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A melancolia não
é algo que escolhemos convidar. Ela é inquieta, fértil e ardente pelo
desejo de escapar e encontrar alguma coisa ou alguém que nos faça
companhia. Quando conseguimos repousar no caminho do meio,
começamos a ter um relacionamento não ameaçador com a solidão,
uma solidão relaxante e refrescante que transforma radicalmente
nossos amedrontados padrões habituais.
Não há ponto de referência no caminho do meio. A mente, sem ponto
de referência, não se define, não se fixa, não se agarra. Como é
possível não ter um ponto de referência? Isso seria mudar uma
resposta arraigada e habitual diante do mundo: querer que as coisas
funcionem bem, de um jeito ou de outro. Se não podemos virar nem
para esquerda nem para a direita, achamos que vamos morrer!
Quando não escolhemos uma direção, temos a sensação de estar em
uma clínica de desintoxicação. Sentimos a angústia da abstinência,
com toda a irritação que temos tentado evitar por meio de nosso
padrão habitual. Esse sentimento pode ser bastante penoso.
Nosso direito inato: O Caminho do Meio
Como seres humanos, não apenas buscamos uma solução – achamos
que a merecemos. Entretanto, não apenas não merecemos uma
solução – sofremos por causa dela. Na verdade, temos direito a algo
melhor, àquilo que é nosso direito inato, ao caminho do meio – um
estado mental aberto onde é possível relaxar no paradoxo e na
ambiguidade. Na medida em que estamos evitando a incerteza
vamos, naturalmente, sentir os sintomas da privação – de deixar de
pensar que existe um problema e alguém, em algum lugar, precisa
resolvê-lo.
O caminho do meio é muito aberto, mas não é fácil caminhar por ele,
pois vai contra a textura de um antigo padrão neurótico que todos
nós compartilhamos. Quando nos sentimos sozinhos, quando
estamos desesperados, sentimos necessidade de virar para a
esquerda ou para a direita. Não desejamos sentar e experimentar o
que estamos sentindo. Não queremos passar pela desintoxicação.
Mas é exatamente isso que o caminho do meio nos encoraja a fazer.
Ele nos estimula a despertar a coragem que existe em cada um de
nós, sem exceção, o que existe em mim e em você.
Desejar menos
Desejar menos é a disposição para estar solitário sem buscar uma
solução, quando tudo em nós anseia por algo que nos anime e mude
nosso estado de espírito. Praticar esse tipo de solidão é uma forma
de espalhar sementes para que a inquietação fundamental diminua.
Na meditação, por exemplo, cada vez que rotulamos “pensando”, em
vez de ficar interminavelmente às voltas como nossos próprios
pensamentos, estamos apenas treinando estar exatamente ali, sem
dissociação. Não conseguimos fazer isso agora, na medida em que
estávamos dispostos a fazê-lo ontem, anteontem, na semana passada
ou no ano passado. Mas, após praticarmos o desejar menos com
perspicácia e coerência, alguma coisa muda. Temos menos desejo, no
sentido de sermos menos solidamente seduzidos por nossa História
Importantíssima. Assim, o caminho do guerreiro consiste em, diante
da intensa solidão, conseguir sentar com essa inquietação durante
1,6 segundo, enquanto que, no dia anterior, era impossível estar com
ela durante um único segundo. Esse é o caminho da coragem. Quanto
menos nos dispersamos e enlouquecemos, mais saboreamos a
satisfação da solidão refrescante. Como dizia frequentemente
Katagiri Roshi, mestre Zen: “É possível ser solitário e não se sentir
devastado por isso”.
Contentamento
Contentar-se é o segundo tipo de solidão. Quando não temos nada,
não temos nada a perder. Nada temos a perder, a não ser nosso forte
condicionamento para achar que temos muito a perder. Essa
sensação tem suas raízes no medo – medo da solidão, da mudança,
de tudo que não pode ser solucionado, da não existência. A
esperança de evitar esses sentimentos e o medo de não consegui-lo
tornam-se nossos pontos de referência.
Completa disciplina
Outro componente da solidão refrescante é a disciplina total, que se
relaciona com estarmos dispostos a voltar a cada momento, a
simplesmente voltar com suavidade para o momento presente. Essa é
a solidão como disciplina total. Estamos dispostos a sentar quietos,
apenas estando ali, sozinhos. Não precisamos cultivar
especificamente esse tipo de solidão; podemos apenas sentar quietos
o bastante para perceber como as coisas realmente são. Somos
fundamentalmente sós, e não há nada, em lugar algum, em que
possamos nos agarrar. Além do mais, isso não é um problema. Na
verdade, isso nos permite finalmente descobrir uma maneira de ser
totalmente desconstruída. Nossas premissas habituais – todos os
nossos conceitos sobre como as coisas são – impedem-nos de ter
uma visão nova e aberta. Dizemos: “Sim, eu sei”. Mas não sabemos.
Em última análise, não sabemos nada. Não existe certeza sobre coisa
alguma. Essa verdade fundamental causa dor e queremos fugir dela.
Entretanto voltar para algo tão familiar quanto a solidão e relaxar
nela representa um bom exercício para perceber a profundidade das
situações mal resolvidas de nossa vida. Estamos nos enganando
quando fugimos da ambiguidade da solidão.