Sei sulla pagina 1di 11

Latin American Journal of Pharmacy Revisiones

(formerly Acta Farmacéutica Bonaerense)


Recibido el 14 de julio de 2006
Lat. Am. J. Pharm. 26 (1): 144-54 (2007) Aceptado el 20 de agosto de 2006

Toxicologia dos Cosméticos


Marlus CHORILLI 1,2*, Maria Virgínia SCARPA 1,
Gislaine Ricci LEONARDI 2 & Yoko Oshima FRANCO 2

Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas,


1

Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Departamento de Fármacos e Medicamentos,


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Rodovia Araraquara-Jaú, Km 1, 14801-902, Araraquara - SP, Brasil.
2 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba,

Rodovia do Açúcar, Km 156, 13400-911, Piracicaba - SP, Brasil.

RESUMO. Apesar de não ser desejável, os produtos cosméticos podem ocasionar alguns efeitos adversos
ao usuário. Tais efeitos podem ser decorrentes de fatores individuais como também pelo uso inadequado.
Logo, a avaliação de segurança deve preceder a colocação do produto cosmético no mercado. Uma vez que
o produto cosmético é de livre acesso ao consumidor, o mesmo deve ser seguro nas condições normais ou
razoavelmente previsíveis de uso. Historicamente, os testes de avaliação de segurança eram realizados com
animais (in vivo); porém, atualmente, alguns centros de pesquisa estão adotando novas alternativas (in vi -
tro) que visam a substituição dos testes com animais. Este artigo enfatiza a necessidade de realização de
ensaios de toxicidade para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, bem como apresenta os tes-
tes in vivo e in vitro utilizados abordando a necessidade de se aplicar métodos alternativos aos ensaios in vi -
tro na avaliação de segurança dos mesmos.
SUMMARY. “Cosmetics Toxicology”. Although not desirable, cosmetic products can cause some adverse effects
in the user. Such effects can be due both to individual factors and by inadequate use. So, the safety evaluation
must precede the placement of the cosmetic product in the market. Once the consumer has free access to cosmet-
ic product, it must be safe in normal conditions or reasonably previsible of use. Historically the evaluation tests
were accomplished with animals (in vivo) but, at the moment, some research centers have been adopting new al-
ternatives (in vitro) in order to replace the tests with animals. This article emphasizes the necessity of accom-
plishing toxicity assays for personal hygiene products, cosmetics and perfumes, an also presents the tests in vivo
and in vitro used, approaching the necessity of alternative methods to the assays in vitro in the evaluation of se-
curity of them.

INTRODUÇÃO nimo) e grau 2 (aqueles com risco potencial),


Cosméticos são preparações constituídas por visando a finalidade do uso do produto, áreas
substâncias naturais ou sintéticas, de uso exter- do corpo abrangidas, modo de usar e cuidados
no nas diversas partes do corpo humano, pele, a serem observados quando de sua utilização
sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais 1,2.

externos, dentes e membranas mucosas da cavi- Apesar de não desejável, há relatos na litera-
dade oral, com o objetivo exclusivo ou principal tura de reações adversas a cosméticos 3,4. Viglio-
de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência, glia & Rubin 5 dividem as reações adversas a
corrigir odores corporais e ou protegê-los ou cosméticos em: reações irritativas: imediatas (ex:
mantê-los em bom estado. Os cosméticos, de hidróxido de sódio) ou acumulativa (ex: tensoa-
acordo com os artigos 3º e 26º da Lei 6.360/76 1 tivos); reações alérgicas ou sensibilizantes: der-
e 3º, 49º e 50º do Decreto 79.094/77, podem ser matite de contato (ex: por princípios ativos, veí-
enquadrados em quatro categorias: produtos de culos, conservantes) ou granuloma alérgico (ex:
higiene, cosmético, perfume e produto de uso zircônio); dermatites por fotossensibilização: fo-
infantil. Pelo grau de risco que oferecem são totoxia ou fotoalergia; reações sistêmicas: por
classificados em grau 1 (produtos com risco mí- inalação (ex: fragrâncias) ou por absorção per-

PALAVRAS-CHAVE: Cosméticos, Métodos alternativos, Métodos in vivo, Toxicologia.


KEY WORDS: Alternative methods, Cosmetics, In vivo methods, Toxicity.
* Autor a quem correspondência deve ser enviada. E-mail: chorilli@fcfar.unesp.br

144 ISSN 0326-2383


Latin American Journal of Pharmacy - 26 (1) - 2007

cutânea (ex: persulfato de amônio); reações físi- Groot et al. 4 realizaram um estudo em 119
cas e outras: por oclusão (ex: foliculite por óle- pacientes para determinar quais eram os com-
os); ação carcinogênica. ponentes presentes em cosméticos responsáveis
A irritação pode ser definida como intolerân- por dermatite de contato. Para tanto, os autores
cia local podendo corresponder a reações de aplicaram topicamente nos voluntários, durante
desconforto, variando sua intensidade desde ar- 2 dias, substâncias relatadas como alérgenos.
dor, coceira e pinicação podendo chegar até a Eles observaram que o mais importante alérge-
corrosão e destruição do tecido. Todas estas re- no cosmético foi um sistema conservante com-
ações se restringem à área em contato direto posto de metilsotiazolinona e metilclorosotiazo-
com o produto 6. linona, que provocou reação em 33 pacientes
A sensibilização corresponde a uma alergia, (27,7%), seguido por resina de toluenosulfona-
que é uma reação de efeito imediato (de conta- mida/formaldeído presentes em laquês (15 pa-
to ou urticária) ou tardio (hipersensibilidade). cientes, 12,6%) e pelo emulsificante oleamido-
Ela envolve mecanismos imunológicos e pode propildimetilamina, presentes em loções infantis
aparecer em outra área diferente da área de para o corpo (13 pacientes, 10,9%).
aplicação, podendo se manifestar por eritema, Hernandez & Mercier-Fresnel 7 relatam que
edema e secreção com formação de crostas 5. O reações adversas a cosméticos podem ser oca-
risco de alergia pode decorrer tanto em função sionadas principalmente pelos conservantes usa-
dos ingredientes quanto do produto final 6. dos em formulações. Porém, Soni et al. 8 ao rea-
Reações sistêmicas são reações resultantes da lizarem estudos para verificação de prováveis
passagem de quaisquer substâncias do produto efeitos tóxicos para o propilparabeno, um con-
para a circulação sangüínea, diretamente por via servante microbiológico muito utilizado, obser-
oral, inalatória, transcutânea ou transmucosa, varam baixa toxicidade oral aguda em animais
metabolizadas ou não 6. Já dermatites por fotos- de laboratório, nenhuma evidência de atividade
sensibilização são reações adversas que ocorrem carcinogênica e resultado negativo para o teste
após exposição combinada de certos compo- de Ames, o que comprova não potencial carci-
nentes à luz 5. Na grande maioria dos casos, as nogênico. Resultados semelhantes foram obser-
reações sistêmicas são avaliadas a partir dos da- vados para outro conservante microbiológico, o
dos relativos às matérias primas. Não se conhe- metilparabeno 8.
cem efeitos toxicológicos sistêmicos em produ- Viglioglia & Rubin 5 afirmam que tensoativos
tos acabados que não sejam causados pelos aniônicos como o lauril sulfato de sódio pos-
próprios ingredientes. Portanto, é importante suem propriedades irritantes quando aplicados
prever este tipo de risco para os produtos que sobre a pele. Segundo os autores, tensoativos
eventualmente possam ser ingeridos ou inala- catiônicos podem também causar dano cutâneo.
dos, ou aqueles destinados a uma população Já tensoativos não iônicos, como polissorbato
em particular (crianças, gestantes, etc). Assim, a 80, possuem potencial de irritação menor. Outra
maioria das informações necessárias na ava- substância presente em cosméticos e que possui
liação do risco potencial de um produto cosmé- considerável grau de toxicidade é a fragrância.
tico resulta do conhecimento dos ingredientes Jackson 9 afirma que de 1500 substâncias comu-
que compõem a formulação. São eles que po- mente usadas em fragrâncias, cerca de 100
dem ser os responsáveis por qualquer efeito (6,7%) causam reações adversas. Como exem-
sistêmico e por boa parte do risco alergênico. plo, tem-se óleo de marigold, que apresenta fo-
Contudo, a fórmula do produto acabado pode totoxicidade. Também, várias substâncias pre-
interferir, à medida que facilita a absorção total sentes em cosméticos podem causar dermatite
ou parcial dos ingredientes sendo responsável, de contato, principalmente em tinturas capilares,
também, por possíveis sinergismos, resultantes como betanaftol e pirogalol 5.
da associação de matérias-primas 6. Recentemente, muito se tem discutido acerca
Há diversos relatos na literatura de substân- da toxicidade do formaldeído, que vem sendo
cias presentes em cosméticos que apresentam utilizado em alisantes capilares em concen-
determinado grau de toxicidade. Outras trações de 0,4 a 29,7%. Segundo Boletim Infor-
substâncias, por sua vez, apresentam nível de mativo da Agência Nacional de Vigilância Sani-
uso aceitável, como corantes, conservantes e fil- tária (ANVISA) 10, órgão regulamentador destas
tros solares, devendo-se respeitar a legislação questões no Brasil, o formaldeído é uma maté-
vigente quanto à concentração em que devem ria-prima com uso permitido em cosméticos nas
ser incorporados às formulações 6. funções de conservante (limite máximo de uso

145
CHORILLI M., SCARPA M.V., LEONARDI G.R. & FRANCO Y.O.

permitido de 0,2%, de acordo com a Resolução É fundamental que reações adversas conse-
RDC Nº 162, de 2001) e como agente endurece- cutivas à utilização de preparações cosméticas
dor de unhas (limite máximo de uso permitido sejam evitadas ou pelo menos mantidas em limi-
5%, segundo Resolução RDC Nº 215, de 2005) tes aceitáveis. Para isso, é imprescindível que
11,12 . Tal Boletim Informativo cita também que a estudos de tolerância sejam realizados antes de
utilização do formaldeído com função diferente qualquer introdução no mercado de novas for-
das citadas e em limites acima dos permitidos mulações. É uma questão ética relacionada a to-
pode causar danos à saúde. Todos os produtos dos os responsáveis pelos diferentes ramos pro-
registrados pela ANVISA que apresentam formal- fissionais implicados na elaboração e comerciali-
deído na sua composição têm as concentrações zação de cosméticos. Assim, apesar de uma ava-
da substância dentro dos limites previstos na le- liação rigorosa prévia destes riscos no caso de
gislação vigente. Logo, quando o produto não é uma determinada preparação, efeitos de irri-
registrado, sua composição não foi avaliada, po- tação ou de alergia podem sobrevir em indiví-
dendo conter substâncias proibidas ou de uso duos predispostos 3.
restrito, em condições e concentrações inade- Sparacio 14 cita que, mediante o contingente
quadas ou não permitidas, o que pode acarretar de formulações cosméticas, estas precisam apre-
riscos à saúde da população, como irritação da sentar alguns diferenciais para ganhar a acei-
pele, vermelhidão, queimaduras, lacrimação, tação do consumidor, como, por exemplo, se-
visão embaçada, hipersensibilidade e até mesmo gurança, biocompatibilidade e funcionalidade.
queda de cabelo 10. Assim, é primordial o desenvolvimento de testes
Dentre as orientações mencionadas pelo Bo- que comprovem um alto nível de segurança do
letim Informativo da ANVISA 10 destaca-se: o for- produto, o qual poderá ser utilizado por consu-
maldeído está sendo utilizado em concentrações midores de vários tipos e condições de pele.
maiores que a permitida pela ANVISA com a Logo, o objetivo deste trabalho é enfatizar a
função de alisante, podendo causar riscos à saú- necessidade de realização de ensaios de toxici-
de; o formaldeído é considerado cancerígeno dade para produtos de higiene pessoal, cosméti-
pela OMS (Organização Mundial de Saúde), sen- cos e perfumes, bem como apresentar os testes
do que quando absorvido pelo organismo por in vivo e in vitro utilizados abordando a neces-
inalação e principalmente pela exposição pro- sidade de se aplicar métodos alternativos aos
longada apresenta como risco o aparecimento ensaios in vitro na avaliação de segurança dos
de câncer na boca, nas narinas, no pulmão e no mesmos.
sangue; não utilizar produtos que contenham
formaldeído com finalidade e concentrações di- SEGURANÇA DE COSMÉTICOS
versas das permitidas, visto que o formaldeído Independente do grau de risco que o produ-
em concentrações permitidas não tem função de to cosmético apresenta, este deve ser seguro.
alisante; não utilizar produtos sem registro; em Entende-se por segurança de cosméticos a
caso de dúvida, consultar um médico de con- ausência razoável de risco de lesão significativa
fiança; o consumidor que encontrar irregularida- em condições de uso previsíveis, ou seja, defi-
des poderá entrar em contato com a Vigilância ne-se segurança em termos de probabilidade de
Sanitária Municipal, Estadual ou com a ANVISA. que o produto não provoque danos significati-
Logo, o órgão regulamentador brasileiro incenti- vos. Quando se fala em segurança de produtos
va a Cosmetovigilância como prática para tenta- cosméticos, deve-se entender que não existe
tiva de coibir o uso indiscriminado do formalde- 100% de segurança em nenhuma substância quí-
ído em produtos de higiene pessoal, cosméticos mica, já que até mesmo água pode ser perigoso
e perfumes. se administrada em quantidades inadequadas 15.
Outras substâncias ainda que merecem des- Segundo Romanowski e Schueller 15 um con-
taque são os metais. Vários metais têm apli- sumidor pode usar diversos produtos cosméti-
cações cosméticas, dentre eles alumínio, bário, cos diferentes num mesmo dia. Se cada um dos
bismuto, boro, cobalto, cromo, ferro, manganês, produtos contiver, por exemplo, 10 componen-
prata, titânio e zinco. Alguns estudos, porém, tes, esse indivíduo estará exposto a muitos com-
estão verificando que determinados metais são postos químicos por dia. Como essas substân-
poderosos alérgenos, dentre eles o cromo, co- cias entram em contato direto com várias partes
balto, mercúrio e principalmente o níquel 13. Os do corpo, como couro cabeludo, região próxi-
quatro macrometais essenciais, sódio, potássio, ma aos olhos, mucosas e cavidade oral, é essen-
cálcio e magnésio, são imprescindíveis no ba- cial garantir ao consumidor que ele esteja utili-
lanço homeostático do organismo. zando um produto seguro.

146
Latin American Journal of Pharmacy - 26 (1) - 2007

Considerando que verdadeiramente não exis- Nos Estados Unidos, o registro de produtos
te ausência de risco e, dadas às dificuldades pa- cosméticos é controlado pelo FDA (Food and
ra estabelecer conceitos relativos a uma con- Drug Administration), codificado no Título 21,
dição razoavelmente previsível de uso, o res- Código de Regulamentos Federais (21 CFR), par-
ponsável por um produto cosmético deve em- tes 700 a 740 (21 CFR 700 a 740). Embora o
pregar recursos técnicos e científicos suficiente- FDA não obrigue que os fabricantes de cosméti-
mente capazes de reduzir possíveis danos aos cos testem seus produtos para a garantia da se-
usuários, ou seja: formulando o produto com gurança, ele incita fortemente os mesmos a rea-
substâncias referenciadas (substâncias constan- lizarem os testes toxicológicos apropriados. Se a
tes em compêndios e legislação), que sejam as segurança do produto não for adequadamente
mais seguras possíveis; informando o consumi- verificada, este deve ter uma indicação na em-
dor, da maneira mais clara possível, a fim de balagem advertindo que a segurança do produ-
evitar mau uso do produto e seguindo as Boas to não foi determinada 17.
Práticas de Fabricação e Controle 6. Jackson 18 considera como elementos funda-
Assim, uma das responsabilidades dos for- mentais na toxicologia cutânea os seguintes as-
muladores cosméticos é assegurar que os pro- pectos: substância química, a dose de exposição
dutos sejam seguros. Para isso, o entendimento ao produto químico, quantidade da substância
do funcionamento dos testes de segurança é pri- permeada, classe do cosmético na qual o ativo
mordial. Infelizmente, não existe um único ma- pode ser utilizado, método, duração e freqüên-
nual de métodos mundialmente aceitos para os cia de aplicação, quantidade de produto em ca-
testes de segurança; pelo contrário, mediante a da aplicação e possível exposição do produto à
vasta gama de metodologias, cada empresa es- luz solar 19.
colhe seus métodos para procedimentos de se- Com o objetivo de garantir maior segurança
gurança dos produtos 15. para o usuário do produto cosmético, diversos
A avaliação de segurança deve preceder a órgãos regulamentadores têm se mobilizado
colocação do produto cosmético no mercado. com o objetivo de normatizar e comprovar a se-
Uma vez que o produto cosmético é de livre gurança e eficácia de tais produtos. Dentre as
acesso ao consumidor, o mesmo deve ser segu- resoluções estabelecidas pelo Mercosul, tem-se
ro nas condições normais ou razoavelmente a MERCOSUR/GMC/RES Nº 19/05, que discute o
previsíveis de uso 6. programa de cosmetovigilância na área de pro-
Na legislação brasileira não se exige testes dutos de higiene pessoal, cosméticos e perfu-
de toxicidade para o registro de produtos cos- mes. Os objetivos desta normativa são: garantir
méticos. De acordo com a Resolução 79/00 1, o cumprimento dos padrões de qualidade dos
Anexo XXI e suas atualizações, o que existe é produtos de higiene pessoal, cosméticos e per-
apenas um termo de responsabilidade que a fumes produzidos nos países integrantes do
empresa assina, onde a mesma declara possuir Mercosul; destacar a responsabilidade dos fabri-
dados comprobatórios que atestam a eficácia e cantes em garantir a segurança e a eficácia dos
segurança de seus produtos 6. produtos por eles produzidos e conscientizar da
Na Comunidade Européia, a segurança de necessidade de cumprir os requisitos obrigató-
produtos cosméticos é regulada pela Diretiva rios relacionados à comprovação da segurança e
Cosmética (76/768/EEC) de 1976, artigos 2º e 7º, eficácia de tais produtos. Assim, as empresas
os quais afirmam que um produto cosmético instaladas em países pertencentes ao Mercosul
não deve causar dano à saúde humana quando fabricantes de produtos cosméticos devem im-
aplicado em condições razoáveis ou razoavel- plementar um sistema de cosmetovigilância,
mente previsíveis de uso; na produção deve-se com o objetivo de garantir ao usuário a segu-
considerar o perfil toxicológico da substância ati- rança e eficácia dos mesmos, facilitar o acesso
va, sua estrutura química e o nível de exposição. ao usuário de relatos sobre problemas de uso,
Pode-se perceber, assim, que a Diretiva Cosméti- defeitos de qualidade, efeitos indesejáveis e ga-
ca impõe uma obrigatoriedade de que os produ- rantir o acesso do consumidor à informação.
tos cosméticos devem ser seguros, mas não for- Também, estas empresas devem manter o regis-
nece detalhes específicos ou métodos que pos- tro dos dados de cosmetovigilância e avaliá-los;
sam ser utilizados nestes testes de segurança. O caso sejam identificadas situações que impli-
SCCNFP (Comitê em Cosméticos e Produtos Não quem risco para a saúde do usuário, tais empre-
Alimentícios) recomenda o uso de testes toxico- sas devem notificar a autoridade sanitária local
lógicos baseados naqueles utilizados para produ- de seu país 20.
tos farmacêuticos e agroquímicos 16. Outra resolução que deve ser destacada é a

147
CHORILLI M., SCARPA M.V., LEONARDI G.R. & FRANCO Y.O.

MERCOSUR/GMC/RES. N° 26/04, que traz os re- via cutânea. Esta relação não pode ser menor
quisitos técnicos específicos para produtos de que cem 6.
higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Tal re- O Guia para Avaliação de Segurança de Pro-
solução complementa a resolução MERCOSUR/ dutos Cosméticos 6 orienta como estudos bási-
GMC/RES. N° 24/95, com o intuito de promover cos úteis os seguintes testes: absorção cutânea;
uma implementação uniforme desta resolução estudo do potencial de efeito sistêmico - toxici-
pelos países envolvidos, estabelecer requisitos dade aguda e testes de mutagenicidade; estudo
técnicos para que os fabricantes e importadores do potencial de efeito alergênico - teste de aler-
comprovem a segurança e eficácia de uso des- genicidade; estudo do potencial de risco irritati-
tes produtos possibilitando a livre circulação vo - irritação primária da pele e irritação primá-
dos mesmos em todos os países do Mercosul, ria da mucosa (ou ocular).
aperfeiçoar as ações de controle sanitário de tais Além disso, o Guia orienta como estudos
produtos garantindo sua segurança em con- complementares úteis em situações particulares:
dições normais de uso, além de trazer a relação estudo do risco sistêmico potencial: toxicidade
de documentos necessários para regular a fabri- subaguda - desejável quando o ingrediente é
cação destes produtos 21,22. destinado ao uso diário; estudo do efeito na re-
Dentre os requisitos obrigatórios que as em- produção (fertilidade / teratogenicidade
presas devem apresentar que constam no anexo peri/pós-natal) - necessário quando o ingredien-
da resolução MERCOSUR/GMC/RES. N° 26/04 te pertence a uma família química com suspeita
tem-se: fórmula qualitativa; função dos compo- de risco ou se utilizado em produtos indicados
nentes da fórmula; bibliografia e referências dos para gestantes e fotomutagenicidade - utilizada
componentes; especificações técnicas, organo- para ingredientes que absorvem os raios ultra-
lépticas e físico-químicas das matérias-primas e violeta entre 290 e 400 nm; estudo do risco irri-
do produto acabado; especificações microbioló- tativo potencial: irritação por efeito cumulativo -
gicas das matérias-primas e do produto acaba- desejável quando o ingrediente é destinado a
do; processo de fabricação; especificações técni- ser utilizado em produtos de uso regular, sem
cas do material de embalagem; dados de estabi- enxágüe; avaliação de riscos particulares - tera-
lidade; sistema de codificação de lotes; projeto togenicidade, carcinogenicidade e genotoxicida-
de arte das etiquetas ou rótulos; comprovação de 6.
da eficácia e segurança; finalidade do produto; Há várias metodologias de testes que os pes-
certificado de venda livre autorizado e certifica- quisadores podem empregar para avaliar a se-
do de inscrição do estabelecimento 21. gurança dos produtos cosméticos. Historicamen-
te, estes eram realizados com animais (in vivo),
TESTES DE TOXICIDADE EM COSMÉTICOS porém atualmente alguns centros de pesquisa
A determinação do potencial tóxico é o pri- estão deixando de fazer estes tipos de testes e
meiro passo na análise de risco de um produto adotando novas alternativas (in vitro) que ex-
e consiste de uma série de estudos de toxicida- cluem testes com animais 15. Um ensaio in vivo
de, sendo necessários os seguintes ensaios: toxi- geralmente não deve ser executado na eventual
cidade aguda dérmica, toxicidade oral e per- existência de outro método científico in vitro
cutânea, irritação e sensibilização cutânea, irri- válido, satisfatório, razoável e disponível na prá-
tação ocular primária, inalação, fotossensibilida- tica para obtenção do resultado desejado 19.
de e fototoxicidade (no caso de substâncias ab-
sorventes de raios UV), toxicidade sub-aguda, TESTES IN VIVO
potencial mutagênico, carcinogênico, teratogêni- Os estudos in vivo permitem a investigação
co e acneigênese 3,15,19. Outros estudos necessá- do potencial toxicológico de uma substância
rios são aqueles que visam a determinação da quando aplicada a um animal através de uma
margem de segurança, já que os ingredientes via de exposição (oral, inalatória ou tópica) si-
devem ser incorporados na fórmula do produto milar à do homem, permitindo a observação de
cosmético num nível de concentração que apre- efeitos adversos.
sente margem de segurança adequada. A mar-
gem de segurança é definida como a relação Teste de irritação ocular primária (Teste
entre a dose experimental mais elevada, que de Draize)
não produz qualquer efeito sistêmico adverso Lachapelle 3 sugere que o teste de irritação
depois de um mínimo de 28 dias de ingestão ocular primário é interessante para produtos
oral em espécie animal, e a dose diária absorvi- que serão aplicados próximos aos olhos e que
da, a qual o consumidor pode ser exposto por podem acidentalmente penetrar nos mesmos,

148
Latin American Journal of Pharmacy - 26 (1) - 2007

como os produtos de maquiagem em redor luntários durante 24 h e verificando os efeitos


dos olhos (máscara, sombra, maquiagem de pál- diariamente. O teste é repetido no mesmo local
pebras, delineadores, entre outros), produtos de por 21 dias, salvo se há desenvolvimento de eri-
maquiagem do rosto (base fluida) e formulações tema. O número médio de dias necessários para
para o cabelo (xampus, entre outros). obtenção de reações adversas serve como índi-
Em um dos olhos de 6 coelhos albinos aplica- ce do poder irritante da substância 3. Assim, se
se a substância a ser analisada, e o outro olho começarem irritações no 10º dia, o índice de
atua como controle. Observa-se a reação ocular irritação da substância é 10.
em intervalos específicos de tempo durante um
período médio de 72 h, podendo prolongar-se Fotossensibilidade e Fototoxicidade
por 7-8 dias. Os efeitos observados podem ser Algumas substâncias provocam reações ad-
classificados em uma escala de 1 a 8. Dentre os versas somente quando expostas à luz, como
efeitos, tem-se: ulceração e opacidade da cór- eritema intenso, hiperpigmentação, queimadura
nea, inflamação da íris, hemorragia e necrose, e edema. Os testes fotoalergênicos baseiam-se
inchaço da conjuntiva, deterioração do olho e em testes oclusivos repetidos realizados em co-
cegueira 6. baias albinas utilizando radiação ultravioleta
(UV) durante a fase inicial de exposição. As co-
Testes de toxicidade aguda dérmica baias são expostas diariamente durante 3 sema-
Utilizam-se 10 cobaias, sendo 5 de cada se- nas à radiação e, após período de 14 dias, são
xo, as quais são tratadas com 2 g/kg da substân- expostas a mais uma exposição. O procedimen-
cia ou produto acabado em pele intacta ou irri- to seguinte é a avaliação da reação alérgica. Já
tada com lauril sulfato de sódio durante 4 ou 24 os testes de fototoxicidade, realizados também
h. Os animais são observados para detecção de em cobaias albinas e na maioria das vezes reali-
sinais de reações adversas por 14 dias. Se tais si- zados somente com matérias primas, expõem a
nais não forem observados, a substância pode pele à matéria prima teste e em seguida às ra-
ser considerada praticamente não tóxica, e tes- diações UVA e UVB 15. Substâncias presentes
tes seqüentes não são requeridos 19. em cosméticos e que podem causar fotossensi-
bilidade são geralmente as fragrâncias 24.
Irritação cutânea
Podem ser realizados tanto em coelhos 23 co- Testes de Sensibilização Cutânea
mo em humanos 3. Mede-se a irritação cutânea Pode-se empregar o método de maximi-
com o auxílio de um teste epicutâneo feito so- zação, no qual utiliza-se cerca de 20 cobaias,
bre a pele abrasada e sobre a pele intacta de no que é considerado o modelo de eleição para es-
mínimo seis coelhos albinos raspados na ante- tudos de alergia de contato 24. Este teste com-
véspera da prova. Sobre a pele de cada animal, porta duas etapas: uma fase de indução da sen-
realizam-se três incisões paralelas de três cm de sibilização e outra de revelação. Aplicam-se ini-
comprimento com uma agulha de injeção hipo- cialmente 6 injeções intradérmicas, 3 de cada la-
dérmica de forma a abrasar a camada córnea, do do pescoço, à saber: 2 com adjuvante com-
sem provocar sangramento. Sobre cada superfí- pleto de Freund (substância que tem por função
cie a testar, aplica-se 0,5 mL (para líquidos) ou principal exacerbar a resposta imune), 2 com a
0,5 g (para semi-sólidos) das formulações a se- substância teste numa concentração de 5% sem
rem testadas, recobrindo-se a área de aplicação o adjuvante e 2 com a substância teste emulsio-
com uma gaze. Após 24 e 72 h, procede-se a nada a 5% no adjuvante completo de Freund.
avaliação das reações observadas, de forma a Uma semana mais tarde, raspam-se as regiões
obter o índice de irritação cutânea, seguindo a em que as injeções foram aplicadas. Se a
escala de Draize: discretamente irritantes (índice substância teste não for irritante, aplica-se na re-
≤ 2), moderadamente irritantes (índice entre 2 e gião lauril sulfato de sódio a 10% em vaselina,
5) e muito irritantes (índice ≥ 6) 3. com o objetivo de provocar uma irritação leve
Os testes de irritação em coelhos têm tam- localmente e, após 24 h, aplica-se a substância
bém suas limitações, principalmente relaciona- teste no local. A fase de revelação se realiza 14
das à não detecção de irritações quando se trata dias após a fase tópica e aplica-se a maior dose
de irritantes fracos. Assim, pode-se realizar o não irritante. Depois de 24 h, a pele é examina-
teste das irritações repetidas durante 21 dias da para observação de reações alérgicas. A in-
consecutivos no homem aplicando quantidade tensidade da resposta é quantificada na hora da
definida da amostra sobre o dorso, recoberto remoção da banda e 48 h depois 3,6,24.
com gaze após aplicação, de em média 24 vo-

149
CHORILLI M., SCARPA M.V., LEONARDI G.R. & FRANCO Y.O.

Acneigênese informações serão importantes para os testes


O método para verificar acneigênese baseia- com animais 15.
se numa experimentação na qual se observou
que, pincelando o conduto auditivo externo do Potencial mutagênico
coelho com diferentes óleos, obtinha-se, depois Geralmente é utilizado o teste de Ames. Nes-
de 14 dias, uma hiperqueratose folicular cuja in- te teste, utiliza-se o procedimento experimental
tensidade era reflexo do efeito comedogênico do ensaio em placa de Salmonella/Microssoma
no homem. Utilizam-se 6 coelhos albinos Nova de Ames para analisar a atividade mutagênica
Zelândia de 2 a 3 kg. As amostras são diluídas da substância teste em cada um dos cinco estir-
na proporção de 1 a 10 g. Efetuam-se 15 apli- pes histidino-dependentes de Salmonella typhi -
cações (três semanas com cinco aplicações ca- murium com ou sem ativação de microssomas
da) de 1 mL da solução teste na parte interna da de mamífero (fração de fígado S9 de rato). É ne-
orelha direita (a orelha esquerda é utilizada co- cessária também a realização paralela de um
mo controle). São realizadas leituras diárias e 24 controle negativo, composto pelo extrato do
h após a última aplicação para observação de meio, e de um controle positivo, composto por
eritema, edema e presença ou ausência de co- um mutágeno conhecido. São considerados co-
medões 3,6,15. mo resultado positivo os testes em que a
substância produz resposta positiva após três
Toxicidade oral e percutânea concentrações da dose, tendo-se o cuidado de
Determinadas quantidades de matérias-pri- aumentar também o controle positivo 19. Segun-
mas no organismo podem provocar vômitos, do Lachapelle 3 de cada 10 corantes presentes
danos aos órgãos internos e até a morte. Os tes- em preparações cosméticas como batons, três se
tes destinados a medir a toxicidade oral e per- mostraram mutágenos nos testes de Ames.
cutânea são úteis para avaliar esses perigos de
forma a ter controles de toxicidade. O teste de Potencial carcinogênico
DL50 é o método básico utilizado para determi- Os testes para determinar se o produto pro-
nar qual dosagem oral do produto a ser testado voca câncer são semelhantes aos testes do po-
é letal para 50% da população testada. Neste tencial mutagênico, porém sua duração é muito
teste, ratos recebem dose única da substância maior. Recomenda-se a realização dos testes
teste por meio de entubação gástrica (gavage). conhecidos como “doses heróicas”, já que seria
Já no teste de toxicidade percutânea, a substân- necessário grande número de animais no teste
cia é aplicada na pele de coelhos, onde perma- para detectar potencial carcinogênico em níveis
nece por 24 h. Tanto no teste de toxicidade oral reais. Assim, administram-se doses muito gran-
quanto no teste de toxicidade percutânea regis- des a pequenos números de animais. Para algu-
tram-se os dados relativos de toxicidade e mor- mas substâncias, o câncer provocado por gran-
talidade por 14 dias. Após os testes, pesquisado- des doses também seria provocado por doses
res examinam os danos causados aos órgãos in- menores, sugerindo que doses poderiam ser ex-
ternos dos coelhos 15. trapoladas com esse método. Todavia, apenas
dados relativos a doses elevadas têm sido acei-
Inalação tos 15.
Quando inalados, alguns compostos podem
provocar danos internos ou inibir o sistema re- Potencial teratogênico
servatório. Isto pode acontecer para substâncias Animais prenhes são expostos ao composto
contidas em aerossóis, como fragrâncias, teste e analisados o desempenho reprodutivo, o
substâncias antimicrobianas, entre outras Assim, desenvolvimento do embrião e o desenvolvi-
tais substâncias devem ser submetidas a testes mento pós-natal do animal 15.
de segurança de inalação, através da determi-
nação da concentração letal CL50. Neste teste, os TESTES IN VITRO
animais são expostos à substância via inalação à Durante os últimos anos, muitos fatores têm
determinada concentração no ar. Em seguida, levado à necessidade de desenvolvimento de
são medidas as taxas de mortalidade. Neste ex- métodos toxicológicos para testes de cosméticos
perimento, as características da substância teste in vitro, dentre eles: avanços em procedimentos
devem ser verificadas, como tamanho da partí- de isolamento de células e conhecimento das
cula, concentração transportada pelo ar e sedi- técnicas de cultura de tecidos; técnicas analíticas
mentação de partículas de aerossol, já que estas sofisticadas que permitem a medida de peque-

150
Latin American Journal of Pharmacy - 26 (1) - 2007

nas quantidades de materiais biologicamente animais; b) indivíduo que executa os experi-


importantes; novos produtos humano-específi- mentos; c) indivíduo responsável por dirigir os
cos desenvolvidos por biotecnologia; pressão experimentos; d) indivíduo especialista em ciên-
imposta pelas comunidades regulatórias e pela cias de experimentação animal que cuide do
sociedade para diminuição do número de ani- bem-estar dos mesmos, sendo que para o indi-
mais usados em pesquisa; menor tempo das víduo se encaixar em alguma destas categorias
análises toxicológicas in vitro e reconhecimento deve cumprir uma série de requisitos além de
pela comunidade científica de que as metodolo- realizar cursos de formação específica 26,27.
gias in vitro fornecerão melhores abordagens A substituição dos testes em animais tem
em áreas específicas 25. sustentação na política dos 3 R’s (Refinamento,
Várias medidas têm sido executadas para di- Redução e Substituição) introduzido por Russel
minuição do uso de animais em estudos de toxi- & Burch 28 no sentido de humanizar a experi-
cidade. Em 1984, o Governo Britânico concedeu mentação científica, tendo como estratégia uma
fundos para o desenvolvimento de métodos al- pesquisa racional minimizando o uso de animais
ternativos ao FRAME (Fund for Replacement of e seu sofrimento, sem comprometer a qualidade
Animal Medical Experiments), que desde 1983 do trabalho científico que está sendo executado.
edita a revista ATLA (Alternatives to Laboratory No setor de cosméticos, os métodos alternativos
Animals). Em 1994, inaugurou-se o ECVAM (Eu- adotados baseiam-se em modelos in vitro utili-
ropean Committee for Validation of Alternative zando culturas de tecidos ou organismos infe-
Methods), instituição da Comunidade Européia riores e modelos matemáticos e humanos. Estes
encarregada de promover e validar técnicas e testes abrangem várias culturas celulares (de pe-
metodologias destinadas à substituição de testes le, células tumorais e fibroblastos), avaliação da
em animais. Instituições como CTFA (Cosmetic, indução da liberação de substâncias indicadoras
Toiletries and Frangrance Association) e IRAG de inflamação ou alergia, construção de mode-
(Interagency Regulatory Alternatives Group) são los matemáticos e computadorizados, ensaios
referências de instituições que contribuem para com isótopos radioativos, recurso a banco de
acelerar a padronização e harmonização de me- órgãos, etc. 19.
todologias in vitro 6. Bancos de dados contendo informações so-
Dentre as instituições que se preocupam em bre alérgenos também estão sendo desenvolvi-
estudar métodos alternativos destaca-se também dos em vários casos de reações adversas, como
a Asociación Española de Toxicologia, através por exemplo, nos casos de dermatite de conta-
do Grupo de Trabajo Especializado en Métodos to. O CADES (Contact Allergens Database Eva-
Alternativos (GTEMA), que periodicamente luation System) é um banco de dados que
lança boletins sobre o assunto nas mais diversas abrange toda a literatura entre 1975 e 1990 com
áreas, como compostos químicos, alimentos e informações sobre experimentações animais e
contaminantes, meio ambiente, cosméticos e humanas em casos de dermatite de contato 29.
medicamentos, proteção e experimentação ani- Logo, deve-se frisar que os métodos alterna-
mal, dentre outros 26,27. tivos à experimentação animal também apresen-
O Boletín GTEMA 28 de 2003 e o Boletín tam algumas desvantagens, principalmente rela-
GTEMA 33/34 de 2006 apresentam o intenso tra- cionadas ao fato de que uma cultura simples
balho do Parlamento e Conselho Europeu para não pode mimetizar as interações complexas
concretização da 7a Ementa Diretiva 76/768/ dos tipos de células no corpo, já que o metabo-
EEC, que proíbe a experimentação com animais lismo in vivo pode ser simulado somente a uma
na indústria cosmética a partir de 2009, fixando pequena extensão, mas não completamente.
este ano para total implementação de métodos Além disso, sistemas de cultura são relativamen-
alternativos. Além disso, o Boletín GTEMA 33/34 te estáticos e a dose da substância química teste
de 2006 cita ainda algumas normas para pro- pode não ser a mesma do teste in vivo. T a m-
teção dos animais usados em experimentos e bém, nas metodologias de cultura podem estar
outros fins científicos, dentre elas a exigência de presentes problemas físicos como solubilidade,
que a experimentação seja supervisionada por estabilidade e efeitos biofísicos da substância
um comitê de ética local e haja a criação de teste 25.
uma comissão ética estatal do bem-estar animal, Independente do teste a ser utilizado, Lo-
além de classificar os indivíduos que trabalham prieno et al. 25 atentam para a necessidade de
com o manuseio de animais em diversas catego- que estes testes sejam validados antes de serem
rias: a) indivíduo responsável pelo cuidado dos executados. Validação pode ser definida como

151
CHORILLI M., SCARPA M.V., LEONARDI G.R. & FRANCO Y.O.

processo pelo qual a relevância de um procedi- córneo funcional. Identificam-se os materiais


mento é estabelecida para um propósito particu- corrosivos pela capacidade de diminuição na
lar. Validação é autenticação, confirmação 30-32. viabilidade das células abaixo de níveis defini-
O principal objetivo da validação é estabelecer dos em períodos de tempo específicos. A viabi-
parâmetros para que possa haver repetibilidade lidade das células é avaliada pela medida da ati-
(mesmo operador, mesmas condições experi- vidade mitocondrial, através de corante MTT [3-
mentais, mesmos equipamentos) e reprodutibili- (4,5 dimethyl thiazole-2yl)-2,5 diphenyl tetrazo-
dade (diferentes operadores, diferentes laborató- lium bromide] que forma um precipitado azul
rios, diferentes condições experimentais) das (formazan) sobre as células viáveis, o qual é
condições experimentais 33. quantificado por espectrofotometria a 545 e 595
Os métodos alternativos podem ser utiliza- nm. O controle negativo do valor de densidade
dos tanto para ingredientes como para produtos óptica representa 100% de viabilidade celular.
cosméticos e têm por objetivo principal avaliar Os valores obtidos para cada amostra podem
o potencial irritativo, alergênico e sistêmico, este ser usados para calcular uma porcentagem de
último, essencialmente por meio de sua ab- viabilidade em relação ao controle negativo 34.
sorção oral ou permeação 6. Os principais testes
utilizados são: Teste de fototoxicidade
A base deste teste é a comparação da citoto-
Teste in vitro de irritação da pele xicidade de um agente químico testado com ou
Devido à complexidade das reações envolvi- sem exposição adicional a doses não tóxicas de
das no mecanismo de irritação da pele, é muito luz UVA. A citotoxicidade é expressa na deter-
difícil estabelecer parâmetros que possam ser minação da dose dependente que reduz o cres-
avaliados por um sistema in vitro. Na avaliação cimento celular utilizando-se um corante vital,
do efeito irritante na pele causado por um cos- chamado vermelho neutro. De acordo com este
mético, é possível, através da combinação de di- método, têm-se identificados quatro mecanis-
ferentes critérios de avaliação, identificar a cor- mos pelos quais a absorção de luz por um cro-
rosão/não-corrosão de potenciais substâncias móforo pode resultar numa resposta fototóxica.
químicas. A corrosão é definida como a pro- Todos eles resultam em lesões celulares. Neste
dução de uma lesão irreversível seguida da apli- teste, células chamadas 3T3 são mantidas em
cação de um produto teste. Dentre os métodos cultura durante 24 h para a formação de mono-
utilizados para testes de corrosão da pele tem-se camadas. Duas placas por substância teste são
o teste de resistência elétrica transcutânea, co- pré-incubadas com 8 concentrações diferentes
nhecido como TER, e o teste EPISKIN. No TER, da substância por uma hora. Em seguida, uma
a substância a ser testada é aplicada durante 24 das placas é exposta a uma dose de luz UV não
h em discos de epiderme de ratos. Para cada citotóxica, enquanto a outra é mantida no escu-
substância, são utilizados três discos de pele. A ro (controle). Em ambas as placas, o meio de
substância teste é então removida por lavagem tratamento é depois substituído por um meio de
com jato de água (até 30 °C). Antes de medir a cultura e após 24 h de incubação, a viabilidade
TER, reduz-se a tensão superficial da pele adi- celular é determinada pela aquisição do verme-
cionando-se etanol 70%, seguido de hidratação lho neutro durante 3 h. Um resultado positivo
com solução de sulfato de magnésio (154 mM). neste teste indica que a substância teste tem po-
A TER é então medida usando uma corrente al- tencial fototóxico 6,25,34.
ternativa de baixa voltagem, sendo os eletrodos
colocados de cada lado do disco de pele para Teste de absorção cutânea
medida da resistência elétrica em KW/disco de O teste de absorção cutânea é um teste alter-
pele. Identifica-se se um material é corrosivo nativo para predição de determinado efeito
pela sua capacidade em danificar a integridade sistêmico, sendo utilizado tanto componentes da
do estrato córneo e da barreira funcional da pe- formulação e produto acabado 6. É possível es-
le. Se o valor de TER for ≤ 5 KW, a substância tudar in vitro a permeabilidade de substâncias
teste é corrosiva. Se TER ≥ 5 KW, a substância através da pele utilizando-se uma câmara de di-
não é corrosiva 2 . Já no teste E P I S K I N , a fusão, isto é, uma célula dividida em duas par-
substância ou produto acabado é aplicado topi- tes por uma membrana. A face externa da mem-
camente por mais de 4 h num modelo de cultu- brana fica em contato com a substância a pene-
ra de tecido, composto por epiderme e estrato trar, enquanto que a outra face contém um lí-

152
Latin American Journal of Pharmacy - 26 (1) - 2007

quido (solução receptora) que entra em contato CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS


com o que atravessa e permite sua dosagem. De A avaliação da segurança de produtos cos-
temos em tempos, retira-se uma alíquota da so- méticos envolve o conhecimento de muitas áre-
lução receptora para verificação por metodolo- as, incluindo o uso (e o mau uso) do produto
gia analítica da concentração da substância ou pelo consumidor, os métodos de teste e as con-
formulação teste 34. centrações máximas permitidas das matérias-pri-
mas nos produtos.
Teste in vitro de sensibilização da pele Tais medidas são imprescindíveis como for-
Pode-se empregar o teste chamado RBC ma de evitar tanto reações adversas relativamen-
(Red Blood Cell System). Este ensaio permite te simples como irritação da pele, vermelhidão,
quantificar e avaliar os efeitos adversos dos ten- queimaduras, lacrimação, visão embaçada, hi-
soativos empregados em xampus e sabonetes lí- persensibilidade e queda de cabelo, quanto re-
quidos sobre a membrana plasmática de hemá- ações mais complexas, como risco de apareci-
cias e a conseqüente liberação da hemoglobina mento de câncer na boca, nas narinas, no
(hemólise) e ainda, o índice de desnaturação da pulmão, no sangue e na cabeça, que podem ser
hemoglobina, avaliado através de sua forma oxi- decorrentes da inalação e exposição prolongada
dada, ambos quantificados por espectrofotome- a produtos que apresentam, por exemplo, for-
tria. A relação entre a hemólise e oxidação da maldeído, em concentrações inadequadas.
hemoglobina fornece parâmetro de caracteri- Logo, a implementação de uma política de
zação dos efeitos dessas substâncias in vitro 6. Cosmetovigilância na área de produtos de higie-
ne pessoal, cosméticos e perfumes, que tem si-
Teste de irritação ocular do preconizada no Mercosul através das reso-
Alguns dos testes de irritação ocular existen- luções MERCOSUR/GMC/RES. N° 26/04 e MERCO-
tes são: teste ocular enucleado ou isolado deri- SUR/GMC/RES Nº 19/05, é de extrema importân-
vado de tecido de coelho ou galinha, teste de cia como forma de garantir ao usuário a segu-
membrana cório-alantóide do ovo de galinha rança e eficácia dos produtos, bem como facili-
(HET-CAM) e ensaio de permeabilidade e opaci- tar a este o acesso a relatos sobre problemas de
dade corneal bovina (BCOP). No ensaio de uso, defeitos de qualidade, efeitos indesejáveis,
HET-CAM, tem-se por objetivo avaliar semi- além de ser uma maneira de proibir e/ou coibir
quantitativamente o potencial irritante de um o uso indiscriminado de substâncias que podem
produto (produtos solúveis, emulsões, géis e se apresentar tóxicas.
óleos) sobre a membrana cório-alantóide de Devido às questões políticas e sociais, os tes-
ovo embrionado de galinha, no décimo dia de tes de toxicidade em animais estão, aos poucos,
incubação. O ensaio é baseado na observação deixando de existir, sendo inclusive uma reco-
dos efeitos irritantes (hiperemia, hemorragia e mendação da 7a Ementa Diretiva 76/768/ECC
coagulação) após 5 min de aplicação do produ- constante no Boletín GTEMA 33/34 de 2006, que
to, puro ou diluído, sobre a membrana cório- define o ano de 2009 como prazo máximo para
alantóide. Obtém-se uma escala que considera não mais utilização de animais em testes de se-
os fenômenos observados. Já o ensaio de BCOP gurança de cosméticos. Os testes in vitro sur-
tem como objetivo avaliar quantitativamente o gem como uma promissora e importante tentati-
potencial irritante de um produto ou de uma va de elucidação de toxicidade das substâncias
substância química após aplicação sobre a cór- presentes em cosméticos. Todavia, apesar do
nea isolada de bezerro. O ensaio é baseado na desenvolvimento de grande variedade de méto-
medida da opacidade e da permeabilidade da dos alternativos experimentais, estes têm prova-
córnea de bezerro após o contato com o produ- do, em grande parte, estarem ainda longe de se-
to teste. A medida da opacificação córnea é rea- rem seguros substituintes da experimentação
lizada com o auxílio de um opacitômetro, que animal. Mesmo diante destes fatos, tendências
determina a diferença de transmissão do fluxo futuras prováveis são a completa substituição
luminoso entre a córnea ser avaliada, fixando dos testes envolvendo animais pelos testes in vi -
um valor numérico da opacidade. Já a medida tro.
da permeabilidade córnea é realizada conforme
o tempo de contato, adicionando fluoresceína e
medindo a densidade óptica em 490 nm, obten- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do-se uma escala que considera os fenômenos 1. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
observados 14,35. (2000) Resolução-RDC 79. Diário Oficial [da]

153
CHORILLI M., SCARPA M.V., LEONARDI G.R. & FRANCO Y.O.

República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 31 19. Baker, F.W. & L.H. Bruner (1997) E l s e v i e r
ago. 2000. Science B.V., págs.567-573.
2. Leonardi, G.R. (2004) “Cosmetologia Aplica - 20. Mercado Común del Sur (MERCOSUR). Resolu-
da”, Ed. Medfarma, São Paulo, págs. 1-12. ciones del Grupo Mercado Común. MERCO-
3. Lachapelle, J.M. (1994) Toxicidade orgânica e SUR/GMC/RES Nº 19/05. Programa de cosmeto-
geral. In: Pruniéras, M. “Manual de Cosmetolo - vigilancia en el área de productos de higiene
gia Dermatológica”, 2. ed., Ed. Andrei, São personal, cosmeticos y perfumes. LVIII GMC -
Paulo, págs. 325-56. Asunción, 09/VI/05.
4. Groot, A.C., D.P. Bruynzeel, J.D. Bos, L.M. Van 21. Mercado Común del Sur (MERCOSUR). Resolu-
Der Meeren, T. Van Joost, B.A. Jagtman & J.W. ciones del Grupo Mercado Común. MERCO-
Weyland (1988) Arch. Dermatol. 124: 1525-9. SUR/GMC/RES Nº 26/04. Requisitos técnicos es-
5. Viglioglia, P.A. & J. Rubin (1991) “Cosmiatria pecíficos para productos de higiene personal,
II”, AP Americana de Publicaciones, Buenos cosméticos y perfumes. LV GMC - Brasilia,
Aires. 08/X/04.
6. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária 22. Mercado Común del Sur (MERCOSUR). Resolu-
(2002) Guia para avaliação de segurança de ciones del Grupo Mercado Común. MERCO-
produtos cosméticos. Brasília, DF. Disponível SUR/GMC/RES Nº 24/95. Requisitos para el re-
em: www.anvisa.gov.br. Acesso em: 12 de no- gistro de productos cosmeticos mercosur ex-
vembro de 2003. tra-zona - zona y para la habilitacion de em-
7. Hernandez, M. & M.M. Mercier-Fresnel (1999) presas representantes titulares del registro en
“Manual de Cosmetologia”, 3. ed., Revinter, el estado parte receptor e importadores. LV
Rio de Janeiro, págs. 133-7. GMC - 1995.
8. Soni, M.G., S.L. Taylor, N.A. Greenberg & G.A. 23. Draize, J.H., G.L. Woodard & H.O. Calvary
Burdock (2002) Food Chem. Toxicol. 40: 1335- (1944) J. Pharmacol. Exp. Ther. 82: 377.
73. 24. Draelos, Z.D. (1999) “Cosméticos em dermato -
9. Jackson, E.M. (1993) Cosmet. Toiletries 108: 43- l o g i a ” , 2.ed., Revinter, Rio de Janeiro,
6. págs.279-88.
10. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária 25. Goldberg, A.M. (1989) Cosmet. Toiletries
(2005) Boletim Informativo - Escova progressi- 104(11): 53-59.
va, alisantes e formol. Brasília, DF. 26. Asociación Española de Toxicología. Grupo de
11. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária Trabajo Especializado en Metodos Alternativos
(2001) Resolução-RDC 162. Diário Oficial [da] (GTEMA). Boletín GTEMA 28, 2003.
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 12 27. Asociación Española de Toxicología. Grupo de
set. 2001. Trabajo Especializado en Métodos Alternativos
12. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitá- (GTEMA). Boletín GTEMA 33/34, 2006.
ria (2005) Resolução-RDC 215. Diário Oficial 28. Russel, W.M.S. & R.C. Burch (1959) “The prin -
[da] República Federativa do Brasil. Brasília, ciples of humane experimental technique”,
DF. Methuen, London.
13. Hostynek, J.J. (1998) Cosmet. Toiletries 113: 33- 29. Hostynek, J.J. (1998) Cosmet. Toiletries 113: 33-
42. 7.
14. Sparacio, R.M. (1996) Cosmet. Toiletries 111 30. Loprieno, N., L.H. Bruner, G.J. Carr, M. Cham-
(11): 47-51. berlain, M. Cottin, O. de Silva & S.S. Kato
15. Romanowski, P. & R Schueller (1996) Cosmet. (1995) Toxicol. In Vitro 9: 827-38.
Toiletries 111: 79-86. 31. Balls, M. & J.H. Fentem (1999) Toxicol. In Vi -
16. Alternatives to animal testing. Testing - a regu - tro 13: 837-46.
latory requirement. Disponível em: 32. Worth, A. & M. Balls (2002) ATLA 30 (Sup. 1):
<http://www.colipa.com/alternatives.html#n>. 13-9.
Acesso em: 12 de novembro de 2003. 33. Barlow, B.D., L. Marshall & J. McPherson
17. U.S. Food and Drug Administration (1992) Cos - (2001) Cosmet. Toiletries 116: 51-5.
metic handbook - cosmetic safety. Disponível 34. Ponec, M. (1992) Int. J. Cosmet. Sci. 14: 245-64.
em: <http://www.cfsan.fda.gov/~dms/cos- 35. Gordon, V.C. & C.P. Kelly (1989) Cosmet. Toi -
hdb1.html>. Acesso em: 12 de novembro de letries 69: 69-74.
2003.
18. Jackson, E.M. (1990) Cosmet. Toiletries 105(9):
135-47.

154

Potrebbero piacerti anche