisamos levar em conta que a
pressupõe a grande relevância do consumo. escola necessita se organizar, de maneira a se
No atual contexto social denominado posicionar na tentativa de se dignificar, não se
pós-modernidade, à escola é atribuída a fun- recusando, por meio de denúncias vazias, dos
ção de “vender” o ensino, considerado um fundamentos que justificam a produção capi-
produto consumido de acordo com a ordem talista. Pois, nesse contexto, por meio da influ-
determinada pelos interesses capitalistas. Pre- ência da globalização, veículos como a escola
cisamos, então, ficar atentos e levar em conta são utilizados para formar valores sociais, for-
que é responsabilidade da escola trabalhar e mas e normas das mais diversas culturas, a ser-
se organizar para que possa formar pessoas viço da lógica do mercado, fazendo com que
capazes de atuar no mundo com atitudes res- o modelo neoliberal seja aceito e apreendido
ponsáveis, conscientes, considerando que, se- como natural por meio da cultura expressa na
gundo Jacomeli (2007, p. 33), “a ideologia libe- pós-modernidade, como afirma Jacomeli:
Alertamos, nessa direção, que discutir es- Organizar a escola de forma consciente
tas questões, ao pensar a organização da es- implica também saber que o neoliberalismo
cola, é necessário considerarmos que a escola determina as relações sociais atuais ao deter-
não é neutra e se encontra inserida em uma minar, também, as políticas educacionais por
sociedade que a produz a serviço do entendi- intermédio de organizações financeiras de-
mento de uma ideologia, que, nesse momen- fensoras dos interesses das empresas transna-
to, consiste na ideologia neoliberal que legiti- cionais, de forma que o Estado pobre se torna
ma a globalização do capitalismo e legitima a dependente das políticas e dos financiamen-
democracia, condenando e negando qualquer tos com intervenção dos organismos interna-
outra visão de mundo, com o objetivo de jus- cionais na organização da educação, conforme
tificar a invasão até mesmo de países, como, afirma Sanfelice,
por exemplo, Estados Unidos versus Iraque.
66
Ciências da Religião - Didática
67
UAB/Unimontes - 1º Período
tres ou trimestres, e que o espaço, também, é duzida para servir aos interesses das classes
fragmentado, tendo cada turma uma função economicamente mais favorecidas.
em sua sala, em cada espaço. Alertamos que, dessa maneira, as políticas
Ressaltamos que é necessária a constru- educacionais deveriam promover a uma educa-
ção de políticas que promovam a superação ção democrática, emancipatória e libertadora.
de tal quadro, criando condições adequadas Vivenciamos desde o início dos anos 2000 uma
para o envolvimento significativo dos alunos série de reflexões sobre o papel da escola, sua
em um projeto coletivo que organize o espaço função social, o significado das experiências
escolar, recrie o tempo transformando-o, de escolares para aqueles que dela participam. E
forma a abrir os portões da escola para a par- a Pedagogia de Projetos, nesse contexto, apre-
ticipação da comunidade. Assim, será possível senta-se como uma concepção de posturas pe-
intervir na tradição individualista do trabalho dagógicas e não meramente como uma técnica
docente, que compreendemos ser estrategica- de ensino muitas vezes considerada como mais
mente produzida de modo a responsabilizar o atrativa para os alunos.
professor pela educação de uma determinada Acreditamos que a cooperação e a intera-
turma, como se ele, de forma isolada, fosse ca- ção substituirão o isolamento e a competição
paz de driblar a estrutura social e política pro- tão acentuados na escola tradicional.
68
Ciências da Religião - Didática
Considerando o que você viu no vídeo, podemos afirmar que o projeto consiste em uma ati-
tude intencional, um plano de trabalho, um conjunto de tarefas que se desenvolvem a partir do
envolvimento individual e social do aluno nas atividades propostas (empreendidas) por alunos e
professores.
DICA
Acesse o link a seguir
e assista a uma fala
do professor Nilbo
Nogueira. Link: http://
www. youtube.com/
watch?v=eguk20OL76c
Assim sendo, o projeto traz em sim uma proposta de intervenção pedagógica que ressigni-
fica o modelo tradicional/tecnicista de aprender. E nessa proposta precisam ser consideradas as
necessidades de aprendizagem que surgem no processo de tentativa de solução das situações
problemáticas.
69
UAB/Unimontes - 1º Período
A partir da leitura da figura 3, podemos afirmar que o projeto gera situações de aprendi-
zagem, ao mesmo tempo reais e diversificadas, e isso favorece a construção da autonomia e da
autodisciplina por meio de situações criadas em sala de aula para reflexão, discussão, tomada
de decisão, observância de combinados e críticas em torno do trabalho em andamento, pro-
porcionando ao aluno, ainda, a implementação do seu compromisso com o social, tornando-o
sujeito do seu próprio conhecimento.
A seguir vamos conversar sobre as etapas de um projeto, veja-as no quadro a seguir:
• até que ponto ele vai despertar e manter a atenção dos seus
alunos?
• quanto contribuirá para ampliar o conhecimento deles?
• quais as vantagens e desvantagens de escolher este ou aquele
tema?
São as ações que você desenvolverá para tornar possível o desenvol-
vimento do projeto. Os questionamentos que pode ajudar você a de-
OBJETIVOS finir os objetivos são:
• O que você pretende alcançar com este projeto?
• O que gostaria que seus alunos aprendessem com ele?
Esse é o momento que deve ser vivenciado pelos alunos e sob a orien-
tação do professor. Os alunos expressam suas ideias, demostram seus
conhecimentos sobre o assunto e de forma coletiva elaboram ques-
PROBLEMATIZAÇÃO tões sobre o tema escolhido. É com o intuito de responder a essas
questões que a turma (alunos e professores) desenvolverá o projeto.
As experiências, os saberes e as histórias de vida nessa etapa deverão
ser valorizados.
70
Ciências da Religião - Didática
Por fim sugerimos que você lance mão da auto- avaliação, por ser essa DICA
um instrumento interessante ao processo educativo.
Para saber mais a res-
Fonte: as autoras, 2013 peito da relação teoria/
prática, veja Sanchez
Gamboa (1996).
Agora que você já sabe um pouco sobre as etapas do desenvolvimento do projeto, você
precisa tornar-se consciente de que elas devem ser consideradas como parte de um processo
contínuo, onde os alunos e o professor são sujeitos susceptíveis a mudanças e a recontextualiza-
ções, de acordo com as demandas que surgem durante o desenvolvimento do projeto, por isso
essas etapas não podem ser estanques, seguindo rigidamente o passo a passo.
Veja a figura a seguir
71
UAB/Unimontes - 1º Período
Você deve considerar nesse contexto nós, pois ele pode enriquecer nossa vida e
que, na perspectiva do trabalho com proje- nos ensinar diferentes maneiras de existirmos
tos, a aquisição da cultura acumulada social- socialmente e criarmos o futuro.
mente não se dá a partir de um movimento Discutir a respeito do trabalho por meio
de substituição ou justaposição, como acon- de projetos implica pensar inicialmente que
tece numa perspectiva compartimentada. projetar um trabalho educativo a ser desen-
O projeto é sempre um processo de recons- volvido na sala de aula, no âmbito de uma
trução, no qual a função do professor consis- instituição escolar, não implica apenas orga-
te em possibilitar a criação de um campo de nizar conteúdos, traçar objetivos e escolher
compreensão comum na sala de aula e em métodos de ensino. Significa sim traçar uma
apresentar instrumentos para ampliar esse estratégia de ação, com fins determinados
espaço de conhecimento partilhado. em direção à for- mação de pessoas a se tor-
Traz como um de seus elementos centrais narem um determinado modelo de homem.
a incorporação da pluralidade de conhecimen- Você precisa ter claro que projetar um
tos presentes na dinâmica social, transforman- trabalho pedagógico significa planejar um
do a escola em espaços de vivências culturais roteiro e mecanismos para alcançar uma in-
reais e significativas. O desafio da pluralidade tenção educativa, se entendemos que alcan-
cultural é respeitar os diferentes grupos e cul- çar uma intenção requer traçar ações que
turas que formam a etnia do povo brasileiro e serão vivenciadas e que traçar ações implica
mundial, incentivando o convívio dos diversos determinar uma política a seguir, que deter-
grupos, e fazer dessa convivência um fator de mina, por exemplo, um modelo de relação
enriquecimento cultural. sujeito-objeto, teoria- prática, valores, ou
Assim, devemos buscar compreender as seja, uma visão de mundo.
questões mais importantes que o século XXI Assim, alertamos que toda visão de
suscita e sobre as quais cada um de nós pode mundo defende interesses políticos, econô-
e deve refletir. A escola deve propor um tra- micos e ideológicos, que podem ser percebi-
balho pedagógico coletivo, em que os pro- dos no contexto social em que eles nascem.
fessores e seus alunos devam respeitar as di- Dessa forma, é um projeto de trabalho peda-
ferenças, enriquecer-se com elas e, ao mesmo gógico, sendo fundamentado em uma deter-
tempo, valorizar a própria identidade cultural minada visão de mundo, que expressa em si
e regional. Assim, formaremos homens capa- um interesse político, econômico e ideológi-
zes de lutar por um mundo em que o respei- co que o gerou que o faz necessário.
to às diferenças seja a base de uma visão de Consideradas essas reflexões, salienta-
mundo cada vez mais rica para todos nós. mos que, atualmente, podemos encontrar
Alertamos que, nessa direção, é a ética dois modelos de projetos de trabalho peda-
que norteia e exige de todos, da escola e de gógico que são utilizados nas escolas brasi-
educadores em particular, propostas e inicia- leiras, com o intuito de nortear a dinâmica do
tivas que visem à superação do preconceito e ensino-aprendizagem. Um deles, com base
da discriminação. A contribuição da escola na nos fundamentos da concepção de educação
construção da democracia é a de promover humanista alicerçada na corrente filosófica
os princípios éticos de liberdade, dignidade, fenomenológica, que norteia a tendência pe-
respeito mútuo, justiça, equidade, solidarie- dagógica denominada escolanovista ou hu-
dade e diálogo no cotidiano; é a de encontrar manista moderna. E o outro fundamentado
formas de cumprir o princípio constitucional na concepção de educação marxista denomi-
de igualdade, o que exige sensibilidade para nada de histórico-crítico-dialética, que nor-
a questão da diversidade cultural e ações de- teia a tendência denominada crítico-social
cididas em relação aos problemas gerados dos conteúdos ou Pedagogia histórico-crítica.
pela injustiça social. Portanto, o momento dessa discussão
Diante do exposto, não podemos deixar será utilizado para dialogarmos a respeito
de ressaltar, mais uma vez, que todas as cul- desses dois modelos de projeto de trabalho.
turas humanas criaram modos de viver co- Num primeiro momento, discutiremos a res-
letivamente, de organizar sua vida política, peito da concepção de projeto fundamenta-
de se relacionar com o meio ambiente, de da na lógica da corrente filosófica fenomeno-
trabalhar, distribuir e trocar as riquezas que lógica/ humanista.
produzem. Mais ainda, todos os povos desen- Posteriormente, refletiremos a respeito
volveram linguagens, manifestações artísti- do modelo de projeto de trabalho com base
cas e religiosas, mitologias, valores morais, em uma perspectiva filosófica histórico-críti-
vestuários e moradias. Assim, a pluralidade co-dialética.
cultural indica, antes de tudo, um acúmulo de Diante dessa introdução a respeito do tra-
experiências humanas, patrimônio de todos balho com projetos, realizaremos essa reflexão,
72
Ciências da Religião - Didática
Nesse contexto, por necessidade de via- Caro(a) acadêmico(a), o discurso que nos
bilização do modelo educacional proposto é apresentado pela literatura espanhola que
- modelo espanhol -, lança-se mão da ideia circula nos cursos de formação de professo-
do trabalho pedagógico por meio de proje- res é o de que configurar o trabalho pedagó-
tos, a qual é uma das formas de organizar os gico de forma a qualificar o aluno com o per-
trabalhos didáticos, que pode integrar dife- fil proposto nesse estudo requer do docente
rentes modos de organização curricular. Pode uma postura adequada, de forma a propor
ser utilizado, por exemplo, em momentos es- um planejamento em que a atividade do pro-
pecíficos do desenvolvimento curricular, de fessor não seja reduzida ao preenchimento
modo a envolver mais de um professor e uma de um formulário a ser entregue na secretaria
turma, articular o trabalho de várias áreas ou da escola.
realizar-se no interior de uma única área. Atenção! Você não pode se esquecer de
Essa proposta de trabalho com proje- que estamos falando do “discurso”, pois, na di-
tos é implantada também porque, da forma reção aqui demandada, o planejamento pode
como é proposta, encontra-se favorecendo ser entendido como uma atitude crítica do
o ideal de educação exigido pelo mercado, professor em relação ao seu próprio trabalho.
a fim de selecionar a qualidade da formação Nessa direção, você pode observar que
das pessoas, de adequar a classe trabalhado- Hernandez, autor de literatura espanhola, de-
ra ao perfil atual necessário. fende:
73
UAB/Unimontes - 1º Período
Você pode observar que, nas caracterís- de forma a ser concebida como tarefa fácil?
ticas de Projeto de trabalho apresentadas por Ou seja, sem esforço? Toda essa ideologia nos
Hernandez, ficam implícitas uma ideologia é passada por meio de ideias de desenvolvi-
escolanovista, que defende o tratamento da mento da criticidade, solidariedade, por meio
informação, em relação aos conteúdos, em da utilização do discurso de que o projeto de
torno de problemas ou hipóteses que facili- trabalho permite ao aluno aprender sem de-
tem aos alunos a construção de seus conhe- pender somente das escolhas do adulto, pro-
cimentos. Em nenhum momento, esse autor jetar-se no tempo, definindo suas ações e sua
se refere à necessidade de problematizar a aprendizagem, tornar-se responsável e ser o
vida, colocando em evidência os problemas sujeito de sua aprendizagem, produzindo algo
vivenciados e, muito menos, manifesta a in- que tenha significado e utilidade.
tenção de elaboração de proposta de supera- Queremos que perceba, ainda, que nes-
ção da realidade por meio do entendimento se discurso existe a promessa de que o aluno
da história que os produz. Ele fala a respeito terá oportunidade de conhecer os objetivos
da transformação da informação procedente propostos para cada atividade, de aprender
dos diferentes saberes disciplinares em co- a planejar seu trabalho, colaborando na dis-
nhecimento próprio, por meio de estratégias tribuição das várias etapas necessárias para
que facilitam aos alunos a construção do co- a sua execução, de comprometer-se pessoal-
nhecimento. mente com o trabalho, assumindo responsa-
Esclarecemos-lhe que, nessa perspec- bilidades, e de interagir com os colegas para
tiva, é proposto que o professor deva ser confrontar e melhorar suas produções.
capacitado para agir de forma consciente, Nessa medida, compreendemos que
competente, crítica, entender e ressignificar querem nos passar a ideia de humanização
o trabalho pedagógico, e não para entender para que nos acomodemos e, dessa forma,
e buscar a superação dos problemas encon- possamos contribuir com a formação do pro-
trados na realidade social em que se encontra fissional que se acha livre e dono da empresa.
inserida a escola. Dessa forma, prioriza o va- Ou seja, sente-se capaz, emancipado, crítico
lor na diversidade de pensamentos, a plurali- e dinâmico. Porém, não reconhece que está
dade cultural, deixando de lado as questões sendo usado a favor da exploração do capital
políticas que possuem os meios de interven- e, dessa maneira, não possui as ferramentas
ção na realidade, de forma a promover con- para produzir sua própria vida com a dignida-
dições para a formação do aluno e professor de que merece.
emancipado. Esses discursos são viabilizados, tam-
Assim, não podemos nos enganar quan- bém, no âmbito da formação de professores,
do nos deparamos com propostas que afir- por meio de críticas realizadas a respeito das
mam que devemos encontrar estratégias ou perspectivas de trabalho conteudista de-
métodos que possam facilitar a aprendizagem nominada como uma perspectiva compar-
do aluno, pois facilitar implica não problema- timenta- da, desconsiderando que, em tal
tizar. Afinal, você não acha que seria contradi- perspectiva, defende-se a ideia do ensino do
tório propor a construção do conhecimento, conteúdo erudito também necessário à for-
que significa uma atividade do pensamento, mação emancipada.
74
Ciências da Religião - Didática
75
UAB/Unimontes - 1º Período
va denominada compartimentada representa -se nas ideias da escola nova, fato que só con-
a concepção tradicional liberal e a concepção firma as colocações de Saviani, citado por Ja-
denominada projeto de trabalho fundamenta- comeli, quando ela diz:
As críticas que realizamos a respeito da aprender com os alunos. Porém, estamos de-
utilização política das metodologias de ensi- fendendo que, antes de tudo, o professor é
no com as características de projeto de traba- um profissional que é pago para ensinar; por-
lho condizem com a proposta de Hernandez tanto, independentemente do método, como
(1998), quando aponta as etapas dessa meto- profissional, sua obrigação é ensinar. Mal ou
dologia, como a seguir: um percurso por um bem ele recebe um salário para desempenhar
tema-problema que favorece a análise, a inter- tal atividade.
pretação e a crítica (como contraste de pontos Aqui é conveniente ressaltarmos, tam-
de vista). Uma atitude de cooperação em que bém, que, quando se trata de ocupar o profes-
o professor é um aprendiz, e não um especia- sor com o ensino, atribui-lhe a função de en-
lista. Um processo que procura estabelecer co- sinar não os conteúdos, mas sim escutar para
nexões e que questiona a ideia de uma versão que os alunos aprendam com os outros, ou
única da realidade. Cada etapa é única e se tra- seja, os colegas. Assim indagamos: Como fica a
balha com diferentes tipos de informação. Um aprendizagem dos conteúdos aprendidos com
professor que ensina a escutar, pois podemos os colegas e não com o professor?
aprender com o que os outros dizem, possibi- Você deve observar, ainda, que é atribu-
lita ao aluno aprender de diferentes formas. ída uma atenção em informações, saberes,
Uma aproximação atualizada dos problemas mas, em nenhum momento, refere-se ao co-
da disciplina e dos saberes. Uma forma de nhecimento cientifico, aos conteúdos discipli-
aprendizagem em que se leva em conta que nares. Dessa maneira, podemos observar que
todos os alunos podem aprender, se encon- o ensino se ocupa do senso comum. Afinal, sa-
trarem oportunidade para isso acontecer. A beres e informações não precisam ser necessa-
aprendizagem está vinculada ao fazer, à ativi- riamente dados científicos.
dade manual e à intenção. Assim, lembramos-lhe: Quando o aluno
Diante dessas características do projeto de no futuro enfrenta uma situação de um ves-
trabalho, você precisa observar que fica eviden- tibular, um concurso, cobram-se saberes, in-
te o valor atribuído ao ponto de vista individual, formações ou conhecimento cientifico, sejam
conforme propõe a corrente fenomenológica; culturais, sejam históricos, sejam físicos, sejam
porém, o autor não apresenta como caracterís- matemáticos? Assim, de quem será a aprova-
tica a valorização também dos conteúdos cien- ção, melhores classificações e, provavelmente,
tíficos que o aluno precisa saber. a vaga em instituições como universitário ou
Atenção! Dessa forma, o conhecimento a como funcionário em uma empresa? De quem
ser aprendido pelo aluno e ensinado pelo pro- aprendeu saberes e informações ou de quem
fessor fica em segundo plano, na medida em aprendeu conhecimento científico que lhe
que é entendido como consequência. Você ofereceu condições para conhecer e funda-
pode observar também que é enfatizada a mentar análises e críticas em torno dos sabe-
atitude de cooperação do professor que é um res e das informações?
aprendiz, e não um especialista. Nesse sentido, Ressaltamos, ainda, que outra caracte-
tira do professor o compromisso de ensinar rística contraditória ao compromisso de uma
e coloca-o na condição de quem colabora e, educação de qualidade para todos se refere à
principalmente, de quem aprende com o alu- ideia de pensar uma forma de aprendizagem
no na sala de aula. em que se leva em conta que todos os alunos
Queremos esclarecer-lhe que, diante podem aprender se encontrarem oportunida-
destas problematizações que lhe apresen- de para isso acontecer.
tamos, não estamos afirmando que dis- Ora, e se o aluno não encontrar oportu-
cordamos do fato de que o professor deva nidade para isso acontecer? O professor não
76
Ciências da Religião - Didática
deve fazer nada? Quer dizer que cabe ao alu- ações dos professores que se enganam com
no encontrar a oportunidade, e não ao pro- sentimento de amor, fraternidade, a discri-
fessor, que deve promover um ambiente de minação e a seletividade de forma ingênua à
ensino de forma que proporcione ao aluno exclusão social que se concretiza ao negar o
condições de aprendizagem? Não estariam, ensino do conteúdo pelo profissional da edu-
mais uma vez, criando artifícios para desva- cação, o professor, a quem compete ensinar,
lorizar o professor? Qual vai ser o papel do independentemente do método que adota.
professor? Ou melhor, qual vai ser o serviço Tais colocações podem ser fundamentadas
do professor? Afinal, se o professor não “tra- nas ideias de Saviani quando se refere ao uso
balha”, ele precisa de um salário? Ou melhor, do discurso democrático no interior da esco-
o salário não vai depender não é do tipo, da la, com o objetivo de controlar, manipular a
qualidade do trabalho? formação dos alunos, bem como a visão de
Tornando o trabalho do professor superfi- mundo dos professores.
cial, justificaria pagar-lhe um bom salário pelo Nas palavras de Saviani (2000, p. 36),
seu trabalho? Ainda a respeito das caracterís- "Quanto mais se falou de democracia no inte-
ticas desse trabalho, ressaltamos que, nessa rior da escola, e de como, quando menos se
perspectiva, a aprendizagem está vinculada falou em democracia, mais a escola esteve ar-
ao fazer, à atividade manual e à intenção. Ob- ticulada com a construção de uma ordem de-
servamos que essa característica não difere mocrática".
dos ideais da escola nova predominante ofi- Para você conhecer a dinâmica da meto-
cialmente na década de 30, conforme discuti- dologia de projeto proposta por Leite (1996,
mos na unidade II deste estudo, que, por sua p. 32-33), você precisa saber que esta autora,
vez, valoriza demais o fazer manual e, assim, ao falar da organização e do desenvolvimen-
sutilmente, promove um modelo de educação to dos projetos de trabalho na sala de aula,
em detrimento da ação intelectual, ou seja, da destaca três momentos fundamentais desse
prática do pensar que entendemos ser ineren- processo contínuo de aprendizagem. Esses
te ao homem. momentos apresentados, de acordo com a
Para encerrarmos, temporariamente, essas autora, são pressupostos que facilitam a com-
problematizações, alertamos para a necessida- preensão da organização do trabalho. Na di-
de de se levar em conta outra característica, a reção ora evidenciada, você deve saber que,
“intenção”. Para refletirmos, indagamos: Afinal, antes da construção do projeto, é necessário
qual seria a intenção do aluno em relação ao escolher o tema/conteúdo que será estudado
conteúdo ensinado? Não seriam as mais diver- e pesquisado, como também as tarefas que
sas ou talvez nenhuma? Afinal, todos os alunos serão realizadas. Deve ser estruturado com
teriam, independentemente do nível de escola- os alunos lembrando-se de que o tempo gas-
ridade, a maturidade suficiente para discernir a to no planejamento é facilmente recuperado,
importância de um conteúdo disciplinar em sua posteriormente, na fase de execução.
vida? Portanto, caríssimo(a), deixar prevalecer a Após essas nossas reflexões realizadas
intenção do aluno, ou seja, deixar o aluno livre nesta etapa desta Unidade, apresentamos-lhe
é proporcionar ocasião para se fingir que está o modelo de organização do projeto de traba-
ensinado e, assim, promover entre os alunos lho, proposto por Leite (1996), o qual se encon-
uma pseudo aprendizagem, que, por sua vez, tra conforme a concepção espanhola que vem
“talvez”, possa atribuir-lhe uma formação dos sendo adotada como modelo para direcionar
valores ético-morais. Porém, destina-o a uma a educação brasileira a serviço dos interesses
formação vazia de conteúdos necessários para que já foram exaustivamente abordados nesse
seu estabelecimento na sociedade capitalista, estudo.
de forma a ocupar um lugar em alguma profis- Sendo assim, ressaltamos que o modelo
são privilegiada. envolve as etapas: Problematização, Desen-
Enfim, alertamos, por meio de tais ca- volvimento e Síntese. Esclarecemos-lhes que
racterísticas, sobre essa metodologia de essas etapas propostas para o projeto de tra-
projeto de trabalho, na perspectiva que nos balho estão de acordo com a demanda da li-
é apresentada pela difusão de literaturas in- teratura espanhola que circula nos cursos de
troduzidas nos países periféricos, como, por formação de professores do Brasil. Deixamos
exemplo, o Brasil, por meio de financiamen- claro que, de acordo com Hernandez (1998),
tos oriundos do Banco Mundial que, a serviço o primeiro momento é o de Problematização,
dos países mais desenvolvidos economica- que implica o ponto de partida, o momento
mente, implanta um discurso de solidarieda- detonador, a partir do qual o grupo levanta
de, humanidade, alegria, prazer, respeito ao questões significativas para investigar.
ponto de vista do outro. E, dessa forma, pro- Nessa etapa, os alunos irão expressar
move com a escola, através da utilização das suas ideias, crenças e conhecimentos sobre
77
UAB/Unimontes - 1º Período
78
Ciências da Religião - Didática
Alertamos que compreendemos que essa com a abordagem apresentada até então, sen-
mudança de postura não significa superar os do essa outra uma forma alicerçada na con-
problemas encontrados na realidade social, cepção materialista histórico- dialética, que,
mas sim se refere a uma compreensão da rea- por sua vez, não enfatiza o ponto de vista do
lidade necessária à reelaboração de conceitos, sujeito, mas sim evidencia a origem, evolução
valores, etc. e transformação como forma de analisar a re-
Após apresentarmos o modelo de proje- alidade sócio-histórica em que se encontra o
to, não podemos deixar de ratificar algo que objeto em evidência.
já foi dito neste estudo: Essa proposta de tra- Diante do exposto, para darmos continui-
balho com projeto vem sendo coerente com dade ao nosso estudo, é necessário direcionar
a proposta de formação do profissional com esse diálogo ao enfoque que se alicerça na
o perfil almejado pelos interesses da nova de- tendência pedagógica norteada pela concep-
manda do capital/trabalho colocada pelos ide- ção de educação histórico-crítica dialética,
ais de mundo globalizado característicos da conforme discutimos na Unidade I. Concepção
pós modernidade. que vem sendo produzida desde a década de
Assim, posicionamo-nos lembrando-lhe, 80 por pesquisadores brasileiros a ser adotada
mais uma vez, que é necessário, ainda, consi- nas salas de aula das escolas deste país. Dessa
derar que a proposta de trabalho com projeto forma, antes de trabalharmos as característi-
na perspectiva abordada atende ao modelo cas do projeto de trabalho nessa perspectiva
de organização escolar originada após a déca- mencionada, esclarecemos-lhe que precisa-
da de 80, uma tendência denominada pós-es- mos levar em conta o ponto de vista de Savia-
truturalista ou pós-moderna, que não difere ni (1991), quando esse autor afirma conceber a
os contextos aqui problematizados, cujas pes- educação como o processo de formação hu-
quisas são constituídas em rede fragmentadas, mana, que age diretamente na reprodução da
buscando estudar em torno da ideia de coti- vida de forma teórico-prática.
diano, descaracterizando completamente a vi- Alertamos que a tendência pedagógica
são de totalidade, a qual possibilita desvelar os histórico-crítica busca superar a concepção de
subterfúgios utilizados a serviço dos interesses trabalho pedagógico fragmentado defendi-
das políticas que organizam a sociedade no da pelas políticas individualistas, por meio de
decorrer da história. uma proposta de ensino-aprendizagem com
Atenção! Enfatizamos, portanto, que projetos de trabalho, o que está de acordo
compreendemos que é possível desenvolver com a lógica da tendência pedagógica alicer-
o trabalho pedagógico por meio de projetos, çada na concepção histórico-crítica dialética.
de forma que supere a concepção fragmenta- Tendência que, conforme já esclarecemos na
da que interessa às políticas individualistas por unidade I, ressalta a importância de se viven-
nós questionadas no decorrer deste estudo. ciar a educação a partir do trabalho, para que,
Diante dessas colocações, ressaltamos consequentemente, tenha como finalidade
que já existe em vigor outra maneira de se principal contribuir com a formação emanci-
conceber o trabalho pedagógico na sala de pada dos alunos.
aula, por meio de projetos, que não condiz Segundo Silveira Rodrigues:
79
UAB/Unimontes - 1º Período
Enfim, Saviani (1991, p. 56) afirma que “o trabalho significa analisar o processo edu-
trabalho é princípio educativo num terceiro cacional, tendo como ponto de partida re-
sentido, na medida em que determina a edu- flexões que envolvam os problemas reais
cação como uma modalidade específica e dife- encontrados na realidade, a fim de elaborar
renciada de trabalho: o trabalho pedagógico”. propostas de superação das contradições,
Nessa direção, você precisa saber que com o intuito de fazer do processo educativo
a educação é concebida como um meio de uma forma de contribuir com o processo de
viabilização do processo de humanização. É humanização dos homens na sociedade.
necessário conceber o trabalho como princí- No que se refere ao projeto de trabalho
pio educativo, o que significa que a educação com base em uma visão histórico-crítica, é
necessita estar voltada para o trabalho real, e necessário considerar que Gasparim (2007),
não às adaptações funcionais por meio de trei- ao escrever a obra Uma didática para a peda-
namento em graus diferentes, conforme de- gogia histórico-critica, afirma o contrário da
manda do mundo de trabalho encontrada na proposta de trabalho com projeto apresenta-
sociedade moderna. da anteriormente. Assim, segundo Gasparim:
Alertamos que propor a educação como
O ponto de partida do novo método não será a escola, nem a sala de aula, mas
a realidade social mais ampla. A leitura crítica dessa realidade torna possível
um novo pensar e agir pedagógicos. Deste enfoque, defende-se o caminhar da
realidade social, como um todo, para a especificidade teórica da sala de aula e
desta para a totalidade social novamente, tornando-se possível um rico proces-
so de trabalho pedagógico (GASPARIM, 2007, p. 4).
Precisamos esclarecer-lhe que, nessa di- duas versões de projeto abordadas por nós
reção, Gasparim (2007, p.164-167) apresenta são decisivas no rumo político que é atribuído
orientações aos professores que queiram ela- ao ensino. Assim concebemos, por entender-
borar e executar o Projeto de trabalho na pers- mos que o professor, ao tomar consciência do
pectiva da pedagogia histórico-crítica. seu papel político como professor, muda sua
Entre as orientações apresentadas por postura frente à sua maneira de se relacionar
esse autor, ressaltamos uma delas que diz com o mundo e, consequentemente, as suas
respeito ao fato de que há necessidade de o intenções educativas em relação à sua classe,
aluno passar por um processo de conscientiza- fato que vai atribuir um olhar politizado ao
ção. Conscientização que inicialmente é exigi- conteúdo ensinado e, consequentemente, à
da do professor para que ele tome consciência formação dos alunos.
da necessidade de mudar sua forma de estu- De acordo com a outra versão, a preo-
dar e trabalhar, implicando mudar a maneira cupação do professor se limita à busca de es-
de pensar, de agir, de estudar e de planejar o tratégias para articular pontos de vista dos
seu trabalho. alunos, em um só assunto, fazendo com que
Preste bastante atenção, porque vamos seja criado um problema inicial, em vez de ser
problematizar a diferença entre os pressupos- evidenciado um problema real da sociedade
tos que fundamentam os dois modelos de por meio da tomada de consciência desse pro-
projeto. Podemos observar que, enquanto a blema pelo professor e, obviamente, pelos alu-
preocupação de um é a tomada de consciên- nos, fato que, no nosso entendimento, não vai
cia por parte do professor da sua necessidade atribuir um olhar politizado ao conteúdo en-
de mudar sua forma de estudar e trabalhar, sinado e, consequentemente, à formação dos
implicando mudar a maneira de pensar, agir, alunos. Após termos refletido a respeito dessa
estudar e de planejar o seu trabalho, no outro, característica, remeter-nos-emos à reflexão a
sob o ponto de vista da literatura espanhola, respeito de outra característica do projeto de
a preocupação é vivenciar um processo que trabalho, conforme apontado por Gasparim
procura estabelecer conexões e que questiona (2007): o processo de elaboração do projeto se
a ideia de uma versão única da realidade. desenvolve através do método prática, teoria
Você precisa entender que as implicações e prática, prevendo tudo o que vai ser desen-
que envolvem as diferenças apontadas nas volvido em cada um dos cinco passos da pe-
80
Ciências da Religião - Didática
dagogia histórico-crítica, que se fundamenta Enfim, para executar o trabalho com proje-
no método dialético de Marx e Engels, o qual to, conforme aponta Gasparim (2007), cabe ao
propõe que a construção do conhecimento é professor mobilizar os alunos para a nova forma
um processo de análise da realidade, de estu- de estudar. Ele trabalha com a intenção de pro-
do, de planejamento e de (re)construção do mover não atitudes de cooperação, como na
saber em aula. outra proposta, mas sim de engajamento dos
Já na versão da literatura espanhola ado- educandos no processo didático-pedagógico,
tada nos cursos de formação de professores de forma que não são os alunos que determi-
do Brasil, a característica diz respeito à preo- nam a direção do conteúdo, porque entende-
cupação com a construção de um percurso mos que ele não tem maturidade para tal. Mas
por um tema-problema que favorece a análise, que o “ele” (o aluno) seja sujeito do processo
a interpretação e a crítica (como contraste de educacional no decorrer das fases do trabalho,
pontos de vista), para, assim, desenvolver a ati- ou seja, Problematização, Instrumentalização,
tude de cooperação em que o professor é um Catarse, Prática Social. Dessa forma, saberão
aprendiz, e não um especialista. que o trabalho vai ser desenvolvido pelo mé-
Ou seja, em uma ótica, a visão centra a todo: prática-teoria- prática e, consequente-
atenção do professor no processo de inter- mente, entenderão a importância do conteúdo
pretação e crítica que promove a reflexão a estudo em suas vidas, o que, no nosso entendi-
respeito dos diferentes pontos de vista acerca mento, promoverá uma mudança de postura
de tema e problema, objetivando desenvolver por parte de alunos e professores.
nos alunos uma atitude solidária de coopera- Esclarecemos-lhe que você precisa en-
ção, que entendemos estar de acordo com as tender, ainda, que, ao falarmos a respeito de
atuais políticas mundiais. Na versão histórico- mudar de postura, aqui, implica deixar de se
-crítica, volta-se para a construção do conhe- conceber como um espectador da vida para
cimento como um processo de análise da rea- se tornar um sujeito que produz a vida por
lidade, de estudo, o que entendemos estar de meio de suas ações e pensamentos dinâmi-
acordo com a proposta de uma educação de cos e constantes sobre o mundo que, con-
fato emancipatória, pelo fato de desvelar as sequentemente, no decorrer do movimento
contradições encontradas na vivência da reali- histórico, o produz. Prosseguimos nossa con-
dade social em que se encontram professores versa, lembrando-lhe que tudo o que dizemos
e alunos, de forma a tornar possível uma aná- se aplica diretamente à sua formação como
lise dos elementos reais que promoverem a professor(a). Por exemplo, com o conteúdo
origem e evolução da problemática estudada, que estamos discutindo nesse caderno, esta-
condição necessária ao processo de politiza- mos discutindo a sua formação, a nossa forma-
ção das pessoas. ção, como professor, e não apenas tratando de
Outra característica importante a ser evi- fatos históricos distantes de nossas preocupa-
denciada diz respeito à condição de aprendiz ções. Estamos falando a respeito de nossas vi-
delegada ao professor que não é visto como das ou das políticas que envolvem a educação
um especialista, mas que trabalha com dife- oferecida para todos nós e para nossos filhos
rentes tipos de informação, de forma a ensinar no atual contexto das sociedades globalizadas
ao aluno não os conteúdos, mas sim a escutar, em que vivemos.
para que seja possível aprender com os ou- Enfim, não se esqueça de que as carac-
tros colegas, considerando que todos podem terísticas do projeto de trabalho pedagógico,
aprender, caso as condições para tal lhe forem visto por uma ótica norteada pela pedagogia
oferecidas de alguma forma. histórico-crítica, encontram-se nos fundamen-
Ou seja, a aprendizagem está vinculada à tos do materialismo histórico-dialético. Sendo
atividade manual e à intenção do aluno, con- assim, as características do processo ensino-
forme propõe a escola nova. -aprendizagem são norteadas por uma
Para você conhecer a dinâmica do projeto de trabalho proposta por Gasparim, ressaltamos
que, na ótica que fundamenta o pensamento desse conhecimento, é considerado como produto
histórico da ação do homem na realidade social em que vive. Dessa forma, esse autor afirma que
81
o primeiro passo de um projeto refere-se à atitude de:
UAB/Unimontes - 1º Período
Quanto ao segundo passo do trabalho realidade nas diversas dimensões que a com-
com projeto apresentado por esse autor, cen- preendem.
tra-se na teorização da prática, considerando Aqui, você pode observar que o projeto
que as problematizações levantadas a respei- nessa visão difere da versão que apresentamos
to do cotidiano direcionam a busca de ele- anteriormente. Concebemos, assim, por que, na
mentos teóricos necessários para desvelar as primeira versão ora apresentada, a preocupação
contradições que estão implícitas na aparên- era garantir o ensino dos conteúdos científicos.
cia dos fatos ou fenômenos vivenciados, para Ressaltamos que, ao falarmos de ensino de
que sejam estabelecidas relações internas en- conteúdos, nessa ótica, não estamos falando de
tre os conteúdos e a prática sócio- histórica, transmissão de conteúdos prontos, entendidos
de forma a superar o conhecimento empírico como verdade, muito menos de memorização
para o conhecimento teórico-científico. mecânica como centro da atividade de apren-
Atenção! Entendemos que, para que a dizagem, conforme apresentado como dogmas
explicação da realidade por meio do conhe- pela concepção tradicional liberal de educação
cimento particular seja transformada em uma implantada no Brasil na década de 1920.
explicação por meio de conceitos científicos Alertamos que, quando falamos de ensino
e juízos universais, é necessário o conheci- dos conteúdos, estamos falando da vivência do
mento teórico, pois o domínio desse conhe- ensino-aprendizagem por meio do desenvolvi-
cimento é condição para a compreensão da mento, conforme afirma Gasparim:
Após refletirmos a respeito do segundo o que justifica a visão de teoria e prática para
passo da metodologia de projetos de tra- além da dicotomia. Ou melhor, como práxis.
balho na perspectiva histórico-crítica, con- Alertamos que, sob essa ótica, a prática é
vidamo-lo(a) para pensarmos um pouco a ponto de partida e ponto de chegada (ação-
respeito do terceiro passo, que diz respeito -reflexão-ação). Dessa forma, a transformação
ao retorno à prática para transformá-la. Isso da realidade acontece pela ação do sujeito
considerando que o educando já possui os que passa a ver o mundo sob diversos aspec-
elementos teóricos necessários para compre- tos que ultrapassam seu ponto de vista, como
ensão da realidade para além da aparência, propõe a metodologia de projetos que dis-
mas em sua essência, condição necessária cutimos anteriormente. Nessa perspectiva, a
para que assuma um novo posicionamento transformação não diz respeito à transforma-
em relação à prática. ção pessoal com base nos interesses indivi-
Você precisa ter claro que, nessa perspec- duais, mas sim à transformação do sujeito, de
tiva, um novo posicionamento em relação à forma mais ampla e comprometida com a
prática só é possível quando se muda a manei- busca de práticas sociais politicamente demo-
ra de entendê-la. Ressaltamos que as nossas cráticas.
ações passam pelo nosso entendimento, que A respeito deste terceiro momento, Gas-
é abstrato, ou seja, produto do pensamento, parim diz:
82
Ciências da Religião - Didática
4.6 Em síntese
Acreditamos que a função do projeto é investigações, formula hipóteses, anota dados,
de tornar a aprendizagem ativa, interessante, reúne o necessário, por fim, converte tudo isso
significativa, real e atrativa para o aluno, en- em pontos de partida para a construção e am-
globando a educação em plano de trabalho pliação de novas estruturas cognitivas.
agradável, sem impor os conteúdos programá- Dentro dessa perspectiva, os conteúdos
ticos de forma autoritária. Assim, o aluno bus- disciplinares, antes teóricos e abstratos, dei-
ca e consegue informações, lê, conversa, faz xam de ser um fim em si mesmos e passam a
83
UAB/Unimontes - 1º Período
ser meios para ampliar a formação dos alunos para alcançá-los, na participação das ativida-
e sua interação com a realidade, de forma críti- des vivenciadas e do processo de avaliação.
ca e dinâmica. Há também o rompimento com Ao elaborar um projeto, alguns aspectos
a concepção de “neutralidade” dos conteúdos devem ser observados: o perfil do grupo (é
disciplinares que passam a ganhar significados necessário conhecer o grupo, nível cognitivo,
diversos, a partir das experiências sociais dos idade, série, postura, etc.), justificativa (funda-
alunos, envolvidos nos projetos. menta a escolha do projeto e a importância do
Ao participar de um projeto, os alunos mesmo para o grupo, tendo como referência a
estão envolvidos em uma experiência edu- proposta curricular), objetivos (o que o aluno
cativa onde o processo de construção de co- será capaz de fazer no final do projeto), etapa
nhecimento está integrado às práticas vividas. (processo de desenvolvimento do projeto),
Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, recursos (recursos necessários para execução
apenas um “aprendiz do conteúdo de uma do projeto), tempo (o tempo deve ser pensa-
área de conhecimento qualquer. É um ser do tendo como referência o grupo) e avaliação
humano que está desenvolvendo uma ativi- (o processo de avaliação é feito junto com os
dade complexa e que nesse processo está se alunos). No trabalho com projeto deve-se ob-
apropriando, ao mesmo tempo, de um deter- servar três momentos: a problematização (é o
minado objeto de conhecimento cultural e se detonador, início), o desenvolvimento (criam-
formando como sujeito cultural”. Isso significa -se estratégias e buscam-se respostas) e sínte-
a impossibilidade de homogeneizar os alunos se (quando se chega à conclusão do buscado).
– desconsiderando sua história de vida, seus Em suma os projetos são processos con-
modos de viver, suas experiências culturais e tínuos, que refletem uma concepção de co-
dar um caráter de neutralidade aos conteú- nhecimentos como produção coletiva, onde
dos, desvinculando-os do contexto sócio-his- a experiência vivida e a produção cultural sis-
tórico que os gestou. tematizada se entrelaçam dando significado
O que caracteriza o trabalho com projetos às aprendizagens construídas. Aprendizagens
não é o fato de a temática surgir dos alunos estas que servem não só à resolução dos pro-
ou professores, mas o tratamento dado a esse blemas postos para aquele projeto específico,
tema, no sentido de torná-lo uma questão do mas que são utilizadas em outras situações,
grupo como um todo e não apenas de alguns mostrando, assim, que os educandos são ca-
ou do professor. Nesse sentido, os problemas pazes de estabelecer relações e utilizar-se do
ou temáticas podem surgir de um aluno em conhecimento aprendido sempre que neces-
particular, de um grupo de alunos, da turma, sário. Por isso, pode-se afirmar com convicção
do professor ou da própria conjuntura. O que que a Pedagogia de Projeto não se insere numa
se faz necessário garantir é que esse problema proposta de renovação de atividades e, sim, de
passe a ser de todos, com um envolvimento mudanças da postura pedagógica, mesmo que
efetivo na definição dos objetivos e das etapas seja para atender à lógica capitalista.
Referências
COLL, César S. Aprendizagem escolar e construção de conhecimento. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas, 1994.
GASPARIM, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas/SP: Autores
Associados, 2007. 191p.
JACOMELI, Mara Regina Martins. PCNs e temas transversais: análise histórica das políticas pú-
blicas Educacionais brasileiras. Campinas/SP: Alínea, 2007. 212p.
JOLIBERT, Josette e Colaboradores – Formando Crianças Leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas.
1994.
84
Ciências da Religião - Didática
LEITE, Lúcia Helena Alvarez. Pedagogia de Projeto – intervenção no presente. In Presença Pe-
dagógica: Belo Horizonte. Dimensão, vol.2, nº 8, mar/abr, 1996.
SANFELICE, J.L. Movimento estudantil: a UNE na resistência ao golpe de 64. São Paulo: Cortez;
Campinas: Autores Associados, 1986.
SANFELICE, José Luís. Pós-modernidade, globalização e educação. In: LOMBARDI, José Claudinei
(org.). Globalização, pós-modernidade e educação. São Paulo: Autores Associados, 2001, p.
3-37.
85
Ciências da Religião - Didática
Resumo
Unidade I
87
UAB/Unimontes - 1º Período
Unidade II
88
Ciências da Religião - Didática
89
UAB/Unimontes - 1º Período
Unidade III
Unidade IV
90
Ciências da Religião - Didática
91
UAB/Unimontes - 1º Período
aula das escolas deste país. Antes de trabalhar com as características do projeto de trabalho
nessa perspectiva, precisamos levar em conta o ponto de vista de Saviani (1991), quando
esse autor afirma conceber a educação como o processo de formação humana, que age di-
retamente na reprodução da vida de forma teórico-prática.
• A tendência pedagógica histórico-crítica busca superar a concepção de trabalho pedagó-
gico fragmentado, defendido pelas políticas individualistas, por meio de uma proposta de
ensino-aprendizagem por intermédio de projetos de trabalho, o que está de acordo com
a lógica da tendência pedagógica alicerçada na concepção histórico-crítico-dialética. Essa
tendência ressalta a importância de se vivenciar a educação a partir do trabalho para que,
consequentemente, tenha como finalidade principal contribuir com a formação emancipa-
da dos alunos.
• Problematização, Desenvolvimento e Síntese são três momentos fundamentais do processo
contínuo de aprendizagem, apresentados, assim, para facilitar a compreensão da organiza-
ção do trabalho. Esses momentos não acontecem de forma isolada, uma vez que o trabalho
com projeto não é compreendido como uma técnica de ensino.
• A organização das etapas do projeto deverá ser previamente planejada, de forma a compor-
tar as atividades que se pretende realizar dentro do tempo e do espaço de que se dispõe.
Deve-se ter em conta que essa forma de organização dos conteúdos não representa um au-
mento de carga horária ou uma atividade extra.
92
Ciências da Religião - Didática
Referências
Básicas
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2003. 327p.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus,
2000.
Complementares
ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2003. AGOSTI-
NHO, Santo. Confissões; De Magistro. In: Os pensadores. São Paulo: Abril cultural, 1980.
AQUINO, Tomás. Sobre o Ensino (De Magistro), Os sete Pecados Capitais. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
CARVALHO, Irene Mello. O processo didático. 4. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1973. 400p.
CASTANHO, M. E.; CASTANHO, Sérgio E. M. Revisitando os objetivos da educação. In: VEIGA, Ilma
Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5 ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.
p. 53-64.
CASTANHO, M. E.; CASTANHO, Sérgio E. M. Os objetivos da educação. In: VEIGA, Ilma Passos Alen-
castro (Coord.) Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002. p.53-76.
CHATELET, F. História da filosofia idéias e doutrinas. Vol. 7-3 Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
COLL, César S. Aprendizagem escolar e construção de conhecimento. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas, 1994.
COLL, César (Org.). O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. 315p. COMÉNIO, J.
A. Didática Magna. Lisboa: Fundação Caouste Gulbenkian 1957.
DAMIS, Olga Teixeira. Didática: suas relações, seus pressupostos. In: VEIGA, Ilma Passos Alencas-
tro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. 183p.
93
UAB/Unimontes - 1º Período
DÍAZ BORDENAVE, Juan; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. 25. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. 312p.
GASPARIM, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas/SP: Autores
Associados, 2007. 191p.
JACOMELI, Mara Regina Martins. PCNs e temas transversais: análise histórica das políticas pú-
blicas Educacionais brasileiras. Campinas/SP: Alínea, 2007. 212p.
JOLIBERT, Josette e Colaboradores. Formando Crianças Leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas.
1994.
KENSKI, Vani Moreira. Avaliação da aprendizagem. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Di-
dática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 1999. p. 131-144.
LEITE, Lúcia Helena Alvarez. Pedagogia de Projeto – intervenção no presente. In Presença Pe-
dagógica: Belo Horizonte. Dimensão, vol.2, nº 8, mar/abr, 1996.
LOMBARDI, José Claudinei (Org.). Globalização, pós-modernidade e educação. São Paulo: Au-
tores Associados, 2001, 217p.
LOPES, Antônia Osima. Planejamento do ensino numa perspectiva crítica de educação. In: VEIGA,
Ilma Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP: Papirus,
2001. p. 41-52.
LOPES, Antônia Osima. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA,
Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 180p.
MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. São
Paulo: Loyola. 2000, 181p.
MENEGOLLA, M. SANT’ ANNA. I. M. Por que planejar? Como planejar? Currículo- Área - Aula.
Rio de Janeiro: Vozes 1992.
94
Ciências da Religião - Didática
______. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 6. ed. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 1993. 153p.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Didática: o ensino e suas relações. 5. ed. Campinas, SP:
Papirus, 2001. 183p.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus,
2002. 158 p.
Suplementares
AQUINO, Tomás. Sobre o Ensino (De Magistro), Os sete Pecados Capitais. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
ARENDT, A. A condição Humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. ASTOLFI, J. P. A Didática das Ciên-
cias. Campinas: papirus 1991.
CHAVES. M. (Org.). Pedagogia do Movimento. Maceió: ed. UFAL. 2004. BARROS, Manuel Correia.
Filosofia Tomista. Porto: Livraria Figueirinhas, 1945.
BASBAUM, L. História Sincera da República de 1930 a 1960. São Paulo: Editora Alfa-Omega,
1985.
________. História Sincera da República de 1961 a 1967. São Paulo: Editora Alfa-Omega,
1986.
BRASIL. Decreto nº 3276, de 6 de dezembro de 1999. dispõe sobre a formação em nível su-
perior de professores para atuar na educação básica, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 7 de dez. 1999. p. 4, Col.1.
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de Janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá ou-
tras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 10 de Janeiro 2001. p.1 Col.1.
95
UAB/Unimontes - 1º Período
BUSQUETS. M. D. (Org.). Temas Transversais em Educação. Bases para uma educação integral.
São Paulo: Ática, 1999.
CATANI, M. A. (Org.). Novas perspectivas nas políticas de Educação superior na América La-
tina no limiar do século XXI. Campinas SP: Autores Associados, 1998.
COÊLHO MOREIRA ILDEU. Fenomenologia Educação. São Paulo: Olho Dagua. 1999.
COMTE, Augusto. Curso de Filosofia Positiva; Discurso sobre o Espírito Positivo; Discurso preli-
minar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. In: Os pensadores, São Paulo: Abril
Cultural, 1980.
CHATELET, F. História da Filosofia Idéias e Doutrinas. Vol. 7-3 Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
CUNHA, L. A. & GÓES, M. O Golpe Militar na Educação - BRASIL os anos de autoritarismo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
DOURADO, Luiz F. Reforma do Estado e as políticas para a Educação superior no Brasil nos
anos 90. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v.23, n. 80, 2002.
_________. Educação no Brasil nos anos 60. O pacto do silêncio. São Paulo: Edições Loyola,
1988.
GERMANO, J. W. Estado Militar e Educação no Brasil (1964-1985). São Paulo: Cortez, 1993.
GENTILLI, P. Pedagogia da Exclusão. Ed. Vozes, Petrópolis: 1998.
GOERGEN, Pedro. Teoria e Prática problema básico da educação. In: REZENDE,A.M.(org.) Inicia-
ção Teórica e Prática às Ciências da Educação. Petrópoles: Vozes, 1979.
__________. Concepção Dialética da História. Tradução COUTINHO, C,N. Rio de Janeiro: Civili-
zação Brasileira, 1991.
JADER, E. Pós-Neoliberalismo. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro: 1998. JAERGER, W. Paideia Martins
96
Fontes. São Paulo: 1995.
Ciências da Religião - Didática
JAPIASSU, H. Introdução ao pensamento epistemológico. São Paulo: Cortez, 1991. KANT, Ima-
nuel. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: UNIMEP, 1996.
KOSIK, K. Dialética do Concreto. São Paulo: Paz e Terra, 1995. LOWY, M. Ideologia e Ciência So-
cial. São Paulo: Cortez,1996.
LOMBARDI & GOERGEN (Org.). Ética e Educação Campinas: autores associados. 2005. MARX K. &
ENGELS F. A ideologia alemã (Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 1996.
MELLO, N. G. (Org.). Escola Nova, Tecnicismo e Educação Compensatória. São Paulo: Edições
Loyola, 1983.
MUNIZ RESENDE. A concepção fenomenológica da Educação. Campinas SP: Ed. Autores Asso-
ciados, 1989.
__________. (Org.). Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas SP: Pa-
pirus, 1998.
PIETTRE, B. Platão a república: Livro VII Brasília: UNB São Paulo Atica UNB 1989. ROUSSEAU, J. J.
Emílio ou da Educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
SANCHEZ GAMBOA, S. S. Teoria e prática uma relação contraditória. In. Revista Motrivivência
Educação Física n.º 8, Santa Catarina: 1995.
SANCHEZ GAMBOA & SANTOS, F. Pesquisa Educacional: qualidade e quantidade. (org) Gamboa,
São Paulo: Cortez, 1995.
SCHAFF, A. História e verdade. São Paulo: Martins fontes, São Paulo, 1995.
SAVIANI, D. Da Nova LDB. ao Plano Nacional de Educação. Campinas SP: Ed. Autores Associa-
dos. 1997
SANTOS, M. L. História da Educação Brasileira Autores Associados. Campinas SP: 1995. SAN-
TOS, B. S. Pelas Mãos de Alice: O social e o político na pós modernidade, São Paulo: Cortez,
1996.
SANTOS MARIA LUISA. História da educação Brasileira. Campinas, SP: Autores Associados,
1998.
97
UAB/Unimontes - 1º Período
XAVIER.E. M. Poder Político e Educação de Elite. Campinas SP: Autores Associados, 1998. ZA-
NELLA, J. L. O trabalho como princípio educativo do ensino Tese de Doutorado. Campinas:
UNICAMP, 2003.
98
Ciências da Religião - Didática
Atividades de
aprendizagem - AA
Leia o texto “As concepções de educação que fundamentam o ato de ensinar: expressão da ação
política do homem, para educar o homem, que, por meio de suas ações, produz e reproduz a
história do universo onde habita” e responda às questões propostas, em um parágrafo, com no
máximo 10 linhas.
2) O conhecimento, para Sócrates e Platão, se dava na alma, na essência da pessoa. Sendo assim,
era centrado no intelecto, priorizando a teoria.
Em relação à concepção de educação proposta por eles, podemos afirmar que a educação acon-
tece por meio da atividade prática do aluno, orientada pelo professor, por meio de seu exemplo?
4) Leia o texto “As tendências pedagógicas implantadas na educação escolar brasileira: propos-
tas de ensino-aprendizagem/viabilização de interesses” e, em seguida, responda às questões pro-
postas, em um parágrafo, com no máximo 10 linhas.
6) A Didática não é neutra. Ela traz em si um conteúdo implícito que, muitas vezes, é ensinado de
forma indireta. O conteúdo que a Didática traz implícito em si se refere aos interesses defendidos
pela visão de mundo sustentada pela tendência pedagógica que a norteia.
Faça um comentário levando em conta o perfil de aluno que se pretende formar em cada época
da educação brasileira.
7) Considerando as concepções presentes nos projetos de trabalho, descreva o que você sabe
sobre esta abordagem metodológica.
8) Hernandez (1998, p. 99) afirma que “a utilização do portifólio como recurso de avaliação é ba-
seada na ideia da natureza evolutiva do processo de aprendizagem”.
Escreva, em um parágrafo, as características que qualificam o pórtifólio.
9) Sabemos que planejamento de ensino é importante para a prática pedagógica, para evitar a
improvisação, pois quem planeja tem suas ações organizadas, tendo em vista um objetivo, ga-
rantido com segurança e eficiência na direção do ensino, assegurando a economia de tempo e
energia.
99
UAB/Unimontes - 1º Período
10) Sobre avaliação de ensino, utilizando no mínimo 5 linhas, descreva sua opinião sobre a afir-
mativa de Lopes (2000, p. 49): “a avaliação numa concepção de planejamento criativo não faz
sentido ser um processo classificatório dos resultados de ensino”.
100