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FACULDADE PITÁGORAS DE BETIM

DARC VIANEY CORDEIRO MOURA

ABANDONO AFETIVO:
A PERSPECTIVA JURÍDICA APLICÁVEL AOS FILHOS

Betim
2019
DARC VIANEY CORDEIRO MOURA

ABANDONO AFETIVO:
A PERSPECTIVA JURÍDICA APLICÁVEL AOS FILHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Pitágoras, como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em
Direito.

Orientador:

Betim
2019
DARC VIANEY CORDEIRO MOURA

ABANDONO AFETIVO:

A PERSPECTIVA JURÍDICA APLICÁVEL AOS FILHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Pitágoras, como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em
Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Betim, de de 2019
Dedico este trabalho...

A Jeová Jiré, o grande provedor da minha vida,


o Senhor dos senhores, o Deus fiel que me
mantém de pé diante de todas as dificuldades.
A Ele minha eterna gratidão, respeito e amor.
E aos meus pais, Sebastião e Aparecida, por
serem o grande presente que Deus me deu.
EBENÉZER!
AGRADECIMENTOS

Na maioria das vezes, deixamos coisas importantes para serem feitas


amanhã ou depois, como se fossemos eternos, como se amanhãs existissem para
todos que dormem à noite. Deixamos o perdão para depois, a palavra de apoio para
logo mais, o abraço apertado no pai para o dia de natal, o carinhoso afago na mãe
para quando ela nos compreender melhor. Enfim, deixamos tudo para o amanhã
vago, esquecendo-nos de que o hoje é a única certeza de vida que temos.
O carinho precisa ser dado hoje, assim como dizer “eu te amo” a quem está
conosco merece toda urgência. O remorso por aquilo que não foi feito, por aquilo
que foi deixado para depois e não houve tempo, é a mala mais pesada que
podemos carregar nesta viagem que é a vida.
O tempo é um fio tão frágil, como frágil é a nossa capacidade de entrar em
sintonia com ele. Falta-nos a sábia compreensão do aqui e agora. O nosso melhor
lugar é aqui, o nosso melhor tempo é o agora, e as melhores pessoas são as que
estão conosco.
Por que não harmonizar nossa vida no tempo do agora? Por que deixar que
nossos próprios receios nos roubem a sinceridade, a gratuidade, a beleza de doar
afetividade? O que faremos quando não houver mais tempo para abraçar o pai, a
mãe, os amigos, você? (Autor desconhecido)

Foram muitas dificuldades e obstáculos que superei até chegar aqui, por
vezes o desânimo e a vontade de desistir me consumiram. Por vezes sacrifiquei a
mim e os que amo, passei por situações que muitos nem acreditariam ser possível,
foi difícil, mas superei. E apesar de ter força para sonhar e para lutar, jamais teria
conseguido sem ter ao meu lado aqueles que amo. E por isso, venho com muito
carinho fazer meus mais singelos e sinceros agradecimentos.
Esta fase da minha vida é muito especial e não posso deixar de agradecer a
Deus por ser o meu Senhor, o meu Deus fiel, que me deu toda força, ânimo e
coragem para alcançar minha meta, por iluminar mеυ caminho durante esta
caminhada, por fazer o milagre quando minhas esperanças já haviam acabado.
A minha Mãe Maria Aparecida, sеυ cuidado е dedicação fоі que me deram
esperança para seguir, te agradeço por toda a dedicação que tem para comigo, por
muitas vezes ter deixado de fazer coisas para si, para se dedicar a mim, mesmo sem
eu pedir nada. Meu amor por ti é inestimável.
A meu Pai Sebastião, te agradeço por ser o meu maior exemplo de vitória
nessa vida e por ter me ensinado todos os valores éticos e morais que conheço.
Gostaria de dizer que estar contigo nessa vida é um grande privilégio e meu maior
orgulho é tê-lo como pai, sυа presença significou segurança е certeza de qυе não
estou sozinha nessa caminhada.
Agradeço também ао mеυ marido Geovane, qυе mе dеυ força е coragem, mе
apoiando nos momentos de dificuldades, que me estimulou e compreendeu minha
ausência pelo tempo dedicado aos estudos.
Amigos são os irmãos que a gente escolhe, mas há irmãos que não
escolhemos, que vem junto com a família, como num pacote. Mas, se pudesse
escolher, escolheria vocês mesmos. Obrigada por serem parte do que eu sou e por
estarem presente em minha vida, meus irmãos, cunhados e meus sobrinhos que
muito amo e são também razão do meu viver.
A todos da minha família, aos tios e tias, primos e primas. Em especial a tia
Nicinha que muito amo e sempre acreditou em mim quando todos diziam que não.
Аоs meus amigos, pelas alegrias, tristezas е dores compartilhas. Com vocês,
as pausas entre um parágrafo е outro, melhora tudo о qυе tenho produzido no livro
da minha vida, nada teria sentido sem vocês. Em especial, Sandra, Andréa, Elanea,
Samara, Bruna, Isaac, Denise, Camila.
A todos da 1º Delegacia de Polícia Civil de Juatuba, onde fiz meu estágio,
deixo meus sinceros agradecimentos, o tempo que passei com vocês ficarão
guardados em minha memória, em especial ao Dr. Guilherme e Mariana, por tudo
que me ensinaram, pela dedicação ao esclarecer minhas dúvidas, por acreditarem
em mim. Ao sargento Cléber do 3° batalhão da Polícia Militar de Juatuba e o vice-
prefeito de Juatuba, Cidinho, que me ajudaram em um momento que muito precisei.
Agradeço a todos os professores que acompanharam minha jornada e foram
essenciais à minha formação como profissional e evolução como pessoa.
Reconheço um esforço gigante, exercido com muita paciência e sabedoria. Foram
vocês que me deram recursos e ferramentas para evoluir um pouco mais todos os
dias no decorrer da minha trajetória, em especial, aos professores Leandro e
Alexandre, que são respectivamente, padrinho e paraninfo da turma do 10º período-
noite.
Aos meus alunos que me fizeram aprender muito mais que a ensinar. Dedico
a vocês todo o tempo que estudei para aprimorar os seus conhecimentos, pois foi
assim, que também aprendi com vocês.
A todos que de alguma forma me ajudaram a acreditar em mim, e que
estiveram e estão próximos, fazendo esta vida valer cada vez mais а pena. Quero
deixar um agradecimento eterno, sem vocês não teria sido possível a realização
deste sonho.
Com muito carinho deixo a todos o meu muito obrigada.

“Que todo o meu ser louve ao Senhor, e que eu


não esqueça nenhuma das suas bênçãos!” (SALMOS
103:2)
“Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que
ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do
seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer
dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” (ISAÍAS
49:15)
MOURA, Darc Vianey Cordeiro. Abandono Afetivo: A Perspectiva Jurídica Aplicável
aos Filhos. 2019. 31 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade
Pitágoras, Betim, 2019.

RESUMO

Esse trabalho tem como objeto a análise da perspectiva jurídica, em que os filhos
buscam no ordenamento jurídico, o auxílio do estado para comprovação de dano
decorrente de abandono afetivo, diante de fatos e motivos, que ocasionaram
transtornos que feriram a sua moral como filho, como ser humano e até mesmo
como uma pessoa de direitos. Existe uma perspectiva de direito que traz a garantia
de ser cuidado em um ambiente em que seu crescimento e desenvolvimento seja
exercido de maneira segura e dotada de responsabilidades, onde tenha uma boa
educação, e que nada possa interferir na sua formação de personalidade. Também
existe uma perspectiva de fato, onde a ausência do afeto fere direitos fundamentais
e fica comprovado o dano causado. Através da análise do conceito de família e
também de poder familiar, é possível entender que o abandono afetivo é uma
omissão por parte daquele que deveria cuidar, dar educação, porém, ninguém é
obrigado a amar alguém, nem mesmo um filho, e isso tem feito com que haja um
certa divisão entre a doutrina e a jurisprudência sobre o direito ou não a indenização
pelo abandono afetivo, questionando-se sobre a proporcionalidade em que o dano
por falta de afeto pode prejudicar a vida de um indivíduo, pois, ninguém é obrigado a
amar, mas a cuidar sim.

Palavras-chave: Perspectiva; Abandono; Responsabilidade; Indenização.


MOURA, Darc Vianey Cordeiro. Abandono Afetivo: A Perspectiva Jurídica Aplicável
aos Filhos. 2019. 31 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade
Pitágoras, Betim, 2019.

RESUMEN

Este trabajo tiene como objeto el análisis de la perspectiva jurídica, en que los hijos
buscan en el ordenamiento jurídico, el auxilio del estado para comprobación de daño
resultante de abandono afectivo, ante hechos y motivos, que ocasionaron trastornos
que hirieron su moral como hijo, como ser humano e incluso como una persona de
derechos. Hay una perspectiva de derecho que trae la garantía de ser cuidado en un
ambiente en que su crecimiento y desarrollo sea ejercido de manera segura y dotada
de responsabilidades, donde tenga una buena educación, y que nada pueda
interferir en su formación de personalidad. También existe una perspectiva de hecho,
donde la ausencia del afecto hiere derechos fundamentales y queda comprobado el
daño causado. A través del análisis del concepto de familia y también de poder
familiar, es posible entender que el abandono afectivo es una omisión por parte de
aquel que debería cuidar, dar educación, sin embargo, nadie está obligado a amar a
alguien, ni siquiera a un hijo, y eso tiene que se hace con una cierta división entre la
doctrina y la jurisprudencia sobre el derecho o no la indemnización por el abandono
afectivo, cuestionándose sobre la proporcionalidad en que el daño por falta de afecto
puede perjudicar la vida de un individuo, pues, nadie es gracias a amar, pero a
cuidar sí.

Palabras clave: Perspectiva; abandono; responsabilidad; Compensación.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART- Artigo
CC- Código Civil
CF- Constituição Federal
ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 A PERSPECTIVA JURÍDICA................................................................................. 14

1.1 O PODER FAMILIAR .......................................................................................... 16

2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO DE FAMÍLIA ....... 19

2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ......................................... 19

2.2 PRINCÍPIO DA PATERNNIDADE/MATERNIDADE RESPONSÁVEL ................ 19

2.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS ............................................. 20

2.4 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ....................................... 20

2.5 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE E O ABANDONO AFETIVO...............................21

3 RESPONSABILIZAÇÃO DOS GENITORES E A POSSIBILIDADE DE


INDENIZAÇÃO...........................................................................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................28

REFERÊNCIAS..........................................................................................................30
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INTRODUÇÃO

O Direito de família vem se adaptando às mudanças que ocorrem no


comportamento da sociedade, as relações familiares estão mais evidentes e
respeitadas no ordenamento jurídico brasileiro. Nos últimos anos, o conceito de
poder familiar vem sofrendo modificações e é visto hoje, como uma proteção e não
somente um status utilizado para denominar família, pois, foram surgindo cada vez
mais, a obrigação de ambos os pais para com os filhos, podendo ocorrer à perda
desse poder familiar caso sejam descumpridas essas obrigações.
As relações familiares são identificadas pelo vínculo de afetividade entre seus
membros, os pais têm o dever de educar, assistir, cuidar, participar do
desenvolvimento e dar condições necessárias para que seus filhos possam ser
criados em um ambiente saudável com amor e carinho. O abandono afetivo se
tornou um assunto que vem ganhando grande repercussão e relevância, pois, pode
trazer aos filhos sérios prejuízos para sua vida, que podem até gerar transtornos
psicológicos ocasionados pelo abandono.
Há um debate no sentido de que o amor não se compra, nem o afeto, nem
mesmo o carinho, por isso, surgem às questões: É cabível a indenização àqueles
que se sentem desamparados emocionalmente pelos seus parentes? Caberia a
indenização por não ter tido a presença de quem se ama? O que ocorre, quando o
vínculo afetivo paterno-filial é cortado precocemente ou este vínculo não é nem
mesmo estabelecido? O abandono afetivo se tornou um tema relevante e tem
recebido muitas críticas quanto aos direitos que estão sendo violados, e ainda se
tornou um tema de análise da atualidade que está sendo vivenciada pela atual
sociedade.
Independentemente da idade, as pessoas sentem a necessidade de ter apoio,
afeto, e carinho de seus familiares, é de se entender que o afeto é um sentimento, e
ninguém é obrigado a sentir algo por alguém. Por isso, busca-se entender qual seria
a perspectiva do abandono afetivo, levando-se em consideração esse sentimento
que ninguém é obrigado a dar.
A significância deste tema está justamente na sua perspectiva, ou seja, os
filhos buscam no ordenamento jurídico, o auxílio do estado, para que este, diante
de fatos e motivos, venha agir em defesa desse filho que foi abandonado pelos pais,
tendo adquirido transtornos por esse motivo. Existe assim, uma perspectiva de
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direito quando os filhos desejam ter dos seus pais o que lhes é assegurado pela
constituição federal de 1988 no seu art. 227 e no estatuto da criança e do
adolescente, em seu art. 22. Também, existe uma perspectiva de fato quando
comprovado o dano causado, gerando assim, o direito dos filhos.
O objetivo principal desse trabalho é mostrar a perspectiva jurídica em que o
abandono afetivo tem alcançado nos últimos anos, a sua aplicação, além do
posicionamento dos juristas e doutrinadores, em relação à efetividade da prestação
pecuniária indenizatória, àqueles que se sentem afetados pelo abandono emocional
de seus genitores.
Tem-se como objetivos específicos identificar os fatores que levam ao pedido
de indenização por abandono afetivo, apontar as questões que influenciam no
transtorno causado pelo abandono e levantar quais as medidas cabíveis para que o
abandono se torne menos doloroso para quem o sofre, e as medidas que devem ser
tomadas, para que haja a diminuição deste problema para a sociedade.
Será apresentada neste trabalho uma forma de pesquisa didática, baseada no
estudo de pesquisas já relacionadas ao tema proposto, por meio da leitura de artigos
e monografias onde será feita a análise de pontos que auxiliarão no andamento
deste, além disso, as doutrinas e as jurisprudências serão meios fundamentais para
que seja elaborado um bom estudo desse tema, absorvendo ao máximo todo
entendimento dos estudiosos sobre o assunto, para que ao final deste, seja possível
absorver e entender o que se propõe nesse trabalho.
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1 A PERSPECTIVA JURÍDICA

O abandono afetivo tem sido um tema muito abordado na atualidade, onde


muitos juristas discutem sobre a eficácia ou não da indenização aos filhos, como
meio de suprir uma falta, ou um vazio por parte dos pais.
A significância deste tema está justamente na sua perspectiva, ou seja, os
filhos buscam no ordenamento jurídico, o auxílio do estado, para que este, diante
de fatos e motivos, venha agir em defesa desse filho que foi abandonado pelos pais,
tendo adquirido transtornos por esse motivo.
Pode se perceber que existe uma perspectiva de direito quando os filhos
desejam ter dos seus pais o que lhes é assegurado pela constituição federal de
1988 no seu art. 227 e no estatuto da criança e do adolescente, em seu art. 22.
Também, existe uma perspectiva de fato quando comprovado o dano causado,
gerando assim, o direito dos filhos a uma reparação pelo dano que foi lhe causado:

Art. 227, CF:


É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

Art. 22, ECA:


Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais. (BRASIL, 1990)

O abandono afetivo se torna um tema muito antigo se for levado em


consideração o código civil de 1916, que não continha nenhum dispositivo que
assegurasse a todos os filhos um tratamento igualitário, como os filhos provenientes
de um casamento em comparação àqueles fora do casamento, conhecidos como
bastardos, esses não possuíam nenhum direito efetivo.
Foi a partir da constituição federal de 1988, que ocorreu a mudança nessa
concepção, quando no art. 227, § 6°, dispôs sobre a igualdade dos filhos. Mais
tarde, em 2002, entrou-se em vigor o novo código civil, assegurando esses direitos
no art. 1.596, os mesmos já adquiridos pela constituição.

Art. 227, § 6º CF:


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Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os


mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação. (BRASIL, 1988)

Art. 1.596, CC:


Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação. (BRASIL, 2002)

Acontece que há uma discussão sobre a subjetividade do afeto, ou seja, os


pais têm o dever de cuidar dos filhos enquanto menores e dependentes, mas não há
lei que obrigue esses pais a terem afeto, pois, é facultativa a demonstração de
sentimentos pelos filhos.
Os entendimentos se dividem entre o direito ou não à reparação pelo
abandono afetivo, onde, é questionado o dever emocional e de cuidado dos filhos
pelos pais e a não obrigação de amá-los.
As discussões a respeito desse tema geraram muitas dúvidas levando em
consideração a efetividade da reparação pelo abandono afetivo, buscando entender
o real dano causado, como por exemplo, a ausência do exercício do poder familiar.
Nos últimos anos o conceito de família teve grandes mudanças, onde ouve a
passagem da família patriarcal para os diversos modelos de famílias dessa
atualidade.
Na família patriarcal, havia a preocupação em ter filhos, o casal que não
tinham filhos era malvisto diante da sociedade, pois eram os filhos que davam
continuidade na geração da família.
Não eram considerados como filhos aqueles que provenientes de
relacionamentos extraconjugais, aqueles conhecidos como bastardos. Nos modelos
de famílias atuais não existem separação entre os filhos, sejam os de pais casados
ou advindos de fora de um casamento.
Antigamente eram valorizados os filhos provenientes do casamento, sendo
desprezados os filhos bastardos, e hoje, essa história ainda não mudou, pois, os
filhos fora do casamento, por mais que se tenha apoio financeiro de seus genitores,
como exemplo a pensão alimentícia, existem grandes indícios de filhos com
transtornos gerados por essa ausência familiar. Independentemente da idade, as
pessoas sentem a necessidade de ter apoio, afeto, e carinho daqueles com quem
possuem laços de parentesco.
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O conceito de poder familiar é visto hoje, como uma proteção e não somente
um status utilizado para denominar família, pois, foram surgindo cada vez mais, a
obrigação de ambos os pais para com os filhos, podendo ocorrer à perda desse
poder familiar caso sejam descumpridas essas obrigações.
As relações familiares são identificadas pelo vínculo de afetividade entre seus
membros, os pais têm o dever de educar, assistir, cuidar, participar do
desenvolvimento e dar condições necessárias para que seus filhos possam ser
criados em um ambiente saudável com amor e carinho.
Se antes os filhos bastardos ou advindos de divórcio dos genitores eram
excluídos do seio familiar, hoje a obrigação dos genitores é mútua e solidária.

Art. 22, ECA:


Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e
deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da
criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) (BRASIL, 1990)

O dever de cuidado dos pais é um exercido de ambos, para que ocorra o


necessário para o bem-estar dos filhos, garantindo boa educação, estudos,
alimentação, cuidados com a saúde, momentos de laser.

1.1 PODER FAMILIAR

Inicialmente o poder familiar era conhecido como pátrio poder, como o nome
mesmo já diz, pátrio significa que o poder advinha do pai, o cabeça da família, onde
regia muitas regras que deveriam ser cumpridas pelos outros membros da família,
pois o pai era o senhor das decisões.
A única família que era reconhecida era a proveniente de um casamento. E
não se falava em compartilhar o dever sobre os filhos, pois, quem exercia era
somente o pai, os membros da família eram de propriedade do pai, este detinha o
poder absoluto sobre os bens e as pessoas, além disso, apenas o pai possuía
capacidade de direito. Somente em 1962 a mãe, teve a oportunidade de começar a
participar do pátrio poder unicamente como colaboradora.
A constituição brasileira de 1988 e o código civil de 2002 vieram mudar toda
essa concepção que prevalecia até então, e começou a favorecer os filhos, sejam
advindos do casamento ou não.
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Art. 227, § 6º CF:


Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação. (BRASIL, 1988)

Art. 1.596 CC:


Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação. (BRASIL, 2002)

No ano de 1847, as sucessões só eram admitidas para filhos reconhecidos


por escritura pública ou testamentos, e somente 1890 começaram-se a autorização
de investigação de paternidade em alguns casos.
O Código Civil de 1916, artigo 358 estabelecia: "os filhos incestuosos e os
adulterinos não podem ser reconhecidos". O próprio código que era vigente
descriminava os filhos advindos de fora do casamento, sendo esses desamparados
por genitores e pela lei.
Era claramente demonstrado que o erro dos pais deveria recair sobre os
filhos, sendo estes frutos de uniões condenadas, por causa do ato incestuoso e
adulterino de seus pais. E esses filhos eram tratados como marginais, perdendo a
dignidade como pessoa.
Mas acontece que mesmo com o amparo da Constituição, do código civil e da
ECA, ainda existem muitos filhos que são tratados como bastardos, sendo
desamparados pelos genitores e até mesmo pela sociedade.
O poder familiar traz aos genitores o dever de cuidado dos filhos menores,
com finalidade protetiva, equiparando os filhos legítimos, sendo esses biológicos ou
não. Esse poder familiar surge quando nasce um filho, criando assim um direito
personalíssimo, devendo estes, criar, educar, proteger, prover, e cuidar desse filho.
Não é porque o filho é advindo de fora do casamento que ele deve ser
rejeitado pelos genitores, pois ali se encontra um ser humano, que tem sentimentos
e capacidades, e que precisa de cuidados como qualquer outro filho. Deve ser
aplicado o Princípio da Dignidade Humana, pois, todo filho é digno de
reconhecimento de paternidade e maternidade, de ter apoio, de ter carinho, de ter
suporte financeiro, de ter presença.
O filho que antes era conhecido como “bastardo”, é tanto filho como qualquer
outro, e com o código civil de 2002, foram eliminadas as expressões: “bastardos”,
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“espúrios” e “adulterinos”. Hoje não há diferença na nomenclatura dos filhos,


devendo todos ser referenciados como legítimos, sendo eles filhos biológicos ou
não.
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2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO DE FAMÍLIA

O princípio na linguagem jurídica tem uma definição de fonte do direito e é


muito importante para ordenamento jurídico brasileiro, pois sua força alcança toda
amplitude jurídica.
Os princípios constitucionais, ou seja, presentes na constituição, e que
protegem o direito de família, sendo objetos ligados ao assunto de abandono
afetivo são os seguintes: a dignidade da pessoa humana, a paternidade
responsável, a igualdade entre os filhos, o melhor interesse da criança e o que está
mais ligado ao tema, princípio da afetividade.

2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Esse princípio possui dois aspectos, o primeiro em que ele age como um
direito individual de proteção e o segundo como um dever de tratamento entre os
indivíduos.
A dignidade é um direito inestimável e indisponível, pois não possui preço e
não há a possibilidade de ser objeto de troca. Conforme a Declaração dos direitos
do homem e do cidadão, proclamada pela Organização das Nações Unidas de
1948 em seu art. 1°: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e
direitos”
É considerado o maior e mais importante dos princípios ligados a pessoa
humana, onde não existe a possibilidade de se pensar nos direitos de alguém sem
se pensar na dignidade. Dessa forma, sendo a família a base da sociedade, a
dignidade se torna um instrumento indispensável para o desenvolvimento de um
indivíduo, pois é na família que esse indivíduo encontra afeto e cuidado.

2.2 PRINCÍPIO DA PATERNIDADE/ MATERNINDADE RESPONSÁVEL

Esse princípio surge no planejamento familiar, onde acontece o nascimento


da criança. Mas esse princípio não finaliza com o nascimento do filho em si, pois,
esse princípio não tem fim aplicável à paternidade, ou seja, mesmo que o filho
venha a óbito, a paternidade sempre existirá.
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A paternidade/ maternidade responsável é aquela em que há a


conscientização da importância da família, dos filhos, onde são cumpridas todas as
obrigações paternas/ maternas. Não significa que o os pais apenas deem
condições de sobrevivência, mas também respeite os filhos em sua dignidade. No
art. 21 do ECA, é expresso o entendimento sobre a igualdade de condições entre
os pais.
Esse princípio tem garantia expressa no art. 226, § 7º da Constituição
Federal:

Art. 226 CF
A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988)

A importância deste princípio está no fato de que a paternidade ou


maternidade, é questão de consciência e de respeito aos filhos, de disposição
afetiva, espiritual, material, pois, o exercício inadequado de suas funções, como
desprezo, falta de afeto, acarretam vários problemas para os filhos, problemas
estes que, podem trazer transtornos por muitos anos.

2.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS

Dispõe no art. 227, § 6º da CF que, “os filhos advindos ou não de um


relacionamento de casamento terão os mesmos direitos e qualificações daqueles
que são, pois não se pode fazer distinção entre o filho matrimonial e não
matrimonial, adotivo ou socioafetivo.”
A igualdade entre os filhos possui o significado formal em que é vedado
termos que diminuam os valores do filho, como legítimo, natural ou bastardo; e o
significado material em que não pode haver distinção, diferença ou falta de
proteção em desfavor de nenhum filho, isso porque, todos os filhos são iguais
independente da origem.

2.4 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA


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Esse princípio tem a finalidade de proteger o menor, buscando o melhor


interesse e preservando a sua dignidade, para que não venha a ser atingido por
males e omissões, sejam, afetivas ou materiais.
Segundo Rodrigo da Cunha Pereira (2005. Pgs. 128/129):

“O entendimento sobre seu conteúdo pode sofrer variações culturais,


sociais e axiológicas. É por esta razão que a definição de m érito só pode
ser feita no caso concreto, ou seja, naquela situação real, com
determinados contornos predefinidos, o que é o melhor para o menor.(…)
Para a aplicação do princípio que atenda verdadeiramente ao interesse
dos menores, é necessário em cada caso fazer uma distinção entre moral
e ética.” (DA CUNHA PEREIRA, 2005)

O menor é vulnerável e frágil, está em processo de crescimento e


amadurecimento, e é nesse momento que são formados os seus valores e
personalidade, sendo essa uma fase em que esse menor depende do apoio de
seus genitores.

2.5 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE E O ABANDONO AFETIVO

Esse é um princípio que está diretamente ligado ao direito de personalidade


de um indivíduo. Devido as grandes transformações na família, o afeto vem se
tornando muito importante. A afetividade é algo específico do direito de família, e
está disposto na CF no art. 227 e no art. 1583, § 2°, I do CC.

Art. 227 CF
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 1988)

Art. 1.583 CC
A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser
dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em
vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; (BRASIL,2002)
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Os laços de afeto surgem com a convivência familiar, estar na posse de


estado de filho é um reconhecimento jurídico de afeto, onde o laço envolve os
integrantes da família.
O afeto é o exercício de direito de intimidade, em que, as pessoas se
aproximam e dão origem a relacionamentos, criando assim uma família. Esse
princípio está ligado ao direito de convivência, em que a pessoa possui seus
valores fundamentais e se desenvolve como pessoa humana. O afeto acaba por se
tornar um aspecto intrínseco para o ser humano.
Como todos sabem, a Constituição garante aos filhos o dever de cuidado
pelos seus genitores. Dessa forma, deve ser respeitado os direitos e deveres de
todos que estão ligados pelo laço de parentesco e possuem a família como um
norte, de modo a não ser deixado de lado os direitos da pessoa humana.
Conforme Giselle Câmara Groeninga (2008, p. 28):

O papel dado à subjetividade e à afetividade tem sido crescente no Direito


de Família, que não mais pode excluir de suas considerações a qualidade
dos vínculos existentes entre os membros de uma família, de forma que
possa buscar a necessária objetividade na subjetividade inerente às
relações. Cada vez mais se dá importância ao afeto nas considerações
das relações familiares; aliás, um outro princípio do Direito de Família é o
da afetividade. (GROENINGA, 2008)

Fica claro que o que se trata aqui não é de amor, mas sim de elo de ligação
entre as pessoas, seja de sangue ou de afinidade. Não há como medir o amor ou
qualquer outro sentimento, isso vai muito além de quantificar um afeto por alguém,
porém, os vínculos afetivos costumam ser muito fortes, levando-se em
consideração os laços consanguíneos e/ou biológicos, pois, o sentimento que se
nutre por alguém depende unicamente da convivência harmoniosa.
De acordo com Tânia da Silva Pereira (2008, p. 309), “o ser humano precisa
ser cuidado para atingir sua plenitude, para que possa superar obstáculos e
dificuldades da vida humana”. Essa fala da autora, vem alertar sobre atitudes de
“não cuidado” que podem vir a desenvolver sentimento de impotência, perda,
desvalorização como pessoa e vulnerabilidade, bem como, de “tornar-se uma
cicatriz que, embora possa ser esquecida, permanece latente na memória.” E isso
que vem a ser o abandono afetivo.
O abandono afetivo se caracteriza quando os genitores não exercem o
dever de cuidado e começam a não ter interesse pelo filho, ou seja, o tratando com
23
11

descaso. Esse tratamento sem afeto, pode causar problemas escolares, problemas
na alimentação, depressão e também interferir no indivíduo a sua visão familiar.
Obviamente se percebe, esses não são os únicos problemas que podem ser
causados, mas, é de grande importância analisar que esses problemas têm sido
muito comuns na vida de quem sofre com o abandono afetivo, de modo que, os
danos causados muitas vezes tornam-se irreparáveis.
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11

3 RESPONSABILIZAÇÃO DOS GENITORES E A POSSIBILIDADE DE


INDENIZAÇÃO

Antes de ser abordado sobre a responsabilização, convém entender o que é


responsabilidade civil. Responsabilidade civil é a obrigação dada a alguém com
intuito de reparar dano causado a outrem, ou seja, aquele que causou dano a
alguém deve repará-lo na medida do que foi lhe causado.
O art. 186 do Código Civil dispõe o seguinte a respeito da responsabilidade:

Art. 186 CC
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato lícito". (BRASIL, 2002)

A partir do Código civil de 2002 foi adotada uma divisão referente a


responsabilidade, sendo classificada como responsabilidade objetiva e subjetiva.
Na objetiva a responsabilidade independe de dolo ou culpa, ou seja, acontecendo
o dano deve ser reparado mesmo que não tenha havido a intenção do agente que
lhe deu causa, recaindo sobre este a obrigação de indenizar a vítima.
A responsabilidade subjetiva, como regra geral do Código civil, sustenta que,
deve haver a responsabilização referente ao dever do ofensor em restituir,
restaurar, fazer voltar, ou até mesmo, aproximar ao máximo ao estado quo ante da
ação ou omissão que causou o dano, de modo que o ofendido não venha a ter
prejuízos maiores em decorrência do ato do agente causador.
Na responsabilidade subjetiva, necessariamente deve ter dolo ou culpa. É
com a comprovação da culpa que poderá gerar a indenização que o agente deverá
repassar para a vítima, conforme os prejuízos sofridos por esta.
Carlos Roberto Gonçalves dispõe:

Diz-se, pois, ser ‘subjetiva’ a responsabilidade quando se esteia na ideia


de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário
do dano indenizável. Nessa concepção, a responsabilidade do causador
do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. (GONÇALVES.
2015, p.48)

Apesar de englobar dolo e culpa na responsabilidade subjetiva, o requisito


indispensável para se gerar indenização é a culpa. O entendimento de Flávio
Tartuce é o seguinte:
25
11

Conforme demonstrado, a responsabilidade subjetiva constitui regra geral


em nosso ordenamento jurídico, baseada na teoria da culpa. Dessa forma,
para que o agente indenize, ou seja, para que responda civilmente, é
necessária a comprovação da sua culpa genérica, que inclui o dolo
(intenção de prejudicar) e a culpa em sentido restrito (imprudência,
negligência ou imperícia). (TARTUCE. 2018)

Percebe-se que, além da presença da culpa, o agredido deve encontrar


meios legais que comprove o seu dano. Ou seja, restado comprovado a culpa/
dolo, o agressor tem o dever de reparar o dano conforme os prejuízos causados.
Em setembro de 2007, foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos, o
Projeto de Lei do Senado 700/2007, promoveu uma mudança significativa no
Estatuto da Criança e do Adolescente, mudança essa que veio impor aos pais a
reparação por danos causados por deixar de prestar assistência afetiva aos filhos,
seja pela própria convivência ou a falta de visitação. Dessa forma, esse abandono
moral ficou caracterizado como ato ilícito civil e penal, vindo dessa forma a gerar
responsabilização para os pais.
Marcelo Crivella (senador licenciado- PRB-RJ), ressaltou na época que “a
pensão alimentícia não esgota os deveres dos pais em relação a seus filhos. Os
cuidados devidos às crianças e adolescentes compreendem atenção, presença e
orientação.”
Pelo projeto de lei, os §§ 2º e 3º, do art. 4º do ECA, passou a ter a seguinte
redação:

Art. 4º ECA
§ 2º. Compete aos pais, além de zelar pelos direitos de que trata o art. 3º
desta Lei, prestar aos filhos assistência moral, seja por convívio, seja por
visitação periódica, que permitam o acompanhamento da formação
psicológica, moral e social da pessoa em desenvolvimento.
3º. Para efeitos desta Lei, compreende-se por assistência moral devida
aos filhos menores de dezoito anos:
I – a orientação quanto às principais escolhas e oportunidades
profissionais, educacionais e culturais;
II – a solidariedade e apoio nos momentos de intenso sofrimento ou
dificuldade;
III – a presença física espontaneamente solicitada pela criança ou
adolescente e possível de ser atendida. (BRASIL, 1990)

A possibilidade de reparação pelo abandono afetivo está disposto no


parágrafo único do artigo 5º:

Art. 5º ECA
Parágrafo único. Considera-se conduta ilícita, sujeita a reparação de
danos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, a ação ou a omissão que
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26

ofenda direito fundamental de criança ou adolescente previsto nesta Lei,


incluindo os casos de abandono moral. (BRASIL, 1990)

O crime que configura abandono afetivo está expresso no artigo 232-A,


do ECA:
“Art. 232-A ECA
Deixar, sem justa causa, de prestar assistência moral ao filho menor de
dezoito anos, nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 4º desta Lei, prejudicando-
lhe o desenvolvimento psicológico e social.
Pena – detenção, de um a seis meses” (BRASIL, 1990)

No Art. 1634 do CC, dispõe sobre a Relação de parentesco, ou seja, os


vínculos do filho com seus genitores, bem como suas responsabilidades:

Art. 1634 CC:


Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de
2014)
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município; (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder
familiar; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos,
nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem
partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058,
de 2014)
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; (Incluído pela Lei nº
13.058, de 2014)
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de
sua idade e condição. (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014) (BRASIL, 2002)

Apesar de haver os dispositivos legais que vem demonstrar de maneira


expressa que o abandono é punível, não tem como falar em abandono afetivo sem
citar as palavras da Ministra Nancy Andrighi, onde foram as palavras pioneiras
para o entendimento de que a indenização por abandono é cabível ao filho
abandonado.

Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal


de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de
gerarem ou adotarem filhos.
27
11

O amor diz respeito à motivação, questão que refoge os lindes


legais, situando-se, pela sua subjetividade e impossibilidade de precisa
materialização, no universo meta-jurídico da filosofia, da psicologia ou da
religião.
O cuidado, distintamente, é tisnado por elementos objetivos, distinguindo-se
do amar pela possibilidade de verificação e comprovação de
seu cumprimento, que exsurge da avaliação de ações concretas: presença;
contatos, mesmo que não presenciais; ações voluntárias em favor da prole;
comparações entre o tratamento dado aos demais filhos – quando existirem
–, entre outras fórmulas possíveis que serão trazidas à apreciação do
julgador, pelas partes.
Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever. (MINISTRA NANCY
ANDRIGHI. STJ, Recurso Especial nº 2009⁄ 1.159.242- SP)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE. 1. Inexistem
restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade
civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2.
O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da
CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi
descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a
forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem
juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e
companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal,
exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos
morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que
minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em
relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que,
para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos
quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e
inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de
excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento
de matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do
recurso especial. 6. A alteração do valor fixado a título de compensação por
danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a
quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido. (Recurso Especial nº 2009⁄
1.159.242- SP)

Na ementa supracitada, o recurso foi parcialmente provido, onde apenas foi


diminuído o valor da indenização, durante o processo foi constatado o direito a
indenização por abandono afetivo, pois, cabe aos genitores cumprir com as
obrigações familiares.
A partir do momento em que os genitores não cumprem com suas
responsabilidades com o filho, conforme expresso no art. 1634 do CC, surge a
possibilidade de responsabilização, deixando claro que, a indenização é devida
desde que, através de fatos, atos e motivos, seja demonstrado o dano, ou seja, de
procedência comprobatória. Não há o que se falar em indenização caso não seja
comprovado o sofrimento causado pelo abandono afetivo.
1128

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste presente trabalho foi abordado sobre a perspectiva jurídica de


responsabilização dos genitores por abandono afetivo dos filhos. Foi feita uma
análise diante da visão civil e constitucional, tendo como base o direito de família,
a responsabilidade civil, estatuto da criança e do adolescente e a dignidade da
pessoa humana.
É de se entender que o ser humano costuma ser ligado uns aos outros
através dos laços de afetividade, e já que o afeto é algo tão indispensável para a
dignidade humana acabou sendo acrescentado ao rol dos direitos de
personalidade, tornando-se amparado pela Constituição.
A partir do momento que o afeto desaparece da relação, aqueles que se
encontram presentes na relação familiar começam a perder suas raízes, suas
referências, isso pode vir a ocasionar problemas que afetam a vida pessoal,
profissional e social do indivíduo.
Sendo a família uma instituição tão importante para proteção e
desenvolvimento do indivíduo, a ausência do afeto, que faz a ligação dos laços
entre seus membros, pode fazer com que fatores de alto grau de subjetividade,
como mágoa, tristeza, desafeto, venham influenciar de maneira negativa a
personalidade do indivíduo.
Sabe-se que o direito familiar se encontra resguardado na Constituição
Federal em seu artigo 226, e que o Código Civil dispõe aos pais suas
responsabilidades, expressas no art. 1.634, a possibilidade de responsabilização
civil deve-se a partir do momento que não são assumidos os encargos da
paternidade e maternidade. Ou seja, é preciso que os elementos que são
indispensáveis às relações familiares sejam efetivamente violados, configurando
assim, o abandono.
Como já analisado neste trabalho, o STJ, através do Recurso Especial Nº
1.159.242, entendeu que as obrigações familiares vão muito além das
necessidades básicas de um filho, onde deve-se entender que amar é faculdade,
mas, cuidar é dever (STJ, 2009), e por ser um dever surge a possibilidade de
reparação aos danos físicos e psicológicos causado ao filho devido o abandono
por ele sofrido.
29
11

Percebe-se que, a conduta danosa ocorre pela omissão do genitor, onde a


partir da concepção de um filho, vem a responsabilidade dos pais em dar
provimento material e afetivamente, sendo inerentes ao poder familiar, devendo
cumprir os deveres de assistência, cuidado, educação, criação, englobados por
uma obrigação de cunho legal, prevista, principal e expressamente, no art. 227 da
Constituição.
Os danos morais advindos do abandono afetivo tem o intuito de reparar os
danos causados, desde que comprovados, e também, de cessar a prática lesiva
causada pelo ofensor, ou seja, o dano moral deve condizer com a realidade e não
deve ser comparada a uma vingança, devendo ser analisada de acordo com o
caso concreto, de modo que, haja a compensação pelo dano sofrido por causa do
ofensor.
Diante dessas palavras, pode se perceber que o objetivo da indenização não
é o enriquecimento ilícito de ninguém, ou até mesmo o empobrecimento, mas sim,
que perante as provas apresentadas, possam de maneira a não prejudicar as
partes, vir a reparar o dano sofrido.
Por óbvio, pode se concluir que essa responsabilização não é uma
obrigação em possuir um sentimento de amor pelo filho; significa apenas uma
forma de conscientizar sobre a responsabilidade que os genitores possuem na vida
do filho, e é essa responsabilidade que irá de fato, gerar a perspectiva de direito
deste.
30
11

REFERÊNCIAS

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