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Belo Horizonte
2015
NICOLE COSTA SILVA
Belo Horizonte
2015
AGRADECIMENTOS
Muitos se fizeram presentes nesta jornada, para os quais expresso a minha eterna
gratidão.
À toda Comunidade Dandara por me mostrar um outro lado da vida e ampliar minha
visão para o mundo.
Às minhas grandes amigas Ângela, Érika e Jéssica pela ajuda durante o processo de
escrita do trabalho, principalmente na transcrição das entrevistas, além de todo o apoio
para que este trabalho saísse da melhor maneira possível. Sem vocês este trabalho não
seria o mesmo.
À minha família pelo apoio e compreensão durante esta minha trajetória acadêmica.
Obrigada por propiciar condições para que eu tivesse esta oportunidade.
A todos que de alguma forma contribuíram para a concretização deste trabalho os meus
sinceros agradecimentos!
RESUMO
Embora tenham ocorrido transformações positivas do ensino básico das escolas públicas
brasileiras nas últimas três décadas, a partir de dados do INEP de 2006, os níveis de
discrepância entre idade e série, abandono escolar e repetência ainda são altos se
comparados às estatísticas de países com renda per capita similares. Atualmente, o
universo escolar tem sido apresentado como um grande foco de pesquisas nas áreas da
educação e da psicologia e, além disso, tem se tornado mais constante no Brasil os
estudos que utilizam o referencial da teoria das representações sociais em busca de uma
melhor compreensão dessa realidade. Tendo em vista a discussão atual sobre a provável
relação existente entre os fenômenos da exclusão social e os da baixa escolaridade, a
escola mostra-se como um espaço privilegiado, possibilitando observar como as
representações sociais se constroem, passam por evoluções e se transformam no interior
de grupos sociais. O estudo das representações sociais possibilita investigar justamente
como se formam e como são executados os sistemas de referência que utilizamos para
classificar pessoas e grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana.
O presente estudo teve por objetivo descrever e sistematizar as representações sociais
que as mães de estudantes do ensino fundamental da rede pública municipal, residentes
da Comunidade Dandara e acompanhadas pelo Programa Família-Escola Pampulha, têm
a respeito da educação escolar. A pesquisa empírica e descritiva seguiu o delineamento
de uma abordagem qualitativa, sendo realizada com oito mães, e após a fase
exploratória da pesquisa, foi realizado o trabalho de campo com a utilização de
entrevistas individuais semiestruturadas. A análise e interpretação dos dados foi
realizada a partir da Análise de Conteúdo, por meio da técnica de análise temática,
buscando identificar os temas que denotavam os valores de referência e formas de
conduta presentes nos discursos. Os resultados indicam que a maneira como as
participantes representam a escola parece estar ancorada nas formas de ensino voltado
para os saberes básicos e as funções tradicionais de instrução, valorizando a leitura,
escrita e cálculo. Além das ideias de ordem e respeito associadas ao bom funcionamento
da instituição escolar, a partir de suas perspectivas. As representações sobre a escola
também incluem a ideia de possibilidade de inserção no mercado de trabalho e ascensão
social, sendo este o principal aspecto para que incentivem seus filhos a continuarem
estudando. Isto sugere que as representações sociais que elas mantêm sobre a educação,
influenciam em suas atitudes para com seus filhos. Sendo assim, a escola ao ser
compreendida por estas mães como uma forma de ascensão social e econômica, pode
ser vista como um mecanismo de inclusão na sociedade ao possibilitar o acesso a bens
de consumo e melhores condições de vida.
Although there have been positive changes of basic education in Brazilian public
schools over the past three decades, from 2006 INEP data, the discrepancy levels
between age and grade, school dropout and repetition rates are still high compared to
the statistics with income countries per capita similar. Currently, the school
environment has been presented as a major focus of research in the areas of education
and psychology and, moreover, has become more constant in Brazil studies using the
framework of the theory of social representations in search of a better understanding
this reality. Given the current discussion on the probable relationship between the
phenomena of social exclusion and low schooling, the school shows up as a privileged
space, making it possible to observe how the social representations are constructed, they
undergo changes and become inside social groups. The study of social representations
enables investigate precisely how they form and how the reference systems we use to
classify people and groups, and to interpret the events of everyday reality are run. This
study aimed to describe and systematize the social representations that mothers of
elementary school students of the municipal school system, residents of Dandara
Community and accompanied by the Family-School Program Pampulha have about
school education. Empirical and descriptive research followed the design of a
qualitative approach, being conducted with eight mothers, and after exploratory research
was conducted fieldwork with the use of semi-structured individual interviews. The
analysis and interpretation of the data was performed from the content analysis, through
thematic analysis, seeking to identify the issues denoting the reference values and forms
of conduct of the discourse. The results indicate that the way the participants represent
the school seems to be anchored in the forms of education focused on the basic
knowledge and the traditional roles of education, emphasizing reading, writing and
arithmetic. In addition to the order of ideas and respect associated with the smooth
running of the school, from their perspectives. The representations of the school also
include the idea of possibility of entering the labor market and social mobility, which is
the main aspect to encourage their children to continue studying. This suggests that
social representations that they keep on education, influence on their attitudes toward
their children. Thus, the school to be understood by these mothers as a form of social
and economic rise can be seen as an inclusion mechanism in society by enabling access
to consumer goods and better living conditions.
Tabela 2 – Escolaridade................................................................................ 31
1 INTRODUÇÃO
1.5 Justificativa
2 REFERENCIAL TEÓRICO
trabalho infantil, mesmo que em suas formas mais toleradas tal como o trabalho
doméstico e os cargos informais de ajudante, e isto demonstra raciocínio de
sociabilidade da infância e da adolescência que se esbarram, muitas vezes, com a escola
e a sua jornada. Helal (2010) menciona a existência de estudos que trazem, a partir de
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001, que, quando
as mães estão trabalhando, maiores são as chances de crianças trabalharem, em especial
as meninas, as crianças mais novas e aquelas residentes de áreas rurais. Existem
ligações fortes entre as mães e as características do emprego das crianças, sendo
incluídos o setor e a posição ocupada. Também pode-se observar que no Brasil, quanto
maior for o nível educacional dos pais, menor é a participação das crianças em
atividades laborais, ocasionando em uma maior escolarização.
Segundo Naiff (2013), os dados do IBGE de 2006 apontam para uma correlação
positiva entre escolaridade e inserção no mercado de trabalho, ou seja, quanto maior o
nível de escolaridade, maior a remuneração. Ainda assim, o sistema educacional
brasileiro apresenta baixos índices de conclusão do ensino fundamental associados a
elevados índices de evasão e discrepância entre faixa etária e série escolar, dessa forma,
mostra-se necessário o debate sobre a escola como agente de inclusão ou exclusão
social.
Em relação à educação de crianças e jovens provenientes das classes populares,
a literatura aponta para as relações entre pobreza e baixo rendimento escolar e da
propensão equivocada de ser naturalizado o fracasso dessa população (MARQUES e
CASTANHO, 2011). Ao mesmo tempo em que a educação se afirmou como uma
política social de caráter universal, com a ampliação da escolaridade, passou a se
concentrar em procedimentos que buscam garantir o acesso e a permanência dos grupos
em situação de vulnerabilidade social na escola. Dessa forma, programas de renda
mínima, por vezes, são vinculados à escolarização (CLEMENTINO, 2013).
Em relação às transferências de renda, autores consideram que estas podem não
ter efeito desejável quando uma sociedade tem, a princípio, um baixo nível de instrução
e quando os pais das crianças e adolescentes não valorizam a educação formal (HELAL,
2010). No entanto, a garantia de acesso à escola não é suficiente para a inclusão social,
sendo necessário considerar a questão social de forma ampliada, tendo em vista que a
baixa escolaridade dos alunos pode ser considerada uma herança histórica de
desigualdades que persistem na sociedade. Constantemente, a sensação de que os
problemas sociais podem ser resolvidos, exclusivamente, pela educação é reproduzida
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pela opinião pública. Afirma-se, seguindo os princípios liberais, que são oferecidas
oportunidades iguais aos desiguais. Porém, a dificuldade de acesso ao atendimento às
necessidades básicas interfere no acesso que as famílias possuem sobre a educação
escolar. Dessa forma, a articulação entre políticas educacionais e a dimensão social
devem ser consideradas como estratégias de ação (CLEMENTINO, 2013).
A escola apresenta-se como um espaço de socialização que procura favorecer
experiências e a produção de conhecimento para a vida, de forma que as crianças e os
jovens sejam integrados às principais redes sociais para sua formação (CFP, 2013).
Segundo Gadotti (1998 apud NAIFF e SÁ 2008), a escola tem passado por um processo
em que se devem buscar estratégias reflexivas sobre seu papel social, pois, muitos dos
aspectos vivenciais relacionados à escolaridade ou a falta dela, trazem significados que
podem influenciar o futuro dos indivíduos, a percepção de seu grupo social e também a
auto percepção.
A partir do que afirma Mappa (2014), a família e a escola são duas bases do
processo educativo e suas funções apresentam-se como complementares. Sendo assim,
demonstra-se necessário um encontro ativo entre estas duas realidades, entre os projetos
da família e os da escola, no qual uma de suas representações refere-se ao espaço
socioeducativo na promoção do desenvolvimento humano. Aparenta-se ser importante
a consideração das configurações familiares presentes nas escolas públicas, além do
conhecimento de seus membros e quais expectativas são mantidas em relação ao papel
desempenhado pela escola na formação de seus filhos.
Na relação família-escola, pressupõe-se a existência de uma “confiança” por
parte da família, de que a escola também se responsabiliza pela educação de seus filhos.
Ao lado de que a escola espera que as famílias sejam participativas e colaborativas das
ações educacionais, estabelecendo uma parceria. Dessa forma, há um jogo entre as
instituições família e escola, onde cada uma cria expectativas e cobra da outra
resultados em relação a formação dos alunos. A autora também afirma que deve-se
atentar para a importância dada à escola e à educação, verificando se esta é percebida,
por parte das famílias, como um processo permanente, e não mais uma etapa da vida,
sendo uma das formas para ingressar no mercado de trabalho (MAPPA, 2014).
Segundo Klein (2005), nos discursos de diversos campos, entre eles o político, o
pedagógico, o psicológico, o da mídia e o do senso comum, que fazem articulação entre
a questão da melhoria da aprendizagem dos(as) estudantes com a participação das
famílias, verifica-se a especificidade das mulheres-mães no processo de escolarização.
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Moscovici (2015) afirma que as representações não são criadas por um sujeito
de forma isolada, mas que, uma vez geradas, elas adquirem uma vida própria, circulam,
se encontram, se atraem e se rejeitam, dando oportunidade ao surgimento de novas
representações, enquanto velhas representações morrem. Segundo Moscovici (2015,
p.53), “as representações sociais devem ser vistas como uma ‘atmosfera’, em relação ao
indivíduo ou ao grupo, e são, sob certos aspectos, específicas da sociedade humana”.
Para Oliveira e Werba (2009), Moscovici elaborou o conceito de representação
social a partir de teorias originadas na Sociologia e na Antropologia, através de
Durkheim e de Lévi-Bruhl, sendo inicialmente chamado de representação coletiva e
servindo como componente básico para a criação de uma teoria da religião, da magia e
do pensamento mítico. Partindo do conceito de representação coletiva de Durkheim,
Moscovici mencionou o termo representação social pela primeira vez em seu estudo
sobre a representação social da psicanálise. Nesta publicação, Moscovici direciona um
estudo buscando compreender de forma mais profunda de que maneira a psicanálise, ao
sair dos grupos fechados e especializados, é representada por grupos populares na
Europa. Segundo Lahlou (2014), Moscovici buscou apresentar a representação social na
prática, entendendo-a como um mecanismo funcional.
A especificidade das representações sociais refere-se a função desempenhada,
colaborando de forma exclusiva para os processos de formação das condutas e de
orientação das comunicações sociais, e não ao caráter coletivo de seu modo de produção
ou ao maior ou menor número de sujeitos ou grupos a compartilharem (JESUINO,
2014).
Sobre a finalidade das representações, Moscovici (2015) afirma que é o de tornar
familiar algo que não seja familiar. Dessa forma, o autor elaborou dois conceitos para
explicar como se processa esta atividade. Faz parte do processo gerador de
representações sociais, os processos de ancoragem e objetivação. Sendo o primeiro, o
processo pelo qual se procura classificar, encontrar um espaço, encaixar o não familiar.
A ancoragem auxilia na dificuldade em aceitar o que é estranho, diferente. Ao
ancorarmos, classificamos uma pessoa, ideia ou objeto e com isso o colocamos dentro
de alguma categoria que comporta, historicamente, esta dimensão de valor. O processo
de objetivação, por sua vez, refere-se ao movimento de procurarmos tornar concreto
uma realidade; visa vincular um conceito a uma imagem, descobrir a qualidade material,
de uma ideia, transferindo o que está na mente em algo que exista fisicamente no mundo
(OLIVEIRA; WERBA, 2009).
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estudo realizado em uma escola pública estadual em São Paulo com 12 pais (sete do
gênero feminino e cinco do masculino) de estudantes, concluiu-se que a família projeta
para o filho a imagem de escola do passado que possui. De maneira geral, foi possível
perceber que a “boa escola” ou a “escola de qualidade” para o grupo pesquisado,
articula os valores cívicos e morais, a necessidade de ordem e disciplina e os vínculos
afetivos favorecidos nesse espaço. O que demonstra ser valorizado no senso comum é
uma educação disciplinar, voltada para a ordem e para a submissão dos sujeitos, e não
uma educação voltada para a cidadania e emancipação.
Nesta direção, Vilassanti (2011) afirma que as interações sociais que acontecem
na escola, estiveram historicamente vinculadas ao conceito de disciplina escolar, em que
os papéis de professor e aluno foram construídos no interior da cultura escolar. Segundo
Patto (2010), em uma estrutura hierárquica de poder como a que existe na escola
pública de ensino. Esta forma de relação de desigualdade se estabelece porque, nessa
estrutura, os que encontram-se nos níveis superiores da pirâmide detêm o poder de
punir, de recompensar e monopolizam o saber. No entanto, a autora afirma que onde
quer que existam relações de poder desigual, existe a possibilidade de questioná-las e
trabalhá-las. A educação deve estar voltada em direção ao exercício da cidadania, e isto
implica na liberdade individual e social, sobretudo pela possibilidade dos alunos
pensarem por eles próprios, acerca de seu lugar no mundo e de sua subjetividade. Ao
serem submetidos a um modelo educacional opressor, estes alunos, constantemente,
possuem esta liberdade violada. Freire (1996) acredita que cabe ao educador reforçar a
capacidade crítica dos alunos, sua curiosidade, sua insubmissão.
Ao estudar sobre as representações sociais de pais de uma escola pública
municipal de Belém a respeito da educação infantil, Ferreira (2008) evidenciou que,
para os pais, as informações sobre a educação infantil materializam-se no processo de
aprendizagem e socialização, ancoradas no entendimento de que a educação poderá
preparar o presente e como consequência o futuro das crianças. Além disso, a autora
salienta a desaprovação e a sensação de incômodo nos discursos dos pais diante das
constantes reafirmações a respeito das dificuldades de aprendizagem dos filhos e a falta
de gentileza no tratamento com os pais por parte de pessoas da coordenação escolar
diante de questionamentos levantados.
Em estudo realizado por Naiff e Sá (2008) com mães e filhas sobre a educação
formal foi constatado que a instituição escolar e o ato de estudar representam aspectos
positivos vividos no passado e são projetados nos discursos sobre o futuro como
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3 MATERIAL E MÉTODOS
Neste capítulo, a princípio, será feita a descrição direta dos dados colhidos
referentes ao contexto socioeconômico e cultural das mães dos estudantes, conforme
proposto nos objetivos, assim como os resultados da Análise de Conteúdo temática. Em
seguida, será realizada a discussão desses resultados considerando-se o referencial
teórico escolhido para esta pesquisa.
Nas Tabelas 1, 2 e 3 abaixo, encontram-se alguns dos dados socioeconômicos e
culturais do grupo de mães.
Tabela 1 – Faixa etária das mães e dos seus respectivos filhos e Estado Civil
Tabela 2 – Escolaridade
Número de sujeitos
Não Ensino Ensino Ensino Ensino Não
Informação escolarizado/a fundamental fundamental médio médio soube
incompleto completo incompleto completo informar
Escolaridade _ 05 01 _ 02
da mãe
Escolaridade 03 03 _ _ _ 02
da mãe da
entrevistada
Escolaridade 02 03 _ _ _ 03
do pai da
entrevistada
Escolaridade _ 02 01 _ _ 01
do marido
da
entrevistada
Sigla que representa a participante entrevistada.
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6) Clima escolar 05
7) Distância 03
momentos faltava. Já outras 3 (três) afirmaram que a merenda escolar era boa e citaram
o sentimento de saudade em relação a comida da época.
EXEMPLO: Sopinha de macarrão, arroz doce, soja, mingau... Eles faziam uma
sopa com muitos legumes, era uma delícia! (S.M)
5) Sobre o relacionamento entre os colegas, os estudantes, na época que
estudaram, 6 (seis) participantes relataram suas experiências. Destas, 4 (quatro)
consideram que os estudantes naquele tempo eram mais calmos, ou seja, menos
agitados, do que os estudantes atualmente. Das respondentes, apenas 2 (duas)
mencionaram que no seu tempo existiam brigas na escola, mas não com a mesma
violência dos dias atuais.
EXEMPLO: O clima entre os colegas era bom. Ninguém pegava ninguém de
porrada, ninguém puxava cabelo de ninguém, a gente brincava muito. Era gostoso.
(L.V)
6) O clima escolar, no que diz respeito ao relacionamento entre professores,
alunos e direção e sobre o sentimento de pertencimento à escola, foi mencionado por 5
(cinco) participantes. De forma que 3 (três) consideraram o clima escolar sendo bom, já
outras 2 (duas) mencionaram o sentimento de insegurança que existia na época,
principalmente em relação às brigas.
EXEMPLO: Antigamente a disciplina, o respeito com os coleguinhas, com os
funcionários e com os professores era diferente... Antigamente era mais afetivo, era
mais familiar. (U.L)
7) Apenas 3 (três) entrevistadas mencionaram a questão da distância entre sua
casa e a escola onde estudavam, afirmando que a escola era longe e de difícil acesso.
EXEMPLO: A escola era no interior, muito cansativo mesmo, porque a gente
tinha que sair de casa 5 horas da manhã pra chegar na escola 7 horas da manhã. Era
muito distante, a gente ia a pé, não tinha o que tem hoje que é o escolar. (S.M)
EXEMPLO: Eu fui até a 8ª série sem tomar bomba. Depois eu engravidei, casei
com 17 anos, aí minha cabeça não ficou muito boa não, ai eu parei de estudar e virei
dona de casa. (O.F)
2) Das 8 (oito) entrevistadas, 3 (três) mencionaram que optaram por parar os
estudos, e afirmaram que sentiram-se arrependidas por esta decisão.
EXEMPLO: Porque a gente, eu e meus irmãos, foi crescendo e teve opção se
queria estudar ou não queria. Ai a gente foi e parou. Arrependi, muito, muito mesmo.
Se eu voltasse atrás eu faria tudo diferente. Porque as oportunidades vêm e passam, e
hoje eu não tenho essa oportunidade mais de estudar porque minha vida é muito
corrida. (S.M)
3) Interromper ou abandonar os estudos para trabalhar e aumentar a renda
familiar foi citado por 2 (duas) participantes.
EXEMPLO: Interrompi porque eu tive que parar pra ajudar minha mãe na
época, trabalhar, esses trem. Minha mãe que mexia com reciclagem, aí na época eu tive
que parar pra ajudar. Ajudava a separar papel, a catar papel no carrinho. (M.R)
4) Já 2 (duas) concluíram o ensino médio, mas não quiseram seguir estudando,
finalizando a escolarização.
EXEMPLO: Hoje, na realidade, eu não tenho, falar assim ‘eu vou fazer tal
curso’ não. Só se de repente aparecer ainda. Mas fazer faculdade, eu acho que eu não
tenho paciência mais não. (U.K)
5) 1 (uma) participante mencionou o casamento como fator decisivo para
interromper os estudos.
EXEMPLO: Eu parei de estudar ai conheci meu marido, fui pra Sergipe, fui
morar com ele, depois tive meu 1° filho lá em Aracaju, aí depois voltamos pra essa
região aqui e eu tive meus outros filhos. (L.V)
A análise dos relatos sobre a trajetória escolar deste grupo de mães evidencia
comparações entre a escola antigamente e a escola atual, conforme alguns pontos que
podem ser observados no Quadro III a seguir.
Alunos mais empenhados; Alunos menos empenhados;
mulher como elemento central, sendo tomadas como principais aliadas às políticas
voltadas para crianças e adolescentes. A autora afirma que esta ação pode ser
considerada como uma estratégia de terceirização das funções do Estado,
sobrecarregando o trabalho das mulheres e perpetuando a cultura sexista de que o valor
da mulher esteja associado ao cumprimento de atribuições maternas.
Dessa forma, as representações das entrevistadas sobre maternidade demonstram
influenciar no envolvimento e acompanhamento da vida escolar, e consequentemente,
no sentimento de responsabilização pelo cuidado dos filhos.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos discursos das mães, as representações sociais que imprimem acerca
da escola mostram-se válidas para expor as relações entre os conhecimentos práticos e o
caminho utilizado para explicar a sua realidade. Ao construírem representações sociais
sobre a escola, estas mães orientam-se para nomear, definir e interpretar os diversos
aspectos da realidade cotidiana presente no contexto escolar. A maneira como as
participantes representam a escola parece estar ancorada nas formas de ensino voltados
para os saberes básicos e as funções tradicionais de instrução, valorizando a leitura,
escrita e cálculo; além das ideias de ordem e respeito associadas ao bom funcionamento
da instituição escolar, a partir de suas perspectivas. Pode-se considerar, a partir dos
resultados obtidos, que a escola estaria objetivada como um local de normas, regras e
padrões a serem respeitados. Ao contrário do entendimento de uma educação que
promova valores de cidadania e emancipação, conforme tem sido discutida e proposta
por grande parcela da pedagogia atual e pela psicologia social. Percebe-se que a
educação no presente é percebida como influência do passado e as representações
sociais se apoiam em valores ideológicos culturais, de acordo com seus grupos sociais.
As representações sobre a escola também incluem a ideia de possibilidade de
inserção no mercado de trabalho e ascensão social, sendo este o principal aspecto para
que incentivem seus filhos a continuarem estudando. Isto sugere que as representações
sociais que elas mantêm sobre a educação, influenciam em suas atitudes para com seus
filhos. Essas mães compreendem que a educação e o sucesso escolar (ou profissional) é
determinado quase que exclusivamente pelo esforço e dedicação de cada um, ou seja,
buscam as respostas para os problemas no indivíduo. Haja vista a não problematização
sobre o impacto da situação socioeconômica vivenciada sobre a educação dos próprios
filhos. Como consequência, é comum que estas mães se culpabilizem ou culpabilizem
os próprios filhos por qualquer “fracasso”. Em certa medida, essa não indignação da
população quanto às suas próprias condições sociais, bem como a introjeção de que o
sucesso depende exclusivamente do esforço e mérito pessoal, acaba, frequentemente,
servindo à manutenção do status quo. Vale destacar que as mães entrevistadas
demonstram acreditar na possibilidade de ascensão social para seus filhos, mas não
compartilham desta percepção para elas mesmas. Sendo assim, a escola ao ser
compreendida por estas mães como uma forma de ascensão social e econômica, pode
ser vista como um mecanismo de inclusão na sociedade ao possibilitar o acesso a bens
de consumo e melhores condições de vida.
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__________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos
negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos,
slides e transparências), em favor das pesquisadoras da pesquisa, acima especificadas,
obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e
adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos
idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto
Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).
_________________________________
Participante da pesquisa
_________________________ _________________________
Andréa Moreira Lima, Ph.D. Nicole Costa Silva
CPF 036.326.686-04 CRP 04/18440 CPF 105.472.686-88
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REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Ed. rev e ampl. São Paulo: Edições 70,
2011. 279 p.
NAIFF, Luciene Alves Miguez; SA, Celso Pereira de; NAIFF, Denis Giovanni
Monteiro. Preciso estudar para ser alguém: memória e representações sociais da
educação escolar. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto, v. 18, n. 39, p. 125-138,
2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
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PATIAS, Naiana Dapieve; BUAES, Caroline Stumpf. "Tem que ser uma escolha da
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Soc., Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 300-306, Ago. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822012000200007&lng=en&nrm=iso>. Acessos em 10 Maio 2015.