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Jogando para as Câmeras

Vi pelo menos dois comentaristas de política se referirem à indicação (e à aceitação) do juiz Sérgio Moro
ao superministério da Justiça como um golaço do presidente eleito Jair Bolsonaro. Não é muito difícil
saber por quê, já que no cenário político contemporâneo brasileiro, o juiz Moro não é uma figura
qualquer. A operação que chefiou mandou para a cadeia figurões da República e do meio empresarial.
Não é exagero dizer que as investigações e condenações da Operação Lava Jato definiram o cenário
político em que se desenrolou a eleição presidencial deste ano.

Claro que com a nomeação de Moro, Bolsonaro enviou uma série se sinais positivos em todas as
direções que lhe interessam. A oposição vai continuar a criticá-lo? Sim, mas ela o criticaria de qualquer
modo. Portanto, não faz diferença. Ele está interessado nos seus eleitores. É para eles que faz as
mesuras mais elaboradas. Ganha aplausos da plateia que lhe interessa e, de quebra, ainda flerta com a
do time adversário. Se até o Papa é pop, o que dizer de Moro?

Mais importante ainda, Bolsonaro parece ter se decidido a respeito de como vai falar com seu
eleitorado. Como “o meio é a mensagem”, a forma vai definir o conteúdo.

A estratégia é, se continuar o padrão de indicações para os Ministérios que prevaleceu até o momento,
mais uma vez arriscada. Como um populista clássico, ele joga sempre “apelando para o povo”,
interpelando-o, e evitando ao máximo as pressões do sistema político tradicional. Isso explicaria as suas
peculiares indicações ministeriais. Os nomes de sua equipe que anunciou até agora têm pouca ou
nenhuma ligação com partidos políticos. São nomes “vistosos” que podem ser exibidos ao eleitor, numa
espécie de vitrine onde se pode ver o “estilo Bolsonaro” de governar: o ex-comandante das forças de
paz no Haiti, um astronauta e, claro, o comandante da Lava Jato. Isso é visto como um bom sinal por
seus eleitores, especialmente os que demonizam o sistema político.

Como vai ser o relacionamento com o Legislativo? Em entrevista concedida à Revista época, o
presidente do PSL, Luciano Bivar, dá uma indicação. Em primeiro lugar, diz estar conversando com os
presidentes de alguns partidos (PSD, PR, PRB e Podemos) para conseguir seu apoio. Diz acreditar que
“ninguém vai votar contra os interesses do Brasil, contra as reformas”. Assim, nada de fisiologismo. Só
ideias. E reforça essa afirmação mais adiante afirmando que “é imprescindível que se fale também com
os dirigentes partidários”. O problema é que ao afirmar isso, ele está claramente se colocando em outro
terreno no que tange à negociação política do governo no Congresso, pois este está empenhado em
frentes (ou bancadas) parlamentares.

Assim, Bolsonaro já sabe, aparentemente, o que dizer ao seu eleitorado. O conteúdo da mensagem é
que basta olhar o meu ministério e ver que este estaria rompendo com a política tradicional. Mas é
pouco provável que o parlamento vá dar ouvidos à retórica do interesse nacional, e que os líderes
partidários se acomodem numa posição secundária no Congresso. Especialmente depois que passar o
período de lua de mel do eleitor com o presidente.

Em primeiro lugar, porque “interesse nacional” não é algo dado, mas negociado. Em segundo lugar,
porque tão importante quanto os tais interesses nacionais, são os interesses regionais e locais que
elegeram os deputados. Afinal, políticos (e partidos) querem políticas para poderem permanecer no
poder, não o contrário. Não há nada de ilegítimo nisso. A questão é como isso é feito.
Sem poder acomodar tais interesses no primeiro escalão (mais uma vez: a permanecer a lógica que até
agora se apresenta), a questão é quanto controle terão os “notáveis” sobre o segundo e terceiro
escalão.

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