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Maria José de Azevedo Araujo

Sônia Maria de Azevedo Viana

Ensino e pesquisa -
organização de projetos
Jouberto Uchôa de Mendonça
Reitor

Amélia Maria Cerqueira Uchôa


Vice-Reitora

Jouberto Uchôa de Mendonça Junior


Pró-Reitoria Administrativa - PROAD

Ihanmarck Damasceno dos Santos


Pró-Reitoria Acadêmica - PROAC

Domingos Sávio Alcântara Machado


Pró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR

Temisson José dos Santos


Pró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduação
e Pesquisa - PAPGP

Gilton Kennedy Sousa Fraga


Pró-Reitoria Adjunta de Assuntos
Comunitários e Extensão - PAACE

Jane Luci Ornelas Freire


Gerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead

Andrea Karla Ferreira Nunes


Coordenadora Pedagógica de Projetos - Nead

Lucas Cerqueira do Vale


Coordenador de Tecnologias Educacionais - Nead

Equipe de Elaboração e
Produção de Conteúdos Midiáticos:
Alexandre Meneses Chagas - Supervisor
Ancéjo Santana Resende - Corretor
Andira Maltas dos Santos – Diagramadora
Claudivan da Silva Santana - Diagramador
Edilberto Marcelino da Gama Neto – Diagramador
Edivan Santos Guimarães - Diagramador
Fábio de Rezende Cardoso - Webdesigner
Geová da Silva Borges Junior - Ilustrador
Márcia Maria da Silva Santos - Corretora
Marina Santana Menezes - Webdesigner
Matheus Oliveira dos Santos - Ilustrador
Monique Lara Farias Alves - Webdesigner
Pedro Antonio Dantas P. Nou - Webdesigner
Rebecca Wanderley N. Agra Silva - Designer
Rodrigo Otávio Sales Pereira Guedes - Webdesigner
Rodrigo Sangiovanni Lima - Assessor
Walmir Oliveira Santos Júnior - Ilustrador
A663e Araujo, Maria José de Azevedo
Redação: Ensino e pesquisa: organização de
Núcleo de Educação a Distância - Nead
Av. Murilo Dantas, 300 - Farolândia
projetos / Maria José de Azevedo Araujo,
Prédio da Reitoria - Sala 40 Sônia Maria de Azevedo Viana. –
CEP: 49.032-490 - Aracaju / SE Aracaju: UNIT, 2011.
Tel.: (79) 3218-2186 176 p.: il. : 22 cm.
E-mail: infonead@unit.br
Site: www.ead.unit.br Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7833-117-7
Impressão:
Gráfica Gutemberg
Telefone: (79) 3218-2154 1. Projeto de pesquisa. I. Universidade Ti-
E-mail: grafica@unit.br radentes – Educação a Distância II. Titulo.
Site: www.unit.br
CDU: 001.891:303.44
Banco de Imagens:
Shutterstock Copyright © Sociedade de Educação Tiradentes
Apresentação
Prezado(a) estudante,

A modernidade anda cada vez mais atrelada ao


tempo, e a educação não pode ficar para trás. Prova
disso são as nossas disciplinas on-line, que possibi-
litam a você estudar com o maior conforto e comodi-
dade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.

Por meio do nosso programa de disciplinas


on-line você pode ter acesso ao conhecimento de
forma rápida, prática e eficiente, como deve ser a sua
forma de comunicação e interação com o mundo na
modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace,
vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.

Mesmo com tantas opções, a Universidade Tiradentes


optou por criar a coleção de livros Série Bibliográfica Unit
como mais uma opção de acesso ao conhecimento. Escrita
por nossos professores, a obra contém todo o conteúdo
da disciplina que você está cursando na modalidade EAD
e representa, sobretudo, a nossa preocupação em garantir
o seu acesso ao conhecimento, onde quer que você esteja.


o, Desejo a você bom aprendizado e muito sucesso!

Professor Jouberto Uchôa de Mendonça


Reitor da Universidade Tiradentes

Ti-

44
Sumário

Parte 1: Ciência e produção do


conhecimento no contexto social e histórico. . . . . 11

Tema 1: O Conhecimento Científico:


Da Origem à Contemporaneidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.1 Ciência e método: concepções e
perspectiva social e histórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.2 Ciências humanas: quadro de referências e
paradigmas científicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3 Relevância do conhecimento na escola e na sociedade. . . . . 33
1.4 O conhecimento como forma de compreensão,
intervenção e transformação da realidade. . . . . . . . . . . . . . . . 41

Tema 2: Elementos da pesquisa científica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53


2.1 Importância da pesquisa científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.2 Pesquisa científica: tipologia e
procedimentos metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Indicação de Leitura Complementar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Para Refletir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.3 Técnicas de estudo como forma de
pesquisa e aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.4 A pesquisa como mediação para
construção da autonomia acadêmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Parte 2: Caminhos da pesquisa para
produção do conhecimento científico. . . . . . . . . . . 91

Tema 3: A construção do projeto científico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93


3.1 O projeto científico: elementos e
etapas da sua elaboração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.2 Instrumentos e técnicas da pesquisa
de campo - coleta e análise de dados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
3.3 Formas de comunicação e meios de
socialização da pesquisa científica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.4 Formatação técnica do trabalho científico. . . . . . . . . . . . 121

Tema 4: Perspectiva histórica e fundamentos da


pedagogia de projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.1 O projeto de ensino: metodologia e
aspectos operacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
4.2 Projeto de aprendizagem – uma nova cultura escolar: a
pesquisa na escola como prática escolar . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.3 O processo de investigação: planejamento e ação . . . . . 150
4.4 O papel do professor como pesquisador em ação. . . . . . 159

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Concepção da Disciplina

Ementa

O conhecimento científico: da origem à contempo-


raneidade: Ciência e método: concepções e perspectiva
social e histórica; Ciências humanas: quadro de refe-
rências e paradigmas científicos; relevância do conheci-
mento na escola e na sociedade; O conhecimento como
forma de compreensão, intervenção e transformação da
realidade. Elementos da pesquisa científica: importância
da pesquisa científica; Pesquisa científica: tipologia e
procedimentos metodológicos; Técnicas de estudo como
forma de pesquisa e aprendizagem; A pesquisa como
mediação para construção da autonomia acadêmica.
A construção do projeto científico: O projeto científico:
elementos e etapas da sua elaboração; Instrumentos e
técnicas da pesquisa de campo - Coleta e análise de
dados; Formas de Comunicação e meios de socialização
da pesquisa científica; Formatação técnica do trabalho
científico; Perspectiva histórica e fundamentos da peda-
gogia de projetos: O projeto de ensino: metodologia e
aspectos operacionais; Projeto de aprendizagem: Uma
nova cultura escolar – pesquisa na escola como prática
escolar; Projeto de aprendizagem: Uma nova cultura es-
colar – pesquisa na escola como prática escolar; O papel
do professor como pesquisador em ação.

Objetivos

Geral

Proporcionar aos acadêmicos do Curso de Gra-


duação em Pedagogia/EAD condições para iniciar
a produção do conhecimento científico sob a forma
didático-pedagógica, considerando os estudos realiza-
dos, bem como as experiências individuais que per-
mitam a construção de saberes contextualizados no
âmbito das transformações possíveis e necessárias
para responder às demandas da escola no século XXI.

Específicos

Orientar a produção de conhecimento científico


de forma teórico-prática, alicerçado em argumentos
coerentes, configuradas num projeto de pesquisa que
problematize a realidade escolar contextualmente si-
tuada;
Reconhecer as etapas e elementos norteadores
da construção e desenvolvimento de um projeto de
pesquisa científica articulado às questões polêmicas
e atuais que envolvem a escola e suas relações com
a sociedade.
Proporcionar estudos relativos à ciência e suas
formas de construção do conhecimento, bem como as
metodologias e procedimentos técnicos para realiza-
ção de pesquisas na área da educação.

Orientação para Estudo

A disciplina propõe orientá-lo em seus procedi-


mentos de estudo e na produção de trabalhos científi-
cos, possibilitando que você desenvolva em seus traba-
lhos pesquisas, o rigor metodológico e o espírito crítico
necessários ao estudo.

Tendo em vista que a experiência de estudar a


distância é algo novo, é importante que você observe
algumas orientações:
• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um
horário regular para acessar todo o conteúdo
da sua disciplina disponível neste material
impresso e no Ambiente Virtual de Aprendi-
zagem (AVA). Organize-se de tal forma para
que você possa dedicar tempo suficiente
para leitura e reflexão;
• Esforce-se para alcançar os objetivos pro-
postos na disciplina;
• Utilize-se dos recursos técnicos e humanos
que estão ao seu dispor para buscar escla-
recimentos e para aprofundar as suas
reflexões. Estamos nos referindo ao contato
permanente com o professor e com os cole-
gas a partir dos fóruns, chats e encontros
presenciais, além dos recursos disponíveis
no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA.

Para que sua trajetória no curso ocorra de forma


tranquila, você deve realizar as atividades propostas
e estar sempre em contato com o professor, além de
acessar o AVA.
Para se estudar num curso a distância deve-se
ter a clareza de que a área da Educação a Distância
pauta-se na autonomia, responsabilidade, cooperação
e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer
uma nova postura do aluno e uma nova forma de con-
cepção de educação.
Por isso, você contará com o apoio das equipes
pedagógica e técnica envolvidas na operacionalização
do curso, além dos recursos tecnológicos que
contribuirão na mediação entre você e o professor.
CIÊNCIA E PRODUÇÃO
DO CONHECIMENTO NO
CONTEXTO SOCIAL E
HISTÓRICO

Parte 1
1
O Conhecimento Científico:
Da Origem à
Contemporaneidade

Caros alunos,

Estamos começando a apresentação de dezesseis capítulos do


livro: “Ensino e Pesquisa: Organização de Projetos”, escrito por duas
educadoras com formação acadêmica e experiência docente e na área
de gestão da educação, que as qualificam para a realização do tra-
balho em pauta, cujo objetivo é apresentar e discutir concepções e
práticas relativas aos campos: da ciência, da pesquisa e da produção
de projetos que reflitam no contexto cotidiano da escola as possibili-
dades de uma aprendizagem ativa e significativa, integrada às ques-
tões que envolvem a realidade social, cultural e histórica do homem
em seu processo de desenvolvimento.
As escolas devem repensar seus projetos pedagógicos e seu
modo de ensinar, ainda baseado na fixidez moderna e positivista de
ciência. Há uma nova realidade em evolução, que implica um novo
modelo de fazer ciência e educação, valorizando a oportunidade, a
situação e as circunstâncias em oposição às verdades prontas fora do
espaço e do tempo.
Essa nova realidade exige, também, novas formas de aprender
e fazer ciência e pesquisa. Encontramo-nos em meio a uma nova
“ecologia cognitiva”. Nesse sentido estamos aprendendo a fazer uma
nova ciência ancorada na condição humana, situada no contexto his-
tórico-social, pronta para reconhecer os limites e as possibilidades do
ser humano em seu contínuo enraizamento social e cultural.
14 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Sejam bem-vindos. Torcemos pelo seu suces-


so, pois acreditamos no seu potencial e na sua
vontade de aprender e evoluir.
Então, vamos começar?

1.1 Ciência e método: concepções e perspectiva


social e histórica

Desde que o mundo é mundo, o homem se


espanta com as maravilhas do universo e persegue
incansavelmente uma forma de responder aos eter-
nos questionamentos sobre a sua própria existên-
cia e a existência da natureza.
Na pré-história o homem sentiu-se instigado
pela necessidade de sobrevivência face às intem-
péries do seu habitat. Assim, observou a nature-
za, movido pelo desejo de proteger-se e superar
as dificuldades do meio ambiente. Sua intuição,
presente no senso comum, o levou à invenção do
fogo. Criou, a partir de então, ferramentas com os
artifícios da sua inteligência guiada pela curiosi-
dade, pelo desejo e pela necessidade. Reinventou
seu mundo, a partir da própria experiência pesso-
al. Continuou a vida legando-nos suas tradições. E
quem não gostaria de repetir a façanha de Arqui-
medes (287 - 212 a.C.), quando saiu correndo nu,
pelas ruas de Siracusa, gritando: Eureka! Eureka!
Ou seja, Achei! Achei!
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 15

Pois é! - A quem caberá o poder de definir,


de uma vez por todas, o princípio escondido sob
as dobras do tempo infinito, que fomenta e trans-
forma todas as coisas? Até parece que há uma voz
dentro de cada um de nós a imitar a Esfinge, eterna
guardiã de mistérios e segredos. E o homem, ao
longo das Eras, repete insistente e teimoso, para si
mesmo: Decifra-me ou devora-me!
Instigada a curiosidade, pode-se afirmar que
a questão do conhecimento sempre foi
uma constante preocupação no itine-
rário da evolução humana. O homem,
curioso por natureza, sempre quis
saber a verdade sobre o mundo,
sua origem, sua história, seu pro-
cesso evolutivo. É clara a preocupa-
ção humana no decorrer do tempo
histórico com a busca de uma
explicação plausível capaz de
responder às indagações
postas pelo ho-
mem face à rea-
lidade vivenciada.

Reflexões Históricas

Dessa forma nasce, por exemplo, na cidade


de Mileto, no final do século VII, a Filosofia, como
uma sabedoria que se ocupa em responder os por-
quês da existência humana. Questões que continu-
am a ser feitas até os nossos dias, embora plena de
novos e mais complexos significados: Quem somos
nós? Por que e para que nascemos? Qual a origem
do universo? Por que algumas coisas mudam e ou-
tras permanecem iguais? Qual o sentido da vida?
16 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Sabe-se, no entanto, que no início dos tem-


pos e antes da afirmação da filosofia predomina-
vam as explicações sobrenaturais baseadas na
mitologia, na genealogia divina, nas tradições fa-
miliares e principalmente nas tradições religiosas,
crenças e dogmas que se perpetuam, mas que tam-
bém se esgotam à medida que o homem adquire
uma nova compreensão do mundo fundamentada
na razão filosófica que resulta em outras formas de
explicar e conhecer a natureza e a vida, diferentes
da mitologia.
Concorriam para explicar o mundo o poder
da religião e a força do mito. Havia uma predomi-
nância da explicação sobrenatural. Não cabia ao
homem buscar dentro de si mesmo,
de forma subjetiva, as referências ne-
cessárias para esclarecer a realidade.
A religião se constituía num
conjunto de conhecimentos dogmá-
ticos, numa poderosa referência co-
letiva aceita sem questionamentos.
Isso submetia a vontade humana,
envolvida pela reverência contida no
sentimento de que era impossível co-
nhecer o mundo de outra forma. Há
um mundo sagrado, intocável, criado
por Deus, todo poderoso.

A Igreja Católica exercia a su-


premacia sobre a ciência, através da
Escolástica – ciência que explicava a
doutrina católica e impunha a todos
a sua verdade – única e inabalável.
Quem ousasse questionar as verda-
des da época sofria as consequên-
cias prescritas pela Igreja Católica,
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 17

que, dessa forma, se estabeleceu durante séculos


como um dos obstáculos ao progresso científico.
Quem discordasse das ideias postas pela Igreja es-
taria também discordando da onipotência divina e
poderia ser considerado feiticeiro, alquimista, um
conspirador capaz de violar os mistérios sagrados,
sendo, por isso, punido pela inquisição nos rituais
públicos chamados autos-de-fé.
Para exemplificar podemos citar os experi-
mentos de Nicolau Copérnico1, cuja teoria, conhe- 1 Nasceu em 14 de
fevereiro de 1473,
cida como heliocêntrica, revolucionou a sua Era, em Torun, Polônia.
ao desmentir o postulado da doutrina católica. Co- Faleceu em 24 de
maio de 1543, em
pérnico afirmou que a terra não era o centro do Frauenburg, Polônia.
universo e sim o sol. Essa afirmativa promoveu o Afirmou que a Terra
se move em torno
desmoronamento de um dogma caro do Sol, em 1543.
à Igreja Católica abalando a sua cre- Provocou uma
revolução no pensa-
dibilidade. Evidenciou, sem dúvida, mento ocidental, ao
a provisoriedade do conhecimento, tirar pela primeira
vez o homem do
preso à sua temporalidade e aos centro do Universo.
avanços que caracterizam cada nova Até então, a teoria
geocêntrica de
época. O homem passou a ser ele Ptolomeu, em
próprio um investigador da sua rea- que tudo gira em
lidade, experimenta-se como um ser volta da terra, era a
verdade que guiava
de eterna busca. Começou, então, a filosofia, a ciência
com o Movimento do renascimento e a religião.
Conforme:
um processo de desvinculação entre http://educacao.uol.
ciência e religião. Grandes descober- com.br/biografias/
ult1789u328.jhtm
tas vão acontecendo no contexto do
pensamento Renascentista desafian-
do a Igreja e contribuindo para a
evolução da ciência, fundamentada,
sobretudo, na matemática e na física,
livre de amarras religiosas.
Sobre a explicação mitológica,
pode-se começar conceituando a pa-
lavra mito, que vem do grego que
significa narrar, contar, anunciar. O
18 Ensino e pesquisa - organização de projetos

mito constitui-se num discurso narrado por alguém


em quem se confia e cuja autoridade é confiável,
fazendo com que seu anúncio seja considerado
completamente verdadeiro. O mito baseia-se na
autoridade e na confiabilidade que se tem sobre
a pessoa do narrador – um escolhido dos deuses
para receber o conhecimento, ou seja, para fazer a
2 Veja no AVA N.º 1 revelação divina2.
como o mito narra
a origem do mundo Substitui-se a explicação mitológica, fun-
e de tudo que nele damentada na intuição e percepção sensível dos
existe.
fenômenos, pela explicação lógica, baseada no
pensamento conceitual, num conjunto de idéias e
procedimentos metodologicamente ordenados, ca-
paz de esclarecer a origem e a transformação do
cosmos. Nasce então a Filosofia como cosmologia
– isto é, como uma abordagem racional que busca
esclarecer o princípio essencial que causa, ordena
e transforma todas as coisas.
3 Notável filósofo É necessário ressaltar que a filosofia da ci-
grego, Aristóteles
(384 - 322 a.C.), ência surge como um saber contemplativo sobre
nasceu em Estágira, a realidade, essencialmente teórico, especulativo,
na Macedônia. Em
Eubea, morreu aos vinculado à reflexão filosófica e desvinculado da
62 anos. experimentação concreta.
Conforme:
http://www.pucsp.
Entre os filósofos gregos, destacam-se Aris-
br/pos/cesima/ tóteles3 e Platão4 que contribuíram para uma nova
schenberg/alunos/
paulosergio/biogra-
visão do conhecimento diferente do conhecimento
fia.html vindo das divindades, magias e superstições. Eles
concebem a distinção entre o sujeito que conhece e
4 Platão foi um o objeto a ser conhecido, estabelecendo uma rela-
filósofo e matemá-
tico grego nascido ção entre causa e efeito e utilizando a matemática
em Atenas no ano como base lógica, racional para abordar os proble-
427 a.C. e faleceu
no ano 348 a.C. em mas reais e interpretá-los.
Atenas. Conforme: Cabe esclarecer que durante muitos séculos,
http://www.blog-
audiobook-ebook.
na Antiguidade e na Idade Média, não houve distin-
canoro.com.br/ ção entre a filosofia e a ciência. Assim, as descober-
index.php/featured/
filosofo-platao-
tas da época eram realizadas através do pensamen-
biografia-resumida/ to racional, sendo desvalorizada a experimentação,
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 19

uma vez que os sábios daquele tempo não valori-


zavam a experimentação, tendo em vista que este
saber (da prática) não se constituía como uma tarefa
importante e reconhecida pelos nobres. Afinal, será
possível identificar um conceito de ciência5? 5 “Não existe uma
única concepção de
A palavra ciência, deriva do latim scire que ciência. Podemos
significa conhecer e pode ser compreendida comu- dividi-la em perío-
dos históricos, cada
mente como um processo lógico, analítico e siste- um com modelo e
mático, argumentado e metodologicamente rigoro- paradigmas teóricos
diferentes a respeito
so de apreensão e compreensão do mundo. da concepção de
Nesse contexto, é somente no século XVII, mundo, de ciência e
de método”. Koche
que Galileu demonstra a importância das experi- (1997, p.44)
ências e medidas precisas para garantir o conheci-
mento exato da realidade, favorecendo a separação
entre filosofia e ciência. Experimentação e Matema-
tização fazem parte do método científico inaugura-
do por Galileu.

A ciência6 é tida como provedora de conheci- 6 Uma definição


mais abrangente de
mentos e possui um corpo sistematizado de teorias ciência, segundo
relativas a campos específicos de estudos. Tem KOCHE, a qualifica
como “um conjunto
como finalidade o estudo dos problemas postos de conhecimentos
pela humanidade, mediante a utilização da meto- racionais certos ou
prováveis, obtidos
dologia científica. Seus objetivos são: metodicamente
sistematizados e
verificáveis, que
Controle prático da natureza – agricultura, fazem referência
pecuária, medicina, educação; a objetos de uma
mesma natureza”.
Descrever, interpretar e compreender o mun- (conceito de Ander-
do, tornando-o inteligível para o homem; Egg, in: KOCHE,
Realizar previsões sobre os fenômenos da (1997, p. 22).

natureza;
Criar instrumentos, técnicas e ferramentas
para servir ao progresso e ao desenvolvimento so-
cial, aumentando o conhecimento sobre o mundo.

Ressalta-se que, embora modernamente, o


conhecimento científico seja tido como, menos su-
20 Ensino e pesquisa - organização de projetos

jeito a equívocos, portanto mais próximo possível


da verdade, por suas características de produção
e, mesmo sendo considerado o maior instrumento
de inovação de uma sociedade, ele é apenas uma
das formas aceitas para expressar e compreender
o mundo em que vivemos, não sendo possível ne-
gligenciar outras formas satisfatórias de conhecer
a realidade.
Pode-se destacar aqui, pelo menos quatro
tipos de conhecimentos: Científico, popular, filosó-
fico e religioso.
O conhecimento científico tende a se esta-
belecer sobrepujando ou descartando as outras
formas de conhecimento, justificando-se por duas
razões:
De ordem externa – pela possibilidade de res-
ponder a questões técnicas e tecnológicas postas a
serviço do desenvolvimento industrial.
De ordem interna – postas pela instituição da
comunidade científica que estabelece uma lingua-
gem comum, fundamentada em conceitos, métodos
e técnicas para compreensão do mundo, dos fenô-
menos, das coisas e das relações.
Constata-se que, mesmo sendo um conheci-
mento exemplar sob a perspectiva do método e
dos procedimentos que o orienta, o conhecimento
científico não deve se constituir de forma hegemô-
nica, em detrimento das outras formas de conhe-
cer o mundo. Se assim for, ele estará integrando
o campo do dogmatismo, constituindo-se como
um novo mito, a ser aceito sem questionamentos
e oposições. Estaremos praticando a cegueira do
conhecimento e elegendo a ciência ao patamar
divino. Uma nova deusa do conhecimento. Esta é
na verdade uma postura negativa e que deve ser
combatida, uma vez que a pluralidade estabelece-
se como um valor a ser preservado nesse nosso
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 21

século. No mundo atual questiona-se a infalibili-


dade do conhecimento. A ciência é um universo de
probabilidades e incertezas. Disso se têm notícia
todos os dias e não faltam exemplos de superação
das certezas científicas constantemente divulgadas
através da mídia ou de compêndios científicos.
Historicamente é possível distinguir três
grandes concepções que fundamentam a ciência e
norteiam o pensamento científico:

Concepção Racionalista

Abrange um período que se estende desde


os gregos até o final do século XVII.

A ciência7 é um conhecimento racional e sua 7 “o objeto cientí-


fico é uma repre-
produção está fundamentada em postulados, prin- sentação intelectual
cípios e axiomas baseados na matemática. Destaca universal, necessária
e verdadeira das
no estudo dos fenômenos da natureza a causa e o coisas representa-
efeito, apresentando enunciados racionais, objeti- das e corresponde
à própria realidade,
vos que provam a verdade universal. A concepção porque esta é racio-
racionalista é hipotético-dedutiva – isto é, parte nal e inteligível em
si mesma.” (CHAUÍ,
das leis gerais e teorias aplicadas ao objeto de
1995, p. 252).
estudo para conhecê-lo.

Concepção Empirista:
Esta abordagem se afirma desde o final do
século XVIII até o final do século XIX. A ciência tem
como pressuposto básico a observação dos fatos
e sua experimentação, processando-se através de
induções orientadas pelo uso de uma metodolo-
gia rigorosa capaz de resultar na definição clara e
objetiva dos fenômenos investigados. A concepção
empirista é hipotético-indutiva, isto é, a partir das
observações chega à definição dos fatos, à formu-
lação das leis.
22 Ensino e pesquisa - organização de projetos

8 São três as Concepção Construtivista8


características que
marcam o ideal de
cientificidade dos Tem início no século XX, integra os procedi-
construtivistas:
mentos utilizados pelas duas abordagens anteriores,
• Coerência entre e acrescenta uma terceira idéia sobre o conhecimen-
os princípios
que orientam a to, que é tido como aproximativo do real, corrigível
teoria; e provisório, e não uma cópia da realidade.
• Construção do
objeto a partir
Nesse sentido já não é mais possível o confor-
da observação to da acomodação aos saberes prontos. A cada nova
e da experi-
mentação;
descoberta, novos questionamentos são levantados,
• Resultados exigindo a continuidade das pesquisas realizadas. A
flexíveis e
abertos às
fluidez, o movimento, a não fixidez tornaram-se ele-
alterações mentos constitutivos de nossa cultura com eviden-
conforme tes reflexos sobre a organização da vida humana.
resultados
encontrados. A ciência e a pesquisa que dela resulta, de-
vem ser, pois, entendidas como parte importante
da práxis humana, condição insubstituível à sua
sobrevivência e evolução.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para melhor entendimento e aprofundamento sobre


o tema leiam os capítulos dos livros citados abaixo:

KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia


Científica: Teoria da ciência e Iniciação a pesquisa.
21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

Nesse livro o autor aborda as questões que envol-


vem a produção do conhecimento científico discu-
tindo desde a perspectiva histórica da ciência até
seu processo produtivo em termos de elaboração de
projetos e relatórios. Recomenda-se, para o que toca
de perto ao capítulo que estudamos, que o aluno
leia o tema 2 – Ciência e método: uma visão históri-
ca, para que compreenda melhor o caráter evolutivo
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 23

da ciência em seu viés de permanência dogmática,


desde a visão grega (de ciência e método), passan-
do pelo caráter cientificista da ciência moderna até a
ciência contemporânea com seus questionamentos e
abertura para demarcar um novo tempo e uma nova
forma de pensar e de fazer ciência.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Áti-


ca, 1995.

A autora inscreve-se entre os clássicos mais lidos quan-


do se aborda a filosofia da ciência, por isso recomen-
da-se a leitura da Unidade 7 – intitulada “As Ciências”
e, nesta unidade, destacando-se especialmente o que
aqui nos interessa mais de perto - o capítulo 2, que tra-
ta da ciência na História. Nesta unidade você encontra
ainda dois capítulos – o 3, “As ciências da Natureza”
e o 4, “As ciências humanas”, que poderão servir para
que se torne ainda mais clara a visão evolucionista da
ciência, seus questionamentos e desafios, consideran-
do-se a complexidade dos conhecimentos que envol-
vem essas duas áreas distintas.

PARA REFLETIR

Leiam o parágrafo abaixo e reflitam sobre o seu


conteúdo.
A ciência contemporânea é uma atividade exercida
com o intuito de fazer avançar cada vez mais o co-
nhecimento sobre diversas áreas, trazendo respostas
aos inúmeros problemas vividos pela humanidade.
Pensem sobre isso e discutam no seu grupo de
estudos.
24 Ensino e pesquisa - organização de projetos

1.2 Ciências humanas: quadro de referências e


paradigmas científicos

Neste segundo capítulo abordaremos as


questões relativas à cientificidade que contempla a
validade da ciência. Sabemos que a ciência evolui
no âmbito da objetividade matemática, valorizando
a exatidão e a medida, a prova e a verificação. A
8 Charles Robert evolução das ciências através de novas descober-
Darwin (12 de tas como, por exemplo, a que fez Charles Darwin8,
fevereiro, 1809 - 19
de abril, 1882) foi o tiram do homem o título de filho de Deus, uma vez
naturalista britânico que ele interroga e desacredita a imutabilidade das
cujo gênio levou à
fundação das bases espécies. A teoria de Darwin sugeria que a seleção
e princípios para natural, o mecanismo pelo qual procede a evolu-
a moderna teoria
da evolução. Sua
ção, se sucede de forma alheia às vontades divinas
principal obra,”A ou a um suposto design criador. As espécies têm
Origem das Espécies
“(1859), marcou
crias em número elevado demais para que todas
o início de uma possam sobreviver e os descendentes com varia-
revolução nas ciên-
cias e foi o gatilho
ções mais favoráveis à sobrevivência no ambiente
para uma profunda em que se encontram são selecionados.
revisão das concep-
Freud9 afirma que não somos donos sequer
ções filosóficas e
religiosas vigentes. da nossa própria consciência, uma vez que esta é
Darwin nasceu determinada pelo inconsciente, enraizado nas re-
em Shrewsbury,
Inglaterra. lações sociais. Enfim, são muitas as descobertas e
Conforme: http:// invenções que passam a compor um novo quadro
biociencia.org/index.
php?option=com_co de referências alterando a visão de homem e de
ntent&task=view&id mundo até então em vigor.
=271&Itemid=329

9 Nasceu em 06 NO UNIVERSO TUDO SE TRANSFORMA


de maio de 1856
na Checoslováquia.
Morreu na Inglaterra, Vimos, sob a forma de breve reflexão, no item
por eutanásia, em
23 de setembro de
anterior, que o nascimento das ciências inaugura
1939 com grande uma nova etapa no processo de conhecimento, re-
influência na cultura
do século XX.
volucionando procedimentos até então adotados
Conforme: http:// para garantir ao homem o domínio e a explicação
recantodasletras.
uol.com.br/biogra-
sobre as coisas do mundo natural. Há uma ruptura
fias/723353 substancial no momento em que o homem adere
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 25

a esse novo modo de enxergar o mundo. Pode-se


dizer que há uma quebra de paradigma. A expli-
cação divina, sobrenatural, mitológica, perde sua
credibilidade exacerbada.
Aprende-se, por exemplo, que o universo evolui
e se expande permanentemente. Tudo se transforma.
Assim também o próprio conhecimento evolui através
de diferentes formas de produzir sabedoria e discer-
nimento não somente sobre o mundo, mas também
sobre o próprio homem, que passa a ser também um
objeto de estudo das novas ciências que vão surgin-
do – especialmente a psicologia, a antropologia e a
sociologia. “Conhecer é dar um passo fundamental na
direção da liberdade de pensar, do livre exercício da
crítica, do abandono das noções mágicas ou supersti-
ciosas sobre o mundo e as pessoas. É apropriar-se do
mundo e não ser presa fácil da mentira, da ilusão e
do obscurantismo, da demagogia, da mistificação, do
sectarismo ideológico”. (MELO, 1994, p. 38).
A necessidade humana de conhecer faz a his-
tória. Novos questionamentos são postos pelo ho-
mem e não podem ser respondidos pelas teorias ra-
cionalistas que defendem no âmbito do positivismo
um conhecimento apriorístico do mundo, ou seja, é
como se o homem nascesse pronto para conhecer
a partir da sua bagagem hereditária de milhões de
anos de evolução; da mesma forma o Racionalismo
baseado na lógica do empirismo que realça a ex-
periência sensitiva. Profundamente influenciado por
Aristóteles, Tomás de Aquino10 sustenta que nada 10 Nasceu em 1225,
Roccasecca, perto
está na inteligência que não tenha estado antes nos de Nápoles (Itália) e
sentidos, razão pela qual não podemos ter de Deus, faleceu em
7 de março de
imediatamente, uma ideia clara e distinta. 1274, Convento de
Aristóteles (384 - 322 a.C.) não consegue Fossanova, Província
de Latina (Itália).
mais esclarecer de modo satisfatório as interroga- Conforme: http://
ções do espírito inquisidor do homem como pes- educacao.uol.com.
br/biografias/tomas-
quisador permanente da sua realidade. de-aquino.jhtm
26 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Para os empiristas o conhecimento está na


natureza e o homem apenas o captura através dos
seus cinco sentidos. Essas teorias explicativas das
ciências da natureza fundamentada numa ciência
que prima pela objetividade; uma ciência que se
constitui sob a capa da neutralidade, sem consi-
derar a interferência social e histórica dos aconte-
cimentos que envolvem a condição humana já não
se sustenta. Como estudar o homem em seu meio
social desconsiderando-se justamente o que de
fato o caracteriza, marca e diferencia – sua inten-
cionalidade, o significado não aparente das suas
ações, a subjetividade singular que move suas op-
11 Não há como ga- ções diante dos fatos11?
rantir a infalibilidade
dos procedimentos O nascimento das ciências humanas inaugura
científicos. Não a vontade do homem de compreender a si próprio,
há como operar a
busca do conheci- de prever e explicar suas ações para dominar o con-
mento com base texto social. Há igualmente como nas ciências da
numa perspectiva
imutável, dogmática,
natureza uma busca de respostas às necessidades
por mais que tenha concretas da sociedade, novos problemas e inquie-
se consolidado ao
longo dos séculos
tações. Como dar conta de explicar porque uma
um modelo – um criança, se deixada sozinha, não consegue emitir
paradigma de
ciência que credita
um único som inteligível, a mais simples operação
a sua confiabilidade de pensamento.
justamente aos
Também, o meio social, por mais que sinteti-
elementos que ao
serem aplicados ze anos e anos de civilização, não consegue ensi-
para o estudo das nar o mais elementar conhecimento objetivo. Ora,
ciências humanas
e sociais são de por que será que isso ocorre? Será que as ciências
fato questionáveis: dos fatos produzidos pelos homens têm o mesmo
objetividade, neutra-
lidade, descontex- estatuto de cientificidade que o das ciências que
tualização histórica, analisa os fatos da natureza? Será que o modelo, o
testagem rigorosa,
irrefutabilidade dos paradigma utilizado na abordagem positivista para
seus resultados. analisar o ambiente natural tomando como elemen-
tos fundamentais a objetividade, a neutralidade, a
experimentação, seria adequado para analisar o
homem em suas múltiplas relações e diferenças no
contexto das ciências humanas? Ou, ao contrário,
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 27

teriam estas duas ciências (naturais e humanas) ló-


gicas completamente diferentes? Será que existe di-
ferença entre esses dois tipos de ciência, do ponto
de vista do processo de investigação e construção
do conhecimento? A partir de quais referências se
pode então analisar, com segurança, a realidade
social e humana?

Em face destas reflexões, vamos então compreen-


der melhor o significado de paradigma.

De modo bastante simplificado pode-se dizer


que um paradigma, do grego, exemplar, é um mo-
delo teórico, uma referência, um padrão que orga-
niza e orienta procedimentos, indicando caminhos
e perspectivas de análise do objeto em estudo. As-
sim, a realização da pesquisa científica segue nor-
mas e procedimentos previamente determinados
no âmbito de um conjunto de teorias, princípios,
conceitos e leis que colaboram para direcionar o
pensamento do pesquisador, antecipando a visão
dos fatos em conformidade com a percepção orien-
tada pelo conjunto de ideias presentes no para-
digma12 escolhido e legitimado pela comunidade 12 O paradigma
ajuda a formar
científica. regras, normas, leis
Outro ponto importante a ressaltar para um que passam a fazer
claro entendimento da concepção de paradigma diz parte do itinerário
da pesquisa cien-
respeito justamente às mudanças radicais ocorridas tífica, tornando-se
no miolo das teorias e procedimentos tidos como parte de uma cul-
tura, uma vez que
adequados para conhecer a realidade em determina- se concretiza numa
dos períodos da história humana. Já vimos que é a rotina permeada
por um conjunto de
dinâmica das mudanças que caracterizam e marcam hábitos e costumes
a passagem do homem através das civilizações. reconhecidos pela
comunidade dos
cientistas.
Assim, a progressão do conhecimento termi-
na por atingir determinados estágios em que a or-
dem instituída e aprovada pela ciência através dos
28 Ensino e pesquisa - organização de projetos

seus paradigmas já não poderão fornecer explica-


ções aceitáveis, compatíveis com as novas neces-
sidades e questionamentos que vão surgindo nos
momentos caracterizados por uma crise na produ-
ção do conhecimento. Nesses momentos, pode-se
afirmar de forma bastante resumida, que ocorre o
que se denomina como crise de paradigma dando
origem às revoluções científicas que vão transfor-
mar o modelo de ciência até então vigente.
Para Khun e Gewandsznajder (1998), é nes-
se movimento de insatisfação-crise-evolução que a
ciência de fato progride, demonstrando que seus
enunciados científicos são realmente provisórios e
que a ciência não é dona de verdades absolutas e
irrefutáveis. Nesses momentos percebe-se mais cla-
ramente que não se pode promover o endeusamen-
to da ciência e que nenhuma teoria ou paradigma
consegue dar conta de resolver todos os problemas
da humanidade. Há sempre algo a mais que a ci-
ência, por mais que se considerem seus avanços
situados no tempo dos acontecimentos presentes,
não consegue resolver.
Assim, contraditoriamente, é no momento de
crise que a ciência avança e se fortalece, quando
as grandes correntes teóricas são questionadas;
quando se põe em dúvida as grandes referências
que guiam o pensamento científico na busca de
respostas para as necessidades humanas; quando
então, as certezas viram incertezas, a ciência tida
como certa, expõe suas dúvidas. Nesses momen-
tos, em que acontecem as “Revoluções Científicas”
conhecimentos consolidados são deixados de lado
e substituídos; como isso, também as práticas in-
vestigativas e suas metodologias sofrem modifica-
ções.
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 29

Dessas reflexões compreende-se que a ciên-


cia não progride sob a égide de continuísmos ver-
ticais, mas, sobretudo, cresce a partir das rupturas
que lhe permite novas conceituações e, portanto, o
surgimento de novos paradigmas.
Há toda uma discussão que problematiza a
forma de se entender e principalmente de se fazer
ciência que perdura até nossos dias. Pode-se afir-
mar que, se o paradigma científico aderente às ci-
ências naturais estabeleceu-se adquirindo o status
de cientificidade para o seu método, considerado
seguro e confiável; já para as ciências humanas,
essa segurança e tradição caracterizada sob o para-
digma quantitativo não se confirma no âmbito das 13 Leia no AVA o
texto “Procusto.”
ciências humanas.
Está então explicada a força do paradigma 14 Cada um
analisa a seu modo,
científico baseado nos parâmetros das ciências na- conforme suas
turais, soberano durante muitos séculos cujas ca- percepções, seu
quadro de referên-
racterísticas opõem o sujeito cognoscente ao objeto cias pré-formado.
natural a ser conhecido, e mediado por uma teoria Qualquer tipo de
observação vai
que destaca a medida e a ordem, a neutralidade e depender do nosso
a objetividade como elementos fundamentais da quadro de referên-
cia, das teorias que
pesquisa13. reconhecemos - isto
Com toda certeza é a partir das ideias pré- é, do paradigma
concebidas14 que podemos analisar as situações que adotamos
como perspectiva
que nos são apresentadas. para organizar os
procedimentos
de observação e
Ciências humanas e a pesquisa quantitativa ou qua- estudo, e ainda dos
litativa? Análise de uma dicotomia epistemológica meios e condições,
como por exemplo,
a tecnologia
Vimos que o termo paradigma integra uma disponível na época
em que estivermos
perspectiva única de abordagem, representando a observando nosso
possibilidade de se desenvolver uma ciência váli- objeto de estudo.
Fora de quadro de
da em seus termos, processos e resultados. Vimos referências – fora do
também que a perspectiva científica estabelece-se paradigma a ciência
inicialmente em oposição à visão mítica e religio- e seus procedi-
mentos válidos de
sa dos fatos. A análise da realidade através dos investigação não se
estabelecem.
30 Ensino e pesquisa - organização de projetos

processos de investigação científica ocorre sob o


paradigma que está de acordo com a concepção
de ciências naturais, cujos postulados não se adé-
quam para uma explicação válida ao estudo dos
fenômenos humanos e sociais. Os postulados do
espírito positivista das ciências naturais tomaram
como método, através da experimentação a sua
14 Já aprendemos via de acesso à compreensão da realidade. Nesses
no capítulo anterior
que a ciência postulados pode-se elencar: a estabilidade, a or-
nasce baseada dem e as relações causais no domínio da natureza.
nos princípios da
razão em oposição As ciências14 sociais e humanas concorrem
à metafísica, então com a hegemonia das pesquisas positivis-
instituindo-se sobre
a dualidade da tas que privilegiam os postulados já registrados
relação funcional de acima e propõe um desafio aos pesquisadores do
causa e efeito, que
implica na adoção
campo social, uma vez que, os mesmos parâme-
de uma metodologia tros parecem não ter se ajustado para dar conta
experimental, basea-
da na matemática.
do “controle”, da elucidação dos fenômenos que
pertencem a essa realidade. Será que o social pode
15 Fica claro
então que o estudo
ser controlado, mensurado da mesma forma, como
dos fenômenos se fosse uma “coisa”? Acredita-se que não. A asso-
humanos e sociais ciação de cientificidade à pesquisa experimental e
requeria uma nova
modalidade de quantitativa foi garantida durante muitos séculos
pesquisa, uma vez por considerar esse tipo de pesquisa mais objetiva
que a complexidade
dos fenômenos em e principalmente por entender-se que a pesquisa
questão estaria a quantitativa possibilitaria uma neutralidade do pes-
exigir metodologias
diferenciadas para quisador com relação aos procedimentos técnicos
compreensão dos frente ao objeto estudado.
objetos de estudo
na área social e Os pesquisadores das ciências humanas e
humana; uma meto- sociais percebem que o mesmo modelo utilizado
dologia voltada para
a compreensão mais nas ciências exatas (paradigma quantitativo) não
que explicação dos poderia dar conta de analisar o ambiente social,
fatos; uma interpre-
tação significativa tomando como objeto de pesquisa o homem, con-
(qualitativa) das siderando-se sua subjetividade e sua condição de
ações desenvolvidas
pelos sujeitos mais
ser sujeito. Assim, as ciências humanas desenca-
que uma análise deiam discussões pertinentes que contribuem para
estatística, quanti-
tativa das situações
o avanço dos procedimentos de pesquisa. Inicial-
investigadas. mente enfrentando as resistências dos que conser-
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 31

vam o pensamento científico sob o modelo positi-


vista, mas em fins do século XIX, com o surgimento
de novos conhecimentos em áreas que possibilitam
a estruturação das ciências humanas, especialmen-
te em meados do século XX, a psicanálise, a psico-
logia analítica, a antropologia social, a linguística
aportam concepções, procedimentos e técnicas que
caracterizam o surgimento e o avanço da metodolo-
gia qualitativa, essencial para consolidação de um
novo paradigma – o paradigma qualitativo que ga-
rante um entendimento peculiar do comportamento
do indivíduo, dos grupos sociais e instituições.
É correto ainda afirmar-se que no mundo con-
temporâneo destaca-se com mais intensidade a ci-
ência numa perspectiva epistemológica plural para
a pesquisa. Entende-se que não há um conflito pa-
radigmático impeditivo de se articular estudos qua-
litativos com aspectos que envolvem a quantidade,
uma vez que a complexidade da pesquisa nas ciên-
cias humanas especialmente na área da educação irá
requerer uma visão mais abrangente, aberta e flexí-
vel da realidade. Supera-se, então, a ideia (paradig-
ma hegemônico até o início do século XX) de que o
conhecimento expressa-se através de leis universais
como forma de legitimar as práticas investigativas.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para um aprofundamento das concepções apresen-


tadas neste segundo capítulo recomenda-se a leitura
dos capítulos que integram os livros que seguem:

MAZZOTI, Alda Judith Alves; GEWANDSZNAJDER, Fer-


nando. O método nas ciências naturais e sociais:
pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pio-
neira, 1998.
32 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Neste livro as autoras fazem uma abordagem teó-


rico-prática das questões relativas ao método nas
ciências naturais e sociais e, especialmente, no ca-
pítulo 2 “Ciência Natural: os pressupostos filosó-
ficos” – no item 3 – “A filosofia de Thomas Khun”
elas desenvolvem um texto que reflete sobre os
questionamentos que traduzem a visão dos para-
digmas em sua concepção e importância para ga-
rantir a evolução da ciência nos momentos de crise,
que geram dúvida e inquietação.

SANTOS FILHO, José Camilo dos; GAMBOA, Sílio


Sanchez. Pesquisa educacional: quantidade-quali-
dade. São Paulo, Cortez, 1997.

A leitura deste autor promoverá um maior esclare-


cimento sobre a relação entre a ciência tradicional,
fundada numa perspectiva positivista do método
quantitativo e as ciências humanas que se desen-
volvem e consolidam a partir de meados do século
XX, denominada qualitativa. De forma inteligente
o autor discorre sobre as duas abordagens sem a
disjunção que comumente se faz, entre uma e ou-
tra. Ao contrário ele premia uma discussão integra-
tiva que poderá auxiliar o aluno-pesquisador em
seu planejamento para analisar situações pertinen-
tes ao cotidiano escolar e social utilizando-se com
propriedade das duas abordagens justificando-as
plenamente. Recomenda-se especialmente a leitu-
ra do capítulo 3 intitulado “quantidade-qualidade”
que extrapola o dualismo simplista entre as duas
abordagens.
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 33

PARA REFLETIR

Reflita e debata no seu grupo de estudos sobre os


conceitos que tem aprendido. Eles são repassados
como se fossem verdades prontas e incontestáveis
ou há uma relação aberta entre professor-aluno-
conhecimento de modo a permitir questionamentos
e novos modos de se compreender e aplicar as te-
orias estudadas como conceitos flexíveis e abertos
às inovações e mudanças?

1.3 Relevância do conhecimento na escola e na


sociedade

Vamos dar início a mais um capítulo refle-


tindo sobre a função da escola e o seu papel so-
cial e político no contexto de uma nova sociedade,
denominada como sociedade da informação e do
conhecimento.
Modernamente a escola afirma-se como opor-
tunidade única para garantir progresso e o desen-
volvimento social, oportunizando a todos que a ela
tem acesso, o domínio de novos conhecimentos,
descobertas e inovações.
À educação básica compete socializar co-
nhecimentos, orientar procedimentos e construir
atitudes que valorizem o potencial humano para
assegurar melhoria da qualidade de vida pela com-
preensão crítica das questões que envolvem a nos-
sa época, bem como de suas perspectivas de so-
lução.
34 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Escola Como Instância Promotora De Conhecimento

É possível afirmar que a função social da es-


cola define-se na possibilidade de organizar e per-
mitir a apreensão unitária de conhecimentos neces-
16 Cabe à escola sários para esclarecer cientificamente a realidade16
fornecer de modo
sistemático, em suas múltiplas e complexas dimensões. Dessa
sequencial e orde- forma, a realidade pode ser compreendida como re-
nado os elementos
que promovam a sultado de um processo de construção que ocorre
superação do senso na inter-relação que os homens coletivamente esta-
comum para que o
aluno alcance uma belecem entre si e com a natureza, considerando a
consciência crítica, trajetória histórica que a humanidade foi capaz de
atualizada pelos
conhecimentos
percorrer para alcançar a ordem social atual.
disponíveis e Compete então à escola de educação básica17,
acumulados pela
humanidade ao
ao ser organizada de forma democrática e aberta
longo do seu pro- à pluralidade cultural do mundo contemporâneo,
cesso de evolução.
como, aliás, orienta a legislação em vigor, trabalhar
17 Nesse sentido, a para acolher a dinâmica do novo que se constitui
escola de Educação na interação dialética dos homens que participam
Básica deverá ser
considerada como coletivamente da construção desse novo saber so-
centro irradiador da bre a realidade. É função precípua da escola garan-
cultura e lugar de
formação por exce- tir a ampliação, o aprofundamento e o entendimen-
lência do homem to das contradições sociais que se explicitam nas
da atualidade, isto
é, aquele cidadão relações muitas vezes conflitantes que se estabele-
engajado no seu cem entre as classes sociais presentes na estrutura
tempo, apto para
compreender, organizadora da sociedade globalizada.
conviver e resolver Vivemos hoje a era das grandes revoluções
as questões e
problemas que sociais e tecnológicas. Nesse contexto de desenvol-
perpassam a sua vimento da terceira revolução industrial, centrado
época e interferem
no cotidiano da vida na capacidade de pesquisar, produzir e organizar
coletiva. conhecimentos que são rapidamente substituídos
ou reconstruídos, observa-se que a velocidade das
informações geradas em diversos segmentos da so-
ciedade conta com novos meios de comunicação,
em que o processo educativo tende a superar a tra-
dicional relação ensino-aprendizagem, consubstan-
ciando-se na nova didática que se identifica com a
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 35

necessidade de aprender a aprender. Isto significa


que formar o cidadão crítico, participativo, autôno-
mo é fundamental, tanto para a construção da so-
ciedade democrática e solidária quanto para o seu
desempenho qualitativo e competente numa eco-
nomia interdependente que deseja avançar cada
vez mais para responder às exigências da moderna
produção técnico-industrial. 18 Podemos afirmar
como nos lembra
Educar18 já não significa simplesmente trans- Paulo Freire, que
mitir conhecimentos e informações, sintetizando somente a educação
escolar que toma
a herança dos antepassados; educar é contribuir como ponto de
para tornar possível a gestação do novo, rompendo partida a experi-
ência social dos
com os velhos paradigmas, concebendo o ato didá- diversos grupos que
tico-pedagógico como um processo mediador dos lhe são próximos,
articulando-a aos
avanços e conquistas que se reconstroem continu- conhecimentos e
amente no intercâmbio permanente que se estende inovações científicas
para explicar e
entre a prática social e a prática educativa. transformar a visão
No âmbito da reforma educacional é preciso de mundo posta
ingenuamente pelo
reconhecer a necessidade de educar o aluno para senso comum é
ser o eterno aprendiz no contexto de uma pedago- capaz de formar
gia que destaque esse eixo metodológico orienta- para a cidadania
plena.
dor das novas práticas - Aprender a aprender. Levar
em conta esse eixo didático torna-se de fato indis- 19 Nessa perspec-
tiva, compete à
pensável para assegurar independência e autono- escola de Educação
mia, preparando o aluno para superar a postura Básica a responsa-
bilidade de apre-
de mero reprodutor de um conhecimento mecani- sentar à sociedade
camente apreendido e já ultrapassado. projetos e ações
complementares
Acreditamos que somente uma escola19 que que contribuam
seja capaz de organizar coerentemente o saber das para enriquecer o
Currículo – com-
ciências (humanas, exatas e da natureza) de forma preendido como
unitária e homogênea, e acima de tudo articulada política cultural da
instituição educativa
com o mundo da produção cultural e tecnológica, - oportunizando
será efetiva para impulsionar a evolução humana novas condições
para o desenvol-
capaz de estabelecer um novo cenário social, onde vimento da capa-
o bem, a justiça e a beleza sejam presentes de to- cidade intelectual,
moral e afetiva das
dos sem exceção. Essa será a escola necessária à crianças e jovens
construção do cidadão ético, comprometido com a que transformarão
este país.
36 Ensino e pesquisa - organização de projetos

busca de soluções coerentes para sua época e inte-


lectualmente competente para assumir a liderança
política da sociedade da qual faz parte.
Compondo a pedagogia do aprender a apren-
der, tomada como filosofia capaz de fundamentar a
ação didática implementada na Escola de Educação
Básica, os princípios da Autonomia, Qualidade e
Cidadania, amparados pela legislação vigente - Lei
9394/96 especialmente em seus artigos 2º, 3º e
20 Esses artigos que 22º 20 -, traduzirão a finalidade da Educação Básica
são da LDB, também
estão citados no nesta Instituição de Ensino.
livro Organização Nessa perspectiva de análise sobre a fun-
do Trabalho Peda-
gógico, que vocês ção social da escola na sociedade contemporânea,
já estudaram na compete às Instituições de Ensino a responsabilida-
disciplina do mesmo
nome. de de apresentar à sociedade um Currículo para a
Educação Básica que demonstre o equilíbrio entre
o desenvolvimento da capacidade intelectual, afe-
tiva, técnica e profissional, efetivando uma educa-
ção unitária e homogênea, capaz de considerar os
princípios da Autonomia, Qualidade e Participação
como eixos organizadores da sociedade democráti-
ca. Mesmo porque, acreditamos que somente uma
escola que seja capaz de organizar coerentemente
o saber das ciências (humanas, exatas e da natu-
reza) de forma unitária e homogênea, e acima de
tudo articulada com o mundo da produção cultural
e tecnológica, será efetiva para impulsionar a pro-
dução do conhecimento para fomentar a evolução
humana.
Implantar uma escola voltada para as ques-
tões da modernidade, capaz de integrar e promover
o desenvolvimento pleno de crianças e jovens, atra-
vés da oferta das diferentes modalidades de ensi-
no: seja ao nível da Educação Básica - Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; seja
ao nível da graduação e pós-graduação -, resguar-
dando a identidade específica de cada uma dessas
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 37

modalidades, sem perder de vista a necessidade de


garantir unidade e identidade no encaminhamen-
to das ações, constitui-se no principal objetivo a
ser alcançado através de uma práxis pedagógica21
emancipadora, dinâmica e, sobretudo, ética, parti- 21 Assim, é que
se constata que
cipativa e atualizada. a escola deverá
Preparando-se para receber uma clientela repensar seu Projeto
Pedagógico com o
bastante diversificada, não só em termos de in- intuito de perseguir
teresses e características próprias às diferentes e atender às
demandas pela
idades e classes sociais presentes no contexto aquisição de um
da Educação Básica, como também, considerando conhecimento signi-
ficativo, útil sem ser
a pluralidade de valores e concepções de mundo utilitarista para que
relativas à pluralidade sociocultural da população se faça jus às ne-
cessidades próprias
que a escola deverá atender de modo equitativo. da atualidade.
Desta forma, assumiremos uma identidade
própria, marcada pelo compromisso inelutável com
a oferta de um Currículo Interdisciplinar, no qual o
conhecimento científico ao ser reconhecido como
instrumento inalienável da cidadania plena será
construído a partir da análise crítica e contextuali-
zada da realidade local, analisado sob a perspecti-
va da ética social mais rígida e exigente, presente
especialmente no espaço das relações internas que
ocorrem nas famílias que compõem a sociedade.
Considerando esse contexto múltiplo e ao
mesmo tempo peculiar, a ética social, mais que
uma perspectiva, será tomada como um pressupos-
to moral, que perpassará transversalmente todas
as atividades pedagógicas, integrando os edu-
candos e educadores, num ambiente de liberdade
construída e referendada pela exigência da ordem
e da disciplina provedoras da convivência cívica,
democrática e solidária. Ao privilegiar esses valores
a escola refletirá dialeticamente a consolidação de
uma educação capaz de estabelecer importantes
conexões provenientes das famílias para a escola;
da escola para as famílias, e destas para a socie-
38 Ensino e pesquisa - organização de projetos

dade, num movimento dinâmico e permanente que


resultará em mudanças essenciais, garantindo a
qualidade e a efetividade do ato educativo.
Diante destas considerações iniciais, pode-
22 A convivência mos então afirmar, que a escola22 tem como Mis-
pedagógica discipli-
nada e organizada são, o compromisso ético como o desenvolvimento
de modo rigoroso e de uma educação moderna e de qualidade, pre-
sério será então, o
esteio sustentador parando as novas gerações para avançar em seus
da qualidade essen- estudos, e assim, estarem aptos para concorrer e
cial à educação e à
vida em sociedade. alcançar os melhores espaços sociais e econômicos
Assim, o Respeito postos pela sociedade.
ao outro – ao
colega, ao professor,
O realce à produção de um conhecimento
ao diretor; a preser- aberto, generoso e flexível, através de um currí-
vação da Dignidade
Humana; a educação
culo integrador das questões ambientais, sociais
para a Solidariedade e econômicas, contribuirá para o desenvolvimento
e a Tolerância;
o destaque para
da autonomia, que condiz com a superação da sub-
a valorização da missão e da ignorância, ressaltando a capacidade
Família como ins- de iniciativa e liderança, a consciência crítica e o
tituição formadora
especial que deve espírito solidário; revelando uma visão de mundo
ser integrada para holística e humanitária, essencial à formação do ho-
participar da vida
escolar; a capaci- mem inteiro, digno e responsável pelos seus atos,
dade de conhecer equilibrado emocionalmente e ciente das normas,
e contribuir para
mudar a realidade. leis e regras sociais que terá de cumprir de forma
consciente equilibrada e lúcida.
Nesse sentido, compreendemos que há dois
desafios fundamentais para a escola hoje no cum-
primento da sua função social: primeiro, compreen-
der a necessidade de situar a aprendizagem como
possibilidade de construção de conhecimentos que
deve ser tomada como uma exigência permanente
durante toda a vida; e segundo, contribuir efetiva-
mente para que no espaço formal da educação es-
colar, os educandos aprendam através da execução
de um currículo pleno de significados para a vida
prática, para o trabalho, e para a cidadania.
No currículo de uma escola que dá relevo à
produção de conhecimentos e não puramente ao seu
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 39

repasse copiado, observa-se que na educação geral


(valores, procedimentos, atitudes) – os conhecimen-
tos Específicos (habilidades, competências) inerentes
às diversas áreas de conhecimento de atuação no
mundo social e no trabalho, serão premiados num
currículo voltado para o exercício pleno da cidadania,
isto é, para formar o aluno como sujeito do conheci-
mento e não apenas como simples aprendiz.
Podemos então dizer, que o processo edu-
cativo hegemônico que se insere no centro de
23 23 Educar não
significa simples-
uma determinada concepção de mundo tende a ser mente transmitir
implementado como um projeto fundamental para conhecimentos e
informações, sinte-
formar no homem a consciência crítica do seu pa- tizando a herança
pel político de agente transformador da realidade dos antepassados.
Educar é contribuir
socialmente vivenciada. para tornar possível
Portanto, reconhecemos que numa escola a gestação do novo,
rompendo com os
cuja função social é preparar para o exercício pleno velhos paradigmas,
da cidadania, a educação será considerada fator de concebendo o ato
didático-pedagógico
inclusão, equalização e coesão social, uma vez que como um processo
a cidadania deve estar baseada na conquista dos mediador dos avan-
ços e conquistas
direitos humanos - à vida, à saúde, à educação, à que se reconstroem
moradia; direitos civis - liberdade, igualdade jurídi- continuamente no
ca, justiça e direitos à participação política. intercâmbio que se
estabelece entre
a prática social e
educativa.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para melhor entendimento e aprofundamento sobre


o tema leiam os capítulos dos livros citados abaixo:

DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Pe-


trópolis, RJ: Vozes, 1993.

No capítulo III do livro de Pedro Demo, intitulado:


“Desafios da Educação Básica”, vocês poderão re-
conhecer os principais desafios da educação bási-
ca, pontuados através de questões fundamentais
40 Ensino e pesquisa - organização de projetos

para propiciar mudanças radicais que hoje estão


sendo concretizadas como: formação dos professo-
res, apoio didático, assessoramento e instrumentos
tecnológicos, o realce à pesquisa como princípio
educativo. Também o autor traz indicativos estatís-
ticos que demonstram a incapacidade do sistema
de gerar uma produtividade necessária para asse-
gurar a qualidade da educação básica.

RODRIGUES, Neidson. Da mistificação da escola à


Escola necessária. São Paulo: Cortez, 1992.

Neste livro o autor trabalha numa linguagem sim-


ples e ao mesmo tempo plena de profundidade, as
questões que permeiam a necessidade de mudanças
na escola que temos – evidenciada no livro em suas
carências e necessidades em face da escola que
queremos alcançar, com suas perspectivas e possi-
bilidades. Recomenda-se especialmente a leitura do
capítulo IV “A escola necessária para os tempos mo-
dernos” no qual o autor detalha o perfil do educa-
dor necessário, do currículo necessário e a avaliação
necessária, tendo como pano de fundo as caracte-
rísticas da escola necessária que se apresentam de
forma a contextualizar as discussões apresentadas.

PARA REFLETIR

Leiam o parágrafo abaixo e reflitam com o seu gru-


po de estudos sobre o seu conteúdo.
A ciência contemporânea é uma atividade exerci-
da com o intuito de fazer avançar cada vez mais
o conhecimento sobre diversas áreas, trazendo
respostas aos inúmeros problemas vividos pela
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 41

humanidade. Acompanha as mudanças profundas


efetuadas no âmbito da sociedade e evolui com
a tecnologia que lhe dá suporte. É uma ativida-
de histórica, situada no tempo e no espaço, por
isso não pode continuar a ser compreendida uni-
camente em sua perspectiva lógica, instrumental
e mercadológica.

1.4 O conhecimento como forma de compreen-


são, intervenção e transformação da realidade

Neste capítulo, vamos analisar o valor do


conhecimento para compreensão, intervenção e
transformação do mundo.
Vivemos nesse século a crise dos paradigmas
que atinge praticamente todas as áreas da atuação
humana. Os desafios que estamos enfrentando ocor-
rem na perspectiva de avançar em direção à consoli-
dação de novas concepções e visões de mundo que
nos permitirá compreender a realidade de modo di-
ferente, com espírito aberto, flexibilidade e resiliência
para uma adaptação coerente às diversas formas de
saberes e fazeres próprias da contemporaneidade.

A Importância do Conhecimento para Compreender


e Transformar a Realidade

O conhecimento hoje passa a ser visto como


instrumento imprescindível ao avanço dos povos, à
superação da visão ingênua e mitológica que domi-
nou durante muitas eras a humanidade.
Cada Era cria seus próprios conceitos, seus
valores, seus princípios que norteiam a vida das
comunidades. Pode-se afirmar que o homem com
a sua sabedoria cria através da cultura (costumes,
normas, regras) uma nova natureza humana, um
42 Ensino e pesquisa - organização de projetos

mundo organizado no âmbito de uma racionalidade


possível pelos avanços que marcam cada momento
histórico, referendando comportamentos, encami-
nhando respostas aos problemas que se apresen-
tam à sociedade.
Se em séculos passados a loucura era tratada
como possessão demoníaca e os seus portadores
eram submetidos aos grilhões, castigos e torturas,
assim como muitos cientistas e mulheres foram
castigados com a fogueira da inquisição, hoje, as
explicações, por conta dos avanços tidos no conhe-
cimento científico permitem uma visão radicalmente
diferente das situações recriminadas no passado.
Diante dessa nova característica da socieda-
de – sociedade do conhecimento – e dos vertigino-
24 Por isso, vimos sos avanços conquistados pelo homem, a escola24
nos capítulos ante-
riores a importância surge como uma instância pública insubstituível e
da escola e a neces- fundamental, cujo papel é preparar o homem para
sidade de mudanças
que deverão ser acessar e gerar conhecimentos e informações que
operacionalizadas lhes permitam viver bem nessa sociedade.
no seu modo de
educar. Não dá mais
Cabe hoje à escola um importante desloca-
para ensinar tudo; mento do seu foco de ação: da aquisição de co-
não dá mais para
formar o homem de
nhecimentos memorizados para a formação de
uma vez por todas; competências e habilidades que permitam autono-
não há cursos
que esgotem todo
mia, para que o sujeito ao sair da escola continue
o conhecimento investindo em seu processo de desenvolvimento;
produzido ao longo
saiba como adquirir novos conhecimentos. Enfim, é
das civilizações que
nos precederam. aquilo que já dissemos antes: é necessário que na
busca de um conhecimento útil e significativo que
não se esgote no restrito período escolar, que o
homem aprenda a aprender, isto é, que seja capaz
de desenvolver associações e relações significati-
vas entre os conceitos aprendidos e as situações
em desenvolvimento na realidade concreta.
É importante que chamemos a atenção do
aluno para entender que o conhecimento é resulta-
do de um processo social e coletivo, nunca ocorre
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 43

puramente no viés individual, porque o homem é


um ser social, uma vez que ao nascer num mundo
dado, herda, além da conformação genética, tam-
bém uma determinada forma de organização do
mundo, suas crenças, seus saberes e fazeres.

A construção do mundo
é resultante das interações
possíveis, que para o homem
ocorrem pela mediação da lin-
guagem que desenvolvemos
para nos comunicar.
Assim, é por meio da
linguagem que nomeamos o
mundo e criamos uma realida-
de objetiva, reconhecida e sig-
nificativa para toda uma comu-
nidade. A sociedade (cultural) é
produto do homem em sua caminhada de desco-
bertas e buscas com o intuito de vencer os obstá-
culos naturais de um mundo muitas vezes adverso,
mas também é fruto da sua imaginação criadora,
da sua capacidade de inventar, de sonhar com um
futuro diferente.
Para exemplificar retomamos o exemplo (ci-
tado anteriormente neste mesmo livro) e voltamos
a destacar a capacidade de observação de Nicolau
Copérnico que, em contraposição ao que estava
posto como verdade absoluta durante séculos, per-
mitiu a construção de uma nova realidade a partir
da astronomia, transformando a visão geocêntrica
para a visão heliocêntrica. Distanciou-se então do
que havia sido sedimentado durante séculos: a ter-
ra como centro do universo perdia seu status.
44 Ensino e pesquisa - organização de projetos

O Acúmulo do Conhecimento e os Desafios da


Escola

É possível afirmar que a história das civili-


zações se constitui em matéria importante ao co-
nhecimento humano. É preciso saber o que fizeram
nossos antepassados, sob quais condições, que
lutas enfrentaram e quais os desafios já vencidos
pela humanidade.
A educação não pode e não deve se restringir
ao âmbito do utilitarismo, pois, nesse caso, estare-
mos falando de mera instrução e treinamento. Não
podemos admitir a formação de homens-robôs,
como máquinas fabricadas para agir mecanicamen-
te. Na verdade, ao se analisar a formação do homem
na escola tradicional, conservadora em termos de
metodologias mais apassivadoras do homem em
seu desejo de construir e libertar-se, percebe-se,
hoje, que não se pode prescindir dessa formação
mais conservadora em termos de que a escola cabe
selecionar e repassar esses conhecimentos pron-
tos. No entanto, é extremamente importante per-
ceber também que cabe à escola formar o homem
25 Nascemos nesse questionador25, capaz de agir a partir da sua capa-
mundo que nos
é “dado”, e não
cidade de pensar, instrumentalizada pelos produtos
temos oportunidade que representam o último nível de conhecimento
de vislumbrar com
clareza científica a
de cada nova época – como se diz o conhecimento
construção histórica que representa o “estado da arte.”
da ciência, da tec-
nologia, da cultura
Há, pois, que se repensar nas questões liga-
– como elementos das ao pragmatismo e a objetividade da educação
resultantes do face às condições próprias dos diferentes grupos
espírito crítico
e inquiridor do sociais com suas carências, seus horizontes (limita-
homem face à sua dos?), sua história (que é na verdade ponto de par-
inquietude, perspi-
cácia, insatisfação tida para o entendimento de uma história maior).
que o faz buscar
permanentemente o
inédito.
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 45

Face ao exposto, concorda-se que é preciso re-


ver as programações curriculares no intuito de se fazer
um enxugamento do que pode ser considerado como
supérfluo, desde que não fira o direito inalienável, que
todos, sem exceção, devem ter: acesso ao conhecimen-
to construído através de uma educação de qualidade
(igual para todos) que seja útil para inserir o homem
em seu contexto singular, ampliando suas oportunida-
des locais, sem perder de vista a universalidade dos
valores, da cultura, da ciência, da arte. O desafio do
século XXI é justamente garantir igualdade com equi-
dade. O que não podemos fazer é concordar em pro-
mover duas formas distintas de educação: uma para
os mais pobres e outra para os mais abastados, que
estarão supostamente aptos para determinados pro-
cessos seletivos mais altos, a começar pelo vestibular.
Conhecer o passado, saber o que fomos ontem, quais
foram as preocupações que nos precederam é um di-
reito que não podemos cassar.
Ressalto que as pesquisas já indicam hoje,
no âmbito da Reforma da Educação Básica, a ne- 26 A autonomia
dos Municípios já
cessidade de se rever os currículos26, estabelecen- permitem, através
do racionalmente quais conteúdos devem ser prio- dos Conselhos
Municipais de
rizados e quais podem ser excluídos sem prejuízo Educação que se
para o alcance de uma educação integral, que não estabeleça com
mais liberdade os
se constitua em mero instrumento de preparo para currículos e projetos
a vida doméstica ou para determinados tipos de educativos de forma
mais pertinente
trabalho. Os processos que estão sendo propostos à sua realidade
são diversos. Muitos intelectuais e pesquisadores social, econômica...
Enfim, um currículo
já estão nessa luta que parte do questionamen-
que responda aos
to básico de como a escola deve desenvolver um interesses e à
currículo que garanta a aquisição de determinadas vocação presente
em cada região com
competências e habilidades necessárias para a ci- suas necessidades
dadania e para o mundo do trabalho, ensinando o próprias em termos
de conhecimentos
homem a pensar sobre a sua própria realidade (em que auxiliem na
primeiro lugar) e sobre a realidade do mundo, do resolução dos
problemas diagnos-
qual somos parte inalienável. ticados.
46 Ensino e pesquisa - organização de projetos

A Importância do Conhecimento Numa Escola


Renovada

A pesquisa é uma atividade intelectual inten-


cional que visa responder às necessidades humanas
para melhorar as condições práticas da sua existên-
cia, articulando as duas esferas de ação do homem
- a prática e a teórica, permitindo-lhe investigar para
conhecer e transformar o mundo em que vive. Para
tanto, utiliza sua capacidade criadora, e seleciona as
melhores técnicas, instrumentos e teorias. A pesqui-
sa possibilita transformar o mundo; criar objetos e
concepções; avançar nas previsões; controlar a natu-
reza; inventar e recriar ideias, técnicas.
Na escola é importante que se criem novos
27 A formação de espaços para discussão e aprofundamento das
Grupos de Estudos
e Pesquisas, que
novas visões que se anunciam no horizonte das
resulta da metodo- mudanças que acontecem na forma de produzir
logia de projetos,
fomenta o espírito
e socializar o conhecimento, considerando-se os
crítico, desperta avanços da tecnologia que transformam de fato as
e prepara para
exercitar a capaci-
formas de conhecer e aplicar o conhecimento.
dade argumentativa Nesse sentido, ressalta-se de forma bastante
mediante as quais estratégica a importância da formação dos Grupos de
os alunos são
elevados à condição Estudos e Pesquisas27 que renovam as propostas e
de sujeitos ativos e os projetos escolares, não só respondendo à urgência
produtores de novos
conhecimentos. de se repensar a formação do educador enquanto
professor-pesquisador, mas, sobretudo, porque privi-
28 Essa forma de
educar promove legia desde o início do curso a necessária articulação
a re-significação teoria-prática, desenvolvendo novas competências e
dos conhecimentos
enquanto conteúdos habilidades essenciais para transformar o atual perfil
próprios para que o dos profissionais formadores, até então preponderan-
homem repense o
mundo à sua volta e temente voltado para as atividades técnicas e de en-
tenha condições de sino limitadas ao espaço da sala de aula.
realizar mudanças
plausíveis para O desafio da escola28 hoje, face à rápida pro-
melhorar as situa- dução do conhecimento é promover a formação do
ções problemáticas
que os envolvem
educador necessário à escola contemporânea; com-
nos ambientes em petente para educar-se permanentemente através
que habita.
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 47

da metodologia da pesquisa-ação-reflexão, recons-


truindo a partir dos referenciais epistemológicos,
culturais e sociais da atualidade, um modo próprio
de ensinar e aprender.
Essa forma contextualizada de ensinar a co-
nhecer contribuirá para enriquecer a formação da
competência formal e política, iluminando o conhe-
cimento concreto da realidade social e cultural, de-
socultando especialmente as questões que perpas-
sam as práticas vividas.
É importante que se compreenda que a par-
ticipação cidadã, ou seja, comprometida com a
conquista dos valores presentes na democracia
política, situa-se progressivamente como estratégia
educativa e democrática. Aliada às outras forças e
condições sociais, constitui-se como um elemento
superador das desigualdades econômicas, políticas
e culturais que ameaçam o desenvolvimento huma-
no e a qualidade de vida das comunidades. 29 Por fim, os
projetos de pesqui-
Uma Instituição Educativa, cuja missão desta- sa, atendendo ao
ca a formação para a cidadania, exercita uma prática princípio educativo,
como está proposto
educativa29 democrática e participativa, orientando por Demo (1997),
seus educandos e futuros profissionais para com- servirão de media-
ção entre o ato de
preender, a partir de situações sociais concretas, ensinar e aprender,
quais são os seus direitos e deveres, reconhecendo pela via da ação
investigativa e re-
as possibilidades de sua atuação. flexiva, que permite
Portanto, pode-se entender a produção de a observação, a
coleta de dados
ideias e, portanto, do conhecimento, fora de um e informações, o
contexto social – aquele que representa significa- registro e a síntese
tivamente a vida do ser humano, num dado mo- crítica das práticas,
cotidianamente
mento de sua história. Assim, não há como produ- desenvolvidas nas
zir conhecimento válido no isolamento egoísta e escolas de educação
básica, bem como
individualista. O conhecimento detém um caráter em outros campos
generoso por seu tom coletivo. de atuação dos
futuros profissionais
Se o homem vive e se desenvolve no âmbito que estão sendo
de uma sociedade determinada, é a partir dela e formados no con-
texto de uma escola
dos ensinamentos que recebe como conhecimento, renovada.
48 Ensino e pesquisa - organização de projetos

de diversos setores de sua convivência social, que


lhe permite, não somente adaptação, sobretudo in-
tervenção e transformação, garantindo a evolução
da sua espécie.

INDICAÇÃO DE LEITURA

Para melhor entendimento do tema abordado neste


capítulo recomenda-se a leitura dos capítulos con-
forme segue, relativos aos seguintes títulos:

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a refor-


ma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Beer-
trand Brasil, 2001.

Neste livro, o autor apresenta uma teoria que tem


como fundamento principal a possibilidade e a ne-
cessidade de superação de uma escola baseada no
acúmulo de conhecimentos recortados dos vários
campos das ciências por uma escola capaz de apre-
sentar um conhecimento mais unitário, de forma
significativa e integrada aos problemas e questões
que afligem o momento vivenciado pelas comuni-
dades que participam do processo educativo. As-
sim, recomenda-se que se leia o capítulo 2, “A ca-
beça bem-feita”.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à edu-


cação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

Neste livro o autor trata dos sete saberes necessá-


rios à educação da cidadania plena na atualidade,
recomenda-se especialmente a leitura do capítulo
2 “Os princípios do conhecimento pertinente”, no
qual o autor descreve as possibilidades de superar
antigos dualismos entre o global e o local, abor-
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 49

dando com inteligência o mundo sob a perspectiva


multidimensional e o conhecimento sob a ordem
da complexidade.

PARA REFLETIR

Convido-os a discutir na nossa aula presencial:


Para que serve a escola?

É preciso atentar para a diferença entre a inter-


pretação singela, sumária, irrefletida, ingênua com
outra que poderia ter sido feita com maior acuida-
de e aprofundamento, nascida da observação, da
comparação, do estudo e da experiência. Quando a
escola ensina a pensar, deduções singelas são evi-
tadas. Cabe à escola a primazia do conhecimento
sob o cunho científico que ajuda o homem a pensar
e tomar decisões menos subalternas à vontade ex-
terna; o conhecimento contribui para formar para a
autonomia consolidando o exercício da cidadania.

RESUMO

O livro “Ensino e Pesquisa: Organização De Pro-


jetos” está dividido em duas partes: Na primeira
parte: Ciência e Produção do Conhecimento no Con-
texto Social e Histórico; apresentam-se dois temas:
o tema 1: O Conhecimento Científico: da Origem à
Contemporaneidade. Nesse tema, temos quatro ca-
pítulos, o primeiro: Ciência e Método: Concepções
e Perspectiva Social e Histórica trata da ciência tida
50 Ensino e pesquisa - organização de projetos

como provedora de conhecimentos e que possui


um corpo sistematizado de teorias relativas a cam-
pos específicos de estudos e que evolui com o
desenvolvimento da tecnologia e da cultura, mo-
vida por novas inquietudes, onde o ser humano
se posiciona ávido para descobrir o mundo, sua
origem, sua organização e suas possibilidades, in-
terrogando-se e interrogando a natureza. Tem como
finalidade o estudo dos problemas postos pela hu-
manidade, mediante a utilização da metodologia
científica. O segundo capítulo, Ciências Humanas:
Quadro de Referências e Paradigmas Científicos; se
explicita através das conquistas efetuadas pelas
ciências humanas, principalmente no decorrer do
século XX para constituição de um novo paradig-
ma, necessário às investigações no âmbito social,
e que vão marcar, de certa forma, o esgotamen-
to do modelo epistemológico positivista. Vê-se
então, nesse próximo tema, as questões relativas
ao processo de pesquisa nas Ciências Humanas.
No terceiro capítulo, Relevância do Conhecimento
na Escola e na Sociedade afirma-se que a opção
pela pesquisa oportuniza o crescimento intelectu-
al, a troca de experiências, exige comprometimento
com a socialização dos saberes e investimento em
novas descobertas. No quarto capítulo, O Conheci-
mento como Forma de Compreensão, Intervenção e
Transformação da Realidade, destaca-se que, além
das leituras e discussões orientadas que permitirão
repensar as concepções e teorias adquiridas, a es-
cola deverá também assegurar um espaço de inves-
tigação sobre o cotidiano escolar e da comunidade
que representa o contingente da escola com suas
histórias de vida e suas preocupações. Então, per-
cebeu como foi importante estudar o tema 1? Agora
estudaremos um tema mais específico da pesquisa
através do tema 2 – Elementos da pesquisa científi-
Tema 1 | O Conhecimento Científico: Da Origem à Contemporaneidade 51

ca. Neste segundo tema, teremos oportunidade de


observar os caminhos da ciência com seus procedi-
mentos e implicações que caracterizam a produção
de um saber universalmente reconhecido por uma
comunidade de cientistas que se organizam para
descobrir, inventar e reinventar o mundo.
2 Elementos da
pesquisa científica

Olá, alunos,

Sei que vocês concordam que as mudanças sociais e tecnoló-


gicas, cada vez mais aceleradas, as novas demandas e exigências da
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n.º 9394/96,
desafiam escolas e universidades para realizarem transformações na
estrutura política, administrativa e pedagógica.
Tais transformações nas instituições de ensino devem favorecer
a construção de um novo perfil acadêmico, mais compatível com a
vocação científica e estética que revela a marca da nossa época, po-
tencializando os avanços conquistados nesse novo contexto político,
social e econômico da sociedade em que vivemos.
54 Ensino e pesquisa - organização de projetos

2.1 Importância da pesquisa científica

Iniciação à pesquisa em educação: A evolução da


Ciência

O mundo pós-moderno identifica-se pelo


progresso, ciência e tecnologia, revoluções sociais
e políticas. O momento que estamos vivenciando
atualmente caracteriza-se pelo surgimento de no-
vos paradigmas em todos os campos do saber, pro-
piciando aos envolvidos nas questões da educação
e da instituição escolar em todos os níveis, a com-
preensão de que é urgente e inadiável restabelecer
uma nova condição de trabalho para o educador
que realiza a sua prática docente numa sociedade
onde o conhecimento adquire um caráter dialético,
amplo e aberto à incorporação de novos conteúdos
culturais e novos paradigmas sociais e pedagógi-
cos. Mas, nem sempre foi assim...
Sabemos que entre todos os animais nós, os
seres humanos, somos os únicos capazes de criar
e transformar o conhecimento; somos os únicos ca-
pazes de aplicar o que aprendemos, por diversos
meios, numa situação de mudança do conhecimen-
to. Somos os únicos capazes de criar um sistema
de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar
nossas próprias experiências e passar para outros
seres humanos.
Essa característica é o que nos permite dizer
que somos diferentes dos patos, dos macacos e
dos leões. A história de um povo tem como sus-
tentáculo as lembranças, que vão sendo expostas
e vão confirmando uma memória grupal da comu-
nidade, em determinado espaço de tempo e de
localização. Durante muito tempo, a tradição oral
estabeleceu as relações sociocomunicativas; os po-
vos transmitiam suas crenças e cultura por meio
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 55

de ensinamentos de uma geração para outra. Os


relatos orais expressam o jeito de viver, as crenças,
as normas e regras de convivência social que vão
identificando e personalizando cada comunidade
destacada.
Ao criarmos este sistema de símbolos, atra-
vés da evolução da espécie humana, permitimo-
nos também pensar e, por consequência, ordenar e
prever os fenômenos que nos cercam.
No passado o desenvolvimento do conheci-
mento estava intrinsecamente ligado à possibilidade
da convivência social dos indivíduos, ou seja, o sa-
ber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por
sua vez, usufrui deste saber, reconstruindo-o, aper-
feiçoando-o e atualizando-o. Assim evolui a ciência.

Ressalta-se que esse acervo acumulado, re-


passado, dos mais velhos para os mais novos,
limitava-se à memória das pessoas. A evolução
humana corresponde ao desenvolvimento de sua
inteligência como elemento promotor de novos co-
nhecimentos. Sendo assim, podemos definir três
níveis de desenvolvimento da inteligência dos se-
res humanos desde o surgimento dos primeiros ho-
minídeos: O medo, o misticismo e a ciência.
Os seres humanos pré-históricos não con-
seguiam entender os fenômenos da natureza. Por
este motivo, suas reações eram sempre de medo: 30 Era, sem dúvida,
uma evolução
tinham medo das tempestades e do desconheci- já que tentavam
do. Como não conseguiam compreender o que se explicar o que
viam. Assim, as
passava diante deles, não lhes restava alternativa tempestades
senão o medo e o espanto daquilo que presencia- podiam ser fruto
de uma ira divina,
vam. a boa colheita da
Num segundo momento, a inteligência huma- benevolência dos
mitos, as desgraças
na evoluiu do medo para a tentativa de explicação ou as fortunas eram
dos fenômenos30 através do pensamento mágico, explicadas através
da troca do humano
das crenças e das superstições. com o mágico.
56 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Como as explicações mágicas não bastavam


para compreender os fenômenos, os seres huma-
nos finalmente evoluíram para a busca de respostas
através de caminhos que pudessem ser comprova-
dos. Desta forma nasceu a ciência metódica, que
procura sempre uma aproximação com a lógica.
O ser humano é o único animal na natureza
com capacidade de pensar. Esta característica permite
que seja capaz de refletir sobre o significado de suas
próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas
descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.
Portanto, ao criarmos um sistema de códigos,
símbolos, sinais de comunicação, através do percurso
histórico da evolução da espécie humana, permitimo-
nos também pensar sobre a natureza, ordenando
ideias que por consequência, propiciam a ordenação
e a previsão dos fenômenos que nos cerca.
Os egípcios já tinham desenvolvido um saber
técnico evoluído, principalmente nas áreas de ma-
temática, geometria e na medicina, mas
os gregos foram provavelmente os pri-
meiros a buscar o saber que não tives-
se, necessariamente, uma relação com
atividade de utilização prática. A preocu-
pação dos precursores da filosofia (filo
= amigo + sofia (sóphos) = saber e quer
dizer amigo do saber) era buscar conhe-
cer o “por que” e o “para que” de tudo
o que se pudesse pensar.
O conhecimento histórico dos se-
res humanos sempre teve uma forte in-
fluência de crenças e dogmas religiosos.
Na Idade Média, a Igreja Católica serviu
de marco referencial para praticamente
todas as ideias discutidas na época.
Foi no período do Renascimento,
aproximadamente entre os séculos XV e
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 57

XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns histo-


riadores, os homens retomaram o prazer de pensar e
produzir o conhecimento. Neste período as artes, de
uma forma geral, tomaram um impulso significativo.
No século XVII e XVIII, anos 1600 e 1700, a 31 Francis Bacon
nasceu em Londres,
burguesia assumiu uma característica própria de em 22 de janeiro
pensamento, tendendo para um processo que ti- de 1561, e morreu
na mesma cidade
vesse imediata utilização prática. Nasce o Iluminis- em 9 de abril de
mo, corrente filosófica que propôs “a luz da razão 1626. Sua educação
orientou-se para
sobre as trevas dos dogmas religiosos”. a vida política,
O Método Científico surgiu como uma tentativa na qual alcançou
posições elevadas.
de organizar o pensamento para se chegar ao meio Conforme:
mais adequado de conhecer e controlar a natureza. http://educacao.uol.
com.br/biografias/
Já no fim do período do Renascimento, Francis Ba- francis-bacon.jhtm
con31 pregava o método indutivo como meio mais
32 Personalidade
adequado para se produzir o conhecimento. dominante da
Este método entendia o conhecimento como re- história intelectual
sultado de experimentações contínuas e do aprofun- ocidental, René
Descarte foi um
damento do conhecimento empírico. Por outro lado, filósofo, fisiologista
através de seu Discurso sobre o método, e matemático
francês, nascido
René Descartes32 defendeu o método de- em 31 de março de
dutivo como aquele que possibilitaria a 1596, em La Haye,
na província de
aquisição do conhecimento através da Touraine. Ele foi um
elaboração lógica de hipóteses e a busca contemporânero de
Galileu e Pascal e
de sua confirmação ou negação. portanto trabalhou
sob as mesmas
influências religio-
sas repressoras da
A Igreja e o pensamento mágico cede- Inquisição. Em 1649,
foi convidado para
ram lugar a um processo denominado, ser professor da
por alguns historiadores, de “laicização Rainha Cristina da
Suécia, mudando-se
da sociedade”. Se a Igreja dominou até para Estocolmo,
o fim da Idade Média a hegemonia dos mas morreu poucos
meses após chegar,
estudos e da explicação dos fenômenos de pneumonia
relacionados à vida, a ciência tomou a aguda, em 11 de
fevereiro de 1650.
frente deste processo, fazendo da Igreja Conforme:
e do pensamento religioso razão de ser http://www.cerebro-
dos estudos científicos. mente.org.br/n06/
historia/descartes.htm
58 Ensino e pesquisa - organização de projetos

No século XIX a ciência passou a ter uma im-


portância fundamental. Parecia que tudo só tinha
explicação através da ciência. Como se o que não
fosse científico não correspondesse à verdade.
Se Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giorda-
33 Giordano Bruno, no Bruno33, entre outros, foram perseguidos pela
conhecido também
como Nolano ou Igreja, em função de suas ideias sobre as coisas
Bruno de Nola, (Nola, do mundo, o século XIX serviu como referência de
1548 — Roma, 17 de
fevereiro de 1600). desenvolvimento do conhecimento científico em
Conforme: todas as áreas: na sociologia Augusto Comte34, o
http://pt.shvoong.
com/humanities/ criador do positivismo, influenciaram grandemente
philosophy/1742406- a formação da república no Brasil. Tanto, que o
giordano-bruno/
lema da bandeira brasileira, “Ordem e progresso”,
34 Nasceu em 17de foi inspirado na doutrina desse filósofo francês.
janeiro de 1798, em
Montpellier, França e
O espírito positivo instaura as ciências como
faleceu em investigação do real, do certo e indubitável, do pre-
5 de julho de 1857,
em Paris, França.
cisamente determinado e do útil. Nos domínios do
Conforme: social e do político, o estágio positivo do espírito
http://educacao.uol. humano marcaria a passagem do poder espiritual
com.br/biografias/
ult1789u203.jhtm para as mãos dos sábios e cientistas e do poder
material para o controle dos industriais.
35 Karl Heinrich
Marx nasceu em 05 Na Economia, o idealizador de uma socieda-
de maio de 1818, de com uma distribuição de renda justa e equilibra-
cursou Filosofia,
Direito e História nas da, o economista, cientista social e revolucionário
Universidades de socialista alemão Karl Heinrich Marx35 procurou
Bonn e Berlim e foi
um dos seguidores explicar as relações sociais através das questões
das ideias de Hegel. econômicas, resultando no Materialismo-Dialético;
Faleceu em Londres,
Inglaterra, em 14 de Charles Darwin36 revolucionou a Antropologia, e
março de 1883. feriu os dogmas sacralizados pela religião, com a
Conforme: http://
www.suapesquisa. Teoria da Hereditariedade da Espécie ou Teoria da
com/biografias/marx/ Evolução. A ciência passou a assumir uma posição
quase que religiosa diante das explicações dos fe-
36 O biologista e nômenos sociais, biológicos, antropológicos, físi-
naturalista Charles
Darwin nasceu na
cos e naturais.
Inglaterra e viveu de O conhecimento passou a ser socializado e
1809 a 1882.
reconhecido muito rapidamente depois da inven-
ção da escrita e, com a invenção da imprensa de
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 59

tipos móveis, do papel e das línguas fonéticas.


Atualmente, com o aparecimento da mídia
eletrônica, dos satélites de comunicações e do
computador, o crescimento desse acervo cultural e
social atingiu tal velocidade, que é difícil entender
e acompanhar todos os acontecimentos.
As mudanças37 na sociedade no final do sécu- 37 O uso da
tecnologia da
lo passado e neste início de milênio representam: comunicação e da
alterações na maneira de pensar, novos valores, informação faz com
que, as verdades
novas atitudes e novos padrões comportamentais. de hoje tornem-se
O conhecimento novo circula muito rapidamente e, mais temporárias
e “descartáveis”.
a depender da cultura, de determinada comunida- O processo de
de, pois o que é bom para uns, pode não ser para globalização con-
temporâneo implica
outros. Neste panorama, a ciência evolui. a formação de uma
sociedade global,
que se depara com
Percebe-se que definir ciência é mais compli- uma nova realidade.
cado do que aparenta. Ciência é o tipo de conhe- A evolução do
conhecimento
cimento universalmente reconhecido pela comuni- estabelece uma
dade científica, pode ser comprovado e atestado estreita correlação
através de experimentos, e ao ser formalizado, com a evolução da
ciência.
passa a ter valor de verdade, sendo aceito pela
sociedade.
A pesquisa científica torna-se ciência quan-
do tem autoridade de verdade para a comunidade
científica prevalecendo até ser contraposto por ou-
tras explicações dos fatos. O conhecimento de hoje
é um domínio de conhecimento prestes a ser nega-
do amanhã, o que faz da ciência um processo em
constante criação e não uma verdade absoluta. O
Método Científico passa a existir como uma possi-
bilidade de organizar o pensamento para se chegar
ao meio mais adequado de conhecer e controlar a
natureza. O trabalho da ciência não é persuadir ou
convencer, mas demonstrar a realidade.
É sabido que, para se fazer uma análise desa-
paixonada de qualquer tema, faz-se necessário que o
pesquisador mantenha certa distância emocional do as-
60 Ensino e pesquisa - organização de projetos

sunto abordado. Mas será isso possível? Provavelmente


a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consci-
ência desta realidade pode nos preparar para trabalhar
esta variável de forma que os resultados da pesquisa
não sofram interferências além das esperadas.
É preciso que o pesquisador tenha consci-
ência da possibilidade de interferência de sua for-
mação38 moral, religiosa, cultural e de sua carga de
38 Sabemos que é valores para que os resultados da pesquisa não
possível desenvolver
um processo edu- sejam influenciados por eles além do aceitável.
cativo democrático
e atualizado, capaz
de colaborar para
Sobre a Autonomia na Escola e nas Salas de Aula
que os educandos
e educadores
em permanente
Na escola e nas salas de aula, visões, ima-
relação nas salas gens, sons desse novo mundo habitado por uma
de aulas aprendam
a pensar e refletir
cultura fotocêntrica, auditiva e televisual, devem se
criticamente sobre o articular aos conteúdos e metodologias viabilizados
mundo, superando pelos diferentes currículos e programas – entendidos
a visão proveniente
do senso comum estes dois últimos como forma de política cultural
e avançando em solicitando dos educadores uma competência per-
direção a um
conhecimento mais manentemente atualizada e reconstruída à luz das
orgânico, coerente inovações culturais e técnico-pedagógicas, favore-
e integrado e
científico. cendo a tradução dos novos códigos que permeiam
as diferentes linguagens criadas pelo homem.
O que fazer para valorizar a sensibilidade e a ca-
pacidade criativa dos educandos mobilizando-os para
que resolvam com autonomia os problemas que se
apresentam em seu cotidiano, possibilitando o desen-
volvimento de uma inteligência coletiva e a descoberta
de talentos para a ciência, a política e a arte?
Como ensinar um novo olhar sobre o mundo,
preparando os educandos num ambiente pedagó-
gico favorável à participação, capaz de propiciar o
aprofundamento da vocação humana para a solida-
riedade, a harmonia e a generosidade?
Como assegurar a necessária competência re-
construtiva, enquanto categoria condizente com a mar-
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 61

ca do sujeito capaz de permanentemente fazer e refazer


o conhecimento sobre o mundo recriando a história?
Esse percurso inovador suscita, desperta e
possibilita o exercício da autonomia enfatizando a
capacidade criativa de educadores e educandos an-
siosos e atentos às descobertas e mudanças que
propõem um redirecionamento radical do processo
educativo, considerando as transformações do mer-
cado de trabalho.
Assim, é necessário estabelecer uma nova
síntese teórica, superadora das antigas percepções
sobre a dinâmica do processo ensino-aprendiza-
gem39. Nesse sentido, uma nova pedagogia se de- 39 MOREIRA
(1995:14) afirma
senvolve para ampliar as noções de leitura, escrita que:
e textualidade, considerando-se a presença de uma A participação
efetiva na melhoria
variedade de textos culturais, de diversas ordens. da escola demanda
Hoje, não é mais possível ignorar os registros que do/a futuro/a
professor/a tanto
se inscrevem desde os compêndios de uma lite- a compreensão
ratura mais clássica a filmes, poesias e romances do processo de
escolarização como
populares - pois estamos numa sociedade semiúr- competência no
gica que se caracteriza pela frenética proliferação planejamento e
desenvolvimento de
de signos, símbolos e imagens exigindo dos educa- currículos, aulas e
dores uma nova postura metodológica. demais atividades
pedagógicas, assim
como no estabele-
cimento de relações
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR facilitadoras de um
trabalho efetivo,
práticas essas
Para melhor entendimento e aprofundamento sobre norteadoras pelo
compromisso com
o tema leiam os capítulos dos livros citados abaixo: a democracia e por
considerações de
ordem ética. Para
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do traba- isso, é importante
lho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. que do/a futuro/a o
professor/a possa
vivenciar, na uni-
No 3º capítulo do livro de Antônio Joaquim Severi- versidade, práticas
norteadas pelos
no, intitulado: Teoria e prática científica apresenta- mesmos valores.
se uma análise sobre o surgimento da ciência e a
aproximação do significado da ciência como cons-
62 Ensino e pesquisa - organização de projetos

trução do conhecimento, mostrando sua formação


histórica e sua constituição teórica.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andra-


de. Metodologia científica: ciência e conhecimento
científico, métodos científicos. 5. ed., 3. reimpr. São
Paulo: Atlas, 2009.

Ao ler o 2º capítulo deste livro, intitulado: Métodos


Científicos, vocês vão perceber o quanto é possí-
vel descobrir sobre um tema científico, que torna
bastante clara a visão de Ciência. Sabemos que a
ciência caracteriza-se pelo uso adequado dos méto-
dos. Descobre-se na leitura que não há ciência sem
o uso de métodos científicos.

PARA REFLETIR

Leiam o parágrafo abaixo e reflitam sobre o seu


conteúdo.

As diferentes abordagens teóricas que caracterizam


a tipologia da pesquisa, compondo seus quadros
de referência têm, cada uma delas, a sua própria
importância diante da realidade que se pretende
analisar. A depender dos objetivos e finalidade da
pesquisa, da ideologia que norteia o “ser do pes-
quisador” com todas as nuances subjetivas que
lhes são próprias é que se define de maneira mais
adequada a escolha de uma dessas abordagens
com os procedimentos que corporificam cada te-
oria. Na aula presencial, espero a participação de
vocês para debatermos sobre o tema.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 63

2.2 Pesquisa científica: tipologia e procedimen-


tos metodológicos

Embora sejam vários os tipos de pesquisa


quanto aos meios, de forma mais comum, utiliza-
mos nas academias a pesquisa de campo, pesquisa
de laboratório e pesquisa bibliográfica. Cada tipo
possui, além do núcleo comum de procedimentos,
suas peculiaridades próprias.

Tipos de pesquisa na Academia

O mundo contemporâneo passa por mudan-


ças que rapidamente são difundidas, influenciam
comportamentos e trazem novas visões de cidada-
nia e de coletividade. A educação, como partícipe
neste processo de evolução, tem a responsabili-
dade de favorecer o pleno desenvolvimento do ci-
dadão dotando-o de competências e habilidades
para desempenhar adequadamente seu papel na
sociedade e a pesquisa é elemento fundamental
desse processo.

A pesquisa pode ser:


Exploratória - É toda
pesquisa que investiga
buscando constatar num
organismo ou num fenô-
meno, fatos científicos.
Experimental - É toda
pesquisa que averigua
a cientificidade usando
algum tipo de experi-
mento;
Histórica - É toda pes-
quisa que indaga e es-
tuda o passado.
64 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Social - É quando se pesquisa na busca de


respostas científicas para um determinado grupo
social;
Teórica - É toda pesquisa que analisa uma
determinada teoria.

A pesquisa se realiza em conformidade com o


tipo de abordagem selecionado pelo pesquisador e
que melhor contempla as questões da problemática.

A Pesquisa de Laboratório

É aquela em que
o pesquisador inves-
tiga respostas para os
seus questionamentos
refazendo as condições
de um elemento a ser
examinado, para obser-
vá-lo sob controle; de-
manda lugar apropria-
do, um laboratório e a
instrumentação especí-
fica. Não é muito usada
na área da Educação.

A Pesquisa de Campo

A pesquisa de campo ocorre quando o pes-


quisador identifica um determinado campo de in-
vestigação para coletar informações, observando-
se a realidade conforme o universo selecionado
através de amostra representativa. Faz-se a coleta
de dados buscando-se a apreensão dos fatos/va-
riáveis investigados exatamente quando, onde e
como ocorrem.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 65

Estuda-se um único grupo ou uma comunida-


de ressaltando-se os aspectos mais relevantes da
interação e da vivência dos sujeitos.
O trabalho de pesquisa de campo passa pe-
las seguintes etapas:

• Fundamentação teórica do objeto;


• Definição do campo de estudo;
• Interação entre pesquisador e pesquisado;
• Estratégias de coleta de dados.

Na fase do trabalho de campo faz-se uso de


estratégias de coleta de dados através de registro
das falas dos atores sociais; fotografias; filmagens;
diário de campo. Pode-se também usar a obser-
vação e a entrevista. A entrevista é um diálogo,
efetuado olho no olho, e que acontece de maneira
planejada e metódica.
A observação40 não consiste apenas em ver e 40 A observação
direta extensiva
ouvir, mas também em examinar fatos ou fenôme- transcorre pelas
nos que se deseja estudar. Ela pode ser: técnicas:
• Análise de
• Sistemática ou assistemática, conteúdo;
• Participante ou não-participante, • Formulário;
• História de vida;
• Individual ou em grupo, • Análise de opinião
• Na vida real ou em laboratório. e de atitudes;
• Pesquisa de
mercado;
Pesquisa Experimental • Questionário;
• Sociometria;
Tem como finalidade comprovar de que modo • Testes.
e o porquê determinado acontecimento ou fato é
causado e produzido. O uso da pesquisa experi-
mental traz a preocupação de desenvolver provas
científicas para determinados fatos, refazendo-se as
condições reais para visualizá-lo sob controle, pois
são representados e reproduzidos por amostragem,
sendo mais comum nas ciências tecnológicas e nas
ciências biológicas.
66 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Para tal, utiliza-se de local apropriado, aparelhos


e instrumentos de precisão para demonstrar as causas
ou o modo pelo qual um fato é produzido, proporcio-
nando assim o estudo de suas causas e efeitos.

Pesquisa Descritiva

A pesquisa descritiva pode assumir distintos


formatos, entre os quais se destacam: pesquisa bi-
bliográfica, documental, de campo, de opinião, de
motivação, exploratória, histórica e estudo de caso.
Através da pesquisa é possível observar, re-
gistrar, analisar e ordenar dados sem manipulá-los,
isto é, sem interferência do pesquisador.
Assim, para colher informações, nos utiliza-
mos de técnicas específicas, tais como:

• Entrevista;
• Formulário de pesquisa;
• Questionário;
• Observação in loco;
• Leitura analítica da realidade exposta.

A diferença entre a pesquisa experimental e


a pesquisa descritiva é que esta procura classificar,
explicar e interpretar fatos que ocorrem espontane-
amente, enquanto a pesquisa experimental preten-
de demonstrar as causas ou o modo pelo qual um
fato é produzido.

Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica é basilar para todos


os tipos de pesquisa e é a mais comum na prefe-
rência dos estudantes de nível superior.
Construída a partir das leituras e análises de
textos de livros, artigos, documentos pertinentes
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 67

ao tema, leva à reconstrução de ideias baseadas


em concepções teóricas, considerando o objeto de
estudo selecionado pelo pesquisador.

Pesquisa Documental

A pesquisa documental é proveniente dos


órgãos, públicos e privados, e é neles que se re-
alizam as buscas, análises e observações. É onde
estão inseridos os materiais elaborados e não ela-
borados cientificamente, escritos ou não.
O material citado encontra-se em arquivos
públicos ou particulares, fontes estáticas divulga-
das por órgãos oficiais e particulares, e por fontes
não escritas: fotografias, imprensa falada (televisão
e rádios) desenhos, pinturas, canções, indumentá-
rias, objetos de arte, folclores, etc.

Como Delinear Uma Pesquisa Documental

A pesquisa documental muito se assemelha à


pesquisa bibliográfica, entretanto, é um tipo de pes-
quisa elaborada a partir de documentos. As duas de-
senvolvem-se de maneira significativamente diversa.
Fases da pesquisa documental: Determinação
dos objetivos à obtenção do material; Tratamento dos
dados; Confecção das fichas e a redação do trabalho.
Comumente nas pesquisas documentais são
utilizadas fichas. A partir da análise e da interpreta-
ção destas é que se procede a redação.

Pesquisa de Opinião

A pesquisa de opinião acontece na busca da


fala dos atores envolvidos na problemática ou, no
tema estudado pelo pesquisador. Incide em bus-
car conhecimento sobre atitudes, pontos de vista
68 Ensino e pesquisa - organização de projetos

e preferências que os indivíduos apresentam a res-


peito de algum assunto ou questão, com a finalida-
de de tomar decisões possíveis e prioritárias para
o benefício da comunidade.

Pesquisa de Motivação

Pouco utilizada na área da pedagogia, este


tipo de pesquisa é mais usada e adequada à área
da psicologia. Busca analisar o que leva um deter-
minado grupo social a tomar determinadas delibe-
rações e atitudes frente a uma situação peculiar. A
pesquisa de motivação avalia os motivos/motiva-
ções, a pretensão dos procedimentos, e busca a
identificação dos mesmos.

Pesquisa Exploratória

A pesquisa exploratória consiste no passo


inicial de qualquer investigação, contribuindo as-
sim com a apropriação de saberes, na aquisição de
embasamento para realizar posteriores pesquisas,
pela experiência e auxílio que traz. Limita-se a defi-
nir objetivos e buscar maiores informações e ideias
novas sobre o tema em questão, familiarizando-se
com ele.

Estudo de Caso

A pesquisa bibliográfica é considerada o pri-


meiro momento de toda pesquisa científica, levan-
do o pesquisador a obter fontes de informações
onde serão levantadas as hipóteses e consequente-
mente ao estudo de caso. O estudo de caso baseia-
se nas pesquisas já colhidas, onde são observadas,
estudadas as formas e as possibilidades de infor-
mações contidas para realização da pesquisa.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 69

Como Delinear um Estudo de Caso

É impraticável constituir um itinerário rigoro-


so que determine com exatidão como necessitará
ser construída a pesquisa. Na maioria dos estudos
de caso é possível distinguir quatro fases:
Delimitação da unidade-caso: Este pode ser
um indivíduo, uma família, um grupo social, um con-
junto de afinidades ou procedimentos, ou mesmo
uma civilização. Para que os resultados obtidos nes-
te tipo de delineamento sejam significativos, reco-
menda-se o estudo de certas variedades de casos;
Buscar acontecimentos característicos: Esco-
lher casos extraordinários; adotar episódios margi-
nais. Portanto, trata-se de encontrar casos anormais;
Coleta de dados: A coleta de dados é feita
através da observação, da análise de documentos,
da entrevista e da história de vida;
Análise e interpretação dos dados: É muito im-
portante para a análise dos dados que o pesquisador
utilize-se de categorias analíticas, à medida que possam
ser empregadas formas de classificação derivadas de
teorias de reconhecido valor, é menos provável que a
interpretação dos dados envolva julgamentos implícitos,
preconceitos, intuições, opiniões de senso comum, etc..

Pesquisa Histórica

Busca a apreensão de fatos que são orga-


nizados respeitando-se a contextualização histó-
rica. É o tipo de pesquisa científica que, através
de análises de documentos do passado, das
constatações, comprovações,
da descrição, confrontam-se
costumes, tradições, conver-
gências e diferenças.
70 Ensino e pesquisa - organização de projetos

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide


Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia
científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007

Para saber mais sobre o tema tipos de pesquisa,


leia no livro de Barros e Lehfeld, capítulo 6, intitula-
do A pesquisa e a iniciação científica descrevem-se,
conteúdos que abordam a tipologia da pesquisa
segunda as formas de estudo. Sabe-se que a pes-
quisa requer o uso de métodos e de técnicas. O
método deve ser visto como uma orientação, uma
indicação dos caminhos, com competência para
atingir a realidade que se pretende alcançar com o
êxito previsto.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências sociais e


humanas. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

No capítulo 1, A pesquisa experimental, o autor de-


monstra que a pesquisa deve ter como fundamento
o estudo dos fenômenos educativos, psicológicos,
sociais e linguísticos, pois a busca de conhecimen-
tos comprovadamente coerentes e rigorosos, que
substituíssem os conhecimentos especulativos, in-
tuitivos e de senso comum, desenvolveu um méto-
do de comprovação das afirmações admitidas como
científicas.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 71

PARA REFLETIR

Caros alunos,
Lembram-se que na disciplina Psicologia da Educa-
ção vocês puderam analisar alguns casos ocorridos
em escolas?
Citamos como exemplo o caso do um professor de
matemática que não conseguia interagir satisfato-
riamente com os alunos, pois eles não estavam in-
teressados nas suas aulas rotineiras, enfadonhas,
autoritárias e desestimuladoras, com o uso fre-
quente da pedagogia tradicional e com um distan-
ciamento afetivo de ambos os lados, enquanto que
o professor substituto trouxe para os seus alunos
o uso de uma metodologia mais inovadora, mais
afetividade, despertando-lhes um novo desejo de
estudar para aprender.
Que tal vocês discutirem em grupo sobre a impor-
tância da pesquisa estudo de caso para o Curso de
Pedagogia?

2.3 Técnicas de estudo como forma de pesquisa


e aprendizagem

Um novo capítulo começa e sei que você, alu-


no, concorda que a escola de qualidade, aquela
com a qual sonhamos continuamente, deve assegu-
rar, além de sólida formação científica e profissio-
nal, uma formação cultural e política adequada às
exigências postas pela complexidade da sociedade
atual. Nesse sentido, entre as condições que garan-
tem qualidade inclui-se, de forma pertinente, a pre-
sença de profissionais autônomos, críticos e criati-
vos, fruto de uma instituição que não se distancia
da sua realidade, mas se propõe a ser espaço de
72 Ensino e pesquisa - organização de projetos

síntese e integração de conhecimentos pertinentes,


úteis na luta pela conquista da cidadania.

A Importância da Leitura e da escrita na Produção


Científica

O novo paradigma educacional, fundamenta-


do na concepção do aprender a aprender, deman-
da dos educandos uma postura autônoma, capaz
de saber refletir, aprender e apreender, tomar suas
decisões e buscar as informações que precisam,
desenvolvendo uma visão peculiar das questões
e problemas que envolvem a sociedade. Compete
à academia, formar homens capazes de imaginar,
criar coisas novas, expandir ideias, aperfeiçoar con-
ceitos e direcionar suas experiências com ética e
consciência social.
Os professores têm um papel importante na
interação dos alunos com o conhecimento. Nesse
contexto, os pesquisadores, professores e alunos,
41 Os profissionais necessitam inteirar-se de assuntos pertinentes na
mais diretamente
responsáveis pela
sua área específica, de modo que possam atuar
iniciação científica competentemente no cotidiano. Para os educado-
devem ser bons res, o uso da pesquisa serve, como importante au-
leitores. Um profes-
sor precisa gostar xílio na tarefa de produzir conhecimentos, de forma
de ler, envolvendo- mais criativa e dinâmica.
se com o que lê a
fim de ser um bom Estimular o estudante à prática de leitura
exemplo para seus costuma ser uma responsabilidade desafiadora. O
alunos. Os livros e
os textos devem ser educador41 precisa acreditar sinceramente que este
escolhidos de forma exercício torna-se interessante apenas quando há
mais cuidadosa,
visando sempre à motivação criativa. Não é o hábito que desperta
aprendizagem e interesse, mas sim as descobertas que se realizam.
o sucesso escolar
dos alunos na A capacidade de envolvimento causa sensações
pesquisa a fim de prazerosas e ao mesmo tempo enriquecem os co-
que eles percebam
que leitura é base nhecimentos.
de construção de A leitura de um texto implica intencionalida-
conhecimentos, é
uma virtude.
des. É preciso também que cada um se posicione
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 73

diante da vida e construa o seu próprio conheci-


mento, pois, sem dúvida, esta é a forma humana
de participar do conhecimento e dos valores pouco
a pouco conquistados pela humanidade, favorecen-
do a convivência cidadã.
A leitura faz parte do sistema de comunica-
ção humana, e está conectada à aprendizagem e à
utilização da linguagem. É importante que os estu-
dantes busquem e sintam satisfação no aprendiza-
do, de maneira que possam difundir e aplicar novas
vivências, concepção de mundo, ideias, valores,
modos de agir, convicções ideológicas, morais, po-
líticas, princípios de ação frente a situações gerais
e desafios da vida prática.
Sabe-se que a leitura como fonte de pesquisa
e de conhecimento favorece a construção do texto
do pesquisador. Afinal, toda a evolução da pesquisa
científica, ou simplesmente da pesquisa acadêmica,
carece de uma revisão literária, a qual construirá
uma fundamentação teórica exigida como um novo
parâmetro do conhecimento desejável e necessário
à vida em sociedade.
Compete ao pro-
fessor contribuir para
que os alunos tornem-se
leitores cada vez mais
críticos, conscientes e
hábeis, motivando-os
a escrever por prazer e
não por obrigação.
A pesquisa cien-
tífica exige a prática da
produção escrita, que
deve deixar de ser uma
prática desmotivante
para o estudante, principalmente para quem fará
o trabalho de conclusão de curso na academia e
74 Ensino e pesquisa - organização de projetos

precisa adquirir desenvoltura no uso da linguagem,


da leitura, escrita de textos, para ter competência
na comunicação oral.
Os conhecimentos individuais afetam decisi-
vamente a compreensão de modo que o sentido
não se reside no texto. O texto só se tornará unida-
de de sentido na interação com o leitor.
Para se interpretar bem um texto é preciso
conhecê-lo, reconhecendo sua estrutura e compre-
endendo seu objetivo. Por isso, quanto mais você
lê, e de preferência ler produções de diferentes
gêneros, mais fácil será entender e interpretar um
novo escrito. Assim, você enriquece seu vocabulá-
rio e seu conhecimento aumenta.
As dificuldades que os alunos enfrentam
quando vão produzir um texto são inúmeras. Na
maioria dos casos, eles não apresentam dificulda-
42 O desenvol-
vimento de um des em se expressar na oralidade através da lin-
trabalho científico guagem coloquial.
pode:
•explicar – tentar
Os problemas aparecem quando surge a ne-
evidenciar o que cessidade de produção textual. Acontece que na
está implícito, obs-
curo ou complexo.
linguagem oral o falante se expressa não só através
Seria descrever, da fala, mas também através de gestos, sinais e
definir, classificar
etc.;
expressões, esses recursos não são explorados na
•discutir – comparar modalidade escrita, pois ela tem normas próprias,
as várias posições como regras de ortografia, pontuação que não são
que se entrechocam
dialeticamente; reconhecidas na fala.
•demonstrar A escrita de palavras ou frases soltas só faz
– aplicar a argumen-
tação apropriada inibir a competência necessária para a produção
à natureza do que de textos coesos e coerentes e isso dificulta juntar,
será evidenciado.
Argumentar é partir articular palavras, orações, períodos e parágrafos.
de posições ou Todo trabalho científico42 ao ser composto
certezas mais ou
menos evidentes, para apresentação formal, organiza-se necessaria-
garantidas (as mente em três partes: introdução, desenvolvimento
premissas) para a
elucidação de novas e conclusão.
posições, para a
busca de novas
verdades.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 75

Introdução

É um dos últimos elementos a ser escrito,


pois deve apresentar a ideia geral do trabalho e
sua estrutura em termos de capítulos, ou partes
pertinentes, de forma sintética, clara e objetiva.
Fazem parte da Introdução: a ideia central do tra-
balho; a delimitação do tema e sua relevância só-
cio-histórica, política, cultural, educacional; a meto-
dologia desenvolvida; os objetivos e as motivações
do pesquisador para realização da pesquisa; um
resumo de cada capítulo, categorias de análise ou
partes específicas.

Desenvolvimento

Reflete o núcleo central ou corpo do trabalho.


Compõe-se como estrutura lógica, coerente, ampla
e profunda, capaz de demonstrar o alcance dos ob-
jetivos inicialmente propostos, confirmar ou refutar
hipóteses, desdobrando-se em capítulos conforme
a necessidade de organizar os assuntos integrantes
do tema ou problema, elucidados com argumenta-
ções validadas no referencial teórico-prático.

Conclusão

É a síntese final do trabalho e deve repre-


sentar o esforço de construção do conhecimento
resignificado à luz da experiência possibilitada pela
pesquisa. É um momento formal que deve privile-
giar a capacidade de comunicação do pesquisador,
socializando uma mensagem que se caracteriza por
destacar a evolução do tema/problema apontando
soluções, ou alternativas possíveis, após a leitura
crítica da realidade delimitada para estudo e pes-
quisa.
76 Ensino e pesquisa - organização de projetos

43 Propomos uma Quanto à extensão43 do trabalho de conclusão


média de 15 até
25 laudas para a de curso, observa-se que muitos pesquisadores e
escrita de artigo autores ao falarem sobre esta questão têm prioriza-
científico e de 50
a 100 laudas para do a dimensão qualitativa da produção acadêmica
a monografia. Essa ou científica, sem fixar em limites muito amplos ou
média poderá ser
flexibilizada de muito pequenos, um número ideal de laudas como
acordo com as exigência inflexível para composição das monogra-
necessidades pró-
prias de cada tema
fias, sobretudo nos cursos de graduação.
e de acordo com Assim, recomendamos que sejam resguarda-
as determinações
das Instituições
das a coerência e a coesão do texto que deve ser
solicitantes. apresentado seguindo uma sequência lógica das
ideias, destacando-se o núcleo central dos aspec-
tos secundários complementares, culminando numa
síntese final conclusiva em termos do alcance dos
objetivos e finalidade da pesquisa realizada.

Tipologia dos Textos Intelectuais e Científicos

44 Se apresentar Podemos distinguir diversos tipos de textos44


qualidade e
adequar-se às
que são adotados pelos educadores e construídos
exigências de pelos alunos, cujas formas de escrita devem aten-
periódicos, pode
ser destinado à
der às normas técnicas especialmente as da ABNT
publicação. e as normas da Instituição, conforme o objetivo da
solicitação:

•Artigo - escrita que trata de determinada


temática, apresenta e desenvolve considerações e
argumentações do seu autor.
•Artigo científico - texto que discute ideias,
apresentando-se obrigatoriamente enriquecido de
fundamentação teórica, destinado inclusive à publi-
cação em livros e periódicos, meio muito utilizado
para a comunicação da pesquisa especialmente nas
revistas científicas. Resultado de uma investigação
científica que pode ser experimental, de campo, bi-
bliográfica ou outros tipos metodológicos de pes-
quisa. Neste sentido, pode apresentar-se como uma
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 77

compilação, uma resenha ou como um relatório de


pesquisa científica. Destaca-se que o seu formato
pode mudar, mas, deve atender às exigências das
finalidades para a sua elaboração.
•Artigo de opinião - Diferencia-se do artigo
científico por ser um texto construído sem conter
citações. Escrita que trata de determinada temáti-
ca, apresenta e desenvolve considerações e argu-
mentações do seu autor. Se apresentar qualidade
e adequar-se às exigências de periódicos, pode ser
destinado à publicação. Crítica, documento no qual
se aprecia e apresenta-se o valor de uma obra lite-
rária, artística, científica, etc.
•Dissertação - investigação criteriosa sobre
tema específico, para obtenção do grau de mestre.
•Ensaio - Estudo menos aprofundado sobre
determinado tema, expondo ideias de contornos
mais embrionários.
•Folhetos - O folheto pode ser usado por
alunos como forma de apresentar informes sobre
temas diversos que foram solicitados por profes-
sores ou que sejam de interesse do próprio aluno,
a exemplo dos folhetos produzidos e distribuídos
pelos grêmios estudantis.
•Livros - em geral a produção de textos para
a publicação em livros é da responsabilidade do 45 A monografia
é, portanto,
professor, que pode orientar o trabalho de alunos e documento que
publicar em nome do grupo responsável pelo texto, deve ser construído
por um pesquisador
em livros ou em revistas científicas. O mais comum e tem por objetivo
é que o aluno publique em jornais e em periódicos descrever num
estudo meticuloso,
ou revistas da própria universidade. um só tema, rela-
•Monografia45 - Monos do prefixo grego cor- tivamente restrito
e requerido em
responde ao latino solus e significa “um só”. Gra- cursos de graduação
phein corresponde a escrever. Assim podemos dizer e pós-graduação.
Objetiva satisfazer
que na etmologia da palavra monografia constitui- um requisito para
se em trabalho intelectual que concentra sua refle- obtenção de grau,
xão em um único assunto. De acordo com a NBR título ou a avaliação
escolar.
78 Ensino e pesquisa - organização de projetos

6023/2002 é: item não seriado, item completo,


constituído de uma só parte ou o que se pretende
completar em um número preestabelecido de par-
tes separadas. Uma monografia deverá estar funda-
mentada na interpretação e organização de dados,
coerentes com objetivos claros e previamente esta-
belecidos.
•Paper ou Comunicação científica – É um
tipo de artigo científico que deve ter entre 2000 a
5000 palavras. Geralmente este tipo de texto cientí-
fico visa à apresentação/comunicação oral em con-
gresso, eventos onde pesquisadores partilham seu
conhecimento, resultados de pesquisas. Sujeito à
aprovação pelo comitê do evento.
•Projeto de pesquisa, composto de várias
etapas, predetermina a condução da pesquisa fa-
zendo a descrição de planos, etapas e procedimen-
tos de um processo de investigação científica a ser
realizado.
•Publicações periódicas, editadas em interva-
los prefixados, existente em várias instituições de
nível superior, atende aos desejos de publicação da
comunidade educativa. São revistas, boletins, etc.
•Relatório técnico - científico, é um relato for-
46 Uma tese deve mal dos resultados de uma pesquisa.
ser original e
contribuir para a •Resenha - comunicação de pequeno porte,
ciência em questão, relatando o resultado da avaliação sobre uma nova
pois apresenta o
mais alto grau de publicação. Destacam quatro tipos de resenha que
pesquisa e exige são solicitadas no nível superior: Resenha de mo-
não só exposição
e explicação do
nografia, resenha de tratados, resenha de livros de
material coletado, textos e resenha de livros de divulgação.
como também,
principalmente,
•Sinopse - apresentação concisa de um arti-
análise e interpreta- go, obra ou documento.
ção de dados.
Pesquisa realizada
•Tese46 - modalidade das mais antigas do
sobre determinado trabalho científico. A defesa da tese visa obter o
objeto, que deve título de doutor. Uma tese deve identificar, situar
ser bem específico e
bem delimitado. e abordar mais densamente uma questão científica
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 79

inédita. O termo doctor segundo o étimo latino sig-


nifica “aquele que sabe” designando a pessoa que
tem um conhecimento profundo sobre um assunto
e deu prova deste seu saber excepcional median-
te a realização de um trabalho sério. Por inédito
entenda-se algo novo completamente ou novos as-
pectos considerados em algo já existente. Entende-
mos que a pesquisa em cada momento pode reve-
lar novas possibilidades sobre o mesmo objeto de
estudo já investigado. É sempre um “novo olhar”.
•Trabalhos didáticos são pequenos textos
exigidos na graduação, sobre temas estudados,
com o objetivo de fixar o aprendizado.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.


Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Pau-
lo: Atlas, 1992.

No livro Metodologia do trabalho científico, no ca-


pítulo 1, dos procedimentos didáticos, as autoras
abordam aspectos sobre a importância da leitura,
declara-se que a leitura constitui-se em um dos
atores decisivos do estudo e imprescindível em
qualquer tipo de investigação científica. Favorece a
obtenção de informações já existentes, poupando
o trabalho da pesquisa de campo ou experimental.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do traba-


lho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Também no capítulo 1, este livro aborda o conteúdo


1.2 concepções de universidade, ciência e formação
acadêmica, título que foi denominado. No tópico 1.2,
destaca-se A produção do conhecimento como cons-
80 Ensino e pesquisa - organização de projetos

trução do objeto. O objetivo do capítulo é explicitar


o sentido das relações entre ensino, aprendizagem,
conhecimento e educação no âmbito da universidade.

47 É importante o PARA REFLETIR47


compartilhamento
entre os alunos das
ideias resultantes Neste capítulo apresentamos o valor de saber ler
da reflexão, e isso
deve ocorrer no e escrever. Vocês lembram-se que nós estudamos
AVA. sobre o tema da importância da leitura na disciplina:
Escrita, Alfabetização e Letramento? Vivemos em um
mundo letrado, mas nem todos sabem ou possuem
o hábito de ler por prazer.
Agora, comecem a pensar: Quais são as conse-
quências de quem não sabe ler e escrever, no
convívio social cotidiano? E vocês, que são alunos
de pedagogia, que estão incorporando o título de
educadores, que sabem ler e escrever, estão ha-
bituados à leitura? Sentem prazer? Para produzir
conhecimentos precisamos gostar de ler e de es-
crever. Aproveite para conversar sobre isso com os
seus colegas de turma.

2.4 A pesquisa como mediação para construção


da autonomia acadêmica

Este capítulo apresenta reflexões sobre as-


pectos da pesquisa acadêmica no nível superior de
ensino, tratando sobre temas como: a importância
da linguagem científica como instrumento de pro-
dução do conhecimento, dificuldades e insegurança
dos alunos nesse processo, e o papel do orientador
como mediador e organizador dos projetos de ini-
ciação científica e Trabalhos de Conclusão de Curso.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 81

À universidade compete sistematizar e ampliar


os conhecimentos científicos, através da pesquisa sé-
ria e bem orientada, disseminando as informações,
gerando inovações, devendo a instituição estar sem-
pre atualizada e preocupada em resolver os proble-
mas da comunidade local e da sociedade em geral.

O Ato de Pesquisar

Todo projeto de pesquisa possui três dimensões


a serem reconhecidas: técnica, ideológica e científica.
A dimensão técnica é a que trata de métodos
e técnicas conforme os objetivos a serem alcança-
dos. O método é o conjunto de caminhos percorri-
dos pelo pesquisador, na busca do conhecimento
científico. As técnicas correspondem à parte prática
da pesquisa. A técnica é o conjunto de regras aptas
para conduzir eficazmente as atividades através do
uso de instrumentos e de procedimentos apropria-
dos às necessidades da pesquisa.
A dimensão ideológica reflete os aspectos da éti-
ca e da postura sócio-político-cultural do pesquisador.
A dimensão científica é a que representa a
importância da ciência e se revela pelo caráter nor-
mativo, regulador da produção do conhecimento. É
na prática, é na elaboração do projeto de pesquisa
e é na sua execução que decidimos quais os rotei-
ros metodológicos, técnicos e instrumentais para
se chegar a uma resposta precisa do problema de-
terminado no planejamento da pesquisa.

Redação de Trabalho Acadêmico

Ao construir textos na universidade os alunos


são orientados à elaboração de versões de cunho
mais teórico ou mais prático, conforme o objeti-
vo determinado pelo orientador e necessário ao
82 Ensino e pesquisa - organização de projetos

sucesso da disciplina. A consequência de assumir


constantes desafios de construção de textos, cada
vez mais aprimorados, é o desejo de chegar a um
texto mais aprofundado. Na construção de um texto
há sutilezas que recomendam o emprego de deter-
minadas palavras de acordo com o que se pretende
transmitir. Devemos, portanto, articular o ensino da
metodologia científica em torno de dois grandes ei-
xos: o eixo do uso da língua oral e escrita e o eixo
do uso da reflexão acerca desses usos.
48 Elaborar um Para produzir-se ciência, a análise de textos48
texto é uma tarefa
cujo sucesso não que embasam a fundamentação teórica é essencial.
se completa, Se o texto é o objeto de estudo, primeiro se estuda,
simplesmente,
pela codificação se analisa, se tenta compreender, o texto no todo e
das ideias ou das em cada uma de suas partes e, para que se chegue
informações, através
de sinais gráficos. a essa compreensão, vamos ativando as noções, so-
Ou seja, produzir bre os saberes gramaticais que são necessários.
um texto escrito
não é uma tarefa
Ler corretamente não é apenas fazer o uso
que implica apenas adequado da decodificação, lendo com sinais de
o ato de escrever.
Para se produzir um
pontuação correto, ler correto é ler e saber inter-
bom texto é preciso pretar a leitura e compreender o que o texto diz, ou
conhecimento do
assunto ou tema
seja, a mensagem do texto.
tratado, para que Assim, o ato de ler não pode ser considerado
possam argumentar um processo de decodificação no sentido fônico/
com clareza e
facilidade. fonético, visto que o foco do leitor é construir uma
interpretação significativa do texto, em vez de se
concentrar em letras ou palavras individuais.
A leitura é uma atividade essencialmente produ-
tiva, de formação de hipóteses, para a qual o leitor pre-
cisa utilizar seu conhecimento linguístico, conceitual, e
sua experiência. Ao ler um texto, o leitor pode procurar
levantar hipóteses sobre determinado assunto.
Mas, a grande preocupação de um escritor
deve ser quanto aos aspectos da comunicação: ao
escrever um texto o autor deve pensar prioritaria-
mente no leitor, ou seja, não fique rebuscando o
texto com palavras enciclopédicas, daquelas que
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 83

só encontramos nos dicionários. O jeito de es-


crever, as palavras escolhidas são elementos que
devem transmitir a identidade de quem escreveu,
portanto, seja original nas suas ideias, cultive a
simplicidade do texto para ser compreendido pelos
leitores, apresente reflexões coerentes e embasa-
das teoricamente.
Quanto maior for o domínio do vocabulário49, 49 Para escrever
textos corretos
maior será a capacidade de comunicar a vasta gama ortograficamente, o
de anseios, percepções que determinado tema ou autor/pesquisador
deve obediência
objeto lhe sugere. Deve-se evitar o uso repetitivo ao padrão culto da
de palavras e expressões, optando-se pela substi- língua, regido por
normas gramaticais,
tuição por termos equivalentes. de linguística
A escrita do texto vai sendo facilitada pelo nível e grafia, o que
garante a eficácia
de exigência cada vez maior e a produção textual se da comunicação.
torna mais madura, consequência do hábito e das Uma frase gramati-
calmente incorreta,
constantes leituras e debates usados no transcorrer sintaticamente
dos cursos universitários, cujas metas de comunica- mal estruturada e
grafada com erros é,
ção e de linguagem devem ser alcançadas pelo aluno. antes de tudo, uma
Os educadores, sobretudo os que trabalham mensagem que não
com a pesquisa científica, têm a obrigação de cuidar atinge o objetivo de
transmitir opiniões
da normatização e da linguagem científica. A constru- e ideias do seu
ção do texto da pesquisa deve obedecer aos requi- autor com precisão
para que haja a
sitos exigidos para que haja uma clara comunicação. comunicação.
Portanto, o texto deverá apresentar introdução, de-
senvolvimento e conclusão, com adequação à temáti-
ca analisada, além de apresentar coerência, organiza-
ção, estruturação lógica e correção ortográfica.

Dificuldades dos alunos na produção do conheci-


mento

A falta do hábito de leitura e de construção


de texto, a deficiente orientação de alguns orien-
tadores, a falta de acesso e de disponibilidade de
material bibliográfico pelas limitações de acervos
atualizados nas bibliotecas, o custo para comprar
84 Ensino e pesquisa - organização de projetos

livros, entre outros problemas, aparecem como li-


mitadores da construção do trabalho dos alunos.
Tomando como parâmetro as análises de Aze-
vedo in Araujo (2008), listamos as falhas mais co-
muns na investigação científica:

•Falta de clareza nos propósitos;


•Falta de originalidade do material;
•Má organização do material expositivo;
•Repetição de palavras, conceitos e informa-
ções;
•Desatualização bibliográfica;
•Excessiva dependência de fontes;
•Incorreção ou incoerência no sistema de re-
ferenciação das fontes;
•Dimensão excessivamente longa de títulos
de capítulos ou tópicos;
•Inadequação da definição de termos.

Estas dificuldades colaboram para inseguran-


ça dos alunos que ao invés de produzirem com au-
tonomia, transformam-se em copistas, reproduzin-
do textos que não contribuem para os avanços do
conhecimento. Trabalhos são transcritos em parte
ou na íntegra. Infelizmente, a comunidade acadê-
mica sabe que existem pessoas que vendem ou
simplesmente repassam trabalhos prontos para os
estudantes.
Há também, disponível na internet, alguns si-
tes que “facilitam” a vida dos alunos em suas pro-
duções acadêmicas. Devido a estas “facilidades”,
muitos educandos são tentados a comprar, copiar,
transcrever, o que está amplamente acessível.
Assim, percebe-se que todos os sujeitos, se
bem orientados, são capazes de construir novos
conhecimentos e de atender às determinações me-
todológicas da pesquisa. Na escolha e definição do
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 85

professor/orientador, duas exigências devem ficar


bastante transparentes: O domínio do conhecimen-
to específico e o domínio da metodologia científica.
Embora alguns orientandos fujam de sua
responsabilidade e ao negar-se à possibilidade de
escrever, buscam outros meios para justificar uma
produção de TCC (a compra ou a cópia de algum
texto ou de algumas partes que se encontravam
acessíveis a ele).
Neste entendimente, o aluno assume uma
das duas posturas que são contraditórias: rotula-se
como incompetente ou como o mais esperto dos
alunos. O espírito de recusa, de descrédito do pró-
prio potencial criador leva o sujeito, no íntimo, a
um alívio imediato e ao mesmo tempo a uma sen-
sação de incompetência angustiante.
Mesmo que outras pessoas não saibam que
o trabalho foi transcrição em parte ou na totalida-
de, quem está assumindo a autoria sabe que não
escreveu. Portanto, na sua consciência, percebe-se
como um sujeito incapaz de analisar o mundo ao
seu redor, na sua consciência.
Os pormenores da metodologia científica,
quando experimentados individualmente acrescen-
tam valor significativo ao saber coletivo. A prática
educativa e a prática pedagógica, por si, já fazem
mediações pelas quais, a estética, a ética e as ciên-
cias chegam aos discentes. Para isso, em primeiro
lugar, há necessidade de o educador conduzir o
processo de pesquisa no papel de mediador di-
nâmico entre a experiência cultural em geral e o
educando.
O fato é que todos somos sujeitos criativos e
criadores em potencial, com escalas diferenciadas
de evolução, conforme as nossas habilidades vão
sendo estimuladas e conforme acreditamos no nos-
so potencial.
86 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Cabe à universidade estimular a criatividade


científica, formar profissionais, agregar conheci-
mentos para responder aos problemas da atualida-
de em suas múltiplas dimensões, considerando o
universal e o particular, articulando o conhecimen-
to: pesquisa, ensino e extensão com o intuito de
prestar serviços especializados à comunidade.
O mais importante na construção do conhe-
cimento pela pesquisa é o ato do atrevimento sau-
dável, estimulante e compensatório, da realização
de um desejo de descobertas e construções con-
cretas. Melhor ainda se os resultados alcançados
trouxerem benefícios para a comunidade e um con-
sequente prestígio: o de ser reconhecido na comu-
nidade à qual o pesquisador pertence como um
sujeito eficiente e eficaz.
Também não se descarta a necessidade de
haver uma relação de integração e de afetivida-
de entre educador e educando, o que vai levar o
pesquisador a ter maior segurança para escrever e
apresentar o seu texto na defesa do TCC.
Destaca-se que é compromisso formal do
orientador encaminhar o orientando no processo de
descobertas para a pro-
dução criteriosa de tex-
tos. Ele sugere o tema
ao orientando, que ao
aceitá-lo delimita-se
também a temática.
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 87

O orientador propõe, então, material de pes-


quisa e campos de atuação, conforme a realidade
a ser estudada, encaminha roteiros para leituras e
sugere mudanças em termos de conteúdo ou de
organização, prestando todo o suporte intelectual
necessário.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do traba-


lho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

No 1º capítulo do livro Metodologia do trabalho


científico de Severino, aborda-se de forma bem
interessante o sentido das relações entre ensino,
aprendizagem, conhecimento e educação no âmbi-
to da vida universitária, descrevendo o contexto em
que se insere a atividade científica dos estudantes.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à edu-


cação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

Nesse livro, ao final do capítulo 2.4, intitulado A


pesquisa como mediação para construção da autono-
mia acadêmica, apresentamos para vocês um texto
baseado nas ideias de Edgar Morin. O texto tem o
inegável valor de inserir uma inovação e uma criativa
reflexão, no contexto atual das discussões que estão
sendo feitas sobre a educação para o século XXI.

Devido à importância do livro: Os sete saberes ne-


cessários à educação do futuro recomendamos a
sua leitura na totalidade. É uma oportunidade para
vocês assimilarem visões de educação.
88 Ensino e pesquisa - organização de projetos

PARA REFLETIR

Leiam o parágrafo abaixo e converse com os cole-


gas sobre o conteúdo. Vocês concordam? Discor-
dam? Pensem sobre isso.

Como diz Morin (2009), as ciências permitiram que


compreendêssemos muitas certezas. No entanto,
elas também ajudaram a revelar as zonas de incer-
tezas. Dessa forma, a política pedagógica precisa
converter-se em um instrumento que conduza o es-
tudante a um diálogo criativo com as suas dúvidas
e interrogações do nosso tempo, condição neces-
sária para uma formação cidadã. Não se pode mais
ignorar a urgência da universalização da cidadania,
que, por sua vez, requer uma nova ética e, por
conseguinte, uma escola de educação e cidadania
para todos.

RESUMO

Olá, pessoal, concluímos o tema 1 da primeira par-


te do livro: Ciência e Produção do Conhecimento no
Contexto Social e Histórico, só que agora nós apre-
sentamos o Tema 2: Elementos da Pesquisa Científi-
ca. São mais quatro capítulos. No quinto capítulo,
Importância da Pesquisa Científica, afirmamos que é
urgente educar o professor para saber enfrentar os
desafios que caracterizam essa nova época, prepa-
rando-o para saber pensar criticamente, aprender a
aprender, e interpretar a realidade, inovar, interferir,
questionar, transformar. Há, porém, nessas con-
siderações iniciais, inúmeras questões que podem
Tema 2 | Elementos da pesquisa científica 89

ser levantadas, conduzindo-nos a uma longa e es-


sencial reflexão. No sexto capítulo, Pesquisa Cien-
tífica: Tipologia e Procedimentos Metodológicos,
analisou-se que entre todos os animais, nós, os
seres humanos, somos os únicos capazes de criar
e transformar o conhecimento; somos os únicos ca-
pazes de aplicar o que aprendemos, por diversos
meios, numa situação de mudança do conhecimen-
to. Somos os únicos capazes de criar um sistema
de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar
nossas próprias experiências e passar para outros
seres humanos. Essa característica é o que nos per-
mite dizer que somos diferentes dos patos, dos
macacos e dos leões. No sétimo capítulo, Técnicas
de Estudo como Forma de Pesquisa e Aprendizagem
destacamos que se faz necessário, portanto, que o
professor, a partir de textos modelos, e, antes de
solicitar qualquer atividade de produção textual es-
crita a seus alunos, mostre-lhes como se apresenta
a organização metodológica esquemática, as pecu-
liaridades do tipo de texto que ele pretende traba-
lhar, para que sejam conhecidos e armazenados em
suas memórias esse tipo específico de conteúdo.
No oitavo capítulo, A Pesquisa como Mediação para
Construção da Autonomia Acadêmica, estudamos
que a academia tem um papel fundamental nes-
ta sociedade, na formação do novo profissional,
cabendo ao professor adotar uma nova postura,
em que possa mediar esse processo na formação
dos seus alunos, criando novas estratégias e um
ambiente motivador e desafiador. No próximo blo-
co temático analisaremos os Caminhos Da Pesquisa
Para Produção Do Conhecimento Científico.
CAMINHOS DA PESQUISA
PARA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Parte 2
3 A construção do
projeto científico

Neste tema estudaremos A construção do projeto científico. O


Planejamento deve considerar a vontade do pesquisador de distinguir
a realidade. Todo Projeto de Pesquisa carece de planejamento, pois
o planejamento é uma premeditação de ações e significa prever e
tornar metódicas as fases ou etapas para a operacionalização de um
trabalho científico. Estabelece-se como um instrumento que conduz
a uma ação específica com base em recursos humanos, técnicos e
financeiros.
94 Ensino e pesquisa - organização de projetos

3.1 O projeto científico: elementos e etapas da


sua elaboração

Planejamento é uma previsão sistemática da ação


futura e não se constitui uma garantia para obtenção
de bons resultados. Para entendermos melhor o que é
planejamento, apresentamos o seguinte exemplo: Todos
nós já fizemos compras na feira ou no supermercado.
Para não comprarmos em excesso e para controlarmos
as nossas reais necessidades de comprar, fazemos um
planejamento escrito, ou seja, fazemos uma relação dos
produtos que precisamos, determinamos onde comprar,
o que comprar, quanto comprar, portanto, premedita-
mos ações, planejamos antes de agirmos.

O Projeto de Pesquisa

A escolha do tema é elemento essencial para


o êxito da investigação e da elaboração do traba-
lho científico, devendo ser considerados os crité-
rios para dar caráter de cientificidade à pesquisa:
• Interesse do tema;
• Relevância do problema;
• Utilidade da investigação para a área;
• Conhecimento do assunto, adequação e
capacidade do autor;
• Definição do(s) aspecto(s) a ser (em)
abordado(s);
• Originalidade;
• Existência de material bibliográfico;
• Existência de outros tipos de fontes como
pessoas, situações, etc.

O projeto de pesquisa científica esteticamen-


te pode ter características diferenciadas, de insti-
tuição para instituição, mas em geral apresenta-se
com as seguintes partes:
Tema 3 | A construção do projeto científico 95

Elementos Pré-Textuais50 50 Destacamos


que a estética dos
elementos que
Capa, lombada ou espiral, folha de rosto, fi- compõem o projeto
encontra-se no site
cha catalográfica51 errata folha de aprovação, dedi- Magister/UNIT:
catória, agradecimentos, epígrafe, sumário e listas. • Manual de Normas
e Citações;
• Manual de
Elementos Textuais Monografia.

51 A ficha catalo-
Texto - Contendo: Título e tema, problema, gráfica e a errata
objetivos: geral e específicos, justificativa, relevân- devem ser coloca-
das nessa ordem e
cia e contribuições, hipóteses ou questões nortea- não aparecem no
doras, metodologia e fundamentação teórica. projeto, apenas na
monografia.
• Elementos Pós-Textuais
• Cronograma, anexos, apêndices e
• Referências.

ELEMENTOS TEXTUAIS

Título e Tema

O tema de uma pesquisa é o assunto que se


deseja estudar, analisar, provar ou desenvolver. E o
primeiro passo a ser dado, por aquele que se propõe
a desenvolver uma pesquisa, é a escolha do tema.
O título pode ser definido no início da pesqui-
sa e ser modificado pelo seu autor até o momento
da entrega do trabalho de conclusão de curso.

O Problema de Pesquisa

Toda pesquisa inicia-se com algum tipo de


indagação. O projeto de pesquisa trará elementos
para responder às questões fundamentais: O que
pesquisar? Por que se deseja fazer a pesquisa?
Como pesquisar? Com quais recursos? Em qual pe-
ríodo? O que é um problema de pesquisa? Como
formular um problema de pesquisa?
96 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Deve-se iniciar a elaboração do projeto de


52 O problema pesquisa após a definição do problema52 de pes-
científico é
caracterizado por quisa. Não existe regulamento formalizado quanto
uma questão não à relação de itens que devem compor a espinha
resolvida que é
de discussão, em dorsal de um projeto de pesquisa. Estes ficam con-
qualquer domínio dicionados à possibilidade de responder às ques-
do conhecimento.
O problema precisa tões.
se enquadrar na O importante será demonstrar claramente o
categoria de busca
do conhecimento
problema enfocado para o estudo, a metodologia,
científico. O proble- a apresentação das técnicas para coleta de dados,
ma científico pode
fornecer sugestões
as formas de análise dos mesmos, e o desenho da
e inferências amostra do estudo.
acerca de possíveis
respostas, mas
Pode-se dizer que um problema é de cará-
não responder ter científico quando abrange variáveis que podem
diretamente esses ser testáveis. O problema deve ser formulado como
problemas. Eles
não indagam como pergunta. É preciso escolher um tema, e depois as
são as coisas, perguntas que serão feitas a este é que serão ca-
suas causas e
consequências, mas racterizadas como um problema.
indagam acerca
de como fazer as
coisas. Objetivos - Geral e Específicos;
Os objetivos apresentados na elaboração do
projeto de pesquisa devem proporcionar clareza
quanto à pretensão do pesquisador na busca da
materialização do saber científico. Os objetivos re-
presentam para o pesquisador o que se quer pes-
53 Sugestões de quisar. Classificam-se em dois tipos: Geral e Espe-
verbos mais usados
no Objetivo Geral - cíficos que, ao escrevê-los, devemos usar apenas
Verbo no infinitivo um verbo para cada objetivo. Os verbos a serem
e que permita a
ampliação da inter- usados no planejamento da pesquisa representam
pretação. É a busca as ações, o que se vai fazer, portanto todos são
de um saber mais
completo: Adquirir,
apresentados no infinitivo.
analisar, aperfeiçoar,
aprender, avaliar,
compreender,
O Objetivo Geral53 – É uma proposição ampla
conhecer, conscien- e subjetiva sobre o que se deseja alcançar na to-
tizar, desenvolver,
elaborar, entender,
talidade da pesquisa. O pesquisador, ao escrever o
familiarizar-se, objetivo geral, deve descrevê-lo como uma meta a
julgar, melhorar, ser alcançada.
investigar, saber.
Tema 3 | A construção do projeto científico 97

Os Objetivos Específicos – São mais delimi-


tados e práticos. Constituem-se numa extensão
do objetivo geral e na sua operacionalização mais
fragmentada. Eles devem referir-se a comportamen-
tos adequados, indicar claramente as intenções, e
não podem dar margens a várias interpretações,
ao contrário, devem apontar o que o pesquisador
deve realizar para demonstrar que alcançou o ob-
jeto delimitado.
No formato figurativo podemos representá-
los com a configuração de uma pizza, nela cada pe-
daço representa um objetivo específico54 e a pizza 54 Sugestões de
verbos mais usados
completa representa o objetivo geral. nos Objetivos
Específicos – Verbos
no infinitivo e que
Justificativa – apresenta os reais motivos da admitem poucas
definição da escolha de determinado tema, em de- interpretações:
é o saber mais
trimento de vários outros. concreto: Comparar,
comprovar, construir,
contrastar, criticar,
Relevância e contribuições – destaca o grau debater, delinear,
de importância do trabalho, para o pesquisador e demonstrar,
determinar, diag-
para a comunidade. nosticar, diferenciar,
distinguir, escolher,
escrever, enumerar,
Hipóteses ou questões norteadoras – São as estabelecer,
informações que o pesquisador lança no projeto de estruturar, evi-
pesquisa, afirmando ou questionando, conforme o denciar, examinar,
explicar, identificar,
senso comum. interpretar, justificar,
localizar, mapear,
medir, observar,
Metodologia - Aqui se situa a parte mais im- resolver, selecionar,
portante do projeto de pesquisa. É onde será des- sistematizar, verbali-
zar, verificar.
crita a forma e as ferramentas de investigação. A
importância da descrição da metodologia reside na
expectativa que os examinadores têm de que você
terá condições de desenvolver um trabalho científi-
co. Deverá conter detalhes sobre:
O tipo de pesquisa, tipo de abordagem, lo-
cal de realização da pesquisa, descrição dos ins-
trumentos de coleta de dados, etapas que deverão
98 Ensino e pesquisa - organização de projetos

ser cumpridas, como será feita a coleta de dados,


como será feito o tratamento dos dados, etc.

Fundamentação Teórica – As produções hu-


manas foram registradas e estão guardadas em
livros, artigos e documentos que compõem a bi-
bliografia do trabalho. Sabemos que a bibliografia
é o conjunto de livros escritos, por autores per-
tencentes às correntes de pensamentos diversos,
existentes ao longo da Evolução da Humanidade.
Compõe-se de produção textual baseada cientifi-
camente em diversos autores que tratam do tema
pesquisado, juntando teorias e argumentações.

Elementos Pós-Textuais
Cronograma: Torna-se essencial determinar
os prazos para o desenvolvimento das atividades.
Quantos dias, meses serão necessários para desen-
volver a pesquisa? Qual o prazo ideal para esta-
belecer contatos/reuniões com o orientador? Qual
tempo é necessário para aplicar, caso seja necessá-
rio no seu trabalho, questionários ou entrevistas? É
importante lembrar que não basta uma tabela cro-
nológica, é preciso cumprir o que está estabelecido
no seu cronograma.

55 Existe no Site Referências55


Magister/UNIT um
Manual de Normas e É a relação de fontes bibliográficas que foram
Citações e um Ma- usadas pelo autor do texto, e que são listadas em
nual de Monografia.
ordem alfabética ou ordem numérica, dependendo
da forma escolhida para citação no texto. Deverá
ser normalizada segundo a norma brasileira vigente
a partir de 2005, a NBR 14724:2005 da ABNT.
Tema 3 | A construção do projeto científico 99

Anexos
Documentos complementares e/ou compro-
batórios do texto, todos elaborados pelo próprio
autor. Trazem informações esclarecedoras que
não se incluem no texto para não prejudicarem a
sequência lógica da leitura.

Apêndices
Documentos complementares e/ou compro-
batórios do texto, nem sempre elaborados pelo
próprio autor. Trazem informações esclarecedoras
que não se incluem no texto para não prejudicarem
a sequência lógica da leitura.

Estrutura de uma Monografia


Serão descritos abaixo os elementos da es-
trutura de uma monografia, bem como alguns de-
talhes que devem ser observados para a confecção
das principais partes.

Resumo
Redigido em linguagem clara, concisa e ob-
jetiva, em apenas um parágrafo, com aproximada-
mente 200 palavras para o artigo, 250 palavras
para monografia e artigos de periódicos e até 500
palavras para livros, teses e relatórios de pesquisa.
Ressalta as informações mais significativas.

Tradução
A tradução para outros idiomas aparece logo
após o texto, precedendo a lista de referências bi-
bliográficas.
100 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Palavras-chave em Português e em Língua Estran-


geira

São escolhidas de três a cinco, que sejam


representativas do conteúdo.

Texto
Exposição na qual o autor elabora, de forma
objetiva, suas ideias, argumentos, justificativas e
comprovações.

Introdução
Enunciado geral e preciso do assunto, de ma-
neira clara, simples e sintética, apresentando a fun-
damentação e o propósito do estudo. Vai do geral
ao mais específico, definindo o assunto a partir das
informações da literatura, chegando ao problema
mais específico do estudo.

Revisão de literatura
Apresentação da literatura citada, resumindo
os resultados de estudos feitos por outros auto-
res. Preferencialmente em ordem cronológica, em
blocos de assunto, mostrando a evolução do tema
de maneira integrada. Todo documento citado deve
constar da listagem bibliográfica.

Material e métodos ou metodologia


Descrição breve, porém completa e clara das
técnicas e processos empregados, bem como o de-
lineamento experimental.

Resultados
Apresentação de forma detalhada dos resul-
tados obtidos. Deve incluir ilustrações como qua-
dros, gráficos, tabelas, mapas e outros.
Tema 3 | A construção do projeto científico 101

Discussão dos resultados


Comparação dos resultados alcançados pelo
estudo com aqueles descritos na revisão de lite-
ratura. É a discussão e demonstração das “novas
verdades” a partir de “verdades garantidas”.

Conclusão
Síntese final, decorrência lógica e natural de
tudo o que a precede. Manifestação do ponto de
vista do autor sobre os resultados obtidos, sem a
inclusão de dados novos.

Apresentação Gráfica
Ver os Manuais da Unit no site do Magister,
citados nesse capítulo.

Referências Bibliográficas – É a relação do ma-


terial textual utilizado pelo pesquisador. Apresenta-se
em ordem alfabética a partir do Sobrenome dos au-
tores. Ver no final do livro um exemplo de referencial.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia cien-


tífica: a construção do conhecimento. 7. ed. Rio de
Janeiro: Lamparina, 2007.

Neste livro vocês vão encontrar o capítulo 4, Fases


da pesquisa científica, no qual de forma resumida
e clara o autor vai descrevendo as etapas para a
construção do conhecimento pela pesquisa. Afirma
que é uma atividade sistemática e metódica, que
requer boa dose de trabalho intelectual e braçal e
que é atitude ineficaz e pretensiosa espalhar sobre a
mesa livros, selecionar partes de textos, recortá-los,
costurá-los e, transcrevê-los como se fossem seus.
102 Ensino e pesquisa - organização de projetos

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide


Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia
científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007.

Para melhor fundamentar as informações sobre


projetos e a sua construção, destacamos para vo-
cês um anexo ao livro, intitulado: Modelo de proje-
to de iniciação científica, que esclarece e demonstra
que há projetos diferentes para atender exigências
específicas e diferentes conforme as finalidades da
sua construção.

PARA REFLETIR

Leiam com muita atenção e reflitam com o seu gru-


po de estudos sobre a informação do parágrafo a
seguir:
Construir um projeto de pesquisa requer do pes-
quisador finalidade, estruturação metodológica,
definição dos objetivos, atitude, empenho e com-
promisso. À medida que o pesquisador amadurece
intelectualmente, torna-se cada vez mais capaz de
produzir conhecimentos. Deixar de ser “copista” é
a regra fundamental para a construção de novos
saberes científicos.
Tema 3 | A construção do projeto científico 103

3.2 Instrumentos e técnicas da pesquisa de cam-


po - coleta e análise de dados

Já estamos no tema que trata sobre a pes-


quisa de campo. Sei que para vocês da área da
Pedagogia a pesquisa de campo não é novidade,
talvez até já tenham participado de alguma forma,
por isso, sei que será muito interessante ler sobre
o assunto.
A pesquisa de campo acontece quando o
pesquisador define um determinado campo de in-
vestigação para coletar informações, observando-
se a realidade conforme o universo selecionado
através de amostra representativa. Desenvolvida
principalmente nas ciências sociais, na qual o pes-
quisador, através de instrumentos específicos de
pesquisa, do tipo: questionário, entrevista, proto-
colos verbais, observação, etc., coleta seus dados,
investigando os pesquisados no seu meio.

A Pesquisa de Campo

Na pesquisa de campo existe a fase da pes-


quisa bibliográfica e a fase exploratória. Todo tipo
de pesquisa científica possui na totalidade ou em
parte a pesquisa do tipo bibliográfica. A pesquisa
bibliográfica consiste no exame de material textual,
para levantamento e análise do referencial teóri-
co existente sobre um assunto que determinamos
como tema de uma pesquisa científica. A pesquisa
bibliográfica é fundamental e imprescindível para
qualquer tipo de pesquisa e é a mais corriqueira
na escolha dos universitários. O pesquisador deve
ter em mente que, apesar da metodologia esta-
belecer um caminho ordenado, que se reflete na
construção do Projeto de Pesquisa, sempre haverá
situações não previstas, pois a pesquisa é um pro-
104 Ensino e pesquisa - organização de projetos

cesso que, apesar de tentar, não é possível prever


e controlar todas as variáveis.
Na fase do trabalho de campo faz-se uso de
estratégias de coleta de dados através de registro
das falas dos atores sociais, fotografias, filmagens,
diário de campo. Pode-se também usar a observa-
ção e a entrevista.
A observação não incide apenas em assistir e
escutar, mas também em analisar ocorrências ou fe-
nômenos que se almeja pesquisar. Ela pode ser siste-
mática, assistemática, participante, não-participante,
individual, em equipe, na vida real, em laboratório. A
observação direta extensiva transcorre pelas técnicas:
Análise de conteúdo, história de vida, medidas de
opinião e de atitudes, pesquisa de mercado, questio-
56 A sociometria nário, formulário, sociometria56 e testes.
é uma ferramenta
analítica para es-
tudo de interações Referências para Orientar o Processo de Ob-
entre grupos
servação no Campo
A indicação do campo serve para selecio-
nar, limitar e identificar o que vai ser observado.
E só pode ser definido quando se resolve qual é
o melhor campo para responder a um problema,
enunciado na forma de uma indicação que deve
ser respondida, para destacar um saber sobre, por
exemplo, a escola, que revele como ela planeja,
organiza e avalia suas atividades.
Quais as maiores dificuldades?
Quais os resultados que vem apresentando?
Quais as perspectivas de melhoria?
Quais as prioridades e condições para elabo-
ração de um projeto de intervenção?
O campo da observação deve abranger três
elementos:
A população (a que ou a quem observar);
As circunstâncias (quando observar);
E o local (onde observar).
Tema 3 | A construção do projeto científico 105

Técnicas de Pesquisa

Observação
Ao aplicar a técnica de observação, que não
se constitui apenas em ver e ouvir, mas também em
examinar fatos que se desejam estudar, utiliza-se
de instrumentos para o registro das informações
desejadas.
Para tornar a simples observação numa técnica57 57 Para Lakatos e
Marconi (2009, p.
científica, deve-se planejá-la mostrando-se com preci- 79) “a observação
são como deverá ser feita, que dados registrar e como é uma técnica de
coleta de dados
registrá-los. No registro poderá utilizar-se de vários ins- para conseguir
trumentos, tais como: anotações em fichas, quadros, informações e uti-
liza os sentidos na
gráficos, formulários, dispositivos mecânicos, etc. obtenção de deter-
A determinação do campo de estudo serve para minados aspectos
da realidade.”.
eleger, restringir e identificar o que vai ser analisado.
E só pode ser decidido quando se toma, para deter-
miná-la, a formulação de um problema, enunciado na
forma de uma indicação que deve ser respondida.
O campo da observação deve abranger três
elementos:
A população (a que ou a quem observar);
As circunstâncias (quando observar);
O local (onde observar).

Do ponto de vista científico, a metodologia


de observação proporciona uma série de vantagens
e limitações, como as outras técnicas de pesqui-
sa, havendo, portanto, a necessidade de se aplicar
mais de um procedimento na mesma investigação.

Fase Exploratória
Delimitação do tema;
Definição dos objetivos;
Construção do marco teórico e conceitual;
Escolha dos instrumentos de coleta;
Exploração de campo.
106 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Técnica de Observação Simples

Tal técnica é bastante apropriada


para episódios em que os acontecimen-
tos são de ciência pública, ou quando
não existe qualquer obrigação de sigilo.
Na técnica de observação sim-
58 Essa é a técnica ples , faz-se necessário um planeja-
58
de observação
utilizada pelo inves- mento prévio distinguindo claramente o
tigador científico, na público alvo, ou seja, os sujeitos parti-
qual o pesquisador,
permanece alheio cipadores da investigação, o panorama,
ao agrupamento onde as pessoas se situam em termos
social determinado
como universo
de local e o desempenho social, o que
de pesquisa, verdadeiramente acontece em termos so-
comunidade, grupo
ou circunstância que
ciais nessa localidade.
pretende avaliar,
analisar e observar Técnica de Observação Participante
de modo natural os
acontecimentos que
aí advêm, sendo o O pesquisador ao usar esse tipo de observa-
pesquisador mais
um espectador ção deve estar atento ao fato de que a presença de
que um agente de uma pessoa estranha ao grupo acaba conduzindo
transformação da
realidade. a barreiras sociais que reduzem e limitam a quali-
dade das informações colhidas, levando os sujeitos
da pesquisa a se comportarem de maneira diferen-
te ou artificial.

Técnica de Observação Sistemática

Nesta técnica, o observador tem um conhecimen-


to prévio a respeito dos fatos que, dentro da comuni-
dade, são importantes para seus objetivos definidos.
Primeiramente, o pesquisador planeja a co-
leta de dados e estabelece categorias de análise
em relação às práticas que pretende observar, pla-
nejando, assim, a aplicação de tal técnica, antes
de executá-la, a fim de obter dados confiáveis e
seguros.
Tema 3 | A construção do projeto científico 107

Entrevista

A entrevista objetiva a compreensão de


uma situação, requerendo do pesquisa-
dor uma ideia clara da informação de que
necessita. Consiste na aplicação da técni-
ca de conversação direta, conduzida por
uma das partes, de maneira sistemática e
metódica. Para obter sucesso depende de
algumas medidas, tais como:
• Planejamento da entrevista;
• Conhecimento prévio do entrevistado,
• Local e horário preestabelecido;
• Organização do roteiro ou formulá-
rio de acompanhamento da mesma.

A entrevista deve terminar como começou,


isto é, em ambiente de cordialidade, para que o pes-
quisador, se necessário, possa voltar e obter novos
dados, sem que o entrevistado se oponha a isso.

Relatório

Mesmo tendo gravado procure fazer um rela-


tório o mais cedo possível.

Questionário

O questionário59 compõe-se de uma série orde- 59 A principal


limitação do
nada de perguntas, que devem ser respondidas por es- questionário está
crito, tendo como objetivo adquirir informações sobre relacionada com a
o objeto em estudo. Pode ser aplicado pessoalmente sua devolução, além
do que o grau de
ou enviado pelo correio comum ou correio eletrônico e confiabilidade das
até mesmo por um portador. Lembre-se de que ele não respostas obtidas
pode diminuir em
deve ser longo demais. No começo do questionário razão de que nem
devem ser colocadas as indagações que caracterizam o sempre é possível
confiar na veracida-
informante e que são necessárias à pesquisa. de das informações.
108 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Ao elaborar um questionário deve-se ter preocu-


pação com o aspecto material e a estética do mesmo.
Quanto ao vocabulário, as perguntas devem
ser formuladas de maneira objetiva, precisa, em
linguagem acessível ou usual do informante, para
serem entendidas com facilidade. Devem-se evi-
tar perguntas “tendenciosas”, isto é, que pelo seu
enunciado orientam a resposta.
Quanto à forma, as perguntas, são classifi-
cadas em três categorias: Abertas, fechadas e de
múltipla escolha
As perguntas abertas são as que permitem
ao informante responder livremente, com frases ou
orações, usando linguagem própria e expressando
opiniões. Permite investigações mais profundas e
precisas, mas o processo de tabulação, o tratamen-
to estatístico e a interpretação são mais difíceis,
cansativos e demorados.
As perguntas fechadas são aquelas que o infor-
mante escolhe sua resposta entre duas opções: sim e
não. Este tipo de perguntas, embora restrinja a liberda-
de das respostas, facilita o trabalho do pesquisador e
também a tabulação: as respostas são mais objetivas.
As perguntas de múltipla escolha são as
que apresentam uma série de possíveis respostas,
abrangendo várias partes do mesmo assunto. Per-
mite uma exploração em profundidade e de fácil ta-
bulação. A combinação de múltipla escolha com as
de respostas abertas possibilita mais informações
sobre o assunto, sem prejudicar a tabulação.

Formulário

A técnica de formulário consiste num conjunto


de questões, enunciadas como perguntas, de forma
organizada e sistematizada, tendo como objetivo al-
cançar determinadas informações, obtidas em:
Tema 3 | A construção do projeto científico 109

• Entrevistas;
• Questionários;
• Observações.

Rudio (2009) recomenda que antes de co-


meçar a redigir o formulário (tanto para o ques-
tionário como para a entrevista ou observação) é
necessário definir exatamente e com precisão quais
são as informações a serem obtidas, para que nele
só sejam feitas perguntas pertinentes e relevantes,
que serão apresentadas de modo ordenado e numa
sequência lógica, que dê unidade e eficácia às in-
formações que se pretende obter.
Tanto cuidado com a pertinência quanto com
a relevância das perguntas justificam-se em relação
aos esforços do pesquisador, em construir e aplicar
o formulário como também o trabalho do informan-
te para responder.
Recomenda também que, ao determinar a
ordem das perguntas, sejam primeiramente colo-
cadas as mais fáceis, e, por último, as mais difí-
ceis, ajudando o informante no desenvolvimento
do pensamento lógico, à medida que vai dando
suas respostas.
Do mesmo modo devem-se colocar no início
as perguntas mais impessoais e comuns deixando
para o final as perguntas que exigem respostas de
cunho mais íntimo.
Sugerimos que, ao elaborar um formulário de-
vem-se levar em conta alguns aspectos que facilitarão
o seu manuseio e sua posterior tabulação, como:

• O tipo, o tamanho e o formato do papel;


• A estética e o espaçamento;
• Espaço suficiente para redação das res-
postas de cada item ou perguntas;
• Numeração dos itens ou das perguntas;
110 Ensino e pesquisa - organização de projetos

• A forma de impressão do formulário;


• A mesma forma de registro para assinalar
respostas em todo instrumento;
• A redação simples, clara e concisa dos
itens ou das perguntas.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para melhor entendimento e aprofundamento sobre


o tema leiam os capítulos dos livros citados abaixo:

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do traba-


lho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

No 3º capítulo do livro de Antônio Joaquim Severi-


no, intitulado: Teoria e prática científica apresenta-
se de forma resumida o que é a pesquisa de campo
e afirma-se que a coleta de dados é feita nas condi-
ções naturais em que os fenômenos ocorrem.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide


Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia
científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007

Para obter mais conhecimento sobre o tema Instru-


mentos e técnicas da pesquisa de campo - coleta e
análise de dados leiam no livro de Barros e Lehfeld,
capítulo 7, intitulado: A pesquisa científica: a coleta
de dados, pois nele descrevem-se conteúdos que
abordam a coleta de dados, que é a fase da pes-
quisa em que se indagam a realidade e se obtêm
dados desejados através da aplicação de técnicas.
Tema 3 | A construção do projeto científico 111

PARA REFLETIR

Será que você já participou de alguma pesquisa


científica?
Se participou, como você sentiu? Houve algum mo-
mento em que você se sentiu invadido ou cons-
trangido pelo questionamento que foi feito? Fazer
pesquisa de campo é procurar distinguir a reali-
dade exposta a partir da coleta dos dados. Para
tanto, exige-se a participação de atores sociais que
colaboram respondendo questionários, entrevistas,
ou deixando-se observar.
Se você pretende fazer esse tipo de pesquisa, ne-
cessita usar critérios não-invasivos no seu instru-
mento de coletas. Pense nisso. Converse sobre isso
com o tutor.
112 Ensino e pesquisa - organização de projetos

3.3 Formas de comunicação e meios de sociali-


zação da pesquisa científica

Objetiva-se neste capítulo abordar os pro-


cessos de socialização das pesquisas acadêmicas,
através das comunicações orais do TCC, perceben-
do-se a importância e os desafios desse momen-
to de avaliação da exposição oral e da produção
textual, na presença de professores examinadores
e de convidados que compõem um público interes-
sado, reportando-se a aspectos que dizem respeito
aos acontecimentos vivenciados na academia, en-
volvendo orientador, orientando, banca de defesa
de monografia e a plateia. Objetiva-se contribuir
para a reflexão sobre a socialização do TCC.
Destacamos que o triângulo do pesquisador
competente é composto por: escrita, defesa do TCC
e a publicação. Nas atividades cotidianas, é impor-
tante que o professor procure entender os alunos,
a fim de conhecer as suas opiniões, intenções e
métodos de estudo e de pesquisa, de modo que
melhor estruture o seu planejamento.

O Triângulo do Pesquisador Competente

Atualmente vivemos um momento na educa-


ção em que as novas tecnologias têm papel
fundamental no ensino-aprendiza-
gem, e o computador é o prin-
cipal meio de disseminação
do conhecimento, pois é a
ferramenta mais utilizada
entre os alunos.
Tema 3 | A construção do projeto científico 113

Os usos corretos desses meios podem fa-


cilitar o ensino e a aprendizagem dos alunos e
proporcionar um caminho mais rápido e eficaz na
elaboração dos trabalhos científicos, e na troca de
conhecimento.
A disseminação da informação hoje é im-
pressionante, existe uma rapidez e dinamismo na
publicação do conhecimento e, nesta perspectiva,
mudam os paradigmas educacionais, de maneira
que há a necessidade de encontrar a melhor forma
de ensinar e proporcionar aos alunos um desenvol-
vimento de competências para lidar com as carac-
terísticas da sociedade atual, enfatizando a autono-
mia do aluno para a busca de novas compreensões.
Urge a desmistificação do conceito de que
todo trabalho científico é complexo, principalmen-
te, quando o pesquisador é um iniciante nos pro-
cessos de pesquisa.
O papel do professor é conhecer cada aluno
visando saber quais os meios didático-pedagógicos
mais compatíveis para que eles reflitam e avaliem
sobre o processo de aprendizagem. Os procedi-
mentos do educador e dos alunos estão correlacio-
nados a uma interação socioeducativa primordial à
efetividade do ato educativo.
Não podemos desconsiderar a complexidade
dos problemas e das dificuldades dos orientandos
para trilhar com habilidade produtiva os lados do
triângulo do pesquisador competente, ao envolver-
se com a construção do TCC: escrita, defesa do TCC
e a publicação.
O educador deve estar atento à construção
científica do seu aluno, evitando as críticas impro-
dutivas, contribuindo e reconhecendo que de fato
o educando é um sujeito como ele, com capacidade
de aprendizagem, comportamento inteligente, cria-
tividade, avaliação e julgamento.
114 Ensino e pesquisa - organização de projetos

A Linguagem Científica

60 Após o pesqui- A Linguagem Científica60 exige do pesquisador:


sador descobrir-se
capaz de produzir, • Clareza, que é o resultado de quem es-
através da pesquisa creve com a preocupação de ser entendi-
orientada, um texto
escrito que atenda do. Um pensamento claro gera um tipo
às exigências das de texto claro escrito segundo a ordem
suas finalidades,
vem posteriormente natural do pensamento e das regras gra-
o compromisso maticais;
de mostrar à
comunidade (intra
• Concisão, que significa dizer o máximo
e extraescolar) o no menor espaço possível, isto é, usar o
potencial da sua
pesquisa através
menor número possível de palavras;
da exposição oral. • Correção, ou seja, obedecer às regras
É o momento do
julgamento do grau
gramaticais tanto quanto a ortografia, a
de coerência e de pontuação e a sintaxe;
aceitabilidade do • Encadeamento, construir todo o trabalho
que foi produzido.
de modo lógico e harmônico;
• Consistência, usar os verbos nos mesmos
tempos, preferencialmente na voz ativa, e
os pronomes nas mesmas pessoas.
• Contundência, ir direto ao assunto;
• Originalidade, evitar o recurso fácil de
frases feitas;
• Correção Política e Fidelidade, respeitar
os parâmetros éticos.

Exposição oral do Trabalho de Conclusão de Curso

Compartilhar pela comunicação oral, num


momento de avaliação, é um trabalho complicado,
pois não se trata exclusivamente de transportar um
conhecimento, como se fosse um objeto, mas, sim,
dividir com os interlocutores o saber organizado
e vivo, como se a linguagem fosse a imagem do
pensamento.
A comunicação resulta de um processo de
produção de linguagem, tanto do ponto de vista
Tema 3 | A construção do projeto científico 115

de sua concepção, como de sua compreensão. O


processo de comunicação provoca táticas verbais e
não-verbais para abranger e alcançar o interlocutor,
buscando atrair-lhe a conivência e a aceitação.
Para apresentar o trabalho com segurança e
autonomia faz-se uso da capacidade linguística, e
da oralidade do sujeito/pesquisador.
A capacidade linguística61 do sujeito falante 61 Dominar a lin-
guagem, que é um
é algo que não se restringe apenas ao seu histórico produto da vida em
escolar, em que seu processo de aprendizagem é sociedade, é saber
usá-la de modo
regido pelos controles e imposições dos professo- conveniente a seus
res. De fato, é imprescindível a incorporação cor- destinatários, ou
seja, adequando-se
reta da linguística para conquistar o domínio da a diferentes regis-
norma culta, já que esta é constituída pelas regras tros e de formato
coerente com seus
e conceitos gramaticais. objetivos e com o
Constata-se a predominância da oralidade assunto tratado.
nas atividades da prática pedagógica. Ela emerge
em sala de aula de maneira informal, nas manifes-
tações orais dos alunos. É o momento em que o
conteúdo circundante permeia o tema central estu-
dado, configurando um cruzamento de vozes que
caracteriza o processo de interação entre professor/
aluno, aluno/aluno.
Bons usuários da língua não são apenas
aqueles que conhecem e aplicam as regras gramati-
cais, mas sim o sujeito que possui a capacidade da
comunicação, adaptando-se à cultura diversificada
dos brasileiros e às mudanças a que está submeti-
da à língua portuguesa.
A linguagem tem mais implicações do que
simplesmente a fala, a audição ou o ato da escrita,
as interferências se dão na forma de pensar, de per-
ceber o mundo e, inclusive, de se situar, deveras e
ativamente, nele; por isso a linguagem provocou e
provoca tanta ebulição ao longo da história huma-
na. A primeira análise que merece consideração é
a dicotomia estabelecida entre oralidade e escrita.
116 Ensino e pesquisa - organização de projetos

A oralidade estaria ligada intimamente à fala


que seria uma forma de produção textual-discursiva
com fins comunicativos na modalidade oral. A escrita,
por sua vez, seria uma produção textual-discursiva
para fins comunicativos que exigem certas especifici-
dades materiais. A sociedade atual vive a era da ora-
lidade que exige que o cidadão não só se comunique
bem, por meio da fala, como também dependa da
escrita para estar inserido no contexto social.

Exposição Visual por BANNER

Para muitas apresentações de trabalhos téc-


nicos e científicos, faz-se uso do banner que é con-
feccionado em gráficas, com um preço acessível
para professores e alunos, empenhados em divul-
gar os resultados de suas investigações e desco-
bertas ou de suas atividades, científicas, extensio-
nistas, técnicas, acadêmicas, escolares...
De modo simplificado, podemos afirmar que
é uma faixa informativa, geralmente com o visual
bem colorido e criativo, contendo uma mensagem
escrita com fins de comunicação à comunidade
endereçada. É uma palavra estrangeira, muito co-
nhecida na Academia. Apesar de a palavra estran-
geira ter sido incorporada à linguagem cotidiana
do português-brasileiro, talvez pelo glamour a ela
associada, não é adequado defini-lo, em se tratan-
do dos padrões locais, apenas como uma faixa em
que se divulga uma mensagem escrita.
Existem vários tipos de banner, especialmente
quando consideradas a forma, as dimensões, o mate-
rial e o conteúdo da comunicação. Entretanto, levando-
se em consideração este último critério, o banner pode
ser: Informativo, formativo, ilustrativo e educativo.
Em termos físicos, o banner pode ter tama-
nhos diferenciados e são feitos sob encomenda do
Tema 3 | A construção do projeto científico 117

interessado, em geral no formato retangular con-


forme a necessidade e objetivos do seu autor. Mas,
possui uma dimensão média de 0,80 x 1,10m, e é
composto por três partes: Corpo, dois baguetes e
um cordão suspensório.
O corpo é o espaço onde são colocadas as
informações, cujo material pode ser lona plástica,
PVC, papel sulfite, etc. Os dois baguetes servem
como apoio e sustentação, posicionando o ban-
ner a um eixo vertical. Normalmente, os baguetes
são confeccionados em madeira ou plástico oco, os
quais são colocados no sentido horizontal, sendo
que um deles é posto na extremidade superior e o
outro, na inferior. O cordão suspensório deve ser
amarrado no baguete superior e envolvido a um
ponto saliente fixado na parede ou num mural.
O banner é um instrumento importante de
comunicação, utilizado, em geral, na divulgação de
eventos, na publicidade de produtos e na exposi-
ção de trabalhos de naturezas distintas. Incorpora
valor de credibilidade ao conhecimento exposto e é
fundamental no processo de transferência de infor-
mações sobre um determinado objeto ou assunto
específico, podendo atingir a um público acadêmi-
co, diversificado ou seleto, a depender das inten-
ções do comunicador e dos objetivos previamente
estabelecidos. Sua finalidade, entretanto, não se
encerra na comunicação em si, mas nos efeitos que
dela possam incidir, uma vez instalado o processo
de cessão organizada, planejada de informações.

A apresentação do TCC e o papel da banca exami-
nadora

O Trabalho de Conclusão de Curso, ao ser


apresentado, será objeto de questionamentos pelos
membros de uma banca examinadora, a qual será
118 Ensino e pesquisa - organização de projetos

composta por pessoas de reconhecido saber, na


área do tema abordado pelo pesquisador e na área
da metodologia científica. Busca respostas para as
informações que não estão claras no texto escrito/
oral do educando, bem como sugerem contribuições
para melhoria dos trabalhos apresentados.

A banca é composta por três professores, que


recebem as seguintes nomenclaturas:

Professor-orientador - Valida o TCC, verifican-


do o padrão de qualidade desejável pela institui-
ção. Quando isso ocorre, autoriza que o produto
final da pesquisa seja apresentado pelo orientan-
do. Também se incumbe de convidar os outros
membros da banca examinadora, marcar dia, horá-
rio e local com os seus pares e com o orientando,
oficializando o evento no departamento envolvido.
Na defesa, é a pessoa responsável por apresentar
o orientando fazendo uma explanação breve sobre
ele e sobre o seu texto.
Professor-examinador – Geralmente são dois
que compões a banca, ao lado do professor-orien-
tador. São responsáveis pela arguição ao aluno, em
termos da produção/teorização sendo agentes de
relevante conhecimento relativo à temática do TCC.
Verificam o texto escrito, buscando as padro-
nizações científicas e questionam o aluno em ter-
mos de conteúdo e de conhecimentos das normas
e técnicas de pesquisa no trabalho de iniciação
científica.
O temor da apresentação é desnecessário.
Quem consegue produzir um texto científico, com
certeza não terá dificuldades em apresentá-lo, bas-
ta organizar-se, acreditar que é capaz e vencer o
nervosismo.
Tema 3 | A construção do projeto científico 119

Problemas durante a apresentação da defesa do TCC

O orientando, ao expor o trabalho62, precisa ter 62 É preciso


prevenir-se
clareza de que este é o momento bastante especial metodologicamente
e para tanto deve desenvolver o seu desempenho e tecnicamente para
as interferências
de maneira expressiva e espontânea, fazendo com que podem ocorrer
que o público presente fique desejoso, estimulado a e que são relati-
vamente comuns
ter uma participação, embora indireta, mas que seja, na apresentação
no mínimo, agradável para todos os presentes. oral do TCC. Por
exemplo, podem
acontecer falhas
A Publicação técnicas antes ou
durante a apresenta-
ção do trabalho.
A produção do conhecimento63 busca produzir
avanços científicos que devem ser conhecidos no 63 Segundo Demo:
Não há dicotomia
ambiente acadêmico. Afinal, publicar para quê? entre socializar e
A resposta mais coerente ao questionamento construir conheci-
mento, pois ambos
é a da pura realização do desejo de ter o conheci- representam funções
mento socializado, especialmente nas instituições e necessidades
essenciais da socie-
de nível superior, como fonte de pesquisa para fu- dade. O que existe,
turos trabalhos. e cada vez mais,
é certo distancia-
Para tanto, faz-se necessário buscar os meios mento, em grande
de comunicação mais disponíveis ao autor, em ter- parte artificial, por
conta da instrumen-
mos metodológicos e em termos de acesso. tação eletrônica
Destacam-se como veículos de comunicação crescente de caráter
informático. Esta
oral e escrita do pesquisador: instrumentação tem
Anais, anuários, artigos científicos em revis- dupla vantagem:
atinge a massa, e é
tas locais, congressos e encontros na área específi- incomparavelmente
ca, livros, monografias, revistas, periódicos, publi- atrativa. (2000,
p.58).
cações on-line...
Quando o Trabalho de Conclusão de Curso
chega a ser publicado, embora os seus autores
nem sempre acreditem em uma repercussão nos
meios científicos, alguns deles conseguem uma
visualização maior e em determinados casos são
usados por outros pesquisadores, acadêmicos ou
não, como referência para a ampliação do conheci-
mento científico.
120 Ensino e pesquisa - organização de projetos

INDICAÇÃO DE LEITURA

BECHARA, Evanildo. Dicionário escolar da língua


portuguesa: academia brasileira de letras. IBEP -
Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. São
paulo, 2008.

Neste capítulo intitulado: Formas de comunicação e


meios de socialização da pesquisa científica, enfati-
zamos a importância da publicação dos trabalhos
de conclusão de curso e destacamos a importância
da correção ortográfica, especialmente quando te-
mos a mudança ortográfica da Língua portuguesa.
Portanto, nada mais adequado do que usar o dicio-
nário para conferir a ortografia correta do texto a
ser publicado.

Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográ-


fico. Disponível em: <http://www.academia.org.br/
abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23> Acessado
em: 09/02/11.

Como alternativa, indicamos também esse endere-


ço eletrônico que vai lhe ajudar a tirar as dúvidas
ortográficas. Solicitar correção ortográfica a quem
tem o devido conhecimento, também vale.

PARA REFLETIR

Leiam a afirmativa a seguir:


A produção de um texto que tenha como meta a
publicação deixa os seus autores ansiosos e apre-
ensivos. A grande preocupação está ligada às ex-
Tema 3 | A construção do projeto científico 121

pectativas de qualidade. Isto não impede que o


autor do texto encare os desafios e tente publicar o
seu material em uma fonte adequada ao seu texto,
de maior visualização, para maior disseminação da
informação contida no seu material.
Debatam no seu grupo de estudos e acreditem...
Vocês são capazes de fazer textos de qualidade
para serem publicados. Atrevam-se... Pensem nisso
com muita seriedade.

3.4 Formatação técnica do trabalho científico

Certamente você concorda que falar de ci-


ência é polemizar sobre, o que, quando e como
pesquisar. Mas a ciência esteve sempre associada
a processos sistemáticos, lógico, que requer rigor,
argumentos fundamentados.
Construir um trabalho científico implica na
concordância com as exigências das normas cientí-
ficas em vigor. No Brasil, estas normas são definidas
pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas –
ABNT. Todo trabalho dessa natureza busca conhe-
cer, interpretar e significar uma dada realidade. O
homem é um produtor social do conhecimento. A
trajetória histórica dessa construção exigiu técnicas
e instrumentos distintos para sua efetivação.
Um dos aspectos essenciais para a elabora-
ção de um trabalho acadêmico é antes de tudo
diagnosticar que tipo metodológico de trabalho
será desenvolvido. É preciso entender o significa-
do de cada um destes trabalhos. Como a própria
expressão já o diz, o texto científico é produto de
algum tipo de pesquisa científica, sendo o conheci-
mento científico o que resulta de uma investigação
metódica e sistemática da realidade.
122 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Procedimentos e Técnicas

O rigor acadêmico-científico que exige um


trabalho de pesquisa deve também considerar os
aspectos metodológicos e técnicos na produção do
conhecimento científico.
Entende-se que todos os procedimentos e
técnicas que fazem parte da construção da pesqui-
sa podem e devem ser constituidores, nas univer-
sidades, de uma formação intelectual de um aca-
dêmico mais crítico e reflexivo, contribuindo com a
produção de conhecimento nos processos de apre-
ensão e transformação da realidade.
Para dar conta do tema em pauta, elegem-se,
a seguir, alguns aspectos que se consideram fun-
damentais, para a elucidação dos trabalhos em sua
organização estrutural, na formatação dos textos,
principalmente na organização do conhecimento
acadêmico e sua tipologia.

Características do Conhecimento Científico

Destaca-se aqui o que a literatura consen-


sualmente atribui como algumas características do
conhecimento científico:
Racionalidade: que se sustenta em uma lógi-
ca, constituindo-se de juízos, conceitos e raciocínios;
Factualidade: uma vez que o conhecimento
científico tem no fato seu início e sua terminalidade;
Sistematização: toda ciência é sistemática e
rigorosa na construção;
Analítico: na medida em que se decompõe e
se analisa o fato;
Verificação: não se pensa em conhecimento
científico que não tenha sido passível de verificação,
observável, em que as hipóteses são corroboradas
ou não;
Tema 3 | A construção do projeto científico 123

Precisão: também é a característica do conhe-


cimento científico a precisão e a clareza buscando
distância das ambiguidades;
Comunicável: a linguagem científica deve ser
clara, precisa, entendida no sentido de sua formu-
lação, pode ser de propriedade do homem em sua
história para continuidade do processo.

Estrutura de um Artigo Científico

Identificar com um Título - Em negrito, centra-


lizado, caixa alta, fonte arial, tamanho 14, se hou-
ver subtítulos devem constar em negrito, justifica-
do, caixa alta, tamanho 12.
Identificar o(s) autor (es) - Em tamanho 12,
Fonte arial, último sobrenome em negrito, caixa
alta, seguido dos demais nomes com apenas as
iniciais maiúsculas. Mais de um autor, usar ordem
alfabética;
Endereço eletrônico - Endereço eletrônico
atualizado do(s) autor (es);
Resumo – língua vernácula - Parágrafo con-
tendo a palavra resumo em Fonte Times New Ro-
man, Tamanho 12, Caixa Alta, justificado; Texto do
resumo na língua vernácula, com o limite de carac-
teres ou palavras de acordo com o periódico para
onde será encaminhado. A fonte Times New Roman,
Tamanho 12, justificado com parágrafo iniciando
após um recuo tabulado de 1,5 cm, espaçamento
simples.
Resumo – língua estrangeira - Parágrafo con-
tendo a palavra resumo em Fonte Times New Ro-
man, Tamanho 12, Caixa Alta, justificado; Texto do
resumo na língua estrangeira, com o limite de ca-
racteres ou palavras de acordo com o periódico
para onde será encaminhado. A fonte Times New
Roman, Tamanho 12, justificado com parágrafo ini-
124 Ensino e pesquisa - organização de projetos

ciando após um recuo tabulado de 1,5 cm, espaça-


mento simples.
Palavras-chave em português. - Recomenda-
se de três a cinco palavras colocadas em ordem
alfabética.
Palavras-chave em língua estrangeira - A mes-
ma recomendação do item anterior, só que traduzi-
das para uma língua estrangeira.

Corpo do Trabalho

Introdução, Desenvolvimento e Considerações


finais, - Corpo do texto em Tamanho 12, Normal,
Justificado, Espaçamento entre linhas um e meio.
Os parágrafos justificados iniciando após um recuo
tabulado de 1,5 cm.
Recomenda-se que o núcleo do artigo seja
desenvolvido considerando-se:

Uma exposição contextualizada do tema em


pauta, delimitando-o no âmbito dos problemas le-
vantados a partir do diagnóstico da realidade;
Fundamentação teórica baseada na revisão
atualizada para análise e interpretação das catego-
rias selecionadas a fim de esclarecer o tema rela-
cionando conceitos, princípios, pressupostos coe-
rentes com o assunto;
A reconstrução do tema, a partir das análises
conceituais propostas e/ou, experiências práticas
possibilitadas através da pesquisa constituindo um
novo conhecimento;
Considerações finais servem para indicar em
síntese os resultados alcançados expondo encami-
nhamentos pertinentes, considerando os objetos,
hipóteses, finalidades inicialmente propostas.
Referências Bibliográficas
Tema 3 | A construção do projeto científico 125

Estrutura do Artigo Científico

Formatação e apresentação gráfica


Folha no formato: A4 (21,0 x 29,7) cm.
Configurações de página: Margens superior e
esquerda com 3 cm; Margens inferior e direita = 2 cm;
Numeração das páginas: canto superior direi-
to iniciando após a folha de identificação em fonte
Times New Roman, Normal, Tamanho 11;
Número de páginas: mínimo de 15 e máximo
de 25 páginas, não incluindo a folha de identifica-
ção.

Configurações gerais de texto:


Fonte arial ou times new roman,
Normal;
Tamanho 12;
Espaçamento entre linhas, duplo;
Parágrafos justificados iniciando após um re-
cuo tabulado de 1,5 cm.

Citações:
Até três linhas: no corpo do texto (): serão
apresentadas entre aspas com as mesmas configu-
rações do texto;
Acima de três linhas: sempre em destaque,
apresentada em fonte arial, normal, tamanho 10,
espaçamento simples e com recuo esquerdo de 1,5
cm em toda a citação e não apenas na primeira
linha.

Referência das citações:


Sistema alfabético, mais conhecido como au-
tor-data; Ex: (AZEVEDO, 2008, p. 120).
126 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Referências das fontes de pesquisa:


Formato: fonte Times New Roman, Tamanho
12, Normal, parágrafo justificado sem recuo, espa-
çamento entre linhas simples, espaçamento entre
parágrafos 6 pontos (pts) antes e depois;
Tipo de fonte: livro, periódico, monogra-
fia, internet; Considerar as normas do Manual de
Referências da Universidade Tiradentes – Normas
para Referências, Citações e Notas de Rodapé (NBR
6023/NBR 10520 – 2002), disponível no portal:
www.unit.br.

Fotografias, ilustrações e tabelas:


Considerar as normas do Manual de Mono-
grafia (NBR 14724/2002) da Universidade Tiraden-
tes, disponível no portal www.unit.br.

Notas explicativas
64 Entretanto, em Lembrem-se que as notas64 explicativas de-
casos que a tornam
indispensáveis deve- vem ser evitadas.
rão ser indicadas no
rodapé da página
com numeração ESTRUTURA
sequencial e contí- Folha de identificação: Folha de rosto separa-
nua em algarismos
arábicos, com texto
da da Introdução e do Corpo do Trabalho conten-
em fonte Times New do as informações centralizadas, com espaçamento
Roman, Tamanho 9,
Normal, parágrafo
entre linhas simples e espaçamento entre parágra-
justificado sem fos antes e depois de 6 pontos (pts), descritas na
recuo, espaçamento
entre linhas e entre
ordem abaixo:
parágrafos simples. Título do artigo em negrito, fonte times new
roman, tamanho 14, caixa alta;
Nome(s) do(s) aluno(s) em fonte times new
roman, tamanho 13, no seguinte formato: último
sobrenome em negrito, caixa alta, seguido dos de-
mais nomes com apenas a inicial maiúscula normal;
No caso de mais de um autor, os nomes de-
verão aparecer em ordem alfabética;
Endereço eletrônico do aluno para contato;
Tema 3 | A construção do projeto científico 127

Nome do professor orientador em fonte times


new roman, tamanho 13, no seguinte formato: últi-
mo sobrenome em negrito, caixa alta, seguido dos
demais nomes com apenas as iniciais maiúsculas
normal, complementado com a formação universi-
tária, titulação de maior nível e endereço eletrônico
para contato;
- Parágrafo contendo a palavra resumo em fonte
times new roman, tamanho 14, caixa alta, justificado;
Texto do resumo em português, com até 300 pa-
lavras, fonte times new roman, Tamanho 12, justificado
com parágrafo iniciando após um recuo tabulado de
1,5 cm, Espaçamento entre linhas duplo e espaçamen-
to entre parágrafos antes e depois de 6 pontos (pts).

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para melhor entendimento e aprofundamento sobre


o tema leiam os capítulos dos livros citados abaixo:

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do traba-


lho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

O 5º capítulo do livro de Antônio Joaquim Severino,


intitulado: As modalidades de trabalhos científicos,
traz no seu texto os principais trabalhos solicitados
nos vários momentos da vida universitária. Sabe-
mos que, apesar da universalização metodológica
dos trabalhos científicos, eles diferenciam-se em
função dos seus propósitos, assim como em função
de exigências específicas de cada área do conheci-
mento científico.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.


Metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Pau-
lo: Atlas, 2006.
128 Ensino e pesquisa - organização de projetos

O livro de Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade


Marconi, traz no capítulo 5, intitulado: Trabalhos
científicos, informações técnicas que podem subsi-
diar a construção dos trabalhos científicos.

PARA REFLETIR

Todo aluno, independente de sua faixa etária, clas-


se social, traz consigo uma carga de conhecimen-
tos e experiências importantes para subsidiar o seu
crescimento intelectual, fortalecendo a sua aprendi-
zagem. Converse com os seus colegas e percebam
que a maioria gostaria de escrever e publicar. Será
que algum aluno da sua turma já publicou?

RESUMO

Olá, estamos agora refletindo sobre o que vocês


leram na parte 2: Caminhos da Pesquisa Para Pro-
dução do Conhecimento Científico. No momento,
chegamos ao resumo do Tema 3: A Construção do
Projeto Científico. O nono capítulo do livro, O Pro-
jeto Científico: Elementos e Etapas da sua elabora-
ção confirma que o planejamento deve considerar
a vontade do pesquisador de distinguir a realida-
de. Todo Projeto de Pesquisa carece de planejamen-
to, pois o planejamento é uma premeditação de
ações e significa prever e tornar metódicas as fases
ou etapas para a operacionalização de um traba-
lho científico. Estabelece-se como um instrumento
que conduz a uma ação específica com base em
Tema 3 | A construção do projeto científico 129

recursos humanos, técnicos e financeiros. No dé-


cimo capítulo, Instrumentos e Técnicas da Pesquisa
de Campo - Coleta e Análise de Dados estudamos
que, na pesquisa de campo existe a fase da pes-
quisa bibliográfica e a fase exploratória. Todo tipo
de pesquisa científica possui na totalidade ou em
parte, a pesquisa do tipo bibliográfica. A pesquisa
bibliográfica consiste no exame de material textual,
para levantamento e análise do referencial teóri-
co existente sobre um assunto que determinamos
como tema de uma pesquisa científica. O capítulo
décimo primeiro, Formas de Comunicação e Meios
de Socialização da Pesquisa Científica constata que
os profissionais da educação não podem desconsi-
derar a complexidade dos problemas e das dificul-
dades dos orientandos para trilhar com habilidade
produtiva os lados do triângulo do pesquisador
competente, ao envolver-se com a construção do
TCC: escrita, defesa do TCC e a publicação. E o
capítulo décimo segundo, Formatação Técnica do
Trabalho Científico confirma que todos os procedi-
mentos e técnicas que fazem parte da construção
da pesquisa podem e devem ser constituidores,
nas universidades, de uma formação intelectual de
um acadêmico mais crítico e reflexivo, contribuindo
com a produção de conhecimento nos processos
de apreensão e transformação da realidade. Dando
continuidade ao bloco temático 2, estudaremos o
nosso último tema: Perspectiva Histórica e Funda-
mentos da Pedagogia de Projetos.
4
Perspectiva histórica e
fundamentos da
pedagogia de projetos

Ao apresentarmos para vocês o tema Perspectiva histórica e


fundamentos da pedagogia de projetos, acreditamos que não basta
apenas conhecer os fundamentos da Pedagogia de Projetos para ga-
rantir avanços consideráveis no processo de construção do conheci-
mento, é preciso mais que o domínio de uma concepção apropriada
para fazer a educação acontecer de forma plena. Nesse sentido é
preciso dizer que além da teoria é preciso sentimento - é preciso uma
pitada de desejo, um tiquinho de tolerância, uma medida de bom
senso, uma mão cheia de ética, uma razão docemente educada e um
coração pleno de afeto, ternura e carinho pela humanidade para por
em prática uma educação de qualidade.
132 Ensino e pesquisa - organização de projetos

4.1 O projeto de ensino: metodologia e aspectos


operacionais

Este tema traz O projeto de ensino: metodo-


logia e aspectos operacionais como foco central a
discussão sobre a Pedagogia de Projetos e tem
como objetivo auxiliar o professor no movimento
de renovação metodológica.
Com aspectos relevantes ao processo de
ensino-aprendizagem, ressaltam-se itens relativos
à organização didática e apresentação dos conteú-
dos de ensino vinculados às demandas sociais do
contexto mais próximo da instituição educativa –
relativo à vida cotidiana -, re-significando a prática
docente ao promover a integração teoria-prática e
valorizar o saber do aluno, sua cultura e seu am-
biente sociopolítico, como ponto de partida para
oportunizar novas experiências e ampliar conheci-
mentos.
Espera-se que o percurso educativo a ser tri-
lhado nesse período de curso, num movimento co-
mum que integra o trabalho presencial com as ati-
vidades a distância, seja enriquecido com o saber e
a experiência de cada um, resultando na certeza de
que é imprescindível superar o ensino reprodutivo e
trabalhar para desenvolver participativamente uma
nova forma de ensinar e aprender, capaz de promo-
ver autonomia e elevar a capacidade do aluno de
pensar criticamente sobre a realidade superando
a atitude de passividade frente aos conteúdos de
ensino previamente selecionados.

Pedagogia de Projeto – O que é?


A Pedagogia de projetos admite que há um
novo perfil (do professor e do aluno) em formação.
Esse novo perfil que se constrói sobre novas bases
pedagógicas identifica novos elementos que obri-
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 133

gatoriamente devem fazer parte do ensino como


“ensinagem”- que significa a realização de um en-
sino que resulta numa aprendizagem significativa,
capaz de consolidar um conhecimento adquirido
com o envolvimento do aluno, não como objeto
e sim como sujeito efetivo de um novo projeto de
ensino.
Pode-se então destacar como elementos ou
valores essenciais à Pedagogia de Projeto: A curio-
sidade que impulsiona a busca do aluno instiga-
o a caminhar, a descobrir...; A motivação interior
que surge a partir das condições externas da en-
sinagem, das provocações adequadas do profes-
sor, resultando também da empatia que atravessa
a relação professor-aluno; aluno-conhecimento; A
crença no aluno como um ser capaz de aprender e
se desenvolver, desde que tenha, para tanto, as fer-
ramentas necessárias para seguir adiante, seguro
da confiança nele depositada pelo seu professor;
A criatividade como elemento que move o homem
desde os tempos imemoriais para uma constante
busca de realização pessoal e coletiva; A oportu-
nidade de aprender a pensar com autonomia e in-
dependência, exercitando o pensamento crítico na
análise dos problemas que permeiam a realidade.
Nosso roteiro de sub-temas persegue a di-
reção que leva à sala de aula como espaço pri-
vilegiado onde acontece efetiva e praticamente o
processo de ensino, lócus de convergência de to-
das as experiências vivenciadas entre professores
e alunos, lugar capaz de revelar as contradições
presentes na sociedade atual, pelo embate salutar
entre as ideias apresentadas e as ações concreta-
mente realizadas, enfim, da lógica da transmissão
para a lógica do questionamento reconstrutivo.
Enfim, pode-se afirmar que a Pedagogia de
Projetos se constitui como mediação didático-
134 Ensino e pesquisa - organização de projetos

pedagógica adequada para que o aluno participe


da aula, reconstrua com o professor as teorias e
conteúdos e sobretudo aprenda a produzir um co-
nhecimento próprio. Como nos ensina Pedro Demo
(2001), é preciso que aprendamos a superar a pos-
tura reacionária de copistas e repetidores de con-
ceitos e fórmulas já produzidas.
É preciso reinventar o livro de receitas pres-
critas e a Pedagogia de Projeto se constitui em fer-
ramenta adequada para o gradativo desvencilha-
mento da aula centrada no conhecimento livresco,
estritamente teórico, desencantado das questões
que nos tocam hoje e exigem uma nova leitura, um
novo posicionamento.
A Pedagogia de Projetos considera como per-
tinentes, em seu currículo, as questões que envol-
vem o contexto dos acontecimentos presentes, o
entorno histórico e social que promove a identida-
de e valoriza a diferença.
Vamos então experimentar um novo tipo de
aula, um novo tipo de aprendizagem, vamos viver
a ensinagem, cativando nosso aluno para que de
fato envolva-se, comprometa-se e aprenda.
Mas... e Pedagogia de Projeto – como se defi-
ne? Basicamente como uma resposta, uma ação so-
cial e educativa estruturada para saciar as demandas
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 135

diagnosticadas a partir de determinada situação atra-


vés da seleção de temas que representam possíveis
recortes da realidade em que vivemos. Os temas que
representam a realidade complexa em minúsculas
partes surgem principalmente das situações que nos
incomodam, dos problemas que conseguimos enxer-
gar e para os quais estamos buscando respostas
adequadas, soluções ou alternativas significativas.
A Pedagogia de Projeto surge sob o signo da
urgência65 de se encontrar novas formas de apren-
der a ensinar, uma vez que a sociedade do futuro 65 Pensar o
amanhã, a realidade
já está presente entre nós e é reconhecida como a que ainda não
sociedade do conhecimento, organizando-se sob a existe, mas que
poderá vir a ser
égide da terceira revolução industrial, cujos apor- contribuirá para o
tes tecnológicos fundamentados na microeletrôni- alargamento dessa
visão imprescindível
ca e nos novos códigos da telemática destacam o aos que almejam
domínio da escrita para os dirigentes, deixando a realizar um trabalho
diferenciado na sala
imagem como uma leitura sedutora viabilizada pela de aula, tomando
propaganda condicionadora para as massas. como escopo a
Pedagogia de
O horizonte dessa visão futurista, e já presen- Projeto, que, mais
te entre nós, nos ajudará a compreender melhor a que qualquer outra
metodologia, exige
importância de garantir aos alunos um espaço aber- um olhar aberto
to às suas perspectivas de criação, e engajamento ao futuro, a visão
social pondo em prática sua atitude empreendedora. projetiva sobre um
horizonte a des-
Por falar em imagem do futuro66, é importan- cortinar é essencial
te reconhecer que nenhum educador que pretender para construção de
uma nova forma de
realizar mudanças significativas em sua prática pe- ensinar e aprender.
dagógica pode prescindir da reflexão futurista.
66 Ver no AVA tópi-
co 3, uma síntese
Ampliando a Visão e Consolidando a Concepção do texto inspirado
nas ideias do autor
Alvin Toffler.
Para superar a visão geralmente reducionista
ou salvacionista que temos sobre a concepção e as
possibilidades da Pedagogia de Projeto, podemos
dizer inicialmente que a Pedagogia de Projeto não
se inscreve nas cercanias dos projetos temáticos
que muitas escolas adotam circunstancialmente en-
136 Ensino e pesquisa - organização de projetos

volvendo alunos em torno de eventos marcados no


calendário escolar.
Tampouco se alinha em torno das pesquisas
encomendadas como dever de casa ou substitutivo
dos testes como facilitador do ensino que fica sob
o encargo dos alunos instados a tratar sobre te-
mas escolhidos pelos professores que não definem
com seus alunos momentos de orientação, troca de
ideias e discussão sobre as atividades em pauta.
Para assumir o papel de mediador ativo nesse
projeto educativo, voltado para o desenvolvimento
da competência reconstrutiva do aluno, podemos
tomar como aspectos favoráveis:

A necessidade de superar a aula como instân-


cia de transferência de conhecimento;
A perspectiva de construção do conhecimen-
to na interação com o mundo;
A possibilidade de referenciá-lo e significá-lo
social e culturalmente;
A oportunidade de mobilizar este conheci-
mento frente a novas situações de forma criativa,
reconstruindo no desempenho as inúmeras possibi-
lidades de exercício das competências adquiridas.

Nesse sentido, confirma-se o papel dos pro-


fessores como agentes sociais aptos para ampliar
as competências dos alunos, criando um quadro de
referência que os fortalece para enfrentar situações
novas e desafiadoras com a segurança mínima de
quem, por conhecer, propõe alternativas reutilizan-
do de forma criativa os conhecimentos e os senti-
mentos já adquiridos e vivenciados.
Assim, é possível afirmar que o currículo se
constrói no cotidiano da experiência pedagógica e
também nos constrói (alunos e professores) como
experiência única e inimitável.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 137

O projeto de ensino: aspectos operacionais da me-


todologia de projetos: como ensinar ou aprender
por meio de situações problema?

Para iniciar nossa conversa sobre a importân-


cia do Projeto de Ensino na perspectiva da abor-
dagem interdisciplinar que destaca a importância
da Pedagogia de Projetos e aderindo a uma visão
metodológica e operacional pode-se afirmar que
criatividade, autonomia, imaginação, motivação são
elementos obrigatórios em toda experiência humana
significativa que não se contenta em reproduzir fatos
ou situações vivenciadas, mas, que as associam pro-
duzindo novos conhecimentos, fatos, ideias e ações.
Aqui, é importante refletir que o homem é
produto de sua época, é parte de um contexto es-
pecífico e determinado.
Se pensarmos numa pedagogia ecológica, pensa-
remos na ambiência que faz o homem ser o que ele é.
É claro que essa ambiência social e histórica reflete as
possibilidades de um conjunto de conhecimentos, fer-
ramentas e equipamentos acumulados pela sociedade
que servem de suporte para o ato criativo. Todo ato de
produção inovadora precisa dessa bagagem, cujo mérito
é funcionar como uma bússola a guiar incessantes bus-
cas a serem traçadas por cada escola, por cada comuni-
dade, por cada professor e aluno que se integrem nessa
vontade de fazer avançar a educação brasileira.
A Pedagogia de Projeto institui-se como uma
metodologia ativa resultante das buscas realizadas
principalmente no campo da didática para caracte-
rizar mudanças necessárias nas práticas docentes.
Destacamos como ponto de partida e carac-
terísticas da pedagogia de projeto:
Uma situação-problema é organizada em tor-
no da resolução de um obstáculo previamente bem
identificado.
138 Ensino e pesquisa - organização de projetos

O estudo organiza-se em torno de uma si-


tuação de caráter concreto, que permita ao aluno
formular hipóteses e conjecturas.
Os alunos veem a situação que lhes é pro-
posta como um verdadeiro enigma a ser resolvido,
no qual estão as condições de investir. O problema
ainda que inicialmente apresentado pelo professor
torna-se “questão” do aluno.
A situação deve oferecer resistência suficiente,
levando o aluno a investir nela seus conhecimentos
anteriores disponíveis assim como suas representa-
ções, de modo a elaborar novas ideias e questões.
A necessidade é instrumento mobilizador da vontade
do aluno.
A solução não deve ser percebida como fora
do alcance dos alunos, não sendo a situação-pro-
blema uma situação de caráter problemático. A ati-
vidade deve operar em uma zona próxima, propícia
ao desafio intelectual.
A antecipação dos resultados e sua expressão
coletiva precedem a busca efetiva de solução, fazen-
do parte do jogo o risco assumido por cada um.
O trabalho da situação-problema funciona,
assim, como um debate científico dentro da clas-
se, estimulando os conflitos sociocognitivos poten-
ciais.
A validação da solução e sua sanção não são
dadas de modo externo pelo professor; mas resul-
tam do modo de estruturação da própria situação.
O reexame coletivo do caminho percorrido é
a ocasião para um retorno reflexivo, de caráter me-
ta-cognitivo; auxilia os alunos a se conscientizarem
das estratégias que executaram de forma heurísti-
ca e a estabilizá-las em procedimentos disponíveis
para novas situações-problema.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia 139

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Caro aluno, para aprofundar seus estudos recomen-


da-se a leitura de dois livros do autor Pedro Demo,
uma vez que nestes livros destaca-se uma abor-
dagem científica e didático-pedagógica baseada na
pesquisa como princípio educativo e científico que
qualifica o professor para repensar a sua prática e
adquirir maior segurança para realizar um traba-
lho que se desenvolva através de projetos – vistos
como instrumento de mediação da realidade social
vivenciada. Identifique abaixo os dois livros, bem
como os capítulos que poderão auxiliá-lo nesse va-
lioso empreendimento.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa na educação


básica. São Paulo: Autores Associados, 2000.

Leia no capítulo 2 “Construindo e reconstruindo a


competência”, especialmente o item 1 que aborda
a pesquisa como princípio científico e educativo,
que irá discorrer sobre a problematização do co-
nhecimento como aporte fundamental à construção
do conhecimento na escola para uma aprendiza-
gem efetiva.
140 Ensino e pesquisa - organização de projetos

DEMO, Pedro. Saber pensar. São Paulo: Cortez,


2001.

Leia, principalmente a segunda parte cujo tema


é “Reconstruir ciência” e nele os itens “Trabalho
Científico” – p. 99; e “Teorizar e Praticar” que irão
dar conta de trabalhar com um tema, visto como
recorte possível da realidade a ser estudada, pos-
sibilitando um percurso mais fácil para os que al-
mejam trabalhar com a pesquisa como forma de
aprendizagem ativa e capaz de gerar a autonomia
do aprendiz.

PARA REFLETIR

A partir da leitura desse capítulo, reflita com aten-


ção sobre as possibilidades da pesquisa como me-
diação pedagógica e veja como é possível criar con-
dições para que ela se constitua como uma didática
proativa, no sentido de garantir a participação efe-
tiva dos alunos que estarão comprometidos com a
produção de um conhecimento mais significativo e
importante para a sua comunidade. Coloque seu
depoimento sobre o tema no AVA.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 141

4.2 Projeto de aprendizagem – uma nova cultura


escolar: a pesquisa na escola como prática escolar

Olá, alunos, um novo projeto de aprendiza-


gem se institui quando se compreende que é ur-
gente responder de forma adequada às necessida-
des nascidas de uma nova cultura escolar, cujos
elementos primordiais são: consideração do entor-
no social ou contextualização social; questões ine-
rentes às questões e demandas da atualidade, não
contidas nos livros didáticos e que representam a
necessidade de aquisição de novos conhecimentos
face às mudanças acontecidas na sociedade con-
temporânea, denominada como sociedade da infor-
mação e do conhecimento.

Projeto de Aprendizagem – Uma nova Cultura


Escolar

O desenvolvimento de competências e habi-


lidades para o desempenho de atividades laborais;
a capacidade de adaptação como forma de adquirir
resiliência para adequação flexível às mudanças per-
manentes que ocorrem no âmbito dos ambientes de
convivência social e do trabalho, são hoje, temas
importantes para que se repense a escola que te-
mos e se institua uma nova cultura escolar. Nesse
sentido, novas relações pedagógicas devem emergir
do cotidiano escolar como um desafio aos mestres e
aprendizes que habitam esse novo contexto.
Aprender - é bom que se destaque – é uma
capacidade inerente à espécie humana que a iden-
tifica e diferencia. Nesse sentido, é importante res-
saltar que o processo de aprendizagem não resulta
apenas da fatalidade genética, na qual, não po-
demos ainda interferir totalmente, uma vez que a
ciência e a tecnologia apesar dos avanços impensá-
142 Ensino e pesquisa - organização de projetos

veis há anos atrás, ainda não estendeu ao grande


público suas descobertas mais radicais no campo
dos estudos relativos à genética humana. É preciso
entender, então, que o processo de aprendizagem
ocorre sob os auspícios de uma herança genética
previamente determinada, mas também e principal-
mente ocorre sob a guarda seletiva de uma cultura
que nos constitui como seres humanos identifica-
dos com determinados costumes, valores e modos
de ser que fazem parte da nossa ambiência e da
nossa convivência social.
Um aspecto essencial para que se conceba e
se consolide uma nova visão e consequentemente
66 Se na escola uma nova cultura da aprendizagem é reconhecer
tradicional o saber
ler e escrever, e a que a escola como instância formal de ensino e de
aquisição progres- aprendizagem atinge um novo ritmo de desenvol-
siva de saberes
bem focados em vimento como resultado das revoluções ocorridas
determinados obje- nos campos das ciências, da tecnologia e cultura.
tivos era suficiente,
pode-se até dizer Essa nova natureza do conhecimento – sem-
que a educação pre aberta a novas informações e inovações gera
conservadora se
constituía como um uma crise no modelo tradicional de escola e mes-
fim em si mesmo, mo na concepção de educação, pressionando os
modernamente,
a valorização e a
sistemas de ensino para promover as chamadas
produção de uma reformas Educacionais que visam à reestruturação
cultura diversificada,
a saturação de um
do ensino para garantir uma aprendizagem mais
conhecimento de efetiva e adequada aos novos tempos.
massa, generaliza-
do, exige uma nova
Pode-se entender melhor a importância da
proposta da escola escola66 sob o foco da necessidade de produção
como espaço de de um conhecimento científico – isto é, aquele que
guarda do acervo
produzido, mas, não se conforma em perceber apenas as aparências
principalmente provenientes do senso comum, mas que reflete a
como lugar de
concentração de aquisição de um senso crítico, fundamentado na
recursos e meios filosofia que interroga o mundo e lhe dá respostas
capazes de promo-
ver a passagem de plausíveis, aceitas nas cercanias de determinados
um conhecimento momentos históricos, mesmo que depois sejam
cada vez mais
complexo, dinâmico, ultrapassados (como já vimos antes) pela quebra
diferenciado e de paradigmas, quando a ciência entra em crise e
mutante.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 143

evolui para um novo patamar de experiências mais


compatíveis com os avanços próprios de cada nova
época.
Estamos observando pelo tom das reflexões
acima realizadas que a constituição de um novo
projeto de aprendizagem irá se realizar como res-
posta aos inúmeros desafios que, ao longo do
tempo histórico, vem sendo apresentado à escola.
A aprendizagem permanente é representativa de
quão extenso, profundo e diverso é o conhecimen-
to produzido na sociedade global.
Na escola, a necessidade de aprender a
aprender está se tornando em elemento chave para
definição de uma nova cultura escolar. Na verdade,
é preciso explicitar ainda mais o que todos nós
já sabemos: A ida à escola não significa apenas a
oportunidade de aprender muitas coisas que não
constam da aprendizagem doméstica, informal, sig-
nifica também aprender coisas distintas com fina-
lidades diferentes e de um modo diferente. Isso
nos faz perceber que o modelo de escola baseado
na rotina, na prescrição didática antecipada está
entrando em desuso.
Dessa forma, já não se pode abordar os pro-
blemas vividos sob uma perspectiva única, a cultura
da padronização, a didática da homogeneidade es-
tão sendo substituídas pela cultura da diversidade
e pela didática da heterogeneidade e da diferencia-
ção. Já não se pode entender o ensino e tampouco
a aprendizagem como ato mecânico, repetitivo e
rotineiro. Nesse contexto, a função social da escola
inclui a criação de novas oportunidades de apren-
der a aprender através do poder de criar projetos
próprios que orientem a busca de novas respostas
sobre os problemas que continuam a nos angustiar,
apesar dos avanços científicos e tecnológicos.
144 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Uma Nova Cultura Escolar: A Pesquisa na Escola

Cada cultura tem seu modo próprio de se


fazer reconhecer, seja por seus costumes, regras e
normas, ou pela visão de mundo que representa
através das ideias que compartilha no âmbito da
comunidade que a integra.
67 A escola, ao Assim, a cultura67 inclui e mesmo exige a
criar um modo
determinado de possibilidade de que a aprendizagem seja contínua
se organizar sob para que se ensine aos novos aprendizes aquilo
as bases legais
(normas e regras) que se considera mais relevante para um desem-
e pedagógicas penho adequado no âmbito de uma organização
(procedimentos e
práticas de ensino social peculiar.
e aprendizagem), Já foi possível apreciar alguns aspectos pró-
também cria uma
rotina de procedi-
prios das mudanças que vão caracterizar a consti-
mentos e ações que tuição de uma nova cultura escolar, que se sobre-
em seu conjunto se
define como Cultura
põe aos poucos sobre o tradicionalismo de uma
Escolar. educação repetitiva e individualista e fechada nos
limites da sala de aula.
É visível que o surgimento de uma nova cul-
tura escolar aporta necessidades de ordem peda-
gógica que exigem a abertura da sala de aula e a
integração da escola à comunidade que a rodeia.
O ensino transmissivo, realizado no interior da sala
de aula oferece uma base de conhecimentos gerais
que exigem uma metodologia mais ativa para que
sejam postos em prática através de múltiplas expe-
riências, criando novas referências que irão de fato
consolidar o conhecimento.
Assim, a nova cultura escolar não sobrevive
do isolamento e sim da sua nova condição de es-
paço aberto ao diálogo profícuo com a comunidade
mais próxima e com a sociedade global. Nesse per-
curso de abertura passa a integrar questões sociais
e problemas de ordens diversas que irão constituir-
se em pautas abertas para estudos interdisciplina-
res, enriquecedores da rotina escolar.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 145

Para tanto, a metodologia da pesquisa se tor-


na elemento didático obrigatório, como uma nova
forma de assegurar a autonomia dos alunos en-
quanto sujeitos do seu processo de aprendizagem
mediado não só pelas teorias transmitidas pela es-
cola, sobretudo pela oportunidade de investigar e
aplicar com habilidade e perícia o suporte técnico-
científico para compreender e explicar a realidade
em seus recortes necessários.
Uma nova via de aprendizagem se estabelece,
sendo reconhecida como aprendizagem significativa
– aquela perdurável, que não se esgota quando en-
fraquece a memória, porque resultou da apreensão
compreensiva do conhecimento, e de sua seleção
para aplicação adequada à resolução dos problemas 68 Para Demo,
(2001) trata-se de
que nos afligem e interessam. Fala-se de uma apren- distinguir entre a
dizagem situada num contexto social e histórico de- pesquisa realizada
com o fim de pro-
terminado que, por isso mesmo, motiva e provoca. duzir conhecimento
científico e pesquisa
como elemento de
A importância da pesquisa na escola mediação pedagó-
gica utilizada para
fins educativos.
Quando se quer abordar a importância da
A pesquisa como
pesquisa na escola de educação básica é preciso, princípio educativo
logo de início, fazer uma distinção fundamental é capaz de promo-
ver a superação
para que se compreenda o seu duplo sentido e o da aula repetitiva,
realce que se dá no âmbito desse nível de ensino68. desenvolvida a
partir de um con-
Outro fator importante que merece ser des- teúdo reproduzido
tacado é que a pesquisa permite a ultrapassagem sem espaço para
reconstrução e
do conhecimento “preso” na burocracia do sistema questionamento.
escolar ao ambiente exclusivo da sala de aula; a Para Demo, a pes-
quisa é importante
utilização pedagógica da metodologia da pesquisa em todos os níveis
permite aos alunos e professores elaborarem uma de ensino e “O
valor pedagógico
nova leitura da realidade cotidiana; a pesquisa da pesquisa está
permite que a informação e o conhecimento se- em fundamentar
claramente o saber
jam recriados e sirvam como instrumentos de mais pensar criticamente,
conhecimento, favorecendo aplicação e partilha ao na acepção já
clássica de Freire”.
invés de simples absorção. (2000, p. 24).
146 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Também é importante lembrar que a pesqui-


sa de uso didático funciona como um desafio moti-
vador que provoca os jovens para vivenciarem uma
aprendizagem ativa e significativa, mobilizando a
vontade de aprenderem por si mesmos, auxilian-
do-os a pôr em prática a filosofia do “aprender a
aprender”.
A pesquisa de cunho didático-científico su-
põe ainda o desenvolvimento do espírito crítico,
elemento essencial à emancipação do aluno como
sujeito social, que assume de forma mais eman-
cipada e menos subalterna a responsabilidade de
construir uma visão mais globalizada da realidade
cotidiana. O aluno se apropria de uma visão de
conjunto, mais alargada e mais complexa e profun-
da dos fatos cotidianos estudados na sala de aula
pela via dos procedimentos inerentes à pesquisa.
A pesquisa como signo das mudanças que
devem ser realizadas no contexto dos processos
que envolvem o ensino e a aprendizagem, promo-
verá a qualidade do ensino, assegurando o desen-
volvimento de novas competências e habilidades
que se tornarão estofo permanente para continui-
dade de estudos em níveis mais elevados.
No entanto, faz-se necessário ressaltar que a
adoção da pesquisa como uma metodologia ativa
em sala de aula não deve ocorrer de forma desor-
denada e sem planejamento. A pesquisa exige mu-
dança radical na postura docente e na organização
didática e curricular.
O ensino também passa a ser mais ativo, di-
nâmico e exigente. A participação do aluno deve ser
orientada para a realização do processo de inves-
tigação contextualizada dos problemas humanos e
sociais. Dessa forma, os conhecimentos adquiridos
na escola ganham um novo peso, que não se res-
tringem ao peso da nota (de zero a dez) atribuída a
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 147

tarefa cumprida, mais que isso, os conteúdos como


conhecimentos aprendidos passam a se constituir
numa matriz de referências para explicação dos pro-
blemas que circundam a existência humana. O pro-
fessor já não é e não pode ser o único detentor do
conhecimento – o dono da verdade. Assim, quando
adota a pesquisa como mediação pedagógica ele
libera o pensamento criativo do aluno que passa a
ser também sujeito da sua própria aprendizagem,
pois orientado para buscar novos conhecimentos
consegue perceber que há sempre uma nova expli-
cação possível para esclarecer a realidade.
Abaixo, alguns itens que não podem ser es-
quecidos para que se alcance êxito com o desen-
volvimento da pesquisa na escola:

Biblioteca – É elemento essencial para fun-


damentar e consolidar a metodologia da pesqui-
sa. Sem conhecimento atualizado disponível não
há como ter referências sólidas para esclarecer os
fatos estudados;

Formação Continuada do Professor – O pro-


fessor da Educação Básica precisa ser constan-
temente qualificado para garantir atualização e
aperfeiçoamento da sua competência adquirida na
formação inicial, tanto da parte específica do seu
campo de conhecimento, quanto, especialmente,
no que concerne aos elementos que integram o
desenvolvimento dessa nova didática que inclui a
utilização de metodologias mais ativas;

Acesso ao conhecimento por via eletrônica -


familiarizando o aluno com o uso do computador
que servirá como apoio indispensável à reconstru-
ção dos conhecimentos;
148 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Espaço institucionalizado de incentivo e re-


forço aos estudos – A formação de grupos de inte-
resse para estudos de temáticas diversificadas de
curta duração que permitam a integração do estu-
dante nos debates que ocorrem em nível local e
nacional, abrindo novas perspectivas de análise e
compreensão das situações polêmicas que deman-
dam esclarecimento da população brasileira para
além do que se ouve na mídia.

Promoção de eventos – Seminários, oficinas


que permitam construção e exposição das ideias e
artefatos produzidos a partir das experiências de-
senvolvidas através das pesquisas realizadas, valori-
zando o esforço intelectual de alunos e professores.
69 O ensino A aprendizagem ativa69 do aluno através da
eficiente somente
acontece quando há metodologia da pesquisa requer do professor a dis-
uma aprendizagem ponibilidade para ampliar sua experiência, extrapo-
significativa e eficaz
como resultado de lando o espaço da sala de aula, tornando-se ele
um processo no também um aprendiz.
qual o professor
toma por base não
somente os ensi-
namentos teóricos
que aprendeu na
INDICAÇÃO DE LEITURA
formação inicial,
mas também a
intuição e o bom
Com o objetivo de auxiliá-lo na tarefa de consolida-
senso permeados ção do conhecimento relativo ao tema que orienta
pelos princípios que
a construção deste capítulo, apresentamos a seguir
podemos apreciar
a seguir, refletindo dois livros que subsidiarão seus estudos.
criticamente sobre
cada um deles.
Adotar esse decá- DEMO, Pedro. Conhecer e aprender: sabedoria dos
logo pode ser um limites e desafios. Porto Alegre: Artes Médicas/Sul,
passo importante
para um trabalho 2000.
docente efetivo e de
qualidade.
Neste livro, o autor aborda os limites e desafios do
conhecimento. Leiam no capítulo 9, Construção ou
reconstrução.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 149

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes


necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.

Este livro é dedicado à construção da autonomia


docente. Paulo Freire ressalta a necessidade do
professor estudar continuamente como uma forma
de se manter atualizado para atender com presteza
às novas exigências da sociedade. Nesse sentido,
recomenda-se a leitura do capítulo 1 “Não docência
sem discência”.

PARA REFLETIR

Analise a frase:
“O olhar de quem quer conservar é diferente do
olhar de quem almeja transformar”. (Autor desco-
nhecido)
Discuta sobre isso com o seu grupo de estudos ou
com os seus colegas de sala de aula.
150 Ensino e pesquisa - organização de projetos

4.3 O processo de investigação: planejamento e


ação

Caro aluno, ao adotar a pesquisa como ins-


trumento de mediação da prática pedagógica o
professor precisa estar preparado para saber orien-
tar seus alunos, guiando-os pelos caminhos da au-
tonomia de produção, valorizando a disposição em
buscar informações e produzir conhecimentos da
forma mais rigorosa possível, considerando-se os
procedimentos aceitos pela comunidade científica.
Não é tarefa fácil transformar a sala de aula
num grande laboratório, onde os alunos curiosos,
atentos e motivados são desafiados por uma nova
matriz curricular – uma matriz social, problematiza-
dora da realidade cotidiana. A aula já não se realiza
sob a forma de repasse expositivo e o professor
é, ele próprio, um apresentador de situações-pro-
blema, um mediador da aprendizagem ativa, um
instigador da curiosidade dos alunos.

O ato de buscar o conhecimento e o conhecer

Nesse sentido, o primeiro passo para tornar


a aprendizagem eficiente é orientar o aluno quanto
à pesquisa bibliográfica. Ensinar a consultar livros,
periódicos, revistas... Despertar o gosto da “pro-
cura” que no fundo traz implícito o significado da
pesquisa.
A palavra pesquisa veio do espanhol, que
por sua vez herdou-a do latim, do verbo perquiro,
que significa procurar, buscar com cuidado, procu-
rar por toda parte, informar-se, inquirir, perguntar,
indagar bem, aprofundar na busca.
Assim, a pesquisa é atividade intelectual,
planejada e intencional que visa responder às ne-
cessidades humanas para melhorar as condições
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 151

práticas da existência, articulando as duas esferas


de ação do homem – a prática e a teórica, permi-
tindo-lhe investigar para conhecer e transformar o
mundo em que vive. Para tanto, utiliza sua capa-
cidade criadora, e seleciona as melhores técnicas,
instrumentos e teorias disponíveis na sociedade e
ao seu alcance, em face das condições oferecidas
para que realize seus estudos e pesquisas. A pes-
quisa possibilita transformar o mundo; criar obje-
tos e concepções; avançar em previsões; controlar
a natureza; inventar e recriar ideias, técnicas.
Mas, pode-se indagar, já que o ponto de par-
tida para realização dos processos de investigação
são as necessidades sentidas: - O que são necessi-
dades humanas básicas?
Cada avanço científico é um pequeno peda-
ço da história de uma necessidade humana, dividi-
da e reconhecida através das diversas ciências – a
agronomia; a zootecnia; a medicina; o direito; a
filosofia. Nesse sentido, não há área humana do
conhecimento em que a pesquisa esteja ausente.
A necessidade pode ser caracteriza de modo
geral como uma sensação de permanente insatisfa-
ção proveniente das carências em nível biológico,
social, psicológico.
O homem responde às suas necessidades
através de dois mecanismos: instintivo (impulsos
naturais) e automático ou reflexo (conjunto de ati-
vidades rotineiras, capacidade de questionar inten-
cionalmente).

Aspectos Importantes Que Valorizam A Pesquisa

Subsidia solução de problemas e está acima


das posturas individuais;
Meio de aperfeiçoamento e desenvolvimento
escolar;
152 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Identifica falhas nos processos educativos e


oferece alternativas para os problemas;
Fonte de esclarecimento do educador que toma
decisões mais fundamentadas;
Permite a participação e dá legitimidade aos
posicionamentos;
Promove o crescimento intelectual com a apren-
dizagem científica;
Contribui para o desenvolvimento do pensa-
mento crítico;
Sem pesquisa não há avanço dos conhecimen-
tos e tecnologias;
A pesquisa investiga o meio e o próprio homem;
70 Fornece referências sólidas70 para melhoria da
• Porque a pesquisa
identifica e delimita prática.
o problema
• Analisa as
variáveis
A Elaboração do Plano de Ensino
• Formula hipóteses
• Coleta dados
sistematicamente
Plano de Ensino é o documento que a partir
• Chega a uma do planejamento, entendido como forma de pensar
conclusão.
a realidade, deve ser elaborado pelo professor, con-
juntamente com seus pares, estabelecendo de forma
clara como acontecerá o processo pedagógico no
interior da sala de aula. Já o Plano de Aula deve
definir as formas de relacionamento professor-aluno;
a transmissão dos conhecimentos; os procedimentos
de avaliação; as estratégias metodológicas, além dos
conteúdos essenciais que deverão integrar o pro-
grama de cada disciplina, ou área de estudo. Como
instrumento norteador da tarefa docente, o Plano de
Ensino deve ser flexível o bastante para se adaptar às
exigências e necessidades dos educandos, no decor-
rer dos processos que serão desenvolvidos.
Um dos problemas reclamados pela maioria
dos docentes é que, por exigência do sistema de
ensino, os Planos de Ensino são elaborados antes
que se conheça a realidade de cada sala de aula.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 153

É claro que sabemos que é preciso que o pro-


fessor tenha um período de contato com as suas
turmas para diagnosticar de maneira concreta as
aspirações, interesses e carências a fim de elaborar
um plano que sirva como parâmetro para o de-
senvolvimento de suas atividades de forma bem
real, pensando no aluno que existe de fato, e que
é parte do cotidiano da escola. No entanto, isso
não impede a elaboração antecipada dos planos
de ensino, desde que, a realidade e a diversidade
da sala de aula e a prática social dos professores
e alunos, no devido tempo, sejam considerados
como indicadores dos caminhos a serem seguidos,
para que se avance. Nesse sentido, pode-se recorrer
à dimensão de flexibilidade própria dos processos
de planejamento de modo a satisfazer as necessi- 71 Ovídio Decroly
dades progressivamente identificadas, construindo nasceu em Renais,
na Bélgica, em 1871
e reconstruindo diariamente com os educandos o e desencarnou em
processo de ensinar e aprender. Bruxelas, em 1932.
Conforme: http://
recantodasletras.
Confirmando o que foi apresentado anterior- uol.com.br/biogra-
fias/173624
mente, um Plano de Ensino pautado na Metodolo-
gia de Projetos compreen-
de quatro fases segundo
estudos sobre os métodos
globalizados de ensino,
realizados por ZABALA,
(1998, p. 149) que destaca
o pensamento de autores
como Decroly71 com seus
Centros de Interesse. As
fases acima citadas são:
154 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Intenção – Quando coordenados pelo profes-


sor os alunos debatem sobre os diferentes projetos
propostos, escolhem o objeto que querem estudar
e a maneira de se organizar em pequenos grupos
ou individualmente, esclarecendo-se as caracterís-
ticas gerais do que almejam fazer, assim como os
objetivos que pretendem alcançar.
Preparação – É o momento de se definir com
a máxima precisão o projeto que se quer realizar.
Nessa fase são exigidos o planejamento e a progra-
mação dos diferentes meios que serão utilizados,
os materiais e as informações indispensáveis para
a realização e as etapas e tempo previstos.
Execução – Definido o projeto, os meios e
o processo a ser seguido, o trabalho será inicia-
do segundo um plano estabelecido. As técnicas e
estratégias das diferentes áreas de aprendizagem
serão utilizadas em função das necessidades de
elaboração do projeto.
Avaliação – É o momento de comprovar a efi-
cácia e a validade do produto realizado. Ao mesmo
tempo será analisado o processo seguido e a parti-
cipação dos alunos.

Entre as estratégias metodológicas conside-


radas e apresentadas pelo autor podemos ainda
complementar nesse esquema, por exemplo:
Na Fase reservada à construção da Intenção,
que destacamos como um momento especial para
sensibilização da turma, motivando-a para conhe-
cer e questionar a realidade a partir de fatos ou
situações que chamem a atenção dos jovens, in-
centivando sua participação efetiva, tornando esse
movimento inicial como um movimento proativo às
mudanças e inovações.
Também é importante destacar que a Fase
de Preparação pode incluir a busca de diferentes
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 155

fontes de pesquisa e obtenção de informações ade-


quadas e suficientes para construir e implementar
o Projeto.
Na Fase de Execução é essencial desenvolver
a capacidade de análise e síntese a partir de indica-
dores previamente determinados para organização
das informações coletadas. O tratamento das infor-
mações ajuda os alunos a esclarecer melhor seus
pontos de vista, chegando a conclusões plausíveis
que podem ser generalizadas através de relatórios
ou dossiês do trabalho executado, servindo como
parâmetro para a Fase de Avaliação.
Na Fase de Avaliação os alunos devem se
autoavaliar, contrapondo as análises e recomenda-
ções efetuadas pelo professor identificando novas
perspectivas para futuras aproximações do objeto
de estudo, garantindo a continuidade do projeto.
Portanto, a opção pelo enfoque globalizador
de ensino através da metodologia de projeto re-
presenta uma maneira de conceber o aluno como
protagonista do ato educativo, e as disciplinas,
como meios para favorecer o pleno desenvolvimen-
to pessoal.
Nesse entendimento, torna-se fundamental
apresentar as etapas do planejamento. Verifiquem
a seguir:

A Construção do Projeto - Etapas do Planeja-
mento de Pesquisa com Foco Didático-Científico
1ª Etapa - Aprendendo a olhar o ambiente –
sensibilização e escolha do tema-situação;
2ª Etapa - Problematização da realidade: o
que vale a pena interrogar;
3ª Etapa - Delimitação do problema: especi-
ficidade do tema;
4ª Etapa - Como investigar o problema de-
limitado: definindo a metodologia passo a passo;
156 Ensino e pesquisa - organização de projetos

5ª Etapa - Execução dos procedimentos para


coleta de informações e organização dos conheci-
mentos disponíveis;
6ª Etapa - Análise, sistematização e classifi-
cação das informações;
7ª Etapa - Registro e comunicação dos resul-
tados alcançados.

Considerando a importância do planejamen-


72 Podemos to compreendido não apenas como um conceito
72
apreciar o texto
de Danilo Gandin, abstrato, mas como uma forma de pensar a reali-
(1994) aprendendo dade, refletindo sobre os seus limites e possibilida-
com ele dois
conceitos-chave: des e indicando caminhos para efetivar ações que
eficiência e eficácia, apresentem os resultados previamente esperados.
como elementos
que determinam o
significado prático PARA QUE PLANEJAR?
do planejamento.
A primeira coisa que nos vem à mente quan-
do perguntamos sobre a finalidade do planejamen-
to é a eficiência.
A eficiência é a execução perfeita de uma ta-
refa que se realiza. O carrasco é eficiente quando o
condenado morre segundo o previsto. A telefonis-
ta é eficiente quando atende todos os chamados
e faz, a tempo, todas as ligações. O datilógrafo,
quando escreve rapidamente (há expectativas fixa-
das) e não comete erros.
O planejamento e um plano ajudam a alcan-
çar a eficiência, isto é, elaboram-se planos, implan-
ta-se um processo de planejamento a fim de que
seja bem feito aquilo que se faz dentro dos limites
previstos para aquela execução.
O planejamento visa também à eficácia. Os
dicionários não fazem diferença suficiente entre efi-
cácia e eficiência. O melhor é não se preocupar
com palavras e verificar que o planejamento deve
alcançar não só que se façam bem as coisas que se
fazem (chamaremos isso de eficiência), mas que se
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 157

façam as coisas que realmente importa fazer, por-


que são socialmente desejáveis (chamaremos isso
de eficácia).
A eficácia é atingida quando se escolhem,
entre muitas ações possíveis, aquelas que, execu-
tadas, levam à consecução de um fim previamente
estabelecido e condizente com aquilo que se crê.
Além destas finalidades do planejamento –
são as que os bons livros de planejamento ressal-
tam – gostaria de introduzir a discussão sobre uma
outra, tão significativa como estas, e que dá ao
planejamento um status obrigatório em todas as
atividades humanas: é a compreensão do processo
de planejamento como um processo educativo.
É evidente que esta finalidade só é alcançada
quando o processo de planejamento é concebido
como uma prática que sublinhe a participação, a
democracia, a libertação. Então o planejamento é
uma tarefa vital, união entre vida e técnica para o
bem-estar do homem e da sociedade.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Com o objetivo de auxiliá-lo na tarefa de consolida-


ção do conhecimento relativo ao tema que orienta
a construção deste capítulo, apresentamos a seguir
dois livros que subsidiarão seus estudos.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar.


Porto Alegre: Art Med, 1998.

Neste livro, o autor aborda os desafios da prática


educativa de forma bastante apropriada, unindo
concepção e prática para descortinar pontualmente
os processos e procedimentos que envolvem o ato
de ensinar e aprender. Recomenda-se a leitura do
158 Ensino e pesquisa - organização de projetos

capítulo 2 “A função social do ensino e a concepção


sobre os processos de aprendizagem: instrumentos
de análise.

GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educa-


tiva. São Paulo: Edições Loyola, 1994.

Este livro é dedicado à construção dos processos


de planejamento na escola, abordando de modo
simples e prático conteúdos importantes e proce-
dimentos adequados para facilitar a vida do pro-
fessor no que diz respeito ao processo de plane-
jamento. Nesse sentido, recomenda-se a leitura do
capítulo 2 “O processo de elaboração de planos.”

PARA REFLETIR

Analise com o seu grupo de estudos a frase a seguir


considerando a importância do planejamento: “Não
será possível nenhum peixe razoável sem pensar
no anzol e na rede, sem distinguir o rio do mar,
sem conhecer linhas e iscas, sem apanhar chuva e
sentir o sol”. (GANDIN, 1994, p. 43)
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 159

4.4 O papel do professor como pesquisador em


ação

Olá, alunos, sabemos que a pesquisa pode


ser compreendida como oportunidade de diálogo
e análise crítica da realidade, permitindo a recons-
trução criativa das situações tidas como determina-
das pelo senso comum. É a pesquisa o instrumento
primordial de qualificação do ensino e da aprendi-
zagem, fortalecendo igualmente essas duas dimen-
sões: a do ensino e a da aprendizagem que passa
a ser de fato significativa e duradoura.
Por isso, é urgente que as escolas invistam
seus esforços na formação de um novo perfil do
“ser docente”, preparando-o para saber enfrentar
os desafios que caracterizam a época que vive-
mos, oportunizando espaços didáticos adequados
para o exercício do saber pensar criticamente e do
aprender a aprender, reinterpretando a realidade,
inovando, interferindo, questionando, transforman-
do, a partir do seu cotidiano escolar.

A Formação Docente

Nessas considerações iniciais, inúmeras


questões devem ser levantadas, conduzindo-nos a
uma longa e essencial reflexão que se insere como
preocupação geral no contexto dos processos de
formação docente, tais como:
• Como é possível desenvolver um proces-
so de formação docente em sintonia com
os avanços conquistados pela ciência e
pela tecnologia, que valorize ao mesmo
tempo a sensibilidade e a capacidade
criativa dos educadores?
• O que fazer para assegurar a conquista
da autonomia, capaz de promover o de-
160 Ensino e pesquisa - organização de projetos

senvolvimento de uma inteligência cole-


tiva e a descoberta de talentos para a
ciência, a política e a arte?
• Como ensinar um novo olhar sobre o
mundo, preparando os novos educado-
res num ambiente pedagógico favorável
à participação, capaz de propiciar o apro-
fundamento da vocação humana para a
solidariedade, a harmonia e a generosi-
dade?
• Como assegurar a necessária compe-
tência reconstrutiva, enquanto categoria
condizente com a marca do sujeito capaz
de permanentemente fazer e refazer o co-
nhecimento sobre o mundo, recriando a
própria história?

Entendemos que é exatamente na conflu-


ência dessas indagações que estamos situando a
perspectiva de formação do professor-pesquisador,
73 Aqui, evidencia- como aquele formador que irá propiciar aos seus
se a importância de
se buscar compreen- educandos uma prática pedagógica73 de melhor
der dialeticamente o qualidade, capaz de contribuir para a superação
papel do professor
do século XXI, em dos limites postos pela realidade educacional, no
seus nexos e inter- âmbito da educação básica.
câmbios possíveis,
estabelecidos entre
Para desenvolver uma proposta de formação
a sociedade e o inovadora, pautada na construção da competência
cotidiano da sala
de aula, enfatizando
reflexiva, que pretende realçar a autonomia, for-
que toda metodo- mando o pesquisador-em-ação, precisamos defi-
logia de ensino se
articula com uma
nir, a priori, sob quais condições se forma o pro-
opção política e fissional reflexivo. Para responder adequadamente
envolve uma teoria a essa preocupação, buscamos na fertilidade das
apropriada para
compreender e contribuições de Schon (2000) a ampliação da aná-
interpretar os con- lise relativa à formação do profissional reflexivo.
teúdos que ajudam
a ler a realidade em Nesse sentido, observa-se que ganha força,
cada momento novo as questões relativas à conquista da autonomia e
da história que
protagonizamos. ao exercício do trabalho coletivo, como processos
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 161

viabilizadores da formação contínua, além do re-


conhecimento do ensino como uma prática social,
capaz de dar respostas coerentes e significativas às
novas necessidades postas às escolas e aos profes-
sores, pela sociedade contemporânea.

SER PROFESSOR: SIGNIFICADO E SENTIDO


Qual o significado da educação em sua vida?
O que o fez optar pelo magistério? O que pesou
no momento de sua escolha por esta profissão,
por esta missão, por este caminho de vida? Que
sentido essa escolha imprimiu à sua vida? Em que
momento você se sente realizado como educador?
Por que isso ocorre?
Respondo-lhes com um esquema, cuja ideia
central, de tão brilhante, jamais deixou de cinti-
lar em minha mente quando trato deste assunto.
Trata-se da motivação para o trabalho. Trata-se da
postura diante do trabalho vista pelo ângulo da
motivação.
Existem basicamente dois tipos de motivação
no mundo do trabalho: as motivações materiais74 e 74 As motivações
materiais são
as motivações não-materiais75. representadas pelo
As diversas formas como elas se combinam desejo de TER, o
desejo de crescer
nos dão as atitudes básicas das pessoas no mundo em termos de status
do trabalho. social e financeiro.
Vejamos a representação gráfica das quatro 75 As motivações
combinações possíveis: não-materiais são
representadas pelo
desejo de SER. O
MISSIONÁRIO PROFISSIONAL desejo da ampliação
dos valores éticos e
Não-material Não-material morais.
Material Material

DEMISSIONÁRIO MERCENÁRIO
Não-material Não-material
Material Material
162 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Demissionário: tem motivações tanto mate-


riais como não-materiais bastante baixas.
Missionário: Tem motivações não-materiais
altas e ambições materiais baixas.
Mercenário: tem baixo nível de motivação
não-material e alto nível de motivação material.
Profissional: Tem alto nível de motivação
não-material e também um alto nível de motivação
material.

E você? Em quais destes perfis você melhor


se enquadra?

A pesquisa como mediação educativa na


construção da autonomia acadêmica

Com base nessas considerações, percebe-se


a importância de se repensar o perfil do professor e
seu processo de formação inicial e continuada, des-
tacando-se a concepção de que a qualidade profis-
sional do professor sustenta-se na perspectiva da
pesquisa como estratégia de inovação que perfaz o
avanço do conhecimento socialmente responsável.
No entanto, é importante considerar que,
apesar dos avanços teóricos já conquistados e exi-
gências avaliativas legais externas (do MEC e da
própria sociedade) a mais simples observação das
práticas educativas cotidianas nas instituições de
ensino públicas ou particulares poderá evidenciar
o distanciamento que ainda existe entre o ensino
e a pesquisa como princípio científico e educativo
capaz de fortalecer a autonomia (docente/discente).
Refletindo sobre essa temática percebemos
que o desafio central das instituições formadoras
situa-se na questão da pesquisa como princípio
científico e educativo, visto como estratégia de
reconstrução do conhecimento e promoção da ci-
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 163

dadania. Pesquisar significa ser capaz de produzir


e de buscar novos conhecimentos como forma de
entendimento do mundo.
Assim, situamos a perspectiva da pesquisa
como princípio educativo como mediação para re-
alização de um ensino de qualidade e fundamen-
to para consolidar a construção de conhecimentos
necessários para um entendimento mais pleno da
realidade social e educativa vivida na sociedade
hodierna.
Uma vez que concordamos com a necessida-
de de superação do ensino instrumental e tecnicis-
ta e criticamos a didática reprodutiva pela via da
aula expositiva como mero repasse de informação,
é prudente optar pela pesquisa, vista especialmen-
te como espaço de mediação educativa para cons-
trução de uma nova forma de ensinar e aprender. A
pesquisa compreendida a partir dos princípios que
a fundamentam como um labor criativo, a ser cons-
truída colaborativamente, no âmbito de uma comu-
nidade de aprendizagem. Consequentemente exige
autonomia e liberdade para mobilizar a capacidade
criativa, possibilitando re-interpretação, avanço e
inovação do conhecimento disponível, que agora,
mais do que nunca, não deve ser compreendido de
forma hegemônica, definitiva, acabada e imutável.
É nesse sentido que a pesquisa como estra-
tégia didática deve ser valorizada, mediando uma
proposta de ensino capaz de resultar num processo
de formação que auxilie o estudante a se tornar um
ser pensante, de “cabeça bem feita”, capaz de mo-
bilizar todo o seu potencial humano criativo e sua
competência questionadora e inovadora.
Está claro que não se pode considerar o co-
nhecimento como um bem imutável que pode ser
guardado para ser transmitido sem retoques, no sa-
grado ambiente da sala de aula, onde se dilui e se
164 Ensino e pesquisa - organização de projetos

esgota. Esse modelo cartesiano já não é compatível


com os avanços científicos e pedagógicos conquis-
tados na atualidade. Demo (1993, p. 97) ao fazer a
crítica da sala de aula como locus de passividade
reprodutiva, ressalta os equívocos de uma educação
instrumental e domesticadora, quando mostra que:

a) o aluno que apenas escuta exposições do


professor, no máximo se instrui, mas não chega a
elaborar a atitude do aprender a aprender;
b) o professor sem produção própria não tem
condições de superar a mediocridade imitativa, re-
passando, pois, esta mesma;
c) é absurdo aceitar que, no percurso de um
professor que lê em outros autores e repassa para
os alunos, que, por sua vez, também apenas escu-
tam e copiam, aconteça qualquer coisa de relevan-
te, sobretudo informação ativa;
d) reduzida a vida acadêmica a apenas isto,
não acontece o essencial, seja na linha da qualida-
de formal (instrumentação técnica da autossuficiên-
cia), seja na linha da qualidade política (fundamen-
tação da cidadania);
e) quem permanece no mero aprender, não sai
da mediocridade, fazendo parte da sucata.

Disto decorre a falta de sentido em limitar o


processo de formação profissional ao ambiente con-
trolado da sala de aula. A aula sem alma, como
espaço onde o aluno aguarda, em inútil passividade,
como um objeto que pode ser controlado, manipu-
lado pelas regulamentações contidas na organização
do trabalho pedagógico. As lições acadêmicas são
retiradas do pergaminho curricular, como um breviá-
rio de conteúdos listados num cardápio repetitivo e
insosso, que distancia o homem da diversidade que
compõe a complexa e farta realidade.
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 165

Para ultrapassar esses limites construídos


por uma pedagogia que ainda hoje nos constrange,
é urgente questionar a relação professor-aluno76 na 76 Numa atitude
ponderada, pode-se
sala de aula, rever seus pressupostos e princípios afirmar que sem
norteadores, para enfrentar o desafio de redirecio- prescindir radi-
calmente da sala
nar a prática educativa, abrindo novas perspectivas de aula – como
de emancipação para essa trilogia inseparável: pro- instância pedagó-
gica que se afirma
fessor-aluno-conhecimento -, mesmo em tempos de culturalmente, é
aprendizagem virtual. mister compreendê-
la como espaço
Vontade e persistência guiadas pela inteligên- que precisa ser
cia pedagógica para mudar seu jeito submisso de renovado, aberto,
transparente,
ser, serão forças mobilizadoras indispensáveis no ultrapassando as
processo de reinvenção da prática educativa. Ao dis- questões que envol-
vem estritamente o
tinguir a pesquisa como mediação para realização mundo acadêmico.
de um ensino com qualidade formal e política, edu-
ca-se o homem para viver o desafio permanente da
autonomia e da liberdade que marcam a sua história
no seio da sociedade, permitindo sua transformação
e a transformação do espaço que habita.
Para finalizar, apresenta-se uma síntese das
principais ideias contidas neste texto postas através
dos seguintes destaques, que poderão se constituir
como temas de questionamento para uma apropria-
ção mais dinâmica dos conhecimentos nessa área.

• Ensinar não se reduz ao acúmulo de in-


formações repassadas no espaço limita-
do da sala de aula;
• A função do professor não se define por
dar aula, mas sim pela capacidade de or-
ganização do saber, reconstruído por mão
própria a partir de uma opção político-
social fundamentada numa razão peda-
gógica que o autoriza a mobilizar o aluno
para construir competência produtiva;
• Aprender a pensar exige atitude crítica e
questionadora diante da realidade, que
166 Ensino e pesquisa - organização de projetos

não se ensina e não se aprende por trei-


namento, repetição, cópia mecânica, re-
produção;
• A aprendizagem emancipadora é uma
conquista progressiva de professores e
alunos que se assumem, resguardadas
as diferenças próprias de seu estágio de
formação, como aprendizes que aceitam
o desafio de inovar a prática educativa;
• A didática do aprender a aprender con-
templa, sobretudo, o aluno como sujeito
do ato educativo, mobilizando seu com-
promisso e seu esforço individual e in-
substituível para conquistar autonomia
intelectual;
• É necessário avançar no processo de for-
mação de professores, reconhecendo-se a
importância da pesquisa como mediação
para construção da autonomia docente,
formando os professores como produto-
res ao invés de meros consumidores de
conhecimento;
• A ênfase na atitude investigativa, crítica
e criativa, coloca os professores e alunos
como sujeitos ativos no cenário didático-
pedagógico da sala de aula, ampliando
qualitativamente as possibilidades conti-
das nos livro-receita.

Enfim, fica evidente, no âmbito da pesquisa


como princípio educativo, a necessidade de se apos-
tar na metodologia do aprender a aprender, uma vez
que não nascemos feitos, nem somos folha branca,
a ser impressa com um conhecimento já feito, pro-
veniente das experiências do mundo exterior, que
independem da nossa vontade política. E somente
porque somos reconhecidos como seres eternamen-
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 167

te aprendentes, desde o nascimento, sem possibili-


dade de esgotamento da capacidade de construir e
reconstruir permanentemente o conhecimento deve-
se adotar a metodologia ativa da pesquisa.
Passamos, então, a apresentar algumas su-
gestões de atividades interativas

• Promoção de oficinas pedagógicas; Re-


alização de estudos de caso; Análise de
situações-problema; Desenvolvimento de
projetos socioeducacional; Orientação
para microaulas; Relatos de experiências;
Elaboração de projetos de iniciação cien-
tífica; Utilização de tecnologias da infor-
mação - vídeos selecionados; Incentivo à
produção dos alunos sobre temas da atua-
lidade; Realização de eventos: seminários/
feiras/mostras/ciclo de palestras... Estudos
e debates de temáticas articuladas às dis-
ciplinas e Realização de pesquisas para:
conhecimento das famílias dos estudan-
tes, relação escola-comunidade, perfil do
aluno (por modalidade de ensino).

INDICAÇÃO DE LEITURA

Recomenda-se, no que concerne a este último ca-


pítulo, a leitura dos capítulos constantes nos livros
a seguir indicados:

SILVA, Ezequiel Theodoro da. O professor e o com-


bate à alienação imposta. São Paulo: Cortez, 1991.

Considerando a linguagem fácil e o teor do conte-


údo apresentado, sugerimos a leitura do livro em
sua totalidade.
168 Ensino e pesquisa - organização de projetos

DEMO, Pedro. Iniciação à competência reconstrutiva


do professor básico: Campinas, SP: Papirus, 1995.

Neste livro, que trata da formação da competência do-


cente para um ensino de qualidade no âmbito da pes-
quisa como princípio educativo, você poderá ler o capí-
tulo 5 “Professor Mago ou Bode Expiatório”, um texto
que incitará suas reflexões sobre o papel do professor
e suas responsabilidades públicas com a questão social
e o papel da educação na formação para a cidadania.

PARA REFLETIR

Este é um momento de reflexão que vai fazer muito


bem para a sua afetividade, sua sensibilidade. Que
tal vocês que compõem esta turma listarem quali-
dades dos melhores professores?
Como o bom educador deve posicionar-se diante
da educação e diante da vida como um todo?
Debata no seu grupo de estudos.

RESUMO

No nosso livro, na parte 2, Caminhos Da Pesquisa


Para Produção Do Conhecimento Científico, estuda-
mos o tema 4: Perspectiva Histórica e Fundamentos
da Pedagogia de Projetos. Portanto, no capítulo dé-
cimo terceiro, O Projeto de Ensino: Metodologia e
Aspectos Operacionais descobrimos que a aposta
mais recente da pedagogia centra-se na relevância
dos processos educativos que ocorrem mediados por
Tema 4 | Perspectiva histórica e fundamentos da pedagogia de projetos 169

uma relação de autonomia e liberdade na qual o co-


nhecimento e o desejo são fortes aliados do profes-
sor contemporâneo que reconhece: somente aprende
com facilidade e alegria o aluno motivado, inspirado
em suas próprias demandas, reforçado pela curiosi-
dade de “desocultar” a realidade que o cerca. Já no
capítulo décimo quarto, Projeto de Aprendizagem:
Uma Nova Cultura Escolar – Pesquisa Na Escola Como
Prática Escolar avalia-se que estão contados os dias
do dever de aula e de casa com respostas pré-fabrica-
das, conceitos memorizados... A ciência não pode ser
memorizada, precisa ser compreendida, interpretada,
criticada, transformada, reinventada. Já não podemos
formar o aluno apenas para se constituir como um ser
de consumo de uma cultura pronta e de um conheci-
mento acabado. A partir da leitura do décimo quinto
capítulo, O Processo de Investigação: Planejamento
e Ação pode-se afirmar que a necessidade humana
de conhecer faz a história, gravada nos resultados,
que representam tanto os avanços alcançados quanto
as tentativas fracassadas, que produzem aprendiza-
gens significativas acumuladas ao longo da história
humana promovendo a construção de novos elemen-
tos formadores da cultura da qual muitas gerações se
beneficiam. E finalmente chegamos ao último capítulo
do livro, o décimo sexto, Papel do Educador como
Pesquisador em Ação que analisa a busca da quali-
dade nos processos de formação profissional rejeita a
tutela do ensino sob um modelo didático instrumen-
tal e mecanicista, baseado no repasse e na cópia, no
qual o professor, e somente ele, figura como senhor
absoluto e dono do saber. Acreditamos que para vo-
cês foi muito interessante estudar essa disciplina. Es-
peramos que no seu cotidiano vocês consigam fazer
as adequações necessárias à melhoria do seu conhe-
cimento prático.
170 Ensino e pesquisa - organização de projetos

NOSSA DESPEDIDA

Chegamos ao final do nosso livro. Acredita-


mos ter cumprido nosso propósito maior – fazer
com que o aluno compreenda de forma mais apro-
priada os desafios que os aguardam para o desen-
volvimento de uma prática pedagógica consolidada
sobre os valores eleitos pela contemporaneidade,
sem esquecer os caminhos percorridos pela história
que nos fez chegar até aqui. Importante é perceber
que os avanços foram possíveis graças às ideias e
ousadias postas em prática pelos que nos precede-
ram e cabe a nós, nesse momento contemporâneo,
conservar aquilo que de fato for compatível com as
necessidades da nossa época, recriar outras infor-
mações e transformar os conhecimentos adquiridos
reconstruindo conceitos, princípios e valores. Aí re-
side a verdadeira qualidade do educador: a capaci-
dade de criar com autonomia e discernimento sua
prática, visando uma aprendizagem mais efetiva e
permanente.
Lembrem-se que torcemos pela sua aprendi-
zagem.
Ensino e pesquisa - organização de projetos 171

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Anotações
176 Ensino e pesquisa - organização de projetos

Anotações

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