Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-cruz/e-urgente-ter-paciencia/
“Não ganhamos as batalhas políticas, não apresentamos nossos principais argumentos, não
paramos o avanço de nossos adversários, não marchamos vitoriosamente com o mundo
moderno; mas mani festamo-nos silenciosamente no espírito da nação, preparamos o curso
dos sentimentos que enfraquecerão a posição dos adversários quando parecerem vitoriosos,
prosseguimos as comunicações com o futuro”. (Matthew Arnold)
Essa é sua matéria grátis do dia. Assine agora e tenha acesso ilimitado. R$ 0,99 no
1º mês
Todos conhecem a história de Fausto, não é mesmo? A lenda surgiu na Alemanha no
século XVI e, dizem as fontes, é baseada em fatos reais. Johannes Georg Faust, um
homem de reputação duvidosa, autodenominado médico, ao ser seduzido pelas ciências
ocultas e pelo desejo de poder, evoca o demônio Mefistófeles para que este lhe satisfaça
as aspirações imediatas. Para isso, aceita fazer um pacto entregando ao demônio sua
alma, mediante um contrato assinado com o próprio sangue.
1/5
Depois vieram as adaptações cinematográficas. Em 1926, o cineasta alemão Friedrich
Wilhelm Murnau lança a primeira versão para o cinema mudo, uma obra-prima do
expressionismo alemão, baseada na versão de Goethe. E a última foi realizada pelo russo
Alexandr Sokurov, em 2011 – espetacularmente bela e sombria… e repugnante.
Apesar das variações, todas têm o mesmo pano de fundo: a tentação pelo poder. Fausto
deseja satisfazer-se de tudo o que esta vida pode lhe proporcionar: descobrir os
segredos das ciências, a cura para as doenças, o prazer intenso e fugaz etc..
2/5
maligno, como diz a Bíblia – ou mesmo é uma cópia imperfeita de um mundo
transcendente, como diz Platão –, então nosso desejo de que as coisas melhorem deve,
necessariamente, ser mediado pela consciência de que somos limitados por nossas
imperfeições.
É por isso que as experiências passadas devem ser o guia prático de nossas decisões no
presente. Avançar, recuar ou permanecer como estamos deve ser fruto da reflexão e da
avaliação cuidadosas do passado. Tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo,
assentarmos nosso olhar sobre o ombro de gigantes, na expressão de Bernardo de
Chartres, é fundamental para evitarmos erros e buscarmos acertos sem rupturas
desnecessárias. O desejo fáustico de adequarmos a realidade aos nossos desejos, de
imanentizarmos o eschaton, de buscarmos na Terra aquilo que só o céu pode nos dar, é
ingratidão para com as gerações passadas e irresponsabilidade com as que virão.
“Os conservadores acreditam no que se pode chamar de princípio da consagração pelo uso
[…] Conservadores afirmam ser improvável que nós, modernos, façamos qualquer descoberta
nova e extraordinária em moral, política ou gosto. É arriscado ponderar cada fato ocorrido
tendo por base o julgamento e a racionalidade privados […] Na política, faremos bem se
permanecermos fieis a preceitos e precognições, e até inferências, já que o grande e
misterioso grêmio da raça humana obtém, pelo uso consagrado, uma sabedoria muito maior
do que qualquer mesquinho raciocínio privado de um ser humano individual”. (KIRK,
Russsell. A política da prudência. É Realizações, p.106-107).
Mesmo numa cova cheia de leões, o profeta Daniel manteve a tranquilidade de quem
sabia de onde vinha o socorro. E como diz o lema atribuído a Goethe: “É urgente ter
paciência”.
***
Obs.: A tradução de Fausto utilizada é a de João Barrento, publicada pela Relógio D’Água.
Paulo Cruz
3/5
veja + em Paulo Cruz
4/5
comunique erros Sobre a Gazeta do Povo
Sobre a Gazeta do Povo
5/5