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A proletarização do advogado no

Brasil
Indústria da advocacia deveria admitir sua condição de classe
patronal

Cássio Casagrande – Procurador do Trabalho

Jota | 05 de abril de 2018 - Quem circula pelos fóruns do Rio de Janeiro já


deve ter percebido a nova estratificação social da classe dos advogados. Além
dos tradicionais “profissionais liberais”, donos ou sócios de seus escritórios, os
corredores da Justiça estão apinhados de “advogados cotinhas”, “advogados
audiencistas” e “advogados prêt-a-porter“.

Os advogados-cotinha são aqueles contratados por grandes escritórios


como “advogados associados”, cuja participação no capital da sociedade em
geral se dá em cotas ínfimas – frequentemente inferiores a meio por cento (daí
o “cotinha”).

Estes advogados, em geral, trabalham em longas jornadas de dez horas,


sob controle direto; seu trabalho muitas vezes é repetitivo, quase mecânico
(como se sabe, algumas das petições já são feitas por robôs, isto é programas
de computador aptos a produzir petições padronizadas).

Ao final do mês, recebem um valor fixo pelo trabalho despendido, sem


qualquer acesso à contabilidade da sociedade e nenhuma participação efetiva
nos seus resultados. Para esses profissionais, raramente há benefícios sociais
como auxílio alimentação ou vale-transporte. Não há proteção contra doenças
ou acidentes. As advogadas “associadas” que engravidam não têm qualquer
garantia e muitas são despedidas em razão desta condição ou voltam a
trabalhar poucos dias após o parto.

Esta figura jurídica (“advogado associado”) não consta da Lei 8906/94,


tendo sido criada por autorização desta (art. 54, inc. V) no Regulamento Geral
da OAB, que em seu art. 39 estabeleceu a possibilidade de associação para
participação em resultados, “sem vínculo de emprego”.

Obviamente que este dispositivo não tem eficácia para afastar, por si só,
a possibilidade de reconhecimento de existência de trabalho subordinado, até
porque não pode um “regulamento” de uma entidade paraestatal legislar sobre
Direito do Trabalho, sob pena de usurpar a competência do poder legislativo
federal na matéria.

Observe-se que, nitidamente, o propósito do Regulamento da OAB foi


permitir que advogados se unam para atender determinado cliente ou atuar
conjuntamente em certas causas, preservando, para cada qual, o caráter liberal
do exercício da profissão. Porém, o que se vê na prática é que grandes
escritórios usam este dispositivo para mascarar uma evidente relação de
emprego. Em uma palavra bastante simples: fraude.

Os “advogados audiencistas” sequer têm qualquer previsão normativa.


Em geral, são contratados para audiências nos Juizados Especiais e na Justiça
do Trabalho, sem qualquer formalização, recebendo “por produção”. Muitas
vezes trabalham diariamente para os mesmos escritórios, cumprindo
expediente nos corredores da justiça.

Os “advogados prêt-a-porter“, a última novidade na advocacia “just in


time” são “fornecidos” por empresas “especializadas” em serviços de
advocacia; eles integram um cadastro e são convocados pela empresa
prestadora de serviços para atender os clientes em audiências. Isto é, embora
sejam fornecidos por uma mesma empresa, trabalham para vários escritórios
ao mesmo tempo.

As causas da proletarização do advogado (fenômeno antevisto por Marx


e Engels no Manifesto Comunista) no Brasil são conhecidas: excesso de
litigância de massa; mão-de-obra barata decorrente da superoferta de
advogados no mercado de trabalho; dificuldade de fiscalização nos escritórios
e transformação das grandes firmas de advocacia em organizações
empresariais, porém com aparência legal e respectivos privilégios e isenções
de “profissionais liberais”.

Se esses problemas sociais serão resolvidos algum dia não sabemos;


eles estão por certo além da capacidade dos atores sociais no momento. O que
cabe aos operadores do Direito que ainda guardam um razoável senso de
justiça é reprimir os seus nefastos efeitos e vícios.

O Ministério Público do Trabalho, provocado por dezenas de denúncias,


tem atuado de forma sistemática para coibir estas fraudes, que não só violam
os direitos sociais dos advogados empregados, como acarretam grave
sonegação fiscal e previdenciária.

A OAB deveria também zelar pelo inquestionável aviltamento e


rebaixamento da profissão, atuando firmemente para evitar as fraudes
escancaradas e o “comércio” de advogados. Porém, parece que esta não é
uma das suas prioridades.

É desanimador perceber que uma entidade como a OAB, que


frequentemente se arvora em defensora dos direitos humanos e da
democracia, tenha decidido claramente o seu lado: atuar como uma guilda
patronal na defesa dos grandes escritórios que, inegavelmente, se
transformaram em poderosas organizações empresariais (a “indústria da
advocacia”, como diriam os americanos).

Exemplo disto foi a impetração de mandados de segurança na Justiça


Federal pela seção fluminense da OAB contra investigações da Procuradoria
Regional da Primeira Região sobre a condição de empregados de advogados
em alguns conceituados escritórios.

Não é possível que a OAB compactue com o argumento do patronato da


advocacia, que frequentemente alega que estes advogados “conhecem
perfeitamente a lei” e por isso “não desejam trabalhar como empregados”.

Bem, vamos lembrar que a “lei” (art. 39 do RGOAB) foi feita pela própria
OAB, cuja cúpula é sempre dominada pelos proprietários de grandes
escritórios, os quais, também por serem advogados, deveriam interpretá-la
corretamente e de acordo com a legislação trabalhista (isto não requer nem
especialização em Direito do Trabalho: quem cumpre horário, obedece ordens
e recebe salário fixo é empregado; CLT, art. 3º).

Além disto, o “conhecimento profundo da lei” não é escusa para afastar


contratos ilegais que ferem normas de ordem pública, como a legislação
trabalhista. Se assim fosse, um advogado jamais poderia processar uma
empresa fornecedora de produto defeituoso, se no respectivo contrato
estivesse escrito que a empresa se isenta de qualquer responsabilidade; ora,
bastaria a ela alegar que o advogado, pela sua perícia, não poderia se
confundir quanto a cláusula de isenção constante do contrato…

O argumento de que os advogados proletarizados “não querem” ser


protegidos pela lei trabalhista beira o absurdo e lembra o célebre e bizarro
diálogo que Alexis de Tocqueville travou quando visitou os Estados Unidos em
1831, sobre por que os negros não votavam nas eleições, mesmo quando
alforriados:

“Disse eu a um habitante da Pensilvânia ‘Explique-me por favor como, num


Estado fundado por quacres e conhecido por sua tolerância, os negros
alforriados não são admitidos a exercer os direitos de cidadão?’ ‘Não nos faça
essa injúria – respondeu-me ele – de acreditar que os nossos legisladores
tenham cometido um tão grosseiro ato de injustiça e de intolerância!’ ‘Então,
em seu estado, os negros têm direito de votar?’ ‘Sem a menor dúvida’. ‘Então,
como se explica que, no colégio eleitoral, esta manhã, não percebi sequer um
na assembleia?’ ‘Isto não é culpa da lei – retrucou-me o americano; – os
negros têm, na verdade, o direito de se apresentar nas eleições, mas se
abstêm voluntariamente de comparecer.’ ‘Isso é muita modéstia da parte
deles.’ ‘Oh, não é que se recusem a ir, mas temem ali ser maltratados. Entre
nós ocorre às vezes faltar força à lei, quando a maioria não a apóia. Ora, a
maioria está imbuída dos maiores preconceitos contra os negros, e os
magistrados não sentem a força de garantir a estes os direitos que o legislador
lhes conferiu’. ‘Com efeito! A maioria, que tem o privilégio de fazer a lei, quer
ter ainda o de desobedecer a lei?’ (A Democracia na América)
Assim também, incrédulo como Tocqueville, tenho dificuldade em
acreditar que os advogados proletarizados não querem ver protegidos os seus
direitos sociais e que a norma feita pela OAB não precisa ser cumprida pelos
advogados da OAB.

O fenômeno da proletarização do advogado não é exclusivo do Brasil


(embora aqui seja mais grave e acentuado), sendo também uma realidade em
outros países desenvolvidos. Na França, o Judiciário não tem pestanejado em
reconhecer o vínculo de emprego de advogados supostamente autônomos com
grandes firmas de advocacia, conforme se vê desta decisão da Corte de
Cassação daquele país.

Artigo publicado originalmente no portal Jota, dia 05/04/2018 e disponível em:


https://www.jota.info/carreira/advogados-audiencistas-proletarizacao-05042018

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