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%204%20Adolesc%c3%aancia.pdf

Capítulo 4
A ADOLESCÊNCIA E A ACTIVIDADE FÍSICA
Introdução
A Adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano fundamental para o
crescimento e maturação física e psicológica. É nesta fase que o indivíduo procura
construir e edificar de uma forma pró-activa a sua identidade, que ensaia e se afirma
como
ser independente, autónomo, diferente do outro, com necessidades, interesses,
capacidades
e linguagens diferentes. É um período em que a mudança é a principal fonte de toda a
novidade, gerando um leque enorme de novas capacidades. O corpo adquire uma outra
forma e uma nova atitude e linguagem, a “cabeça” pensa agora através de hipóteses e,
de
uma forma mais abstracta, os outros passam a ter um peso maior e a determinar a vida
do
indivíduo, as suas motivações e os seus comportamentos (Sprinthall & Collins, 1994). O
adolescente torna-se, então, muito mais activo, participativo, interveniente e reflexivo,
exigindo mais simetria e isomorfismo nas suas relações.
Parece-nos, assim, interessante abordar neste capítulo, de forma contextualizada, as
dimensões física, intelectual e, sobretudo, sócio-afectiva da adolescência. O crescimento
que se vivência na adolescência engloba uma acção combinada entre as modificações
biológicas, sociais, cognitivas e os contextos, como a família, a escola, o grupo de pares
ea
comunidade, nos quais os jovens experiênciam as exigências e as oportunidades para o
seu
desenvolvimento. A prática de actividade física constitui, também, um contexto por
excelência de promoção e desenvolvimento de aptidões sociais e comportamentos
interpessoais adequados e de um sentimento de pertença a um grupo de referência, tão
fundamental para a saúde psicológica e emocional dos adolescentes.
1. Desenvolvimento Físico
As transformações físicas/biológicas englobam as alterações do tamanho e forma
do corpo, as quais provocam algumas dificuldades na auto-imagem individual.
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Provavelmente, a característica mais significativa e visível da adolescência é esta
multiplicidade de transformações físicas específicas da puberdade. As mudanças
biológicas
decorrentes da puberdade são avassaladoras e relativamente rápidas. O crescimento em
altura é particularmente evidente, a forma do corpo altera-se, a capacidade física
aumenta e
inicia-se a sexualidade, a intimidade, no fundo, a maturidade sexual (Claes, 1985).
Com a puberdade (regulada essencialmente pelas hormonas), o corpo cresce não só
em tamanho, como nas suas proporções e, consequentemente, na sua capacidade física.
O crescimento em altura verificado nesta fase deve-se, essencialmente, ao
crescimento dos ossos longos, tais como os dos braços e pernas. Comparando ambos os
sexos, constata-se que o surto de crescimento físico ocorre, em média, mais tarde nos
rapazes. Devido a este crescimento rápido e alternado das diferentes partes do corpo –
que
ocorre de forma diferente no rapaz e na rapariga – existe uma fase em que o adolescente
parece descoordenado e pouco proporcionado, sendo importante estar atento à forma
como
encara as alterações na sua imagem e aparência física, que muitas vezes são vividas com
um certo dramatismo. Nos rapazes os ombros tornam-se mais largos, em comparação
com
as ancas, e as pernas são relativamente longas quando comparadas com o comprimento
do
tronco. Por sua vez, as raparigas evidenciam ombros relativamente estreitos, ancas
largas e
pernas mais curtas, comparativamente ao tronco (Sprinthall & Collins, 1994).
Verifica-se também uma mudança significativa na capacidade do corpo para fazer
esforço físico. Há um aumento da força, que advém do desenvolvimento da capacidade
muscular. A acompanhar o crescimento dos músculos, também aumenta o tamanho e a
capacidade do coração e dos pulmões. Os adolescentes ficam, então, mais aptos a
desempenhar actividades físicas mais exigentes, embora de forma mais acentuada nos
rapazes. Todavia, a capacidade para desempenhar trabalhos vigorosos depende mais do
treino e do desempenho de determinada profissão/actividade, do que do sexo do
indivíduo
(Sprinthall & Collins, 1994).
Contudo, a adolescência é um processo que tem sofrido alterações ao longo da
história das gerações. Nos últimos cem anos, tem-se assistido a um início cada vez mais
precoce da puberdade e a um crescimento mais rápido das crianças e dos adolescentes.
O
fenómeno, que consiste na antecipação da maturação designa-se de Tendência Secular.
Por
exemplo, “os rapazes e raparigas do mundo ocidental são mais altos, mais pesados e
mais
maduros do que os seus antepassados durante a adolescência (Ribeiro, 1990b cit. in
Lima,
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2000). A altura média tem vindo a aumentar 2 a 3 centímetros em cada década, assim os
adolescentes dos anos 80 são 16 a 24 centímetros mais altos do que os seus pares no
início
do século (Sprinthall & Collins, 1994).
Hamburg (1999) apresenta algumas das mudanças que explicam estas alterações.
Segundo o autor, a adolescência, não só se inicia mais cedo, como se prolonga durante
mais anos, devido à melhoria das condições de vida e às mudanças sociais. A separação
entre o desenvolvimento biológico e social permite verificar que, apesar dos organismos
amadurecerem rapidamente, o mesmo não acontece com o cérebro, que só alcança a
maturação social perto dos 20 anos. A percepção das regras do mundo adulto não é
fácil,
dado que os modelos não são tão claros como antigamente, alguns modelos de
comportamento seguidos pelos adolescentes não reflectem uma conduta social tão linear
e
fiável como antigamente, e esta maior complexidade dificulta a previsão do futuro. A
erosão da família, cada vez menos tempo junta, os pais cada vez mais tempo fora de
casa, o
aumento das famílias monoparentais e a falta de suporte social da rede de trabalho, dada
a
instabilidade do emprego, são uma evidência cada vez maior. Para além disso, os
adolescentes têm cada vez mais acessos a mecanismos potencialmente ameaçadores da
vida, como certas actividades e substâncias.
Todavia, apesar destas mudanças da sociedade, algumas das necessidades
características da adolescência têm resistido e revelam-se cruciais no desenvolvimento
saudável dos jovens (Hamburg, 1999). São exemplo, a necessidade de encontrar um
lugar
seguro no grupo que lhes forneça um sentimento de pertença; a necessidade de
identificar/adoptar tarefas importantes e reconhecidas no grupo e que garantam o
respeito
ao adquirir competência; a necessidade de se sentir como uma pessoa válida; a
necessidade
de segurança nos relacionamentos com as outras pessoas, em especial nos
relacionamento
mais próximos.
1.1 Efeitos psicológicos das transformações pubertárias
As modificações físicas primárias que acontecem nesta etapa são mediadas não só
pela reacção emocional do próprio adolescente, como pela resposta dos outros
significativos e do contexto social envolvente. Embora a puberdade seja uma
experiência
basicamente biológica tem efeitos a outros níveis: psicológico, intelectual e social. A
forma
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como o adolescente encara e constrói toda a sua experiência maturacional é determinada
pelas normas e padrões sócio-culturais e pelas expectativas sociais relativas à
puberdade.
Esta fase é, inevitavelmente, acompanhada por sentimentos que influenciam o modo
como
o adolescente se vê a si próprio e como responde aos outros e ao meio (Sprinthall &
Collins, 1994). O adolescente, confrontado com uma imagem de si que está em
constante
mutação, reage às alterações do seu corpo, estando também atento às reacções e atitudes
dos outros, que são fundamentais para a construção positiva de uma visão de si e para a
sua
identidade sexual. A maturação biológica, quer precoce, quer tardia, tem efeitos
consideráveis no adolescente, reflectindo as reacções sócio-culturais face à puberdade.
O
facto dos adolescentes atingirem mais precocemente o tamanho e aparência dos adultos
parece facilitar-lhes a entrada e uma adaptação mais ajustada à adultez. No entanto, é
possível que a maturação precoce possa levar a que assumam papéis e responsabilidades
para as quais não estão minimamente preparados. Os rapazes que se desenvolvem mais
cedo são vistos pelos outros (adultos e pares) como mais atraentes e competentes. Pelo
contrário, os que se desenvolvem mais tardiamente são percepcionados como mais
tensos,
ansiosos, faladores e desinibidos (Sprinthall & Collins, 1994). No que concerne às
raparigas, as que se desenvolvem mais precocemente parecem ser mais introspectivas,
mais inseguras, menos equilibradas, mais submissas e ponderadas e expressivas do que
as
colegas da mesma idade (ibidem). As que experimentam uma puberdade mais tardia
mostram-se superiores na capacidade de expressão, na actividade, sociabilidade,
liderança,
prestígio e popularidade.
1.2 A imagem corporal
A satisfação que o adolescente sente com o seu corpo e com as respectivas
alterações é primordial para o seu sentimento de valorização pessoal e auto-estima. Os
adolescentes têm habitualmente uma percepção correcta do seu corpo, embora nalgumas
situações essa aparência possa acarretar insatisfação e sofrimento. Esta população é
particularmente sensível aos estereótipos, ideais e padrões de beleza e elegância
vigentes
na sociedade, sendo que o grau de proximidade/afastamento catalisa reacções mais ou
menos negativas. A preocupação com a aparência física e o peso é muito maior nas
raparigas do que nos rapazes, o que torna a vivência da adolescência especialmente
difícil
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para elas. Nos rapazes, a atenção centra-se no desempenho físico e intelectual (Pinto
Gouveia, 2000 cit in Soares, 2000).
2. Desenvolvimento Intelectual
A aceleração somática que acontece na puberdade é isolada, ou seja, a evolução do
psiquismo não segue o ritmo de evolução do corpo. As mudanças na esfera intelectual
permitem compreender e atribuir um significado particular às outras transformações. É a
nova capacidade de pensar que proporciona ao adolescente avaliar e gerir muitas das
transformações pubertárias ocorridas.
O início do pensamento formal (capacidade de abstracção, de pensar sobre o
pensar, etc.), a capacidade de distinguir o subjectivo do objectivo e o eu do outro são
aspectos determinantes na forma como os adolescentes se vêem e se compreendem. O
sistema de valores sofre modificações, uma vez que o adolescente já é capaz de elaborar
um tipo de questionamento diferente do utilizado até então (ligação entre o
desenvolvimento moral e o desenvolvimento intelectual/cognitivo). A capacidade do
adolescente para pensar sobre diferentes possibilidades torna-o capaz de testar hipóteses
e
de resolver problemas (Lima, 2000). O raciocínio abstracto desenvolve-se e os
pensamentos abstractos tornam-se objecto do pensamento. O adolescente, além de
pensar
sobre as coisas, pensa sobre os outros, sobre o que acontece à sua volta e sobre si
próprio.
No início da adolescência, a capacidade de pensar e raciocinar pode parecer
altamente variável. A tendência é para tanto sobrestimar como subestimar o nível de
funcionamento cognitivo de que o jovem é, realmente, capaz. O adolescente questiona-
se
sobre si mesmo, sobres as suas sensações e emoções, sobre as ideias que tem, sobre as
relações que constrói com os outros: pares, colegas, pais. Esta capacidade de pensar
sobre
si próprio e de se colocar na “pele dos outros” tem um efeito paradoxal (Lima, 2000).
Se,
por um lado, consegue pensar sobre os pensamentos dos outros, por outro não o
consegue
fazer de uma forma diferenciada e separada do seu próprio objecto de pensamento
(ibidem). Todas as mudanças que atravessa nesta fase são compreendidas pelos outros,
constituindo também parte integrante das suas preocupações – egocentrismo
adolescente
(Elkind, 1967 cit in Lima, 2000).
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2.1 Construção de uma identidade
Independentemente da sua cultura e meio social, existe uma fase em que o
indivíduo é confrontado com novos papéis, novas oportunidades e responsabilidades.
Contudo, e apesar das inúmeras transformações que sofre nos diversos domínios, a
maioria
dos autores considera que o maior desafio durante o período da adolescência é a
construção
e desenvolvimento da Identidade. A identidade é algo uno, com características
dinâmicas e
adaptáveis e que permanece para além do passar dos tempos (Erickson, 1972). A
construção da identidade é um processo complexo que acompanha o ciclo de vida do
indivíduo. Neste processo, a construção biológica, a organização pessoal da experiência
eo
meio cultural dão significado, forma e continuidade à existência do indivíduo (Kroger,
1989 cit in Lima, 2000).
O desenvolvimento do indivíduo é determinado e ocorre num contexto social
marcado pelas relações interpessoais, pela interacção com a família, com as instituições
sociais e com a cultura num momento histórico particular. A base da personalidade
adulta
é constituída pelo conceito que possuímos do eu (a forma como nos vemos a nós
próprios e
como os outros nos vêem). Assim sendo, uma boa base determinará uma sólida
identidade
pessoal, ao passo que uma base instável originará uma identidade difusa. Erickson1
(1972)
postula que a formação da identidade envolve um sentido de unicidade - “a unicidade da
personalidade é sentida, agora, pelo indivíduo e reconhecida pelos outros, como tendo
uma
certa consistência ao longo do tempo, como se fosse um facto histórico irreversível”
(ibidem). Claro que o processo de formação da identidade não começa nem acaba com a
adolescência. Inicia-se com a diferenciação do eu na infância e atinge a sua fase final na
velhice, com a consciência de fazer parte da humanidade (Marcia, 1980 cit in Lima,
2000).
A adolescência exige e confronta o indivíduo com um conjunto de tarefas
psicossociais, cuja concretização deve contribuir para a formação de uma identidade
coerente, em oposição a um sentimento de difusão da identidade (Coleman, 1980). Na
adolescência, a crise de identidade é a tentativa de atribuição de um significado coerente
à
própria existência e realidade, definindo-se perante si próprio e perante os outros. O
adolescente viverá, então, um período de crise no qual oscilará entre a identidade e a
1 Erickson reconheceu a adolescência como um estádio por direito próprio, o que significa que os adolescentes são
reconhecidos como pessoas com características específicas (Sprinthall & Collins, 1994). A adolescência, para
Erickson,
consiste no processo de formação da identidade. Este processo é encarado como integrador das transformações
individuais, das exigências sociais e das expectativas em relação ao presente e futuro. Ou seja, é um processo que
assenta
na interacção entre o sentido de unidade que o adolescente possui, enquanto ser em desenvolvimento, e o
reconhecimento
e confirmação desse carácter único pela sociedade adulta (ibidem).
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confusão de identidade. A formação da personalidade tem uma dupla função:
desenvolvimento da individualidade de uma forma consistente, por um lado, e
enquadrar
essa individualidade na sociedade, por outro, dado que esta a reconhece, conferindo-lhe
estatuto e posição social. Nesta fase de descoberta e de experimentação, o adolescente
descobre que pode estabelecer relações diferenciadas com os outros e com os seus
pares,
conhece novas realidades e experimenta novos papéis. Assim, o processo de formação e
construção da identidade tem fases e ritmos particulares que acompanham,
gradualmente, a
resolução dos problemas psicossociais inerentes à adolescência. Costa (1990 cit in
Lima,
2000) refere que a crise inerente ao processo de construção de identidade representa um
ponto decisivo no desenvolvimento e, simultaneamente, um momento de
vulnerabilidade,
na medida em que o adolescente passa por várias dificuldades, por momentos de
confusão
e dúvida, próprios e normais de quem vivência um rápido processo de mudança.
É de particular importância para a formação da identidade o desenvolvimento da
cognição social o que, no fundo, não é mais do que a capacidade para perceber e agir de
acordo com as ideias e sentimentos, próprios e dos outros, e que é fundamental para a
obtenção da maturidade psicológica (Sprinthall & Collins, 1994).
3. Desenvolvimento Sócio-Afectivo
O desejo e a luta pela autonomia constituem uma tarefa crucial deste período da
vida. Dentro e fora da família, o adolescente vai tentar expressar, de uma forma muito
particular, que é diferente e independente. Para isso, intensifica a sua relação com o
mundo
social, exterior à família, que inclui a escola, a comunidade e os pares (Menezes, 1990
cit
in Lima, 2000). O processo de conquista de autonomia e individuação, nuclear à
construção da identidade, afecta de um modo particular as relações do adolescente com
a
família, com os pares e os outros em geral, conduzindo a modificações importantes na
esfera interpessoal. Há como que um movimento centrífugo em relação à estrutura
familiar, estabelecendo fortes relações com os pares (Youniss, 1980 cit in Lima, 2000);
mas o adolescente continua a necessitar de apoio e suporte familiar (Weiss, 1982 cit in
Soares, 1996). De facto, na adolescência, a dimensão cognitivo-afectiva da relação com
a
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família permanece intacta e a sua expressão comportamental é que se altera, diminuindo
(Weiss, 1982; Paterson, Field & Pryor, 1994 cit in Lima, 2000).
Tudo isto permite concluir que a autonomia do adolescente e a sua vinculação aos
pais constituem “processos complementares” e igualmente importantes para o
desenvolvimento do jovem nas diversas facetas do seu processo de socialização (Soares
&
Campos, 1988). As relações do adolescente com os seus pais modificam-se a vários
níveis:
em termos de estrutura, deixam de ser unilaterais para serem recíprocas e diferenciadas2
(desiguais) (Youniss & Smollar, 1985 cit in Lima, 2000).
Com o avançar da idade, o estar em grupo, as saídas, os convívios e o lazer social
ganham
mais peso, levando a que o adolescente passe cada vez mais tempo fora de casa. Assim,
os
factores explicativos deste fenómeno são extrínsecos e não intrínsecos à família
(Larson,
Richards, Moneta, Holmebeck & Duckett, 1996 cit in Lima, 2000). Contudo, esta
relação
deve ser mantida com equilíbrio, dedicando um determinado tempo aos pais e aos pares
(dimensão temporal). De acordo com Youniss (1980) o tempo dedicado aos pais é
preenchido com actividades instrumentais e de mestria (cumprimento de regras,
desenvolvimento do sentido de responsabilidade); por sua vez o tempo ocupado com os
pares é menos estruturado, é mais lúdico e social. As interacções que o adolescente
estabelece e constrói com os outros são horizontais, diádicas e menos unilaterais.
4. A saúde dos adolescentes
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento que implica, de facto, rápidas
modificações físicas, psicológicas, sócio-culturais e cognitivas, na tentativa de aquisição
da
autonomia e identidade. A multiplicidade de contextos sociais e interpessoais constitui
um
conjunto de desafios e de factores de risco para o adolescente que podem ter
consequências
na sua saúde e no seu ajustamento social e emocional. É um período rico e fértil em
novos
2É consensual a existência de uma relação conflitual entre os pais e o adolescente. Alguma dose de conflito é de facto
precisa para um padrão normalizado das relações adolescente-pais. Esta questão é, de facto, bem formulada por
Minuchin
(Minuchin, 1971 cit in Fleming, 1993): “se a família quiser continuar como uma unidade saudável e encorajadora do
crescimento deve evoluir do estado de família de uma criança para o de família de um adolescente”. O exercício da
autoridade parental fica, nesta fase, circunscrito apenas a algumas áreas de vida do adolescente, e isto relaciona-se,
naturalmente, com a gestão que o adolescente quer imprimir à sua vida. Em algumas áreas os pais permitem que os
filhos
ajam com autonomia, demitindo-se de qualquer intervenção/autoridade; noutras áreas são exigentes, controladores,
impondo e definindo regras (desempenho escolar) (Youniss & Smollar, 1985 cit in Lima, 2000).
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desabrochares, de grande intensidade física e psicológica e de procura e investimento
em
novas oportunidades e escolhas. A adolescência constitui, por isso, um período crítico e,
por excelência, para o desenvolvimento de comportamentos e atitudes de
responsabilidade
perante a saúde (Matos et al., 2000). Existe um enorme consenso de que tanto a saúde
como a doença têm uma etiologia multi-causal, e que devem ser abordadas numa
perspectiva multidisciplinar.
É na população adolescente que se deve intervir, por excelência, em termos
educativos, sociais, psicológicos, desportivos para a promoção de saúde, sob pena de
afectar a sua vida como adultos. Dada a heterogeneidade da população adolescente, é
importante ter em conta as especificidades das potencialidades, dos estilos e hábitos de
vida, do contexto cultural e social, etc. Os jovens podem e devem participar, juntamente
com as suas famílias e pares, nas decisões e acções respeitantes à mudança e promoção
de
hábitos, de comportamentos de saúde e à qualidade de vida3.
Actualmente, a taxa de mortalidade e morbilidade apresentadas pelos adolescentes
é o resultado dos estilos e formas de estar na vida, sendo que os factores de risco de uma
atitude e vida saudável relacionam-se com o uso e abuso de substâncias, a violência e
delinquência, a psicopatologia (depressão, distúrbios do comportamento alimentar), a
gravidez (DiClemente, Hansen & Ponton, 1996; Lerner, 1998 cit in Matos et al., 2000) e
as
doenças sexualmente transmissíveis (DiClemente, Hansen & Ponton, 1996 cit in Matos
et
al., 2000).
É importante que os adultos criem condições para que os jovens aprendam e
desenvolvam as suas competências pessoais e sociais, a sua capacidade de resolução de
problemas e tomada de decisões, de gestão de conflitos interpessoais e de comunicação,
de
forma a facilitar o desenvolvimento da capacidade de escolha de um estilo de vida
saudável (e a sua manutenção).
3A promoção de saúde é um processo que permite às pessoas aumentar a percepção de controlo sobre os
determinantes
da sua saúde, com vista à melhoria da saúde e qualidade de vida. Comportamentos de saúde são, no fundo, qualquer
actividade desenvolvida por um indivíduo, qualquer que seja o seu estado de saúde actual ou percebido, com o
objectivo
de a proteger e de a manter, quer seja ou não esse comportamento objectivamente eficiente para o fim (WHO, 1986).
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5. A Adolescência e o grupo de pares
Sendo a família um contexto fundamental para o desenvolvimento do adolescente,
não é, de facto, o único. A pertença a um grupo não é uma condição do adolescente, e,
portanto, é fundamental perceber como se processa a aceitação pelo grupo de pares. É
relativamente fácil para os adolescentes predizer as características que facilitam o
processo
de aceitação pelo grupo de pares, que se centra num conjunto implícito de normas de
avaliação dos colegas, definindo a partir delas critérios de inclusão e exclusão do grupo.
No entanto, o que é válido para um grupo pode não o ser para os outros (Sprinthall &
Collins, 1994). A atracção física e outros padrões de comportamento (amizade,
sociabilidade e competências) constituem normas que regulam a aceitação social.
Atitudes
desviantes e comportamentos negativos conduzem habitualmente a situações de rejeição
social, apesar de não existirem características que por si só garantam a aceitação ou a
rejeição social (ibidem).
É verdade que os pares contribuem, de forma positiva, para o desenvolvimento do
adolescente. Os pares, juntamente com a família e a escola, constituem os principais
contextos de desenvolvimento de competências fundamentais para o crescimento e
adaptação à vida adulta. Os adolescentes dedicam a maior parte do seu tempo no
investimento da relação com os pares, o que é vital para o desenvolvimento da
individualidade e da identidade. Há um “alargamento do mundo social” devido ao maior
número e à diversidade de contactos sociais que ocorrem na adolescência (Sprinthall &
Collins, 1994, p. 359). No entanto, todas as experiências sociais vividas pelos
adolescentes
são fortemente influenciadas pelas disposições e normas existentes. Ao confrontar-se
com
as mudanças físicas e corporais, o adolescente experimenta novas sensações,
procurando
lidar e adaptar-se a uma nova imagem de si. É preciso gerir a nova imagem e o impacto
que esta imagem tem em si próprio e nos outros (Colemam, 1980b cit in Lima, 2000).
Os
pares, obviamente, passam pelo mesmo e, por isso, a mútua afinidade e compreensão.
O adolescente, ao longo do seu processo de crescimento e maturação, vai-se
envolver em diversos tipos e níveis de relação com os pares (de amizade, sociais de
grupo,
amorosas). O desenvolvimento cognitivo a que é sujeito influencia muito o modo como
as
relações com os pares são construídas e vividas, tornando-se mais íntimas, de maior
mutualidade e reciprocidade (Berndt, 1982). A construção de relações com os pares, a
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integração num grupo de referência e a aceitação no mesmo obedece a uma estrutura
organizada e sujeita a regras. As relações de grupo são fundamentais ao processo de
socialização do adolescente4 (Hartup, 1983) e, à medida que cresce, vai deixando de dar
tanta importância ao pequeno grupo de pares da mesma idade e sexo, privilegiando a
participação e organização de actividades sociais em grandes grupos de ambos os sexos.
Contudo, popularidade e aceitação social são conceitos distintos. Enquanto a aceitação
social tem a ver com o ser pensado e considerado como elemento de um grupo, já a
popularidade refere-se ao grau com que alguém é activamente procurado pelos outros.
Estudos demonstram que adolescentes de ambos os sexos e de todos os níveis de
escolaridade com traços de popularidade parecem ser mais joviais, simpáticos,
entusiastas
e dinâmicos (Coleman, 1980), sendo a atracção física um atributo importante para a sua
popularidade e estatuto social (Sprinthall & Collins, 1994). Para os rapazes, a
capacidade e
proeza atlética também são um atributo importante e relevante. A competência social,
isto
é, a facilidade com que se envolvem activamente na organização de actividades de
grupo,
parece constituir também um preditor da popularidade, principalmente quando mediada
por outras competências, tais como a capacidade para estabelecer relações empáticas
nas
raparigas e um locus de controlo interno nos rapazes (Adams, 1983 cit in Lima, 2000).
Nos
rapazes, a popularidade relaciona-se mais com o sucesso no exercício de uma actividade
desportiva (atletas), enquanto que nas raparigas é mais determinante a pertença a um
grupo
liderante (Sprinthall & Collins, 1994). De acordo com Sprinthall e Collins (1994), a
influência que os pares exercem sobre o adolescente pode ser de dois tipos: informal e
normativa. No primeiro tipo, os pares funcionam como fontes/recursos de
conhecimentos
acerca dos padrões comportamentais, atitudes, valores e respectivas consequências; no
segundo tipo, os pares exercem uma determinada pressão social para que o adolescente
se
comporte de acordo com os padrões que regulam as acções/comportamentos dos outros.
Estes dois tipos de influência desempenham um papel importante no desenvolvimento
de
uma consciência do eu por parte do adolescente, enquanto membro de um grupo social
(ibidem).
4A interacção com os pares contribui a vários níveis para o desenvolvimento social da criança. O contexto relacional
que
é gerado na interacção permite à criança evoluir nos seus processos cognitivos e emocionais, a aprender a cooperar
com
os outros, a respeitá-los, a cumprir regras e a adquirir aptidões comportamentais reguladoras do funcionamento em
grupo.
Facilita, também, a tomada de perspectiva do outro, a empatia, o controlo de emoções, a capacidade para lidar com as
frustrações e a auto-regulação emocional. Além disso, proporcionam suporte emocional corporizado na capacidade de
percepção da criança em relação ao grau em que é ajudada, apreciada e em que pode contar com os pares para
resolver
problemas ou realizar actividades. Este suporte ou apoio pode ser encarado a diferentes níveis: instrumental,
informativo,
emocional e lúdico (Trianes, Munõz & Jiménez, 1997 cit in Castilho, 2003).
A Adolescência
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A Comparação Social entre comportamentos e capacidades com os seus pares pode
ter consequências positivas e negativas para o adolescente. A consequência mais
evidente é
a conformidade, ou seja, a adopção dos mesmos comportamentos e atitudes dos pares,
que
varia consoante os contextos. O estatuto e a posição social do adolescente dentro do
grupo
de pares influencia também o grau de conformismo manifestado (Sprinthall & Collins,
1994), sendo os de estatuto elevado e baixo pouco conformistas. A opinião dos pais é
mais
requisitada e valorizada para áreas que se relacionam com a escola e/ou carreira
vocacional. Por sua vez, os pares são solicitados para decisões de âmbito social e
pessoal
(leituras, música, roupas) (Wills, 1996 cit in Lima, 2000).
5.1 A importância dos pares no contexto da actividade física
Se, segundo Alan Smith (2003), as experiências de actividade física com qualidade
promovem, de facto, o compromisso e a adesão a uma vida activa, facilitando o
desenvolvimento moral e social, a competência motora, as auto-percepções e os afectos
positivos dos adolescentes, é inegável a importância das relações entre pares no
desenvolvimento e sucesso da actividade física.
Estudos sobre a actividade física dos jovens têm sido desenvolvidos por muitos
psicólogos do exercício e desporto (e.g. Duda, 1987; Gould, 1996; Sallis & McKenzie,
1991; Weiss & Bredemeier, 1983), proporcionando um maior entendimento sobre os
factores que contribuem e que resultam para a qualidade das experiências de actividade
física. A revisão da literatura sugere que os treinadores, os professores, os pais e os
pares
estão entre aqueles que modelam as experiências de actividade física, embora muitos
estudos augurem existir um melhor entendimento da influência social que ainda está por
explorar (cit. in Smith, 2003).
A maioria dos estudos sobre a influência social na actividade física e desporto dos
jovens tem focado o papel dos adultos como primordial. No entanto, a discrepância de
estudos sobre os pares relativamente aos agentes adultos, fazem-nos colocar muitas
questões relevantes para investigação. Experiências entre jovens em contextos de
actividade física podem ser exploradas em vários níveis de complexidade social,
partindo
de uma orientação individual e social, percepção sobre as interacções, relacionamentos
e
processos ao nível do grupo (Rubin, Bukowski, & Parker, 1998). Apesar de se procurar
abordar todos estes níveis, é de particular relevância nas relações entre os pares no
A Adolescência
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contexto da actividade física, o relacionamento entre dois indivíduos familiarizados um
com o outro, com uma história caracterizada por sucessivas interacções (Rubin et. al,
1998). Assim, o estudo da amizade e aceitação dentro de grupos de pares familiarizados
deverá ser enfatizado (cit. in Smith, 2003).
A participação desportiva organizada é uma forma comum de envolvimento na
actividade física para as crianças e jovens adolescentes. No entanto, para compreender a
qualidade das experiências de actividade física, é importante analisar os motivos que
levam
os jovens a participar. Extensos estudos empíricos entre 1970 e 1980 avaliaram a
importância de uma variedade desses motivos, tais como divertimento/satisfação
evidente
e regular, desenvolvimento de competências, aceitação social e filiação, condição física
e
aparência (Weiss & Ferrer-Caja, cit in press). Todos estão relacionados entre si, quer
empírica quer teoricamente, e sugerem que as relações entre pares são o elemento-chave
da
experiência desportiva dos jovens. A aceitação social e filiação aparecem como fonte de
divertimento (Scanlan, Stein, & Ravizza, 1989) e têm sido associadas à percepção e à
competência física actual (Evans & Robert, 1987; Weiss & Duncan, 1992) (cit. in
Smith,
2003). Para além disso, tanto a competência atlética como a aparência física são vistas
pelos jovens como chaves determinantes para o estatuto social (Chase & Dummer,
1992,
ibidem). Estas associações sugerem que, tanto as relações entre pares são importantes
para
o estudo – contribuindo para a qualidade das experiências de actividade física – como
também o domínio físico é um contexto ideal para desenvolver uma melhor
compreensão
das relações entre pares.
Discussões sobre a prontidão psicológica para a competição desportiva evidenciam
também a importância do papel dos pares no domínio físico, em que marcadores
motivacionais e cognitivos da prontidão estão intimamente relacionados com o desejo
de
comparação social e capacidade de julgar as próprias competências, respectivamente
(Brustad et al., 2001; Passer, 1996). Enquanto as crianças podem ser envolvidas nos
programas desportivos de competição pelos seus pais, antes mesmo de estarem
motivadas
a participar, elas começam a desenvolver um interesse distinto na comparação social
que,
em contextos de realização como o desportivo, assumem um especial significado para
elas.
Ainda de acordo com Passer (1996), este interesse deve ser razoavelmente desenvolvido
por volta dos sete anos e intensifica-se à medida que a criança transita do meio para o
fim
da infância. Em correspondência, capacidades cognitivas, como desempenho de papéis
e
A Adolescência
104
capacidade de compreender os resultados do desempenho, desenvolvem-se ao longo
desses
anos. Até aos 12 anos, o jovem não está ainda capacitado para distinguir entre esforço e
capacidade como contribuidores dos resultados. No entanto, esta capacidade amadurece
progressivamente durante a infância. À medida que estas capacidades se desenvolvem,
o
jovem deixa de confiar predominantemente na informação sobre competência física
dada
pelo adulto para confiar na avaliação e comparação com os pares (Horn & Hasbrook,
1986;
Horn & Weiss, 1991) (cit. in Smith, 2003). Dada a ligação entre a comparação social e a
prontidão motivacional para a participação desportiva, que aumenta a importância dos
pares para a percepção de competência ao longo da infância, poderá ser útil a
investigação,
com vista a uma melhor compreensão da relação entre pares neste contexto. Todavia, os
pares não são apenas importantes para a aquisição de informação sobre a competência
nos
contextos de desporto competitivo, mas são igualmente importantes de forma mais
genérica para o ajustamento psicológico, assim como para o desenvolvimento social e
moral. Sullivan (1953) teorizou que a aceitação entre pares em geral modela a
percepção
de autoridade e a perspectiva da competição e compromisso, enquanto que amizades
específicas permitem aos jovens compreender o “eu” e o “outro” e providenciam
oportunidades para a intimidade e valorização (ibidem). Psicólogos desenvolvimentistas
têm apoiado estas perspectivas, relacionando as relações entre pares com o afecto, a
sociabilidade, a agressão, resolução de conflito e outras variáveis desenvolvimentais
(Newcomb & Bagwell, 1995; Newcomb, Bukowski & Patte, 1993). Contextos de
actividade física, tais como o desporto organizado, a educação física, e jogos na
vizinhança, providenciam oportunidades de interacção entre pares e servem, por outro
lado, como importante contexto para o desenvolvimento dos jovens. Estes contextos
fornecem, por exemplo, oportunidades para a comparação social e expõem os jovens a
diferentes pontos de vista (Smith, 2003).
Deste modo, justifica-se um exame cuidadoso das relações entre pares nos
contextos de actividade física, estando os pares relacionados com a competência,
autopercepção,
desenvolvimento moral e afectivo e resultados motivacionais (Brustad et al.,
2001 cit. in Weiss et al., 1996). Por outro lado, outras investigações no domínio da
actividade física têm relacionado a competência física com a competência social ou
aceitação. Chase e Dummer (1992) examinaram jovens dos 4º e 6º anos (8 – 13 anos)
nas
suas percepções sobre quais os factores que contribuem para a popularidade. A
A Adolescência
105
competência atlética e a aparência física foram os mais importantes determinantes do
estatuto social. Bigelow et al. (1989) examinaram jovens de 9-12 anos envolvidos no
desporto e descobriram que a falta de competências era percepcionada como um factor
impeditivo para as relações sociais. Corroborando a percepção dos jovens, Evans e
Roberts
(1987) relataram que a competência física actual dos rapazes do 3º e 6º anos está
associada
à oportunidade de jogar e de liderar durante os jogos nos intervalos e depois com o
estatuto
social. Os adolescentes mais competentes são melhor aceites pelos pares, enquanto os
jovens com baixas competências recebem menos oportunidade de se divertirem com os
jogos, de melhorarem as competências motoras e terem papéis centrais nos jogos. Este
facto tem, provavelmente, um impacto na auto-percepção do jovem, como sugere o
estudo
de Weiss e Duncan (1992), que revela uma relação positiva forte dos índices da
percepção
de competência física com a percepção da aceitação social entre as crianças entre os 8 e
13
anos.
Exercendo a auto-percepção um papel crucial para a qualidade das experiências de
actividade física, e particularmente no processo motivacional, parece tornar-se evidente
que a investigação directa sobre a compreensão de como os pares modelam a
autopercepção
poderá ser um importante contributo para a literatura em psicologia do desporto
e exercício. Por exemplo, estudos sobre o papel dos pares no modelamento de
competências motoras sugerem que este o é um mecanismo facilitador do aumento das
auto-percepções. Tópicos como os efeitos do modelamento, a forma como os pares
fornecem informação entre eles promotora de auto-estima, os efeitos positivos e
negativos
do uso da comparação social, a avaliação para identificar competências e os processos
ao
nível do grupo que influenciam a auto-percepção do jovem, são conteúdos importantes
para o estudo da actividade física (Smith, 2003).
De acordo com a abordagem de Bandura (1977, 1986) da aprendizagem social, o
modelamento entre pares também pode ser um mecanismo pelo qual os jovens
aprendem
atitudes morais e comportamentos. Estudos da psicologia do desporto têm demonstrado
que, à medida que a influência dos pares nas atitudes morais e comportamentos se
fortalece, os jovens progridem na sua carreira desportiva (cit. in Smith, 2003).

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