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Psicoses Agudas e Transitórias – A Escola Portuguesa e

o Conceito de Holodisfrenia1
António Gamito*

Resumo: PSICOSES AGUDAS E TRANSITÓRIAS – AS


O presente artigo vai debruçar-se sobre a es- ORIGENS
cola portuguesa e o conceito de holodisfrenia. No fim do século XIX e em toda a primeira me-
Ao longo do mesmo deter-me-ei, de forma tade do século XX, em pequenos núcleos loca-
breve, na origem e individuação deste tipo de lizados em vários países europeus, psiquiatras
psicoses agudas e polimórficas. Seguidamen- começaram a individualizar um grupo sindro-
te falarei da Escola Portuguesa abordando as mático restrito de quadros psicóticos que pa-
suas raízes, principais personagens e isolan- reciam não se integrar satisfatoriamente nas
do os elementos que a distinguem. duas grandes entidades nosológicas definidas
Por último, detalharei a clínica das holodis- por Emil Kraepelin em 1899 – a psicose maní-
frenias realçando o que há de actual e perti- aco-depressiva e a demência praecox.
nente no conceito. Em 1885 Magnan descreveu pela primeira vez
uma condição psicopatológica caracterizada
Palavras-Chave: Psicoses Agudas e Transitó- por início súbito, sintomatologia polimorfa e
rias; Holodisfrenia; Escola Portuguesa. curso recorrente que inscreveu como subtipo
das psicoses degenerativas (Morel) com a de-
Acute and Transient Psychoses - The signação de baforada delirante.
Portuguese School and the Concept of Tal entidade tornou-se conhecida da psiquia-
Holodisphrenia tria alemã. Em 1900 Carl Wernicke descreveu
Abstract: pela primeira vez o que designou como “psi-
This paper addresses the Portuguese school coses da motilidade”, “psicoses de ansiedade”
and the concept of holodisfrenia. During e a “autopsicose expansiva”.
the current, I will briefly analyse the origin Kleist denominou tais psicoses (1924) fásicas
and individuation of these kinds of acute de bom prognóstico e carácter bipolar com o
polymorphic psychosis. Subsequently I will nome de “psicoses ciclóides”, entidades no-
discuss the Portuguese School, by examining sológicas independentes da psicose maníaco-
its roots, its principal individualities, and depressiva.
by isolating the elements that distinguish it. Leonhard dividiu finalmente as psicoses ci-
Finally I will elaborate on the clinical as- clóides em três grupos distintos: as psicoses
de ansiedade-êxtase, as psicoses confusionais
pects of the Holodisfrenias, highlighting that
e as psicoses da motilidade.
which is contemporary and pertinent in the
Por outra parte, na Escandinávia, August Wim-
concept.
mer (1916) desenvolveu o conceito da psicose
Keywords: Acute and Transient Psychosis; psicogénica baseado no conceito de reacção
Holodisphrenia; Portuguese School. de Karl Jaspers1,2.

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1 Comunicação apresentada no 2.º Simpósio do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca.


* Assistente Graduado. Coordenador da Unidade de Internamento: Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca.
António Gamito

A ESCOLA PORTUGUESA Outras publicações tiveram lugar em anos


O estudo e desenvolvimento da conceptu- subsequentes contribuindo para o estudo
alização destas psicoses polimórficas, em deste grupo de psicoses entre nós.
Portugal, deve-se ao trabalho de Barahona Delas destaco a publicação da tese de douto-
Fernandes e Pedro Polónio, entre outros. ramento de Pedro Polónio, em 1950, intitula-
Tudo começou com o ingresso de Barahona da “Estrutura das Psicoses e Tratamento In-
Fernandes na Clínica Psiquiátrica de Lisboa sulínico”5; o artigo de investigação “Psicoses
(a funcionar no actual Hospital Miguel Bom- e Reacções Ciclóides”2 em 1953 e finalmente,
barda) em 1930. a monografia de Barahona Fernandes “Esqui-
Aí, sob a égide de Sobral Cid (que ao contrário zofrenias Agudas e Holodisfrenias”3 publicada
de Júlio de Matos tinha uma forte influência pela primeira vez em 1957.
da psiquiatria alemã) começou a identificar Os resultados da investigação clínica de Pedro
síndromes atípicas, dificilmente classificáveis Polónio e a reflexão deste e de Barahona Fer-
como esquizofrenia ou psicose maníaco-de- nandes sobre este tipo de psicoses polimórfi-
pressiva. cas de que vimos falando, faz com que na Es-
Em 1934 Barahona Fernandes parte para cola de Lisboa surgisse uma conceptualização
Frankfurt e estagiará durante dois anos na inovadora destes quadros clínicos:
clínica de Kleist. Receberá a influência de 1) Embora continue a usar a designação
Fünfgeld, decisiva para o seu trabalho futuro. “psicoses ciclóides” a Escola de Lisboa
Antes de regressar a Portugal, passa um ano encara-as como uma única entidade e põe
na clínica de Kurt Schneider, em Munich, em causa a sua bipolaridade;
onde verifica que as psicoses que vimos refe-
rindo são indiscriminadamente diagnostica- 2) Põe em causa a sua existência como enti-
das como esquizofrenias2,3. dade nosológica realçando, todavia, a im-
Em 1938 Barahona Fernandes publicou a sua portância da sua descrição sindromática;
tese de doutoramento sobre patopsicologia e 3) Dá importância à estrutura e fenomenolo-
fisiopatologia das síndromes hipercinéticas. gia destes quadros enquanto forma de os
Aí descreve as síndromes hipercinéticas das diferenciar da esquizofrenia aguda.
psicoses ciclóides, síndromes autóctones que
“constituiriam elas próprias toda a psicose AS HOLODISFRENIAS
pelo seu aparecimento e evolução autóno- Sem “qualquer compromisso nosológico” Ba-
ma, repetindo-se intermitentemente sob rahona Fernandes propõe uma nova nomen-
a mesma forma ou alternando com fases clatura para estas psicoses fazendo sobressair
acinéticas” 4. a noção da sua particular estrutura – altera-

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ção aguda, não simplesmente afectiva, nem e) As estruturas permanentes da personali-


confusional do conjunto da vida psíquica e dade são incluídas e submergidas nesta
“fazendo sobressair o seu significado clíni- alteração global;
co, distinto do esquizofrénico”3. f) Na fase de remissão emerge de novo a
Propõe a designação de holodisfrenias para personalidade pré-psicótica, não alterada,
estas condições em que há uma “desinte- reatando o curso biográfico e a forma de
gração aguda da mente, sem dissociação existência anterior, com tomada de dis-
da personalidade que evoluciona em epi- tância crítica em relação à fase aguda.
sódios variados para a total reintegração
Na Escola de Lisboa era habitual distingui-
do conjunto”.
rem-se subtipos de Holodisfrenias mais pela
Em termos da observação transversal dos do-
“utilidade didáctica” de tal prática do que
entes, Barahona destaca alguns aspectos que
pela convicção de se tratarem de entidades
considera fundamentais3. Assim:
nosológicas separadas.
• A consciência está muitas vezes alterada; Desta forma distinguiam-se as psicoses in-
• A atenção é difícil de fixar; coerentes e da motilidade caracterizadas por
• Há incoerência do pensar, com perturba- hipercinésias expressivas não relacionadas
ção da percepção, orientação e memória; com factores externos nem provindo da “ex-
• Há incoerência no agir. pressão afectiva de personalidade”3, como
Segundo Barahona Fernandes, as caracte- refere Barahona Fernandes, podendo alternar
rísticas gerais das holodisfrenias seriam as com períodos acinéticos. Outra característica
seguintes3: deste agrupamento seria a proeminência da
incoerência de pensamento.
a) Fluidez e labilidade de todas as mani-
Relativamente ao subtipo paranóide distin-
festações, não se estabilizando em novas
guiam-se habitualmente o “surto paranóide”
estruturas;
que cursava com clareza de consciência e a
b) Carácter agudo, de rápida evolução; “psicose paranóide atípica”2,3 que cursava
c) Fragmentação, no tempo presente, do com predomínio de ideação paranóide mais
conjunto das funções da consciência, afastada do Eu, incoerência e amnésia total
pensar e actividade; ou parcial para o episódio Agudo.
d) Alterações do curso de todas as activi- Barahona Fernandes distinguia ainda uma
dades, com dificuldade de fixação da forma que denominava de “delírio agudo”3.
atenção, do pensar, com perturbações O que caracterizaria este quadro seria o
fragmentárias da percepção, orientação e início hiperagudo com graves alterações da
memória; consciência e componentes hipercinéticos

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Carlos Vieira, Berta Ferreira, Carlota Tomé

ou estuporosos marcados, com deterioração


grave do estado geral. As descrições clínicas
que Barahona e Pedro Polónio fazem destes
quadros, assemelham-se ao que Max Fink
designa como “delirium maníaco”6, por ele
considerado um subtipo de catatonia.

Quadros I e II
Em 1953, no seu artigo “Psicoses e Reacções
Ciclóides”2, Pedro Polónio dá-nos conta do
estudo retrospectivo por ele efectuado englo-
bando os processos clínicos de 1000 doentes
Quadro I
com diagnósticos de psicose endógena, admi-
tidos de 1930 a 1945 na Clínica Psiquiátrica
da Faculdade de Medicina de Lisboa. Foram
constituídos cinco grupos: psicose maníaco-
depressiva típica, psicose maníaco-depressiva
atípica, esquizofrenia típica, esquizofrenia
periódica e psicoses ciclóides. Os objectivos
do estudo eram: 1) fazer uma análise es-
trutural comparada de modo a encontrar as
maiores afinidades das psicoses ciclóides; 2)
perceber se a mesma análise poderia explicar
as particularidades sintomáticas dos diferen-
tes grupos de psicoses ciclóides; 3) e quais
os elementos comuns na sintomatologia
dos diferentes grupos das psicoses ciclóides Quadro II
e se estes eram suficientes para permitir
constituir uma entidade única, com várias
subformas, ou se era melhor individualizar Quadros III, IV e V
psicoses autónomas. Embora o estudo sofra Nas conclusões do seu trabalho Pedro Polónio
de naturais limitações metodológicas, vamos referiu que as psicoses ciclóides teriam talvez
deter-nos nalguns dos seus principais resulta- mais carácter de síndroma que o de entidade
dos e conclusões. nosológica.

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Ao dizer isto, Polónio pretendia afirmar que


ao verificar que muitos destes quadros evoluí-
am de forma semelhante à esquizofrenia ou à
psicose maníaco-depressiva tal comprometia
a sua individualização como entidades noso-
lógicas autónomas.

Quadro V

ACTUALIDADE DO CONCEITO
Na sua monografia “Esquizofrenias Agudas
e Holodisfrenias”3, na qual Barahona Fer-
nandes tenta compilar toda a investigação
e reflexão clínica que ele e Pedro Polónio
Quadro III dedicaram a este assunto, Barahona refere
que “não se preocupando hoje tanto com a
análise das estruturas psicopatológicas…
e a evolução clínica de cada caso, muitos
psiquiatras caem no erro de meter no “rol”
da esquizofrenia casos com muito diferente
significado e muito diferente prognóstico”
e acrescenta: “As investigações de toda a
sorte… feitas na entidade vaga e de limites
esfumados da “esquizofrenia”, têm neces-
sariamente de conduzir ao estado nebuloso
em que se encontram, enquanto se não de-
limitarem grupos clínicos bem definidos de
doentes com manifestações comuns”.
Tal afirmação seria certamente subscrita por
Quadro IV muitos meio século depois.

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António Gamito

Nessa mesma monografia, referindo-se à im- Bibliografia


portância prática da análise clínica feita em 1. Marmeros, A.; Pilmann, F.; Acute and
torno das holodisfrenias, Barahona justifica-a Transient Psychosis. Cambridge. Cambridge
de duas formas: pelo interesse clínico prático University Press, 2004.
e pela necessidade de agrupamentos bem de- 2. Polónio, P.; Psicoses e Reacções Ciclóides.
limitados para investigação clínica3. Actas Luso-Espanholas de Neurologia e Psi-
É curioso que quase 50 anos antes, duas das quiatria. 1953, XII-!, I-21.
mais importantes conclusões do estudo de 3. Barahona Fernandes, M.; Esquizofrenias
Halle1 tenham sido premunidas e enuncia-
Agudas e Holodisfrenias. Anais Portugueses
das por esta Escola Portuguesa quase comple-
de Psiquiatria. 1957, 142-176.
tamente olvidada.
4. Barahona Fernandes, M.; Antropociências
da Psiquiatria e Saúde Mental. Lisboa. Funda-
ção C. Gulbenkian, 391-426. 1998.
5. Polónio, P.; Estrutura das Psicoses e Tra-
tamentos Insulínicos. Anais Portugueses de
Psiquiatria. 1950, nº2.
6. Fink, M; Taylon, M.; Catatonia – A Clinicians
Guide to Diagnosis and Treatment. Cambrid-
ge. Cambridge University Press, 2003.

Quadro VI

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