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2. Pedro da Maia é o retrato de um sentimental. Muito do desinteresse e apatia que
revela pelo que o rodeia, advém-lhe deste traço de carácter herdado dos Runa e
estimulado pela forma como foi educado. Exageradamente protegido pela mãe, criado
num ambiente de saudosismo e beatério, aprendendo conceitos que não entendia e
portanto só o enfadavam, sem contacto com outras crianças ou mesmo com o mundo
exterior, Pedro não teve oportunidade de se confrontar com outras formas de vida,
outras maneiras de estar e não desenvolveu a capacidade de escolher, de decidir, de se
impor. A excessiva ligação à mãe preenchia-lhe a vida. Não é de estranhar, portanto, a
reacção exagerada que teve à sua morte e a alternância súbita e injustificada de
comportamentos que teve na sequência dessa perda. Um sentimental numa busca
infrutífera de encontrar um sentido para a vida.
Encontrou-o subitamente numa desconhecida. E não é por acaso que um
indivíduo que nunca impôs a sua vontade, que sempre teve comportamentos
indiciadores de fraqueza, de moleza de carácter enfrentou com firmeza a maledicência
social e sobretudo a rejeição do pai. O amor sobrepunha-se a tudo. Por amor aceitou
com passividade os caprichos da mulher, nomeadamente as recepções que lhe
desagravam, ou a corte que os homens lhe faziam e o deixavam enciumado.
O suicídio surge como a consequência natural do “falhanço” no campo sentimental.
Abandonado, traído pela mulher que amava, Pedro não encontra sentido para a vida.
A construção desta personagem parece obedecer a uma tese, em conformidade com
os cânones naturalistas: os traços de carácter herdados, a educação que, em vez de
contrariar esses traços, os exacerbou, e o meio foram a causa da autodestruição de
Pedro da Maia.