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Introdução .................................................................................................................................... 3
Evolução Histórica até à Atualidade.......................................................................................... 3
NOÇÃO DE SOCIEDADE................................................................................................................... 8
Princípios Gerais das Sociedades ............................................................................................... 9
Elementos das Sociedades....................................................................................................... 10
Tipos Societários .................................................................................................................. 15
Personalidade Jurídica das Sociedades .................................................................................... 23
Capacidade Jurídica das Sociedades ........................................................................................ 30
CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADES ................................................................................................... 36
Processo de Formação de Sociedades ..................................................................................... 40
Situações pré-societárias ......................................................................................................... 42
Sociedades Irregulares Por Incompletude ............................................................................ 43
Sociedades Irregulares Por Invalidade .................................................................................. 48
SITUAÇÃO JURÍDICA DE SÓCIO ..................................................................................................... 50
Direitos e Deveres dos Sócios ................................................................................................. 51
Obrigação de Entrada ......................................................................................................... 53
Obrigações Acessórias e as Prestações Suplementares. ................................................... 58
Suprimentos ........................................................................................................................ 62
Direito à Informação........................................................................................................... 67
Participação nos Lucros e nas Perdas ................................................................................ 71
Reservas .............................................................................................................................. 77
DELIBERAÇÕES SOCIAIS ................................................................................................................ 78
Ata – art. 63º ........................................................................................................................... 80
Deliberações Ineficazes – art. 55º ........................................................................................ 82
Deliberações Nulas – art. 56º ............................................................................................... 83
Deliberações Anuláveis – art. 58º ......................................................................................... 87
Disposições comuns à Nulidade e à Anulabilidade – art. 60º ................................................ 92
Eficácia do Caso Julgado – art. 61º ....................................................................................... 93
Renovação da Deliberação – art. 62º.................................................................................... 93
ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO................................................................................................ 95
Governo das Sociedades = Corporate Governance ................................................................. 95
Modelos de Governo............................................................................................................ 95
Administração.......................................................................................................................... 97
Art. 64º CSC – Deveres Fundamentais dos Administradores................................................. 98
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Introdução
Menezes Cordeiro: Direito das Sociedades é o ramo jurídico-positivo que regula as
Sociedades e as questões conexas.
➢ Ordena e legitima o funcionamento das realidades de que se ocupa.
➢ Disciplina as relações que se estabelecem entre os sócios e assegura eficácia erga
omnes da atuação societária.
➢ Regula os bens sociais, assegura a administração e a representação.
Sociedades:
• Civis Puras – art. 980º CC
o Lógica civil que tem enfoque no contrato de sociedade, levantando a questão da
personalidade jurídica.
o Preocupação do legislador civil é centrada no Negócio Jurídico e não na
Instituição/Entidade.
▪ Januário: embora estas categorias não são antagonistas uma da outra,
tendo o Negócio Jurídico sempre bastante importância.
Abrangência e importância das Sociedades Civis é menor face às Sociedades Comerciais – que
têm uma dinâmica, regulação e complexidade próprias.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
MC: O conceito atual de Sociedade é recente e surge no ponto de encontro de três poderosos
institutos (fatores histórico-culturais):
• Contrato romano de sociedade (societas) –surge como um contrato que traduzia uma
relação de cooperação, entre duas ou mais pessoas
• Personalidade coletiva – conceito que sofreu uma evolução técnico-jurídica no período
do racionalismo.
• Companhias coloniais dos séc. XVII e XVIII – exploração colonial foi levada a cabo
através de companhias privadas (Inglaterra e Holanda), o que levou a que estas fossem
os antecedentes mais diretos das Sociedades Anónimas.
CODIFICAÇÕES OITOCENTISTAS
Code de Commerce, 1807 – só conhecia 3 tipos de Sociedades Comerciais (Sociedade em nome
coletivo; Sociedade em comandita; Sociedade anónima). Modelo tripartido que veio a enformar
os diversos códigos comerciais subsequentes.
Influência do Code de Commerce francês precedeu a do próprio Código Civil – sob o signo
pioneiro, o século XIX fez avançar a dogmática das sociedades comerciais (particularmente a das
sociedades anónimas que operariam como matriz das restantes) e todo o esquema jurídico-
científico das organizações privadas adveio, precisamente, dessa época.
➢ A primeira geração de códigos comerciais cumpriu exemplarmente a sua missão:
além de ter permitido estabelecer as bases de uma ordem comercial e económica
nova, ela deu azo a uma doutrina comercialista.
EXPERIÊNCIA PORTUGUESA
Teve início com as Companhias Coloniais, sendo a primeira a Companhia de Lagos, de 1444, que
não era uma verdadeira companhia por faltar uma estrutura interna e não possuírem órgãos
diferenciados.
➢ Foi com os descobrimentos que estas Companhias verdadeiramente despoletaram,
sendo de destacar: Companhia Portuguesa das Índias Orientais (1587), Companhia para
a Navegação e Comércio com a Índia (1629), Companhia Geral do Comércio do Brasil
(1649).
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Pessoa Coletiva é uma ficção jurídica que faz surgir um novo ente, a Sociedade.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Código Ferreira Borges, de 1833, continha disposições gerais que eram o embrião das regras
sobre sociedades.
• Introduziu figuras jus-societárias mas não iguais às francesas: Companhias, Sociedades
e Parcerias Comerciais.
A Lei 22 de Junho de 1867, numa situação reforçada por diversas experiências estrangeiras
(nomeadamente a francesa), consistia numa lei extravagante sobre as Sociedades Anónimas.
➢ O número de sociedades anónimas cresceu rapidamente.
A Lei 11 de Abril de 1901, com origem na receção do regime alemão das sociedades de
responsabilidade limitada, consistia numa lei extravagante sobre as Sociedades por Quotas2.
➢ Este tipo societário teve grande sucesso, devido à estrutura económica do país,
assente em pequenas empresas e na possibilidade que as sociedades por quotas
têm de dar corpo a agremiações de tipo familiar.
Apesar de até aos anos 80 o quadro das Sociedades Comerciais ter sido mais ou menos estável,
a evolução do Direito Português das Sociedades foi, no séc. XX, marcado por quatro grandes
temas que exigiram novos contributos jurídico-científicos: a) fiscalização, b) codificação, c)
mobiliarização e d) europeização.
b) Necessidade de reforma foi sentida devido à perceção que os diversos aspetos contemplados
no texto de Veiga Beirão não poderiam acompanhar o dinamismo do Direito Societário.
• Além de reafirmar que aproveita a experiência portuguesa e quer adaptar-se à evolução
recente marcada pela evolução tecnológica e informática, também pretende acolher as
soluções adotadas no âmbito do projeto europeu.
• Assume também a orientação de não bulir com os conceitos comerciais provenientes
da tradição de Veiga Beirão, mas, tem uma feição codificadora e vem revogar o
essencial das normas pré-vigentes sobre sociedades comerciais, ordenando o
respetivo material em função de critérios jurídico-científicos.
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Que a doutrina discute se é uma Sociedade Capital ou uma Sociedade Pessoa.
➢ Januário: Sociedades Capitais com regime próprio – devido à responsabilidade dos sócios ser
limitada. O regime das responsabilidades tem consequência na caracterização do tipo.
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Ao longo dos anos, o CSC foi sofrendo alteração devido ao desenvolvimento doutrinário e
jurisprudencial do Direito das Sociedades, bem como com a publicação de diplomas
complementares.
c) Código dos Valores Mobiliários levou à mobiliarização das Sociedades, tratando as sociedades,
particularmente as comerciais, enquanto entidades emissoras de valores mobiliários.
➢ MC: foi demasiado longe e prejudicou o mercado de capitais.
d) Foi devido às pressões de se alterar a legislação para mais facilmente acomodar-se a adesão
à CEE que, em 1986, a parte das Sociedades Comerciais do Código Veiga Beirão é revogada e
surge o CSC.
➢ O Direito das Sociedades tem uma acentuada influência do Direito da União Europeia
pois os grandes operadores económicos europeus são Sociedades.
o A necessidade de transpor sucessivas diretivas societárias tem constituído um
motor fundamental de progresso do Direito das Sociedades.
LIMITAÇÕES CIENTÍFICAS
O CSC não teve um tempo de laboração, de estudo e discussão muito longo o que leva a que
tenha algumas incongruências e assintonias.
• Insuficiências da Parte Geral prendem-se diretamente com as limitações
científicas existentes no momento da elaboração do Código, incorrendo em
problemas sistemáticos que não foi possível solucionar.
1) Há casos de previsões normativas específicas da parte geral que só se aplicam a certos tipos
e não a todos – há situações reguladas na Parte geral que só na aparência têm aplicação
aos diversos tipos de Sociedades Comerciais;
• Ex: art. 84º CSC
o Januário: disposição estranha pois está na parte geral e refere-se a “ações e
quotas”.3
2) Há matérias na parte especial (dos tipos) que deveriam estar na Parte Geral e não estão – o
que implica repetições e remissões entre tipos – há matéria geral que não está no local
sistematicamente apropriado, acabando por ter de se repetir várias vezes, a propósito dos
diversos tipos societários.
O CSC foi sendo alterado ao longo dos anos, havendo grandes alterações em 2006/2007 com o
Simplex, não apresentando resolução destes problemas.
➢ Januário: mas no geral é um bom edifício normativo.
O CSC, apesar da sua vocação codificadora, não regula toda a matéria relativa às Sociedades
Comerciais e há diversos aspetos que ficaram fora do código, como a regulação de instituições
de crédito e sociedades financeiras, sociedades gestoras de participações sociais e etc.
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Januário: Importante para as Sociedades unipessoais por quotas. Traz à colação os cados do
levantamento do véu e desconsideração da pessoa coletiva.
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• Surge cada vez mais a necessidade de intercalar e articular o CSC com o Código dos
Valores Mobiliários (caso de OPAs – articulação estreita dos 2 no caso de sociedades
abertas4)
• Outros diplomas, como Cód Reg Com, RNPC, CIRE e etc., têm também aplicação no
âmbito das Sociedades Comerciais.
MC: Direito das Sociedades tem vindo a alargar as suas fronteiras, de tal modo que acolhe
as próprias associações e outras realidades numa ideia de “sociedade em sentido amplo”.
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Nós só vamos estudar as fechadas, que não têm ações na bolsa.
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NOÇÃO DE SOCIEDADE
CSC não tem noção de Sociedade5
Coutinho de Abreu: O CSC diz-nos quando é comercial uma sociedade, não nos diz o que é uma
sociedade, pressupondo esse conceito.
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José Ferreira Gomes: que no fundo é um instrumento jurídico para desenvolver um projeto empresarial.
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Define o âmbito de aplicação e o que são Sociedades Comerciais.
Nº2 – Princípio da Tipicidade
• Foge ao princípio da autonomia privada devido a razões que ultrapassam os intervenientes e
afetam o comércio jurídico, havendo uma necessidade de certeza e segurança para terceiros
o Januário: em princípio adota-se a tipicidade, mas dentro de cada tipo societário há
possibilidade dos intervenientes se comporem com alguma amplitude.
• Tem a implicação que o CSC se aplique às Sociedades Civis sob a forma comercial e às Sociedades
Comerciais.
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Dá a noção do que é um contrato de sociedade, mas, está pensada para a Sociedade Civil e tem enfoque
no Negócio Jurídico de Sociedade.
➢ Em Direito das Sociedades Comerciais tem sempre de se articular a lógica contratual (ligada ao
NJ) e a institucional (ligada ao ente jurídico criado).
o Quando se fala em Sociedades Comerciais não é necessariamente acerca de pessoas
jurídicas – o CSC tem disposições para entes em personalidade jurídica
o Quando se fala no ente jurídico “Sociedade Comercial” não se pode esquecer o contrato
que instituiu essa mesma sociedade.
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Por exemplo quanto ao lucro: há casos de non-profit making companies.
➢ Caso dos ACE, que amplamente cabem neste conceito – considerando um “direito das pessoas
coletivas comerciais”.
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➢ às regras sobre os tipos, às regras da parte geral, às regras aplicáveis aos casos análogos
e princípios e regras do CC (art. 2º CSC), à analogia e à norma criada dentro do espírito
do sistema, ao contrato de sociedade e estatutos e às deliberações dos sócios.
➢ Contraposição entre elementos normativos e a factos derivados da autonomia
privada.
o Art. 2º CSC
▪ Diretriz metodológica com sequência específica de aplicação, perante
uma lacuna.
BOA FÉ E TUTELA DA CONFIANÇA – a tutela da confiança é um princípio operante da boa fé, que
exprime em cada situação concreta os valores fundamentais da ordem jurídica.
• Tem diversas manifestações, sendo uma delas os deveres de lealdade entre sócios e
administradores e etc. a realidade societária exige que as pessoas possam confiar umas
nas outras, pelo menos funcionalmente.
o Januário: CSC trata as situações com formalismo excessivo, pelo que o sistema
tem de dar resposta a isto ao atender à materialidade subjacente.
PRINCÍPIO DA LEALDADE – a relação de lealdade envolve uma relação de confiança na qual o polo ativo
(que suscita a confiança) é o indivíduo leal.
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MODO COLETIVO – regras básicas não se dirigem a seres humanos mas a entes coletivos,
existindo, então, uma autonomia funcional e patrimonial deste sujeito de direito (centro próprio
de imputação de normas jurídicas). Também há mecanismos de limitação do risco.
• Januário: associado à personalidade coletiva – funcionando pelo paradigma da
pluripessoalidade e associado às responsabilidades.
Boa parte das regras próprias das Sociedades Comerciais têm a ver com a necessidade de
acomodar os interesses de várias e distintas pessoas.
Esta pluralidade nem sempre se verifica – devido a eventos naturais (morte) ou fenómenos
jurídicos (exoneração) – mas a lei exige que essa pluralidade seja reconstituída (art. 142º).
➢ Um desvio a isto é a possibilidade de se criar Sociedades Unipessoais9 – no entanto, a
estrutura das Sociedades está marcada em função dessa pluralidade, que é existencial.
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Coutinho de Abreu:
• Sociedades supervenientemente unipessoais – em regra é transitório e é admitido pelo art.
1007º/d CC e 142º/1/a, 270º-A/2, 464º/3 CSC
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Januário: não podemos absolutizar o art. 980º, mas, a regra é ainda a pluralidade de sócios.
• Funcionamento das sociedades comerciais está estruturado numa lógica de pluralidade
– mesmo nas sociedades unipessoais o paradigma é o da pluralidade
Art. 273º (mínimo na SA são 5 pessoas) é a exceção ao art. 7º (mínimo para uma sociedade são
2 pessoas)
A Sociedade adquire o direito (de crédito) às entradas, pelo que esse elemento integrará sempre
o acervo patrimonial.
➢ Não há Sociedades sem obrigações de entrada e, portanto, sem um património daí
resultante.
o Sem esse elemento real, as sociedades despareceriam enquanto ente autónomo,
transformando-se em meras articulações de serviços.
➢ Património da entrada dos sócios passa a ser o património da sociedade
o Inicialmente, o património é constituído pelos direitos correspondentes às
obrigações de entrada dos sócios.
o Depois, à medida que vai correndo a vida da sociedade, o património social vai-
se alterando com a entrada e saída de outros direitos ou bens e de obrigações
pecuniariamente avaliáveis.
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Coutinho de Abreu: atividade económica (i.e., uma série ou sucessão de atos de onde resulta
um lucro patrimonial10) que os sócios se propõem a exercer mediante a sociedade (ou
propõem que a sociedade exerça). Deve ser uma atividade certa ou determinada e traduzida
na prática de atos de comércio.
Enquanto a Sociedade Civil pura visa o exercício comum de certa atividade económico (art. 980º
CC) a Sociedade Comercial tem como escopo a obtenção de lucros.
➢ Obtenção de lucros é o Objeto Mediato/final de qualquer sociedade.
o Para além dele, cada ente societário terá um fim ou Objeto Imediato: a
concreta atividade económica a que se irá dedicar.
O objeto da Sociedade deve constar obrigatoriamente dos seus estatutos – art. 9º/1/d CSC.
• Deve manter-se durante toda a vida da sociedade, basta ver que a sua realização
completa ou a sua ilicitude superveniente constituem casos de dissolução imediata dos
entres societários (art. 141º/c, d).
O objeto da sociedade condiciona as deliberações dos sócios, sob pena de violação dos próprios
estatutos sociais e baliza a atuação dos administradores.
Pode abranger uma ou mais atividades principais (objeto principal da sociedade), atividades
secundárias (considerada nos estatutos sociais de forma subordinada – só faz sentido perante a
primeira – ex: atividade principal é comércio de peixe e a secundária é o embalar) e atividades
acessórias (teia de atividades acessórias que dão corpo à atividade principal – ex: sociedade tem
um objeto económico e contrata trabalhadores para o realizar).
Sujeição a perdas: casos em que os sócios podem perder e não lucrar não está contemplada pelo
art. 980º CC mas deve integrar-se nos elementos que caracterizam a sociedade, extraindo-se do
art. 994º CC e do art. 22º/3
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Não podem ser atividades de mera fruição, tendo por objeto atividades de simples desfrute, de mera
perceção de frutos (naturais ou civis) de bens.
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Na escolha do tipo social cabe às partes ponderar diversos vetores em presença – aspetos
fiscais, organizatórios, responsabilidade patrimonial e etc.
➢ O tipo societário é integrado por normas que têm a ver com os pontos seguintes:
conformação da firma; regime de responsabilidade por dívidas; regras básicas de
participações sociais;
Uma sociedade que tem por objeto a prática de atos de comércio, ainda quando não adote
um dos referidos tipos, é sociedade comercial – apesar de irregularmente constituída quando
falte essa adoção.
➢ Para uma sociedade ser Sociedade Civil há-de ter exclusivamente por objeto uma
atividade não comercial, é o que resulta dos art. 1º/3 e 4 CSC.
➢ Mas essa sociedade civil pode ser Sociedade Civil Simples ou de Forma Comercial (são
sociedades civis mas adotam um tipo comercial, sendo-lhes aplicável o CSC – art. 1º/412)
Uma sociedade com objeto mercantil deve adotar, e só pode adotar, um dos tipos de
sociedades comerciais do art. 1º/3 CSC.
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Januário: Com este princípio pretende-se aferir do regime da responsabilidade dos sócios. Ou seja, se
podem, e em que termos, é que os sócios da sociedade podem ser responsabilizados pelas dívidas da
sociedade
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Há sociedades que não podem adotar nenhum tipo de sociedade comercial: sociedades de advogados
(DL 229/2004). Há outra que têm de adotar apenas um certo tipo: sociedades de agricultura de grupo
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Tipos Societários
Pedro Maia
No entanto, ainda há um espaço de liberdade que varia consoante o tipo de sociedade em causa:
➢ Observando um tipo e respeitando as normas de caráter imperativo que o regulam, as
partes podem conformar livremente o conteúdo do contrato de sociedade.
Este princípio da tipicidade aplica-se às sociedades cujo objeto consista apenas na prática de
atos de comércio e também às sociedades que tenham um objeto misto, i.e., tanto pratiquem
atos de comércio como atos não comerciais por objetivo – resulta a contrario do art. 1º/4 CSC.
• Aplica-se às criadas por negócio jurídico.
o As criadas ope legis podem desviar-se dos tipos previstos no CSC.
• Aplica-se o regime das Sociedades Comerciais devido a terem um dos tipos do CSC (art.
1º/2 e art. 1º/1).
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Mas o art. 198º permite estipulações contratuais distintas em que um ou mais sócios podem
responder perante os credores sociais até determinado montante.
➢ Esta possibilidade vem impedir a afirmação que a irresponsabilidade dos sócios
perante os credores sociais é uma característica essencial da sociedade por quotas.
o É um traço-regra de caráter supletivo
Januário: margem parametrizada, em que o sócio pode admitir responder perante credores da
sociedade.
➢ Esses parâmetros são dados por contrato e até ao montante máximo coerente com o
capital social (senão desvirtuava-se a norma e teríamos uma SNC)
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Por isso se fala que esta pode ser uma sociedade de tipo misto ou híbrido – reúne numa mesma
sociedade sócios com responsabilidade limitada e outros com responsabilidade ilimitada.
A solução encontrada para a composição de tais interesses difere do tipo de sociedade, pois a
medida/intensidade desses interesses também não é a mesma em todos os tipos.
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Nos casos em que a cessão não é livre, o consentimento é dado pela sociedade e não pelos
sócios – deliberação em que sócio alienante não pode votar.
Este regime pode ser amplamente derrogado no contrato de sociedade – art. 229º
• Pode tornar mais fácil ou menos fácil a transmissão de participações – conformação da
sociedade especificamente está na autonomia dos sócios, aproximando-as mais das
sociedades pessoas ou sociedades capitais.
Tutelam-se os interesses dos sócios que permanecem mas também do que quer sair, pois aquele
a quem é recusado consentimento terá sempre a possibilidade de realizar, ao menos
parcialmente, o seu interesse – art. 231º
Difere das Sociedades em Nome Coletivo pois há casos em que não é necessário o consentimento
(os do art. 228º/2) e a grande diferença é que na Sociedade por Quotas o consentimento é dado
pela sociedade e não pelos sócios.
Art. 328º/2 limita (nunca exclui) a transmissão das ações nominativas, mas não as ações ao
portador.
➢ Sócios podem limitar mas nunca excluir (enquanto nos outros tipos societários pode
haver essa exclusão).
➢ Sujeito aos prazos do art. 329º - se forem ultrapassados a transmissão é livre
Lei deixou reduzido âmbito para derrogação do regime da liberdade, por via do contrato –
compreende-se esta solução devido à Sociedade Anónima estar gizada para a disseminação do
seu capital, o que impõe a fácil circulação das ações.
3. Estrutura Organizatória
Coutinho de Abreu: órgãos sociais são centros institucionalizados de poderes funcionais a
exercer por pessoa/pessoas com o objetivo de formar/exprimir a vontade juridicamente
imputável às sociedades.
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b) ANGLO-SAXÓNICA
➢ Administração: um órgão (Conselho de Administração)
i. Parte desses membros do conselho de administração integra um outro
órgão de fiscalização (Comissão de Auditoria – art. 423º-B)
ii. Membros da comissão de auditoria, que é um órgão de fiscalização da
sociedade são simultaneamente administradores membros do
conselho de administração.
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c) DUALISTA/GERMÂNICA
➢ Administração: dois órgãos (Conselho Geral e de Supervisão + Conselho de
Administração Executivo –> art. 434º e ss. + 424º e ss.)
➢ Fiscalização: ROC (art. 446º)
Existe sempre um órgão de coletividade de sócios que não tem as mesmas competências em
todas as estruturas admitidas por lei.
• Não tem de compor-se por todos os sócios e pode haver ações preferenciais sem voto
(art. 343º/1 e 379º/2) ou exigir número mínimo de ações (art. 379º/2 e 384º/2/a).
• Não podem deliberar fora dos casos previstos na lei, sobre matérias de gestão da
sociedade – a não ser no caso do art. 373º/3.
Sociedades em comandita
Por remissão dos art. 474º (simples) e 478º (por ações) aplicam-se as disposições relativas às
sociedades em nome coletivo e às sociedades anónimas, em tudo o que não for contrariado
por normas específicas destes tipos.
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Resumo
Exigência de mais: sociedades anónimas (art. 273º) + comandita por ações (art. 479º)
Dispensa do mínimo: sociedades por quotas unipessoais (art. 270º-A) + anónimas unipessoais
(art. 488º/1 + 481º/1)
Sociedades de Capitais
Importância decisiva não é o sócio mas sim a sua “participação de capital” ou o seu contributo
patrimonial para o exercício da atividade societária.
• O paradigma é do da sociedade anónima.
• O regime altera-se tendo em conta esta ótica de contributo patrimonial e não pessoal.
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Em abstrato, o modelo que o legislador seguiu foi o da sociedade por quotas personalística –
não afastando os sócios o regime supletivo fixado no CSC, esta sociedade apresenta-se como
uma Sociedade de Pessoas.
Pedro Maia: esta distinção tem uma utilidade didática, em sede de interpretação e integração
da própria lei (em que pode ser útil ter presente o figurino personalístico ou capitalístico seguido
pelo legislador) e em sede de interpretação e integração de (cada) contrato de sociedade (de
forma a se encontrar o sentido das cláusulas inscritas no contrato de cada sociedade e para mais
facilmente encontrar-se o regime aplicável quando houver uma lacuna).
➢ No entanto, esta distinção não é estanque e pode haver desvios.
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Ao lado da personalidade coletiva, tendencialmente plena (boa para todos os efeitos, dentro do
princípio da especialidade), existe uma personalidade coletiva rudimentar (operacional, apenas
para os concretos âmbitos que a lei lhe atribuir).
• Às pessoas rudimentares podem aplicar-se regras próprias da personalidade coletiva,
mas, apenas aquelas que surjam expressamente com essa dimensão.
o Fora do que a lei preveja, a pessoa rudimentar é substituída pelos titulares
efetivos dos bens em presença.
o O modo coletivo deve ser apurado caso a caso.
• Pode haver um modo coletivo imperfeito – constituem-se figuras afins às pessoas
coletivas.
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Quanto às (novas) sociedades resultantes de fusão ou de cisão, também adquirem personalidade com o registo
respetivo (art. 112º, 120º).
O mesmo se entende quanto às sociedades civis de tipo comercial, resultantes da transformação de sociedades civis
simples (art. 130º/2, 6).
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Quanto à cessação da personalidade: dissolução e a liquidação
➢ Uma vez constituída, a personalidade coletiva mantém-se até à superveniência de uma
dissolução e ao término da liquidação.
➢ Com efeito, ainda que em liquidação, a sociedade mantém a sua personalidade (art.
146º/2): a extinção sobrevém, mesmo entre os sócios, com o registo do encerramento da
liquidação (art, 160º/2).
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MC: classifica a doutrina de Coutinho de Abreu como realismo jurídico
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➢ Não tem carga ético-axiológica que a personalidade das pessoas singulares encerra,
importando indagar o sentido-função (o porquê-e-para-quê da personalidade
coletiva):
Quais as consequências de ser um polo de direitos subjetivos, que lhe cabem e de obrigações,
que lhe competem?
1) As sociedades têm direitos e deveres próprios, irrepercutíveis nos sócios;
2) Os atos dos administradores, praticados nessa qualidade, sejam eles lícitos ou ilícitos,
são imputados, apenas, à sociedade;
3) Pelas dívidas da sociedade respondem os bens desta;
4) Os credores individuais do sócio não podem responsabilizar os bens da sociedade: só a
participação social;
5) O sócio não pode dispor dos bens da sociedade: só da sua participação social;
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Januário concorda com Coutinho de Abreu
➢ Januário: todas as sociedades acabam por ser de responsabilidade ilimitada – a discussão gira
em torno de saber até que ponto os sócios podem responder pelas dívidas da Sociedade (e se os
sócios podem ser responsabilizados pelos credores).
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Quanto a deveres próprios, salientam-se as obrigações públicas, relacionadas com o RNPC, com
a tributação e com a prestação de contas e as privadas, derivadas da lei e dos contratos
celebrados através dos órgãos públicos.
No plano dos direitos próprios, irrepercutíveis nos sócios (1), há direito ao bom nome e à honra?
Não há dúvidas quanto ao: Direito ao nome (à firma), que acompanha todas as sociedades
comerciais, como elemento essencial – art. 9º/1/c CSC.
Art. 12º/2 CRP determina que as pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos
direitos compatíveis com a sua natureza.
➢ MC: Não ficam por isso excluídos, o direito ao bom nome, o direito à honra.
o É possível concluir que a sociedade, por um lado, é titular de direitos de
personalidade, como também tem a necessária capacidade para intentar uma
ação que garanta que os mesmos estão a ser respeitados.
Tendo em conta a existência deste direito, quando ele é violado surge como Dano Patrimonial
ou Dano Não Patrimonial/Moral?
➢ Art. 484º CC
o Questão prévia é averiguar se este artigo é extensível às Sociedades Comerciais.
▪ Maioria da doutrina entende que sim, pois o Bom Nome da Sociedade
influencia a sua atividade comercial.
1. Para uma corrente jurisprudencial a ofensa do bom nome e reputação das sociedades
comerciais apenas releva como dano patrimonial indireto17, não sendo por isso suscetível de
indemnização por danos não patrimoniais.
• Invocando-se que o bom nome e reputação das sociedades comerciais apenas
interessam na medida da vantagem económica que deles podem retirar
• STJ 27/11/2003; STJ 9/6/2005; STJ 23/1/2007
17
STJ, 6 de julho de 2011, Rel. Gabriel Catarino
➢ A ofensa do bom nome e reputação das sociedades comerciais só releva enquanto dano
patrimonial indireto – não é suscetível de indemnização por danos não patrimoniais.
➢ O bom nome e a reputação das sociedades comerciais apenas interessam na medida da
vantagem económica que deles podem retirar
TRG, 16 de fevereiro de 2017, Rel. Higina Castelo
➢ Este Acórdão admite que as pessoas coletivas possam ter direitos de personalidade, como ao
crédito ou ao bom nome, mas que jamais estes possam causar danos não patrimoniais. Quanto
muito, podem causar danos patrimoniais indiretos
25
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
António Pinto Monteiro: danos não patrimoniais não são transponíveis para as pessoas
coletivas, pois elas não têm as características da pessoa humana (as sociedades não choram).
➢ A própria índole do dano não patrimonial pressupõe que a vítima possa sofrer, ter dores,
ter sentimentos e emoções. O dinheiro com que se visa compensar esse dano também
pressupõe estes sentimentos – ou seja, pressupõe a capacidade de chorar e de rir
➢ As pessoas coletivas não podem sofrer danos de natureza não patrimonial, posição mais
adequada ao princípio da especialidade de fim dessas pessoas
o Portanto, não pode valer na mesma lógica e tem de se valorar de forma
diferente, como dano patrimonial indireto.
A personalização das sociedades significa, no fundo, que os direitos e deveres dos seus sócios
são tratados em modo coletivo.
➢ Ou seja: embora os seres humanos sejam sempre, em última análise, os únicos
destinatários possíveis de normas jurídicas, a personalidade coletiva permite que,
através de novos jogos de normas, os direitos e deveres daí resultantes sejam exercidos
e acatados através de uma organização própria.
26
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Januário: sistema não pode aceitar uma promiscuidade entre sociedade e sócios.
27
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Além da inadequação abusiva, exige-se ainda uma explicitação dos seus fundamentos – como
o intento de prejudicar os credores, os administradores praticarem falências evitáveis ou
retardando prejudicialmente falências inevitáveis.
• Subcapitalizada, ao cair em insolvência serão os sócios chamados a responder
ilimitadamente (todos, se inicial; os sócios controladores se superveniente).
Mota Pinto discorda desta solução pois a lei apenas exige que a sociedade esteja dotada com o
capital mínimo, sem exigir adequação do capital relativamente ao objeto social.
➢ Coutinho de Abreu responde que a questão não é de legalidade estrita e que tal não
impede o abuso da personalidade coletiva pois o prejuízo é dos credores, sendo a
possível responsabilidade dos sócios para com os credores e não para com a sociedade
(é externa).
Se se verificar este abuso há ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade portanto estão verificados
os pressupostos para responsabilizar os sócios para com os credores sociais (apesar de ser a
sociedade a devedora e pese embora o “princípio da separação”18).
18
Doutrina portuguesa importa tal solução da Alemanha, que com o Acórdão Trihotel levou a esta
construção – antes o fundamento da responsabilidade dos sócios era o desrespeito dos deveres de
lealdade dos sócios para com a sociedade.
➢ De facto, estes deveres também são violados pelo que esses sócios desleais ainda podem ter de
responder perante a sociedade (internamente). Mas perante os credores sociais é através do
mecanismo da desconsideração da personalidade coletiva.
28
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
No fundamental,
• o Levantamento traduz uma delimitação negativa da personalidade
coletiva por exigência do sistema, ou seja, exprime situações na quais, mercê
de vetores sistemáticos concretamente mais ponderosos, as normas que firmam
a personalidade coletiva são substituídas por outras normas.
É o instituto pelo qual, em circunstâncias muito especiais, é possível não ter em conta as
normas que sustentam a personalidade coletiva, de modo a imputar as obrigações da
sociedade às pessoas singulares que lhe sirvam de suporte: seja aos administradores, seja aos
sócios, conforme as circunstâncias.
➢ O levantamento opera por exigência marcada da boa fé, ou seja, dos valores
fundamentais do ordenamento jurídico, de tal modo que a invocação, pelos sócios ou
pelos administradores da sociedade considerada, da personalidade, se configure como
um abuso do direito.
29
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
CAPACIDADE DE GOZO
Das instituições eclesiásticas medievais resultou uma filosofia de base de que as pessoas
coletivas só poderiam adquirir os direitos que fossem estritamente necessários para a
prossecução dos seus fins; a sanção normal seria a perda, para o Estado, dos direitos supérfluos.
A capacidade de gozo das pessoas coletivas é limitada pelo princípio da especialidade: apenas
abrange os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins (art.
6º/1 CSC e art. 160º CC).
• Ideia da limitação da capacidade: doutrina ultra vires anglo-saxónica e restrições
continentais aos bens de mão-morta.
o Essas situações foram ultrapassadas historicamente e pela aquisição de
personalidade jurídica das sociedades comerciais.
19
MC: consagração deste princípio no CSC é refluxo concetualista e deve ser desconsiderado.
➢ Januário: Menezes Cordeiro passa atestado de óbito a este princípio, mas, tal não deve ser feito
pois o art. 6º deve ser interpretado apelando ao objeto imediato (atividade comercial concreta
da sociedade) e ao mediato (lucro).
o O Princípio da Especialidade só é limitativo da capacidade jurídica da sociedade em
função do objeto mediato – atos que a sociedade pratique que sejam contraditórios
com o objeto mediato (produção de lucros) afrontariam com este princípio.
20
CA: O sistema da capacidade específica, limitada ou funcional, tutela mais os interesses dos sócios –
quando os limites sejam fixados pelo fim lucrativo; os credores sociais podem por em causa atos das
sociedade que provoquem a diminuição dos patrimónios que garantem os seus créditos.
30
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Norma do art. 6º/1 é imperativa, tuteladora sobretudo dos interesses dos credores sociai e dos
sócios, não podendo ser derrogada por vontade (ainda que unânime) dos sócios, quer nos
estatutos quer em deliberações (art. 9º/3).
➢ Se alguma deliberação dos sócios ou do órgão de administração autoriza a prática de
algum desses atos, ela é nula também (art. 56º/1/d; 411º/1/c CSC).
CA: Um ato excede o seu objeto social quando é não possui, no momento da sua prática,
qualquer relação de potencial instrumentalidade (de meio-fim).
ART. 6º
Atos Gratuitos – art. 6º/2
Se liberalidades são usuais não são doações (art. 940º/2 CC) sendo permitidas segundo as
circunstâncias da época e condições da própria sociedade não são contrárias ao fim. Ex:
oferecer relógio aos trabalhadores pelo Natal.
• Circunstâncias da época = contexto socio-cultural; casos em que socio-culturalmente se
admite o ato de generosidade.
• Condições da própria sociedade = se a sociedade não está insolvente; atendendo ao
montante da liberalidade e o lucro da sociedade (circunstâncias contabilísticas da
sociedade)
Quando não usuais, são admitidas se poderem servir o interesse da sociedade, tal como
definido pelos órgãos competentes. Ex: mecenato, doações com fins publicitários e etc.
• Casos em que as doações não contrariam o fim (há benefício de imagens e etc.)
o Se em tal houver algum intuito lucrativo, a liberalidade é subsumida pelo art.
6º/1 e aí é possível (não sendo excluída pelo art. 6º/2)
o Januário: prática de atos gratuitos pode ser compatível com a prática societária
se tal não ofender o fim mediato da sociedade (o lucro). Assim não se
desconsidera a posição (restritiva) do legislador e assegura uma margem de
manobra ampla das Sociedades Comerciais.
• Pontualmente podem ser nulas (sendo proibidas, regra geral, o desvalor é a nulidade),
cabendo aos órgãos societários decidir, caso a caso, se elas ainda integram o fim da
sociedade
31
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
21
Duas exceções são consonantes com o art. 6º/1, pois a prestação de garantias mostrar-se-á necessária
ou conveniente à prossecução do escopo lucrativo da sociedade.
22
Não pode ser um sócio. Ex: sócio domina SA a 100%. Tem outras sociedades e para essas outras assegura
como garantia um bem da SA. Isto desconsidera a autonomia da sociedade e diversidade da personalidade
da sociedade relativamente aos sócios.
23 O art. 486º aplica-se quando a sociedade dominante e a sociedade dominada revestem, ambas, o tipo de sociedades
por quotas, anónimas ou em comandita por ações (art. 481º/1: âmbito pessoal) e têm a sua sede em Portugal (art.
481º/2: âmbito espacial).
Influência dominante exprime, nuclearmente, a suscetibilidade ou potencialidade de uma sociedade (dita dominante)
impor, com intensidade variável, decisões ou comportamentos a outra sociedade (dominada); traduz um poder
direcional sobre a sociedade dominada – que releva independentemente do respetivo exercício efetivo. A influência
dominante traduz a suscetibilidade de exercício de uma direção unitária das sociedades controladas que, obtendo
eficiência operativa, tenderá a originar um grupo de facto.
Assim, quando uma sociedade dispõe de influência dominante sobre uma ou mais sociedades encontra-se em
condições de exercer a direção unitária das sociedades envolvidas.
24 Este preceito estabelece o conceito de domínio total inicial, que ocorre quando uma sociedade constitui outra
sociedade de cujo capital social é inicialmente a única titular. O domínio total origina, ex vi legis, uma relação de grupo
entre a sociedade totalmente dominante e a sociedade totalmente dominada.
As sociedades ajudam-se mutuamente. A prestação de garantias em sentido ascendente não é valida porque quem
beneficia são os sócios da sociedade mãe e não os da sociedade filha. Assistente: esta leitura não faz sentido à luz do
princípio da especialidade. É demasiado restritiva. O mesmo vale para sociedades irmãs.
6º/3 é uma presunção ilidível. As sociedades não estavam em relação de domínio nem de grupo. Mas tinham
acionistas comuns, que tinham atividades interligadas entre si e podíamos sustentar que a garantia era defensável.
32
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
No entanto, a prestação de reforma pode não ser um ato gratuito e sim um ato remuneratório.
• Sociedades podem assumir pensões ou complementos de reforma a trabalhadores, mas
com restrições.
• Não são atos gratuitos e têm natureza retributiva.
O art. 402º/1 CSC vem permitir no âmbito das SA, devendo constar do Pacto Social.
• A reforma, a cargo da sociedade, não contradiz a sua natureza lucrativa.
o Januário: Todavia, ela deve estar prevista no próprio contrato de sociedade, não
podendo ser criada ex novo pela assembleia geral.
o Os preceitos permissivos devem ser interpretados restritivamente.
“CAPACIDADE” DE EXERCÍCIO
Art. 6º reporta-se à capacidade de gozo.
MC: No tocante a pessoas coletivas não faz sentido falar em capacidade (de exercício) -> elas
operam com os competentes órgãos, através de nexos de organicidade.
• Esta categoria é só aplicável às pessoas singulares.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Só num plano muito imediato e empírico tem a ver com a verdadeira representação (voluntária)
ou com a representação legal.
➢ O que está aqui em jogo é um problema de organização – exige-se que a pessoa coletiva
se autodetermine e se manifeste para o exterior.
o Para tanto, ela dispõe dos seus órgãos, cujos titulares agem e o que fazem é,
ope legis, imputado à pessoa coletiva.
Regras referentes à orgânica das sociedades acabam por se refletir nos poderes de
representação dos seus administradores, variando em função do tipo social, dos estatutos e do
próprio Direito em causa.
➢ A designação dos administradores está sujeita a registo comercial (art. 3º/1/m CRC)
como forma de tutela de terceiros.
25
Começou por ser defendida por Manuel de Andrade, seguida de Ferrer Correia.
• Devido ao teor literal do art. 165º, 998º/1 CC e 6º/5 CC, alguma doutrina tem sido levada a pensar
que, para efeitos de responsabilidade civil aquiliana, a pessoa coletiva é um “comitente”, sendo
o titular do seu órgão um comissário, de modo a aplicar o art. 500º CC.
o Tal tem obstáculos jurídico-científicos e práticos pelo que se tem de recorrer ao
pensamento de Manuel de Andrade e concluir que lhe pode ser diretamente aplicável
a responsabilidade civil do art. 483º CC.
• Januário: não se aplica o art. 500º CC pois a representação é orgânica; daí que se pode
responsabilizar diretamente as Sociedades Comerciais nos termos gerais de Direito – quando
age através de órgãos próprios é a própria sociedade que age.
o O art. 165º CC refere-se à responsabilidade dos representantes (legais ou voluntários) e
não aos titulares dos órgãos da sociedade.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADES
Qualquer que seja o modo (jurídico-privado ou jurídico-público), a constituição de sociedades
comerciais analisa-se com base num processo que tem uma série de atos e formalidades.
É possível que sociedades comerciais sejam constituídas em termos diversos dos regulados no
CSC: através de Lei ou Decreto-Lei, o Estado tem constituído algumas sociedades anónimas.
➢ Ao constituir estas Sociedades desta forma, como derroga o disposto no CSC (aprovado
por DL), só atos normativos com força idêntica é que o podem fazer.
➢ Pinto Furtado discorda e admite que se possam criar por ato administrativo.
A sociedade comercial forma-se por via de um processo, sendo o registo o ato que atribui
personalidade jurídica à sociedade.
➢ Mas, ela já existe antes do registo como tendo subjetividade, podendo até atuar antes
do registo.
Uma parcela das regras legais aplicáveis às sociedades tem natureza meramente supletiva,
podendo ser afastadas pela vontade das partes.
Na sua configuração, o contrato de sociedade permite, muitas vezes, distinguir duas áreas:
1. a do contrato propriamente dito, na qual as partes se identificam e manifestam a
intenção de constituir essa sociedade;
2. a do pacto social ou estatutos, nos quais as partes, normalmente articulados disciplinam
a nova entidade.
26
De onde se excluem os incapazes sem estarem devidamente representados.
➢ Quanto aos cônjuges, devido à possibilidade de um contrato de sociedade alterar o regime
estabelecido em convenção antenupcial (art. 1714º CC), o art. 8º CSC estabelece que eles podem
constituir sociedades por quotas ou em comandita simples e podem ambos participar em
sociedades por quotas, anónimas, em comandita simples ou por ações.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Forma
Contrato formal – art. 7º/1 CSC
➢ Quanto aos contratos próprios das Sociedades Comerciais há diversas opções na lei: art.
17º, 29º/4, 85º/3, 106º, 120º, 145º/1, 498º (exemplos de diversidade)
O contrato de sociedade não tem apenas eficácia inter partes, originando, pelo registo, um
ente coletivo personalizado, que produz efeitos erga omnes: perante os novos sócios, perante
terceiros estranhos, perante credores da sociedade.
É contrato formal, pelo que seria interpretado pelo art. 238º/2 CC – não se pode recorrer a esta
disposição, não podendo ser interpretado como um contrato comum, uma vez que com a
sociedade não há um diálogo negocial a dois e as partes preparam estatutos estando a escrever
para o futuro e, não, uma para a outra.
➢ A interpretação dos pactos sociais é fundamentalmente objetiva, devendo seguir o
prescrito para a interpretação da lei (art. 9º CC), com inevitáveis adaptações.
A maior parte dos estatutos/atos constituintes das sociedades são negócios jurídicos (unilaterais
ou contratos), expressivos de ordenação baseada na vontade dos sócios fundadores.
➢ Alguns autores e jurisprudência têm defendido uma interpretação objetiva dos
estatutos: não há que indagar a vontade real dos sujeitos do ato constituinte para a
fixação do sentido das cláusulas, nem atender a elementos extrínsecos ao estatuto.
Devido a serem relevantes para terceiros e futuros sócios, são muito pouco atendíveis as
circunstâncias exteriores ao estatuto utilizáveis para perquirir a vontade real ou o sentido das
declarações dos sócios fundadores.
O método tem de ser mais objetivo, encontrado no texto das cláusulas estatutárias e no contexto
(estatutário).
➢ Isto vale para as sociedades de capitais e para as sociedades de pessoas.
➢ Mas nas sociedades de pessoas há maior espaço para a consideração das vontades,
representações e interesses dos diversos sócios.
Natureza
➢ Menores podem ser partes em contratos de sociedade, sendo possível atuar pessoal e livremente
em alguns. Para outros tipos necessita de autorização: art. 1889º/1/d, 1938º/1/a,b,d
37
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Conteúdo – art. 9º CC
Menções obrigatórias que o ato constituinte de sociedade comercial tem de ter (aplicável à
generalidade das sociedades, seja qual for o tipo).
➢ Este artigo não se aplica só às sociedades formadas por contrato.
Outros preceitos complementam o conteúdo do contrato, a propósito dos vários tipos sociais:
art. 176º (SNC), art. 199º (Lda.), art. 272º (S.A.)27, art. 446º (Sociedades em Comandita).
Menções facultativas: art. 27º/3; 146º/5; 148º; 185º; 198º; 209º e etc.
27
Coutinho de Abreu: Problema das SA é quanto ao número dos administradores: devem os estatutos
mencionar obrigatoriamente ou basta indicar um número mínimo e número máximo?
➢ Deve ter o número preciso (art. 390º/1, 2 + 424º/1 + interesse de terceiros conhecer qual o
número de membros para se concluir negócio jurídico)
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Art. 11º/3 permite que o contrato indique uma série de atividades não efetivas elencadas no
objeto social, cabendo aos sócios escolher aquelas que a sociedade efetivamente exercerá.
➢ A prática vai no sentido de alongar o objeto da sociedade a toda uma série de hipóteses
de atuação.
Art. 11º/4 e 11º/5 problemática se a sociedade pode adquirir participações noutra sociedade.
Tem de ser o próprio contrato de Sociedade a autorizar que quem passa a ser sócia é a própria
sociedade.
Januário: tem dúvidas se o art. 11º/6 é compatível com o art. 980º CC – levanta a dúvida se
esta “gestão” não uma atividade de mera fruição, estando fora do universo das sociedades
comerciais
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Capital contabilístico – cifra que consta do balanço, como passivo, correspondente às entradas
realizadas dos sócios; quando por realizar surgem no ativo.
Capital estatutário ou nominal – valor inserido nos estatutos e que traduz, de modo abstrato e
formal, o conjunto das entradas dos sócios.
Capital real ou financeiro – expressão dos denominados capitais próprios ou valores de que a
sociedade disponha como seus.
Capital económico – imagem da capacidade produtiva da sociedade, enquanto empresa ou
conjunto de empresas.
Januário: capital tem implicações de regime e não pode ser confundido com o património
Isto serve para que as inerentes obrigações sejam oponíveis à própria sociedade (art. 16º/2).
Art. 16º refere-se a situações que têm conexões com a constituição da Sociedade.
➢ Regime próprio circunscrito/parametrizado pela fase constitutiva, que suscita este
regime social (embora na praxis não tenha grande expressão).
28 Contratos de Sociedade devem ser inscritos no registo comercial (art. 18º/5 CSC + art. 3º/1/a CRC).
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Janu: Há um roteiro normal mas as partes podem optar por constituir Sociedades de outra forma
– via do art. 18º: partes podem optar por iniciar o contrato com um registo prévio (registo
definitivo só será possível se contrato estiver em conformidade com o registo prévio).
• O registo tem o efeito de atribuir personalidade jurídica à sociedade constituída naquele ato
constituinte – art. 5º CSC.
o Registo Constitutivo – a personalidade jurídica da sociedade só pode ser invocada após
o registo definitivo do ato constituinte.
• Eficácia constitutiva do registo não significa que sem ele o ato constituinte não produz qualquer
efeito, pois a sociedade existe ainda antes do registo e há disposições legais de natureza
societária que lhe são aplicáveis.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Situações pré-societárias
Antes da sociedade ser pessoa jurídica qua tale, nos termos do art. 5º, há situações de pré-
sociedade.
➢ Situações que estão à margem da sociedade como pessoa jurídica, mas fazem parte do
universo das sociedades comerciais.
o Caso de situações jurídicas pré-societárias a que o código dá relevância: art. 36º
o Art. 38º tem referência específica a um tipo
Estas sociedades “não-existentes”, por falta de personalidade jurídica plena, são consideradas
Sociedades Irregulares que podem abranger diversas situações:
1. sociedades com vício de forma;
2. sociedades cujo processo constitutivo ainda não estivesse concluído, designadamente
por falta de matrícula ou de inscrição no registo;
3. sociedades de facto;
4. sociedades com vícios constitutivos.
Apesar deste enquadramento, o regime das sociedades irregulares molda-se, quanto possível,
pelo das sociedades (completas).
30
Conceito de inexistência não era o mesmo em 1888 daquele que existe hoje.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Comercialística clássica portuguesa trabalhava com uma ideia de sociedade irregular que era
possível ser reconduzida a diversas figuras, que tinham em comum o facto de traduzirem uma
situação societária não totalmente conforme com a sociedade perfeita.
Não tem consagração legal expressa (se bem que se pode considerar para o disposto no art.
172º, 173º e 174º).
Doutrina e jurisprudência continuam a usar a expressão “Sociedade Irregular” para cobrir:
1. Sociedade Organizada e posta a funcionar independentemente das partem formalizado
qualquer contrato de sociedade;
2. Sociedade formalizada por escritura pública (como exigido antes de 2006) mas ainda
não registada;
3. Sociedade já formalizada mas cujo contrato seja inválido – de onde ainda se
subdistinguem situações consoante haja ou não registo.
Conceito que tem potencial descritivo e habilita a cobrir todas esta situações.
31
As invalidades não são consideradas nesta sede e sim quanto às “invalidades da sociedade”.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Sociedade Material equivale à Sociedade Aparente – que se caracteriza por não ter, na origem,
qualquer contrato ou acordo societário.
➢ Perante uma sociedade aparente podemos fazer intervir as regras da tutela da
aparência32.
➢ MC: legislador pugnou por uma total aparência de sociedade, em que os responsáveis
nem intenção têm de celebrar um contrato.
MC: pelo prisma dos terceiros não se entende a diferenciação do art. 36º/1 e 2 pois é-lhes
inacessível o facto de os “sócios” terem ou não a intenção de celebrar, no futuro, um contrato
que faltava.
• Devido a isto, a solução normal tenderá a ser a de aplicação das regras das sociedades
civis puras – cuja constituição não depende de forma especial.
32
Além da solução do art. 36º/1 há outros elementos próprios: confiança deve ser objetivamente
justificada; confiantes a tutelar devem estar de boa fé, i.e., devem desconhecer, sem culpa, a natureza
aparente da sociedade.
33
Janu: Art. 36º e ss. CSC
Disposições sobre a pré-sociedade: quando a Sociedade Comercial ainda não tem personalidade jurídica
plena pelo art. 7º e depende se é antes ou depois da celebração do contrato de sociedade.
≠ situações de Para-Socialidade (art. 17º) que informa em que medida são válidos e eficazes os acordos
entre os sócios (à margem da SC) – Januário diz que à partida são válidos desde que não conflituam com
a vida da sociedade.
• Acordos Parassociais – art. 17º
o Contratos celebrados entre todos ou alguns sócios (ou entre sócios e terceiros),
produtores de efeitos atinentes à posição jurídica dos pactuantes sócios (enquanto tais)
e, eventualmente, atinentes também a outros pactuantes (terceiros) e à vida da
sociedade, mas que não vinculam a própria sociedade.
o Podem influenciar a vida societária e intervir na delimitação de direitos e obrigações dos
sócios daí terem alguma conexão aos estatutos.
o Mas esses acordos são inoponíveis à sociedade e só vincula quem neles interveio.
o Consideram-se nulos os acordos parassociais que violem ou defraudem a lei, como em
relação à proibição do pacto leonino e acordos de voto (que obriguem sócios a votam
num determinado sentido e etc.).
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Lei permite início de atividade da sociedade mas sob o regime de sociedades civis puras.
Este artigo exige um acordo (pré-acordo em relação ao contrato da sociedade) que se bastará
como sendo muito simples e incipiente – basta o prever um acordo para futuro início de
atividade como sociedade constituída.
Não deveria conter os elementos requeridos pelo contrato civil de sociedade que se irá aplicar?
• Tem de haver um mínimo de elementos, para se poder identificar a própria situação,
mas, isso implica apenas a indicação das partes e a determinação da atividade comum
em causa.
o Pinto Furtado: preceito fala em invalidade formal pelo que se operaria uma
conversão ope legis de uma sociedade comercial de facto em sociedade civil.
▪ MC discorda: o artigo pressupõe que no futuro se possam fazer os
ajustes necessários sendo um acordo incipiente não precisa de conter
disposições quanto á administração, fiscalização e etc.; lei trata como
processo (ainda) incompleto e não se apela ao vício de forma.
▪ Há aplicação de regras civis e não uma converão de uma (inexistente)
sociedade comercial numa sociedade civil.
Deste artigo resulta que, a haver elementos suficientes para se poder falar em sociedade, ela
será civil.
➢ Isso não impede que a situação globalmente considerada seja comercial, tal como
comerciais serão os atos praticados pelos intervenientes, em nome e por conta da
“sociedade”.
CA: Art. 37º/2 apresenta exceções que não são muito compreensíveis pois são demasiado
concetualistas e não entendem as consequências práticas.
➢ MC: explica-se porque até ao registo há só mero contrato, pelo que só por mútuo
consentimento é que pode ser modificado. Também há razões societárias: sócios podem
ser responsáveis elas dívidas contraídas antes do registo e de acordo com esquemas que
variam consoante a sociedade (admitindo exonerações ou alterações por maioria
poderia prejudicar os credores e os próprios sócios minoritários, respetivamente); difícil
fixação do preciso momento da eficácia dessas exonerações ou modificações; esquema
compulsório destinado a efetivar a realização do registo.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Sociedades de Capitais
por Quotas, Anónimas, em Comandita por Ações – art. 40º
➢ Não deveria a própria pré-sociedade responder também pelas dívidas em seu nome
contraídas?
o Sim, esse é o regime das sociedades civis puras.
Art. 40º/2: O registo definitivo de uma sociedade comercial não se limita a atribuir-lhe
personalidade jurídica plena, tendo ainda o efeito de provocar a assunção, pela sociedade,
dos negócios anteriores ao próprio registo – art. 19º
• Significa que a própria pré-sociedade de capitais, já formalizada em contrato mas ainda
não registada, não ficava obrigada pelos negócios celebrados em seu nome durante esse
período;
• Tais negócios apenas respeitassem a quem, no negócio, tivesse agido em representação;
• Com o registo, eles fossem assumidos pela sociedade.
Capacidade
As pré-sociedades dispõe de uma capacidade geral similar à que compete às próprias
sociedades definitivas.
➢ O especial óbice reside na responsabilidade de quem pratique os inerentes atos.
➢ Disfruta de representação orgânica – qualquer um dos promotores (art. 36º/2) ou pelos
órgãos competentes já previstos nos estatutos (art. 38º a 40º).
Natureza
• Teoria da Sociedade de Facto – sociedade tem a sua origem no surgimento e
funcionamento, no campo dos factos (Von Gierke).
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Januário: Teoria da organização explica melhor a pré-sociedade pois as perspetivas que aqui são
trazidas devem ser trazidas em conjunto e melhor explicam a pré-sociedade.
➢ Já temos sociedade qua talle.
o Temos uma sociedade cujo processo formativo não está completo a que se
aplica regime societário – tendencialmente aplica-se regime societário com
exceção das normas que preveem já haver constituição da pessoa jurídica.
o São verdadeiras sociedades mas com modelo diferente.
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2. Sócios que atuam em nome da sociedade, solidariamente responsáveis entre si, respondem
solidariamente também com as respetivas sociedades?
• SIM: analogia com o art. 36º/2 (que remete para o art. 997º/1 e 2 CC). Mas, estas
solidariedade não funciona plenamente, pois, segundo essas normas, os sócios são
responsáveis subsidiariamente – i.e., podem exigir a prévia excussão do património
social.
3. Sócios que não agem nos negócios nem os autorizam (art. 40º/1, 2ª parte), respondem
solidariamente com os que atuam em nome da sociedade e com os sócios que autorizam tal
atuação?
• NÃO: responsabilidade dos sócios é limitada e não prevê a solidariedade, pois
assemelha-se à sub-rogação dos credores à sociedade (art. 30º/1 CSC).
Dentro da Invalidade, e quando a lei não disponha de outro modo, o vício concretizado é o da
nulidade.
• A nulidade é aplicável aos casos de invalidades antes de ter ocorrido o registo – art. 41º,
que tem duas especificidades:
o Art. 41º/1/2ª parte – as invalidades (nulidade declarada ou anulação
pronunciada) envolvem a liquidação da sociedade
o Art. 41º/2 – as invalidades resultantes de incapacidade são oponíveis, também,
a terceiros
Princípios Gerais
34
Vícios Parciais – vícios de partes do ato constituinte que só a elas afetam (ou todo o ato, mas em
determinadas circunstâncias).
➢ Antes do Registo: art. 41º/1 + 52
➢ Depois do Registo: há desvios à lei civil e tem de se ter em conta o tipo de sociedade
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A nulidade pura e simples iria comprometer todos os atos já praticados pela sociedade em jogo,
desamparando os terceiros e pondo em risco a própria confiança que a comunidade tem no
fenómeno societário.
➢ Por isso, há todo um conjunto de regras que se destinam a minimizar as consequências
dessa invalidade – favor societatis.
Negócios concluídos anteriormente em nome da sociedade – não são afetados (art. 52º/2).
➢ Entendimento parece ser perturbado pelo art. 52º/3: a contrario, parecia que a tutela
do art. 52º/2 aproveitaria mesmo a terceiros de má fé, o que não é possível, tendo em
conta os dados basilares da ordem jurídica.
o Especificidades desta disciplina justificam-se por interesses dos sócios e
também de terceiros.
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Estas devem ser as considerações que enquadrem uma parte geral, que permite melhor
conhecer e depois densificar as regras próprias de cada tipo societário.
MC – há omissão de alguns deveres que são depois repetidos a propósito de todos os tipos
societários: proibição da concorrência (art. 180º, 254º, 398º/3, 477º) e etc.
Posições jurídicas dos sócios assumem uma configuração nuclear, presente nas diversas
posições societárias.
Quais os factos suscetíveis de influenciar a concreta composição dos direitos dos sócios?
➢ Além do tipo societário, a forma como a sociedade é estatutariamente configurada.
➢ São direitos patrimoniais privados que não podem ser arbitrariamente suprimidos
(sob pena de violar o art. 62º/1 CRP).
Direitos Especiais
Schmidt tenta sistematizar os múltiplos exemplos dados pela a doutrina alemã em 3 categorias:
Direitos de participação; Direitos de permanência; Direitos patrimoniais.
Art. 24º refere a categoria dos direitos especiais dos sócios em termos gerais e não concretiza
que precisos tipos de direitos poderiam estar em causa.
➢ Jurisprudência portuguesa aponta os seguintes exemplos:
o Direito de vincular uma sociedade por quotas em juízo ou fora dele, apenas com
a assinatura do beneficiário;
o Direito de exercer atividade concorrente com a da sociedade;
o Direito de dividir ou de alienar a sua quota sem as autorizações exigidas aos
demais;
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Estes são direitos intuitu personae: estabelecido em função de um concreto titular, não sendo
transmissíveis a terceiros junto com a respetiva quota.
➢ Pode haver cláusula expressa a facultar essa possibilidade (art. 24º/3)
Quando os estatutos atribuam uma certa posição a uma pessoa, será questão de interpretação
o saber se se trata de um verdadeiro direito especial, sujeito ao art. 24º ou se antes se verifica
uma mera designação em pacto social.
➢ Não basta a atribuição de um direito, é necessário uma atribuição especial – são
direitos especiais não por pertencerem apenas a alguém, mas por pressuporem, em si,
um regime especial (diferente do comum).
Posição jurídica do sócio é complexa e os diversos direitos dos sócios são suscetíveis de se
concretizar, ou não, consoante os eventos subsequentes que rodeiem a vida da sociedade. Ex:
direito a lucros depende de haver, efetivamente, lucros e de se ter optado pela sua distribuição.
No essencial, o sócio tem o dever de entrada inicial e, depois, o direito “de sócio”.
➢ Tudo o resto é mero potencial, dependendo de fatores de natureza muito variada.
Direitos Abstratos – posição favorável protegida pelo Direito e que, verificando-se certas
ocorrências, permitirá ao sócio ver surgir um direito concreto correspondente.
Direitos Concretos – produto da concretização de uma prévia posição favorável, que assistia ao
sócio.
Ex: direito aos lucros do art. 21º/1/a é direito abstrato que permite o sócio encabeçar numa
pretensão efetiva de um lucro concreto.
Direito abstrato surge como uma expetativa em relação a um bem final futuro, pressupondo um
processo no termo do qual esse bem poderá surgir.
• É expetativa juridicamente tutelada: diversos procedimentos instrumentais estão
previstos e devem ser respeitados, sob cominações jurídicas.
• Pressupõe direitos instrumentais que são suscetíveis de efetivação. Ex: direito de acesso
às instalações sociais, de informação, consulta de documentos e etc.
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• MC: são verdadeiros direitos porque permitem exprimir uma posição favorável do
sujeito, tutelada pelo Direito, de exercício permitido e reportado a vantagens suscetíveis
de expressão linguística unitária.
o Inscrevem-se no Estado de Sócio.
O Estado de Sócio tem diversos direitos que podem ser objeto das mais diversas classificações:
1. Valores patrimoniais – direito aos lucros ou “quinhoar nos lucros” (art. 21º/1/a) que pode
implicar outros direitos instrumentais. Há diversas posições ativas de tipo patrimonial (art.
24º/1, 29º/1, 31º a 35º, 77º/1, 37º/2/2ª parte, 94º/1 e 95º/4/d, 105º/1, 112º/b, 120º, 137º/1,
147º/1, 148º/1, 156º/1 e 164º/1).
➢ Podem também dispor da participação social atendendo ao disposto para o tipo
societário correspondente
3. Valores pessoais do sócio – há uma teia de direitos e deveres mútuos surgindo ainda diveras
outras posições ativas.
• Direitos Parassociais: posições pessoais obtidas por força dos acordos, mas, apenas
devido à qualidade de sócio e no âmbito do status deste – art. 17º.
• Direito à Lealdade: relações entre sócios si e destes para com a sociedade. Concretiza-
se na proibição da concorrência, por exemplo.
• Direito ao respeito do estado de sócio: é qualidade do sujeito que deve ser respeitada.
Ex: ser impedido de falar numa assembleia geral pode representar uma violação dos
seus direitos participativos e configurar-se um atentado à sua integridade moral.
Direitos Gerais: pertencem, em regra, a todos os sócios da mesma sociedade, ainda que em
medida diversa.
Direitos Especiais: atribuídos no contrato social a certos sócios ou a sócios titulares de ações de
certa categoria, conferindo-lhes uma posição privilegiada que não pode em princípio ser
suprimida ou limitada sem o consentimento dos respetivos titulares.
Ex: ceder a quota sem necessidade de consentimento da sociedade (art. 228º/2 + 229º/2)
➢ A simples designação de gerente(s) no contrato de sociedade significa a atribuição de um
direito especial à gerência? Não, a designação de gerentes no contrato social é um modo
alternativo da eleição posterior por deliberação dos sócios (art. 252º/2)
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Art. 24º - sem cláusula estatutária correspondente estes direitos especiais não existem, ou
melhor, são ineficazes em relação à sociedade (ainda quando todos os sócios tenham acordado
na sua criação).
É possível criar direitos especiais para sócios por alteração do contrato social (com nova cláusula,
art. 85º)?
• Sim, se a alteração contratual for votada por unanimidade (devido ao princípio da
igualdade de tratamento dos sócios – presente no CSC em várias normas, que diz que
os sócios devem ser tratados de modo idêntico, não devendo haver discriminações
arbitrárias).
• No entanto, uma deliberação tomada por maioria qualificada que introduz no contrato
uma cláusula conferindo direito especial a apenas um/alguns sócio(s) pode ser válida e
não violar o princípio de igual tratamento, quando o interesse social impõe ou
recomenda essa alteração estatutária.
o Pode haver direito especial atribuído a todos os sócios – devido à maior
proteção de que goza o seu direito.
o Não faz sentido em todos os direitos mas apenas nalguns. Ex: direito especial à
gerência de todos garante que cada um dos sócios não pode ver a cláusula
eliminada ou modificada sem o seu consentimento.
Obrigação de Entrada
Art. 980º CC apresenta a entrada como uma das obrigações essenciais do contrato de sociedade.
Art. 20º CSC: entrada como elemento essencial que tem regime na parte geral e traços próprios
na parte especial.
➢ Uma pessoa para ser sócia tem de contribuir para o elemento constitutivo.
➢ Uma participação social só pode ser atribuída conforme a entrada.
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O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade nos termos do art. 9º/g, h – quer
quantitativa quer qualitativamente.
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Art. 25º/3 – há várias perturbações que são possíveis (ex: desencontro entre valor atribuído pelo sócio
e valor objetivo do bem).
36
Se sócio entrar com bem, não a título de propriedade mas com outro título, e depois há privação do
uso desse bem? E se entrar como proprietário e depois perceber que não é proprietário?
➢ Nesses casos sócio realiza a entrada em dinheiro.
➢ Perturbações que resultam do estatuto jurídico do bem.
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A + B = Entradas em Bens
• Bens: dinheiro ou bens de outra natureza (art. 28º);
o Situação normal é realizar entradas com dinheiro (se for outro bem, tem de ser
avaliado o valor do mesmo).
o Têm tradução no capital social.
• Levanta-se a questão se têm de ser bens suscetíveis de penhora (art. 20º/a CSC) – há
relação entre a garantia patrimonial e a suscetibilidade de os bens poderem ser afetado.
o Doutrina tem vindo dizer que esta opção do legislador é uma hiperbolização da
função de garantia – tem de se agilizar estas questões.
• Art. 20º/a é inspirado em Diretiva europeia que diz “bens suscetíveis de avaliação
económica”.
o Se interpretarmos em conformidade com a Diretiva, uma interpretação menos
rígida leva a optar por esta posição: entrada pode ser constituída por qualquer
bem suscetível de ser avaliado economicamente, o que não é sinónimo de “bens
suscetíveis de penhora”.
o O núcleo de bens suscetíveis de penhora são bens suscetíveis de alteração
devido a motivações políticas.
C = Entradas em Indústria
• Não são contabilizadas no capital social
o A razão da exclusão das Entradas em Indústria nas sociedades capitais é porque
é mais difícil a avaliação, não há deliberação instantânea e a indústria vai sendo
cumprida (caráter futuro e sucessivo), impossibilidade de execução específica.37
o Não funciona a garantia dos credores.
• Só se admitirem estas entradas nas SNC é um afloramento de que as SNC personificam
as Sociedades-Pessoas: tem esta nota de pessoalidade devido às características de
confiança que têm este tipo de entradas
➢ Sendo arrendatário entra para a sociedade como arrendatário desse espaço. Entretanto
arrendamento extingue-se. Sociedade fica privada desse bem.
37
Proibições de entradas em indústria nas sociedades de capitais podem ser questionas se, ao falarmos
em prestações acessórias, por esta via, não estamos a fazer entrar pela janela o que se fez sair pela porta.
Admitem-se prestações acessórias a cargo dos sócios que podem ser de indústria, mas não se admite que
a entrada seja em indústria.
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Entrada não tem de se destinar necessariamente à cobertura do capital social – art. 178º/1 CSC
Obrigação de entrada é, à partida, uma obrigação comum em que, como devedor, surge o sócio
e, como credor, a própria sociedade.
Januário: Princípio que o valor nominal da participação social não pode ser superior ao valor da
entrada – na prática significa que o valor da entrada é o limite máximo do valor nominal da
participação social, apesar de não terem de coincidir.
O valor da entrada não pode ser inferior ao da participação nominal atribuída ao sócio.
Art. 295º/3/a – acionista pode desembolsar mais pelo valor das ações do que o valor nominal;
isso configura o ágio
O Ágio/Emissão Acima do Par (em regra nas SA) justifica-se por 3 ordens de razões que muitas
vezes operam em conjunto:
i. constituição da sociedade e congregação de esforços nesse sentido vale dinheiro;
ii. sociedade pode gerar expetativas de negócio que conduzam a uma sobrevalorização de
mercado;
iii. sociedade pode representar um valor real que ultrapasse o valor nominal do capital.
38
Know-how puro é entrada em indústria
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➢ Reservas de ágios só são indisponíveis até ao limite do valor da reserva legal: apenas o
montante necessário para completar a reserva – se esta não estiver totalmente
integrada – não é, em rigor, de utilização livre.
Obrigação de Entrada deve ser realizada no momento da outorga da escritura, salvo quando o
contrato preveja o diferimento das entradas em dinheiro e a lei o permita.
• É diferida nas: sociedades por quotas (art. 202º e 203º); sociedades anónimas (art.
277º/2).
• Não é possível nas Sociedades em Nome Coletivo.
• Não é possível para Entradas em Espécie.
Ao levantar suspeição provoca reação mais acutilante dos órgãos próprios dos órgãos da
sociedade.
➢ Órgão de fiscalização e de administração têm dever de vigilância.
Relevo das Entradas: articulação dos bens que entram na sociedade e a tutela dos credores da
sociedade.
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▪ Não estão a exigir satisfação dos próprios créditos mas sim satisfação
dos créditos da sociedade, fortalecendo o património desta.
▪ Art. 606º CC: pode promover-se judicialmente as entradas a partir do
momento que estas sejam exigíveis.
o Art. 30º/b não vai permitir acelerar os tempos de pagamento de prestações
específicas de entradas que foram diferidas.
▪ Alínea pró-sociedade.
▪ Não permite alterar as diferidas se articulado com o art. 606º
Além das obrigações principais, aos sócios pode ser imposto outras obrigações de entrada –
prática de os sócios disponibilizarem meios financeiros à sociedade para alem das entradas para
o capital (Ana Perestrelo Oliveira).:
• Obrigações estão previstas no contrato de sociedade, qua tale – necessidade de realizar
essas prestações não carece de nova deliberação da sociedade
• Obrigações que são previstas pelo contrato social mas que requer uma deliberação
social.
É possível alterar os estatutos e introduzir cláusulas relativas a estas obrigações (art. 85º, 265º,
386º/3, 4).
➢ Porém, deliberada uma tal introdução, ela não produz efeitos relativamente aos sócios
que a não tenham votado favoravelmente, não ficando eles obrigados a efetuar
prestações acessórias – art. 86º/2
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O art. 287º/3 tem mais disposições do que o art. 209º/3, mas, o que se estatuiu a mais para
as SA aplica-se por analogia às Sociedades por Quotas.
A contraprestação a cumprir pela sociedade, pela prestação acessória, pode ser determinada
posteriormente mas não pode exceder o valor de mercado da prestação acessória, pois tal
abriria uma porta para a descapitalização das sociedades e para a restituição de entradas aos
sócios.
Meios de financiamento privativo das sociedades por quotas – prestações em dinheiro sem
juros que a sociedade exigirá aos sócios quando, havendo permissão do estatuto, uma
deliberação social o determine.
O estatuto pode ser originário ou alterado (alteração para a qual se exige maioria qualificada –
art. 265º/1).
• Fixará o montante global destas prestações (art. 210º/3/a + 210º/4) – têm sempre
dinheiro como objeto
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Estas prestações suplementares podem ser restituídas desde que deliberação dos sócios o
autorize (art. 213º).
Doutrina entende que SA não é compatível com este quadro das prestações suplementares.
• Januário: mas não parece fazer sentido que à partida haja impedimento numa SA que a
prestação seja em dinheiro.
o Mas pode haver solução em que contrato de sociedade preveja essa opção?
o Janu: sim, mas não se aplica a totalidade do regime. Há um cherry-picking desse
regime e aplica-se o compatível com as SA.
Ana Perestrelo Oliveira: Analogia das Sociedades por Quotas às SA não pode ser feita, devido à
regra da nominatividade obrigatória das ações (art. 299º/2/e, por analogia).
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Suprimentos
CONTRATO DE SUPRIMENTO – ART. 243º39
Os atos só são de suprimento quando a sociedade está em situação de crise financeira ou tendo
decidido ampliar a atividade ou os investimentos, as necessidades sociais (não passageiras)
sejam por eles satisfeitas em vez de serem satisfeitas por novas entradas de capital.
39
Importante com e para a Lei 7/2018
40
Januário: Explica-se em função especificamente societária deste regime: suprir insuficiências de capital
da sociedade, tendo uma vocação de substituir novas entradas – lógica de mecanismo substitutivo de
novas entradas.
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Os sinais reveladores dos suprimentos não se esgotam nestes índices e podem manifestar-se
através de outros (em conformidade com isto: art. 243º/4/1ª parte).
➢ Apesar de o crédito ser mantido menos de um ano, podem os credores da sociedade
provar que ele era um crédito de suprimento – porque tinha caráter supletivo do capital
social.
Estas presunções iuris tantum podem ser ilididas pelos sócios credores mediante prova em
contrário (art. 243º/4/2ª parte).
➢ Podem demonstrar que o crédito não é um suprimento porque não faz as vezes de nova
entrada de capital que o sócio enquanto tal (interessado na sobrevivência ou no
desenvolvimento da “sua” sociedade” deveria ou poderia ter realizado.
Art. 243º/5 visa prevenir a defraudação do regime legal dos suprimentos, não introduzindo uma
terceira modalidade de contrato de suprimento, pois não há nesse caso qualquer acordo entre
o sócio e a sociedade – trata-se antes de um caso em que, por força da lei, certos créditos de
sócios ficam sujeitos ao regime dos suprimentos.
• Admite a hipótese que um crédito originariamente de um sócio ser cedido a terceiro;
esse crédito continua sujeito ao regime dos suprimentos.
o Este regime é efetuado por um sócio, que tem interesse na sociedade pois com
ela quer auferir vantagens (receber o lucro) – interesse especificamente
societário do sócio.
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Possibilidade de obrigação de efetuar suprimentos ter por fonte não um contrato autónomo mas
o próprio estatuto social ou uma deliberação dos sócios (art. 244º/1, 2).
O contrato de suprimento é um contrato típico não confundível com o contrato de mútuo e que
se compreende unitariamente num contexto societário.
➢ Este contrato é quo effectum.41
➢ Do próprio contrato social nasce a obrigação de efetuar suprimentos, que integra a
quota dos sócios vinculados, não sendo necessário logo efetuar uma entrega de
dinheiro. A posterior entrega de dinheiro é execução de contrato e não elemento
constitutivo de um contrato real.
O credor por suprimentos tem direito a ser reembolsado – essa restituição é condicionada
pelos interesses da sociedade e dos credores sociais, pois estas prestações são substitutivas de
entradas de capital.
➢ Regime no art. 245º
o Januário: regime que não é pensável em termos civis pois sócio é credor especial
– ele é credor na qualidade de sócio.
o Tem de se ter em conta as consequências para a sociedade desse reembolso.
o Os credores são credores interessados na sociedade, por serem sócios, e
atendendo à função substitutiva de capital, compreende-se o art. 245º/2.
41
Este negócio é um contrato real quanto à constituição?
➢ Janu: no campo bancário há uma tipicidade social que os mútuos bancários não são contratos
reais quanto à constituição, apesar da remuneração só fazer sentido após coisa ser entregue.
o É formalista e artificioso e exagerado, sem contemplar especificidade de lógica
societária (art. 243º/6), considerar este como um contrato real quanto à constituição.
o Não faz sentido essa caracterização para que se aplicasse rigidamente o direito civil (em
que o mútuo é real quanto à constituição).
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Esta disciplina dos suprimentos para as Sociedades por Quotas é aplicável a outros tipos
societários?
Sim, em qualquer tipo de sociedade é possível ocorrerem insuficiências de capital, sendo que
tais insuficiências podem ser supridas com meios que o art. 243º qualifica como suprimento. É
pois razoável, ou mesmo imperioso, que a proteção dos interesses das sociedades e/ou credores
sociais externos valha igualmente para as sociedades que não sejam por quotas.
É lícito no estatuto de uma SA estabelecer-se que alguns acionistas podem efetuar suprimentos.
➢ Consequentemente são lícitos os negócios acessórios (art. 294º).
➢ Como o contrato de suprimento é típico, é lícito estabelecer-se no estatuto de uma SA
a obrigação acessória de um, alguns ou todos os acionistas efetuarem suprimentos.
o Também são lícitos suprimentos que têm por fonte deliberações ou contratos –
aplicado analogicamente com o previsto para as Sociedades por Quotas.
Este regime especial dos suprimentos, que fragiliza o crédito do sócio (em termos de recuperação
de crédito a posição é mais frágil), dá base para que se aplique a todos os ócios da SA ou só
alguns sócios?
Doutrina tem entendido que se aplica aos sócios com interesses societário.
Por influência alemã tem-se que o regime de contratos de suprimento não deve aplicar-se a
qualquer sócio das SA mas somente aos acionistas com verdadeiros interesses societários ou
empresariais (acionistas empresários).42
➢ Quem são estes acionistas empresários?
o Atendendo ao art. 392º/1, 6 e art. 418º/1 diz-se que são os que possuem ações
correspondentes a 10% ou mais do capital social.
▪ Coutinho de Abreu discorda.43
▪ Todo e qualquer acionista pode ter créditos sobre a sociedade com
caráter de permanência e funcionalizados a suprir insuficiências do
capital social.
▪ Todo e qualquer acionista pode ser credor da sociedade.
42
Ideia de Raúl Ventura em que só os acionistas empresários estão intrinsecamente ligados a essa SA e
têm interesse em revitalizar a sociedade, devido ao volume elevado da sua participação social
43
Januário: porquê exigir 10? É manifestamente infundado. Qualquer acionista pode ser credor por
suprimento (porque há sócios só com 2% mas que têm interesse em que a sociedade não esteja com
insuficiência de capital)
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Quanto às SNC
Regime dos suprimentos é aplicável por analogia.
➢ Contudo, dada a responsabilidade ilimitada dos sócios, não será aplicáveis algumas
normas especialmente tuteladores dos interesses dos credores sociais externos
(designadamente a do art. 245º/3).
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Direito à Informação
Art. 21º/c - direito dos sócios
Conteúdo:
• Deveres de informação substanciais – obrigado está adstrito a veicular a verdade que
conheça. Descrevendo-a de modo compreensível e explícito.
• Deveres de informação formais – obrigado compete transmitir elementos prefixados.
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INFORMAÇÃO ORDINÁRIA - tem a ver com a gestão comum da sociedade e com os negócios
que não caiam sob específicas previsões de informar.
INFORMAÇÃO PRÉVIA - ocorre antes de cada assembleia geral para uma deliberação
esclarecida. Prevalece na sociedade de capitais.
Nem todos os assuntos relativos à sociedade podem ser dados a conhecer a todos os sócios. Há
quatro círculos de matéria informativa societária, ordenados em função do acesso que a eles se
tenha.
1º. INFORMAÇÃO PÚBLICA - disponibilizada a todos os interessados, sócios ou não sócios.
Ela resulta do registo comercial e das publicações obrigatórias.
2º. INFORMAÇÃO RESERVADA – disponibilizada aos sócios. Deveria de assistir a todos os
sócios, mas a dispersão do capital em certas SA levou a limitar, nesse âmbito, aos
detentores de 1% do capital social (art. 288º/1 - direito mínimo à informação)
3º. INFORMAÇÃO QUALIFICADA – disponibilizada apenas aos sócios que detenham
posições mais consideráveis no capital da sociedade. Nas SA requerer-se que sejam 10%
do capital (art. 291º) e nas sociedades por quotas são todas (art. 214º) pois todas são
consideradas, em princípio, qualificadas. Informação que mergulha mais fundo na vida
da sociedade.
4º. INFORMAÇÃO SECRETA - não pode ser disponibilizada aos sócios. Informação sujeita a
sigilo profissional ou de informação que, ao ser divulgada, poderia prejudicar os sócios
ou a própria sociedade.
A enumeração legal dos elementos mínimos de informação quanto às SA (art. 288º a 290º) é
taxativo ou acrescentam-se todos os outros suscetíveis de integrar a "vida da sociedade" (nos
termos do art. 21º/1/c)?
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Art. 290º/1 é lato mas não abrange tudo: apenas matéria pertinente com o que se delibere
(fazendo um juízo de razoabilidade)
➢ Estas informações substantivas estão limitadas por: o que prevê art. 290º/1; ser
informação pública ou no âmbito do art. 289º; art. 290º/2, in medio; art. 290º/2, in fine.
Art. 291º/4 interpreta-se restritivamente e não como a informação secreta a ceder perante
invocação de se tratar de efetivar a responsabilidade dos administradores ou outros titulares
de órgãos.
➢ Segredo profissional não pode ceder, a não ser em casos previstos na lei e com
intervenção do juiz.
➢ Este artigo contém a informação secreta.
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Este direito pode ser bloqueado por abuso de direito ou violação da lealdade.
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Capital Social: cifra representativa da soma (dos valores) das entradas dos sócios.
• CA discorda – valor das entradas em indústria não é computado no capital social, valor
das entradas em dinheiro ou espécie podem ser superior ao valor das participações
sociais e etc. Propõe a definição como: cifra representativa da soma dos valores
nominais das participações sociais fundadas em entradas em dinheiro e/ou espécie.
Capital Social Real: montante de bens da sociedade destinados a cobrir o valor do capital social
estatutário. Integra-se no património (líquido) da sociedade, mas não se confunde com este
Património Social: conjunto de relações jurídicas com valor económico (i.e., avaliável em
dinheiro).
➢ Pode ser considerado o património global, bruto ou líquido
➢ Se nem todas as sociedades têm de ter capital social, todas elas têm património.
o Logo no momento inicial ele é constituído pelos direitos correspondentes às
obrigações de entrada.
➢ Depois, à medida que decorre a vida societária, o património vai-se alterando com a
entrada e saída de outros direitos ou bens e de obrigações.
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• Reservas – valores que os sócios não podem distribuir (por lei ou contrato) ou deliberam
não distribuir. As reservas não correspondem a bens determinados ou especificados,
sendo um valor ideal. As reservas viam fazer face aos riscos da atividade económica e
em certos casos têm fins específicos.
Não se confunde com o “capital próprio” (do art. 32º e 35º) – entendido enquanto situação
líquida da sociedade (ou seja, o ativo deduzido o passivo).
Capitais Próprios: capital social + reservas de ágio + outras prestações + reservas
Capital Social (nominal) = cifra estável que representa a soma dos valores nominais das
participações sociais assentes em entradas em dinheiro ou em espécie ou dos valores de
emissão das ações sem valor nominal.
➢ É valor abstrato constante dos estatutos e não se modifica (salvo alteração, por iniciativa
dos sócios). Difere do património social que corresponde ao conjunto das situações
jurídicas de valor económico de que a sociedade é efetivamente titular.
➢ Quanto ao ágio, tal não é computado no capital social, pelo que nunca se pode dizer que
o capital social é a soma das entradas. O mesmo em relação às entradas em indústria.
Capital Social (real) = parte do património da sociedade que é necessária para cobrir a cifra do
capital social. Tem correspondência efetiva no património e é uma fração deste, correspondente
a bens ou situações jurídicas não especificadas ou não concretamente determinadas, ou seja, é
a parte ideal necessária para cobrir o valor do capital social.
Na Europa, em virtude da 2ª Diretiva, aplicável às SA, não se eliminou a noção de capital social
(para regime mais flexível), e manteve-se em termos obrigatórios para as SA.
Relatório Rickford vem tecer muitas críticas ao modelo do capital social e a sua aplicação às
sociedades.
➢ Este relatório, tomando como ponto de partida a proteção dos credores, propõe um
modelo alternativo: tem de se assegurar aos credores, através de balanço razoável ou
de proporcionalidade, uma expetativa razoável e justa de obterem o pagamento, ao
mesmo tempo que se confere aos acionistas uma expetativa equivalente de retorno do
seu investimento.
➢ Não são interesses opostos, na medida em que também é do interesse dos credores que
a empresa tenha meios para angariar capital, o que exige que o investimento em capital
tenha uma probabilidade razoável de retorno.
➢ Propõe um teste de liquidez e um teste de solvência, que veio exigir regras de
responsabilização pessoal dos administradores muito aprofundada.
Independentemente das críticas em que está envolto o conceito de capital social e das dúvidas
sobre a respetiva capacidade de tutelar credores, esta é atualmente a base de um sistema de
proteção que radica em dois princípios:
1. Princípio da constituição ou formação real do capital social – visa garantir que, pelo
menos no momento inicial da constituição da sociedade, a cifra correspondente ao
capital tem, efetivamente, correspondência em bens ou património social.
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LUCROS
Noção ampla: ganho traduzível em incremento do património da sociedade.
Lucro de Exercício: excedente do valor patrimonial social líquido no final do exercício sobre o
valor do património social líquido no início do mesmo período. Releva para a constituição de
reservas.
Lucro Final: apurado na fase terminal da sociedade, nas contas finais de liquidação, e
corresponde ao excedente do património social líquido sobre o capital social.
Distribuição de lucros de balanço: em regra sócios não têm um direito propriamente dito ao
lucro de balanço ou total (balizado no art. 32º).
44
Atendendo aos art. 809º, 812º/1, 863º/1, 942º/1, 947º/2 CC
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Distribuição é feita tutelando os credores, à luz do art. 32º/1 – apenas podem ser distribuídos
aos sócios valores que, tecnicamente, se devam considerar como lucros.
• Em princípio, no que a situação líquida ultrapasse o capital e as reservas não
distribuíveis, há “lucro”.
• Processo de distribuição dos bens (art. 31º) é coerente com o sistema.
• Lucros e Reservas não distribuíveis – art. 33º
Distribuição de lucros e outros bens aos sócios constitui dois níveis de preocupações:
1. Proteção dos credores – que contam com o património da sociedade para a satisfação dos
seus créditos
2. Proteção dos sócios – que têm exigências de igualdade entre eles e o art- 22º dispõe,
supletivamente, a distribuição dos lucros na proporção das respetivas participações sociais, não
podendo tal ser afetado por distribuições indiretas.
• Processo de distribuição de lucros aos sócios assenta num processo que começa pela
determinação do lucro distribuível a partir dos documentos contabilísticos da sociedade
(art. 65º, 66º e etc.).
• Materialmente, a distribuição de lucros aos sócios – dividendos, uma vez distribuídos –
está sujeita a limites máximos (art. 32º e 33º) e mínimos (art. 217º e 294º).
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o Toda e qualquer distribuição que tenha por objeto dinheiro, terá de respeitar a
regra do art. 32º (apesar do Acórdão do STJ de 10/5/2011 não ter assim
considerado).
➢ Como é sublinhado pelo Relatório Rickford, as distribuições aos sócios tipicamente
assumem a forma de dividendos mas podem ter também lugar através da compra ou
amortização de ações próprias.
➢ Devido ao art. 34º/5, é possível que haja distribuição de lucros também em termos
indiretos, o que é contemplado pelo art. 32º.
A natureza societária do contrato, estabelecido nos termos do art. 980º (que tem presente
uma lógica de repartição dos lucros entre sócios), não se descaracteriza quando não é visado
o lucro ou a sua distribuição pelos sócios
➢ Visão contratualista do fim social – sócios, ao abrigo da autonomia privada, devem
poder fixar o fim das sociedades que fundam. O que não pode é a sociedade ser
constituída para prosseguir o lucro e, e forma imprevista, abandonar esse propósito.
Não há razão para se interpretar restritivamente a referência dos art. 217º e 294º quanto à
cláusula contratual derrogatória da obrigação de distribuição dos lucros.
• Assenta numa petição de princípio a posição segundo a qual a atividade da sociedade
terá de ser lucrativa e o lucro apurado distribuído aos sócios, i.e., ao lucro objetivo
acresceria necessariamente o lucro subjetivo, de tal maneira que a cláusula estatuária
em contrário, referida nos art. 217º e 294º, deveria ser objeto de entendimento
restritivo.
= Cassiano dos Santos
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• Mas se não tiver havido aprovação de contas, é indiscutível que não se formou ainda
qualquer direito aos dividendos, há que não se verificou o apuramento dos lucros para
os efeitos legais.
• Se tiver havido aprovação de contas mas o art. 217º/294º foi violado pela deliberação
de aplicação de resultados – deliberação anulável mas tendo em conta o art. 58º/1/a
PERDAS
Perdas Sociais são decréscimos ou quebras no património da sociedade.
• De balanço: diferença negativa, registada em balanço, entre o valor do património social
líquido e o valor do capital social e reservas indisponíveis.
• De exercício: diferença para menos do valor do património social líquido no final do
exercício relativamente ao que se verificava no início desse mesmo período.
• Final ou de liquidação: perda que se traduz na diferença negativa entre património
social líquido no termo da liquidação da sociedade e o capital social.
Januário: como é que a obrigação de quinhoar as perdas, do art. 20º/d, se relaciona com o tipo?
• Previsão tem sentido específico e é diferente consoante o tipo, tendo de ser articulado
com o regime da dissolução e liquidação.
• Art. 20º/b – quinhoar nas perdas não pode ser igual para os diferentes tipos. Temos de
articular esta disposição com os regimes específicos dos tipos.
• Quinhoar nas perdas significa suportar a perda da entrada, no momento da extinção.
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Reservas
Reserva Societária é a cifra representativa de valores patrimoniais da sociedade, derivados
normalmente de lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir, que serve
principalmente para cobrir eventuais perdas sociais e para autofinanciamento.
Normalmente derivam de parte de lucros – que não podem ser distribuídos aos sócios (reservas
legais e estatutárias) ou que estes deliberam não distribuir (reservas facultativas ou livres).
Art. 296º - qualquer reserva é utilizável para cobrir prejuízos, porque impede a saída de bens
sociais da sociedade para os sócios, promovendo a utilização de meios próprios no
desenvolvimento da sociedade, sendo formas de autofinanciamento.
RESERVAS ESTATUTÁRIAS
No estatuto social (originário ou alterado), podem os sócios estabelecer que certa percentagem
dos lucros de exercício será afetada a uma reserva.
• Podem, ou não, indicar-se as aplicações possíveis.
o Todavia, o facto de uma reserva ter uma destinação específica não impede que
ela seja aplicada na cobertura de perdas (art. 296º/a, b).
• Deliberações que desrespeitem são anuláveis (art.58º/1/a, in fine), mas, são nulas as
deliberações de distribuição de bens sociais que desrespeitem a intangibilidade da
reserva estatutária, a sua constituição ou reconstituição (art. 32º, 33º/1, 56º/1/d).
RESERVAS LIVRES
Constituídas por deliberação dos sócios, respeitando as balizas dos art. 217º e 294º, que afetam
a estas reservas a totalidade ou parte dos lucros de exercício distribuíveis.
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DELIBERAÇÕES SOCIAIS
Deliberação dos Sócios (de acordo com o direito à participação do art. 21º) – tratamento
normativo das próprias deliberações
Pensamos na Assembleia Geral – mas na dinâmica da Sociedade não são as únicas deliberações
possíveis e podem haver deliberações, com especificidades próprias de outros órgãos.
Januário: Numa sociedade unipessoal parece estranho falar-se de deliberação por unanimidade
e por escrito. Mas é o que acontece porque o paradigma é a pluralidade de sócios.
➢ Nas sociedades pluripessoais, a AG congrega a vontade de todos os sócios.
➢ Direito dos sócios, de participar, pelo art. 21º CSC.
CSC adota a terminologia de “Deliberações dos Sócios” pois os sócios podem deliberar não só em
assembleia mas também, em alguns casos, em reunião.
➢ Os sócios votam, emitindo assim declarações de vontade, mas a deliberação é imputável
à sociedade.
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➢ A deliberação não deixa de ser uma “deliberação social” pelo facto de os sócios se
reunirem e votarem sem ser em assembleia.
A deliberação social implica uma coordenação entre as distintas pessoas que nela possam
participar – tem de haver procedimento prévio a seguir.
➢ Tem de existir um conjunto de atos concatenados para obter-se um fim (a própria
deliberação).
➢ Tomando a deliberação das sociedades anónimas temos o seguinte quadro:
convocatória cabal, reunião da assembleia, uma ou mais propostas, um debate, uma
votação, elaboração da ata.
Do art. 54º/1 resultam dois grandes tipos de procedimento, para efeitos de deliberação social:
1. Deliberação em Assembleia – que tem de ser interpretada de forma atualista enquadrando,
se os estatutos preverem, reuniões telefónicas, por teleconferência e etc. Há uma assembleia
quando entra as diversas manifestações de vontade não haja um lapso de tempo juridicamente
relevante.
➢ Assembleias Universais: dispensa o esquema das convocatórias e só pode deliberar
sobre assuntos que todos os sócios tenham concordado por à apreciação do coletivo
societário (art. 54º/2).
o Depois de montada e em funcionamento, com o acordo de todos quanto á
ordem do dia, pode funcionar por simples maioria nos termos gerais.
o Nas Assembleias Universais não tem de haver unanimidade – não há
formalidades prévia (convocatória e etc.) e todos se reúnem e mostram a
vontade, conferindo assim a vontade da sociedade (através da deliberação).
o Mecanismo eficaz e operacional nas sociedades de pequena/média dimensão.
o Uma vez mostrada a vontade de deliberar, funcionam as regras da Assembleia
em função do tipo – art. 54º/2
➢ Assembleias comuns: quanto ao presencial tem de se ler atualisticamente e pela
internet através de videoconferência pode se considerar como presencial.
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Coutinho de Abreu: Registo em documento escrito das deliberações tomadas pelos sócios em
assembleia ou por voto escrito, e ainda de outros dados do respetivo procedimento
deliberativo.
➢ Documento de onde consta o relato, mais ou menos pormenorizado, do decurso de uma
reunião.
➢ Tratando-se de deliberações dos sócios a ata reportar-se-á à Assembleia.
Apesar do art. 63º/1 CSC, as atas não dizem somente respeito às deliberações tomadas em
Assembleia e podem corresponder também às deliberações por voto escrito (art. 247º/6;
59º/2/b).
➢ Somente as deliberações unânimes por escrito não têm de ser exaradas em ata (apenas
a elas se aplica o “por escrito” do art. 63º/1/2ª parte).
SA: assinada pelo presidente de mesa da assembleia e secretário (ou secretário da sociedade)
(art. 388º/2; 446º-B/1/b).
Sociedades por Quotas + SNC: assinada por todos os sócios (ou seus representantes) que
tenham participado na respetiva assembleia. Quanto ao voto escrito, são assinadas pelo gerente
que a redigiu.
Art. 63º/3 – tem de ser um documento escrito, a mera gravação não vale como ata.
➢ Exigência de notificação judicial do art. 63º/3 tem sido muito criticada pela sua
inutilidade pois poderia bastar esperar os 8 dias e verificar se o sócio faltoso assina ou
não.
Art. 63º/4/1ª parte – atas devem ser lavradas no “respetivo livro”. Podem ser folhas soltas
datilografadas e depois encadernadas (art. 63º/5 e 6).
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Ata tem uma função probatória forte e é um meio exclusivo de prova – só vale o que constar
do documento.
➢ O art. 63º/1 retoma uma jurisprudência tradicionalista, que retirava a eficácia às
deliberações não reduzidas a atas.
Natureza
Ata visa completar a deliberação; trata-se de uma formalidade ad probationem (condiciona a
prova da deliberação); na sua falta a deliberação não é eficaz; pode ser afasta por falsidade sem
que, para o efeito, o Direito limite os meios de prova.
➢ Por razões de segurança jurídica, a ata é meio exclusivo de prova – sentido da
deliberação só pode ser provado através da ata.
Há casos em que se dispensa a ata: art. 59º/4 (remissão para o art. 63º/3)
➢ Não se bloqueia a ação de anulação por falta de ata, mas esta mantém o seu poder
probatório fazendo o processo aguardar.
➢ Não sendo exibida ou faltando, juiz conclui que não houve deliberação e decreta-o.
A ata registada goza ainda da proteção conferida pelo registo comercial: positiva e negativa.
Uma deliberação efetivamente tomada mas não documentada em ata (porque esta não foi lavrada
ou, tendo-o sido, não faz menção à deliberação) sofre por isso em termos de validade ou
ineficácia?
Coutinho de Abreu: uma deliberação adotada pelos sócios em forma apropriada é, apesar da
falta de ata, de facto, juridicamente existente.
• A ata é a forma de expressão da vontade deliberativa, não sendo forma nem
formalidade ad substantiam, por isso não é nula a deliberação sem ata.
• A falta de ata não inquina o conteúdo da deliberação e também não vicia o
procedimento deliberativo.
• A ata não é condição de eficácia da deliberação.
• Acarreta consequências negativas, mas diferente da ineficácia das deliberações.
• Função das ata é certificativa, atestando o que mais releva da atividade deliberativa,
promovendo assim maior segurança no funcionamento societário e informação mais
certa dos sócios.
• A ata é meio de prova, não condição de eficácia das deliberações.
Ineficácia e Invalidades
Invalidade das deliberações sociais é um tema de ineficácia de atos jurídicos.
➢ As deliberações podem ser inválidas (nulas ou anuláveis) mas também ineficazes (em
sentido estrito – art. 55º).
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
O que o CSC não prevê são deliberações juridicamente inexistentes. Há lugar para elas?
• SIM: quando os factos não correspondam a qualquer forma de deliberação dos sócios (ex:
decisões de trabalhadores são invocadas pela administração como deliberações sociais)
e/ou quando os factos não correspondem à forma de deliberação invocada (ex: há ata de
assembleia geral que fez x, y, z mas essa assembleia nunca existiu).
o Estas deliberações não produzem quaisquer efeitos – nem sequer efeitos laterais
ou secundários (como os produzíveis por deliberações nulas ou anuladas: art.
61º/2 e 62º).
o A inexistência pode ser invocada a todo o tempo por qualquer pessoa, não
carecendo de declaração judicial.
A introdução de uma doutrina da invalidade no domínio das deliberações sociais foi complexa e
demorada, sendo que os Códigos Comerciais de primeira geração nada diziam sobre o assunto.
Consequências:
• Deliberações Aparentes – deliberações que sejam levada ao registo comercial e na base
das quais certos terceiros tenham adquirido direitos, de boa-fé.
o Mesmo quando não correspondam a qualquer materialidade, elas produzirão
efeitos, de acordo com as regras do registo.
Regra absoluta e total – faltando o consentimento de sócio(s) exigido por lei, as deliberações não
produzem, perante todos (sócios ou não), qualquer dos efeitos a que tendiam.
➢ Esse consentimento pode ser dado nas respetivas deliberações (mediante a emissão de
votos positivos) ou fora delas.
➢ Consentimento não tem de ser de determinado sócio (art. 55º).
o Pode ter de ser de sócios determinados (ou determináveis) – sendo suficiente o
não consentimento de um deles para a ineficácia; e pode em alguns casos ser
um consentimento formado colegial-maioritariamente (art. 24º/6)
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Vício que afeta o iter deliberativo e não diz respeito ao objeto/matéria da deliberação
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Ex: deliberações que coartam direitos especiais dos sócios (art. 24º/5, 6); deliberações de
transformação da sociedade (art. 133º/2, 136º/1); deliberações de alteração dos estatutos da
sociedade por quotas (art. 221º/7) e etc.
CSC prevê outras hipóteses de ineficácia das deliberações, igualmente por falta de
consentimento de “determinado sócio” exigido por lei – mas essa ineficácia não é absoluta e
tão-só relativa ao sócio ou sócios que não prestem o consentimento.
➢ Ex: art. 86º/2; deliberação de efetuar suprimentos (é eficaz para os sócios que a votem
favoravelmente e assumam a obrigação, é ineficaz para os sócios que não votem
positivamente – art. 244º/2)
Não obstante, pode suceder que órgãos societários (indevidamente) atuem em conformidade
com elas.
➢ Justifica-se então a admissibilidade de ações de simples apreciação com o fim de obter
a declaração judicial de ineficácia das deliberações.
➢ Aplica-se analogicamente art. 57º
➢ Ações propostas contra a sociedade (analogicamente, art. 60º)
Só ocorre nos casos previstos na lei – são casos taxativos que abrangem situações de grande
amplitude.
➢ MC: portanto não é viável considerar aqui uma verdadeira tipicidade taxativa.
Em regra, só a violação de normas legais imperativas pelo conteúdo das deliberações provoca a
nulidade destas (art. 56º/1/d).
➢ Tais normas fixam regime não derrogável pelos sócios. Isto porque tutelam interesses
outros que não os dos sócios, ou interesses destes não disponíveis por eles.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Considera-se como não convocada, a Assembleia realizada sem a presença de um ou mais sócios
que não foram convocados (ou seja, só alguns foram convocados).
➢ Também não se consideram convocadas as do art. 56º/2
Esta nulidade é atípica pois o vício da falta de convocação pode ser sanado posteriormente por
vontade de todos os sócios que não participaram nas deliberações – art. 56º/3 permite a
convalidação.
A deliberação não é nula se, mesmo tomada em assembleia geral não convocada, todos os
sócios ou seus representantes estiveram presentes (art. 56º/1/a, 2º parte)
➢ Mesmo que nem todos os sócios dessem o seu consentimento para a formação da
assembleia e sua deliberação, todos os sócios compareceram, o que significa que a
finalidade da convocatória foi conseguida e a deliberação não é nula.
➢ No entanto, não respeitou um dos requisitos da assembleia universal pelo que pode ser
anulável (art. 58º/1/a)
Esta deliberação é também renovável por outra deliberação que pode ter eficácia retroativa (art.
62º/1).
Art. 56º/1/b
Em geral permitidas nas Sociedades por Quotas, cujo artigo explicita o procedimento: art. 247º
CSC
As deliberações por escrito são afetadas quando nem todos os sócios foram convidados a votar
por escrito, pois é o que melhor se encaixa neste artigo e do paralelismo desta alínea b com a
alínea a.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Não há nulidade quando, apesar de um ou mais sócios não terem sido convidados46 a exercer o
direito de votar por escrito, afinal também eles (informalmente informados da votação) deram
por escrito o seu voto.
Art. 56º/1/c – Deliberações cujo conteúdo não esteja, por natureza, sujeito a deliberações dos
sócios
CA: enigma sem chave
Que deliberações poderão ter conteúdo que não esteja, por natureza, sujeito a deliberação dos
sócios?
• Incompetência: teoria tradicional que invalida os atos estranhos à competência da
Assembleia Geral, ainda que interfira com terceiros (Lobo Xavier, Carneiro da Frada, Raúl
Ventura, Pedro Maia).
• Impossibilidade: teoria que postula que a mera inobservância de regras internas de
competência não poderia ser tão grave que justifique a nulidade (Pinto Furtado).
Doutrina alemã avança que esta é norma residual destinada a acolher situações nas quais
a deliberação não possa subsistir mas em que não se reconduz a outros fundamentos.
o MC: esta teoria cinde as impossibilidades (física – c); legal – d)); causa embaraços
com a figura da impossibilidade superveniente. Uma deliberação cujo conteúdo
não esteja, por natureza, sujeito a deliberação dos sócios não pode ser uma
deliberação de conteúdo fisicamente impossível.
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Têm que atender ao que está na lei: formalidade ad substantiam
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Coutinho de Abreu: O conceito de bons costumes é fluido e a sua interpretação varia consoante
o espaço e o tempo. E, num determinado espaço e tempo, é tarefa complicada delimitar as
regras de conduta aceites como boas pela consciência geral dominante.
O artigo não se basta com os motivos ou fins da deliberação serem contrários aos bons
costumes, o próprio conteúdo da deliberação tem de o ser.
Ex: contratação de prostitutas para acompanharem clientes fora das instalações da sede é
contra os bons costumes; não é contra os bons costumes a deliberação que autorize
arrendamento de apartamento (também) para colocar as tais prostitutas pois o conteúdo da
deliberação é só arrendamento do apartamento.
Jurisprudência portuguesa tem densificado este conceito de forma criticável pois muitas das
decisões em que lançam mão deste conceito podem ser apreciadas à luz de outros preceitos
onde melhor se enquadram.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Pode ser por “atos de outros órgãos que determine ou permitam” – a deliberação que determine
ou permita que outro órgão atente contra os bons costumes ou viole normas injuntivas é
diretamente nula.
➢ Quando um contrato de sociedade reproduza, particularmente nos estatutos, regras
legais injuntivas, a violação de tais regras leva a consequência de se aplicar a nulidade e
não a anulabilidade (art. 58º/2).
Regra no Direito das Sociedades, cabendo sempre que a lei não determinar a nulidade (art.
58º/1/a).
➢ Relação com a nulidade é resolvida através da consumpção desta: quando ocorra,
prevalece a nulidade.
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Acontece quando as normas são dispositivas ou supletivas – significando que pode ser afastada
pelo contrato de sociedade, não por mera deliberação dos sócios (art. 9º/3).
➢ Quando a norma pode ser afastada por unanimidade dos sócios (como resulta do art.
56º/1/d, 2º parte) há supletividade, sendo uma deliberação impugnável, não nula.
Referência a lei deve ser entendida em termos amplos: violação do Direito (inclui princípios,
costume e etc.)
Quando a “violação” do contrato de sociedade é decidida por unanimidade, nenhum dos sócios
a poderá impugnar, devendo-se então entender que o órgão de fiscalização também não o pode
fazer.
• Deve entender-se que houve uma modificação informal dos estatutos pela unanimidade
dos sócios.
• Só não é assim quando nos depararmos com uma norma imperativa (em que funciona
a nulidade).
Deliberações que CONTRARIAM O DISPOSTO NA LEI MAS QUE NÃO SÃO NULAS.
➢ Aqui enquadra-se as deliberações não precedida por elementos mínimos de informação
(art. 58º/1/c + 58º/4).
Exemplos:
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Nos vícios de procedimento há vícios irrelevantes para efeitos de anulação das deliberações.
Vícios irrelevantes são, por exemplo, a contagem indevida de votos, a falta de registo das cartas
pelas quais são convocados os sócios e etc.
2) Vícios de Conteúdo
Estão em causa preceitos legais dispositivos, mas não todos.
➢ Os preceitos legais dispositivos podem ser derrogados pelo estatuto social ou, quando
este ou a lei permitam, por deliberação dos sócios.
o Portanto só quando falte essa permissão são anuláveis as deliberações cujo
conteúdo seja ofensivo de normas legais dispositivas.
Também se aplica a princípios jurídicos com força equivalente ao das leis – nomeadamente os
princípios da igualdade e da atuação compatível com o interesse social (ou da lealdade).
• Pode ser o caso da violação do princípio da igualdade de tratamento dos sócios quando
dela resulta um tratamento desigual sem justificação objetiva.
o Este princípio não é imperativo pois o estatuto social pode consagrar direitos
especiais e etc.
• O dever de lealdade dos sócios impõe que cada um deles não atue de modo
incompatível com o interesse social ou com interesses de outros sócios relacionados
com a sociedade.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Quando, sem violar disposições específicas da lei ou do estatuto de sociedade, e apropriada para
satisfazer o propósito de sócios conseguirem vantagens especiais para si ou para outrem em
prejuízo da sociedade ou de outros sócios, ou com o propósito de prejudicarem aquela ou
estes, salvo se se provar que a mesma deliberação teria sido adotada sem os votos abusivos.47
Decompõe-se em:
1) propósito de um dos sócios conseguir,
2) através do exercício do direito de voto,
3) vantagens especiais para si ou para terceiros,
4) em prejuízo da sociedade. Isto
5) menos que se prove que as deliberações seriam tomadas mesmo sem os votos
abusivos.
Duas espécies
i. As apropriadas para satisfazer o propósito de alcançar vantagens especiais em prejuízo da
sociedade ou de sócios;
➢ Propósito de alcançar vantagens especiais = proveitos patrimoniais
concedidos/possibilitados por deliberações e que aproveitam só a uns e não todos os
sócios.
47
Aqui também se enquadram os votos de natureza emulativa, visando prejudicar a sociedade ou outros
sócios.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Coutinho de Abreu: dever-se-ia omitir o elemento subjetivo, pois sociedade é mecanismo para
todos os sócios obterem vantagens comuns e se tal mecanismo é utilizado para uns ficarem
especialmente avantajados, há objetivamente uma disfunção.
➢ O juízo do caráter abusivo deveria incidir na deliberação unitária ou globalmente
considerada e não nos votos (e propósitos) de cada um dos sócios.
Art. 58º/3: o preceito não prescreve a responsabilidade de todos os sócios cujos votos
formaram a maioria.
➢ Prescreve a solidariedade entre os votantes em abuso.
o Atendendo ao art. 58º/1/b, distingue-se dos votos da maioria os abusivos e os
não abusivos, pelo que apenas os votantes abusivamente devem ser
responsabilizados.
▪ O emitente de votos não abusivos não pratica factos ilícitos.
Podem viciar a própria deliberação na medida em que um sócio fica impedido de aceder à plena
informação, que é algo que tem direito enquanto sócio.
48
Questiona-se o disjuntivo sociedade/sócios pois o prejuízo da sociedade é sempre prejuízo, ao menos
indireto, dos sócios. Porém, o dano relevante não é o de todo e qualquer sócio, é dos que não votaram
com propósito emulativo
91
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Previne o venire contra factum proprium pois não permite a impugnação pelo sócio que votou
no sentido da mesma.
➢ Art. 59º/6 ocupa-se dos casos de voto secreto, que se torna impugnável se não tiver
sido, por algum sócio, seguido o apontado procedimento.
Nº2: prazo
• Com a precisão do art. 59º/3
o Se uma deliberação é adotada em certo dia e os trabalhos da assembleia são
concluídos mais de quinze dias depois, o prazo para a ação anulatória conta-se
a partir da data em que a deliberação foi adotada, não da data do encerramento
da assembleia
• Aplica-se o regime da caducidade: art. 298º/2 CC
Proposta ação anulatória por sócio para tal legitimado, mas que depois aliena toda a sua
participação social, pode a ação continuar com ele como autor, ou extingue-se a instância por
superveniente inutilidade da lide (ou superveniente ilegitimidade do mesmo)?
➢ Se ele mantiver interesse não perde legitimidade e a ação pode prosseguir com ele.
➢ O adquirente da participação social pode também substituir o alienante na ação
anulatória.
Nas sociedades que não tenham órgão de fiscalização pode a anulabilidade de deliberação dos
sócios ser arguida pelos gerentes?
➢ Tem-se admitido que sim, apesar do art. 59º não o prever, com base na aplicação
analógica do art. 57º/4
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Em qualquer caso impugnam-se deliberações e não (simples) votações. O voto, só por si, não
representa nenhuma posição da sociedade e não tem relevância societária quando
desinserido da deliberação que origine.
Estas ações podem ser abusivas quando, nos termos gerais, tal defronta a confiança ou a
materialidade subjacente e se apresentam contrárias à boa-fé.
• Jurisprudência tem vindo a estabelecer um critério, resultante da boa fé, sobre quais as
violações que são relevantes ou não.
• São relevantes aquelas que contribuíram para a formação da vontade do sócio.
Ações Abusivas: autor intenta ação abusando do direito de ação – neste caso os tribunais têm
identificado alguns sócios que gostam demais da litigância.
Juiz tem de concretizar os seguintes conceitos: própria ação de invalidação ser abusiva; estar em
causa a violação da boa fé; estarem em causa votos abusivos.
Temos um contencioso de legalidade, mas no qual o mérito pode fazer a sua aparição.
Art. 62º/1 não permite renovar no âmbito do art. 56º/1/c, d pois o vício é substantivo – a nova
deliberação para ser válida teria, forçosamente, de ser diferente da anterior.
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• O órgão pode escolher se tem mesmo eficácia retroativa ou não. Se atribuir eficácia
retroativa, não pode deixar de acautelar os direitos de terceiro.
Suspensão judicial de deliberações sociais – prevenção/providência cautelar (art. 380º e ss. CPC)
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ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
Não faz sentido falar de administração sem saber o que é Governo das Sociedades.
➢ Matéria tão antiga quanto as Sociedades Comerciais, mas, ganhou relevância nos anos
70.
Definição do Relatório (inglês) Cadbury (1992): sistema no qual as sociedades são controladas
e geridas (corporate governance is the system by which companies are directed and controlled) 49.
Não confundir com o “movimento do governo das sociedades” – esse é um movimento inter-
científico para estudar o sistema em como as sociedades são dirigidas e controladas.
Surgiu nos anos 70.
➢ Financiamento ilegal de campanhas políticas e corrupção (associado ao escândalo watergate e
etc.).
➢ Gerou sensibilidade para se estudar como é que efetivamente as sociedades são dirigidas.
Modelos de Governo
Termo que se utiliza tipicamente para as Sociedades Anónimas.
Mas a discussão dos modelos de governo tem uma dimensão mais vasta. É um tema que se
discute ao nível de todos os tipos de sociedades (na estrutura organizatória da mesma50).
49 Corporate governance constitutes a set of relationships among a company’s management, its board, its
shareholders, and other stakeholders.
Those relationships define, among other things, the property rights of shareholders, the mechanisms of exercising
and protecting those rights, and the path of ensuring a fair return.
Corporate governance also sets the structure through which a firm sets its objectives, as well as determining the
means of attaining those objectives and monitoring performance.
50
O conteúdo de cada tipo legal resulta da conjugação de três elementos:
• Tipo de responsabilidade assumida pelos sócios
• Limites à transmissibilidade das participações sociais
• Estrutura organizatória
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Equilíbrio entre sócios e órgãos não é igual entre os diferentes tipos de sociedades
➢ Cada sociedade tem o seu específico equilíbrio interorgânico.
Art. 278º
a) Tradicional português (clássico, latino)
b) Anglo-saxónica (monista)
c) Germânica (dualista)
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O modelo tradicional português tem um órgão de fiscalização que tem pouco poder e só pode
“fazer queixinhas”.
➢ Poderes de informação próprio para ficarem esclarecidos com a atuação da sociedade.
➢ Informação é o ativo mais importante de uma sociedade.
Administração
Sociedade corresponde a um modo coletivo de funcionamento do Direito.
Dirigir uma regra a uma pessoa coletiva implica depois, através desta, o acionamento de
muitas outras regras que irão, mais ou menos imediatamente, desembocar em
incumbências que recaem sobre pessoas singulares.
Centralidade da Administração – órgão mais central para se compreender tudo o que se passa
dentro de uma sociedade
➢ No centro do governo das sociedades é o órgão de administração quem comanda
os destinos da sociedade e o primeiro fiscalizador da mesma.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Administradores têm 2 poderes, de conteúdo muito vasto. Apesar da natureza básica desta
matéria, o CSC não a considerou na sua parte geral e recorreu aos diversos tipos societários
para explicitar como se efetivam estes poderes (art. 192º; 252º; 405º/1,2)
1. PODER DE GESTÃO: direito funcional potestativo que traduz a permissão
normativa que os administradores têm de decidir e de agir, em termos materiais
e jurídicos, no âmbito dos direitos e deveres da sociedade.
• Poder para a sociedade decidir (alguém dentro da sociedade tem de decidir
sobre os destinos da sociedade, os meios para alcançar os objetivos e etc.)
dentro do equilíbrio interorgânico de até onde o órgão pode atuar.
2. PODER DE REPRESENTAR: vínculo jurídico de base legal que permite imputar à
pessoa coletiva os atos dos seus órgãos -> imputa-se à sociedade a atuação dos
administradores.
• Modelo que exprime os nexos de organicidade. Representação orgânica
(própria dos nexos de organicidade que ligam esses sujeitos à sociedade)
• Também é um direito funcional potestativo, pois envolve a permissão de,
agindo em nome e por conta da sociedade, produzir efeitos jurídicos que se
projetam imediata e automaticamente na esfera desta.
• Poder para vincular externamente a sociedade perante terceiros, quando se
relaciona com outros no comércio jurídico.
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Referência aos outros interesses significa que na concretização do esforço exigível haverá que
ter em conta as dimensões sociais da sociedade.
3. Deveres de Cuidado
Surge por influência do Direito anglo-saxónico
➢ No entanto, no Direito da Common Law, o dever de cuidado apresenta-se como uma
medida de diligência requerida para o exercício regular das suas funções
Sob a especial técnica anglo-saxónica – que não separa a ilicitude da culpa – o dever de cuidado
exprime as regras de conduta e a carga de não-censura necessárias no exercício das funções de
administrador, para que ele não incorra em responsabilidade negligente.
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Problema de tradução.
• CMVM queria trazer os duties of care americanos para a nossa lei.
• Mas isso são concretizações do duty to act with care, ou seja, concretizações de atuar
com diligência.
o Significa que os administradores estão obrigados a administrar diligentemente.
4. Deveres de Lealdade
Conjunto de exigências valorativas básicas do sistema em cada situação concreta
Vínculos dos administradores às sociedades implicam deveres acessórios onde se enquadra a
boa fé.
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Síntese MC:
a) Art. 64º tem normas de conduta, pretendendo reger a atuação dos administradores.
Sistematicamente, o art. 64º está desligado dos preceitos relativos à responsabilidade dos
administradores.
Quando violadas estas normas de conduta, temos de apelar a outras regras para determinar
uma eventual responsabilidade civil.
Os deveres de cuidado reportam-se a elementos que constituem, em moldes não taxativos, o
teor do “cuidado”.
b) Deveres de lealdade são deveres fiduciários que recordam estar em causa a gestão de bens
alheios.
Administradores são leais na medida em que honrem a confiança neles depositada.
Ficam envolvidas as clássicas proibições já examinadas: de concorrência, de aproveitamento dos
negócios, de utilização de informações, de parcialidade e etc.
A lealdade ainda exige condutas materialmente conformes com o pretendido e não meras
conformações formais.
Há um apelo aos códigos de corporate governance.
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Mandato é o paradigma dos contratos de gestão -> referência a boa gestão assenta no regime
do mandato.
Essa situação, para ser caracterizada, tem de ter uma primeira referência contratual.
• Administradores estão adstritos a deveres de administração. Mas administração de
bens alheios (da sociedade).
• Tendencialmente o CSC identifica o interesse da sociedade como sendo diferente do
interesse dos sócios.
• O administrador não tem só em mente os interesses próprios e tem de garantir o
interesse da sociedade.
o Assim enquadra-se como um mandatário – ele gere a sociedade.
Opção pela lógica do mandato faz com que o gestor deva curar sob os interesses que estão
sob a sua gestão.
Administradores das sociedades estão cada vez mais sujeitos a deveres que resultam da lei –
não se compreendem plenamente com uma lógica de mandato tout cour.
• Dificuldades resultam da lógica da representação.
• Duas realidades incompatíveis da situação do administrador como correspondente a um
contrato de mandato.
o Janu: por facilidade designativa ainda se diz que o administrador é mandatário.
Relação de administração é contratual – relação de trabalho em sentido amplo envolvendo uma prestação
de serviços por conta de outrem
2. Orientações unilaterais
Contrapõe-se às contratuais
Desde o momento em que a escolha de um administrador assenta numa deliberação, a situação já não
pode ser considerada contratual – ao ato deliberativo não podem ser aplicadas as regras do negócio
jurídico.
A deliberação não é negociável com o exterior e é encontrada no seio do órgão deliberativo, ficando logo
perfeita nesse nível.
Construção institucionalista.
3. Construções analíticas
Posição jurídica dos administradores tem a sua génese num ato duplo: nomeação pela sociedade e
celebração de contrato de emprego com essa pessoa.
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4. Construção laboral
MC: não é viável, por incompatibilidade valorativa, no Direito positivo português vigente, laboralizar a
situação jurídica dos administradores.
O princípio é o da livre possibilidade de destituição dos administradores e essa pouca proteção está nos
antípodas do direito do trabalho.
5. Doutrina Portuguesa
Reconduz a situação jurídica de administração a um Contrato de Administração (Ferrer Correia).
➢ MC: discorda.
o A situação jurídica de administração não pode ser definida com recurso à via da
sua constituição
A situação jurídica de administração tem de ser fixada pelo seu conteúdo (que deriva da lei,
dos estatutos e deliberações sociais) e não pela forma da sua constituição.
• É uma realidade autónoma, de cariz societário, com factos constitutivos múltiplos,
privada, patrimonial, complexa, compreensiva e nuclearmente absoluta.
• É um status – qualidade ou prerrogativa que implica e condiciona a atribuição de uma
massa prévia de elementos juridicamente relevantes, incluindo deveres, direitos
funcionais e obrigações.
o Direito do Administrador: remuneração (art. 195º/5, 255º, 399º)
o Remuneração dos administradores tem estado na ordem do dia após a crise do
subprime.
o Há remuneração fixa e variável. Uma das situações nefastas que foi identificada foi em
relação à remuneração variável (que variava em função de resultados) o que levava a
uma gestão das sociedades para resultados imediatos (e ter logo a remuneração),
podendo tal não equivaler aos melhores interesses da sociedade.
O facto dos administradores das sociedades em geral, à luz do CSC, terem uma situação jurídica
peculiar é o que justifica que essas pessoas tenham alguns traços que são típicos da proteção
dos trabalhadores.
Janu: contrato de trabalho supõe subordinação jurídica e neste caso não há alteridade para que
tal se possa estabelecer.
51
Há outro aspeto, mais ligado às SA, em que os administradores não se identificam com os trabalhadores.
Não há uma equiparação de classe entre trabalhadores e administradores, apesar de não serem os
capitalistas (problema político).
Administradores aparecem como especialistas da gestão, que compreendem do negócio e da atividade
da sociedade.
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Pode haver administradores que tenham direito especial à gestão – no âmbito da sociedade
por quotas. O que se pode repercutir na exigência de justa causa para destituir o administrador.
• Mas estas são exceções.
• A regra é livre possibilidade de destituição dos administradores.
Tendo isto tudo em mente, é forçado/artificioso ver um contrato como uma forma de
estabelecimento de administradores.
➢ Por isso, é que tem de se qualificar como situação jurídica.
o Não é relacional pois não há contrato.
o Mas pode haver obrigações que derivam de uma relação contratual (do
contrato de sociedade)
TERMO
Situação jurídica de administração não é, por natureza, perpétua.
Diversas formas de cessação das situações jurídicas têm aqui aplicação com alguns processos de
adaptação: caducidade, revogação, resolução e denúncia.
• SNC: art. 191º
• Lda: art. 257º
• SA: art. 403º
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
52
Com o qual Januário Costa Gomes está mais de acordo.
53
Do modo coletivo ao plano individual – pode haver atribuição de competências a um administrador
individualmente considerado ou ao órgão coletivo. Quem é responsável pelo incumprimento de deveres
são os membros, individualmente considerados, do conselho de administração. Olhando para o quadro
de deveres do órgão coletivo é que se consegue perceber como se considera individualmente cada
administrador.
O órgão coletivo tem todos os poderes conferidos, mas depois tem possibilidade de delegar esses poderes
para cada administrador em específico.
Tem de se fixar um primeiro pressuposto do que é a licitude para depois se perceber que ocorreu essa
violação.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Mesmo seguindo ML e não MC, concluindo que não há inversão do ónus da prova, o facto é
complexo e pode levar à conclusão que o tipo de prova feita para cada um dos factos não tem a
mesma intensidade.
Insight bias – quando se olha depois do facto ocorrer parece muito mais provável ter ocorrido o facto no momento
em que ocorreu. Há tendência do juiz, de acordo com a psicologia cognitiva, de perceber as coisas como mais óbvias
depois de acontecerem
Quando se aplica a lei ao caso concreto chegar-se-ia à conclusão que o administrador poderia
adotar um de várias condutas.
➢ Ideia de várias condutas normativamente admissíveis que levaria ao resultado.
➢ Não é apriorístico.
JFG: o art. 72º/2 não tem presunção de ilicitude (essa vem do art. 72º/1)
Há sim
1. Um dever de obtenção de informação conjuntural [que se soma ao dever de obtenção
de informação estrutural do art. 64.º/1, a)]
2. Um dever de atuação livre de interesse pessoal [que concretiza o dever de lealdade (art.
64.º/1, b)]
3. Um dever de atuar segundo critérios de racionalidade empresarial (de forma
fundamentada, com ponderação das alternativas, dos riscos inerentes, das vantagens
e desvantagens – não basta intuição na gestão de bens alheios)
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Art. 72º/3
Todos esses deveres não esgotam as obrigações que decorrem da diligente administração.
➢ Diligente administração conhece diferentes concretizações. Pode ser responsabilizado
quando fique na cama a dormir e não vá à reunião para defender os interesses da
sociedade.
Art. 72º/4
Não há nenhum direito de oposição – há é dever de oposição a todos os atos que sejam
prejudiciais ao interesse da sociedade.
➢ Administrador tem de se opor aos atos prejudiciais, sendo isso uma concretização do
seu poder de administração.
Art. 72º/5
Voto é nulo e deliberação anulável.
➢ Tem de ser lido de forma restritiva – não se aplica nas SA, cuja administração é
autónoma da dos sócios e não fica sujeito.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Responsabilidade Extracontratual
É possível nos termos gerais
A responsabilidade aquiliana por violação de direitos subjetivos da sociedade deverá efetivar-
se através de outros administradores que representem a sociedade.
Violações que desencadeiam o art. 483º CC: 509º, 510º, 511º, 512º, 518º, 519º, 523º, 525º
Os deveres de cuidado, com a trilogia constante da lei (art. 64º), operam como deveres
incompletos.
➢ Só por si não são violáveis, em termos de responsabilidade civil. Em conjunto com
outras normas, a violação torna-se possível, seguindo-se um regime operacional
Os deveres de lealdade concretizam uma obrigação ainda despida do dever de prestar principal.
Perante isto, os administradores devem espeitar as situações de confiança legítima e a
materialidade subjacente.
Ação social ut singuili (art. 77º CSC) – um sócio individualmente considerado pode fazer valer
uma pretensão indemnizatória da sociedade.
➢ Ação movida por um sócio por ter a qualidade de sócio e na qual ele faz valer um direito
da sociedade.
o Não é sócio que sofre um dano mas sim a sociedade, sendo essa pretensão
indemnizatória da sociedade que o sócio que fazer valer.
o Identifica-se limiar de participação que o sócio tem de ter nesta sociedade para
poder fazer.
MC: A ação ut singuli faz sentido quando a própria sociedade, através da assembleia geral, não
intente a ação ut universi. Tem natureza subsidiária.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Outras Responsabilidades
• Responsabilidade dos administradores de facto (art. 80.º CSC54)
54
Sendo um administrador de facto, está sujeito aos mesmos direitos e deveres dos administradores de
direito. por esta razão temos de ter cuidado quanto a afirmação de que certa pessoa é administrador de
facto. Ricardo Costa fala sobre isto:
1) quem não título bastante, ou seja, quem não foi validamente designado como administrador. Há uma
omissão de título formal;
2) atuação típica e positiva – intensidade qualificativa, ou seja, os atos que ele pratica são atos próprios e
típicos de um administrador de direito, de administração de sociedades comerciais. Por isso o que
interessa é olhar para o sujeito fez, verificando se aqueles atos configuram atuação de administrador;
3) atuação exercida com autonomia – existência de autonomia decisório – intensa conversão da esfera de
livre decisor; ricardo costa diz que a pessoa tem um poder ilimitado, atuando com o mesmo poder
atribuído ao administrador de direito;
4) é administrador de facto quem tem uma atuação diferida no tempo, não sendo uma atuação pontual.
Podemos usar aqui um lugar paralelo da qualificação de prática continuada no caso dos comerciais por
MC. Se tivermos uma atuação pontual, decidida exclusivamente por alguém, que parece ser
administrador: mas é só uma atuação, não sendo diferido no tempo, se que não temos administrador de
facto? Temos de saber qual é a dimensão e intensidade daquele ato. Se for uma decisão que onera 80%
do património da sociedade, será que esta atuação tem de ser diferida no tempo? NÃO, diz David Reis.
Mas é um ponto discutido.
5) Atuação de conhecimento da sociedade – atuação tem de ser pelo menos tolerada pela sociedade. Mas
como medir este consentimento da sociedade? Exige-se maioria dos votos, ou número de assinaturas
necessário para vinculação da sociedade? Ricardo Costa fala de maioria dos votos.
Pergunta-se então se o artigo 80.º CSC permite a aplicação direta quanto aos artigos 70.º e ss.CC? Ricardo
Costa diz que não – se assim fosse estaríamos a aligeirar os requisitos do administrador de facto. Se
permitíssemos a aplicação direta com aplicação do artigo 80.º aligeirava-se verificação dos requisitos. Por
isso, há um perigo na aplicação direta. Ma depois diz que o próprio artigo 80.º seria insuficiente, porque
diz “a quem sejam confiadas funções”, ou seja, tem de haver um ato de atribuição, tendo alguém de
conferir a outrem poderes. Vimos que isso não corresponde aos casos de alguns administradores de facto,
como os “shadow directors”. Elisabete Ramos entende contra Ricardo Costa que há uma sujeição direta,
assim como Tânia Meireles da Cunha. A posição de Fátima Ribeiro diz que a letra da lei não tranquiliza o
interprete, mas usa argumento de maioria de razão: se a lei manda aplicar o regime dos 72.º e ss. aos
sujeitos a quem foram confiadas funções de administração, aplicar-se-ão esses artigos a quem por sua
conta se arrogar poderes de administração.
David Reis diz que não é imprescindível, mas é um artigo útil. O próprio sistema optou por um sistema
funcional na alocação da repsosnabildiade dos administradores – porque entende que não interessa se
ele é ou não. Prescinde do vínculo formal, optando pelo funcional. Vale aqui o argumento usado a fortiori
pela professora Fátima. É curioso ver como o próprio artigo 80.º CSC foi tido pela CMVM, em 2006, como
abrindo a porta aos administradores de facto, sendo esta mais uma confirmação de o artigo 80.º CSC nota
uma responsabilização dos administradores de facto. Assim, não há aplicação direta do artigo 80.º, mas
por interpretação extensiva – segundo Miguel Teixeira de Sousa entende que é quando o espírito vai além
da sua letra. Da fonte permite-se inferir uma regra que estava na sua letra. Assim, salta-se por cima da
discussão de saber se o artigo 80.º CSC abrange todos os tipos de administrador de facto, ficando com a
ratio de saber se se vai responsabilizá-los.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Fiscalização
Exprime a ideia de constatar o efetivo cumprimento de determinadas regras
• Pressupõe, por parte de quem a leva a cabo, poderes de autoridade – traduz o exercício
de um direito potestativo.
• No direito privado a Fiscalização é predominantemente interna, i.e., é encabeçada por
quem, na relação, tenha uma posição mais vasta.
Mas não há confusão na fiscalização orgânica interna porque é feita por um órgão dentro da
sociedade?
Não há uma sobreposição porque, por força da imputação da personalidade das sociedades,
elas carecem de órgãos, mas a alocação da vontade da sociedade não depende da posição
apenas do órgão de fiscalização. Nessa medida, não há sobreposição.
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
O CSC, após uma longa evolução, dá relevo aos temas da modificação e extinção das sociedades,
que são matérias que têm sofrido diversas alterações legislativas, muito por força do direito
europeu (mais de 10 diretivas têm sido emitidas nos últimos anos acerca desta matéria).
• Esta matéria tem alguma prolixidade, uma vez que obriga a compatibilizar os interesses
dos sócios maioritários – que decidem, em princípio, as diversas operações – dos
minoritários que se lhes oponham e dos terceiros, credores da sociedade.
• Os temas de fusões, cisões e transformações estão numa área sensível onde se
movem junto de interesses muito significativos para os quais a segurança jurídica
é decisiva – a facilidade com que seja possível realizar operações de concentração
ou de recomposição empresariais constitui um trunfo decisivo para os países que
as comportem, devido ao grande relevo económico das modificações das
sociedades.
Alterações do Contrato
Sentido estreito de modificação dos estatutos que não tem eficácia subjetiva, reduzindo (fusão)
ou ampliando (cisão) as pessoas e que não conduz à adoção, por uma sociedade de certo tipo,
de um tipo diverso.
➢ A possibilidade de proceder a alterações no pacto social que não ponham em crise a
identidade da pessoa coletiva em jogo foi alcançada ao longo de uma evolução,
legislativa e dogmática, complexa.
Só por unanimidade pode ser atribuído efeito retroativo à alteração do contrato e, ainda então
e como é lógico, apenas nas relações entre sócios.
➢ Se a alteração impuser o aumento das prestações dos sócios, ela é ineficaz para os que,
nele, não tenham consentido (art. 86º/1, 2).
o Januário: preocupação máxima dos sócios não favoráveis à alteração e
preocupação com interesses dos credores – a alteração é possível mas não pode
desconsiderar a vontade dos sócios, os credores da sociedade e a especificidade
dos tipos.
AUMENTO DE CAPITAL
As sociedades podem deliberar abrir o capital a novos sócios.
55
Januário: é uma competência da Assembleia Geral
56
Tem de se ter em conta a especificidade dos tipos em que se move para haver esta deliberação.
111
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Art. 87º/3 tem medida que se destina a prevenir a capitalização artificial das sociedades.
57
Art. 87º/4 permite também a conversão de suprimentos em capital
➢ Januário: regime dos suprimentos também pode ser aplicado às Sociedades Anónimas, mas o
art. 87º/4 não se estende automaticamente às SA.
➢ Esta deliberação deve ter os elementos do art. 91º
58
Lei 7/2018
Introduz regime de conversão de créditos em capital
• Art. 2º, quer em termos positivos, quer em termos negativos, traça o âmbito de conversão desta
lei.
o Que pressupõe uma iniciativa dos credores – solução vem de fora e credores
preocupados com a sociedade (step in de credores).
o Não todos e quaisquer credores – têm de ter certas características em termos de crédito
(art. 3º)
• Art. 3º/1/a, b: enuncia requisitos
• Art. 3º/10
• Art. 7º: esta situação está na fronteira com o regime da insolvência – é situação borderline da
aplicação do CIRE.
Operação harmónio – pretende-se aumentar o capital da sociedade mas como fase preliminar há uma
redução.
Proposta tem de descrever conteúdo concreto da operação
Regime para proteger créditos em que credores não vislumbram em tempos próximos a realização dos
seus créditos, querendo assegurar a sua satisfação através deste mecanismo
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
REDUÇÃO DO CAPITAL
Art. 94º e ss. CSC
Operação pode pôr em crise os direitos e as expetativas de terceiros, compreendendo-se que a
lei a rodeie de cuidados vincados.
A convocatória de Assembleia Geral cuja ordem de trabalhos inclua a redução do capital deve
ter as especificações do art. 94º.
➢ Faltando a deliberação é nula.
Redução pode conduzir a um capital inferior ao mínimo legal, desde que fique expressamente
condicionada a um aumento igual ou superior a esse mínimo (art. 95º/2) – operação acordeão
A Fusão e a Cisão colocam problemas bastante similares, tendo a fusão a matriz das regras a
ambas aplicáveis.
➢ A fusão é o regime subsidiário que se aplica à cisão.
Januário: Fusão = situação jurídica que ocorre quando 2 ou mais sociedades, ainda que de tipo
diferente, se reúnem numa só sociedade.
Por Concentração – art. 97º/4/b – duas ou mais sociedades preexistentes transferem as suas
posições jurídicas para uma entidade nova, criada a esse propósito.
113
Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
Uma extinção verdadeira dá lugar à liquidação o que implica uma série de morosas operações.
• Januário: falar de extinção não se compagina com este regime, pois não há efetivamente
liquidação da sociedade e o que existe é um processo agilizado no sentido da
concentração.59
Figura da fusão tem autonomia conceitual e de regime – algo que já é admitido pelos Códigos
Comerciais desde os finais do séc. XIX.
Tem havido situações em que se tem discutido a aplicação em concreto do art. 112º CSC:
caso de arrendamento comercial.
o Independentemente do regime específico do trespasse, o art. 112º não
pressupõe que haja trespasse de estabelecimento.
o Mas é necessária a comunicação dessa transmissão.
59
Obviamente que, apesar disto, não se pode dizer que a sociedade incorporada continua a ter
personalidade jurídica para o direito.
➢ Houve processo de extinção – art. 97º/1
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Sebenta Direito Comercial II / Sociedades Comerciais – 2017/2018 DNB
O CSC prevê situações de intervenção ativa dos credores na sociedade. Como as decisões de
fiscalização dos órgãos da administração.
Mas em algumas situações os credores podem substituir-se aos sócios quando estes não fizerem
as entradas.
➢ Em matéria de fusão, há preocupações específicas e regime específico no que respeita
aos credores – pois com a fusão pode haver um prejudicar dos créditos desses credores,
o que pode levar à paralisação da fusão (art. 101º)
Art. 101º/b
O que se vem dizer é que nada obsta à aplicação de cláusulas contratuais que atribuam ao credor
a imediata satisfação do seu crédito.
Questão é se isto não pode ser uma cláusula de simples exigibilidade antecipada.
➢ Janu: redação deste artigo parece indicar que é vencimento automático. Prevê-se que
credor possa exigir imediatamente o crédito. Mesmo que o prazo seja dilatado, perante
estas circunstâncias pode exigir-se já o pagamento. Não se trata de provocar o
vencimento.
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Ideia que sócios com direitos especiais têm de ter esses direitos especiais acautelados na nova
sociedade.
➢ Se esses direitos não se mantiverem, eles são afetados (art. 103º/2/b)
Art. 104º - situação de sobrevivência de uma sociedade extinta, para determinados efeitos
➢ Ficção jurídica em que se considera que a sociedade absorvida continua a existir.
Fusão não tem de passar necessariamente pelo acordo de todos os sócios, a não ser que os
estatutos o digam.
• Isto significa que pode haver sócios descontentes com a fusão.
• Em certas situações o sócio que tenha votado contra o projeto de fusão pode exonerar-
se – art. 105º
o Não é algo arbitrário, depende se a lei ou contrato de sociedade atribui a esse
sócio que votou contra o projeto de fusão a possibilidade de se exonerar da
sociedade – não significa abandonar a participação social, ele é compensado
pelo valor da sua participação social.
Após as deliberações, cada uma das administrações das sociedades envolvidas fica com poderes
para vincular as sociedades ao processo de fusão = assinar o ato da fusão (art. 106º)
Art. 112º também trata a eficácia da fusão a propósito dos efeitos do seu registo, que tem
natureza constitutiva.
➢ Além de tratar os efeitos da fusão: transmissão da sociedade incorporada, a título
universal, para a sociedade incorporante
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vários sujeitos que são atingidos), pelo que se há contrato que determina equilíbrio
objetivado de um certo quadro, se esse quadro se altera, pode haver modificação.
o Janu: código fez bem em não regular mais. A partir daqui temos direito civil a
regular a resolução do contrato. Sindicação dos fundamentos da resolução é
feita em termos civis.
Art. 114º/2 – consagra-se aqui uma ficção e considera-se existente a sociedade fundida
unicamente para efeitos do direito de indemnização.
Art. 116º
Januário: quem olha para este artigo percebe que não se justifica a troca de participações
sociais.
Antes era quando sociedade tinham 100% de outra – com base no domínio total de uma
sociedade sobre outra
➢ Agora a lei fala em 90%.
Pode acontecer situação singular de sociedade ter 92% de outra e 8% das ações estavam
dispersas. Todos os sócios menos 1 aceitaram exonerar-se. Questão que se levantava era se o
detentor de 0,5% podia paralisar o processo de fusão ou pelo menos ter uma participação no
capital social da sociedade incorporante.
➢ Janu: sim, das duas podia fazer uma. Exoneração não era obrigatória.
Não se confunde com regime do art. 490º CSC – aqui o que está previsto é que a Sociedade possa
adquirir potestativamente as ações e quotas. O problema é que isso tem de ser feito num
determinado caso (no caso anterior já tinha passado o prazo)
Interpretação restritiva pois art. 116º não prevê uma situação semelhante ao art. 490º CC -
esse artigo tem por objetivo claro o facto de o legislador pretender agilizar as situações de
domínio total de uma sociedade por outra.
➢ Situações que suscitam menor dificuldade em que há tutela mais forte de terceiros
(designadamente o art. 501º - para os credores da sociedade, eles estão mais garantidos
pois podem satisfazer-se com património de sociedade dominada e dominante).
➢ Art. 490º permite aquisição potestativa das participações sociais.
o Sujeito a um procedimento, que em termos de tempo pode inviabilizar em
concreto a sua aplicação – uma vez decorridos os prazos que aqui estão
previstos.
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Art. 490º pode ser antecâmara do art. 116º - mas não há fusão em sentido jurídico.
➢ Juridicamente há autonomia da sociedade dominante face à sociedade dominada.
➢ É situação de aquisição potestativa através do pagamento do valor da respetiva
participação social – este artigo esteve sob o crivo da jurisprudência e chegou ao
Tribunal Constitucional.
Podem haver fusões transfronteiriças entre Estados-Membros da UE: art. 117º-A e ss.
➢ Fusão Interna vs. Fusão Transfronteiriça
Natureza Jurídica
Tese Tradicional – vê na fusão a extinção de uma sociedade e a transmissão dos seus bens para
o património de outra. Sucessão universal semelhante à mortis causa.
➢ Janu: tese em declínio, apesar de ser claro que a sociedade incorporada se extingue,
mas, dogmaticamente essa não é natureza jurídica (de ato de extinção).
➢ Menezes Cordeiro: as partes não têm qualquer interesse em extinguir a sociedade
e pretendem aproveitar o que já existe.
Tese da Transformação – transformação dos entes preexistentes (orientação dominante que surgiu
em Portugal pioneiramente por José Tavares)
➢ Há manutenção das entidades anteriores que, apenas, se transformaram.
o A fusão é, na verdade, uma transformação das sociedades comerciais: os pactos
sociais são alterados, de modo a que as diversas entidades preexistentes
passam a constituir uma só. As situações jurídicas antes encabeçadas pelas
sociedades envolvidas mantém-se ao longo da operação e vão surgir, com toda
a naturalidade, na entidade resultante da fusão, sem que qualquer alteração
nelas se possa revelar.
➢ Januário: Está de acordo com as soluções plasmadas no código.
Opera como a contraface da fusão, implicando uma fenomenologia paralela, só que inversa.
➢ Regime da fusão é subsidiário ao regime da cisão – art. 120º CSC
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Natureza Jurídica
A cisão implica uma continuidade com as entidades envolvidas.
➢ Deve entender-se que opera uma verdadeira transformação entre as entidades
resultantes da cisão e a sua (ou suas) antecessora(s).
o Art. 121º dá corpo a esta ideia.
Art. 140º - muitas vezes invocado a propósito da fusão e da cisão, embora não exista lá norma
paralela.
• Mas invoca-se porque lato sensu nessas figuras há uma transformação.
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GRUPOS DE SOCIEDADES
Paulo Olavo Cunha: Ideia em que uma entidade tem uma direção unitária de diversas sociedades.
SOCIEDADES COLIGADAS – junção de duas ou mais sociedades que estejam sujeitas a uma
influência comum, porque uma participa na outra, ou nas demais, ou porque todas se
subordinam à orientação de uma delas ou de uma terceira entidade.
➢ Pode haver terceira entidade que não participa nas sociedades mas que as controla,
exercendo influência dominante na atividade de uma ou mais sociedades.
O caso do art. 490º não cabe no caso do art. 483º/1, o caso dos 90% do capital está abrangido
pelo art. 490º.
➢ Antes caberá no art. 486º.
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Sentido estrito de Sociedades Coligadas
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Januário: Pode ser total ou não total, mas não é esta a linguagem do código.
➢ Se for domínio total tem de ser expressamente dito que é domínio total (passando a ser
um Grupo: art. 488º e ss.)
Art. 486º/2 tem índices que fazem presumir uma situação de domínio.
➢ Presunções iuris tantum associadas a participação maioritária do capital + possibilidade
de designar mais de metade dos membros dos órgãos e etc.
➢ APO: traduzem a verificação empírica de que os administradores seguem as diretrizes
dos acionistas detentores de mais de 50% das participações sociais ou dos direitos de
voto.
o Essas presunções concretizam a noção de influência dominante mas não esgota
o universo.
▪ APO: influência dominante surge, em termos sintéticos, como o poder
que assiste à sociedade dominante de, imediata ou mediatamente, agir
sobre o governo da sociedade dependente, determinando a sua
vontade juridicamente relevante, seja pelo poder de diretamente
escolher administradores (art. 486º/2/c), seja pelo poder exercido
sobre a assembleia geral (art. 486º/3/b) ou ainda por meio diverso.
Contraposição entre domínio (art. 486º) e domínio qualificado (aponta para domínio entre a
simples participação maioritária e a qualificada).
Relação de domínio não pertence legalmente a um grupo de sociedades, ainda que possa, na
prática existir a unidade de direção económica e, por essa via, é um grupo de facto.
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Relações de Grupo61
APO: Pode resultar da titularidade de participação totalitária no capital de uma sociedade
(relação por domínio total: art. 488º a 491º) ou da celebração de um contrato de subordinação
(art. 493º a 508º) ou ainda de um contrato paritário (art. 492º).
61
POC:
• Sociedades em Relação de Domínio Total: art. 488º
• Sociedades em Relação de Grupo Paritário: art. 492º
• Sociedades em Relação de Subordinação: art. 493º
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Forma mais intensa de coligação societária prevista no CSC: além do controlo exercido sobre o
órgão de gestão, a sociedade totalmente dominante exerce, na qualidade de sócia única, todas
as competências pertencentes à assembleia geral da dependente, o que constitui uma diferença
qualitativa relevante face à situação de grupo assente no contrato de subordinação.
Art. 501º a 509º, ex vi art. 491º: sociedade-mãe responde pelas dívidas das filiais, estando
obrigada a compensar nas perdas
• Mãe é garante do cumprimento das obrigações da filha
• Situações de grupo que estão inteiramente legitimadas (a prestação de garantias, art.
6º) pelo facto da mãe ser inteiramente responsável pelas dívidas da sociedade
dominada.
Art. 501º aplica-se diretamente aos grupos assentes em contrato de subordinação (art. 493º e
ss.) e, por remissão do art. 491º, aos grupos constituídos por domínio total (art. 488º e ss.),
desde que regulados pelo CSC.
➢ Se a relação de domínio total tiver sido estabelecida antes da entrada em vigor do CSC,
a responsabilização da sociedade dominante pelas obrigações da sociedade só é
regulada por este se as mesmas forem posteriores à sua entrada em vigor.
Art. 501º também abrange a responsabilidade por dívidas nos grupos multinível.
Fora deste art. 501º ficam as sociedades em relação de domínio (art. 486º), mesmo quando
forme um grupo de facto.
➢ APO: Não se permite a aplicação analógica do art. 501º às relações de domínio – esta
norma assenta no reconhecimento da legitimidade do poder de direção da sociedade-
mãe sobre a sociedade-filha, suscetível de ser exercido em sentido desvantajoso para
esta última (art. 503º/2), o que não sucede na relação de domínio.
Para efeitos de cômputo das participações sociais, com vista ao apuramento da existência de
domínio total, haverá que atender tanto às participações diretas como às indiretas, relevando
umas e outras simultaneamente.
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Quando um dos sócios concentra 90% do capital social, pode adquirir as participações dos
demais sócios mesmo sem ou contra a sua vontade e pode, por outro lado, ser obrigado por
estes sócios a comprar tais participações.
• APO: Através do mecanismo nele descrito, o art. 490º promove a transição de uma
relação de domínio qualificado (em que um só sócio detém 90% do capital) para uma
relação de grupo por domínio total superveniente e a consequente aplicação dos art.
501º a 504º (ex vi art. 491º).
• É mecanismo que permite conversão patrimonial da participação social, mediante
contrapartida equitativa, e isto como mera decorrência do estado de sócio.
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6. Problemática jurídica: normas pensadas para os grupos de direito podem ser aplicadas
aos grupos de facto?
➢ Casos em que a Sociedade A domina B a 90% - já permite exportar consequências e
efeitos duma eventual aquisição potestativa (art. 490º), mas, se tal não tiver acontecido
ou não tiver havido vontade.
➢ As coisas podem passar-se como se tivessem em situação de grupo de direito.
Art. 501º fala em garantia, que funciona em termos corporativos e que articulada com regime
das garantias tem como referência a figura da fiança.
➢ Sociedade dominante pode invocar os mesmos meios de defesa que o devedor principal
(sociedade dominada)
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Art. 504º exclui responsabilidade dos atos praticados na sequência de instruções vinculantes.
• O que se pretende veicular é uma visão de grupo – há consequências e o sistema está
estruturado de forma equilibrada.
• Há regime próprio para as sociedades abertas (no código valores mobiliários).
Desenho normativo do CSC é rigoroso e por isso em sociedades coligadas há diversos tipos
➢ Na situação de grupo o regime é equilibrado em virtude do regime do art. 503º
o Como a sociedade dominada tem órgão próprio, não fora a situação de domínio,
esta podia tomar decisões diferentes.
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