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realidade na qual foi pensada sua tese de Doutorado, há uma relação que parece conveniente trazer
O morar em cavernas não reduzia esse espaço a apenas proteger das intempéries da
natureza. “Abrigar” relaciona uma ocupação que perpassa a presença física, suas necessidades e o
fazer de uma cultura. As pinturas rupestres talvez trouxessem aspectos de um “fazer espaço” que ao
mesmo tempo em que figuravam uma característica dessa ocupação também fazia do espaço um
inventividade que condiciona, pelo coletivo, a utilização dos objetos a uma prática de valores, de
O Artigo “As duas casas” nos remete a refletir duas realidades distintas que se entrelaçam
determinada época todos os detalhes são incorporados a uma nova paisagem que nos transporta no
tempo e espaço para as entrelinhas de um habitar. Os espaços são interpretados através do que o
compõe e numa versão a valores do cotidiano e realidades vividas numa constante mutação e
Cada casa é um símbolo. A casa é vista como um objeto material que serve para
A natureza das relações presentes como o elemento e conjunto que envolvem uma
paisagem, organiza também uma aspiração em conjunto e abstraem uma realidade que vai se
processo que assemelha os espaços e os objetos às pessoas. O texto faz uma narrativa que
compõe os espaços, como que algo da vida passasse de nós para aqueles lugares.
O texto parece relacionar a ocupação física da casa com a ocupação humana, e que produz
uma singularidade diante da relação de tempo e espaço que se mostram num viver coletivo de uma
casa na zona rural e outra na zona urbana. Os espaços da casa vão se transfigurando na relação
entre pessoas, coisas e numa produção cotidiana de significações. É como um local de acolhida da
potencia inventiva da vida que se estrutura e passa a estruturar o espaço físico com as suas
relações espaciais e existenciais. Voltamos ao texto de Aiôn e Cronos, o ritmo de vida pode parecer
algo certo, previsível como no relato dos afazeres domésticos e rurais, o que nos remeteria a pensar
o tempo como Cronos, definido e estruturado. Porém, o trabalho escrito trata das casas, os afazeres
dela, a utilização dos espaços, os sentidos que são convividos ali como uma experiência possível de
perceber o tempo como Aiôn que traz a força das sensações. Como pode se definir como estruturas
duras esse espaço que faz fluir uma imaterialidade humana que o vem caracterizando? As
conversas no Alpendre, as histórias e mesmo a rotina diária que vão sendo contadas remetem a um
convívio com as garantias dessa casa/espaço na continuidade dessa existência num ritmo coletivo.
As duas casas vão se fazendo de forma a serem distintos convites de permanência, estar e
“urbana” onde o relato faz parecer à narrativa de uma ação de criança experimentando inventar um
novo espaço, refazendo as estruturas concretas da casa com movimento do corpo e dos olhos. As
pessoas ora vão sendo os moldes desse habitar e ora expressam os valores de um coletivo, isso
vem refletido desde a sua estrutura concreta até na composição dos espaços, suas acolhidas e seus
fechamentos. Vai se mapeando os afectos das coisas da casa, dos objetos, das estruturas e do que
posicionamento dos objetos na casa e refletindo aí uma ocupação interativa com os moradores.
Essa capacidade de habitar-se dentro das paredes mixa as formas concretas da casa, as cores e os
aromas com a presença de pessoas. A narrativa se entrelaça com os devires objetos, colocando-os
na ação, e como habitantes do espaço carrega as significações dos moradores. Mesmo não
escapando de uma análise comparatória, não são das casas que vai se dissertando, mas sim do
“fazer casa” das pessoas, que ora estão morando numa zona rural e depois mudam para uma zona
urbana, dos objetos, e dos espaços. São de arquiteturas de existência coletiva, que trazem/fazem
na/da construção de uma casa o espaço de suas expressões, e retiram da condição de obra
concluída para uma obra que pulsa constantemente e possuem a capacidade de migrarem e se
São percorridos os espaços da casa pelos sentidos, afectos e matérias. Significando através
dos afectos esses espaços. Diante do que as funções dos cômodos da casa vem singularizando
cada morar torna percebida a transfiguração de devires dos espaços e dos objetos.