PENHORA - IMPOSSIBILIDADE - BEM DE FAMÍLIA INDIVISÍVEL
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE .....
Proc. n.º.......
(nome, qualificação e endereço), por seu advogado in fine, vem a presença de
V.Exa., por seu advogado in fine assinado, residente e domiciliado na Avenida Sete de Setembro, n. 1.188, nesta comarca de ....., nos autos epigrafados da presente execução fiscal, que contende com .......,vem, respeitosamente, RATIFICAR a impossibilidade de se manter a penhora de sua residência, acrescido da impossibilidade de divisão cômoda do imóvel, onde reside juntamente com sua mãe, pelas razões de direito adiante articuladas:
I - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA
ILEGALIDADE DA PENHORA REALIZADA EM
IMÓVEL RESIDENCIAL (art.1º da LEI N. 8.009/90) -
SENTIDO PROTETIVO DA ENTIDADE FAMILIAR
(CF, ART.226 § 4º) -
INDICAÇÃO DO IMÓVEL POR INICIATIVA
EXCLUSIVA DA EXEQUENTE
PRECEDENTES DO T.J.M.G. E S.T.J.
01. Ab initio, mister ressaltar que a matéria pertinente à impenhorabilidade de
imóvel residencial pode ser alegada em qualquer época e grau de jurisdição, por sua natureza de ORDEM PÚBLICA. Repousa no princípio guarnecido pelo art. 226 § 4º da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, in verbis:
“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
omissis... § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes...omissis...” 02. Preleciona SÍLVIO DE SALVO VENOSA sobre a mens legis da Lei n. 8.009/90: “Trata-se de norma que amplia o bem de família tradicional, de evidente cunho de ordem pública, colocando a salvo de credores basicamente o imóvel do casal ou da entidade familiar (...) A divagação agora passa a ser em torno da inspiração sociológica e histórica dessa lei. Pacífico é que se trata de diploma de ordem pública. Embora regulando relações privadas, tem reflexos fundamentais no processo executório, de direito público, portanto. Não se trata, porém de simples norma processual, como não o é o bem de família no código Civil (...) Por outro lado, positivamente, vemos que a lei procurou proteger a família do devedor, garantindo as condições mínimas de sobrevivência digna, a salvo das execuções por dívidas, avolumadas, em grande parte, não pela voracidade consumista do devedor, mas pelos tormentos e desacertos de uma economia cronicamente conturbada como é a do nosso país (...) A Lei 8.009/90, com todas as suas falhas, foi evidentemente muito mais avançada, fazendo com que a impenhorabilidade do imóvel de moradia decorra imperativamente da lei” (Direito Civil, ed.Atlas, 3ª.ed., Tomo I, p.348/349).
03. Esse posicionamento vem de longa data, pacificado pelo colendo
RESIDENCIAL. PRINCÍPIO DE ORDEM PÚBLICA. LEI N. 8.009/90.
A proteção conferida à entidade familiar pela Lei n. 8.009/90 se estende à
situação em que o imóvel constritado se acha ocupado pela ex-companheira e pelo filho do executado, sendo destituída de validade cláusula contratual em que ele abre mão do favor legal, que, por se cuidar de norma de ordem pública, é sempre preponderante. II. Tampouco importa em renúncia ao benefício a indicação anterior do bem à penhora. III. Precedentes do STJ. IV. Recurso especial não conhecido. (STJ-4ª T., Resp n. 507.686-SP, rel. Min. Aldir Passarinho Jr. - DJU 22-03-2004)
EMENTA: CIVIL - BEM DE FAMÍLIA - QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA
- DEVEDOR SOLITÁRIO - CONFIGURAÇÃO POSSIBILIDADE. - A impenhorabilidade do bem de família é questão de ordem pública pode ser argüida até o fim da execução, mesmo sem o ajuizamento de embargos do devedor. - É impenhorável, por efeito do preceito contido no Art. 1º da Lei 8.009/90, o imóvel em que reside, sozinho, o devedor celibatário. (STJ-3ª T., Resp. n. 222.823, rel. Min. Gomes de Barros - DJU 06-12-2004)
04. O imóvel penhorado, mesmo antes do início da execução, sempre foi
registrado em nome do co-executado. E mais. Nesse mesmo imóvel da Av. Sete de Setembro n. 1.188 é a casa onde o co- executado Joaquim Abreu Filho nasceu, cresceu e ainda por lá reside juntamente com sua mãe.
05. Outrossim, cabe apartar que a indicação do imóvel residencial do executado
para fins de penhora foi iniciativa exclusiva do exequente. Tivesse a mínima cautela e verificaria que esse imóvel é onde reside o ora executado há vários anos, inclusive, na qualificação da execução é informado como seu endereço o do aludido imóvel.
06. Por determinação desse d. juízo procedeu-se à vistoria in loco do imóvel. E o
Sr. Oficial de Justiça foi contundente em seu laudo: - o imóvel é de natureza residencial; - é o local onde reside o executado Joaquim e, - o imóvel é indivisível, registrado numa única matrícula de n...... perante o Cartório de Registro de Imóveis de ........., o que impede a alienação de parte (CPC, art.702).
07. Ponto final. Desnecessárias maiores delongas.
08. Único o posicionamento jurisprudencial:
BEM DE FAMÍLIA INDIVISÍVEL - TUTELA DA ENTIDADE FAMILIAR E
DO SEU NÚCLEO DE MORADIA - DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA. - A instituição do bem de família sobre imóvel residencial tem como objetivo tutelar a entidade familiar, mantendo-a em um mesmo núcleo habitacional. - Se a embargante é co-proprietária de imóvel que se enquadra na definição de bem de família, pode opor embargos de terceiro, mesmo que a penhora não tenha recaído sobre a sua cota parte, a fim de resguardar a impenhorabilidade do bem. - Sendo o imóvel indivisível, impossível é a penhora, mesmo que parcial, visto que para que o credor tenha o seu direito de crédito satisfeito torna-se necessária a venda de todo o bem para que ele obtenha o valor correspondente à parcela constrita, o que não é possível em se tratando de bem de família, visto que provocará a dissolução do núcleo habitacional. - Se a penhora recai sobre parcela de bem de família indivisível, ela deve ser desconstituída. (TJMG- embargos de terceiro, n. 2.0000.00.447241-9/000, rel. Des. Pedro Bernardes, DJ 10.05.2005)
EMENTA: PENHORA DE QUOTA PARTE DE IMÓVEL RESIDENCIAL -
INDIVISIBILIDADE DO BEM - LEGITIMIDADE DO MORADOR E CONDÔMINO DO IMÓVEL - BEM DE FAMÍLIA - PENHORA - IMPOSSIBILIDADE. - Tem legitimidade para opor embargos de terceiro aquele que, não sendo parte na execução, é proprietário ou mesmo possuidor dos bens constritos e quer ver afastada a apreensão judicial de coisas integradas ao seu patrimônio. - A impenhorabilidade do bem de família é instituto criado para a proteção da dignidade da família e da pessoa humana, e nesse sentido deve ser interpretada a lei. - Não há como separar do imóvel residencial, abrigo de uma família, a quota parte do executado, sem alterar a substância do bem. Preliminar rejeitada e recurso não provido. (TJMG- embargos de terceiro, n. 2.0000.00.432996-6/000, rel. Des. Evangelina Castilho Duarte - DJ 11.05.2004).
Vogando na esteira o r. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO:
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO - BEM DE FAMÍLIA -
DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA. A lei 8009/90 é categórica ao prever que o imóvel residencial não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza. Assim, inexistindo outro imóvel residencial a ser penhorado e, tratando- se de moradia permanente dos ora embargantes, que ali habitam com sua família, inegável a impenhorabilidade do bem, devendo a constrição ser julgada insubsistente. (TRF-1ª Região- Apel. Cível n. 2002.38.00.005798-8/MG, rel. Des. Federal Fagundes de Deus - DJ 29.11.2006)
EMENTA: PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIROS. BEM DE
FAMÍLIA. LEI 8.009/90, ART. 1º. EXISTÊNCIA DE BENFEITORIAS. LOTES QUE FORMAM UMA SÓ RESIDÊNCIA.IMPENHORABILIDADE. PRECEDENTES 01. O imóvel residencial próprio do casal ou entidade familiar é impenhorável e não responde por qualquer categoria de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza qualquer, contraída pelos cônjuges, pelos pais ou pelos filhos que sejam proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas em lei, nos termos do art. 1º da Lei 8.009/90. A garantia da impenhorabilidade do bem de família se estende às benfeitorias e aos bens que guarnecem a residência familiar. Aquilo que originariamente era um bem principal (o conjunto dos lotes) acaba se tornando acessório diante do valor de mercado muito superior que tem as benfeitorias, agora indissociáveis do solo. (Cf. REsp 506.670/PR, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em 02.03.2004, DJ 29.03.2004 p. 246) 03. Apelação desprovida. (TRF-1ª Região - Apel. Cível n. 2000.01.00.012970-4/MG, rel. Des.Federal Daniel Paes Ribeiro - DJ 09.10.2006).
Firme o ínclito SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
EMENTA: CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. BEM
INDIVISÍVEL. FRAÇÃO DE IMÓVEL IMPENHORÁVEL. ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. - A impenhorabilidade da fração de imóvel indivisível contamina a totalidade do bem, impedindo sua alienação em hasta pública. - A Lei 8.009/90 estabeleceu a impenhorabilidade do bem de família com o objetivo de assegurar o direito de moradia e garantir que o imóvel não seja retirado do domínio do beneficiário. Recurso especial conhecido e provido. (STJ- 3ªT, Resp. n. 507.618/SP, rel. Min. Nancy Andrighi - DJU 07.12.2004) EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. LEI 8.009/90. BEM DE FAMÍLIA. IMÓVEL RESIDENCIAL. DESMEMBRAMENTO. CIRCUNSTÂNCIAS DE CADA CASO. DOUTRINA. RECURSO PROVIDO. Como residência do casal, para fins de incidência da Lei n. 8.009/90, não se deve levar em conta somente o espaço físico ocupado pelo prédio ou casa, mas também suas adjacências, como jardim, horta, pomar, instalações acessórias etc, dado que a lei, em sua finalidade social, procura preservar o imóvel residencial como um todo. (STJ- 4ª T, Resp. n. 188.706/MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira - DJU 05.08.1999)
II- PEDIDOS
09. Ex positis, o co-executado requer:
a) seja determinada a DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA DO IMÓVEL
RESIDENCIAL DO RÉU, localizado na Av. Sete de Setembro n. 1.188 em Ipanema, oficiando-se para cancelamento da penhora averbada na matrícula n. ...... junto ao Cartório de Registro de Imóveis local, oriundo da presente execução; b) seja imposta condenação da exequente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, caso gerada resistência e contenciosidade ao presente pleito por parte do exequente; c) o cadastramento do signatário para as vindouras publicações.
Pede deferimento. (local e data) (assinatura e n.º da OAB do advogado)