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Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 1

ESCOLA ESTADUAL “BRASIL”:


ENTRE MEMÓRIAS E
IMAGENS
2 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 3

WILSON RICARDO ANTONIASSI DE ALMEIDA

ESCOLA ESTADUAL “BRASIL”:


ENTRE MEMÓRIAS E
IMAGENS

1ª Edição

Editora e Gráfica Expressão de Limeira Ltda.


Limeira – SP
2007
4 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Diagramação: Editora e Gráfica Expressão de Limeira Ltda.


Revisão: Prof. Jurandir Godoi Vitta
Pesquisa iconográfica: Prof. Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Copyright © 2007 by Autor

Revisão: Prof. Jurandir Godoi Vitta

Diagramação: Editora e Gráfica Expressão de Limeira Ltda

Pesquisa iconográfica: Prof. Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Catalogação na Fonte por Ligia Consuelo Araújo CRB/8-3652

A447
Almeida, Wilson Ricardo Antoniassi de, 1977-
Escola Estadual “Brasil”: entre memórias e imagens /
Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida. – Limeira,
Editora e Gráfica Expressão: 2007.

295p.: il., 22 cm.

ISBN 978-85-61138-00-4

1. Educação – Limeira (SP) – História. 2. Escola


“Brasil” – Limeira (SP) – História. I. Almeida,
Wilson Ricardo Antoniassi de. II. Título.

CDD (22) 370.98161

Composição:
Editora e Gráfica Expressão de Limeira Ltda.
CNPJ 04.650.460/0001-16
Praça Adão Duarte do Páteo, 122, Centro
Limeira – SP
CEP: 13.484-044
Fone: (19) 3444.6720
e-mail: gráfica@graficaexpressao.com.br
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 5

A toda sociedade limeirense: aos alunos e ex-


alunos, aos professores e ex-professores, aos
funcionários e ex-funcionários e aos demais cidadãos
que, sendo protagonistas ou meros espectadores da
Escola Estadual “BRASIL”, têm por ela um
sentimento profundo de admiração e respeito, e suas
vidas, numa relação de reciprocidade, constituem
juntamente com a escola essa história maravilhosa.
6 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 7

AGRADEÇO:

A Deus pela vida e pela oportunidade de fazer parte da


Escola Estadual “BRASIL”, como também, poder relatar
sua história.
A minha família e amigos e em especial a minha mãe
que, apesar das dificuldades e trabalho intenso, soube pro-
porcionar as condições necessárias para minha educação: for-
mação intelectual e humana.
Ao amigo e professor Dr. Romualdo Dias que caminhou
junto comigo neste desafio; às vezes, a pé, devido aos buracos
existentes; às vezes, de carona, auxiliando-me durante o tra-
jeto e indicando o caminho correto; e muitas vezes fornecendo
combustível para chegarmos ao lugar pretendido. Sendo algu-
mas vezes de forma lenta, outras vezes de forma rápida, en-
tretanto, não importa, o essencial é que pudemos percorrer o
trajeto previsto e chegamos juntos.
Aos meus “queridos alunos e colegas” da Escola Esta-
dual “BRASIL”, pela amizade e pelo carinho.
A todos os funcionários e ex-funcionários, professores e
ex-professores e alunos e ex-alunos que forneceram suas con-
tribuições para a confecção deste livro.
Ao diretor da Escola Estadual “BRASIL”, Osvaldo As-
sumpção Castro, pelo apoio fornecido durante esta pesquisa.
8 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
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ACRÓSTICO À GUISA DE
PREÂMBULO

E scola de encanto e poesia,


S obretudo de histórias diversas,
Conserva no bojo das pedras
Os segredos do ódio e do amor,
Levando no tempo a magia...
A saudade de quanto esplendor!

Bem quisera, com grande mestria,


Registrar fotograficamente
A s imagens de todo um perfil:
S onhos... Ciência... Alegria.
Iconografia d’alma e da mente,
Lembranças da Escola Brasil!

E ntretanto se torna patente,


Um instante de compreensão:

Tudo quanto esteve ao alcance


E stá, aqui, nesta humilde função...

A manhã, ou em outra ocasião,


M uitos fatos se hão de contar
O que importa é viver com paixão!

Jurandir Godoi Vitta


Professor da Área de Linguagens e Códigos da E.E.“BRASIL”.
10 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
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SUMÁRIO

PREFÁCIO..................................................................................13

INTRODUÇÃO...........................................................................19

SEGUNDO GRUPO ESCOLAR DE LIMEIRA


Criação e construção do Segundo Grupo Escolar.............................23
Grupo Escolar “BRASIL” e demais denominações..........................35
Escola Estadual “BRASIL”..........................................................43

ENTRE MEMÓRIAS E IMAGENS


A escola e o cotidiano escolar através de memórias e imagens.........55
Festa junina.....................................................................................205
Cinqüentenário da escola...............................................................211
Educação Especial..........................................................................215
Escola Padrão, ampliação da escola e reforma de seu prédio.........230
Hino à Escola “BRASIL”.............................................................241
Brasão..............................................................................................243

CONCLUSÃO
A Escola Estadual “BRASIL” no século XXI ...............................245

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............291
APOIO CULTURAL ....................................................293
12 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 13

PREFÁCIO

Este livro nos oferece um rico acervo de imagens sobre o cotidiano


da Escola Estadual “BRASIL”, situada no município de Limeira, no Es-
tado de São Paulo. Importa nesta apresentação destacar tanto o registro
quanto a figura de quem o faz. Pois, a paixão do escritor determina o
colorido das paisagens que se descortinam diante de nossos olhares. Com
muita paixão e afeto, o Professor Wilson Ricardo nos descreve aspectos
instigantes de um funcionamento escolar expondo com a maior generosi-
dade a materialidade dos processos organizacionais e simbólicos implicados
neste contexto específico.
Os leitores podem desfrutar das mais belas paisagens em uma com-
binação de dois percursos: um transcorre pela linha do tempo e nos permite
uma vivência pela diacronia. Deste modo, através do desenrolar de uma
temporalidade, nós percebemos, passo a passo, modos de constituição de
uma memória da Escola Estadual “BRASIL”, e mais ainda, da memória
de seu vínculo com a cidade na qual se insere.
O outro percurso consiste na vivência do mergulho sincrônico. A
intensidade do processo educacional está exposta nas formas como a escola
se organiza hoje em meio aos esforços para responder desafios propostos
também por uma cidade em outra etapa de sua história. Há marcas de
sabedoria na lida dos educadores que participam da história da escola neste
momento. Há sinais do envolvimento dos educandos com as propostas apre-
sentadas pela escola. Deste modo, testemunhamos diversos modos de com-
promisso em ação no ambiente pedagógico. Não há nada de espetacular,
pois tudo sucede na mais extrema simplicidade. A riqueza do ato educaci-
onal se prova justamente nesta condição de ser simples e nesta capacidade
de resistir aos apelos das iniciativas pretensamente fantásticas.
A natureza dos vínculos afetivos merece maior conhecimento por
parte de todos aqueles que se preocupam com a educação, principalmente
14 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

daqueles que se angustiam com a situação vivida pela escola em nosso


tempo. Neste registro da história da Escola Estadual “BRASIL” nós en-
contramos um material vasto a nos ensinar sobre a dinâmica dos vínculos
afetivos, sustentando processos de aprendizagem, com tudo o que implica
um desenvolvimento educacional. A característica de cada contexto exerce
suas determinações sobre os vínculos possíveis em cada experiência. Se
rastreamos atentamente a diacronia dos fatos, nós encontramos, também,
elementos que nos explicam sobre a condições de rupturas, sobre modos de
praticar a ousadia, sobre um jeito de teimosia que sempre compõe o ofício
de educar. Ao longo de uma história da escola nos convencemos sempre
mais sobre esta condição de sustentabilidade promovida pelos vínculos es-
tabelecidos entre educador e educando, entre escola e equipe educacional,
entre a escola e a cidade, entre a escola e cada aluno. Deste modo tocamos
no tema do ambiente escolar e na sua sustentabilidade. Não há trabalho
educacional eficaz se não estamos atentos a este trabalho de zelo pelo am-
biente escolar. Assim, recebemos por meio do registro da história desta esco-
la também a descrição dos modos de organização deste ambiente tão singu-
lar. A diacronia pode ser percorrida por nós como uma forma de exercício
de nossa sensibilidade diante dos ambientes emergentes.
Um olhar para o que se passa no momento atual, esta observação
sobre as composições sincrônicas, nos aponta os aspectos inerentes à orga-
nização de uma equipe de educadores. A eficácia de um processo educaci-
onal também depende seriamente do quanto se consegue, ou não, consti-
tuir uma equipe de educadores, que se apresenta diante dos alunos, real-
mente como sendo educadores. Há escolas com belíssimos projetos educaci-
onais elaborados, todos eles muito generosos na oferta de medidas
pretensamente progressistas e inovadoras. Mas, de que adianta sermos os
portadores das mais belas intenções, se na passagem para a aplicabilidade
elas se fragmentam na dureza do cotidiano? Uma boa equipe educacional
permite à escola resistir aos testes da dureza constituída pelas mais diversas
contradições por ela enfrentada em seu dia-a-dia. A Escola Estadual “BRA-
SIL” nos oferece variados testemunhos de como os educadores se compro-
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metem também com o zelo pela formação e pela sustentação de suas equi-
pes de trabalho.
Na apresentação do livro do Professor Wilson Ricardo quero des-
tacar um dos desafios que mais sobressaem no registro da escola pela qual
ele tanto se apaixonou. Estou me referindo ao aspecto da memória. A
Escola Estadual “BRASIL”, como a escola mais antiga do município de
Limeira, se afirma com uma memória forte. Talvez nesta memória encon-
tramos o seu mais precioso tesouro. Penso em até afirmar a memória além
se sua natureza de acervo de signos e sentidos. Vejo nesta memória um
terreno de biodiversidade, bem ao modo como nós já mencionamos o meio-
ambiente aqui. Neste caso se trata de uma biodiversidade do território da
fantasia.
Neste território nós podemos apontar o desafio em uma dupla di-
mensão: a primeira, consiste no modo como a escola recupera o dinamismo
do processo educacional na composição de novos sentidos para os alunos e
para os educadores que se encontram nela hoje. A segunda, consiste no
modo como esta escola testemunha para o nosso país as condições de
reinvenção do papel da escola para que esta instituição consiga acompa-
nhar a dinâmica da sociedade. A resposta para este dois desafios depende do
quanto os educadores manejam o acervo constituído pela memória desta
escola.
A lida com a memória nos abre outro horizonte para pensarmos na
construção dos valores em uma escola pública e laica, sobretudo quando
esta se situa em sociedades heterogêneas como a nossa. Aqui me refiro a
uma heterogeneidade feita de um descompasso com o tempo. Isto é, a soci-
edade brasileira articula experiências situadas ainda em uma temporalidade
que podemos designar como pré-moderna. Ou melhor, se a modernidade
representou para a cultura ocidental uma experiência profunda de ruptu-
ras com esquemas de certezas, aquilo que foi compreendido como o
Iluminismo, encontramos setores de nossa sociedade arraigados em modelos
de ordem e autoridade muito próprios da pré-modernidade. Há também
setores que se abrem para os movimentos de incerteza se reinventando tan-
16 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

to nos aspectos referentes a uma epistemologia quanto a uma ontologia.


Tanto os modos de existência quando as explicações que a acompanham
estão atravessados de intensas turbulências. E há também setores da soci-
edade, sobretudo se focamos nosso olhar para as combinações produzidas
no interior da tecnociência, vivendo experiências em disparada por um
tempo pós-moderno. Diante deste quadro tão complexo que respostas a
escola pode oferecer ao se apresentar também como uma instituição partícipe
na construção dos valores para a sociedade? O manejo da memória cumpre
neste caso uma função imprescindível. Trata-se de apropriar da tradição
sem ser tradicionalista, se quisermos lançar mão de uma expressão forjada
por Paul Ricoeur em 1965. Na tradição a escola pode enraizar novos valo-
res, retirando dela a seiva da sustentabilidade. Nada de recorrer a atalhos
facilitadores apelando para instrumentos transcendentais. Nós, educado-
res, podemos nos debruçar sobre a tradição como um esforço de beber nela
a seiva de vida, esta energia capaz de alimentar a nossa potência de criação
nos esforços de ultrapassagem das linhas do horizonte. O encontro da esco-
la com a memória, por meio de um uso sábio da tradição, pode ser o mais
belo e necessário encontro numa lida cotidiana de educadores.
Enfim, este livro nos apresenta uma história apaixonante de uma
escola escrita por um educador cheio de paixão. Vamos desfrutar desta
história para alimentar nossos sonhos por uma sociedade melhor, esta onde
a vida possa se expressar nas mais diversas direções. Vamos nos afetar por
esta história consolidando nossos compromissos com as novas gerações, na
mais intensa expressão de nossos afetos. Quero testemunhar o prazer que
experimentei no trabalho de orientar o Professor Wilson Ricardo no perío-
do em que ele escrevia esta história na forma do seu trabalho de conclusão
de curso para concluir a Licenciatura em Pedagogia, no Instituto de
Biociências, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
lho”, a UNESP, no campus de Rio Claro, SP. Este percurso rico de afetos
me fez outro educador. A intensidade da partilha se desdobrou em modos
mais generosos de estar na vida, algo bem distante das consignas de
“melhoradores da humanidade”. Se podemos melhorar a nós mesmos, já
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alteramos com humildade a condição de nossos compromissos conosco, com


o outro e com o mundo. Assim, terminamos o percurso pelas paisagens
desta escola com a certeza de que vale a pena apostar na vida! A doçura
dos olhares vasculha com mais acuidade as linhas do inédito em cada cami-
nho por nós percorrido. E a vida ganha em charme e beleza! E também em
saúde!

Professor Dr. Romualdo Dias


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INTRODUÇÃO

Este trabalho retrata a memória e a história da Escola Estadual


“BRASIL”, a instituição de ensino público mais antiga em funcionamen-
to no município de Limeira, Estado de São Paulo.
Escola essa em que, em fevereiro de 1998, recém-chegado à cidade de
Limeira, após ter-me formado em Matemática, iniciei minhas atividades
de docente. Não conhecia a cidade, muito menos a escola, no entanto optei
por ela devido a sua denominação “BRASIL”, pois sempre tive muito
amor, civismo e respeito à minha pátria.
O meu primeiro contato com a instituição foi justamente no meu
primeiro dia de trabalho; foi amor à primeira vista. Tudo me agradou, o
prédio, os alunos, os funcionários, os professores...
A partir daquele momento comecei a conhecer aquilo que em uma
primeira impressão me atraiu, com o intuito de ficar cada vez mais íntimo
de tudo e de todos. Essa tentativa de compreender o que era a minha esco-
la, não passou muito além de um passado recente até o presente momento,
pois não havia nenhuma bibliografia referente a ela e devido à sua idade,
ali não havia mais ninguém que tivesse vivenciado todo seu passado. Di-
ante disso, durante o transcorrer do curso de Licenciatura em Pedagogia
decidi trazer à tona o passado remoto e desconhecido desse educandário,
satisfazendo minhas curiosidades e, ao mesmo tempo, com o propósito de
registrar e apresentar a sua história aos demais colegas, alunos e a toda
sociedade limeirense.
A princípio, havíamos definido apenas o tema e, devido ao gosto
que tenho por fotos, e, conseqüentemente, o prazer em fotografar, opta-
mos como parte integrante da metodologia, o uso de imagens, pois elas, ao
mesmo tempo em que nos remetem às questões físicas características de
cada período, ainda nos revelam diversidades de situações do cotidiano es-
20 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

colar, permitindo análises e reflexões. E, durante os momentos iniciais de


investigação, em visitas aos arquivos para a identificação e seleção de ima-
gens constatamos a escassez de fotos referentes aos períodos mais antigos,
já que o acesso à fotografia era muito restrito para aquela época. Decidi-
mos recorrer também a depoimentos de alunos e ex-alunos, professores e
ex-professores e funcionários e ex-funcionários como um outro meio para
a constituição da história escolar que até o momento se encontrava grava-
da apenas na memória e lembranças dessas pessoas. Os depoimentos não
deixam de ser também um apelo às imagens que, após o teste efetuado pela
distância, revelam a intensidade dos afetos constituídos nas relações com a
Escola “BRASIL”.
O recurso a depoimentos e a imagens deu-se através de um traba-
lho arqueológico em arquivos. Nossa pesquisa pode, desta forma, com-
por um tecido fazendo o uso de duas linhas: a linha da diacronia e a
linha da sincronia. O nosso olhar sobre as imagens do presente se articu-
lou com o olhar sobre o passado, e assim, construímos um dispositivo de
interpretação das relações entre a escola e o tempo. Contamos a história
desta escola movidos por uma pergunta que se forja com o foco sobre o
sentido atribuído às relações entre escola e tempo. O debate sobre o senti-
do da escola para o momento em que vivemos ganha vigor se conseguir-
mos sustentar um vínculo com a materialidade de uma experiência. É a
experiência de todos que se envolveram com a Escola Brasil que traze-
mos para este nosso estudo.
O percurso realizado pelo interior do território das imagens nos dá
as condições necessárias para desenhar o mapa dos sentidos da ação educa-
cional. Somamos a este esforço o registro de cenas das situações mais diver-
sas, formando um conjunto de flagrantes colhidos no cotidiano escolar,
permitindo, aos olhos de quem vê as suas interpretações.
Constatada a ausência de fotos antigas no álbum local e diante da
decisão de se recorrer a depoimentos para o registro da história pertinente,
iniciamos um trabalho de garimpagem no arquivo da escola. Através dos
livros de movimento (antigo livro ponto), livros de matrículas de alunos,
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 21

de agendas de telefone, e de sugestões de colegas, selecionamos vários no-


mes de ex-alunos, de ex-professores e ex-funcionários dos diversos períodos
ao longo dessas sete décadas e começamos a contatá-las. Inicialmente a
nossa prioridade era por pessoas que possuíssem fotos referentes às mais
diversas situações do cotidiano escolar. A partir delas desenvolvemos um
trabalho de coleta de depoimentos referentes às lembranças da relação delas
com a escola, bem como das situações observadas nas fotos. Ocupando o
lugar do cartógrafo atento registramos os sentimentos e emoções que emer-
giram durante essas recordações.
Dentre aqueles que contribuíram para o registro dessa história,
estão além de alunos e ex-alunos, professores e ex-professores, funcio-
nários e ex-funcionários. Merece destaque o fato de que alguns ex-
alunos, mais tarde, se tornaram professores e funcionários desta escola.
Isto nos permitiu reportar a visões diversas do ambiente escolar, cada
qual de acordo com sua situação perante a instituição. Dos depoimen-
tos, uma parte foi gravada em áudio, principalmente daqueles mais
idosos, e outra foi escrita.
No primeiro capítulo reconstituímos a linha da diacronia, pois é
nossa viagem pela memória de muitos, na qual recolhemos sentidos e
afetos. Apresentamos a Escola Estadual “BRASIL” através do relato de
muitos episódios: discussão da necessidade de criação de um novo Grupo
Escolar no município, sua criação e instalação, os empecilhos político-
partidários surgidos durante a sua construção, o uso de salas empresta-
das em outros prédios, para que os alunos pudessem estudar durante
pouco mais de quatro anos até que as obras de construção fossem con-
cluídas, o primeiro dia de aula no prédio do Segundo Grupo Escolar,
sua inauguração oficial, as mudanças ocorridas em suas denominações
ao longo desses anos. Cuidamos, também, de apresentar um breve histó-
rico atual, retratando sua parte física e seu corpo de gestão, o corpo
docente e o corpo de funcionários.
O segundo capítulo aborda a nossa relação com a escola em um
tempo mais imediato, com o enfoque sincrônico. Trata-se daquela segunda
22 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

linha que escolhemos para compor o tecido dos sentidos da escola. Neste
capítulo registramos o cotidiano escolar através de memórias e imagens.
Dentre os pontos mais relevantes destacamos os seguintes: as mudanças ao
longo do tempo no processo educacional e na instituição escolar, o unifor-
me, brincadeiras e festas, lanche (merenda), metodologias e currículos, con-
dições materiais e econômicas dos alunos, as relações professor-aluno, alu-
no-aluno, aluno-escola, professor-escola, escola-pai e relações de trabalho,
a educação infantil, a educação especial, o cinqüentenário da escola, esco-
la-padrão, ampliação do prédio, hino à escola e seu brasão.
No terceiro capítulo, após análises e reflexões das mudanças ocor-
ridas ao longo dos anos no processo educacional e na instituição escolar,
refletimos sobre a função da escola para o século XXI. Mesmo diante de
todas as evidências obtidas por meio dessa pesquisa, a Escola Estadual
“BRASIL” ainda traz recônditos muitos fatos e situações vivenciadas por
seus sujeitos, constituindo um conjunto de sentimentos e emoções, que
muitas vezes não deixam marcas nem se propagam ao longo do tempo, o
que somente quem viveu cada situação pode expressar. Essa junção de
relatos e imagens proporciona um conhecimento mais íntimo da escola, no
entanto, há muito ainda a ser desvendado, visto que o então presente já se
torna passado.
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SEGUNDO GRUPO ESCOLAR


DE LIMEIRA

Criação e construção do Segundo Grupo Escolar

Antes da construção do Segundo Grupo Escolar de Limeira, situ-


ava-se à Praça da Bandeira, que mais tarde recebeu a denominação de
Praça José Bonifácio, um prédio onde funcionavam, até o ano de 1911, a
Cadeia, o Fórum e a Câmara Municipal. Ele possuía cárceres no andar
térreo, salas para serviços municipais e um grande salão de 18m x 7m para
as reuniões da Câmara Municipal e as sessões do Tribunal do Júri, no
andar superior.

Cadeia, Fórum e Câmara Municipal. Fonte: Suplemento Histórico do Jornal “Gazeta de Limeira”.
24 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A constante evolução do município no início da década de 30, com o


grande desenvolvimento do comércio, das indústrias de máquinas de café,
arroz e outros produtos, bem como a expansão da produção de laranja,
divulgou além das fronteiras do município a fama de um grande progresso
e qualidade de vida, atraindo famílias de várias regiões do País.
Esta época foi momento de orgulho para os limeirenses, porém não
houve tempo para o crescimento proporcional de alguns setores como o da
Instrução Primária.
O então Grupo Escolar da cidade (Primeiro Grupo Escolar de Li-
meira), denominado posteriormente de Grupo Escolar “Coronel Flamínio
Ferreira de Camargo”, não mais suportava tanta clientela, deixando de
realizar várias matrículas por falta de vagas. Conhecendo o fato, centenas
de pais nem tentaram matricular suas crianças. Por isso, a população,
reivindicava a criação de um Segundo Grupo Escolar.
A Prefeitura de Limeira, através da prefeita Maria Thereza Silveira
de Barros Camargo, em entendimento com o Governo do Estado de São
Paulo, acerca da fundação de um segundo grupo escolar na cidade, solicita
a devida permissão para ceder ao Estado a Praça José Bonifácio, local para
ser erguido esse estabelecimento de ensino. (de acordo com ofício nº. 887 da
Prefeitura Municipal de Limeira, de 25 de setembro de 1934).
Após várias solicitações da população juntamente com sua repre-
sentante, a prefeita Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, Limeira
conquista o seu Segundo Grupo Escolar, criado pelo Interventor Federal
Interino do Estado, Marcio Pereira Munhoz, por decreto nº. 6.708 de 28
de setembro de 1934, publicado no dia seguinte no Diário Oficial do Esta-
do, para ser instalado em 1935. Transferiram-se 10 classes providas do Gru-
po Escolar “Cel. Flamínio Ferreira de Camargo” da mesma cidade e foi
feita a anexação das escolas mistas da Vila Esteves e Vila Camargo, tam-
bém em Limeira, e a criação de mais duas classes.
No dia 4 de outubro de 1934, conforme ofício nº. 891 (de 3 de outu-
bro de 1934: Prefeitura Municipal de Limeira), Limeira tem seu comércio
paralisado das 12:30 horas às 16 horas, para que toda sociedade limeirense
pudesse participar das festividades de lançamento da primeira pedra do
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 25

edifício do Segundo Grupo Escolar, às 13 horas.


Em 30 de outubro de 1934, o prefeito interino de Limeira, o profes-
sor José Marciliano da Costa Júnior, solicita à Secretaria de Educação e
Saúde Pública do Estado providências para a construção do Segundo Grupo
Escolar, de modo que este fosse iniciado com brevidade, pois um grande
número de crianças estava sem aceso à instrução primária.
Através de parecer do extinto Conselho Consultivo do Estado de 30
de outubro de 1934, bem como pelo ofício nº. 46.945 do Departamento da
Administração Municipal de 20 de novembro de 1934, autorizou a Prefei-
tura Municipal a ceder ao Governo do Estado parte do terreno da Praça
José Bonifácio, para que nela fosse construído o Segundo Grupo Escolar,
obra há muito pleiteada pela população.
Para abreviar a construção, a Prefeitura Municipal informou ao
Governo do Estado que em Limeira havia pessoas interessadas na constru-
ção do prédio do Segundo Grupo Escolar, prontificando-se a iniciá-lo e a
terminá-lo, financiando para pagamentos a longo prazo e, também, além
de questões educacionais, a Prefeitura Municipal justificou que o início
das obras iria melhorar a própria estética urbana local.
Em fevereiro de 1935, durante a gestão do prefeito municipal
Gumercindo Godoy, nada ainda havia sido feito, a não ser a demarcação
do terreno onde seria construído o novo prédio, e durante o restante daque-
le ano fora a única ação feita, relativa à construção do Segundo Grupo
Escolar.
Mesmo havendo pessoas dispostas a financiar a construção do Gru-
po, a fim de aumentar o acesso de crianças ao Ensino Primário, questões
políticas retardaram o início e a conclusão das obras. Trajano de Barros
Camargo Filho, filho da prefeita da época, Maria Thereza Silveira de Bar-
ros Camargo, descreve com detalhes esses conflitos políticos:

“A história do Grupo “BRASIL” está intimamente ligada


ao início da carreira política de minha mãe, a Dona Maria
Thereza Silveira de Barros Camargo, que foi nomeada a
primeira prefeita de Limeira. Nesta ocasião ela era apenas
26 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

uma industrial da cidade e a política nacional estava numa


fase em que a ditadura estava num recesso e foi aberta a
oportunidade para a formação de partidos e candidatos aos
cargos eletivos. Inclusive, à presidência da República foi
eleito o candidato apoiado pelo Dr. Armando de Salles Oli-
veira, interventor do Estado na época. A organização do
Partido Constitucionalista, do qual Dr. Armando de Salles
Oliveira era integrante, estava tendo um sucesso muito
grande em todas as cidades do Estado, todavia em Limeira
não conseguia se organizar devido à força política do Ma-
jor José Levy Sobrinho, que naquele tempo era um políti-
co tipo “à moda antiga”, que mandava e desmandava na
cidade. O Dr. Armando de Salles Oliveira vinha passar o
fim de semana na fazenda Montevidel cujo dono era seu
amigo intimo e passava lá em casa. Numa dessas visitas o
Dr. Armando convidou minha mãe para participar do par-
tido, a qual disse que no momento não poderia, porém como
minha mãe era neta de Prudente de Moraes e talvez esti-
vesse no sangue a vontade de exercer a política, acabou
cedendo e estabeleceu, então, as condições para entrar para
a política.Algumas das condições eram: criação de um gru-
po escolar, uma escola profissional, a construção da ponte
do funil que liga Limeira a Santa Bárbara D’Oeste e reti-
ficação da estrada Limeira-Piracicaba. Estas condições fo-
ram encaminhadas ao interventor, Dr. Armando de Salles
Oliveira que, prontamente aceitou-as e prometeu que iria
satisfazer todas as exigências de minha mãe para que in-
gressasse na política. Então ela começou a se organizar. A
primeira providência tomada foi comprar o jornal “Gazeta
de Limeira”. Naquele tempo não tinha rádio e televisão
como se tem hoje e o veículo maior de comunicação era
justamente o jornal. Foi organizado o partido, começou a
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campanha, com propagandas. Diante disso, foi criado o


Segundo Grupo Escolar de Limeira. Foi feita a concorrên-
cia pública e a firma que venceu a concorrência estava
aguardando o governo liberar as verbas para que o grupo
escolar fosse construído. Nesse tempo, a política contrária
à minha mãe, do Partido Republicano Paulista, do Major
Levy, fez um artigo dizendo que “esse Grupo só seria para
os nossos netos”. Minha mãe, em vista disso contatou a
firma que havia vencido a concorrência estabelecendo um
acordo; de que iniciasse a construção do grupo escolar, que
ela se responsabilizaria pelas despesas até que viesse a ver-
ba. Então iniciou-se a construção do Grupo “BRASIL”.
Assim foi a primeira fase do Grupo “BRASIL”; foi criada
e iniciada a construção. Nesse período mudou o governa-
dor, saindo o Dr. Armando de Salles Oliveira e sendo no-
meado, Adhemar Pereira de Barros, como Interventor do
Estado, e como era muito amigo do Major Levy, atendeu
a um pedido do Major e interrompeu sua construção. Mais
tarde, ao fim da gestão de Adhemar Pereira de Barros e
sendo nomeado outro interventor, a construção do grupo
escolar foi retomada. O Grupo “BRASIL” teve essa fase
inicial difícil, a divisão política era muito grande e minha
mãe sempre atenta a esses problemas da cidade, conseguiu
com que fosse construído e transformado nesse belo estabe-
lecimento que é hoje. Essa é uma história muito bonita
que representa o esforço de minha família para que Limei-
ra tivesse escolas e assim também foi com a Escola “Trajano
de Barros Camargo” que teve uma fase muito mais difícil,
sendo fechada várias vezes pelo Major Levy, através do
interventor Adhemar Pereira de Barros.
28 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

João Batista Borrelli, ex-aluno do Grupo Escolar “BRASIL”, em-


bora criança nesse período, confirma essa batalha política ocorrida durante
a construção do Segundo Grupo Escolar:

“O Grupo “BRASIL” faz parte da história de Limeira,


sofreu muita contingência política da época. No governo
de Dona Maria Thereza de Barros Camargo, mulher do
Dr. Trajano de Barros Camargo, que era do Partido
Constitucionalista, iniciou-se o Grupo “BRASIL”, fize-
ram-se os alicerces e ergueram-se as paredes. Porém, devido
a questões político-partidárias, o partido dela perdendo,
parava-se a obra e quando o partido dela ganhou, deu-se
continuidade. Depois, mudando novamente de partido,
parou de novo, até chegando ao ponto em que ela mesma
financiou e praticamente concluiu o Grupo “BRASIL”.”

Os primeiros professores do Segundo Grupo Escolar, removidos do


Grupo Escolar “Cel. Flamínio Ferreira de Camargo”, por decreto de 30/
04/1935, publicado a 01/05/1935 com princípio de exercício em 08/05/
1935, foram:

1º Período: 8h às 11h.
Nestor Martins Lino: 3º Ano A “Masculino”
Antonio Alves de Oliveira: 3º Ano B “Masculino”
Lázaro Cabral de Vasconcellos: 4º Ano A “Masculino”
Júlio Ramos da Silva: 4º Ano B “Masculino”

2º Período: 11:10h às 14:10h.


Maria Pinto Sampaio: 1º Ano A “Masculino”
Bessie Edith Vogel: 1º Ano B “Masculino”
Andréa da Silva Ramos: 2º Ano A “Masculino”
Ermelinda de Arruda Pinto: 1º Ano A “Feminino”
Maria Aparecida Leme Franco: 2º Ano A “Feminino”

3º Período: 14:20h às 17:20h.


Clara Monzoni Lang: 2º Ano B “Feminino”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 29

Em 8 de maio de 1935 instalou-se o Segundo Grupo Escolar de


Limeira, sendo realizadas as matrículas das primeiras turmas, porém os
alunos estudariam em salas cedidas pelo Primeiro Grupo Escolar (Grupo
Escolar “Cel. Flamínio Ferreira de Camargo”) em seu terceiro período de
aula. O estabelecimento de ensino constituiu-se inicialmente de dez clas-
ses, com um total de 381 alunos. E, posteriormente, também funcionou
em mais salas cedidas pelo Colégio Santo Antonio, pois ainda não havia
iniciado a obra de construção do Grupo. Essa situação perdurou até início
de 1939.

As atividades nesse novo Grupo Escolar começaram com a orienta-


ção do Sr. José Henrique de Paula e Silva, inspetor escolar e, posterior-
mente, conforme decreto de 06/08/1935, publicado a 07/08/1935, foi no-
meado para seu primeiro diretor efetivo o Sr. José Candido Júnior, que
assumiu o exercício em 10/08/1935.
Por escritura de doação de 15/04/1936, das notas do 6º Tabelião de
São Paulo “Virgílio Pompeu de Campos Toledo”, a Prefeitura de Limeira
transferiu ao Governo do Estado de São Paulo o imóvel (Praça José
Bonifácio), com área de 8.200 m2 , confrontando com as ruas Dr. Trajano
de Barros Camargo, Primeiro de Março (atualmente “Presidente Roosevelt”),
Sete de Setembro e Barão de Campinas, avaliado em Cr$ 2.000,00. A escri-
tura foi registrada no livro 3D, de Transcrição de Imóveis, p.2, sob nº.
2.285.
As aulas iniciaram de fato no prédio do 2º Grupo Escolar apenas em
março de 1939, em meio às obras finais de conclusão, pois o Colégio Santo
Antonio seria reaberto e o 2º Grupo Escolar ficaria sem as salas que lá
ocupava.
30 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Alguns alunos que iniciaram o Ensino Primário em 1939 no Segun-


do Grupo Escolar, explicam onde foram seus primeiros dias de aulas:

“Em 1939 começamos a estudar no “Clube dos Pretos” (Grê-


mio Recreativo Limeirense)), prédio localizado na esquina
entre as ruas Barão de Cascalho e Rua Tiradentes, pois o
Grupo Escolar estava sendo construído e o Colégio Santo
Antonio também havia emprestado algumas salas e fomos
para lá. E quando aprontaram o porão do Grupo Escolar
começamos a estudar nele, mas as obras ainda continua-
ram.” (Jorge Aliberti, Dirceu Messias de Menezes, Horácio
Tetzner, Milton Ferrari e Lázaro de Oliveira Couto, alu-
nos de 1939 a 1942).

“Antes de o Grupo Escolar ficar pronto os alunos tinham


aulas no Colégio Santo Antônio, onde hoje é a Escola Es-
tadual “Professor Ely de Almeida Campos”.” (Antonio
Carlos Micheletti, aluno de 1939 a 1942).

O aluno Jorge Aliberti até hoje guarda com muito zelo e carinho
todos os seus cadernos do período em que estudou no Grupo Escolar, de
1939 a 1940, e através de um deles confirma a data exata em que começa-
ram a estudar no prédio do Segundo Grupo Escolar:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 31

“Os cadernos vinham de Rio Claro, os que você não podia


comprar, eles davam. No meu caderno do 1º ano está a
data certinha e a fichinha que a própria professora, Dona
“Cotinha” (Maria Pinto Sampaio) fez quando começamos
a estudar no Grupo Escolar, pois apesar de estarmos estu-
dando antes, só recebemos os cadernos quando o Grupo
Escolar começou a funcionar.”

Primeira página do caderno de “Caligrafia” de Jorge Aliberti, constando a primeira atividade


realizada por ele no 1º dia de aula no prédio do 2º Grupo Escolar. No canto superior direito da
página consta a data do 1º dia de aula dos alunos no Grupo Escolar: “20 de março de 1939”.

O prédio do Segundo Grupo Escolar foi inaugurado solenemente


em 7 de maio de 1939, durante a 1ª Festa da Laranja, realizada em seu
prédio no período de 7 a 14 de maio, promovida pelo Rotary Club.
32 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

1ª Festa da Laranja, 1939. Ao fundo, o Segundo Grupo Escolar, inaugurado oficialmente dia 7
de maio, às 10 horas, durante a festa. À frente, o garoto Benedicto Carlos Toledo Lima. Acervo
de Benedicto Carlos Toledo Lima.

“Lembro-me das comemorações da 1a Festa da Laranja, em


que a Bandeira Nacional era toda feita com laranjas.” (Leny
Rodrigues Coelho Baccan, aluna de 1938 a 1941).

“Dos dias 07 a 14 de maio de 1939, houve a instalação da


1ª Festa da Laranja de Limeira, aproveitando o prédio do
Grupo “BRASIL” que seria inaugurado. Com a presença
do Interventor Federal Adhemar Pereira de Barros e ou-
tras autoridades aconteceu a esperada festa. Esta iniciati-
va era um sonho dos proprietários dos pomposos laranjais
e da cidade que aninhava em seu seio riquezas formidáveis
como as suas fábricas de chaminés fumegantes e o verde de
suas plantações. Segundo consta, a organização foi
encabeçada pela família Levy, pois o Major José Levy
Sobrinho, era na época secretário da Agricultura do Esta-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 33

do, e muito se empenhou para a realização do evento. Ainda


muito pequeno lembro um pouco dos meus pais, Benedicto
Carlos de Lima e Irene Alves de Toledo Lima, prestigiando
o evento, onde meu pai foi o fotógrafo das fotos. Muita
saudade sinto de minha mãe, que no fim de sua vida, exer-
cia o cargo de diretora do tradicional Grupo Escolar.”
(Benedicto Carlos Toledo Lima, aluno do 4º ano em 1947).

1ª Festa da Laranja em 1939, local onde hoje é o Largo José Bonifácio. Vista através do
Segundo Grupo Escolar e à frente, a rua Dr. Trajano de Barros Camargo e a residência da família
Levy, local ocupado hoje pelo mercado“Comprebem”. Acervo de Benedicto Carlos Toledo Lima.

“A 1a Festa da Laranja, em 1939, foi feita no Grupo Esco-


lar e aquelas árvores na frente não havia. Puseram uma
fonte de suco de laranja, tomávamos suco à vontade e le-
vávamos quanto queríamos.” (Lázaro de Oliveira Couto,
Dirceu Messias de Menezes, Jorge Aliberti, Milton Ferrari
e Horácio Tetzner, alunos de 1939 a 1942).
34 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“A festa foi a mais requintada: teve eleição com escolha da


rainha da 1ª Festa e princesas. Havia em frente ao Grupo
“BRASIL” uma escultura representando um trabalhador
despejando uma caixa de laranja. Da casa do Dr. Martinho
Levy, em frente ao Grupo Escolar, havia uma fonte que
jorrava suco de laranja.”(Benedicto Carlos Toledo Lima,
aluno do 4º ano de 1947).

“Recordo-me da 1ª Festa da Laranja e havia estátua de


dois homens, que representavam apanhadores de laranja,
estando um de costas ao outro e à frente de cada um, uma
caixa de laranjas. Os festejos de inauguração do Grupo
Escolar “BRASIL” (Grupo Novo) ocorreram no transcur-
so dessa Festa da Laranja. Neste período, sim, se poderia
chamar Limeira de “Capital da laranja”.” (Osvaldo Ernesto
Felizi, aluno do 3º e 4º anos de 1939 e 1940).

Durante todo o ano de 1939, as crianças ficaram desabrigadas, sem o


galpão de abrigo, ficando expostas aos rigores do tempo. Havia apenas o
prédio do Grupo Escolar, sem qualquer cobertura ao longo de seu pátio,
além de um grande espaço vazio. Apenas em 1940, as obras de construção
do galpão foram concluídas.
Em 1940, o Segundo Grupo Escolar possuía 18 classes, com 809
alunos e média de 45 alunos por classe e, mesmo com a boa vontade do
diretor do estabelecimento em atender os candidatos mais velhos, ainda
ficaram privados de matrícula cerca de 650 crianças, a maioria com idade a
partir de 8 anos.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 35

Grupo Escolar “BRASIL”


e demais denominações

Grupo Escolar “BRASIL” no ano de 1941. Acervo de Maria Eloisa Gonçalves de Oliveira Rossi.

Naquela época, o largo José Bonifácio era um terreno quase que


completamente vazio, constituído por apenas uma árvore, o que permitia
visualizar com perfeição a fachada do Grupo e admirá-la com sua linda
arquitetura seguindo os padrões de simetria característica da época. O es-
paço físico interno do Grupo Escolar nesse período era menor, pois, como
se pode observar no canto esquerdo da foto, o muro acompanhava a lateral
do prédio.
Através do relato de Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942, podemos
confirmar o que vimos na foto:

“Aqui onde hoje é o pátio era o nosso recreio, aqui dentro


não havia nenhuma árvore, era tudo limpo. Nem na fren-
te da escola havia árvore, não havia nada. Na festa da
laranja que houve não havia árvore, depois que as árvores
foram plantadas.”
36 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Limeira no início da década de 40. Em detalhe o Grupo Escolar “BRASIL”. Acervo de Nelson
Petto.

Em 28 de fevereiro de 1941, o então prefeito municipal Ary Levy


Pereira, solicita através do ofício nº. 5.078, ao secretário da Educação e
Saúde Pública do Estado, Sr. Dr. Mario Guimarães de Barros Lins, que
seja dado ao Segundo Grupo Escolar de Limeira o nome de “BRASIL”,
cujo ofício transcrevemos:

“A prefeitura Municipal de Limeira, pede muito respeito-


samente a Vossa Excelência, a devida vênia para sugerir
ou solicitar, seja dado ao Segundo Grupo Escolar desta
cidade, o nome de “BRASIL”. Essa denominação,
Excelentíssimo Senhor Doutor Secretário, viria como um
complemento natural e grandioso, coroar a ação patriótica
deste poder público municipal, que já deu às suas escolas
municipais os nomes de todos os Estados brasileiros, tendo
recebido um grupo escolar municipal há pouco constituí-
do, o nome de “SÃO PAULO”. Aspiração natural, espon-
tânea e ardente do povo limeirense, o nome de “BRASIL”
seria um tributo a mais de civismo, erguido em honra de
nossa Pátria pelos habitantes da “Capital da Laranja”, que
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 37

assim, teriam um outro magnífico ensejo de ver exaltado


na fachada desse grandioso estabelecimento educacional,
como um incentivo e um florão de glória, o nome que sim-
boliza todo um evangelho de luminosidade e esplendor.
Agradeço penhoradamente a gentileza e a generosidade da
boa acolhida à sugestão ora apresentada, e valho-me do
ensejo para me firmar com máxima estima, apreço e muito
atenciosamente.” (Copiador de Cartas e Ofícios: Centro
Municipal de Memória Histórica de Limeira).

Sem muita demora, em 27 de maio de 1941, através do decreto nº.


11.987, transcrito a seguir, o Segundo Grupo Escolar da cidade passou a
denominar-se Grupo Escolar “BRASIL”.

“Dá a denominação de “BRASIL” ao 2º Grupo Escolar de


Limeira.
O Doutor Adhemar Pereira de Barros, Interventor Federal
no Estado de São Paulo, usando de suas atribuições:
Decreta:
Artigo 1º - O 2º Grupo Escolar de Limeira passa a denomi-
nar-se Grupo Escolar “BRASIL”.
Artigo 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua
Publicação.
Palácio do Governo do Estado de São Paulo, em 27 de
maio de 1941.

Adhemar de Barros
Mario Guimarães de Barros Lins.

Publicado na Secretaria de Estado da Educação e Saúde


Pública, em 27de maio de 1941.

Aluízio Lopes Oliveira


Diretor Geral”
38 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Os números das matrículas e das classes em 1941 nos ajudam a per-


ceber a dimensão que a escola possuía nesta ocasião.

E ao longo dos anos sua denominação sofreu algumas alterações.


Em 1976, através da Resolução S.E. nº. 23/76, publicado no D.O.E.
de 26/01/76, o Grupo Escolar “BRASIL” passa a ministrar o ensino de 1º
grau até a 8ª série, sendo denominada de E. E. P. G. “BRASIL” (Escola
Estadual de Primeiro Grau “BRASIL”).

Em 1990, por meio da Resolução S.E. 93/90, publicado no D.O.E.


de 23/05/90, a escola passa a atender o ensino de 2º grau, sendo denomina-
da de E.E.P.S.G. “BRASIL” (Escola Estadual de Primeiro e Segundo
Graus “BRASIL”).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 39

Em 1999, de acordo com a Resolução S.E. 37/99, publicado no


D.O.E. de 24/04/96, a escola passa a denominar-se, simplesmente, E. E.
“BRASIL” (Escola Estadual “BRASIL”).

Apresentamos a seguir uma lista contendo os diretores e auxiliares


de direção que atuaram na escola durante esses anos:
40 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 41
42 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 43

Escola Estadual “BRASIL”

Atualmente, a Escola Estadual “BRASIL” é a unidade de Ensino


Público mais antiga em funcionamento na cidade, constituída por uma
bela fachada, tendo à sua frente o Largo José Bonifácio, com área arborizada
de 1.936,58m2 . Seus pátios e dependências possuem uma área de 7.159,00m2,
sendo desses, 2.423,90m2 de área construída e juntamente com o largo ocu-
pam um quarteirão completo da cidade.

Vista da Escola Estadual “BRASIL”, pela Rua Barão de Campinas, localizando-se na região
central da cidade, envolta por várias árvores, 2007.

Ao longo dos anos, além de transformações físicas, como sua ampli-


ação com a construção de outro prédio e o crescimento das árvores que hoje
praticamente escondem sua bela fachada, a clientela da escola também não
é mais a mesma.
44 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Estando localizada no centro da cidade em uma área comercial, a


clientela que antes se situava ao redor da escola em bairros próximos, apre-
senta-se hoje muito restrita, a maioria proveniente de diversos bairros da
cidade.
Devido à sua localização e ao ensino de qualidade que a escola se
propõe realizar, a procura de vagas é grande.
A clientela escolar é bastante diversificada, proveniente de inúme-
ros bairros e oriunda de famílias, em sua maioria, de baixa renda familiar,
variando entre dois a três salários mínimos e de baixa escolaridade. O de-
sempenho profissional dos pais é diversificado, embora seja minoria, e há
famílias que se enquadram em outro contexto sócio-econômico, pois al-
guns exercem profissões mais sofisticadas provenientes de pais industriais,
proprietários rurais, comerciantes, funcionários públicos e outros, enquanto
os demais são operários de indústria e comércio, e vários sobrevivem do
mercado informal, chegando muitos até estarem desempregados.
A E.E. “BRASIL” possui atualmente 2055 alunos e funciona em
três períodos, sendo o período da manhã das 7h às 12:20h; período da tarde
das 13h às 18:20h; período noturno das 19h às 23h. Ela oferece o Ensino
Médio Regular e Educação Especial (sala de deficientes auditivos) no pe-
ríodo da manhã, Ensino Fundamental no período da tarde e Ensino Mé-
dio Regular e Educação de Jovens e Adultos (Telecurso e Supletivo) no
período noturno.
A E.E. “BRASIL” é constituída por dois prédios: “Prédio Velho” e
“Prédio Novo”, cada um deles apresentando três amplos pavimentos:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 45

Quarteirão ocupado pela Escola Estadual “BRASIL”. Diagramação: Humberto Meale.

Prédio l (Prédio Velho, concluído em 1939) - construído de alvenaria, possui:


46 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Pavimento Superior: Prédio 1. Diagramação: Vinicius Matiazzi.

Pavimento Térreo: Prédio 1. Diagramação: Vinicius Matiazzi.


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 47

Pavimento Inferior: Prédio 1. Diagramação: Vinicius Matiazzi.

Prédio 2 (Prédio Novo, concluído em 1994) - construído de vigas e placas


pré-moldadas de concreto, possui:
48 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

2º Pavimento: Prédio 2. Diagramação: Vinicius Matiazzi.

1º Pavimento: Prédio 2. Diagramação: Vinicius Matiazzi.


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 49

Pavimento Térreo: Prédio 2. Diagramação: Vinicius Matiazzi.

A área externa possui:


50 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Plano da Quadra. Diagramação: Humberto Meale.

Apresentamos a seguir, o corpo de gestão, o corpo docente e o qua-


dro de funcionários da escola, ano 2007.

Corpo de Gestão, professores e funcionários, 2007. Foto: Amarildo Silva


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 51

Diretoria Regional de Ensino:


Profª. Lígia Maria Müller Cesar: Dirigente Regional de Ensino
Prof. Rogério Fernando Giovanni: Supervisor de Ensino

Corpo de Gestão:
Prof. Osvaldo Assumpção Castro: Diretor de Escola
Prof. Enéas Raimundo Barbosa da Silva: Vice-diretor de Escola
Profª. Nelsi Aparecida Strasser: Vice-diretora de Escola
Prof. Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida: Coordenador Pedagógico
Profa. Maria Regina Drago Ferreira Camarini: Coordenadora Pedagógica

Funcionários:
Secretário de Escola

Valmir Benedito Silveira

Agente de Organização Escolar (área administrativa)


Alessandra Gomes de Sena
Célia Salvagnane Correia
Márcia Regina Rocha Gonçalves
Milton Luiz Milaré
Regina Silvia Santarosa
Vinicius Matiazzi
52 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Agente de Organização Escolar (antigo inspetor de aluno)


Maria José dos Santos
Maria José Ribeiro da Silva Guerino
Marilene dos Santos
Rosângela Fontanin de Souza
Shirley Cardoso do Carmo

Agente de Serviço Escolar


Cleusa Aparecida Teodoro dos Santos
Edna Totti de Morais
Ivanir Costa Ribeiro dos Santos
Maria Lúcia Teixeira Francisco
Neusa Roseli Avicchio de Carvalho
Romilda Aparecida Toledo Georgetti

Merendeiras

Karina Alves
Maria Rosalina Felipe Pinheiro
Maria Wilma Dalfré

Corpo Docente
Agnes Chinelatto
Alan Pereira do Prado
Alcindo Gonçalves Dias
Alexandra de Fátima Reis Glória de Oliveira
Antonio Francisco Correia
Cecília Rosa Giusti
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 53

Claudia Fernanda Locci de Campos


Cleci Gomes da Costa
Cléo Guimarães Moreira
Creusa Aparecida Calixto de Oliveira
Cristiane Savoia Zanchetta
Denise Ferreira Arcaro
Dirce Aparecida dos Anjos Santos
Enéas Raimundo Barbosa da Silva
Érika Monteiro Moraes
Helany Morbin
Helena Miranda de Sousa Menconi
Humberto Meale
Inês Aparecida Grego Lussier
Irme Magno Brasil
Israel Alves de Souza
Ivanil Aparecida Garro
Jenoci da Silva Figueiredo Freitas
João Luiz Gonçalves de Oliveira
José Joaquim de Souza
José Otávio Ribeiro
José Raimundo da Silva
Josiane Gallo
Lilian Maria Grancieri
Lilian Tejeda
Liliane Fior Silva Correa Lemos
Luciana de Oliveira Silva
Luis Antonio Pinto
Magali Alves Pereira
Marcelo Amorim de Munno
Marcia Cristina Bosqueiro Armelin
Marcia Sueli Feltrin
Marcos Antonio Goeldner Caetano da Silva
Margarida Maria Vaz
54 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Maria Cristina Zocca da Silveira


Maria Denise Cazante Silva
Maria do Carmo Tonielo de Alcântara
Maria Luiza Luz Lussier
Maria Regina Drago Ferreira Camarini
Maria Terezinha Somer Ortolan
Marizilda Aparecida Marabesi Ferreira
Marta Aparecida da Silva
Miguel Angelo Janieri
Nanci de Fátima Fortes Pestana
Nelsi Aparecida Strasser
Nelson Baptista Gonçalves Júnior
Neusa Borges Viana Trevisan
Neuza de Araújo Lima
Nívea Alexandra Abramo Barreto
Paulo Henrique Coran
Paulo Henrique Luiz Gomes
Raquel Biscaro Condutta
Regiane Cibele Matheus Montovani
Renata Farsetti
Rosangela Cristina Scatolin Bernini
Rubens Antonio Condeles Junior
Sandra Karina Soares de Souza Roque
Silvia Maria Romero de Lima
Simone Aparecida Barana de Góes
Solange Isabel da Silva Ragiotto
Solange Teresinha Guida Vaz da Silva
Tatiane Dornolas Andreata
Valeria Kühl Michelini
Vera Lucia de Campos
Vera Lucia Leitão Cavinato
Viviane Oliveira Venâncio
Welder Lancieri Marchini
Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 55

ENTRE MEMÓRIAS E IMAGENS


A escola e o cotidiano escolar através
de memórias e imagens
As imagens são textos, constituídos por figuras, que podem ser lidas
como expressões de múltiplos sentidos. Essa leitura expressa sentimentos,
fatos e emoções, enfim, somando-se aos relatos de alunos e professores re-
gistra a diversidade do cotidiano escolar.
Apresentaremos, através de fotos e depoimentos, uma espécie de radi-
ografia da escola, flagrada ao longo desses anos, utilizando-nos de aspectos
que caracterizam as relações e situações do ambiente escolar e do ensino.
Assim como nós ocupamos o lugar de cartógrafo na lida da investigação, o
leitor também poderá nos acompanhar em um exercício de mapeamento dos
sentidos emergentes nos processos educacionais registrados pelas imagens. As
imagens significam articulações com os afetos por elas mobilizados.

Boletim de Balthazar da Silveira, 4º ano de 1939. Acervo de Maria Antonietta Faber.


56 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Todos os alunos possuíam boletim e dentre as várias informações


nele contidas, destacam-se as notas de comportamento, notas de aplicação,
nota de comparecimento e a quantidade de faltas. As notas variavam de 10
a 100 e a cada múltiplo de 10 as notas tinham significados: 0 = Nula;
10 = Péssima; 20 = Má; 30 = Menos que sofrível; 40 = Sofrível; 50 = Para
regular; 60 = Regular; 70 = Para boa; 80 = Boa; 90 = Para ótima;
100 = Ótima.
Todo mês o boletim era entregue ao aluno para que fosse assinado
pelo pai ou responsável e deveria ser imediatamente devolvido. Mesmo nos
casos de eliminação definitiva, o boletim deveria ser entregue ao aluno,
com a declaração do motivo.
Alguns ex-alunos comentam a utilização do boletim, seu rigor e a
eficácia no controle de notas e faltas dos alunos em sua época:

“Relativo à freqüência, tinha um boletim, a professora fa-


zia a chamada e quem faltava, ela punha falta. No mês se
tinha o comportamento, o comparecimento, aplicação e
falta, aí vinha o boletim e você tinha que levar para o pai
assinar; no outro mês a mesma coisa. Se baixava ou dimi-
nuía qualquer nota o pai ia ver o que aconteceu, se au-
mentou a falta ou baixou o comportamento. Era bem feito
e o pai tinha que assinar o boletim.O boletim ficava guar-
dado na escola. Através do boletim, o pai e a mãe viam a
aplicação, a falta e como é que estava o procedimento dele
na escola. É muito interessante esse método, de levar para
o pai ou a mãe assinar e não poderia levar de volta se não
tivesse assinado, senão o filho não poderia entrar na esco-
la. Era um período severo, rigoroso, porém muito bom.”
(Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 57

“A freqüência dos alunos era registrada através de uma


carteirinha que todo dia você entregava ao inspetor de alu-
nos, ela voltava carimbada com a palavra “presente” e
quando havia lacunas, em casos que os alunos faltavam,
vinha escrito em vermelho a palavra “ausente”. O pai ti-
nha o controle absoluto se o filho havia entrado ou não na
escola, pois era somente na última aula que recebíamos a
carteirinha. Não era possível burlar, falsificar.” (Margarete
Piva, aluna de 1976 a 1983 e professora coordenadora pe-
dagógica de 2001 a 2006).

Professora Lucilia Ramos da Silva Forster e seus alunos do 3º ano misto de 1940. Da esquerda
para a direita, de cima para baixo; 1ª fileira, Fernando Lencioni (1º); 2ª fileira, Dorival Prado
Pereira (5º), Francisco Pacola (7º); 3ª fileira, Geny Ulbricht (6ª); 4ª fileira, Helena Ferrari (2ª),
Mercedes Crippa (3ª), Maria Antonietta Faber (5ª), Rafaela Teixeira (8ª). Acervo de Maria
Antonietta Faber.
58 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Maria Antonietta Faber cursou o Ensino Primário no Grupo de


1938 a 1941 e tem apenas boas recordações, dos colegas, do ensino e de seus
professores:

“Quando passo em frente à escola lembro o quanto era gos-


toso o tempo em que estudava lá. Os professores eram bons.
Tinha aula de religião e tudo de bom aprendi lá; aprendi
até a bordar. Era tão bom aquele tempo. As meninas eram
prestativas umas com as outras. Havia muito respeito pelo
outro. Todos os alunos tinham respeito para com a profes-
sora e tinham medo de falar com o diretor no que fosse
encaminhado à diretoria. Brincávamos de bola, de paz, de
correr, esconde-esconde, só brincadeiras gostosas.”

Professor Antonio Perches Lordello e seus alunos do 4º Ano de 1940, na parte interna do Grupo. Entre eles
estão, da esquerda para a direita, de cima para baixo; 1ª fileira, Carlos Luchesi Pelegrini (1º), José Bento
Pedroso (2º), Irineu Sousa Francisco (3º), Flavio Soares (4º), Osmar de Oliveira (6º), Álvaro Leoncini (7º),
Ataliba Cesario (9º); 2ª fileira, Augusto Womer Filho (3º), Virgilio L. Albuquerque Neto (4º), Álvaro
Marino (5º), Armando Tank (7º), Milton Spagnolo (8º), João Batista Borrelli (9º); na 3ª fileira, Domingos
Laurito (2º), Luiz Carlos Correa Silva (4º), Wail Brigato (5º), Israel Antunes Oliveira (6º), Milton Munhoz
(7º), Moacir Luporine (9º), João da Cruz Neto (10º); 4ª fileira, Vicente Metitier (1º), João Mendes Silva
Junior (3º), Antonio Andrieto (4º), Edie da Cruz Maduro (5º), Francisco Assis Silveira (6º), Homero
Lencione Gullo (7º), Osvaldo Ernesto Felizi (9º), Sebastião Teixeira Martins (10º); sentados, Geraldo
Teixeira Martins (1º), José Antonio Machado Campos (2º). Acervo de João Batista Borrelli.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 59

“Fui aluno do Grupo “BRASIL”, em Limeira, que de ime-


diato recebeu o apelido de Grupo “Novo”, visto que já
existia em Limeira o Grupo Escolar “Cel. Flamínio Ferreira
de Camargo”, que passou a ser denominado de Grupo Es-
colar “Velho”. Nosso diretor era Sr. João Baptista Soares,
pessoa brava, da raça negra, era mais respeitado do que
temido. Temido era o inspetor de alunos, chamado de ser-
vente. Vivia berrando com os alunos e prometendo a temi-
da ida à diretoria. Era meu querido professor o Sr. Antô-
nio Perches Lordello, e que tem seu nome perpetuado por
ser patrono de uma escola estadual. No 2º semestre de 1940,
com a doença do professor Lordello, assumiu nossa classe a
recém formada senhora Maria Aparecida Maduro, que teve
sua vida infernizada pelos “cavalões” do 4º ano, até que
todos foram mandados à diretoria. Receberam a maior bronca
e se continuassem com a bagunça seriam eliminados do
Grupo Escolar. Isso amansou a turma.” (Osvaldo Ernesto
Felizi, aluno do 3º e 4º anos de 1939 e 1940).

“Borelli” estudou o 4º ano no Grupo “BRASIL”, em 1940. Havia


cursado até o 3º ano no Grupo Cel. Flamínio Ferreira de Camargo. De-
pois, com a construção do Grupo “BRASIL”, como morava próximo a ele,
foi para lá cursar o último ano do Ensino Primário. Todos os moradores da
circunvizinhança foram convocados e obrigados a freqüentar o Grupo
“BRASIL”.
Apesar de transcorrido tanto tempo, “Borelli” tem muitas recorda-
ções e faz comparações do ensino e disciplina daquela época com o que as
escolas vivenciam atualmente:

“Recordo bem, a educação dava de “dez a zero” na educa-


ção de hoje. Naquela época os professores tinham mais amor
e mais condições de trabalhar, os alunos, também, eram
60 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

mais comportados, educados, respeitavam os professores e


dificilmente notávamos ou encontrávamos algum colega
que respondesse para o professor. Os professores, na reali-
dade, eram um segundo pai do aluno. Hoje é uma vergo-
nha, o aluno maltrata os professores, xinga, ofende e o pro-
fessor tem que ficar quieto. Na minha época havia, inclu-
sive, a rivalidade entre os dois professores do 4º ano, o An-
tonio Perches Lordello que era o meu professor e o Nestor
Martins Lino que era o professor do outro 4º ano. Eu esta-
va lá, às 8 horas da manhã, eram 4 horas. Eram duas clas-
ses e a rivalidade era de quem dava o maior número de
problemas para os alunos, “não problemas”, problema da
aritmética. O próprio professor dizia: “Hoje fizemos tantos
problemas”. Era uma rivalidade e uma classe vinha a fa-
zer mais problemas que a outra. Comparo o meu 4º ano de
grupo com a 8ª série de hoje, com vantagens ainda, ensina-
va Geografia, História, Música. Até hoje eu sei as músicas
que eu aprendi com as minhas professoras. O Grupo “BRA-
SIL” era um Grupo de 1º Mundo, tanto é que se pode
observar em várias partes, no piso; é de mármore italiano,
“carrara”. Foi um Grupo Escolar de alto nível, mas infe-
lizmente o tempo corrói tudo que é bom. Os professores
perdem o estímulo, porque pássam a receber menos e, mes-
mo que eles sejam idealistas e queiram manter certa dire-
triz, eles não podem porque os alunos são intocáveis. Pro-
fessor que coloca a mão em aluno está sujeito a responder a
processo. Falo isto porque tenho uma filha professora. Eu
sinto muito pela situação do ensino nos dias de hoje. Sem-
pre considerei os professores, os mestres, figuras importan-
tíssimas na sociedade, professor era um “pai” na educação.
Um bom professor de Matemática é levar o aluno a uma
Faculdade de Engenharia, Ciências Exatas, Matemática;
o bom professor de Biologia pode levar o aluno a uma Fa-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 61

culdade de Medicina, induzir o aluno. A televisão hoje


ensina o que tem de “pior”, embora algumas são educativas.
Então, o aluno se espelha nessas novelas sempre no senti-
do pejorativo, é difícil encontrar uma novela que faz apo-
logia ao professor, escola, que ensina a respeitar os profes-
sores. Nós levávamos flores aos professores, frutas, hoje
nem casca de banana.”

Nesse seu modo de comparar a escola em seus diversos tempos o ex-


aluno defende que precisa haver uma reviravolta no ensino:

“As coisas têm que voltar como eram antes, cada um no


seu lugar. Professor como professor, sempre respeitado, não
só pelos alunos como pelas autoridades, desde que ele cum-
pra rigorosamente suas obrigações e, seja uma pessoa idô-
nea.”

“Borelli” faz algumas referências quanto ao uniforme, à prática cí-


vica e de seu sentimento pelo Grupo Escolar:

“Esta é uma fotografia do Sr. Lordello com minha turma,


todos com sapatos, o uniforme era uma camisa de manga
curta branca, calça azul, meia branca e sapato, mas quan-
do eu estava no outro Grupo, a minha turma ia descalça,
então o governo obrigou os alunos a irem calçados. Eu
tinha um irmão que estava em ano anterior a mim e nós
dividíamos os mesmos sapatos. Eu ia com um pé de sapato
e outro descalço. Cantávamos o Hino Nacional. No 4º ano
tínhamos aula de música e até hoje eu sei as músicas que
aprendi com o Sr. Lordello. O Sr. Lordello adorava música
e cantava o Hino Nacional. Reprovei o 1º ano e o 2º ano,
porque eu era um pouco levado e a professora não gostava
de mim, reprovou pra se vingar e a partir daí fui para o 3º
62 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

e o 4º ano e deslanchei, fiz o ginásio, o científico e nunca


mais teve uma segunda época. Era uma escola de alto ní-
vel, bons professores e limpa, o diretor era uma autoridade.
Minha classe era masculina. Só tenho a dizer palavras de
elogios do Grupo”BRASIL” e de todos os professores. O
Grupo “BRASIL” foi um orgulho. Foi o segundo Grupo
Escolar de Limeira, depois foi o Grupo Escolar “Professor
Leovegildo Chagas Santos”, que foi feito no meio da estra-
da. Era pra ter sido feito para o lado e o fizeram ali, inter-
rompendo a rua Santa Cruz.”

Professora Jadyr Guimarães dos Santos e sua turma de alunas do 4º ano de 1940. De cima para baixo,
da esquerda para a direita; 1ª fileira, Enid Esteves (1ª), Flavia Bortolassi (2ª), Ilda Ferreira (3ª),
Daisy De Déa (4ª), Dirce Veroni (5ª); 2ª fileira, Teresa Virginia D’Andréa (1ª), Maria de Lourdes
Francisco (2ª), Maria Das Dores Ventura (3ª), Sebastiana Ventura (4ª), Maria Franco de Moraes (5ª),
Irma Capato (6ª), Dorotéa Alves (7ª), Florinda Feóla (8ª); 3ª fileira, Marina Geraldelo (1ª), Odete
Assumpção (2ª), Adalice Aparecida Coelho (3ª), Mariannina Ponzo (4ª), Hilda Juliani (5ª), Alice
Soares (6ª), Lourdes Bosqueiro (7ª), Alzira Jacon (8ª), Lúcia Batistella (9ª), Margarida Chinelatto
(10ª); 4ª fileira, Iracema Milaré (1ª), Neide Vieira Gachet (2ª), Eunice Fenga de Moraes (3ª),
Gioconda Simonelli (4ª), Mary Petreli (5ª), Maria Amélia Braga de Andrade (6ª), Ilka Pelegrini
Guimarães (7ª), Maria Ester Castelar (8ª), Maria Aparecida Supersi (9ª), Laucedina Soares de Souza
(10ª). Acervo de Laucedina de Souza Del Bianco.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 63

“Foi um período de muito aprendizado, rigor na disciplina e


de situações e colegas inesquecíveis como Mariannina Ponzo,
que durante a execução do Hino Nacional, insistia em can-
tar o Hino da Itália, pois era recém chegada desse país e
falava pouco a língua portuguesa. Outra colega, Maria Es-
ter Castelar, por ter sido aprovada em todas as disciplinas
com nota “100”, obteve o 1º lugar da turma e recebeu uma
bolsa de estudos do Colégio São José. Esse grupo escolar
deixou muitas saudades!”( Laucedina de Souza Del Bianco,
aluna do 3º e 4º anos de 1939 e 1940).

Professora Mariana Fernandes e sua turma de alunas do 4º ano de 1940. Acervo de Leila Hansen
Sampaio Barros. De cima para baixo, da esquerda para a direita; 1ª fileira, Geralda Sétima Georgete
(1ª), Irene Guedes (2ª), Maria José Boloneti (3ª), Nivy Roland (4ª), Cacilda Vasques (5ª); 2ª fileira,
Ana Bais (1ª), Romilda Sebranch (2ª), Ermantina Brandino (3ª), Ercilia Feliciano (4ª), Célia Fisher
(5ª), Leila Hansen (6ª), Zilda Sagior (7ª), Fani Fisher (8ª); 3ª fileira, Ana Aparecida Guzela (1ª),
Romana Olivieri (3ª), Ercilia Arruda (4ª), Carmen Juliani (5ª), Dalva Cermaria (9ª), Irma Lindman
(10ª); 4ª fileira, Eda Carolina de Campos (1ª), Maria Dolores Ribeiro (2ª), Doraci Silva (3ª), Rosalina
Batistela (5ª), Aurora Furlan (6ª), Berta M. de B. Carvalho (7ª), Ester Costa Cristal (8ª), Helena M.
de B. Carvalho (8ª). Acervo de Leila Hansen Sampaio Barros.
64 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Sempre fui boa aluna. Queria estudar e ser professora,


no entanto não foi possível, pois na época o custo era
alto e na cidade só havia o Colégio São José. Dona
Mariana era ótima professora e os alunos eram obedien-
tes e respeitosos, com muita vontade em aprender. Tenho
saudades!” (Leila Hansen Sampaio Barros, aluna do 3º e
4º anos de 1939 a 1940).

Turma do 1º ano de 1940. Da esquerda para a direita, de cima para baixo; 1ª fileira, Ayres de
Sousa (4º), Roberto Rangel (5º), Durvalino de Sousa (10º); 2ª fileira, Manoel Eufrosino (1º),
Octacílio Pinto Ribeiro (2º), Luiz Casemiro (6º); 3ª fileira, Nicolau Catalino (8º), Osmar Hebling
(9º), Belmiro Zacarias (12º); 4ª fileira, João Baptista Pilegi (1º), Osmar Menconi (2º), José Rosa
(4º)Aristides Franceschini (5º), Previs Rodrigues Lopes (8º). Acervo de Ayres de Sousa.

Ayres de Sousa iniciou seus estudos no Grupo em 1940, concluindo


o 4º ano em 1943. Ayres, além da saudade, lembra com carinho de seus
professores:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 65

“Eu sinto muita saudade da escola, da minha professora


do 1º ano, a Dona Carolina Dias Arruda Vasconcellos, a
do 2º ano, Dona Conceição Bastos, a do 3º ano, Dona
Lucilia Ramos da Silva Forster e do 4º ano, o Sr. Antonio
Perches Lordello. Tínhamos aula de religião todos os sába-
dos e não havia merenda; cada um levava a sua. Os pais
faziam questão de ver as notas que a gente tirava no bole-
tim. Quando recebi o diploma, chorei porque não iria mais
ver meus amiguinhos. Mesmo com 78 anos de idade, eu
ainda sinto saudade do Grupo “BRASIL” e de todas as
professoras.”

Certificado de conclusão do 4º ano de Jorge Aliberti, em 1942.

Jorge Aliberti cursou o Ensino Primário de 1939 a 1942, tendo sido


um dos primeiros alunos a estudar no prédio do Grupo Escolar e também,
muito mais que suas lembranças, possui ainda um grande tesouro. Além
de seu certificado de conclusão do 4º ano, guarda consigo até hoje todos os
seus cadernos, livros, provas e outras atividades realizadas neste período.
66 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Realizando uma viagem ao passado, Jorge Aliberti traz à tona mui-


tos fatos que estavam registrados em sua memória:

“Comecei a estudar em 1939, cursei do 1º ao 4º ano. Minha


professora do 1º ano foi a Dona Cotinha (Maria Pinto
Sampaio), 2º ano era a Dona Lucilia Ramos da Silva
Forster e 3º ano era a Dona Maria Antonietta Assumpção
Fernandes Coimbra e no 4º ano era professor Nestor Martins
Lino. Ainda não estava terminada a escola. Eu estudava
de manhã, durante 4 horas sendo das 8h às 12h. A educa-
ção era boa, os professores eram bons, ensinavam muito
bem, não posso reclamar, não tinha problemas com o ensi-
no não. A disciplina era muito exigida e bastante rigorosa,
o diretor e os professores eram bastante exigentes, tinha-se
respeito, ordem e disciplina, eles tinham força e atualmen-
te os professores não têm mais força para corrigir os alu-
nos. Naquela época era mais severo. Meu pai e minha mãe,
quando eu era criança, não me deixavam fazer algo erra-
do, a educação era severa. Se fizesse, apanhava mesmo,
não tinha conversa. Se mandava você ir a um lugar, você
tinha que ir e não podia falar “não”. Hoje em dia as crian-
ças são muito mimadas, brincam demais, têm crianças boas,
mas algumas são peraltas. Não havia rádio e televisão, a
criança não sabia nada, era na escola que aprendia. Hoje
eles assistem televisão, acessam o computador (Internet) e
sem ir à escola sabem tudo. Eu não faltava, só se estivesse
doente. Meu diploma está com nota 53 porque um mês
antes de fazer o exame fiquei com caxumba e não podia ir
à escolar. Então, meu pai foi à escola e falou: “Sr. João, o
que vamos fazer? Meu filho está com caxumba e ainda
não sarou de tudo e agora vai ter o exame” e ele respondeu:
“Não, no dia do exame ele pode vir, ele pode ir se prepa-
rando, porque se tiver nota ele passa e recebe o diploma.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 67

Adiante, Jorge Aliberti especifica alguns de seus cadernos e expõe


sua satisfação em ter estudado no Grupo Escolar:

Cadernos de Jorge Aliberti (1939 a 1942).

Cadernos de Jorge Aliberti (1939 a 1942).


68 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Eu nunca tive represália do professor e do diretor porque eu


não fazia algazarra, só, mesmo, para quem era pinta brava. A
caneta tinha que mergulhar na tinta, essa era a
“mosquitinha”.Caderno de Provas mensais é esse caderno aqui,
por aqui, a professora, todo mês dava nota pelo que você fazia
nesse caderno, dava nota de aplicação, no boletim, que você
levava para casa. Uma vez por mês fazíamos prova nesse
caderno.” (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942).

Caderno de provas mensais de


Jorge Aliberti, 1939.

“O caderno de borrador eram as primeiras escritas, a caligra-


fia, para educar a letra, porque o aluno que entrava na es-
cola tinha que educar a letra. Hoje, tendo todos os cadernos
guardados eu me sinto orgulhoso, pois eu posso mostrar para
que naquela época eu era caprichoso e posso provar que
mesmo após todo esse tempo os cadernos existem e hoje não
se acha nenhum aluno daquela época que tenha um cader-
no ou um livro guardado. Tive boas amizades com os profes-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 69

sores, nunca tive inimizade, gostei muito do Grupo Escolar


e tenho amor nele até agora, como se eu ainda estudasse
nele, pois foi onde me ensinaram a ler e a escrever. Se eu não
tivesse freqüentado o Grupo, eu não saberia nada. Eu
agradeço.”(Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942).

De acordo com Jorge Aliberti algumas classes eram mistas e afirma


que os meninos e as meninas não se misturavam nem mesmo no recreio.
Descreve também, como era o início, a entrada e a saída dos alunos para as
aulas:

“No 1º e no 2º ano minhas classes eram mistas, mas havia


duas carreiras de meninas e duas para meninos, não sentá-
vamos misturados e no 3º e 4º ano não, eram separados os
meninos das meninas. Mas para nós não fazia nenhuma
diferença, a gente se respeitava. Íamos à escola para estu-
dar, não havia nada de paquera, esse agarra-agarra. Mes-
mo no intervalo, as meninas brincavam de um lado e os
meninos do outro, não deixavam misturar, ninguém nem
podia chegar perto um do outro. Ficávamos separados,
meninas poderiam brincar, mas com as meninas e os meni-
nos com os meninos, era severo, a disciplina era ótima. Para
sair do recreio formava-se fila, para entrar também se for-
mava. De manhã, formava-se fila, tudo direitinho e come-
çava assim, o menor primeiro e ia subindo, o maior era o
último. Na fila já tinha a posição certa de cada um e a
professora acompanhava até a entrada da classe. Para sa-
ber o momento de início da aula havia um sino, quando
batia o sino cada classe formava sua fila, cada uma no seu
lugar determinado e o professor vinha e acompanhava até
à classe. Pra sair não, olhava no relógio e saía na hora
certa, os alunos se enfileiravam no corredor e saíam um
atrás do outro, era bem organizado, não havia baderna.”
70 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Professora Maria das Dores Toledo Silva e seus alunos do 4º ano de 1942. Da esquerda para a
direita; na fileira inferior, Lázaro de Oliveira Couto (4º), Dirceu Messias de Menezes (5º), Ivone
Stahl (7ª) e Rosa Mota Peixoto Santos (12ª). Acervo de Dirceu Messias de Menezes.

Após quase 70 anos da conclusão do ensino primário no Grupo “BRA-


SIL”, cinco ex-alunos se encontram: Lázaro de Oliveira Couto, Dirceu
Messias de Menezes, Jorge Aliberti, Milton Ferrari e Horácio Tetzner.
Esse encontro foi um momento de várias recordações e fluíram muitas
emoções:

“Brincávamos no recreio, era gostoso. Eram brincadeiras


decentes, sem se machucar. Corríamos, um pra cá, outro
pra lá, só não se podia ir ao banheiro quebrar torneira e
sujar.. Era meia hora de recreio, não tinha lanche, meren-
da e quem queria comer levava de casa. Dentro da sala de
aula tínhamos respeito pelos professores, éramos educados.
Brincávamos no recreio, mas na sala de aula éramos com-
portados. A fila para entrar na sala também era respeitada,
o aluno não podia conversar nem brincar. Era uma disci-
plina legal e não entravamos atrasados não. Quem chega-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 71

va atrasado ia embora. Não éramos santinhos, mas dentro


da classe não se podia estar conversando com o colega ou
olhando para cá ou para lá, pois se a professora pegasse ela
chamava a atenção nossa. Quando não chamava a aten-
ção dava uma reguadinha na mão. Não éramos castigados,
apenas havia disciplina. Se não há ordem e disciplina vira
bagunça. O diretor, Sr. João Baptista Soares, era rígido,
quando se falava em levar o aluno até o diretor, apagava o
pito. No Grupo Escolar havia um porteiro, o Sr. Oswaldo
de Souza Furtado, ele era duro e tinha muita autoridade.
Ele não batia nas crianças, mas o pessoal o respeitava.
Era muito raro ver briga de alunos. Temos muita saudade
do Grupo Escolar. Quando entramos lá, parece que estamos
entrando para estudar, saudades dos amigos, das festinhas,
que mesmo em tempos de guerra, fazíamos as comemora-
ções. Naquela época, o aluno quando começava com brin-
cadeiras e por sentar nas últimas carteiras, o professor tro-
cava o aluno de lugar com um da frente mais quietinho,
separava um aluno bom com um ruim e tinha que ficar
quieto, não tinha conversa. Quando entrava alguma pes-
soa, nós estávamos sentados e tínhamos que nos levantar e
ficar de pé.”

Não são apenas de boas e felizes lembranças que perduram na me-


mória desses colegas de turma:

“Para nós foi maravilhoso estudar no Grupo Escolar, só


não foi melhor por causa da guerra. Em 1942, quando es-
távamos no 4º ano, a guerra começou e deixou a gente sem
liberdade e triste.“
72 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Antonio Carlos Micheletti também estudou no Grupo Escolar de


1939 a 1942 e assim como Dirceu, Lázaro, Jorge, Milton e Horácio fez o
Ensino Primário e menciona:

“Minhas professoras foram a Dona “Cotinha” (Maria Pin-


to Sampaio), no 1º ano, Dona Clara Monzoni Lang, no 2º
ano, Dona Maria Antonietta Assumpção Fernandes
Coimbra, no 3º ano e o professor Nestor Martins Lino no
4º ano. Os alunos cantavam antes de entrar na aula o Hino
Nacional ou o Hino à Bandeira Nacional. Tínhamos qua-
tro horas de aula, sendo meia hora de recreio e o servente
do grupo era o Sr. Osvaldo de Souza Furtado. Depois, em
1941 o Grupo Escolar passou a denominar-se “BRASIL”.
Uma das brincadeiras dos alunos na hora do recreio era
jogar favas. O uniforme era composto de blusa branca e
calça azul e nessa época não tínhamos fanfarra. Tínhamos
muito respeito pelo professor e tínhamos aulas de religião.
Eu participava de todas as festividades.”

Turma de 3º ano feminino de 1941. Na fileira inferior, da esquerda para a direita, está Leny
Rodrigues Coelho (5ª). Acervo de Leny Rodrigues Coelho Baccan.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 73

Leny Rodrigues Coelho Baccan, nasceu em 20 de agosto de 1930 e


aos sete anos de idade iniciou seus estudos no Segundo Grupo Escolar,
mas teve seus estudos interrompidos por alguns anos. Eram 8 irmãos, sen-
do cinco mulheres e 3 homens e todos estudaram no Grupo. Mesmo após
tanto tempo, ainda lembra:

“Ali estudei até a 3a série. Era muito bom. Eu sempre fui a


primeira a chegar à escola. Tenho boas recordações, principal-
mente porque adorava teatro e lá tive, por várias vezes, opor-
tunidade de representar. Lembro-me de minha formatura, em
que cada aluno levava um prato de doce (bolo, doce de abóbo-
ra, doce de batata, leite com chocolate) para a comemoração.”

Mais tarde a escola abriria uma cantina e lá estaria “Dona Leny”


para concorrer à vaga e recorda:

Dona Leny, em momento anterior ao intervalo, preparando a cantina para atender os alunos, 2005.

“Foram 30 anos de cantina, pode-se dizer uma vida, a con-


vivência com os diretores, Dona Doracy Alves da Costa
Arcaro, Sr. Wladismir Gavioli, Dona Ruth Zucolotto da
Silva, a quem eu chamava de mãezona, Sr. Osvaldo
Assumpção Castro, com os serventes, alunos e pais. Foi
74 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

muito gratificante para mim. Hoje fico contente de ver o


reconhecimento desses alunos, como é o caso do Dr. Danilo
Gullo e Dr. Marcelo Prata (Dr. Fordeco), que sempre
relembram o tempo de escola.” (Leny Rodrigues Coelho
Baccan, aluna de 1938 a 1941).

Dona Leny trabalhou na cantina da escola até o final do ano letivo


de 2005, quando, então, aposentou-se, e, após todos esses anos em interação
com alunos e professores, argumenta:

“Foi difícil me acostumar sem aquela agitação, “barulho”


do sinal, dos alunos, que durante todo este tempo estive-
ram presentes na minha vida. Mas sei que já dei minha
contribuição para a escola, agora pretendo curtir meus ne-
tos, filhos, minha casa, meu marido e, principalmente, fa-
zer trabalho voluntário, porque eu não sei ficar parada.”

Diretor Mário de Almeida Mello e a professora Maria das Dores Toledo Silva e sua turma de
alunos do 4ª ano de 1945, no galpão da escola. Da esquerda para a direita, na fileira posterior,
Neide Aparecida Fascina (1ª), Ivalda Ferrari (2ª), Léa Pelegrini (3ª), Isabel Pontes (4ª), Jadir
Fonseca (5ª), Gessy Ulbricht (6ª), Antonia Linhares (7ª), Floriza Ulbricht (9ª); na fileira anterior,
Neuza Aliberti (1ª), Jandira Rodrigues (2ª), Terezinha Porto (3ª), Cleide Esteves (4ª) e Ariadne
Francisca Féola (5ª). Acervo de Cleide Esteves Camargo Silveira.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 75

Ariadne foi aluna do Grupo Escolar de 1942 a 1945. Atuou como


professora e diretora em outras instituições de ensino e atualmente é
museóloga, responsável pela coordenação do Museu “Major José Levy
Sobrinho”, no município de Limeira.
Com sete anos de idade foi matriculada no Grupo Escolar “BRA-
SIL”. Já era órfã de pai. Desde muito pequenina, costumava levar
todas as coisas a sério. Com quatro anos freqüentava o catecismo da
Igreja Católica, aprendendo todas as orações. Repetia como papagaio,
sem entender o significado delas. Dentre as várias recordações de
Ariadne, estão:

“Naquela época não se fazia a Pré-Escola. Minha primei-


ra professora foi Dona Rosa Martins de Lima, excelente
profissional, mas muito brava. Assustava-me quando ela
dava reguada nas meninas, nunca agiu assim comigo, e
por isso chorava e dizia que queria voltar para casa com
minha mãe. Passei para o 2º ano com nota 100. Não tenho
certeza se foi no 2º ano ou 3º ano que houve várias mu-
danças de professores. Foram minhas mestras: Dona
Esterina Vivona, que morava em Campinas e na saída era
com orgulho que eu carregava sua bolsa até a estação, pois
eu residia bem próximo à Companhia Paulista. Lembro-
me de Dona Lory Gomes da Silva, excelente mestra, per-
deu um filho moço num tiro acidental. Vieram tirá-la da
classe quando aconteceu o acidente. Tive um enorme sen-
timento quando a vi muito triste e chorando. Até hoje
guardo a imagem do acontecimento. No 4º ano foi minha
professora Dona Maria das Dores Toledo Silva.O ensino
era de ótima qualidade e havia muito respeito para com os
mestres. Quando o professor entrava na classe,
levantávamo-nos em sinal de respeito. Só nos sentávamos
quando ele autorizava. Num ambiente assim, o ensino se
tornava produtivo.”
76 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Quando estava no 4º ano, com o término da 2ª Guerra Mundial,


Ariadne escreveu uma poesia e apesar de ter esquecido do título que lhe
havia atribuído, ainda se recorda dos versos:

“A minha Pátria querida,


Orgulha-se em dizer:
Soldados brasileiros
Que foram combater.

Naqueles tempos de guerra


Tempos tristes que já vão
Suas mães chorando em casa
E eles com o fuzil na mão

Meus irmãos queridos


Meus irmãos gentis
Seremos sempre unidos
Para engrandecer o Brasil.”

Homenagens prestadas por Limeira e pelo Grupo Escolar “BRASIL” aos seus valorosos
“Pracinhas” em 15/11/1945. Parte interna do Grupo ”BRASIL”.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 77

Acrescenta ainda:

“A entrega de medalhas para as mães dos soldados foi rea-


lizada no Largo José Bonifácio. Lembro-me da multidão e
de mães chorando. Quando mostrei a poesia para Dona
Maria das Dores, imediatamente ela levou para o diretor,
Sr. Mário. Pegou-me pela mão e foi de classe em classe
lendo a poesia. Senti um orgulho enorme de ser um “radinho
de pilha”, comparado a “Embratel”, que me representava
aquele Grupo Escolar, onde iniciei os primeiros passos do
aprendizado. Digo sempre que: “O homem vai, mas o seu
legado fica como uma lição de vida”. O Grupo Escolar
“BRASlL” faz parte da nossa história, mas já estamos co-
meçando a fazer parte da história dele.” (Ariadne Francisca
Carrera Miguel, aluna de 1942 a 1945).

Reginaldo Ferreira da Silva em visita à árvore que plantou em 1947, quando era aluno; 2004.
78 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Reginaldo, ex-aluno do Grupo Escolar “BRASIL”, após quase cin-


qüenta anos decidiu realizar uma visita à escola, em especial à árvore que
plantou enquanto criança e conta detalhes sobre este fato:

“Tive várias professoras, entre as quais a Senhora Maria


Antonieta Assumpção Fernandes Coimbra, no 1º ano, no
2º ano foi a Senhora Octacília Silva Bellini de Menezes,
essa senhora era muito dedicada aos alunos, procurava
ministrar as aulas e caso o aluno tivesse qualquer dúvida
ela sempre procurava dirimir, procurava ensinar com toda
calma. A minha visita, justamente ao Grupo “BRASIL”,
é de vir visitar uma árvore, cujo plantio realizou-se em
1947, ocasião em que eu estava no 2º ano e foi determinado
pela professora Octacília. Escolhidos entre os demais alu-
nos, dois colegas e eu tivemos a incumbência de no Dia da
Árvore, no dia 21 de setembro, plantar a primeira árvore
no Grupo “BRASIL”. É a minha maior satisfação no de-
correr de todo esse tempo, ou seja,há mais de 50 anos, de-
parar-me com essa árvore que, para mim, é um privilégio
dado por Deus. Essas outras árvores não havia, depois que
foi plantada essa citada, que também não sei a qualidade,
depois dessa que foi a primeira, que as demais foram plan-
tadas. Esses canteiros não eram formados, o piso todo era
em cimento queimado, não havia esse galpão, ou melhor,
existia um galpão só que mais baixo onde no recreio era
servida sopa, era uma sopa feita com muitos nutrientes:
sopa de fubá com legumes, carne e a professora da ocasião
procurava nutrir os alunos. Estar retornando agora após
muitos anos, ver e estar ao lado da árvore que a gente plan-
tou com tanto carinho é uma satisfação imensa. É uma
dádiva de Deus estar ali ao lado, depois de decorrido tanto
tempo, algo que hoje não ocorre, exceto em certas regiões e
ocasiões. Existe o desmatamento e ninguém procura pre-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 79

servar a natureza e hoje observamos que não só aqui na


parte interna do Grupo Escolar como na frente, em sua
fachada, essas árvores só vêm embelezar. É bom saber e
deixar frisado que, durante um mês a professora determi-
nava a dois alunos que regassem a planta, a árvore, no
período da manhã, às 10:15 horas, para que ela tomasse
corpo, ou seja, estivesse no estágio em que não dependesse
mais de alguém.”

Adiante, o ex-aluno Clayton Kerpe de Oliveira faz uma breve expo-


sição de sua vida escolar, expressando-se e ressaltando a importância do
Grupo “BRASIL” para sua formação e sucesso profissional:

“Cursei do 1º ano ao 4º ano no Grupo “BRASIL”, no perí-


odo de 1946 a 1949 e também o 5º ano, na mesma escola,
com sua criação em 1950. Meus professores foram:
Antonieta Salibe, 1º ano, Octacilia Silva Bellini Menezes,
2º ano, Otilia Hoeppner, 3º ano, Cleonice Sampaio da Sil-
va Moraes 4º e 5º anos, com assistência da professora Yole
Dutra Tedesco. Após ter concluído o 5º ano Primário, em
1950, já no início de 1951, ingressei imediatamente por exa-
me de admissão, na época, no 1º ano do Colégio Estadual
“Castello Branco” de Limeira, depois denominado Institu-
to de Educação “Castello Branco” de Limeira, ingresso esse,
muito honrosamente, em 1º lugar. Esse colégio era o único
de Limeira mantido pelo governo estadual. Prosseguindo
os estudos, em 1957, concluí a minha formação como pro-
fessor primário. No mês de dezembro de 1957, tendo sido
aprovado em concurso público, iniciei atividades como es-
criturário da Caixa Econômica do Estado de São Paulo
(atual Nossa Caixa), mais tarde, em 1961, fui promovido a
gerente da agência e passei por várias cidades até chegar à
agência central de Limeira, onde fui gerente por 21 anos.
80 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Tabalhei por 32 anos e meio, até minha aposentadoria, com


dois anos e meio de empresa particular. Formei-me em Di-
reito em 1973. Concomitantemente à minha atuação pro-
fissional, formei-me em Direito, em 1973, e prestei várias
colaborações a diversas entidades sociais e beneficentes da
cidade. No período de 1977 a 1979, fui presidente da Asso-
ciação de Pais e Mestres (APM), de grande significado e
honra para mim, pois na escola também estudaram meus
filhos, que fizeram o curso primário. Tive notáveis e ilus-
tres companheiros de diretoria como Benedicto Iaquinta,
vice-presidente, Benedicto Carlos Toledo Lima, diretor fi-
nanceiro, Gerson Fior, tesoureiro, além de outros grandes
mestres: Daisy Francisco de Lima, Nerina De Carli Silveira,
Odette Mendes e outros, sendo a diretora da escola a pro-
fessora Doracy Alves da Costa Arcaro. Todo sucesso pro-
fissional que consegui alcançar no exercício de minhas fun-
ções públicas, bem como nas atividades sociais, ao lado de
ilustres, valorosos e dignos companheiros e colegas, é devi-
do exatamente ao embasamento que recebi, inicialmente
em minha formação no Grupo Escolar “BRASIL”, atra-
vés da atuação de uma plêiade de abnegados, ilustres mes-
tres e demais componentes da aludida escola, de notáveis
capacidades, impulsionando-me sempre em minha cami-
nhada, com estímulo, incentivo, orientação firme, valiosa
e segura, bem como pelo apoio que recebi desses educado-
res e de admiráveis companheiros com que tive oportuni-
dade de atuar. Inclusive, todo o sucesso profissional e de
vida de meus filhos diletos – Tânia Maria Kerpe de Olivei-
ra, cirurgiã dentista, Mirian Kerpe de Oliveira, fisiotera-
peuta e Alexandre Kerpe de Oliveira, publicitário – são
devidos a quase a totalidade desses mesmos fatores.”
(Clayton Kerpe de Oliveira, aluno de 1946 a 1950).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 81

Grupo Escolar “BRASIL” com seu espaço interno ampliado, detalhe percebido através do muro,
que acompanha a fachada do prédio. Nesta época ainda não havia árvores no Largo José
Bonifácio, exceto esta situada a sua esquerda, 1954. Acervo de Felipe Asbahr.

Professora Isabel Ribeiro e sua turma de 1º ano do ano de 1954. Da direita para a esquerda: 1ª
fileira, Edna Zoppi (1ª); 2ª fileira, Nilva Goes Moraes (1ª), Yolanda Juvencio (2ª); 3ª fileira,
Noely Manoel (1ª); 4ª fileira, Elizabete Aparecida Moretto (2ª), America Helena Monteiro de
Moraes (3ª). Acervo de Elizabete Aparecida Moretto.
82 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“1954 – ano famoso pelo suicídio de Getúlio Vargas. Éra-


mos crianças, pouco sabíamos do mundo, da vida. Não tí-
nhamos televisão, computador, telefone, carro próprio, som
com “CD”, celular e outras utilidades que facilitam nossas
vidas (ou dificultam). É difícil entender para a geração de
hoje, como vivíamos sem nada disso, mas, posso dizer que
éramos felizes. Brincávamos na rua, meninos e meninas
juntos, sem malícia, os pais sentados em cadeiras trazidas
de dentro de casa, conversando com os vizinhos. Se fossemos
mal nos estudos, ficávamos em casa aprendendo o serviço
doméstico) afinal, moças tinham que casar, cuidar da casa,
do marido, dos filhos...) De repente, o tempo passa e me
vejo professora de Português, Francês.Parecia um mila-
gre. Até hoje não sei como consegui. Em 1976 sou contra-
tada pela Escola “BRASIL”para dar aulas de Português e
Francês. Que emoção entrar como professora (quem diria!,
parecia impossível...) na escola “BRASIL”. Hoje sou apo-
sentada pela mesma escola. Olho para trás e vejo não uma,
mas várias vidas que passaram por mim, deixando sauda-
des. Podemos receber pouco, ter a profissão desvalorizada,
mas como é gratificante ser professor. Não apenas ensinar,
também aprender com os jovens. Quanto mais passa o tem-
po, mais o número de cruzes aumenta, deixando na boca e
no coração um travo amargo. Um dia será a minha que
estará junto das outras. Espero ter contribuído na educa-
ção de tantos jovens e que eles, quando ou se lembrarem de
mim, sintam as mesmas saudades que senti quando vi essa
foto e lembrem-se de que os sonhos sempre fazem parte das
nossas vidas e enquanto tivermos a capacidade de sonhar,
seremos felizes e jovens.”(America Helena Monteiro
Patricio, aluna de 1954 a 1957 e professora de 1976 a 1996).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 83

Orlando José Zovico, 4º ano do Primário no Grupo “BRASIL”, 1955. Acervo de Orlando José
Zovico.

“Iniciei meus estudos no Grupo Escolar, no 2º semestre de


1950, quando fiz a Pré-Escola com a professora Yolanda
Prada Barreto. As demais professoras foram, 1º ano com
Dona Mathilde Gomes de Toledo Martins e Dona Cotinha
(Maria Pinto Sampaio), o 2º ano com a Dona Octacilia
Silva Bellini de Menezes, o 3º ano com Dona Otilia
Hoeppner Paulino e o 4º ano com a Dona Carolina Costa
Cristal e Dona Haydée Lordello. Éramos um grupo de alu-
nos que começamos o 1º ano e fomos até o 4º ano, depois
fizemos o exame de admissão para o Ginásio, indo para o
Colégio “Castello Branco” juntos, que eram: Arnaldo
Rosenthal, que hoje é médico na Capital, Maximiliano Ta-
deu Albers, que também se formou médico, Breno Macha-
do Gomes Filho, Antonio Carlos Campos, Humberto
Lencioni Gullo e outros. Recordo-me das festas que o Grupo
Escolar comemorava e eram muito bem organizadas pelas
professoras. Era comemorado o Dia da Árvore, com plan-
84 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

tio de árvores, Dia da Bandeira com festa alusiva à Ban-


deira Nacional, Sete de Setembro, Proclamação da Inde-
pendência, as festas juninas que todos os anos eram pro-
movidas na escola. Participava de todos esses eventos.Um
dos meus diretores foi Vicente Ferreira de Camargo e um
fato marcante, interessante é que ele se levantava muito
cedo, ele ia ao mercado e comprava um cacho de bananas,
uma dúzia de bananas e vinha pela rua comendo bananas
e gritava com as crianças para entrarem para à escola. Era
uma pessoa muito brava, porém muito querido pelos alu-
nos. Este período, sem dúvida deixou saudades, faríamos
tudo para voltar os tempos de criança, era maravilhoso,
não tínhamos muita responsabilidade, era tudo alegria, fe-
licidade, enfim, foi um período do banco escolar, desde o
começo até o fim uma fase maravilhosa da minha vida.
Quando eu deveria entrar para a faculdade, entrei para o
rádio e com 18 anos comecei a me dedicar ao rádio, então
não prossegui os estudos. Formei-me contador e parei. Sinto
uma saudade imensa. Sempre dizemos que o passado era
melhor, e acredito que, realmente, o ensino era muito bom,
o professor era melhor reconhecido e prestigiado pelo Go-
verno e o próprio comportamento dos alunos era muito
diferente, os alunos tinham respeito. Uma correspondên-
cia para o pai dizendo que a criança não havia se compor-
tado bem era um “Deus nos acuda” para todos e atual-
mente a própria forma de criação das crianças mudou e
para pior. Os professores tinham mais liberdade de ação
com os alunos e se o aluno não atingisse as notas era repro-
vado. Havia um processo que dava um padrão de ensino
melhor. O ambiente escolar era muito bom, foi uma fase
em nossas vidas maravilhosa. Todos eram amigos, dificil-
mente ocorriam brigas. O relacionamento entre professores
e alunos era maravilhoso e dificilmente os professores ti-
nham atrito com os alunos. Havia algum aluno um pouco
mais levado, que a professora colocava atrás da porta de
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 85

castigo, mas nada mais grave que isso. As crianças durante


o recreio, de trinta minutos, tinham tempo de brincar e de
se divertir, às vezes enforcávamos aula e íamos para o bos-
que municipal, com parquinho, mas era muita responsabi-
lidade, pois se o pai ficasse sabendo que enforcávamos aula
traria sérios problemas em casa, coisa muito rara e muito
difícil de se fazer. Na minha fase, meus pais se preocupa-
vam muito e por ter amizade com os professores eles iam
constantemente saber como que estava o comportamento e
o aprendizado, então os mantinham numa linha bastante
rígida. Quando criança, morei na rua Barão de Campinas,
ao lado do Grupo “BRASIL”, vizinho da Dona Otília e da
Dona Haydée Lordello, numa convivência muito próxi-
ma, com laços de amizade, conseqüentemente meus pais
também, então eu estudava com a liberdade para que eles
conversassem e acompanhassem muito de perto meu estu-
do. O tratamento dos professores para com os alunos era
maravilhoso, dificilmente os professores tinham atrito com
os alunos, havia algum aluno um pouco mais levado, que
a professora colocava atrás da porta de castigo, mas nada
mais grave que isso. Um fato muito interessante ocorreu
quando eu estava no 3º ano. Havia uma aluno que todo
dia ele ia antes e depois do recreio para fora, para o banhei-
ro, então tinha uma tabuinha que ficava na lousa e não
precisava pedir para sair e esse garoto ia as duas vezes e
um dia a tabuinha não estava lá e ele disse: Preciso sair.
Preciso sair.Preciso sair., a professora: Você vai esperar a
pessoa que saiu chegar para você sair. Ela insistiu, insis-
tiu e foi colocado pela professora atrás da porta e já havia
outro aluno atrás da porta , então ele fez o xixi atrás da
porta. E a professora depois de ficar brava com ele, disse o
aluno: Eu não agüentei professora. Foi na época marcante,
pois foi uma ousadia , na época era uma ousadia desobede-
cer o professor, um fato bastante curioso.”(Orlando José
Zovico, aluno de 1950 a 1955).
86 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Sidney José Nagalli, 1º ano do Primário no Grupo “BRASIL”, 1955. Acervo de Sidney José
Nagalli.

“Nasci em Limeira-SP, em 03 de março de 1948 na Vila


São Paulo (atualmente centro). Filho de uma família sim-
ples e humilde, minha mãe ficou viúva cedo com seis fi-
lhos pequenos e com toda dificuldade que uma mulher ti-
nha naquela época, ela conseguiu nos criar com dignidade
e honestidade. Meu pai faleceu com 34 anos e fazia o cal-
çamento na cidade com paralelepípedo, do qual foi feito
muito aqui em Limeira e em Rio Claro. Minha mãe tinha
dois empregos; lavava roupas para cinco famílias e traba-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 87

lhava também na extinta Casa de Saúde, hoje Hospital da


Unimed. Todos em casa tinham seu serviço e éramos cria-
dos com muita severidade pela minha mãe e, sempre sozi-
nha, sofreu muito para nos dar o que era possível. Fiz
quase tudo que um menino naquela idade fazia, engraxa-
va sapatos, vendia sabão, bolinhos, bonecas, bolachas e aju-
dava minha mãe em tudo que podia em casa e ainda estu-
dava no Grupo “BRASIL”. Consegui fazer até o 4° ano
Primário, com muito sacrifício e dificuldade. Não tínha-
mos quase nada, e comida também era difícil. Vivíamos do
que as pessoas nos doavam, da ajuda de alguns vizinhos.
Para ajudar eu acompanhava um amigo até a escola, atu-
almente um conceituado médico hematologista, o Dr. Fá-
bio José Della Piazza e na volta do Grupo “BRASIL” sua
querida mãe, Dona Odete Della Piazza, me oferecia almo-
ço todos os dias; era onde eu fazia minha refeição. Ela
residia na Rua Boa Morte, eram vizinhos do Rui Barbosa
e Cláudio Varga. Foram minhas professoras Dona Brasilusa
Monteiro de Moraes Fonseca e Dona Maria Isaura Fran-
cisco. O Grupo “BRASIL” era uma das mais importantes
escolas de Limeira, e onde havia as melhores professoras.
Éramos tratados sempre com carinho, muita dedicação e
paciência por elas. Falávamos que eram nossa “segunda
mãe” e todos as respeitavam como tais. Íamos para escola
todos os dias: Domingos Contin, Gilberto Giacomo Negro,
Sergio Senra “Major” e Antonio Roberto Nagalli “Passari-
nho”. Bons tempos e muita saudades”. (Sidney José Nagalli,
aluno de 1954 a 1960).
88 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Largo José Bonifácio com suas árvores ainda pequenas, 1956. Fonte: Enciclopédia dos Muni-
cípios Brasileiros.

Professora Yolanda Prada Barreto e suas alunas do Jardim de infância do ano de 1957, em frente
à entrada do Grupo Escolar “BRASIL”. Este período coincide com a construção da torre da
catedral, a qual podemos observar ao fundo. Da esquerda para a direita; de pé, Maria Ignês Castro
Quitério (1ª), Maria Silvia Cabral De Felice (4ª), Maria Rita Fanelli (5ª), Maria Aparecida Soares
de Lucca (6ª), Vera Regina Rodrigues (9); sentadas, Cecília Machado Gomes (1ª), Marina Aparecida
Carossi (8ª), Maria Eloísa Gonçalves de Oliveira (9ª) e Josely Maria Coeli Fugagnoli (10ª);
sentadas ao chão, Márcia Di Menco (1ª), Maria Helena Gonçalves Leoni (3ª). Acervo de Maria
Eloisa Gonçalves de Oliveira Rossi.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 89

Antes de almoçar já estava de banho tomado, unhas rigorosamente


cortadas e após o almoço vestia o uniforme novo para o início de uma
longa etapa de sua vida, descreve Maria Eloísa, recordando seu primeiro
dia de aula no Jardim da Infância no Grupo Escolar “BRASIL”:

“Em uma das mãos carregava com orgulho minha lancheira,


era uma lancheira de couro prespontado tipo maleta, mar-
rom, que meu pai havia comprado em São Paulo. A outra
mãozinha gelada de emoção, apertava a mão de minha mãe
que me guiava para tão esperado momento. Tudo novo,
desde o uniforme até o material escolar que arrumei mui-
tas vezes até o dia mais importante de minha vida.”O pri-
meiro dia de aula!”A sensação do saber era muito impor-
tante para mim. Mesmo já conhecendo a professora, esta-
va ali ansiosa para ouvir meu nome na lista dos matricula-
dos. Questionava em pensamento a possibilidade de ser es-
quecida na hora da chamada. Dona Yolanda, chamando
as alunas, estava demorando para dizer meu nome, eu não
tinha consciência de ordem alfabética...Toda hora mamãe
dava uma passada de mão nos meus negros cabelos, muito
lisos, arrumando um pouco mais ou ciente de uma separa-
ção, mesmo que por algumas horas de sua terceira filha.
Chegou o momento de entrar na sala, esta ficava no porão
do prédio. Me incomodava as crianças que choravam e jul-
gava que não queriam estudar ou não sabiam da impor-
tância dos estudos na vida de uma pessoa. Certa vez ouvi
meu pai dizendo para meu irmão mais velho que eu:-”A
maior herança que um pai pode deixar aos seus filhos é um
diploma”. Esta oração ficou indelével em minha memória,
tanto que a repito até hoje. A saia do uniforme pregueada
e segura por suspensórios era composta por uma camisa de
tricoline branca com emblema da escola bordado em azul
marinho na cor da saia. Ali cantamos, pintamos e apren-
demos a bordar em cartolina e a professora Yolanda, sem
90 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

que sentíssemos estava sedimentando sabedoria, coordena-


ção visual e motora em seus alunos. Este ano passou mui-
to rápido, mas marcou muito em minha vida pois foi um
alicerce muito bem construído .Diga-se de passagem que
estudei em um período que o professor era respeitado e tido
socialmente como uma autoridade escolar, portanto a va-
lorização do mestre era reconhecida. Em contrapartida,
ELE, o mestre, retribuía os atributos a ele designados pois
não queria ser desmoralizado em sua conduta moral para
não perder seu status de “Mestre”. Aquele ano passou muito
depressa e ao término do Jardim da Infância passei a estu-
dar no Grupo “Coronel Flamínio Ferreira de Camargo”,
que ficava mais próximo de minha casa”.

Professora Natália de Paula Moretto e seus alunos do 3º ano misto de 1957. Da esquerda para a
direita, de cima para baixo; 1ª fileira, José Luiz Sagioro (4º), Luiz Antonio Tomasin (5º), José Sanches
Calpena (8º), José Olivério Ferraz (9º), Reinaldo Thereza (10º); 2ª fileira, Olinda M. Pedroso de
Camargo (1ª), Luiz Antonio Godoy (2º), Alberto Vargas de Oliveira (5º), João Nivaldo Boriolo (6º),
Luiz Aparecido Bilatto (7º), Wilson Bastelli (9º), Wilson Roberto Moretti (11º), Luiz Antonio
Sônego (12º), José Onézio Malavazi (13º), Vicente Roberto Toledo (14º), Raimundo François (15º),
Cirineu Antonio Jacon (16º); 3ª fileira, Carlos Augusto Stahl (4º), Geraldo Malavazi (5º), José Augusto
Pires (7º), Wilson José Caritá (8º), José Luiz Corbini (9º), Carlos Manoel R. da Silva (10º); ao chão,
Claudete Beraldo (1ª), Iracema Cruzato (2ª), Cecília Luiz (3ª), Fani Aparecida Dezotti (4ª), Alzira
Ferreira dos Santos (5ª), Vera Lúcia de Almeida (6ª). Acervo de Natalia de Paula Moretto.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 91

“No ano de 1954, lecionei numa 3ª série, classe formada


por alunos pobres, muitos negros e poucos brancos, foi um
verdadeiro desafio, consegui ótima promoção e meu nome
começou a ser conhecido. Trabalhei 11 anos com 3º ano
masculino no 1º período. Desses anos, dois anos trabalhei
com meninas no 3º período, em 1957 a 1ª classe mista a
título de experiência foi a minha, com seis garotas entre os
meninos, no 1º período. Passei por duas verdadeiras sabati-
nas por visitas feitas ao nosso Grupo Escolar: a primeira
pelo inspetor de ensino, professor Lázaro Duarte do Páteo
e a segunda pelo nosso diretor Vicente Ferreira de Camargo.
Os dois deixaram um ótimo termo de visita, fiquei feliz
porque sempre trabalhei com tanto amor, procurando sem-
pre elevar o ser humano. Naquele tempo a maioria dos
professores eram idealistas. Eu fui removida para o Grupo
Escolar “Coronel Flamínio Ferreira de Camargo” em 1963
e neste ano este Grupo Escolar teve uma reforma, então
em 1964, continuei no Grupo Escolar “BRASIL”, não só
eu como todos os outros professores. Fui muito feliz na-
quela época. O Grupo Escolar recebia muitos alunos da
periferia e nunca tive problemas com ninguém; colegas,
diretores e serventes, foram ótimos amigos.” (Natalia de
Paula Moretto, professora de 1952 a 1963).

Pedro Teodoro Kühl, foi aluno do Grupo Escolar “BRASIL” de


1955 a 1958, mais um de seus vários alunos a ter sucesso profissional, que
veio a ser prefeito de Limeira de janeiro de 1997 a março de 2002:

“Passei momentos muito agradáveis no Grupo “BRASIL”,


tive um enorme prazer em ter estudado lá. Depois fui para
o Colégio Santo Antonio, onde terminei o 2ºgrau, mas o
Grupo “BRASIL”, realmente, tem um histórico que me
92 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

marcou muito. Na escola, chegávamos e já entrávamos em


fila, cantávamos o Hino Nacional e já íamos para as aulas
e se perdia pouco tempo com brincadeiras dentro da escola.
A área de lazer da escola daquela época não era como hoje,
que tem quadras e tudo mais. O recreio não era tão demo-
rado. Pouco se brincava na escola, se brincava muito mais
fora. As brincadeiras antigamente das crianças eram na rua,
de jogar bola, pega-pega e outras brincadeiras mais sim-
ples, pois hoje evoluiu muito. A escola foi feita mesma
para estudar e tenho muitas recordações de que o estudo
era bastante aplicado. Tinham alguns teatrinhos e algu-
mas apresentações, mas tudo muito simples, não como hoje
que as atividades escolares são infinitamente maiores e mais
sofisticadas do que antigamente. Íamos à escola mesmo para
estudar. As carteiras eram boas, bastante reforçadas, salas
amplas e bem confortáveis, usavam caneta pena e lápis,
lápis de cor, era uma escola muito boa, de um nível exce-
lente. Tenho muita saudade, foi um período bastante agra-
dável em minha vida, uma infância muito boa, período
legal, enfim, só tenho boas recordações do Grupo Escolar
“BRASIL”; faz parte de minha vida, mesmo. Diariamente
passo em frente à escola e, mesmo como prefeito, estive
fazendo algumas visitas em festas e me ficaram muitas re-
cordações, ou seja, primeiramente foi uma escola que mar-
cou a minha vida, onde fiz os quatro anos primários que
foram profundamente agradáveis. Foi uma passagem ale-
gre, sem nenhum tipo de problema desagradável e tinha
prazer em ir à escola; gostava muito. As professoras eram
extraordinárias e sempre dizia que as professoras pratica-
mente substituíam nossas mães. Mantenho contato com as
professoras até hoje, a ligação de amor e carinho é longa.
Ganhei prêmio de melhor aluno no 1º ano, lembro que ga-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 93

nhei um livro, chamado “Peixinho Voador”, livro muito


simples, então naquela época não tinha os recursos como
têm hoje, principalmente de mídia. Pela época era uma
escola que não fica devendo nada para a de hoje. A alfabe-
tização era muito boa, muito importante, bem avançada.
No 2º ano já fazíamos composição e tenho uma bagagem
muito boa desses quatro anos que estudei no Grupo “BRA-
SIL”. Um fato marcante foi quando eu tinha que entrar
numa festa que teve, não sei se era de “7 de setembro”, e
teria que entrar e falar meia dúzia de palavrinhas no pal-
co, que estava cheio de criançada. Meu Deus do céu, não
dormi a noite inteira só pensando nisso. Foi a minha pri-
meira inserção em palco, questão de segundos, mas quase
morri. Foi uma coisa rápida, uma pequena declamação,
mas foi um nervoso para falar em público e devido ao ner-
voso que passei, não dormi direito. Quem iria imaginar que
mais tarde eu seria prefeito? O Grupo “BRASIL” vai ficar
em minha memória, é uma escola muito boa, de altíssima
qualidade, desde aquela época.”(Pedro Teodoro Kühl, alu-
no de 1955 a 1958).

Vera Lúcia Leitão Cavinato, foi aluna do Grupo “BRASIL” de


1958 a 1960, atualmente é professora de Inglês na própria escola desde
1989 e comenta tópicos de sua vida escolar:

“Minha relação com o Grupo Escolar “BRASIL” come-


çou em 1958 quando vim fazer a 2ª série do antigo Primá-
rio, na classe de Dona Yole Peccinini. Havia quatro esco-
las primárias em Limeira: Grupo Escolar “Cel. Flamínio
Ferreira de Camargo”, Grupo Escolar “BRASIL”, Grupo
Escolar “Dr. Sebastião Nogueira de Lima” (atual Escola
Estadual “Leovegildo Chagas Santos”) e o Grupo Escolar
94 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Municipal “Prada”, sendo apenas as duas primeiras locali-


zadas na região central. Por ser mais próxima de minha
casa, minha mãe optou pela segunda. Já naquela época a
escola era linda. Não havia essa praça em frente, era ape-
nas um largo, mais nada. As aulas eram de segunda a sá-
bado. Em todas as comemorações (Dia das Mães, Tiradentes,
7 de setembro, Dia do Trabalho, Proclamação da Repúbli-
ca) havia apresentação de poesias pelos alunos que decla-
mavam para os pais, professores e alunos. Também havia
apresentação do orfeão. Os hinos eram cantados diariamente
antes de entrarmos para a aula. Em 1959, 3ª série, minha
professora foi Dona Edméia Huppert Barana e na 4ª série,
Dona Lucilia Ramos da Silva Forster. Todo final de ano
fazíamos a prova anual, na presença de um inspetor vindo
da Delegacia de Ensino.Em 1960 recebi meu diploma de
Primário e saí da escola para ir fazer o ginasial no Institu-
to Educacional “Castello Branco”, sem jamais ter sequer
experimentado o lanche (pão com mortadela) que era servi-
do aos alunos carentes da época, que pertenciam à Caixa
Escolar, e que a servente vinha entregar minutos antes do
recreio. Voltei aqui em 1989 como professora. As coisas já
haviam mudado muito. Funcionavam classes de pré-esco-
la até a 8ª série, classes para deficientes mentais e surdos-
mudos e era uma das escolas mais bem conceituadas da
cidade. De lá para cá houve algumas mudanças, veio o
Ensino Médio, saiu a Pré-Escola, as classes de deficientes
também acabaram e finalmente de 1ª a 4ª séries mudaram
de lugar. Isso trouxe uma nova clientela pra cá e deixou
saudades dos pequenininhos. A nova clientela não tinha
pela escola o amor e o respeito que as crianças adquiriam
com o passar dos anos e o que se viu foi uma escola desres-
peitada e maltratada com o passar dos anos.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 95

Apresentação artística no palco do galpão do Grupo Escolar “BRASIL”. Dentre as garotas, da


esquerda para a direita, Jurema Sedamar Fonseca de Oliveira (3ª), 4º ano de 1962. Acervo da
professora Jurema Sedamar de Oliveira Figueiredo.

“A escola tinha um jardim interno bem grande, com horta


e muitos pés de ipê. Na época de florir o pátio ficava mara-
vilhoso, como se fossem tapetes enormes coloridos. No mo-
mento do recreio, tocava um sino no corredor, fazíamos
fila e saíamos ordenadamente. As meninas, geralmente,
comiam seus lanches trazidos de casa em volta das árvores.
Depois, adorávamos nos enfeitar com as flores e brincar de
roda em volta da árvore mais florida. Os meninos iam ge-
ralmente para a cozinha, também em fila e comiam a me-
renda feita pela Dona Irene Cover Pillon. Eram servidos
também leite e pão à vontade. Depois que os meninos co-
miam, eles brincavam longe das meninas de bolinha de gude
ou pega-pega. Cuidar da horta também era tarefa só para
os meninos.” (Jurema Sedamar de Oliveira Figueiredo, alu-
na de 1958 a 1962 e professora de 1987 a 1995).
96 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Professora Anna Washyrlei Chinellato de Oliveira e a aluna Jurema Sedamar Fonseca de Oliveira
na formatura do 4º ano em 1962. Acervo da professora Jurema Sedamar de Oliveira Figueiredo.

“As professoras eram sempre presenteadas com flores, as


quais eram colocadas na mesa delas para decorar a sala de
aula As carteiras eram para dois alunos e tinha um buraco
para colocar tinteiro; meninas sentavam com meninas e
meninos com meninos. As filas também eram separadas por
sexo. Os meninos tinham a tarefa de apagar a lousa no
final da aula e as meninas de verificar se a classe estava
limpa. Havia muita ordem e disciplina para tudo e todos.
Nunca presenciei cenas de indisciplinas ou desrespeito, tan-
to entre alunos, como de alunos para com funcionários da
escola ou professores. As paredes eram conservadas sem
rabiscos, assim como as carteiras. No pátio, ninguém se
atrevia a espalhar lixo, tudo era colocado no salão apropri-
ado. As meninas aprendiam também trabalhos manuais
(pregar botão, colchetes, fazer barra e bordar). Minhas pro-
fessoras foram: 1º ano (fiz em Iracemápolis) com a profes-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 97

sora Maria Amália Piccoli, 2º ano, professora Wilma Alves


Ferraz Chinelatto, 3º ano, professora Ivete de Carvalho e
4º ano (minha 1ª vez em uma classe mista) professora Anna
Washyrlei Chinellato de Oliveira, a qual me entregou o
diploma. Nesta época de minha vida, jamais imaginava ser
professora, gostava da área de saúde, queria ser enfermeira
como minha mãe. O destino encarregou de me tornar pro-
fessora de classe especial e me sinto muito feliz por essa
escolha. Já me aposentei há 5 anos e como amo minha pro-
fissão continuo trabalhando. Atualmente sou funcionária
da Aril (Associação de Reabilitação Infantil de Limeira) e
trabalho com crianças portadoras de deficiências múltiplas.”
(Jurema Sedamar de Oliveira Figueiredo, aluna de 1958 a
1962 e professora de 1987 a 1995).

Professora Paulina de Cillo Diniz e a aluna Luiza Helena Teixeira na formatura de 4ºano em
1962. Acervo de Luiza Helena Teixeira.
98 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Luiza Helena Teixeira estudou no Grupo “BRASIL” de 1959


a 1962. Ela descreve as mudanças na educação de hoje em relação à
sua época:

“A Educação era maravilhosa. Havia respeito entre pro-


fessores e alunos, não que hoje não tenha, mas os alunos
de hoje são diferentes dos alunos de antigamente, pois os
alunos já vinham com a disciplina básica de casa e se al-
guém fizesse algo errado na escola, a mãe vinha, procura-
va saber e corrigia o filho em casa. Às vezes, os professores
até colocavam o aluno de castigo, mas hoje não se pode
chamar a atenção nem colocar de castigo, são regras com-
pletamente diferentes. Tínhamos dificuldades de ir para a
escola, não tínhamos material nem roupa pra ir à
escola.Tínhamos um amor muito grande por esta escola,
pois o Grupo “BRASIL” sempre foi um Grupo de paz e de
“peso”. O Grupo “BRASIL” é um patrimônio histórico, os
professores eram muito enérgicos, chamavam a atenção mas
ensinavam, principalmente Dona Paulina de Cillo Diniz.
Atualmente as crianças estão muito rebeldes e vão à escola
porque precisam de um diploma, pois se não estudarem,
mais tarde será difícil para elas e nós nem tínhamos noção
de que se estudássemos iríamos receber diploma; íamos para
escola com a intenção em aprender. Quando estudei, mi-
nha classe era formada apenas por meninas, todas bem com-
portadas, tinham aquelas que eram um pouquinho rebel-
des, mas quando o professor entrava na classe mudavam
totalmente. Era uma inocência diferente, o mundo e as
pessoas mudaram. O muro da escola era baixo e atualmen-
te quando passo lá me surpreendo em ver o tamanho do
muro. Os pés de laranja que havia, laranja “cavalo”, não
apanhávamos uma, pois era da escola.Tínhamos disciplina
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 99

de horários, no horário determinado, fechava-se o portão e


quem chegasse depois não entrava mesmo, ia embora para
casa e não ficávamos na rua, não que fôssemos santos, mas
era uma época totalmente diferente. Minha primeira pro-
fessora, Dona Iria de Abreu Leitão, uma professora gor-
da, ensinava muito bem, fiquei muito satisfeita. Ela ensi-
nava e falava tão alto que a gente gravava: “É “ba” por-
que tem o “a”, é “be” porque tem o “e”. Aprendemos assim,
com a cartilha e ela falando e andando pela classe e com
muito prazer em ensinar. Toda criança que entrava no
Grupo “BRASIL” queria ser seu aluno. Havia o Sr. Durval
Eugênio, que tomava conta dos alunos na escola e tam-
bém uma merendeira, Dona Irene Cover Pilon, pessoa
maravilhosa para nós. Brincávamos demais, no intervalo,
era muita alegria, não tínhamos preocupação, a nossa meta
era brincar e estudar. No intervalo, as meninas mistura-
vam-se com os meninos, brincávamos todos juntos, não
havia malícia. Tenho um amor muito grande e muita sau-
dade pela escola, e quando retorno a ela, viajo ao passado e
me vejo menina brincando naquele pátio, subindo aquelas
escadas. Éramos tão felizes e nem sabíamos.”

Luiza comenta a sua formatura e as emoções vividas nesse dia:

“Foi um evento muito lindo para mim. Eu tinha um


bom comportamento e era uma excelente aluna e recebi
um livro que tenho até hoje e está bem surradinho. Senti
uma emoção muito grande, pois era uma algo que eu
queria muito, “o diploma”. No meu coração também pas-
sava o sentimento de deixar a escola, deixar os professo-
res. Foi um momento muito forte, principalmente para
minha família.”
100 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Grupo Escolar “BRASIL”, final da década de 60, com suas luminárias característica da época e
uma viela passando entre o Largo, dando acesso à entrada do Grupo Escolar “BRASIL”. Acervo
de Nelson Petto.

Formatura de 4º ano da ex-aluna e atual inspetora “Zezé” (Maria José dos Santos), com a
professora Creusa Esteves Barbosa, 1965.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 101

“Minhas professoras foram: Jupira Franco Lordello, 1º e


2º anos, Esmeralda Salibe, 3º ano e Creusa Esteves Barbo-
sa, 4º ano. As escolas funcionavam muito bem. Era um
ambiente sossegado e limpo. Todos os alunos estavam uni-
formizados e não era permitido não usá-lo. Uniformes lim-
pos e sapatos colegial preto, engraxados. Nos bolsos das
blusas do uniforme era bordado o nome da escola. Aos alu-
nos que não podiam, a “Caixa Escolar” doava o uniforme
e até os materiais quando necessário. Eram de 30 a 35 alu-
nos por sala, cada um no seu lugar. No começo, eram car-
teiras pregadas no chão, com dois lugares, mais tarde fo-
ram trocadas pelas carteiras de um só lugar. Havia casti-
gos também, mas como sempre, a maioria merecidos. Em-
bora sendo crianças, era difícil ocorrer brigas. Os pais eram
praticamente obrigados a assinar o boletim bimestral e com-
pareciam às reuniões. A professora lecionavam sossegadas,
sem barulho, sem gritaria. Tínhamos mais possibilidades de
aprender. Havia dentista, que tratavam os dentes dos alu-
nos. Há 15 anos, quando comecei a trabalhar na escola,
como inspetora, nos primeiros dias me via em meus tempos
de aluna, lembrava de tudo, como exatamente era.”(Maria
José dos Santos “Zezé”, aluna de 1962 a 1965 e funcioná-
ria desde 1992).
102 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Formatura do 4º ano da ex-aluna e atual inspetora “Dedé” Maria José Ribeiro da Silva, 1968.

“Foi muito bom estudar nessa escola. Fazia o possível para


tirar boas notas e no 3º ano consegui ficar com média 100
em todas as matérias. Quando o aluno tirava nota 100, no
final do ano recebia uma homenagem da escola. Ganhei
uma medalha e a guardo comigo até hoje, com muito cari-
nho. Os funcionários nos tratavam com o maior carinho.
Gostava muito do leite com chocolate. Antes da entrada
era tocado o Hino Nacional e todos ficavam em fileira e
bem comportados. Também tínhamos uma vez por semana
aula de música.”(Maria José Ribeiro da Silva Guerino
“Dedé”, aluna de 1965 a 1968 e funcionária desde 1992).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 103

Valmir Benedito Silveira, o funcionário com maior tempo de serviço na Unidade Escolar,
atuando desde 1976.

Valmir, além de ex-aluno do Grupo “BRASIL”, é secretário da es-


cola e seu funcionário mais antigo:

“Sou atualmente secretário de escola. Estudei no Grupo


Escolar “BRASIL”, onde fiz da Pré-Escola até a 4ª série.
Iniciei a Pré-Escola em 1964. Lembro de todos os meus
professores. A Pré-Escola fiz com a professora Maria
Aparecida Martinelli, o 1º ano, professora Maria Dolores
Ribeiro, o 2º ano, professora Wilma Edy Maganha
Zaccarias, o 3º ano, professora Maria Aparecida
Vasconcellos, e o 4º ano, professora Maria José Rossi Leme.
O ensino naquela época era bom e “puxado” no qual você
era bem alfabetizado, terminava o 4º com uma boa baga-
gem.. Eram dadas aulas de História em que revivíamos as
datas cívicas com comemorações e toda quarta-feira havia
o toque do Hino Nacional e não iríamos para a sala de
aula sem ter cantado uma musiquinha no pátio da escola.
104 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Eu gostava muito da escola, as professoras lecionavam em


três períodos, ficavam das 8h às 11h, das 11:15h às 14:15h
e das 14:30h às 17:30h. Fiz a pré-escola no período da
manhã, a 1ª série das 11:15h às 14:15h, a 2ª série de manhã
das 8h às 11h, a 3ª série das 11:15h às 14:15h e a 4ª série de
manhã também, das 8h às 11h. Eram três horas de aulas
bem dadas. O aluno que não tinha condições não passava
mesmo. Se não era alfabetizado e se não dominava as ope-
rações matemáticas não iria para a série seguinte, reprova-
va mesmo. Foi uma época de estudo muito boa para mi-
nha formação intelectual, tanto é que não tive nenhuma
dificuldade em fazer o exame de admissão para entrar no
Ginásio, sem precisar fazer cursinho, fui direto. Tínhamos
um boletim que era levado mensalmente para os pais com
as notas finais em que a professora distribuía e recolhia.
Em cada ano os cadernos eram encapados de uma cor, no
1º ano eram azuis, no 2º ano vermelhos, no 3º ano verdes e
no 4º ano amarelos, era norma da escola e da época e tam-
bém havia um caderno de provas e a professora todo mês
dava as provas nesse caderno. Não havia recreio, pois eram
três horas de aulas bem dadas, só serviam um leite durante
a entrada e ficávamos durante as três horas dentro da sala
de aula com uma única professora. Havia reuniões de pais
e quando a professora faltava havia uma substituta, e, de
fato havia excelentes substitutas. Era uma época muito
diferente da atual, em que se respeitava e se dava muito
valor ao professor, diretor e os funcionários. Saíamos em
fila com o material numa das mãos e a outra mão para trás
até o portão da escola e não se podia sair correndo, pois o
diretor sempre se fazia presente. Quando dava o sinal, cada
professor acompanhava sua sala e cada aluno ia embora
para sua casa, não havia aglomeração em praça e entra-
vam os alunos do próximo período e assim por diante. Quem
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 105

chegava um pouco cedo à escola brincava antes da entra-


da, pois entrávamos às 8 h, ou tínhamos um momento de
sexta-feira ou de sábado para algumas atividades de recre-
ação, pois tínhamos aula aos sábados. Havia um
cronograma para cada classe e ficávamos com a professora,
brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, tudo no pá-
tio da escola.”

Valmir descreve o princípio de sua carreira profissional, e faz men-


ções relativas à escola e de seu retorno:

“Em 1976, a convite da diretora Doracy Alves da Costa


Arcaro vim trabalhar na E. E. P. G. “BRASIL”,
permacendo por dois anos. Durante este período prestei
um concurso público de escriturário da Secretaria de Edu-
cação, tendo escolhido uma vaga na Delegacia de Ensino
de Limeira, onde trabalhava no período diurno e no perío-
do noturno continuei prestando serviço na Escola “BRA-
SIL”. Em 1979 transferi para a escola meu cargo de escri-
turário e em 1986 houve um concurso para secretário de
escola, prestei e passei em primeiro lugar, escolhi vaga numa
escola e logo depois tive a oportunidade de remover-me
para a Escola “BRASIL”. São 26 anos de escola entre es-
criturário e secretário e dois anos afastado junto à Direto-
ria de Ensino. Então se foram 28 anos de Escola “BRA-
SIL” e estou aqui até hoje, gosto do que faço e cuido per-
feitamente da vida funcional de cada professor, funcioná-
rios e alunos. Como aluno já passei por diversas direções
que vai desde o Primário com a Haydée Lordello e o Sr.
Osvaldo Arcaro. Como funcionário, em 1976, trabalhei com
a Doracy Alves da Costa Arcaro até 1979, vindo o Sr.
Wladismir Gavioli. A Dona Ruth Zucolotto da Silva des-
de 1987 até 2000 depois ela se afastou e assumiu o Sr.
106 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Arthur Baccaran Junior e depois o Sr. Osvaldo Assumpção


Castro, que é o nosso atual Diretor. O Grupo Escolar
“BRASIL” sempre foi um “coração de mãe”, sempre so-
brando sala e atendendo a várias escolas. Aqui já funcio-
naram, numa época, algumas salas do Grupo Escolar “Cel.
Flamínio Ferreira de Camargo” quando passou por uma
reforma, a Escola Estadual Professor “Ely de Almeida
Campos” por quatro anos no período noturno, quando teve
o seu prédio demolido e, durante um ano, a Escola Esta-
dual “Gustavo Picinini”. A procura de vagas de uns três
anos para cá aumentou bastante, pois a escola fez uma
boa reestruturação. Mudou bastante a parte pedagógica,
disciplinar da escola, então houve mais procura. O quadro
de professores daqui é muito bom, tem professores excelen-
tes.”

Ao longo desses anos como secretário de escola, Valmir enuncia uma


das principais mudanças ocorridas em sua rotina de trabalho:

“No meu trabalho, devido à influência tecnológica, com a


introdução do computador, muitas atividades que eram
manuscritas e datilografadas, com a informatização torna-
ram-se muito mais fáceis. A folha de pagamento, por exem-
plo, digitamos as informações e enviamos através da
Internet, antigamente não, tinha que se fazer a folha de
pagamento, datilografada ou manuscrita e enviar até a
Secretaria da Fazenda e a maioria dos serviços da Secreta-
ria de Educação como dados, estatísticas são transmitidos
através do computador. Ainda existe algum serviço ma-
nuscrito, mas é muito pouco.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 107

Deisy Apparecida Francisco Lima, professora e auxiliar de direção


substituta, iniciou suas atividades como docente no Grupo “BRASIL” em
1970 e comenta a tentativa do processo de informatização:

“Por não existir informatização, toda documentação da


escola era processada manualmente; as folhas de freqüên-
cia e mapas de movimento do pessoal durante o mês, eram
preenchidas detalhadamente pelo encarregado do setor, onde
o nome de cada funcionário era colocado em tinta azul,
acompanhado da ordem numérica em tinta vermelha. No
verso, um histórico registrava as faltas, licenças, afasta-
mentos, etc. Todo e qualquer documento solicitado por al-
gum funcionário era baseado nas consultas a esses mapas,
que eram guardados por datas em local reservado para esse
fim. Outros registros eram executados na antiga máquina
de escrever, usada intensamente. Anos mais tarde, tentou-
se introduzir a informatização no que se referia ao boletim
mensal dos alunos. Através das fichas óticas, cada profes-
sor registrava os conceitos dos alunos, as quais devidamen-
te preenchidas, eram encaminhadas à Delegacia de Ensino
a qual as enviava à PRODESP. Nessa época, o Grupo
“BRASIL” ficou sendo a escola referência do projeto. No
entanto, as falhas advindas registradas nos boletins dos alu-
nos quando da sua impressão, chegavam alguns com mui-
tos dados incorretos, o que levou ao cancelamento desse
sistema.”
108 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Professora Paulina de Cillo Diniz e sua aluna Josyane Baccan Queiroz. Formatura de 4º ano de
1969. A partir deste ano todas as classes passaram a ser mistas. Acervo da professora Josyane
Baccan Queiroz.

Josyane Baccan Queiroz, cursou a Pré-Escola e o Ensino Primário


no Grupo Escolar “BRASIL” e atualmente é professora em outras unida-
des de ensino. Ela comenta, além da tradição de sua família em estudar no
Grupo Escolar, suas vivências e o ensino ministrado:

“Foi um período muito bom, vivíamos para brincar e para


estudar e segui minha família, pois desde os meus tios, to-
dos estudaram no Grupo “BRASIL”. Morava próximo à
escola, na rua Presidente Roosevelt, era um retão só. Em
de 1965, uma época com uma educação bem diferente de
agora, fiz a Pré-Escola com a professora Maria Magdalena
Arruda Vasconcellos e estudávamos mesmo, sabíamos que
não estávamos lá para brincar. Ela era uma mãezona, enér-
gica, mas muito terna, muito carinhosa e recordo-me das
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 109

músicas, canções e de seus exercícios de coordenação motora.


Havia as festas juninas com suas quadrilhas, as datas co-
memorativas em que escolhíamos as poesias para declamar
e quem ainda não era alfabetizado tinha que decorar a
poesia; a mãe em casa falava a poesia para seu filho deco-
rar. Sentávamos em quatro alunos por mesinha e devido a
trabalharmos em grupo, aprendíamos a compartilhar tudo,
desde as atividades até o lanche, pois não havia merenda.
A 1ª série, que na época falava-se “1º ano do Grupo Esco-
lar”, fiz com a professora Iria de Abreu Leitão, muito rígi-
da, mas excelente professora. Era engraçado, pois a profes-
sora fazia questão de ir de carteira em carteira. Era o tem-
po que se puxava orelha. Muitas vezes ela puxava a ore-
lha mesmo, mas o interessante é que todos gostavam dela.
Naquela época a professora morava na rua São João, na
Vila Jacon e os alunos iam buscá-la no meio do caminho
para ajudar a carregar o material e faziam questão de levar
suas coisas até a sala de aula. Os alunos a presenteavam
com uma flor ou com uma maçã. Na 2ª série, com a profes-
sora Jupira Franco Lordello, um pouco mais rígida e enér-
gica, iniciávamos um período de composições. Punham
aquelas gravuras e tínhamos que olhar para elas e fazer
composições. Foi importante, porém não partia do aluno.
Éramos sempre obrigados, no mesmo ano, a fazer a mesma
composição, mas de certa forma estávamos desenvolvendo
alguma habilidade de escrita. Cobravam muito a caligra-
fia, tinha que escrever na linha e não havia a noção do
canhoto e destro, obrigavam a escrever com a mão direita.
Lógico, isso já evoluiu, mas são algumas coisas que mar-
caram. Havia reprova e prova de leitura no final de ano
aplicada pela “Delegacia de Ensino” junto com a diretora
Dona Haydée Lordello. Já, naquela época, brincávamos
de escolinha e não havia quem não imitasse o professor,
então ele não era tão ruim assim e tínhamos o hábito de
110 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

escrever no boletim o professor que queríamos no ano se-


guinte. Todos falavam bem de determinado professor e
queriam estudar com ele. Ainda, na 2ª série, as classes eram
femininas e masculinas e só a partir da 4ª série se tornaram
mistas. Infelizmente, também havia classe forte, classe média
e classe fraca e não havia inclusão na sala de aula, mas já
havia salas para alunos especiais na escola e eles convivi-
am no mesmo espaço físico. Tínhamos as aulas de orfeão e
aulas de religião, mas respeitando a religiosidade de cada
um e fazíamos uns caderninhos para cantar o orfeão, já
nos preparando para as festas. Tínhamos a disciplina de
Estudos Sociais, era muito interessante, porém muito su-
perficial até a 2ª série, não tendo muito o que se discutir e
questionar. A professora Esmeralda Salibe foi a minha pro-
fessora da 3ª série, depois, na 4ª série, a professora Paulina
de Cillo Diniz, que se aposentou no meio do ano. Recordo-
me que levávamos lição para casa e também para fazer
durante as férias e nem brincávamos nas férias de tanta
lição que tinha. Lembro de tudo das imediações da escola,
das festas, pois tudo foi marcante, a escola era uma refe-
rência. Próximo à escola, por exemplo, havia a padaria
“América”, onde comprávamos balinhas, e na esquina, um
rapaz que vendia “quebra-queixo” e “martelinho”, a sor-
veteria “Espumone”, o bar do “Rizzo” onde comprávamos
pizzas de quartinhos, fatiadas. À frente da escola, locali-
zava-se a chácara da família “Levy”, onde hoje é o super-
mercado “Comprebem” e ficávamos sentados ali. Falavam
que a casa era mal assombrada e as empregadas aproveita-
vam de nossa ingenuidade incentivando esses comentários.
Televisão e acesso à informação não existia, eram poucos
os que tinham televisão. A Dona Olga Forster, que era a
orientadora de Puericultura, dividia a sala; os meninos sa-
íam e as meninas ficavam para aprender até como se usava
um absorvente. Para a época isso era algo fantástico, pois
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 111

muitos pais ou mães não tinham liberdade para trabalhar


esse tipo de assunto, a sexualidade. Essa orientação foi
muito importante, pois estávamos mudando de fase, da
infância para a adolescência. Meu sentimento pela escola
não é apenas de gratidão, pois muito do que tenho hoje, de
ser sistemática com o estudo, com a disciplina, adquiri no
ambiente escolar. Evoluímos, o tempo caminha e não fica-
mos parado no saudosismo, mas é um saudosismo produti-
vo, pois depois disso tive filha que estudou na escola, numa
outra época e ela teve esse referencial. Tudo o que pude
passar para as minhas filhas durante a formação, uma ge-
ração bem diferente da minha, eu passei. Acredito que elas
se pautaram nisso, principalmente na questão da alfabeti-
zação e elas também freqüentaram outras escolas e desde
um ano de idade começaram a fazer Jardinzinho, o Prézinho
e o processo de alfabetização já estava mudado, era
construtivismo e acredito que pude fazer minha parte de
acompanhamento, muito voltado para aquilo que tive como
referência e valeu a pena. Muitos professores da atualida-
de, embora outros já aposentados, foram daquela geração e
todos beberam na mesma fonte e espelharam naqueles pro-
fessores e a educação naquela época não criou nenhuma
geração traumatizada, pois o professor sabia ser enérgico e
conseguia conduzir sua aula, os alunos aprendiam e gos-
tavam de seus professore. Aquele espaço, para mim, foi
muito rico, pois tínhamos somente a escola como referencial
para troca de informações e na medida do possível em casa,
pois minha mãe sendo professora contribuiu muito, embo-
ra nunca tendo atuado. Só tenho a agradecer, principal-
mente àqueles professores de linha dura, mas cumpriram o
seu papel. Com um ou outro aluno, algumas rusguinhas
podem ter havido, mas isso não pesou na balança. Todos
conseguiram resolver os seus problemas e hoje quando nos
encontramos, ninguém fala desmotivado, sempre fala bem.
112 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Pode ter sido um período muito rígido, mas foi bom. É


importante resgatar a memória da escola, não porque sou
professora de História, mas porque a maioria da cidade de
Limeira passou por ela. O Grupo “BRASIL” sempre foi
um referencial e muitos médicos, dentistas, advogados, bom-
beiros, lixeiros, policiais, pedreiros, políticos e qualquer que
seja a profissão, beberam nessa fonte e aprenderam na mes-
ma cartilha. Acredito que, embora não seja 100%, a educa-
ção mesmo vem de berço, mas a vida modifica as pessoas
por várias razões e o grande berço desse Grupo Escolar
funcionou. Para mim valeu muito e que à atual geração
sirvam estas memórias para refletirem sobre os espaços da
escola.”

Formatura da Pré-Escola de 1969, no Galpão do Grupo “BRASIL”. À frente, da esquerda para a direita,
na 1ª fileira, José Joaquim Fernandes Raposo Filho (4ª). Acervo da E.E. “BRASIL”.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 113

Joaquim Raposo nasceu em 1963 e devido ao fato de sua mãe ser


professora no Grupo Escolar, já estudava na Pré-Escola desde os três anos
e meio e quando fez seis anos e meio começou a cursar o 1º ano, concluindo
o Primário em 1973. Suas professoras foram Maria Apparecida Martinelli,
na Pré-Escola, Marília de Almeida Greve, na 1º ano, Leny Cecília Pânta-
no Peccin, na 2º ano, Maria José Rossi Leme, na 3ª série e Myriam Arcaro
de Araújo, na 4ª série.
Nesse período que conviveu no Grupo Escolar aconteceram fa-
tos interessantes e que merecem ser mencionados, como os diversos ti-
pos de brincadeiras inocentes e sadias de um tempo em que se usava
muito a imaginação:

“Não sei por que exatamente isso se gravou em minha


mente. É de uma palmeira que havia logo ali na extremi-
dade do Grupo “BRASIL” que ficava próximo ao bar do
Rizzo. E essa palmeira, servia como um gesto, uma de-
monstração de bravura entre os meninos, porque os meni-
nos que conseguissem segurar naquilo como se fora um
cipó e deslizar pelo ar é como se tivessem passado por ceri-
mônias de batismo e eram considerados mais corajosos. Eu
me lembro que um dos meninos, num afã de fazer uma boa
trajetória pendurado no galho, teve uma queda importan-
te, pois o galho se rompeu e desde então a direção da escola
se apercebeu do fato e não permitiu mais que nós usásse-
mos os galhos da palmeira como cipós, como se fossemos o
Tarzan. Outro fato, olhando de cima dessa palmeira para
baixo eu me lembro que nós brincávamos muito com boli-
nhas de gude na frente da escola e ali embaixo da tal pal-
meira era muito fácil de fazer os campos para jogar as bo-
linhas de gude e era uma brincadeira que trazia um diver-
timento com um custo financeiro muito baixo e era uma
característica da época. Às vezes, renovávamos toda a co-
leção de bolinhas, pois sendo de vidro e chocando uma
114 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

com as outras elas se gastavam. Como era uma caracterís-


tica daquela época, diferente da de hoje, era um diverti-
mento feito mais com a imaginação do que propriamente
com aparelhos eletrônicos ou de informática. Além dessas
bolinhas de gude e das folhas das palmeiras, brincávamos
de pega-pega, de esconde-esconde e de bandido e mocinho,
que era feito com uma primitiva peça de madeira cortada
na forma de triângulo, pois a madeira era mais barata do
que é hoje; usava-se muito nas construções. Então, as
madeirinhas, os pedaços de madeira na forma de triângulo
eram disputadíssimos, para podermos jogar o bandido e o
mocinho que, como em qualquer época é uma definição da
história do bem e do mal lutando para se sobrepor um ao
outro.” (José Joaquim Fernandes Raposo Filho, aluno de
1969 a 1973).

O Grupo “BRASIL” foi um grande influenciador de comportamen-


tos e atitudes. Raposo menciona algumas lembranças que foram muito
significativas em sua vida:

“Hoje, eu sendo vereador, devo àquela época o fato de


conhecer tão bem a letra do Hino Nacional e acho que
hoje por mais que as crianças estejam à vontade nas
escolas, aquilo era uma pequena semente de cidadania
que foi colocada no nosso coração. Cantávamos o Hino
Nacional com a mão direita sobre o coração e a repeti-
ção daquele ritual foi uma primeira semente de cidada-
nia. Ali, pela primeira vez eu achei que as coisas do
Brasil eram bonitas.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 115

Outro fato de que se recorda com bastante freqüência é de alguns


professores como Marília de Almeida Greve, a qual para ele, além de ter
sido uma professora brilhante, sendo sua professora em 1970, em plena
Copa do Mundo de Futebol, foi com ela que desenvolveu o gosto pela
Copa:

“Pela primeira vez eu também me interessei por uma Copa


e fazia o que é próprio das crianças fazerem, tratos com
pensamentos mágicos: “Olha, se o Brasil fizer esse gol eu
prometo ir à missa todos os domingos, por seis meses.”, coi-
sas desse tipo. Sei que vencendo com a televisão preta e
branca ou no rádio, que também era muito freqüente na-
quela época, nós ganhamos aquela Copa e também, aquilo
foi um rasgo de cidadania interessante que, infelizmente,
depois seria bastante sufocado pela ditadura.” (José Joa-
quim Fernandes Raposo Filho, aluno de 1969 a 1973).

Raposo faz observações relativas a outros fatos interessantes, que


inclusive considera muito engraçados:

“Em horários, nos anos que eu estudei de manhã, havia


um relógio na parte da frente da classe, bem acima da pro-
fessora e também, um quadro, à esquerda, de um ovo frito.
Então, quando chegavam 11:30h, estava quase para ter-
minar a aula, que terminava às 11:45h e aquele ovo frito
passava a ter, assim, os ares do melhor prato, do melhor
cozinheiro do mundo. Lembro das 11:30h, como um horá-
rio de muita fome, uma fome agradável, de criança. Com
relação à fome, quando estudava à tarde, íamos ao bar do
Rizzo, que a partir das 17:30h servia pedaços de pizza de-
liciosos. Eu não sei, várias vezes perguntei aos senhores
proprietários do bar do Rizzo, que agora estão na avenida
Piracicaba, se a pizza não mudou, porque aquela da mi-
116 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

nha infância parecia mais gostosa, parecia mais suculenta.


Em toda a minha vida, depois de ter saído da escola, ouvi
referências elogiosas ao Grupo “BRASIL”, de ser uma es-
cola-modelo, uma escola de ponta e foi um orgulho da mi-
nha parte ter pertencido e em pertencer a essa comunidade
de alunos do Grupo “BRASIL”. E tudo desembocou, em
minha opinião, depois já médico, feito residência, morado
no Canadá, em eu ser candidato a vereador e popular em
importantes centros de votação, fui fazer campanha lá na
frente do Grupo “BRASIL”, que hoje já não tem mais aque-
la palmeira. É bastante diferente do que era, mas tem aque-
las raízes das árvores maravilhosas que ainda persistem ali
e naquela angústia de encontrar mais gente conhecida pos-
sível para pedir o voto, pois se podia fazer boca de urna,
prestei muita atenção nessas raízes que agora estão muito
crescidas e às vezes, quase, assim, num devaneio, quase
que num pensamento fugidio me dá vontade de me agarrar
naquelas raízes e voltar àquele passado gostoso, tranqüilo,
quando a vida era de preocupações muito mais tênues,
preocupações que se resolviam facilmente. Não é como hoje
que vemos um mundo a cada dia mais devastado na sua
ecologia. Nós vemos o País quase que refém de comandos
de penitenciária. Naquela época a vida era muito mais tran-
qüila. Limeira era muito menor, praticamente todos se co-
nheciam e foi um tempo maravilhoso de minha vida e eu
confesso que, realmente me emocionou muito falar tão com
detalhes, tão amiúde daqueles tempos.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 117

Palco do Grupo “BRASIL” (1970). Da esquerda para a direita, Marcos Lemos Mendes da Silva
(1º), Josiane Nascimento (2ª), Márcia Pazzelli Caraccio (3º), Roberto Lucato (4º), Claudia Ferrari
(5ª) e José Joaquim Fernandes Raposo Filho (6º). Acervo de Claudia Ferrari Iaquinta.

Através de um compêndio de lembranças, o ex-aluno Roberto Lucato


retrata sua trajetória escolar pelo Grupo “BRASIL”, comparando o ensi-
no e situações de disciplina de seu período com a atualidade, menciona
algumas de suas vivências e relações de interação com o Grupo Escolar,
como as atividades de entretenimento que eram desenvolvidas junto com
os demais colegas e expõe seu sentimento de saudade:

“Como qualquer estudante vivi fases distintas em minha


trajetória escolar. A primeira delas foi no Grupo “BRA-
SIL”, como carinhosamente me refiro, até hoje, à Escola
Estadual. É interessante lembrar que, há quase quatro
décadas, as pré-escolas eram bem diferentes. Hoje, mesmo
diante da transformação do chamado Ensino Fundamen-
118 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

tal em um curso de 9 anos, a pré-escola evoluiu, não é


apenas sinônimo de convivência, lugar de fazer amigui-
nhos, brincar; sequer se pensava, naquele tempo, em início
da alfabetização. Portanto, meu primeiro ano no Grupo
“BRASIL” significava como ingressar na faculdade. Era
tudo diferente, passei a receber aulas de Português e Ma-
temática, esforçando-me para desenhar as primeiras letras
nas cartilhas convencionais. Tal foi o meu envolvimento
com a escola e minhas professoras que adotara, desde os
primeiros dias de aula, o lema de não faltar, medida que
valeria, durante os quatro anos de Grupo “BRASIL”, su-
cessivas distinções por assiduidade, até hoje guardadas. A
primeira, inesquecível, fora conferida pela professora Marília
de Almeida Greve. Por falar em professoras, quantas re-
cordações... O respeito dos alunos era quase absoluto e le-
var uma bronca, diferentemente de hoje, não era motivo de
orgulho, e sim de vergonha. Ser chamado à diretoria, en-
tão, era o caos. Só o fato de imaginar, simplesmente, ter de
explicar alguma molecagem aos diretores, fosse ao profes-
sor Oswaldo Arcaro, fosse às professoras Creusa Esteves
Barbosa ou Doracy Alves da Costa Arcaro, dava frio na
espinha. O respeito, portanto, era absoluto. Durante as
aulas não havia sussurros, que às vezes eram tolerados pelo
coração bondoso na professora Myriam Arcaro de Araújo
ou mesmo de Dona Maria José Rossi Leme, a professora
Zezé. Entre 1969 e 1973, assim, convivia, estudava e apren-
dia. A fachada do prédio, imponente, era a mesma de hoje,
porém, na parte baixa do colégio, fazendo fundo com a
Rua Barão de Campinas, havia um enorme barracão, em
cujo palco improvisado, e isto não me recordo em que série,
participei de uma pequena encenação teatral, com direito
a fantasia dos personagens. Vesti-me de sapo, ora vejam!
Por ali, também, as crianças dançavam quadrilhas nas fes-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 119

tas juninas, junto à cantina, e um pouco mais abaixo, quase


no encontro dos muros, havia uma área onde plantávamos
árvores em setembro. Tanto as comemorativas, como as
datas cívicas, eram profundamente celebradas, e aprendía-
mos muito com isso. Como aprendemos, também, a jogar
bolinhas de gude! Era uma festa depois das aulas! Entre
as palmeiras do pátio, nas quais vivíamos brincando de
Tarzan, pendurados nas folhas, os buracos marcados eram
permanentes. Rui Barbosa de Oliveira Neto e eu éramos os
mais assíduos, mas quase sempre apareciam outros bons
amigos como o Cyro Leister de Almeida Barros, Vitor
Meirelles, Julio César Coletta, José Joaquim Fernandes
Raposo Filho, Aderbal Pedro Mansur, quantas recorda-
ções desta época. Devia dar algum trabalho ao papai, nes-
tas horas, quando ele aparecia para me levar para casa:
por mim, ficaria jogando aquelas bolinhas o dia inteiro...
Foram quatro anos inesquecíveis, como seriam mais tarde
outros quatro no Instituto Educacional “Castello Bran-
co”. O Grupo “BRASIL” não possuía o curso de “ginásio”
– hoje de quinta a oitava série – e assim, ao me despedir,
vivi um momento de profunda tristeza. Dois grandes con-
solos permaneceram: a lembrança de meus amigos e dos
professores e, até hoje, passar pela majestosa frente da es-
cola sabendo que um dia, naquelas salas de aula, comecei a
dar meus primeiros passos rumo à escalada profissional de
minha vida.”
120 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Rosangela Fontanin de Souza, ex-aluna e agente de organização


escolar (atuando na área discente, como inspetora de aluno) da Escola
“BRASIL”, tem o privilégio de trabalhar onde estudou. De acordo com
Rosangela, além da passagem de aluna para inspetora, muitas outras coi-
sas também mudaram:

“Estudei na Escola “BRASIL” de 1970 a 1974, reprovei a


2ª série. Minha professora da 1ª série foi Dona Brasilusa
Monteiro de Moraes Fonseca e o ensino não tinha nada a
ver com o de agora. Os alunos tinham respeito, algo que
não têm hoje, não respeitam ninguém, não estão nem aí, e
não querem saber de nada. Era totalmente diferente, os
alunos eram educados, a escola era limpa, ninguém suja-
va, nem quebrava nada. Os professores eram excelentes. A
professora Stella dos Santos Vita Pagotti, minha professo-
ra na 2ª série, não admitia aluna de cabelo solto na aula e
quem estivesse iria embora para casa, exigia uniforme e
sapato. O uniforme era saia xadrez, camisa branca, meia
três quartos e sapato colegial preto. Na 3ª série, minha pro-
fessora foi a Dona Shirley Singh de Souza. Havia muita
cobrança da escola, os professores cobravam e a Dona Stela,
por exemplo, a cada quinze dias chamava minha mãe para
ir à escola para questionar “por que o meu cabelo estava
solto naquele dia”, pois eu tinha oito anos e nem sempre
minha mãe estava em casa para prender meu cabelo. Mi-
nha mãe participava e sempre deu razão à escola e aos
professores, nunca me defendia, mas também, eu nunca
estava certa. Gostava muito da escola, mas tinha muito
medo da Dona Shirley, ao alunos nem respiravam na aula
dela. Ela não deixava usar borracha, não poderia errar e se
não errasse não precisaria usar borracha. Gostava muito
da escola, aprendi muito, afinal foi onde aprendi a ler e a
escrever. Havia aula de reforço e fui uma dessas alunas do
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 121

reforço e isso me marcou muito, pois achava que fosse bur-


ra. Sempre estudei à tarde, das 12:30 horas às 17:30 horas e
tenho o certificado da 4ªsérie, pois naquela época havia
apenas até a 4ª série e depois tínhamos que procurar uma
escola de 5ª a 8ª série. Minhas disciplinas eram Matemáti-
ca, Língua Portuguesa, Ciências, História, Geografia. O
diretor era o Sr. Oswaldo Arcaro e a Dona Doracy Alves
da Costa Arcaro, a vice-diretora, e eram muito rígidos, a
escola era impecável. Depois de 30 anos retornei à escola,
mas como funcionária. Prestei um concurso em 1991 para
oficial de escola e inspetor de alunos, mas fui chamada
primeiro para o cargo de inspetor de alunos e comecei em
1993 na Escola “Professor Deovaldo Teixeira de Carva-
lho”, no Jardim Nova Limeira, fiquei na unidade de ensi-
no por um mês e depois fui transferida, pois eu estava ex-
cedente. Fui para a Escola “CAIC” (Centro de Atendimento
Integrado à Criança), no Parque Nossa Senhora das Do-
res, quando foi inaugurada, permanecendo por cinco anos
até que a escola foi municipalizada e como não poderia ter
funcionário do Estado, fui para Escola “Irmã Maria
Gertrudes” no Parque Nossa Senhora das Dores, e depois
de dois meses removi para a Escola “BRASIL”, estando lá
desde 1998. Gosto muito do que faço. Aprendi a lidar com
os alunos e a conviver com eles, apesar de não ser fácil,
mas a maioria é gente boa. Quando estudei os alunos res-
peitavam pai e mãe e, automaticamente, respeitavam os
professores na escola, o que atualmente não ocorre. A dis-
ciplina exigida pela escola é boa, tudo que está no regula-
mento é excelente, porém é difícil fazer os alunos cumpri-
rem, pois eles acham que só têm direitos e nenhum dever e
quando são chamados à atenção por algo errado já recla-
mam dizendo: “Não grite comigo!”. Muitos alunos são de
famílias desestruturadas, filhos de pais separados e têm uma
122 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

situação financeira ruim em casa, mas isto não é justifica-


tiva, pois há muitos alunos bons, assim como alguns ru-
ins. A escola é muito boa, tem professores, funcionários e
direção excelentes. A indisciplina mais comum é enfrenta-
da pelos professores, pois alguns alunos não querem fazer
nada e falam que não vão fazer e acabou, e alguns alunos,
principalmente do Ensino Fundamental, correm muito
durante o intervalo e acabam se machucando, outros bri-
gam entre eles por causa de namorada, de lanche,...”
(Rosangela Fontanin de Souza, aluna de 1970 a 1974 e
funcionária desde 1998).

Professora Maria Magdalena Arruda Vasconcellos e seus alunos do Pré-Primário de 1972.


Dentre os alunos estão, de cima para baixo, da esquerda para a direita; na 1a fileira, Silmara
Aparecida Lopes (1a), Luciana Maria Arcaro de Araújo (5 a), Paulo Roberto Feola (7o ); na 2a
fileira, Simone Aparecida Barana de Góes (4ª), Edvânia Chinellato (5a), Eloize Rodrigues (6a); na
3a fileira, Elaine Rodrigues (5a ); na 4a fileira, Solange Silva Santos (2a ), Eduardo Lucato Neto
(6o). Acervo da professora Simone Aparecida Barana de Góes.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 123

“Observando a foto do meu Pré-Primário, várias lembran-


ças vêm à memória. Minha mãe me levava ao “Mercado
Municipal” para comprar o meu bamba vermelho (tênis).
Durante a compra material escolar, minha mãe pegava
minha lista e de minhas irmãs e íamos à papelaria ”Líder”
comprar com o Sr. Ari Osvaldo Favetta, que educadamente
nos atendia. E a preparação da lancheira, para mim era
sempre uma surpresa ver na hora do recreio o que minha
mãe havia preparado para o lanche. A professora era mui-
to atenciosa e paciente. Havia uma casinha de brinquedo
que tinha de tudo: boneca, casinha de boneca e outras coi-
sas e que sempre que a classe se comportava a professora
nos deixava brincar. Recordo-me de várias colegas: Silmara
Aparecida Lopes, Eloize Rodrigues, Elaine Rodrigues,
Edvânia Chinellato, Solange Silva Santos, Luciana Ma-
ria Arcaro de Araújo e, a partir dessas colegas lembrei de
um famoso texto: “Cometas e Estrelas”, que diz em um de
seus trechos: “Muitas pessoas passam pela nossa vida,
muitas vezes pensamos que vão permanecer. Muitas vezes
ouvimos promessas de que a amizade nunca vai acabar,
mas com o passar do tempo, a vida muda, as pessoas mu-
dam e promessa de amizade eterna também muda... A vida
é assim, um vem e outros vão e poucos permanecem por
toda a vida como verdadeiros e fiéis amigos, ou seja, “nos-
sas estrelas”.” Para mim as estrelas que ficaram até hoje e
brilham na minha vida, daquela época são: minha família,
que permitiu e me deu condições para que eu me tornasse
professora, aos professores que me ensinaram as primeiras
sílabas e acima de tudo respeito com o próximo e com a
própria escola, que sempre esteve presente em minhas lem-
branças e na qual hoje trabalho. Espero também ser para
meus alunos uma estrela e não apenas um cometa.”(Simone
Aparecida Barana de Góes, aluna de 1972 a 1976 e profes-
sora desde 1998).
124 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A professora Deisy Apparecida Francisco Lima, que além de escri-


turária também foi auxiliar de direção, substituta, faz algumas citações de
sua passagem pela escola:

“Foi na década de 1970, que passei a fazer parte do corpo


docente do Grupo Escolar “BRASIL”, escola tradicional
na cidade Era muito concorrida, tanto para receber novos
professores, como para matriculas de alunos, assim com-
provava a lista de espera de alunos para o ingresso no pri-
meiro ano Ensino Primário, como era denominado. Foi
nesse período que a escola, por ter número de classes redu-
zido, passou a funcionar em três períodos: manhã, inter-
mediário e vespertino. Assim funcionou por um bom tem-
po, até que novas salas de aulas foram criadas, passando
então a dois períodos: manhã e tarde. Os períodos de férias
eram no mês de julho e no final de ano, como era chamado;
de 15 de dezembro a 15 de fevereiro. Não se computavam
180 ou 200 dias letivos. Pelo fato da escola ficar totalmen-
te ociosa, foi introduzido o período noturno, com classes de
quinta a oitavas séries e Curso Supletivo. O setor destina-
do à Saúde passou a fazer parte da rotina da escola, tendo
um professor designado para prestar serviços onde esse pro-
fissional providenciava um cadastro individual dos alu-
nos, cuidava dos problemas surgidos, encaminhando cada
caso ao setor responsável, muitas vezes através do Centro
de Saúde, psicólogos, médicos em sua devida especialidade,
terapeutas, oftalmologistas, etc. Os exames de visão eram
realizados anualmente, tendo o orientador de saúde que
verificar o resultado de cada aluno, bem como proceder a
seu encaminhamento, marcando consulta, comunicando aos
pais e mesmo até acompanhando-o, quando necessário.
Orientação sobre as campanhas de vacinação também fa-
zia parte desse trabalho.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 125

Festa de comemoração do 20º aniversário de formatura da turma formandos de 1952 do Instituto


de Educação “Castello Branco”, realizada no Grupo “BRASIL”. Da esquerda para a direita, estão
professora Doracy Alves Costa Arcaro, auxiliar de direção (7º), professor Oswaldo Arcaro, diretor
(8º), João de Sousa Ferraz, professor paraninfo da turma (10º), professor Otávio Pimenta Reis
(professor de Prática de Ensino, trazia seus alunos para estagiarem no Grupo “BRASIL” (13º), a
professora Priscilla Kühl Del Grande (14ª), Olga Forster, Educadora Sanitária (15ª), professora
Cecília Quadros (16º), professora Senir Léa Feris Lucato (17ª), professora Terezinha Machado
Campos Araújo (21ª) e a professora De Carli Silveira (24ª), 1972. Acervo de Nelson Petto.

Doracy Alves Costa Arcaro, conhecida carinhosamente por “Dora”,


foi aluna do Grupo Escolar “BRASIL” de 1941 a 1945 e faz referências a
suas professoras e conta algumas de suas aventuras:

“Tenho comigo uma satisfação muito grande de ter sido aluna


da Escola “BRASIL” por vários motivos. Recordo-me muito
bem de minhas professoras, do 1º ano, a Dona Lazara Toledo
Castro, mas desta eu não tenho muita saudade não, pois ela
me batia muito, chegou uma vez a quase descolar minha ore-
lha de tanto que ela puxava. Talvez ela tivesse razão, pois eu
devo ter sido endiabrada. Depois, no 2º ano, a Dona Nair
126 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Steinmeyer, boa professora, mas faltava muito, vivíamos na mão


de substitutas. No 3º ano, uma professora negra, Dona Maria
Aparecida Castro, excelente, estimulava seus alunos e deixou
saudades. No 4º ano, Dona Maria das Dores Toledo Silva, uma
professora mais enérgica, mas muito boa. Quando eu estava no
4º ano, minha classe era no salão, andar superior da escola, mui-
to gostoso, uma sala ampla e não sei o que minha professora
mandou buscar e eu ao invés de descer normalmente pela escada
como todos os alunos, como qualquer pessoa normal desceria,
montava cavalinho naquele corrimão e chegando lá embaixo
estava o Sr. Mário de Almeida Mello, o diretor, que me deu um
tabefe na minha poupança. Mas fui corrigida, repreendida, pois
eu estava fazendo algo errado, e isso permaneceu em minha
memória como algo gostoso de se lembrar e mesmo quando
retornei à escola, já na direção, por diversas vezes fui tentada a
me sentar e descer por ele. Quando eu fazia o 1º ano, minha sala
de aula era naquela parte baixa que nós chamávamos de porão
e essa professora Lázara, muito brava, além de nos bater muito,
ela nos ameaçava. Se fôssemos indisciplinados e diante de qual-
quer algo errado que fizéssemos, iria nos prender no porão, onde
hoje é o arquivo morto da escola e nós crianças tínhamos muito
medo daquele local, pois sempre na época de escola ouviam-se
histórias de fantasma.”

Dora, mesmo retornando ao Grupo Escolar, já como professora e au-


xiliar de direção, nunca se atreveu a entrar sozinha no porão e comenta as
conseqüências que alguns atos impensados de professores podem causar:

“Tínhamos muito medo daquilo, tanto que isso ficou gravado em


mim e quando voltei, anos depois a trabalhar na escola, primeiro
como assistente de diretor no ano de 1969 e depois na direção da
escola por vários anos, nunca fui ao porão sozinha, eu tinha medo
e acho que até hoje não entro lá sozinha. Então, gostaria que os
professores entendessem que essa forma de castigo, ameaçando uma
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 127

criança de 7 ou 8 anos, marca muito, e às vezes somos responsá-


veis por coisas mais graves. Essas pessoas foram responsáveis pelo
meu medo de entrar no porão da escola, local onde nunca entrei.
Está lá até hoje, o funcionário Valmir Benedito Silveira que é
testemunha. Se eu precisasse de qualquer coisa, ele ia junto.”

Ainda como diretora do Grupo, Dora relata:

“Enquanto diretora da escola, foi um período muito bom, foi a


época em que nossa escola passou de 5ª a 8ª série, trabalhávamos
anteriormente só com professor de 1ª a 4ª série, era uma realida-
de. Vivenciei esta mudança que foi a princípio, terrível, pois
tinha que montar horário do professor III, que para mim foi
muito difícil. Quem muito me auxiliou foi o professor de Mate-
mática, já aposentado, o professor Vagner Lautenschlaeger, o
professor José Luiz Rodrigues, de Educação Física e até mesmo
o Valmir Benedito Silveira, funcionário que entrou na escola,
trabalhou comigo durante seis meses graciosamente. Eles me
auxiliavam e ficávamos trabalhando até que aprendi a fazer o
horário dos professores. Foi uma mudança muito intempestiva,
os professores I, professores de 1ª a 4ª série ficaram todos ouriçados
com a chegada dos professores III e os que chegavam tinham
aquele ar de superioridade, não só dos colegas como também de
mim, diretora, pois eu era uma simples professorinha I e teria
que coordená-los, mas foi uma etapa que nós vencemos. Tínha-
mos meia hora de intervalo e nosso recreio era algo gostoso, sau-
dável. Desde aquela época já existia a sopa escolar que era
fornecida às crianças mais necessitadas, as crianças da Caixa
Escolar e os outros alunos que não eram registradas na Caixa,
mas que queriam e tinham vontade de tomar aquela sopa con-
tribuíam diariamente, coisinha irrisória que era cobrada das cri-
anças, funcionava muito bem. E, mesmo no período em que
estive na direção da escola, continuava com esta tática de dar a
128 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

merenda aos que necessitavam, os demais pagavam. Com o di-


nheiro que eles pagavam, enriquecíamos a nossa sopa. Era um
recreio saudável onde todos brincavam, todos se divertiam, mas
tinha aquela formação de fila. Uma pessoa que era muito res-
peitada, a quem tanto os alunos como os professores respeita-
vam e ele era cumpridor de seu dever, rígido, era o Sr. Durval
Eugêneo, nosso porteiro. Ele ficava postado em frente às filas e
enquanto não houvesse silêncio absoluto ele não dava o sinal
para as filas entrarem para a classe. Era uma disciplina rígida,
mas sem maltratar, sem ofender, sem obrigar e que os alunos
obedeciam. Havia respeito e cordialidade entre alunos e profes-
sores. A cantina era próxima ao palco e a primeira cantineira foi
a Dona Leny Rodrigues Coelho Baccan, que entrou na minha
época. Houve muitas mudanças na parte física da escola. Fui
muito corajosa, sendo uma das poucas diretoras ameaçada de ser
repreendida pelo Diário Oficial do Estado, pois não obedecia ao
delegado de ensino, quando ele estava errado, não obedecia mes-
mo. Depois que saí da Escola “BRASIL”, tive a chance de
trabalhar na Diretoria Regional de Ensino, não quis e também
tive a oportunidade de trabalhar na Secretaria Estadual de Edu-
cação. O Oswaldo Arcaro, meu marido, foi trabalhar lá, mas eu
não fui, pois sempre gostei mais desse contato com o aluno.
Graças a essa nossa audácia e coragem de separar as crianças, as
séries por área, o delegado de ensino queria me repreender, pois
eu não tinha coordenador pedagógico, então não poderia fazer
isso, mas fiz e sempre questionei o que fazia. Quando saiu a
primeira turma da 8ª série, crianças que fizeram desde o jardim
de infância, que era a Educação Infantil, e foram até a 8ª série,
saíram pessoas vencedoras e essa coragem não foi somente mi-
nha como também, dos professores da época, pois assumiram
esse compromisso comigo. Volto a dizer: “O que falta nos profes-
sores de hoje é a coragem para fazer o que precisa ser feito”.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 129

Turma de 4º série de 1975. Dentre os alunos, da esquerda para a direita; 1ª fileira, Claudia Maria
Negro Forte (1ª), Aparecido Roberto Martins (2º), Leonor Chaves Zaros (3ª), Alexandre José
Bezutti (4º); 2ª fileira, Leandro Cesar Licione (1º), Osvaldo Furlan Filho (3º), Rosangela de
Fátima Cabrini (4ª), Rosangela Aparecida Pinto (5ª); 3ª fileira, Silmara Maria Barana (1ª); Irineu
Aparecido Testa (3º), Geselda Campos Vieira (4ª), Romildo Cardozo Santos (7º); 4ª fileira, Dalva
Aparecida Mercuri (1ª), Marco César Tinico (2º), Alzira da Silva Figueiredo (3ª); 5ª fileira,
Antonio Clery Gomes Filho (2º), Rosana Bortolan (4ª). Acervo de Silmara Maria Barana.

Silmara Maria Barana, professora e hoje diretora de escola, estudou


no Grupo Escolar desde a Pré-Escola, de 1971 até 1975, quando concluiu o
4º ano do Ensino Primário. Num pequeno relato expressa seus sentimentos
pelo Grupo “BRASIL” e expõe algumas lembranças ao recordar esta foto:
130 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Minhas lembranças desta turma são as melhores possíveis.


Sinto uma paz interior ao olhar esta foto, pois o ambiente que
tínhamos na escola era repleto de bons pensamentos e ações.
Cada um seguiu seu caminho, espero um dia compartilhar
com todos, nossos momentos tão felizes... Jamais esquecerei da
professora Maria Madalena Arruda Vasconcelos, tão impor-
tante em minha vida. Ela será inesquecível para mim e toda
minha família que sempre a respeitou como profissional exem-
plar e ser humano iluminado. Recordo-me também de algu-
mas atividades feitas com dedicação e alegria, e dos ensaios de
nossa “bandinha” que apresentamos em nossa formatura.”

Ao fundo, em pé, da esquerda para a direita, as professoras Priscilla Kühl Del Grande (1ª) e Myriam Arcaro
de Araújo (2ª), numa turma de alunos de 4ª série de 1975. Dentre os alunos, da esquerda para a direita; 1ª fileira,
Nádia Cristina Ribeiro Brugnaro (1ª), Cristiane Aparecida Delmondi (2ª), Rosana Darossi (3ª), Rosangela de
Fátima Girardelli (4ª), Suzana Aparecida Chinellato (5ª), Adriana dos Santos Perino (6ª); 2ª fileira, Tânia
Maria Kerpe de Oliveira (1ª), Helena Antonieta Rizzo (2ª), Cássia Regina Ionda Zolezi (3ª), Rogéria Russo
Fernandes (4ª), Lia do Carmo Barbosa (5ª), Regiane Aparecida Citelli (6ª); 3ª fileira, Solange Albertina Silva
dos Santos (1ª), Ronaldo Bellodi (2º), Daniel Roberto Gortan (3º), Manoel Pedro dos Santos Júnior (4º), Isabel
Cristina de Camargo Silva (5ª); 4ª fileira, José Fernando Brugnaro (2º), Carlos César Scandolara (3º); 5ª fileira,
Cláudio José de Júlio (1º), Antonio César Miranda (2º), Mara Lúcia Cristan (3ª), Paulo César dos Santos (4º),
Fábio D’Andréa (5º), Sueli Aparecida Longo (6ª). Acervo da Professora Priscilla Kühl Del Grande.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 131

Dra. Tânia Maria Kerpe de Oliveira oferece também seu depoimento:

“Tenho muita honra e elevado bom orgulho de ter tido minhas


raízes nos bancos escolares dessa respeitável e muito conceitu-
ada catedral de ensino, onde com tanto carinho e amor soube-
ram plasmar em meu caráter e minha formação, aprofundados
e sábios ensinamentos, norteando meu rumo de vida seguro,
impusionando-me e me estimulando para a ascensão em mi-
nha carreira profissional que abracei, de cirurgiã-dentista, e
possibilitando-me a conquista de alegrias, progresso, evolução
e sucesso. Minha eterna gratidão a todos, abnegados diretores,
mestres especiais, funcionários e colegas com quem ive a feli-
cidade de conviver nessa escola que faz a grandeza de Limei-
ra.” (Tânia Maria Kerpe de Oliveira, aluna de 1971 a 1979).
132 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Ao fundo, em pé, da esquerda para a direita, as professoras Myriam Arcaro de Araújo (1ª) e Priscilla
Kühl Del Grande (2ª), numa turma de alunos de 4ª série de 1975. Dentre os alunos, da esquerda para
direita; 1ª fileira, Marisa Helena Brugnaro Baron (1ª), Rosana Aparecida Blumer (2ª); 2ª fileira,
Maricilda de Oliveira Góes (1ª), Josiane Aparecida Rizzo (2ª), Vanderlei Albigesi (5º); 3ª fileira,
Maria Cristina Bastelli (1ª), Cintia Regina Guzella (2ª), Geraldo José Gardinalli (3º), Adriana Maria
Palermo (5ª); 4ª fileira, Priscila Elaine Fior (1ª), Rinalva Maria Bertagna (2ª), Ubiratã Silveira
Bueno (3º), Rosangela Ferraz Cereda (4ª), Ana Maria Provinciatto (5ª), Carlos Alberto Moller (6º);
Em pé à direita, Camilo Aparecido Gomes; 5ª fileira, Angelo Missan Neto (1º), Valter Rufino dos
Santos (2º), Antonio Carlos de Oliveira (3º), Marcelo Benedito Rodrigues (4º), Antonio Carlos Lima
(5º) e Marcelo Benedito Suppersi (6º). Acervo da Professora Priscilla Kühl Del Grande.

Antonio Carlos de Oliveira, o“Toni”, como é conhecido, estudou


na Escola “BRASIL” desde 1972, quando iniciou o Ensino Primário,
até o final da 8ª série, concluído em 1979 e dentre os vários fatos que
marcaram a sua vida na escola, recorda de alguns que considera muito
importantes:

“Foi um período fantástico. A nossa diretora na época era a


Dona “Dora” (Doracy Alves da Costa Arcaro), uma diretora
que aparentava ser muito brava, mas era uma pessoa de
coração enorme, mas sempre que eu e outros alunos íamos
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 133

até a diretoria, tínhamos o maior medo. Um fato pitoresco é


que não havia quadra como se tem hoje. Tinha um pátio e
nós não tínhamos uma bola para jogar futebol, então utili-
závamos laranja cidra, cujo pé havia na escola, eram aque-
las laranjas grandes. Recordo-me do Sr. Durval Eugênio,
que era um inspetor de alunos, um senhor magro, alto, care-
ca e ele sempre vinha dar bronca, mas não resolvia, pois
assim que começava o intervalo já tínhamos time contra time
e era um alvoroço, até o dia em que a Dona Dora falou:
“Agora vocês não jogam mais aqui. Está dando encrenca e
os outros alunos vão querer jogar também.”

Outro fato bastante inesquecível para Toni, na verdade, foi uma


viagem que fizeram para São Paulo e foi a primeira viagem de muitas
crianças daquela época para fora de Limeira:

“Fui para o Museu do Ipiranga, para o aeroporto de


Congonhas e para o Zoológico Municipal. Foi um sacrifí-
cio muito grande, e recordo a euforia dos amigos mais pró-
ximos, dois dias antes e não parávamos de comentar a via-
gem, mas acabamos esquecendo um aluno na saída. Está-
vamos para sair da cidade e um aluno que havia pago, por
algum motivo, se atrasou muito. O ônibus teve que voltar
para buscar esse garoto, mas depois deu tudo certo, chega-
mos em São Paulo e ficou tudo bem.”

Toni não esquece do tumulto que era comprar lanche na cantina:

“Era um alvoroço enorme e às vezes tocava o sinal para


voltar para a sala de aula e tinha fila ainda para comprar.
A cantina era pequena, evidentemente e os alunos amon-
toavam para comprar o lanche.”
134 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Quanto ao ensino ministrado na escola e seus professores, Toni


nunca esquecera, pois seus ensinamentos estão presentes até hoje, pois
uma dessas aulas acabou influenciando-o para escolha de sua carreira:

“Um de meus professores foi Vagner Lautenschlaeger,


professor de Matemática, muito enérgico, inclusive devo
muito a ele. Não havia moleza com ele. Aula de Matemá-
tica com ele era, realmente, muito puxada, muito forte e
eu agradeço, pois se hoje eu tenho facilidade em Matemá-
tica, devo a essa passagem pela Escola “BRASIL”. Hoje
sou ator e diretor de teatro e isso graças à Escola “BRA-
SIL”, pois na aula de Educação Artística, em 1976, quando
estava na 5ª série, a professora me colocou para fazer uma
peça de teatro na sala de aula. Fiz mais por brincadeira,
pois fazia parte da aula e a partir disso comecei a fazer
teatro. Faço teatro até hoje e devo isso a essa passagem
pela escola, a essa matéria de Educação Artística que pro-
pôs a dramatização em sala de aula da peça “Chapeuzinho
Vermelho”, tanto em drama como depois em pintura e fi-
quei com a parte do drama, de fazer teatro.”

Toni só tem boas recordações da Escola “BRASIL” e por ser ela um


dos centros de votação em épocas de eleições, tem um grande prazer em
votar, pois é uma das oportunidades de retornar à escola e acrescenta:

“Não mudei minha seção eleitoral porque, pelo menos du-


rante as eleições eu volto àquela escola onde vivi os melho-
res momentos escolares da minha vida. As primeiras namo-
radas foram lá também. Não vou falar, mas pode ter certeza
que houve aquelas paixões da fase de estudante e é um pra-
zer estar falando. É uma escola que continua saudável, con-
tinua histórica com seu prédio. Sei que ela teve muitas mo-
dificações arquitetônicas, mas continua sendo para mim a
velha Escola “BRASIL” na qual há trinta e tantos anos
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 135

atrás eu tive o prazer de ser aluno e convivi com algumas


pessoas, inclusive, tem um que está lá até hoje, o Valmir
Benedito Silveira, ele era da minha época e quero aproveitar
e mandar um abraço a ele. Quando eu estava saindo, o
Valmir, atual secretário da escola, estava chegando.”

Entre suas aventuras e momentos de lazer, Toni faz questão de


comentar a respeito de um clube formado por colegas de escola, que se
reuniam para ouvir músicas:

“Às sextas-feiras era fundamental, terminavam as aulas,


eu e mais um grupo de oito amigos, inclusive o Carlos An-
tonio Romano, éramos fãs incondicionais de “Bee Gees”.
Tínhamos uma trupe, “trupe do bem”, “trupe do Bee Gees”.
Terminava a aula às 22:30h e ficávamos mais meia hora
toda sexta-feira. O único que tinha carro na época e ia
para à escola com ele, era um amigo do Carlos, e a gente
colocava a fita do “Bee Gees” e era um show, bem em fren-
te à escola. Começamos com cinco, seis e no final estava
quase a metade da sala de aula querendo todas as sextas-
feiras se reunir para ouvir músicas do “Bee Gees”.”

Dentre todos os acontecimentos, Toni nunca se esqueceu de sua


formatura, pois representava o final de sua vida escolar na escola:

“A nossa formatura de 8ª série foi numa boate, na


época era “Boate Quintal” que não existe mais, fica-
va na avenida Maria Buzolin. Foi também um perí-
odo muito marcante e recordo-me até das roupas que
estávamos vestindo, pois para nós, era uma sensação
de despedida da escola, porque não havia Colegial
(Ensino Médio) na Escola “BRASIL”, então não tí-
nhamos alternativas, fomos para outras escolas.”
136 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A professora Priscilla Kühl Del Grande se formou professora pri-


mária em dezembro de 1945 e começou a lecionar em 1946 em várias esco-
las do município como substituta. A partir de junho de 1949, escolheu sua
vaga numa fazenda em Oriente, Estado de São Paulo, na Delegacia de
Ensino de Marília. De manhã ela lecionava para três classes, ou seja, 1º, 2º
e 3º ano e à noite criou o curso de alfabetização para adultos, sendo um
trabalho voluntário.
Em meados do ano de 1951, por concurso de remoção foi transferida
para a cidade de Brotas, na Escola Primária São Sebastião. Lá também
lecionava à noite alfabetização de adultos e foi autora de vários outros
projetos, como a merenda:

“Criei a sopa escolar, pois os alunos vinham de longe. Con-


segui com os pais tudo que precisava para fazer uma sopa
que era feita gratuitamente por uma senhora que morava
no Patrimônio.”

No ano de 1953, foi trabalhar na Usina de Saira, onde permane-


ceu por mais uns dois anos e no ano de 1955 foi transferida para o Grupo
Escolar “Prada”, que antes era municipal e nesse ano passou a ser do Es-
tado. Somente no ano de 1962 foi transferida para o Grupo Escolar “BRA-
SIL”, aposentando-se em 25 de março de 1976, dia da anunciação de Nossa
Senhora. Durante esse período foi auxiliar de diretor por vários anos e
também substituiu o diretor.
A professora Priscilla enquanto relata alguns de seus momentos
pelo Grupo “BRASIL” deixa transparecer com evidência o prazer pela
profissão, o companheirismo entre as colegas, o apoio dos pais e a satisfa-
ção de ter trabalhado nele:

“Na minha vida profissional, tive muitas passagens inte-


ressantes, mas as que ficaram gravadas foram as grandes
amizades que fiz com colegas com os quais nos períodos de
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 137

intervalos e horários de lazer, reuníamos para nossos desa-


bafos; às vezes para contar alegrias, outras vezes, tristezas
e isso nos tornou uma verdadeira família. As saudades são
muitas em razão da grande afetividade que consegui dos
colegas, diretores, funcionários e principalmente dos alu-
nos que adotamos como verdadeiros filhos. Não preciso
salientar evidências ou enaltecer o período mais importan-
te de minha vida como professora, pois a nossa existência
tinha como principal objetivo a escola. Sem esse profundo
amor, não conseguiríamos encontrar hoje tantos ex-alunos
e tantas famílias que ainda nos reverenciam e reconhecem
a nossa dedicação e carinho. Gostava de cantar e, ao menos
uma vez por semana, reunia as duas classes de 4º anos que
funcionavam nesse período para ensinar cantos para as nos-
sas festinhas; um pequeno coral. Também cantávamos to-
dos os dias na entrada para as aulas. É importante salien-
tar que nessa época tínhamos muita ajuda dos pais que
estavam sempre em nossas reuniões e com isso os resulta-
dos com nossos alunos, sejam na disciplina, sejam no apren-
dizado, eram sempre positivos. Digo de coração e com muita
saudade que, se fosse possível, faria tudo de novo, pois foi
no Grupo Escolar “BRASIL” que eu me realizei.”

A professora Esmeralda Salibe dedicou quase 20 anos de sua vida à


Escola “BRASIL”, permanecendo até aposentar-se. De acordo com ela:

“O Grupo Escolar “BRASIL” sempre foi muito bem fre-


qüentado. Sempre teve ótimo corpo docente que muito
engrandeceu a nossa querida Limeira. Todos os anos hou-
ve mais de quarenta alunos, classes superlotadas, mas isso
não impedia os professores de terem ótimos resultados.
Tenho ex-alunos que hoje são médicos, advogados, den-
138 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

tistas, professores, ferramenteiros e são todos pessoas de


bem. A direção do Grupo Escolar “BRASIL” sempre teve
ótimos diretores. O bom diretor ajuda os professores na
disciplina e na freqüência. Trabalhei no Grupo Escolar
“BRASIL” de 1955 até 1973, quando me aposentei. Em
nossa vida passamos dias frios, passamos muito calor, vi-
mos cair as folhas do outono, mas logo chegava a prima-
vera com suas lindas árvores floridas. Esse tempo que
trabalhei no Grupo Escolar sempre pensei nele com satis-
fação e com amor. Um dia conversei com os alunos sobre
cartas anônimas. Disse-lhes que “cartas anônimas” eram
uma baixeza, pois o que não pudéssemos assinar, não
devíamos dizer ou escrever. Um aluno me disse que o pai
mandava cartas anônimas para o administrador da fa-
zenda, para vizinhos e outras pessoas. Achava natural
mandar cartas anônimas e como o pai fazia isso não con-
segui convencê-lo do contrário. Achava muito bom, pois
o pai fazia isso. Sempre tive ótimos resultados, pois acre-
ditava que precisávamos graduar o ensino e repetir as
lições. O Grupo Escolar ”BRASIL” deixou ótimas recor-
dações do tempo em que nele lecionei. Sempre fui respei-
tada pelos alunos e ainda hoje encontro ex-alunos que
falam muito bem do Grupo “BRASIL”. Sempre traba-
lhei com meninos das 8 horas às 12 horas. Às 11:30h eu
notava que os alunos já estavam cansados, então conta-
va histórias e as crianças gostavam muito. Eu contava
sempre a história “Ali Bábá e os quarenta ladrões”. Ou-
tras brincadeiras feitas em classe eram tirar par ou ímpar
e também brincar de mudo. Eu escrevia as ordens no qua-
dro negro e os alunos liam e faziam o que lhes era orde-
nado. Fazíamos festas no Dia do Trabalho, de Tiradentes,
da Independência, da Criança, com distribuição de sucos,
salgados e doces. As carteiras eram duplas e os alunos
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 139

mais fracos eu colocava na frente para poder corrigir o


que eles faziam de errado. Salve o Grupo Escolar “BRA-
SIL”, orgulho de Limeira, São Paulo e do Brasil.”

Margarete Piva, professora coordenadora pedagógica, ao lado esquerdo da mesa, durante HTPC
(Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo), juntamente com alguns professores, 2005.

“Fui aluna na Escola “BRASIL”, iniciei em 1976, na 1a


série e minha professora era Dona Lourdes Ribeiro
Momesso. Fiz todo o Ensino Fundamental na Escola
“BRASIL”. A Dona Doracy Alves da Costa Arcaro era a
diretora da escola, logo após Sr. Wladismir Gavioli. Al-
guns professores deixaram as suas marcas. Havia a Dona
Maria José Negro Lencioni, professora de Língua Por-
tuguesa, nas aulas dela tínhamos que ficar em pé na en-
trada, ao lado da carteira, com as duas mãos para trás,
esperá-la entrar, até que colocasse seu material sobre a
mesa, somente, então falava “boa tarde!”, pois era no
período da tarde que eu estudava, na 5ª série. A classe
140 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

toda rezava um Pai Nosso, que era a oração de início do


dia, então ela dava permissão para nos sentarmos na ca-
deira. Era uma mulher que fez campanhas para arreca-
darmos alimentos, roupas, agasalhos,... sempre partici-
pou de todas campanhas da escola, inclusive há os ál-
buns de fotos em que há muitas fotos dos alunos peque-
nos juntando alimentos e materiais para entregar às ins-
tituições.” (Margarete Piva, aluna de 1976 a 1983 e pro-
fessora coordenadora pedagógica de 2001 a 2006).

Após campanha realizada na escola, turma de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental leva os
materiais e alimentos arrecadados até as instituições assistenciais, 1999.

Ainda a Margarete:

“Com a professora de Educação Física, Dona Vera Lú-


cia De Felice, participávamos de gincanas e de campe-
onatos e durante um campeonato interclasses eu era a
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 141

pivô de basquete e naquela época, apesar da gordura


toda, eu jogava bem. Ainda no Ensino Fundamental, a
professora Cleonice Valamede, professora de História que
me inspirou muito e por isso fiz História e hoje sou
professora nesta área. Havia a Dona Leslie Maria
Pincelli Crivelin Bigotto, professora de Ciências que,
inclusive se aposentou aqui na Escola “BRASIL” e a
Dona “Rosinha” (Rosa Maria Bombini), professora de
História. Até hoje lembro de um fato que aconteceu
com a Dona Marta Guimarães Dias Cunha, minha pro-
fessora da 4ª série, ela mora na rua Dr.Trajano de Bar-
ros Camargo e a minha classe ficava onde é a sala 6, que
era a 4ª série A, classe de elite naquela época. Da esco-
la, pela janela, ela viu sua casa ser incendiada e olhan-
do ela falou: “Está pegando fogo na minha casa.”. A
classe toda assustou e, realmente, o fogo era mesmo na
casa dela, tanto que o marido dela se queimou ao salvar
os dois cachorros; são coisas da infância que marcam.A
escola era muito festiva, talvez por ser um período em
que cumpríamos todas as festividades do calendário e
havia muitas comemorações cívicas e festas juninas.
Íamos todas as quartas-feiras à Praça Luciano Esteves
cantar o Hino Nacional e hastear a Bandeira; era sem-
pre uma classe que ia representar a escola. Em 2000 eu
estava numa escola estadual, como professora coorde-
nadora e devido a problemas de aulas, saí da coordena-
ção e depois na atribuição de aulas em fevereiro eu con-
segui aulas na Escola “BRASIL”, na Escola Professor
Ely de Almeida Campos e numa escola em Rio Claro.
Na Escola “BRASIL” só à noite, Escola “Ely” de ma-
nhã e Rio Claro à tarde. Como estava vaga a função de
professor coordenador diurno e a diretora, Dona Ruth
Zucolotto da Silva com a então coordenadora pedagó-
142 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

gica, Irme Magno Brasil, em conversa, questionaram:


“Você já tem experiência, não quer se inscrever?” Ha-
via jurado que não voltaria mais para a coordenação,
pois eu queria dar aulas, mas após muita conversa, fui
convencida a voltar para a coordenação, concorri à vaga
e fui eleita pelo Conselho de Escola. Trabalhar na Es-
cola “BRASIL”, realmente, requer uma visão muito
ampla, é uma diferença de cultura enorme, tanto de alu-
nos, quanto funcionários e professores; temos que saber
lidar com todos e é um encanto, gosto do que faço. É
uma escola encantadora e sempre fui privilegiada em
ter estudado e trabalhado nela. Quanto à educação,
não tínhamos uma liberdade de conversar com o diretor,
às vezes até falar de atitudes de professor e questionar a
metodologia deles (não tinha com quem desabafar). Hoje
os alunos têm essa liberdade, têm esse meio, esse cami-
nho aberto para procurarem os coordenadores, os dire-
tores para se comunicarem, só que está falha a educa-
ção dos alunos de hoje. Os profissionais, talvez estejam
só desmotivados financeiramente, o que é um grande
fator, os estudantes estão vivendo um momento único,
que é o momento de hoje, o amanhã para eles, se estiver
bem, tudo bem, se não estiver, também. Antes o profes-
sor conseguia trabalhar, trabalhar no sentido do pro-
fessor preparar sua aula, aplicar e ter oportunidade de
diagnosticar eventuais defasagens e poder supri-las em
aulas posteriores. Hoje em dia, você dá sua aula e já
tem que rever na hora o que não deu certo, reavaliar e
tentar aplicar novamente e, mesmo assim, muitas vezes
sem sucesso, devido a esse fator que citei anteriormente.
Não tínhamos o prédio novo, só existia o prédio da fren-
te, as salas de aula era um assoalho, um piso sinteco, só
que, como era bem velho, fazíamos campanha de lim-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 143

peza e cada classe limpava a sua sala, tínhamos espátulas


com que raspávamos todo o piso da sala para tirar a
cera velha, pois naquela época usava-se cera, limpáva-
mos, encerávamos, limpávamos de novo e passávamos a
enceradeira da escola, as serventes ficavam juntas para
auxiliar. As salas eram pintadas de branco e cinza, pa-
recia cor de hospital, a secretaria era no mesmo lugar,
primeiro na sala menor, depois se estendeu para a sala
lateral, os banheiros eram completamente diferentes, a
cozinha era onde hoje temos a sala de Educação Física,
era ali em baixo, você entrava, era uma sala comprida,
com mesas compridas, você entrava e havia a Dona
Benedicta Juvêncio Mesquita que era merendeira, en-
tão você entrava, pegava seu prato de alimento, senta-
va-se à mesa, comia e saía, a fila era enorme. Quadra,
só existia a debaixo na 5ª série, essa quadra maior que
chamamos de quadra oficial, mas a estrutura dela não
era cercada, não tinha alambrado, só um muro que pro-
tegia a quadra. A sala dos professores era onde atual-
mente é a “copa”, o palco no mesmo lugar e a cantina
da Dona Leny Rodrigues Coelho Baccan; desde quando
estudei aqui essa senhora sempre esteve na cantina, era
do lado direito. Ao fundo do palco havia uma constru-
ção, um cômodo, que era a cantina onde ela vendia suas
guloseimas. Existia o ensino fundamental à noite e o pes-
soal estudava e podia entrar na 2ª aula devido ao horário
de trabalho, pois com 14 anos de idade já poderiam traba-
lhar. Hoje é mais controlado, para não ter problema em
usar esse motivo sem necessidade, mas todos uniformiza-
dos, independente de estudarem de manhã, à tarde ou à
noite..” (Margarete Piva, aluna de 1976 a 1983 e profes-
sora coordenadora pedagógica de 2001 a 2006).
144 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

O ex-funcionário Paulo Sergio Kühl relata os pontos mais significa-


tivos durante seu convívio na Escola “BRASIL”:

“Fui funcionário na Escola “BRASIL”, tomei posse em


21 de setembro de 1965 e ficando até 1982, quando fui para
a Escola Professor Ely de Almeida Campos, carinhosamente
chamada de Colégio Ely. Foi um tempo muito feliz, eu era
servente, fazia faxina e estava estudando no Colégio San-
to Antonio, onde terminei a 8ª série. Passei por vários dire-
tores, todos muito bons para mim, me orientavam muito e
tive bastante apoio quando estudava. Depois fiz o 2º grau,
estudando em outras escolas e enquanto trabalhei no Gru-
po “BRASIL” consegui me formar, concluindo o Magisté-
rio, e me formei professor embora não exerça. Conheci vá-
rias professoras, inclusive uma que lecionava no Curso
Primário, hoje é minha diretora na Escola Professor “Ely
de Almeida Campos”: Sonia Stella Basso. Convivi com
muitos alunos que hoje são pessoas de destaque por aí,
com altos cargos e que param na rua para conversar. Um
deles ainda fala: “Paulinho, quanto está seu salário?” Quan-
do conto ele cai duro.“O Estado paga muito mal. Você era
para estar recebendo muito bem como funcionário do Es-
tado.” Conheci muitos professores, amigos e amigas que
também já se foram, outros que foram funcionários nessa
época, muitos alunos que hoje não vemos mais. Recebia
muita atenção de todos. Retornei para o Grupo Escolar
em 1986, permanecendo até 1992.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 145

Centro Cívico e seus membros no ano de 1976. Da esquerda para a direita estão, professor
Osvaldo Assumpção Castro (1º), professora Deisy Apparecida Francisco Lima (2º), Doracy Alves
da Costa Arcaro, diretora da E.E.P.G. “BRASIL” (3ª), Arlete Estrela (4ª), Edson Aleoni (6º),
Israel Gaiser (8º), Celso Corte Siqueira (9º), Jair Formigari (12º), Cláudio Orsi (16º), Ismael
Nantes (17º). Acervo da E.E. “BRASIL”.

O Centro Cívico foi criado em 1976 com o objetivo de estimular o


desenvolvimento do espírito cívico e engrandecer os construtores da histó-
ria do Brasil. Era composto por alunos e por um professor, eleitos a cada
ano, através de voto secreto entre seus pares e com a supervisão de um
Orientador de Educação Moral e Cívica.
O primeiro orientador de Moral e Cívica foi o professor Osvaldo,
responsável pela formação da primeira diretoria do Centro Cívico. O pro-
fessor Osvaldo, além de ter sido professor e orientador de Moral e Cívica,
foi aluno do Grupo Escolar “BRASIL”, onde fez o Ensino Primário de
1957 a 1960, atuou como supervisor de ensino da Escola e substituiu o
delegado de ensino (atual, dirigente de ensino) de Limeira por vários anos,
e atualmente é o diretor da Escola Estadual “BRASIL”.
146 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Quanto às atividades desenvolvidas pelo Centro Cívico, o professor


Osvaldo cita:

“Desenvolvíamos toda atividade relacionada às comemo-


rações cívicas das datas nacionais, promovíamos campa-
nhas de solidariedade, estimulávamos a realização de ati-
vidades esportivas e realizávamos um período com sessões
de debates entre os alunos a respeito de fatos significativos
para a construção da cidadania.”

Doracy Alves da Costa Arcaro, enquanto diretora, acolheu o Sr.


Osvaldo com muita satisfação e faz-lhe algumas menções elogiosas:

“O atual diretor da escola, Osvaldo Assumpção Castro, foi


meu orientador de educação moral e cívica. Quando nin-
guém o queria aceitar, ele percorreu várias escolas tentando
trabalhar. Os diretores mais antigos eram contra, por causa
do “gênio” do Osvaldo que sempre foi muito franco, mas
muito bom, nunca deixou as coisas passarem batidas. Quan-
do ele me procurou, nós o aceitamos imediatamente, pois
nossos gênios são muito parecidos. Nós, o que pensamos fa-
lamos, na hora que precisa falar, não importa quem está
ouvindo, o que precisa ser dito sai na hora, pode sair com
palavras amenas, como também, pode sair com palavras na
linguagem popular, que a criança mais entende. E pode ser
devido a esse “gênio” que chegou aonde chegou, foi traba-
lhando e estudando. Hoje, como já ouvi de alunos, ele é um
diretor querido e respeitado. Me ajudou muito nas brigas de
quando queriam colocar bancos na escola. Me ajudou mui-
to na disciplina, nas fanfarras que organizamos, nos desfiles.
Ele era corajoso e autêntico e essas são duas características
que estão faltando aos nossos professores e que me perdoem
se eu estiver falando errado. Não podemos ficar em cima do
muro, tendo caras, uma para o aluno e uma para o professor
e outra para o delegado de ensino, a gente tem que ter con-
vicção daquilo que se faz.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 147

Largo José Bonifácio, em 1977, com seus lustres característicos da época e bancos distribuídos em torno
dos canteiros. Fonte: Arquivo do Museu Municipal de Limeira “Major José Levy Sobrinho”.

Largo José Bonifácio em 1978, durante as obras de remodelação de seus canteiros e jardins,
na gestão do prefeito Waldemar Mattos Silveira. Fonte: Centro Municipal de Memória
Histórica de Limeira.
148 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Sebastião Venâncio da Silva, em visita ao Largo José Bonifácio, 2006.

Sebastião Venâncio da Silva, ex-funcionário da Prefeitura de Li-


meira, foi jardineiro do Largo José Bonifácio desde 19 de julho de 1978 a 14
de março de 2005, até pouco tempo depois de completar 80 anos, em 25 de
fevereiro de 2005. Desse longo período de trabalho no Largo, ressalta:

“Comecei a trabalhar quando o prefeito era o Waldemar


Mattos Silveira, o “Memau”. Nunca fui demitido, e tam-
bém nunca troquei de serviço. O prefeito Jurandyr da Pai-
xão de Campos Freire trocou muitos praceiros, mas perma-
neci. Recordo-me do dia em que a praça foi concluída, pois
foi quando comecei a trabalhar e quando foram plantados
aqueles coqueiros grandes; havia três coqueiros (coco doce)
de cada lado da escadaria de entrada para a escola. Na fren-
te, havia pés de azaléia. Gostava de trabalhar, era como se
fosse a minha casa, me sentia bem, ficava mais lá do que
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 149

em casa, pois ia para casa só para dormir e no outro dia às


5 : 30 horas, retornava e permanecia até às 16:30 horas.
Não havia alunos ruins para mim, tanto que os surdos-
mudos me respeitavam e me respeitam até o dia de hoje e
até o ano passado foram me ver na praça. A praça era
bonita e ganhei os parabéns por estar zelando dela. Apo-
sentei em 1978 e continuei trabalhando e nunca fui trans-
ferido de setor e em 2005 fui dispensado. O prédio novo
está no lugar do galpão velho, que era de madeira com
uma mureta de tijolo e a cozinha era lá embaixo onde atu-
almente é a quadra. O muro era baixo e depois que entrou
a dona Ruth Zucolotto da Silva, diretora, é que suspende-
ram esse muro. Eu morava mais aqui do que em casa, en-
tão eu morava mais aqui.”

Portão de entrada dos alunos, no Largo José Bonifácio. Observa-se neste período o muro ainda
baixo, 1979. Fonte: Jornal “Gazeta de Limeira”.
150 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Frente da E.E. P.G. “BRASIL” em 1979. O uniforme utilizado nesse período era uma capa
branca, com mangas curtas e comprimento um pouco acima do joelho. Fonte: Jornal “Gazeta de
Limeira”.

Wladismir Gavioli foi diretor efetivo da Escola de 1979 a 1987,


exercendo a função até 1983, quando foi designado para as funções de
supervisor de ensino na Delegacia de Ensino de Limeira e em 1986 pediu
remoção da E.E.P.G. “BRASIL” para a E.E.P.G. Mario de Souza Queiroz,
onde se aposentou em 18 de julho de 1987. Nesse período na direção da
escola, empenhou-se muito e dentre as várias atividades desenvolvidas, ele
nos informa:

“Assim que cheguei em 1979, reorganizei a Secretaria da


Escola e também o Setor de Pessoal da Escola “BRASIL”,
tornando-a mais racional e prática. Sempre procurei trazer
prontuários de professores e funcionários em dia, para fa-
cilitar nos pedidos de adicionais, licença-prêmio, sexta-parte
e aposentadoria. Distribui as tarefas de modo que nenhum
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 151

funcionário ficasse mais sobrecarregado que outro. Havia


rodízios entre serventes. Atas e livros sempre em dia, como
também a prestação de contas da A.P.M. (Associação de
Pais e Mestres), entregando os relatórios (que não eram
poucos) para a Delegacia de Ensino e outros Órgãos Supe-
riores. Sendo a E.E.P.G. “BRASIL” uma Escola com um
prédio bem antigo, não tinha espaço sobrando para a ins-
talação de uma pequena biblioteca, que fazia falta à esco-
la. A partir disso, analisando o “porão”, notamos que esta-
va com bastantes materiais inservíveis. Tratamos de limpá-
lo para nele instalar a biblioteca e talvez ainda outros seto-
res para a Organização Administrativa da Escola. Com o
espaço que conseguimos, enviando os materiais velhos
embora, pudemos realizar o nosso sonho “Biblioteca da
Escola”. Havendo uma professora adida pudemos colocar
a Biblioteca para funcionar e, como sobrou espaço físico,
aproveitamos para transformar esses espaços em
almoxarifado de Educação Física, para professores guar-
darem materiais: bolas, redes, etc, almoxarifado de produ-
tos de limpeza: papel higiênico, palha de aço, cera, lâmpa-
das, etc, tudo guardado e entregue com requisição,
almoxarifado da fanfarra, com prateleiras, uma para ins-
trumentos de sopro, outra para instrumentos de couro, etc.
Procuramos sempre dar cobertura aos professores, princi-
palmente no que dizia respeito ao material pedagógico e
retaguarda nos problemas disciplinares com alunos. Sem-
pre acompanhamos de perto a evolução das aulas dos pro-
fessores, comparando o plano de aula anual com o Diário
de Classe e com o caderno de alunos. Passava visto. Fomos
muito felizes com o corpo docente, no Pré-primário, nas
Classes Especiais, no Primário e no curso Ginasial; profes-
sores e professoras excelentes. Quanto ao grupo de apoio
152 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

não tive queixas, eram todos ótimos: assistente de diretor,


orientadora de Moral e Cívica, secretário, escriturária, ser-
ventes e inspetores de alunos. Tivemos muita sorte com pre-
sidentes da APM, pois quando a escola precisava de alguma
coisa material, lá estavam eles, prontos para ajudar e traba-
lhar por um objetivo. Assim foi com inúmeras necessidades,
por exemplo: o calor era terrível, as crianças e os professores
passavam até mal, então fizemos uma campanha com a APM
e os professores sempre apoiando. Colocamos ventiladores,
um para cada classe.”

Em meio a tanto trabalho um fato engraçado:

“Havia muitos morcegos, devido à chácara dos “Levy”,


onde hoje é o “Compre Bem”, e que ocupava a quadra
toda com muitas árvores frutíferas, daí a grande quanti-
dade desses morcegos. Para diminuir os morcegos, fala-
ram para comprarmos cápsulas com um produto e colocá-
las no madeiramento do forro que iria afugentá-los. Que
nada, resolveu apenas por alguns dias e retornaram de-
pois de assustar toda a vizinhança. Então, um dos ho-
mens que contratamos para fazer esse serviço, sugeriu-
me que comprasse bastantes sacos plásticos pretos, que
no sábado ele subiria até o forro com alguns amigos para
resolver o problema. Cada um subiu no forro com um
pedaço de pau e mataram os morcegos a pauladas. Eles
riam e faziam um barulho infernal lá em cima. Depois de
duas horas, desceram do forro com uns quatros sacos cheios
de morcegos mortos. Percebi que desceram com uma gar-
rafa, fui olhar e era uma garrafa de “51”. Saíram rindo,
dizendo que iriam fazer um belo churrasco.” (Wladismir
Gavioli, diretor de 1979 a 1987).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 153

Finaliza:

“Fizemos nosso trabalho no dia-a-dia, junto é claro com o


corpo docente e discente, com os funcionários e demais
amigos da Escola (APM: Associação de Pais e Mestres).
Nunca tivemos o propósito de sermos os melhores, mas fa-
zer o que de melhor podíamos.”

Professora Brasilusa Monteiro de Moraes Fonseca, à frente ao centro, junto com seus alunos na
Praça Luciano Esteves em evento de comemoração cívica ao “Dia da Bandeira”, 1983.

Brasilusa Monteiro de Moraes Fonseca iniciou suas atividades como


professora no Grupo Escolar “BRASIL” em 1953, permanecendo até 1987,
quando se aposentou:

“Antes de ir para o Grupo “BRASIL” estava em uma es-


cola isolada. Lecionei 18 anos em 2ª série, onde se ensinava
divisão com dois algarismos. Havia inspetor de ensino e ele
cobrava muito de nós, verificava se todas as crianças esta-
vam sabendo divisão com dois algarismos, via o diário de
classe, o semanário, os livros de chamada e colocava para o
154 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

professor a apreciação; era vistoriado tudo. Ele verificava


os cadernos dos alunos e a direção cobrava até se a aula
estava de acordo com o horário pendurado na sala de aula;
tinha que seguir rigorosamente o horário. Havia recreio de
30 minutos e era o diretor que tomava conta dos alunos; às
vezes ficávamos no recreio. Tínhamos os alunos especiais
além dos alunos de Q.I. normal e exigiam muito de nós,
pois tinham uma conduta bastante diferente e, para citar
um caso, eu tinha um aluno que o dia que achava que era
carnaval, era uma benção, uma maravilha, pois ele só pi-
cava papéis, fazia confetes e jogava no chão, mas o dia em
que achava que era motor de dente, pegava a caneta com
pena, punha no dente e imitava um motor, era difícil dar
aula numa sala com um aluno assim. Num certo recreio, o
diretor trouxe este aluno para mim porque estava enfor-
cando o outro colega, para eu resolver o que faria com ele,
pois para o diretor ele seria expulso e eu disse “não”, então
ele passou a fazer o recreio comigo e me olhava com um
olhar de misericórdia. Havia cerca 45 alunos por sala de
aula, mas conseguíamos manter a disciplina, éramos mui-
to rigorosos. Quando algum aluno tinha defasagem em
conteúdos, permanecia na mesma série, reprovava e mui-
tas vezes o diretor dizia para gente: “Você perdeu muito”.
Quer dizer que éramos cobrados. Pedia para os pais apenas
olharem os cadernos e elogiarem, deixando que os alunos
fizessem sozinhos, pois eu ensinava de um jeito e o pai de
outro, então a criança ficava confusa. As disciplinas que
ministrávamos eram Matemática, Português, História,
Geografia, Ciências e Educação Moral e Cívica. Naquele
tempo havia aulas aos sábados. É difícil passar por um ex-
aluno e ele não nos cumprimentar: “A senhora lembra de
mim?” Muitos deles mudaram a fisionomia, cumprimento
e pergunto a eles o que eles são agora, o que eles fazem, se
estão casados, principalmente os meninos, pois as meninas
são mais reservadas, mas mesmo assim elas vêm cumpri-
mentar, falam “Eu fui aluna da senhora.” e algumas mães
“A senhora foi professora do meu filho”. Dos diretores, re-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 155

cordo do Benedicto Papa que ficou um ano apenas, que


por sinal era um grande diretor, Oswaldo Arcaro, que nos
dizia assim: “Se o aluno não aprende é porque a professora
não ensina.”, ele martelava isso em nossas cabeças, então
nos virávamos de todo jeito para fazer com que o aluno
aprendesse. Fui professora do atual diretor da escola, o Sr.
Osvaldo Assumpção Castro.”” (Brasilusa Monteiro de
Moraes Fonseca, professora desde 1953 e aposentada em
1987).

O Grupo Escolar “BRASIL”, que honrosamente ostenta o nome de


nossa pátria, sempre desenvolveu atividades de civismo e, também, por
situar-se na região central, é muito visado pelas autoridades para a parti-
cipação em datas cívicas:

“Em pé, enfileirados duplamente e acompanhando as arti-


culações labiais da professora Daicy Tetzner Christovam,
que iam por vezes repetidas, comecei a balbuciar as pri-
meiras sílabas do Hino Nacional. Eu começava dessa for-
ma a denotar o respeito e o amor à pátria onde nasci, a
nossa Bandeira Nacional, à escola da minha infância e seus
professores cujo passado memorável guardamos na lembran-
ça.” (Paulo Roberto Guimarães dos Santos, aluno de 1957
a 1959 e aluno do Telecurso 2007).

“Durante a “Semana da Pátria” havia o hasteamento da


Bandeira Nacional em que revezavam dois alunos por dia
para ficarem postados em frente à Bandeira, fazendo sua
guarda.” (Vanderlei Albigesi, aluno de 1972 a 1975).

“Os alunos sempre iam à praça apresentar cantos a respeito


daquela data e tínhamos facilidade para cantar, minha voz
não era bonita, mas eu punha, por exemplo, uma melodia
do Roberto Carlos em uma letra cívica e ensinava as crian-
156 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

ças; era fartura de músicas, cânticos cívicos e outros cânticos


especiais. Devido a essa nossa participação em datas cívicas,
desde o primeiro dia de aula começávamos a ensinar o Hino
Nacional, sem dar a letra, apenas cantando. Trabalhávamos
com os quatro hinos cívicos, o Hino Nacional, o Hino à
Bandeira, o Hino da Independência e o Hino da República,
são os quatro hinos oficiais. No dia da Bandeira, em 1983,
fomos à praça, ao meio dia, hastear a Bandeira, estava com
os alunos de 4ª série, Tiro de Guerra e alunos de outras esco-
las. Sempre cantávamos o Hino Nacional, as classes canta-
vam de segunda-feira a sexta-feira, na segunda-feira eram
as 1ª séries, na terça-feira, 2ª séries, quarta-feira era o Grupo
Escolar todo, quinta-feira eram as 3ª séries e na sexta-feira
as 4ª séries.” (Brasilusa Monteiro de Moraes Fonseca, pro-
fessora desde 1953 e aposentada em 1987).

Alunos de 1984 da E.E. P.G. “BRASIL”, no galpão, local onde atualmente se situa o prédio
novo, mostrando a vista para parte do pátio da escola, com plantio de vários pés de laranjas.
Acervo da E.E.“BRASIL”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 157

Visita à Prefeitura Municipal de Limeira, no ano 1985. Ao fundo, o Prefeito Jurandyr da


Paixão de Campos Freire. Acervo da E.E. “BRASIL”.

Pré-escola no ano de 1987. Festa de aniversário de Mirela de Oliveira Figueiredo, garota em pé.
Acervo de Mirela de Oliveira Figueiredo.
158 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A Escola ”BRASIL” começou a oferecer a Educação Infantil (Pré-


Escola) em 1950 até o ano de 1995, pois em 1996 houve a municipalização
da Educação Infantil e Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries.

“Foi uma época boa, pois para mim me vem à memória


que a única preocupação e responsabilidade que eu tinha
era ir para escola, assistir às aulas, o que inevitavelmente
acontecia e encontrar os amigos. Fase de transição entre
infância e adolescência. Não sinto saudade da escola em si,
mas sim da sensação que esse momento me trás quando
penso nele, que era o de não ter preocupações e deveres
que tenho vivenciado com as exigências da fase adulta,
como trabalhar, ter um chefe, ter horários rígidos, atender
os pacientes sob qualquer circunstância, receber um salá-
rio no fim do mês e com ele pagar as contas. Representava
encerrar a infância e entrar para o Colegial. Com isso, es-
perava ter mais liberdade, mais espaço para poder falar e
fazer as coisas tanto dentro da nova escola quanto nas ati-
vidades do cotidiano. Considero a formatura um rito de
passagem necessário para encerrar uma fase e iniciar ou-
tra, através de um momento de comemoração e despedida
em que reuni todos os alunos, professores, pais, diretor e
vice-diretor. Na Pré-Escola tínhamos um local para tomar
lanche e brincar. O nosso refeitório tinha mesinhas peque-
nas de madeira com lugares para quatro crianças. Nosso
parquinho era um quadrado de cimento, cheio de areia, o
qual tinha balanço e escorregador, mas as crianças podiam
trazer os brinquedos de casa. Da 1ª série até a 4ª série as
crianças tinham horário do intervalo separado da turma do
Ginásio. No Ginásio, o intervalo era o momento dos alu-
nos se encontrarem, conversarem, paquerar e também bri-
gar.” (Mirela de Oliveira Figueiredo, aluna de 1987 a 1995).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 159

Professora Rosana Aparecida Andrade Viotti e classe de Pré-Escola de 1990. De cima para baixo,
da esquerda para a direita; 1ª fileira, Tegner Pedro Lourenço (1º), Leandro Bortolozzo Padilia
(2º), Henrique Rocha Ferreira (3º), Fábio Sogumo (4º), Deivid Costa Campos (5º), Celso Nuterle
Júnior (6º), Guilherme Pasquoto dos Santos (7º), Roqrigo Freire Alves (8º), Dorival Abrahão
Geremias (9º); 2ª fileira, Cleverton Granço (1º), Bruno Cesario Basetto (2º), Cleverson Marcelo
Botechia (3º), Ederson Franco Furlan (4º), Murilo Jeronymo da Rosa (5º), João Luiz Poletti
Júnior (6º), César Ricardo Rodrigues Júnior (7º); 3ª fileira, Marcela Aparecida Manfrei D’Andrea
(1ª), Tatiane de Almeida Viana (2ª), Adriano Deperon Garro (3ª), Fúlvia Maria Pelegrini Tofoli
(4ª), Jaqueline Paes de Souza (5ª), Linda Kátia de Suza Batista (6ª); 4ª fileira, Mariana Monteiro
(1ª), Moniky Caires da Cruz (2ª), Juliana Porto Daló (3ª), Mariana Morales Granso (4ª), Flávia
de Souza Cotrin (5ª), Juliana Botteão (6ª) e Daiane Bertanha (7ª). Acervo de Moniky Caires da
Cruz.

João Luiz é recém-formado em Comunicação Social, Publicidade e


Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e já
trabalha na área como Arte Finalista. Estudou durante 8 anos na Escola
“BRASIL”, tendo iniciado sua vida escolar em 1990, cursando desde o
Pré-Primário à 8ª série do Ensino Fundamental. É com satisfação e mui-
tas saudades que relata fatos e expõe sentimentos e emoções vivenciados
durante sua passagem pela escola:
160 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Recordo-me do espaço reservado que havia onde hoje se


encontra a área da merenda escolar. Uma área grande com
areia dentro para brincarmos e éramos separados dos alu-
nos mais velhos por um alambrado. Brincávamos de polí-
cia e ladrão, de pega-pega e tenho saudades das aulas com
a professora Rosana Aparecida Andrade Viotti e, princi-
palmente, dos amigos que permaneceram por muito tempo
na escola, também devido ao seu prestígio na época. Em
1991, quando iniciei meu primeiro ano escolar com a pro-
fessora Maria de Lourdes Figueiredo Francisco, muitas
coisas mudaram. Como todo primeiro ano, nossa expectati-
va era muito grande. Aprender a ler, escrever, tudo era
muito excitante e a escola não me decepcionou nesse pon-
to. Formávamos uma fila no pátio da escola e esperáva-
mos pela professora para sermos levados (em fila indiana)
para a classe. Nesse primeiro ano também tínhamos como
educação complementar a “higienização bucal”, com a qual
aprendíamos a cuidar dos dentes e preservá-los livre das
cáries. Meu segundo ano de Ensino Fundamental deu-se
em 1992 com a professora Silvia Regina de Almeida Quin-
tal. Com poucas mudanças na sala, nesse ano a escola já
era mais conhecida (por tê-la explorado melhor durante meu
primeiro ano), havia também a tradicional festa junina, na
qual tive a oportunidade de dançar. Mil novecentos e no-
venta e três foi o ano em que fui aprimorando meus estu-
dos e me dedicando mais às disciplinas. Ano que tive como
professora Rita de Cássia Mantovani Sassi Jerônimo, uma
professora conhecida pelo seu jeito autoritário em sala de
aula, porém me mostrou um outro lado completamente
compreensivo durante o ano em que lecionou para mim,
me fazendo cada vez mais crescer não só como aluno, mas
também como um cidadão educado e compreensivo. Em
1994 com a professora Maria Cristina Sampaio Barros
Macedo, tive oportunidade de aprimorar meus conheci-
mentos. Em 1995 as coisas começaram a mudar um pouco,
ano em que os professores eram divididos por matérias, sem-
pre foi um motivo de inovação para nós, alunos. Nesse
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 161

ano pude conhecer especificamente matérias como Ciências


Sociais, História, Geografia entre outras. Nesse ano posso
ressaltar como professora de destaque, principalmente pelo
seu jeito conhecido na cidade, a professora de História, Rosa
Maria Bombini (a professora Rosinha) que nos causava
certo espanto no começo, visto que ela já tinha dado aula
para muitos pais e que também era conhecida pelo seu jei-
to grosseiro de tratar as coisas. Mas, felizmente para mim,
ela não demonstrou esse seu lado grosseiro e foi uma exce-
lente profissional, me ensinando muitas coisas que guardo
comigo até hoje. No ano de 1996, a mudança entre profes-
sores tinha continuidade, e nesse ano também foi implan-
tado pelo governo o programa em que cada escola designa-
da seria dividida em 1ª e 4ª séries em uma escola e de 5ª a 8ª
série em outra. Para mim essa foi uma das mudanças mais
grotescas adotadas pelo governo na melhoria do ensino e
trouxe inúmeros malefícios para a escola, muita gente sem
vontade de estudar e também o “caos” para inspetores, pro-
fessores que eram acostumados com outros alunos. Com
isso o “nível” da escola perdeu muito em seu gênero e algu-
mas dúvidas sobre a eficácia da escola começaram a ser
colocados à prova. Em 1997, ano em que completava mi-
nha 7ª série, a escola começou a ficar agitada durante certo
período com os jogos interclasses, organizados pelos profes-
sores de Educação Física e que tinham como princípio a
integração entre os alunos de uma mesma série. Nesse ano
também posso destacar como principal professora (aquela
que me dava o maior apoio e sempre incentivava não só o
meu trabalho, mas de todos os alunos “bons”) a professora
Maria Regina Drago Ferreira Camarini, mas ela era co-
nhecida como “Regininha”. Uma das poucas professoras
de Matemática que tinha verdadeira paixão em dar aula e
não apenas ensinar Matemática. Meu último ano na esco-
la foi em 1998, ano em que eu recebi o convite para parti-
cipar da premiação do Troféu Fumagalli. Nesse ano, posso
dizer que muitos sentimentos passaram por mim, como por
exemplo, o ano em que eu estava me formando e partindo
162 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

para o início de uma nova etapa em minha vida, a própria


concorrência pelo troféu, para o qual todos os alunos de
escolas públicas e particulares também estavam concorren-
do, o que já era um enorme desafio. O professor Altamir
Paraíso Figueira (Educação Física) na época torcia muito
para que eu ganhasse o troféu pela escola e sempre me
perguntava das avaliações. Nesse último ano, muitas eta-
pas foram superadas, muitas barreiras foram vencidas,
muito estudo, muita dedicação e finalmente teve seu reco-
nhecimento. As amizades ficaram mais fortes, os verdadei-
ros amigos guardados até hoje e as lembranças de toda a
revolução pela qual a escola passou, estarão para sempre
guardados no meu coração.”

A ex-aluna Moniky Caires da Cruz, estudou na escola desde Pré-


Escola, no ano de 1990 e concluiu o Ensino Médio em 2001. Hoje, sendo
bacharel em Turismo e atuando na área de Planejamento e Gestão, afirma
que a escola foi muito importante para sua vida, sendo o local onde apren-
deu a ser tudo que é hoje. Dentre os vários fatos e recordações da escola,
destaca:

“Lembro-me que a escola era um lugar muito legal, a


escola pública mais tradicional da cidade, por algum
tempo escola-padrão, onde alunas usavam saias pregue-
adas e os meninos shorts azul marinho. Foi onde fiz
amigos verdadeiros e descobri as primeiras lições da vida.
Onde professores me ensinaram a ler e a escrever e, prin-
cipalmente a entender o mundo. Um lugar em que
aprendi alguns esportes e com eles o gosto bom das vitó-
rias e o amargo das derrotas e onde também desenvolvi
o gosto pela leitura. Gostos esses que me acompanham
até hoje, em quase tudo o que faço. Aprendi a respeitar
os outros seres humanos, independentemente de quem
seja ou faça. Vários fatos marcantes ocorreram, um de-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 163

les foi a ampliação da escola, quando entrei, a estrutu-


ra da escola, era basicamente, um único prédio e algu-
mas salas externas (no local onde hoje é a merenda), as
salas nesta época eram mais amplas, inclusive com ba-
nheiro dentro, havia também Classes Especiais. Uma
turma que me marcou muito foi a sala de surdos-mu-
dos, eles se interagiam com todos os alunos e nós enten-
díamos exatamente o que eles expressavam. A
municipalização também foi muito marcante, pois hou-
ve grandes modificações. Até então a equipe escolar era
muito unida, cada funcionário ou professor sabia das
particularidades de cada aluno e neste momento, houve
uma grande aglomeração de alunos em sala de aula e
parte desta ligação afetiva foi perdida.”

Semana de Educação Para o Trânsito (28-09-98 a 02-10-98). Ao lado esquerdo está a professora
Maria Regina Drago Ferreira Camarini, de Matemática, uma das professoras envolvidas com o
projeto.
164 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Recordo-me de muitos eventos, como os campeonatos


interclasses, as apresentações de poesia, o megaprojeto de
trânsito, onde os alunos tinham de obedecer à sinalização
para andar dentro da escola, o método de salas ambiente e a
própria Rádio “BRASIL’ que para os alunos foi motivo de
orgulho e vitória.” (Moniky Caires da Cruz, aluna de 1990
a 2001).

Seleção da Escola “BRASIL”. Da esquerda para a direita; em pé, aluno Tiago Fernando Valentim
(1º), professor Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida (2º), professor Nelson Baptista Gonçalves
Júnior (3º), professor Geraldo Assis de Souza (4º); sentados, professor Célio Alves Pacheco (1º),
professor José Joaquim de Souza (2º) e professor Marcelo Amorim de Munno (3º), 2002.

“Este cenário proporcionou algumas belas alegrias em mi-


nha vida e não posso deixar de citar os jogos entre professores
e alunos na semana das crianças, o que era esperado o ano
inteiro e era muito legal ver a quadra cheia e a divisão da
torcida entre os colegas alunos e os queridos professores.”
(Nelson Baptista Gonçalves Júnior, professor desde 1990).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 165

Jogos interclasses, (5ª 2 x 5ª 3), 2001.

Feira Científica, 1997. Acervo da E.E. “BRASIL”


166 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Foi lá também onde comecei a traçar meu futuro profissio-


nal, atuando nos eventos acadêmicos, como as famosas feiras
de ciências ou as festas de “Halloween”, que agitavam os alu-
nos.” (Moniky Caires da Cruz, aluna de 1990 a 2001).

“Halloween”, 6ª série 1 do Ensino Fundamental, 2001.

Professor Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida e alunos do Ensino Fundamental em momento


de lazer no Horto Florestal Municipal de Limeira, 2004. Acervo da E.E. “BRASIL”.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 167

A escola, além de muito estudo e obediência, também era um lugar


de lazer e diversão. Não importava se o tempo para o recreio fosse peque-
no, havia também os momentos de diversão antes e depois das aulas.
Odécio Cavinatto, aluno de 1940 a 1943, relata: “Brincávamos de
pega-pega, pega-ladrão, jogar bola no galpão”, enquanto Ayres de Sousa,
aluno de 1940 a 1943: “Brincávamos de barra-bandeira, pega-pega, cruza-
da, jogo de bolinha, e de virar pião.”
Dentre os vários tipos de brincadeiras outros alunos citam:

“No fundo havia um terreno baldio, onde existe aquela


área nova, onde é o prédio novo, ali era um campinho onde
no intervalo aproveitávamos e fazíamos bola de meia e jo-
gávamos futebol. Não tínhamos bola de borracha.” (João
Batista Borrelli, aluno do 4º ano de 1940).
“O intervalo era de 20 minutos e nesse lapso de tempo to-
mávamos sopa, depois brincávamos com fava, aquelas
favinhas, com figurinhas e jogo de bolinha de gude, inclu-
sive havia um espaço abaixo do galpão que além de ser um
campo de futebol, tinha terra, era onde brincávamos com
bolinha de gude. Passava o lazer jogando bolinha de gude
e figurinhas (chamava-se de bafo). O diretor e o professores
não deixavam era soltar pipa, pois dava muita briga, pois
o aluno entrava na classe com aquela pipa e um queria
pegar a pipa do outro e criava uma grande confusão, en-
tão foi terminantemente proibido que trouxessem pipa na
hora do lazer.” (Reginaldo Ferreira da Silva, aluno de 1946
a 1950).

“Durante o recreio, sempre que possível, saboreávamos um


pão com mortadela trazidos de casa, quando não, brincáva-
mos o tempo todo em meio ao gramado, correndo, ora no fute-
bol ou de soldado-ladrão.” (Paulo Roberto Guimarães dos San-
tos, aluno de 1957 a 1959 e aluno do Telecurso 2007).
168 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Pátio da escola, 2005.

“No pátio já havia aquelas árvores e era uma delícia sen-


tar embaixo delas na hora do recreio. Várias meninas em
círculo, uma toalhinha no chão e os lanches dispostos lado
a lado. Depois vinham as brincadeiras: pega-pega entre os
meninos e amarelinha, roda ou saquinhos de arroz entre as
meninas.” (Vera Lucia Leitão Cavinato, aluna de 1958 a
1960 e professora desde 1989).

“Minha vida foi muito ligada a essa tradicional escola onde


fui aluno da quarta série primária: época em que em sua
frente de chão batido, transformava-se no palco das nossas
brincadeiras de pião, bolinhas de gude e ferrinho, junto com
moradores da região pertencentes às famílias, Montezuma,
Bertolini, Da Vinha, Locci, Bortolan, Heflinger, Cavinatto,
Lucato, dentre tantas outras.”(Benedicto Carlos Toledo
Lima, aluno do 4º ano de 1947).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 169

Da esquerda para direita, as cozinheiras Janaína Lázaro (1ª) e Edna Totti de Morais (2ª).
Cozinha, 2006.

A escola proporciona alimentação a centenas de alunos e estando


situada numa região comercial, a merenda torna-se a refeição diária de
vários alunos, pois muitos deles vão direto da escola ao trabalho ou do
trabalho à escola. Esta fornece merenda tanto para o Ensino Fundamen-
tal como também para o Ensino Médio, diurno e noturno.
No início do Grupo Escolar não havia merenda, alguns alunos
traziam-na de casa; quem não podia ficava sem ela e outros até im-
provisavam:

“Não havia merenda nem café, aqui no Grupo Escolar só


se tomava água e minha mãe, quando podia, me dava 200
réis e eu comprava um sorvete lá na esquina ou então ela
me dava um pãozinho e como não tinha manteiga e o fo-
gão era de lenha, ela cortava e esquentava o pão e punha
banha de porco e embrulhava num saquinho e ia para a
escola” (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1940).
170 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“A gente levava lanche com suco, com fruta e dava-se um


leite, às vezes mandava-se um docinho, mas não era como
hoje que o aluno vai e tem almoço. Íamos não com a fina-
lidade de nos alimentarmos como é hoje.” (Josyane Baccan
Queiroz, aluna de 1965 a 1969).

“Quando fui servente, a merenda era no fogão à lenha e


ajudei a rachar lenha e acendia aquele fogão de lenha que
havia antigamente, isso foi nos anos de 1965, 1966, 1967,
bons tempos aqueles. As crianças não tinham merenda,
somente leite na entrada.” (Paulo Sergio Kühl, funcioná-
rio de 1965 a 1982 e de 1986 a 1992).

“A merenda escolar atendia todos os períodos. Havia uma


encarregada de acompanhar o desenvolvimento na escola,
a qual prestava conta ao Setor da Merenda Escolar. O pró-
prio setor enviava o cardápio mensal, e as merendeiras par-
ticipavam de treinamentos específicos a cada início de ano.
O controle dos mantimentos, entrada, saída e saldo restan-
te para o mês seguinte, era rigorosamente contabilizado,
por meio dos mapas mensais enviados ao setor.” (Deisy
Apparecida Francisco de Lima,, professora desde 1970 e
aposentada em 1983).

“À noite, independente de ser do Ensino Fundamental ou


Médio havia merenda para todos.” (Margarete Piva, alu-
na, de 1976 a 1983 e professora coordenadora pedagógica
de 2001 a 2006).

Também havia aqueles que compartilhavam seu lanche:

“Na hora do recreio tomava-se o lanche. Cada um levava o


seu e quando alguém trazia alguma coisa diferente, sempre
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 171

oferecia e dava um pedaço para o outro. Éramos bem uni-


dos. Era um ambiente agradável que deixou saudades.”
(Maria Antonietta Faber, aluna de 1938 a 1941).

“Nas filas feitas no pátio, antes da entrada para a sala,


era dado leite para os alunos. Durante o recreio os alu-
nos comiam os lanches trazidos de casa. Cada um com o
seu. Quando havia algum aluno necessitado e sem lan-
che, sempre repartíamos nossa merenda com ele.” (Maria
José dos Santos “Zezé”, aluna de 1962 a 1965 e funcio-
nária desde 1992).

Para complementar a merenda, professores e funcionários, junta-


mente com alunos, tiveram a iniciativa de criar uma horta:

“Onde atualmente é a quadra, nós, serventes, numa reu-


nião, demos a idéia aos professores de fazerem uma horta
para enriquecimento da merenda escolar e a diretora,
Doracy Alves da Costa Arcaro, nos apoiou. A horta per-
durou por muitos anos, até 1976 quando a escola trans-
formou-se numa escola de Ensino Fundamental (incluin-
do o ensino de 5ª série a 8ª série) e a horta desapareceu para
dar lugar a uma quadra esportiva, que existe até hoje. Havia
um pé de laranja, laranja de fazer doce que a servente Dona
Irene Cover Pilon plantou, uma servente que já se foi.”
(Paulo Sergio Kühl, funcionário de 1965 a 1982 e de 1986
a 1992).

“Houve duas professoras que eram da área de Ciências,


uma era a Dona Wilma Edy Maganha Zaccarias, a qual,
juntamente com os alunos, formou uma horta muito grande
e muito bonita no terreno próximo à cozinha da escola.”
(Doracy Alves da Costa Arcaro, aluna de 1941 a 1945 e
auxiliar de direção e diretora de 1968 a 1978).
172 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Uma ex-aluna faz referência ao ensino de sua época e defende a


metodologia utilizada que, mesmo sendo arcaica, funcionava:

“Hoje nos encontramos com muitas pessoas, principalmente


na área da Educação, que estudaram no Grupo “BRA-
SIL”, e muitos são colegas de trabalho e eu não ouvi nin-
guém da minha geração, nesta fase em que estudamos, re-
clamar do ensino. A disciplina, o zelo que tinham para
com a gente e a metodologia que usavam, podia ser arcai-
ca, tradicional, mas funcionava, pois todas as pessoas da-
quele período, realmente, se tornaram gente, independen-
temente da classe social que ocupa hoje. Portanto, a escola
valeu, sim, e havia muito mais independência, pois não se
passava a mão em cabeça de aluno. Tínhamos que adquirir
responsabilidade e a escola foi muito importante nisso. Con-
cluindo o 4º ano, fui para o Instituto Educacional “Castello
Branco” e se eu não tivesse tido uma boa estrutura, a adap-
tação seria mais difícil, pois estávamos num contexto polí-
tico, social e econômico da época do regime militar e não se
questionavam muito as coisas. O interessante é que fala-
mos tanto hoje em atividades diferenciadas em sala de aula,
enquanto que quando fiz o 1º ano com a professora Dona
Iria de Abreu Leitão, estudávamos tudo passo a passo,
com a cartilha “Caminho Suave”, depois tínhamos um
livro no meio do ano quando aprendíamos a ler e é interes-
sante porque as operações matemáticas, por exemplo, que
gravei muito bem, a professora levava favas para apren-
dermos a contar, favas e palitinhos de sorvete e um relógio
que ela fazia. Sou do tempo da tabuada, cobrada, decora-
da e daquela varinha de marmelo batendo na lousa. Numa
etapa aprendíamos até a tabuada do 5, era decorar mesmo
e depois, numa outra etapa aprendíamos as mais difíceis,
que era a tabuada do 6 ao 10.” (Josyane Baccan Queiroz,
aluna de 1965 a 1969).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 173

Outro ex-aluno faz analogias e menções do ensino e de seus


professores:

“Tive o imenso prazer e sentia-me muito orgulhoso por


estudar na escola mais antiga em funcionamento de Li-
meira. Muito se fala do ensino público em nosso país, que
a qualidade deixa a desejar, mas na Escola “BRASIL” é
diferente, posso afirmar que a qualidade do ensino é seme-
lhante ao ensino particular, formando ano a ano excelen-
tes profissionais. Tive na Escola “BRASIL” além de pro-
fessores, amigos, e que ensinam com amor e determinação,
tratando seus alunos como se fossem seus próprios filhos.”
(Maxsuel da Silva de Oliveira, aluno de 2005 a 2006).

A professora Júlia de Cillo Diniz, aposentada em 1972, enfatiza que


os alunos tinham uma boa bagagem para prestar o exame de admissão:

“Havia naquele tempo exame de admissão para entrar no


ginásio. Os alunos eram tão bem preparados que mesmo
sem fazer o preparatório, eram aprovados. Iam de peito
aberto, conscientes de seu valor.”

Ainda, em relação ao exame de admissão, ex-aluno expõe:

“Uma vez alfabetizado, com o diploma na mão, encontra-


va-se devidamente em condições de iniciar o curso de ad-
missão ao Ginásio, para, uma vez aprovado, seguir seus
estudos no antigo curso ginasial de duração de quatro anos
(atual Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries). Como pode-
mos observar, o Ensino Fundamental era realizado em três
fases, com nove anos de duração: Primário (1ª fase, Ensino
Fundamental de 1ª a 4ª séries); Admissão (2ª fase) e o curso
ginasial (3ª fase), pois só poderia ingressar no Ginásio aque-
174 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

les que estivessem devidamente habilitados, após a apro-


vação nos exames de admissão.” (Paulo Roberto Guima-
rães dos Santos, aluno de 1957 a 1959 e aluno do Telecurso
2007).

Vários outros professores passaram pela Escola “BRASIL”. Muitos


deles dedicaram grande parte de suas vidas ao ensino e á escola:

“A Escola “BRASIL” faz parte de minha vida, pois ali


trabalhei por quase 25 anos, dedicando-me totalmente à
Educação, até aposentar-me. Vivi nesse educandário os
melhores momentos de minha vida. Fui alfabetizadora por
20 anos, o que me fazia muito feliz, pois via de perto aqui-
lo que fazia: uma criança aprender ler e escrever. Alfabeti-
zei cerca de 800 crianças. Hoje sou muito feliz porque aque-
las sementes que plantei cresceram, germinaram e deram
frutos. Essa era a escola mais procurada por aqueles pais
que buscavam a qualidade de ensino para seus filhos. Sa-
biam diferenciá-la, reconheciam a sua eficiência e para nós,
professores, era um “status” trabalhar na Escola “BRA-
SIL”. Trabalhávamos em perfeita harmonia, todas em con-
junto. Fazíamos vários cursos de aperfeiçoamento sempre
pensando em oferecer o melhor às crianças. A escola “BRA-
SIL” era completa. Sempre foi uma escola muito bem ar-
rumada, pois as serventes que eram espertas e muito capri-
chosas e também excelentes merendeiras. O ensino era ex-
celente, havia professoras de grande projeção, tais como
Terezinha Machado de Campos Araújo, Nerina De Carli
Silveira, Lourdes Ribeiro Momesso, Maria Dolores Ribei-
ro, Myrian Arcaro de Araújo, Brasilusa Monteiro de Moraes
Fonseca, Maria José Rossi Leme, Creusa Esteves Barbosa,
Eunice Fenga, Deisy Bassinello Ponzo, Deisy Apparecida
Francisco de Lima, Martha Guimarães Dias Cunha, Elisa
Apparecida Ciarrocchi Silveira, Leny Cecília Pântano
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 175

Piccin, Maria José Pântano, Silvina Soares, Nelly Coimbra


Coeli Fugagnoli, Gessy Coeli de Azevedo e Marly Coeli
Cortez e outras... E ao nosso comando sempre pessoas com-
petentes: Wladismir Gavioli, Oswaldo Arcaro, Doracy
Alves da Costa Arcaro. Como professora, lecionei em vári-
as escolas, entretanto minha satisfação e realização profis-
sional se deu na Escola “BRASIL”. (Marilia de Almeida
Greve, professora desde 1966 e aposentada em 1988).

De acordo com a professora Brasilusa, era comum a troca de experi-


ências entre os professores, em que cada um passava para o outro colega as
metodologias cujos resultados estavam sendo significativos:

“Naquela época, uma professora passava para a outra o


que tinha de melhor no Ensino. Depois de 18 anos na 2ª
série, passei para 3ª série e 4ª série permanecendo durante
anos até que me atribuíram 2ª série novamente, mas eu
não sabia mais ensinar em 2ª série. Entretanto, o secretá-
rio da escola disse que a classe não poderia ir para outra
professora, então a professora Leny Cecília Pântano
Piccin, grande mestra, me passou alguns métodos de Ma-
temática e de Português que quando ela começou a pas-
sar para mim eu disse: “Você está brincando que começa
assim?”. Ela disse: “Não, é assim mesmo”. Quando che-
gavam junho, julho, a classe já estava prontinha para
dar prosseguimento a série seguinte. Era prazeroso quando
uma criança gritava durante à aula: “Agora eu gosto de
Matemática”. As crianças iam à escola para aprender e o
método de Língua Portuguesa, começávamos no “ba, be,
bi, bo, bu”, dando textos e usando palavras, formando
histórias e quando chegava junho, púnhamos qualquer
texto no quadro e eles eram capazes de desenvolver reda-
ção, o método era espetacular.”
176 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Mesmo diante da desintegração do ensino público através de políti-


cas públicas com fins político-partidários, alguns professores ainda acredi-
tam em seu trabalho, procurando aperfeiçoar cada vez mais:

“Atualmente percebo que nada sei diante de tanto que ainda


tenho que aprender, procuro sempre me atualizar, partici-
par dos cursos de capacitação – não só os oferecidos pela
Secretaria de Educação – e vejo o quanto é bom trabalhar
com uma equipe que acredita no seu trabalho, no seu alu-
no e valoriza constantemente o ensino público tão preju-
dicado por políticas estritamente político-partidárias.” (Nelsi
Aparecida Strasser, professora desde 1994 e vice-diretora).

Muitos pais, apesar da longa jornada de trabalho, sempre encontra-


vam tempo para zelar pela educação de seus filhos, cobravam e incentiva-
vam nos estudos, apoiando os professores e repreendendo seus filhos quan-
do necessário:

“Minha mãe sempre me incentivou a continuar os estu-


dos, principalmente pelo fato de morarmos em frente ao
Colégio São José, e as freiras sempre me ofereceram a opor-
tunidade de estudar lá.” (Leny Rodrigues Coelho Baccan,
aluna de 1938 a 1941).

“Antigamente, quem trabalhava fora era só o pai, a


mãe ficava em casa cuidando do lar, da comida, da
vestimenta e ensinava e nos auxiliava nas tarefas da
escola. O pai trabalhava, mas à tarde ou à noite a fa-
mília toda estava reunida e cobravam as nossas lições.
Quando fazíamos algo errado ou não acompanhava a
turma, o professor enviava um bilhete aos pais, cha-
mando para ir ao Grupo Escolar. Os pais nunca iam
contra o professor e nos repreendiam em casa.” (Dir-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 177

ceu Messias de Menezes, Horácio Tetzner, Jorge


Aliberti, Milton Ferrari e Lázaro de Oliveira Couto,
alunos de 1939 a 1942).

“Os pais cobravam de seus filhos e dos próprios pro-


fessores. Eu recebia bastante estímulo e apoio dos pais,
no sentido de que estava caminhando certo. Havia reu-
nião de pais e a maioria freqüentava as reuniões, eram
interessados e apoiavam o professor.” (Brasilusa
Monteiro de Moraes Fonseca, professora desde 1953 e
aposentada em 1987).

“Na minha época as mães não tinham estudo, mas mesmo


assim, acompanhavam e cobravam se havíamos feito a li-
ção.” (Luiza Helena Teixeira, aluna de 1959 a 1962).

Reunião de Pais e Mestres, 2ª série 2 do Ensino Médio, 2007.


178 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

De acordo com a professora Margarete Piva, a relação entre a famí-


lia com o processo de ensino e aprendizagem de seus filhos foi corrompida
ao longo dos anos:

“A família está distante da educação e da vida escolar de


seus filhos, pois o fato de vivermos num contexto em que
tanto o pai como a mãe trabalha fora de casa, limitou a
devida atenção, o acompanhamento e a educação de seus
filhos, transferindo toda a responsabilidade para a criança
e à escola. Lógico que tem que ser passadas as obrigações,
mas até a conclusão do Ensino Fundamental é necessário
a participação ativa dos pais. No Ensino Médio, pode-se
soltar um pouco as rédeas, porém não se deve deixar de
acompanhá-los, e não é o que está acontecendo. São mino-
ria os pais que comparecem à escola espontaneamente, para
se inteirar da vida escolar de seus filhos. Existe pai que
nem sabe que o filho tem um caderno; assim torna-se mui-
to difícil”

No currículo, além das disciplinas comuns, também havia aulas prá-


ticas, com trabalhos manuais, como destacam alguns alunos:

“As matérias eram Português, Aritmética, Geografia, e


Ciências Naturais. No 1º ano tínhamos Caligrafia, escreví-
amos no meio das duas linhas, um caderno de Linguagens
que utilizávamos para escrever alguma literatura, algum
conto ou determinado texto que o professor ditava. Os ca-
dernos eram todos encapados e ficavam na escola, dentro
de um armário e o melhor aluno era o responsável em
recolhê-los e distribuí-los. Toda classe tinha um armário e
os cadernos eram guardados ali, e o aluno responsável pe-
gava os cadernos. Quando começava a aula de Matemáti-
ca, eu pegava os cadernos e distribuía aos colegas; na aula
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 179

de Linguagens, o mesmo. Levávamos o livro, lápis de cor,


borracha e a caneta era de pena com um tinteiro. Embai-
xo, no porão, havia uma oficina com trabalhos manuais e
o professor nos ensinava. Recordo-me que fiz uma cadeiri-
nha para criança e um cabo de vassoura,.” (João Batista
Borreli, aluno do 4º ano de 1940).

“Os alunos tinham aulas de trabalhos manuais. Cada pro-


fessor era responsável por um determinado trabalho; o Sr.
Nestor Martins Lino gostava muito de trabalhar com a
madeira e a Dona Cotinha (Maria Pinto Sampaio) ensina-
va a trabalhar com a palha, fazendo cestas. No final do
ano tínhamos a exposição dos trabalhos feitos pelos alu-
nos, que era visitada pelos pais.” (Antonio Carlos
Micheletti, aluno de 1939 a 1942).

“Fazíamos trabalhos manuais, trabalhos de palha e de bar-


ba de bode, bolsas, cestas e sacolas de barbante e no final do
ano era feita a exposição. Na classe, cada aluno queria
fazer os trabalhos melhor que o outro. Íamos um à casa do
outro para fazer os trabalhos e estudar. O professor Anto-
nio Perches Lordello também ensinava a trabalhar com a
madeira e fazíamos uns bancos como os de jardim; serráva-
mos a madeira e pregávamos as tabuinhas.” (Jorge Aliberti,
Dirceu Messias de Menezes, Horácio Tetzner, Milton
Ferrari e Lázaro de Oliveira Couto, alunos de 1939 a 1942).

“Há 50 anos atrás, além das aulas normais, fazíamos al-


guns teatrinhos e tínhamos os trabalhos manuais e apren-
demos a fazer sacolas.” (Pedro Teodoro Kühl, aluno de
1955 a 1958).
180 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Aos sábados havia aulas de orfeão e de artes manuais (bor-


dado), sempre depois do recreio. No final do ano havia uma
exposição dos trabalhos manuais feitos pelos alunos.” (Vera
Lúcia Leitão Cavinato, aluna de 1958 a 1960 e professora
desde 1989).

Os alunos se recordam muito bem de seus professores, os quais, ape-


sar de alguns terem sido muito severos, eram admirados e elogiados. Tais
alunos são gratos por todos os ensinamentos:

“No 1º ano minha professora foi a Dona Yvete de Carva-


lho, no 2º ano foi a Dona Marly Coeli, no 3º ano a Dona
Esmeralda Salibe e no 4º ano a Dona Carmem Ligya Mar-
ques Paes, quatro excelentes professoras, responsáveis pe-
los ensinamentos que nos acompanham até hoje.” (Pedro
Teodoro Kühl, aluno de 1955 a 1958).

“Sentimos saudades dos nossos mestres e lembramos deles


constantemente. O que aprendemos com eles carregamos
conosco até hoje. Temos orgulho em dizer que tivemos pro-
fessores, na acepção da palavra, que ensinavam e eram como
um pai ou uma mãe. Exigiam, eram duros, mas aprendía-
mos.” (Jorge Aliberti, Dirceu Messias de Menezes, Horácio
Tetzner, Milton Ferrari e Lázaro de Oliveira Couto, alu-
nos de 1939 a 1942).

A admiração pela professora fez com que Rosa Maria Tetzner


Giordano, aluna de 1954 a 1957, seguisse o mesmo ofício, numa relação
aluno-professor que ultrapassava as barreiras da escola:

“Minhas professoras foram Dona Iria de Abreu Leitão, no


1º ano, Dona Yole Piccinini, no 2º ano, Dona Yvete de
Carvalho, no 3º ano, Dona Maria Aparecida Maduro
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 181

Bocayúva, no 4º ano. Foram quatro anos maravilhosos,


onde tornei-me uma menina descontraída, feliz e partici-
pando de todas as festas que ali realizavam, às vezes decla-
mando e outras cantando, pois fazia parte do Orfeão. Quem
me marcou demais foi a professora da terceira série, Dona
Yvete de Carvalho, que havia acabado de ser removida de
Vera Cruz Paulista para Limeira. Quando a vi, esperando
as classes serem formadas, foi amor à primeira vista e fi-
quei torcendo muito para ser sua aluna, o que pela graça
de Deus aconteceu. Desde então nunca mais nos separa-
mos e hoje com 60 anos ainda converso com ela todos os
dias. Dona Yvete tem hoje 91 anos completados no início
de março de 2007. Ainda naquela época, graças a Dona
Yvete decidi que queria ser professora, mas uma professora
como ela, muito carinhosa e dedicada, uma mãezona. To-
dos os dias ela passava pela minha casa, me pegava pela
mão e íamos juntas para a escola. Na volta acontecia o
mesmo, o que deixava minha mãe despreocupada, pois eu
tinha companhia. As duas, minha mãe e Dona Yvete tor-
naram-se grandes amigas e se chamavam de irmãs. Esta
amizade entre elas continuou até setembro de 2004, quan-
do minha mãe veio a falecer de uma longa enfermidade.
Dona Yvete continuou fazendo parte de minha vida e
quando minhas duas filhas nasceram, ela as levava todas
as manhãs para ver as pombinhas da praça Toledo Barros e
tomar sol, pois a partir de então eu já lecionava. Fui uma
substituta dinâmica, regendo orfeão, dando aulas de refor-
ço (acompanhamento escolar) para alunos que apresenta-
vam dificuldades e atuava na Biblioteca, realizando tom-
bamento de livros, encapando, consertando e organizando-
os. Quando faltava alguma professora eu lecionava e às
vezes surgia uma licença por um tempo maior. Aprendi
muito no Grupo Escolar “BRASIL”, sendo fundamental
para minha carreira, assim como a professora Dona Yvete,
182 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

na qual eu me espelhava para ser uma boa educadora. Al-


cancei meu objetivo e fui muito amada e respeitada pelos
meus alunos e seus pais, durante os trinta e seis anos em
que lecionei em diversos estabelecimentos de ensino de Li-
meira.” (Rosa Maria Tetzner Giordano, aluna de 1954 a
1957 e professora de 1965 a 1970).

Outros alunos colocam em evidência o respeito que tinham pelo pro-


fessor e citam alguns atos (rituais) de respeito não existentes atualmente:

“As filas na entrada eram todas organizadas, cada um já


sabia qual era sua fila e seu lugar. Em seguida, vinham as
professoras, cada uma à frente de sua classe, ficávamos em
silêncio e com as mãos no peito (coração) e cantávamos o
Hino Nacional, com muita vontade, respeito e alegria. Os
alunos quando queriam falar tinha que levantar as mãos e
pedir licença à professora. Usava-se bastante “muito obri-
gado”, “por favor”, “com licença”. Adentrando à classe e
logo no início da aula todos os alunos rezavam (oravam) o
“Pai Nosso”.Os professores e a direção escolar eram mais
enérgicos, eram mais respeitáveis e respeitados. Todos os
funcionários eram valorizados, cada qual em suas
funções.”(Maria José dos Santos (Zezé), aluna de 1962 a
1965 e funcionária desde1992).

“A disciplina era muito diferente da atual. O diretor e os


professores eram figuras respeitadas na escola, tinham po-
sições importantes, como se fossem autoridades na cidade.
Eram anos em que era dado o devido valor ao Magistério.
Minha diretora da Pré-Escola à 3ª série era a Senhora
Haydée Lordello e na 4ª série foi o Sr. Oswaldo Arcaro.”
(Valmir Benedito Silveira, aluno de 1964 a 1968 e funcio-
nário desde 1976).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 183

“Hoje as coisas mudaram, pois as crianças não têm respei-


to para com seus professores. Quando estudei, entrávamos
na classe cantando o Hino Nacional e saíamos cantando o
Hino à Bandeira. Diante da visita de qualquer pessoa, nós
nos levantávamos até que a professora nos autorizasse sen-
tar. Ninguém chamava a professora de “tia” ou de “você”,
todos a chamavam de “senhora”. Havia muita disciplina e
respeito. Se o pai soubesse de alguma malcriação com o
professor, levávamos uma surra de cinta.” (Ayres de Sousa,
aluno de 1940 a 1943).

Jorge Aliberti fala sobre os castigos e afirma que sempre se compor-


tou muito bem e que gostava da escola:

“Havia uma professora muito severa e ela colocava alunos


de castigo no corredor e uma outra pegava uma bolinha e
dava uma pancadinha na cabeça. Não era palmatória nem
ajoelhar em cima de milho, isso não existia. Elas tratavam
bem, gostava da escola e não tenho do que reclamar, pois
minha disciplina sempre foi boa.”

Alguns alunos fazem referências quanto às carteiras, canetas e ou-


tros materiais utilizados:

“As carteiras eram individuais e também em duplas. Ti-


nham algumas redinhas e um tinteiro no meio, eram retan-
gulares e um pouco inclinada e em cima havia um risco em
que colocávamos o lápis. A carteira era bem bonita e a
tábua grossa. Escrevíamos com lápis e caneta-pena em que
colocávamos tinta. A servente todo dia cedo enchia o tin-
teiro carteira por carteira. O lápis não mudou nada, so-
mente a caneta, que era de pena e tinha uma que era
bicudinha e outra que chamava mosquitinha, que possuía
184 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

uma tampinha virada que escrevia de forma macia e mais


bonita” (Jorge Aliberti, Dirceu Messias de Menezes, Horácio
Tetzner, Milton Ferrari e Lázaro de Oliveira Couto, alu-
nos de 1939 a 1942).

“As carteiras eram duplas e havia um tinteiro bem no cen-


tro. Na 2ª série começavámos a escrever à tinta. Eram ca-
netas-tinteiro. Como não era muito seguro trazer o vidro
de tinta dentro da bolsa, a servente vinha todo início de
aula e enchia o tinteiro das carteiras onde a gente reabaste-
cia as canetas. Usávamos também mata-borrão. Os cader-
nos eram encapados em cores diferentes, dependendo da sé-
rie. Havia preocupação com a conservação do patrimônio,
pois aos sábados trazíamos “bombril” para ilustrar os tin-
teiros que eram de latão dourado e também lavávamos os
vidrinhos onde ficava a tinta.” (Vera Lucia Leitão
Cavinato, aluna de 1958 a 1960 e professora desde 1989).

“Na época havia a caneta tinteiro e a tinta ficava na pró-


pria carteira. Era aquela caneta com peninha e era difícil
escrever, pois às vezes a pena ficava torta e tínhamos que
ter muito cuidado, senão caía tinta na carteira e mancha-
va nossa roupa.” (Luiza Helena Teixeira, aluna de 1959 a
1962).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 185

Um dos modelos de carteira e cadeira que foram utilizados no Grupo “BRASIL”.

“Quando estudei, as carteiras eram de madeira uma emendada


na outra e fixas ao chão, com a mesa anexa às costas da cadeira
e na parte debaixo do tampão da mesa guardávamos a nossa
bolsa. Usávamos a caneta-pena, mas quando estive como assis-
tente de diretor de escola usávamos a caneta esferográfica e as
carteiras também foram mudadas. Conseguimos através do pro-
fessor José Ângelo Ribeiro, que trabalhava em São Paulo junto
com o governador Laudo Natel, a primeira reforma da nossa
escola, pois o forro e todo o madeiramento estavam infestados
por cupim e conseguimos a reforma total do prédio e um mobi-
liário novo; eram carteirinhas verdes e individuais. Havia tanto
a carteirinha individual como aquela dupla, em que sentavam-
se duas crianças. Nessa época, um aluno implicava com o outro
que estava sentado ao seu lado, então a carteira individual foi
algo muito bom que aconteceu. Após essa reforma, a escola
recebeu carteiras móveis, proporcionando a mudança em suas
disposições, formando roda, círculo, fileira, enfim, de várias ma-
neiras.” (Doracy Alves da Costa Arcaro, aluna de 1941 a 1945 e
auxiliar de direção e diretora de 1968 a 1978).
186 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Estas carteiras e cadeiras eram fixas ao chão.

“As crianças do 2º ano do Primário já começavam a escre-


ver com caneta. Novos problemas. Não conseguia usar a
caneta tinteiro. As primeiras canetas esferográficas já esta-
vam no mercado, mas não era comum usá-las, tendo sido
eu uma das primeiras alunas a escrever com a nova cane-
ta. Tivemos que pedir autorização e depois de muita buro-
cracia permitiram. Era a única aluna a usar essa novidade
no Grupo Escolar “BRASIL”. Mais uma etapa
vencida...As carteiras eram de duas, isto é, em cada cartei-
ra sentavam-se duas alunas. No meio da carteira ficava
um tinteiro e as alunas molhavam as canetas de penas e
escreviam. Depois passaram a usar a caneta tinteiro. Usa-
vam mata-borrões para limpar os resíduos de tintas. Eu
não consegui usar as canetas. Usava a caneta “BIC”.”
(Sandra Helena Barbosa Godoy, aluna de 1961 a 1964).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 187

Pasta de trabalhos cívicos de Jorge Aliberti. À esquerda trabalho manuscrito a lápis e à direita
trabalho manuscrito à tinta (caneta tinteiro).

“Como não havia caneta esferográfica, ensinávamos a no-


ção de como utilizar a caneta-tinteiro. Eram várias fases,
primeiro usávamos o lápis e íamos amadurecendo mais len-
tamente, mas com os pés no chão.” (Josyane Baccan Queiroz,
aluna de 1965 a 1969).

“As carteiras eram de madeira maciça, em que se sentava


em dupla. Não era individual como temos atualmente.”
(Margarete Piva, aluna de 1976 a 1983 e professora coor-
denadora pedagógica de 2001 a 2006) .

Os alunos com uma situação financeira menos favorecida eram cus-


teados pela “Caixa da Escola”, que fornecia materiais para que os alunos
carentes pudessem usufruir as mesmas condições que os demais:

“Alguns alunos eram da “Caixa”, isto significava que eram


pobres e não tinham dinheiro para comprar os materiais e o
188 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

uniforme. Esses alunos eram mantidos pelos outros alunos


que tinham melhores condições. Ninguém queria ser da
“Caixa” e, por conseqüência, poucos alunos recebiam os
materiais. Eram respeitados pelos demais alunos, mas olha-
dos com muita piedade.“ (Sandra Helena Barbosa Godoy,
aluna de 1961 a 1964).

“Algo muito significante, e acredito que ninguém ficou


traumatizado, foi o fato de ter havido as classes A, B e C,
ou seja, de rico, médio e pobre. Fala-se tanto que a escola
daquela época era elitista, mas conviviam-se todas as clas-
ses sociais e vivia-se de certa forma harmonicamente, pois
para a “Caixa Escolar” se fazia uma doação espontânea e
mesmo as pessoas mais humildes queriam dar suas colabo-
rações. Então, todos sentiam-se participativos.” (Josyane
Baccan Queiroz, aluna de 1965 a 1969).

“Para os alunos que não podiam comprar, a escola através


da “Caixa Escolar” fornecia todos os materiais escolares,
mas o pai já solicitava no ato da matrícula, declarando que
o aluno era carente,” (Margarete Piva, aluna de 1976 a
1983 e professora coordenadora pedagógica de 2001 a 2006).

O uniforme utilizado em diferentes épocas é descrito por alunos,


que fazem menções quanto às suas características e à obrigatoriedade ou
não de seu uso:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 189

Primeiro dia de aula de Vanderley Luiz de Paula Moretto, 1º ano de 1952, à esquerda e 1º dia de
aula de Elizabete Aparecida Moretto, 1º ano de 1954. Cada um com o uniforme característico
para seu sexo naquela época. Acervo da professora Natalia de Paula Moretto.

“Quem podia ir de uniforme ia e quem não podia ia com


uma camisa branca, uma calça azul e quem não tivesse
também não se fazia questão, a escola não exigia, pois já
era dicífil comprar os cadernos. A roupa tinha que ser lim-
pa. Eu ia pra escola descalço, não ia de sapato, a gente
saía cedo de casa, às vezes aquela geada e pisávamos com o
pé em cima. Não tínhamos sapato, andávamos descalços.
As meninas usavam saia azul e camisa branca com
bolso escrito Grupo Escolar “BRASIL”. Tinham que man-
dar fazer. Não era como hoje que compramos a roupa fei-
ta, tinham que mandar fazer.” (Jorge Aliberti, aluno de
1939 a 1942).
190 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Luiz Carlos Martinitti, 1961. Além de “short” azul-marinho, que não está à mostra, mas fazia
parte da composição do uniforme da época, estava utilizando camisa branca, em cujo bolso eram
bordadas as letras iniciais do Grupo Escolar “BRASIL”. Acervo de Alessandra de Cássia Camargo.

“Quando estudei aqui, tinha dificuldade até de comprar o


uniforme. O uniforme era uma saia cinza pregadinha, blusa
branca, dos meninos era calça curta azul marinho e camisa
branca. Minha mãe procurava lavar, passar, era um uni-
forme meio surradinho, pra estar sempre em ordem pra ir
pra escola. Eu lembro que na época que estudamos, meus
irmãos, os dois, eles não tinham meia pra ir à escola, então
um colocava um pé e o outro colocava o outro e quando a
gente chegava à escola tinha que mostrar o pé de meia e
eles mostravam o pé que estava com meia. Eu lembro uma
vez que um de meus irmãos mostrou o pé errado, ele mos-
trou o pé que estava sem meia e ele voltou pra casa. Então
tinha disciplina mesmo, sabe.” (Luiza Helena Teixeira, alu-
na de 1959 a 1962).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 191

“O uniforme era um “short” azul e uma camisa branca


com o emblema do Grupo Escolar “BRASIL”; era borda-
do. A gente comprava o bolso, este era carimbado e a gente
o levava na bordadeira para ser bordado Grupo Escolar
“BRASIL”. Das meninas eram uma saia xadrez e uma blusa
branca, também com o nome da escola bordado. Eram to-
dos uniformizados desde o pobre até o rico.” (Valmir Be-
nedito Silveira, aluno de 1964 a 1968 e funcionário desde 1976).

“Sem uniforme, independente de uma situação financeira


boa ou não, não entrávamos na escola. Os pais estavam
cientes disso. O uniforme, para as meninas, era uma saia
pregueada cinza com a camisa branca de manga curta, meia
três quartos branca e sapato preto, para os meninos, ber-
muda. Depois as meninas passaram a usar calça comprida
com uma camisa. O último uniforme que usei no final do
Ensino Fundamental, em 1983, foi uma capa branca com
dois bolsos laterais cujo nome da escola estava bordado em
seu bolso superior.” (Margarete Piva, aluna de 1976 a 1983
e professora coordenadora pedagógica de 2001 a 2006).

Ao longo de vários anos de trabalho na escola, a professora de In-


glês, Vera Lucia Leitão Cavinato, faz uma breve retrospectiva e expõe
seus sentimentos pela escola e pelo trabalho que desenvolve:

“Muitas mudanças ocorreram ao longo dos anos: amplia-


ção do prédio, Escola Padrão, aumento do número de alu-
nos, mudança na grade curricular, diminuição do número
de alunos, mudança de direção. Mas continuo respeitando
e gostando muito da escola. Gosto do local onde está situ-
ada e de sua aparência e apesar das dificuldades, me sinto
bem, fiz muitos amigos e nela pretendo me aposentar. De-
dico-me por inteiro às minhas aulas e aos meus alunos. Sei
192 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

que muitos não estão nem aí com os estudos, mas também,


tudo de bom que ensinarmos, mesmo que alguns não utili-
zem, ficará marcado em suas vidas. Esse é o nosso papel -
fazer uma pequena diferença.”

Professor efetivo de Língua Portuguesa da E.E. “BRASIL”, des-


de 1993 e aposentado pela mesma escola em 2003, Jurandir Godoi Vitta
não resistiu deixar de exercer seu ofício. Mês e meio depois prestou concur-
so e fez opção pela Língua Inglesa, efetivando-se pela segunda vez no
Estado, já em uma outra instituição. Expressa ainda:

“Sempre tive um sentimento de nobre orgulho em minis-


trar a disciplina Língua Portuguesa, sem purismo exage-
rado, visto que esta, além de ser um componente indispen-
sável à estrutura cognitiva do aluno e do cidadão cultu-
ralmente privilegiado, faz parte de nosso civismo em seme-
lhante investidura. Daí os percalços e desencantos ante a
falta de sensibilidade e consciência da maior parte da clien-
tela em qualquer lugar em que se atue. Para mim é um
fato, mesmo que seja polêmico. Entretanto, na Escola
“BRASIL”, os apoios diacrônicos da direção, desde a época
da professora Ruth Zucolotto da Silva até a atual gestão
do professor Osvaldo Assumpção Castro, ajudaram-me so-
bremaneira a superar os desafios da profissão cujo propósi-
to norteador é o idealismo e o desempenho do educador.
Nesse educandário convivi com pessoas admiráveis: cole-
gas e funcionários de cuja amizade e profissionalismo sem-
pre desfrutei e me locupletei, na troca de experiências, im-
pressões e reflexões, nas convergências e divergências de-
mocráticas a respeito de muitos temas. Citar nomes, por
serem inúmeros, não registrar outros poderiam suscitar
melindres. Confesso, porém, meu inconformismo e minha
saudade pela morte prematura, por acidente, da professora
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 193

e coordenadora Miriam de Fátima Schenk Chinelatto, exem-


plo de competência, dedicação e amizade, saudade que se
estende à ausência dos professores Arthur Baccaran Júnior
(in memoriam) e Rosa Maria Bombini (in memoriam) a cujo
lado trabalhei na mesma escola.”

A professora Lélia Silva Mesquita, que também foi vice-diretora da


escola em 1987, juntamente com a diretora Ruth Zucolotto da Silva, re-
cém-chegada a Limeira, exemplifica como eram as relações interpessoais
entre os sujeitos da escola:

“Lecionar na E.E.”BRASIL” sempre foi sonho dos pro-


fessores limeirenses, pelo ambiente de trabalho amistoso e
dedicação de seu corpo docente e discente. Havia um bom
entrosamento entre alunos, pais, professores e funcioná-
rios, que participavam espontaneamente das atividades
da escola, na área social e pedagógica. As vagas eram
disputadas pelos pais, especialmente no “Ensino Funda-
mental”, quando a escola era considerada modelo peda-
gógico na cidade. Conquistei ótimas amizades nessa esco-
la e somente a deixei para ocupar outro cargo na Univer-
sidade Estadual de Campinas.Ficou a saudade de uma
escola, cujo ambiente acolhedor e humano mais parecia
uma família.”

A relação e o vínculo dos professores com a escola têm crescido nos últi-
mos anos, conforme é expresso no relato da professora Ivanil Aparecida Garro:

“Atualmente, um dos fatores de grande importância que a


escola apresenta é uma equipe mais permanente, pois há
algum tempo atrás, não havia entre os professores uma iden-
tidade com a escola. Alguns a tinham apenas como uma
passagem, talvez por não serem efetivos. Hoje existe uma
194 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

equipe de profissionais que se identificam com a escola. O


professor tem vínculo com a comunidade escolar, com o alu-
no e com a direção da escola, sendo fundamental para qual-
quer projeto pedagógico e, principalmente, responsável pelo
respeito da comunidade para com a equipe escolar.”

A seguir, aluna expõe as relações aluno-escola e professor-aluno. E


nessas evidências estão as amizades criadas e a contribuição da escola e de
seus professores para a sua vida:

“Na estrada da vida encontramos desejos, promessas, tris-


tezas, felicidades, amores, amigos, sonhos e perspectivas de
um futuro brilhante. Pessoas que simplesmente se tornam
especiais com a convivência do dia-a-dia. Escola “BRA-
SIL”: quantos momentos inesquecíveis há em ti. O marco
iniciante de uma menina que começa sua trajetória no
pequenino e delicado caminho. Inicialmente tudo não pas-
sava de uma simples escola, onde todos eram iguais. Mas
pouco a pouco a interação constante foi tomando conta do
meu cotidiano. Conheci pessoas maravilhosas, que hoje
posso dizer sem sombra de dúvida, são meus amigos. Apren-
di que nem todas as pessoas são iguais e que ser complicado
não é uma virtude irreal, e sim real. Professores ensina-
ram-me que mostrar o lado sentimental é completamente
normal. Que todos nós temos capacidade, alegria e cora-
gem para dizer: eu consigo. Professora Sandra Karina So-
ares de Souza Roque; as cores inclusas na sua vida. Aprendi
com ela que dentro de cada ser há um artista. Que as cores
não são somente misturas, mas sim a alma de um pintor.
Seja o amarelo, verde, azul, preto, vermelho, não impor-
tam os tons, mas sim a emoção. Que cada pessoa que pos-
sui o dom da vida colorida é capaz de realizar os desejos
simples e singelos. Aprendi a ver obras de vários tipos, ver
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 195

a emoção de cada tom. Suas broncas e conselhos ajudaram-


me a crescer na pintura. Professor Wilson Ricardo
Antoniassi de Almeida; os números estão em sua mente.
Ensinou-me que jamais devemos desistir do que desejamos,
que os problemas são menores que os sonhos. Que lutar
significa ter fé e vontade de alcançar. Sua força de vontade
e esforço revelou-se para meu pensamento positivo.
Rosângela Fontanin de Souza, Marilene dos Santos, Cleusa
Aparecida Teodoro dos Santos , “Zezé” (Maria José dos
Santos) e “Dedé” (Maria José Ribeiro da Silva Guerino),
estas são lutadoras e guerreiras. Quantas broncas por ficar
no corredor em horário de aula, quantos risos e conversas.
Não só elas, como também, as meninas da secretaria.
Quantas amizades importantes conquistei, pessoas que to-
dos querem como amigas. Amigos que podemos contar em
todos os momentos, professor Ricardo, professora Sílvia,
“Taty” (Tatiane da Silva Oliveira), “Sa” (Salete Rocha),
“Mi” (Michelle Cristina da Costa) e Rocheli Carlet da Cos-
ta. Professora Sílvia Maria Romero de Lima, sua vida cheia
de emoções. Ensinou-me que por mais que o caminho este-
ja repleto de espinhos, sempre há um botão de rosas. Suas
palavras refletiram em minha vida, sendo fortificada com
sua amizade. Seu apoio foi o principal alicerce quando
mais precisei. Professora Tatiane Dornela Andreata, cheia
de risos e alegrias. Sua capacidade e vontade de ensinar
fez-me crescer e saber respeitar o próximo. Corpo docente e
discente, não importa a função de cada um. Escola “BRA-
SIL” é coração. Muitas histórias e momentos registrados
na memória. Brigas, tristezas, alegrias, risos e emoções.
Representante de sala, presidente do grêmio estudantil, tra-
balho voluntário, assim tornou-se minha trajetória nessa
escola. Tempos bons que ficarão guardados. Sentirei sau-
dades do grito da Regininha (Maria Regina Drago Ferreira
196 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Camarini), da Regiane Cibele Matheus Montovani, das


conversas com a “Tati” (Tatiane Dornela Andreata) e Síl-
via Maria Romero de Lima, do Ricardo (Wilson Ricardo
Antoniassi de Almeida), da Karina (Sandra Karina Soares
Souza Roque), da Regina Silvia Santarosa, da secretaria,
da Rosangela Fontanin de Sousa, do João Luiz Gonçalves
de Oliveira, Sr. Osvaldo Assumpção Castro, “Raí” (Enéas
Raimundo Barbosa da Silva), Margarete Piva, enfim de
todos. Saudades dos tempos de risos com as amigas. Só quem
realmente conheceu as pessoas que trabalham nessa escola,
sabe o que é o caminho da vitória. Nesta, entretanto, a
estrada da vida encontrou felicidade e esperança do futuro
com luz própria e irradiante, de quem um dia já estudou
nesta tão amada e querida Escola “BRASIL”.” (Vitória
Regina Pertille, aluna de 2001 a 2007).

Mais que um lugar de trabalho e obrigações, a Escola “BRASIL”


representa um espaço de consolidação de aprendizados e amizades:

“Foram muito alegres os anos que passei no Grupo


“BRASIL”. Foi o início da minha carreira profissional.
Prédio muito bonito, com as salas assoalhadas, pátio
com muitas árvores. O que chamava mesmo nossa aten-
ção eram as escadas de mármore branco que as funcio-
nárias da limpeza conservavam impecavelmente bran-
cas, limpas. A diretora era Dona Haydée Lordello. Co-
mecei como substituta efetiva. Íamos diariamente à es-
cola e só recebíamos quando dávamos alguma aula.
Quando fui chamada para ser substituta efetiva nessa
escola, iniciei no período das 14:30 horas. Combinamos
e fizemos um uniforme para nós: saia justa lilá com
cinto largo e blusa branca. Ficou ótimo! Permaneci al-
gum tempo nesse horário e depois me transferi para o
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 197

período da manhã. Houve mudança também de diretor,


vindo o Sr. Oswaldo Arcaro. O corpo docente era mara-
vilhoso, bem como os funcionários. Fiz amizades
duradoras que conservo até hoje. Eram professoras
Martha Guimarães Dias Cunha, Esmeralda Salibe (com
quem aprendi a fazer pão de minuto), Elisa Apparecida
Ciarrocchi Silveira, Maria José Rossi Leme, Wilma
Chinellato Zaccarias, Myrian Arcaro de Araújo, Marília
de Almeida Greve, Gessy Coeli de Azevedo, Paulina de
Cillo Diniz, Júlia de Cillo Diniz, Creusa Esteves Bar-
bosa, Maria Aparecida Martinelli, Maria Madalena
Arruda Vasconcellos, Marilisa Xixirry. Muito lembra-
do era o Sr. Durval Eugênio, que dava o sinal e verifi-
cava a nossa chegada. Pessoas maravilhosas cuidavam
da limpeza do prédio: Benedicta Juvêncio Mesquita,
Madalena Maria Soares Calderaro, Irene Cover Pilon,
Teresa, Denice de Souza Francisco (minha querida ami-
ga) e Paulo Sergio Kuhl (que além de amigo é funcio-
nário do Ely, onde sou diretora). No período em que
permaneci no Grupo “BRASIL” tive a oportunidade
de substituir quatro professoras em suas licenças: Elisa
Aparecida Ciarrocchi Silveira (classe especial), Maria
Aparecida Martinelli (Pré-Escola), Paulina de Cillo
Diniz (4º ano) e Creusa Esteves Barbosa (4º ano). Dei-
xei a escola para lecionar em escolas rurais. Aprendi
muito. Hoje, continuo com o mesmo carinho, amizade
com as pessoas que trabalham nessa escola, nosso eter-
no Grupo “BRASIL”.” (Sonia Stella Basso, professora
de 1968 a 1974 e diretora da Escola Estadual “Professor
Ely de Almeida Campos”).
198 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A professora Nelsi Aparecida Strasser, da área de Linguagens e Có-


digos e atual vice-diretora, expõe que, apesar de alguns professores apenas
passarem pela escola, muitos outros permanecem e trabalham para que
juntos possam engrandecê-la:

“Há 13 anos ingressei na E.E. “BRASIL”, sou de Artur


Nogueira e escolhi esta escola em virtude de sua localiza-
ção, beleza e também por Limeira ser uma cidade que ofe-
rece mais oportunidades, além de ser hospitaleira e agradá-
vel, razão que me fez comprar um imóvel próximo à escola
para me locomover com mais facilidade. Nestes anos de
trabalho muito aprendi, quando ingressei, a escola conta-
va com aproximadamente três mil alunos e hoje com mais
ou menos dois mil, muita gente chegou e partiu em busca
de seus objetivos, como voltar para seus familiares, bem
como melhores ofertas de trabalho, porém alguns ainda aqui
estão e lutam para que este estabelecimento seja reconheci-
do pela dedicação de sua equipe; como exemplos dessa em-
preitada posso citar vários nomes sem menosprezar outros,
mas Márcia Sueli Feltrin , minha primeira coordenadora
pedagógica, ser humano íntegro e competente, que me
ensinou a difícil tarefa de lidar com a escola pública, é um
exemplo, assim como Nelson Baptista Gonçalves Júnior,
pessoa que me orientou no que tange à luta política da
nossa categoria, sempre com ânimo e garra, Arthur
Baccaran Júnior, educador capaz de passar horas te ensi-
nando que a vida é repleta de altos e baixos e que nós cris-
tãos precisamos acreditar na nossa força e crer que dias
melhores virão a partir de nossos esforços e Wilson Ricardo
Antoniassi de Almeida, praticamente um garoto que em
pouco tempo mostrou sua competência e profissionalismo.
Poderia citar muitos outros, entretanto acredito que escre-
veria um livro e não um depoimento.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 199

A paixão pela escola, a satisfação pelos ensinamentos proporciona-


dos e o vínculo criado na relação aluno-escola ainda perduram para mui-
tos ex-alunos. É o que acontece com Tiago Fernando Valentim, que, mes-
mo tendo concluindo o Ensino Médio em 2002, continua participando de
atividades e eventos promovidos pela escola. Segundo ele:

“Fiquei 11 anos na escola, todo Ensino Fundamental e


Médio, e praticamente todo o alicerce foi na Escola “BRA-
SIL”. Gostava muito da escola e durante esses anos tive
um crescimento pessoal muito grande, principalmente nos
últimos anos em que a acabei me envolvendo demais com a
escola que passou a fazer parte de minha vida. Era algo
integral, chegava às 6: 30 horas e saía às 19 horas, fazia
tudo com carinho, dedicação e não via a hora de chegar
logo o outro dia para retornar à escola, pois acabou-se cri-
ando um vínculo de amizade tão grande com a direção, os
professores e demais alunos, e aquilo extrapolou a sala de
aula, era algo extra-sala também. O sentimento pela escola
é um dos melhores, infelizmente a vida acaba nos afastan-
do do que gostamos, mas se pudesse voltaria e faria tudo de
novo, sem mudar nada, pois, para mim, a Escola “BRA-
SIL” é uma referência que vou levar para sempre e onde
eu estiver e me for perguntado da Escola “BRASIL”, só
terei boas recordações, das pessoas que nela passaram e das
que ficaram. Era uma segunda casa e muitas vezes foi até
a primeira, pois ficava mais tempo na escola na convivên-
cia de professores que acabaram se tornando pais, mães,
irmãos e amigos, enfim, era uma relação além da sala de
aula, do sinal que batia para irmos embora; ficava e parti-
cipava ativamente da escola. Não me arrependo, mas infe-
lizmente acabou e foi bom enquanto durou, enquanto es-
tive na escola. Esse vínculo não se desfez totalmente e
ainda há na escola pessoas que marcaram muito minha
200 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

vida, professores que realmente fizeram diferença. Enquan-


to estive na escola e mesmo anos depois participei do ani-
versário da escola.Fui mestre de cerimônia do aniversário
da escola durante cinco anos e também até o ano passado
participei da formatura, estou sempre à disposição. No ano
em que me formei, 2002, não tivemos festa de colação de
grau, mas no ano seguinte, em 2003 até 2006, sempre par-
ticipei sendo mestre de cerimônia em todos os jantares e
cerimônias que tiveram e fico contente, pois é um vínculo
que mantenho com a escola.”

Milton Luiz Milaré durante sua vivência na escola pode experi-


mentar três fases, pois foi aluno, voluntário e atualmente é funcionário da
escola e numa breve retrospectiva expõe toda essa trajetória, acompanha-
da de muito carinho, respeito e expectativas:

“Estudei todo o Ensino Fundamental na Escola Estadual


“Professor Leovegildo Chagas Santos”, porém quando es-
tava concluindo a 8ª série, inevitavelmente surgiu a dúvi-
da sobre minha ida para outra escola, pois a Escola
“Leovegildo” não possuía o curso Ensino Médio. Não pen-
sava em estudar na Escola “BRASIL”, mesmo sabendo que
era uma boa escola, pois minha irmã estudou nessa escola
desde a 5ª série. Queria na verdade estudar na Escola Esta-
dual “Professor Ely de Almeida Campos”, à qual a maioria
dos meus amigos iriam. Conversamos em casa e entramos
em acordo para que eu fosse estudar na Escola “BRASIL”,
então no ano de 2004 fui matriculado no 1ª série do Ensino
Médio, e fiz varias amizades, em 2005 fui para a 2ª série 1,
e não conhecia quase ninguém, pois a maioria dos meus
amigos foram para outras salas, mas com o decorrer do ano
fiz outras novas amizades, tive vários professores compe-
tentes e em 2006 fui para o 3ª série 1, com todos meus
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 201

amigos e também com outros professores capacitados, que


além de professores também foram muito amigos, pois o
que estava ao alcance deles em fazer por nós, fizeram. O
ano de 2006 foi inesquecível, fui representante de classe,
fazendo com que eu perdesse o medo de me apresentar na
frente da sala, apresentar trabalho entre outras coisas. Isso
foi muito bom, pois sempre tive o sonho de me tornar pro-
fessor, então precisaria perder o medo, foi assim que conse-
gui.. No início deste ano, em 2007, trabalhei voluntaria-
mente no projeto “Amo minha escola, reciclo em casa” com
vários alunos que se tornaram meus amigos e com o decor-
rer dos meses fui conhecendo melhor os outros funcionári-
os, ajudando as inspetoras, os professores, a secretaria e
todos que precisassem durante 4 meses. Foi uma grande
experiência que eu levarei pelo resto da minha vida. No
dia 01 de junho fui contratado e hoje trabalho remunerado
na secretaria e junto com as inspetoras de alunos. Tenho só
que agradecer, pois a Escola Estadual “BRASIL” abriu e
continua abrindo várias portas para minha vida. Pretendo
me formar professor de Língua Portuguesa e se for possí-
vel lecionar nessa escola, onde passei três anos da minha
vida e pretendo passar mais e mais. O corpo docente, os
funcionários a direção e todos os alunos me receberam muito
bem e só tenho que agradecer. Adoro saber que vou me
levantar cedo e ir trabalhar em um local onde todos me
respeitam e pode ter certeza que quem entrar na nossa es-
cola vai ser muito bem recebido, assim como eu fui. A Es-
cola “BRASIL”, para mim, é sinônimo de muita alegria,
assim como deve ser para várias outras pessoas.”
202 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Muitos professores e funcionários expõe suas razões e sentimentos


de poder fazer parte desse educandário:

“A Escola Estadual “BRASIL” sempre foi um referencial


para mim, pois tias, primos foram professores e diretores
desta unidade escolar ao longo de vários anos. Quando me
efetivei aqui, senti muito orgulho de ter conseguido in-
gressar em uma escola com um nome de tamanha impor-
tância e destaque sócio-cultural. Confesso que ao longo
dos quase quinze anos de Escola “BRASIL”, o orgulho só
fez aumentar, tanto pela qualidade de educação, quanto
pela qualidade de amigos que juntos caminham na longa
marcha daqueles que confiam que a Educação é o ponto
inicial da jornada que dignifica o ser humano.” (Denise
Ferreira Arcaro, professora desde 1994).

“Com 16 anos nesta escola, vi passar por aqui muitos pro-


fessores, alunos e funcionários. Muitos deixaram sauda-
des, pela bondade, educação e pelo bom dia que não deixa-
vam de desejar. Alguns alunos ainda voltam só para dizer
um “olá”, pois já estão casados e com filhos. De 1991 quando
cheguei aqui até 1996, os alunos vinham para a 1ª série do
Ensino Fundamental e ficavam até a 3ª série do Ensino
Médio, aprendiam, seguiam e respeitavam as regras da es-
cola sem problemas, hoje eles vêm para a 5ª série com a
cabeça feita e fica muito mais difícil controlá-los.Temos
ótimos professores e os funcionários que saem, logo que-
rem voltar. Apesar dos problema que toda escola tem, aqui
ainda existe espaço para o sorriso e o companheirismo.”
(Regina Silvia Santarosa, funcionária desde 1991).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 203

“A Escola Estadual “BRASIL” representa um marco na


história de Limeira, como também para a vida de muitas
pessoas, não só na condição de aluno, mas também na con-
dição de professor e funcionário, histórias que o tempo não
apaga, lembranças jamais esquecidas e que estarão guar-
dadas com muito carinho. Para mim esta história começou
em 1992, quando me tornei funcionário efetivo, fui muito
bem recebido pela então diretora Sr.ª Ruth Zucolotto da
Silva que em pouco tempo depositou confiança em mim e
me colocou para que eu trabalhasse no computador que a
escola possuía. Já gostava da área de informática e a partir
deste momento aumentou mais a vontade de saber mais
detalhes sobre o assunto e até hoje não parei. Gosto muito
das coisas que faço, do que é de minha responsabilidade,
todo dia é um novo conhecimento, um novo aprendizado.
Assim como na vida de todos que passaram por ela, eu
também sempre a lembrarei com muito carinho esteja onde
estiver.”(Vinicius Matiazzi, funcionário desde 1992).

“Sinto-me orgulhosa e feliz por fazer parte do corpo do-


cente da Escola “BRASIL”. É extremamente gratificante
observar o carinho e o respeito que os alunos e os ex-alu-
nos têm por ela e por todos nós, professores. Há pessoas
que aqui estudaram e só de passar em frente à escola se
emocionam; adoram visitá-la e relembrar os “velhos” tem-
pos vividos. (Maria Luiza Luz Lussier, professora desde
1987 e aposentada em 1998 e novamente na docência, como
efetiva, desde 2000).

“Ao longo de minha carreira ouvi muitos professores dize-


rem que depois de se aposentarem não passariam nem na
porta de uma escola. Cheguei a achar muito natural, pois
essa profissão muitas vezes é árdua e pouco valorizada.
204 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Aposentei-me aos 28 anos de profissão na escola pública e


fui convidada para trabalhar em duas escolas particulares.
Estava contente, pois via perspectiva da Educação me-
lhorar. Porém, meu coração bateu mais forte quando pela
2ª vez fui aprovada no concurso público para PEB II e
tive a oportunidade de escolher um cargo na Escola “BRA-
SIL”. Estava retornando à mesma escola onde me aposen-
tei e voltei por amor.” (Maria Regina Drago Ferreira
Camarini, professora desde 1994, aposentada em 2003 e
novamente efetiva desde 2004).

“Quando entrei nessa escola em 1996 fiquei muito assusta-


da com o tamanho do estabelecimento e com o número de
alunos que aqui estudavam. Fui muito bem recebida pelos
professores e pelos alunos. Somos uma família e nos relaci-
onamos muito bem, tanto na área educacional como pesso-
al. Meu trabalho tem sido muito proveitoso e criativo, já
que sou professora de Artes. Fiz várias apresentações de
dança, teatros diversos, participamos de músicas, em que
tiramos o 1º lugar de banda no concurso “Fora do Eixo”,
promovido pela Secretaria de Cultura. Desfilamos todos os
anos no “7 de setembro”, e sempre sou um dos professores
responsáveis. A exaustão toma conta de mim nesse perío-
do, pois a responsabilidade é muito grande em colocar na
rua alunos, faixas, fanfarra, balisas, entre outros. Gosto
demais dessa escola e pretendo me aposentar aqui. Cultivei
grandes amizades com professores e alunos e assim ficarão
gravados em minha memória e em meu coração, sempre a
querida Escola “BRASIL”.” (Sandra Karina Soares de
Souza Roque, professora desde 1996).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 205

Festa Junina

A festa junina é tradição na escola. É mais um momento de interação


entre alunos e professores e comunidade escolar. Todas as festas são reali-
zadas com animadas danças juninas e várias barracas: de doces, palhaço,
pescaria, cadeia, caixa-surpresa, correio elegante entre outras.

Festa junina; 1953. Da esquerda para a direita; em pé, Ari Piva (1º), Francisco Matias (2º),
Sebastião Ventura (3º), Orlando José Zovico (7º); sentados, Maximiliano Tadeu Albers (1º),
Agenor Américo (2º), Agostinho Piscelli (3º), Nelson Cabrini (4º), Antonio Adriano Forte (5º).
Acervo de Orlando José Zovico.
206 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Festa Junina no Jardim de Infância. Da esquerda para a direita, “As primas”, Maria Eloísa
Gonçalves de Oliveira (1ª), Marina Carossi (2ª), e Josely Maria Coeli Fugagnoli (3ª)”, 1957.
Acervo de Maria Eloísa Gonçalves de Oliveira Rossi.

“A Escola “BRASIL”, foi uma das pioneiras na realização


desse evento. Com a coordenação da direção da escola, dire-
toria da A .P . M. (Associação de pais e Mestres), e com a
dedicação dos professores e funcionários da escola, as festas
eram muito prestigiadas pelos pais, familiares e pessoas da
comunidade. O resultado financeiro era revertido em
benfeitorias na própria escola, pois nessa época não havia
verbas destinadas pelo governo.” (Deisy Apparecida Fran-
cisco Lima, professora desde 1970 e aposentada em 1983).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 207

Festa Caipira em junho de 1965. Josyane Baccan Queiroz e seu colega Mauro Eduardo Chinelatto
de Oliveira, à frente do palco no Galpão do Grupo Escolar. Acervo da professora Josyane Baccan
Queiroz.

“As festas também provocam o sentimento de saudade, eram


sempre cheias de pessoas e muito disputadas, com o
envolvimento de toda a comunidade escolar, a principal
era a junina, na época não existiam muitas na cidade e
assim a de nossa escola fazia muito sucesso.” (Nelson
Baptista Gonçalves Júnior, professor desde 1990).
208 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Festa junina, 2001.

Os próprios professores eram responsáveis em arrecadar as prendas


para as festas:

“Recordo-me muito bem das quermesses feitas no próprio


Grupo Escolar para angariar donativos e essa missão era
dada à professora Myriam Arcaro de Araújo que, entusi-
asmada, dava conta de tudo, até indo à Fazenda Ometto e
vitoriosa voltava da missão toda feliz.” (Júlia de Cillo
Diniz, professora desde 1961 e aposentada em 1972).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 209

Mirela de Oliveira Figueiredo durante festa junina na quadra da escola, 1ª série, 1988. Acervo
de Mirela de Oliveira Figueiredo

“Era a festa mais esperada do ano, pois era o momento em


que os alunos podiam se encontrar num contexto diferente
do dia-a-dia da rotina escolar. Os professores geralmente
trabalhavam nas barracas e a turma de formandos do ano
fazia e vendia os correios-elegantes. Dancei quadrilha
quando estava na 1º série.” (Mirela de Oliveira Figueiredo,
aluna de 1987 a 1995).
210 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Barraca da pescaria. Festa junina 2006.

“As festas eram muito boas. Os pais participavam bastan-


te, tanto nos preparativos como no próprio evento. As fes-
tas juninas eram animadas e havia quadrilhas para as di-
versas idades dos alunos.” (Márcia Sueli Feltrin, professo-
ra desde 1990).

Barraca do palhaço. Festa Junina, 2006.


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 211

Cinqüentenário da escola

Solenidade do Cinqüentenário da escola, realizado no Galpão, onde atualmente está situado o


prédio novo. Acervo da E.E. “BRASIL”

A fim de comemorar os 50 anos de instalação da escola e de


participação importante na formação de várias gerações de limeirenses,
a professora Marisa Pinheiro Braga, a então diretora da escola, a equipe
de professores e funcionários prepararam para o dia 8 de maio de
1985 uma grande festa.
Uma missa celebrada na Matriz de São Benedito às 19 horas pelo
ex-aluno Cônego Valdemiro Caram e um coquetel oferecido no recinto do
estabelecimento aos convidados, entre eles ex-alunos, ex-professores e au-
toridades iniciaram as festividades.
212 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Coquetel no local onde se situa atualmente a Sala de Vídeo; 1985. Acervo da E. E. “BRASIL”

Placa comemorativa do cinqüentenário. Acervo da E.E. “BRASIL”.

Logo depois, às 19 horas, no Largo José Bonifácio, houve o


descerramento da placa comemorativa do cinqüentenário. As cerimônias
foram encerradas com a sessão solene na própria escola, com a participação
da Corporação Musical “Henrique Marques” do Coral Vargas, jograis e
números musicais pelo coral de alunos da escola regidos pela professora
Brasilusa Monteiro de Moraes Fonseca.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 213

Cinqüentenário da Escola, 1985. Acervo da E. E. “BRASIL”

Cinqüentenário da Escola, 1985. Acervo da E. E. “BRASIL”


214 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Corporação Musical “Henrique Marques” no Cinqüentenário da Escola, 1985. Acervo da E.


E. “BRASIL”.

Visão aérea da escola na década de 80. Nesta imagem vemos a Escola “BRASIL” envolta por
árvores, o galpão (à esquerda da escola) que havia onde atualmente é o prédio novo e a quadra
construída no final da década de 70. Acervo da E.E. “BRASIL”.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 215

Educação Especial

A Educação Especial, de acordo com a lei de diretrizes e bases da


educação nacional, no. 9.394/96, refere-se à modalidade de educação esco-
lar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
portadores de necessidades especiais. Haverá, quando necessário, serviços
de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades
dessa clientela. Seu atendimento educacional será feito em classes, escolas
ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específi-
cas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de
ensino regular.
A Escola “BRASIL”, a partir de 1959, inicia um trabalho com alunos
com níveis elevados de dificuldades, denominada “classe de emergência”. Es-
ses alunos eram reunidos e eram desenvolvidas atividades complementares e
diferenciadas para torná-los aptos a prosseguirem seus estudos.
Já, em 1961, a escola começa a atender alunos com necessidades
especiais. As primeiras classes foram de alunos D.A.(deficientes auditivos),
e em 1963 a escola oferece atendimento também a D.M.(deficientes men-
tais) e deficientes em fala e audição.

“A Escola “BRASIL” já teve classes especiais de deficien-


tes auditivos e deficientes mentais. A primeira classe foi
criada em 1961 permanecendo até 1995, quando houve a
nova reestruturação que separou a escola primária (de 1ª a
4ª) da ginasial (de 5ª a 8ª). Nessa reestruturação, nossa es-
cola ficou sendo de Ensino Fundamental de 5ª a 8ª e Ensi-
no Médio e os alunos foram todos remanejados para outra
escola mais próxima que seria a Escola Estadual
“Leovegildo Chagas Santos” e a Escola Estadual “Profes-
sor Ely de Almeida Campos”. As classes possuíam de 10 a
15 aluninhos e tinham um trabalho especial dos professo-
res. As professoras dessas classes eram Elisa Apparecida
216 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Ciarrocchi Silveira, a Deisy Bassinello Ponzo, Marita


Caraccio Armbruster e a Dercy Ferraz Silveira Dibbern.”
(Valmir Benedito Silveira, aluno de 1964 a 1968 e funcio-
nário desde 1976).

Professora Marita Caraccio Armbruster (1ª) à esquerda e seus alunos da classe de D.A. (deficientes
auditivos) do ano de 1984. Sala onde atualmente é a cantina. Acervo da professora Marita
Caraccio Armbruster.

A professora Marita tomou posse em seu cargo no Grupo “BRA-


SIL” em 27 de setembro de 1971. A classe especial era formada por 10
alunos com idades entre 5 e 15 anos:

“Eu ensinava-os a falar, leitura labial e os alfabetizava.


Eles freqüentavam a classe especial no mesmo horário das
outras classes e o recreio era junto com os outros. As ou-
tras crianças gostavam muito de brincar com eles. A partir
de 1982 comecei a trabalhar em dois períodos, pois foi cria-
da outra classe devido ao número elevado de crianças. Vi-
nham alunos de outras cidades, como: Iracemápolis,
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 217

Cosmópolis, Cordeirópolis e havia famílias que se muda-


vam para Limeira, para que os filhos deficientes auditivos
pudessem freqüentar uma escola, pois a maioria das cida-
des não possuía classe especial. Algumas crianças, depois
de alfabetizadas, eram encaminhadas para a classe comum.
Quando entravam para a escola, eram crianças muito re-
voltadas e só queriam brigar, mas depois que se entrosavam
com as outras crianças se tornavam muito meigas e amoro-
sas. Foi um período muito bom da minha vida, pois me
sentia realizada ao ver o progresso das crianças. Foi um
trabalho que fiz com muito amor. Aposentei-me em 1991,
mas ainda trabalhei mais três anos com essas crianças. Ob-
servação: A classe possuía aparelhos auditivos fixos às car-
teiras, sendo um para cada criança.” (Marita Caraccio
Armbruster, professora desde 1971 e aposentada em 1991)..

Sandra Helena Barbosa Godoy


218 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Sandra Helena Barbosa Godoy, nasceu em Limeira no ano de 1953.


Mesmo sendo uma aluna portadora de necessidades especiais, não se aco-
modou diante das dificuldades surgidas e faz uma exposição de toda a luta
pelo seu direito à alfabetização:

“Um susto, um traumatismo de parto, conclusão... lesão


cerebral, uma deficiência neurológica. Um quilo e meio,
muitos problemas. Lá fui eu para uma caixinha de sapato,
com uma lâmpada em cima. Fui uma criança muito ma-
nhosa, custei muito a sentar, andar, falar, mas, apesar de
tudo isso atrasar meu desenvolvimento, eu ia vivendo. Como
toda mãe de uma criança deficiente, eu tive a minha. Não
poderia ser diferente, tendo em vista que nasci no ano de
mil novecentos e cinqüenta e três. As coisas eram diferen-
tes, mas... tão iguais. As coisas não se passaram conforme
havia planejado. Eu não era aquela criança, cartão de vi-
sita, que ela sonhara, mas sentia minha mãe ao meu lado,
colada em mim, com vergonha de mim, me amando, ora me
odiando, ou se culpando, ou me culpando, mas sempre ao
meu lado. A lesão que veio com meu nascimento afetou
apenas a parte física. Meus movimentos eram bruscos, pre-
cisava de ajuda para me alimentar e me vestir. A princípio
tudo ia bem. O amor e a dedicação que a mim dispensavam
eram suficientes. Eu era uma criança, dentro de casa, sen-
do cuidada. Fui vivendo... Não consegui matricular com
sete anos nessa escola, pois minha mãe impediu. Sete anos.
A escola, o mundo fora de casa. A mãe negando, o diretor
da escola negando, e eu chorando... Estávamos em mil
novecentos e sessenta. Tempos difíceis. Deficientes eram
trancados em casa. A escola não estava preparada para me
receber. Minha mãe não estava preparada para me repartir
com o mundo, não queria me atirar para fora do ninho. A
escola era linda, cheia de árvores enormes. Logo na entra-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 219

da compramos biju de um senhor que passava fazendo um


barulho danado. Comprávamos também cinco balas por um
cruzeiro, só quando sobrava algum dinheiro e a mãe dava.
O pátio era enorme com enormes bancos. Nossos pezinhos
ficavam balançando nos bancos. Na hora do recreio saímos
e Dona Irene Cover Pilon, nossa servente tão querida, vi-
nha com um bule enorme cheio de leite. Ficamos em fila e
ela ia servindo. Como não conseguia segurar o copo, Dona
Irene pedia para as outras alunas segurá-lo para mim. Era
uma briga para ver quem iria segurar o copo para mim.
Quase todos os copos eram de canudinhos, última moda na
época. Depois do leite íamos para debaixo das árvores, fa-
zíamos piquenique, cada uma trazia um petisco de casa,
colocávamos tudo debaixo das árvores e era uma festa.
Depois era procurar as coleguinhas e brincar de roda, can-
tando canções folclóricas, dançando o miudinho, coisas que
só quem foi da época sabe do que estou falando. Sempre
tinha festa nas datas importantes e as alunas recitavam
poesias no palco que ficava lá no pátio. Brincávamos nes-
te palco sempre quando não havia festa. A aluna, Maria
Luiza Garcia, recitava sempre a mesma poesia “Quem será”.
Era uma poesia que falava da mãe. Acho que era a única
que ela sabia e todos pareciam gostar e não esquecemos,
apesar de tanto tempo. Antes de entrar na aula, fazíamos
filas e cada professora ficava na frente de seus alunos para
cantar o Hino Nacional. Era sagrado, todos os dias era can-
tado. Só que para viver tudo isso lá no pátio da escola eu
tive que lutar muito. Não havia nada aqui na cidade, era
tudo em São Paulo, meu pai teve que ir à Secretaria da
Educação, conversar sobre o meu caso e um Supervisor
veio até Limeira ver o que estava acontecendo. Oito anos.
Consegui afinal convencer minha mãe... As condições, para
isso, foram péssimas. Ela exigiu que aprendesse a ler, antes
220 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

de ir à escola. Hoje, para mim e para todos, tal fato pode


parecer estranho, mas para ela, que não acreditava em meu
potencial, era natural. Passei por isso. Era persistente. Fazia
qualquer coisa para provar, principalmente para ela e para
mim, que eu era capaz. Meu pai foi incumbido dessa tare-
fa. Esperava-o, todos os dias, com papel de pão e pedaço
de lápis nas mãos e ele ia me ensinando as primeiras letras.
Entrei para a escola sabendo ler. Tudo isso, depois de uma
batalha, na escola, que não aceitava o deficiente. Eles con-
fundiam a deficiência neurológica com deficiência mental.
Porém, a escola me encaminhou para a classe de deficien-
tes mentais. Devo à Senhora Elisa Apparecida Ciarrocchi
Silveira, professora da época, a colocação numa sala con-
vencional, decisão sensata tomada por ela, após a aplica-
ção de um teste para medir a inteligência (teste de Q.I. –
quociente de inteligência – conhecido e aplicado nos anos
60); e o teste acabou revelando uma inteligência acima do
normal. O corpo docente era muito bom. Os professores
não eram só mestres em ensinar a ler e escrever. Eles fazi-
am a parte social. Orientavam as mães quanto aos cuida-
dos com a limpeza, olhavam os cabelos, as roupas das alu-
nas e algumas olhavam até as calcinhas das meninas. O dia
em que a professora ia olhar as roupas, era surpresa, todos
mantinham-se sempre limpos, pois nunca sabíamos quan-
do seria a revista. Na classe era também mantida a limpe-
za, nenhum papelzinho no chão. Era muito importante a
correção de postura ao sentar-se à carteira. As professoras
não descuidavam nunca deste item. A escola mantinha o
curso de 1ª a 4ª série, o Jardim de Infância e uma classe
para portadores de deficiência mental, cuja professora era
a Elisa Apparecida Ciarrocchi Silveira. Martha Guima-
rães Dias Cunha aceitou me alfabetizar. Nessa época es-
crevia com o pé. Quando entrei para a escola, meus braços
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 221

não alcançavam a carteira escolar. De um dia para o outro


tive que usar as mãos. Nada de Pré-escola, adaptações.
Isso são coisas modernas. Naquela época, uma tábua na
carteira, colocada pela sábia professora, resolveu a situa-
ção. Consegui! Apesar dos garranchos, consegui. Estava,
afinal, escrevendo com as mãos. Foram pesados os precon-
ceitos e ninguém escapou deles – professores, colegas, dire-
ção da escola. Todos mostraram suas intransigências, sua
ótica restritiva. O diretor da escola pulava minha carteira,
quando andava pela classe, nunca me dirigiu a palavra.
Eu continuava... Dona Martha foi minha professora de 1º
ano. Foi a única que aceitou alfabetizar uma criança defi-
ciente. No final do ano de 1961, houve uma mudança nas
classes. O diretor resolver colocar os melhores alunos em
uma só classe e os considerados fracos ficaram em outra
classe. Martha ficou com os alunos mais fracos e eu fui ter
aula na classe da professora Gessy Coeli de Azevedo, que
ficou com a classe mais forte. Logo depois fui para o se-
gundo ano, com a professora Wilma Alves Ferraz
Chinelatto. Sempre que eu mudava de professora elas se
preparavam uma às outras, para saberem como lidar comi-
go. Minha letra era horrível e eu fazia quase todas as pro-
vas orais. Só Português e Matemática eu fazia escritas.
No 3º ano fui para a classe de Dona Ivete de Carvalho.
Excelente professora. Ensinava redações com os belos car-
tazes, material didático da escola. Depois veio a Dona
Paulina de Cillo Diniz, professora enérgica, dava lições
que não acabavam mais. Nas férias passava folhas e folhas
de lições. Assim foi minha passagem por essa maravilhosa
escola.”
222 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Entre as décadas de 70 e 80, havia quatro classes especiais, sendo


três para deficientes mentais e uma para deficiente auditivo. As professo-
ras responsáveis pelas classes eram Dercy Ferraz Silveira Dibbern, Elisa
Apparecida Ciarrocchi Silveira, Deisy Bassinello Ponzo e Jurema Sedamar
Oliveira Figueiredo. As crianças eram triadas pelas professoras das classes
especiais para verificar o nível de aprendizagem em que melhor se enqua-
dravam:
Nível I – Adaptação (Pré-Escola)
Nível II – Início Alfabetização (1ºano), raramente tabuadas do 2 e 3, ope-
rações simples e números até 100.
Nível III – Final Alfabetização (2ºano), ou seja, as dificuldades rr, ss, x,
ch, mp, mb, n intercalado, trabalhava-se muito com cópias e treino orto-
gráfico, tabuadas do 5 ao 9 e as operações básicas.
A clientela não era basicamente constituída por deficientes mentais
e sim crianças imaturas com deficiência e distúrbios de aprendizagem. Di-
ante do que a Educação esperava da clientela elite (que fez Maternal, Pré-
Escola e estava estimulada para o início da alfabetização).
As professoras não eram de nível universitário e sim normalistas
com um curso de especialização na Caetano de Campos.
A seguir, a professora Jurema cita mais detalhes das classes especiais
e de sua atuação como docente:

“Na época eu era substituta efetiva e estagiária destas clas-


ses, pois estava concluindo a 1ª turma da PUC de Pedago-
gia, especialista em deficiente mental. A diretora era a se-
nhora Doracy Alves da Costa Arcaro e seu esposo Oswaldo
Arcaro (apelido: Tatu). A classe de D.A. era regida pela
professora Marita Caraccio Armbruster e o sistema de ensi-
no era baseado em centro de interesses. Tínhamos D.M.
(deficientes mentais). e D.A. (deficientes auditivos), mui-
tos materiais pedagógicos até para educação artística, toda
maneira de estimular para a alfabetização. Isto é, desen-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 223

volver o período preparatório, crianças com síndrome de


Down ou verdadeiramente com deficiência mental e ou-
tras complicações eram encaminhadas para a APAE - As-
sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais ou ARIL -
Associação de Reabilitação Infantil Limeirense. Após re-
formas na Educação, não se podia mais fazer somente a
triagem pedagógica e sim obrigatoriamente a triagem psi-
cológica, ou seja, um psicólogo deveria atestar que o aluno
tinha um Q.I. abaixo da normalidade e que necessitava
freqüentar ensino especial para desenvolver sua defasagem
e ser depois enquadrado no ensino regular. Observe que na
realidade não era uma clientela D.M. e sim uma bimítrofe
com muitos problemas de comportamento. Os alunos tanto
D.M. quanto D.A. tinham rotina e acesso normal, igual a
todos os alunos da Unidade Escolar. Horários de entrada e
saída, tudo junto. O período era das 7:20 horas às 11:20
horas (4 horas por dia) e depois o período da tarde das 12:30
horas às 16:30 horas.Com a mudança para Escola-Padrão,
aumentou-se a carga horária e as aulas de Educação Ar-
tística e de Educação Física que poderiam ser ministradas
por outras professoras. Eram duas aulas semanais. Mais
mudanças ocorreram e a professora regente da sala especial
passou a trabalhar cinco horas diárias e a ministrar todas
as aulas da composição do currículo. Como as professoras
já eram pedagogas especializadas, faziam os encaminha-
mentos para os terapeutas (ex-fonoaudiólogos), psicólogos,
terapeutas ocupacionais e os casos mais sérios eram enca-
minhados para tratamentos neurológicos e psiquiátricos em
entidades como ARIL (Associação de Reabilitação Infan-
til Limeirense) e APAE (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais). Com a abertura do Centro de Especialida-
des, os alunos que necessitavam desses atendimentos eram
encaminhados, pois contavam com uma equipe capacita-
224 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

da para atendê-los. As salas de aula funcionavam no po-


rão da Unidade Escolar. A área era escura, sem arejamen-
to (sol e ar). Passamos na época da Dona Ruth Zucolotto
da Silva, diretora, a funcionar no porãozinho (sala baixa
com depósito escuro no fundo e cheio de ratos, morcegos,
etc, tipo depósito de materiais amarelados e corroídos pelo
tempo ou animais peçonhentos que dividiam o espaço
conosco, alunos ditos pessoas com deficiência, necessitan-
do do melhor lugar da Unidade Escolar, ou seja, com luz
adequada, ar, etc). Depois passamos a usar uma sala im-
provisada também no meio do pátio e uma instalação nos
fundos da escola em frente à classe da Pré-Escola (prédio
mais ou menos novo). Quando os ipês floriam, com suas
flores amarelas e roxas, aproveitávamos para curtir a bele-
za que a natureza nos presenteava, tirando-nos do preto e
branco e colorindo nossas vidas. Aproveitávamos para fa-
zer nosso lanche em seus tapetes amarelos e lilás inigualável,
fazíamos aula de Leitura, Educação Artística e Educação
Física, aproveitando essa natureza que nos premiava com
sua beleza. Geralmente era setembro, então trabalháva-
mos os símbolos pátrios, incentivando a poesia e o patrio-
tismo, pois um dos símbolos era o ipê amarelo que nessa
época tão bela enfeitava a escola que se tornava cada vez
mais fria, cinzenta e desejando que desocupássemos a área
para se tornar apenas escola de 2º grau. No início eram
duas salas de D.A., todas equipadas com aparelhos de DOS-
VOX e todo material necessário para estimular e Libras
(antiga linguagem de sinais), quase não era utilizada. Os
microfones eram adaptados às carteiras com o nome de cada
aluno e adaptados aos decibéis necessários para cada um.
Era uma aparência de velho, com cores muito desbotadas.
Quando substituí naquela sala, encapei os microfones com
cores suaves, colori a sala e os alunos começaram a se sen-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 225

tir mais empolgados, “felizes” com a “nova velha” sala. Na


época o diretor era o Senhor Wladismir Gavioli. Comecei
a introduzir LIBRAS e muitos alunos adoraram. Foi uma
época feliz. Depois transferiram essas salas para a Escola
Estadual “Leovegildo Chagas Santos” e as de D.M. (defi-
cientes mentais) para a Escola Estadual “Professor Ely de
Almeida Campos“, pois a mesma ia se extinguir e interes-
sava ganhar três salas de D.M., para que isso não ocorres-
se. Nesta época, a Escola Estadual “Professor Ely de
Almeida Campos” funcionava em frente ao CEPROSOM
(Centro de Promoção Social Municipal) em Galpão e salas
contêineres. Após o prédio novo ter sido concluído no cen-
tro da cidade, nós, professores das classes especiais, fomos
chamados dia 24/12 às 8 horas à Diretoria de Ensino para
sermos comunicadas de que a Escola Estadual “Professor
Ely de Almeida Campos” seria de 2º grau e nós sendo de
1ºgrau, isto é, deixaríamos de existir, pois não teríamos mais
Unidade Escolar. Foi criado, para acerto de todos, da
municipalização, a E.M.E.I.E.F. “Limeira”, a qual nos
acolheu juntamente com a diretora Maria Antonieta
Passoni e continuamos nosso trabalho de formiguinha na
rede municipal.” (Jurema Sedamar de Oliveira Figueiredo,
aluna de 1958 a 1962 e professora de 1987 a 1995).
226 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Classe de deficientes auditivos, 1995. Acervo de Marita Caraccio Armbruster.

A professora Elisa Apparecida Ciarrocchi Silveira, ingressou como


professora substituta efetiva no Grupo “BRASIL” em 07 de março de
1961 regendo classes de emergência (deficientes mentais) e em 20 de agosto
de 1962 tomou posse no cargo de professora efetiva de classe especial, per-
manecendo no Grupo “BRASIL” até 1994. Com relação às classes de defi-
cientes mentais, a professora Elisa relata:

“No começo era uma classe especial com 15 alunos de


idades mentais variando de 8 a 12 anos de idade crono-
lógica. As crianças eram indicadas pelas professoras de
classes comuns que observavam, durante 1 ano, as defi-
ciências do aluno. Antes de iniciado o ano letivo o Ser-
viço de Saúde Mental da Secretaria de Educação de São
Paulo mandava uma psicóloga que aplicava testes nas
crianças pré-selecionadas. Pré-requisitos: de 9 a 12 anos
de idade cronológica; 1 ano ou mais de repetência na
classe comum; teste de avaliação psicológica, atestando
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 227

que a criança era “deficiente mental educável” (passí-


vel de ser reabsorvida pelo ensino comum). Crianças
abaixo da faixa era encaminhada para a APAE (Asso-
ciação de Pais e Amigos dos Excepcionais) ou ARIL
(Associação de Reabilitação Infantil Limeirense). Di-
ante do grande número da clientela, foram criadas mais
classes, centralizadas no Grupo “BRASIL”. Geralmen-
te, a criança começava na classe de adaptação (seria uma
Pré-Escola especial) com a professora Elisa Apparecida
Ciarrocchi Silveira, se aprovado o aluno ia para o 1º
ano especial com a professora Odyl Gutierres de Almeida,
que sendo aprovado o aluno ia para o 2º ano especial
com a professora Dercy Ferraz Silveira Dibberrn. Se a
criança vencesse com sucesso os três anos especiais, vol-
taria para o 3º ano da classe comum. De outro modo,
sairia, com certeza, com todo o seu potencial à tona,
sabendo ler, escrever e contar e tendo incorporado ao
seu dia-a-dia hábitos sociais, os mais normais possíveis.
Não raramente, tivemos ex-alunos cursando o ginásio.
O material usado nessas classes era diferenciado. Rece-
bíamos, no início de cada ano, tudo o que iríamos usar
durante o período, inclusive jogos educativos, discos,
material de educação física. Como cada classe só podia
funcionar com 15 alunos, fazíamos cada cartilha à mão
e ensinávamos cada criança separadamente, de acordo
com sua dificuldade. Particularmente, fiz uma oficina
de arte no porão, reciclando latas, pintando tecidos, re-
cortando papel, fazendo tricô, etc... Juntamente com
as professoras Odyl e Dercy, percorremos algumas in-
dústrias, pedindo e ganhamos armários de parede a pa-
rede com portas de correr: um luxo!!! Tínhamos toca-
discos, fazíamos festas no palco da escola. No recreio as
crianças se confundiam com as outras que foram se acos-
228 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

tumando com as deficiências dos colegas, respeitando-


os e protegendo-os. Tínhamos também a classe dos sur-
dos-mudos. Fala-se, hoje, em integração: deficientes
inseridos nas classes comuns.”

Dora, enquanto diretora do Grupo comenta a respeito da Educação


Especial, no período em que foi diretora:

“Onde atualmente é a cantina tínhamos uma sala para


deficientes auditivos. Era a única escola que trabalhava
com deficientes. Havia os deficientes irrecuperáveis, e tam-
bém, quem trabalhava com eles: era a professora Elisa
Apparecida Ciarrocchi Silveira, e havia os deficientes que
iam para a classe da professora Dercy Ferraz Silveira
Dibbern que era o 1º ano e os que iam para a professora
Deisy Bassinello Ponzo que seria 2º ano, mais tarde essas
crianças faziam uma prova e uma classificação pela pro-
fessora Deisy e eram encaminhados para as classes normais.
Então, quando os alunos entravam para a classe normal já
tinham pré-requisitos para continuar seus estudos. Infe-
lizmente a legislação acabou com tudo. Nem aprendem os
deficientes, nem aprendem os alunos normais, infelizmen-
te.”

A partir da vigoração da lei no. 9.394/96, que estabelece as di-


retrizes e bases da educação nacional, vários educandos com necessi-
dades educacionais especiais, ao longo desses últimos anos, foram
inclusos em classes regulares de ensino da Escola “BRASIL”. Atual-
mente, além da inserção desses alunos em classes regulares, a escola
teve a implantação de uma sala de SAPE (serviço de apoio pedagógi-
co especializado), oferecendo novamente atendimento a alunos espe-
ciais com D.A. (deficiência auditiva), de 5ª a 8ª séries de diversas
escolas do município.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 229

O SAPE constitui em agrupamento sistemático de alunos da


mesma área de deficiência, requerendo alteração significativa de
curriculum, além de material pedagógico específico e estratégias pe-
dagógicas diferenciadas, é ministrado por um professor habilitado na
área específica de deficiência. Para a organização dessas classes é
observada a faixa etária dos educandos, a fim de que não haja uma
acentuada discrepância.

“Os alunos recebem atendimento individual duas ve-


zes por semana em horário contrário ao de suas aulas.
Como professora de Língua Portuguesa e intérprete
da Língua Brasileira de Sinais pela FENEIS (Fede-
ração nacional de Educação e Integração dos Surdos),
desenvolvo um trabalho de auxílio interdisciplinar, os
alunos recebem um reforço escolar em sua própria lín-
gua, já que para os surdos o entendimento da Língua
Portuguesa é muito comprometido. Assim, estamos
certos de que a Escola “BRASIL” presta um trabalho
necessário à inclusão escolar e social dessas crianças.
(Marta Aparecida da Silva, aluna de 1979 a 1983 e
professora desde 2007).
230 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Escola-Padrão, ampliação
da escola e reforma de seu prédio.

Intercâmbio cultural com o Japão, realizado nas dependências da escola. 1990. Entre as pessoas
está, da esquerda para a direita, de frente para mesa, Ruth Zucolotto da Silva, diretora da escola
(4ª). Acervo da E.E. “BRASIL”.

Em 1990, Limeira dá seqüência ao intercâmbio Limeira-Morodomi firma-


do pelo então prefeito Waldemar de Mattos Silveira em 1980, com o objetivo de
um entrelaçamento entre as escolas de nível primário de Morodomi e Limeira.
Estavam presentes o prefeito municipal Palmyro Paulo Veronesi D’Andréa, a
delegada de ensino, Abigail Rovai Cardoso e a diretora Ruth Zucolotto da Silva
e representando o Japão e a escola Mo Kita estavam o diretor superintendente e
fundador da Ajinomoto de Limeira, Kazumoto Kinoshita. Dentre muitas apre-
sentações realizadas por alunos do Ensino Primário, houve uma apresentação de
judô com golpes, quedas e lutas com alunos da academia Bosco e após solenidade
foram entregues oficialmente trabalhos da crianças da escola Mo Kita para inter-
câmbio escolar: cartões postais, fotografias. Leques, brinquedos, esculturas em
barro, alguns bonecos de pedra e outros.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 231

Intercâmbio cultural com o Japão, realizado no palco do galpão da escola. 1990.


Acervo da E.E. “BRASIL”.

“Em 1990, o pátio parecia um quintal, havia árvores fru-


tíferas, o galpão com madeira aparente no telhado. Havia
um playground para as crianças do Pré-Primário, cujas
salas eram fora do prédio principal. No porão do prédio
principal funcionavam salas para crianças portadoras de
deficiências (surdas-mudas e deficientes mentais) e também
a Biblioteca. A escola atendia crianças da Pré-Escola, do
Primário e do Ginasial que era como se chamava, respecti-
vamente, a Educação Infantil, Ensino Fundamental Ci-
clo I e Ensino Fundamental Ciclo II. Foi nesse ano que
teve início o colegial: 2º grau à noite e também o supleti-
vo.” (Márcia Sueli Feltrin, professora desde 1990).

“Quando entrei na escola, em 1992, ainda não havia o pré-


dio novo, só aquele galpão e uma escadaria que descia até
um gramado lá embaixo. A cantina era lá embaixo, perto
232 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

de onde tem um vestiário hoje, só existiam uma quadra, o


galpão e o prédio velho. No ano em que eu estava no Ciclo
Básico I “1º ano”, estudávamos numa sala que era mais
separada e havia até um areião para brincarmos, onde até
funcionava na época um parquinho e tínhamos medo de
subir no prédio velho, pois os alunos eram maiores; e temí-
amos encontrar o pessoal.” (Tiago Fernando Valentim, alu-
no de 1992 a 2002).

Em 1992, durante a gestão do governo estadual Luis Antonio Fleury


Filho, a escola transformou-se em Escola Padrão. Este projeto teve a Es-
cola “BRASIL” como uma das escolas “piloto” que, de acordo com profes-
sores, fora muito eficiente, proporcionando melhorias na qualidade do en-
sino. Dentre as várias mudanças ocorridas, alguns professores citam:

“(...) carga horária maior para os alunos, aulas aos sába-


dos, seis HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo)
para carga integral e para os demais professores era pro-
porcional, professor com dedicação exclusiva recebia 30%
a mais de gratificação no salário, reforma e ampliação do
prédio: construção do prédio novo.” (Márcia Sueli Feltrin,
professora desde 1990).

“A Escola “BRASIL” passou por vários momentos. O


momento mais marcante para mim foi da época de Escola
Padrão. Este Projeto foi muito significativo para o proces-
so de ensino e aprendizagem, tanto para os educadores
quanto para os alunos. Os professores tinham na época
momentos para refletirem e discutirem sobre suas práticas
pedagógicas no cotidiano, pois havia a função de professo-
res coordenadores de área, necessário para que o processo
de discussão ocorra na escola entre os educadores. Na épo-
ca eram escolas padrão: E.E. “BRASIL”, E.E. “Professor
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 233

Gabriel Pozzi” e E.E. “Castello Branco” .” (Ivanil


Aparecida Garro, professora da Escola “BRASIL” desde
1985 e afastada junto à Diretoria de Ensino Região de Li-
meira para a função de A.T.P.(Assistente Técnico Pedagó-
gico) na Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias).

“Os anos 90 foram muito gratificantes para todos da E.E.


“BRASIL”, período que nossa escola deu um grande salto
para a modernização, tanto na parte pedagógica como para
a secretaria, iniciando a era da informatização, tão espera-
da e na época era privilégio apenas das melhores escolas de
cada cidade, as chamadas Escolas-Padrão. A Escola-Pa-
drão foi um marco para o ensino e uma honra para nós,
pois conquistamos em primeiro lugar esse título na cidade
de Limeira. Seu Plano Diretor permitia a execução de pro-
jetos com verbas específicas e assim tivemos a moderniza-
ção de nossa biblioteca, o início de nosso laboratório, sala
de vídeo e permitia que o professor tivesse mais horas de
HTPC, com três professores coordenadores, um para cada
área: exatas, humanas e comunicação e expressão. Havia
aula de Educação Física dentro do período noturno e tam-
bém aulas aos sábados à tarde. Foi durante esse período
que houve a construção de um novo prédio para melhor
acomodação dos alunos. Foi um período de muitas lutas,
sacrifícios, mas também de grandes conquistas que com cer-
teza deixaram saudades em todos nós.” (Ruth Zucolotto
da Silva, diretora de 1987 a 2002).

“Não esqueço do grupo de professores que faziam parte


deste período, todos passavam muito tempo na escola e as-
sim nossos laços ficaram mais fortes. A comunidade era
muito próxima da escola e assim os alunos garantiam estu-
234 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

do e muito empenho em cuidar da querida Escola “BRA-


SIL”.” (Nelson Baptista Gonçalves Júnior, professor des-
de 1990).

“A Escola “BRASIL” sempre representou tradição, quali-


dade, honestidade, oportunidade e produções pedagógicas
e didáticas relevantes e eficientes. Como Supervisora de
Ensino, aprendi sobre a verdadeira educação, as interações
com diretores, professores e funcionários e alunos e em con-
junto realizar um trabalho profícuo e enriquecedor. Sem-
pre observei o trabalho de todos, principalmente dos pro-
fessores, que tratavam seus alunos como seres humanos e
eram conhecedores de seu próprio conhecimento o que para
a educação é um principio e uma necessidade permanente.
A dedicação dos professores, o trabalho conjunto da escola
envolvendo todos que participam do processo educativo,
davam-lhes sempre o conforto e a certeza do dever cumpri-
do. O final do ano é o coroamento de seus trabalhos, quan-
do os alunos superam mais uma etapa de suas vidas. Acom-
panhei a Escola Estadual “BRASIL” quando tornou-se
Escola-Padrão, o envolvimento da equipe escolar, as salas
ambientes, as reuniões dos coordenadores de área, coorde-
nadores do Ensino diurno e noturno. Os festivais de poesi-
as onde por várias vezes os alunos desta unidade escolar
sagraram-se campeões. Além de ser a primeira Escola-Pa-
drão a ser escolhida pela Secretaria de Estado da Educa-
ção, seu Plano Diretor foi premiado como um dos melhores
do estado. Foi também pioneira na implantação de todos
os projetos lançados pela Secretaria, saindo-se sempre mui-
to bem e enriquecida culturalmente, junto aos órgãos su-
periores. Cada dia que passa, seu nome torna-se cada vez
mais conceituado entre sua equipe escolar, a sociedade
limeirense e os órgãos que fazem parte da Secretaria de
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 235

Estado da Educação. É uma escola alegre. Por este moti-


vo foi a escola escolhida pelos meus netos para estudarem.
Hoje já freqüentam o Curso Universitário. A união da
equipe escolar elevou o seu padrão educativo.” (Neuza
Maria Bortolan, supervisora de ensino aposentada).

À esquerda, Cozinha e Refeitório na parte superior e Zeladoria na parte inferior e à direita,


Prédio Novo, 2006.

Em 1992 iniciaram as obras de construção do novo prédio, fato que


mudou a rotina de todos na escola:

“No Ciclo Básico II “2º ano” derrubaram o velho galpão,


cercaram todo o pátio e começaram a construir o prédio
novo e ficávamos todos na janela vendo a construção do
prédio, fazia barulho o dia todo, mas ficávamos maravi-
lhados com as máquinas que colocavam os blocos pré-mol-
dados e a gente ficava acompanhando a construção. Mas,
o que me chamou a atenção na época foi a redução do
236 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

recreio, o barulho o dia todo e os homens e máquinas tra-


balhando. Foram dois anos até o prédio ficar pronto, quando
foi inaugurado em 1994.” (Tiago Fernando Valentim, ex-
aluno de 1992 a 2002).

“Durante os anos de 1992 e 1993, convivemos com máqui-


nas, equipamentos, engenheiros, pedreiros, serventes, muito
barulho. Em 1994, novas instalações, tudo novo e lindo.
Mas em 1996, houve a troca do governo estadual e o pro-
jeto Escola-Padrão foi cancelado e houve a volta do mode-
lo anterior, que é o mesmo de hoje, ainda com algumas
alterações.” (Márcia Sueli Feltrin, professora desde 1990).

Fachada da Escola, 2004.


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 237

Durante o 2º semestre de 2003 e o 1º semestre de 2004, a escola foi


objeto de uma ampla reforma em toda a sua parte física. Foram substitu-
ídos todo o piso, forro, telhado e parte do madeiramento, além de receber
uma nova pintura, prevalecendo a cor azul. Em meio a esse período de
obras, as aulas foram ministradas em salas cedidas por outras duas escolas
da cidade. O período da manhã foi dividido em dois turnos, em classes
disponíveis na própria escola, e os períodos da tarde e da noite, enquanto
algumas classes freqüentavam algumas salas disponíveis na própria esco-
la, as demais ocupavam salas no Colégio Procotil (tarde) e na Escola Esta-
dual “Professor Nestor Martins Lino” (noite).

Reforma no piso e nas paredes, 2003.


238 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Reformas nas paredes, forro, madeiramento e telhado; 2003.

Nesse período de reformas, além de mudança no horário, de prédio,


houve também o remanejamento de professores de uma classe para outra,
para que o professor concentrasse suas aulas num mesmo prédio.

“Durante pouco mais de um ano ocupei a função de vice-


diretora também nessa escola, este período foi realmente o
maior aprendizado, pois a escola passou pela maior refor-
ma de sua história, trabalhamos em quatro turnos diários e
em três prédios diferentes, porém nunca deixamos de acre-
ditar que tudo aquilo era para melhorar ainda mais nossa
escola.” (Nelsi Aparecida Strasser, professora desde 1994 e
vice-diretora).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 239

As transformações ocorridas na Escola “BRASIL” não são apenas


físicas, pois desde período antecedente à reforma, havia iniciado um constan-
te processo de transformação pedagógica, administrativa e disciplinar:

“À vontade e o anseio do grupo que estava desejoso em


mudanças, foi de suma importância, pois era desejo de to-
dos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (co-
munidade escolar/sociedade), sem exceções, e isso só ocor-
reu também porque todos entenderam a real dimensão do
significado da gestão escolar compartilhada em todos os seus
âmbitos, que tomou como base o principio de comprometi-
mento como valores éticos, morais, sociais, pedagógicos e
humanos, a fim de modificar concepções que nos remetes-
sem para uma nova postura dinâmica, capaz de lidar com
os desafios da educação dos dias de hoje. Muitas vezes ado-
tei postura mais mediadora no processo de construção do
saber, promovendo o esclarecimento de eventuais dúvidas
e orientando na construção de uma gestão participativa e
amistosa, através da promoção de ações que visavam à
melhoria do trabalho como um todo, facilitando, assim, a
convivência entre professor e aluno em sala de aula, acom-
panhando ações e conteúdos planejados, de forma a auxi-
liar no aperfeiçoamento do aluno, por meio de critérios que
buscavam a melhoria do ensino, de forma coletiva e efici-
ente, através de fatores de cooperação para a construção de
um individuo capaz e crítico dentro da sociedade. Foi im-
prescindível a participação das famílias que passaram de
coadjuvantes a mediadores das nossas propostas, ou seja,
os filhos que ficavam sem um guia, um ponto de referên-
cia para o seu crescimento moral, passaram a contar com
uma supervisão firme emplacada pelos pais em conjunto
com os professores da Escola “BRASIL”, pois quando não
havia adultos preocupados ao lado desses alunos
interagindo, entendendo e até mesmo interpretando, esses
se portavam com total irresponsabilidade com a sociedade
240 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

(escola/comunidade). Afirmo com absoluta certeza de que


se em uma escola, o intimidador fizer o que quiser, a víti-
ma não tem a possibilidade de agir e se os espectadores não
fizerem nada, ou pior, ficarem do lado do intimidador por
medo de serem os próximos alvos, a violência será impera-
tiva. O apoio recebido do Sr. Artur Baccaran Junior, foi
de suma importância para que eu construísse esse amadu-
recimento profissional. Sempre tive a convicção e o apoio
desse esmerado professor, portador de uma competência
técnica invejável. Ele era capaz de identificar e de valori-
zar as competências de todos ao seu redor, dentro de sua
profissão e dentro de suas práticas. Era um professor que
vivia a ajudar, fazendo não só a mim, mas aos alunos re-
fletirem sobre os valores que aparecem na solução de um
problema e analisando situações concretas, que aconteci-
am no dia-a-dia da escola ou que aparecem fora dela. Foi
um verdadeiro conselheiro para mim. Esse sucesso alcan-
çado é devido também aos alunos que passaram pela esco-
la, pois sozinha ela não iria conseguir mudar nada.” (Nel-
son Leme da Silva Júnior, professor e vice-diretor de 2001
a 2005).

Os transtornos criados para alunos, funcionários e professores


foram muitos, mas agora vemos os efeitos de todo sacrifício. Hoje, mais
do que nunca, a Escola “BRASIL” continua sendo uma das mais belas
da cidade.

“Estar na E.E. “BRASIL” é muito gratificante, espaço


físico bom e privilegiada localização na região central;
mesmo antes da reforma, já possuía grande admiração pela
sua arquitetura. Tantas dificuldades e quanto aprendiza-
do durante a árdua reforma, que por fim, valeu a
pena.”(Neuza de Araújo Lima, professora desde 2003).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 241

Hino à Escola “BRASIL”


Qual mãe dedicada
Que cuida dos seus,
Qual lenda sagrada
De mil apogeus,
Tu trazes no tempo e no espaço,
Em teu meigo abraço
As bênçãos eternas que os teus
Descendentes ilustres
De hoje e de outrora
Desfrutam, buscando o saber
E o preparo eficiente
Que fazem do corpo e da mente
O farol da ciência e a razão de viver!

O nome da Pátria que ostentas,


Com grande nobreza,
Traduz com certeza
A cultura e o caráter da gente
Da bela Limeira,
Que tão altaneira
Forjou seu perfil
Nos bancos de ensino
Da Escola Brasil.

Tu és uma Escola de encanto,


De idéias, de tanto valor,
De lutas sadias,
De nobres porfias, de luzes, fervor,
Pois fazes da graça infantil,
Da aventura do jovem,
Um hino de sonhos, de crença, de amor!

Letra: Jurandir Godoi Vitta


Professor da Área de Linguagens e Códigos da E.E. “BRASIL”
242 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A Escola “BRASIL” não era representada por esses versos até o ano
de 2003, quando o professor Jurandir, professor da Área de Linguagens e
Códigos, em momento anterior a aposentar-se, foi motivado a presentear a
escola, expressando-a através da composição desses versos.

“Há muito tempo, bem antes da feitura dos versos, já exis-


tia uma inspiração latente dentro em mim, a permear a
consciência da necessidade de um hino para a Escola “BRA-
SIL”. Apenas me auto-reservava. Tempos mais tarde, já
na gestão do diretor, professor Osvaldo Assumpção Castro,
articulou-se um projeto para a consecução do Hino Esco-
lar. Um grande amigo e colega, professor de Filosofia, Oséias
Constantino de Souza e músico erudito, sugeriu à Direção
que: “Jurandir deveria e poderia assumir a responsabilida-
de de concretizar o referido projeto”. Veio falar comigo.
Declinei do convite, alegando que outros poderiam
disponibilizar-se nesse sentido. Oséias instou comigo. Nel-
son Leme da Silva Júnior, o vice-diretor, também. Osval-
do, o diretor, idem. Afinal acedi e pus mãos à obra, a qual
fluiu durante um dia e uma noite na ponta do lápis, corri-
gindo e burilando aqui e ali até que a Providência permi-
tiu saísse de minha lavra o poema intitulado “Hino à Es-
cola Brasil”, em versos irregulares quanto à métrica, po-
rém cadenciados, com as rimas caracterizadas em sua mai-
oria pelo emprego de classes diferentes de palavras; enfim,
com as mãos no cinzel, o coração e as idéias no tempo his-
tórico e nas personagens envolvidas com a Instituição de
Ensino, foi concluído o modesto opúsculo lírico. Sinto-me
gratificado e confesso que não há como me omitir de ficar
lisonjeado com o carinho das pessoas sinceras que me de-
ram e dão a honra de sua cortesia.” (Jurandir Godoi Vitta,
professor desde 1993 e aposentado em 2003).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 243

BRASÃO

Diagramação: Professor Luís Antonio Pinto.

Este brasão foi idealizado pelo aluno Eli Raphael Alves no ano de
2005, por meio de um concurso promovido pela escola através da discipli-
na de Educação Artística. Os alunos com grande capacidade de criatividade
e gosto pela arte do desenho foram especialmente convidados pela profes-
sora Sandra Karina Soares de Souza Roque, que ministra a referida disci-
plina, a participarem desse desafio. Dentre os projetos apresentados, este
foi o escolhido, por melhor retratar a escola, utilizando-se de uma simbologia
que privilegia a imagem de seu prédio antigo, com sua arquitetura clássica
e de um livro que a caracteriza como um dos maiores e mais importantes
centros de educação, ensino e de formação de várias gerações de limeirenses.
244 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

O aluno Eli estudou na escola do ano 2000, quando iniciou a 5ª


série, até 2006, ano de conclusão do Ensino Médio e sempre participou de
projetos realizados pela escola, como a confecção de várias maquetes para
o desfile “7 de Setembro”, pois sempre teve habilidades para trabalhos ma-
nuais e desenho. Ainda ressalta:

“Sempre gostei de estudar nessa escola, da direção, dos alu-


nos e dos professores, que sempre foram bons para mim.
Fiz amizade com muitos alunos e funcionários da escola.
Foi uma honra fazer o brasão para a escola. Achei que
seria difícil, mas consegui fazê-lo.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 245

CONCLUSÃO

A ESCOLA ESTADUAL “BRASIL”


NO SÉCULO XXI

A Escola Estadual “BRASIL” não é seletiva, pois nela encontra-


mos uma clientela extremamente heterogênea. Por ela passam alunos defi-
cientes físicos, com necessidades especiais, com defasagem de aprendizado.
Passam também adolescentes cumprindo a penalidade denominada de “li-
berdade assistida”. Há alunos provenientes de orfanatos, sem uma história
que pertença a famílias solidamente constituídas. Enfim, todos participam
democraticamente das atividades propostas pela escola.

“Democrática e imparcial, a Escola “BRASIL” recebe todos que


por ela procuram, sem discriminação, pois sua prioridade é ensi-
nar o aluno a viver socialmente, e ensiná-lo a conviver com as
diferenças.”(Maria Luiza Luz Lussier, professora desde 1987 e
aposentada em 1998 e professora desde 2000).

A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, juntamente com a


Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), desenvolveram siste-
mas de ensino gratuitos aos Jovens e aos Adultos (EJA), que por vários fatores
não puderam concluir os estudos na idade regular, oportunidades educacionais
apropriadas, considerando particularidades do alunado, seus interesses, condições
de vida e trabalho. O Poder Público viabiliza e estimula o acesso e a permanência
do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Cada vez mais procurada nas escolas por pessoas que há alguns anos
deixaram de concluir seus estudos, elas, agora com este sistema, estão voltando
para as salas de aula. A EJA (Educação de Jovens e Adultos) tem por finalida-
de melhorar a qualidade de vida e da educação dos alunos da referida unidade
246 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

escolar, estimulando o interesse dos alunos, contribuindo para formar, assim,


cidadãos conscientes, participativos e multiplicadores destes valores.
Dentre as modalidades da Educação de Jovens e Adultos, a Escola
“BRASIL” possui o Ensino Supletivo, curso presencial que já havia sido
oferecido de 1990 a 1997, retornando suas atividades em 2006. E, a partir de
2000 a escola passa a oferecer, também, o Telecurso, sendo uma outra moda-
lidade de educação de jovens e adultos, apresentando presença flexível e sen-
do desenvolvido em telessalas da rede pública estadual de ensino.
Atualmente o Ensino Supletivo, juntamente com o Telecurso, atende
inúmeros jovens e adultos.

Professora Vera Lúcia Leitão Cavinato, ao fundo, e sua turma de alunos do Ensino Supletivo (EJA),
2007. Da esquerda para a direita; 1ª fileira, Maria Ines Mazutti (1ª), Nadia Vaz Fracarolli de Souza
(2ª), Anderson Fernando Pinheiro (3º), Fernanda Deluca Prado (4ª), Silvana Vieira (5ª); 2ª fileira,
Neusa Ferreira de Almeida (1ª), Darcio Antonio dos Santos (2º), Fabiana Sciuniti de Aguiar (3ª),
Elisangela da Silva (4ª), Valdinéia Pires Vieira (5ª), Reinaldo Caetano da Silva (6º), Miguel Cazassa
Pio (7º); 3ª fileira, Fatima Almeida da Silva (1ª), Elisabete de Lourdes Gomes da Silva Cruz (2ª),
Ezael Nobrega (3º), Dorival Donadelli (4º), Celio Alberto da Silva (5º) Fabiana Cristina Gonçalves
(6ª); 4ª fileira, Clarice de Souza Alves (1ª), Sergio Luiz dos Santos (2º), André Moreira (3º), Marinalva
dos Santos Cruz (4ª); 5ª fileira, Isabel Cristina da Silva (1ª), Valdirene Rosa dos Santos (2ª).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 247

“A escola, preocupada em atender às necessidades dos alu-


nos, proporciona um ensino de qualidade, formado por pro-
fessores concursados, capacitados para ensinar em apenas
1 ano e 6 meses o que se aprenderia em 3 anos no Ensino
Médio. Os professores são excelentes, além de serem nossos
amigos. A professora Solange Isabel da Silva Ragiotto, de
Matemática, explica muito bem, aplica os exercícios, corri-
ge e dá ponto positivo, olha o caderno no final do mês, é
super-rápida, diz que nasceu ligada na tomada 220w. Esse
método é gratificante para os alunos, além de estimulá-los,
o aprendizado flui melhor. A professora Vera Lúcia Lei-
tão Cavinato sempre traz textos de Língua Portuguesa e
músicas em Inglês, ouvimos a música e cantamos juntos.
Tudo que fazem é com muito carinho. Esse ato de bem
querer só poderia ser retribuído com gratidão pelos alunos
do EJA. Enfim a consideração, a atenção, o respeito e a
amizade entre todos os alunos da EJA, e a direção, profes-
sores, coordenador, inspetoras e serventes, fazem da escola
um ambiente agradável e o aprendizado torna-se melhor,
os alunos mais conscientes e conservadores do patrimônio
escolar. Quando concluirmos o ensino, muitos alunos fa-
rão a prova do ENEM, PROUNI, tentarão passar em
concursos públicos, toda essa vontade de lutar pelos seus
ideais será graças ao EJA e aos professores que fazem par-
te dessa conquista. Onde há união, há harmonia e cidada-
nia.” (Fátima Almeida da Silva, aluna da EJA -Ensino
Supletivo, 2007).
248 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Professora Neuza de Araújo Lima (em pé) e sua turma de alunos do Telecurso (EJA), 2007. Da
esquerda para a direita; 1ª fileira, Aparecida de Lourdes Martins Silveira Cintra (1ª), Rosangela
Aparecida Amorim do Prado (2ª), Roselaine Kof Moreira (3ª), Diego Alves Carneiro (4º),
Adenilson Ferreira da Silva (5º), José Henrique dos Reis (6º), Aidê de Souza Silva (8); 2ª
fileira, Adriana Coutinho (1ª), Ana Rita Bueno de Campos Fabres (2ª), Paulo Roberto Guima-
rães dos Santos (3º), Ivone Freire dos Santos (4ª), Adjane Maria dos Santos Ferraz (6ª),
Sirlene Teodoro Gonçalves (9ª); 3ª fileira, José Vitali Júnior (1º), Kátia do prado (2ª), Andréia
de Cassia Martins Ferreira (3ª), José Nunes dos Santos (8º); 4ª fileira, Eraides Forti Pacheco
(1ª), Simone Alves dos Santos (2ª).

“Atualmente sou professora do Telecurso do projeto EJA


(Educação de Jovens e Adultos) na Escola “BRASIL”.
Projeto prazeroso, quando encontramos grupos de jovens e
adultos um busca de conhecimento e valorizando a nossa
tão batalhadora profissão é extremamente gratificante!
Considero-me abençoada por Deus, pois os projetos com os
quais trabalho nessa escola, no geral, possuem relaciona-
mento de respeito e de retorno mútuo. Obrigada E.E.
“BRASIL” por permitir-me fazer parte de sua história!”
(Neuza de Araújo Lima, professora desde 2003).
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 249

“Postado em frente à entrada principal da Escola Estadu-


al “BRASIL”, ansioso, junto-me a outros iguais a mim e
esperamos o sinal para adentrarmos o recinto escolar. Daí,
respiro fundo e dizendo de mim para comigo mesmo: “Vol-
tei aos estudos e desta vez, determinado irei até o fim, ao
encontro de meus objetivos”. À medida que o tempo passa,
a ansiedade aumenta, o peito parece agitar e sob um forte
impacto emocional, um filme passa pela minha cabeça.
Arremetido ao passado, vejo-me, ainda criança ante seme-
lhante expectação interior. Pois, há exatos 40 anos, ou seja,
em fevereiro de 1957 encontrava-me nesta mesma escola
junto a outros meninos da mesma faixa etária e tutelados
por nossa querida mestra, a professora Daicy Tetzner
Christovam, aguardávamos em fila dupla o instante que
sob seu comando fôssemos conduzidos até nossa sala de
aula. Hoje, junto de outros colegas, chegamos ao final de
mais uma etapa em nossas vidas. Sem dúvida, no futuro,
sentiremos uma pontinha de orgulho ao lembrarmos-nos
da oportunidade de um dia haver nos encontrados, na con-
dição de alunos da Telessala do Ensino Médio na Escola
Estadual “BRASIL”, nossa referência maior, cuja experi-
ência de todos, fortaleceu nossos laços de amizade, como
cursandos. A saudade fará descortinar em nossa mente, si-
tuações das mais diversas, marcadas indelevelmente pela
convivência em classe entre colegas e professores. Nossos
queridos docentes, aos quais aprendemos a admirar e a lhes
querer bem. Juntos, professores e alunos, tivemos que en-
frentar um desafio de gigante: “a inexorabilidade do tem-
po”. Superado apenas pela habilidade didática de nossos
mestres, que souberam aplicar em classe através de sua
acurada inteligência, o que possibilitou-nos, aos poucos,
fosse brotando em nossas consciências um forte desejo no
aprendizado geral, revitalizando o sentimento de cidada-
250 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

nia existente entre nós ao retermos as informações imanentes


dos seus ensinos. Ao encerrarmos este ciclo e, com certeza
do dever cumprido, deixamos aqui registrada nossa eterna
gratidão aos professores pertencentes ao corpo docente da
Escola Estadual “BRASIL” e em especial aos nossos mes-
tres queridos; Neuza de Araújo Lima, de Matemática e
Marcia Cristina Bosqueiro Armelin, de História e Geogra-
fia.” (Paulo Roberto Guimarães dos Santos, aluno de 1957
a 1959 e aluno do Telecurso 2007).

A Escola Estadual “BRASIL” propõe um ensino de qualidade ba-


seado na formação integral dos educandos, através das mais variadas for-
mas de linguagens, abordando valores éticos, morais e familiares calcados
nos princípios norteadores propostos pela lei nº. 9.394/96, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional e preparando-os para serem cida-
dãos responsáveis, críticos e conscientes, desenvolvendo a autonomia inte-
lectual e tornando-os capazes de compreender os fundamentos científico-
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
no ensino de cada disciplina e aptos a prosseguirem seus estudos em nível
superior, adequando-os e qualificando-os ao mercado de trabalho.

“Hoje considerada uma das Unidades Escolares mais anti-


gas da nossa querida Limeira, manteve seus objetivos de
antigamente, cujo foco é formar cidadãos para que lá fora
eles possam dar continuidade aos seus estudos, desenvol-
ver uma profissão e praticar cidadania com dignidade.”
(Neuza de Araújo Lima, professora desde 2003).

A Escola “BRASIL” condece aos seus alunos muitas atividades


extracurriculares, com fins educativos, proporcionando além do caráter éti-
co, intelectual, cultural e humanitário, o lazer e o entretenimento. É prática
da escola, além de incentivar, levar os alunos a exposições, feiras, palestras,
teatro, cinema, museus, parques (florestal, zoológico, diversões), faculdades,
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 251

empresas, indústrias, entidades assistenciais (asilos, orfanatos).


A partir do 2º semestre de 2003 até a conclusão de 2006, a escola foi
aberta durante todos os finais de semana através do projeto “Escola da
Família” da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, em que eram
desenvolvidas atividades lúdicas, recreativas, culturais, educacionais e de
saúde para toda a comunidade. Eram proporcionados cursos de inglês,
espanhol, teatro, judô, capoeira, dança, além da integração entre alunos e
ex-alunos e demais membros da comunidade, socializando o espaço e os
bens disponíveis. Essas atividades eram desenvolvidas por estagiários (es-
tudantes universitários) e outros voluntários da comunidade escolar, sob a
orientação de um educador profissional. Embora a escola não esteja mais
sendo aberta aos fins de semana, muitos destes e outros novos projetos
compõem o currículo da escola.

Curso de Informática. À Esquerda, ao fundo, professor voluntário Luis Anto-


nio Pinto, 2005.
252 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Curso de Capoeira, 2005.

A professora Neuza de Araújo Lima, durante a existência do proje-


to na escola ocupou a função de educadora profissional e mediante sua
participação, fala de sua chegada à escola e de todo o apoio recebido:

“No ano de 2003, quando ao acaso, me foram atribuídas


aulas na E. E.“BRASIL”... Cheguei nessa nova escola com
certa timidez, principalmente pelo fato de ainda ser profes-
sora ACT (admitida por caráter temporário), e sendo a mai-
oria dos professores efetivos na mesma. Contudo, logo me
ambientei... Senti-me em casa! Procurei ser profissional e
acredito ter cumprido minhas funções, e mediante abertu-
ra das inscrições para o cargo de Educador Profissional do
programa “Escola da Família” (Projeto da Secretaria de
Estado da Educação junto a UNESCO e Fundação Air-
ton Senna), ao timidamente me candidatar, surpreendi-me
com a aceitação, e fui selecionada. Fui contratada pelo
vice-diretor da época, professor Nelson Leme da Silva
Júnior, de quem eu recebi grande apoio e apesar das difi-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 253

culdades de um projeto recém implantado, cheio de novi-


dades, muita experiência foi me acrescentada ao decorrer
do tempo. Um período de metamorfose em minha vida pro-
fissional, valeu a pena! Quando fui apresentada ao pro-
fessor Osvaldo Assumpção Castro, que assumiu a direção
de nossa Unidade Escolar, gostei de suas propostas de tra-
balho. Ao meu olhar, uma pessoa maravilhosa, com quem
podia se contar, qualquer que fosse o problema; sempre
disposto a colaborar na resolução de problemas e auxiliar
com seu conhecimento e sabedoria: um ser humano ilumi-
nado no cargo que ocupa. Passado o tempo, resolvi me
desligar do projeto, assim quando o Sr. Osvaldo tomou co-
nhecimento, pediu que eu reconsiderasse, repensasse sobre
minha decisão. Por motivos particulares, respondi que se-
ria impossível minha permanência no cargo de Educadora
Profissional, iria somente exercer o cargo de professora.
Atualmente sou muito grata pelas suas sinceras palavras
que na ocasião me surpreenderam: - “Dona Neuza, quan-
do cheguei aqui e descobri a senhora como Educadora Pro-
fissional, perguntei ao professor Nelson, vice-diretor:...Por
que ela? Ele me respondeu que a senhora era competente!
Hoje Dona Neuza, quero deixar bem claro... A senhora
entrou aqui competente e saiu excelente!”Como profissio-
nal e pessoa, essas palavras valeram e valerão para sempre
como um grande prêmio que conquistei e jamais esquece-
rei. No geral, na E.E. “BRASIL”, com relação ao corpo
discente, funcionários e o corpo gestor, tem havido um re-
lacionamento agradável, ainda, com algumas pessoas com
quem a afinidade se destaca, tal como o atual professor e
coordenador pedagógico, professor Wilson Ricardo
Antoniassi de Almeida, que esteve ao meu lado, apoiando
e dando sua contribuição de forma inigualável, valiosa na
função de Educador Voluntário. Lembra-se das dificulda-
254 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

des e vitórias dos nossos projetos? Da peça teatral, você


autor, diretor e ator, premiada pelo Projeto “Conhecer” da
Unesp em Rio Claro? Foi inesquecível!, o que me deixa
extremamente agradecida.”

Grupo de Teatro “BRASIL EM CENA” em premiação do Projeto “Conhecer” da Unesp de Rio


Claro. Da esquerda para a direita, Carla Rafaela Garcia Santicioli (2ª), Evelyn Dayane São Pedro
(3ª), David Yuri Ribeiro Amaro (4º), Milena Nathalie Feola (5ª), Éderson Rogério Dorigão (6º),
Sabrina Rafaela Damião dos Santos (7ª), Nathicia Cristiny Cardoso (8ª), Rocheli Carlet da Costa
(9ª), Fernanda Cristina Garcia Santicioli (10ª), Neuza de Araújo Lima (11ª), Wilson Ricardo
Antoniassi de Almeida (12º), 2003.

Com o objetivo de ampliar e desafiar a expressão e comunicação de


imagens, idéias, pensamentos e sentimentos pela forma singular da expres-
são corporal e escrita, surgiu em 2002 o Grupo de Teatro “BRASIL EM
CENA”. Uma das integrantes do grupo, Rochelli Carlet da Costa, aluna
de 2000 a 2006,, comenta como eram os encontros, a atuação e a interação
entre os integrantes:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 255

“As aulas eram aos sábados, monitorados pelo professor


Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida e recebíamos várias
visitas de profissionais de Teatro, que ministravam
Workshops. Normalmente começávamos com algumas ati-
vidades de alongamento, depois exercícios de voz, de corpo
e improvisação. Participamos em 2003 do Projeto “Conhe-
cer”, desenvolvido pela UNESP em parceria com as esco-
las, com o tema “Uso do álcool e suas conseqüências” e
fomos classificados para a fase final em Rio Claro, con-
quistando o segundo lugar na categoria “esquete”. Todo
figurino e cenário era feito pela própria turma, na própria
escola. Foi um tempo que deixou saudades, pois não eram
momentos em que vínhamos obrigados, eram realmente mo-
mentos de aprendizagem, satisfação, amizade e de solidari-
edade entre o grupo.”

Judô. Professor Nelson Leme da Silva Júnior, ao centro ajoelhado, e sua turma de alunos, 2002.
256 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

A fim de despertar o aluno para a importância da disciplina e o


interesse pelo esporte, surge em 04 de março de 2002, através de uma inici-
ativa voluntária o projeto ”Judô é vida, vida é disciplina”, orientado pelo
professor de Educação Física e vice-diretor na época, Nelson Leme da
Silva Júnior.

Fanfarra da Escola “BRASIL” durante desfile “7 de Setembro”, 2005.

A fanfarra do Grupo Escolar “BRASIL” teve suas atividades inici-


adas no ano de 1977, e atualmente é um dos orgulhos da escola. Há muitos
anos vem representando este educandário no desfile de “7 de Setembro”.
Além da tradicional apresentação no desfile de “7 de setembro” a fanfarra
também participa de campeonatos de bandas e fanfarras.
Atualmente, sob o comando de Carlos Luiz Costa Barbosa, Danilo
Pereira Borges, Henrique Augusto Basílio, Marcela da Cruz Oliveira e
Paulo Henrique Francisco, a fanfarra conquistou este ano, 2007, o tercei-
ro lugar na categoria “percussão”, mesmo apesar do pouco tempo de en-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 257

saio. É uma competição difícil, pois são muitos os jurados e seus critérios
de julgamento.
Os instrutores fazem de cada ensaio uma apresentação, mas também
descontraindo um pouco. Este ano a fanfarra tem um grupo mais jovem
com a sua maioria de alunos entre 11 e 15 anos, contando também com
alunos entre 17 e 18 anos. O grupo é pequeno, unido e harmônico. Em
momento futuro seu instrutor planeja abrir uma oficina musical para con-
tinuar as participações em competições buscando um nível maior de seus
alunos.

“Eventos de que participei e outros a que assisti foram não


poucos, dentre os quais as exposições artísticas e científico-
culturais, apresentações de canto, dança e teatro, saraus
de poesia, em cuja iniciativa, organização e produção es-
tava lá a personalidade admirável do professor de Portu-
guês, Jorge Luís de Almeida, ainda moço, o qual não pode
ser esquecido. Havia também os jogos de interclasses e
interescolares, belas fanfarras. Cabe aqui uma homenagem
ao professor Oséias Constantino de Souza, de Filosofia, e
músico erudito, especialista em trompete, o qual, quando
de sua atuação como instrutor, imprimiu aos toques de
sua fanfarra, ou melhor, banda-fanfarra, um estilo rítmico
diferente, adaptando trechos eruditos. Merece elogios o
competente trompetista e instrutor Eliel Lúcio de Godoi,
hoje em Tangará da Serra, Mato Grosso, de muita sensibi-
lidade e versatilidade no comando da fanfarra da Escola
“BRASIL” por vários anos. Os professores Geraldo Assis
de Souza e Jaime Honorato, da Educação Física, figuras
alegres e competentes, são outras excelentes lembranças nes-
sa área. Falar em detalhes dos mestres e alunos seria maté-
ria para construir um grande livro que carrego em meu
interior.”(Jurandir Godoi Vitta, professor desde 1993 e
aposentado em 2003).
258 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Alunos da 6ª série do Ensino Fundamental em visita ao Museu Marinho de Santa Bárbara


D’Oeste, 1999.

Alunos da 8ª série do Ensino Fundamental no termas de “Águas de São Pedro”, durante


“Semana da Água”. À frente, da esquerda para a direita, em pé, Priscila França (1ª), Greyce
Prata Vieira (2ª); deitada, Jamile Jullie Severino, 2002.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 259

Tiago Fernando Valentim faz referências a algumas viagens e ex-


cursões de que participou enquanto foi aluno:

“Participei de várias excursões, fui duas vezes para o Hopi-


Hari e fui para São Paulo, no Ibirapuera participar de um
concerto da família junto com a escola. A escola, quando
premiada pelo bom desempenho no SARESP (Sistema de
Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo)
teve como um dos prêmios, uma viagem de quatro dias em
Campos do Jordão, e eu juntamente com outros alunos e
professores fomos indicados a participar desta viagem. Fui
várias vezes para o Ibirapuera em São Paulo participar de
eventos com a escola, que a própria Secretaria de Educação
e a Diretoria de Ensino da cidade indicava. A Escola “BRA-
SIL” era figurinha marcada e sempre participávamos, re-
presentando-a em excursões e outros projetos.”

Viagem a São Paulo, para cerimônia de premiação das escolas da rede estadual de ensino de melhores
desempenhos no SARESP, realizada no Ginásio do Ibirapuera (Ginásio Geraldo José de Almeida),
2001. Da esquerda para a direita; fileira posterior, Margarete Piva (1ª), Irme Magno Brasil (2ª),
Lucimara Bekman Pompeo (3ª), Tiago Fernando Valentim (4º); na fileira anterior, Marcia Sueli
Feltrin (1ª), Inês Aparecida Grego Lussier (2ª), Arthur Baccaran Júnior (3º), Marilene dos Santos (4ª)
e Selma Suely dos Santos Pintarelli (5ª).
260 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Excursão ao parque Hopi-Hari; 2002.

Em época de Copa do Mundo, os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental visitam o Estádio


Municipal “Major José Levy Sobrinho” o “Limeirão”, 2002.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 261

Excursão ao Parque “Hopi-Hari”. Momento pedagógico relativo à questão ambiental;


reciclagem, 2002.

Excursão ao Parque “Hopi-Hari”. Momento de diversão e entretenimento; alunos e pais de alunos,


curtindo grandes emoções. Da esquerda para a direita, Robson Martins de Oliveira (1º), Aparecida Ferreira
da Silva Carozini (2ª), Luciano Antonio da Silva (3º), Douglas Fernando de Oliveira (4º), 2003.
262 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Representantes da escola composto por alunos, professores, entre os quais o diretor Osvaldo
Assumpção Castro e pais que participaram do Programa “Viver Escola”, na TV Cultura, um
programa da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo em parceria com a Fundação Padre
Anchieta, gravado em 24 de outubro de 2003 e exibido em 02 de novembro de 2003. O programa
tem a finalidade de interagir as escolas, através de atividades envolvendo habilidades físicas,
cognitivas, artísticas e culturais. A Escola “BRASIL” provou saber trabalhar em equipe, consa-
grando-se campeã, 2003. Acervo da Escola “BRASIL”.

O corpo de gestão tende a administrar de forma democrática, articu-


la objetivos, metas, conteúdos, práticas pedagógicas, análise de resultados,
discussões sobre propostas de melhorias, não se esquecendo de que alunos e
profissionais são portadores de opinião própria e questionadores. E, du-
rante as primeiras reuniões de planejamento, além de ser discutido e elabo-
rado o projeto pedagógico, são definidos os professores membros de cada
comissão (pedagógica, de eventos, disciplinar, patrimônio e integração) que
juntamente com os demais integrantes que são alunos, possam discutir e
participar democraticamente das decisões.

“A essa equipe administrativa só tenho elogios e agrade-


cimentos. Uma equipe comprometida e competente que
conseguiu transformar a imagem de nossa escola. Antes,
uma escola sombria e atualmente, luminosa e transpa-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 263

rente. Rogo a Deus, em minhas orações, que cada um


deles continue iluminado, com saúde e perseverante nos
seus objetivos. Assim tornando possível a todos os inte-
ressados a realização de um trabalho prazeroso rumo ao
sucesso da escola.” (Maria Regina Drago Ferreira
Camarini, professora desde 1994 e aposentada em 2003 e
novamente efetiva desde 2004).

Para a boa convivência entre alunos e escola, profissionais e escola, são


estabelecidas regras de conduta para os alunos e regras de convivência para os
profissionais, como também, a realização de uma política de boa vizinhança
em relação aos moradores e estabelecimentos comerciais ao redor da instituição.
Os professores, coordenadores pedagógicos, trabalham juntamente
com a administração da escola com o objetivo de melhorar a qualidade
do trabalho docente, proporcionando um processo de ensino e aprendi-
zagem bem sucedido.
A Escola Estadual “Brasil” desenvolve um trabalho pedagógico
coletivo, de tal modo que consegue articular as avaliações internas e exter-
nas. Os cuidados com a avaliação permanente dos processos educacionais
permitem ao professor redirecionar a sua prática e propiciar outros meios
para que o aluno compreenda, produzindo conhecimento.
O processo de ensino e aprendizagem contempla conteúdos signifi-
cativos para o aluno, para a sociedade e para a época, valorizando e esti-
mulando a criatividade por meio da integração das diversas disciplinas e os
seus campos de atuação.
Os órgãos colegiados como o Conselho de Classe e Série, Conselho
de Escola, Associação de Pais e Mestres e Grêmio Estudantil, com apoio
de outros seguimentos da escola como a “Rádio Brasil” e seu vereador
júnior, participam da gestão escolar, colaborando com a escola para
atingir os objetivos educacionais, representando os interesses da comu-
nidade e mobilizando recursos para melhoria do ensino e assistência ao
aluno e promovendo festas e demais eventos como exposições, desfile
cívico, campanhas e outros.
264 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Grêmio Estudantil “Professora Irene Alves de Toledo Lima”, 2006. Da esquerda para a direita,
Maxsuel da Silva de Oliveira, Rocheli Carlet da Costa, Vitória Regina Pertille, Gisele Cristina de
Carvalho Souza e Jonatas Totti de Morais.

A gestão do Grêmio Estudantil é de um ano. Portanto, a cada ano


um novo grupo, integrado por alunos, é eleito para trabalhar em prol dos
estudantes e da escola. O grêmio, geralmente é composto por alunos líderes,
empreendedores e com vontade de trabalhar. Muitas atividades desenvol-
vidas pela escola são realizadas por iniciativa do próprio Grêmio Estudan-
til e fornece suporte a outras atividades desenvolvidas em conjunto com a
escola. Menções a respeito das campanhas, eleições e atuação do grêmio
são feitas por um ex-integrante:

“A primeira vez que participei do Grêmio Estudantil foi


em 1998. Tentamos entrar com uma chapa, mas como não
havia muita expressão e não estava familiarizado com essa
questão política, participamos, mas perdemos. Já no ano
2000 voltamos com tudo, junto com a rádio “Brasil” for-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 265

mamos um Grêmio e foi uma revolução na escola, pois


conseguimos juntar todo mundo que estava a fim de tra-
balhar numa chapa só, que na época se chamava Mega-
fusão. Havia mais ou menos de 10 a 15 chapas e consegui-
mos sentar e conversar com o pessoal e unimos as forças,
formando um único grêmio. Lógico que havia outros con-
correntes, mas conseguimos diminuir de 10 a 15 para 3 a 4
concorrentes e conseguimos concentrar nossa força numa
chapa só e ganhamos a eleição numa vantagem de mais de
1000 votos que dava até para eleger um vereador aqui na
cidade. Fomos eleitos e na primeira chapa Mega-fusão fui
o presidente e a já tínhamos uma considerável aceitação
pelos alunos, pois fui vereador Junior, fazia parte do Con-
selho de Escola e era locutor da rádio, então eu era mais
conhecido que “nota de R$ 1,00” na escola. Mas o pessoal
realmente gostava da gente, pois estávamos dispostos a tra-
balhar. Falamos com a Dona Solange Isabel da Silva
Ragiotto, que era vice-diretora, e ela confiava em nosso
trabalho e dava carta branca para as decisões do Grêmio e
por ela gostar de nosso trabalho nunca a decepcionamos.”
(Tiago Fernando Valentim, aluno de 1992 a 2002).
266 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Jogos interclasses, 2001.

“Fizemos aqui na escola vários projetos, desde campanha


de latinhas, campanha do agasalho, que era de praxe da
escola e campanhas em que passávamos nas salas arreca-
dando dinheiro para entidades e organizávamos os eventos
internos da escola; fizemos o Halloween, o interclasses, que,
foi um dos mais organizados interclasses da escola, pois
fiquei 11 anos aqui e, realmente, o Grêmio assumiu e pelo
fato de sermos alunos, o interesse foi muito grande. Conse-
guimos fazer um campeonato diferenciado, pois, geralmen-
te, o campeonato interclasses era feito mata-mata, quem
perdia estava fora. Todos jogavam contra todos e tínhamos
uma freqüência da escola maior e todos vinham para a
escola, não era só quem iria jogar. Todos tinham jogo todos
os dias. Jogavam futebol, voleibol, jogo misto (meninas e
meninos), futebol feminino, xadrez, dama, pingue-pongue.
Era um interclasses em que conseguíamos trazer todos os
alunos para a escola. Limpamos e ativamos os vestiários
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 267

que, antigamente, eram depósitos de carteiras e os alunos


ficavam nas quadras durante tempo integral. Improvisa-
mos um lugar que tinha água, sombra, banheiro, tudo lá
embaixo, sem a necessidade de subir. O interessante é que
foi um interclasses muito participativo, sem confusão e
não havia envolvimento direto de professores. Os professo-
res nos ajudavam, professores até de outras disciplinas, não
só de Educação Física, e os que nos ajudavam eram pro-
fessores que faziam parte da turma e que gostava do grê-
mio e realmente fizemos um bom trabalho naquele ano.
Além disso, o grêmio participava de gincanas, semana da
Pátria e até trabalhos voltados à parte física da escola.
Chegamos a trocar privada do banheiro, pintar portas, pintar
lousa, arrumar carteiras, limpávamos a frente da escola,
organizamos os aniversários da escola e outros eventos. O
Grêmio era muito ativo. Depois saí da presidência do grê-
mio no 2ºcolegial e como não poderia me candidatar nova-
mente porque estava na série final, no 3ºcolegial, indica-
mos um outro aluno, o Rafael Diego Martins dos Santos e
fiquei como orador e conseguimos eleger novamente a cha-
pa, com novos integrantes e o Rafael desempenhou um
bom trabalho. Nas gestões que atuamos no grêmio, éramos
muito ativos, gostávamos de participar das decisões da es-
cola e acabamos misturando o útil ao agradável. Tínhamos
a rádio, que era a sensação da escola, a aceitação pelos
alunos e o apoio dos professores que nos auxiliavam. Até
as campanhas eram muito interessantes, fazíamos cartazes
e esparramávamos pelos corredores e na época das eleições
ficávamos o dia todo na escola acompanhando, fazendo
boca de urna e era algo com que os alunos se envolviam.”
(Tiago Fernando Valentim, aluno de 1992 a 2002).
268 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“O Grêmio Escolar foi alvo de um envolvimento de profes-


sores e alunos, na busca de sua representatividade, onde as
instâncias da escola, como seu Conselho, eram meios para
solucionar emblemáticos problemas com os alunos; como
exemplo tivemos a discussão sobre o uso de bermudas pelos
alunos, conquista desta época.” (Nelson Baptista Gonçal-
ves Júnior, professor desde 1990).

Rádio “BRASIL”. Da direita para a esquerda, Mikaella Pintarelli (1ª), Lucimara Bekman
Pompeo (2ª), Tiago Fernando Valentim (3º), 2002.

A rádio “BRASIL” foi um projeto inovador que surgiu a partir da


iniciativa dos próprios alunos. Além do caráter informativo, de entreteni-
mento e cultura desenvolvido pela emissora, ela proporciona apoio e su-
porte para outras atividades desenvolvidas pela escola. Tiago Fernando
Valentim, ex-aluno e um dos fundadores da rádio na escola, comenta toda
a história dela, desde a sua criação, como também as atividades por ela
desenvolvidas e a influência deste projeto para sua vida profissional:
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 269

“A idéia de criar a rádio surgiu em 2000, quando eu estava


no grêmio da escola. Inicialmente esta não tinha nada de
material, equipamentos de som, somente um amplificador
e um equalizador. Usávamos no intervalo, gostamos e le-
vamos a idéia para a direção, na época eram a Dona Ruth
Zucolotto da Silva, a Dona Solange Isabel da Silva
Ragiotto e o Sr. Arthur Baccaram Junior os vice-diretores,
que aprovaram. Gostaram e acreditaram na idéia, começa-
mos com som no intervalo, som no palco, algo simples, em
seguida pensamos numa maneira junto com a professora
coordenadora da época, Dona Márcia Sueli Feltrin e sur-
giu a idéia de criar a rádio e iniciamos com o livro-ouro,
passando-o nas lojas, pedindo colaboração para a escola e
quem dava, assinava e deixava um cartãozinho e tínha-
mos o compromisso em divulgar através da própria rádio
aos mais de 2000 alunos, era um público grande e uma
escola central. Começamos a juntar dinheiro nesse livro-
ouro, porém não o suficiente para começar com o sistema
interno de som, que denominamos de rádio.. Após fechar
esse livro-ouro, pois não havia mais lojas para pedirmos,
surgiu a idéia de montar uma barraca de pastéis. Alguns
pais e outros alunos ajudaram e começamos a vender pas-
téis. A primeira vez foi na praça do Museu, no centro e
tivemos problema com a fiscalização e depois trouxemos a
barraca para a frente da escola, próximo ao portão de saída
e conseguimos juntar R$ 500,00, já tinha R$ 200,00 de
livro-ouro mais R$ 300,00 de pastéis. Tudo depositado na
conta da escola, tudo certinho, o dinheiro entrou e saiu
para reverter em equipamentos. Passamos, praticamente,
todas as férias de julho e finais de semana montando equi-
pamentos com pais de alunos que nos ajudavam e os pró-
prios alunos, para não ter custo de mão de obra, pois tí-
nhamos o dinheiro contado. Começamos a rádio ”BRASIL”
270 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

dia 1º de agosto de 2000, sendo o dia de retorno após as


férias e deu aquele impacto nos alunos que nunca haviam
visto um sistema interno de som dentro da escola e começa-
mos com seis caixinhas e um equalizador. Era algo sim-
ples, pouco equipamento, microfone, rádio e som ruins.
Com o passar do tempo fomos progredindo. A rádio tinha a
participação direta dos alunos e a partir desse ano criamos
uma programação. Fiquei na rádio por dois anos e meio,
foi o tempo que estava no 1º colegial, na metade do 1º cole-
gial, todo 2º e 3º colegial na rádio. Funcionávamos em dois
períodos, da manhã e da tarde, sendo que de manhã, na
abertura do período falávamos noticias do jornal da cidade
“Gazeta de Limeira”, e na hora do intervalo músicas e abrí-
amos espaço para recados aos alunos. Ao longo desses dois
anos e meio, houve outros programas com professores, que
faziam programas no intervalo: o professor Nelson Baptista
Gonçalves Junior, de Geografia, tinha programa à tarde, a
professora Elaine de Assis Asbahl Toledo, de Biologia, ti-
nha programa de manhã. Não tínhamos como medir audi-
ência, mas os alunos gostavam do sistema interno, pois
depois eu ia para a sala de aula e ouvia os comentários dos
colegas. Atingimos um público de muitos alunos, muito
mais do que uma rádio comunitária atinge hoje e na parte
da tarde promovíamos gincanas com o pessoal, desde “pas-
sa ou repassa”, “qual é a música?”, era uma coisa que real-
mente agitava o intervalo. Entramos aqui com meia dúzia
de caixinhas, equipamento muito simples e, quando saí-
mos daqui, a rádio já havia crescido muito, contando com
quase 30 caixinhas de som, triplicou o tamanho da rádio.
O equipamento era bom, com microfones sem fio, microfo-
ne auricular e microfone de lapela, caixas de som espalha-
das por quase todo o pátio, até tivemos problemas com vi-
zinhos da escola, pois o som era realmente muito bom, atin-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 271

gia toda a vizinhança da escola. Então, investimos muito


nessa rádio, tivemos o apoio muito grande da direção da
escola, houve uma receptividade muito boa pelos alunos.
Junto com a rádio tivemos o “Bazar Brasil”, que foi uma
idéia da professora Solange Isabel da Silva Ragiotto, de
Matemática, em que no intervalo revendíamos doces, ba-
las e com esse dinheiro fazíamos a manutenção. Quando
chegou uma boa verba do Estado, o Sr. Nelson Leme da
Silva Junior, vice-diretor, investiu no projeto e a rádio se
desenvolveu. O sistema interno de som funcionava diaria-
mente e tinha capacidade de cobrir jogos e fazer entrevistas
em qualquer ponto da escola, conseguíamos fazer música e
som de qualidade e tinha uma participação direta dos alu-
nos. Somente os alunos participavam, tanto na questão de
organização, locução, administração. Muita gente marcou
a rádio “BRASIL” nessa época. Depois que saí de lá, con-
tinuei, mas devido à reforma que houve em 2004, infeliz-
mente, perdemos uma boa parte dos equipamentos, muitos
equipamentos acabaram se perdendo. Não sei como ela
funciona hoje, mas, realmente em 2002, quando saímos de
lá, tínhamos uma das melhores rádios escolares da cidade,
uma das únicas, uma das primeiras e foi modelo para ou-
tras escolas. Muitas Escolas Estaduais: “Professor Gabriel
Pozzi”, “Professor Antonio Perches Lordello” e “Professor
Ely de Almeida Campos” vieram aqui para conhecer a rá-
dio “BRASIL” e sediamos alguns festivais de música aqui
na escola. A nossa rádio comportava bandas no palco, en-
fim, todo equipamento. Semana da Pátria, tudo era feito
pela rádio “BRASIL”. Cuidávamos da rádio com muito
carinho, vínhamos sempre mantendo tudo em ordem, bem
conservado e funcionando. Cobrimos interclasses em 2000,
2001 e 2002. A rádio tinha a capacidade de levar todo o
equipamento para a lateral da quadra, fazíamos uma cabi-
272 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

ne onde falávamos os resultados dos jogos e tocávamos


música o dia todo. O interclasses era organizado pelo Grê-
mio Estudantil, fazíamos brincadeiras interativas e tínha-
mos um contato direto com todos os alunos e até narramos
uma final de jogo. A rádio, no período de jogos, era prati-
camente integral. Chegávamos às 6:30 horas e saíamos às
19 horas, mas com uma satisfação enorme em estar fazen-
do esse trabalho. Adorávamos ir à escola, fazíamos a rádio
e trabalhávamos em prol da própria rádio, era outro mun-
do. Esse nosso projeto, quando começamos em 2000 até
2002, levou a um crescimento absurdo e em momento al-
gum abandonamos a rádio, muito pelo contrário, a quali-
dade dela só cresceu. Encontrei muitos colegas que estão
nesta área que estou trabalhando, o jornalismo, que passa-
ram pela rádio “BRASIL”. Isso foi uma escola, tanto no
sentido escola mesmo, quanto no preparo para a vida. Es-
tou nessa área e devo muito à rádio “BRASIL”, tanto em
questão de locução que fazíamos, quanto de aprender a
nos comunicarmos com o público; com e muitos quebra-
ram a timidez participando dos programas da rádio “BRA-
SIL”.”
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 273

Sessão da Câmara Júnior, 2002. Da esquerda para a direita, Rafael Diego Martins dos Santos,
vereador júnior da Escola “BRASIL”. Acervo da E. E. “BRASIL”

Desde a implantação do projeto Vereador Júnior na cidade, a Esco-


la “BRASIL” teve como vereadores juniores: Tiago Fernando Valentim
(2000), Rafael Diego Martins dos Santos (2002), Fernanda Cristina Garcia
Santicioli (2003), Carla Rafaela Garcia Santicioli (2004), Damiane Cristina
Marques Ramos (2005), Mayara Christini da Silva Costa (2006) e Ayla
Mikaelly de Lima (2007).

“A primeira vez que houve esse projeto na cidade foi em


1998 e participaram vários candidatos, inclusive eu. Esta-
va na 7ª série e entrei para disputar, pois era algo novo e
quem organizava na época era o professor Luís Antonio
Pinto, de Matemática e a professora Rosa Maria Bombini,
de História. Fui para o 2º turno, mas perdi por 2 votos no
1 º turno para o 1º colocado. Fomos eu e o Vinicius Pente-
ado para o 2º turno e consegui dar uma virada. Ganhei no
2º turno, mas o número de votos não foi suficiente para
274 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

entrar no 1º ano, pois participavam todas as escolas da ci-


dade e seria necessário uma grande porcentagem de votos
para assumir o vereador júnior e nós não conseguimos essa
porcentagem, pois ficamos com mais de 60% dos votos e
chegaram a ser baixos diante de outras escolas. No ano de
1999 me candidatei novamente a vereador júnior e já na 8ª
série, conhecendo um pouco mais o projeto e um pouco
mais experiente, trabalhei bastante. Formamos uma equi-
pe forte para tentar ganhar e a escola toda estava envolvi-
da nessa questão. Este período marcou muito, pois lembro
até o número de votos que tive, vencendo o 1º turno com
838 votos e a 2ª colocada ficou com 37 votos. Fiquei com
801 votos na frente da 2ª colocada, chegando a quase 90%
dos votos da escola, eram quase 900 votos, pois era apenas
o Ensino Fundamental que participava. Fui o vereador
mais votado da cidade, pois eram duas meninas na minha
frente e o próximo era eu, o 3º e das escolas estaduais fui o
mais votado, entrando com uma margem boa e assumi o 1º
vereador júnior da escola. O professor Luís nos orientava
sempre, desenvolveu um grupo vinculado ao projeto vere-
ador júnior e esse grupo visitava as escolas e a Escola “BRA-
SIL” era sempre sede e referência para reuniões extraordi-
nárias da Câmara Júnior. Na Câmara Júnior, atuando,
tive o vereador César Cortez como padrinho. Apresentei
vários projetos: alambrados para a escola, o aumento do
efetivo da guarda municipal na praça em frente à Escola
“BRASIL” e outros projetos com um senso comunitário,
pois o vereador júnior tinha essa função, de atender às ne-
cessidades básicas. O projeto funcionava da seguinte ma-
neira: mandávamos o projeto para votação na Câmara
Júnior, que era aprovado ou reprovado e passava para a
Câmara dos Vereadores e eles votavam novamente o proje-
to, assim este poderia ser oficializado se fosse sancionado
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 275

pelo prefeito. Fiquei um ano como vereador júnior e tive-


mos a posse no Teatro “Vitória”. Foi um momento muito
legal e sempre, uma vez por mês, havia sessão e cheguei a
ser presidente da Câmara Junior no 2º semestre do manda-
to. Dirigi algumas sessões dentro da Câmara Júnior como
presidente da mesa e representando a Escola “BRASIL”.
Tive projetos muito bons que acabaram não tendo prosse-
guimento, pois ficavam barrados na gaveta do meu padri-
nho César Cortez. Enfim, tive boa uma gestão e no 1º cole-
gial não pude mais participar e posteriormente investimos
no Rafael Diego Martins dos Santos, que já era partici-
pante do grêmio. O Rafael também venceu, conseguiu en-
trar e fez um bom trabalho e no ano seguinte investimos
na candidata Fernanda Cristina Garcia Santicioli, que tam-
bém entrou. Era bom, porque trabalhávamos sempre em
torno de pessoas boas, que gostavam de trabalhar e não
havia desunião, nos uníamos e conseguíamos. Ser verea-
dor júnior foi uma experiência muito boa, por ter sido o
primeiro presidente da Câmara Júnior que era de escola
estadual, da Escola “BRASIL”, pela consecução de vários
projetos de crescimento pessoal e da divulgação do nome de
nossa escola entre todas as escolas que participavam do
projeto.” (Tiago Fernando Valentim, aluno de 1992 a 2002).

A Biblioteca e a Sala Ambiente de Informática são utilizados para


estimular a leitura e a pesquisa, apoiando a promoção cultural e facili-
tando a aprendizagem do aluno, bem como incluí-lo na era digital, pro-
porcionando-lhe significativa evolução nas condições de aquisição dos
conhecimentos.
276 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Biblioteca “José Bento Monteiro Lobato” e turma de alunos da 2ª série 3, em momento de leitura,
2005.

A Biblioteca da Escola “BRASIL” foi inaugurada em 1984 e ini-


cialmente funcionava em uma das salas do porão. Atualmente ela ocupa
uma sala ampla situada no prédio novo e possui mais de 15 mil livros,
sendo um dos maiores acervos da cidade. A biblioteca possui duas bibli-
otecárias (professoras readaptadas executando essa função) que se revesam,
proporcionando atendimento aos alunos nos três períodos de funciona-
mento da escola. A sala possui várias mesas com cadeiras disponíveis
para momentos de leitura e pesquisa.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 277

Sala Ambiente de Informática, 2006. Murilo Bragotto Barros, 1oaluno à esquerda.

A Sala Ambiente de Informática foi implantada em 1998, durante a


gestão do então governador Mário Covas.

“Em 1998 tivemos o início da SAI (Sala Ambiente de


Informática) com a chegada de dez computadores. Nesse
ano foi tentada a implementação de salas ambientes, entre-
tanto, a idéia não seguiu adiante devido ao grande número
de classes que a escola abrigava.” (Ruth Zucolotto da Sil-
va, diretora de 1987 a 2002).

Este projeto proporcionou a inclusão digital para milhares de alu-


nos no decorrer desses anos. A Sala pode ser usada pelo professor, junta-
mente com seus alunos ou apenas pelos alunos. O uso da “SAI” (Sala
Ambiente de Informática) requer agendamento, para que o número de usu-
278 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

ários esteja sempre compatível com o número de máquinas e, também,


para que os monitores possam se programar.
Murilo Bragotto Barros, aluno da 3ª série do Ensino Médio em 2007,
já atuou como monitor na sala de informática e descreve como foi o traba-
lho que desenvolveu:

“(...) fiz um trabalho voluntário. Eu e mais quatro alu-


nos voluntários fomos monitores da SAI (Sala Ambiente
de Informática) em 2006; nós nos revezávamos em três
turnos: manhã, tarde e noite, de segunda-feira a sexta-
feira. Dessa forma esse trabalho possibilitou que os de-
mais alunos da E.E. “BRASIL” pudessem fazer suas pes-
quisas escolares e individuais, terem uma noção maior na
área de informática, manuseando o computador com mais
segurança. A meu ver, esse projeto de “Aluno Voluntá-
rio”, além de auxiliar a escola no desenvolvimento desse
trabalho, o voluntário também é valorizado, tendo horas
de serviço que valem como experiência na hora de procu-
rar emprego, assim desempenhei meu trabalho da melhor
forma possível, pois ele me engrandeceu tanto como pro-
fissional como pessoa.”

Freqüentemente a escola realiza campanhas de cunho social. Ela


promove palestras abordando os assuntos indicados pela atualidade. Orga-
niza programas de conscientização dos alunos quanto a doenças sexual-
mente transmissíveis, quanto ao prejuízo do alcoolismo, quanto ao cuida-
do com a saúde e a higiene.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 279

Projeto “Amo minha escola, Reciclo em casa”. Venda de materiais recicláveis


coletados mediante o projeto, 2006.

O projeto “Amo minha escola, Reciclo em casa”, foi idealizado em


2005 pelo aluno Maxsuel da Silva de Oliveira e compondo a equipe inicial
de voluntários os alunos Joyce Luana da Silva Santos, David Henrique
de Oliveira, Marisa Rodrigues da Rocha, William Ferreira Jacinto, Jonatas
Totti de Morais e Aline Rotcheli de Morais. O projeto é de caráter ambiental
e social, pois além da coleta de materiais e conscientização quanto à impor-
tância da reciclagem, são arrecadados alimentos e materiais de higiene em
eventos promovidos como o “Desfile de moda reciclável” e “Feira de mate-
riais customizados”, que, posteriormente, são doados a instituições
assistenciais.
280 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Desfile de moda reciclável, 2006.

A seguir, Maxsuel da Silva de Oliveira, ex-aluno e voluntário do


projeto, relata sua chegada à Escola “BRASIL” e todo o trabalho desen-
volvido nesse curto período de tempo:

“No final de 2004 minha família mudou-se para Limeira e


em 2005, iniciei o 2º ano do Ensino Médio na Escola Esta-
dual “BRASIL”, no início foi difícil, e, por não conhecer
ninguém, tive medo e me sentia preso, mas com o decorrer
do tempo conquistei novas amizades e conheci melhor os
professores. Particularmente, me realizei demais na Escola
“BRASIL”, aluno novo, escola nova, entretanto isso não
foi empecilho para desenvolver meus objetivos. Em 2006,
na 3ª série do Ensino Médio, fui eleito representante de
sala, e no mês de março nasceu o projeto “Amo Minha
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 281

Escola, Reciclo em Casa”, sendo um dos projetos em desen-


volvimento de maior repercussão em Limeira e região, co-
nhecido pela sua seriedade e competência em tratar da ques-
tão ambiental que vivemos. Como protagonista juvenil,
fomentei o espaço para outros projetos e despertei o inte-
resse dos alunos em se expressarem mais na escola, colocan-
do à tona seus projetos, ou seja, suas idéias. Fizemos o 1º
Concurso cultural de confecções de cestos de lixo, 1º Con-
curso de frases de conscientização ambiental, desenvolven-
do a conscientização e a importância da higienização das
salas de aulas para um ensino de melhor qualidade. No
mês de junho recebi o convite para ser diretor social do
Grêmio Estudantil; lisonjeado, aceitei, com o objetivo de
realizar campanhas sociais que interagissem os alunos e a
comunidade, como a campanha de arrecadação de alimen-
tos não perecíveis e produtos de higiene pessoal em prol do
Asilo João Kühl Filho. Pela Escola “BRASIL” pude rece-
ber o prêmio Talento Jovem 2006 por meus trabalhos exer-
cidos na Escola “BRASIL” e ser indicado ao Troféu
Fumagalli 2007. Ser voluntário é se realizar a cada dia, é
renovar a vontade de viver intensamente, e o mais impor-
tante é se doar ao próximo, sem qualquer vinculo financei-
ro, o maior pagamento é ver o produto final, ou seja, a
natureza feliz, o idoso com comida na mesa, com saúde e
os jovens felizes. A Escola “BRASIL” foi parte do meu
passado, é realidade do meu presente, e estará sempre no
meu coração, sendo levada para sempre, e sempre estarei
levando meus projetos para o futuro, como a semente que
plantei e que estou colhendo agora.”
282 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Este projeto está em constante crescimento e consegue a cada dia


atrair mais voluntários.

“No ano de 2006, iniciou-se na escola um projeto denomi-


nado “Amo minha Escola, Reciclo em Casa”, elaborado por
Maxsuel da Silva Oliveira, que o considerava muito im-
portante, mas nunca tive vontade de participar. Atual-
mente, em 2007, disse à minha amiga, Joyce Luana da Sil-
va Santos, que estudou comigo e participava do projeto,
que eu também gostaria de fazer parte da equipe. Fui aceito
e comecei a freqüentar todos os dias a escola para trabalhar
voluntariamente.” (Milton Luiz Milaré, aluno de 2004 a
2006 e funcionário desde 2007).

Há atividades voltadas para a formação do espírito cívico nas ocasi-


ões propícias para o fortalecimento do patriotismo. Através de eventos
como “desfile de 7 de setembro” ou às comemorações sobre as mais diversas
datas de nossa história vinculamos o projeto pedagógico com a construção
do compromisso pelo nosso país.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 283

Desfile cívico “7 de Setembro”. Escola “BRASIL” em desfile pela rua Dr. Trajano de Barros
Camargo, 2006.

Na cidade de Limeira é tradição a realização de desfile cívico em 7 de


setembro. A Escola “BRASIL”, além de ser a Unidade Escolar de Ensino
Público mais antiga em funcionamento na cidade é uma das escolas com
tradição em participação no desfile cívico. Alguns alunos comentam suas
participações no desfile:

“No primeiro desfile cívico de que participamos, usamos


uma blusa verde e uma calça branca. Lembro que nin-
guém queria desfilar com aquela roupa. Foi uma briga
com a direção da escola. Acredito que naquela época foi a
Escola “BRASIL” que iniciou com esse processo de desfi-
le, um uniforme com roupas de cetim e todos muito cisma-
dos, mas no fim acabou dando certo.” (Antonio Carlos de
Oliveira, aluno, de 1972 a 1979).
284 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Fiquei mais de 10 anos desfilando no dia “7 de setembro”


pela escola e um ano o grêmio até comandou os ensaios na
rua; saíamos com o pessoal, com apoio da guarda munici-
pal e fazíamos a volta nos quarteirões próximos à escola,
foi um ano muito legal. Mesmo depois que saí da escola,
em 2003, vim participar do desfile.” (Tiago Fernando
Valentim, aluno de 1992 a 2002).

A interação de seus alunos e de toda a comunidade escolar vem


ocorrendo através da realização de muitas festas, como acontece no
momento de comemorar o “aniversário da escola”, nos atos solenes de
“formatura”, na “festa junina” e em tantas outras modalidades de con-
fraternização.

Aniversário de 70 anos da Escola “BRASlL”, 2005.


Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 285

A Escola “BRASIL” realizou uma grande festa em comemoração


aos seus 70 anos de instalação. Foram convidados para a solenidade e co-
quetel além de vários representantes e autoridades do poder público muni-
cipal, ex-professores e ex-alunos, entre eles uma ex-aluna e ex-professora
comenta:

“(...) fui convidada a comparecer a uma solenidade para


comemorar os setenta anos do Grupo “BRASIL”. Com-
pareci com muito orgulho e assisti às festividades, par-
ticipando também do coquetel. Foi tudo muito lindo e
me senti parte daquele estabelecimento.” (Rosa Maria
Tetzner Giordano, aluna de 1954 a 1957 e professora de
1965 a 1970).

Professores e funcionários em momento de confraternização, 2002.


286 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Formandos e família na Festa de Formatura no Ítalo Clube, 2006.

“Mais um ano começava, para muitos apenas um, para


nós o último. Estávamos na 3ª série do Ensino Médio,
sentindo um misto de alegria por estarmos concluindo e
tristeza por deixar para trás toda uma história. Ainda no
início do ano letivo, a professora responsável pela forma-
tura organizou uma comissão, escolhida pelos alunos.
Cada classe tinha seus representantes. A partir daí entra-
mos em ação. Dividimos-nos para arrecadar fundos para
os gastos da festa e cada comissão era responsável por
uma semana. Isso transcorreu durante todo o ano. Apro-
veitávamos os intervalos para vender bolos, bombons, tru-
fas, rifas, etc. Usávamos a criatividade. O ano passou
rápido. Alguns desistiram, muitos outros se interessaram.
Dias antes da formatura, tivemos um ensaio no local.
Tudo já estava preparado, aguardávamos ansiosos. Che-
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 287

gara, portanto, a tão esperada festa de formatura. Lá es-


tavam presentes nossos pais e amigos, todos nos olhando
com orgulho. Era a nossa noite! Tudo ocorreu bem; na
cerimônia e no jantar. Com tanta dedicação e carinho que
nossos professores tiveram, cada detalhe estava na mais
perfeita ordem. Ao fim, fomos embora. Cada um sabia
que naquele momento terminava uma fase de um impor-
tante ciclo. Daquele dia em diante, não os vi mais, mas
sei que todo esse processo foi tão especial para eles quan-
to para mim. Aconselho que todos vivam com intensida-
de cada momento, para que momentos como estes não se
percam com o passar do tempo.” (Louise Fernanda de
Oliveira, aluna de 2000 a 2001).

De todo o registro dessa história, empenhamo-nos primeiramente em


demonstrar a origem da escola e, posteriormente, o “porquê” de sua deno-
minação “BRASIL”. Certificando-nos de sua origem e das razões de seu
nome, concentramos nossos esforços em interrogá-la ao longo de todos esses
anos, a fim de apresentá-la a nós mesmos e aos demais colegas, alunos e a
toda sociedade limeirense.
Tínhamos como propósito principal compreender e conhecer a Esco-
la Estadual “BRASIL” de uma forma mais profunda. Agora temos todo o
histórico dessa instituição registrado em imagens ou na fala de seus sujei-
tos que vivenciaram cada momento e cada situação, desde seu nascimento,
como também ao longo de sua existência até os dias atuais. Se anterior-
mente não a conhecíamos suficientemente, hoje podemos afirmar que, além
de todas essas informações adquiridas, tornando-nos mais íntimos da esco-
la, aprendemos a admirá-la e a respeitá-la muito mais. O que antes era um
amor à primeira vista evoluiu para os vínculos mais duradouros e profun-
dos. Este vínculo tem componentes tão sólidos que desejamos nunca ter-
minar, pois constituímos, juntamente com a Escola “BRASIL”, uma apren-
dizagem de partilha na mais intensa reciprocidade, esta que se faz no inter-
288 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

câmbio de duas histórias, a minha de educador somada com a da escola.


Através da análise dos relatos e da interpretação das imagens, con-
cluímos que muitas foram as transformações ao longo desses anos, algu-
mas para melhor, outras para pior. A vida da escola se fez no movimento
de sua história. A intensidade para a abertura ao inédito do instante forta-
leceu as linhas de sua eficácia, enquanto que os gestos de resistências ao
incerto apontaram para a precariedade da experiência. Na soma total, a
escola veio se fazendo em meio a uma generosidade de entrega ao seu meio
e ao seu tempo.
Entretanto, diante de todas essas evidências, não podemos afirmar
quais foram o melhor e o pior períodos durante a existência do educandário,
apenas que são épocas diferentes, pois sua função, transcorridos os seus
setenta anos, não tem sido a mesma da atual.
Como pudemos observar através dos relatos apresentados, a escola
foi deixando de ser um local único e exclusivo de ensino e aprendizagem,
transformando-se em centro social. Muitas vezes deixava transparecer uma
vocação mais assistencialista. Outras vezes rompia limites e instigava ex-
periências de emancipação.
Anteriormente, muitas crianças queriam estudar e não podiam,
por falta de vagas ou pela necessidade de trabalhar, auxiliando o pai e
a mãe. Atualmente existem muitas vagas, porém nem todos vão para a
escola estudar. Alguns nela estão porque a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, nº. 9394/96 e o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente garantem o direito e instituíram a oferta do ensino como dever do
poder público. Há casos de pais que obrigam os filhos a irem para a
escola sem a compreensão do sentido da instituição para a vida deles.
Quando é assim, eles mostram que não têm mais alguma forma de con-
trole sobre os seus filhos, e preferem enviá-los para que a instituição de
ensino tome conta. Muitos alunos estão ali apenas para comer meren-
da, passear, brincar,... Há uma diversidade de interesses entre os alu-
nos e muitos deles não têm perspectiva de buscar uma qualidade de
vida melhor.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 289

Constituir o registro dos fatos dessa escola foi uma tarefa prazerosa,
porém nada simples. Devido à ausência de fontes bibliográficas, tivemos
que juntar a sua história que estava fragmentada como um quebra-cabeça
em que cada peça estava representada por fotos e relatos de cada um dos
integrantes desse jogo, e embora tenhamos juntado um grande número de
peças, o jogo continuará, pois esse jogo foi criado com uma peça a menos e
sempre ficará uma lacuna que representa os eventos que ainda estão por
virem. Certamente os leitores mobilizaram em suas memórias muitas cenas
dos acontecimentos desta escola que não apareceram neste nosso registro.
Assim, compreendemos o aspecto dinâmico do mosaico implicado no modo
de contar os sucessos de nossa escola. A mobilização das lembranças só
confirmam a vitalidade das experiências, a intensidade dos acontecimen-
tos, a nobreza da instituição.
A nobreza de nossa querida escola foi registrada com a sensibilidade
de um poeta na letra de seu hino:

“O nome da Pátria que ostentas,


Com grande nobreza,
Traduz com certeza
A cultura e o caráter da gente
Da bela Limeira,
Que tão altaneira
Forjou seu perfil
Nos bancos de ensino
Da Escola Brasil.”

E a alegria experimentada neste oficio de registrar uma historiografia


tão intensa só pode nos impulsionar para a declaração dos nossos mais
calorosos afetos e de nosso respeito por todos que com ela se compromete-
ram. O próprio hino nos oferece as palavras propícias para uma declaração
de amor deste feitio:
290 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

“Tu és uma Escola de encanto,


De idéias, de tanto valor,
De lutas sadias,
De nobres porfias, de luzes, fervor,
Pois fazes da graça infantil,
Da aventura do jovem,
Um hino de sonhos, de crença, de amor!”

Enfim, da Escola Estadual “BRASIL”, este nosso recanto singelo,


lançamos nossas vozes de aposta na entrega generosa de educadores, espa-
lhados por todo o Brasil, como que tecendo vínculos subterrâneos de cum-
plicidade e ousadia. E confirmamos esta nossa mais bela teimosia: a condi-
ção de educarmos num tempo rico em desafios!
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 291

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

Arquivo da Escola Estadual “BRASIL”, Limeira.

Arquivo da Prefeitura Municipal, Limeira.

Arquivo do Diário Oficial do Estado de São Paulo. IMESP: Imprensa


Oficial do Estado de São Paulo.

Arquivo do jornal “A Gazeta de Limeira”, Limeira.

Arquivo do jornal “O Limeirense”, Limeira.

Biblioteca Municipal “Professor João de Sousa Ferraz” , Limeira.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº. 8.069/90.


Brasília, DF: Senado, 1990.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº.


9.394/96. Brasília, DF: Senado, 1996.

BUSCH, Reinaldo Kuntz.. História de Limeira. Limeira: Prefeitura


Municipal, 1967.

Centro Municipal de Memória Histórica, Limeira.

Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XXIX. Rio deJaneiro:


IBGE, 1957.
292 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

Gazeta de Limeira. Suplemento histórico. Limeira Artes Gráficas:


1826-1980.

Guia de Limeira, nº. 05, ano III. Editorial Fiel Ltda: maio de 1976.

HEFLINGER JÚNIOR, José Eduardo (org). História da Justiça em


Limeira. Sociedade Pró-Memória de Limeira. Unigráfica, Limeira:
2000.

Limeira Ontem e Hoje. Documento histórico e estatístico de Limeira.


Editora Certa:1991.

Museu Histórico e Pedagógico “Major José Levy Sobrinho”, Limeira.

ORLANDI, Eni Puccinelli. “Efeitos do verbal sobre o não-verbal.” In


Rua – Revista do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade,
Março 1995 – nº.1, p.35-47. Campinas: UNICAMP, 1995.

Revista do Povo. Limeira: Papirus, julho e agosto, 1989.

Revista do povo. Limeira: CR Gráfica e Editora Ltda, junho 1997.

SOUZA, Tânia Conceição Clemente de. “A análise do não-verbal e os


usos da imagem nos meios de comunicação”. In Rua – Revista
do Núcleo de Desenvolvimento e Criatividade. Março 2001 – nº.
7, p. 65-94. Campinas: UNICAMP, 2001.
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 293

APOIO CULTURAL

MILTON FERRARI ROBERTO LUCATO


294 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida
Escola Estadual “Brasil”: Entre Memórias E Imagens 295

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296 Wilson Ricardo Antoniassi de Almeida

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