A Normalização Técnica na Indústria Brasileira

Sidney Eduardo Maciel dos Santos

Programa de Engenharia e Gestão Industrial
Universidade Gama Filho - UGF

Resumo
A normalização está presente em todos os setores da indústria, com aplicações nas mais diversas áreas de
conhecimento técnico e científico, com a finalidade principal de acrescentar qualidade e credibilidade ao produto
ou serviço oferecido ao mercado. Além disso, as normas técnicas tem o papel de abrir as fronteiras para esses
produtos e serviços criando dispositivos de aceitação por mercados regionais, internacionais ou globais. Através
da avaliação de publicações de entidades envolvidas com a normalização no Brasil e artigos publicados sobre o
assunto, esse artigo abordará em suas páginas as dimensões históricas e atuais dessa atividade no Brasil, onde
será possível entender o funcionamento básico de um sistema normativo, suas aplicações, benefícios e vantagens
de sua utilização.

Palavras-chave: normalização, normas técnicas, competitividade, indústria brasileira.

1 Introdução para essa prática as normas e regulamentos técnicos

Por definição, a normalização tem como
finalidade principal estabelecer, diante de situações
reais ou potenciais, diretrizes para utilização
comum e repetitiva em busca da obtenção do grau
ótimo em um dado contexto (IPQ, 2009). Mas não
se prendendo apenas a isto, a atividade de
normalização tem se tornado complexa e
abrangente levando a constantes mudanças
contextuais e alcançando uma gama diversa de
temas e assuntos, interrelacionados ou não, atuando
simultaneamente em campos nacionais e
internacionais, com articulações cada vez mais
complexas (CBN, 2009).
A normalização, vista como fator de
padronização e melhoria de processos produtivos, é
uma importante ferramenta utilizada pelas
indústrias a fim de alcançarem novos patamares de
qualidade e custos, tornando-se competitiva e
rentável e, também, um meio de alcançar novos
mercados, sejam internos ou externos, derrubando
as barreiras técnicas e mercadológicas existentes
até então.
Mas para a indústria de qualquer porte,
tornar-se competitiva e rentável é um fator
primordial, pois quanto maior sua capacidade de
diferenciação e maior a qualidade do seu produto
ou serviço, com custos equilibrados, maior será sua
aceitação pelo público consumidor, gerando uma
rentabilidade que lhe dê sustentabilidade e decrete
sua permanência em um mercado cada vez mais
competitivo.
Nessa ótica, torna-se fundamental que a
indústria se mantenha atualizada tecnologicamente
e que se torne apta a atender mercados cada vez
mais exigentes, tanto internos como externos,
alargando seus horizontes de perspectivas
mercadológicas e tendo como parte do ferramental
desenvolvidos pelos diversos setores da indústria
ou governo, seja em âmbitos nacional ou
internacional.
Quando falamos mercado globalizado
estamos falando em atender uma diversidade de
clientes em diferentes localidades e com diferentes
critérios de aceitação de um produto ou serviço e,
para atender esse mercado tão diversificado,
torna-se necessário criar uma padronização que
defina como um produto deve ser desenvolvido de
forma a atender às exigências de mercados dos
quatro continentes, fazendo com que seu produto
ou serviço esteja em conformidade com esses
mercados, abrangendo além de questões técnicas,
as questões sócio-ambientais e outras surgidas
recentemente (Figura 1).
Figura 1 - Objetivos Normativos para o Século XXI
(Fonte: IPQ, 2009)
Para esse fim foram criados sistemas de
classificação normativa que atendem desde as
necessidades internas de uma indústria até as
necessidades do mercado global. Sendo assim,
segundo a classificação adotada pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI) podemos utilizar de
normas internacionais que são normas surgidas de
acordos entre um grande número de nações e visam
padronizar produtos para o mercado global; normas
regionais que atendam a mercados comuns como
Europa e Mercosul; normas nacionais que atendam
ao mercado de uma nação e seja de comum acordo
entre as indústrias, governo e comunidade
científica; normas de associação que atendam a
entidades de um mesmo ramo de atuação; normas
de empresa e individuais que servem de orientação
para seus processos aquisitivos e produtivos,
podendo ter como base as normas anteriormente
citadas. A hierarquia das normas ser dá conforme
apresentado na Figura 2.
Figura 2 - Pirâmide de Normalização
(Fonte: RAGAZZI FILHO, 2000)
A necessidade de normalizar surgiu das
próprias necessidades humanas, cujas ferramentas e
processos possuíam similaridades (REGAZZI,
2000) e desde então vem evoluindo de forma a se
ajustar às demandas da sociedade atual, visando a
melhoria de desempenho e de características dos
produtos e serviços oferecidos ao mercado
consumidor.
A tendência mundial do ponto de vista
político é que a normalização seja utilizada como
base para a regulação de mercados. Porém, para
que os objetivos da normalização sejam alcançados,
todos as esferas envolvidas devem estar em
consonância. Setores públicos e privados, além da
comunidade científica devem estar de acordo de
que a experiência adquirida é determinante para
resultados promissores no futuro e que para isso
deve ser normalizada, tornando o conhecimento
explícito e disponível para que seja aplicado e
desenvolvido em novos processos.
Um sistema de normalização deve ser bem
fundamentado a fim de que se torne aplicável por
todos aqueles que o utilizarão, tendo uma base
genérica e não restritiva a ponto de tornar-se
impraticável e que seja descartado pelas partes
interessadas, as quais buscarão outros meios de
certificar qualitativamente seus produtos ou
serviços.
2 A Normalização Técnica na Indústria
Brasileira
O processo de normalização no Brasil teve
seu início em 1940 através da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), porém hoje essa
organização se dá através do Sistema Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(SINMETRO) o qual integra entidades públicas e a
iniciativa privada com a finalidade de dotar o país
de um sistema normativo capaz de levar à melhoria
da qualidade e produtividade e o desenvolvimento
nacional, fazendo frente a outros mercados, tendo
como premissas básicas a descentralização, maior
representatividade e geração de parcerias,
comprometimento e aumento da credibilidade de
produtos e serviços de produção nacional.
Nacionalmente o Brasil é representado
através do Comitê Brasileiro de Normalização
(CBN) o qual formula juntamente com os
representantes governamentais e da iniciativa
privada que constituem esse órgão a estratégia de
normalização a ser adotada pelo país. E, como
representantes em assuntos de foro internacional, o
país é representado pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(INMETRO) quando se trata de normalização de
caráter regulatório e pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) quando se trata de
normalização consensual.
A condução do processo de normalização no
Brasil se dá através de uma estratégia estabelecida e
atualizada constantemente, alinhando o cenário
local aos cenários externos, considerando fatores
econômicos, sociais e ambientais (CBN, 2009),
sendo todo esse processo implementado e
monitorado através do CBN, o qual realizará
periodicamente análise crítica das ações tomadas e
fará as revisões para melhoria do processo, quando
necessário, buscando sempre a melhor forma de
estar em consonância com os mercados locais e
externos e garantir a aplicabilidade dessa estratégia,
gerando resultados satisfatórios a todos os
envolvidos.
Os documentos normativos gerados, de
abrangência nacional, regional ou global, através do
consenso entre os diversos órgãos participantes do
processo será responsável por estabelecer regras,
diretrizes e características para produtos e
atividades específicas e seus resultados, devendo
essas serem cumpridas com a finalidade de elevar o
nível de homogeneidade entre os produtos e
serviços que são oferecidos ao público consumidor,
garantir a qualidade mínima desejada e derrubar as
barreiras técnicas e mercadológicas existentes
(MDIC, 2002), como por exemplo estabelecer que
um produto produzido no Brasil possua as mesmas
características e nível de qualidade de outro
produzido na Europa. Toda norma segue uma
sistemática composta por algumas etapas até que
seja disponibilizada ao mercado, podendo sofrer
algumas variações de acordo com o setor ou sua
abrangência. Nas Figuras 3 e 4 são apresentadas as
fases para elaboração de uma norma nacional
através da ABNT e uma norma Internacional
através da ISO.
Figura 3: Processo de Elaboração de Normas
Brasileiras (Fonte: ABNT, 2010)
Figura 4: Fases de Elaboração de uma Norma
Internacional (Fonte: IPQ, 2009)
Em uma economia de alta competitividade
como a que é vista nos dias de hoje, é necessário
que as indústrias se encaixem nos padrões exigidos
pelo mercado a fim de se firmarem como
fornecedores tanto local quanto global, dependendo
sempre da incorporação de novas tecnologias para a
produção e distribuição de seus produtos e serviços.
Neste cenário as normas técnicas tem papel
de grande valia, pois na descrição de seus objetivos
e benefícios existem determinantes que fazem com
que a normalização seja utilizada cada vez mais
como um meio de reduzir custos de produção e do
produto final, mas sem detrimento da qualidade.
Isso é possível, pois a utilização de recursos
(equipamentos, materiais e mão-de-obra) é
adequada às necessidades de produção, levando à
diminuição de desperdícios através da
uniformização da produção. Com a redução das
perdas e padronização de equipamentos e
componentes, tem-se também a diminuição da
variabilidade de produtos, o que facilita o
gerenciamento dos processos e eleva a qualidade
dos produtos.
É possível afirmar que empresas que se
destacaram nos últimos anos possuem
características de produção inovativa, rápida e
flexível (ACOSTA, 2007), tendo maior capacidade
de adaptação às mudanças do mercado, não
sofrendo grandes impactos como. Ou seja, através
da utilização de processos normativos é possível
gerar maior flexibilidade em seus processos
produtivos atendendo a demanda do mercado e
possibilitando mudanças necessárias para esse
atendimento.
A necessidade de a indústria participar do
processo de normalização técnica são provenientes
do interesse em se estabelecer comunicação
eficiente entre todas as etapas produtivas, firmando
sua posição tecnológica como padrão aos
concorrentes, possibilitando o acesso a novos
mercados através da ampliação da qualidade e
produtividade com grande margem de eficácia em
seus processos. Normalização é hoje primordial
para qualquer indústria que queira ganhar mercado
e se estabelecer como detentora de conhecimento e
tecnologia, pois esse processo faz com que a
indústria submeta sua forma de produção ao
mercado e o torne padrão aos demais concorrentes,
tendo o endosso de uma instituição normalizadora
que expandirá através do documento normativo
gerado as melhores práticas em processos
específicos.
As normas hoje são vistas como documentos
estratégicos no âmbito de uma indústria, onde são
registrados seu principais processos produtivos e
aquisitivos, podendo essas serem aplicadas
internamente (norma de empresa) ou, quando for o
caso, ser submetida a uma instituição
normalizadora que avaliará o documento (projeto
de norma) e, caso o aprove, o submeterá à consulta
pública.
Assim, uma indústria pode lançar ao
mercado seu padrão produtivo, sua forma de fazer e
ganhar vantagem competitiva por já estar habituado
a esse processo que para os demais dependerá de
adaptação e, pelo menos por algum tempo, será o
diferencial da empresa detentora da tecnologia
levada ao mercado. Porém, a indústria não deve se
acomodar, mas buscar novas formas de fazer, novos
métodos produtivos e inovar, sempre buscando a
diferenciação no mercado a fim de que se mantenha
no topo.
No Brasil, atualmente, as detentoras de
conhecimento em normalização são as indústrias de
grande porte, as quais submetem ao mercado
quantidades consideráveis de documentos para
submissão aos órgãos normalizadores, impondo
assim o seu padrão no mercado e determinando as
regras do mercado. Impondo seus padrões ao
mercado, outras indústrias de menor porte, muitas
vezes fornecedores destas maiores, buscam cada
vez mais padronizar seus processos produtivos
sempre na busca de redução de custos produtivos e
ganho de mercado, sendo esses dois dos principais
anseios da comunidade produtiva nacional, tendo
em vista que a carga tributária aplicada é parte
considerável da formação de preços em nosso país.
Dessa forma, governo e indústria tem
andado lado a lado na busca de meios que possam
promover esta prática e a torne indispensável em
todos os ramos de atuação da indústria nacional,
sempre na busca da excelência em seus processos e
produtos, garantindo a satisfação do público
consumidor e do produtor que obterá maior retorno
de seus investimentos se considerar tais adequações
exigidas pelo mercado atual.
3 Conclusão
Por muito tempo se buscou formas de estar a
frente da concorrência direta, seja em critérios
financeiros ou de qualidade, mas não muito focado
em inovação.
Porém, nos últimos anos, com os mercados
globalizados, inundados de produtos de diversas
procedências, qualidades e preços, tornou-se
necessária uma movimentação dos setores
produtivos para que houvesse uma padronização
satisfatória que atendesse a um mercado mais
exigente e competitivo,
Sendo assim, a normalização tornou-se fator
primordial diante da necessidade de padronização
do mercado, onde produtos semelhantes deveriam
ser oferecidos com características e qualidades
semelhantes, a fim de proporcionar ao consumidor
produtos com níveis satisfatórios de qualidade e
confiabilidade, além da redução do preço final.
Além disso, era grande a preocupação com
produtos oferecidos ao mercado exterior, os quais
muitas vezes eram produzidos através de processos
documentado porém conflitantes por não haver um
padrão internacional. Daí o surgimento de
instituições internacionais de normalização, as
quais são responsáveis pela disseminação de
padrões globais de produção, os quais devem ser
aplicados pelas indústrias que almejam o mercado
internacional.
O processo de normalização de processos e
produtos, diante da grande competitividade
mercadológica surgida com o processo de
globalização, trouxe grandes benefícios tanto para a
indústria e seus fornecedores, quanto para o público
consumidor. Estes últimos, cada vez mais exigentes
em termos de qualidade e custos, tornaram-se os
grandes articuladores para que as indústrias
busquem a inovação de seus métodos produtivos
oferecendo produtos com qualidade superior, que
diminuam os impactos ambientais e sociais, além
da diminuição dos custos e no preço final.
Referências
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