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Texto do NY Times, publicado na Folha de São Paulo em 13/12/2010

Tecnologia ultrapassa a privacidade mais uma vez

Natasha Singer

Quão defasada a proteção à privacidade do consumidor está em relação aos sistemas de coleta de
dados –essas tecnologias avançadas que as empresas de comunicação usam para reunir e
compartilhar nossas informações pessoais e ganhar dinheiro com elas?

A resposta é: muito. De acordo com dois defensores da privacidade.

“A individualidade e a privacidade se tornaram mais essenciais para o indivíduo; mas as empresas e


as invenções modernas, por meio da invasão à sua privacidade, submetem-no ao sofrimento mental
e à aflição”, escreveram especialistas em privacidade na Harvard Law Review.

“Nesse setor, assim como em outros ramos do comércio, o fornecimento gera demanda”,
acrescentaram; e essa demanda, segundo eles, acaba divulgando nossos assuntos privados nas
esferas públicas.

Soa familiar?

O artigo, escrito em 1890 pelos jovens advogados Samuel D. Warren e Louis D. Brandeis, dizia
respeito à popularização da tecnologia viral daquela época: a fotografia. Fotógrafos de jornais,
segundo os advogados, estavam alimentando uma indústria de “fofoca inapropriada” ao tirar fotos
de pessoas sem o seu consentimento e publicá-las.

Antes do advento da câmera, explica Jon Leibowitz, presidente da Comissão Federal de Comércio
(FTC, na sigla em inglês), os fotógrafos de jornais tinham dificuldade de carregar o pesado
equipamento de daguerreótipo e usá-lo para espionar as pessoas pela cerca dos fundos.

“Mas ao passar a usar uma câmera de verdade”, disse Leibowitz numa entrevista na semana
passada, “isso podia ser feito com facilidade.”

Como diz o ditado: tudo o que é velho é novo outra vez.

Por um lado, os consumidores costumam se beneficiar com as novas invenções –sejam elas
câmeras, gravadores ou telefones celulares. Por outro lado, a adoção de tecnologia em massa
costuma fazer com que os legisladores e reguladores tenham de correr atrás para alcançá-las.

A FTC, por exemplo, acaba de publicar um relatório no qual especialistas da agência concluíram
que as técnicas de coleta de dados da internet ultrapassaram o controle de privacidade do usuário.
Então é natural que Leibowitz vá buscar a tradição legal e evoque o artigo de revisão da lei do
século 19, que essencialmente estabelecia os fundamentos legais para proteger os direitos de
privacidade dos norte-americanos.

(Meus colegas Tanzina Vega, Edward Wyatt e Verne Kopytoff escreveram em profundidade este
mês sobre o relatório da FTC, o modelo que ela propõe para aumentar as opções de privacidade dos
consumidores e suas implicações para o setor de marketing online).
Warren e Brandeis escreveram, por exemplo, que a privacidade, um direito intangível, é tão
importante quanto os direitos legais mais comuns e tangíveis, como o direito à propriedade privada.
As pessoas têm o direito de controlar a disseminação de seus pensamentos ou imagens pessoais,
escrevem eles. As pessoas também têm “o direito de serem deixadas em paz”.

Da mesma forma, o relatório da FTC recomenda que os usuários de internet e de aplicativos de


telefones móveis tenham um maior controle sobre quem vê, coleta e compartilha informações sobre
seu comportamento eletrônico –como, por exemplo, os sites que usam ou os termos que procuram
em mecanismos de busca. De fato, a comissão propôs um mecanismo “antirrastreamento” que
permitiria aos consumidores optarem por não receber “publicidade comportamental”, ou seja,
aquele tipo de propaganda que adéqua os anúncios ao histórico de navegação pessoal de cada
consumidor.

Esta não é a primeira vez, desde a fotografia, que as novas tecnologias levaram os especialistas em
direito a repensarem as proteções à privacidade.

“As leis não acompanharam o ritmo inacreditável das inovações”, diz Jessica Rich, vice-diretora do
escritório de proteção ao consumidor da Comissão de Comércio.

Como exemplo, Rich citou os anos 60, quando os relatórios detalhados sobre o crédito permitiam
que as companhias usassem tecnologias avançadas de bancos de dados para coletar informações
financeiras dos consumidores. Quando os legisladores começaram a entender como essas bases de
dados poderiam afetar a capacidade das pessoas de obter empréstimos, moradia e até mesmo
empregos, diz ela, o Congresso promulgou o Ato do Relato Justo do Crédito. A lei de 1970 permitia
que os consumidores recuperassem e corrigissem informações sobre crédito e sobre si mesmos.

De fato, as regulações de privacidade costumam ser reativas, diz William McGeveran, estudioso da
privacidade na Escola de Direito da Universidade de Minnesota.

Tomemos como exemplo o Ato de Proteção à Privacidade de Vídeo, promulgado pelo Congresso
em 1988, depois que um jornal local de Washington obteve e publicou os registros de aluguel de
vídeos de Robert Bork, um candidato à Suprema Corte. A chamada lei de Bork, um dos estatutos de
privacidade mais fortes do país, proíbe a revelação de informações pessoais de aluguel sem o
consentimento do consumidor.

“Uma das características cômicas das regulações de privacidade é que boa parte delas respondem a
situações de emergência”, diz McGeveran.

De fato, ao longo do tempo, o Congresso aumentou a regulação sobre a privacidade em diferentes


setores, diz McGeveran. Há um Ato de Portabilidade e Responsabilidade sobre Seguros de Saúde,
por exemplo, que em 1996 estabeleceu certas proteções federais para informações pessoais de
saúde. E o Ato Gramm-Leach-Bliley de 1999, que exige que as companhias de serviços financeiros
notifiquem seus consumidores sobre suas políticas de informação e permita que eles optem por não
compartilhar suas informações com terceiros.

“Talvez agora tenha chegado a vez da privacidade online sofrer uma intervenção regulatória mais
direta”, diz McGeveran.

O relatório da Comissão de Comércio propõe novas práticas para o setor para aumentar as opções
de privacidade online dos consumidores. Para que isso surta efeito, entretanto, ou o setor de
publicidade interativa terá de aumentar sua autorregulação ou o Congresso terá que promulgar uma
lei permitindo que a comissão fiscalize o cumprimento das novas regras.
Alguns grupos do setor já estão aumentando a transparência.

Em outubro, a Aliança da Propaganda Digital, uma coalizão de grupos do setor, introduziu um


“ícone de opção por publicidade” - um logotipo que os sites podem exibir para indicar que coletam
dados dos consumidores e que permitem que as eles rejeitem a propaganda comportamental. No
mês que vem, algumas empresas de coleta de dados da coalizão implementarão o Open Data
Partnership, um programa que permitirá aos consumidores editarem as informações de seus perfis
em certos sites ou optar por não serem rastreados pelas empresas participantes.

Mas Christopher Soghoian, pesquisador da privacidade e estudante graduado na Universidade de


Indiana, diz que a maioria dos sites não permite que os consumidores optem por não serem
rastreados.

As companhias “prometem que não usarão os dados que coletam para escolher os anúncios
personalizados que mostram a você”, diz ele, “mas elas não oferecem a opção de parar de coletar
seus dados”.

E existe outro problema em potencial, diz Soghoian.

Os sites costumam depositar cookies nos computadores dos consumidores para acompanhar suas
preferências e atividades. A recomendação da FTC de um mecanismo anti-rastreamento jogaria com
a ideia de um cookie de privacidade, codificado nos navegadores das pessoas, que alertaria as redes
de propaganda sobre as preferências de privacidade do usuário.

Mas algumas companhias menores já ultrapassaram o uso dos cookies, diz Soghoian, com uma
técnica chamada “impressão digital do dispositivo”. Essa tecnologia avançada pode acompanhar o
comportamento online – sem usar cookies, mas seguindo sinais específicos do notebook de uma
pessoa ou de seu dispositivo móvel.

“Isso não é uma coisa que lhe dá liberdade de escolha”, diz Soghoian. “Não há como deletar minha
impressão digital porque não há como eu deletar meu telefone ou meu computador.”

Mais uma vez, a tecnologia segue adiante. Mas pouca coisa mudou desde 1890.

Tradução: Eloise De Vylder

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