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Memória Social em Campo Maior | Luís Cunha
1. O investigador e
o terreno: da
construção do
objecto à sua
problematização
p. 29-46
Texte intégral
https://books.openedition.org/etnograficapress/2904 1/23
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interna dos sinais que lhe são lançados10. Isto não obsta,
evidentemente, ao reconhecimento de uma dimensão
intuitiva, e por isso mesmo subjectiva e falível, numa
metodologia como esta. Trabalhar com informantes
privilegiados, sobretudo num contexto tão heterogéneo e
amplo como Campo Maior, é sempre susceptível a deixar de
fora personagens e perspectivas relevantes mesmo para os
temas específicos de que me ocupava.
29 As entrevistas, a que na verdade prefiro e julgo ser mais
correcto chamar conversas, decorreram em momentos,
lugares e ocasiões diversas. Chamo-lhe aqui conversas como
forma de acentuação do seu carácter, mas também porque é
essa a sua decorrência, ou seja, quase sempre elas surgiram
como desenvolvimento de contactos informais. Ainda assim
há algo que as distingue das conversas correntes e não
programadas. Não são tanto questões de método ou técnica
que me parece relevante sublinhar, mas de forma.
Projectadas e combinadas como entrevistas, elas
produziram muitas vezes uma modificação inconsciente de
postura por parte do investigador e dos informantes. A
utilização de gravador não me parece sequer que tenha sido
a causa maior de tal efeito, mas antes uma espécie de
valorização simbólica da entrevista, que conduzia a algo
como a formalização ritual da postura e do comportamento.
Nem sempre este efeito se verificava e por vezes era bastante
subtil, mas não deixou de ser um aspecto significativo de
uma dinâmica de interacção entre investigador e terreno que
não é controlável.
30 Em todo o caso, essas entrevistas constituem um
sustentáculo importante do que se dirá nos próximos
capítulos, sobretudo porque ao serem gravadas elas
permitiram um efeito de rigor e cristalização da palavra. Era
habitual ao longo do dia, ou mais frequentemente no seu
final, registar os aspectos que me pareciam mais
importantes das conversas que ia tendo. Era algo que nunca
fazia presencialmente, pelo que o desfasamento temporal
entre a conversa e o seu registo impediu a sua utilização em
discurso directo. Porém, não é apenas uma questão de estilo
de escrita que está aqui em causa: é também uma questão de
separação das vozes que nela se faziam ouvir. Nas notas de
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Notes
1. Pode dizer-se que o confronto destes parágrafos com o restante
trabalho expressa a seu modo a assunção de uma certa dimensão
esquizofrénica (Cátedra, 1992:12), que separa radicalmente o texto
etnográfico dos relatos sobre a experiência no campo (sobre a mesma
questão, cf. Kilani, 1990:80).
2. Pense-se em textos tornados clássicos a este nível, como Tristes
Trópicos de Lévi-Strauss ou Reflections on Fieldwork in Morocco de
Paul Rabinow, no tratamento humorístico da experiência de terreno de
Nigel Barley, por exemplo em The Innocent.Anthropologist, ou, entre
nós, na expressão literária, a que não falta sequer a ilustração artística,
de Aromas de Urze e de Lama de Pina-Cabral — pode encontrar-se em
Kilani (1990:80-81) alusão a outros exemplos deste género de escrita, o
mesmo sucedendo em Casal (1996:106-9).
3. Cabe aqui aludir à consciência da dificuldade deste objectivo: «O
paradoxo da metodologia antropológica é que enquanto o trabalho de
campo e a observação participante assumem o papel emblemático da
actividade antropológica, conservando o estatuto de espaço-laboratório
do saber antropológico por excelência, muito raros são os antropólogos
que decidem explicitar os seus métodos de forma clara e desinibida.»
(Casal, 1996:105.) Este paradoxo é expresso também por Rabinow na
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<http://books.openedition.org/etnograficapress/2904>. ISBN :
9791036516207. DOI : 10.4000/books.etnograficapress.2904.
https://books.openedition.org/etnograficapress/2904 23/23