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1
Esta ligação do Judaísmo e o Cristianismo é evidente em diversos
aspectos: (1) o templo era um lugar de culto comum, (2) a presença de grande
número de sacerdotes e fariseus entre os primeiros cristãos, (3) Paulo observa um
rito judaico no final de sua terceira viagem, (4) as sinagogas continuaram sendo
local de adoração e evangelização também para os cristãos, (5) os primeiros
líderes do cristianismo eram de origem judaica, (6) o Antigo Testamento era a
Palavra de Deus comum aos dois grupos. Ver: Jacques Doukhan, Drinking at the
Sources (Mountain View, CA:Pacific Press, 1981), 41; Richard L. Niswonger,
New Testament History (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992), 53, 61-69, 190-
191; Merril C. Tenney, New Testament Times (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1971), 67, 183-185; W. H. C. Frend, The Early Church (Philadelphia: Fortress
Press, 1982), 25.
Ellen White, O desejado de todas as nações, 17ª ed. (Tatuí, SP: Casa
2
2
por rejeitar o Messias, causando entre outros motivos a separação entre o
Judaísmo e o Cristianismo.1
1
As sanções do governo romano contra o Judaísmo, desde o governo de
Cláudio em 49 AD e a insistência na observância literal de regulamentos mosaicos
levaram os cristãos a se separarem dos judeus, e a começarem a evitar práticas
religiosas judaicas, adotando progressivamente posturas religiosas pagãs. Ver:
Samuele Bacchiocchi, Do Sábado para o Domingo ([São Paulo: Samuel
Rodrigues], s.d.), 3:23-24, 58-97; 5:53-56; González, Uma história ilustrada do
Cristianismo, 1:49-52.
2
Niswonger, 191. F. F. Bruce estima que a população poderia variar
entre 25.000 e 55.000. Ver: F. F. Bruce, The Acts of the Apostles: The Greek with
Introduction and Commentary, 3ª ed. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), 445.
3
Henry C. Sheldon, History of the Christian Church (Peabody, MA:
Hendrikson, 1988), 1:17-21; Niswonger, 279-280; González, Uma história
ilustrada do Cristianismo, 1:37-47; Frend, 24-27. Diversos fatores contribuíram
para a expansão do Cristianismo: (1) o inclusivismo cristão contrastado com o
exlusivismo judeu, (2) a proteção legal que o Judaísmo legou ao Cristianismo por
diversos anos, (3) a falência do sistema religioso e filosófico romano, (4) o uso do
grego como língua internacional, (5) as estradas romanas e a política de paz do
Império, (6) a existência da LXX. Ver: Niswonger, 282-283.
3
c) Neste processo os primeiros cristãos sofreram
infiltrações do gnosticismo helênico1 do autoritarismo romano2 e do monoteísmo
ético judaico.3 Estes três
2 - Crise Missiológica
1
William F. Albright, From the Stone Age to Christianity (Garden City,
NY: Anchor Brooks, 1957), 337; Simon Price, “The History of the Helenistic
Period,” em: John Broadman, Jasper Griffin e Oswyn Murray, eds., The Oxford
History of the Classical World (Oxford: Oxford University Press, 1993), 323-325;
Russel Norman Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo (Guaratinguetá, SP: A Voz Bíblica, s. d.), 1:134-135; Justo L. González,
Uma história ilustrada do Cristianismo, 1:16-17; Niswonger, 79-85, 248-250.
2
Tenney, New Testament Times, 48-71; Hnery Chadwick, “Envoy: On
Taking Leave of antiquity,” em: Broadman, Griffin e Murray, eds. The Oxford
History of the Classical Word, 808, 821-822; Will Durant, História da civilização
(São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957), 7:35, 344-347; Earle E. Cairns,
O Cristianismo através dos séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), 51; Kenneth
Scott Latourette, A History of Christianity (New York: Harper & Brothers, 1953),
1:81-91, 112-188.
3
Bruce, The Acts of the Apostles, 22-23, 190-194.
4
Blauw, A natureza missionária da Igreja, 49; Johannes Verkuyl, “A base
bíblica do mandato missionário mundial,” em: Winter e Hawthorne, eds., Missões
transculturais, uma perspectiva bíblica, 42.
5
Blauw, 66. No Novo Testamento a missão é espressa pelos verbos
“apostevllw,”que significa atividade missionária visível e “pevmpw,” que
expressa a origem do envioe a intimidade entre enviador e enviado. Estes
conceitos podem ser encontrados em: Veloso, El compromiso cristiano, 23-72.
4
b) As dificuldades vividas pelos cristãos primitivos no
cumprimento da missão, durante os primeiros quinze anos após a ascensão do
Mestre (31-46 AD), têm que ver com a forma como a Igreja Apostólica assimilou
a interpretação da teologia judaica sobre a origem e finalidade da missão como
nação eleita de Deus. É importante, portanto, para compreensão do assunto,
elucidar os conceitos de eleição, singularidade e universalidade em sua relação
com o povo de Israel, porque esses temas, se mal entendidos, criam barreiras que
bloqueiam o propósito da vocação divina, o serviço.
1
Ibid., 15-18; David Danker, “Um chamado missionário,” em: Valdir
Steuernagel, coord., Caminhando contra o vento: a comunidade peregrina em
missão (São Paulo: ABU Editora, 1978), 7-9.
2
Elias Brasil de Souza, “O estudo das genealogias bíblicas,” MA,
setembro/outubro de 1996, 16-18.
3
Danker, 19; Jonatán P. Lewis, ed., Misión mundial, 2ª ed. (Miami, FL:
Editorial UNILIT, 1:33-42.
4
Walter C. Kaiser Jr., “A chamada missionária de Israel,” em: Winter e
Hawthorne, eds., Missões transculturais: uma perspectiva bíblica, 28-33; Arthur
F. Glasser, Kingdom and Mission (Pasadena, CA: Fuller Theological Seminary,
1989), 37-65; Timóteo Carriker, Missão integral: uma teologia bíblica (São
Paulo: Editora Sepal, 1992), 13-58.
5
às leis superiores de Deus faria da nação um povo abençoado, próspero e saudável
(Êx 19:1-6; Dt 7:1-26). A superioridade dessas leis e os benefícios resultantes da
obediência a elas (Dt 28:1-68), fariam com que Israel atraísse os povos do mundo
a si (Dt 28:10; Is 49:6-9,12,18; 55:4-5; Zc 8:22-23).
1
Ellen G. White, Profetas e reis, 7ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1989), 19.
2
Blauw, 21-23; Stott, A mensagem de Atos, 208.
3
Lewis, ed., Misión mundial, 1:56-57.
6
serem impedidos de participar da páscoa (Jo 18:28-29). Esses relatos são por si só
comprobatórios do exclusivismo racial dos judeus.
(2) A visão nacionalista extremada da
religiosidade judaica, com seus preconceitos étnicos e visão hermenêutica
distorcida, prejudicou o desempenho da missão, mesmo após a experiência
pentecostal de Atos 2.
(3) Essa mentalidade religiosa levou os apóstolos
a transformarem Jerusalém no centro de seus interesses missionários. Os
primeiros cristãos manifestaram espírito semelhante em outras ocasiões. Foi com
suspeita que ouviram falar da conversão dos samaritanos,1 razão porque a Igreja
em Jerusalém enviou Pedro e João para averiguarem o que se passava ali (At
8:14). A conversão de Cornélio foi encarada sob o mesmo prima . Até o apóstolo
Pedro levou seis testemunhas quando a lei previa a necessidade de três (Dt 17:6;
19:15), sabedor que era dos preconceitos judaicos. Ainda foi intimidado a dar
explicações por Ter entrado em casa de incircuncisos (At 10:11). Por outro lado, a
evangelização dos gregos por missionários vindos de Chipre e Cirene causou a
mesma reação dos líderes em Jerusalém (At 11:20). Eles enviaram Barnabé,
judeu cipriota (At 4:32-37), até Antioquia para investigar a conversão desses
gentios (At 11:20-24).2 Considerando-se como ponto de partida o Pentecostes,
essa primeira iniciativa missionária expontânea de evangelização dos gentios
ocorreu com um atraso de aproximadamente quinze anos (At 11:19-20). Daí em
diante a visão missiológica da Igreja Apostólica assumiria um escopo universal.3
(4) A suplantação, portanto, desse preconceito
religioso e a agilização da missão entre os gentios era de capital importância para
a continuidade e expansão do cristianismo.
1
Para analisar a questão da inimizade entre judeus e samaritanos ver:
John R. W. Stott, Batismo e plenitude do Espírito Santo (São Paulo: Vida Nova,
1993), 23-25; idem, A mensagem de Atos, 164-165; Bruce, The Acts of the
Apostles, 220; T. C. Smith, “Atos,” em: Clinfton J. Allen, ed., Comentário bíblico
Broadman (Rio de Janeiro: JUERP, 1984), 10:73.
2
“A Igreja de Jerusalém desejava reter o controle sobre cada extensão da
missão cristã. Como Pedro e João foram enviados à Samaria na missão de Felipe,
assim Barnabé foi agora enviado a Antioquia.” Estes pensamentos podem ser
encontrados em Bruce, The Acts of the Apostles, 273. “A metáfora ‘aos ouvidos
da Igreja’ pode ser uma branda insinuação da impaciência de Lucas por causa da
visão ainda mais estreita da Igreja de Jerusalém.” Tais declarações estão em: Don
Richardson, O fator Melquisedeque (São Paulo: Vida Nova, 1991), 164-165. “Ele
foi para investigar a obra dos pregadores que vaiajaram pelos caminhos para
Antioquia.” Estas informações acham-se em: Robertson, Word Pictures in the
New Testament, 3:158; “Eles (Igreja de Jerusalém) não podiam tratar com
indiferença um movimento ousado como aquele. Eles precisavam mandar alguém
para investigar o que estava se passando em Antioquia.” T. C. Smith, “Atos,” em:
Allen, ed., Comentário bíblico Broadman, 10:92.
3
Para um estudo mais detalhado sobre a universalização da missão do
Novo Testamento ver: Carriker, Missão integral, 184-270.
7
i) A Superação da Crise - A suplantação dos obstáculos
para o cumprimento da missão mundial da pregação do evangelho foi possível
após um longo processo que incluiu o ministério de Jesus e dos apóstolos. As
obras e palavras de Cristo tiveram um relevante papel na solução da crise
missiológica, pois através delas ficou claro que nada menos que a universalidade
era o escopo da missão, desacreditando assim a visão missiológica etnocêntrica do
judaísmo.1 “Durante Seu ministério . . . Cristo deu início à obra de derribar o
muro de separação entre judeus e gentios,” buscando Cristo “ensinar aos
discípulos a verdade que no Reino de Deus não há fronteiras territoriais, nem
castas, nem aristocracias.”2
(1) No seu discurso em Nazaré (Lc 4:16-30)
Cristo mostrou que a finalidade da missão ia muito além da nação israelita. Nos
dias de fome durante o reinado de Acabe e Jezabel, Elias foi enviado para cuidar
da viúva de Sarepta de Sidon (1Re17:8-16), uma gentia. No tempo de Eliseu, o
leproso curado foi Naamã, o siro, quando havia tantos outros em Israel (2Re 5:1-
14). Estas palavras esclarecem que a bondade de Deus, na visão de Cristo, não
estava limitada ao povo judeu.3 Cristo queria incutir em Seus discípulos a
universalidade do alcance e conteúdo do Seu evangelho.4 Quando se interessou
pelos problemas do centurião romano (Mt 8:5-13), da mulher siro-fenícia (Mt
15:21-28), dos moradores de Samaria a quem Tiago e João queriam destruir (Lc
9:51-55), Cristo demonstrou o alcance universal de Seu ministério. Ao expor a
parábolas do bom samaritano logo após ao envio dos sententa (Lc 10:30-34) e no
diálogo com os gregos (Jo 12:21-32) que queriam vê-lo, Jesus mais uma vez Se
mostra despido de toda tendência segregacionalista.
(2) Ele ainda relaciona a universalidade da missão
com o Segundo Advento em Mateus 24:14: “E será pregado este evangelho do
reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.” A
1
Lewis, ed., Misión mundial, 1:55-57; Para examinar as diversas
opiniões sobre a maneira como foi encarado o ministério de Cristo e sua relação
com a universalidade da missão ver: Carriker, Missão integral, 180-181.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 19-20.
3
H. Cornell Goerner, “El hijo del hombre,” em: Lewis, ed., M isión
mundial, 1:64-66.
4
Para uma melhor compreensão da universalidade do evangelho, ver:
Richardson, O fator Melquisedeque, 59-64, 136-158; Blauw, 81-103; Karl Müller,
Teologia da missão (Petrópolis, RJ: Vozes, 1995), 59-64; Lewis, 119-158;
Johannes Verkuyl, “A base bíblica do mandato missionário mundial,”em: idem,
ed., Missões transculturais, uma perpectiva bíblica, 52-57; Rinaldo de Mattos,
“Fazei Discípulo de Todas as Nações,”em: C. Timóteo Carriker, ed., Missões e a
Igreja brasileira, perpectivas teológicas(São Paulo: Mundo Cristão, 1993), 3:1-
12; Werner Vyhmeister, Misión de la iglesia adventista (Brasília: Seminário
Adventista Latino-Americano, 1980), 2-5; DonaldSenior e Carroll Stuhlmueller,
Os fundamentos bíblicos da missão (São Paulo: Paulinas, 1987), 191-194, 355-
357.
8
visão mundial da missão fica mais evidente ainda nas palavras da Grande
Comissão que ordena “fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28:19),
complementada pela fraseologia de Marcos “ide1 por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura” (Mr 16:15), e pelo incentivo de “em seu nome” ser
pregado “arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações” (Lc
24:47). Os discípulos deveriam se consscientizar que o padrão missiológico se
define no paralelo “assim como o Pai me enviou eu também vos envio” (Jo
20:21), e se cristaliza no ato de serem testemunhas de Jesus “até os confins da
terra” (At 1:8). Não há dúvida que com tais declarações Cristo queria enfatizar
aos Seus seguidores a universalidade da missão.
(3) Porém, essa visão missiológica se tornaria
efetiva apenas se absorvida pelos seguidores de Cristo. Foi com relutância e
lentidão que os primeiros cristãos assimilaram esse escopo mundial. O início da
missão no dia de Pentecostes tinha por finalidade ensinar a universalidade da
evangelização, uma vez que é declarado: “Ora, estavam habitando em Jerusalém
judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu” (At 2:5).
Este incidente não foi, entretanto, suficientemente esclarecedor para a mentalidade
apostólica, que de início se fixou em Jerusalém e não visualizou a necessidade de
evangelizar os gentios.
(4) Por isso mesmo Deus permitiu a perseguição
por parte dos oponentes com a finalidade de dispersar seus representantes e fazê-
los chegar a outras partes do mundo.2 A perseguição irrompeu diversas vezes
contra a Igreja Apostólica. Os capítulos 3 a 7 de Atos retratam uma perseguição
judaica nos primórdios da missão. Depois do martírio de Estevão a perseguição
foi mais generalizada, obrigando os cristãos de Jerusalém a se dispersarem além
dos limites da Palestina. Na execução de Tiago e no aprisionamento de Pedro,3
são as autoridades romanas que, por motivos políticos, perseguem a Igreja
Apostólica (At 12:3). Estes lances de perseguição favoreceram progressivamente
uma visão missiológica universal e fortaleceram a unidade da Igreja (At 12:12-
17).4
1
Para entender a relação dos verbos pevmpw e ajpostevllw com a
missão, ver: Mario Veloso, El compromiso cristiano, 23-72.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 105; Latourette, 104.
3
Para melhores informações sobre o momento histórico e as razões desta
perseguição ver: Bruce, The Acts of the Apostles, 280; Marshall, Atos: introdução
e comentário, 198-199; David J. Williams, Acts, New International Biblical
Commentary (Peabody, MA: Hendrickson, 1990), 5:210-211; Frank Stagg, Atos:
a luta dos cristãos por uma igreja livre e sem fronteiras (Rio de Janeiro: JUERP),
128-129; Robertson, Word Pictures in the New Testament, 3:163-164.
4
González, Uma história ilustrada do Cristianismo, 1:49-78; Niswonger,
241-243, 279; Merrill C. Tenney, New Testament Survey, 2ª ed. (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1991), 12; Durant, 7:344-348; Brian Jones, “A Igreja Apostólica,”
Lição de Escola Sabatina (ed. adultos para professor), outubro/dezembro de 1996,
lição 5,5.
9
(5) A evangelização de Samaria foi o primeiro
resultado da dispersão (At 8:4-5). Aquilo que Pedro e João viram em Samaria, na
averiguação da conversão de seus habitantes, iniciou o processo de libertação
progressiva de seus preconceitos, ao voltarem para Jerusalém, evangelizaram
muitas aldeias samaritanas (At 8:25).
(6) Outro fator importante foi a visão conferida a
Pedro que Deus não faz acepção de pessoas (At 10:9-22), o que lhe abriu a mente
para começar a entender o escopo mundial da missão. Sua obediência ao mandato
levou os líderes em Jerusalém a reconhecerem que aos gentios era também
concedido o arrependimento (At 11:18).
(7) Como terceiro elemento, a conversão de
Paulo, cidadão romano natural de Tarso e fariseu da tribo de Benjamim,
influenciou decisivamente a universalização da atividade missionária, tanto
através da evangelização que realizou entre os gentios bem como das epístolas
que posteriormente escreveu (Gl 2:7; cf. At 9:15). Percebe-se na teologia de
Paulo o desaparecimento das distinções geográficas, políticas e raciais, quando ele
declara: “pois não há distinção entre judeus e gregos, uma vez que o mesmo é o
Senhor de todos” (Rm 10:12), e que “todos vós sois filhos de Deus . . .
DessarteDestarte, não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto; nem
homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo” (Gl 3:26-29). Paulo
ainda considerava que Deus lhe revelara um grande mistério, que os gentios são
“co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em
Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3:1-13). A cruz de Cristo aproximou
judeus e gentios , fazendo-os membros da mesma família e constituindo-os como
parte integrante da estrutura do santuário de Deus (Ef 2:11-22).
(8) A autoridade apostólica e as orientações
expressas através das epístolas, acatadas como a Palavra de Deus, foram os
elementos decisivos na suplantação dos conflitos da Igreja Apostólica (1Tg 2:13).1
Os ensinos de Paulo na epístola aos Efésios foram igualmente importantes em
plasmar na Igreja Apostólica a visão universalista da missão.
(9) Os desentendimentos entre os cristãos de
Jerusalém com os cristãos gentios, em vista do desempenho dos primeiros terem
incorporado à vida cristã as leis e os costumes judaicos, chegaram a tal ponto de
saturação que o relacionamento entre ambos tornava-se cada vez mais conflitivo.
Estava em jogo não apenas o futuro evangelístico da Igreja, ,as até sua própria
existência. A solução deveria vir da autoridade maior da liderança eclesiástica,
exercida no Concílio de Jerusalém.
(10) Pareceu bem aos membros deste Concílio
não impor sobre os gentios as injunções das leis cerimoniais, mas apenas sugerir
que se abstivessem de determinadas práticas (At 15:29). A autoridade da Igreja
reunida em Assembléia devidamente convocada tornou-se normativa para todos os
seus membros. Desta forma a crise foi finalmente suplantada, a despeito do
elemento judaizante Ter continuado a exercer sua pressão como comprovam as
epístolas aos Gálatas e aos Romanos.
1
Colin Kruse, 2Coríntios: introdução e comentário, Série cultura bíblica,
[Novo Testamento], vol. 9 (São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1994), 56-57;
Bernard, 46-62.
10
j) Influência da Crise sobre a Missão Inicialmente o
exclusivismo nacionalista e o tradicionalismo judaicos incorporados pelos
primeiros discípulos restringiram a missão aos limites da Palestina. Além disso,
propiciaram o desenvolvimento do litígio entre os dois grupos, afetando, portanto,
a unidade de sentimento que deveria caracterizar a Igreja. Dificultavam assim a
aceitação dos gentios conversos na comunidade cristã, criando obstáculos à
realização universal da evangelização.
(1) A superação da crise propiciou uma atmosfera
de confiança entre os cristãos gentios, e por isso a pregação do evangelho
prosperou.1 Desta forma preservou-se o escopo mundial da missão. O
testemunho da Escritura é que, como conseqüência da forma como foi
administrada a crise, houve crescimento qualitativo e quantitativo na Igreja
Apostólica como bem atestam os resultados do Concílio de Jerusalém: “assim, as
Igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16:6).
Paulo confirma a superação da crise missiológica ao dizer que o “evangelho que
ouviste. . . foi pregado a toda criatura debaixo do céu” (Cl 1:23).2 Essa
declaração parece indicar que a Igreja Apostólica, cerca de 30 anos após o
Pentecostes, havia atingido o objetivo proposto por Deus, evangelizando o mundo
conhecido de então e tornando-se padrão de eficiência missionária para os cristãos
em todos os tempos.
3 - Crise Cristológica - Descrição da Crise - A crise cristológica
do Cristianismo primitivo com o gnosticismo, pode ser percebida nas declarações
de Paulo e João. Para os ensinamentos paulinos, os conceitos gnósticos eram
“filosofias e vãs subtilezas, conforme a tradição dos homens,
1
E. G. White, Atos dos apóstolos, 197.
2
A expressão “toda criatura debaixo do céu” não deve ser vista com o
sentido absoluto. Ver: Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 5:106; Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (!980),
7:195.
11
conforme os rudimentos do mundo” (Cl 2:8).1 Paulo acrescenta ainda que tal
doutrina com seu ascetismo, adoração de anjos e manifestações extáticas eram
ineficientes para proteger seus seguidores da impiedade (Cl 2:16-23). Paulo
parece considerar seus líderes como falsos dirigentes, pois os chama de “lobos
vorazes” (At 20:29-30).
(1) João da mesma forma lidou com esses líderes
apóstatas com a severidade que a situação exigia. Ele os qualifica de
“mentirosos” e de “anticristos” (1Jo 2:4, 18), pois negavam a realidade física e
histórica de Cristo enquanto queriam separar os atos feitos na carne como nada
tendo a ver com a dimensão espiritual (1Jo 2:22-26; 3:7; 4:2-3). Por isso João
declarou: “Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar”
(1Jo 2:26). Devido a seu relevante significado esse aspecto da crise precisa ser
igualmente suplantado.
c) Superação da Crise - O Novo Testamento foi escrito
sob a perspectiva do cumprimento profético da ressurreição do Servo Sofredor (At
2:31; cf. Sl 16:10).2 Sem ela o todo do conteúdo teológico do cristianismo não
teria razão de ser e a Igreja Cristã como a conhecemos não mais existiria. A
ressurreição de Cristo é a prova conclusiva de Sua messianidade,3 de Sua natureza
divina e do cumprimento profético do Antigo Testamento. Isaías 53:12 declara
que após a morte o Messias Sofredor realizaria uma obra intercessória; inferindo-
se, portanto, que Ele ressuscitaria.4 A relevância desse evento na Igreja Apostólica
percebe-se inicialmente nas palavras do Mestre e a seguir nas de seus seguidores.
(1) A ressurreição foi primeiramente anunciada
por Jesus como Sua conquista sobre o poder da morte. As predições de Sua
crucifixão vieram acompanhadas da esperança de Sua ressurreição (Mt 16:21; Mr
9:31), mostrando a íntima relação teológica entre os dois acontecimentos. Aquele
que em Sua morte, venceu o pecado, patenteou a injustiça das acusações de
Lúcifer contra Seu caráter5 e confirmou o direito de perdoar os pecados dos
1
Niswonger, 259; Murray J. Harris, Colossians and Philemon (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1991), 5, 92-94; Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible
Commentary (1980), 7:184; Robertson, Word Pictures in the New Testament,
4:433, 471-472; Petr Pokorny, Colossians: A commentary (Peabody, MA:
Hendrickson, 1991), 108-156; Eduard Lohse, “Colossians and Philemon,” em:
Helmut Koester, ed., Hermeneia - A Critical and Historical Commentary on the
Bible (Philadelphia: Fortress Press, 1975), 94-99; Peter T. O’Brien, Colossians,
Philemon, Word Biblical Commentary, vol. 44 (Waco: TX: Word Books, 1982),
109-134.
2
Nisto Cremos, 65.
12
homens. E em Sua ressurreição Ele garante o direito à vida a todos os seres
humanos. Isto era prova decisiva de sua divindade na teologia paulina (Rm 1:4).
(2) Segundo o quarto evangelho, o clímax da
tensão entre Cristo auto-considerar-Se divino e a condenação é sucedido pela
ressurreição e pelo testemunho de Tomé, que são uma clara evidência da
suplantação de sua incredulidade e, por extensão, da Igreja, ao dizer: “Senhor meu
e Deus meu!” (Jo 20:28).1 Tomé declarava-se, naquele momento, como estando
na presença de Jeová, o que substanciava a cristologia de todo o Novo
Testamento: Jesus Cristo é Deus e não uma emanação de uma divindade superior,
ou um mero descendente da linhagem de Davi.2 O discurso de Pedro, em resposta
à acusação de embriaguez dos discípulos no Pentecostes, explica que o que estava
acontecendo era o cumprimento profético de Joel quanto ao início do ministério
do Espírito Santo (Jl 2:28-32; cf. At 2:33; Jo 7:39). No fim do discurso, que
também salientava a ressurreição de Cristo como cumprimento profético do
Salmo 16:8-11, Pedro declarou que o Jesus crucificado foi por Deus feito “Senhor
e Cristo” (At 2:36). Segundo F. F. Bruce, o ato da Igreja aplicar a Cristo o título
de Senhor significa que ela O reconhece como digno do nome inefável de Deus,3 o
que novamente cristaliza a cristologia do Novo Testamento e põe a descoberto os
enganos do gnosticismo.
(3) Estevão que foi levado ao Sinédrio sob
acusação de blasfêmia contra Moisés e Deus (At 6:11), apresentou sua defesa com
duas linhas gerais de pensamento. A primeira é que os judeus repetidamente em
sua história rejeitaram os enviados de Deus para sua liberação. A segunda é que
os judeus erravam em pensar que Deus “estava confinado a uma terra santa ou a
um sagrado lugar.”4 Ao final Estevão vê em visão a glória de Deus e o Filho do
Homem em pé à Sua direita e clama: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At
7:59). A súplica feita por Jesus ao Pai (Lc 23:46) é repetida por Estevão, com a
diferença de que foi dirigida ao próprio Cristo, identificado pelo tetragrama
JHWH, extraído do Salmo 31:5. Na verdade a cristologia de Estevão coloca Jesus
Cristo no mesmo nível do Pai5 e é um libelo contra o monoteísmo absoluto judaico
e contra o subordinacionismo gnóstico.
(4) Aquele que teve poder para retomar Sua
própria vida da morte (Jo 10:17-18), pode da mesma forma conceder vida àqueles
que O recebem como Salvador e Senhor (Jo 6:47-54). Somente Deus que possui
vida inerente e não derivada pode dar a vida e voltar a tomá-la. Na declaração de
1
Bruce, João: introdução e comentário, 336-337.
2
Para informar-se sobre a tradução deste texto se ele é um nominativo ou
vocativo ver: Ibid.; Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 2: 643-644.
3
Bruce, Acts of the Apostles, 128.
4
Ibid., 192.
5
Ibid., 212; Marshall, Atos: introdução e comentário, 146; William M.
Ramsay, The Christ of the Earliest Christians (Richmond, VA: John Knox Press,
1959), 109.
13
que Cristo ressuscitou, a Igreja Cristã expõe sua fé na divindade de Cristo.1 Para
Paulo, Cristo é as “primícias dos que dormem” (1Co 15:20) e Sua ressurreição é a
garantia desta libertação futura, a ressurreição dos mortos. Ele O apresenta como
o “primogênito de entre os mortos” (Cl 1:18), o que Lhe confere a primazia sobre
todos os seres criados por Ele mesmo, sejam visíveis ou invisíveis (Cl 1:15-19).
(5) A argumentação chega ao seu clímax quando
é declarada a totalidade da natureza divina de Cristo em Colossenses 2:9: “nEle,
habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”. Esta declaração é feita por
Paulo contra a tentativa gnóstica de tornar Cristo uma simples emanação (Cl 2:8)
e se opõe à forma judaica de considerar a divindade de Cristo um perigo ao
monoteísmo.2
(6) João em suas epístolas ainda acrescenta sua
compreensão da realidade histórica e física de Jesus. O apóstolo objetivou
defender a Igreja contra a heresia que via nos acontecimentos históricos, em
especial nos da Sua paixão, uma mera aparência da realidade. João então disse
que “todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1Jo
4:3; 2Jo7).
(7) Ante a força de tantos testemunhos pode-se
dizer que a crise cristológica foi primeiramente suplantada na Igreja Apostólica
pelas palavras do próprio Cristo, e também pela mensagem normativa dos profetas
do Antigo e Novo Testamento.
d) Influência da Crise sobre a Missão A crise da
divindade de Cristo na Igreja Apostólica estava relacionada com o fundamento do
evangelho e da missão, pois “eliminada a eterna divindade de Cristo, a pregação
evangélica careceria de sentido.”3
(1) A crise cristológica não suplantada criaria uma
área de atrito em torno do tema da perfeita humanidade e divindade de Cristo, que
deveria ser um relevante fator da unidade e do conteúdo de mensagem cristã.
Jesus, portanto, como vere Deus e vere Homo tornou-Se o centro da fé da Igreja
Apostólica.
(2) A crise cristológica superada então com base
na autoridade dos ensinos de Cristo e dos apóstolos fortaleceu a missão devido
sua relação com a salvação ao lado da fé, como declara Paulo: “Se, com tua boca,
confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Ela tornou-se um modelo para a Igreja
Cristã através dos séculos no desempenho de sua atividade missionária e na defesa
da ortodoxia doutrinária. A crise sobre a salvação e sua relação com a missão será
o objetivo da análise a seguir.
1
Cf. as palavras de Paulo em Romanos 1:4: “designado Filho de Deus,
com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber,
Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1:4). Ramsay, The Christ of the Earliest
Christians, 126.
2
Berkouwer, A pessoa de Cristo, 135-139; Ramsay, The Christ of the
Earliest Christians, 125-128.
3
Berkouwer, A pessoa de Cristo, 134.
14
4 - A Crise Soteriológica - Descrição da Crise - O
cristianismo desenvolvido na Palestina foi influenciado pelo judaísmo, em
decorrência da proximidade de espaço e doutrina, pois tanto seus líderes como
seus primeiros conversos eram todos de origem israelita. Estavam condicionados
através de diversas gerações por uma educação baseada no
monoeteísmomonoteísmo ético.
(1) Por isso a crise soteriológica no Novo
Testamento manifestou-se sob dois ângulos interrelacionados. Primeiro, o aspecto
externo, quando o conflito se processou entre os principais líderes do cristianismo
e as autoridades judaicas. O segundo, o aspecto interno, quando as lutas
teológicas sobre a salvação ocorreram entre os primeiros cristãos judeus, que
conduziram a Igreja Apostólica ao seu primeiro Concílio.
(2) Na história do Novo Testamento, a doutrina
da salvação era expressa quase sempre em um ambiente de conflito com o
judaísmo. Na pregação de Pedro em Atos 2:14-40,1 na cura do coxo à porta do
templo (At 3:1-4:4),2 na defesa de Pedro diante das autoridades israelitas (At 4:12)
e em diversas ocasiões durante as três viagens missionárias de Paulo (At 13:1-
14:28; 15:36-21:16), os princípios do evangelho eram sempre expostos em
situação de litígio com as autoridades judaicas. Esse ambiente de conflito não
deixaria de influenciar a própria Igreja, que logo passou a vivenciá-lo no convívio
de seus membros.
(3) A resposta de Pedro (At 11), na acareação a
que foi submetido pela Igreja de Jerusalém por Ter visitado gentios, é uma
evidência desse fato. Nesse episódio de conflito com os cristãos judaizantes,3
Pedro revela o seu entendimento sobre a salvação. Para ele a pessoa justificada é
aquela que crendo em Jesus Cristo4 recebe o batismo do Espírito Santo,5 em
decorrência do arrependimento concedido por Deus (At 11:14-18; cf. Ef 1:13).
1
O kerygma apostólico contém quatro partes: (1) o anúncio que a
plenitude dos tempos chegou, (2) a proclamação do ministério, morte e triúnfo de
Jesus, (3) citação de passagens do Antigo Testamento que comprovam a
messianidade de Jesus e (4) o chamado ao arrependimento. F. F. Bruce,
Commentary on the Book of the Acts, The New International Commentary on the
New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1968), 69.
2
T. C. Smith, “Atos,” em: Allen, ed., Comentário bíblico Broadman,
10:47-53.
3
Para os ebionitas a missão de Jesus era apenas convocar os homens à
obediência à lei. Ele não viera ao mundo para salvé-los, Seu objetivo era apenas
ser um exemplo ético. Negavam ainda qualquer significado salvífico à morte e à
ressurreição de Cristo; Haglund, 26. “É difícil expor as doutrinas destes grupos
(ebionitas), assim como distingüi-los entre eles. Esta dificuldade se deve em parte
à escassez do material que possuímos,” González, Historia del pensamiento
cristiano, 145.
15
(4) Posteriormente provocaram uma forte
contenda com Paulo, fazendo da obediência à lei de Moisés uma condição
fundamental para salvação (At 15:1-5). Os conflitos assumiram tal proporção que
acabaram por exigir a convocação do Concílio de Jerusalém.
(5) Em terceira viagem, Paulo escreveu as cartas
aos Gálatas e aos Romanos, expondo a causa, o modo e as finalidades da
1
5
Marshall, Atos: introdução e comentário, 189-190.
1
A datação da carta aos Gálatas se foi escrita durante a primeira viagem
de Paulo (48 AD), ou durante a terceira viagem (56 ou 57 AD) pode ser
encontrada em: Robertson, Word Pictures in the New Testament, 4:272, favorável
a posição anterior; a posição a favor de uma data posterior para Gálatas, ver:
Bruce, The Acts of the Apostles, 47-50.
2
Bruce, The Acts of the Apostles, 446-447; Marshall, Atos: introdução e
comentário, 5:282-283, 321-323.
3
E. G. White, Atos dos apóstolos, 509-513.
16
perdidas (Lc 15:3-10) visavam ensinar que a salvação não é alcançada por
procurar-se a Deus, mas porque Deus procura o pecador primeiro. A parábola do
filho pródigo (Lc 15:11-32) ressalta a imagem de Deus como o pai amorável que
atrai seus filhos a voltarem para casa. Ao mesmo tempo elas enfatizam o regozijo
de Deus pela restauração do que se havia perdido (Lc 15:7, 9-10, 23-25, 32).
Jesus veio para ser o redentor dos pecadores e mostrar o amor do Pai pelos
perdidos (Mr 2:16).1
(2) A imputação da justiça de Cristo, que conduz
à santidade (Ap 19:80, e que foi concedida ao pecador para que ele pudesse
comparecer na presença de Deus, está ensinada na parábola das bodas (Mt 22:1-
14).2 Não se pode estar diante de Deus sem a veste nupcial que representa a
justiça do caráter de Cristo que é comunicada a todos que O aceitam como seu
Salvador pessoal.3
(3) Para explicar que existe uma relação de amor
entre Cristo e os pecadores, com base no perdão,4 o próprio Jesus contou ao
fariseu Simão a parábola dos dois devedores (Lc 7:40-42), que assegurou à
mulher pecadora: “perdoados estão os seus pecados” (Lc 7:48). Neste particular o
Messias é aquele que encontra alegria na salvação dos perdidos, porque através de
Seu próprio sacrifício pode perdoar pecados.
(4) A teologia da salvação sumarizada por Pedro
no Concílio de Jerusalém, “cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus,
como também aqueles o foram” (At 15:11), refletia os ensinamentos de Cristo.
(5) Foi a partir do autoritativo ensino de Cristo
sobre a salvação que Paulo construiu sua soteriologia. Para o apóstolo a
justificação do pecador não é meramente uma tramitação legal ocorrida fora do
homem em Cristo no céu, mas também um poder transformador que penetra na
vida do pecador penitente quando pela fé (Rm1:16-17) aceita a oferta da cruz
(Rrm 8:1-17; Ef 1:13; Cl 1:13; Tt 3:4-7).5
(6) Em Efésios 2:1-10 essa transformação é
melhor esclarecida. O homem espiritualmente morto está sob o poder do pecado,
do mundo e de Satanás, sendo portanto um filho da ira (Ef 2:1-3). Nos versos 4 a
10 Paulo explica como se processa essa mudança. Ele a resume na frase “pela
graça sois salvos” (Ef 2:5, 10). A locução verbal aparece no perfeito perifrástico
do indicativo na voz passiva.6 Este aspecto verbal enfatiza antes o estado do
1
Joachim Jeremias, As parábolas de Jesus (São Paulo: Paulinas, 1976),
125-126.
2
Bernard Brandon Scott, Hear Then the Parable Minneapolis, MS:
Fortress Press, 1990), 162-163.
3
Ellen G. White, As parábolas de Jesus, 9ª ed. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1990), 310.
4
Idem, O desejado de todas as nações, 566.
5
Heppenstall, Salvation Unlimited, 52-53.
6
Robertson, 4:524.
17
sujeito do que a ação que o gerou, isto é, a permanência no estado de
transformação da salvação do que apenas o ingresso a ela.1
(7) Paulo acrescenta que a justificação tem um
objetivo, expresso no dativo de propósito com ejpiv, “para as boas obras.”2 A
justificação é, portanto, um ato da Divindade através de Cristo pelo homem,
através do Espírito Santo no homem, para que o homem transformado pela graça
possa obedecer aos reclamos divinos.3
(8) Portanto, os ensinos de Cristo em suas
parábolas, o Concílio de Jerusalém e a pregação apostólica (especialmente a de
Paulo) foram decisivos na suplantação da crise soteriológica. Ao lado desses
elementos essenciais anteriormente analisados, três fatores secundários
contribuíram para a superação dessa crise. O primeiro deles foi a crescente
evangelização dos gentios, que fez com que a Igreja Apostólica deixasse de ser
predominantemente judia e fizesse surgir outros centros importantes de
evangelização como Antioquia e Éfeso. O segundo, a destruição de Jerusalém, fez
desaparecer o centro teológico da Igreja na Palestina e o transferiu para cidades do
mundo greco-romano. Finalmente, a conseqüente fuga dos judeus dessa região
descentralizou a direção da Igreja para outras partes do mundo.
d) A Influência da Crise sobre a Missão - Se não fosse
suplantada, a crise soteriológica minaria a própria essência da mensagem cristã.
O poder do evangelho fundamentado na justiça de Cristo teria desaparecido (Rm
1:16-17). Com toda certeza a própria Igreja Cristã teria outra história. A
mensagem da salvação pela graça é o fundamento do evangelho e, sem harmonia
nestes aspectos fundamentais, a Igreja Apostólica como entidade autônoma ruiria
mesmo antes de começar. A missão aos gentios fracassaria e o cristianismo estaria
condenado a ser, na melhor das hipóteses, uma seita judaica sem alcance
universal.
(1) A clara definição apostólica sobre a causa, o
meio e a finalidade da salvação deu ao cristianismo a motivação verdadeira da
evangelização, como Paulo bem expressou ao afirmar: “o amor de Cristo nos
constrange . . . para que os que vivam não vivam mais para si mesmos, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5:14-15). A decisão do Concílio
de Jerusalém levou confiança para toda a Cristandade, conduzindo desta forma a
Igreja na execução bem sucedida da tarefa evangélica: “Assim as Igrejas eram
fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16:5). A mensagem
apostólica fundamentada nos ensinamentos de Cristo e a autoritativa decisão do
Concílio de Jerusalém impulsionaram a Igreja Apostólica para a finalidade da sua
existência: o cumprimento da missão.
Leon Morris, The Cross in the New Testament (Grand Rapids, MI:
3
18
5 - Crise de Autoridade - Todos os aspectos fundamentais da
vida eclesiástica têm uma relação de dependência com os diferentes níveis e tipos
de autoridade. A eficiência do governo da Igreja depende, em muitos aspectos, da
aceitação coletiva dos valores que compõem sua autoridade. Autoridade quando
aplicada a Deus é a Sua absoluta capacidade de agir conforme determina Sua
sabedoria, atestada pela criação e salvação do homem (Is 9:6).1 Essa autoridade é
expressa no mundo religioso pela auto-revelação divina, fruto da ação do Espírito
Santo no profeta (2Pe 1:21). Portanto, “revelação é a chave da autoridade
religiosa,”2 e à Igreja ela é delegada. A autoridade absoluta está em Jesus Cristo
(Mt 28:18); a definição autoritativa da verdade está nas Escrituras (Jo 17:17) e a
fonte dela é o Espírito Santo (2Pe 1:19-21).3 Ela foi transmitida aos apóstolos ao
serem escolhidos por Cristo (Lc 6:13-16). Estes por sua vez constituíram os
presbíteros e diáconos, formando, ao lado dos profetas, pastores e mestres, a
autoridade da Igreja tanto universal como local, que têm na revelação a única
autoridade infalível, o tribunal onde todas as questões teológicas devem ser
resolvidas (At 6:1-7; Tt 1:5; 2Pe 1:12-21).4 O governo eclesiástico será eficiente
se ele, juntamente com a comunidade a que serve, acatam o seu próprio sistema de
autoridade pré-estabelecidopreestabelecido.5
19
(1) O povo antidiluvianoantediluviano não
atendeu às advertências de Noé, e morreu submerso pelas águas do dilúvio (Gn 6-
7).1 Um dos profetas mais contestados do Antigo Testamento foi Moisés. Faraó
não quis ouvir as palavras Moisés e pereceram ele e seu exército sob as águas do
Mar Vermelho (Ex 14:26-31). Israel da mesma forma rejeitou as advertências que
Deus enviou através de Seu servo e foi ferido diversas vezes por pragas (Ex
15:22-27; cf. Nm 11:31-34; 16:41-49). A autoridade profética de Moisés foi três
vezes desafiada com sedição: na rebelião de Miriã e Arão (Nm 12:1), na sedição
do povo (Nm 14:1-4) e na sublevação de Coré, Datã e Abirão (Nm 16:1-3). As
conseqüências foram desastrosas, pois Miriã ficou leprosa (Nm 12:10),2 e o povo,
sob a ira divina, só não foi rejeitado porque Moisés intercedeu por ele (Nm 14:12-
19); Coré, Datã e Abirão foram tragados pela terra que se abriu sob os seus pés
(Nm 16:1-49).3
(2) No período dos reis de Israel a situação não
foi diferente. Saul não deu ouvidos a voz de Deus pela boca de Samuel,
terminando sua vida rejeitado por Deus (1Sm 13:8-23; cf. 15:26; 31:4).4 Acabe de
igual modo não deu atenção às palavras dos profetas (Elias e de Micaías), e a sua
morte foi como predissera o profeta Elias (1Re 21:19; cf. 22:38). A mensagem de
Jeremias parecia anti-patriótica aos olhos do povo e de seus líderes. Aconselhava
a rendição de Israel à Babilônia, enquanto condenava toda tentativa de aliança
com o Egito. As advertências não foram ouvidas e o povo amargou a experiência
do cativeiro. A Escritura declara que “zombavam dos mensageiros, desprezavam
as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor
contra o seu povo, e não houve remédio (2Cr 36:16; 2Re 25:8-12).
(3) A história neotestamentária repete a atitude
humana de rejeitar os profetas enviados por Deus. João Batista foi degolado a
pedido da filha de Herodias, e sob a ordem de Herodes, porque o profeta
denunciava uma união conjugal ilícita (Mr 6:17-25). O povo de Israel submeteu
Cristo a uma falsa acusação, e a um tendencioso julgamento, seguido de morte
injusta. Sobre todos estes as conseqüências foram dramáticas no desenrolar
imediato da história, e o serão na eternidade (Ap 1:7). Por fim, Paulo foi
perseguido, suas palavras de advertência foram mal interpretadas, rejeitadas (1Co
5:1-18) e sua autoridade apostólica foi contestada (2Co 10:1-18).
b) Descrição da Crise - Quando a evangelização de
Jerusalém se tornara um sucesso, deu-se a murmuração dos helenistas contra os
hebreus, envolvendo os apóstolos. Ela se deveu ao fato de que as viúvas dos
6
T. Housel Jemison, A Prophet among You (Mountain View, CA:Pacific
Press, 1955), 92-93.
1
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (1978), 1:254.
2
E. G. White, Patriarcas e profetas, 400-403.
3
Nichol, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (1978), 1:879; E.
G. White, Patriarcas e profetas, 415-426.
4
E. G. White, Patriaracas e profetas, 671-686.
20
helenistas estavam sendo preteridas na distribuição alimentar (At 6:1-2). Esta
reclamação contestava de forma generalizada e sub-reptícia a maneira como os
apóstolos estavam administrando essa atividade. A murmuração era, portanto,
contra os apóstolos, por não estarem sendo justos no exercício da autoridade.
Tratava-se de um erro de administração social, acrescido de uma tensão de
relacionamento entre os dois grupos. A crise foi agravada por dois outros
aspectos, o rápido crescimento da Igreja em Jerusalém1 e a falta de uma estrutura
organizacional que atendesse esse tipo de atividade que embora fosse importante
não era a prioridade do ministério apostólico. Esse litígio, portanto, comprometia
a autoridade da Igreja.2
(1) Essa atitude de revolta continuou presente na
vida da Igreja Apostólica, quando a autoridade apostólica e profética de Paulo
foram questionadas por membros da Igreja em Corinto. Ele estava consciente
deste fato ao afirmar que “todavia, a mim muito pouco se me dá de ser julgado por
vós ou por tribunal humano, nem eu tampouco julgo a mim mesmo” (1Co 4:3).
Paulo não preenchia o padrão de autoridade que os coríntios julgavam importe
segundo a perspectiva deles. Para que respeitassem a Paulo como apóstolo, ele
deveria ser eloqüente orador, Ter uma impressiva teologia gnóstica e/ou legalística
e caracterizar-se por um comportamento autoritário.3 Desta forma foi atacado por
seus opositores em três aspectos: sua pessoa, seus ensinos e seu caráter. Como
pessoa, Paulo foi chamado de tapeinovς (2Co 10:1), cuja tradução é modesto,
insignificante. Sua presença era considerada frágil e desprezível (2Co 10:10), e
sua oratória fraca (2Co 11:6). Chamaram-no de idiwvthς, ou seja, indouto,
ignorante, inábil em qualquer profissão (2Co 10:1-10; 11:6).4 Os
“superapóstolos” (2Co 11:5) colocaram os seus ensinos em dúvida, como se pode
inferir da defesa de Paulo, que analisa a acusação a partir das próprias palavras
dos acusadores.5
(2) Procuraram como último recurso manchar a
lisura do seu apostolado, o que o levou a inquirir “terei eu agido com leviandade?”
(2Co 1:17), “ninguém me considere insensato” (2Co 11:16), “vos explorei?” (2Co
John Stott, The Spirit, the Church and the World: The Message of Acts
1
21
12:16-17). Nestas poucas passagens Paulo é insultado de leviano, insensato e
desonesto.1 É evidente que tal atmosfera da Igreja de Corinto só poderia conduzi-
la à fragmentação, que já não era pequena no I século AD.2 Nesse episódio tatno a
autoridade do dom profético como a pessoa do profeta foram desacatadas.
(3) Era imperativo uma rápida ação sanadora para
afastar as conseqüências danosas que levariam a Igreja Apostólica à fragmentação,
a perder sua visão missiológica e à confusão doutrinária resultante.
c) Superação da Crise - A crise inicial de autoridadena
Igreja de Jerusalém foi superada pela maneira objetiva e sábia como os apóstolos
conduziram as tensões causadas pela má distribuição de alimentos.
Primeiramente convocaram a comunidade dos discípulos, respeitando a autoridade
eclesiástica (At 6:2). Em seguida identificaram o ministério da palavra e da
oração como prioridade do apostolado deles (At 6:2,4). Finalmente orientaram a
Igreja na escolha dos sete diáconos, homens de formação grega, para
administrarem a distribuição dos alimentos e se responsabilizarem por atividades
similares (At 6:3).3 Criando a função do diaconato, os apóstolos dando um grande
passo na organização da Igreja, ainda mantiveram o lugar da autoridade da Igreja
na solução de seus litígios.4
(1) A contestação da autoridade profética de
Paulo foi suplantada pelas três cartas dirigidas aos coríntios,5 nas quais vindica a
origem divina do seu apostolado (1Co 1:1; 2Co 10:8; 13:10). Ele adverte que pela
força de sua autoridade apostólica tratá-los-ia com a severidade que a situação
exigisse (1Co 4:19-21; 2Co 10:2,11). A evidência de que o litígio foi resolvido
1
Ralph P. Martin, 2Corinthians, em: David Hubbard e Glen W. Baker,
eds., Word Biblical Commentary (Waco, TX: Word Books, 1986), 40:lxi-lxii.
2
Houve cerca de cem seitas do cristianismo no fim do II século AD como
se declara em: Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo, 4:286.
3
Guthrie, 55-57; Wagner, 1:179-191; Stott, The Spirit, the Church and
the World, 120-124.
22
atesta-se por suas palavras em 2 Coríntios 7:5-16: “Alegro-me porque, em tudo,
posso confiar em vós.”
(2) Em todo o processo fica evidenciada a função
normativa da autoridade absoluta de Cristo, da autoridade profética dos apóstolos
e da autoridade administrativa da Igreja, como decisivas na suplantação da crise
de autoridade.
d) Influências da Crise sobre a Missão - Problemas que
afetem o exercício da autoridade geram crises, que quando não superadas,
enfraquecerão espiritualmente a Igreja, comprometendo significativamente seu
potencial missiológico. O divisionismo, espírito de competição, antagonismo e
disputa afastam o Espírito Santo, por cujo intermédio unicamente poderá a Igreja
cumprir sua missão.
(1) A aceitação da autoridade absoluta de Jesus
Cristo, da revelação na pessoa de seus apóstolos e da Igreja trouxeram
crescimento espiritual, quantitativo e orgânico à Igreja Apostólica. O testemunho
escriturístico é claro a esse respeito (At 2:41; 4:4; 5:14; 16:5; 21:20). Resolvida a
crise administrativa inicial, é dito que “crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém,
se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam a fé” (At 6:7). O mesmo deve Ter ocorrido em Corinto e outros pontos
do Império, com as Igrejas que acataram a autoridade apostólica.1 Um espírito de
fraternidade, concórdia e união concorreram para que a Igreja Apostólica
crescesse em número e qualidade de fé. Portanto, o crescimento qualitativo,
orgânico e numérico da Igreja Apostólica ocorreu em decorrência da superação,
não apenas das crises missiológicas, cristológicas e soteriológicas, mas também da
crise de autoridade.
6 - Crise Escatológica - As profecias messiânicas do Antigo
Testamento alcançam seu cumprimento no Novo Testamento. O retorno do
Messias consuma a obra da redenção operada por Ele em Seu primeiro advento e
faculta ao pecador a posse definitiva e final das promessas escatológicas de
salvação providas por Seu sacrifício (Hb 9:28).2 Este fato está implícito nos três
termos empregados para identificar os dois adventos: parousiva, significando
vinda, chegada e presença (2Pe 1:16; 1Ts 3:13); ajpokavluf , revelação (Ap
1:1; 2Ts 1:7); e ejpifavneia, aparecimento (Tt 2:11; 2Ts 2:8).3 Devido a tensão
1
Para comprovar que Paulo passou por Corinto em sua terceira viagem e
que o relatório de Paulo em Atos 21:20 inclui a cidade de Corinto ver: Norton,
204; Stagg, 199; Williams, 345; Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible
Commentary (1980), 6:380000005, 403; Bruce, The Acts of the Apostles, 423, “a
presente visita (a Corinto, At 20:1-2) foi a terceira de acordo com 2Coríntios
12:14 e 13:1.” O relatório de Paulo no fim da terceira viagem incluía seu trabalho
na cidade como se pode constatar em: E. G. White, Sketches from the Life of Paul,
210.
2
Samuelle Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness,
Biblical Perspectives, vol. 6 (Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1994),
51.
23
existente entre a expectativa urgente e a demora do segundo Advento, o Novo
Testamento retrata uma incipiente crise comum aos cristãos do I século Ad.
Norskov Olsen, ed., The Advent Hope in Scripture and History (Washington, DC:
Review and Herald, 1987), 21-25; Wigoder, 232-233.
2
Para informação sobre a literatura judaica intertestamental ver: Leonard
Rost, Introdução aos livros apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento e os
manuscritos de Qumram (São Paulo: Paulinas, 1980); Champlin, Enciclopédia de
Bíblia Teologia e Filosofia, 1:227-231; Andreasen, 31-45.
24
que depois de 4291 anos a partir da criação o Messias viria para a nação israelita.
Por outro lado, acreditava-se que o mundo duraria apenas 85 jubileus (4250 anos),
e que no último Ele viria. Cria-se ainda que ao se completarem 4231 anos, a
começar da criação, nenhuma terra deveria ser comprada, pois perderia o valor
com a chegada do Messias.1
(4) Essas profecias de tempo influenciaram a
mentalidade judaica nos dias da dominação romana, e foram introduzidas no
cristianismo como uma inestimável herança.2 A idéia de que a profecia das 70
semanas de Daniel 9 estaria se cumprindo naqueles dias, fortalecia a expectativa
de que o Messias em breve viria à Palestina para salvar Israel. Essa expectativa
era comum nos dias de Jesus.3 Como a vinda do Messias-Rei envolvia um
domínio territorial, entendia-se que Ele viria para iniciar a nova era, quando Jeová
reinaria eternamente com justiça sobre Israel e sobre o mundo (Is 65-66). Ou seja,
o conceito da presença do Messias pressupunha o estabelecimento do reino
messiânico.
b) Descrição da Crise A história da Igreja Cristã,
durante o I século AD, foi marcada pelo senso da brevidade da Parousia.4 O Novo
Testamento declara diversas vezes que o mundo vivia nos eventos finais da
história da salvação (LC 18:7-8; Hb 1:1-5; 9:26; 10:37; Tg 5:8,9; 1Jo 2:18; Ap
2:16; 3:11; 22:7,12,20). Os cristãos, portanto, no primeiro século tinham a
convicção de que a última hora havia chegado.5
(1) A perspectiva de tempo em relação ao
Segundo Advento, estranha à teologia do Novo Testamento, é perceptível algumas
vezes na vida da Igreja Apostólica.6 Pode-se ainda acrescentar, como parte deste
Prophetic Faith of Our Fathers (Washington, DC: Review and Herald, 1950),
1:181-204.
1
Abraham Cohen, Everyman’s Talmud, 350-351.
2
Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 1:889.
3
“Era bem conhecido que as setenta semanas da profecia de Daniel,
abrangendo a vinda do Messias, se achavam quase no fim; e todos estavam
ansiosos por partilhar daquela era de glória nacional, então esperada.” E. G.
White, O desejado de todas as nações, 117, declarações semelhantes ver: Ibid.,
28, 31, 84.
25
ambiente de iminência, as palavras de Jesus em três ocasiões diferentes. Estas
declarações são interpretadas pela crítica liberal como sugerindo o cumprimento
do e[scaton dentro da primeira geração de cristãos. No envio dos doze Ele
disse: “não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do
Homem” (Mt 10:23). ao dar instrução sobre a negação própria e Sua vinda
gloriosa, declarou: “dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira
nenhuma, passarão pela morte até que vejam Ter chegado com poder o reino de
Deus” (Mr 9:1). Por último ao exortar os apóstolos com a parábola da figueira no
contexto de seu retorno, Ele advertiu “não passará esta geração sem que tudo isso
aconteça” (Mr 13:30).
(2) Apesar de toda discussão em torno desses
textos não há nenhuma referência bíblica de que eles tenham tido alguma relação
1
direta com a crise escatológica que ameaçava vir sobre a Igreja Apostólica. Pode-
se inferir, entretanto, que estas passagens poderiam Ter uma provável influência
neste contexto. Os sinais de uma grave crise ameaçavam lançar a Igreja em mais
uma grande decepção.
(3) No início do sermão profético de Mateus 24
os apóstolos deixaram transparecer seu interesse no assunto indagando: “Dize-nos
quando sucederão estas cousas e que sinais haverá da tua vinda e da consumação
do século” (Mt 24:3; Mr13:3). A outra ocasião em que as atenções da comunidade
cristã se voltaram para o aspecto cronológico foi no dia da ascensão, quando
disseram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6).
(4) Uma preocupação cronológica bem mais
específica ocorreu no diálogo de Cristo com Pedro após a ressurreição, quando o
apóstolo pergunta sobre o destino de João. A resposta de Cristo foi “se eu quero
que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” (Jo 21:22). Esta declaração
levou os ouvintes a entenderem que o apóstolo não morreria, ou seja, que Jesus
voltaria antes da morte de João (Jo 21:23). Isto leva a admitir que havia, portanto,
uma curta estimativa de tempo para a Parousia entre os cristãos no final do I
século AD.
(5) A situação mais comprometedora, entretanto,
ocorreu entre os membros da Igreja de Tessalônica, após a rápida evangelização
1
Para examinar a discussão teológica sobre estes textos ver: Werner
Georg Kümmel, Promise and Fulfilment (Naperville, IL: Alec R. Allenson, 1957);
Georg E. Ladd, Crucial Questions About the Kingdom of God (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1961), 22-39; idem, The Presence of the Future (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1964), 3-42; Herman Ridderbos, The Coming of the Kingdom (St.
Catharines, ON: Paideia Press, 1978), 444-456; Comissão Revisora do Santuário,
“Perguntas e respostas sobre questões doutrinárias,” MA, março/junho de 1981,
23-26; José Carlos Ramos, “An Exegetical Study on Mattew 24:34” (monografia,
Andrews University, 1982), 131-135; Alberto R. Timm, “A volta de Cristo - essa
bendita esperança,” RA, janeiro de q984, 3-4; Luiz Nunes, “O reino de Deus: uma
abordagem bíblica em São Mateus 1 a 7” (dissertação de Mestrado em Teologia,
Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Instituto Adventista de
Ensino, 1984), 74-75; Ralph E. Neall, How Long, O Lord? (Washington, DC:
Review and Herald, 1988); Berkouwer, The Return of Christ, 65-95; Hoekema,
151-165; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness, 78-79.
26
feita por Paulo e seus companheiros naquela cidade. Os recém convertidos
membros dessa comunidade acreditavam que a Segunda Vinda de Jesus seria um
acontecimento para os seus dias, e que as bênçãos advindas deste advento seriam
usufruídas só pelos vivos. Assim cada cristão que morria trazia-lhes um profundo
desgosto.1 Desta situação, comunicada a Paulo em Corinto por Timóteo, surgiu a
primeira Epístola aos Tessalonicenses.
(6) Na explicação de Paulo sobre o destino dos
vivos e dos mortos na Segunda Vinda ele faz uso do pronome pessoal da primeira
pessoa do plural. Razão porque o apóstolo foi mal entendido por estar se
incluindo entre os vivos, e portanto a Parousia dar-se-ia antes da sua morte (1Ts
4:16-17). Alguns tiveram um comportamento desordenado, resolvendo não mais
trabalhar, e vivendo da caridade da Igreja (2Ts 3:6-12).2 Para esclarecer o assunto
Paulo escreveu a segunda carta àquela comunidade.
(7) A estes testemunhos podem ser acrescidas as
declarações dos pais apostólicos, ainda dentro do I século AD, como encontradas
nas epístolas de Clemente, Inácio e Barnabé. Eles também acreditaram na
1
Champlin, O Novo Testamento interpretado versículo por versículo,
5:205; E. G. White, Atos dos apóstolos, 258.
2
E. G. White, Atos dos apóstolos, 264-265.
27
iminência do segundo advento.1 Esta foi uma herança que permeou o pensamento
dos cristãos no primeiro século, e que afetou a noção de iminência da Segunda
Vinda. A tendência de se estabelecer uma perspectiva de tempo encontra-se
inclusive entre os pais apostólicos ainda no limiar do I século AD e mesmo outros
cristãos desta época fora das páginas do Novo Testamento.2 A morte de Nero, a
destruição de Jerusalém e outros acontecimentos foram encarados como sinais do
segundo advento. Como Jesus não voltava, os mais cuidadosos tentaram
estabelecer datas mais distantes para a Parousia. A epístola de Barnabé apontava a
volta de Jesus para mil anos mais tarde.3 Tal sucessão de aocntecimentos
fortalecia o conceito de brevidade com uma visão de tempo marcado, que traria
sem dúvida mais uma séria crise sobre a Igreja Apostólica.
c) A Superação da Crise Em seu discurso profético
Cristo deixou bem clara Sua posição sobre o aspecto cronológico, quando disse:
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão o Pai” (Mt 23:36). Essa declaração deveria ser o parâmetro de toda
tentativa de se estabelecer uma data para a Parousia. A resposta de Cristo à
pergunta dos apóstolos sobre o tempo, foi de molde a evitar o sofrimento que os
apóstolos teriam se soubessem da longa espera que teriam pela frente, sobrepondo
intencionalmente as profecias da Segunda Vinda aquelas que apontavam para a
destruição de Jerusalém.4 Concomitantemente, Cristo precisava manter a
perspectiva de brevidade e afastar a apressada perspectiva temporal. Isto foi o que
fez ao falar sobre os sinais que antecederiam a Parousia.5 Advertiu sobre os
perigos do senso de tardança nas cinco parábolas do discurso profético (Mr 13:34-
37); Mt 24:43-25:30), enquanto enfatizava a necessidade de vigilância e oração.6
(1) Parece que os ensinamentos de Cristo sobre a
escatologia e as declarações de outros livros do Novo Testamento evitaram o
1
The First Epistle of Clement to the Corinthians, cap. 23, em: Alexander
Roberts e James Donaldson, eds., The Anti-Nicene Fathers (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1967), 1:11; The Epistle of Ignatius to the Ephesians, cap. 11, em:
ibid., 1:54; The Epistle of Ignatius to the Policarp, cap. 3, em: ibid., 1:94; The
Epistle of Barnabe, cap. 21, em: ibid., 1:149; Froom, The Prophetic Faith of Our
Fathers, 1:208-209.
2
Ladd, The Blessed Hope, 19-22.
3
The Epistle of Barnabé, cap. 15, em: Roberts e Donaldson, eds., 146-
147; Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 1:211; Durant, 7:294;
LePargneur, 20; Hebblethwaite, 29.
4
E. G. White, O desejado de todas as nações, 606.
5
Ladd, The Presence of The Future, 326-327.
6
Ridderbos, 510-523; Berkouwer, The Return of Christ, 79-95; Koema,
158-162; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness, 92-98;
Goppelt, 93-95.
28
desenvolvimento da crise escatológica que colocaria, por certo, em perigo a
confiabilidade das promessas de Deus, a ética cristã e o exercício da missão.
(2) João, por sua vez, tendo esse paradigma
teológico em sua mente refutou a possibilidade da volta do Messias em seus dias
quando disse que “Jesus não dissera que tal discípulo não morreria” (Jo 21:23).1
As palavras de Jesus não visavam estabelecer um tempo para o e[scaton, mas
antes deixar claro que o final destino do apóstolo era uma questão da soberania de
Deus. O assunto, portanto, estava fora da alçada de Pedro.2
(3) A errônea visão dos tessalonicenses
concernente à urgente proximidade da Segunda Vinda os estava conduzindo a um
estado de agitação e de excitamento, que os deixava inseguros (2Ts 2:2).3 Esta
distorcida hermenêutica e este estado de espírito os conduziriam ao
desapontamento e ao escárnio popular, podendo ainda levá-los a pôr em dúvida as
verdades da fé cristã.4 Para evitar tais conseqüências o apóstolo submeteu essas
crenças ao escrutínio da Palavra, dizendo que o e[scaton não aconteceria
enquanto não viesse a apostasia, o homem da iniquidade (1Ts 2:3-9).5
(4) Os parâmetros hermenêuticos estabelecidos
por Cristo quanto à interpretação de seu discurso escatológico, ajudaram os
apóstolos Paulo e João a evitar o que seria a repetição de uma grave crise, pois
suas declarações acerca do e[scaton parecem em muitos sentidos um eco dos
ensinamentos de Cristo (Mt 24:5,11; cf. 1Tm 4:1; Mt 24:29; cf. Ap 6:12-13).6
Jesus Cristo apresentou vários sinais que deveriam ocorrer em diversas áreas da
atividade humana e da natureza, pois o senso de urgência exagerado seria
certamente evitado pela atenção a tais sinais (Mt 24:3-28; Mr 13:3-13; Lc 21:7-
19). Esta postura suplantou a crise escatológica, evitando mais um
desapontamento para a Igreja Apostólica.
29
d) A Influência da Crise sobre a Missão Tivesse
ocorrido um segundo desapontamento além do da cruz, com mais uma expectativa
frustrada sem explicação teológica justificável, a própria continuidade do
cristianismo estaria em jogo. É evidente que, devido a relação íntima entre a
escatologia e a missiologia, a crise colocava em risco permanente a razão de ser
da missão. Estava em jogo não só uma perspectiva de temporalidade, mas de
confiabilidade nas mais acariciadas promessas de Deus. Isto poderia significar o
fim da missão, e sem ela o Cristianismo não teria razão de ser
(1) O respeito às Palavras de Cristo e à
autoritativa palavra profética de João e Paulo (Mt 24:36; Jo 21:23; 1Ts 2:13; 2Ts
2:15; 3:6) afastaram a possibilidade de conflitos internos e externos na Igreja
Apostólica. Como conseqüência, a Igreja foi estabelecida na verdade, e a missão
teve continuidade. A urgente manifestação de Cristo em glória está intimamente
ligada com o senso de missão, como o próprio Jesus em sua ascensão estabeleceu
ao dizer: “e sereis minhas testemunhas”, e os anjos acrescentaram: “Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o viste subir” (At 1:8-11). A
brevidade da parousiva, portanto, foi um ensinamento saudável para a vida da
Igreja primitiva, pois aliou o senso de iminência e de constante vigilância à
missão.1 A demora, em nossa perspectiva de tempo, deve ser o motivo para que o
repetido conselho quanto a vigiar e orar, no contexto das parábolas do discurso
profético, seja seguido. O sentido da verdadeira vigilância, portanto, leva ao
genuíno cumprimento da missão.
7 - Conclusão Todas as crises aqui examinadas tiveram uma
tendência desagregadora da unidade da Igreja Apostólica. A visão estreita da
missão, fundamentada em barreiras raciais e religiosas, impediu construir os
homens, dispersos pelo pecado, em uma só família. O gnosticismo e o judaísmo,
com seus ensinamentos teológicos heterodoxos sobre cristologia e soteriologia,
ameaçaram destruir os aspectos mais relevantes da unidade doutrinária
fundamental do cristianismo e o principal conteúdo do querigma. A crise
eclesiológica com a sublevação contra a autoridade afetaram também a unidade da
Igreja, incapacitando-a de gerir os seus próprios objetivos missionários, e se não
fosse devidamente administrada teria trazido em seu caminho a anarquia
administrativa que é a maneira mais rápida para o desaparecimento de qualquer
instituição. A crise escatológica, caso não ocorresse sua suplantação, lançaria a
Igreja Apostólica na amargura de mais um desapontamento, colocando em risco a
confiança dos primeiros cristãos nas promessas de Deus e nEle próprio, e o
divisionismo e o enfraquecimento espiritual seriam o resultado inevitáveis.
1
Timm, “A volta de Cristo - essa bendita esperança!”,9; Bekouwer, The
Return of Christ, 84-85; Bacchiocchi, The Advent Hope for Human Hopelessness,
98.
30
esperança do evangelho que ouviste e que foi pregado a toda criatura debaixo do
céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1:23).
31
para Roma. Não se pode afirmar se ele teria ido como passageiro comum, ou se
conseguiu este direito por ser médico. Os detalhes que ele conta desta viagem e
do naufrágio mais especificamente demonstram que Lucas presenciou
pessoalmente os acontecimentos relativos a viagem de Paulo para Roma.
(1) A conclusão a que se chega é que todo o livro
de Atos foi escrito pelo autor que ao mesmo tempo é o companheiro de Paulo em
suas viagens.
32
revelam uma riqueza de vocabulário. Há cerca de 800 palavras em Lucas que não
aparecem nos outros livros do Novo Testamento.
(1) As pesquisas de William Ramsey sobre a
primeira e Segunda viagens de Paulo comprovaram a meticulosa exatidão de
Lucas na apresentação dos fatos históricos, geográficos e administrativos. Ele
declarou: “Você pode espremer as palavras de Lucas a um grau acima de qualquer
outro historiador, e elas resistem ao exame mais severo e ao tratamento mais
rígido.” Lucas era um homem que primava pela exatidão de suas declarações.
(2) Este seu compromisso com a exatidão o levou
a se tornar um viajante, como bem o demonstram os textos “nós” de Atos (At
16::10-18; 20:5-21:18; 27:21-28:16), que indicam a presença de Lucas. Sua
descrição da viagem de Paulo e o respectivo naufrágio demonstram a exatidão de
termos quanto aos ventos, geografia e construção naval. Estas viagens de Lucas
sugerem que ele esteve com Paulo (2Tm 4:11) durante sua prisão em Cesaréia.
Pode Ter sido este período que Lucas empreendeu sua pesquisa que lhe permitiu
escrever o evangelho e Atos. Por ser um homem adaptado a sua época já por sua
origem ou por sua cultura helênica e por Ter compreendido e aceito a salvação
pela graça através da fé, como ensinada por Paulo, tinha o perfil da pessoa que
seria utilizado pelo Espírito Santo para falar da universalidade do evangelho.
1
F. F. Bruce, The Acts of the Apostles, (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), 1-18.
2
S. J. Schwantes, Arqueologia (São Paulo: Gráfica do Instituto
Adventista de Ensino, 1983), 141.
33
Testament foi o erudito que mais contribuiu para confirmar a historicidade dos
fatos relatados no livro de Atos dos Apóstolos.
34
23:26-35), o ocultismo (At 8), a crise cristológica (Cl 2:8, 16-23; cf. At 20:29-30),
a crise escatológica (1Ts 4:13 e 2Ts 2:1-4; 3:11), apenas para citar alguns
obstáculos. A promessa do Espírito Santo é chamada de promessa do Pai (1:4).
Ele foi recebido antes, durante e depois do batismo, com ou sem imposição,
acompanhado ou não do Dom de línguas (At 2:1-13; cf. At 8:14-17; 10:44-48;
11:12-18; 19:1-7). O Espírito Santo testemunha no livro de Atos através dos
apóstolos (5:32; cf. 15:26). O Espírito na Igreja fala através dos profetas,
predizendo grande fome para que os membros de Antioquia possam prover as
necessidades dos de Jerusalém (11:28-30). Ele é a autoridade primária invocada
no decreto apostólico do Concílio de Jerusalém (15:28). Ele dirige o curso das
atividades missionárias, escolhendo e enviando pessoas para obras especiais
(8:39-40; 13:2). Ele também prescreveu o caminho a ser seguido na obra
missionária (16:6-10). Em Atos o Espírito Santo é visto como uma pessoa divina
(5:3-4), pois mentir a Deus é o mesmo que mentir ao Espírito Santo.
35
a) A condição de membro na igreja era a fé em Jesus
como o Messias, Senhor e Filho de Deus. A entrada do novo membro era
marcada pelo batismo na água, que agora tinha um novo sentido: as profecias
messiânicas se cumpriram na pessoa de Jesus de Nazaré, e portanto era o Salvador
da humanidade. Isto era o que significava ser batizado em nome de Jesus. Isto
não se refere evidentemente à fórmula batismal (Mt 28:19), mas ao cumprimento
das promessas sobre o Messias, que sendo aceito como tal dava ao catecúmeno o
direito de ser batizado.
36
fornece o ambiente de várias epístolas de Paulo, relacionando detalhes da
fundação das igrejas para as quais as cartas foram posteriormente escritas.
Epístola aos Gálatas Antioquia, Icônio, Listra e Derbe (AT 13:14-
14:28).
Epístola aos Filipenses Filipo (At 16:11-40).
Epístolas 1 e 2 Tessalonicenses Tessalônica (At 17:1-9).
Epístolas 1 e 2 Coríntios Corinto (At 18:1-16; 20:1-3).
Epístola aos Efésios - Éfeso (At 19:1-41; 20:17-38; 1e 2Tm).
A leitura anterior destes capítulos ao estudo destas cartas lança luz sobre o tipo de
cidade, a qualidade de vida e os problemas enfrentados por Paulo. Quarto, na vida
ativa da Igreja, Paulo apresenta muitos dos princípios enunciados em suas
epístolas. Organização da Igreja, disciplina, testemunho, evangelismo e
ensinamentos são apresentados ao longo da narrativa histórica de Atos. Especial
ênfase é posta sobre a necessidade da obra do Espírito Santo. Esta verdade foi
não só ensinada como também vivenciada.
HVIII QUADRO CRONOLÓGICO DE ATOS DOS APÓSTOLOS.
Ministério de João Batista 27-28 AD
Batismo de Jesus (Mr 1:9-11) 27 AD
Início do Ministério de Jesus na Judéia (Jo 2:13- 4:3) 28 AD
Ministério de Jesus na Galiléia (Mr 1:14-9:50) 28-29 AD
Jesus na Judéia e Pereia (Mr 10:1) 29-30 AD
Cricifixão, Ressurreição, Ascensão e Pentecoste (abril
/maio) 31 AD
Conversão de Paulo (At 9:1-22; Gl 1:15-17 34 AD
Primeira Visita de Paulo a Jerusalém pós-conversão
(At 9:26-30; Gl 1:18-20) 36 AD
Morte de Tiago filho de Zebedeu, Prisão de Pedro (At
12:1-7) 43 AD
Morte de Herodes Agripa I (At 12:20-23) 3/44 AD
Fome na Judéia (At 11:28) 45-48 AD
Barnabé e Paulo visitam Jerusalém (At 11:30; Gl 2:1) 46 AD
Barnabé e Paulo evangelizam Chipre e Sul da Galácia
(At 13:4-14:26) 47-48 AD
Concílio de Jerusalém (At 15:6-29) 49 AD
Paulo, Silas e Timóteo levam o evangelho a
Macedônia (At 16:9-17:14; 1Ts 1:2-2:2) 49-50 AD
Paulo em Corinto (At 18:1-18; 1Co 2:1-5) 50-52 AD
37
Carta aos Tessalonicenses 50 AD
Galio torna-se procônsul de Acaia (At 18:12) / maio 51 AD
Rápida visita de Paulo a Judéia e Síria (18:22) 52 AD
Paulo em Éfeso (At 19:1-20:1) 52-55 AD
Assassinato de Junius Silanus, procônsul da Ásia
(Tácito Anais 13:1-3) 54 AD
Paulo envia Timóteo e Erasto à Macedônia (At 19:22) 55 AD
1Coríntios (1Co 16:8) 55 AD
Visita penosa de Paulo a Corinto (2Co 2:!-13:2) 55 AD
Missão de Reconciliação de Tito em Corinto (2Co
2:13-7:5-16) 55 AD
Paulo em Troas (2Co 2:12) 55 AD
Paulo na Macedônia e no Ilírico 55-56 AD
2 Coríntios 56 AD
Paulo em Acaia (Corinto) (At 20:2ss; Rm 15:25-28;
16:23) 56-57 AD
Romanos 57 AD
Chegada e Prisão de Paulo em Jerusalém (At 21:15- 57 AD
33)
Paulo detido em Cesaréia (At 23:23-26:32) 57-59 AD
Paulo viaja para a Itália (At 27:1) 59 AD
Paulo em Malta (At 28:1-10) 59-60 AD
Paulo chega em Roma (At 28:4-16) 60 AD
Colossenses, Filemon, Efésios 60 AD
Filipenses 61 AD
Fim da Prisão de Paulo em Roma (At 28:30) 61-62 AD
Morte de Tiago, o Justo, em Jerusalém (Josefo,
Antiguidades, 20:200)
62 AD
Incêndio em Roma / Julho 64 AD
Perseguição de Nero contra os Cristãos, morte de
Pedro e Paulo 65 AD
Início da Guerra Judaica (Josefo, GJ 2:409-432) 66 AD
38
Destruição de Jerusalém (Josefo, GJ 6:250-408) 70 AD
39
5 Prisão de Paulo e a Missão em Roma At 21:27-28:31
XI AS EPÍSTOLAS PAULINAS
Elas podem ser divididas em sete grupos distintos conforme o tema por elas
abordados.
Não existe completa concordância entre os eruditos quanto as datas das epístolas
paulinas. Até mesmo a autoria de Paulo é negada para todas epístolas menos 1 e 2
Coríntios, Gálatas e Romanos. Alguns negam que ele tenha escrito as epístolas
pastorais. Hoje há mais dúvida acerca da data de Gálatas do que qualquer outra.
Lightfoot coloca sua data justo antes de Romanos, enquanto Ramsay advoga ser
ela a primeira de todas elas. As epístolas aos Tessalonicenses foram escritas de
Corinto após Timóteo Ter sido enviado de Atenas por Paulo para Tessalônica (1Ts
3:1ss) e só retornou a Paulo quando este estava em Corinto (1Ts 3:6;cf. At 18:5),
pouco antes de Gálio chegar a ser Procônsul da Acaia (At 18:12). Com a obra St
Paul de Deissmann pode-se Ter certa margem de certeza que com a aclamação de
40
Cláudio na inscrição de Delfos as epístolas aos Tessalonicenses foram escritas
entre o ano 50/51 AD. Sabe-se igualmente que Paulo escreveu 1Coríntios quando
estava em Éfeso (1Co 16:8) próximo da comemoração do Pentecostes. Como
Paulo levou cerca de três anos em Éfeso (At 19:8-10; 20:31), e considerando que
esta carta foi escrita pouco antes de deixar Corinto, conclui-se que a data de
1Coríntios foi na primavera de 54/55 AD. O mesmo pode-se dizer de 2Coríntios
que foi escrita pouco depois de Paulo deixar Éfeso, quando estava na Macedônia
(2Co 2:12,13; cf. 2Co 7:5,6), e no mesmo ano (55 AD). A carta aos Romanos foi
escrita de Corinto e foi enviada por mão de Febe de Cencréia (Rm 16:1). As
epístolas da prisão (Filipenses, Colossenses, Filemon e Efésios/) devem Ter sido
escritas entre os anos 61 a 63 Ad. Enquanto as Epístolas Pastorais foram escritas
entre 65 e 68 AD. É provável que Paulo tenha morrido em Roma em 68 AD
pouco antes da morte de Nero em 8 de junho de 68 AD. As cartas paulinas foram
escritas, portanto, entre os anos 50 a 68 AD.
7-
B Introdução Geral É quase impossível por uma excessiva ênfase na vida e
obra de Paulo como o grande intérprete do significado de Cristo para o
41
Cristianismo. Paulo foi, é e será mal entendido em suas epístolas com alguém que
perverte a pureza do evangelho de Cristo sobre o Reino de Deus, devido a
estrutura teológica e eclesiástica em que o apóstolo explica a pessoa de Cristo e
Sua missão. Alguns o acusam de rabinizar o evangelho, enquanto outros o
denunciam por Ter helenizado a mensagem cristão. Apesar de todos os ataques
sofridos por Paulo no passado e no presente, suas epístolas estabelecem uma
profunda concepção de Cristo e como o evangelho pode ser aplicado à vida cristã
em um mundo greco-romano.
42
carta o tema do Segundo Advento perpassa todos os seus capítulos como um fio
de ouro que liga os diferentes ensinamentos do apóstolo (1Ts 1:10; 2:19-20; 3:13;
4:13-18; 5:23).
1 TESSALONICENSES
I Saudação 1:1
II Ministério de Paulo e sua Relação com os
tessalonicenses 1:2 a 3:13
III Instrução sobre aspectos da santificação 4:1-12
IV O Segundo Advento e sua relação com os vivos e os
mortos 4:13-5:11
V Admoestações finais 5:12-28
2 TESSALONICENSES
I Saudação 1:1-2
II Antecipação do Dia do Senhor 1:3-12
III Descrição do Dia do Senhor 2:1-17
IV Atitude Correta para o Dia do Senhor 3:1-16
V Conclusão 3:17-18
43
sido feita na Macedônia (2Co 2:12-13; 7:5-7). Paulo estava na Macedônia quando
Tito procedente de Corinto informa-lhe da boa recepção dada à carta de Paulo
pelos membros da Igreja de Corinto.
44
missionários para alcançar Roma e a Espanha. Neste período deve Ter escrito
Romanos e Gálatas para defender suas igrejas do legalismo judaizante. Decide
então se dirigir a Jerusalém onde desejava passar a páscoa. Daí segue-se a prisão
de Paulo e seu posterior julgamento e morte.1 As informações precisas sobre os
acontecimentos e datas são sempre tentativas de se harmonizar as informações que
não são suficientes para se estabelecer uma direção com total segurança.
I Introdução 1:1-9
II Reprovação das Irregularidades 1:10 a 6:20
A Facções na Igreja 1:10 a 4:21
B O Caso de Incesto 5:1-13
C Litígio nas cortes seculares 6:1-20
Esta seção está baseada nas informações de Atos dos Apóstolos, 298-
1
45
dado ao ofensor desligado da Igreja. Paulo adverte sobre a maneira de resgatar o
ofensor.
46
III Coleta para as Necessidades Cristãs na Judéia 8:1-9:15
A A Liberdade da igreja da Macedônia 8:1-6
B O Exemplo de Jesus 8:7-15
C O Compromisso de Tito para Recolher as ofertas em
Corinto 8:16-24
D Apelo a Liberalidade de Corinto 9:1-15
IV Defesa de Paulo de seu Apostolado 10:1 a 13:10
A Resposta aos Depreciadores do Apostolado de Paulo
10:1-12
B Corinto na esfera de trabalho de Paulo 10:13-18
C Diferenças entre os Falsos e Verdadeiros Apóstolos
11:1-12:18
D Apelo Final 12:19-13:10
E Conclusão 13:11-14
a) Hipótese 1
1) 1ª Visita - At 18
2) Visita de Apolo - At 18:24-19:1; cf. 1Co 3:6
3) Carta Prévia 1Co 5:9 (carta preservada em 2 Co 11:19
,21 ou desapareceu).0
4) Carta de Corinto 1Co 7:1 Levada talvez por
Estéfanas, Fortunato e Acaio 1Co 16:17. Recebe
informações da Família de Cloe (1Co 1:11)xxxxxx.
5) Escreve 1 Coríntios
6) Envio de Timóteo antes de Expedir a Carta 1Co 4:17
7) Visita Dolorosa (2ª Visita) 2Co 13:2 breve 2Co 2:1;
cf. 1Co 4:19
8) Carta Dolorosa Preservada em 2Co 10-13
9) Resposta de Tito 2Co 2:12; cf. 2Co 7:5,6
10) 2 Coríntios
11) 3ª Visita At 20:1-3
b) 2ª Hipótese
1) 1ª Visita - At 18; cf. 1Co 2:3
2) Visita de Apolo - At 18:24-19:1; cf. 1Co 3:6
3) Carta Prévia 1Co 5:9
4) Carta de Corinto - 1Co 7:1
5) Informações dos da Casa de Cloé 1Co 1:11
6) Suspende sua Intenção de Viagem 2Co 1:16
47
7) Carta Dolorosa - 1Coríntios - Dolorosa para Paulo, para
os coríntios dura 2Co 2:3,4
8) Envio de Timóteo - 1Co 4:17 Antes de Expedir a Carta
9) Segunda Visita Visita do Benefício, pois não queria
fazer uma visita dolorosa como a primeira e não que haja
uma visita dolorosa como é apregroado 2Co 1:15; 2Co
13:2; 2 Co 2:1
10) Resposta de Tito 2Co 2:12-13; 2Co 7:13-14; 2Co
12:18
11) 2 Coríntios
12) 3ª Visita At 20:1-3
48
31 a 36 AD. Logo sua carta, tomando-se a data mínima (31), poderia Ter sido
escrita no ano 48 AD, e portanto antes do Concílio de Jerusalém. Contudo,
segundo A. T. Robertson, a Epístola foi escrita depois do Concílio, porque Paulo
se refere a este encontro como alguém que viveu os momentos deste evento em
Gálatas 2:1-10; cf. Atos 15:1-5. Adotando-se a teoria do sul por ser mais
convincente, pode-se adotar para a epístola dos Gálatas uma data mais posterior,
como parece ser a posição de EGW, que menciona a carta aos Gálatas como
posterior ao Concílio de Jerusalém, talvez os anos 56 ou 57 AD.
4 Esboço Gálatas
I Saudação e Introdução 1:1-10
A Autoridade do escritos apostólico - 1:1-5
B Ocasião e Propósito da Carta 1:6-10
II A Defesa da Autoridade Apostólica de Paulo 1:11-2:14
A A Genuinidade de sua conversão - 1:11-24
B Aprovação Apostólica 2:1-14
49
III Fé versus Legalismo e a Salvação 2:15-3:29
A O judeu cristão e a salvação 2:15-21
B A salvação dos gentios 3:1-14
C A lei e o pacto abraâmico 3:15-29
IV A Liberdade Crista 4:1-31
A Da Lei para o Evangelho 4:1-7
B A Tolice Gálata 4:8-31
V Exortações Morais 5:1-6:10
A Legalismo e a Liberdade 5:1-12
B Liberdade Cristã não é libertinagem 5:13-26
C Fraternidade cumpre a lei 6:1-10
VI Conclusão - 6:11-18
50
b) A data da carta aos Romanos, portanto, foi o final da
terceira viagem, que segundo a cronologia da vida de Paulo seria o ano 57 AD,
com pouca margem de erro.
51
(2) A justiça de Deus pela fé como verdade
central do evangelho é o assunto principal de Romanos 1:18-5:21. O primeiro
passo de Paulo é mostrar que todos estão sob o eon da ira, tanto gentios como
judeus, pois todos estão sob a ira de Deus. Os primeiros por terem se rebelado
contra a revelação natural foram entregues a toda espécie de promiscuidade moral,
e os judeus que pensam se salvar pela defesa ou ensino da ética estão na mesma
condenação, ambos os grupos carecem de justiça para se salvar (1:18-3:20). A
universalidade do pecado a todos subjugou sob o eon da ira divina. Depois de
revelar a situação trágica da humanidade Paulo apresenta que a única solução é
acietar a justiça de Deus que é pela fé em Jesus Cristo. Diz ele: “Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm
3:28). Esta verdade é então ilustrada na vida de Abraão e Davi (4:1-25). O
capítulo 5 fala da glória do homem justificado que tem paz com Deus mediante a
justiça que provém da fé (5:1-11). Os versos 12 a 21 apresentam a Cristo como o
Segundo Adão que veio desfazer os efeitos dos pecados trazidos ao mundo pelo
Primeiro Adão, mostrando que onde “abundou o pecado superabundou a graça de
Deus.”
(3) Através de perguntas retóricas sobre a relação
da lei com a justificação pela fé Paulo discorre sobre o tema da santificação 6:1 a
8:39. “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?” (Rm
6:1). “Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça?”
(Rm 6:15). “Ignorais . . . que a lei tem domínio sobre o homem toda a vida?”
(Rm 7:1). “É a lei pecado?” (Rm 7:7). Fui então finalmente liberto da
condenação da lei porque a lei do espírito da vida em Jesus Cristo me livrou da lei
do pecado e da morte e não lei moral como revelação do caráter de Deus. A graça
me livra de fazer da lei um meio de salvação e da condenação do pecador. Quem
foi justificado pela fé está livre da condenação da lei. Esta função da lei, de
condenar, morreu para o pecador declarado justo pela fé nos méritos de Cristo.
(4) O Evangelho e Israel Romanos 9:1-11:36
Paulo aqui expõe a relação entre o povo de Israel e a Igreja Cristã que nasce entre
os gentios. Paulo começa mostrando quem de fato é filho de Deus. Os
descendentes de Abraão ou os descendentes da fé? (9:1-33). Os gentios não
podem se esquecer que a salvação veio conduto através de Israel e que os judeus
estão incluídos no evangelho (11:1-10). Então Paulo fala do último desígnio de
Deus que é a salvação de todos (Rm 11:31). Termina esta seção com uma
antífona de louvor a Deus (11:33-36).
(5) O evangelho e a nova vida 12:1-15:13
Paulo então mostra a finalidade do evangelho para judeus e gentios que é a
santidade fruto da fé em Cristo. Pureza e obediência com base no amor.
(6) Conclusão epistolar 15:14-16:27 Esta
parte está formada por seus planos de viagem, pedido de oração, saudações finais
e a doxologia.
d) Esboço Romanos
I Introdução
A Resumo da Epístola - 1:1-7
B O Desejo de Pregar em Roma 1:8-15
II Tema O Justo pela Fé Viverá 1:16-17
52
III O Justo Viverá pela Fé 1:18-5:21
A O Antigo Eon - Sob a ira de Deus 1:18-3:20
B O Novo Eon Sob a justiça de Deus 3:21-5:21
IV O Justo Viverá pela Fé 6:1-8:39
A Livres do pecado 6:1-23
B Livres da Lei como meio de Justiça 7:1-25
C Livres para Obedecer 8:1-39
V A Justiça pela fé não contradiz a promessa 9:1-11:36
A A promessa é para os que crêem - 9:6-29
B A Rejeição de Israel 9:30-10:21
C A Aceitação de Israel 11:1-11:36
VI A Conduta dos que são justos pela fé 12:1-15:13
A Conforme o novo Eon
B A realização Concreta os débeis e os fortes
14:1-15:3
VII Conclusão 15:14-16:27
53
de EGW fortalecem a posição de Roma ao dizer que “em sua carta ‘aos santos e
irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos,’ escrita como prisioneiro em
Roma, Paulo faz menção de sua alegria.” (Atos, 471). O mesmo se pode dizer da
carta a Filemon, pois “entre os que deram o coração a Deus por intermédio do
trabalho de Paulo em Roma, estava Onésimo, escravo pagão que havia lesado a
seu senhor, Filemon, crente cristão de Colosso, e havia escapado para Roma.”
(Atos, 456).
1
Francis D. Nichol, Seventh-Day Adventist Bible Commentary
(Wahington, DC: Review and Herald, 1957), 6:105-106.
54
c) Problema Teológico A Igreja em Colossos estava
sendo submetida a um falso ensino que era entendido pelo apóstolo Paulo como
heterodoxo, e portanto ameaçador da integridade do evangelho. Assim esta
epístola é uma apologia da fé cristã. Em sua carta Paulo identifica a existência de
um ensino falso, mas não o define especificamente. Contudo, na sua
argumentação Paulo fornece indícios que podem nos ajudar a entender a natureza
deste errôneo ensino colossense.
55
vertentes do gnosticismo. O outro termo que contribui para a definição desse
falso ensino é a palavra stoicheia (stoikei~~on) 2:8,20, cujo significado é de
elementos básicos de que se constitui o universo (terra, fogo, água e ar) ou saber,
como sendo a raiz de todas as coisas, vistas como imortais e divinas. Especial
ênfase é dada às partes constitutivas do ar: Sol, Lua e as Estrelas, que também são
deuses que controlam o destino do homem. Enquanto na Terra habitam seres
espirituais que influenciam os homens para o mal, que devem ser reverenciados
para manter a alma pura. Daí a necessidade de se Ter um culto com práticas
ascéticas para se conseguir viver no “céu.” Cultos este que possuíam um
calendário anual de festividades.
(2) Tais práticas (abstinência alimentar, celibato,
dias sagrados, adoração aos anjos) encontram paralelos na religiosidade de
Qunram, que pode também estar sendo incluída aqui.
(3) Não se pode, entretanto, atribuir estas práticas
às leis mosaicas, pois em todo texto não há nenhuma referência à palavra Lei. E
os eruditos em geral quase concordemente declaram se tratar de práticas ou
gnósticas, ou da religiosidade de Qunram ou dos elcasaítas, que estavam sendo
usadas para se fazer um juízo quanto à salvação ou perdição dos crentes em
Colossos. E como a prática ou não de qualquer mandamento humano ou divino
não estabelece a salvação ou perdição de qualquer pessoa necessariamente na
visão cristã da salvação, conclui-se, que apesar do esforço feito para identificar a
natureza da apostasia colossense, não é o mais relevante. O que importa saber é
que a salvação não se dá pela prática de qualquer mandamento, mas pela fé na
graça do Senhor Jesus Cristo. Portanto, ninguém pode estabelecer a salvação de
qualquer pessoa com base no seu comportamento moral, e sim na vida justa e na
morte substituinte de Cristo, recebidas pela fé (Ef 2:8-10, ver: Bacchiocchi,
Entrevista no Jornal Adventista da UNEB; e Robertson, 4:487-499; Ralph Martin,
19-33).
ed) Conteúdo Depois da saudação costumeira e
a ação de graça pela qualidade cristã dos colossenses (1:1-13), Paulo discorre
sobre a primazia de Cristo em relação à criação, à igreja e à salvação (1:15-23).
Em seguida fala de seus sofrimentos no seu ministério (1:24-2:5). Paulo adverte
seus leitores a viverem em Cristo e lhes avisa do perigo de serem escravizados por
vãs filosofias (2:6-8). Volta, então ao tema da exaltação de Cristo (2:9-15). Por
causa disso os cristãos não devem acatar regras alimentares e dias de festas
religiosas (2:16-23). Os cristãos foram ressuscitados em Cristo, e devem viver à
altura desta verdade, evitando todos os vícios e cultivando toda virtude, inclusive
no seio familiar (3:1-4:1). Termina esta seção fazendo um apelo a que os cristãos
sejam judiciosos (4:2-6). Termina sua epístola com o envio de saudações por
Tíquico e Onésimo (4:7-18).
f3 ) Esboço Colossenses
I - Introdução - 1:1-13
A Saudação 1:1-2
B Gratidão de Paulo - 1:3-8
C Oração pelo crescimento no conhecimento e nas boas
obras 1:9-11
D Gratidão pelas bênçãos de Deus 1:12-13
56
II Seção Doutrinária - 1:14-2:3
A A Primazia de Cristo 1:14-22
B Paulo, o sub-pastor de Cristo 1:23-2:3
III Seção Didática - 2:4-23
A Advertência contra o erro 2:4-8
B Cristo a solução dos problemas de doutrina 2:9-23
IV Seção Ética
A Morte para o mundo, e vida para Cristo 3:1-4
B As paixões da carne 3:5-11
C Semelhança com Cristo 3:12-17
D Deveres das relações sociais 3:18-4:1
E Instrução Geral - 4:2-6
V Conclusão 4:7-18
57
desta qualidade de vida estava nas palavras: “para mim o viver é Cristo, e o
morrer é lucro” (Fl 1:21).
58
Cristo Jesus, evitando seguir o mal exemplo daqueles que são inimigos da cruz é o
objetivo das considerações em Filipenses 3:12 a 4:1. Seguem-se então apelos
pessoais e a volta ao tema da alegria seguido de um convite ao descanso e paz em
Cristo Jesus (4:2-7). Depois ele suscita a importância de viver praticamente as
virtudes cristãs (4:8-9). Paulo, então, dirige os filipenses às razões da sua gratidão
para com eles que o tinham assistido em suas necessidades (4:10-20). Saudações
finais (4:21-23).
f) Esboço Filipenses
I Saudação 1:1-2
II Agradecimento e Oração pelos santos 1:3-11
III Paulo e suas Circunstâncias 1:12-26
IV Crentes e sua Conduta 1:27-30
V Cristo e Seu Exemplo de Humildade 2:1-18
VI O Envio de Timóteo e Epafrodito 2:19-30
VII Paulo e seu Exemplo: Maturidade 3:1-4:1
VIII Exortação e Apreciação 4:2-20
IX Conclusão 4:21-23
59
conversão de Onésimo pelo ministério de Paulo em Roma (Fm 10) o levou a Ter
sentimento de culpa por Ter enganado seu dono. Tal situação fez com que ele
procurasse Paulo para conversar sobre o assunto que o preocupava. Desta
possível conversa teria surgido a carta de Paulo a Filemon. Depois de mencionar
a conversão de Onésimo, Paulo passa a falar de sua utilidade a ponto de chamá-lo
de filho (Fm 10-11, 13). O apóstolo resolve enviá-lo de volta a Filemon, no
desejo de recebê-lo de volta para cuidar dele próprio neste período da prisão.
Paulo, entretanto, espera que Onésimo seja recebido não como escravo, mas como
irmão caríssimo na carne e no Senhor (Fm 16). Em seguida Paulo se propõe
pagar qualquer dano causado por Onésimo, lembrando a Filemon que ele devia a
Paulo a si próprio (Fm 19). Paulo aqui faz uma referência indireta à lei romana a
que estava obrigada qualquer pessoa que desse asilo a um escravo fugitivo. A
multa era que o proprietário tinha direito de exigir compensação correspondente
ao número de dias passados na casa do que lhe deu asilo. Esta possivelmente é a
dívida a que Paulo faz referência.
e) Esboço EFÉSIOSFilemon
I Saudação 1:3
60
questionamentos relacionados ao vocabulário desta epístola não são procedentes.
O tema da epístola, o seu vocabulário e o estilo são sem dúvida paulinos. “Se
Colossenses é paulino, há pouco ou nada a ser dito contra a autoria paulina desta
epístola.” A. T. Robertson, 4:514. Confirmam sua autoria versículos da própria
carta: 1:1 a 3:1. Além disso os detalhes que Paulo dá de sua pessoa se tornam
prova de que ele é o autor. Paulo diz que ouviu acerca da fé e do amor de seus
destinatários (1:15), suplica oração dos seus leitores, mostrando haver uma certa
intimidade entre eles e Paulo (6:19-20). Ele se identifica como “prisioneiro de
Cristo” (3:1; 4:1). O estilo, vocabulário e estrutura da carta revelam também que
o autor é Paulo. As semelhanças com Colossenses é outra evidência da autoria
paulina, senão como explicar que autores diferentes escreveram cartas tão
semelhantes? Há uma abordagem temática muito semelhante entre elas:
justificação pela fé no linguajar paulino; o papel da graça, o domínio da carne
sobre os perdidos, a obra de Cristo como reconciliação, o papel dos judeus e da
lei.
As epístolas de Colossenses e Efésios foram enviadas no mesmo
tempo, mas Colossenses foi composta primeiro. Efésios e Colossenses mantêm
entre si uma relação mais íntima do que Romanos e Gálatas possuem.
a) “Os mais antigos documentos (Aleph e B) não trazem
as palavras en Ephesoi em 1:1, inserido mais tardiamente. Orígenes não as teve
em sua cópia. Marcião chama esta carta de Epístola aos Laodicenses (Cl 4:16).
Após Ter escrito a Epístola aos Colossenses, Paulo ditou a carta que tem sido
chamada de Epístola aos Efésios como uma carta universal e circular para as
igrejas da Ásia (Província Romana). Para Marcião a cópia destinada à Laodicéia
lhe era familiar. No IV século é mencionado a existência de alguns manuscritos
sem o nome dos destinatários. Contudo a maioria dos manuscritos foi copiada de
um manuscrito procedente de Éfeso, chamado de Epístola aos Efésios. O aspecto
geral desta carta é comprovado pela ausência de nome dos destinatários.” (A. T.
Robertson, 4:514).
(1) A data mais provável desta carta seria o ano
63 AD. O lugar em que esta carta foi escrita é Roma, como já foi mencionado
acima. As teorias da Ásia e Cesaréia já foram também discutidas.
b) A mesma heresia gnóstica encontrada em Colossenses
está presente nesta epístola. Em Colossenses a ênfase é posta na Dignidade de
Cristo como o Cabeça da Igreja, enquanto em Éfeso é ressaltada a Dignidade da
Igreja como o Corpo de Cristo, que é o Cabeça. Em Colossenses Paulo tem uma
ênfase cristológica e depois eclesiológica, e em Efesios a ênfase é primeiramente
eclesiológica e depois cristológica. Nos capítulos 1 a 3 de Efésios Paulo está
escrevendo o seu mais profundo e complexo tema.
61
templo à Diana, o Fórum. Era a sede do culto à Diana, e tornou-se o centro de um
rito moralmente promíscuo: o culto da fertilidade. O templo à Diana foi
construído em 480 AC. Foi destruído em 356 AC. Foi reconstruído
posteriormente tornando-se uma das sete maravilhas do mundo antigo.
(1) Paulo é o fundador desta igreja conforme o
relato de Atos 19.
d) Conteúdo o Evangelho é analisado sob o prisma
eclesiológico e cósmico. O capítulo 1, depois da saudação inicial, Paulo louva a
Deus, o Pai, como bendito por ser Pai de Jesus Cristo, em quem está a
predestinação da redenção, a remissão dos nossos pecados, fora do homem e fora
da Terra, antes dos homens e antes da Terra: “nas regiões celestiais em Cristo,
assim nos escolheu antes da fundação da Terra.” No Pai está também a revelação
do mistério, que em Cristo convergem todas as coisas do céu e da terra. Cristo é o
centro do universo, pois para Ele devem fluir todo louvor, porque fomos selados
pelo Espírito Santo, os que ouvimos e cremos no evangelho da salvação, que é a
garantia da salvação até o dia do resgate final. Paulo em seguida diz que não
cessa de louvar a Deus porque os membros da igreja em Éfeso depositaram sua fé
em Jesus Cristo. O objetivo deste louvor é que Paulo quer que eles sejam
iluminados para perceberem a grandeza da salvação.
(1) No capítulo 2, Paulo mostra como pessoas
mortas em seus pecados podem ser ressuscitadas para vida da salvação: “pela
graça sois salvos, mediante a fé.” Isto exclui toda jactância, porque exclui as
obras como fonte da justificação: “não de obras para que ninguém se glorie.”
Contudo a salvação inclui as obras como finalidade: “criados em Cristo Jesus para
as boas obras.” Logo em seguida e tendo como base esta salvação Paulo fala da
unidade que deve haver entre judeus e gentios como membros do mesmo corpo, a
igreja, cujo cabeça é Cristo e cuja edificação está posta sobre apóstolos e profetas,
sendo Cristo a “pedra angular.”
(2) No capítulo 3, Paulo trata de um novo
mistério, tendo por base a salvação é que os gentios são “co-herdeiros, membros
do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus através do
evangelho.” A finalidade desta revelação é para que pela Igreja esta verdade se
torne conhecida na Terra e no Céu. A seguir Paulo ora mais uma vez para que a
Igreja seja fortalecida no seu interior pelo Espírito Santo, pela habitação interior
de Cristo pela fé. E desta forma fundamentados no amor, os homens possam
entender o amor que está em Cristo, com a finalidade de serem receptáculos de
“toda a plenitude de Deus.” O verso 21 deste capítulo põe fim esta primeira parte
da carta, a parte teológica, que se divide no Amém final da oração de Paulo.
(3) Os capítulos 4 a 6 formam a parte ética da
epístola “andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados: santidade do
ministério e os dons espirituais (unidade, cooperação e diversidade); a santidade
da vida; a santidade do lar e os padrões do seu relacionamento. Em seguida,
Paulo fala do segredo da vitória do cristão; a armadura de Deus, deixando claro
que a vida cristã envolve uma luta espiritual. Segue-se então a bênção final,
versos 23-24.
62
XII EPÍSTOLAS GERAIS
63
1.2.2.3 Outra evidência é a nomenclatura de sinagoga
para referir-se ao local de reunião dos primeiros cristãos. Nomenclatura logo
abandonada pelo termo assembléia.
2.1 Das últimas sete epístolas do Novo Testamento, duas advertem aqueles que
desprezam a autoridade do Senhor e de Sua Palavra, tais pessoas enfrentarão o
Juízo de Deus que virá sobre eles (2Pedro e Judas).
2.2 As três cartas de João foram escritas contra as ameaças da heterodoxia
gnóstica.
2.3 Por sua vez Tiago e 1Pedro falam sobre o sofrimento a que estão submetidos
os cristãos em seu contexto histórico.
64
3 Manuscritos das Epístolas Universais
1 TIAGO
A Epístola de Tiago é um dos livros que tem tido dificuldadfoi um livro que
encontrou dificuldadese para ser incorporado ao Cânon do Novo Testamento.
Mesmo depois de Ter sido considerada como parte da Escritura, ela é mencionada
com certa reserva. Até o século XVI, Lutero se pudesse teria retirado a carta de
Tiago do Novo Testamento.
65
de dúvida pois em seu livro De Viris Illustribus Jerônimo disse: “Tiago, que é
chamado irmão do Senhor. . . escreveu somente uma epístola, que é uma das sete
epístolas católicas, e que segundo, dizem alguns, foi publicada por outra pessoa
sob o nome de Tiago.” Como teria sido dissipada a dúvida da canonicidade da
carta de Tiago? Foi só com a influência da autoridade de Agostinho que Tiago foi
incluído no Cânon.
1.2 Igreja Cristã Oriental A versão peshita (Síria) do Novo Testamento inclui a
epístola de Tiago entre os canônicos ao redor de 412 AD. Ainda assim Paulo de
Nisibis questionava sua inclusão no cânon ao redor de 549 AD. Finalmente só no
século VIII pela influência da autoridade de João Damasco é que Tiago foi aceito
como canônico da Igreja Cristã Oriental.
1.3 A Igreja Cristã Grega Esta ffoi mais rápida em aceitar Tiago como livro do
Novo Testamento. O primeiro escritor que cita a epístola de Tiago pelo seu nome
é Orígenes, erudito da escola de Alexandria. Ele declara que “se fé é chamada de
fé, mas existe fora das obras, tal fé é morta, como lemos na carta que geralmente
se atribui a Tiago.” Apesar disso Eusébio de Cesaréia, que estudou o cânon do
Novo Testamento, classificou Tiago entre os livros que são discutidos.” Ele
declara que “a primeira das epístolas chamadas católicas se diz que é sua (de
Tiago), mas deve se notar que alguns a consideram espúria, e certamente é
verdade que são muitos poucos escritores que a mencionam.”
66
2 A Identidade de Tiago O autor desta epístola refere-se a si mesmo como
sendo “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.” (Tg 1:1). Quem é este
Tiago? No Novo Testamento há pelo menos cinco pessoas com este nome.
2.1 Tiago que era pai de um dos doze chamado Judas, não o Iscariotes (LC
6:16). Não há maiores informações sobre a pessoa dele, e não parece Ter
nenhuma relação com esta carta.
2.2 Tiago, filho de Alfeu, que era também um dos doze (Mt 10:3; Mr 3:18; Lc
6:15; At 1:13). Uma comparação entre Mateus 9:9 com Marcos 2:14 faz evidente
que Mateus e Levi eram a mesma pessoa. Levi era também filho de Alfeu, segue-
se daí que Mateus e Tiago eram irmãos. Porém deste Tiago nada se sabe a seu
respeito, e não há possibilidade dele Ter alguma relação com esta carta.
2.3 O terceiro Tiago é conhecido como Tiago, o menor (Mr 15:40; Mt 27:56; Jo
19:25). Nada se sabe também deste Tiago e, como os anteriores, não teve
nenhuma relação com a Carta de Tiago.
2.4 O quarto é Tiago, irmão de João de filho de Zebedeu, que também era um
dos doze (Mt 10:2; Mr 3:17; Lc 6:14; At 1:13). No relato do evangelho, ele nunca
aparece independentemente de seu irmão João. Este Tiago foi o primeiro do
grupo apostólicos a ser submetido ao martírio, tendo sido decapitado por ordem
de Herodes Agripa I no ano 44 AD. Este Tiago esteve relacionado com a epístola
de Tiago. O Codex Corbeiensis, códice latino do século IV AD, atribui no final da
epístola sua autoria a Tiago, filho de Zebedeu.
2.4.1 O único lugar onde esta declaração foi levada a sério foi
na Espanha. Isto se deve ao fato que Tiago de Compostela, patrono da nação, foi
identificado com Tiago, filho de Zebedeu. Contudo seu martírio ocorreu
demasiadamente cedo para poder ser considerado o autor dessa epístola.
2.5 Finalmente aparece Tiago, o que era irmão de Jesus. A primeira relação
deste personagem só vai aparecer com Orígenes, na primeira metade do século III.
É a este personagem que comumente é atribuída a carta de Tiago. É a ele que
também no Concílio de Trento em 1546, a Igreja Católica atribui a autoria desta
carta.
2.5.1 Ele era um dos irmãos de Jesus (Mr 6:3). Ele se torna
um líder da Igreja Cristã em Jerusalém, que por suas características era de
tendência judaizante, como bem deixa perceber o livro de Atos, principalmente no
episódio da conversão da casa de Cornélio. É ele quem preside o Concílio de
Jerusalém e exerce uma liderança natural na Igreja (At 2:17; At 15; At 21:18-25;
Gl 1:19; 2:9). Há uma evidente simpatia de Tiago pelos judeus que ainda
observavam as leis judaicas e um cuidadoso escrúpulo em resguardar esta lei, a
ponto de sugerir que Paulo cumpra uma lei do Nazireado, de cuja atitude Ellen G.
White faz o seguinte comentário: “Mas o conselho agora dado não estava em
harmonia com aquela decisão (Concílio de Jerusalém). O Espírito de Deus não
ratificou esta instrução; foi ela fruto da covardia. . . Muitos dos judeus que
haviam aceito o evangelho acariciavam ainda certa deferência pela lei cerimonial,
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e estavam demasiado dispostos a fazer desavisadas concessões, esperando assim
ganhar a confiança de seus concidadãos, remover os preconceitos e ganhá-los para
a fé em Cristo como o Redentor do mundo.” AA, 404, 405.
3.1 O uso do termo teleio tem sido a palavra do princípio organizador desta
epístola. Das dezenove (19) vezes que ela ocorre no Novo Testamento, cinco (5)
estão presente nesta carta (1:4; 1:17; 1:25; 3:2); mais telein em 2:8 e teleioun
em 2:22.
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somente no âmbito da provação ou tentação. Este ensinamento deve sempre ser
relacionado com a declaração de Tiago 1:16-18: “Não vos enganeis, meus amados
irmãos. Toda boa dádiva e todo Dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Pois, segundo
o seu querer, ele nos gerou pela Palavra da verdade, para que fôssemos como que
“primícias das suas criaturas.”
4.1 Há um elemento ativo na fé que aspira o alvo, por isso ela tem um sentido
mais amplo do que apenas simplesmente uma crença. Sofrimentos têm que
sobrevir aos cristãos para submeter sua fé à provações, isto deve resultar em fé
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que persiste em crer até o fim, tal fé seguramente poderá aguardar a libertação
prometida.
4.2 Fé em Cristo é vista em um relacionamento social, no qual todos são iguais
diante de Deus (2:1). Por isso ela não é distribuída com base na aparência
exterior. Os que são materialmente pobres podem ser vistos como espiritualmente
ricos. Assim os pobres não devem ser tratados com menosprezo, mas receber um
tratamento igualitário. Fé verdadeira é aquela que se expressa por obras de
compaixão.
4.3 Fé verdadeira é aquela que tem um compromisso moral. Só este tipo de fé
em Cristo pode justificar o pecador. Tiago está falando a um auditório que
desejava uma fé sem compromisso, fé sem obediência, tal fé não pode salvar a
ninguém, simplesmente porque é fé falsa. A fé salvadora é aquela que como
conseqüência da justificação opera por amor.
5. Oração e fé Em um período de perseguição e provação o crente precisa
viver a primazia da vida de oração. A oração é a firme aliança de uma pessoa que
tem confiança implícita e indivisível em Deus (1:5,6). Os sofrimentos e as
enfermidades físicas e espirituais só são vencidas pela oração que confia, não há
lugar, aqui, para o coração dividido (5:14, 5; cf. 4:4, 7).
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1 PEDRO
1.1 Esta epístola está escrita como fruto do amor do pastor que deseja ajudar a
seu povo que atravessa momentos de complexas crises, que piorarão no futuro
próximo. Sua intenção primária é fortalecer seus leitores para que se mantenham
firmes ao lado do evangelho. É uma carta de ânimo e conforto para os que estão
sendo perseguidos, vivendo momentos de extremo sofrimento.
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1.4 Conteúdo Os conceitos básicos da teologia do Novo Testamento foram
chamados de kerigma. As idéias básicas que a Igreja Cristã Primitiva proclamou,
que estão presentes em Pedro, são:
1.6 “Pedro dá bastante ênfase aos sofrimentos de Cristo. Ele emprega 12 vezes
o verbo pascw, ao passo que o mesmo é encontrado apenas outras 11 vezes em
todo o restante das epístolas do Novo Testamento. . . Pedro não deixa nenhuma
dúvida de que foi por meio daquilo que Cristo sofreu que ele trouxe salvação aos
pecadores. Ele não perde tempo para chegar a essa idéia, referindo-se no
versículo 2 à aspersão do sangue de Jesus. A palavra “sangue” em si poderia ser
entendida como uma mera referência a uma morte violenta, mas a aspersão de
sangue ocorria nos sacrifícios levíticos. Pedro está dizendo que Cristo foi um
sacrifício por seu povo.
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1.6.1 Pode-se falar dessa morte como redenção (1:18-19) e há
menção específica ao preço do resgate, negando-se que tenha sido por prata ou
ouro. A referência de Cristo como escolhido por Deus antes da criação do mundo
(1:19-20), está dizendo que a morte de Cristo fazia parte do eterno propósito
divino.”1
2 O problema teológico de 1Pedro 1Pe 3:8-22: “pregou aos espíritos em
prisão.” O PROBLEMA Esta passagem tem sido usada para provar a existência
de vida consciente após a morte, a comunicação com os mortos e a imortalidade
da alma. A argumentação é que Cristo depois de morto teria ido às pessoas
mortas, que estavam espiritualmente presas, e, então, lhes havia pregado o
evangelho e as havia libertado. Com esta argumentação, pretende-se provar a
vida consciente após a morte, e além disso a possibilidade de uma segunda
oportunidade para a salvação daqueles que morreram perdidos.
2.1 Comentário do verso 18 Ler o texto todo 1Pe 3:8-22 “Pelo Espírito.”
Evidência textual aceita tanto “no espírito” como “para com o espírito.” A
tradução “pelo Espírito” não tem apoio nos manuscritos antigos. A construção
paralela “no espírito” e “na carne” parecem ser contrárias a idéia que o Espírito
Santo é aqui referido. A consistência do texto parece requerer que não seja aceita
a tradução simultânea “na carne” ou “pela carne,” e “no espírito.” No Novo
Testamento quando as expressões “na carne” e “no espírito” ou seus equivalentes
são usadas para Cristo, elas referem-se à existência terrena de Cristo como um ser
humano e “espírito” a sua existência como ser divino após a ressurreição. Assim,
após a ressurreição, ele se torna um ser essencialmente espiritual. (Jo 4:24; cf.
1Tm 3:16; Rm 1:3; 1Pe 4:6; Rm 14:9; 2Co 13:4; Ef 2:1-6).
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2.1.1.3 “Pelo qual” refere-se ao termo “espírito,” que é
uma referência a Cristo em Seu estado de preexistência, estado em que Ele viveu
também após sua ressurreição (JO 4:24). A pregação de Cristo foi dirigida aos
antediluvianos, enquanto a arca estava sendo construída, logo isto só poderia ser
feito, enquanto Ele vivia em Sua natureza divina na situação de Sua preexistência
(Hb 9:14). Tais possibilidades obrigam a uma pergunta conseqüente: Se assim foi
por que Cristo pregou unicamente a este grupo? O que se deve dizer, entretanto,
que é impossível salvação àqueles que rejeitam a Cristo nesta vida, pois não há
uma segunda oportunidade (Hb 4:7; cf. Sl 95:7, 8). Apenas tendo-se a doutrina da
imortalidade condicional da alma, o estado de inconsciência dos mortos e a
unidade do ser humano é que se pode entender corretamente esta passagem.
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