Sei sulla pagina 1di 74

ÍNDICE

I - INTRODUÇÃO GERAL À MATÉRIA..............................................................3


II  AUTORIA DE ATOS......................................................................................31
III  DADOS PESSOAIS......................................................................................32
IV  DATA DE ATOS............................................................................................33
V - HISTORICIDADE DE ATOS..........................................................................34
VI  CONTEÚDO TEOLÓGICO.........................................................................34
VII  ATOS E SEU RELACIONAMENTO COM AS
EPÍSTOLAS PAULINAS............................................................................36

VIII  QUADRO CRONOLÓGICO DE ATOS DOS APÓSTOLOS...................37


IX  IMPERADORES ROMANOS NO LIVRO LUCAS-ATOS.........................39
X  DIVISÃO DO LIVRO DE ATOS...................................................................39
XI  EPÍSTOLAS PAULINAS .............................................................................40
XII  EPÍSTOLAS GERAIS.................................................................................62
XIII  EPÍSTOLAS UNIVERSAIS.......................................................................64
ATOS E EPÍSTOLAS

AI - INTRODUÇÃO GERAL À MATÉRIA


Principais Crises da Igreja Apostólica - O Cristianismo apostólico emergiu no I
século AD como uma das facções do Judaísmo.1 Neste período a religiosidade
judaica tornara-se destituída de sentido espiritual, por terem feito das ordenanças
do templo um fim em si mesmas. O sacerdócio por sua vez corrompera-se pela
“fraude, suborno e até pelo homicídio.”2 Contudo entre o povo judeu percebia-se
nesse período um movimento reavivalista da presença messiânica. Havia uma
expectativa da vinda do Messias como um libertador da nação. Até mesmo entre
os gentios levantaram-se homens que, tendo acesso à Escritura, anunciaram o
Messias como o libertador do pecado.3

1 - O Cristianismo primitivo surgiu como um movimento


religioso com base no cumprimento das profecias messiânicas. Havia um senso
que a vinda do Messias estava às portas e que chegara a plenitude do tempo (Gl
4:4), conforme previam as profecias de Daniel 9:24-27.4 A liderança judaica,
entretanto, se opôs à mensagem profética e evangélica do Cristianismo e terminou

1
Esta ligação do Judaísmo e o Cristianismo é evidente em diversos
aspectos: (1) o templo era um lugar de culto comum, (2) a presença de grande
número de sacerdotes e fariseus entre os primeiros cristãos, (3) Paulo observa um
rito judaico no final de sua terceira viagem, (4) as sinagogas continuaram sendo
local de adoração e evangelização também para os cristãos, (5) os primeiros
líderes do cristianismo eram de origem judaica, (6) o Antigo Testamento era a
Palavra de Deus comum aos dois grupos. Ver: Jacques Doukhan, Drinking at the
Sources (Mountain View, CA:Pacific Press, 1981), 41; Richard L. Niswonger,
New Testament History (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992), 53, 61-69, 190-
191; Merril C. Tenney, New Testament Times (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1971), 67, 183-185; W. H. C. Frend, The Early Church (Philadelphia: Fortress
Press, 1982), 25.

Ellen White, O desejado de todas as nações, 17ª ed. (Tatuí, SP: Casa
2

Publicadora Brasileira, 1990), 23-27.


3
Ibid, 28-32.
4
Justo L. González, Uma história ilustrada do Cristianismo, 3ª ed. (São
Paulo: Vida Nova, 1986), 1:15,19; E. G. White, O desejado de todas as nações,
31-32. Há evidências históricas que o princípio dia/ano foi usado na literatura
judaica para prever a vinda do Messias: (1) 70 semanas proféticas, (2) nos 10
jubileus, estes perídos aparecem nos Testamentos de Levi, em 1Enoque, na
literatura de Qumram, nos intérpretes rabínicos, na literatura apocalíptica pseudo-
epígrafa. Ver: William Shea, “Year-Day Principle - Part 2,” em: Frank B.
Holbrook, Selected Studies on Prophetic Interpretation (Hagerstown, MD:
Review and Herald, 1982), 89-115.

2
por rejeitar o Messias, causando entre outros motivos a separação entre o
Judaísmo e o Cristianismo.1

a) Os primeiro cristãos e os judeus estavam identificados


pela mesma origem étnica e pela mesma fonte de revelação, o Antigo Testamento.
A mensagem neotestamenrária fundamentava-se nas promessas da aliança e na
étnica dadas por Deus ao povo israelita no decorrer de sua história. Após a
ressurreição de Jesus, entretanto, os cristãos passaram a Ter uma nova
compreensão do significado das profecias messiânicas. Para eles o Nazareno era
o Messias Sofredor ressurrecto, que ascendeu aos céus como Salvador e Mediador
da nova aliança. Esta verdade era nova para o povo judeu, que aguardava um
Messias Rei, libertador político do jugo romano.

b) Essa mensagem evangélica tornou-se o conteúdo da


missão da Igreja. No cumprimento dela os primeiros cristãos cresceram numérica
e territorialmente. Estabeleceram-se primeiramente em Jerusalém. A expressão
“enchestes Jerusalém de vossa doutrina” (At 5:28), retrata a penetração da
mensagem cristã na sociedade judaica. A estimativa da população de Jerusalém
nesses dias era de aproximadamente 44.000 pessoas,2 e os relatos bíblicos do
número de judeus convertidos ao cristianismo alcançou a grande maioria dessa
população (At 2:41; 4:4, 47; 6:7; 21:20). Por outro lado, com a perseguição
registrada em Atos 8, os cristãos se dispersaram além da Judéia e conquistaram
novos territórios. Samaria, Jope, Damasco, Fenícia, Chipre, Antioquia e Roma
foram progressivamente alcançadas. O zelo missionário da Igreja Apostólica a
conduziu até os limites mais distantes do Império, possivelmente até a Índia.3

1
As sanções do governo romano contra o Judaísmo, desde o governo de
Cláudio em 49 AD e a insistência na observância literal de regulamentos mosaicos
levaram os cristãos a se separarem dos judeus, e a começarem a evitar práticas
religiosas judaicas, adotando progressivamente posturas religiosas pagãs. Ver:
Samuele Bacchiocchi, Do Sábado para o Domingo ([São Paulo: Samuel
Rodrigues], s.d.), 3:23-24, 58-97; 5:53-56; González, Uma história ilustrada do
Cristianismo, 1:49-52.
2
Niswonger, 191. F. F. Bruce estima que a população poderia variar
entre 25.000 e 55.000. Ver: F. F. Bruce, The Acts of the Apostles: The Greek with
Introduction and Commentary, 3ª ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), 445.
3
Henry C. Sheldon, History of the Christian Church (Peabody, MA:
Hendrikson, 1988), 1:17-21; Niswonger, 279-280; González, Uma história
ilustrada do Cristianismo, 1:37-47; Frend, 24-27. Diversos fatores contribuíram
para a expansão do Cristianismo: (1) o inclusivismo cristão contrastado com o
exlusivismo judeu, (2) a proteção legal que o Judaísmo legou ao Cristianismo por
diversos anos, (3) a falência do sistema religioso e filosófico romano, (4) o uso do
grego como língua internacional, (5) as estradas romanas e a política de paz do
Império, (6) a existência da LXX. Ver: Niswonger, 282-283.

3
c) Neste processo os primeiros cristãos sofreram
infiltrações do gnosticismo helênico1 do autoritarismo romano2 e do monoteísmo
ético judaico.3 Estes três

fatores contribuíram para o surgimento de divergências internas no Cristianismo


apostólico, fazendo emergir as diversas crises do primeiro século que afetaram a
vida da época e o exercício da tarefa missionária.

2 - Crise Missiológica

a) No Antigo Testamento a missão é um convite


universal para que todos sejam atraídos às bênçãos do concerto prometidas a
Abraão (Gn 12:1-3, 7; 13:14-16; 15:1-6) através do seu descendente (Gl 3:16), por
isso ela foi chamada de centrípedacentrípeda.4 No Novo Testamento a missão é
um anúncio universal a fim de que todos que aceitem pela fé a Jesus Cristo como
seu Salvador recebam os benefícios de Sua vida imaculada, de Sua morte
substituinte e da Sua vitória sobre a morte pela ressurreição, por isso ela é
intitulada de centrífuga.5

1
William F. Albright, From the Stone Age to Christianity (Garden City,
NY: Anchor Brooks, 1957), 337; Simon Price, “The History of the Helenistic
Period,” em: John Broadman, Jasper Griffin e Oswyn Murray, eds., The Oxford
History of the Classical World (Oxford: Oxford University Press, 1993), 323-325;
Russel Norman Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo (Guaratinguetá, SP: A Voz Bíblica, s. d.), 1:134-135; Justo L. González,
Uma história ilustrada do Cristianismo, 1:16-17; Niswonger, 79-85, 248-250.
2
Tenney, New Testament Times, 48-71; Hnery Chadwick, “Envoy: On
Taking Leave of antiquity,” em: Broadman, Griffin e Murray, eds. The Oxford
History of the Classical Word, 808, 821-822; Will Durant, História da civilização
(São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957), 7:35, 344-347; Earle E. Cairns,
O Cristianismo através dos séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), 51; Kenneth
Scott Latourette, A History of Christianity (New York: Harper & Brothers, 1953),
1:81-91, 112-188.
3
Bruce, The Acts of the Apostles, 22-23, 190-194.
4
Blauw, A natureza missionária da Igreja, 49; Johannes Verkuyl, “A base
bíblica do mandato missionário mundial,” em: Winter e Hawthorne, eds., Missões
transculturais, uma perspectiva bíblica, 42.
5
Blauw, 66. No Novo Testamento a missão é espressa pelos verbos
“apostevllw,”que significa atividade missionária visível e “pevmpw,” que
expressa a origem do envioe a intimidade entre enviador e enviado. Estes
conceitos podem ser encontrados em: Veloso, El compromiso cristiano, 23-72.

4
b) As dificuldades vividas pelos cristãos primitivos no
cumprimento da missão, durante os primeiros quinze anos após a ascensão do
Mestre (31-46 AD), têm que ver com a forma como a Igreja Apostólica assimilou
a interpretação da teologia judaica sobre a origem e finalidade da missão como
nação eleita de Deus. É importante, portanto, para compreensão do assunto,
elucidar os conceitos de eleição, singularidade e universalidade em sua relação
com o povo de Israel, porque esses temas, se mal entendidos, criam barreiras que
bloqueiam o propósito da vocação divina, o serviço.

c) Contexto Histórico - As idéias de universalidade,


eleição, bênção e santidade e seu relacionamento com a missão estão bem
explícitos no decorrer da história bíblica. No Antigo Testamento a missão
universal tem sua origem em Deus (Gn 3:9-15). O objetivo dela era a busca do
homem perdido para conscientizá-lo de sua culpa (Gn 3:9, 11,13) e revelar-lhe a
salvação (Gn 3:15).

d) Os primeiros onze capítulos de Gênesis tratam da


origem da humanidade (Gn 1 e 2), da sua queda (Gn 3-8) e da universalidade do
concerto (Gn 9:1-19). A criação estabeleceu para o homem sua filiação divina, a
queda trouxe o juízo sobre a humanidade e o concerto ofertou ao homem a
misericórdia e o direito de ser de novo filho de Deus. No aspecto histórico, o
estabelecimento das nações (Gn 10:1-32) e a dispersão dos povos completam o
quadro de um contexto universal para o surgimento da missiologia (Gn 11:1-9).1

e) a eleição de Abraão (Gn 12) e, a partir dela, a


formação de Israel foram estabelecidas nesta atmosfera de universalidade.2 A
vocação abraâmica tinha por objetivo restaurar o fragmentado relacionamento de
Deus com a humanidade,3 através da realização da missão universal: “abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas
todas as famílias da terra” (Gn 12:3).4

f) A eficiência da missão e a singularidade de Israel


tinham no chamamento à santidade o seu aspecto mais fundamental. A obediência

1
Ibid., 15-18; David Danker, “Um chamado missionário,” em: Valdir
Steuernagel, coord., Caminhando contra o vento: a comunidade peregrina em
missão (São Paulo: ABU Editora, 1978), 7-9.
2
Elias Brasil de Souza, “O estudo das genealogias bíblicas,” MA,
setembro/outubro de 1996, 16-18.
3
Danker, 19; Jonatán P. Lewis, ed., Misión mundial, 2ª ed. (Miami, FL:
Editorial UNILIT, 1:33-42.
4
Walter C. Kaiser Jr., “A chamada missionária de Israel,” em: Winter e
Hawthorne, eds., Missões transculturais: uma perspectiva bíblica, 28-33; Arthur
F. Glasser, Kingdom and Mission (Pasadena, CA: Fuller Theological Seminary,
1989), 37-65; Timóteo Carriker, Missão integral: uma teologia bíblica (São
Paulo: Editora Sepal, 1992), 13-58.

5
às leis superiores de Deus faria da nação um povo abençoado, próspero e saudável
(Êx 19:1-6; Dt 7:1-26). A superioridade dessas leis e os benefícios resultantes da
obediência a elas (Dt 28:1-68), fariam com que Israel atraísse os povos do mundo
a si (Dt 28:10; Is 49:6-9,12,18; 55:4-5; Zc 8:22-23).

g) Aqueles que aceitassem os princípios desse pacto


seriam agregados ao povo de Israel, que estenderiam assim seus domínios (Dt
11:8-25),1 pois a promessa era que “todo o lugar que pisar a planta do vosso pé,
desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental,
será vosso” (Dt 11:24). O sentido da missão era, portanto, fazer convergir todas
as nações ao povo de Deus para que se tornassem parte dele (Dt 32:1-24).
(1) No decorrer da história de Israel,
especialmente após o cativeiro babilônico, o conteúdo desse concerto foi
corrompido pelos próprios judeus. A eleição foi transformada em favoritismo; a
singularidade tornou-se em etnocentrismo; a universalidade foi ignorada e em seu
lugar surgiram o exclusivismo nacionalista e o tradicionalismo religioso.2
(2) O esvaziamento do significado do pacto
abraâmico foi fruto da visão teológica judaica sobre o Messias e do legalismo
judeu.3 Esses conceitos emergiram no seio do judaísmo como conseqüência do
condicionamento histórico de escravidão e de uma hermenêutica literalista dos
termos do pacto abraâmico.
(3) A visão histórico-teológica messiânica
exclusivista do judaísmo estava presente nos dias de domínio do império Romano,
e deste contexto foi assimilada pelos primeiros discípulos da Igreja Apostólica.
Diversas situações no Novo Testamento evidenciam a existência desta
mentalidade segregacionalista que afetou diretamente o exercício da missão nos
seus primeiros quinze anos.
h) Descrição da crise - O relato dos acontecimentos
ocorridos durante o ministério de Cristo evidencia esse preconceito religioso
extremado. O encontro de Cristo com a mulher samaritana revelou a existência de
um forte preconceito étnico, que se percebe na reação dela ao dizer que “como
sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana” (Jo 4:9) e dos
discípulos que “se admiraram de que estivesse falando com uma mulher” (Jo
4:27).
(1) Em outras ocasiões do ministério de Jesus
percebem-se comportamentos semelhantes. O centurião romano, por ser gentio,
se achava indigno de que Jesus sendo judeu entrasse em sua casa (Mt 8:8). Em
outra oportunidade Jesus foi criticado porque comia com publicanos e pecadores
(Mt 9:10-13). No julgamento de Cristo os judeus não quiseram entrar no pretório
para não se contaminarem com um gentio e conseqüentementeconsequentemente

1
Ellen G. White, Profetas e reis, 7ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1989), 19.
2
Blauw, 21-23; Stott, A mensagem de Atos, 208.
3
Lewis, ed., Misión mundial, 1:56-57.

6
serem impedidos de participar da páscoa (Jo 18:28-29). Esses relatos são por si só
comprobatórios do exclusivismo racial dos judeus.
(2) A visão nacionalista extremada da
religiosidade judaica, com seus preconceitos étnicos e visão hermenêutica
distorcida, prejudicou o desempenho da missão, mesmo após a experiência
pentecostal de Atos 2.
(3) Essa mentalidade religiosa levou os apóstolos
a transformarem Jerusalém no centro de seus interesses missionários. Os
primeiros cristãos manifestaram espírito semelhante em outras ocasiões. Foi com
suspeita que ouviram falar da conversão dos samaritanos,1 razão porque a Igreja
em Jerusalém enviou Pedro e João para averiguarem o que se passava ali (At
8:14). A conversão de Cornélio foi encarada sob o mesmo prima . Até o apóstolo
Pedro levou seis testemunhas quando a lei previa a necessidade de três (Dt 17:6;
19:15), sabedor que era dos preconceitos judaicos. Ainda foi intimidado a dar
explicações por Ter entrado em casa de incircuncisos (At 10:11). Por outro lado, a
evangelização dos gregos por missionários vindos de Chipre e Cirene causou a
mesma reação dos líderes em Jerusalém (At 11:20). Eles enviaram Barnabé,
judeu cipriota (At 4:32-37), até Antioquia para investigar a conversão desses
gentios (At 11:20-24).2 Considerando-se como ponto de partida o Pentecostes,
essa primeira iniciativa missionária expontânea de evangelização dos gentios
ocorreu com um atraso de aproximadamente quinze anos (At 11:19-20). Daí em
diante a visão missiológica da Igreja Apostólica assumiria um escopo universal.3
(4) A suplantação, portanto, desse preconceito
religioso e a agilização da missão entre os gentios era de capital importância para
a continuidade e expansão do cristianismo.

1
Para analisar a questão da inimizade entre judeus e samaritanos ver:
John R. W. Stott, Batismo e plenitude do Espírito Santo (São Paulo: Vida Nova,
1993), 23-25; idem, A mensagem de Atos, 164-165; Bruce, The Acts of the
Apostles, 220; T. C. Smith, “Atos,” em: Clinfton J. Allen, ed., Comentário bíblico
Broadman (Rio de Janeiro: JUERP, 1984), 10:73.
2
“A Igreja de Jerusalém desejava reter o controle sobre cada extensão da
missão cristã. Como Pedro e João foram enviados à Samaria na missão de Felipe,
assim Barnabé foi agora enviado a Antioquia.” Estes pensamentos podem ser
encontrados em Bruce, The Acts of the Apostles, 273. “A metáfora ‘aos ouvidos
da Igreja’ pode ser uma branda insinuação da impaciência de Lucas por causa da
visão ainda mais estreita da Igreja de Jerusalém.” Tais declarações estão em: Don
Richardson, O fator Melquisedeque (São Paulo: Vida Nova, 1991), 164-165. “Ele
foi para investigar a obra dos pregadores que vaiajaram pelos caminhos para
Antioquia.” Estas informações acham-se em: Robertson, Word Pictures in the
New Testament, 3:158; “Eles (Igreja de Jerusalém) não podiam tratar com
indiferença um movimento ousado como aquele. Eles precisavam mandar alguém
para investigar o que estava se passando em Antioquia.” T. C. Smith, “Atos,” em:
Allen, ed., Comentário bíblico Broadman, 10:92.
3
Para um estudo mais detalhado sobre a universalização da missão do
Novo Testamento ver: Carriker, Missão integral, 184-270.

7
i) A Superação da Crise - A suplantação dos obstáculos
para o cumprimento da missão mundial da pregação do evangelho foi possível
após um longo processo que incluiu o ministério de Jesus e dos apóstolos. As
obras e palavras de Cristo tiveram um relevante papel na solução da crise
missiológica, pois através delas ficou claro que nada menos que a universalidade
era o escopo da missão, desacreditando assim a visão missiológica etnocêntrica do
judaísmo.1 “Durante Seu ministério . . . Cristo deu início à obra de derribar o
muro de separação entre judeus e gentios,” buscando Cristo “ensinar aos
discípulos a verdade que no Reino de Deus não há fronteiras territoriais, nem
castas, nem aristocracias.”2
(1) No seu discurso em Nazaré (Lc 4:16-30)
Cristo mostrou que a finalidade da missão ia muito além da nação israelita. Nos
dias de fome durante o reinado de Acabe e Jezabel, Elias foi enviado para cuidar
da viúva de Sarepta de Sidon (1Re17:8-16), uma gentia. No tempo de Eliseu, o
leproso curado foi Naamã, o siro, quando havia tantos outros em Israel (2Re 5:1-
14). Estas palavras esclarecem que a bondade de Deus, na visão de Cristo, não
estava limitada ao povo judeu.3 Cristo queria incutir em Seus discípulos a
universalidade do alcance e conteúdo do Seu evangelho.4 Quando se interessou
pelos problemas do centurião romano (Mt 8:5-13), da mulher siro-fenícia (Mt
15:21-28), dos moradores de Samaria a quem Tiago e João queriam destruir (Lc
9:51-55), Cristo demonstrou o alcance universal de Seu ministério. Ao expor a
parábolas do bom samaritano logo após ao envio dos sententa (Lc 10:30-34) e no
diálogo com os gregos (Jo 12:21-32) que queriam vê-lo, Jesus mais uma vez Se
mostra despido de toda tendência segregacionalista.
(2) Ele ainda relaciona a universalidade da missão
com o Segundo Advento em Mateus 24:14: “E será pregado este evangelho do
reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.” A

1
Lewis, ed., Misión mundial, 1:55-57; Para examinar as diversas
opiniões sobre a maneira como foi encarado o ministério de Cristo e sua relação
com a universalidade da missão ver: Carriker, Missão integral, 180-181.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 19-20.
3
H. Cornell Goerner, “El hijo del hombre,” em: Lewis, ed., M isión
mundial, 1:64-66.
4
Para uma melhor compreensão da universalidade do evangelho, ver:
Richardson, O fator Melquisedeque, 59-64, 136-158; Blauw, 81-103; Karl Müller,
Teologia da missão (Petrópolis, RJ: Vozes, 1995), 59-64; Lewis, 119-158;
Johannes Verkuyl, “A base bíblica do mandato missionário mundial,”em: idem,
ed., Missões transculturais, uma perpectiva bíblica, 52-57; Rinaldo de Mattos,
“Fazei Discípulo de Todas as Nações,”em: C. Timóteo Carriker, ed., Missões e a
Igreja brasileira, perpectivas teológicas(São Paulo: Mundo Cristão, 1993), 3:1-
12; Werner Vyhmeister, Misión de la iglesia adventista (Brasília: Seminário
Adventista Latino-Americano, 1980), 2-5; DonaldSenior e Carroll Stuhlmueller,
Os fundamentos bíblicos da missão (São Paulo: Paulinas, 1987), 191-194, 355-
357.

8
visão mundial da missão fica mais evidente ainda nas palavras da Grande
Comissão que ordena “fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28:19),
complementada pela fraseologia de Marcos “ide1 por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura” (Mr 16:15), e pelo incentivo de “em seu nome” ser
pregado “arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações” (Lc
24:47). Os discípulos deveriam se consscientizar que o padrão missiológico se
define no paralelo “assim como o Pai me enviou eu também vos envio” (Jo
20:21), e se cristaliza no ato de serem testemunhas de Jesus “até os confins da
terra” (At 1:8). Não há dúvida que com tais declarações Cristo queria enfatizar
aos Seus seguidores a universalidade da missão.
(3) Porém, essa visão missiológica se tornaria
efetiva apenas se absorvida pelos seguidores de Cristo. Foi com relutância e
lentidão que os primeiros cristãos assimilaram esse escopo mundial. O início da
missão no dia de Pentecostes tinha por finalidade ensinar a universalidade da
evangelização, uma vez que é declarado: “Ora, estavam habitando em Jerusalém
judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu” (At 2:5).
Este incidente não foi, entretanto, suficientemente esclarecedor para a mentalidade
apostólica, que de início se fixou em Jerusalém e não visualizou a necessidade de
evangelizar os gentios.
(4) Por isso mesmo Deus permitiu a perseguição
por parte dos oponentes com a finalidade de dispersar seus representantes e fazê-
los chegar a outras partes do mundo.2 A perseguição irrompeu diversas vezes
contra a Igreja Apostólica. Os capítulos 3 a 7 de Atos retratam uma perseguição
judaica nos primórdios da missão. Depois do martírio de Estevão a perseguição
foi mais generalizada, obrigando os cristãos de Jerusalém a se dispersarem além
dos limites da Palestina. Na execução de Tiago e no aprisionamento de Pedro,3
são as autoridades romanas que, por motivos políticos, perseguem a Igreja
Apostólica (At 12:3). Estes lances de perseguição favoreceram progressivamente
uma visão missiológica universal e fortaleceram a unidade da Igreja (At 12:12-
17).4

1
Para entender a relação dos verbos pevmpw e ajpostevllw com a
missão, ver: Mario Veloso, El compromiso cristiano, 23-72.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 105; Latourette, 104.
3
Para melhores informações sobre o momento histórico e as razões desta
perseguição ver: Bruce, The Acts of the Apostles, 280; Marshall, Atos: introdução
e comentário, 198-199; David J. Williams, Acts, New International Biblical
Commentary (Peabody, MA: Hendrickson, 1990), 5:210-211; Frank Stagg, Atos:
a luta dos cristãos por uma igreja livre e sem fronteiras (Rio de Janeiro: JUERP),
128-129; Robertson, Word Pictures in the New Testament, 3:163-164.
4
González, Uma história ilustrada do Cristianismo, 1:49-78; Niswonger,
241-243, 279; Merrill C. Tenney, New Testament Survey, 2ª ed. (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1991), 12; Durant, 7:344-348; Brian Jones, “A Igreja Apostólica,”
Lição de Escola Sabatina (ed. adultos para professor), outubro/dezembro de 1996,
lição 5,5.

9
(5) A evangelização de Samaria foi o primeiro
resultado da dispersão (At 8:4-5). Aquilo que Pedro e João viram em Samaria, na
averiguação da conversão de seus habitantes, iniciou o processo de libertação
progressiva de seus preconceitos, ao voltarem para Jerusalém, evangelizaram
muitas aldeias samaritanas (At 8:25).
(6) Outro fator importante foi a visão conferida a
Pedro que Deus não faz acepção de pessoas (At 10:9-22), o que lhe abriu a mente
para começar a entender o escopo mundial da missão. Sua obediência ao mandato
levou os líderes em Jerusalém a reconhecerem que aos gentios era também
concedido o arrependimento (At 11:18).
(7) Como terceiro elemento, a conversão de
Paulo, cidadão romano natural de Tarso e fariseu da tribo de Benjamim,
influenciou decisivamente a universalização da atividade missionária, tanto
através da evangelização que realizou entre os gentios bem como das epístolas
que posteriormente escreveu (Gl 2:7; cf. At 9:15). Percebe-se na teologia de
Paulo o desaparecimento das distinções geográficas, políticas e raciais, quando ele
declara: “pois não há distinção entre judeus e gregos, uma vez que o mesmo é o
Senhor de todos” (Rm 10:12), e que “todos vós sois filhos de Deus . . .
DessarteDestarte, não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto; nem
homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo” (Gl 3:26-29). Paulo
ainda considerava que Deus lhe revelara um grande mistério, que os gentios são
“co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em
Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3:1-13). A cruz de Cristo aproximou
judeus e gentios , fazendo-os membros da mesma família e constituindo-os como
parte integrante da estrutura do santuário de Deus (Ef 2:11-22).
(8) A autoridade apostólica e as orientações
expressas através das epístolas, acatadas como a Palavra de Deus, foram os
elementos decisivos na suplantação dos conflitos da Igreja Apostólica (1Tg 2:13).1
Os ensinos de Paulo na epístola aos Efésios foram igualmente importantes em
plasmar na Igreja Apostólica a visão universalista da missão.
(9) Os desentendimentos entre os cristãos de
Jerusalém com os cristãos gentios, em vista do desempenho dos primeiros terem
incorporado à vida cristã as leis e os costumes judaicos, chegaram a tal ponto de
saturação que o relacionamento entre ambos tornava-se cada vez mais conflitivo.
Estava em jogo não apenas o futuro evangelístico da Igreja, ,as até sua própria
existência. A solução deveria vir da autoridade maior da liderança eclesiástica,
exercida no Concílio de Jerusalém.
(10) Pareceu bem aos membros deste Concílio
não impor sobre os gentios as injunções das leis cerimoniais, mas apenas sugerir
que se abstivessem de determinadas práticas (At 15:29). A autoridade da Igreja
reunida em Assembléia devidamente convocada tornou-se normativa para todos os
seus membros. Desta forma a crise foi finalmente suplantada, a despeito do
elemento judaizante Ter continuado a exercer sua pressão como comprovam as
epístolas aos Gálatas e aos Romanos.

1
Colin Kruse, 2Coríntios: introdução e comentário, Série cultura bíblica,
[Novo Testamento], vol. 9 (São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1994), 56-57;
Bernard, 46-62.

10
j) Influência da Crise sobre a Missão  Inicialmente o
exclusivismo nacionalista e o tradicionalismo judaicos incorporados pelos
primeiros discípulos restringiram a missão aos limites da Palestina. Além disso,
propiciaram o desenvolvimento do litígio entre os dois grupos, afetando, portanto,
a unidade de sentimento que deveria caracterizar a Igreja. Dificultavam assim a
aceitação dos gentios conversos na comunidade cristã, criando obstáculos à
realização universal da evangelização.
(1) A superação da crise propiciou uma atmosfera
de confiança entre os cristãos gentios, e por isso a pregação do evangelho
prosperou.1 Desta forma preservou-se o escopo mundial da missão. O
testemunho da Escritura é que, como conseqüência da forma como foi
administrada a crise, houve crescimento qualitativo e quantitativo na Igreja
Apostólica como bem atestam os resultados do Concílio de Jerusalém: “assim, as
Igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16:6).
Paulo confirma a superação da crise missiológica ao dizer que o “evangelho que
ouviste. . . foi pregado a toda criatura debaixo do céu” (Cl 1:23).2 Essa
declaração parece indicar que a Igreja Apostólica, cerca de 30 anos após o
Pentecostes, havia atingido o objetivo proposto por Deus, evangelizando o mundo
conhecido de então e tornando-se padrão de eficiência missionária para os cristãos
em todos os tempos.
3 - Crise Cristológica - Descrição da Crise - A crise cristológica
do Cristianismo primitivo com o gnosticismo, pode ser percebida nas declarações
de Paulo e João. Para os ensinamentos paulinos, os conceitos gnósticos eram
“filosofias e vãs subtilezas, conforme a tradição dos homens,

1
E. G. White, Atos dos apóstolos, 197.
2
A expressão “toda criatura debaixo do céu” não deve ser vista com o
sentido absoluto. Ver: Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 5:106; Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (!980),
7:195.

11
conforme os rudimentos do mundo” (Cl 2:8).1 Paulo acrescenta ainda que tal
doutrina com seu ascetismo, adoração de anjos e manifestações extáticas eram
ineficientes para proteger seus seguidores da impiedade (Cl 2:16-23). Paulo
parece considerar seus líderes como falsos dirigentes, pois os chama de “lobos
vorazes” (At 20:29-30).
(1) João da mesma forma lidou com esses líderes
apóstatas com a severidade que a situação exigia. Ele os qualifica de
“mentirosos” e de “anticristos” (1Jo 2:4, 18), pois negavam a realidade física e
histórica de Cristo enquanto queriam separar os atos feitos na carne como nada
tendo a ver com a dimensão espiritual (1Jo 2:22-26; 3:7; 4:2-3). Por isso João
declarou: “Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar”
(1Jo 2:26). Devido a seu relevante significado esse aspecto da crise precisa ser
igualmente suplantado.
c) Superação da Crise - O Novo Testamento foi escrito
sob a perspectiva do cumprimento profético da ressurreição do Servo Sofredor (At
2:31; cf. Sl 16:10).2 Sem ela o todo do conteúdo teológico do cristianismo não
teria razão de ser e a Igreja Cristã como a conhecemos não mais existiria. A
ressurreição de Cristo é a prova conclusiva de Sua messianidade,3 de Sua natureza
divina e do cumprimento profético do Antigo Testamento. Isaías 53:12 declara
que após a morte o Messias Sofredor realizaria uma obra intercessória; inferindo-
se, portanto, que Ele ressuscitaria.4 A relevância desse evento na Igreja Apostólica
percebe-se inicialmente nas palavras do Mestre e a seguir nas de seus seguidores.
(1) A ressurreição foi primeiramente anunciada
por Jesus como Sua conquista sobre o poder da morte. As predições de Sua
crucifixão vieram acompanhadas da esperança de Sua ressurreição (Mt 16:21; Mr
9:31), mostrando a íntima relação teológica entre os dois acontecimentos. Aquele
que em Sua morte, venceu o pecado, patenteou a injustiça das acusações de
Lúcifer contra Seu caráter5 e confirmou o direito de perdoar os pecados dos

1
Niswonger, 259; Murray J. Harris, Colossians and Philemon (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1991), 5, 92-94; Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible
Commentary (1980), 7:184; Robertson, Word Pictures in the New Testament,
4:433, 471-472; Petr Pokorny, Colossians: A commentary (Peabody, MA:
Hendrickson, 1991), 108-156; Eduard Lohse, “Colossians and Philemon,” em:
Helmut Koester, ed., Hermeneia - A Critical and Historical Commentary on the
Bible (Philadelphia: Fortress Press, 1975), 94-99; Peter T. O’Brien, Colossians,
Philemon, Word Biblical Commentary, vol. 44 (Waco: TX: Word Books, 1982),
109-134.
2
Nisto Cremos, 65.

Carl F. H. Henry, God, Revelation and Authority (Waco, TX: Word


3

Books, 1983), 3:147.


4
Ibid., 3:137.
5
E. G. White, O desejado de todas as nações, 758-764.

12
homens. E em Sua ressurreição Ele garante o direito à vida a todos os seres
humanos. Isto era prova decisiva de sua divindade na teologia paulina (Rm 1:4).
(2) Segundo o quarto evangelho, o clímax da
tensão entre Cristo auto-considerar-Se divino e a condenação é sucedido pela
ressurreição e pelo testemunho de Tomé, que são uma clara evidência da
suplantação de sua incredulidade e, por extensão, da Igreja, ao dizer: “Senhor meu
e Deus meu!” (Jo 20:28).1 Tomé declarava-se, naquele momento, como estando
na presença de Jeová, o que substanciava a cristologia de todo o Novo
Testamento: Jesus Cristo é Deus e não uma emanação de uma divindade superior,
ou um mero descendente da linhagem de Davi.2 O discurso de Pedro, em resposta
à acusação de embriaguez dos discípulos no Pentecostes, explica que o que estava
acontecendo era o cumprimento profético de Joel quanto ao início do ministério
do Espírito Santo (Jl 2:28-32; cf. At 2:33; Jo 7:39). No fim do discurso, que
também salientava a ressurreição de Cristo como cumprimento profético do
Salmo 16:8-11, Pedro declarou que o Jesus crucificado foi por Deus feito “Senhor
e Cristo” (At 2:36). Segundo F. F. Bruce, o ato da Igreja aplicar a Cristo o título
de Senhor significa que ela O reconhece como digno do nome inefável de Deus,3 o
que novamente cristaliza a cristologia do Novo Testamento e põe a descoberto os
enganos do gnosticismo.
(3) Estevão que foi levado ao Sinédrio sob
acusação de blasfêmia contra Moisés e Deus (At 6:11), apresentou sua defesa com
duas linhas gerais de pensamento. A primeira é que os judeus repetidamente em
sua história rejeitaram os enviados de Deus para sua liberação. A segunda é que
os judeus erravam em pensar que Deus “estava confinado a uma terra santa ou a
um sagrado lugar.”4 Ao final Estevão vê em visão a glória de Deus e o Filho do
Homem em pé à Sua direita e clama: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At
7:59). A súplica feita por Jesus ao Pai (Lc 23:46) é repetida por Estevão, com a
diferença de que foi dirigida ao próprio Cristo, identificado pelo tetragrama
JHWH, extraído do Salmo 31:5. Na verdade a cristologia de Estevão coloca Jesus
Cristo no mesmo nível do Pai5 e é um libelo contra o monoteísmo absoluto judaico
e contra o subordinacionismo gnóstico.
(4) Aquele que teve poder para retomar Sua
própria vida da morte (Jo 10:17-18), pode da mesma forma conceder vida àqueles
que O recebem como Salvador e Senhor (Jo 6:47-54). Somente Deus que possui
vida inerente e não derivada pode dar a vida e voltar a tomá-la. Na declaração de

1
Bruce, João: introdução e comentário, 336-337.
2
Para informar-se sobre a tradução deste texto se ele é um nominativo ou
vocativo ver: Ibid.; Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 2: 643-644.
3
Bruce, Acts of the Apostles, 128.
4
Ibid., 192.
5
Ibid., 212; Marshall, Atos: introdução e comentário, 146; William M.
Ramsay, The Christ of the Earliest Christians (Richmond, VA: John Knox Press,
1959), 109.

13
que Cristo ressuscitou, a Igreja Cristã expõe sua fé na divindade de Cristo.1 Para
Paulo, Cristo é as “primícias dos que dormem” (1Co 15:20) e Sua ressurreição é a
garantia desta libertação futura, a ressurreição dos mortos. Ele O apresenta como
o “primogênito de entre os mortos” (Cl 1:18), o que Lhe confere a primazia sobre
todos os seres criados por Ele mesmo, sejam visíveis ou invisíveis (Cl 1:15-19).
(5) A argumentação chega ao seu clímax quando
é declarada a totalidade da natureza divina de Cristo em Colossenses 2:9: “nEle,
habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”. Esta declaração é feita por
Paulo contra a tentativa gnóstica de tornar Cristo uma simples emanação (Cl 2:8)
e se opõe à forma judaica de considerar a divindade de Cristo um perigo ao
monoteísmo.2
(6) João em suas epístolas ainda acrescenta sua
compreensão da realidade histórica e física de Jesus. O apóstolo objetivou
defender a Igreja contra a heresia que via nos acontecimentos históricos, em
especial nos da Sua paixão, uma mera aparência da realidade. João então disse
que “todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1Jo
4:3; 2Jo7).
(7) Ante a força de tantos testemunhos pode-se
dizer que a crise cristológica foi primeiramente suplantada na Igreja Apostólica
pelas palavras do próprio Cristo, e também pela mensagem normativa dos profetas
do Antigo e Novo Testamento.
d) Influência da Crise sobre a Missão  A crise da
divindade de Cristo na Igreja Apostólica estava relacionada com o fundamento do
evangelho e da missão, pois “eliminada a eterna divindade de Cristo, a pregação
evangélica careceria de sentido.”3
(1) A crise cristológica não suplantada criaria uma
área de atrito em torno do tema da perfeita humanidade e divindade de Cristo, que
deveria ser um relevante fator da unidade e do conteúdo de mensagem cristã.
Jesus, portanto, como vere Deus e vere Homo tornou-Se o centro da fé da Igreja
Apostólica.
(2) A crise cristológica superada então com base
na autoridade dos ensinos de Cristo e dos apóstolos fortaleceu a missão devido
sua relação com a salvação ao lado da fé, como declara Paulo: “Se, com tua boca,
confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Ela tornou-se um modelo para a Igreja
Cristã através dos séculos no desempenho de sua atividade missionária e na defesa
da ortodoxia doutrinária. A crise sobre a salvação e sua relação com a missão será
o objetivo da análise a seguir.
1
Cf. as palavras de Paulo em Romanos 1:4: “designado Filho de Deus,
com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber,
Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1:4). Ramsay, The Christ of the Earliest
Christians, 126.
2
Berkouwer, A pessoa de Cristo, 135-139; Ramsay, The Christ of the
Earliest Christians, 125-128.
3
Berkouwer, A pessoa de Cristo, 134.

14
4 - A Crise Soteriológica - Descrição da Crise - O
cristianismo desenvolvido na Palestina foi influenciado pelo judaísmo, em
decorrência da proximidade de espaço e doutrina, pois tanto seus líderes como
seus primeiros conversos eram todos de origem israelita. Estavam condicionados
através de diversas gerações por uma educação baseada no
monoeteísmomonoteísmo ético.
(1) Por isso a crise soteriológica no Novo
Testamento manifestou-se sob dois ângulos interrelacionados. Primeiro, o aspecto
externo, quando o conflito se processou entre os principais líderes do cristianismo
e as autoridades judaicas. O segundo, o aspecto interno, quando as lutas
teológicas sobre a salvação ocorreram entre os primeiros cristãos judeus, que
conduziram a Igreja Apostólica ao seu primeiro Concílio.
(2) Na história do Novo Testamento, a doutrina
da salvação era expressa quase sempre em um ambiente de conflito com o
judaísmo. Na pregação de Pedro em Atos 2:14-40,1 na cura do coxo à porta do
templo (At 3:1-4:4),2 na defesa de Pedro diante das autoridades israelitas (At 4:12)
e em diversas ocasiões durante as três viagens missionárias de Paulo (At 13:1-
14:28; 15:36-21:16), os princípios do evangelho eram sempre expostos em
situação de litígio com as autoridades judaicas. Esse ambiente de conflito não
deixaria de influenciar a própria Igreja, que logo passou a vivenciá-lo no convívio
de seus membros.
(3) A resposta de Pedro (At 11), na acareação a
que foi submetido pela Igreja de Jerusalém por Ter visitado gentios, é uma
evidência desse fato. Nesse episódio de conflito com os cristãos judaizantes,3
Pedro revela o seu entendimento sobre a salvação. Para ele a pessoa justificada é
aquela que crendo em Jesus Cristo4 recebe o batismo do Espírito Santo,5 em
decorrência do arrependimento concedido por Deus (At 11:14-18; cf. Ef 1:13).

1
O kerygma apostólico contém quatro partes: (1) o anúncio que a
plenitude dos tempos chegou, (2) a proclamação do ministério, morte e triúnfo de
Jesus, (3) citação de passagens do Antigo Testamento que comprovam a
messianidade de Jesus e (4) o chamado ao arrependimento. F. F. Bruce,
Commentary on the Book of the Acts, The New International Commentary on the
New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1968), 69.
2
T. C. Smith, “Atos,” em: Allen, ed., Comentário bíblico Broadman,
10:47-53.
3
Para os ebionitas a missão de Jesus era apenas convocar os homens à
obediência à lei. Ele não viera ao mundo para salvé-los, Seu objetivo era apenas
ser um exemplo ético. Negavam ainda qualquer significado salvífico à morte e à
ressurreição de Cristo; Haglund, 26. “É difícil expor as doutrinas destes grupos
(ebionitas), assim como distingüi-los entre eles. Esta dificuldade se deve em parte
à escassez do material que possuímos,” González, Historia del pensamiento
cristiano, 145.

Anders Nygren, La epístola a los Romanos (Buenos Aires: Editorial La


4

Aurora, 1969), 47-52.

15
(4) Posteriormente provocaram uma forte
contenda com Paulo, fazendo da obediência à lei de Moisés uma condição
fundamental para salvação (At 15:1-5). Os conflitos assumiram tal proporção que
acabaram por exigir a convocação do Concílio de Jerusalém.
(5) Em terceira viagem, Paulo escreveu as cartas
aos Gálatas e aos Romanos, expondo a causa, o modo e as finalidades da
1

salvação. A controvérsia soteriológica forma o contexto dessas epístolas. Em


Romanos ele está sempre contra-argumentando com a mentalidade judaica
presente entre os cristãos judaizantes (Rm 2:1-3:20). Em Gálatas a discussão é
mais acalorada e direta, tanto na sua seção histórica (Gl 2:11-21) como na
teológica (Gl 3:1-5:26).
(6) No final da terceira viagem de Paulo, ao
chegar em Jerusalém, o apóstolo percebe que o assunto da salvação pela fé em
Cristo era tema de controvérsia. Em virtude do seu claro posicionamento quanto à
justificação pela fé, havia pressões de toda sorte. Isso se nota quando Tiago
afirmou Ter sido informado de que Paulo falava contra a lei. O apóstolo então se
defendeu afirmando que seus conversos eram observadores da lei, o que levou
Tiago a sugerir-lhe que fizesse o voto de nazireado mesmo depois do Concílio de
Jerusalém (At 21:23-26).2
(7) No alvoroço que veio a seguir, e que teve o
templo como palco, a morte de Paulo foi requerida, sob a acusação de ser contra a
lei: “este homem que por toda a parte ensina todos a serem contra o povo, contra a
lei e contra este lugar” (At 21:18). Contudo, Paulo ainda enfrentou o Sinédrio
quando foi agredido publicamente (At 23:2-3). Em seguida, mais de quarenta
homens sob juramento e em greve de fome propuseram assassiná-lo (At 23:13-
14). Depois de responder diante das autoridades civis, Paulo foi levado para
Roma onde morreu por ordem de Nero (At 23:18-26:32).3 O futuro do
Cristianismo ficou dependente da maneira como os líderes cristãos conduziriam o
conflito soteriológico.
c) Superação da Crise - A suplantação da crise
soteriológica fundamentou-se em três aspectos: (1) na aceitação dos ensinos de
Cristo; (2) na decisão do Concílio de Jerusalém e (3) no fato de o apóstolo Paulo
estabelecer sua doutrina soteriológica sobre esses ensinos.
(1) Nos ensinamentos de Cristo, as parábolas
tiveram um papel importante. Por exemplo, as parábolas da ovelha e da dracma

5
Marshall, Atos: introdução e comentário, 189-190.
1
A datação da carta aos Gálatas se foi escrita durante a primeira viagem
de Paulo (48 AD), ou durante a terceira viagem (56 ou 57 AD) pode ser
encontrada em: Robertson, Word Pictures in the New Testament, 4:272, favorável
a posição anterior; a posição a favor de uma data posterior para Gálatas, ver:
Bruce, The Acts of the Apostles, 47-50.
2
Bruce, The Acts of the Apostles, 446-447; Marshall, Atos: introdução e
comentário, 5:282-283, 321-323.
3
E. G. White, Atos dos apóstolos, 509-513.

16
perdidas (Lc 15:3-10) visavam ensinar que a salvação não é alcançada por
procurar-se a Deus, mas porque Deus procura o pecador primeiro. A parábola do
filho pródigo (Lc 15:11-32) ressalta a imagem de Deus como o pai amorável que
atrai seus filhos a voltarem para casa. Ao mesmo tempo elas enfatizam o regozijo
de Deus pela restauração do que se havia perdido (Lc 15:7, 9-10, 23-25, 32).
Jesus veio para ser o redentor dos pecadores e mostrar o amor do Pai pelos
perdidos (Mr 2:16).1
(2) A imputação da justiça de Cristo, que conduz
à santidade (Ap 19:80, e que foi concedida ao pecador para que ele pudesse
comparecer na presença de Deus, está ensinada na parábola das bodas (Mt 22:1-
14).2 Não se pode estar diante de Deus sem a veste nupcial que representa a
justiça do caráter de Cristo que é comunicada a todos que O aceitam como seu
Salvador pessoal.3
(3) Para explicar que existe uma relação de amor
entre Cristo e os pecadores, com base no perdão,4 o próprio Jesus contou ao
fariseu Simão a parábola dos dois devedores (Lc 7:40-42), que assegurou à
mulher pecadora: “perdoados estão os seus pecados” (Lc 7:48). Neste particular o
Messias é aquele que encontra alegria na salvação dos perdidos, porque através de
Seu próprio sacrifício pode perdoar pecados.
(4) A teologia da salvação sumarizada por Pedro
no Concílio de Jerusalém, “cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus,
como também aqueles o foram” (At 15:11), refletia os ensinamentos de Cristo.
(5) Foi a partir do autoritativo ensino de Cristo
sobre a salvação que Paulo construiu sua soteriologia. Para o apóstolo a
justificação do pecador não é meramente uma tramitação legal ocorrida fora do
homem em Cristo no céu, mas também um poder transformador que penetra na
vida do pecador penitente quando pela fé (Rm1:16-17) aceita a oferta da cruz
(Rrm 8:1-17; Ef 1:13; Cl 1:13; Tt 3:4-7).5
(6) Em Efésios 2:1-10 essa transformação é
melhor esclarecida. O homem espiritualmente morto está sob o poder do pecado,
do mundo e de Satanás, sendo portanto um filho da ira (Ef 2:1-3). Nos versos 4 a
10 Paulo explica como se processa essa mudança. Ele a resume na frase “pela
graça sois salvos” (Ef 2:5, 10). A locução verbal aparece no perfeito perifrástico
do indicativo na voz passiva.6 Este aspecto verbal enfatiza antes o estado do

1
Joachim Jeremias, As parábolas de Jesus (São Paulo: Paulinas, 1976),
125-126.
2
Bernard Brandon Scott, Hear Then the Parable Minneapolis, MS:
Fortress Press, 1990), 162-163.
3
Ellen G. White, As parábolas de Jesus, 9ª ed. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1990), 310.
4
Idem, O desejado de todas as nações, 566.
5
Heppenstall, Salvation Unlimited, 52-53.
6
Robertson, 4:524.

17
sujeito do que a ação que o gerou, isto é, a permanência no estado de
transformação da salvação do que apenas o ingresso a ela.1
(7) Paulo acrescenta que a justificação tem um
objetivo, expresso no dativo de propósito com ejpiv, “para as boas obras.”2 A
justificação é, portanto, um ato da Divindade através de Cristo pelo homem,
através do Espírito Santo no homem, para que o homem transformado pela graça
possa obedecer aos reclamos divinos.3
(8) Portanto, os ensinos de Cristo em suas
parábolas, o Concílio de Jerusalém e a pregação apostólica (especialmente a de
Paulo) foram decisivos na suplantação da crise soteriológica. Ao lado desses
elementos essenciais anteriormente analisados, três fatores secundários
contribuíram para a superação dessa crise. O primeiro deles foi a crescente
evangelização dos gentios, que fez com que a Igreja Apostólica deixasse de ser
predominantemente judia e fizesse surgir outros centros importantes de
evangelização como Antioquia e Éfeso. O segundo, a destruição de Jerusalém, fez
desaparecer o centro teológico da Igreja na Palestina e o transferiu para cidades do
mundo greco-romano. Finalmente, a conseqüente fuga dos judeus dessa região
descentralizou a direção da Igreja para outras partes do mundo.
d) A Influência da Crise sobre a Missão - Se não fosse
suplantada, a crise soteriológica minaria a própria essência da mensagem cristã.
O poder do evangelho fundamentado na justiça de Cristo teria desaparecido (Rm
1:16-17). Com toda certeza a própria Igreja Cristã teria outra história. A
mensagem da salvação pela graça é o fundamento do evangelho e, sem harmonia
nestes aspectos fundamentais, a Igreja Apostólica como entidade autônoma ruiria
mesmo antes de começar. A missão aos gentios fracassaria e o cristianismo estaria
condenado a ser, na melhor das hipóteses, uma seita judaica sem alcance
universal.
(1) A clara definição apostólica sobre a causa, o
meio e a finalidade da salvação deu ao cristianismo a motivação verdadeira da
evangelização, como Paulo bem expressou ao afirmar: “o amor de Cristo nos
constrange . . . para que os que vivam não vivam mais para si mesmos, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5:14-15). A decisão do Concílio
de Jerusalém levou confiança para toda a Cristandade, conduzindo desta forma a
Igreja na execução bem sucedida da tarefa evangélica: “Assim as Igrejas eram
fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16:5). A mensagem
apostólica fundamentada nos ensinamentos de Cristo e a autoritativa decisão do
Concílio de Jerusalém impulsionaram a Igreja Apostólica para a finalidade da sua
existência: o cumprimento da missão.

Buist M. Fanning, Verbal Aspects in New Testament Greek (Oxford, NY:


1

Claredon Press, 1990), 290-305.


2
A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of
Historical Research (Nashville, TN: Broadman Press, 1934), 605.

Leon Morris, The Cross in the New Testament (Grand Rapids, MI:
3

Eerdmans, 1980), 364-419.

18
5 - Crise de Autoridade - Todos os aspectos fundamentais da
vida eclesiástica têm uma relação de dependência com os diferentes níveis e tipos
de autoridade. A eficiência do governo da Igreja depende, em muitos aspectos, da
aceitação coletiva dos valores que compõem sua autoridade. Autoridade quando
aplicada a Deus é a Sua absoluta capacidade de agir conforme determina Sua
sabedoria, atestada pela criação e salvação do homem (Is 9:6).1 Essa autoridade é
expressa no mundo religioso pela auto-revelação divina, fruto da ação do Espírito
Santo no profeta (2Pe 1:21). Portanto, “revelação é a chave da autoridade
religiosa,”2 e à Igreja ela é delegada. A autoridade absoluta está em Jesus Cristo
(Mt 28:18); a definição autoritativa da verdade está nas Escrituras (Jo 17:17) e a
fonte dela é o Espírito Santo (2Pe 1:19-21).3 Ela foi transmitida aos apóstolos ao
serem escolhidos por Cristo (Lc 6:13-16). Estes por sua vez constituíram os
presbíteros e diáconos, formando, ao lado dos profetas, pastores e mestres, a
autoridade da Igreja tanto universal como local, que têm na revelação a única
autoridade infalível, o tribunal onde todas as questões teológicas devem ser
resolvidas (At 6:1-7; Tt 1:5; 2Pe 1:12-21).4 O governo eclesiástico será eficiente
se ele, juntamente com a comunidade a que serve, acatam o seu próprio sistema de
autoridade pré-estabelecidopreestabelecido.5

a) Contexto Histórico - O Dom profético é o método que


Deus estabeleceu para, através de uma pessoa escolhida, comunicar Sua vontade a
um indivíduo, a um grupo de pessoas, a uma nação ou até a toda humanidade. A
autoridade profética quando não é acatada compromete a unidade do povo de
Deus, porque ela é um elemento promotor e mantenedor da unidade da Igreja. A
relação diante da mensagem envidada por Deus vai determinar os resultados sobre
o futuro das pessoas, das nações, do mundo todo e da Igreja (2Cr 20:20; 36:15-
16). Prosperidade ou ira provenientes de Deus estão, respectivamente, entre as
conseqüências de aceitar ou rejeitar a autoridade profética. Através de sua história
a humanidade em geral e o povo de Deus em particular sempre tiveram
dificuldades de acatar a palavra autoritativa do profeta.6

Werner Foester, “ejxousiva,” em: Kittel e Friedrich, eds., Theological


1

Dictionary of New Testament, 2:562-563, 566-570.

Bernard Ramm, The Pattern of Religious Authority (Grand Rapids, MI:


2

Eerdmans, 1968), 18-21.


3
Martyn Lloyd-Jones, Autoridade (Queluz, SP: Núcleo, 1978).

Alan Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento São Paulo:


4

ASTE, 1966), 318-324; E. J. Forrester e G. W. Bromiley, “Church Government,”


em: Bromiley e Smith Jr., eds., The International Standard Bible Encyclopedia
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992), 1:696-698; P. H. Menoud, “Life and
Organization of Church,” em: George A. Buttrick, ed., The Interpreter’s
Dictionary of the Bible (New York: Abingdon Press, 1962), 1:617-626.
5
Para entender os diversos tipos de autoridade, ver: Ramm, The Pattern
of Religious Authority, 10-12.

19
(1) O povo antidiluvianoantediluviano não
atendeu às advertências de Noé, e morreu submerso pelas águas do dilúvio (Gn 6-
7).1 Um dos profetas mais contestados do Antigo Testamento foi Moisés. Faraó
não quis ouvir as palavras Moisés e pereceram ele e seu exército sob as águas do
Mar Vermelho (Ex 14:26-31). Israel da mesma forma rejeitou as advertências que
Deus enviou através de Seu servo e foi ferido diversas vezes por pragas (Ex
15:22-27; cf. Nm 11:31-34; 16:41-49). A autoridade profética de Moisés foi três
vezes desafiada com sedição: na rebelião de Miriã e Arão (Nm 12:1), na sedição
do povo (Nm 14:1-4) e na sublevação de Coré, Datã e Abirão (Nm 16:1-3). As
conseqüências foram desastrosas, pois Miriã ficou leprosa (Nm 12:10),2 e o povo,
sob a ira divina, só não foi rejeitado porque Moisés intercedeu por ele (Nm 14:12-
19); Coré, Datã e Abirão foram tragados pela terra que se abriu sob os seus pés
(Nm 16:1-49).3
(2) No período dos reis de Israel a situação não
foi diferente. Saul não deu ouvidos a voz de Deus pela boca de Samuel,
terminando sua vida rejeitado por Deus (1Sm 13:8-23; cf. 15:26; 31:4).4 Acabe de
igual modo não deu atenção às palavras dos profetas (Elias e de Micaías), e a sua
morte foi como predissera o profeta Elias (1Re 21:19; cf. 22:38). A mensagem de
Jeremias parecia anti-patriótica aos olhos do povo e de seus líderes. Aconselhava
a rendição de Israel à Babilônia, enquanto condenava toda tentativa de aliança
com o Egito. As advertências não foram ouvidas e o povo amargou a experiência
do cativeiro. A Escritura declara que “zombavam dos mensageiros, desprezavam
as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor
contra o seu povo, e não houve remédio (2Cr 36:16; 2Re 25:8-12).
(3) A história neotestamentária repete a atitude
humana de rejeitar os profetas enviados por Deus. João Batista foi degolado a
pedido da filha de Herodias, e sob a ordem de Herodes, porque o profeta
denunciava uma união conjugal ilícita (Mr 6:17-25). O povo de Israel submeteu
Cristo a uma falsa acusação, e a um tendencioso julgamento, seguido de morte
injusta. Sobre todos estes as conseqüências foram dramáticas no desenrolar
imediato da história, e o serão na eternidade (Ap 1:7). Por fim, Paulo foi
perseguido, suas palavras de advertência foram mal interpretadas, rejeitadas (1Co
5:1-18) e sua autoridade apostólica foi contestada (2Co 10:1-18).
b) Descrição da Crise - Quando a evangelização de
Jerusalém se tornara um sucesso, deu-se a murmuração dos helenistas contra os
hebreus, envolvendo os apóstolos. Ela se deveu ao fato de que as viúvas dos

6
T. Housel Jemison, A Prophet among You (Mountain View, CA:Pacific
Press, 1955), 92-93.
1
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (1978), 1:254.
2
E. G. White, Patriarcas e profetas, 400-403.
3
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (1978), 1:879; E.
G. White, Patriarcas e profetas, 415-426.
4
E. G. White, Patriaracas e profetas, 671-686.

20
helenistas estavam sendo preteridas na distribuição alimentar (At 6:1-2). Esta
reclamação contestava de forma generalizada e sub-reptícia a maneira como os
apóstolos estavam administrando essa atividade. A murmuração era, portanto,
contra os apóstolos, por não estarem sendo justos no exercício da autoridade.
Tratava-se de um erro de administração social, acrescido de uma tensão de
relacionamento entre os dois grupos. A crise foi agravada por dois outros
aspectos, o rápido crescimento da Igreja em Jerusalém1 e a falta de uma estrutura
organizacional que atendesse esse tipo de atividade que embora fosse importante
não era a prioridade do ministério apostólico. Esse litígio, portanto, comprometia
a autoridade da Igreja.2
(1) Essa atitude de revolta continuou presente na
vida da Igreja Apostólica, quando a autoridade apostólica e profética de Paulo
foram questionadas por membros da Igreja em Corinto. Ele estava consciente
deste fato ao afirmar que “todavia, a mim muito pouco se me dá de ser julgado por
vós ou por tribunal humano, nem eu tampouco julgo a mim mesmo” (1Co 4:3).
Paulo não preenchia o padrão de autoridade que os coríntios julgavam importe
segundo a perspectiva deles. Para que respeitassem a Paulo como apóstolo, ele
deveria ser eloqüente orador, Ter uma impressiva teologia gnóstica e/ou legalística
e caracterizar-se por um comportamento autoritário.3 Desta forma foi atacado por
seus opositores em três aspectos: sua pessoa, seus ensinos e seu caráter. Como
pessoa, Paulo foi chamado de tapeinovς (2Co 10:1), cuja tradução é modesto,
insignificante. Sua presença era considerada frágil e desprezível (2Co 10:10), e
sua oratória fraca (2Co 11:6). Chamaram-no de idiwvthς, ou seja, indouto,
ignorante, inábil em qualquer profissão (2Co 10:1-10; 11:6).4 Os
“superapóstolos” (2Co 11:5) colocaram os seus ensinos em dúvida, como se pode
inferir da defesa de Paulo, que analisa a acusação a partir das próprias palavras
dos acusadores.5
(2) Procuraram como último recurso manchar a
lisura do seu apostolado, o que o levou a inquirir “terei eu agido com leviandade?”
(2Co 1:17), “ninguém me considere insensato” (2Co 11:16), “vos explorei?” (2Co

John Stott, The Spirit, the Church and the World: The Message of Acts
1

(Downer Grove, IL: InterVarsity, 1990), 120-121.


2
C. Peter Wagner, The Acts of the Holy Spirit Series (Ventura, CA: Regal
Books, 1994), 1:167-169; Donald Guthrie, The Apostles (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1985), 55-57.
3
C. K. Barret, A Commentary on the First Epistle to the Corinthians
(New York: Harper & Row, 1968), 21; Champlin, O Novo Testamento
interpretado versículo por versículo, 4:285.
4
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (1980), 6:900,
902, 911.
5
Nesta palavras inferem-se as acusações sofridas possivelmente por
Paulo: “mercadejando a Palavra de Deus” (2Co 2:17), “gloriar-me sem medida”
(2Co 10:13), “pregar outro Jesus” (2Co 11:4).

21
12:16-17). Nestas poucas passagens Paulo é insultado de leviano, insensato e
desonesto.1 É evidente que tal atmosfera da Igreja de Corinto só poderia conduzi-
la à fragmentação, que já não era pequena no I século AD.2 Nesse episódio tatno a
autoridade do dom profético como a pessoa do profeta foram desacatadas.
(3) Era imperativo uma rápida ação sanadora para
afastar as conseqüências danosas que levariam a Igreja Apostólica à fragmentação,
a perder sua visão missiológica e à confusão doutrinária resultante.
c) Superação da Crise - A crise inicial de autoridadena
Igreja de Jerusalém foi superada pela maneira objetiva e sábia como os apóstolos
conduziram as tensões causadas pela má distribuição de alimentos.
Primeiramente convocaram a comunidade dos discípulos, respeitando a autoridade
eclesiástica (At 6:2). Em seguida identificaram o ministério da palavra e da
oração como prioridade do apostolado deles (At 6:2,4). Finalmente orientaram a
Igreja na escolha dos sete diáconos, homens de formação grega, para
administrarem a distribuição dos alimentos e se responsabilizarem por atividades
similares (At 6:3).3 Criando a função do diaconato, os apóstolos dando um grande
passo na organização da Igreja, ainda mantiveram o lugar da autoridade da Igreja
na solução de seus litígios.4
(1) A contestação da autoridade profética de
Paulo foi suplantada pelas três cartas dirigidas aos coríntios,5 nas quais vindica a
origem divina do seu apostolado (1Co 1:1; 2Co 10:8; 13:10). Ele adverte que pela
força de sua autoridade apostólica tratá-los-ia com a severidade que a situação
exigisse (1Co 4:19-21; 2Co 10:2,11). A evidência de que o litígio foi resolvido

1
Ralph P. Martin, 2Corinthians, em: David Hubbard e Glen W. Baker,
eds., Word Biblical Commentary (Waco, TX: Word Books, 1986), 40:lxi-lxii.
2
Houve cerca de cem seitas do cristianismo no fim do II século AD como
se declara em: Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 4:286.
3
Guthrie, 55-57; Wagner, 1:179-191; Stott, The Spirit, the Church and
the World, 120-124.

Para Ter uma noção da importância da criação dos diáconos ver: E. G.


4

White, Atos dos apóstolos, 97-102.


5
Além das duas cartas existentes como manuscritos únicos o apóstolo faz
referência a existência de apenas mais uma carta em 1Coríntios 5:9: “Já em carta
vos escrevi que não vos associásseis com os impuros.” A tentativa de pela análise
da estrutura literária de se estabelecer uma Quarta epístola não conta com
nenhuma declaração bíblica comprobatória, por isso preferes-se ficar dentro dos
limites que a Revelação claramente oferece. Além disso a reprovação feita por
Paulo em 2Coríntios 10-12 pode referir-se a um grupo resistente aos conselhos de
1Coríntios, não sendo necessário falar-se de uma Quarta carta. Para informações
mais completas das circunstâncias históricas, ver: Ellen G. White, Sketches from
the Life of Paul (Washington, DC: Review and Herald, 1974), 128-194.

22
atesta-se por suas palavras em 2 Coríntios 7:5-16: “Alegro-me porque, em tudo,
posso confiar em vós.”
(2) Em todo o processo fica evidenciada a função
normativa da autoridade absoluta de Cristo, da autoridade profética dos apóstolos
e da autoridade administrativa da Igreja, como decisivas na suplantação da crise
de autoridade.
d) Influências da Crise sobre a Missão - Problemas que
afetem o exercício da autoridade geram crises, que quando não superadas,
enfraquecerão espiritualmente a Igreja, comprometendo significativamente seu
potencial missiológico. O divisionismo, espírito de competição, antagonismo e
disputa afastam o Espírito Santo, por cujo intermédio unicamente poderá a Igreja
cumprir sua missão.
(1) A aceitação da autoridade absoluta de Jesus
Cristo, da revelação na pessoa de seus apóstolos e da Igreja trouxeram
crescimento espiritual, quantitativo e orgânico à Igreja Apostólica. O testemunho
escriturístico é claro a esse respeito (At 2:41; 4:4; 5:14; 16:5; 21:20). Resolvida a
crise administrativa inicial, é dito que “crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém,
se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam a fé” (At 6:7). O mesmo deve Ter ocorrido em Corinto e outros pontos
do Império, com as Igrejas que acataram a autoridade apostólica.1 Um espírito de
fraternidade, concórdia e união concorreram para que a Igreja Apostólica
crescesse em número e qualidade de fé. Portanto, o crescimento qualitativo,
orgânico e numérico da Igreja Apostólica ocorreu em decorrência da superação,
não apenas das crises missiológicas, cristológicas e soteriológicas, mas também da
crise de autoridade.
6 - Crise Escatológica - As profecias messiânicas do Antigo
Testamento alcançam seu cumprimento no Novo Testamento. O retorno do
Messias consuma a obra da redenção operada por Ele em Seu primeiro advento e
faculta ao pecador a posse definitiva e final das promessas escatológicas de
salvação providas por Seu sacrifício (Hb 9:28).2 Este fato está implícito nos três
termos empregados para identificar os dois adventos: parousiva, significando
vinda, chegada e presença (2Pe 1:16; 1Ts 3:13); ajpokavluf , revelação (Ap
1:1; 2Ts 1:7); e ejpifavneia, aparecimento (Tt 2:11; 2Ts 2:8).3 Devido a tensão

1
Para comprovar que Paulo passou por Corinto em sua terceira viagem e
que o relatório de Paulo em Atos 21:20 inclui a cidade de Corinto ver: Norton,
204; Stagg, 199; Williams, 345; Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible
Commentary (1980), 6:380000005, 403; Bruce, The Acts of the Apostles, 423, “a
presente visita (a Corinto, At 20:1-2) foi a terceira de acordo com 2Coríntios
12:14 e 13:1.” O relatório de Paulo no fim da terceira viagem incluía seu trabalho
na cidade como se pode constatar em: E. G. White, Sketches from the Life of Paul,
210.
2
Samuelle Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness,
Biblical Perspectives, vol. 6 (Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1994),
51.

23
existente entre a expectativa urgente e a demora do segundo Advento, o Novo
Testamento retrata uma incipiente crise comum aos cristãos do I século Ad.

a) Contexto Histórico - A escatologia vétero-


testamentária aponta para um mundo perfeito que emergirá conforme a vontade de
Deus no fim dos dias (Is 65:17-25), no Dia do Senhor. Quando a época
escatológica chegar haverá paz (Is 57:19), perpétua alegria e justiça em todo o
universo (Is 62:7-11). Este dia será o Dia do Julgamento, quando o Senhor
exercerá Sua ira contra os que O rejeitaram, e vindicará os justos (Is 65:1-16). O
Dia do Senhor é retratado em Ezequiel como o dia da queda de Gogue (Ez 39:1-
29), sob a imagem da ceia das aves de rapina. Já Amós e Sofonias definem esta
época como um tempo de destruição de todos os incrédulos, inclusive dentre o
professo povo de Deus (Am 5:18-20; Sf 3:8). Esses quadros enaltecem a idéia de
que o Messias reinaria com justiça em toda a Terra (Is 32).
(1) Neste tempo Deus promete a restauração do
remanescente de Israel (Is 12:1-6). A promessa se centraliza na vinda do Messias;
o Renovo do tronco de Jessé que libertará e recolherá o restante do seu povo (Is
11:1-16). Nas palavras de Jeremias esse Renovo justo, descendente de Davi, será
um rei (Jr 23:5),1 que conforme a teologia judaica, reinará dentro de um território
específico, em cumprimento à promessa feita a Abraão: “À tua descendência dei
esta terra, desde o rio do Egito até ao grande Eufrates” (Gn 15:18).
(2) Esta figura do Messias-Rei dominando sobre
um território específico influenciaria predominantemente toda a escatologia
judaica a partir do exílio babilônico. No período intertestamental, que serviu de
ponte de ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, surgiu uma variada
literatura religiosa.2 O aspecto apocalíptico dessa literatura, nos seus três modelos
de restauração na era vindoura,3 apresenta sempre a figura de um libertador, cuja
imagem fixada pela escatologia judaica foi a de um rei da dinastia davídica, cuja
chegada é vista como urgente.
(3) A espera de sua vinda foi marcada por uma
expectativa temporal, caracterizada pela marcação de datas.4 A crença popular era

Ibid.; François Hubert LePargneur, Esperança e Escatologia (São


3

Paulo: Paulinas, 1974), 127-128.

Niels-Erik Andreasen, “The Advent Hope in the Old Testamen,” em: V.


1

Norskov Olsen, ed., The Advent Hope in Scripture and History (Washington, DC:
Review and Herald, 1987), 21-25; Wigoder, 232-233.
2
Para informação sobre a literatura judaica intertestamental ver: Leonard
Rost, Introdução aos livros apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento e os
manuscritos de Qumram (São Paulo: Paulinas, 1980); Champlin, Enciclopédia de
Bíblia Teologia e Filosofia, 1:227-231; Andreasen, 31-45.

Os três modelos são: restauração terrestre, restauração cósmica e reino


3

messiânico, Andreasen, 34.


4
Para melhor compreensão das profecias de tempo no período
intertestamental e no I século do cristianismo ver: LeRoy E. Froom, The

24
que depois de 4291 anos a partir da criação o Messias viria para a nação israelita.
Por outro lado, acreditava-se que o mundo duraria apenas 85 jubileus (4250 anos),
e que no último Ele viria. Cria-se ainda que ao se completarem 4231 anos, a
começar da criação, nenhuma terra deveria ser comprada, pois perderia o valor
com a chegada do Messias.1
(4) Essas profecias de tempo influenciaram a
mentalidade judaica nos dias da dominação romana, e foram introduzidas no
cristianismo como uma inestimável herança.2 A idéia de que a profecia das 70
semanas de Daniel 9 estaria se cumprindo naqueles dias, fortalecia a expectativa
de que o Messias em breve viria à Palestina para salvar Israel. Essa expectativa
era comum nos dias de Jesus.3 Como a vinda do Messias-Rei envolvia um
domínio territorial, entendia-se que Ele viria para iniciar a nova era, quando Jeová
reinaria eternamente com justiça sobre Israel e sobre o mundo (Is 65-66). Ou seja,
o conceito da presença do Messias pressupunha o estabelecimento do reino
messiânico.
b) Descrição da Crise  A história da Igreja Cristã,
durante o I século AD, foi marcada pelo senso da brevidade da Parousia.4 O Novo
Testamento declara diversas vezes que o mundo vivia nos eventos finais da
história da salvação (LC 18:7-8; Hb 1:1-5; 9:26; 10:37; Tg 5:8,9; 1Jo 2:18; Ap
2:16; 3:11; 22:7,12,20). Os cristãos, portanto, no primeiro século tinham a
convicção de que a última hora havia chegado.5
(1) A perspectiva de tempo em relação ao
Segundo Advento, estranha à teologia do Novo Testamento, é perceptível algumas
vezes na vida da Igreja Apostólica.6 Pode-se ainda acrescentar, como parte deste

Prophetic Faith of Our Fathers (Washington, DC: Review and Herald, 1950),
1:181-204.
1
Abraham Cohen, Everyman’s Talmud, 350-351.
2
Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 1:889.
3
“Era bem conhecido que as setenta semanas da profecia de Daniel,
abrangendo a vinda do Messias, se achavam quase no fim; e todos estavam
ansiosos por partilhar daquela era de glória nacional, então esperada.” E. G.
White, O desejado de todas as nações, 117, declarações semelhantes ver: Ibid.,
28, 31, 84.

J. Dwight Pentecost, Things to Come: A Study in Biblical Eschatology


4

(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1964), 370-394.


5
Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o futuro (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1989), 26-28; Brian L. Hebblethwaite, The Christian Hope (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1984), 27, 36; George Eldon Ladd, The Blessed Hope
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1970), 19-20; G. C. Berkouwer, The Return of
Christ (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1972), 86.
6
Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 2:99-100.

25
ambiente de iminência, as palavras de Jesus em três ocasiões diferentes. Estas
declarações são interpretadas pela crítica liberal como sugerindo o cumprimento
do e[scaton dentro da primeira geração de cristãos. No envio dos doze Ele
disse: “não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do
Homem” (Mt 10:23). ao dar instrução sobre a negação própria e Sua vinda
gloriosa, declarou: “dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira
nenhuma, passarão pela morte até que vejam Ter chegado com poder o reino de
Deus” (Mr 9:1). Por último ao exortar os apóstolos com a parábola da figueira no
contexto de seu retorno, Ele advertiu “não passará esta geração sem que tudo isso
aconteça” (Mr 13:30).
(2) Apesar de toda discussão em torno desses
textos não há nenhuma referência bíblica de que eles tenham tido alguma relação
1

direta com a crise escatológica que ameaçava vir sobre a Igreja Apostólica. Pode-
se inferir, entretanto, que estas passagens poderiam Ter uma provável influência
neste contexto. Os sinais de uma grave crise ameaçavam lançar a Igreja em mais
uma grande decepção.
(3) No início do sermão profético de Mateus 24
os apóstolos deixaram transparecer seu interesse no assunto indagando: “Dize-nos
quando sucederão estas cousas e que sinais haverá da tua vinda e da consumação
do século” (Mt 24:3; Mr13:3). A outra ocasião em que as atenções da comunidade
cristã se voltaram para o aspecto cronológico foi no dia da ascensão, quando
disseram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6).
(4) Uma preocupação cronológica bem mais
específica ocorreu no diálogo de Cristo com Pedro após a ressurreição, quando o
apóstolo pergunta sobre o destino de João. A resposta de Cristo foi “se eu quero
que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” (Jo 21:22). Esta declaração
levou os ouvintes a entenderem que o apóstolo não morreria, ou seja, que Jesus
voltaria antes da morte de João (Jo 21:23). Isto leva a admitir que havia, portanto,
uma curta estimativa de tempo para a Parousia entre os cristãos no final do I
século AD.
(5) A situação mais comprometedora, entretanto,
ocorreu entre os membros da Igreja de Tessalônica, após a rápida evangelização

1
Para examinar a discussão teológica sobre estes textos ver: Werner
Georg Kümmel, Promise and Fulfilment (Naperville, IL: Alec R. Allenson, 1957);
Georg E. Ladd, Crucial Questions About the Kingdom of God (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1961), 22-39; idem, The Presence of the Future (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1964), 3-42; Herman Ridderbos, The Coming of the Kingdom (St.
Catharines, ON: Paideia Press, 1978), 444-456; Comissão Revisora do Santuário,
“Perguntas e respostas sobre questões doutrinárias,” MA, março/junho de 1981,
23-26; José Carlos Ramos, “An Exegetical Study on Mattew 24:34” (monografia,
Andrews University, 1982), 131-135; Alberto R. Timm, “A volta de Cristo - essa
bendita esperança,” RA, janeiro de q984, 3-4; Luiz Nunes, “O reino de Deus: uma
abordagem bíblica em São Mateus 1 a 7” (dissertação de Mestrado em Teologia,
Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Instituto Adventista de
Ensino, 1984), 74-75; Ralph E. Neall, How Long, O Lord? (Washington, DC:
Review and Herald, 1988); Berkouwer, The Return of Christ, 65-95; Hoekema,
151-165; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness, 78-79.

26
feita por Paulo e seus companheiros naquela cidade. Os recém convertidos
membros dessa comunidade acreditavam que a Segunda Vinda de Jesus seria um
acontecimento para os seus dias, e que as bênçãos advindas deste advento seriam
usufruídas só pelos vivos. Assim cada cristão que morria trazia-lhes um profundo
desgosto.1 Desta situação, comunicada a Paulo em Corinto por Timóteo, surgiu a
primeira Epístola aos Tessalonicenses.
(6) Na explicação de Paulo sobre o destino dos
vivos e dos mortos na Segunda Vinda ele faz uso do pronome pessoal da primeira
pessoa do plural. Razão porque o apóstolo foi mal entendido por estar se
incluindo entre os vivos, e portanto a Parousia dar-se-ia antes da sua morte (1Ts
4:16-17). Alguns tiveram um comportamento desordenado, resolvendo não mais
trabalhar, e vivendo da caridade da Igreja (2Ts 3:6-12).2 Para esclarecer o assunto
Paulo escreveu a segunda carta àquela comunidade.
(7) A estes testemunhos podem ser acrescidas as
declarações dos pais apostólicos, ainda dentro do I século AD, como encontradas
nas epístolas de Clemente, Inácio e Barnabé. Eles também acreditaram na

1
Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por versículo,
5:205; E. G. White, Atos dos apóstolos, 258.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 264-265.

27
iminência do segundo advento.1 Esta foi uma herança que permeou o pensamento
dos cristãos no primeiro século, e que afetou a noção de iminência da Segunda
Vinda. A tendência de se estabelecer uma perspectiva de tempo encontra-se
inclusive entre os pais apostólicos ainda no limiar do I século AD e mesmo outros
cristãos desta época fora das páginas do Novo Testamento.2 A morte de Nero, a
destruição de Jerusalém e outros acontecimentos foram encarados como sinais do
segundo advento. Como Jesus não voltava, os mais cuidadosos tentaram
estabelecer datas mais distantes para a Parousia. A epístola de Barnabé apontava a
volta de Jesus para mil anos mais tarde.3 Tal sucessão de aocntecimentos
fortalecia o conceito de brevidade com uma visão de tempo marcado, que traria
sem dúvida mais uma séria crise sobre a Igreja Apostólica.
c) A Superação da Crise  Em seu discurso profético
Cristo deixou bem clara Sua posição sobre o aspecto cronológico, quando disse:
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão o Pai” (Mt 23:36). Essa declaração deveria ser o parâmetro de toda
tentativa de se estabelecer uma data para a Parousia. A resposta de Cristo à
pergunta dos apóstolos sobre o tempo, foi de molde a evitar o sofrimento que os
apóstolos teriam se soubessem da longa espera que teriam pela frente, sobrepondo
intencionalmente as profecias da Segunda Vinda aquelas que apontavam para a
destruição de Jerusalém.4 Concomitantemente, Cristo precisava manter a
perspectiva de brevidade e afastar a apressada perspectiva temporal. Isto foi o que
fez ao falar sobre os sinais que antecederiam a Parousia.5 Advertiu sobre os
perigos do senso de tardança nas cinco parábolas do discurso profético (Mr 13:34-
37); Mt 24:43-25:30), enquanto enfatizava a necessidade de vigilância e oração.6
(1) Parece que os ensinamentos de Cristo sobre a
escatologia e as declarações de outros livros do Novo Testamento evitaram o

1
The First Epistle of Clement to the Corinthians, cap. 23, em: Alexander
Roberts e James Donaldson, eds., The Anti-Nicene Fathers (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1967), 1:11; The Epistle of Ignatius to the Ephesians, cap. 11, em:
ibid., 1:54; The Epistle of Ignatius to the Policarp, cap. 3, em: ibid., 1:94; The
Epistle of Barnabe, cap. 21, em: ibid., 1:149; Froom, The Prophetic Faith of Our
Fathers, 1:208-209.
2
Ladd, The Blessed Hope, 19-22.
3
The Epistle of Barnabé, cap. 15, em: Roberts e Donaldson, eds., 146-
147; Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 1:211; Durant, 7:294;
LePargneur, 20; Hebblethwaite, 29.
4
E. G. White, O desejado de todas as nações, 606.
5
Ladd, The Presence of The Future, 326-327.
6
Ridderbos, 510-523; Berkouwer, The Return of Christ, 79-95; Koema,
158-162; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness, 92-98;
Goppelt, 93-95.

28
desenvolvimento da crise escatológica que colocaria, por certo, em perigo a
confiabilidade das promessas de Deus, a ética cristã e o exercício da missão.
(2) João, por sua vez, tendo esse paradigma
teológico em sua mente refutou a possibilidade da volta do Messias em seus dias
quando disse que “Jesus não dissera que tal discípulo não morreria” (Jo 21:23).1
As palavras de Jesus não visavam estabelecer um tempo para o e[scaton, mas
antes deixar claro que o final destino do apóstolo era uma questão da soberania de
Deus. O assunto, portanto, estava fora da alçada de Pedro.2
(3) A errônea visão dos tessalonicenses
concernente à urgente proximidade da Segunda Vinda os estava conduzindo a um
estado de agitação e de excitamento, que os deixava inseguros (2Ts 2:2).3 Esta
distorcida hermenêutica e este estado de espírito os conduziriam ao
desapontamento e ao escárnio popular, podendo ainda levá-los a pôr em dúvida as
verdades da fé cristã.4 Para evitar tais conseqüências o apóstolo submeteu essas
crenças ao escrutínio da Palavra, dizendo que o e[scaton não aconteceria
enquanto não viesse a apostasia, o homem da iniquidade (1Ts 2:3-9).5
(4) Os parâmetros hermenêuticos estabelecidos
por Cristo quanto à interpretação de seu discurso escatológico, ajudaram os
apóstolos Paulo e João a evitar o que seria a repetição de uma grave crise, pois
suas declarações acerca do e[scaton parecem em muitos sentidos um eco dos
ensinamentos de Cristo (Mt 24:5,11; cf. 1Tm 4:1; Mt 24:29; cf. Ap 6:12-13).6
Jesus Cristo apresentou vários sinais que deveriam ocorrer em diversas áreas da
atividade humana e da natureza, pois o senso de urgência exagerado seria
certamente evitado pela atenção a tais sinais (Mt 24:3-28; Mr 13:3-13; Lc 21:7-
19). Esta postura suplantou a crise escatológica, evitando mais um
desapontamento para a Igreja Apostólica.

B. F. Westcott, The Gospel According to St. John (Grand Rapids, MI:


1

Eerdmans, 1978), 305-306.


2
Mário Veloso, Comentáriodo evangelho de João (Santo André, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 1984), 375; Bruce, João: introdução e comentário,
4:346-349; Brown, The Gospel According to John, 1118-1119; Robertson, 5:322.

Para verificar este estado de espírito refletido nas palavras qroevw e


3

saleuvw, ver: Robertson, Word Pictures in the New Testament, 4:47.


4
Ellen G. White, O grande conflito, 15ª ed. (Santo André, SP: Casa
Publicadora Brasileira , 1976), 456; idem, Atos dos apóstolos, 264-266.
5
Nichol, ed., Seventh-Day Adventist Bible Commentary (1980), 7:269-
274; E. G. White, Patriarcas e profetas, 735.
6
Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness, 94;
Berkouwer, The Return of Christ, 67-75. Para uma discussão teológica de 1
Tessalonicenses 4:15-17, ver: Nichol, ed., Seventh-Day Adventist Bible
Commentary (1980), 7:248-250; Lepargneur, 150-156; Hoekema, 164-167;
Berkouwer, The Return of Christ, 92-95; Bacchiocchi, The Advent Hope for
Human Hopelessness, 85-88.

29
d) A Influência da Crise sobre a Missão  Tivesse
ocorrido um segundo desapontamento além do da cruz, com mais uma expectativa
frustrada sem explicação teológica justificável, a própria continuidade do
cristianismo estaria em jogo. É evidente que, devido a relação íntima entre a
escatologia e a missiologia, a crise colocava em risco permanente a razão de ser
da missão. Estava em jogo não só uma perspectiva de temporalidade, mas de
confiabilidade nas mais acariciadas promessas de Deus. Isto poderia significar o
fim da missão, e sem ela o Cristianismo não teria razão de ser
(1) O respeito às Palavras de Cristo e à
autoritativa palavra profética de João e Paulo (Mt 24:36; Jo 21:23; 1Ts 2:13; 2Ts
2:15; 3:6) afastaram a possibilidade de conflitos internos e externos na Igreja
Apostólica. Como conseqüência, a Igreja foi estabelecida na verdade, e a missão
teve continuidade. A urgente manifestação de Cristo em glória está intimamente
ligada com o senso de missão, como o próprio Jesus em sua ascensão estabeleceu
ao dizer: “e sereis minhas testemunhas”, e os anjos acrescentaram: “Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o viste subir” (At 1:8-11). A
brevidade da parousiva, portanto, foi um ensinamento saudável para a vida da
Igreja primitiva, pois aliou o senso de iminência e de constante vigilância à
missão.1 A demora, em nossa perspectiva de tempo, deve ser o motivo para que o
repetido conselho quanto a vigiar e orar, no contexto das parábolas do discurso
profético, seja seguido. O sentido da verdadeira vigilância, portanto, leva ao
genuíno cumprimento da missão.
7 - Conclusão  Todas as crises aqui examinadas tiveram uma
tendência desagregadora da unidade da Igreja Apostólica. A visão estreita da
missão, fundamentada em barreiras raciais e religiosas, impediu construir os
homens, dispersos pelo pecado, em uma só família. O gnosticismo e o judaísmo,
com seus ensinamentos teológicos heterodoxos sobre cristologia e soteriologia,
ameaçaram destruir os aspectos mais relevantes da unidade doutrinária
fundamental do cristianismo e o principal conteúdo do querigma. A crise
eclesiológica com a sublevação contra a autoridade afetaram também a unidade da
Igreja, incapacitando-a de gerir os seus próprios objetivos missionários, e se não
fosse devidamente administrada teria trazido em seu caminho a anarquia
administrativa que é a maneira mais rápida para o desaparecimento de qualquer
instituição. A crise escatológica, caso não ocorresse sua suplantação, lançaria a
Igreja Apostólica na amargura de mais um desapontamento, colocando em risco a
confiança dos primeiros cristãos nas promessas de Deus e nEle próprio, e o
divisionismo e o enfraquecimento espiritual seriam o resultado inevitáveis.

a) Portanto, todas as crises são uma ameaça à unidade e


à realização da missão evangélica. A Igreja Cristã Primitiva, contudo, soube
administrar suas crises tão eficientemente que manteve a unidade do corpo de
Cristo, por isso Paulo pôde declarar em 65 AD: “Não vos deixando afastar da

1
Timm, “A volta de Cristo - essa bendita esperança!”,9; Bekouwer, The
Return of Christ, 84-85; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness,
98.

30
esperança do evangelho que ouviste e que foi pregado a toda criatura debaixo do
céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1:23).

BII  AUTORIA DE ATOS

1 - Evidências Externas  As mais primitivas declarações sobre


a autoria de Atos pertence aos últimos 25 anos do II século. O conhecido prólogo
Anti-Marcionita considera Lucas como autor de Atos. O Fragmento Muratoriano
contém o primeiro cânon da Escritura cristã. “Os Atos de todos os apóstolos têm
sido escritos em um livro. Lucas, endereçando ao ‘excelentíssimo Teófilo,’
aborda uma a uma as coisas que ocorreram em sua presença.”

a) Do fim do II século vem a evidência de que Irineu


menciona Lucas como o autor do Terceiro Evangelho e de Atos. Um testemunho
similar é o de Clemente de Alexandria. “Lucas, no livro de Atos dos Apóstolos
relata o que Paulo disse: “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente
religiosos” (At 17:22). Clemente ainda acrescenta: “Pode ser reconhecido que
Lucas com sua pena escreveu os Atos dos Apóstolos.” O mesmo testemunho foi
dado por Tertuliano, Orígenes. Eusébio e Jerônimo. É testemunho durante o II
século que o autor dos dois volumes A Teófilo foram de uma e a mesma pessoa, e
que tal pessoa é Lucas.

2  Evidências Internas  O autor foi Lucas, o Terceiro


Evangelista. A primeira implicação ao se ler as primeiras palavras de Atos é que
se verifica a íntima identidade com o terceiro evangelho, quando ele diz que
escreveu “o primeiro livro.” Teófilo, destinatário das primeiras palavras de Atos,
é, certamente, o mesmo “excelentíssimo Teófilo” do terceiro evangelho (Lc 1:1-4;
cf. At 1:1). A íntima similaridade no estilo, “linguagem e esturura fraseológica
entres estas duas obras nos leva a mesma conclusão: Lucas é o autor de ambos os
documentos, com sua visão universal, com seu interesse nos gentios, sua forma
agradável de tratar as pessoas do sexo feminino e sua comum tendência
apologética. O fim de Lucas completa-se com o início de Atos, em ambas as
obras Jesus aparece após a ressurreição na Judéia para os seus discípulos (Lc
24:44-53; cf. At 1:6-11). Nestas passagens os temas se repetem: a vinda do
Espírito Santo, os discípulos como testemunhas e a ascensão. A unidade de
autoria é fortalecida pelo relato do julgamento de Jesus diante de Herodes Antipas
tanto no evangelho como em Atos (Lc 23:7-12; cf. At 4:27), que não aparece nos
outros evangelhos.

a) O autor era companheiro de Paulo  A evidência


desse companheirismo fica comprovada com a mudança repentina do tratamento
em 3ª pessoa para a 1ª pessoa. No livro de Atos há três seções com o emprego do
pronome “Nós:” Atos 16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16. EEjzhthvsamen
identifica o começo da primeira seção de “Nós,” em Atos 16:10. Isto indica o
pessoal envolvimento do autor nos eventos por ele relatados. O último bloco
inicia-se em Atos 27:1 com o pronome hjma~~. Aqui de novo o narrador é
identificado com autor que é Lucas como companheiro de Paulo em sua viagem

31
para Roma. Não se pode afirmar se ele teria ido como passageiro comum, ou se
conseguiu este direito por ser médico. Os detalhes que ele conta desta viagem e
do naufrágio mais especificamente demonstram que Lucas presenciou
pessoalmente os acontecimentos relativos a viagem de Paulo para Roma.
(1) A conclusão a que se chega é que todo o livro
de Atos foi escrito pelo autor que ao mesmo tempo é o companheiro de Paulo em
suas viagens.

CIII  DADOS PESSOAIS


Lucas era o único gentio entre os escritores do Novo Testamento. Seu nome era
latino, uma vez que Lucas é uma forma reduzida do nome “Lucius.”

12  Corrobora esta posição a distinção que Paulo faz entre seus


companheiros os que eram ou não judeus. Aristarco, Marcos e um tal Jesus foram
identificados como os únicos judeus que estavam com ele, “estes são os únicos
circuncisos que estão comigo.” Os demais, portanto, seriam gentios, entre os
quais é mencionado Lucas (Cl 4:10-14).

a) Outra evidência para advogar a origem gentia de


Lucas é o uso que ele faz da Escritura na versão grega. Ele não traduz o texto em
hebraico para o grego, mas faz uso direto do texto grego. Possivelmente ele não
falava hebraico, em razão da maneira como ele se refere ao hebraico (At 1:19;
21:40; 22:2; 26:14).

b) Há uma tradição que Lucas era originário de


Antioquia da Síria. Isto se evidencia até certo ponto ao lugar que ele dá à igreja
de Antioquia (At 11:19-30; 13:1-3; 14:26-28). Lucas acompanhou Paulo a
Jerusalém e esteve envolvido com sua viagem para Roma (At 21; 27:1; Fm 23-
24). Tornou-se companheiro e médico pessoal de Paulo (Gl 4:13 e AT 16:6). Foi
Lucas quem atendeu Paulo em sua prisão: “só Lucas está comigo” (2Tm 4:11). O
lugar de sua morte é desconhecido. A tradição afirma que morreu martirizado
numa árvore.

c) A dedicação (Lc 1:1; At 1:1) que ele faz de suas duas


obras a um tal Teófilo, é única no Novo Testamento, e se trata de uma prática
romana. Mesmo quando um autor judeu assume esta mesma postura revela uma
influência pagã sobre o seu estilo, possivelmente com a intenção de atrair leitores
gentílicos.

d) Educação  Por ser médico era necessário que Lucas


tivesse uma educação superior conforme os padrões dos seus dias. Nesta época a
Medicina era um ramo da Filosofia. Há uma declaração específica de que Lucas
era médico. Diversos estudiosos encontraram numerosos termos técnicos de
Medicina comuns aos escritos de Hipócrates, Dioscurides, Galeno e outros, os
quais eram contemporâneos de Lucas e que portanto corroboram sua declarada
profissão de médico. O grego usado por Lucas em seu evangelho e em Atos

32
revelam uma riqueza de vocabulário. Há cerca de 800 palavras em Lucas que não
aparecem nos outros livros do Novo Testamento.
(1) As pesquisas de William Ramsey sobre a
primeira e Segunda viagens de Paulo comprovaram a meticulosa exatidão de
Lucas na apresentação dos fatos históricos, geográficos e administrativos. Ele
declarou: “Você pode espremer as palavras de Lucas a um grau acima de qualquer
outro historiador, e elas resistem ao exame mais severo e ao tratamento mais
rígido.” Lucas era um homem que primava pela exatidão de suas declarações.
(2) Este seu compromisso com a exatidão o levou
a se tornar um viajante, como bem o demonstram os textos “nós” de Atos (At
16::10-18; 20:5-21:18; 27:21-28:16), que indicam a presença de Lucas. Sua
descrição da viagem de Paulo e o respectivo naufrágio demonstram a exatidão de
termos quanto aos ventos, geografia e construção naval. Estas viagens de Lucas
sugerem que ele esteve com Paulo (2Tm 4:11) durante sua prisão em Cesaréia.
Pode Ter sido este período que Lucas empreendeu sua pesquisa que lhe permitiu
escrever o evangelho e Atos. Por ser um homem adaptado a sua época já por sua
origem ou por sua cultura helênica e por Ter compreendido e aceito a salvação
pela graça através da fé, como ensinada por Paulo, tinha o perfil da pessoa que
seria utilizado pelo Espírito Santo para falar da universalidade do evangelho.

DIV  DATA DE ATOS


Diversos Pais Apostólicos e documentos deste período fazem alusão a textos do
livro de Atos. Clemente de Roma (96 AD), Inácio (110 AD), Policarpo (120 AD),
O Pastor de Hermas (150 AD), Papias (150 AD), Epístola a Diogneto (150 AD) e
outros fazem referência a textos de Atos dos Apóstolos, evidenciando, portanto,
que antes do fim do I século o livro de Atos já estava escrito. Jerônimo entendia
que Atos teria sido escrito não muito tempo depois dos dois anos relatados em
Atos 28:30, que a luz de Atos 20:25 não deveriam estar distantes do fim de sua
vida e da conclusão do livro de Atos.1 Paulo teria sido executado por Nero em 68
AD.2

1  Não há no livro de Atos nenhuma alusão a revolta judaica de


66 AD ou da queda de Jerusalém no ano 70 AD, que seriam fatos que não
passariam desapercebidos por um historiador que deu informações históricas de
menor importância. Lucas assim apresenta a história dos primitivos cristãos nos
primeiros 60 a 65 anos. Cerca de 30anos estão incluídos em cada um dos dois
volumes de sua obra. Então uma data seria o início da década de 70 AD.
EV - HISTORICIDADE DE ATOS
Sir W. M. Ramsey em suas duas obras St Paul the Traveller and the Roman
Citizen, e the Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New

1
F. F. Bruce, The Acts of the Apostles, (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), 1-18.
2
S. J. Schwantes, Arqueologia (São Paulo: Gráfica do Instituto
Adventista de Ensino, 1983), 141.

33
Testament foi o erudito que mais contribuiu para confirmar a historicidade dos
fatos relatados no livro de Atos dos Apóstolos.

1  Paulo afirma que sua conversão em Damasco se deu sob o


governo do Rei Aretas (2Co 11:32). Existem duas inscrições sepulcrais que
apresentam o nome do Rei Aretas como rei dos nabateus. Uma delas foi achada
ao sul de Hesbom, em Medeba, na Jordânia, cuja data era de 37 AD, ano
aproximado da conversão de Paulo no caminho de Damasco (At 9:23-25).

a) Nos dias do imperador Cláudio houve grande fome


em todo o mundo conhecido. Esta afirmação aparece em Atos 11:28. Ramsay
reuniu informações históricas desse nefasto evento. Suetônio, historiador da
época, registra o fato, declarando que houve uma alta nos preços dos alimentos em
toda a bacia do Mediterrâneo. Foi esta fome que levou os cristãos de Antioquia a
socorrerem seus irmãos pobres da Judéia através de Paulo e Barnabé. Sabe-se
também que outras pessoas também ajudaram os pobres de Jerusalém. Josefo
também registra a ajuda propiciada pela rainha Helena de Abilene que se
convertera ao Cristianismo.

b) Na primeira viagem missionária, Paulo saiu de


Selêucida, próximo de Antioquia, dali o grupo missionário viajou para a ilha de
Chipre. Esta ilha foi anexada pelos romanos em 57 AC, e unida a província da
Cilícia, da Ásia Menor, em 55 AC. No ano 27 AC veio a ser uma província
governada por um legado. No ano 22 AC a ilha foi entregue ao Senado, por
ordem de Augusto, sendo administrada por um procônsul. Assim durante 35 anos
a ilha foi administrada por cinco formas de governo diferente. Era muito fácil que
o historiador cometesse um erro ao mencionar a forma de governo da ilha de
Chipre. Em Atos 13:7, Lucas dá ao governador o título correto ajnqupavto,
procônsul. Demais exemplos desta historicidade podem ser constatados em S. J.
Schwantes em sua obra Arqueologia, 141-151.

FVI  CONTEÚDO TEOLÓGICO


Lucas constrói sua história da Igreja Cristã Apostólica traçando os caminhos pelos
quais a missão foi conduzida, neste ambiente de missão apresenta a teologia que
então era anunciada como verdade salvadora.

1  Doutrina do Espírito Santo  A ênfase doutrinária é posta


sobre a pessoa e obra do Espírito Santo. Em Atos 2, Lucas através do discurso de
Pedro explica a promessa histórico-profética do Espírito Santo (Jl 2:38; cf. At 1:4-
5, 8), estabelecendo ao mesmo tempo o início do Ministério do Espírito que se
estende da ascensão de Cristo até a Segunda Vinda (At 2:33; cf. Jo 7:39; 14:17,
26). O cumprimento da promessa ao longo do livro de Atos foi a causa teológica
motivadora da vida e da missão cristãs. Devido Seu poder aliado ao conteúdo
teológico da salvação, os diferentes obstáculos à pregação do evangelho foram
vencidos como o nacionalismo exacerbado, o sectarismo religioso (At 2-11:19-
20), a rebelião contra a autoridade (At 6; 1Co 4:3 e 2Co 10:1-10; 11:6; 16-17), o
legalismo (At 15:1-2), a perseguição judaica (At 4, 7) e a romana (At 12; 18;

34
23:26-35), o ocultismo (At 8), a crise cristológica (Cl 2:8, 16-23; cf. At 20:29-30),
a crise escatológica (1Ts 4:13 e 2Ts 2:1-4; 3:11), apenas para citar alguns
obstáculos. A promessa do Espírito Santo é chamada de promessa do Pai (1:4).
Ele foi recebido antes, durante e depois do batismo, com ou sem imposição,
acompanhado ou não do Dom de línguas (At 2:1-13; cf. At 8:14-17; 10:44-48;
11:12-18; 19:1-7). O Espírito Santo testemunha no livro de Atos através dos
apóstolos (5:32; cf. 15:26). O Espírito na Igreja fala através dos profetas,
predizendo grande fome para que os membros de Antioquia possam prover as
necessidades dos de Jerusalém (11:28-30). Ele é a autoridade primária invocada
no decreto apostólico do Concílio de Jerusalém (15:28). Ele dirige o curso das
atividades missionárias, escolhendo e enviando pessoas para obras especiais
(8:39-40; 13:2). Ele também prescreveu o caminho a ser seguido na obra
missionária (16:6-10). Em Atos o Espírito Santo é visto como uma pessoa divina
(5:3-4), pois mentir a Deus é o mesmo que mentir ao Espírito Santo.

2  Doutrina de Deus - Deus é entendido como o criador do


universo, um ser transcendental (At 2:24; 7:48-50; 14:15; 17:24), o árbitro do
tempo e do espaço (At 17:26), o sustentador de suas criaturas (14:17; 17:25, 28), o
juiz (At 17:31). Ele manifestou Seu poder salvador na história de Israel (13: 17-
22), e declarou Sua vontade e propósito através de Moisés e dos profetas (2:17-21,
25-28, 34-36; 3:21-25; 4:25-27; 13:33-35, 40-47; 15:15-18; 26:22-23; 27; 28:25-
27).

3  Doutrina de Cristo  Jesus é alguém enviado por Deus,


como o esperado Messias (At 2:26; 3:20; 5:42); Filho de Davi (2:30-36; 13:23; cf.
Rm 1:3). Ele é o Senhor (At 2:36; 10:36), o Filho de Deus (9:20), profeta como
Moisés (3:22ss; 7:37), o Servo do Senhor (3:13, 26). Jesus é reconhecido como o
santo e o justo (At 3:14; cf. 7:52; 22:14), o autor da vida (3:15), líder e salvador
(5:31). Como o Messias Ele foi destinado a sofrer (3:18; 17:3). Ele foi rejeitado
pelos líderes do Seu povo e entregue aos gentios, por quem Ele foi crucificado (At
2:23, 3::13-15; 13:28; 10:39). Tendo sido sepultado ressuscitou dentre os mortos
e foi exaltado à direita de Deus (At 13:29; 2:32; 3:15; 10:40ss; 13:30ss). O nome
de Jesus aparece ligado às poderosas obras feitas pelas suas testemunhas (4:12).
Ele há de voltar (3:20) como o agente de Deus no julgamento dos vivos e mortos
(10:42; 17:31). Ele é quem traz o perdão e a salvação (2:38; 10:43; 13:38). Estas
variedades de títulos e funções de Jesus permitem construir uma teologia com
uma multiplicidade de aspectos sobre a Pessoa de Cristo, como aconteceu no
primeiros cinco séculos do Cristianismo.

4  A Igreja e suas Ordenanças  A Igreja é um instrumento do


Espírito Santo no mundo. É Ele quem anima, fortalece e dirige os discípulos de
Jesus. No início a Igreja estava restrita à Jerusalém. Depois da morte de Estevão
e da dispersão que se seguiu devido à perseguição ela se espalhou pela Judéia,
Galiléia e Samaria (8:1; 9:31). A dispersão levou os primeiros cristãos a
estabelecer a Igreja na cidade de Antioquia (11:19-21), que se tornou um centro de
evangelização para diversas partes, como Síria e Cilícia(11:26; 13:1; 14:19-27;
15:3, 41; 20:17, 28).

35
a) A condição de membro na igreja era a fé em Jesus
como o Messias, Senhor e Filho de Deus. A entrada do novo membro era
marcada pelo batismo na água, que agora tinha um novo sentido: as profecias
messiânicas se cumpriram na pessoa de Jesus de Nazaré, e portanto era o Salvador
da humanidade. Isto era o que significava ser batizado em nome de Jesus. Isto
não se refere evidentemente à fórmula batismal (Mt 28:19), mas ao cumprimento
das promessas sobre o Messias, que sendo aceito como tal dava ao catecúmeno o
direito de ser batizado.

b) O ensinamento apostólico como ensinado em


Jerusalém era a norma diante da qual todos os desvios eram corrigidos. Isto está
evidente no incidente de Apolo (18:26), e nos 12 discípulos de João Batista
evangelizados de novo por Paulo (19:1-7). Os valores da irmandade apostólica
estão expressos em Atos 2:42-47 e 4:32-35.

c) A Igreja era administrada a partir de Jerusalém pelos


12 apóstolos. Com o crescimento da igreja os problemas aumentaram, houve
então necessidade de se instruir os sete homens (diáconos) para cuidar das
necessidades materiais da igreja local (At 6:1-7). Com o crescimento da Igreja
fora dos limites de Jerusalém houve necessidade de se estabelecer líderes
espirituais locais, bispos ou presbíteros (11:30; 14:23; 15:2, 4, 6, 22-23; 16:4;
20:17, 28; 21:18). Estes eram os pastores do rebanho de Deus. A autoridade
administrativa maior era a reunião conciliar, da qual se tem um exemplo em Atos
15.

5  Salvação é a palavra chave em Atos é a palavra chave em


Atos: é a bênção oferecida pelo evangelho. Os que o aceitam serão salvos. A
salvação inclui perdão dos pecados pela fé antecedidos pelo arrependimento e
libertação da culpa do pecado (2:38; 3:19; 10:43; 13:37-38; 26:18). Pedro ao
explicar aos líderes de Jerusalém o motivo de sua ida à casa de Cornélio, expõe
sua doutrina da salvação relacionando-a com o batismo do Espírito Santo (At
11:12-18; 20:28).

6  Escatologia  O eschaton nas páginas de Atos parece ser


iminente. Parece que os apóstolos esperavam para muito breve o tempo do
estabelecimento do reino de Deus (At 1:6). Cristo logo responde ao
questionamento separando brevidade do conceito de tempo, pois este era uma
questão exclusiva da divindade (At 1:7). Contudo a esperança do Segundo
Advento permaneceu viva entre os primitivos cristãos (At 24:15; 10:42; cf.
17:31).
GVII  ATOS E SEU RELACIONAMENTO COM AS EPÍSTOLAS
PAULINAS
O livro de Atos é uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas, e como tal tem
uma íntima ligação com cada um desses escritos. Primeiro, ele continua e
completa, em certo aspecto, as narrativas iniciadas nos evangelhos. A vida
terrestre de Cristo é seguida pelo ministério de Seus apóstolos. Segundo, ele
mostra o cumprimento das profecias de Cristo em relação a Igreja (Mt 16:18) e
prepara o caminho para a exposição deste tema nas Epístolas. Terceiro, Atos

36
fornece o ambiente de várias epístolas de Paulo, relacionando detalhes da
fundação das igrejas para as quais as cartas foram posteriormente escritas.
Epístola aos Gálatas  Antioquia, Icônio, Listra e Derbe (AT 13:14-
14:28).
Epístola aos Filipenses  Filipo (At 16:11-40).
Epístolas 1 e 2 Tessalonicenses  Tessalônica (At 17:1-9).
Epístolas 1 e 2 Coríntios  Corinto (At 18:1-16; 20:1-3).
Epístola aos Efésios - Éfeso (At 19:1-41; 20:17-38; 1e 2Tm).

A leitura anterior destes capítulos ao estudo destas cartas lança luz sobre o tipo de
cidade, a qualidade de vida e os problemas enfrentados por Paulo. Quarto, na vida
ativa da Igreja, Paulo apresenta muitos dos princípios enunciados em suas
epístolas. Organização da Igreja, disciplina, testemunho, evangelismo e
ensinamentos são apresentados ao longo da narrativa histórica de Atos. Especial
ênfase é posta sobre a necessidade da obra do Espírito Santo. Esta verdade foi
não só ensinada como também vivenciada.
HVIII  QUADRO CRONOLÓGICO DE ATOS DOS APÓSTOLOS.
Ministério de João Batista 27-28 AD
Batismo de Jesus (Mr 1:9-11) 27 AD
Início do Ministério de Jesus na Judéia (Jo 2:13- 4:3) 28 AD
Ministério de Jesus na Galiléia (Mr 1:14-9:50) 28-29 AD
Jesus na Judéia e Pereia (Mr 10:1) 29-30 AD
Cricifixão, Ressurreição, Ascensão e Pentecoste (abril
/maio) 31 AD
Conversão de Paulo (At 9:1-22; Gl 1:15-17 34 AD
Primeira Visita de Paulo a Jerusalém pós-conversão
(At 9:26-30; Gl 1:18-20) 36 AD
Morte de Tiago filho de Zebedeu, Prisão de Pedro (At
12:1-7) 43 AD
Morte de Herodes Agripa I (At 12:20-23) 3/44 AD
Fome na Judéia (At 11:28) 45-48 AD
Barnabé e Paulo visitam Jerusalém (At 11:30; Gl 2:1) 46 AD
Barnabé e Paulo evangelizam Chipre e Sul da Galácia
(At 13:4-14:26) 47-48 AD
Concílio de Jerusalém (At 15:6-29) 49 AD
Paulo, Silas e Timóteo levam o evangelho a
Macedônia (At 16:9-17:14; 1Ts 1:2-2:2) 49-50 AD
Paulo em Corinto (At 18:1-18; 1Co 2:1-5) 50-52 AD

37
Carta aos Tessalonicenses 50 AD
Galio torna-se procônsul de Acaia (At 18:12) / maio 51 AD
Rápida visita de Paulo a Judéia e Síria (18:22) 52 AD
Paulo em Éfeso (At 19:1-20:1) 52-55 AD
Assassinato de Junius Silanus, procônsul da Ásia
(Tácito Anais 13:1-3) 54 AD
Paulo envia Timóteo e Erasto à Macedônia (At 19:22) 55 AD
1Coríntios (1Co 16:8) 55 AD
Visita penosa de Paulo a Corinto (2Co 2:!-13:2) 55 AD
Missão de Reconciliação de Tito em Corinto (2Co
2:13-7:5-16) 55 AD
Paulo em Troas (2Co 2:12) 55 AD
Paulo na Macedônia e no Ilírico 55-56 AD
2 Coríntios 56 AD
Paulo em Acaia (Corinto) (At 20:2ss; Rm 15:25-28;
16:23) 56-57 AD
Romanos 57 AD
Chegada e Prisão de Paulo em Jerusalém (At 21:15- 57 AD
33)
Paulo detido em Cesaréia (At 23:23-26:32) 57-59 AD
Paulo viaja para a Itália (At 27:1) 59 AD
Paulo em Malta (At 28:1-10) 59-60 AD
Paulo chega em Roma (At 28:4-16) 60 AD
Colossenses, Filemon, Efésios 60 AD
Filipenses 61 AD
Fim da Prisão de Paulo em Roma (At 28:30) 61-62 AD
Morte de Tiago, o Justo, em Jerusalém (Josefo,
Antiguidades, 20:200)

62 AD
Incêndio em Roma / Julho 64 AD
Perseguição de Nero contra os Cristãos, morte de
Pedro e Paulo 65 AD
Início da Guerra Judaica (Josefo, GJ 2:409-432) 66 AD

38
Destruição de Jerusalém (Josefo, GJ 6:250-408) 70 AD

IX  IMPERADORES ROMANOS NO LIVRO LUCAS-ATOS

Augusto (Lc 2:1) 27 AC  14 AD


Tibério (Lc 3:1) 14 AD  37 AD
Gálio (Calígula) 37 AD  41 AD
Cláudio (At 11:28; 18:2) 41 AD  54 AD
Nero (César em At 25:11ss, 21; 26:32; 27:24) 54 AD  69 AD

X  DIVISÃO DO LIVRO DE ATOS

A  A Missão Ultrapassa Todos os Obstáculos


1  Introdução - AT 1:1-5

2  O Judaísmo Cristão  At 1:6 - 6:7


a) O Nacionalismo Estreito - At 1:6-8
b) O Rápido Crescimento do Judaísmo Cristão  At 1:9-6:7
3  O Caráter Universal do Cristianismo é estabelecido
progressivamente - At 6:8 - 11:18
a) Estevão o pioneiro do universalismo - At 6:8 - 8:1
b) A Perseguição de Filipe, o evangelista  At 8:1-40
c) Conversão, Confissão de Saulo  At 9:1-30
d) Paz e Crescimento - At 9:31
e) Os Apóstolos são levados a reconhecer a universalidade
da missão  9:32-11:18
4  Primeira Iniciativa Voluntária de Missão entre os Gentios 
At 11:19-26
a) Fome, oportunidade para fortalecer a unidade  AT
11:27-30
5  A perseguição de Herodes e a Missão  At 12:1-25

B  A Universalidade da Missão  At 13:1-28:31

1  Primeira Viagem de Paulo  At 13:1-14:28

2  O Concílio de Jerusalém - At 15:1-35

3  A Segunda Viagem de Paulo  At 15:36-18:23

4  A Terceira Viagem de Paulo

39
5  Prisão de Paulo e a Missão em Roma  At 21:27-28:31

XI  AS EPÍSTOLAS PAULINAS 
Elas podem ser divididas em sete grupos distintos conforme o tema por elas
abordados.

A  Divisão das Cartas de Paulo:

1  1 e 2Tessalonicenses  Tema principal escatologia. Paulo


procura corrigir conceitos errôneos sobre a brevidade da Segunda Vinda. Estas
cartas foram escritas aproximadamente em 50 a 51 AD.

2 1 e 2Coríntios  Tema principal combate à crise eclesiástica:


diversos aspectos doutrinários, desrespeito à autoridade apostólica. Escritas na
primavera e outono respectivamente do ano 54 ou 55 AD.

3  Romanos e Gálatas  Tema principal: justificação pela fé.


Paulo nestas duas cartas defende a Igreja contra os judaizantes. Estas duas cartas
devem Ter sido escritas em torno dos anos 56 e 57 AD.

4  Filipenses, Colossenses e Efésios  Tema principal é


Cristologia. Defesa contra a perversão gnóstica da pessoa de Cristo. Estas cartas
podem Ter sido escritas entre os anos 61 a 63 AD.

5  1Timóteo, Tito e 2Timóteo  Estas cartas tratam de


problemas eclesiásticos. Elas foram possivelmente escritas entre 65 a 68 AD.

6  Hebreus - A autoria de Paulo para o livro de Hebreus tem


sido questionada em função do seu estilo literário e de seu conteúdo teológico que
não relacionam-se com o estilo e o enfoque teológico do apóstolo. Há, contudo,
evidências, que Paulo é o autor também desta epístola, como evidenciam P46
(Papiro Chester Beatty II) e D2 (Códice Claromontano) escritos no final do II
século AD e do VI século AD resepectivamente. Pode-se acrescer a isto o
testemunho de Ellen White.

7 - Filemon  Analisa a questão da escravatura.

Não existe completa concordância entre os eruditos quanto as datas das epístolas
paulinas. Até mesmo a autoria de Paulo é negada para todas epístolas menos 1 e 2
Coríntios, Gálatas e Romanos. Alguns negam que ele tenha escrito as epístolas
pastorais. Hoje há mais dúvida acerca da data de Gálatas do que qualquer outra.
Lightfoot coloca sua data justo antes de Romanos, enquanto Ramsay advoga ser
ela a primeira de todas elas. As epístolas aos Tessalonicenses foram escritas de
Corinto após Timóteo Ter sido enviado de Atenas por Paulo para Tessalônica (1Ts
3:1ss) e só retornou a Paulo quando este estava em Corinto (1Ts 3:6;cf. At 18:5),
pouco antes de Gálio chegar a ser Procônsul da Acaia (At 18:12). Com a obra St
Paul de Deissmann pode-se Ter certa margem de certeza que com a aclamação de

40
Cláudio na inscrição de Delfos as epístolas aos Tessalonicenses foram escritas
entre o ano 50/51 AD. Sabe-se igualmente que Paulo escreveu 1Coríntios quando
estava em Éfeso (1Co 16:8) próximo da comemoração do Pentecostes. Como
Paulo levou cerca de três anos em Éfeso (At 19:8-10; 20:31), e considerando que
esta carta foi escrita pouco antes de deixar Corinto, conclui-se que a data de
1Coríntios foi na primavera de 54/55 AD. O mesmo pode-se dizer de 2Coríntios
que foi escrita pouco depois de Paulo deixar Éfeso, quando estava na Macedônia
(2Co 2:12,13; cf. 2Co 7:5,6), e no mesmo ano (55 AD). A carta aos Romanos foi
escrita de Corinto e foi enviada por mão de Febe de Cencréia (Rm 16:1). As
epístolas da prisão (Filipenses, Colossenses, Filemon e Efésios/) devem Ter sido
escritas entre os anos 61 a 63 Ad. Enquanto as Epístolas Pastorais foram escritas
entre 65 e 68 AD. É provável que Paulo tenha morrido em Roma em 68 AD
pouco antes da morte de Nero em 8 de junho de 68 AD. As cartas paulinas foram
escritas, portanto, entre os anos 50 a 68 AD.

A  Divisão das Cartas de Paulo

1  1 e 2Tessalonicenses  Tema principal escatologia. Paulo


procura corrigir conceitos errôneos sobre a brevidade da Segunda Vinda. Estas
cartas foram escritas aproximadamente em 50 a 51 AD.

2 1 e 2Coríntios  Tema principal combate à crise eclesiástica:


diversos aspectos doutrinários, desrespeito à autoridade apostólica. Escritas na
primavera e outono respectivamente do ano 54 ou 55 AD.

3  Romanos e Gálatas  Tema principal: justificação pela fé.


Paulo nestas duas cartas defende a Igreja contra os judaizantes. Estas duas cartas
devem Ter sido escritas em torno dos anos 56 e 57 AD.

4  Filipenses, Colossenses e Efésios  Tema principal é


Cristologia. Defesa contra a pervesão gnóstica da pessoa de Cristo. Estas cartas
podem Ter sido escritas entre os anos 61 a 63 AD.

5  1Timóteo, Tito e 2Timóteo  Estas cartas tratam de


problemas eclesiásticos. Elas foram possivelmente escritas entre 65 a 68 AD.

6  Hebreus - A autoria de Paulo para o livro de Hebreus tem


sido questionada em função do seu estilo literário e de seu conteúdo teológico que
não relacionam-se com o estilo e o enfoque teológico do apóstolo. Há, contudo,
evidências, que Paulo é o autor também desta epístola, como evidenciam P46
(Papiro Chester Beatty II) e D2 (Códice Claromontano) escritos no final do II
século AD e do VI século AD resepectivamente. Pode-se acrescer a isto o
testemunho de Ellen White.

7-
B  Introdução Geral  É quase impossível por uma excessiva ênfase na vida e
obra de Paulo como o grande intérprete do significado de Cristo para o

41
Cristianismo. Paulo foi, é e será mal entendido em suas epístolas com alguém que
perverte a pureza do evangelho de Cristo sobre o Reino de Deus, devido a
estrutura teológica e eclesiástica em que o apóstolo explica a pessoa de Cristo e
Sua missão. Alguns o acusam de rabinizar o evangelho, enquanto outros o
denunciam por Ter helenizado a mensagem cristão. Apesar de todos os ataques
sofridos por Paulo no passado e no presente, suas epístolas estabelecem uma
profunda concepção de Cristo e como o evangelho pode ser aplicado à vida cristã
em um mundo greco-romano.

1  Paulo escreveu suas cartas para resolver problemas


específicos de natureza emergencial. As necessidades imediatas que lhe foram
trazidas ao conhecimento eram o grande objetivo de Paulo. Três grandes
problemas na igreja preocuparam diretamente o ministério apostólico de Paulo: os
problemas eclesiásticos internos (doutrinários, comportamentais e
administrativos), os judaizantes e a salvação, e os gnósticos e a pessoa de Cristo.
Paulo usou como instrumento básico para lidar com estas dificuldades a profunda
mensagem do evangelho sob o poder do Espírito Santo, através de sua mente que
estava inflamada pela verdade e de um coração cheio de cuidado pela salvação de
almas.
C  Resumo da Teologia de Paulo  Paulo enfatizou a Messianidade de Jesus com
base na Sua ressurreição (At 9:22). Esta convicção foi a base de toda a sua
teologia e conteúdo de sua pregação (At 17:3). Desde de sua primeira viagem que
Paulo anuncia a justificação pela fé em Cristo com o perdão dos pecados (At
13:38-43), bênção que não era obtida pela lei de Moisés. Paulo necessitou se
defrontar com o judaísmo rabínico legalista, com o gnosticismo subordinacionista
da pessoa de Cristo e com os problemas eclesiásticos nas cartas pastorais.

D  Primeiro Grupo de Epístolas  1 e 2 Tessalonicenses  Em sua Segunda


viagem Paulo chegou em Tessalônica, capital da província da Macedônia (At
17:1-9). Sob a perseguição judaica o cristianismo foi estabelecido nesta cidade.
Devido a esta situação eles saíram da cidade.

1  Quando Paulo mais tarde chegou a corinto ele escreveu as


cartas para os atribulados tessalonicenses, que foram perseguidos desde a partida
de Paulo, pelos seus patrícios. Em sua Segunda visita à cidade Paulo expressa sua
gratidão a Deus pela firmeza dos crentes ao enfrentarem as dificuldades próprias
da nova fé (1Ts 2:14, 7-8; 3:6-10). Eles, contudo, necessitavam ser fortalecidos
diante das tribulações a que estavam sendo submetidos. qual seria o propósito
diante de tanta dor e sofrimento? A resposta de Paulo é que ele próprio tinha sido
submetido ao sofrimento (1Ts 2:1-2; cf. 3:4). Todas as coisas são parte do
propósito de Deus.

2  Desde a partida de Paulo de Tessalônica alguns dos seus


membros tinham morrido. A mentalidade pagã, possivelmente, ainda presente em
alguns aspectos de sua vida particular, levou-os a pensar que não havia muita
esperança para os mortos. Paulo por causa disso procura também esclarecer qual
a situação dos mortos e dos vivos em relação a Parousia (1Ts 4:13-18). Nesta

42
carta o tema do Segundo Advento perpassa todos os seus capítulos como um fio
de ouro que liga os diferentes ensinamentos do apóstolo (1Ts 1:10; 2:19-20; 3:13;
4:13-18; 5:23).

3 Entenderam mal depois a primeira carta de Paulo que Cristo


voltaria ainda nos dias da vida do apóstolo Paulo (2Ts 2:2; cf. 1Ts 4:13-17), e
possivelmente por tudo isso deixaram de trabalhar (1Ts 4:9-12; 2Ts 3:10-11).
Paulo procura esclarecer esta noção exagerada de brevidade.

a) Há certas coisas que devem acontecer antes que venha


o Último dia Escatológico: vinda da apostasia e do homem da iniqüidade, o filho
da perdição (2Ts 2:3-7).

b) Os cristãos são aconselhados a estar apercebidos,


despertos (1Ts 5:4-8; 2Ts 2:15-17).

c) Deus está no controle dos acontecimentos que


envolvem Seu povo e a humildade (1Ts 1:10; 2Ts 1:7-12; 2:13-14).

4  Esboço das Epístolas:

1 TESSALONICENSES

I  Saudação 1:1
II  Ministério de Paulo e sua Relação com os
tessalonicenses 1:2 a 3:13
III  Instrução sobre aspectos da santificação 4:1-12
IV  O Segundo Advento e sua relação com os vivos e os
mortos 4:13-5:11
V  Admoestações finais 5:12-28

2 TESSALONICENSES

I  Saudação 1:1-2
II  Antecipação do Dia do Senhor 1:3-12
III  Descrição do Dia do Senhor 2:1-17
IV  Atitude Correta para o Dia do Senhor 3:1-16
V  Conclusão 3:17-18

E  Segundo Grupo de Epístolas  O núcleo destas duas cartas e a aplicação do


tema da salvação nos problemas eclesiológicos da Igreja de Corinto. O contato de
Paulo com a cidade de Corinto com finalidade evangelística começa no final de
sua segunda viagem missionária (At 18). Já correspondência com Corinto inicia-
se durante sua terceira viagem. A epístola de 1 Coríntios foi escrita durante a
última parte da estada de Paulo em Éfeso (1Co 16:7-9), enquanto 2 Coríntios teria

43
sido feita na Macedônia (2Co 2:12-13; 7:5-7). Paulo estava na Macedônia quando
Tito procedente de Corinto informa-lhe da boa recepção dada à carta de Paulo
pelos membros da Igreja de Corinto.

1  Reconstrução histórica  Logo após a evangelização de


Paulo em Corinto e sua posterior saída da cidade, emergiu no seio da igreja uma
assimilação do estilo de vida de Corinto. Paulo escreveu brevemente (carta prévia
1Co 5:9) sobre o seu desejo de visitá-los após deixar Éfeso. Nesta mesma carta
ele faz admoestações quanto a não se misturarem com membros que persistissem
em continuar no caminho da perversidade. Suas palavras foram pervertidas e por
isso se desculparam em não levar a sério as instruções dadas pelo apóstolo.

a) Uma carta foi enviada a Paulo pela igreja nada


revelando quanto aos problemas espirituais deles (1Co 7:1). Entretanto de
maneira complacente solicitaram conselho de Paulo sobre diversos assuntos,
enquanto escondiam as graves dificuldades em que viviam. Neste período
chegaram em Éfeso membros da família de Cloe, que relutantemente informaram
a Paulo o que se passava verdadeiramente em Corinto. Por isso sua imediata
visita a Corinto foi interrompida (2Co 1:15); cf. 2:1). E enviou Tito e mais dois
irmãos de nomes desconhecidos (2Co 8:16-22) a Corinto para informá-los de sua
mudança de planos (enquanto ditou a Sóstenes o que é hoje a epístola de 1
Coríntios. “Ele não escolheu palavras polidas para agradá-los . . . Ele os advertiu
de seus perigos, e finalmente reprovou seus pecados.” Nesta carta ele evita
mencionar os superapóstolos para, possivelmente, não causar divisões maiores.
Neste período que esteve em Éfeso, Paulo fez a 2ª visita a Corinto, considerada a
“visita penosa” (2Co 2:1). (Alguns autores acham que depois desta visita Paulo
teria escrito uma outra carta a Corinto, que seria identificada como a carta
dolorosa por Ter sido mal recebido pelos coríntios na sua segunda visita).

b) “Depois de Ter remetido a carta (I Coríntios) Paulo


temeu que o que havia dito pudesse ferir muito a fundo aqueles a quem queria
beneficiar. Temia profundamente uma maior separação.” Por tudo isso esperava
receber notícia do resultado de sua carta na comunidade cristã de Corinto.

c) Com o cuidado por Corinto e demais igrejas pesando-


lhe na mente Paulo não consegue aproveitar a oportunidade de evangelização em
Trôade, uma vez que não encontrara ali Tito com as notícias de sua carta aos
coríntios. Encontra-se em Filipos na Macedônia com Timóteo, mas foi só com a
chegada de Tito que suas preocupações se desvaneceram, ao saber que uma
grande parte dos irmãos em Corinto aceitaram suas instruções. Cheio de alegria
ele escreve a epístola de 2 Coríntios.

d) Alguns porém ainda recusavam Paulo. Tratava-se de


um grupo resistente à liderança do apóstolo (superapóstolos). Paulo logo depois
realiza seu propósito de visitá-los de novo (3ª visita, At 20:1-2; cf. 2Co 12:14;
13:1), quando teve a satisfação espiritual de rever seus filhos na fé. Aqueles
entretanto que permaneciam no curso de sua vida pecaminosa deveriam ser
afastados. Depois de três meses em Corinto, provavelmente o inverno do ano
56/57 AD (At 20:3; cf. At 27:12; 28:11; Tt 3:!2) Paulo faz seus planos

44
missionários para alcançar Roma e a Espanha. Neste período deve Ter escrito
Romanos e Gálatas para defender suas igrejas do legalismo judaizante. Decide
então se dirigir a Jerusalém onde desejava passar a páscoa. Daí segue-se a prisão
de Paulo e seu posterior julgamento e morte.1 As informações precisas sobre os
acontecimentos e datas são sempre tentativas de se harmonizar as informações que
não são suficientes para se estabelecer uma direção com total segurança.

2  Tema de 1 Coríntios  A idéia principal da epístola é dupla:


(1) reprovar a apostasia que havia penetrado na igreja como resultado da
introdução de práticas na igreja que corrompiam os ensinamentos do evangelho;
(2) instrução relacionada a aspectos da crença e da vida prática que os cristãos de
Corinto necessitavam de esclarecimento. Ele trata com os desvios da fé e da
prática cristã com a devida firmeza sem comprometer a pureza do evangelho e
sem faltar com o espírito de misericórdia que deve caracterizar o verdadeiro
pastor ao se relacionar com os que caem da fé. A explanação sobre as perguntas
que lhe foram dirigidas tiveram o mesmo tratamento ponderado e sábio do
apóstolo, como: casamento, uso de comida sacrificada a ídolos, atitude errônea
com a ceia do Senhor e o exercício dos dons espirituais. Este livro foi descrito
por EGW como “um dos mais ricos, mais instrutivos e mais poderosos” de todas
as cartas de Paulo (AA, 301).

3  Esboço da Epístola  1 CORÍNTIOS

I  Introdução  1:1-9
II  Reprovação das Irregularidades  1:10 a 6:20
A  Facções na Igreja  1:10 a 4:21
B  O Caso de Incesto  5:1-13
C  Litígio nas cortes seculares  6:1-20

III  Respostas a Questões dos Crentes de Corinto  7:1-11:1


A  Instrução sobre o Casamento  7:1-40
B  Instrução referente ao Consumo de Carne Sacrificada a
Ídolos  8:1 a 11:1
IV  Conduta própria na Adoração Cristã  11:2 a 14:40
A  O Uso do Véu
B  Atitude Própria da Ceia
C  O lugar e a função dos dons espirituais
V  A Doutrina da ressurreição  15
VI  Conclusão  16

4  Tema de 2 Coríntios  A primeira parte da epístola trata da


recepção dada pelos membros de Coríntios à primeira epístola, enquanto revisa
alguns problemas tratados nela (1ª). Em seguida Paulo fala sobre o tratamento

Esta seção está baseada nas informações de Atos dos Apóstolos, 298-
1

382 e Scketches from the Life of Paul, 149-207.

45
dado ao ofensor desligado da Igreja. Paulo adverte sobre a maneira de resgatar o
ofensor.

a) As contribuições dos membros das igrejas da


Macedônia e da Grécia para os pobres de Jerusalém, receberam especial ênfase.
O objetivo do apóstolo era promover a unidade entre gentios e judeus com este
projeto. O assunto que se segue é a questão da autoridade apostólica de Paulo.
(1) Os primeiros nove capítulos são marcados
pelo espírito de gratidão e apreciação. Os últimos quatro estão caracterizados pela
severidade e defesa pessoal. Os primeiros capítulos foram dirigidos
principalmente para os que receberam positivamente sua primeira carta. Enquanto
as graves advertências dos quatro capítulos finais são dirigidas ao grupo resistente
às orientações de Paulo, liderados possivelmente pelos “superapóstolos.” Por este
motivo Paulo advoga seu direito ao apostolado com base no seu conhecimento,
nos seus múltiplos sofrimentos pela causa do evangelho e por suas visões e
revelações.
5  Esboço da Epístola  2 CORÍNTIOS
I  Introdução  1:1-11
II  Relacionamento de Paulo com a Igreja de Corinto  1:12 a
7:16
A  Mudança nos Planos de Viagem - 1:12 a 2:4
B  Restauração do Ofensor  2:5-11
C  Ansiedade e Alegria com Corinto  2:12-17
D  Credenciais Apostólicas  3:1-18
E  O Poder Divino no Apostolado de Paulo  4:1 a 5:10
F  O Ministério da Reconciliação  5:11 a 6:10
G  Sociedade com os Incrédulos  6:11 a 7:1
H  Alegria pela Resposta dos crentes  7:2-16

46
III  Coleta para as Necessidades Cristãs na Judéia  8:1-9:15
A  A Liberdade da igreja da Macedônia  8:1-6
B  O Exemplo de Jesus  8:7-15
C O Compromisso de Tito para Recolher as ofertas em
Corinto  8:16-24
D  Apelo a Liberalidade de Corinto  9:1-15
IV  Defesa de Paulo de seu Apostolado  10:1 a 13:10
A  Resposta aos Depreciadores do Apostolado de Paulo 
10:1-12
B  Corinto na esfera de trabalho de Paulo  10:13-18
C  Diferenças entre os Falsos e Verdadeiros Apóstolos 
11:1-12:18
D  Apelo Final  12:19-13:10
E  Conclusão  13:11-14

6  Visitas de Paulo e suas cartas à Igreja dos Coríntios 


(Menciona-se somente duas hipóteses por parecerem as mais razoáveis. A terceira
possibilidade aparece em Colin Kruse, II Coríntios: introdução e comentário, 21-
29).

a) Hipótese 1
1) 1ª Visita - At 18
2) Visita de Apolo - At 18:24-19:1; cf. 1Co 3:6
3) Carta Prévia  1Co 5:9 (carta preservada em 2 Co 11:19
,21 ou desapareceu).0
4) Carta de Corinto  1Co 7:1  Levada talvez por
Estéfanas, Fortunato e Acaio  1Co 16:17. Recebe
informações da Família de Cloe  (1Co 1:11)xxxxxx.
5) Escreve 1 Coríntios
6) Envio de Timóteo antes de Expedir a Carta  1Co 4:17
7) Visita Dolorosa (2ª Visita)  2Co 13:2  breve 2Co 2:1;
cf. 1Co 4:19
8) Carta Dolorosa  Preservada em 2Co 10-13
9) Resposta de Tito  2Co 2:12; cf. 2Co 7:5,6
10) 2 Coríntios
11) 3ª Visita  At 20:1-3

b) 2ª Hipótese
1) 1ª Visita - At 18; cf. 1Co 2:3
2) Visita de Apolo - At 18:24-19:1; cf. 1Co 3:6
3) Carta Prévia  1Co 5:9
4) Carta de Corinto - 1Co 7:1
5) Informações dos da Casa de Cloé  1Co 1:11
6) Suspende sua Intenção de Viagem  2Co 1:16

47
7) Carta Dolorosa - 1Coríntios - Dolorosa para Paulo, para
os coríntios dura  2Co 2:3,4
8) Envio de Timóteo - 1Co 4:17  Antes de Expedir a Carta
9) Segunda Visita  Visita do Benefício, pois não queria
fazer uma visita dolorosa como a primeira e não que haja
uma visita dolorosa como é apregroado  2Co 1:15; 2Co
13:2; 2 Co 2:1
10) Resposta de Tito  2Co 2:12-13; 2Co 7:13-14; 2Co
12:18
11) 2 Coríntios
12) 3ª Visita  At 20:1-3

F  Terceiro Grupo de Epístolas  Gálatas e Romanos  Estas duas epístolas se


caracterizam por sua ênfase na salvação. Ambas foram escritas para defrontar o
ensinamento cristão judaizante de que a observação da lei mosaica importava em
mérito para a salvação.

1 No III século AC um grupo de gauleses colonizou o planalto


central da Ásia Menor, fundando ali um reino. Durante o governo de Amintas (1
AC) a Pisídia, Licaônia e outros lugares mais ao sul foram anexados ao reino.
Posteriormente os romanos assumiram o controle da região, fundando a província
da Galácia.

a) Paulo visita este território em sua primeira e Segunda


viagens missionárias, como é mencionado em Atos 14:4, 21; 16:6 e 18:23 (48-52
AD). Depois fala da região da Galácia no projeto da coleta em favor dos pobres
da Palestina em 1 Coríntios 16:1.

b) O problema levantado pelos eruditos é se a carta foi


dirigida aos gálatas étnicos, do norte, ou se aos que habitavam no sul da região.
Nas visitas de Paulo à Galácia nada é dito explicitamente se ele visitou a região
norte da província, como também não nega explicitamente esta possibilidade.
Parece que o argumento do Sul da província ganha corpo quando é dito por F. F.
Bruce que o território é aquele mencionado especificamente em Atos, como sendo
a região onde se situam Icônio e Antioquia da Pisídia (At 14:6, 19-26). (Para estar
a par de todos os argumentos das duas correntes ler: Introdução ao Novo
Testamento de Leon Morris, 321-324).

c) É igualmente discutível a data quando a Epístola aos


Gálatas foi escrita para tratar da polêmica judaizante nos círculos cristãos. Foi
esta carta escrita antes ou depois do Concílio de Jerusalém? O que possivelmente
pode ser dito, de acordo com A. T. Robertson, é que esta epístola teria sido escrita
17 anos após sua conversão, somando-se os três anos de Gálatas 1:18, mais os 14
de Gálatas 2:1. Não se sabe contudo com precisão a data da conversão de Paulo.
Como ela se deu após a morte de Estevão, que por sua vez ocorreu no ano 34 AD,
com base na profecia das 70 semanas de Daniel 9:24-27. Esta carta poderia Ter
sido escrita depois do ano 51 AD, após portanto o Concílio de Jerusalém. Como
alguns autores sugerem que a conversão de Paulo pode Ter se dado entre os anos

48
31 a 36 AD. Logo sua carta, tomando-se a data mínima (31), poderia Ter sido
escrita no ano 48 AD, e portanto antes do Concílio de Jerusalém. Contudo,
segundo A. T. Robertson, a Epístola foi escrita depois do Concílio, porque Paulo
se refere a este encontro como alguém que viveu os momentos deste evento em
Gálatas 2:1-10; cf. Atos 15:1-5. Adotando-se a teoria do sul por ser mais
convincente, pode-se adotar para a epístola dos Gálatas uma data mais posterior,
como parece ser a posição de EGW, que menciona a carta aos Gálatas como
posterior ao Concílio de Jerusalém, talvez os anos 56 ou 57 AD.

2  Conteúdo da Epístola  O tema da epístola é a justiça


alcançada pela fé em Cristo. Em sua saudação inicial Paulo advoga seu status de
apóstolo e que sua função, por isso, é salvaguardar a integridade do evangelho e a
vida espiritual dos membros do corpo de Cristo (1:1-5). Logo ele deixa claro seu
quase atordoamento em saber que os gálatas estavam xxxxxxx pregando o
evangelho (1:6-xx9). Daí ele insiste em falar sobre a origem divina do evangelho
que ensinava (1:10-2:5). Paulo, então, fala do seu ministério aos gentios, que
significava não impor aos gentios a observância da lei mosaica como meio de
salvação (2:6-10). Segue-se a repreensão de Pedro por Paulo, lembrando que
também os judeus não são salvos por obras da lei e sim através da fé em Cristo
Jesus (2:11-21). No capítulo 3, Paulo aborda a relação da concessão do Espírito
com a lei e a fé (3:1-5). O exemplo da vida de Abraão da salvação pela fé (3:6-
14) é o tema seguinte. Na relação entre a lei, a fé e a promessa messiânica (3:15-
29), Paulo exalta a salvação pela fé em Cristo. A salvação estabelece para o
cristão o novo status de filho de Deus, que goza de intimidade com seu Pai
celestial (4:1-7). Diante do exposto Paulo apresenta a situação daqueles que
abandonando a salvação pela fé a buscam nas obras da lei, e lhes dirige um apelo
para não rejeitarem seus ensinamentos. em seguida fala dos dois concertos, o
antigo e o novo, o das obras e o da graça, representados respectivamente por
Hagar e Sara (4:21-31). Paulo os conclama para viver na liberdade cristã, livres
da escravidão da lei e das obras da carne, enquanto ressalta a importância dos
frutos do Espírito (5:1-26). A argumentação que se segue é sobre o viver correto,
lembrando que nem a circuncisão ou incircuncisão tem qualquer valor, e sim a
nova vida em Cristo, terminando sua epístola com a bênção final, como é sua
carcterística (6:1-18). sua mensagem central é que a cruz é o único meio de
salvação, e isto está muito claro na epístola aos Gálatas.

3  Cânon  Não há nenhuma outra carta atribuída a Paulo que


tenha plena aceitação dos críticos como sendo de sua autoria como Gálatas.
Barnabé, Clemente de Roma, Policarpo, Justino Mártir e vários outros atribuíram
a Paulo a carta aos Gálatas.

4  Esboço  Gálatas
I  Saudação e Introdução  1:1-10
A  Autoridade do escritos apostólico - 1:1-5
B  Ocasião e Propósito da Carta  1:6-10
II  A Defesa da Autoridade Apostólica de Paulo  1:11-2:14
A  A Genuinidade de sua conversão - 1:11-24
B Aprovação Apostólica  2:1-14

49
III  Fé versus Legalismo e a Salvação  2:15-3:29
A  O judeu cristão e a salvação  2:15-21
B  A salvação dos gentios  3:1-14
C  A lei e o pacto abraâmico  3:15-29
IV  A Liberdade Crista  4:1-31
A  Da Lei para o Evangelho  4:1-7
B  A Tolice Gálata  4:8-31
V  Exortações Morais  5:1-6:10
A  Legalismo e a Liberdade  5:1-12
B  Liberdade Cristã não é libertinagem  5:13-26
C  Fraternidade cumpre a lei  6:1-10
VI  Conclusão - 6:11-18

5  Epístola aos Romanos  Em novembro de 1515, Lutero na


Universidade de Wittenberg começou a expor aos seus alunos a carta aos
Romanos, e prosseguiu até setembro de 1516, comentando esta sua experiência
Lutero disse: “Nada me impedia o caminho, exceto a expressão a ‘Justiça de
Deus’ porque a entendia como se referindo àquela justiça pela qual Deus é justo e
age com justiça quando pune os injustos . . . Noite e dia eu refletia até que . . .
captei a verdade de que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, mediante a
graça e pura misericórdia Ele nos justifica pela fé. Daí em diante senti-me
renascer e atravessar os portais abertos do paraíso . . . Esta passagem veio a ser
para mim uma porta para o céu” (Luther’s Work, 54:179ss). O mesmo fato se deu
com João Wesley ao ler o prefácio de Lutero da Epístola aos Romanos. Agostinho
e Karl Barth tiveram experiências semelhantes, este ao escrever Römerbrief, e
aquele ao decidir-se pelo cristianismo no IV século AD.

a) A própria carta afirma que Paulo é o seu autor: “Paulo,


servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo . . .” (Rm 1:1). Esta afirmação
não tem sido contestada com seriedade por ninguém. “Eu, Tércio, que escrevi
esta epístola, vos saúdo no Senhor” (Rm 16:22) ele é o amunuense. Com base em
Romanos 15:22-33 se sabe com certa margem de segurança quando e de onde
Paulo escreveu sua carta. De acordo com este texto o destino imediato de Paulo é
a cidade de Jerusalém, para levar as ofertas recolhidas na Macedônia e Acaia. Seu
plano era após Ter visitado esta cidade ir à Roma e à Espanha. Logo Paulo estava
prestes a terminar sua terceira viagem quando escrevera à Roma, tornando-se
Corinto o local mais provável para escrever sua carta, porque em Atos, Lucas
declara que Paulo passou três meses em Ellavda, sinônimo para Acaia, cuja
capital é Corinto, onde estava a igreja fundada pelo apóstolo (At 19:21; 20:1-3,
16; cf. 2Co 13:1,10). Esta posição encontra apoio no Espírito de Profecia como é
declarado em Atos dos Apóstolos, 373. “Durante sua permanência em Corinto
Paulo achou tempo para projetar novos e mais vastos campos de trabalho . . . A
fim de preparar o caminho . . . enviou-lhes uma carta” (primeiro motivo).

50
b) A data da carta aos Romanos, portanto, foi o final da
terceira viagem, que segundo a cronologia da vida de Paulo seria o ano 57 AD,
com pouca margem de erro.

c) Os destinatários aparecem explicitamente na própria


carta em Romanos 1:7 “a todos os amados de Deus, que estais em Roma . . .” A
tradição mais antiga procura afirmar que Pedro e Paulo são os fundadores da
Igreja em Roma. Esta declaração pode ser encontrada em Irineu por volta do ano
180 AD. Mas ao que parece Paulo nem sequer conhecia esta igreja (Rm 1:10, 13;
15:22). Ellen White diz que “uma igreja já havia sido estabelecida em Roma,”
quando Paulo, entre seus irmãos em Corinto, encontrava descanso necessário,
antes de visitá-la pela primeira vez. Quanto ao apóstolo Pedro sua ligação com
Roma foi apenas que esta cidade tornou-se a última parada de seu ministério. “Na
providência de Deus foi permitido a Pedro encerrar seu ministério em Roma, onde
sua prisão foi ordenada pelo Imperador Nero” (Atos, 537).
(1) Confirma esta posição a Patrologia Latina, no
IV século AD, Ambrosiastro (PL 17, col. 46). É possível que os judeus
provenientes de Roma e convertidos no Pentecostes tenham fundado a Igreja
Cristã em Roma. No ano 49 AD, como é atestado por Atos 18, e pelo decreto de
Cláudio, conforme Suetônio, já havia nesta data cristãos em Roma. Portanto,
antes de Paulo ou Pedro terem ido a esta cidade. Quando Paulo escreveu sua carta
já havia com toda probabilidade cristãos judeus e gentios, com a expulsão dos
primeiros, os gentios assumiram a liderança da Igreja. Com a volta dos judeus a
Roma, (Rm 16:3), deve Ter havido uma discussão teológica que agitava o
cristianismo do I século AD. Então por causa desse aspecto também Paulo
poderia Ter escrito esta epístola (segundo motivo). Seu público alvo é tanto judeu
como gentio.
(2) Assim Paulo tinha um duplo motivo para
escrever Romanos: (1) motivo missiológico, seu desejo de fortalecer o
cristianismo na capital do Império, e (2) alcançar judeus e gentios com a
mensagem da justificação pela fé, igualmente difícil de ser concebida por ambos
os grupos. De um lado o legalismo judaico em fazer da lei um meio de salvação,
e do outro o moralismo romano de ver na lei um código moral e não uma
instrução para salvação.
d) Conteúdo da Epístola  “Em sua epístola aos
Romanos, Paulo expôs os grandes princípios do evangelho (Rm 1:1). Ele
afirmava a sua posição nas questões que estavam agitando as igrejas judaicas e
gentílicas, e mostrava que as esperanças e promessas que haviam pertencido
outrora aos judeus especialmente, eram agora oferecidas também aos gentios . . .
Com grande clareza e poder o apóstolo apresentava a doutrina da justificação pela
fé” (Rm 1:16-17; Atos, 373).
(1) A introdução apresenta um esboço da epístola
em Rm 1:1-7, onde se fala sobre a origem, instrumento, conteúdo e finalidade do
evangelho, segue-se daí a ação de graças (1:8-15). Os versos 16 e 17 tratam do
tem da epístola introduzindo a grande palavra do arrazoamento de Paulo, o termo
JUSTIÇA.

51
(2) A justiça de Deus pela fé como verdade
central do evangelho é o assunto principal de Romanos 1:18-5:21. O primeiro
passo de Paulo é mostrar que todos estão sob o eon da ira, tanto gentios como
judeus, pois todos estão sob a ira de Deus. Os primeiros por terem se rebelado
contra a revelação natural foram entregues a toda espécie de promiscuidade moral,
e os judeus que pensam se salvar pela defesa ou ensino da ética estão na mesma
condenação, ambos os grupos carecem de justiça para se salvar (1:18-3:20). A
universalidade do pecado a todos subjugou sob o eon da ira divina. Depois de
revelar a situação trágica da humanidade Paulo apresenta que a única solução é
acietar a justiça de Deus que é pela fé em Jesus Cristo. Diz ele: “Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm
3:28). Esta verdade é então ilustrada na vida de Abraão e Davi (4:1-25). O
capítulo 5 fala da glória do homem justificado que tem paz com Deus mediante a
justiça que provém da fé (5:1-11). Os versos 12 a 21 apresentam a Cristo como o
Segundo Adão que veio desfazer os efeitos dos pecados trazidos ao mundo pelo
Primeiro Adão, mostrando que onde “abundou o pecado superabundou a graça de
Deus.”
(3) Através de perguntas retóricas sobre a relação
da lei com a justificação pela fé Paulo discorre sobre o tema da santificação 6:1 a
8:39. “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?” (Rm
6:1). “Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça?”
(Rm 6:15). “Ignorais . . . que a lei tem domínio sobre o homem toda a vida?”
(Rm 7:1). “É a lei pecado?” (Rm 7:7). Fui então finalmente liberto da
condenação da lei porque a lei do espírito da vida em Jesus Cristo me livrou da lei
do pecado e da morte e não lei moral como revelação do caráter de Deus. A graça
me livra de fazer da lei um meio de salvação e da condenação do pecador. Quem
foi justificado pela fé está livre da condenação da lei. Esta função da lei, de
condenar, morreu para o pecador declarado justo pela fé nos méritos de Cristo.
(4) O Evangelho e Israel  Romanos 9:1-11:36 
Paulo aqui expõe a relação entre o povo de Israel e a Igreja Cristã que nasce entre
os gentios. Paulo começa mostrando quem de fato é filho de Deus. Os
descendentes de Abraão ou os descendentes da fé? (9:1-33). Os gentios não
podem se esquecer que a salvação veio conduto através de Israel e que os judeus
estão incluídos no evangelho (11:1-10). Então Paulo fala do último desígnio de
Deus que é a salvação de todos (Rm 11:31). Termina esta seção com uma
antífona de louvor a Deus (11:33-36).
(5) O evangelho e a nova vida  12:1-15:13 
Paulo então mostra a finalidade do evangelho para judeus e gentios que é a
santidade fruto da fé em Cristo. Pureza e obediência com base no amor.
(6) Conclusão epistolar  15:14-16:27  Esta
parte está formada por seus planos de viagem, pedido de oração, saudações finais
e a doxologia.
d) Esboço  Romanos
I  Introdução
A  Resumo da Epístola - 1:1-7
B  O Desejo de Pregar em Roma  1:8-15
II  Tema  O Justo pela Fé Viverá  1:16-17

52
III  O Justo Viverá pela Fé  1:18-5:21
A  O Antigo Eon - Sob a ira de Deus  1:18-3:20
B  O Novo Eon  Sob a justiça de Deus  3:21-5:21
IV  O Justo Viverá pela Fé  6:1-8:39
A  Livres do pecado  6:1-23
B  Livres da Lei como meio de Justiça  7:1-25
C  Livres para Obedecer  8:1-39
V  A Justiça pela fé não contradiz a promessa  9:1-11:36
A  A promessa é para os que crêem - 9:6-29
B  A Rejeição de Israel  9:30-10:21
C  A Aceitação de Israel  11:1-11:36
VI  A Conduta dos que são justos pela fé  12:1-15:13
A  Conforme o novo Eon
B  A realização Concreta os débeis e os fortes 
14:1-15:3
VII  Conclusão 15:14-16:27

G  Quarto Grupo de Epístolas  Filipenses, Filemon, Colossenses e Efésios 


Tema principal é Cristologia. Defesa contra a perversão gnóstica da pessoa de
Cristo. Elas são conhecidas como as epístolas da prisão, e devem Ter sido escritas
de Roma (Ef 6:20; Fl 1:13-14; Cl 4:18; Fm 1:9). Estas cartas, portanto, foram
enviadas também aproximadamente no mesmo tempo. Paulo enviou Tíquico e
Onésimo com as cartas aos Efésios (Ef 6:21-22), Colossenses (Cl 4:7-9) e
Filemon (Fm 1:1,10). Onésimo era um escravo fugitivo de Filemon que se
convertera ao cristianismo pela influência de Paulo, no seu período de prisão (Fm
8-16).

1  A prisão de Paulo em Roma aconteceu entre os anos 61-63


AD. Estas cartas podem Ter sido escritas entre os anos 61 a 63 AD. A data mais
aproximada para estas epístolas seria o ano 62 AD. E foram enviadas por Tito e
Onésimo no mesmo período de tempo. “Estando pronto para despachar a Tito
com cartas para várias igrejas na Ásia Menor, enviou com ele Onésimo.” (Atos,
456). O mesmo se diz da carta aos Filipenses: “A carta de Paulo aos Filipenses,
como a enviada aos Colossenses, foi escrita enquanto ele estava prisioneiro em
Roma.” (Atos, 479).

a) De acordo como outros estudiosos, estas epístolas


teriam sido escritas por ocasião de sua prisão em Cesaréia, entre os anos 58-60
AD (At 23:23, 33; 24:27). Outros eruditos advogam que estas cartas foram
escritas no desconhecido período de sua prisão na Ásia Menor (At 21:27; cf. 2Co
1:8; 2Tm 1:15). O argumento que estes dois grupos advogam é que destas
posições geográficas Paulo estava mais próximo de seus destinatários. Estas
teorias não têm sido aceitas por causa da fragilidade do argumento, ficando por
isso mesmo mais aceita a opinião favorável a Roma (At 28:30-31). Declarações

53
de EGW fortalecem a posição de Roma ao dizer que “em sua carta ‘aos santos e
irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos,’ escrita como prisioneiro em
Roma, Paulo faz menção de sua alegria.” (Atos, 471). O mesmo se pode dizer da
carta a Filemon, pois “entre os que deram o coração a Deus por intermédio do
trabalho de Paulo em Roma, estava Onésimo, escravo pagão que havia lesado a
seu senhor, Filemon, crente cristão de Colosso, e havia escapado para Roma.”
(Atos, 456).

b) A carta aos Filipenses e provavelmente a última das


cartas da prisão. Pelo teor da carta parece que Paulo já estava em Roma fazia já
algum tempo, devido o que ele declara em Filipenses 1:12-14. A carta transmite
uma atmosfera de total felicidade. Paulo parecia aguardar um resultado favorável
de seu apelo a César (At 25:10-12), e isto lhe permitiria visitar uma vez mais a
igreja de Filipos (2:24). Apesar disso ele deixa claro que está pronto para uma
decisão mesmo que lhe fosse nefasta (Fl 1:19-20, 22-25). Em função do exposto
conclui-se que Filipenses deveria Ter sido escrita em 63 AD.1

2  COLOSSENSES  Esta é uma das epístolas escritas por


Paulo à igreja que ele não havia pessoalmente estabelecido. Parece que o
Cristianismo foi pregado em Colossos quando Paulo estava morando em Éfeso,
por um dos seus companheiros de atividade missionária, possivelmente Epafras
(Cl 1:7-8; 4:12).

a) Colossos era uma cidade ilha, margeada pelo rio Lico,


próxima de Laodicéia e de Hierápolis (Cl 4:13). Localizada na principal
passagem comercial entre o Oriente e o Ocidente, a cidade era influenciada por
diversas ideologias. Tais influências, especialmente o gnosticismo, parecem Ter
influenciado a igreja de Colossos. Paulo chama o ensinamento falso de “heresia
colossense.” Tratava-se de uma mistura de idéias gnósticas e judaicas (elcasaítas),
que combinadas ameaçaram a integridade o Evangelho de Cristo. Este nefasto
ensinamento reduzia o Cristianismo a um sistema legal e obscurecia a pessoa e
obra de Cristo. Paulo, portanto, está preocupado em apresentar a verdadeira
natureza divino humana de Cristo (1:11-22) e com as distorções relacionadas ao
evangelho e o padrão moral da vida cristã (2:8-3:4).

b) A semelhança dessa epístola com Efésios é


reconhecidamente grande. Por isso mesmo elas podem ser chamadas de as
epístolas gêmeas do Novo Testamento. Elas se assemelham em sua apresentação
sobre Cristo, e do Seu Corpo, a Igreja. Em Colossenses Ele “a cabeça” do Corpo
(1:18); em Efésios ela é a igreja que é Seu corpo (1:22-23). A ênfase em
Colossenses é sobre a exaltada pessoa de Cristo; em Efésios a ênfase é posta sobre
a natureza da Igreja. A semelhança das duas epístolas se nota na exposição dos
deveres práticos da vida cristã (Cl 3:9-10); cf. Ef 4:22-24). Ambas tratam do
relacionamento doméstico (Cl 3:8-10; cf. Ef 5:22-6:9).

1
Francis D. Nichol, Seventh-Day Adventist Bible Commentary
(Wahington, DC: Review and Herald, 1957), 6:105-106.

54
c) Problema Teológico  A Igreja em Colossos estava
sendo submetida a um falso ensino que era entendido pelo apóstolo Paulo como
heterodoxo, e portanto ameaçador da integridade do evangelho. Assim esta
epístola é uma apologia da fé cristã. Em sua carta Paulo identifica a existência de
um ensino falso, mas não o define especificamente. Contudo, na sua
argumentação Paulo fornece indícios que podem nos ajudar a entender a natureza
deste errôneo ensino colossense.

1:19 Aprouve a Deus que nele residisse toda a


plenitude

2:2 O mistério de Deus, Cristo

2:8 Filosofia e vãs subtilezas, conforme a tradição dos


homens e os Rudimentos do mundo

2:14 Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra


nós

2:16 Ninguém vos julgue por causa de comida e


bebida, dias de festa, ou lua nova, ou sábados

2:18 Pretextando humildade e culto dos anjos,


baseando-se em visões

2:20 Espíritos elementares do universo

2:21 Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques


aquiloutro

2:22 Preceitos e doutrinas dos homens

2:23 Culto de si mesmo, falsa humildade e rigor


ascético, não tem valor contra a sensualidade

d) O ensino aqui retratado é simultaneamente


gnostizante e judaico. A plenitude do “deus supremo” e suas emanações (24 pares
de deuses), que deviam ser venerados e homenageados como espíritos
elementares, ou anjos, ou deuses que moravam nas estrelas. Tais seres nestas
estrelas regiam o destino de toda criatura humana, e controlavam a entrada no
reino do deus supremo. Neste processo Cristo é um deles, como já foi analisado
anteriormente.
(1) Para entrar neste reino havia condições
prévias que o adorador deveria cumprir na forma de uma rigorosa disciplina
ascética: abstinência alimentar, observância de ritos de iniciação, possivelmente
celibato, mortificação do corpo. Tratava-se portanto de uma piedade forçada,
tradução de ethelothreskeia (eqeloqrhskeiva)  2:23, termo que traduz religião
baseada na astrologia persa-caldaica, mistérios da religiosidade grega que são

55
vertentes do gnosticismo. O outro termo que contribui para a definição desse
falso ensino é a palavra stoicheia (stoikei~~on)  2:8,20, cujo significado é de
elementos básicos de que se constitui o universo (terra, fogo, água e ar) ou saber,
como sendo a raiz de todas as coisas, vistas como imortais e divinas. Especial
ênfase é dada às partes constitutivas do ar: Sol, Lua e as Estrelas, que também são
deuses que controlam o destino do homem. Enquanto na Terra habitam seres
espirituais que influenciam os homens para o mal, que devem ser reverenciados
para manter a alma pura. Daí a necessidade de se Ter um culto com práticas
ascéticas para se conseguir viver no “céu.” Cultos este que possuíam um
calendário anual de festividades.
(2) Tais práticas (abstinência alimentar, celibato,
dias sagrados, adoração aos anjos) encontram paralelos na religiosidade de
Qunram, que pode também estar sendo incluída aqui.
(3) Não se pode, entretanto, atribuir estas práticas
às leis mosaicas, pois em todo texto não há nenhuma referência à palavra Lei. E
os eruditos em geral quase concordemente declaram se tratar de práticas ou
gnósticas, ou da religiosidade de Qunram ou dos elcasaítas, que estavam sendo
usadas para se fazer um juízo quanto à salvação ou perdição dos crentes em
Colossos. E como a prática ou não de qualquer mandamento humano ou divino
não estabelece a salvação ou perdição de qualquer pessoa necessariamente na
visão cristã da salvação, conclui-se, que apesar do esforço feito para identificar a
natureza da apostasia colossense, não é o mais relevante. O que importa saber é
que a salvação não se dá pela prática de qualquer mandamento, mas pela fé na
graça do Senhor Jesus Cristo. Portanto, ninguém pode estabelecer a salvação de
qualquer pessoa com base no seu comportamento moral, e sim na vida justa e na
morte substituinte de Cristo, recebidas pela fé (Ef 2:8-10, ver: Bacchiocchi,
Entrevista no Jornal Adventista da UNEB; e Robertson, 4:487-499; Ralph Martin,
19-33).
ed) Conteúdo  Depois da saudação costumeira e
a ação de graça pela qualidade cristã dos colossenses (1:1-13), Paulo discorre
sobre a primazia de Cristo em relação à criação, à igreja e à salvação (1:15-23).
Em seguida fala de seus sofrimentos no seu ministério (1:24-2:5). Paulo adverte
seus leitores a viverem em Cristo e lhes avisa do perigo de serem escravizados por
vãs filosofias (2:6-8). Volta, então ao tema da exaltação de Cristo (2:9-15). Por
causa disso os cristãos não devem acatar regras alimentares e dias de festas
religiosas (2:16-23). Os cristãos foram ressuscitados em Cristo, e devem viver à
altura desta verdade, evitando todos os vícios e cultivando toda virtude, inclusive
no seio familiar (3:1-4:1). Termina esta seção fazendo um apelo a que os cristãos
sejam judiciosos (4:2-6). Termina sua epístola com o envio de saudações por
Tíquico e Onésimo (4:7-18).
f3 ) Esboço  Colossenses
I - Introdução - 1:1-13
A  Saudação  1:1-2
B  Gratidão de Paulo - 1:3-8
C  Oração pelo crescimento no conhecimento e nas boas
obras  1:9-11
D  Gratidão pelas bênçãos de Deus  1:12-13

56
II  Seção Doutrinária - 1:14-2:3
A  A Primazia de Cristo  1:14-22
B  Paulo, o sub-pastor de Cristo  1:23-2:3
III  Seção Didática - 2:4-23
A  Advertência contra o erro  2:4-8
B  Cristo a solução dos problemas de doutrina  2:9-23
IV  Seção Ética
A  Morte para o mundo, e vida para Cristo  3:1-4
B  As paixões da carne  3:5-11
C  Semelhança com Cristo  3:12-17
D  Deveres das relações sociais  3:18-4:1
E  Instrução Geral - 4:2-6
V  Conclusão  4:7-18

3  FILIPENSES  “Regozijai-vos no Senhor sempre, outra vez


direi regozijai (Fl 4:4). Esta é a característica marcante desta carta. A fé em Deus
conduz a uma natural expressão de regozijo, ainda que as circunstâncias sejam
probantes. Paulo fala da incerteza de seu futuro. Ele não sabe como terminará o
seu julgamento, morte ou vida (Fl 1:19-20). Embora escrita da prisão a palavra
alegria e regozijo aparecem repetidas vezes. O tema da epístola é, portanto,
alegria em Cristo.

a) A cidade de Filipos foi o ponto de partida para a


evangelização da Europa. De Trôade, em obediência à visão, Paulo mudou seus
planos de evangelizar a Ásia e se dirigiu à Macedônia, mais especificamente à
Filipos (At 16:4-15). A cidade tinha uma ilustre história. Ela foi o palco da
batalha de Otávio e Antônio contra Brutus e Cássio em 42 AC. Após a batalha foi
conferida à cidade o status de colônia romana. Isto fez com que seus habitantes se
tornassem orgulhosos do seu direito de cidadania romana. Atravessa a cidade a
Via Ignácia, uma estrada que ligava o Oriente e o Ocidente (estratégia
missionária)..

b) Ao chegarem a esta localidade Paulo, Timóteo e


Lucas pregaram , inicialmente, a um grupo de mulheres que foi reunido na
proximidade de um rio (At 16:13). Entre elas estava Lídia e sua família, que se
tornaram o núcleo inicial da Igreja Cristã em Filipos.
(1) Posteriormente, quando Paulo e Silas
expeliram o demônio da jovem escrava, seus senhores vendo que perderiam sua
fonte de lucro, conseguiram que os apóstolos fossem presos sob falsa acusação.
Dessa prisão ocorreu a conversão do carcereiro (At 16:34). Em seguida Paulo e
Silas são libertos de sua prisão sob seus protestos, por terem reivindicado sua
cidadania romana (16:35-40).
c) Anos mais tarde ao escrever sua carta aos Filipenses,
Paulo era de novo prisioneiro, agora em Roma. Por causa de falsas acusações e de
ameaça de morte Paulo pediu para ser enviado à Roma. A despeito de todas essas
circunstâncias difíceis Paulo escreveu esta carta radiante de alegria. O segredo

57
desta qualidade de vida estava nas palavras: “para mim o viver é Cristo, e o
morrer é lucro” (Fl 1:21).

d) Autoria, lugar e data  Não tem se levantado nenhum


questionamento sério quanto à autoria de Filipenses. É uma carta atribuída a
Paulo. O estilo literário é paulino, as circunstâncias e a mensagem da carta
harmoniza-se com a vida e a pessoa de Paulo. O único problema levantado é
quanto a Filipenses 2:5-11, pois apresenta vocabulário que não é comum a Paulo
(morphe, harpagmos e hyperypsoo), e um estilo que foge ao padrão de uma
escritura paulina. Por se tratar de um hino seu estilo rítmico é diferente. Essa
diferença se deve mais ao fato de se tratar de uma poesia do que de um
questionamento de sua autoria. Além disso há uma semelhança na construção
com passagens deste tipo em outras epístolas, especialmente com Colossenses
1:15-20.
(1) Os argumentos a favor de Roma como local
em que Paulo escreveu esta carta são vários: (1) Há uma declaração à guarda
pretoriana (1:13). (2) Nas saudações finais ele declara que os da casa de César
enviam recomendações (Fl 4:22), isto se harmoniza com Atos 28:16, 30-31.
Nesta carta fica evidente que Paulo coordenava os trabalhos de evangelização, e
por isso pôde enviar Timóteo e Epafrodito à Filipos (2:19, 25). (3) O
encorajamento dos irmãos para pregação do evangelho, por causa da prisão de
Paulo (1:14), harmoniza-se mais com Roma, pois dos lugares sugeridos para
Paulo Ter escrito esta carta (Cesaréia e Ásia), Roma é o único onde já havia uma
igreja estabelecida. (4) É unicamente em Roma onde Paulo enfrenta a dupla
opção entre morte ou vida (1:20).
(2) Esta carta foi escrita próxima do fim da vida
de Paulo, como evidencia a própria epístola. Sua data mais aproximada seria em
62 AD.
e) Conteúdo  Inicia-se esta carta também pelas
saudações iniciais (1:1-2), depois agradece a Deus pelas boas lembranças que
guarda dos filipenses, que leva o apóstolo a Ter uma atitude de oração por eles (Fl
1:3-11). Em seguida o apóstolo declara que sua tribulações têm contribuído para
o progresso da evangelização (1:12-26). Estas tribulações se tornam uma
evidência da salvação deles, embora os gentios entendam justamente ao contrário,
por isso os conclama à uma vida mais consagrada, e à unidade cristã (1:27-2:4).
Paulo, então, expressa o contraste da grandeza de Cristo e Sua correspondente
humildade, que embora sendo igual a Deus esvazia-se a si mesmo tornando-se
homem e na qualidade de ser humano faz-se escravo até descer ao nível mínimo
aceitando ser morto na forma degradante de um condenado à cruz (2:5-11). Por
causa desta dádiva busca concitá-los a desenvolver sua salvação, fundamentados
na verdade de que é Deus quem realiza o querer e o efetuar, e com isso apela-lhes
a uma vida pura (2:12-18). A recomendação de Timóteo e de Epafrodito, ao Paulo
enviá-los a Filipos, baseia-se no fato de que ambos são homens que já enfrentaram
sofrimentos por causa da pregação do evangelho (2:19-30). No capítulo 3:1 ele
volta ao tema da alegria, para depois entrar no assunto da circuncisão e sua
relação com a salvação (3:2-11). A perfeição imputada e desenvolvida
acompanhada da exortação de prosseguir na direção do chamado de Deus em

58
Cristo Jesus, evitando seguir o mal exemplo daqueles que são inimigos da cruz é o
objetivo das considerações em Filipenses 3:12 a 4:1. Seguem-se então apelos
pessoais e a volta ao tema da alegria seguido de um convite ao descanso e paz em
Cristo Jesus (4:2-7). Depois ele suscita a importância de viver praticamente as
virtudes cristãs (4:8-9). Paulo, então, dirige os filipenses às razões da sua gratidão
para com eles que o tinham assistido em suas necessidades (4:10-20). Saudações
finais (4:21-23).

f) Esboço  Filipenses
I  Saudação  1:1-2
II  Agradecimento e Oração pelos santos  1:3-11
III  Paulo e suas Circunstâncias  1:12-26
IV  Crentes e sua Conduta  1:27-30
V  Cristo e Seu Exemplo de Humildade  2:1-18
VI  O Envio de Timóteo e Epafrodito  2:19-30
VII  Paulo e seu Exemplo: Maturidade  3:1-4:1
VIII  Exortação e Apreciação  4:2-20
IX  Conclusão  4:21-23

4  FILEMON  É unânime a posição dos eruditos que Paulo é


o autor de Filemon, bem como teria escrito esta carta no seu período de prisão da
cidade de Roma para Filemon que vivia em Colossos. A data seria entre os anos
60 a 63 AD.

a) Situação Histórica  Os escravos eram uma


reconhecida parte da estrutura social do mundo antigo. Eram vistos como
utensílio doméstico. A população de escravos chegou a ser três vezes maior do
que os homens livres entre os anos 146 AC a 235 AD. Devido a esta situação as
leis que controlavam a escravatura eram exageradamente severas, para evitar um
motim ou ocasionais fugas. Conforme a Lei Romana os proprietários de escravos
tinham absoluto poder sobre eles, tanto para vida como para morte. O escravo
estava proibido de Ter qualquer propriedade, e tudo quanto possuía pertencia ao
seu dono. Aos escravos era vedado o direito ao casamento, mas eram encorajados
a aumentar sua família, porque assim tornavam mais ricos seus proprietários.
Podia, entretanto, em uma negociação, ser separado de sua esposa ou filhos. Não
tinham direito à justiça, eram proibidos por lei receber asilo de qualquer pessoa.
Se um senhor fosse acusado de qualquer crime, ele poderia oferecer um escravo
para ser torturado e interrogado em seu lugar. O escravo fugitivo era
freqüentemente condenado à morte por crucifixão. O pior de tudo é que os
escravos eram obrigados a satisfazer os desejos viciosos de seus senhores.

b) Conteúdo  Esta breve epístola é o único exemplo do


Novo Testamento da correspondência pessoal do apóstolo Paulo. O assunto da
carta é a solicitação de Paulo em favor de Onésimo, que era escravo de Filemon,
de quem havia fugido, por causa de algum prejuízo, não muito bem explícito, que
tinha causado a seu dono. As circunstâncias possíveis desta história é que a

59
conversão de Onésimo pelo ministério de Paulo em Roma (Fm 10) o levou a Ter
sentimento de culpa por Ter enganado seu dono. Tal situação fez com que ele
procurasse Paulo para conversar sobre o assunto que o preocupava. Desta
possível conversa teria surgido a carta de Paulo a Filemon. Depois de mencionar
a conversão de Onésimo, Paulo passa a falar de sua utilidade a ponto de chamá-lo
de filho (Fm 10-11, 13). O apóstolo resolve enviá-lo de volta a Filemon, no
desejo de recebê-lo de volta para cuidar dele próprio neste período da prisão.
Paulo, entretanto, espera que Onésimo seja recebido não como escravo, mas como
irmão caríssimo na carne e no Senhor (Fm 16). Em seguida Paulo se propõe
pagar qualquer dano causado por Onésimo, lembrando a Filemon que ele devia a
Paulo a si próprio (Fm 19). Paulo aqui faz uma referência indireta à lei romana a
que estava obrigada qualquer pessoa que desse asilo a um escravo fugitivo. A
multa era que o proprietário tinha direito de exigir compensação correspondente
ao número de dias passados na casa do que lhe deu asilo. Esta possivelmente é a
dívida a que Paulo faz referência.

c) Esta carta tem servido como orientação quanto a


atitude cristão em relação a escravidão. Ao lado de outros textos pode-se ver a
posição de Paulo sobre a situação da escravatura. “Ande cada um segundo o
Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. . . Porque o
que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto no Senhor. . .” (1Co 7:17-
24). Para Paulo em Cristo não pode haver separação entre grego e judeu, ou entre
escravo ou livre, pois Cristo é tudo em todos (Cl 3:11; cf. Gl 3:28). Paulo não
sugere o uso da força, para através de uma ação social, acabar com a escravidão.
Ele age mais radicalmente, procurando extirpar do coração humano o preconceito,
pela implantação de um novo relacionamento entre as pessoas com base na
salvação. O escravo agora, em Cristo, é um irmão caríssimo (Fm 16). Com isso a
escravatura progressiva e definitivamente deveria Ter desaparecido do
Cristianismo. Infelizmente, porém, a história nos obriga a reconhecer o terrível
erro do Catolicismo e do Protestantismo em aceitar pacificamente a escravatura e
até mesmo incentivá-lo.

d) Alguns eruditos têm identificado o ex-escravo com o


Onésimo mencionado nos seis primeiros capítulos da Carta aos Efésios de Inácio,
como sendo talvez o bispo de Éfeso.

e) Esboço  EFÉSIOSFilemon

I  Saudação  1:3

II  Elogio a Filemon  4-7

III  Apelo pela Recepção de Onésimo  8-20

IV  Conclusão e Bênção  21-25

5  EFÉSIOS  Há alguns problemas relacionados com esta


epístola. Nem todos os eruditos admitem que Paulo seja o seu autor. Os

60
questionamentos relacionados ao vocabulário desta epístola não são procedentes.
O tema da epístola, o seu vocabulário e o estilo são sem dúvida paulinos. “Se
Colossenses é paulino, há pouco ou nada a ser dito contra a autoria paulina desta
epístola.” A. T. Robertson, 4:514. Confirmam sua autoria versículos da própria
carta: 1:1 a 3:1. Além disso os detalhes que Paulo dá de sua pessoa se tornam
prova de que ele é o autor. Paulo diz que ouviu acerca da fé e do amor de seus
destinatários (1:15), suplica oração dos seus leitores, mostrando haver uma certa
intimidade entre eles e Paulo (6:19-20). Ele se identifica como “prisioneiro de
Cristo” (3:1; 4:1). O estilo, vocabulário e estrutura da carta revelam também que
o autor é Paulo. As semelhanças com Colossenses é outra evidência da autoria
paulina, senão como explicar que autores diferentes escreveram cartas tão
semelhantes? Há uma abordagem temática muito semelhante entre elas:
justificação pela fé no linguajar paulino; o papel da graça, o domínio da carne
sobre os perdidos, a obra de Cristo como reconciliação, o papel dos judeus e da
lei.
As epístolas de Colossenses e Efésios foram enviadas no mesmo
tempo, mas Colossenses foi composta primeiro. Efésios e Colossenses mantêm
entre si uma relação mais íntima do que Romanos e Gálatas possuem.
a) “Os mais antigos documentos (Aleph e B) não trazem
as palavras en Ephesoi em 1:1, inserido mais tardiamente. Orígenes não as teve
em sua cópia. Marcião chama esta carta de Epístola aos Laodicenses (Cl 4:16).
Após Ter escrito a Epístola aos Colossenses, Paulo ditou a carta que tem sido
chamada de Epístola aos Efésios como uma carta universal e circular para as
igrejas da Ásia (Província Romana). Para Marcião a cópia destinada à Laodicéia
lhe era familiar. No IV século é mencionado a existência de alguns manuscritos
sem o nome dos destinatários. Contudo a maioria dos manuscritos foi copiada de
um manuscrito procedente de Éfeso, chamado de Epístola aos Efésios. O aspecto
geral desta carta é comprovado pela ausência de nome dos destinatários.” (A. T.
Robertson, 4:514).
(1) A data mais provável desta carta seria o ano
63 AD. O lugar em que esta carta foi escrita é Roma, como já foi mencionado
acima. As teorias da Ásia e Cesaréia já foram também discutidas.
b) A mesma heresia gnóstica encontrada em Colossenses
está presente nesta epístola. Em Colossenses a ênfase é posta na Dignidade de
Cristo como o Cabeça da Igreja, enquanto em Éfeso é ressaltada a Dignidade da
Igreja como o Corpo de Cristo, que é o Cabeça. Em Colossenses Paulo tem uma
ênfase cristológica e depois eclesiológica, e em Efesios a ênfase é primeiramente
eclesiológica e depois cristológica. Nos capítulos 1 a 3 de Efésios Paulo está
escrevendo o seu mais profundo e complexo tema.

c) A história da Igreja de Éfeso pode ser traçada com


certo detalhe a partir do próprio Novo Testamento. Seu nome significa desejável.
Ela foi fundada durante o XI século AC. Era uma cidade comercial. Era a porta
de entrada para a província da Ásia e o ponto de partida para a rota comercial
entre a Europa, a Ásia e a África. Estava situada na costa ocidental da Ásia
Menor, na embocadura do rio Caistre, a poucos quilômetros do mar Egeu.
Caracterizava-se por possuir edificações famosas: o teatro para 30 mil pessoas, o

61
templo à Diana, o Fórum. Era a sede do culto à Diana, e tornou-se o centro de um
rito moralmente promíscuo: o culto da fertilidade. O templo à Diana foi
construído em 480 AC. Foi destruído em 356 AC. Foi reconstruído
posteriormente tornando-se uma das sete maravilhas do mundo antigo.
(1) Paulo é o fundador desta igreja conforme o
relato de Atos 19.
d) Conteúdo  o Evangelho é analisado sob o prisma
eclesiológico e cósmico. O capítulo 1, depois da saudação inicial, Paulo louva a
Deus, o Pai, como bendito por ser Pai de Jesus Cristo, em quem está a
predestinação da redenção, a remissão dos nossos pecados, fora do homem e fora
da Terra, antes dos homens e antes da Terra: “nas regiões celestiais em Cristo,
assim nos escolheu antes da fundação da Terra.” No Pai está também a revelação
do mistério, que em Cristo convergem todas as coisas do céu e da terra. Cristo é o
centro do universo, pois para Ele devem fluir todo louvor, porque fomos selados
pelo Espírito Santo, os que ouvimos e cremos no evangelho da salvação, que é a
garantia da salvação até o dia do resgate final. Paulo em seguida diz que não
cessa de louvar a Deus porque os membros da igreja em Éfeso depositaram sua fé
em Jesus Cristo. O objetivo deste louvor é que Paulo quer que eles sejam
iluminados para perceberem a grandeza da salvação.
(1) No capítulo 2, Paulo mostra como pessoas
mortas em seus pecados podem ser ressuscitadas para vida da salvação: “pela
graça sois salvos, mediante a fé.” Isto exclui toda jactância, porque exclui as
obras como fonte da justificação: “não de obras para que ninguém se glorie.”
Contudo a salvação inclui as obras como finalidade: “criados em Cristo Jesus para
as boas obras.” Logo em seguida e tendo como base esta salvação Paulo fala da
unidade que deve haver entre judeus e gentios como membros do mesmo corpo, a
igreja, cujo cabeça é Cristo e cuja edificação está posta sobre apóstolos e profetas,
sendo Cristo a “pedra angular.”
(2) No capítulo 3, Paulo trata de um novo
mistério, tendo por base a salvação é que os gentios são “co-herdeiros, membros
do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus através do
evangelho.” A finalidade desta revelação é para que pela Igreja esta verdade se
torne conhecida na Terra e no Céu. A seguir Paulo ora mais uma vez para que a
Igreja seja fortalecida no seu interior pelo Espírito Santo, pela habitação interior
de Cristo pela fé. E desta forma fundamentados no amor, os homens possam
entender o amor que está em Cristo, com a finalidade de serem receptáculos de
“toda a plenitude de Deus.” O verso 21 deste capítulo põe fim esta primeira parte
da carta, a parte teológica, que se divide no Amém final da oração de Paulo.
(3) Os capítulos 4 a 6 formam a parte ética da
epístola “andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados: santidade do
ministério e os dons espirituais (unidade, cooperação e diversidade); a santidade
da vida; a santidade do lar e os padrões do seu relacionamento. Em seguida,
Paulo fala do segredo da vitória do cristão; a armadura de Deus, deixando claro
que a vida cristã envolve uma luta espiritual. Segue-se então a bênção final,
versos 23-24.

62
XII  EPÍSTOLAS GERAIS

1  Título, Ordem, Data e Importância

1.1  Há diferentes explicações para o título de Universais para estas setes


epístolas. O termo latino para universal Catolicae usado na Vulgata parece ser
impróprio. O termo “universais” não é nem ortodoxo e muito menos canônico.
Aparentemente foi 1João a primeira epístola que recebeu o título de universal, que
procurava caracterizar a amplitude e o seu caráter indefinido daqueles a quem se
dirigia, contrastando com os específicos destinatários mencionados em 2 e 3 João.
Essa denominação foi posteriormente transferida para todo o grupo de epístola
onde 1João estava inserida. Foi Eusébio o primeiro a falar de Tiago, Pedro, João e
Judas como as “sete epístolas católicas”. Algumas delas já traziam a designação
de católicas, como se dá com a carta de 1João por Dionísio de Alexandria,
enquanto Orígenes considera 1João, 1Pedro e Judas como sendo universais.

1.1.1  Alguns querem entender católico como epístolas


dirigidas a judeus e gentios cristãos. Este, entretanto, não parece ser o caso, pois
algumas delas são bem restritas regionalmente. Contudo, poder-se-ia entender
que são cartas não dirigidas a alguma igreja específica (Gálatas, etc). Neste
aspecto elas poderiam ser intituladas, mais propriamente, de GERAIS.
1.2  Nos manuscritos gregos mais antigos, as Epístolas Universais aparecem
imediatamente após o livro de Atos dos Apóstolos. Porém, as traduções inglesas e
latinas seguem o Textus Receptus, situando estas epístolas antes de Apocalipse.

1.2.1  A ordem das sete epístolas varia grandemente nos


diferentes manuscritos, embora sempre apareça Tiago em primeiro e Judas em
último. É muito provável que a ordem Tiago, Pedro, João e Judas seja
cronológica.

1.2.2  As sete epístolas foram escritas dentro do período de 45


a 90 AD. Ao considerar-se as evidências quanto a data da Carta de Tiago pode-se
considerá-la como tendo sido escrita mais recentemente. Examinemos as
evidências:

1.2.2.1  É evidente que quando Tiago estava


escrevendo a esperança da vinda de Cristo era muito real (5:7-9). E como esta
esperança estava presente fortemente nos primórdios da Igreja Cristã. E como só,
posteriormente, e devido à demora, é que esta visão de brevidade foi se
esvanecendo, por este fato é que se atribui a data de Tiago como sendo mais
recente (45 AD).

1.2.2.2  Nos primeiros capítulos do livro de Atos e nas


cartas de Paulo há uma evidente controvérsia racial e teológica entre judeus e
gentios, que os leva ao Concílio de Jerusalém no ano 49 AD. Como Tiago não
menciona nada sobre tal tema considera-se que sua carta tenha sido escrita mais
cedo.

63
1.2.2.3  Outra evidência é a nomenclatura de sinagoga
para referir-se ao local de reunião dos primeiros cristãos. Nomenclatura logo
abandonada pelo termo assembléia.

1.2.2.4  Em Tiago 5:14, mencionam-se os líderes da


igreja local com o título de ancião, nomenclatura judaica que antecedeu os títulos
de episcopo e presbítero, portanto mais recente, tornando possível que a data de
Tiago seja mais próxima de 45 AD.

1.2.3  Quanto a canonicidade de 2Pedro sempre questionada,


penso que foi definitivamente afastada com o achado de um fragmento desta
epístola em companhia de outros (Marcos, Atos, Romanos, 1Timóteo e Tiago) em
1955, na Caverna 7 de Qumran. Isto ainda vem demonstrar que a data de 2Pedro
é anterior a destruição de Jerusalém. Cinco destas cartas, menos 1Pedro e 1João,
tiveram sua canonicidade disputada como confirmam as declarações de Eusébio.

1.2.4  O mesmo se pode dizer da de Tiago que foi colocada no


Cânon, mas que até hoje continua sendo questionada pela sua aparente
contradição com as cartas paulinas.
1.3  Sem estas epístolas seríamos privados de aspectos importantes de três
pessoas muito relevantes na vida da Igreja Apostólica. Eles eram vistos como
colunas da Igreja Cristã: “. . . Tiago, Cefas e João, que eram reputados
colunas . . .” (Gl 2:9). Ao mesmo tempo saberíamos muito menos do judaísmo
cristão que está presente nas epístolas de Tiago e Judas, da posição de Pedro sobre
o sofrimento e a esperança da Segunda Vinda de Jesus e da visão anti-gnóstica de
João em suas cartas.

2  Visão Geral das Epístolas Gerais

2.1  Das últimas sete epístolas do Novo Testamento, duas advertem aqueles que
desprezam a autoridade do Senhor e de Sua Palavra, tais pessoas enfrentarão o
Juízo de Deus que virá sobre eles (2Pedro e Judas).
2.2  As três cartas de João foram escritas contra as ameaças da heterodoxia
gnóstica.
2.3  Por sua vez Tiago e 1Pedro falam sobre o sofrimento a que estão submetidos
os cristãos em seu contexto histórico.

2.3.1  Estas provações emergiram de várias fontes e por razões


diferentes. Elas, contudo, eram desanimadoras, deixando os cristãos muitas vezes
perplexos quanto ao propósito dessas provações em sua experiência.
2.4  1Pedro mais do que qualquer outra epístola está interessada no tema do
sofrimento. Esta palavra aparece 17 vezes, referindo-se aos sofrimentos de Cristo
e do Seu povo (1Pe 4:12-19). O período de sofrimento retratado por Pedro parece
referir-se aos dias da perseguição de Nero. Desta forma Pedro escreve para dar
esperança àqueles que estão sofrendo.

64
3  Manuscritos das Epístolas Universais

Conforme a lista mais recente, o número dos manuscritos do Novo Testamento


conhecidos inclui: 85 papiros, 268 maiúsculos, 2.972 minúsculos e 2.913
lecionários. O P72 (Papiro Bodmer VII e VIII) contém o texto de Judas e duas
epístolas de Pedro. Foi provavelmente escrito no III e IV séculos por um escriba
cuja língua materna era o copta. Este manuscrito oferece o texto mais antigo
ainda preservado destas três epístolas. O P72 confirma, em extensão e conteúdo,
o valor do texto das três epístolas que se acham testemunhadas em B (Manuscritos
mais antigos escritos em letra maiúscula). À guisa de lembrança precisa-se dizer
que a divisão em capítulos dos livros da Escritura remonta-se ao início do 1200.
Ela é atribuída à Stephen Langton, Arcebispo de Canterbury, e a divisão em
versículos aparece pela primeira vez com o livreiro parisiense Robert Stephanus,
na edição do Novo Testamento a partir do ano 1551.

XIII  AS EPÍSTOLAS UNIVERSAIS

1  TIAGO

A Epístola de Tiago é um dos livros que tem tido dificuldadfoi um livro que
encontrou dificuldadese para ser incorporado ao Cânon do Novo Testamento.
Mesmo depois de Ter sido considerada como parte da Escritura, ela é mencionada
com certa reserva. Até o século XVI, Lutero se pudesse teria retirado a carta de
Tiago do Novo Testamento.

1.1  No Cristianismo ocidental latino, só na metade do século IV AD, Tiago


aparece mencionada nos escritos dos pais eclesiásticos.

1.1.1  A carta de Tiago não é relacionada entre outros livros no


Cânon Muratoriano, que data aproximadamente de 170 AD.

1.1.2  Tertuliano, durante o século III AD, embora faça 7.258


citações do Novo Testamento, não menciona uma só vez a carta de Tiago.

1.1.3  A primeira aparição de Tiago ocorreu no Codex


Corbeiensis que data de 350 AD. Este manuscrito atribui a autoria da epístola a
Tiago, filho de Zebedeu, e o inclui não entre as obras canônicas do Novo
Testamento, mas apenas como uma obra religiosa entre outras escritas nesta
época.

1.1.4  O primeiro escritor latino que cita Tiago palavra por


palavra é Hilário de Poitiers e o faz em uma obra intitulada De Trinitate, escrita ao
redor do ano 357 AD.

1.1.5  Igreja Cristã Ocidental  Tiago só chegou ao nível da


canonicidade pela influência de Jerônimo, pois ele a incluiu em sua visão da
Vulgata do Novo Testamento. Mesmo neste caso ainda permanece uma sombra

65
de dúvida pois em seu livro De Viris Illustribus Jerônimo disse: “Tiago, que é
chamado irmão do Senhor. . . escreveu somente uma epístola, que é uma das sete
epístolas católicas, e que segundo, dizem alguns, foi publicada por outra pessoa
sob o nome de Tiago.” Como teria sido dissipada a dúvida da canonicidade da
carta de Tiago? Foi só com a influência da autoridade de Agostinho que Tiago foi
incluído no Cânon.
1.2  Igreja Cristã Oriental  A versão peshita (Síria) do Novo Testamento inclui a
epístola de Tiago entre os canônicos ao redor de 412 AD. Ainda assim Paulo de
Nisibis questionava sua inclusão no cânon ao redor de 549 AD. Finalmente só no
século VIII pela influência da autoridade de João Damasco é que Tiago foi aceito
como canônico da Igreja Cristã Oriental.
1.3  A Igreja Cristã Grega  Esta ffoi mais rápida em aceitar Tiago como livro do
Novo Testamento. O primeiro escritor que cita a epístola de Tiago pelo seu nome
é Orígenes, erudito da escola de Alexandria. Ele declara que “se fé é chamada de
fé, mas existe fora das obras, tal fé é morta, como lemos na carta que geralmente
se atribui a Tiago.” Apesar disso Eusébio de Cesaréia, que estudou o cânon do
Novo Testamento, classificou Tiago entre os livros que são discutidos.” Ele
declara que “a primeira das epístolas chamadas católicas se diz que é sua (de
Tiago), mas deve se notar que alguns a consideram espúria, e certamente é
verdade que são muitos poucos escritores que a mencionam.”

1.3.1  Em 367 Atanásio escreveu a Carta da Páscoa. Nela ele


se propunha informar ao povo a respeito de que livros se compunham o o Cânon
do Novo Testamento e quais não faziam parte. E Tiago está incluído entre aqueles
que ficaram sem qualificação. Mesmo assim a partir desta época ele é admitido
como livro do Novo Testamento.
1.4.  A Igreja Católica Romana, a partir do Concílio de Trento (1546 AD),
estabeleceu os livros da Bíblia que faziam parte do Cânon. A Igreja os classificou
em dois grupos: (1) os proto-canônicos e (2) os deutero-canônicos. Os primeiros
eram aqueles livros sobre os quais não pairava nenhuma dúvida sobre sua
canonicidade, e que como tais foram aceitos desde o início. Os outros eram
aqueles que gradualmente foram conquistando seu direito à canonicidade, e Tiago
está entre os últimos.
1.5  Lutero e Tiago  Na Igreja Protestante, Tiago continuou sendo questionado
de forma crescente devido aos ataques de Lutero. Ele o considerava como livro
secundário. Lutero foi especialmente rigoroso com Tiago. Ele declara que “a
Epístola de Tiago é uma epístola cheia de palha, porque não contém nada
evangélico. . .” Mais tarde ele declarou que não a considerava possuidora da
autoridade apostólica.
1.6  Ellen G. White reconhece a origem divina das palavras de Tiago em sua
epístola ao declarar que “há uma crença que não é fé salvadora. A Palavra
declara que os demônios crêem e tremem. Assim a chamada fé que não opera por
amor e purifica a alma não justificará qualquer homem.” (ST, 19 de maio de
1898). Diante do exposto e apesar de toda discussão sobre a canonicidade de
Tiago, nós como Adventistas do Sétimo Dia cremos que Tiago é um livro
canônico do Novo Testamento e, portanto, é Palavra de Deus.

66
2  A Identidade de Tiago  O autor desta epístola refere-se a si mesmo como
sendo “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.” (Tg 1:1). Quem é este
Tiago? No Novo Testamento há pelo menos cinco pessoas com este nome.

2.1  Tiago que era pai de um dos doze chamado Judas, não o Iscariotes (LC
6:16). Não há maiores informações sobre a pessoa dele, e não parece Ter
nenhuma relação com esta carta.
2.2  Tiago, filho de Alfeu, que era também um dos doze (Mt 10:3; Mr 3:18; Lc
6:15; At 1:13). Uma comparação entre Mateus 9:9 com Marcos 2:14 faz evidente
que Mateus e Levi eram a mesma pessoa. Levi era também filho de Alfeu, segue-
se daí que Mateus e Tiago eram irmãos. Porém deste Tiago nada se sabe a seu
respeito, e não há possibilidade dele Ter alguma relação com esta carta.
2.3  O terceiro Tiago é conhecido como Tiago, o menor (Mr 15:40; Mt 27:56; Jo
19:25). Nada se sabe também deste Tiago e, como os anteriores, não teve
nenhuma relação com a Carta de Tiago.
2.4  O quarto é Tiago, irmão de João de filho de Zebedeu, que também era um
dos doze (Mt 10:2; Mr 3:17; Lc 6:14; At 1:13). No relato do evangelho, ele nunca
aparece independentemente de seu irmão João. Este Tiago foi o primeiro do
grupo apostólicos a ser submetido ao martírio, tendo sido decapitado por ordem
de Herodes Agripa I no ano 44 AD. Este Tiago esteve relacionado com a epístola
de Tiago. O Codex Corbeiensis, códice latino do século IV AD, atribui no final da
epístola sua autoria a Tiago, filho de Zebedeu.

2.4.1  O único lugar onde esta declaração foi levada a sério foi
na Espanha. Isto se deve ao fato que Tiago de Compostela, patrono da nação, foi
identificado com Tiago, filho de Zebedeu. Contudo seu martírio ocorreu
demasiadamente cedo para poder ser considerado o autor dessa epístola.

2.5  Finalmente aparece Tiago, o que era irmão de Jesus. A primeira relação
deste personagem só vai aparecer com Orígenes, na primeira metade do século III.
É a este personagem que comumente é atribuída a carta de Tiago. É a ele que
também no Concílio de Trento em 1546, a Igreja Católica atribui a autoria desta
carta.

2.5.1  Ele era um dos irmãos de Jesus (Mr 6:3). Ele se torna
um líder da Igreja Cristã em Jerusalém, que por suas características era de
tendência judaizante, como bem deixa perceber o livro de Atos, principalmente no
episódio da conversão da casa de Cornélio. É ele quem preside o Concílio de
Jerusalém e exerce uma liderança natural na Igreja (At 2:17; At 15; At 21:18-25;
Gl 1:19; 2:9). Há uma evidente simpatia de Tiago pelos judeus que ainda
observavam as leis judaicas e um cuidadoso escrúpulo em resguardar esta lei, a
ponto de sugerir que Paulo cumpra uma lei do Nazireado, de cuja atitude Ellen G.
White faz o seguinte comentário: “Mas o conselho agora dado não estava em
harmonia com aquela decisão (Concílio de Jerusalém). O Espírito de Deus não
ratificou esta instrução; foi ela fruto da covardia. . . Muitos dos judeus que
haviam aceito o evangelho acariciavam ainda certa deferência pela lei cerimonial,

67
e estavam demasiado dispostos a fazer desavisadas concessões, esperando assim
ganhar a confiança de seus concidadãos, remover os preconceitos e ganhá-los para
a fé em Cristo como o Redentor do mundo.” AA, 404, 405.

2.5.2  Hegesipo, antigo historiador, disse que Tiago foi o


primeiro bispo da Igreja de Jerusalém. Clemente de Alexandria acrescenta que ele
foi eleito para este cargo pelos apóstolos Pedro e João. O mesmo declara Jerônimo
no III século AD. O fato básico e indiscutível é que Tiago foi dirigente da Igreja
de Jerusalém, e que só veio a falecer no reinado de Nero ao redor do ano 66 AD.
3  Conteúdo da Epístola de Tiago  Se Tiago está corretamente datado, cerca de
45 AD, ele é o primeiro livro do Novo Testamento, e como tal reflete as primeiras
provações da Igreja Apostólica Nascente. O sofrimento para Tiago deve conduzir
os cristãos à oração, a fim de fortalecê-los ante a prova de sua fé. Por isso, ele
está interessado em falar da verdadeira religião e sua relação com a fé. Verdadeira
religião se caracteriza por uma fé que suporta as provações sem se afastar da
fidelidade aos princípios éticos do cristianismo. Religião verdadeira é Ter fé
verdadeira, e fé verdadeira é aquela que produz frutos  firmeza aos princípios na
hora da provação.

3.1  O uso do termo teleio tem sido a palavra do princípio organizador desta
epístola. Das dezenove (19) vezes que ela ocorre no Novo Testamento, cinco (5)
estão presente nesta carta (1:4; 1:17; 1:25; 3:2); mais telein em 2:8 e teleioun
em 2:22.

3.1.1  Outros termos correspondentes são igualmente


importantes para fortalecer-se esta posição olo (completo, perfeito) quem
aparece em: 2:10; 3:2, 3, 6; e oloklhro que se encontra em 1:4. O termo
oposto a este conceito chave é diyuco que denota inconstância, pessoa dividida
(1:8; 4:8).

3.1.2  Além disso a raiz tel é usada com palavras importantes


na epístola como ergon, sofa, nomo e pisti (Tg 1:4; 2:22; 1:5, 7; 2:22; cf.
1:6; 1:25; 3:2). Estes usos não são meramente acidentais, desde que pessoa
perfeita é aquela em quem não há disparidade entre a palavra e o ato, fé e obras
(3:2; 2:17). A carta foi escrita para evitar a separação entre fé e obras, unificando-
se os dois. E esta coerência que permite unificar-se estes conceitos ao tema de
perfeição. Tiago, contudo, entende a noção de perfeição não como algo alcançado
pela realização humana, porém como um Dom divino (Tg 1:17).

3.1.3  A clara intenção da introdução da epístola é que o leitor


deve atingir o objetivo, o alvo de um “perfeita obra” (ergon teleion). Esta
expressão pode ser considerada de diversas formas, ou ela significa que sua
persistência será levada a efeito completamente, ou seu caráter alcançará sua
integridade assim como a persistência opera o aperfeiçoamento. A integridade
está relacionada com a qualidade da persistência. A idéia é que eles se tornarão
perfeitos e completos. O conceito se refere à integridade da obediência aos
mandamentos divinos. É o clamor por uma idéia perfeita, que pode ser alcançada

68
somente no âmbito da provação ou tentação. Este ensinamento deve sempre ser
relacionado com a declaração de Tiago 1:16-18: “Não vos enganeis, meus amados
irmãos. Toda boa dádiva e todo Dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Pois, segundo
o seu querer, ele nos gerou pela Palavra da verdade, para que fôssemos como que
“primícias das suas criaturas.”

3.1.4  Na epístola de Tiago o sentido de perfeição se aplica a


diversos aspectos: (1) a generosidade de Deus é perfeita, como é perfeita a lei da
liberdade (1:25). Isto torna se realidade quando o cristão é praticante dos seus
princípios; (2) perfeito é o varão que é capaz de refrear sua língua, e de usá-la para
conduzir a igreja em significativo louvor a Deus (3:2). (3) O caminho da
perfeição para o autor ocorre na atmosfera da sabedoria e da paz de uma forma
prática, pois ela promove efetivamente a pureza, a indulgência, a misericórdia, os
bons frutos, a imparcialidade e autenticidade (3:17, 18).

3.1.5  Três idéias estão associadas à verdadeira religião: (1) a


obediência à lei de Deus (2:8-10); (2) obras, enquanto atos de bondade, são parte
indispensável da verdadeira religiosidade; (3) fé que opera pela obediência (2:14-
26).

3.1.6  Conteúdo da epístola  Em sua composição geral esta


epístola é uma série de discursos que formam cinco (5) seções gerais.

3.1.6.1  Provações e Maturidade Cristã  Tiago,


depois da introdução, inicia sua epístola tratando do problema do sofrimento
cristão (1:2-18).

3.1.6.2  Fé e obras  Em seguida refere-se a


genuinidade do cristianismo como sendo uma relação entre fé e obras (1:19-2:26).

3.1.6.3  Dissensões  O seu tema seguinte trata das


dissensões dentro da comunidade cristã (3:1-4:12).

3.1.6.4  Cosmovisão Cristã  Necessidade de levar a


Deus em conta em todos os planos da vida cristã (4:13-5:11).

3.1.6.5  Exortações Finais  Fala a respeito do perigo


dos juramentos e da responsabilidade dos cristãos cuidarem da saúde espiritual
mutuamente (5:12-20).
4  Fé é entendida como sendo mais do que uma crença. Fé verdadeira é aquela
que quando é submetida à prova resiste à pressão das circunstâncias. Por isso, fé
verdadeira é a que produz frutos. Fé sem obras é morta.

4.1  Há um elemento ativo na fé que aspira o alvo, por isso ela tem um sentido
mais amplo do que apenas simplesmente uma crença. Sofrimentos têm que
sobrevir aos cristãos para submeter sua fé à provações, isto deve resultar em fé

69
que persiste em crer até o fim, tal fé seguramente poderá aguardar a libertação
prometida.
4.2  Fé em Cristo é vista em um relacionamento social, no qual todos são iguais
diante de Deus (2:1). Por isso ela não é distribuída com base na aparência
exterior. Os que são materialmente pobres podem ser vistos como espiritualmente
ricos. Assim os pobres não devem ser tratados com menosprezo, mas receber um
tratamento igualitário. Fé verdadeira é aquela que se expressa por obras de
compaixão.
4.3  Fé verdadeira é aquela que tem um compromisso moral. Só este tipo de fé
em Cristo pode justificar o pecador. Tiago está falando a um auditório que
desejava uma fé sem compromisso, fé sem obediência, tal fé não pode salvar a
ninguém, simplesmente porque é fé falsa. A fé salvadora é aquela que como
conseqüência da justificação opera por amor.
5.  Oração e fé  Em um período de perseguição e provação o crente precisa
viver a primazia da vida de oração. A oração é a firme aliança de uma pessoa que
tem confiança implícita e indivisível em Deus (1:5,6). Os sofrimentos e as
enfermidades físicas e espirituais só são vencidas pela oração que confia, não há
lugar, aqui, para o coração dividido (5:14, 5; cf. 4:4, 7).

6  Sabedoria  Tiago 1:5, 6; cf. 5:13-18.

7  Problema teológico principal da epístola  Fé e obras em Tiago e Paulo.

8  Divisão da Epístola de Tiago

8.1. Prefácio e cumprimentos  1:1


8.2. Sofrendo provações  1:2-19
8.2.1. Provas, sabedoria e fé  1:2-8
8.2.2. O reverso dos destinos  1:9-11
8.2.3. Tentação: sua fonte e males - análise racional  1:12-19
8.3. Aplicando a Palavra  1:19-3:18
8.3.1. A obediência da fé  1:19-27
8.3.2. Problemas no culto  2:1-13
8.3.3. Fé e obras  2:14-26
8.4. Testemunhando a divina providência  4:1-5:20
8.4.1. Contendas na comunidade e seu antídoto  4:1-10
8.4.2. Problemas da comunidade  4:11-17
8.4.3. Julgamento sobre os ricos  5:1-6
8.4.4. Convite à paciência  5:7-11
8.4.5. Questões da comunidade  5:12-18
8.4.6. Palavras finais  5:19-20

9  Exposição da epístola  Temas mais relevantes.

70
1 PEDRO

1  Introdução, Teologia, Paternidade literária e Data. xxxxxxxxxx(AA, 517-523


 1Pedro).

1.1  Esta epístola está escrita como fruto do amor do pastor que deseja ajudar a
seu povo que atravessa momentos de complexas crises, que piorarão no futuro
próximo. Sua intenção primária é fortalecer seus leitores para que se mantenham
firmes ao lado do evangelho. É uma carta de ânimo e conforto para os que estão
sendo perseguidos, vivendo momentos de extremo sofrimento.

1.1.1  O mesmo, Pedro sabia o que era a perseguição sob o


domínio do Sinédrio e de Herodes Agripa I, perseguição da Igreja e do Estado.
Sendo 1Pedro escrita em torno do ano de 65 AD, ele deve Ter presenciado a
perseguição de Nero em Roma no ano 64 AD, que se espalhou até a Ásia Menor.
(Morreu crucificado de cabeça para baixo  AA, 532,533.).
1.2  Os conceitos básicos da teologia do Novo Testamento forami chamados de
kerigma. São as idéias básicas que a Igreja Cristã Primitiva proclamou, que estão
presentes em Pedro, são eles:

1.2.1  A era messiânica chegou. Inaugurou-se uma nova


ordem: os últimos dias (1Pe 1:3, 10-12; 4:7).

1.2.2  A nova ordem chegou através da vida, morte e


ressurreição de Jesus Cristo, que é cumprimento concreto das profecias
veterotestamentárias. (1Pe 1:20-21).

1.2.3  Por causa da ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de


Deus e a líder messiânico da igreja. (1Pe 1:21; 2:7, 24; 3:22).

1.2.4  Os acontecimentos messiânicos alcançarão sua


culminância com o retorno de Jesus Cristo em glória, com juízo dos vivos e dos
mortos. (1Pe 1:5, 7, 13; 4:5, 13, 10-18; 5:1-4).

1.2.5  Estes fatos são a base do apelo ao arrependimento, ao


oferecimento do perdão, a promessa do Espírito Santo e a vida eterna.
1.3  Paternidade e data  o autor é alguém que teve aproximação com a Ásia
Menor, pois as regiões mencionadas nesta epístola pertencem a este território. A
primeira pessoa a citar esta epístola é Policarpo, que foi bispo de Esmirna, que se
localizava também na Ásia Menor. Nesta epístola o autor faz declarações que
demonstram Ter aqueles que têm purificado suas almas em obediência à verdade.”
SDABC, 7A:940.

1.3.1  Considerando-se esta situação como verdadeira, esta


carta espelha a situação da Igreja Cristã no tempo em que Pedro estava vivo, antes
do seu martírio por ordem de Nero em 67 AD. Assim a data mais provável para
esta carta seria entre os anos 60 a 67 AD.

71
1.4  Conteúdo  Os conceitos básicos da teologia do Novo Testamento foram
chamados de kerigma. As idéias básicas que a Igreja Cristã Primitiva proclamou,
que estão presentes em Pedro, são:

1.4.1  A era messiânica chegou. Inaugurou-se uma nova


ordem: os últimos dias. (1Pe 1:3, 10-12; 4:7).

1.4.2  A nova ordem chegou através da vida, morte e


ressurreição de Jesus Cristo, que é cumprimento concreto das profecias
veterotestamentárias. (1Pe 1:20-21).

1.4.3  Por causa da ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de


Deus e a líder messiânico da igreja. (1Pe 1:21; 3:22).

1.4.4  Os acontecimentos messiânicos alcançarão sua


culminância com o retorno de Jesus Cristo em glória,. com juízo dos vivos e dos
mortos. (1Pe 1:5, 7, 13; 4:5, 13, 10-18; 5:1-4).

1.4.5  Estes fatos são a base do apelo ao arrependimento, ao


oferecimento do perdão, a promessa do Espírito Santo e a vida eterna.
1.5  1Pedro é uma carta pastoral escrita de uma situação específica de
sofrimento. Ela inicia-se com uma saudação (1:1-2), então louva a Deus pela
esperança e salvação providas por Deus em Cristo (1:3-12). Este é o fundamento
para reivindicação de santidade e obediência (1:13-16) para a igreja. Nos versos
1:17-21, o autor volta ao tema da redenção e também retorna ao tema da santidade
(1:22-2:2). As profecias veterotestamentárias relacionadas ao Messias como
sendo a pedra, aparecem em 2:3-8. Segue-se então a apresentação da igreja,
sendo descrita com termos próprios do Antigo Testamento para o povo de Deus.
A questão do relacionamento com as autoridades constituídas é o tema logo
posterior (2:9-12; 13-17). Nas suas exortações à santidade, Pedro adverte os
escravos, esposas e maridos (2:18-3:7). Cristo, então, é apresentado como
exemplo de santidade e sofrimento, que deve ser seguido pela comunidade cristã
(3:12-22). Os crentes devem viver de forma digna de sua profissão de fé, que
redunde em louvor a Deus, devem suportar o sofrimento de maneira correta (4:7-
19). Seguem-se as advertências aos presbíteros que precisam pastorear o rebanho
como o faz o supremo pastor (5:1-4), aos jovens e a todos os membros (5:8-10),
terminando a epístola com uma doxologia e uma conclusão epistolar (5:11-14).

1.6  “Pedro dá bastante ênfase aos sofrimentos de Cristo. Ele emprega 12 vezes
o verbo pascw, ao passo que o mesmo é encontrado apenas outras 11 vezes em
todo o restante das epístolas do Novo Testamento. . . Pedro não deixa nenhuma
dúvida de que foi por meio daquilo que Cristo sofreu que ele trouxe salvação aos
pecadores. Ele não perde tempo para chegar a essa idéia, referindo-se no
versículo 2 à aspersão do sangue de Jesus. A palavra “sangue” em si poderia ser
entendida como uma mera referência a uma morte violenta, mas a aspersão de
sangue ocorria nos sacrifícios levíticos. Pedro está dizendo que Cristo foi um
sacrifício por seu povo.

72
1.6.1  Pode-se falar dessa morte como redenção (1:18-19) e há
menção específica ao preço do resgate, negando-se que tenha sido por prata ou
ouro. A referência de Cristo como escolhido por Deus antes da criação do mundo
(1:19-20), está dizendo que a morte de Cristo fazia parte do eterno propósito
divino.”1
2  O problema teológico de 1Pedro  1Pe 3:8-22: “pregou aos espíritos em
prisão.” O PROBLEMA  Esta passagem tem sido usada para provar a existência
de vida consciente após a morte, a comunicação com os mortos e a imortalidade
da alma. A argumentação é que Cristo depois de morto teria ido às pessoas
mortas, que estavam espiritualmente presas, e, então, lhes havia pregado o
evangelho e as havia libertado. Com esta argumentação, pretende-se provar a
vida consciente após a morte, e além disso a possibilidade de uma segunda
oportunidade para a salvação daqueles que morreram perdidos.

2.1  Comentário do verso 18  Ler o texto todo  1Pe 3:8-22  “Pelo Espírito.”
Evidência textual aceita tanto “no espírito” como “para com o espírito.” A
tradução “pelo Espírito” não tem apoio nos manuscritos antigos. A construção
paralela “no espírito” e “na carne” parecem ser contrárias a idéia que o Espírito
Santo é aqui referido. A consistência do texto parece requerer que não seja aceita
a tradução simultânea “na carne” ou “pela carne,” e “no espírito.” No Novo
Testamento quando as expressões “na carne” e “no espírito” ou seus equivalentes
são usadas para Cristo, elas referem-se à existência terrena de Cristo como um ser
humano e “espírito” a sua existência como ser divino após a ressurreição. Assim,
após a ressurreição, ele se torna um ser essencialmente espiritual. (Jo 4:24; cf.
1Tm 3:16; Rm 1:3; 1Pe 4:6; Rm 14:9; 2Co 13:4; Ef 2:1-6).

2.1.1  Comentário do verso 19  “Pelo qual,” “com respeito ao


qual,” “pela virtude do qual.” Alguns querem dizer que pelo qual refere-se apenas
à palavra anterior espírito. E com base nisso declaram que Cristo entre sua
crucifixão e ressurreição pregou a pessoas supostamente desencarnadas, logo
apenas espirituais, que viveram no passado remoto entre os antediluvianos.
Existem três explicações para este texto:

2.1.1.1  (en hoi kai) Muitos eruditos têm seguido a


conjectura de Griesbach de que o texto original era: “Noe kai,” ou “en hoi kai
Enoch,” ou ainda “Enoch kai.” Estas possibilidades são atribuídas a um antigo
escriba que havia mal compreendido o texto grego.
2.1.1.1.1  Ela contudo foi rechaçada como
incongruente. Nenhum manuscrito há que a apóie.
2.1.1.2  “Pelo qual” refere-se ao termo anterior “O
Espírito,” e o verso 19 significa que Cristo pregou aos antediluvianos pelo
Espírito Santo através do ministério de Noé.

D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris, Introdução ao Novo


1

Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1997), 477.

73
2.1.1.3  “Pelo qual” refere-se ao termo “espírito,” que é
uma referência a Cristo em Seu estado de preexistência, estado em que Ele viveu
também após sua ressurreição (JO 4:24). A pregação de Cristo foi dirigida aos
antediluvianos, enquanto a arca estava sendo construída, logo isto só poderia ser
feito, enquanto Ele vivia em Sua natureza divina na situação de Sua preexistência
(Hb 9:14). Tais possibilidades obrigam a uma pergunta conseqüente: Se assim foi
por que Cristo pregou unicamente a este grupo? O que se deve dizer, entretanto,
que é impossível salvação àqueles que rejeitam a Cristo nesta vida, pois não há
uma segunda oportunidade (Hb 4:7; cf. Sl 95:7, 8). Apenas tendo-se a doutrina da
imortalidade condicional da alma, o estado de inconsciência dos mortos e a
unidade do ser humano é que se pode entender corretamente esta passagem.

2.1.1.4  “Pelo qual” refere-se ao verso 18 como um


todo, e o verso 19 significa pela de Sua ainda futura morte e ressurreição vicárias.
No “espírito” Cristo foi e pregou aos antediluvianos através do ministério de Noé.
Foi pela virtude do fato de que Cristo foi sepultado na carne, mas vivificado pelo
Espírito (v. 18), que Ele pregou a salvação através de Noé, e salvou “pela água”
aqueles que O aceitaram. Similarmente, é “pela ressurreição de Jesus Cristo” que
o “batismo agora nos salva.”1
2.2  Explicação sobre o pensamento bíblico sobre a natureza humana e seu
estado na morte.
2.3  O texto trata do tema da epístola que é sobre o sofrimento. Pedro conclama
os membros da igreja a sofrerem como verdadeiros cristãos e não como
malfeitores. Deve o cristão usar do momento da perseguição para testemunhar no
espírito de mansidão sobre a razão de ser de sua fé. E Pedro acrescenta que o
padrão do cristão diante do sofrimento é padecer da mesma maneira que Cristo
padeceu. Cristo, diz Pedro, foi mortificado em sua carne. Nela recebeu os maus
tratos de seus algozes, para reconduzir-nos a Deus. No Espírito Santo, contudo,
Ele era vivificado enquanto era submetido a dor mais escruciante.
2.4  Ele, Cristo, através deste mesmo Espírito foi aos antediluvianos, na pessoa
de Noé e lhes pregou a mensagem presente, a fim de libertá-los da condenação do
dilúvio.
3  Divisão de 1 Pedro
3.1. Introdução e Saudação  1:1-2
3.2. A esperança do evangelho e o sofrimento  1:3-12
3.3. O valor da santidade no sofrimento  1:13-28
3.4. A natureza da Igreja e o sofrimento  2:1-10
3.5. A santidade, autoridades e o sofrimento  2:11-25
3.6. A ética cristã, o exemplo de Cristo e o sofrimento  3:1-4:6
3.7. Santidade, sofrimento e a escatologia  4:7-19
3.8. Os deveres do ministério, os membros e o sofrimento - 5

Francis D. Nichol, Seventh-day Adventist Bible Commentary


1

(Washington, DC: Review and Herald, 1957), 7:574, 575.

74

Potrebbero piacerti anche