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Administração

de Mercado
Exterior
Cristiano Morini
Regina Célia F. Simões
Valdir Iusif Dainez

2010

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© 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

M 859a Morini, Cristiano; Simões, Regina Célia Faria; Iusif Dainez, Valdir. / Admi-
nistração de mercado exterior. /Cristiano Morini; Regina Célia Faria
Simões; Valdir Iusif Dainez. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2010.
238 p.

ISBN: 978-85-387-0966-4

1. Economia internacional. 2. Estratégias mercadológicas internacionais.


3. Blocos econômicos. 4. Defesa comercial. 5. Acordos multilaterais de comér-
cio. 6 . Despacho aduaneiro. I. Título.

CDD 330.7

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Inmagine

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Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
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Cristiano Morini
Doutor em Engenharia de Produção pela Uni-
versidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).
Mestre em Integração Latino-Americana pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Graduado em Relações Internacionais pela Uni-
versidade de Brasília (UNB). Tem experiência na
área de Engenharia de Produção, Gerência de
Produção, Suprimentos, envolvendo os temas:
comércio exterior, negócios internacionais e
gestão de cadeias de suprimentos com âmbito
global. Organizador do primeiro Manual de Co-
mércio Exterior em língua portuguesa.

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Regina Célia F. Simões
Doutora em Economia pela Universidade de São
Paulo (USP). Mestre em Economia Aplicada pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV). Gradua-
da em Ciências Econômicas pela Associação de
Ensino Unificado do Distrito Federal (AEUDF).
Atualmente é professora dos Cursos de Ciên-
cias Econômicas e Negócios Internacionais da
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)
desde 1990, ocupando o Cargo de Coordenado-
ra de Estágio Supervisionado no Curso de Negó-
cios Internacionais.
Ainda é coordenadora do MBA em Negócios
Internacionais da UNIMEP. É organizadora e
coautora do livro Manual de Comércio Exterior,
editado pela Alínea, e de vários artigos. É pes-
quisadora na área de Economia Internacional e
Microeconomia, especificamente no setor auto-
motivo. É organizadora da Revista de Negócios
Internacionais do Curso de Negócios Internacio-
nais da UNIMEP.

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Valdir Iusif Dainez
Doutor em Economia pela Universidade de
Campinas (UNICAMP). Mestre em Sociologia
pela UNICAMP. Graduado em Ciências Econô-
micas na Universidade Metodista de Piracica-
ba (UNIMEP). É professor do Curso de Ciências
Econômicas da UNIMEP desde 1992, ocupando
o cargo de Coordenador de Monografias do
Curso de Ciências Econômicas desde 2000. Foi
Coordenador do MBA em Comércio Exterior da
UNIMEP. É coautor do livro Manual de Comércio
Exterior, ed. Alínea, e de vários artigos. É pes-
quisador na área de Economia Internacional e
Macroeconomia.

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sumário
sumário Introdução ao comércio internacional
13 | O papel do comércio internacional
no atual estágio de desenvolvimento do país
13

18 | Benefícios do comércio internacional


20 | Principais características e evolução do comércio internacional
23 | Dependência e interdependência
25 | Forças que dirigem a globalização
26 | A política econômica e a política comercial

33
Teorias do comércio internacional
33 | Mercantilismo e doutrina da balança comercial
36 | A teoria do equilíbrio automático da balança comercial
38 | Os clássicos e a teoria das vantagens comparativas
42 | Modernas contribuições à teoria do comércio internacional:
o Teorema Heckscher-Ohlin
45 | Comércio internacional e a economia nacional

53
Balanço de pagamentos
53 | Informações gerais sobre o balanço de pagamentos
56 | Estrutura do balanço de pagamentos
59 | Balanço de pagamentos e renda nacional
60 | O mercado de câmbio
64 | Desequilíbrios e reajuste do balanço de pagamentos

75
Política comercial
mário

76 | A intervenção do governo na economia e no comércio exterior


87 | Características do comércio internacional

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Instituições internacionais promotoras 97
e reguladoras do comércio internacional
97 | O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e a Organização Mundial
do Comércio (OMC)
104 | Objetivos dos acordos GATT-OMC
105 | As funções da OMC
105 | Estrutura da OMC e seu processo
de tomada de decisão
107 | Temas e acordos da OMC
119
Integração econômica regional
120 | Níveis de integração econômica regional
123 | Integração na Europa
128 | Integração nas Américas
136 | Integração na Ásia
136 | Integração no Oriente Médio e África
137 | A posição do Brasil frente aos acordos de integração econômica

145
Estratégias globais
148 | Promoção
151 | Distribuição
155 | Produto
157 | Preço
169
Formas de internacionalização
172 | A pesquisa de mercado
178 | As formas de internacionalização mais usuais

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sumário
sumário A organização da
empresa para o comércio exterior
192 | Estrutura interna
198 | Estrutura externa
191

203 | Órgãos de apoio

Habilitação para 213


exportação e despacho aduaneiro
216 | Habilitando a empresa como exportadora
216 | Passo a passo do despacho aduaneiro
223 | Documentos mais usuais
mário

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Apresentação
O livro Administração de Mercado Exterior

Administração de Mercado Exterior


apresenta aspectos ligados à gestão de ne-
gócios internacionais, cujas características
são fundamentais para a análise de prospec-
ção de um mercado estrangeiro, bem como o
acompanhamento de tendências econômicas
internacionais.
Alguns aspectos com que o leitor terá conta-
to neste livro:
a) Acordos internacionais: os acordos inter-
nacionais são determinantes de oportunidades
e ameaças para os negócios, porque estimulam
exportações ou podem estimular a concorrên-
cia a entrar no mesmo negócio que o do ramo
de atuação de uma empresa. Conhecer também
como os acordos internacionais podem propor-
cionar litígios comerciais internacionais e como
se defender, também poderão ser visualizados
no livro.
b) Planejamento de marketing: o marketing
internacional é desafiador em termos de análise
e tomada de decisão, bem como definição em
termos de segmentação de mercado, posiciona-
mento e outras estratégias.
c) Despacho aduaneiro e demais trâmites:
definida a forma de entrada no mercado estran-
geiro, há a necessidade de propriamente proce-
der a saída da mercadoria do país, daí a necessi-
dade do conhecimento desse ritual.
d) Economia internacional e balanço de pa-
gamentos: entender como o governo estabelece
políticas públicas na área monetária e cambial é
importante para determinar condicionantes de
um negócio. Conhecer como o governo fecha
suas contas em termos de transações com o ex-
terior também é válido para entender o motivo
do estabelecimento de determinadas linhas de
política econômica.

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Introdução
ao comércio internacional

Cristiano Morini

O papel do comércio internacional


no atual estágio de desenvolvimento do país
Para o estudo deste tema, será utilizado o período de 1990 a 2008. Nesse
período a economia brasileira passou por vários choques de competitivida-
de, graças ao comércio internacional.

Este capítulo se propõe a mostrar que a relação do estágio de desenvol-


vimento econômico de um país com o comércio internacional é direta. Um
país pode oferecer maiores oportunidades de emprego e melhores condi-
ções de renda, conforme o posicionamento da política comercial do país.

A política comercial refere-se à postura de um país frente aos agentes


econômicos estrangeiros, podendo assumir uma característica de maior
permissividade no controle à entrada de produtos, ou o contrário. A política
comercial também é orientada pelos interesses dos agentes econômicos do
próprio país, que se organizam na forma de grupos de pressão ao governo e
defesa de interesses setoriais.

A política externa brasileira ao longo da história oscilou em termos de


maior alinhamento aos interesses dos Estados Unidos, como nação que re-
presenta o maior grau de desenvolvimento econômico, e ao não alinhamen-
to ou uma política externa independente e autônoma. Outra característica
da política externa brasileira é que, tradicionalmente, o Brasil é um dos países
em desenvolvimento de maior presença em foros internacionais, de tradição
pacífica, não ideológica, não excludente e de política externa multilateral ou
universal, com vistas à cooperação e ao desenvolvimento.

Até 1990, a economia brasileira importava pouco, seja por causa da


moeda brasileira ser bastante desvalorizada, seja por causa das barreiras ta-
rifárias na entrada de produtos na economia brasileira. A moeda desvaloriza-

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Introdução ao comércio internacional

da faz com que haja a necessidade de maior quantidade de moeda nacional


para adquirir um produto ou serviço estrangeiro. Como o Brasil teve várias
desvalorizações da moeda nos anos 1980, a moeda nacional não estimulava
a aquisição de produtos do exterior, porque tinha pouco valor. Essa desva-
lorização provocou surtos hiperinflacionários que levaram os ministros da
Fazenda a colocarem em circulação várias moedas, como o cruzado, cruzado
novo, cruzeiro e cruzeiro real.

Assim que uma moeda nova entrava em circulação, cortavam-se três


zeros da moeda antiga, tamanho era o período de inflação que o Brasil pas-
sava, a ponto da moeda valer cada vez menos. A inflação corroía a moeda e
levava a um aumento interno de preços insustentável para o planejamento
econômico de longo prazo. Quando a moeda é desvalorizada e perde valor
com rapidez, não há estímulo para a importação de produtos. A importação
se torna, nesse cenário, cada vez mais cara e desestimulada.

Agregado a esse elemento monetário e cambial, até o final dos anos 1980
o país possuía altas taxas de importação, que marcavam ainda os resquícios
de uma economia fechada e protecionista praticada durante o período mili-
tar no país. Isso significa dizer que, para estimular o crescimento econômico
interno, dificultavam-se as importações, via taxação elevada do imposto de
importação. O imposto de importação (II) é o principal elemento de controle
de entrada de mercadorias em um país. Quanto mais alto ele for, mais difícil
a entrada de mercadoria estrangeira. Além do imposto de importação eleva-
do, o país pode adotar também barreiras não tarifárias, como exigência de
licenças de importação e cotas (restrições quantitativas), por exemplo.

Aliás, a maioria dos países praticava, desde o final da Segunda Guerra


Mundial, a política de altos impostos de importação como forma de esti-
mular a economia interna a se desenvolver; afinal a entrada de produtos
estrangeiros gera emprego e renda no exterior, e não no país importador.
Para estimular o comércio mundial, desde o final da Segunda Grande Guerra
(1939-1945), houve um momento de concertação (acordo, pacto) interna-
cional denominado de Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, em inglês),
justamente com o objetivo principal de derrubar barreiras tarifárias ao co-
mércio internacional, estimulando o desenvolvimento, conforme confirma-
vam os defensores do GATT.

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Introdução ao comércio internacional

O Brasil, embora membro do GATT desde o seu início (1946), somente no


final dos anos 1980 e início dos anos 1990, começou efetivamente a praticar
uma política de rebaixa tarifária, estimulando: a entrada de produtos estran-
geiros no país; a concorrência; a inovação tecnológica; e o barateamento dos
preços internos, via política comercial de abertura da economia.

Quando o então presidente Fernando Collor assumiu o poder, em 1990,


a postura da política externa e comercial brasileira foi favorecer a entrada de
produtos na economia brasileira, como tentativa de provocar um choque de
competitividade e modernização.

A política externa brasileira, com Fernando Collor, foi de maior alinha-


mento aos Estados Unidos, o que se concretizou em uma política econômica
rumo à liberalização da economia e estímulo à privatização.

Se as importações eram poucas até o início dos anos 1990, as exporta-


ções predominavam no resultado da balança comercial brasileira. Em uma
situação de economia fechada, as exportações tendem a ser maiores que as
importações.

A balança comercial registra o valor da movimentação de mercadorias


que entram (importações) e saem (exportações) do país. O movimento das
mercadorias é inverso ao movimento de capital a ele relacionado. Ao serem
exportadas mercadorias, contabiliza-se a entrada de capital no país, e vice-
-versa. Se o resultado das exportações for maior que as importações (ou seja,
se o país “vende” mais do que “compra”), o resultado é superavitário (posi-
tivo); caso o contrário, se importamos mais que exportamos, o resultado é
deficitário (sai mais dinheiro do que entra).

Ao analisar a balança comercial dos anos 1990 até 2008 (figura 1), po-
demos perceber que, de 1990 a 1994, o resultado da balança comercial é
superavitário, graças principalmente à moeda brasileira desvalorizada1, além 1
A desvalorização da
moeda deixa nossos pro-
de altas tarifas de importação em alguns casos. No período de 1995 a 1999, dutos mais baratos frente
aos estrangeiros, o que fa-
o resultado se mostra deficitário, graças à valorização da moeda brasileira (o cilita a venda ao exterior.

real), que entrou em vigor justamente em 1994, aliada à rebaixa tarifária de


vários produtos.

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Introdução ao comércio internacional

160

(SEDEX/MDIC, 2009)
140

120

100

80

60

40

20

0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008

Exportação
Importação

Figura 1 – Exportações e importações brasileiras, em US$ bilhões (1990 a 2008).

A valorização do real permitiu às indústrias brasileiras investirem na mo-


dernização do parque tecnológico nacional, adquirindo máquinas e equi-
pamentos do exterior, tendo em vista a busca por melhores condições de
competitividade em um mercado de concorrência aumentada. É importante
destacar também que, com o aumento da concorrência interna e aumento
da oferta de produtos, a inflação ficou sob controle.

Este efeito do controle da inflação está associado diretamente ao câmbio


(real valorizado frente ao dólar) e à diminuição das barreiras de entrada de
produtos estrangeiros no país. Moeda forte com menos barreira faz com que
aumentem as importações, contendo a inflação interna. Este pode ser ob-
servado como um claro exemplo do papel do comércio internacional para o
desenvolvimento do país.

No período de 1995 a 1999, embora tenha sido registrado deficit, a econo-


mia brasileira estava se modernizando para os novos anos que chegavam.

De 2000 a 2008, novamente pode-se observar o resultado como sendo


superavitário, com forte influência da desvalorização do real, ocorrida no
início do segundo mandato do governo Fernando Henrique (1999), e com
influência da modernização fabril brasileira, que possibilitou a produção de
produtos manufaturados com maior competitividade internacional. A diplo-

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Introdução ao comércio internacional

macia, que conduz a política externa do país, passou a privilegiar o econômi-


co e passou a ser denominada de diplomacia econômica. A desvalorização
do real foi uma medida adotada pelo governo Fernando Henrique para fazer
frente à crise internacional da época, que havia afetado vários países da Ásia,
a Rússia e o México.

Desde o final dos anos 1990, políticas públicas estimularam a sensibili-


zação do empresariado para a prática da exportação. O resultado disso foi o
maciço crescimento das exportações brasileiras, principalmente no período
de 2003 a 2008, quando o comércio mundial passou por uma das fases mais
prósperas.

O Brasil soube aproveitar esta fase, alcançando uma expansão de 21,9%


ao ano no período (RIBEIRO, 2009). As exportações brasileiras foram respon-
sáveis pela geração de empregos e por importante fração do crescimento da
economia, além de contribuírem para melhor avaliação do risco país. Risco
país é um dos instrumentos de avaliação dos investidores internacionais,
que possui uma base de análise que considera o total exportado por um
país, o tamanho da economia (o valor do Produto Interno Bruto, PIB) e outros
indicadores econômicos e financeiros.

Com o crescimento das exportações brasileiras, o risco país diminuiu con-


sideravelmente, o que, aliado à política monetária de redução de taxa de
juros, estoque elevado de reservas internacionais (superior à dívida externa
pública), elevou o país, em 2008, à posição de credor internacional2, um fator 2
Quando um país ou
pessoa tem mais dinheiro
de estabilidade econômica e fiscal. Essa posição credora internacional co- a oferecer que a necessi-
dade de receber.
laborou para que o país pudesse passar fortalecido pela crise internacional
de 2009, sendo um dos principais destinos de investidores internacionais no
período da crise.

Em síntese, pode-se afirmar que os resultados econômicos do país e o


índice de preços praticados relacionam-se diretamente com as políticas ado-
tadas pelo governo, como a política comercial.

O índice de preços tem relação direta com a abertura ou o fechamento da


economia. Uma economia em que o imposto de importação é baixo ou zero,
fará com que o produto tenha um menor preço para o consumidor final (sem
o ônus do imposto), e também fará com o que o produto tenha menor preço
por conta do aumento da concorrência. Quanto mais ampla a concorrência,
mais livre o mercado, o que provoca a rebaixa do índice de preços e a disputa
por diferenciais competitivos.

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A influência de uma concorrência ampla pode ser visualizada com trans-


parência em países como Estados Unidos, México e Chile.

Nos Estados Unidos, em que a maioria dos produtos industrializados goza


de isenção do imposto de importação, a concorrência é acirrada e o nível de
preços é reduzido para estes produtos, mesmo considerando a renda eleva-
da da população que, em tese, poderia pagar mais. México e Chile também
possuem forte concorrência e variedade de produtos ofertados, mesmo com
a renda per capita da população reduzida. Graças aos acordos internacionais
que estes países possuem, o imposto de importação não é praticado corren-
temente, e sim, isento. O nível de preços dos produtos manufaturados nestes
países é consideravelmente menor que no Brasil, por exemplo, que possui
uma política comercial mais protecionista que a dos países mencionados.

Se observarmos, por outro lado, Bolívia e Cuba, países que adotam a pro-
teção da economia interna com a prática de elevadas tarifas de importação,
pode-se perceber que o índice de preços é alto (para produtos manufatura-
dos) e a concorrência é restrita, deixando o consumidor com poucas opções
de escolha e altos preços.

No Brasil, a realidade do índice geral de preços não se compara a nenhum


dos países identificados acima. Apesar da renda da população brasileira se
assemelhar a do México, por exemplo, a prática de impostos de importa-
ção mais altos que o México faz com que os produtos cheguem mais caros
para o consumidor brasileiro, embora o governo vislumbre este indicador
como um potencial gerador de emprego no mercado interno.

O imposto de importação também é utilizado pelo governo como forma


de atração de investidores para o mercado interno. Se um mercado for atra-
ente para um determinado negócio e o imposto de importação for alto, essa
combinação pode provocar atração de Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
para aquele país. Como a barreira tarifária é grande, as empresas optam por
instalar uma planta no país para alavancar vendas.

Benefícios do comércio internacional


Entre os argumentos a favor do comércio internacional, destacam-se os
seguintes:

 Diversidade de produtos – o comércio internacional proporciona


uma imensa variabilidade de fontes e produtos, inclusive o acesso a
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Introdução ao comércio internacional

produtos que, pelas condições geográficas, naturais ou humanas, não


podem ser obtidos em determinadas regiões ou épocas do ano.

 Diversificação de riscos – uma empresa que tem parte das receitas de


faturamento geradas com as exportações, fica menos suscetível a um
problema de caixa.

 Concorrência ilimitada – a situação de um mercado global propor-


ciona um cenário hipotético de concorrência infinita. A alta concorrên-
cia estimula a inovação e o advento de novas tecnologias.

 Superação da sazonalidade – produtos que são sazonais e depen-


dentes de clima, por exemplo, podem ser comprados ou vendidos
para outro hemisfério. O hemisfério norte alterna com o hemisfério sul
os períodos de temperaturas altas e baixas, além das estações do ano.
Um fabricante de biquínis ou roupas de banho pode continuar sua
produção no inverno, considerando que poderá atender a demanda
do verão em outro hemisfério.

 Um mercado maior e mais exigente – o mercado globalizado pro-


voca ganhos de escala para os fabricantes. Um fabricante de relógios
pode divulgar seus produtos em todo o mundo, com a mesma campa-
nha publicitária, considerando táticas de marketing internacional.

 Aumento da riqueza mundial – o comércio proporciona o aumen-


to do PIB de cada país, de modo que é gerador de riqueza. A grande
questão está na distribuição da riqueza gerada, que é polêmica.

 Estímulo a um ambiente pacífico – o comércio é praticado quando


há um ambiente de paz entre os parceiros. Além disso, a prática do
comércio também estimula a paz. Ao longo de toda a história da hu-
manidade, as relações internacionais são marcadas por guerras. O pe-
ríodo recente é uma exceção, um período caracterizado pelo comércio
e pelas relações pacíficas entre grande parte dos países.

 Aumento da cooperação internacional e da formação de regimes


econômicos internacionais – o comércio estimula a formação de
acordos entre os países, com o intuito de facilitar o fluxo comercial
entre os signatários. Esta condição desestimula a hostilidade no meio
internacional e se configura em uma janela de oportunidades.

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Principais características
e evolução do comércio internacional
O comércio internacional é caracterizado principalmente pelo comércio
de mercadorias. O comércio de serviços ainda não representa uma grande
parcela do total mundial. Os grandes fluxos comerciais internacionais ocor-
rem no hemisfério norte, no sentido leste–oeste, entre países de mais alto
PIB.

Os maiores países exportadores são, pela ordem de valor exportado: Ale-


manha, China, Estados Unidos, Japão, Países Baixos, França, Itália, Bélgica,
Rússia, Reino Unido, Canadá e Coreia do Sul, conforme pode ser observado
na tabela 1.

Esses países conseguem um elevado grau de poupança externa, assim


denominada pelo nível de recursos gerado pelo ingresso de divisas oriundas
principalmente das receitas de exportações. Também há países que, embora
não exportem muito em valor absoluto, têm significativos resultados gera-
dos pelas exportações, como é o caso de Coreia do Sul, Taiwan, Filipinas e
México.

Tabela 1– Ranking dos principais países exportadores e importado-


res em 2008

(OMC, 2009)
Valor ex- Valor im-
Ranking dos paí- portado Ranking dos paí- portado
% Posição % Posição
ses exportadores (bilhões ses importadores (bilhões
de US$) de US$)
Alemanha 1.465 9,1 1 Estados Unidos 2.166 13,2 1
China 1.428 8,9 2 Alemanha 1.206 7,3 2
Estados Unidos 1.301 8,1 3 China 1.133 6,9 3
Japão 782 4,9 4 Japão 762 4,6 4
Países Baixos 634 3,9 5 França 708 4,3 5
França 609 3,8 6 Reino Unido 632 3,8 6
Itália 540 3,3 7 Países Baixos 574 3,5 7
Bélgica 477 3,0 8 Itália 556 3,4 8
Rússia 472 2,9 9 Bélgica 470 2,9 9
Reino Unido 458 2,8 10 Coreia do Sul 435 2,7 10
Canadá 456 2,8 11 Canadá 418 2,5 11
Coreia do Sul 422 2,6 12 Espanha 402 2,5 12

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(OMC, 2009)
Valor ex- Valor im-
Ranking dos paí- portado Ranking dos paí- portado
% Posição % Posição
ses exportadores (bilhões ses importadores (bilhões
de US$) de US$)
México 292 1,8 16 México 323 2,0 14
Espanha 268 1,7 17 Rússia 292 1,8 16
Brasil 198 1,2 22 Brasil 183 1,1 24

Os países que apresentam elevado percentual de relação entre valor ex-


portado e PIB são países mais internacionalizados e mais dependentes do
comércio internacional. A demanda global estimula o crescimento econômi-
co desses países, assim como, em épocas de crise internacional, são os países
mais atingidos.

O Brasil não está entre os países mais internacionalizados, porque aden-


trou no comércio internacional de maneira protecionista (alto grau de prote-
ção aos interesses nacionais). Apesar disso, o Brasil apresenta uma importan-
te característica, a de ser um global trader. Essa expressão refere-se a um país
que participa do comércio internacional com uma ampla pauta de produtos
importados e exportados, além de realizar comércio com grande número
de países, de forma a não ser dependente de um único país como fonte ou
destino do comércio.

O Brasil apresenta uma pauta variada de produtos comercializados. É, ao


mesmo tempo, um grande país exportador de commodities e de produtos
industrializados, o que torna o perfil do país mais sólido às flutuações de de-
manda e preços no comércio internacional. Se um setor não está tendo um
desempenho favorável, outros setores poderão apresentar características
distintas. Isso significa que, no caso de uma crise internacional, o país pode
apresentar diferentes impactos em termos de renda e geração de emprego.
Além disso, o país apresenta certa harmonia em termos de origem e destino
das exportações, diversificando continentes e países.

O México, por exemplo, não é um país que apresenta a característica de


“comerciante global”, porque depende majoritariamente do comércio com
os Estados Unidos. Atualmente, o México busca diversificação no comércio
exterior, para ficar menos suscetível a crises e quebras de demanda, o que o
afeta profundamente.

Outra característica a ser destacada do comércio mundial é que, de 1950


para hoje, o volume do comércio internacional aumentou enormemente.

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Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o advento de Conferência Mone-


tária Mundial de Bretton Woods3, os rumos da economia mundial foram re-
definidos. Passou a ser fundamental comercializar com todas as regiões do
3
Conferência monetária
internacional ocorrida no
mundo, para expandir a produção e não se restringir a uma determinada
final da Segunda Guerra
Mundial (1944), com o
região compradora ou país comprador.
objetivo de estabelecer os
novos rumos do mercado
internacional, interessado Após a Primeira Guerra Mundial, a produção norte-americana foi estimu-
em um ambiente favorá-
vel aos negócios. Desses lada pela demanda europeia, que precisava se recuperar dos choques so-
novos rumos, nasceram o
Fundo Monetário Interna- fridos durante a guerra. A expansão industrial americana foi muito grande
cional (FMI), o Banco Mun-
dial e o Acordo Geral de nesse período, o que acabou resultando em grande especulação no merca-
Tarifas e Comércio (GATT,
sigla em inglês). As três do de ações. A especulação acionária e o desejo pelo enriquecimento ilimita-
iniciativas constituiram-se
no que ficou chamado de do, associado a uma menor demanda europeia por produtos americanos ao
tripé do sistema financei-
ro internacional. longo dos anos 1920, acabaram culminando na crise de 1929.

Para que uma crise como a de 1929 não se repetisse alguns anos após a
Segunda Guerra Mundial, a estratégia das grandes corporações e dos go-
vernos foi de estimular o comércio mundial e a demanda global por produ-
tos. Para que isso ocorresse, haveria a necessidade de restringir o número de
barreiras ao comércio, que passou a ser o objetivo maior do Acordo Geral de
Tarifas e Comércio (GATT, em inglês), estabelecida por esses agentes. Além
da queda de barreiras, havia a necessidade de garantir a saúde financeira dos
países (compradores). Para isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi
instaurado em 1944. Além disso, uma terceira instituição garantiu o tripé que
fortaleceria o momento para a expansão do comércio mundial: um banco de
investimentos com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de países mais
necessitados, chamado de Banco Mundial.

Essas três instituições, ou acordos, formaram uma teia de proteção do ca-


pital e dos interesses das grandes corporações em se internacionalizarem.
Como resultado, cinquenta anos depois, o comércio internacional registrava
um aumento de vinte vezes em valores transacionados, no período 1950 a
2000.

Outra característica do comércio internacional recente é a proliferação de


acordos de comércio: multilaterais, regionais e bilaterais. O GATT é um exem-
plo de acordo multilateral que deu origem à Organização Mundial do Co-
mércio (OMC), em 1995. Entre os acordos regionais, destacam a Comunidade
Europeia (UE), o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, em
inglês), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e muitos outros.

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Introdução ao comércio internacional

O comércio internacional também evoluiu com a inserção de novos temas


na agenda internacional, como a questão ambiental, a cooperação científica
e tecnológica, a ascensão de novos países tomadores de decisão e foco de
novos interesses, como os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Dependência e interdependência
A teoria da dependência foi idealizada por economistas, cientistas polí-
ticos, sociólogos e antropólogos latino-americanos, nos anos 1960 e 1970,
no interior da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e
das Conferências das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento
(UNCTADs). Propôs a explicação da estagnação econômica do então chama-
do terceiro mundo com o enfoque na dificuldade de fechar as contas exter-
nas (balança de pagamentos), devido à exportação de produtos de baixo
valor agregado, e à importação de produtos de alto valor agregado, causan-
do crescente e imodificável deficit comercial. Esse deficit comercial caracte-
riza a relação de dependência de um país (periférico) com relação a outro
(central).

Tal deficit comercial deteriorava o comércio internacional e os termos de


troca, na visão de Prebisch (1963). Os trabalhos de Prebisch alicerçaram todo
o pensamento da CEPAL, surgida nos anos 1940. A CEPAL criticava a divisão
internacional do trabalho, a deterioração dos termos de troca e a teoria clás-
sica ou neoclássica do pensamento econômico.

Contudo, defendendo a intervenção do Estado como propulsor do cres-


cimento econômico, ratificava os princípios do capitalismo e da entrada de
capitais estrangeiros, a fim de fomentar a industrialização e a formação de
poupança interna para investimentos.

A CEPAL observou também menor oferta de mão de obra nos países cen-
trais, combinada com maior sindicalização dos trabalhadores, resultando em
maior poder de barganha dos trabalhadores. Nos países periféricos, por sua
vez, havia maior abundância de mão de obra e baixa organização sindical,
gerando baixos salários e baixos preços.

A situação de “dependência” é uma condição em que certo número de


países tem suas economias condicionadas ao desenvolvimento e expansão
de outro. Os países industrializados ou desenvolvidos são denominados de
“centro”, enquanto os países menos desenvolvidos, “periferia”.

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Essa visão da teoria da dependência representou uma realidade histó-


rica importante do comércio internacional no passado recente. Nos dia de
hoje, contudo, o comércio internacional apresenta uma característica mais
próxima da interdependência. A interdependência econômica, financeira e
comercial faz com que países “centrais” também dependam dos países “peri-
féricos”. Nesse novo cenário, há uma rediscussão do “centro” e “periferia” nas
relações internacionais (transformação estrutural; nova geografia econômi-
ca e política) e também há uma clara revelação da força dos elementos do-
mésticos na conjuntura global (grande variedade de atores/forças internos e
não somente externos – estatais e não estatais).

Com os crescentes fluxos financeiros e produtivos dos países desenvol-


vidos para os países em desenvolvimento, que apresentam potencial maior
de crescimento econômico e maior rentabilidade financeira, o sistema inter-
nacional passa a gerar uma trama de relacionamentos de interdependência.
Os ganhos e lucros nos países em desenvolvimento sustentam os ganhos
dos investidores nos países desenvolvidos que, por sua vez, fazem aumentar
o fluxo comercial internacional para atender à demanda de consumidores
ávidos por novos produtos.

A interdependência também pode ser visualizada nos foros políticos


e econômicos mundiais. O G7 (grupo de sete países de maior renda no
mundo) cedeu importância para o G20 (grupo das 20 economias mais ricas
do mundo), principalmente após a crise internacional de 2009. A solução
para a saída da crise ultrapassou as decisões necessárias dos países desen-
volvidos, de modo que os países em desenvolvimento, integrantes do G20
(como África do Sul, Brasil, China, Índia, Indonésia, México e Turquia), foram
chamados a dialogar como parte da solução global. Nesse novo cenário, o
sistema internacional atual se tornou mais multipolarizado (com vários cen-
tros de poder no globo), estabelecendo uma redefinição da divisão interna-
cional do trabalho.

O grande capitalista leva o investimento produtivo, por exemplo, para a


região com melhores condições de fornecimento de matéria-prima e que
proporcione redução de custos (trabalhistas, legais e outros). Essa realoca-
ção de investimentos e fábricas proporciona uma redefinição da divisão in-
ternacional do trabalho, pois os países mais ricos ficam com alguns centros
de tomada de decisão do novo investimento, mas a fabricação e conclusão
do produto final são deslocados para regiões menos custosas e mais lucrati-
vas, comprovando o cenário de interdependência.

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Forças que dirigem a globalização


Entre as forças que dirigem a globalização, estão a tecnologia e a queda
das barreiras (WILD; WILD; HAN, 2008).

O mundo contemporâneo é caracterizado, entre outras coisas, pela sua


grande capacidade de mudança tecnológica. Por exemplo, entre 1500 e
1840, a melhor média das velocidades das carruagens e barcos a vela era de
16km/h; entre 1850 e 1950, as locomotivas a vapor alcançavam 100km/h,
e os barcos a vapor, 57km/h; em 1950 os aviões a propulsão alcançaram
480-640km/h; de 1960 para cá, jatos de passageiros voam em média a 1 100
km/h.

A rápida difusão dos meios de informação e de tecnologia fez com que


acontecimentos de outras partes do mundo fossem capazes de ser mostra-
dos simultaneamente à sua realização.

Estudos recentes analisaram o impacto do século XX na história da huma-


nidade. Uma conclusão que se pode chegar é o fato de que nunca se produ-
ziu e se consumiu tanto quanto neste século, com relação a todos os outros
séculos somados.

O advento de novas tecnologias contribuiu para a diminuição das dis-


tâncias geográficas (computador, satélite, internet e muitos outros). Dessa
maneira, as relações internacionais têm se tornado cada vez mais presentes
na vida das pessoas.

No que tange ao comércio, há diversos índices que comparam a com-


petitividade dos países, em termos de infraestrutura, facilidade de abrir um
negócio, legislação trabalhista, estabilidade econômica e outros. Esses indi-
cadores comparativos têm se disseminado para que tomadores de decisão
optem por abrir um negócio em um país ou expandi-lo em outro, com a fa-
cilidade de comunicação intercontinental (via satélite e internet), trânsito de
mercadorias e pessoas (rotas aéreas e oceânicas cobrindo todo o planeta).

Além da tecnologia, a queda das barreiras comerciais (tarifárias e não tari-


fárias) tem sido uma busca obstinada da Organização Mundial do Comércio
(OMC) e da Organização Mundial das Aduanas (OMA). A cooperação interna-
cional é o mote que propulsiona a globalização, rumo à agilidade nos pro-
cessos e à segurança nas cadeias de suprimentos internacionais.

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A política econômica e a política comercial


As decisões econômicas que um país toma estão ou deveriam estar orien-
tadas por um instrumento denominado de política econômica. A política
econômica também expressa a orientação política e ideológica de um de-
terminado governo. Essa orientação norteará as decisões em termos de taxa
de juros, fechamento ou abertura da economia, emissão de papel moeda,
intervenção ou não no câmbio, entre outras.

A política econômica pode ser subdividida em quatro outras políticas:


monetária, fiscal, cambial e comercial.

Grosso modo, a política monetária está ligada à emissão de moedas pelo


Banco Central, à definição da taxa de juros referencial da economia, ao de-
pósito compulsório e outras. A política fiscal refere-se principalmente aos
gastos públicos e à arrecadação, à carga tributária interna praticada por um
país, nada tendo a ver com impostos de importação ou exportação.

A política cambial refere-se à taxa de câmbio praticada, que pode ser con-
trolada, livre ou mista. O câmbio influencia diretamente na capacidade do
país de fazer comércio exterior. Com uma moeda muito desvalorizada, as im-
portações não são incentivadas, porque o produto a ser importado é muito
caro para ser adquirido, o que se constitui em uma barreira de entrada. Por
outro lado, uma moeda relativamente desvalorizada é importante para a
competitividade exportadora do país. Pode-se então perceber que a política
cambial é vital para a política comercial.

A política comercial orienta a postura do país frente a acordos internacio-


nais de comércio e frente a maior ou menor abertura da economia (impostos
de importação praticados).

Uma política econômica mais liberal, pratica uma política comercial favo-
rável à internacionalização do país e à entrada de mercadorias estrangeiras.
A teoria do liberalismo econômico defende a livre concorrência, em um mer-
cado amplo e sem entraves, o que provoca um alto nível de competição. Esse
nível de competição elevado pode provocar perda de empregos e desnacio-
nalização da economia, com a venda de empresas nacionais a investidores
estrangeiros.

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Por outro lado, uma política econômica mais conservadora, pratica


uma política comercial protecionista, protegendo os interesses de grupos
nacionais frente aos interesses de grupos estrangeiros. Uma política comer-
cial dessa natureza tende a proteger o emprego nacional, em detrimento de
maior diversidade de produtos ofertados. Ambas as orientações de política
comercial apresentam argumentos favoráveis e contrários.

Uma outra política governamental associada é a política externa. A polí-


tica externa orienta a postura do país frente aos temas internacionais, entre
eles os temas comerciais. Assim, a política comercial também é parte da po-
lítica externa adotada.

Ampliando seus conhecimentos

Com crise global,


Ásia terá que ajustar modelo exportador
(PILLING, 2009)

Agora que os ocidentais estão ocupados refazendo suas poupanças esva-


ziadas, será que as economias asiáticas dependentes das exportações conse-
guirão se ajustar a um mundo em que o consumidor americano não será mais
o comprador de última instância?

Economistas estão questionando se países como a China poderão reo-


rientar suas economias de modo que a demanda doméstica se transforme
no principal indutor do crescimento. “A China deverá produzir coisas para si
mesma”, afirma Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia.

Desde que liberalizou sua economia, 30 anos atrás, a China vem produ-
zindo grandes quantidades de bens reais, sendo que apenas parte deles vem
servindo para melhorar os padrões de vida de sua própria população, diz
Krugman.

O mesmo aconteceu no Japão, cujo crescimento espetacular após a Se-


gunda Guerra Mundial foi elaborado por burocratas que priorizaram o bem-
-estar dos exportadores – através de políticas cambial, fiscal e ambiental –, em

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Introdução ao comércio internacional

detrimento dos consumidores. Os japoneses pagavam mais caro pelos produ-


tos made in Japan do que as pessoas dos outros países.

Mesmo assim, o consumo interno no Japão, em cerca de 55% do PIB, é


muito maior do que o da China, de anormalmente baixos 33%, segundo afirma
Yasheng Huang, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Em comparação, o consumo doméstico dos EUA subiu para 67% do PIB no


auge da farra insustentável de gastos dos americanos.

Por que o consumo doméstico chinês é tão baixo e o que pode ser feito
para mudar isso? Krugman disse em um seminário da cidade de Ho Chi Minh,
no Vietnã, que grande parte da culpa é de uma rede de segurança social já
gasta, que encolheu mesmo com a China ficando mais rica. Como as pessoas
precisam “parar no banco a caminho do hospital”, elas vão formar uma pou-
pança preventiva às custas do consumo, diz ele.

O remédio, algo para o qual o governo chinês acordou tardiamente, é res-


tabelecer uma rede de segurança de credibilidade. Pequim anunciou planos
para gastar 850 bilhões de yuans (US$124 bilhões) em planos básicos de saúde
e atendimento hospitalar essencial.

No entanto, criar uma rede de segurança poderá ter um efeito apenas


marginal sobre os gastos, afirma Huang. Ele culpa não os níveis elevados de
poupança – a taxa de poupança doméstica da China é normal, diz ele –, e sim
a queda da renda, especialmente nas áreas rurais, onde 700 milhões de chine-
ses ainda vivem.

Huang diz que os bancos estatais dirigem dinheiro para grandes empreen-
dimentos e projetos de infraestrutura, mas negligenciam os empreendimen-
tos rurais que tanto fizeram para melhorar os padrões de vida no campo na
década de 1980. Ele defende um esforço para aumentar a renda nas áreas
rurais com a legalização das microfinanças, abolindo o sistema de registro das
cidades que impede que os trabalhadores migrantes recebam benefícios so-
ciais. Defende também uma aceleração da reforma agrária.

Andy Rothman, economista da CLSA em Xangai, diz que a enorme econo-


mia chinesa é facilmente capaz de gerar uma demanda interna imensa. Ele
aponta para as vendas no varejo, que continuam crescendo cerca de 16% ao

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ano, graças em parte aos subsídios do governo para a compra de aparelhos


eletrônicos e artigos domésticos da chamada linha branca.

Ele também afirma que a importância das exportações tem sido exagera-
da, com as exportações líquidas respondendo por apenas 2% do crescimento
recente da China. Mesmo sem elas, ele acredita que a economia pode retornar
confortavelmente à taxa de crescimento de 8% ao ano ou mais.

Nem todos os países asiáticos têm as características da China. Assim como


a China, o Vietnã é uma economia aberta, mas, ao contrário de seu vizinho
gigantesco, vem registrando deficits comerciais de maneira consistente. Isso
porque ele vem importando produtos manufaturados e de alto valor agre-
gado – até a abertura de sua primeira refinaria de petróleo no ano passado,
todos os produtos refinados de petróleo que o país usava eram importados –
e exportando matérias-primas e itens de baixo valor agregado. Como é típico
dos países de baixa renda, cerca de dois terços da produção industrial vai para
o consumo doméstico, deixando pouco espaço para estimular a demanda
externa.

Felizmente, as exportações vietnamitas vêm se mostrando bem resisten-


tes. Enquanto economias como Cingapura e Taiwan vêm registrando quedas
de 30% ou 40% nas exportações, o Vietnã teve uma queda modesta de 3,7%
nos primeiros quatro meses do ano, em relação ao mesmo período de 2008.

Economistas acreditam que o Vietnã poderá se beneficiar de um novo


efeito Wal-Mart, no qual consumidores ocidentais trocam os produtos de
marcas mais caras por produtos mais baratos, nos quais países como o Vietnã
se destacam.

No mês passado, o porto da cidade de Ho Chi Minh estava mais movimen-


tado do que o habitual de antes da crise. “Eles não estão produzindo iPods e
laptops; eles estão produzindo camisetas e sapatos”, diz Jonathan Pinkus da
Kennedy School of Government da Universidade Harvard.

Krugman diz que países como o Vietnã não são grandes o suficiente para
afetar os desequilíbrios globais. Outros como China e o Japão começaram a
gerar superávits em conta corrente anormalmente altos somente por volta de
2002. “Somente os últimos seis anos viram esse estranho acúmulo de dólares.
Certamente eles poderão voltar ao que eram antes”, afirma ele.

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Introdução ao comércio internacional

Atividades de aplicação
1. Com relação à evolução das exportações brasileiras, assinale a corre-
ta.

a) A política de rebaixa tarifária só foi efetivamente aplicada no Brasil


no início dos anos 1990.

b) As exportações predominam na balança comercial do Brasil até o


final da década de 1990.

c) De 1990 a 1994, o Brasil acumulou deficits na balança comercial.

d) Entre 1990 e 1999, o país passou a ter efetivamente deficit na ba-


lança comercial.

2. Explique os efeitos causados pela valorização do real para o comércio


exterior brasileiro, entre os anos de 1995 e 1999.

3. Sobre os benefícios do comércio internacional, assinale a correta.

a) Aumento do risco, porque a exposição à concorrência é maior.

b) Aumento da variabilidade de produtos ofertados.

c) Diminuição da concorrência.

d) Diminuição da concentração de renda, porque os benefícios são


compartilhados.

Referências
OMC. Organização Mundial do Comércio. Disponível em: <www.wto.org>.
Acesso em: 31 out. 2009.

PILLING, David. Com crise, Ásia terá que ajustar modelo exportador. Valor Econô-
mico, A12, 1 de jun. 2009, Financial Times.

PREBISCH, Raul. Towards a Dynamic Development Policy for Latin America.


New York: United Nations, 1963.

RIBEIRO, Fernando J. A evolução da balança comercial brasileira no período 1985-


2008. In: Revista Brasileira de Comércio Exterior, Rio de Janeiro, ano XXIII, n.
100, jul./set. 2009, p. 12-25.
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Introdução ao comércio internacional

SECEX/MDIC. Secretaria de Comércio Exterior, Ministério do Desenvolvimen-


to, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso
em: 30 out. 2009

WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business New
Jersey: Pearson, 2008.

Gabarito
1. A

2. Os efeitos da valorização do câmbio (ou do real) foram responsáveis


por, entre outros aspectos (o aluno deve indicar pelo menos três dos
efeitos abaixo):

aumento das importações;

modernização do parque industrial brasileiro;

deficit na balança comercial do período;

aumento da diversidade de produtos ofertados na economia brasileira;

diminuição de preços em virtude do aumento da concorrência;

controle da inflação, também em virtude do aumento da concorrência;

aumento da capacidade exportadora, no longo prazo.

3. B

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Teorias do comércio internacional

Valdir Iusif Dainez

Este capítulo tem o objetivo de expor as principais teorias sobre o co-


mércio internacional. Tais teorias são tentativas de avaliar o impacto das re-
lações econômicas que um país estabelece com o resto do mundo, sobre a
produção nacional, a renda nacional e o emprego. As relações econômicas
que um país estabelece com o resto do mundo são de dois tipos: aquelas
que envolvem fluxos reais, como a exportação e importação de mercadorias
e serviços; e aquelas que envolvem fluxos monetários, como a exportação e
importação de capital, o recebimento e o pagamento de juros, lucros e divi-
dendos etc. Embora nem sempre na prática seja possível a separação entre
as relações reais e monetárias (já que uma relação real, como a exportação
ou importação de uma mercadoria envolve uma contrapartida monetária,
ou seja, o pagamento em divisas da operação), a maioria das teorias sobre o
comércio internacional tem por objetivo avaliar as relações reais que um país
estabelece com o resto do mundo.

Mercantilismo
e doutrina da balança comercial
A primeira tentativa de compreender o papel que o comércio exterior
exerce sobre as economias nacionais foi feita pelos autores mercantilistas.
Chamamos de Mercantilismo a fase que marca a passagem do Feudalismo
para o Capitalismo e que se estende do século XV ao XVII, e de mercantilistas
aos autores que tentavam compreender a complexidade da nova realidade
que o nascimento do capitalismo ensejava.

Não é mero acaso que a gênese das teorias sobre o comércio internacio-
nal tenha ocorrido nessa época. Como todo período de transição, o Mercan-
tilismo marcava a crise de um sistema social que havia durado dez séculos
(do século V ao XV) em meio ao nascimento de um novo, o capitalismo. As
transformações econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas e científi-
cas que a civilização dessa época assistia eram enormes. No campo econô-

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Teorias do comércio internacional

mico, o advento das manufaturas que suplantavam aos poucos a produção


artesanal, as transformações que se operavam no campo com o fim da pro-
dução feudal e o advento da agricultura moderna, as grandes navegações
que permitiam um intenso comércio com lugares e produtos nunca antes
sonhados.

Todas essas transformações clamavam por explicação. As pessoas esta-


vam ávidas em compreender as raízes desse verdadeiro furacão que revo-
lucionava por completo seu modo de vida. Coube aos mercantilistas elabo-
rarem tentativas de compreender a nova realidade, chamada por muitos de
modernidade.

Os escritores mercantilistas, em geral, se debruçavam sobre temas eco-


nômicos. É por isso que muitos autores e historiadores os consideram os pri-
meiros economistas. O objetivo central dos escritos mercantilistas era com-
preender no que consistia a riqueza de um país. Com a correta conceituação
da riqueza, além de poder-se, sem controvérsias, avaliar qual Estado nacional
era o mais rico, também era possível conceber políticas econômicas que per-
mitissem o enriquecimento das nações. O enriquecimento das nações não
apenas significaria o enriquecimento de seus habitantes, mas o que era tão
ou mais importante naquela época, aumentaria de forma exponencial seu
poderio militar: quanto mais rico um Estado nacional, tanto maior e mais
equipado poderia ser seu exército e sua marinha. Por extensão, maiores po-
deriam ser suas conquistas de novos territórios.

Nesse sentido, portanto, os mercantilistas foram realmente os ancestrais


dos economistas modernos, que também hoje, elaboram e colocam em prá-
tica políticas econômicas que objetivam ampliar a riqueza nacional.

O que acabou caracterizando todo o arcabouço teórico dos mercantilistas


e mesmo se constituindo numa espécie de estigma da teoria mercantilista,
foi a conceituação de riqueza criada por eles: a riqueza consiste no estoque
de metais preciosos (ouro e prata, principalmente) de que dispõe um país.

Conceito de riqueza criado pelos mercantilistas


Quanto maior o estoque de metais preciosos, mais rico é um país e, por
extensão, sua população.

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Conceituada a riqueza, como estoque de metais preciosos, resolvia-se a


um só golpe dois problemas práticos: aquele de mensuração da riqueza re-
lativa dos países e outro de como tornar um país rico.

A resposta inequívoca de que a riqueza se constitui em estoque de metais


preciosos, colocava aos países como única forma de se enriquecer, ampliar
seus estoques de ouro e prata.

Existiam na época diversas maneiras para enriquecer, ou seja, aumentar a


quantidade de metais precioso que um país dispunha. Todas essas maneiras
foram utilizadas, não necessariamente por um mesmo país.

A primeira maneira de se conseguir mais metais preciosos é aumentando


a sua produção. Para tanto, é possível tentar ampliar a produção das minas já
em operação internamente ou procurar novas minas no país.

A segunda maneira era procurar novas minas em outros países. Lembre-


mo-nos que durante as grandes navegações, as potências europeias busca-
vam encontrar novas terras para colonizar onde houvesse abundância de
metais preciosos.

A terceira maneira, muito utilizada por muitos países, foi o saque e a


pirataria.

A última maneira era a que os autores mercantilistas advogavam: o co-


mércio. Como os pagamentos internacionais naquele período se davam em
metais preciosos ou em moedas metálicas, quanto mais se exportasse em
relação às importações, maior seria a diferença que o país receberia. Como
essa diferença era paga em metais preciosos, os estoques desses metais
aumentariam por consequência. Assim, segundo os mercantilistas, manter
uma balança de comércio favorável (ou seja, manter as exportações de mer-
cadorias sempre maiores que as importações) resultava em aumento do es-
toque de metais preciosos, por consequência, em enriquecimento do país e
da população.

Por muito tempo a recomendação dos mercantilistas de se manter uma


balança comercial favorável (ou, em outras palavras, superavitária) foi segui-
da pelos Estados nacionais. Ela, porém, era apenas mais um expediente da
crescente intervenção do Estado na vida das pessoas.

A crescente intervenção do Estado na economia e em outros âmbitos da


nação criou um ambiente propício ao nascimento do Liberalismo. O movi-

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mento liberal defendia o fim da intervenção do Estado na vida da nação,


argumentando que a liberdade era condição suficiente para o desenvolvi-
mento econômico.

Muito embora o movimento liberal tenha, aos poucos, minado as doutri-


nas mercantilistas, o conceito de riqueza bem como as recomendações de
política econômica que dela derivavam, continuaram dominando a política
econômica das nações. A superação da teoria mercantilista passava por uma
refutação de seu conceito de riqueza e de suas recomendações de política
econômica. Coube a David Hume fazê-lo.

A teoria do equilíbrio
automático da balança comercial
Partindo da suposição de que o poder de compra da moeda é inversa-
mente proporcional à sua quantidade, premissa essa aceita pelos próprios
mercantilistas, Hume mostrou que a quantidade de metais preciosos é indi-
ferente para a riqueza do Estado nacional. Como naquela época a moeda que
circulava dentro dos países era de ouro e/ou prata, cada vez que aumentava
o estoque de metais preciosos (ouro e/ou prata), aumentava a quantidade
de moeda em circulação. O contrário ocorria, quando o estoque de metais
preciosos diminuía. Se a quantidade de metais preciosos aumenta dentro
de um país, em virtude de uma balança de comércio favorável, aumentará
a quantidade de moeda em circulação e portanto, haverá inflação. A conse-
quente queda do poder de compra da moeda determinará um aumento da
quantidade de dinheiro necessária para adquirir os produtos – o que implica
dizer que se instala um processo inflacionário. Se a quantidade de metais
preciosos se reduz, em virtude de um deficit na balança comercial, a quanti-
dade de moeda em circulação também diminuirá, o que leva a um aumento
do poder de compra da moeda, implicando que uma menor quantidade de
moeda será necessária para se adquirir a mesma quantidade de produtos –
e, portanto, que há um processo deflacionário em curso (HUME, 1988).

Se não fosse suficiente ter mostrado que o estoque de metais preciosos é


indiferente a um país, Hume ainda confronta a teoria mercantilista, ao mos-
trar que os esforços para perseguir uma balança de comércio favorável eram
infrutíferos e efêmeros.

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Teorias do comércio internacional

Teoria do equilíbrio automático


da balança comercial de Hume
Existiam mecanismos automáticos que tratavam de compensar os esforços
para ter uma balança comercial superavitária, garantindo uma tendência ao
equilíbrio na balança comercial (HUME, 1988).

Hume, para expor sua teoria, parte de pressupostos simplificadores: con-


siderava um mundo onde só circulavam moedas de ouro e onde o papel
dos bancos era desprezível. Pressupunha ademais, que toda vez que uma
mercadoria era exportada, o exportador levava a quantidade de ouro que
recebia como pagamento à casa da moeda para ser cunhado. Assim, a quan-
tidade de moeda aumentava toda vez que o estoque de ouro aumentava
dentro do país. Da mesma forma, toda vez que se importavam mercadorias,
os pagamentos eram feitos em ouro e, assim, a diminuição da quantidade
de ouro se refletia numa queda da quantidade de moedas em circulação.
(EICHENGREEN, 2000).

Para entendermos o modelo de Hume vamos supor que nosso país obte-
nha um superávit em sua balança comercial com o resto do mundo. Como
consequência do superávit, um fluxo de metais preciosos sairá do resto do
mundo e entrará no nosso país. A entrada de ouro em nosso país causará um
aumento da quantidade de moeda em circulação e, como consequência, – já
que para Hume o poder de compra da moeda é inversamente proporcional à
sua quantidade – haverá um aumento dos preços internamente. No resto do
mundo, já que a quantidade de ouro diminuiu, ocorre o contrário: diminui
a quantidade de moeda em circulação e, por consequência, se reduzem os
preços (HUME, 1988).

No nosso país, o aumento dos preços domésticos fará com que o resto
do mundo compre menos de nossas mercadorias, o que levará a uma queda
das nossas exportações. O aumento dos preços também fará com que com-
premos mais mercadorias estrangeiras que agora estão mais baratas que as
nacionais, o que levará, portanto, a um aumento das importações.

No resto do mundo, devido à queda dos preços, ocorrerá exatamente o


contrário. Aumentarão as exportações e se reduzirão as importações.

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Teorias do comércio internacional

Esse processo tanto na economia nacional, como no resto do mundo,


prosseguirá até que o superávit comercial de nosso país desapareça.

Caso nesse processo a redução das exportações de nosso país e o au-


mento das importações levem a um deficit na balança comercial, o contrá-
rio ocorrerá. Como consequência da saída de ouro, a quantidade de moeda
em circulação diminuirá e o nível de preços também. O inverso ocorre no
resto do mundo: aumento da quantidade de moeda e dos preços. A queda
dos preços dentro de nosso país estimulará a exportação e inibirá as impor-
tações. No resto do mundo o inverso: o aumento dos preços estimulará a
importação e inibirá as exportações. Novamente, o processo em curso só
terá fim quando o deficit desaparecer e o equilíbrio se estabelecer na balança
comercial.

Dessa forma, Hume mostrou que não há razões para se tentar manter
uma balança comercial favorável, já que o superávit desencadeia mecanis-
mos que o eliminarão. Adicionalmente, não há razão para se temer os deficits
na balança comercial, porque eles também tendem a ser corrigidos automa-
ticamente (HUME, 1988).

Os clássicos e a teoria
das vantagens comparativas

A teoria das vantagens comparativas absolutas


Adam Smith (1723-1790), assim como os Mercantilistas, tinha como
objeto de sua análise a riqueza nacional, como já denuncia o título de seu
mais famoso livro sobre economia, publicado em 1776: Investigação Sobre a
Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (SMITH, 1988). A teoria de Smith
sobre o comércio exterior foi, assim, decorrência de sua análise da riqueza.

Teoria da riqueza de Adam Smith


1
A renda per capita ou A riqueza de um país depende de sua renda per capita1. Quanto maior é a
produto per capita nada
mais é que a produção
agregada ou a renda
renda ou produto per capita mais rico é o país. A renda per capita, por sua vez
agregada dividida pelo
número de habitantes.
depende da produtividade do trabalho e esta da divisão do trabalho.

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Teorias do comércio internacional

A divisão do trabalho amplia sua produtividade e, por extensão, a renda


per capita e a riqueza nacional. Isso ocorre por três razões que são explicadas
por Smith (1988a, p. 19) na citação abaixo.
Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em consequência da divisão do
trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias
distintas: em primeiro lugar, devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em
segundo lugar, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao
passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente à invenção de um grande número
de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a uma única pessoa fazer
o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitas.

Dessa forma, é a divisão do trabalho a grande causa do aumento da ri-


queza nacional e essa, por sua vez, é tanto maior quanto maior for a extensão
do mercado.

Não é, portanto, sem razão que os argumentos de Adam Smith sobre as


vantagens do livre comércio são utilizados hoje para legitimar a globaliza-
ção. Smith foi, mesmo que inconscientemente, um dos primeiros ideólogos
da globalização.

Nesse ponto já podemos entender a teoria do comércio internacional de


Smith. Segundo ele, para que os países tenham benefícios ao participar do
comércio exterior é necessário que se especializem na produção daquelas
mercadorias em que possuam maior vantagem comparativa.

Vantagem comparativa para Smith é produzir certa mercadoria com um


custo em trabalho menor que os seus concorrentes no comércio mundial.
Se especializar na produção das mercadorias em que o país possui maior
vantagem comparativa, significa produzir e exportar as mercadorias que se
produz com um custo mais baixo que as importadas e importar as demais.
Um país, ao assim proceder, está possibilitando que seus cidadãos sempre
2
possam consumir mercadorias ao menor preço possível2. É interessante notar
que é esse o argumento
invocado ainda hoje pelos
Para Smith, todo país possui vantagem na produção de alguma mercado- liberais para defender o
livre comércio.

ria. As vantagens que os países podem possuir na produção de mercadorias


são de dois tipos, segundo ele:

 Vantagens naturais – como o próprio nome permite inferir, as vanta-


gens naturais são aquelas decorrentes da dotação natural de fatores,
ou dos recursos naturais, como clima e solo. A França, devido a seu cli-
ma, possui vantagem na produção de vinho em relação à Inglaterra.

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Teorias do comércio internacional

 Vantagens adquiridas – essas vantagens, contrariamente às naturais,


são aquelas que não decorrem da dotação natural, mas são desenvol-
vidas. São aquelas, portanto, que advêm da especialização. Os EUA,
por exemplo, adquiriram vantagem na produção de automóveis em
relação ao Brasil.

A argumentação de Smith sobre as vantagens do livre comércio, basean-


do-se nas vantagens absolutas, comporta certos problemas percebidos por
seu sucessor, David Ricardo.

A teoria das vantagens comparativas relativas


A versão de David Ricardo (1772-1823) à teoria das vantagens comparati-
vas encontra-se no Capítulo VII, intitulado “Sobre o Comércio Internacional”
da sua obra máxima Princípios de Economia Política e Tributação, publicada
em 1817. Na verdade, a contribuição de Ricardo para a Teoria das Vantagens
Comparativas é uma espécie de complemento à posição de Smith.

Nos termos em que Smith coloca a questão do comércio internacional


ele só seria vantajoso para um país para se adquirir mercadorias que não se
produz internamente com um custo menor que as importadas. Assim sendo,
caso um país produza tudo o que ele necessita a um preço menor que as
mercadorias importadas, não haveria razões para participar do comércio
internacional.

Por essa lógica também, caso um país não produza internamente nenhu-
ma mercadoria com um custo mais baixo que as importadas, ele deveria im-
portar tudo o que consome, não produzindo nada internamente.

Teoria das vantagens


comparativas relativas de David Ricardo
Mesmo que um país produza tudo o que necessita com um custo mais
baixo que o das mercadorias importadas, seria vantajoso para o país em
questão participar do comércio internacional. Basta que ele se especialize na
produção da mercadoria em que ele possui maior vantagem relativa, ou seja,
aquelas mercadorias em que ele tem maior vantagem (custo mais baixo) entre
todas que o país produz.

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Teorias do comércio internacional

Da mesma forma, caso um país não produza nenhuma mercadoria com


custo mais baixo que as mercadorias importadas, sempre haverá vantagens
em se produzir mercadorias em que a desvantagem relativa é menor.

Ricardo, dessa forma, desloca a questão da origem das vantagens no co-


mércio internacional dos custos absolutos para os custos relativos, ou seja,
das vantagens absolutas para vantagens relativas (NAPOLEONI, 1985).

Para elaborar sua concepção de vantagens relativas Ricardo parte dos se-
guintes pressupostos:

 não há mobilidade do capital em nível internacional;

 todos os países que participam do comércio internacional praticam


uma política de livre comércio.

A partir desses pressupostos, podemos definir a forma de inserção dos


países no comércio internacional a partir da teoria das vantagens compa-
rativas da seguinte forma: cada país deve se especializar na produção da
mercadoria em que tenha maior vantagem comparativa relativa, nem que
para tanto tenha que importar mercadorias por um preço maior do que o
produzido internamente.

Para entender como um país que produz tudo o que necessita a um preço
menor que as mercadorias importadas teria vantagem em participar do co-
mércio internacional, utilizemos o seguinte exemplo. Vamos supor a existên-
cia de dois países que produzem milho e trigo ao custo que a tabela abaixo
ilustra.

País Milho (1 milhão de sacas) Trigo (1 milhão de sacas)


Portugal 70 h/a * 90 h/a
Inglaterra 110 h/a 100 h/a

*h/a = homens/ano

Como podemos perceber Portugal produz milho e trigo a um custo em


trabalho muito menor que a Inglaterra e, portanto, possui vantagem absolu-
ta na produção tanto de milho, quanto de trigo. Assim sendo, baseando-se
nas vantagens absolutas não é vantagem para Portugal importar nem milho
nem trigo da Inglaterra. Para Inglaterra, porém, é vantajoso importar tanto
milho como trigo de Portugal, já que ela possui desvantagem absoluta na
produção das duas mercadorias.

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Teorias do comércio internacional

Segundo Ricardo, entretanto, seria vantajoso para Portugal se especiali-


zar na produção daquela mercadoria que ele possui maior vantagem relativa
e importar a outra. No exemplo acima, a mercadoria na qual Portugal possui
3
A vantagem de Portugal maior vantagem relativa é o milho3.
na produção de milho
(110 – 70 = 40) é maior que
na produção de trigo (100
– 90 = 10). Consequente-
Imaginemos que Portugal tem 2 000 trabalhadores. Se Portugal, seguin-
mente, a desvantagem da
Inglaterra na produção de
do as recomendações da teoria das vantagens comparativas relativas, se es-
trigo é menor.
pecializar na produção de milho, produzirá 28,57 milhões de sacas de milho
( 2000 = 28,57). Suponhamos que Portugal reserve metade de sua produ-
70
ção de milho (14,28 milhões de sacas) para consumo interno, e que venda a
outra metade para, com as divisas adquiridas, importar trigo. Vejamos quanto
de trigo Portugal adquirirá na troca.

Vamos supor que Portugal conseguirá vender seu milho ao mesmo preço
que os produtores ingleses vendem milho no mercado interno da Inglaterra,
ou seja, a $110,00 cada milhão de sacas. Ao vender 14,28 milhões de sacas de
milho ao preço de $110,00 Portugal obterá $1.570,80 (14,28 . 110,00). Supon-
do que Portugal compre trigo inglês ao mesmo preço que os produtores in-
gleses o vendem no mercado interno, portanto, $100,00, Portugal importará
15,7 milhões de sacas de trigo ( 1570,80 = 15,70).
100
Se Portugal utilizasse os mesmos 1 000 trabalhadores para produzir trigo
eles só produziriam 11,1 milhões de sacas de trigo ( 1000 = 11,11).
90
No exemplo acima a Inglaterra não obteve vantagem no comércio, pois
comprou o milho ao mesmo preço que produziria internamente.

Para que o comércio seja vantajoso para a Inglaterra também, bastava


que Portugal vendesse seu milho por um preço um pouco menor do que o
praticado dentro da Inglaterra. Se assim o fizesse, continuaria a obter vanta-
gem e a Inglaterra também obteria vantagem. A vantagem mútua daí deri-
vada estimularia ambos os países a participar do comércio internacional.

Modernas contribuições à teoria do comércio


internacional: o Teorema Heckscher-Ohlin
A teoria neoclássica do Comércio Internacional foi formulada por Bertil
Ohlin, Prêmio Nobel de Economia em 1977, sob inspiração de um artigo de
seu professor Eli Heckscher, que se intitulava “Efeitos do Comércio Exterior
na Distribuição da Renda”, publicado em 1919.

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Teorias do comércio internacional

Para Ohlin a Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo não explica


a forma de inserção dos países no comércio internacional por duas razões:
primeiro porque ela leva em conta a existência de um único fator de produ-
ção, e segundo porque ela não leva em conta os impactos que a tecnologia
exerce na produtividade do trabalho. No modelo Heckscher-Ohlin as van-
tagens comparativas são influenciadas pela interação entre os recursos da
nação (a abundância relativa de fatores de produção) e a tecnologia utilizada
na produção (que influencia a intensidade relativa com a qual os fatores de
produção são usados na produção).

Teoria do comércio internacional


de Heckscher-Ohlin
O que vai definir a forma como um país deve se inserir no comércio mun-
dial é sua dotação de fatores. Para se obter vantagens no comércio interna-
cional o país deverá exportar o produto que usa de forma intensiva o fator
de produção que é relativamente mais abundante domesticamente. (OHLIN;
HECKSCHER, 1991)

Para explicar de que forma a especialização na produção do(s) produto(s)


que utiliza(m) de forma intensiva o fator de produção mais abundante do-
mesticamente dá vantagens ao país no comércio internacional, Heckscher e
Ohlin partem dos seguintes pressupostos:

 duas economias que produzem tecidos e alimentos;

 dois bens (tecidos e alimentos) que utilizam dois fatores de produção


em proporções diferentes;

 dois fatores de produção: mão de obra e terra.

Para se produzir alimentos pode-se usar mais terra e menos trabalho (se
o aluguel da terra é menor e os salários maiores) ou menos terra e mais tra-
balho (se o aluguel da terra é maior e os salários menores). Para se produzir
tecidos vale a mesma coisa.

Para entender os efeitos que o comércio internacional causa dentro de


um país, vamos primeiro supor duas economias em autarquia, ou seja, que
não participam do comércio internacional. Chamaremos uma de economia
doméstica e a outra de economia estrangeira. Vamos supor também que as

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Teorias do comércio internacional

duas economias produzem tecidos e alimentos e que, em ambas, tecido é


um produto trabalho-intensivo e alimentos é terra-intensivo. Os consumi-
dores dessas duas economias (a doméstica e a estrangeira), por suposição,
possuem os mesmos gostos e, portanto, a mesma demanda relativa quando
se defrontam com os mesmos preços relativos de dois bens. As duas eco-
nomias também possuem a mesma tecnologia, de tal forma que uma dada
quantidade de terras e mão de obra gera a mesma produção de tecidos e
alimentos nos dois países.

A única diferença entre essas economias é na dotação de fatores de pro-


dução: a economia doméstica é abundante em mão de obra e a economia
estrangeira é abundante em terras.

Em consequência da diferença na dotação relativa de fatores de produ-


ção, as duas economias produzem tecidos e alimentos em quantidades e
com preços diferentes. Vejamos. Na economia doméstica, que é abundante
em mão de obra, o preço do tecido, que é trabalho-intensivo, será menor
que o preço dos alimentos que é terra-intensivo. Devido à diferença entre
os preços relativos, a produção de tecidos também será relativamente maior
que a de alimentos. Já na economia estrangeira, que é abundante em terra, o
preço dos alimentos será menor que o preço dos tecidos e se produzirá mais
alimentos que tecidos.

Quando as duas economias começarem a comercializar entre si, cada


uma acabará exportando o produto em que ela possui mais vantagem na
produção, ou seja, aquele produto que utiliza de forma intensiva o fator de
produção que é internamente mais abundante.

Na economia doméstica, como o preço dos tecidos é menor, ela exporta-


rá tecidos e importará alimentos. Na economia estrangeira ocorrerá o con-
trário: ela exportará alimentos e importará tecido.

Os dois países ao se inserirem no comércio internacional dessa forma,


estarão assegurando a sua população o acesso aos produtos com o menor
preço possível (OHLIN; HECKSCHER, 1991; KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

Mas o comércio internacional terá também outro efeito sobre as duas


economias: quando a economia doméstica e a estrangeira comercializam,
há uma conversão de preços relativos, que acaba beneficiando os consumi-
dores das duas economias. Na economia doméstica, a exportação de tecidos,

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Teorias do comércio internacional

ao aumentar a demanda por sua produção, levará a um aumento dos preços


do tecido. O aumento do preço estimulará um aumento da produção e uma
diminuição do consumo interno – a população consumirá menos tecidos,
cujo preço aumentou e mais alimentos, cujo preço diminuiu em função da
oferta externa – gerando um excedente de produção de tecido para a expor-
tação. Na economia estrangeira a mesma coisa acontecerá com o preço e a
produção de alimentos.

Assim, de acordo com o Teorema de Heckscher-Ohlin, para se obter van-


tagens no comércio internacional, cada país deve se especializar na produ-
ção daqueles produtos que utilizam de forma intensiva o fator de produção
que é mais abundante domesticamente.

Comércio internacional e a economia nacional


A riqueza é o resultado de um processo que tem origem na interação
entre estoques e fluxos. O fluxo de riqueza, ou seja, o fluxo de renda agrega-
da depende da grandeza da demanda agregada. A demanda agregada, por
sua vez, é composta pelos gastos em consumo e investimento, pelos gastos
do governo e pelo saldo da balança de comércio e serviços.

A Balança de Comércio e Serviços – diferença entre exportações e impor-


tações de mercadorias e serviços – é importante na medida em que ela espe-
lha a contribuição, negativa ou positiva, que o comércio exterior desempenha
na criação da riqueza de um país. Se um país tem saldo negativo na Balança
de Comércio e Serviços, significa que seu fluxo de riqueza diminui na medida
em que parte da renda gerada na produção está sendo utilizada na compra
de mercadorias e serviços estrangeiros. Porém, se o saldo na Balança de Co-
mércio e Serviços for superavitário, o fluxo de riqueza gerado internamente
será maior, na medida em que o resto do mundo estará gastando parte de
sua renda na aquisição de mercadorias domésticas. Em outros termos, supe-
rávits na Balança de Mercadorias e Serviços aumentam a demanda agregada
e, por consequência, o fluxo de produção e renda agregadas. Deficits na Ba-
lança de Comércio e Serviços, por sua vez, reduzem a demanda agregada e,
portanto, o fluxo de produção e renda agregadas.

Não é à toa, portanto, que os países lutam para ampliar a sua participação
no comércio internacional visando ampliar seu saldo na conta de Mercado-

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rias e Serviços. Deficits na Conta de Mercadorias e Serviços, além de redu-


zir o fluxo de riqueza nova, é sinal de que o país gastou mais com o resto
do mundo do que dele recebeu e, portanto, que essa diferença tem que ser
paga e/ou financiada. Teoricamente o ajustamento só é possível: 1) se transi-
tório, por variações nas reservas; 2) se estrutural, por modificações na procu-
ra interna ou por modificações na taxa de câmbio.

Supondo que o deficit na Conta de Mercadorias e Serviços não é transitó-


rio, há, portanto, duas maneiras de tentar ajustá-lo. A primeira forma é desva-
lorizando a taxa de câmbio. A desvalorização da taxa de câmbio ao encarecer
as mercadorias e serviços importados e baratear as mercadorias e serviços
nacionais, tende a incentivar as exportações e a inibir as importações. Porém,
a simples desvalorização cambial leva algum tempo para que seus efeitos
sejam sentidos. No comércio internacional, normalmente as exportações
e importações de hoje dependem de contratos fechados há alguns meses
atrás. Dessa forma, uma desvalorização ou valorização cambial afeta o co-
mércio de bens e serviços após um retardo temporal que não é pequeno.
Além disso, deve-se precisar que nem todos os componentes da balança de
Comércio e Serviços são sensíveis a uma modificação na taxa de câmbio. É o
caso, por exemplo, dos serviços de fatores (lucros, juros, dividendos, royalties
e assistência técnica).

Há outra questão a considerar. Se o deficit na Balança de Comércio e Servi-


ços for grande, a desvalorização cambial necessária para debelá-lo também
será grande. Uma desvalorização cambial grande, porém, gera pressões
inflacionárias.

A segunda maneira de se ajustar o deficit na Conta de Mercadorias e Ser-


viços é mediante a alteração na procura interna. O governo pode alterar a
procura interna basicamente reduzindo a absorção interna, ou seja, a soma
de consumo, investimento e gasto do governo. Assim procedendo, as im-
portações irão diminuir e, ao mesmo tempo, aumentará o excedente expor-
tável, já que se reduziu a absorção interna. Essa alternativa de ajustamento
é rápida, porém, só tem efeitos negativos. A redução da absorção interna só
pode ser feita mediante a redução na demanda agregada, o que pode ser
feito através de um aumento na taxa de juros e/ou por uma redução nos
gastos do governo. A redução da demanda agregada reduz os níveis de pro-
dução, emprego e renda agregados e, portanto, o fluxo de riqueza.

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Ampliando seus conhecimentos

Galeria dos autores liberais –


Adam Smith: 1723-1790
(INSTITUTO LIBERAL, 2009)

Pouco se sabe sobre a vida do filósofo e economista Adam Smith, além das
informações oficiais sobre os poucos livros que publicou, postos acadêmicos
e funções públicas que exerceu. Até mesmo a exata data de seu nascimento
é desconhecida. Sabe-se que foi batizado em 5 de junho de 1723, que nasceu
em Kirkcaldy, na Escócia, e que era filho único (morou com a mãe quase toda
a vida).

Sabe-se que estudou em Glasgow e em Oxford, tendo tomado conta-


to nesta última universidade com David Hume, de quem se tornou amigo e
depois executor literário. Infelizmente, quando Smith morreu, a ordem expres-
sa deixada para que fossem queimados papéis, originais, cartas e documentos
foi estritamente seguida. Assim sendo, sobrou relativamente pouco material
para que sua vida pudesse ser recontada com detalhes.

A obra intelectual de Adam Smith, ainda que não muito extensa, exerce
uma enorme influência até os dias de hoje. Embora o pensamento econômi-
co tivesse evoluído até o século XVIII, especialmente com os escolásticos, foi
Smith quem, em 1776, definiu a Economia como uma ciência, ao publicar A
Riqueza das Nações. Antes da publicação dessa obra, Smith já era um consa-
grado professor e escritor.

De fato, desde 1752 lecionava Filosofia moral na Universidade de Glasgow,


Escócia. Mas suas aulas incluíam outros campos do conhecimento, tais como
filosofia do direito, retórica, ética e ciência das finanças. Esse esforço resultou
na publicação, em 1759, da obra Teoria dos Sentimentos Morais ou ensaio para
uma análise dos princípios pelos quais os homens naturalmente julgam a
conduta e o caráter, primeiro de seus próximos, depois de si mesmo. Esse livro
foi traduzido para o português por Lya Luft e publicado pela Editora Martins
Fontes, em 1999.

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Liberdade econômica
 O livro Uma Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações
foi o que lhe trouxe fama e pode ser sintetizado como uma análise sobre as
consequências extraordinariamente benéficas da liberdade econômica. Essa
obra lançou as bases para a compreensão sobre a economia de mercado,
sendo que muitas de suas conclusões permanecem até hoje válidas. Pode-se
destacar, por exemplo, a análise que ele faz sobre a importância da divisão
do trabalho: “o maior desenvolvimento nos poderes produtivos do trabalho,
e a crescente habilidade, destreza e conhecimento com o qual é dirigido, ou
aplicado, parecem ter sido os efeitos da divisão do trabalho”. Essa obra traz im-
portantes contribuições sobre educação, serviço público, escravidão, defesa
e finanças públicas. Sua abordagem também foi inovadora, pois se sustenta
numa perspectiva evolucionista.

Aliás, o Prêmio Nobel de Economia Friedrich Hayek é um dos que defen-


dem a ideia de que Charles Darwin inspirou-se em Adam Smith e a noção de
evolução econômica para engendrar a teoria sobre a evolução biológica das
espécies e do homem.

Adam Smith se beneficiou com o ambiente de progresso econômico exis-


tente na costa ocidental da Escócia, onde ficava Glasgow, podendo perceber
o contraste que havia com Edimburgo e Kirkcaldy, cidades estagnadas ou em
declínio. Em grande parte, esse progresso era impulsionado pelo comércio
através do Atlântico. As cidades escocesas localizadas no litoral do Mar do
Norte não gozavam dessa mesma vantagem.

O círculo intelectual de Adam Smith


 Além de David Hume, Adam Smith travou conhecimento com quase todos
os grandes intelectuais escoceses e ingleses de seu tempo, especialmente
após 1776, quando morou uma temporada em Londres. Conheceu desde o
famoso Dr. Johnson (maior figura literária inglesa do século XVIII, quase da
estatura de Shakespeare), passando evidentemente por James Boswell, Sir
Joshua Reynolds, Edward Gibbon e Edmund Burke. Em 1778 Adam Smith foi
nomeado fiscal de Alfândega em Edimburgo (o que não deixa de ser uma
ironia para quem era um defensor do livre comércio). Ele morreu em 17 de
julho de 1790, sem deixar descendentes.

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Atividades de aplicação
1. De que forma, segundo o teorema de Heckscher-Ohlin, os países de-
vem se inserir no comércio mundial?

2. Explique as consequências de deficits e superávits na Balança de Co-


mércio e Serviços sobre os níveis de produção de um país.

3. De que forma, segundo Adam Smith, os países devem se inserir no


comércio mundial a fim de obterem vantagem?

4. Explique qual é a contribuição de David Ricardo à Teoria das Vanta-


gens Comparativas.

Referências
DENIS, Henri. História do Pensamento Econômico. 5 ed. Lisboa: Livros Horizon-
te, 1987.

EICHENGREEN, Barry. A Globalização do Capital. São Paulo: Editora 34, 2000.

HUME, David. Escritos Econômicos. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Col. Os
Economistas.

INSTITUTO LIBERAL. Galeria dos Autores Liberais – Adam Smith: 1723-1790.


Disponível em: <www.instituoliberal.org.br/galeria_autor.asp?cdc=924>. Acesso
em: 17 nov. 2009.

KRUGMAN, P.R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional – Teoria e Política. Rio de


Janeiro: Makron Books, 2001.

MORINI, C.; SIMÕES, R. C. F; DAINEZ,V. I. Manual de Comércio Exterior, Campinas:


Alínea, 2006.

NAPOLEONI, Cláudio. Smith, Ricardo e Marx. 5 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

OHLIN, Bertil. Interregional and International Trade. Havard University Press,


1933.

OHLIN, Bertil; HECKSCER, Eli F. Heckscher-Ohlin Trade Theory. MIT Press, 1991.

RICARDO, David. Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: Nova


Cultural, 1988b. Col. Os Economistas.

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SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e causas.
São Paulo: Nova Cultural, 1988a. Col. Os Economistas. Volume 1.

_____________. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e causas.


São Paulo: Nova Cultural, 1988b. Col. Os Economistas. Volume 2.

_____________. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e causas.


São Paulo: Nova Cultural, 1988c. Col. Os Economistas. Volume 3.

Gabarito
1. É dotação de fatores de um país que determina a forma como ele deve
se inserir no comércio internacional. Para se obter vantagens no co-
mércio internacional o país deverá exportar o produto que usa de for-
ma intensiva o fator de produção que é relativamente mais abundante
domesticamente.

2. Superávits na Balança de Comércio e Serviços, significam que o resto


do mundo estará gastando parte de sua renda na aquisição de mer-
cadorias domésticas, aumentando a demanda agregada e, por con-
sequência, o fluxo de produção e renda do país. Deficits na Balança de
Comércio e Serviços, ao contrário, reduzem a demanda agregada e,
portanto, o fluxo de produção e renda do país

3. Segundo Adam Smith, para que os países tenham benefícios ao parti-


cipar do comércio exterior é necessário que se especializem na produ-
ção daquelas mercadorias em que possuam maior vantagem compa-
rativa. Vantagem comparativa para Smith é produzir certa mercadoria
com um custo menor que os seus concorrentes no comércio mundial.

4. Ricardo queria mostrar que, mesmo que um país produza tudo o que
necessita com um custo mais baixo que o dos produtos importados,
seria vantajoso para o país participar no comércio internacional. Basta
que ele se especialize na produção da mercadoria em que ele possui
maior vantagem relativa. Da mesma forma, caso um país não produza
nenhuma mercadoria com custo mais baixo que as mercadorias im-
portadas, sempre haverá vantagens em se produzir mercadorias em
que a desvantagem relativa é menor.

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Balanço de pagamentos

Regina Célia F. Simões

Informações gerais
sobre o balanço de pagamentos
O balanço de pagamentos consiste em um documento que registra as
transações efetivadas entre os residentes de um país e o resto do mundo. Os
registros consistem em transações do país com o exterior, que envolvem ou
não recebimentos (RATTI, 1997). Essas transações se referem às exportações
e importações de bens e serviços em um determinado período, transações
de capitais, tais como empréstimos, investimentos diretos externos, remes-
sas de lucros de uma matriz à sua filial, gastos com turistas estrangeiros etc.
Considera-se residente a pessoa física ou jurídica domiciliada no país.

Segundo Krugman e Obstfeld (2005, p. 229)


O balanço de pagamentos é um registro contábil de todas as transações econômicas e
financeiras de um determinado país com o resto do mundo. É elaborado por economistas
e estatísticos do governo e utilizado nas análises econômicas e no planejamento do
governo e de empresas privadas, porque mostra a saúde econômica e financeira do país.

A cada final de ano, o balanço de pagamentos é fechado através da apu-


ração das operações transacionadas em cada conta, a fim de se encontrar o
saldo final do balanço e a situação deficitária ou superavitária do país.

Portanto, é de muita importância a existência do balanço de pagamentos


para os países, uma vez que, através dele pode-se, além de analisar os efeitos
do comércio internacional, analisar a posição de liquidez internacional de
um país, ou seja, a posição deficitária ou superavitária do país em relação ao
mercado internacional.

Todo registro no balanço de pagamentos é contabilizado em dólar, pelo


fato dele ser apresentado ao mercado internacional pelo Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI), permitindo assim, que haja uma comparação entre
as transações que ocorrem entre os países que realizam ou não operações
comerciais.

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Balanço de pagamentos

Cada país registra as transações com o estrangeiro de forma diferente,


mesmo que o FMI realize esforços na tentativa de uniformizar a estrutura do
balanço de pagamento. Assim, para compararmos os balanços de pagamen-
tos dos países, devemos levar em consideração as diferenças existentes na
metodologia de registros usadas por cada um.

O balanço de pagamentos apresenta a seguinte estrutura de contas:

 balança comercial;

 serviços e rendas;

 transferências unilaterais;

 transações correntes;

 conta capital;

 conta financeira;

 erros e omissões;

 resultado do balanço de pagamentos.

As contas do balanço de pagamentos fornecem um quadro detalha-


do da composição e do financiamento das transações correntes. Todas as
transações entre um país e o resto do mundo são registradas nas contas do
balanço.

A seguir, veremos detalhadamente como são compostas cada conta do


balanço de pagamento.

Balança comercial
A balança comercial é aquela que apresenta os registros referentes aos
movimentos de exportação e importação de mercadorias do país realizadas
1
Valor da mercadoria sem
fretes e seguros incluídos.
e contabilizadas pelo valor FOB (free on board1). As exportações são regis-
tradas como crédito e as importações como débito, conforme exigido pelo
Governo Federal.

A exemplo de registros desta balança têm-se as importações de matérias-


-primas, tecnologias, automóveis, alimentos, eletrodomésticos, e as expor-
tações de grãos, produtos têxteis, automóveis, cosméticos, petróleo entre
outros.
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Balanço de pagamentos

O movimento de ouro não monetário, ou seja, o ouro classificado como


matéria-prima, também é registrado na balança comercial, mas em uma sub-
conta específica, devido à necessidade por parte dos governos centrais, em
controlar as referidas transações.

Compreende, entretanto, o saldo desta balança, a diferença entre o valor


das exportações e o valor das importações, sendo que um saldo negativo é
resultado de um deficit comercial (mais importações que exportações) e um
saldo positivo, resultado de um superávit comercial (mais exportações que
importações).

Serviços e rendas
Na conta de serviços e rendas são registradas todas as operações de
transportes internacionais, viagens internacionais de turistas e outros passa-
geiros, serviços turísticos como hospedagem e traslados, seguros internacio-
nais, comissões, serviços com propaganda, aluguel de filmes, patentes, juros
da dívida externa, dos créditos que o país possui no exterior, entre outros.

Da mesma forma que a balança comercial, a de serviços e rendas poderá


apresentar-se deficitária ou superavitária, e assim, exerce grande influência
no comportamento do balanço de pagamentos, obrigando o país a importar
ou não capital para o seu fechamento (a explicação detalhada de como é
feito o fechamento do balanço de pagamento dar-se-á na sequência).

Na conta serviços e rendas também são registradas as prestações de ser-


viços empresariais, como os de engenharia, de consultoria, de manutenção,
de programação de computador, pagamento de patentes e toda a infinida-
de de pagamentos por serviços.

Transferências unilaterais
As transações referentes aos donativos, reparações de guerra e remes-
sas para manutenção, ou seja, aquilo que o país recebe ou envia ao exte-
rior sem nenhuma obrigação de pagamento, constituem as transferências
unilaterais.

As transações podem ser tanto governamentais quanto privadas e para


este último caso estão incluídos os trabalhadores que estão em um país es-
trangeiro e remetem dinheiro para suas famílias em seu país de origem.

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Balanço de pagamentos

No entanto, o saldo desta balança poderá apresentar-se deficitário ou


superavitário em consequência do movimento dos recebimentos ou envios
que o país realiza com o exterior, sem a necessidade de nenhuma contrapar-
tida, sendo por isto, não registrados na conta capital.

Transações correntes
O resultado desta conta é obtido somando as contas: balança comercial,
serviços e rendas e transferências unilaterais correntes.

Conta capital
A conta capital representa as transferências unilaterais de capital relacio-
nadas ao patrimônio de imigrantes, incluindo marcas e patentes.

Conta financeira
A conta financeira registra as transações relativas a ativos e passivos tro-
cados entre residentes (agente econômico nacional) e não residentes (es-
trangeiro). Envolve o movimento de capitais entre os países, como os em-
préstimos, investimentos, amortizações de empréstimos, compra e venda de
ativos, como ações, bens imóveis, títulos do governo, aplicações em banco,
entre outros.

As movimentações de capital entre países registradas nessa conta, podem


ser transações realizadas tanto pelo setor privado, quanto pelo setor gover-
namental, sendo que a entrada de capital é registrada como crédito e a saída
de capital, como débito.

Estrutura do balanço de pagamentos


A contabilização do balanço de pagamentos no Brasil iniciou-se em 1947,
pelo Banco do Brasil e pela Fundação Getúlio Vargas. Hoje este atributo é de
responsabilidade do Banco Central do Brasil. O balanço de pagamentos foi
reestruturado recentemente para adequar-se a recomendações internacio-
nais. Sua estrutura e conteúdos podem ser visualizados na tabela 1. Pode-se
notar que o balanço de pagamentos tem dois grupos de contas nos quais se
registram os movimentos dos valores em divisas: as transações correntes e a
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Balanço de pagamentos

conta capital e financeira; ambos se subdividem em rubricas que se prestam


a contabilizar os diferentes tipos de transação em moeda estrangeira.

Tabela 1– Balanço de pagamentos – Estrutura

(BACEM, 2001)
1) Transações correntes
1.1 Balança comercial
1.1.1 Exportações: vendas de mercadorias a não residentes.
1.1.2 Importações: compras de mercadorias de não residentes.
1.2 Serviços e rendas
1.2.1 Serviços: prestação de serviços (transportes, seguros, viagens, fretes, royalties, outros).
1.2.2 Rendas: remuneração do trabalho assalariado, rendas de investimentos – financeiros ou
não (lucros e dividendos, juros, bonificações).
1.3 Transferências unilaterais correntes: transferências sem contrapartida, no formato de bens ou
renda destinados ao consumo corrente.
2) Conta capital e financeira
2.1 Conta capital: transferências unilaterais de patrimônio, incluindo marcas e patentes.
2.2 Conta financeira: transações relativas a ativos e passivos trocados entre residentes e não
residentes.
2.2.1 Investimento direto: transações relativas a propriedade de capital social (como na abertura
de filiais de empresas transnacionais ou compra de empresas residentes por não residentes, ou o
contrário) e empréstimos intercompanhias.
2.2.1.1 Investimento direto brasileiro.
2.2.1.2 Investimento direto estrangeiro.
2.2.2 Investimento em carteira: troca de ações/títulos, geralmente em mercado secundário.
2.2.2.1 Investimento brasileiro em carteira (saída de valores em moeda estrangeira).
2.2.2.2 Investimento estrangeiro em carteira (entrada de valores em moeda estrangeira).
2.2.3 Derivativos: operações de swap, opções e futuros, incluindo prêmios de opções.
2.2.4 Outros investimentos.
2.2.4.1 Crédito comercial: crédito (de curto ou longo prazo) a fornecedores.
2.2.4.2 Empréstimos e financiamentos: operações de empréstimo ou financiamento de curto ou
longo prazo, incluindo os acordos com o FMI.
2.2.4.3 Moeda e depósito: depósitos mantidos por residentes (no exterior) ou por não residentes
(no país) de disponibilidades denominadas em moeda estrangeira.
2.2.4.4 Outros passivos de curto ou longo prazo: participações nacionais em capital de organis-
mos internacionais (como o FMI), depósitos e cauções judiciais.
3) Erros e omissões: lançamentos equivocados e/ou informações perdidas
4) Resultado do balanço de pagamentos: deficit ou superávit de BP
5) Variações nos haveres das autoridades monetárias: variação do nível de reservas e/ou
dos atrasados (pendências de períodos anteriores)

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Balanço de pagamentos

Contabilização e interpretação
do saldo do balanço de pagamentos
Os registros do balanço de pagamentos são feitos por meio simples das
partidas dobradas, ou seja, as transações internacionais são lançadas duas
vezes no Balanço, sendo um como crédito e outro como débito. Assim, no
final dos lançamentos, o balanço de pagamentos se apresentará saldado
devido ao fato de haver sempre um débito sendo compensado por um cré-
dito. As transações de crédito resultam em um recebimento de divisas do
mercado externo e as transações de débito resultam em um pagamento
para estrangeiros.

Mesmo sendo a contabilização feita por meio das partidas dobradas,


o total de débito nem sempre é compensado por um crédito, ou vice-versa e
assim, o balanço de pagamentos apresenta uma partida de correção, chama-
da de erros e omissões, em que são registradas as discrepâncias do balanço
no final do período apurado.

Como no mercado formal brasileiro as divisas estrangeiras não são uti-


lizadas como meio de pagamento de contas e meio de troca, a empresa
brasileira, para efetuar o pagamento da importação ao seu fornecedor no
estrangeiro, precisará comprar as divisas estrangeiras e fazer o pagamento
por meio de um depósito, criando assim, a partida dobrada no balanço de
pagamentos.

Assim, pode-se gerar a dúvida de por qual motivo, a importação da


mercadoria norte-americana pelo Brasil, é registrada como débito e o seu
pagamento como crédito. Isso ocorre, pois, para se pagar esta importa-
ção, o importador comprará divisas estrangeiras, que nesse caso é o dólar
(moeda norte-americana em vigência atualmente) e assim, a compra de di-
visas estrangeiras é contabilizada como crédito, na conta de haveres com o
exterior.
Verifica-se que o saldo final do balanço de pagamentos será nulo, haven-
do assim, um equilíbrio em suas contas, pois nesse exemplo o saldo final
será resultado da soma do saldo final da balança comercial e do saldo
final das reservas internacionais.
A identidade fundamental do balanço de pagamentos é a seguinte:

Transações Correntes + Conta Financeira + Conta Capital = 0

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Nem sempre o resultado final do balanço de pagamentos é nulo, o que


não implica, em certos casos, distorções econômicas para o país. Para isto há
a conta de erros e omissões, em que a autoridade nacional credita ou debita
a diferença apurada para equilibrar o saldo do Balanço.

Além das transações de capitais, o Banco Central de uma economia


mantém um tipo de transação envolvendo a compra e a venda de ativos de
reservas. Como o Banco Central gerencia a oferta e a demanda de moedas, as
reservas internacionais oficiais são ativos estrangeiros, mantidos para even-
tuais necessidades de amparo ao balanço de pagamentos.

Entretanto, para conhecer o saldo do balanço de pagamentos ao final


de cada ano, os países fazem o fechamento das subcontas, no interesse de
conhecer o saldo proveniente das transações realizadas com o mercado in-
ternacional. São somados os fluxos líquidos, ou subtotais de cada subconta
dentro da conta principal. Por exemplo, para se conhecer o saldo final da
balança comercial, apuram-se os saldos de suas subcontas importação e ex-
portação, encontrando desta forma, o saldo total da Balança Comercial.

Balanço de pagamentos e renda nacional


As contas do balanço de pagamentos dividem as exportações e as impor-
tações em três categorias específicas.

A primeira é o comércio de mercadorias, ou seja, as exportações e as im-


portações de bens. A segunda categoria, serviços, inclui itens como paga-
mento por assistência jurídica, gastos de turistas e taxas de envio. A última
categoria, renda, é formada principalmente pelos pagamentos de juros e
dividendos internacionais e pelos ganhos das firmas de propriedade nacio-
nal que operam no estrangeiro. Os salários que os trabalhadores ganham no
exterior podem entrar na conta de renda.

Incluímos a renda dos investimentos estrangeiros nas transações corren-


tes porque essa renda é a remuneração dos serviços fornecidos pelos inves-
timentos estrangeiros. Essa ideia está focada na distinção entre o Produto
Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB). A definição de PNB
refere-se a bens e serviços gerados pelos fatores de produção de um país,
mas ele não especifica que esses fatores devem trabalhar dentro das fron-
teiras do país a que pertencem. Ao discutir a relação entre o PNB e a renda
nacional, definimos as transferências unilaterais entre os países como dona-

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Balanço de pagamentos

tivos internacionais, ou seja, pagamentos que não correspondem à compra


2
Tranferências unilate-
rais – item do Balanço de
de nenhum bem, serviço ou ativo. As transferências unilaterais líquidas2 são
Pagamentos onde são
registradas as transações
consideradas parte das transações correntes, assim como parte da renda na-
que não impliquem con-
trapartida. Quando colo-
cional (CARVALHO, 2005).
camos “líquidas”, significa
dizer que entra renda e sai
renda e não consideramos

O mercado de câmbio
contrapartida, mas saldo
líquido do envio e do re-
cebimento de renda.

No comércio internacional, não há uma moeda única para efeito de paga-


mento entre as transações comerciais realizadas pelos países. Sendo assim, os
países devem comprar ou vender a moeda nacional pela moeda estrangeira
para pagar uma importação ou receber uma exportação. No Brasil, a única
moeda permitida para circulação no mercado interno é a moeda nacional.

Câmbio consiste na troca entre duas moedas, sendo uma moeda estran-
geira por uma nacional e vice-versa. Toda a troca de moeda é denominada
de compra ou venda e é sempre intermediada por um banco, para efeitos
legais e práticos.

O Mercado de Câmbio ou Mercado de Divisas é o local onde ocorrem as


operações de compra e venda de moedas estrangeiras conversíveis reunin-
do agentes econômicos que realizam transações com o exterior, não se limi-
tando a um país. É considerado o maior e o mais líquido mercado no mundo.
Os maiores mercados de câmbio do mundo estão nas cidades de Londres,
Nova York e Tóquio (CARBAUGH, 2004).

As taxas de câmbio são determinadas no mercado de câmbio pela intera-


ção entre famílias, firmas e instituições financeiras, comprando e vendendo
moeda estrangeira para pagamentos internacionais. A relação entre a moeda
estrangeira e a moeda nacional é dada pela taxa de câmbio.

Taxa de câmbio é o preço da moeda de um país em termos da moeda de


outro país.

O mercado cambial pode se apresentar estável, quando a demanda e a


oferta de divisas se encontram em equilíbrio; nervoso, quando está sujeito às
oscilações drásticas e rápidas da economia internacional; oferecido, quando
a oferta de divisas estrangeiras é maior que a demanda; e procurado, quando
a demanda por divisas é maior que a oferta. De acordo com Carmo e Mariano
(2006) algumas operações que envolvem o câmbio são denominadas de:

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 Mercado pronto ou spot – ocorre quando as divisas são entregues


ou depositadas na conta do comprador em até 48 horas após o fecha-
mento do contrato de câmbio.

 Mercado futuro ou transação a termo – as divisas são entregues em


prazos superiores a dois dias úteis, após a negociação, sendo a taxa de
câmbio determinada no dia do fechamento da referida negociação.

 Mercado interbancário ou operações de swap – ocorre quando ban-


cos trocam moedas, ou seja, convertem uma moeda em outra em uma
determinada data específica com as taxas de câmbio das moedas já
estipuladas. Através da operação de swap, os bancos são capazes de
atender suas demandas por moedas estrangeiras por um prazo deter-
minado.

O mercado cambial pode ser ainda subdividido em:

 Câmbio manual – quando a comercialização de divisas ocorre em es-


pécie, como a compra e a venda de traveller’s checks. As operações de
câmbio manual estão isentas do contrato de câmbio ou intervenção
de um banco.

 Câmbio sacado – compreende as operações realizadas por bancos


e que envolvem saques sobre os haveres depositados, junto ao ban-
queiro no exterior.

Os elementos que participam do mercado de câmbio são:

 os que produzem divisas – exportadores, os devedores de emprésti-


mos e investimentos, os turistas estrangeiros; os que recebem transfe-
rências do exterior e os especuladores;

 os que cedem divisas – os importadores; os devedores de emprés-


timos que remetem ao exterior o principal e os juros; os tomadores
de investimentos que remetem ao exterior os rendimentos do capital
investido; os que fazem transferências para o exterior;

 os bancos – com a função de intermediário entre os dois grupos já


mencionados anteriormente, centralizando as compras e vendas de
divisas monitoradas pelo Banco Central do Brasil (BACEN) que estabe-
lece as normas para operarem em câmbio;

 corretores de câmbio – intermediário nas operações de câmbio en-

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tre clientes e bancos autorizados, com a finalidade de permitir que os


bancos negociadores mantenham os saldos desejados em moeda es-
trangeira;

 as autoridades monetárias – são chamados de vendedores todos


aqueles que possuem divisas estrangeiras e precisam trocá-las por
moeda nacional. São chamados de compradores todos que necessi-
tam de moedas estrangeiras e dispõem apenas de moeda nacional.

O mercado cambial funciona 24 horas por dia. Isso ocorre devido aos fusos
horários, ou seja, sempre quando uma grande mercado está fechando, outro
está abrindo (Tóquio e Nova York, por exemplo). As taxas de compra e venda
são cotadas na abertura do mercado. Quando se vende moeda estrangeira
a um banco, a taxa utilizada é a de compra (conhecida internacionalmente
por bid rate). Já quando ocorre a compra moeda de um banco, a taxa é de
venda (offer rate). A diferença entre a taxa de venda e a de compra é o lucro
do banco. Essa diferença é conhecida como spread. No mercado cambial, a
denominação (compra e venda) é feita em função da posição do banco e não
da do cliente.

Regimes cambiais e sistemas de taxas de câmbio


O tipo de regime de câmbio adotado pelo governo depende da necessida-
de de controle sobre as taxas de câmbio e operações cambiais. Assim pode-
mos dizer que os regimes cambiais podem ser de três tipos: regime cambial
de taxas fixas, regime cambial de taxas flutuantes e sistemas intermediários.
A partir do regime de câmbio adotado pelo país determina-se qual o sistema
de taxas de câmbio deverá ser utilizado. No regime cambial de taxas fixas,
o Banco Central do país é quem controla a demanda e a oferta de moedas
estrangeiras, comprando ou vendendo suas moedas, objetivando uma cota-
ção dentro de uma paridade fixa, com pequena margem de variação.

No sistema de taxas de câmbio flutuantes, as forças de mercado – deman-


da e oferta – determinam os valores da moeda. Os governos podem utili-
zar controles cambiais como tentativa de obter controle sobre o balanço de
pagamentos.

Mesmo havendo um regime cambial fixo ou flutuante, as autoridades


monetárias podem exercer frequentes intervenções nos regimes cambiais.
Assim, há um sistema de regime cambial intermediário, ou seja, um regime

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que não é caracterizado por um câmbio fixo e nem flutuante. Esse sistema
intermediário pode ser denominado de regime de taxas flexíveis. No siste-
ma de taxa de câmbio fixa, o governo define a taxa de câmbio oficial para
a sua moeda. Nesse sistema os países podem desvalorizar ou valorizar suas
moedas para restaurar o equilíbrio comercial. O objetivo da desvalorização
é promover uma depreciação do valor cambial da moeda nacional, o que
auxilia a reduzir um deficit comercial. Já a valorização consiste em promover
uma diminuição da taxa de câmbio do país, o que ajuda a reduzir um supe-
rávit comercial.

O regime cambial que combina características de câmbio fixo e de câmbio


flexível ou flutuante é denominado de flutuação suja. O Banco Central per-
mite que a taxa de câmbio flutue, intervindo caso atinja certos limites con-
siderados indesejáveis para a estabilidade econômica. O regime cambial no
qual o Banco Central permite que o mercado estabeleça o preço da moeda
estrangeira é chamado de flutuação limpa.

Operações de câmbio
e o regime cambial brasileiro
As operações de câmbio são classificadas de acordo com o que segue.

Quanto à natureza:

 comerciais – que são as compras e vendas de moeda decorrentes de


exportação e importação de bens e serviços;

 financeiras – que são as operações de compra e venda de moedas


relacionadas à movimentação de capitais.

Quanto ao tipo:

 câmbio manual – referem-se às operações que envolvem a compra e


venda de moedas estrangeiras em espécie e traveller checks, conforme
já mencionamos anteriormente;

 câmbio sacado – as trocas se processam pela movimentação de uma


conta bancária em moeda estrangeira.

Quanto ao prazo:

 prontas – referindo-se às operações à vista (dois dias úteis);

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 futuras – quando se tratar de operações com entrega de moeda es-


trangeira em um prazo superior a dois dias úteis.

No Brasil, o regime cambial em vigência é o de taxas de câmbio flutuante,


onde o mercado determina a taxa de câmbio pelos movimentos de deman-
da e oferta de divisas, com a fiscalização do Banco Central. Além da taxa de
câmbio fiscalizada pelo governo, há dois tipos diferentes no Brasil:

 câmbio turismo – controlado pelo Banco Central;

 câmbio paralelo – o qual não é controlado pelo Banco Central e nesse


caso a movimentação de divisas nesse mercado não é contabilizada
no balanço de pagamentos.

Desequilíbrios e reajuste
do balanço de pagamentos
O que mais tem gerado importância ao saldo do balanço de pagamentos
são os fluxos líquidos, ou seja, os saldos positivos (crédito) após a compensa-
ção dos saldos negativos (débitos). Assim sendo, alguns autores dizem que
saldos positivos são favoráveis e saldos negativos desfavoráveis, uma vez
que estes indicam situações de risco aos países, no que diz respeito à sua
vulnerabilidade externa, devido ao fato de indicar créditos ao exterior.

Mas na verdade, nem sempre as contas externas dos países apresentam-


se superavitárias, sendo que os saldos negativos são frequentemente alcan-
çados. Por exemplo, quando um país está em fase de industrialização, passa
a importar matéria-prima e tecnologias em grandes escalas para o desen-
volvimento de suas indústrias, o que pode gerar saldos negativos em sua
Balança Comercial. Podemos entender então que, saldos negativos para este
país são considerados adequados, já que há um investimento em seu parque
industrial. Sendo assim, a acumulação de riquezas ou divisas para o país nem
sempre ocorre por motivo de constantes superávits em suas contas externas,
pois neste exemplo, a longo prazo, o país poderá alavancar o seu grau de
exportação, devido aos esforços pela industrialização e desenvolvimento.

Portanto, nem sempre o saldo final do balanço de pagamentos se encon-


tra em equilíbrio, o que não implica que todas as contas ou subcontas devem
estar em equilíbrio ou superavitárias.

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Então, o que representa um superávit e o que representa um deficit no


balanço de pagamentos e quais são os comportamentos dos países quando
o equilíbrio do balanço não é alcançado?

Um saldo positivo, ou superávit, pode ocorrer na conta de transações


correntes quando, por exemplo, a balança comercial, serviços e rendas, e a
conta de transferências unilaterais correntes apresentam-se superavitárias,
ou quando qualquer uma delas apresenta um saldo superavitário maior
que o saldo deficitário de qualquer das outras duas contas, em conjunto ou
separadamente.

Como o superávit na conta corrente implica em recebimento de divisas


para o país, estas poderão ser utilizadas para aumentar os ativos financeiros
ou as reservas de divisas estrangeiras.

Na subconta serviços e renda, um superávit significa que o país transfe-


riu maiores recursos de capitais ao estrangeiro, do que recebeu dele. Assim
sendo, o saldo da balança de serviços e rendas, além de indicar o valor da
transferência líquida de recursos, fornece informações sobre o PIB de um
país, devido ao fato do valor do saldo desta balança ser apurado da mesma
forma que a balança comercial, onde se registram as exportações e importa-
ções de um país.

O PIB de uma nação que mantém transações com o exterior é definido


pela soma do consumo interno, ou seja, o valor do consumo da produção
nacional, gastos com investimentos, gastos do governo e exportações líqui-
das de bens e serviços.

As exportações líquidas representam o valor dos bens e serviços produ-


zidos no mercado doméstico, mas não consumidos internamente, ou seja, o
excedente da produção nacional. Portanto, um saldo positivo na balança de
serviços implica que o país apresentou um volume de exportações de servi-
ços que não foi consumido internamente, maior que o volume de importa-
ções. Assim, a diferença entre estas transações deve ser agregada ao PIB.

Portanto, o superávit referente ao saldo das exportações de serviços, im-


plica que o país teve no exercício apurado, uma maior produtividade interna,
já que na balança de serviços são registrados além de gastos com fretes e se-
guros, os serviços vendidos aos turistas estrangeiros no país, o que alavanca
as receitas das empresas prestadoras de serviços e assim, um devido registro
ao PIB do país.

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Além dos superávits, a conta corrente poderá apresentar-se deficitária em


consequência de um volume de importações maior do que exportações de
bens, serviços, rendimentos de investimentos e maiores envios de donati-
vos ao exterior. Estando o país com a conta corrente deficitária, necessitará
dispender um volume de capital para liquidar os pagamentos das referidas
importações de mercadorias ou pagamentos de serviços.

De outro lado, caso haja um superávit na conta corrente, o país estará acu-
mulando ativos em relação ao restante do mundo, devido ao recebimento
em divisas estrangeiras de suas exportações, ou recebimentos de juros de
dívida, entre outros.

De um modo geral, devido ao fato do balanço de pagamentos ser con-


tabilizado por meio das partidas dobradas, sendo que um lançamento de
débito deve ser compensado por um lançamento de crédito, para alcançar o
seu equilíbrio no final do exercício, quando o saldo das transações correntes
apresentar-se deficitário, a conta de capital e financeira deverá apresentar-se
superavitária. Assim, pode-se dizer que, o deficit da conta corrente é finan-
ciado por meio de um superávit da conta de capital e financeira, alcançando
deste modo, o equilíbrio do saldo final do balanço de pagamentos.

No entanto, quando a conta de capital e financeira não apresentar saldos


positivos, o que contribui com o financiamento do deficit em conta corrente,
o país buscará recursos através da demanda por empréstimos concedidos
pelo estrangeiro ou pela venda de ativos estrangeiros. Assim sendo, todos
os esforços para a captação de recursos serão necessários para que o país
equilibre o seu balanço de pagamentos e para que a situação de seu PIB não
seja afetada. Portanto, pode-se dizer que, o deficit em conta corrente de um
país é financiado essencialmente por uma entrada líquida de divisas em sua
conta de capital e financeira.

O saldo da conta de capital e financeira é responsável pelo financiamen-


to dos deficits em conta corrente, por meio dos investimentos estrangeiros
líquidos, empréstimos e vendas de ativos. Ou seja, para equilibrar o balanço
de pagamentos o país realiza empréstimos, os quais são registrados na conta
de capital e financeira, sendo por este motivo esta conta responsável pelo
equilíbrio do balanço de pagamentos quando as contas correntes apresen-
tarem saldo negativo.

No entanto, como discutido anteriormente, os deficits em conta corren-


te nem sempre são considerados ruins para um país. Devido aos emprésti-

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Balanço de pagamentos

mos que são necessários para o equilíbrio do balanço, por meio da conta de
capital e financeira, o país passará a apresentar os custos com os juros dos
empréstimos, criando-se assim, uma dívida em decorrência do compromisso
em liquidar tal empréstimo.

Diante da dívida dos empréstimos, é necessário analisar qual é o objetivo


do deficit em conta corrente, se é realmente para estimular a produtividade
interna, (desenvolver o parque industrial) ou se é para aumentar o consumo
do país. Caso seja a primeira opção, vê-se que a situação de endividamento
do país não se torna um agravante à sua vulnerabilidade externa, uma vez
que há uma política macroeconômica voltada ao desenvolvimento interno.
A longo prazo, a produção adicional ocasionada pelo incremento de políti-
cas voltadas ao desenvolvimento produtivo do país será suficiente para mi-
nimizar a sua situação de endividamento.

De um modo geral, os empréstimos líquidos de uma economia podem


ser expressos como a soma dos empréstimos dos setores, tanto privado,
quanto público.

Contudo, os deficits em conta corrente refletem o desequilíbrio entre as


despesas do governo, a receita tributária e o desequilíbrio entre o investi-
mento e a poupança privada e para reverter esta situação deficitária são ne-
cessárias políticas que tentam equilibrar essas discrepâncias.

É por esse motivo que se enfatiza a redução de gastos e equilíbrio das


despesas tanto públicas quanto privadas, devido ao fato de um país que
apresenta deficit em sua conta corrente necessitar de fundos para equilibrar
o seu balanço de pagamentos, através de empréstimos obtidos no exterior
ou atração de capital especulativo. Dessa forma a reserva de capitais será
utilizada para o alcance do equilíbrio do balanço de pagamentos do país
e não para ser utilizado como financiador de obras públicas e investimen-
tos privado, o que pode prejudicar o desenvolvimento de um país. Portanto,
a redução de gastos de uma nação se faz necessária, pois contribui com o
equilíbrio das contas externas do país, minimizando a necessidade de admi-
nistrar os juros da dívida externa.

Essa redução de gastos implica em uma fuga de oferta das empresas na-
cionais para mercados estrangeiros, o que amplia o volume de exportações,
gerando divisas estrangeiras ao país. Por outro lado, a redução de gastos
gera redução na produção nacional e queda da renda, desestimulando os
gastos no exterior, como as importações de bens e serviços e turismo.

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Balanço de pagamentos

A fim de ajustar o saldo do balanço de pagamentos, os países normal-


mente adotam políticas de restrições às importações e estímulo às exporta-
ções, por meio de subsídios e desvalorização da taxa de câmbio, aumento da
taxa de juros para desestimular o consumo e redução do nível de atividade
econômica.

Medidas utilizadas tradicionalmente para promover o ajuste do balanço


de pagamentos de uma nação são: desvalorização cambial; elevação de ta-
rifas de importação; estabelecimento de cotas de importação; concessão de
subsídios às exportações; elevação da taxa interna de juros, entre outras.

Portanto, uma análise macroeconômica e microeconômica de um país é


necessária para a tomada de decisão sobre a política econômica de cresci-
mento e desenvolvimento. Políticas que visam o equilíbrio dos deficits e do
balanço de pagamentos geram também, redução do consumo, queda da
produtividade e desestímulo à produtividade interna, o que pode causar a
longo prazo, necessidade de importação de bens escassos no mercado inter-
no, agravando assim, a política de equilíbrio do balanço de pagamentos.

Ampliando seus conhecimentos

Contrato de câmbio no Brasil


(SIMÕES, 2006)

No Brasil, toda transação comercial ou financeira que envolve uma ope-


ração de câmbio, é efetuada por meio de um contrato de câmbio. Assim, ele
é um documento que formaliza a operação de compra e venda de câmbio,
entre o exportador, designado como vendedor e um banco, designado de
comprador. Através deste contrato, o exportador se compromete a transferir
ao banco as divisas que receberá como pagamento de uma exportação, em
troca da moeda nacional.

Nele constam informações relativas à moeda estrangeira que está sendo


vendida e comprada, à taxa contratada na operação, ao valor corresponden-
te em moeda nacional, além do nome do comprador e vendedor, vencimen-
to, forma de entrega da moeda estrangeira, valor em moeda nacional e em
moeda estrangeira. O fechamento de um contrato de câmbio através de um
banco se inicia quando um exportador brasileiro fecha um negócio com o

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Balanço de pagamentos

exterior. É, portanto, através desse instrumento que o exportador trocará ou


venderá a moeda estrangeira pela moeda nacional, devido ao fato de ser o
real a única moeda permitida para circulação no país, como meio de paga-
mento. Para tanto, o exportador deve levar em consideração, o fato do país
adotar um regime de câmbio flutuante, em que as taxas de câmbio sofrem
constantes ajustes, a fim de não perder lucros quando houver a liquidação da
operação cambial, a qual é realizada por meio de uma taxa de câmbio con-
tratada no ato do fechamento do contrato de câmbio. Após a assinatura do
contrato, o exportador tem completas informações sobre o valor a receber
em moeda nacional, devido ao valor da fatura comercial e da taxa de câmbio
contratada para a conversão, as quais são registradas no documento.

O fechamento do contrato de câmbio pode ocorrer antes do embarque da


mercadoria, caso o exportador deseje efetuar um financiamento para a ex-
portação. Para tanto, o exportador deve provar a realização da venda, através
de um contrato firmado com o seu parceiro comercial, ou importador. Caso o
fechamento do contrato de câmbio seja depois do embarque, o exportador
tem um prazo para realizá-lo de até dez dias úteis, de acordo com a legislação
vigente do Banco Central do Brasil, ou realizá-lo no momento de venda de
uma mercadoria em condição de consignação no exterior.

A liquidação do contrato pode ocorrer de acordo com o tipo de operação


contratada, podendo ser de mercado pronto ou mercado futuro também cha-
mado de transação a termo, conforme já apresentado anteriormente.

Após o embarque da mercadoria ao exterior, o exportador entrega ao


banco comprador das divisas os documentos que comprovam a devida ex-
portação. Assim, o banco poderá pagar de imediato ao exportador o valor
da operação em reais. O banco então enviará uma cobrança ao importador
através de um banco estrangeiro, no país do importador. Essa modalidade de
contrato de câmbio é denominada de câmbio entregue.

Uma outra modalidade é o câmbio liquidado, em que o banco no exterior


libera um crédito de divisas para o banco nacional, o qual o transferirá ao ex-
portador como parte do pagamento de uma exportação.

Os contratos de câmbio se diferenciam quanto a sua forma jurídica, po-


dendo ser: bilateral, quando há um comprador e um vendedor; sinalagmáti-
co, quando as partes possuem direitos e deveres concomitantes; consensual,
quando há consentimento da anuência entre as partes; cumulativo, quando

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Balanço de pagamentos

estima o valor das obrigações a serem cumpridas; oneroso, quando há com-


prometimento patrimonial; e solene, quando exige forma determinada e
escrita.

Existem diferentes modelos de formulários de contrato de câmbio, dife-


rindo-se sobre a operação com o exterior que exige a compra ou a venda de
moedas. São eles:

 contrato para operações de exportação;

 contrato para operações de importação;

 contrato para transferência financeira do exterior;

 contrato para operações interbancárias;

 contrato para alteração de contrato de câmbio; e

 contrato para cancelamento de contrato de câmbio.

Devido aos erros que podem surgir ou discrepâncias de informações,


os contratos de câmbio podem ser alterados em consenso das partes, nos
campos que dizem respeito à mercadoria, com exceção dos campos sobre
a identidade do comprador e vendedor, moeda estrangeira, taxa cambial e
moeda nacional.

As prorrogações dos contratos podem ocorrer, quando ainda estiverem


dentro do prazo para tal alteração, com exceção dos contratos de importação
que são negociados no exterior com pagamento à vista.

Já o cancelamento de um contrato de câmbio pode ocorrer mesmo após


o embarque, quando há ação judicial no exterior, retorno de mercadoria ex-
portada ou redução no preço da mercadoria. O cancelamento do contrato
quando a mercadoria ainda não foi embarcada pode ocorrer quando há fa-
lência do exportador, intervenção extrajudicial ou redução no preço da mer-
cadoria. A rescisão parcial ou total do contrato de câmbio deve apresentar
consenso entre as partes e, se for o caso, anuência do Banco Central.

No entanto há prazos para que o contrato seja cancelado: até 20 dias para
mercadoria não embarcada, contados do vencimento do prazo para entrega
dos documentos e até 30 dias para mercadoria já embarcada, contados do
vencimento do prazo para a liquidação do contrato de câmbio.

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Balanço de pagamentos

Caso não haja cumprimento dos prazos estabelecidos no contrato de


câmbio, o mesmo poderá ser baixado. No entanto, para que isso ocorra é
condição necessária que o exportador ou o importador seja protestado. Se
não for possível a prorrogação ou cancelamento por falta de mútuo consenso
entre as partes, pode ser promovida a baixa do contrato na posição cambial.

Por fim, um contrato de câmbio é dado como liquidado quando ocorre


a efetiva entrega do valor da operação em moeda nacional pela parte com-
pradora, e da moeda estrangeira pela parte vendedora, finalizando assim, a
operação cambial do comércio internacional.

Atividades de aplicação
1. Quais contas estão normalmente relacionadas com a demanda de di-
visas?

2. O que significa deficit e superávit do balanço de pagamentos?

3. O que é taxa de câmbio?

4. Quais são as medidas de ajustes do balanço de pagamentos?

5. Quais são os três tipos de regimes cambiais?

6. O que é um contrato de câmbio?

Referências
BACEN. Notas Metodológicas do Balanço de Pagamentos. Notas Técnicas do
Banco Central do Brasil, número 1. Brasília: BACEN, junho de 2001. Disponível em:
<http://bcb.gov.br>. Acesso em: 12 set. 2008.

CARBAUGH, R.J. Economia Internacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,


2004.

CARMO, C. E. do; MARIANO, J. Economia Internacional. São Paulo: Saraiva,


2006.

CARVALHO, M. S. de. Economia Internacional. In: Economia: fundamentos e prá-


ticas aplicados à realidade brasileira. Campinas: Alínea, 2005.

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Balanço de pagamentos

KRUGMAN, R.P.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. São


Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.

RATTI, B. Comércio Internacional e Câmbio. São Paulo: Aduaneiras, 1997.

SIMÕES, R. C. F. Câmbio e Política Comercial no Brasil. In: Manual de Comércio


Exterior. Campinas: Alínea, 2006.

Gabarito
1. A demanda de divisas é constituída, principalmente, pelos importado-
res que necessitam de divisas (moedas estrangeiras) para efetuar suas
compras em outros países, e pelos devedores em moedas estrangeiras
para saldarem seus compromissos, como, por exemplo, turistas, go-
vernos, investidores etc.

2. Deficit do balanço de pagamentos significa que o país tem mais va-


lores denominados em moeda estrangeira a enviar ao exterior que a
receber, no período de contabilização do BP; um superávit significa
que o país tem mais valores em divisas a receber do exterior que a
remeter.

3. Taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira em termos da moeda


nacional e esse preço é determinado pela oferta e demanda de moe-
das estrangeiras no mercado de câmbio de cada país.

4. As medidas tradicionalmente usadas para ajustar o balanço de paga-


mentos são: desvalorização cambial; elevação das tarifas de importa-
ção; estabelecimento de cotas de importação; concessão de subsídios
às exportações, elevação da taxa interna de juros.

5. Os três tipos de regimes cambiais são: regime cambial de taxas fixas,


regime cambial de taxas flutuantes e sistemas intermediários.

6. Contrato de câmbio é um documento que formaliza a operação de


compra e venda de câmbio, entre o exportador, designado como ven-
dedor e um banco, designado de comprador.

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Política comercial

Cristiano Morini

A política comercial de um país é orientada pelo sistema econômico. “O


sistema econômico de um país consiste da estrutura e dos processos que são
utilizados para alocar recursos e conduzir suas atividades comerciais” (WILD;
WILD; HAN, 2008, p. 116).

Estes autores definem que toda orientação econômica é guiada pela


cultura de um país. As culturas podem variar de maior valorização da ini-
ciativa individual para maior orientação para valores coletivos. Na grande
maioria dos países do mundo ocidental, a cultura orientada pelo individual
está acima da coletividade, o que acaba influenciando no modo de agir das
pessoas, por conseguinte, o modo de fazer negócios. Nos países do oriente
(principalmente Ásia), a orientação coletiva supera a individual.

Isso de fato é verdade e pode ser visualizado no dia a dia das pessoas. Se
transitarmos por uma fábrica no Japão por exemplo, poderemos verificar que
um trabalhador japonês, ao passar por um objeto fora do lixo, e que supos-
tamente caiu do lixo, instintivamente pegará o objeto e o colocará no lugar
devido. No mundo ocidental, a orientação individual coloca na mente da
pessoa a ideia de que não é de responsabilidade daquela pessoa que passa
por ali “colocar” o objeto no lixo, porque ele não foi responsável por aquilo e
que ele deve responder apenas por aquilo que é de sua responsabilidade.

Em países de orientação coletiva, o imaginário da pessoa não pensa na


responsabilidade de uma ou de outra pessoa nesse exemplo em particu-
lar, mas que se há algo fora do lugar, ele contribuirá para o todo e para a
coletividade.

Se a cultura estabelece tais padrões de pensamento e racionalidade, os


governos também são orientados intuitivamente por esta característica, e os
valores econômicos podem ser visualizados dentro de um espectro do mais
individualista para o mais coletivista, dos quais podem ser destacados: eco-
nomia centralizada, economia mista ou economia orientada pelo mercado
(figura 1).

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Política comercial

Cristiano Morini.
Orientação Orientação
coletiva individual

Economia
Economia Economia
centralizada ou
mista de mercado
planificada

Figura 1 – Espectro de variância entre o tipo de economia.

A intervenção do governo na economia


e no comércio exterior
Em uma economia centralizada, o governo detém a propriedade das
terras, das fábricas, dos hotéis, dos bancos, dos negócios de rua e de outros
recursos econômicos. O governo toma todas as decisões de investimento,
inclusive o que produzir, os preços dos produtos e os salários dos trabalha-
dores. O governo mantém um controle completo dos meios de produção. Na
antiga União Soviética, o governo tinha esta orientação de economia cen-
tralizada, bem como na Coreia do Norte, e, de certa maneira, em Cuba e na
China até o início dos anos 2000.

Mesmo Dubai, uma cidade progressista e moderna dos Emirados Árabes


Unidos, centro econômico e financeiro do Oriente Médio, não permite que a
propriedade privada detenha mais de 50% das companhias limitadas.

A raiz dessa orientação está ancorada no pensamento de que o bem estar


do grupo é mais importante que o bem estar individual, com uma orienta-
ção coletivista em termos culturais (WILD; WILD; HAN, 2008). Em países com
essa característica, as diferenças econômicas e sociais são pequenas e não há
riqueza extrema, tampouco pobreza extrema.

Karl Marx popularizou a ideia de economia centralizada ou planificada


no século XIX, quando se difundiu a terminologia “comunismo”, orienta-
do pela comunhão de valores que privilegiavam o comum e o coletivo ao
individual.

Ao longo do século XX, várias economias adotaram o modelo de econo-


mia centralizada, mas este modelo foi sendo substituído, gradativamente,
pelo modelo de economia de mercado, de orientação individualista. A subs-

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Política comercial

tituição se deu graças à percepção de que a economia de mercado estimula-


va a competição, o que por conseguinte, é um ingrediente fundamental da
redução de custos e busca por inovação. Além disso, a economia de merca-
do foi capaz de remunerar diferentemente trabalhadores mais qualificados
e mais produtivos, incentivando a qualificação individual para se atingir me-
lhores condições de bem-estar. A economia de mercado é um terreno fértil
para a inovação e para o avanço da tecnologia, sem depender de um centro
de poder que tome as decisões pelos indivíduos. A ideia prevalecente é de
que muitas cabeças pensam melhor que poucas.

Em uma economia centralizada não se pode falar de direito econômico ou


direito empresarial (privado), e não há os conceitos jurídicos de concordata e
falência, porque o Estado detém a centralização das ações e das garantias.

Em uma economia mista, os recursos econômicos, como terras, fábricas


e empresas estão divididos entre a propriedade privada e a estatal. O direito
empresarial é caracterizado por diferentes níveis de evolução, dependendo
dos países que o adotam. Nesses países de economia mista, o grande debate
é qual deve ser o tamanho do Estado. Não há consenso de qual o papel do
Estado, se a educação deve ser pública ou privada, se a saúde deve ser pri-
vatizada ou se cabem recursos privados em investimentos de infraestrutura,
como fornecimento de energia, portos e rodovias.

Esse tipo de economia é influenciada pelo pensamento do economista


inglês John Maynard Keynes (1883-1946). Com Keynes, o Estado deve estar
presente em setores estratégicos, mas sem descuidar de permitir que a ini-
ciativa privada floresça. O pensamento keynesiano rivaliza-se com os teóri-
cos liberais da economia de mercado.

A orientação econômica de Keynes pode ser visualizada em vários países


da Europa, América Latina e Índia, que possuem certo nível de bem estar
social provido pelo Estado, com o objetivo de reduzir as desigualdades e até
criar empregos.

Com os ideais de Keynes, os governos devem estabelecer medidas de ca-


ráter fiscal e monetário para intervir na economia e garantir ou estimular a
preservação/geração de empregos, o que não é aceito pelos liberais. Na crise
internacional de 2008-2009, a grande maioria dos países adotou políticas
keynesianas para fazer frente à crise, com a clara intervenção do Estado na
economia. O objetivo maior foi gerar ou preservar os empregos e estimular
o crescimento da economia.

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Política comercial

Já em uma economia de mercado, a grande maioria da administração dos


recursos econômicos está nas mãos de entidades ou agentes privados. Nesse
cenário, o Estado abdica de sua função tradicional de controlar a produção
e os salários. O nível de emprego e o nível dos salários, bem como o nível
dos investimentos é livre. Esse cenário apresenta vantagens como ganhos
de produtividade, inovação, concorrência e busca por melhores condições
competitivas. O grande problema é que, sem controle estatal, os direitos dos
trabalhadores nem sempre são garantidos, o meio ambiente nem sempre é
preservado e as desigualdades sociais e econômicas são latentes, provocan-
do outros problemas sociais, como falta de segurança, exploração da mão de
obra, poluição de águas e ar, entre outros.

Em uma economia de mercado, as empresas menos competitivas podem


entrar em falência e fechar. Os teóricos que sustentam esse tipo de econo-
mia defendem o liberalismo econômico, como o téorico Adam Smith (1723-
1790), defendendo o argumento de que não são necessários controles,
porque a economia se autorregula ou é regulada por uma mão invisível.
Essas economias também são chamadas de economias do laissez-faire laissez
passere (expressão em francês para deixe fazer, deixe passar), o que significa:
deixe os agentes econômicos fazerem negócios e investimentos, sem inter-
ferência governamental. Quanto mais liberdade de escolha, liberdade para
fazer negócios e menos regulação, melhor.

No entanto, mesmo nas economias de mercado, certos controles são ne-


cessários para a garantia da competição e concorrência. O governo monitora
e estabelece leis antitruste (ou antimonopólio). O objetivo dessas leis é pre-
venir a criação de monopólio (uma empresa estabelece preços dos produtos,
sem concorrência) e cartel (combinação de preços entre os fabricantes, de
forma a obter maiores lucros).

Os países que defendem a economia de mercado, como os Estados


Unidos, são os grandes promotores da globalização econômica, produtiva e
financeira, em que os agentes econômicos devem procurar regiões em que
possam maximizar o lucro. Essa iniciativa estimulou o crescimento do co-
mércio internacional, embora haja críticas dos efeitos causados por este tipo
de comércio livre.

Os países de economia de mercado visualizaram que o comércio inter-


nacional poderia proporcionar lucros maiores e melhores oportunidades de
negócios. Por exemplo, instalar uma fábrica no México era mais lucrativo que
nos Estados Unidos, porque a mão de obra mexicana é mais barata e o me-
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Política comercial

xicano não está tão bem organizado em sindicatos (que tentam garantir os
direitos dos trabalhadores) como os trabalhadores dos Estados Unidos, além
da legislação ambiental mexicana não ser restritiva ou ameaçadora.

Para o México, atrair investimento norte-americano era uma boa oportu-


nidade de gerar emprego, embora sem controlar as desigualdades sociais
que foram surgindo. O meio ambiente também sofreu, porque para ter mais
lucros os dejetos das indústrias não precisavam ser tratados.

Com o tempo, o grande investidor percebeu que a China oferecia melho-


res margens de lucro que o México, para determinados setores industriais.
No início dos anos 2000, várias indústrias de capital americano, instaladas
no México, foram transferidas para a China. Mesmo com a distância física e
maior esforço de logística entre Estados Unidos e China, as margens de lucro
foram analisadas como sendo maiores na China, em que a mão de obra é
ainda mais barata e tampouco há uma legislação ambiental que provoque
investimentos em proteção. Amanhã, se em alguns países africanos houver
condições ainda melhores para produzir com margens de lucro ainda mais
altas, o investidor não hesitará em transferir sua fábrica para lá.

Quanto menos controle estatal às iniciativas privadas, mais o grande in-


vestidor se sente à vontade para desrespeitar mínimas condições de segu-
rança do trabalhador e desrespeitar a natureza.

Em síntese, é possível perceber que há argumentos favoráveis e contrá-


rios tanto na economia planificada (que se preocupa com o nível de empre-
go), como na economia mista ou na economia de mercado (que se preocupa
em garantir as liberdades). Esses argumentos fazem com que as economias
busquem um equilíbrio entre as vantagens de uma ou de outra orientação
econômica, daí a sua posição variada no espectro apresentado na figura 1.

A intervenção do governo no comércio exterior


Analisadas brevemente as orientações econômicas dos países, há que se
identificar também como essas orientações influenciam as políticas voltadas
para o comércio exterior.

Em países de orientação mais planificada, fazer ou não fazer comércio in-


ternacional não é uma discussão relevante. Busca-se o comércio internacio-
nal naquilo que o país não possui ou necessita em quantidades maiores que
a demandada. Por exemplo, na antiga União das Repúblicas Socialistas So-
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viéticas (URSS) buscava-se o fornecimento de açúcar de Cuba, porque havia


uma demanda interna maior que a produção soviética. A região da URSS é
formada predominantemente por uma vegetação rasteira que congela no
inverno e floresce no verão. No entanto, a região vive aproximadamente seis
meses do ano em baixas temperaturas, o que dificulta a agricultura e a torna
dependente de certos produtos agrícolas.

Esse comércio servia para atender à demanda doméstica de um item em


falta. Não há estímulos para buscar melhores fontes competitivas, variedade
de produtos ou preços, porque o Estado está no controle da tomada de deci-
são. As decisões são lentas e burocráticas e o importante é garantir o mínimo
para a população.

Nesse tipo de economia, o comércio exterior não é estimulado por agen-


tes privados e a corrente de comércio (soma das importações mais exporta-
ções) é pequena.

Em uma economia de mercado, o comércio internacional é fator chave.


Isso porque a busca por melhores condições competitivas, maiores margens
de lucro e melhores retornos sobre o investimento é a palavra de ordem. Não
interessa se o fabricante é de um país ou de outro. O importante é reduzir
custo para ter margem de lucro cada vez maior.

Assim é o caso da Tiffany, uma das mais tradicionais joalherias do mundo.


A Tiffany abriu instalações de lapidação e polimento de diamantes no Canadá,
Bélgica, África do Sul, Vietnã, China, Ilhas Maurício e Botswana. A decisão do
país está relacionada com a capacidade de gerar mais lucro. Para tanto, a
manutenção do fluxo do comércio internacional é vital. É fundamental que
as economias possuam regras transparentes de acesso a mercados, como
regras aduaneiras previsíveis.

Em países que dependem do comércio internacional, as regras de alfân-


dega são simples e facilitam o fluxo de mercadorias para promover o au-
mento do volume de compra e venda internacional, fundamental para as
estratégias das companhias comerciais.

Em uma economia mista, há variância entre maior ou menor relevância


do comércio internacional, com orientação mais voltada para a economia
planificada ou para a economia de mercado.

Apresentadas algumas características das orientações econômicas e o


comércio exterior, podem ser destacadas também algumas das ações mais

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Política comercial

usuais dos governos na intervenção no comércio exterior ou simplesmente


na economia interna.

 Subsídios – é uma forma de ajuda do governo a uma entidade priva-


da. Essa ajuda pode ser de diversas formas, como uma linha de crédi-
to favorecida (a fabricantes de máquinas, por exemplo), um recurso
destinado a pessoa ou grupo (por exemplo, o governo dá semente e
fertilizante ao agricultor, reduzindo seus custos e gerando um produto
final mais barato) ou a isenção fiscal a determinado setor da atividade
industrial. Os subsídios são permitidos até um determinado nível. Eles
não podem fazer com que haja uma distorção no comércio interna-
cional. Por exemplo, se um agricultor de algodão receber recursos do
governo para ter maiores condições competitivas dentro do seu país,
não pode passar a exportar esse algodão subsidiado, porque provoca-
ria uma distorção no fluxo do comércio internacional, o que é contrário
ao acordo internacional de subsídios da Organização Mundial de Co-
mércio (OMC).

 Financiamento às exportações – os governos de vários países finan-


ciam o importador estrangeiro de produtos e mercadorias nacionais,
como forma de estimular as exportações. O importador busca o recur-
so do financiamento e adquire a mercadoria do país financiador.

 Promoção comercial – vários países possuem agências de economia


mista (pública e privada) para estimular e promover o comércio. No
Brasil, a agência de promoção às exportações e investimentos é cha-
mada de APEX. O papel dessas agências é facilitar a exposição de pro-
dutos nacionais em feiras setoriais e multisetoriais, eventos temáticos
e outros, de forma a promover a imagem e os produtos de um deter-
minado país. Além disso, auxiliam na internacionalização do negócio,
na participação em eventos no exterior (rodadas e missões empresa-
riais), entre outros.

 Drawback – o drawback é um benefício à empresa exportadora-im-


portadora difundido em todo o mundo. No drawback, a empresa que
importa e exporta tem o benefício do não recolhimento de impostos
na entrada, uma vez que utilizará o material importado na industria-
lização de bem acabado a exportar. Funciona como um claro incen-
tivo à internacionalização da cadeia de suprimentos, buscando fonte
de matérias-primas em outros mercados, industrializando o produto

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Política comercial

(conforme regras de nacionalização específicas), e exportando o pro-


duto final acabado para outrem. Não há necessidade de importação
de bem e exportação do produto acabado para o mesmo país ou em-
presa. A importação pode ser de um fornecedor do país “A” e a expor-
tação para um cliente do país “D”.

 Defesa comercial – os governos também são os responsáveis por


defender os interesses nacionais frente a práticas ilegais de comércio,
como dumping (venda abaixo do preço normal de mercado), concor-
rência desleal ou simplesmente proteção quando uma empresa na-
cional está na iminência de quebrar (quando o governo deve adotar
uma medida de salvaguarda comercial). Todas as medidas de defesa
comercial precisam ser analisadas pela OMC.

 Representação do interesse nacional em uma controvérsia comer-


cial – a OMC detém o foro de solução de controvérsias pelo descum-
primento de algum acordo internacional. Se algum setor da atividade
industrial ou alguma empresa em específico estiver na situação de
prejuízo pela prática de alguma ação de terceiro em discordância com
os acordos da OMC, o país pode fazer a representação de sua defesa
no órgão de solução de controvérsias da OMC.

 Intervenção no câmbio – dependendo das características de um


banco central de um determinado país, poderá haver maior ou menor
intervenção no câmbio, o que provoca reflexos diretos no desempe-
nho do comércio exterior. No Brasil, o Banco Central (BACEN) não é
independente do governo, o que significa que se move por interesses
do poder executivo. No caso da relação dólar–real, o BACEN vende ou
compra dólares, para segurar a cotação da moeda nacional frente ao
dólar. A prática de comprar ou vender dólares no mercado influencia o
preço do real frente ao dólar, o que, por sua vez, causa reflexos diretos
nos desempenhos das exportações.

 Determinação do nível tarifário praticado – a alíquota do impos-


to de importação é e pode ser determinada pelos governos. Quando
o governo deseja proteger determinado setor ou indústria nascente,
pratica uma alíquota elevada do imposto de importação (II), que é uma
forma natural de barreira de entrada. Ao contrário, quando o setor ou
o produto forem competitivos, pode praticar alíquota de II reduzida ou

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Política comercial

zerada, permitindo a entrada do concorrente estrangeiro. É importan-


te destacar que os países membros da OMC têm uma liberdade restrita
em alterar alíquotas do imposto de importação, devido ao acordo mul-
tilateral de redução tarifária.

 Criação de zonas francas – as zonas francas são áreas livres de im-


postos de importação e outros. No caso do Brasil, com o objetivo de
estimular a industrialização em uma área distante dos grandes centros
consumidores, foi criada em 1967, a zona franca de Manaus. Trata-se
de uma área de livre comércio isenta do pagamento do Imposto de
Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na com-
pra de mercadorias e produtos importados. Há regras específicas para
a saída de mercadorias industrializadas dessa zona para as demais re-
giões do território nacional.

 Determinação de cotas – cotas são restrições quantitativas que res-


tringem o comércio pela determinação de limites. O comércio de cotas
tem sido combatido desde os anos 1950, mas há certos setores, como
o têxtil, por exemplo, que o aboliu somente em 2005, graças a um am-
plo acordo assinado no âmbito da OMC. As cotas restringem o fluxo
comercial natural, porque inibe a livre concorrência com a divisão de
mercado entre os concorrentes, determinado pelo comprador. A Rús-
sia é um país não membro da OMC que pratica o comércio de cotas
para entrada de mercadorias estrangeiras em seu território, como car-
ne de frango, por exemplo.

 Uso e abuso de licenças de importação – as licenças de importação


são um controle que os governos adotam para garantir padrões mí-
nimos de proteção à saúde do consumidor e matérias afins. No en-
tanto, sua utilização pode se tornar uma barreira ao comércio quando
usada de forma abusiva. Controles podem ser confundidos facilmente
com práticas restritivas e protecionistas, com o intuito de postergar a
entrada de mercadoria estrangeira no território nacional, protegendo
interesses dos concorrentes nacionais. Existem acordos internacionais
da OMC que restringem a utilização abusiva de licenças como uma
medida protecionista. O governo da Argentina, por exemplo, costuma
utilizar as licenças de importação para atrasar a entrada de mercado-
rias brasileiras no território argentino, provocando a parada de merca-
dorias nas fronteiras e dificultando o livre trânsito de mercadorias.

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Política comercial

 Embargo – a proibição de comércio com determinados países é cha-


mada de embargo. Os Estados Unidos possuem uma lista de países
com os quais os agentes privados não podem fazer comércio, que
varia desde Cuba até a Líbia. Se empresas ou indivíduos fizerem co-
mércio com entidades desses países, a atividade é considerada crime
punível com detenção da liberdade da pessoa e multa. O Brasil não
pratica embargo com nenhum país.

Essas ações de intervenção do governo na economia e no comércio exte-


rior podem ser divididas em métodos de promoção ao comércio, métodos
de restrição ao comércio e outros.

 Promoção ao comércio internacional – financiamento às exporta-


ções, zonas francas, agências de fomento, drawback.

 Restrição ao comércio – tarifação, cotas, embargos, licenciamento de


importação.

 Medidas de outras naturezas – subsídio, defesa comercial, participa-


ção em contenciosos na OMC, intervenção no câmbio (WILD; WILD;
HAN, 2008).

Livre comércio e protecionismo


O nível de intervenção maior ou menor na prática do comércio exterior
também é influenciado pela posição do governo em favor do protecionismo
ou do livre comércio.

O protecionismo é uma prática que, conforme o nome sugere, protege os


agentes econômicos internos de um país frente à concorrência estrangeira.
O protecionismo foi largamente praticado pelas economias hoje considera-
das desenvolvidas, como Inglaterra e Estados Unidos, no século XIX.

A ideia central é proteger setores que não estejam prontos para a com-
petição. Protege-se o que não é competitivo, o que ainda não galgou certo
patamar de competitividade. Para os que têm competitividade, defende-se
o livre comércio. A proteção a que se refere é a dificuldade de entrada de
produtos estrangeiros na economia nacional de um país, com a prática de
altos impostos de importação, restrições quantitativas (cotas, por exem-
plo), barreiras técnicas ou aplicação de exigências diversas via licenças de
importação.

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Política comercial

As economias que atualmente defendem o livre comércio de mercadorias


e serviços são países que, no final do século XIX e início do século XX, prati-
cavam o protecionismo econômico. Esses países galgaram certo patamar de
competitividade e passaram a ser defensores do livre comércio. Os países
favoráveis ao livre comércio são defensores da diminuição ou eliminação de
impostos da maioria de produtos importados, eliminação de barreiras não
tarifárias e facilitação do acesso ao mercado estrangeiro.

Alguns argumentos favoráveis ao livre comércio são:

 Maior oferta de produtos – a maior oferta proporciona grande varie-


dade de produtos, o que estimula competição, inovação e redução de
preços.

 Maior concorrência – o aumento da concorrência pressiona os preços


para baixo, e desestimulam práticas inflacionárias. Quanto mais aberto
é um país para entrada de produtos estrangeiros, maior concorrência
e menor inflação.

 Maior atração de investimentos estrangeiros – o livre comércio


pode atrair mais investidores em plantas produtivas, prestação de
serviços (hotéis, seguradoras, sistema financeiro e telecomunicações),
pela possibilidade de trânsito maior de pessoas e mercadorias.

 Maior busca por capacitação e eficiência – em um mercado de con-


corrência ampliada, a busca por capacitação constante de mão de
obra é necessária para se estimular a inovação, a pesquisa, o desen-
volvimento, a criação de novas tecnologias e a ampliação do conhe-
cimento.

 Liberdade de tomada de decisão – o livre comércio estimula a liber-


dade de pensamento e ação, sendo as políticas governamentais me-
nos intervencionistas. O livre comércio é uma forma de materialização
do liberalismo econômico defendido por Adam Smith.

Por outro lado, alguns argumentos favoráveis ao protecionismo:

 Preservação do nível do emprego – em uma economia fechada para


a competição internacional, privilegiam-se os agentes econômicos
internos, protegendo-os. Esta proteção configura-se em uma situa-
ção de conforto às empresas nacionais e ao emprego nacional, que
são protegidos e preservados. Em uma economia de livre comércio,

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Política comercial

o desemprego é a maior ameaça, porque a importação é estimulada


e, quando se pratica importação, empregos são gerados no país de
origem das mercadorias.

 Preservação da produção com capital nacional – o investidor nacio-


nal detém a produção e a gestão da grande maioria dos negócios. Em
uma economia de livre comércio, há a desnacionalização de grandes
grupos industriais, os quais são vendidos para investidores estrangei-
ros, menos comprometidos com políticas sociais que os investidores
nacionais.

 Preservação dos valores e da cultura local – a história, a religião e a


tradição são mantidas e preservadas, em detrimento do livre comér-
cio, que propaga práticas exógenas e muitas vezes conflitantes com a
cultura local, inclusive a cultura empresarial local de gestão e o tipo de
sistema jurídico.

 Menor pressão por desigualdades sociais – não se pode dizer que


em uma economia protegida não haja desigualdade social, mas a ten-
dência é uma melhor distribuição de renda. Em economias em que se
pratica o livre comércio, a geração de riqueza não é acompanhada de
cláusulas sociais capazes de garantir um melhor nível de desenvolvi-
mento e renda para todos.

 Preservação da soberania do país – a soberania é um conceito das


relações internacionais que se refere à capacidade de um país de deci-
dir por si só, questões relacionadas aos assuntos internos de um país,
como moeda, regime de taxas, controle de terras e outros. O livre co-
mércio contribui para o enfraquecimento da soberania, porque o país
acaba por aceitar situações que favoreçam grandes grupos industriais
ou investidores estrangeiros, os quais praticam formas de pressão efe-
tivas para garantir seus interesses.

Podemos verificar que os argumentos favoráveis ao protecionismo são os


desfavoráveis ao livre comércio. Por exemplo, se a grande vantagem do pro-
tecionismo é a geração de empregos, essa é a principal desvantagem do livre
comércio. Em um cenário de alta competição, empregos podem ser gerados
no país concorrente, e desempregos no próprio país, quando houver impor-
tação de mercadorias de maior qualidade ou mais baratas, por exemplo.

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De maneira análoga, a mesma lógica serve para identificar a desvanta-


gem do protecionismo, que é justamente a maior vantagem do livre comér-
cio: a variedade de produtos ofertados. No livre comércio, a concorrência é
ampla e a variedade de produtos ofertados é imensa, o que é positivo para
o consumidor, que tem maior poder de escolha. Em uma economia que pra-
tica o protecionismo, a oferta de produtos é restrita, porque a competição é
desestimulada em um cenário de baixo número de empresas.

É importante destacar que, em essência, nenhuma economia pratica ex-


clusivamente o livre comércio ou o protecionismo. Essas orientações variam
de tempos em tempos, e de governo para governo, algumas vezes de forma
cíclica (vários governos liberais sucessivos podem provocar um alto índice
de desemprego, o que faz com que sejam sucedidos por vários governos
protecionistas) ou pendular (um governo de orientação liberal, outro de
orientação conservadora-protecionista).

Em um país cujo governo assume a posição de protecionismo, a pressão


pode ser para que, nos próximas eleições, seja eleito um candidato mais li-
beral, e vice-versa. Mesmo nos Estados Unidos, em que orientação para o
livre comércio é uma orientação vencedora, já arraigada na sociedade, em
época de crise internacional foram praticadas várias medidas protecionistas,
com o objetivo de proteger o emprego nacional. Em uma situação de crise
econômica, é mais importante proteger o emprego que garantir variedade
de produtos para os consumidores.

Características do comércio internacional


Os economistas liberais do final da Segunda Guerra Mundial passaram
a difundir a ideia de que o comércio internacional proporciona desenvol-
vimento. O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e atualmente a OMC
defendem essa afirmação.

Essa afirmação se confirma quando um país passa a exportar bens e ser-


viços com competitividade, o que acaba atraindo capital para o país expor-
tador. No entanto, se um país não tiver condições de competir em igualdade
com outros países, o comércio internacional provocará o aumento das im-
portações e poderá agravar a necessidade de geração de emprego e renda
para uma determinada economia.

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Política comercial

O comércio internacional proporciona desenvolvimento quando:

 permite o acesso a fontes de matérias-primas que um país não possui;

 estimula a atração de investimentos relacionados ao comércio. Por


exemplo, o Brasil como uma base de exportação de produtos para
América Latina. Outro exemplo nesse sentido foram os Investimentos
Diretos Externos (IDE) que o México atraiu dos Estados Unidos para se
tornar base de exportação para os próprios Estados Unidos;

 pode proporcionar a geração de emprego e aumento da renda, com


os pedidos oriundos de clientes de outros países;

 protege a economia de produtos concorrentes de itens sensíveis, ou


que apresentam maior dificuldade de competição em uma economia
aberta. Proteger setores que possuem sensibilidades é uma forma de
garantir o desenvolvimento, não pelo comércio, mas pela proteção ao
comércio;

 provoca ganhos de eficiência produtiva, tecnológica e ganhos de esca-


la, amortizando investimentos mais rapidamente com o aumento das
vendas;

 permite a internacionalização da cadeia de suprimentos. A gestão das


cadeias de suprimentos envolve os processos de fornecimento e distri-
buição desde matérias-primas a produtos acabados, dos fornecedores
até o cliente final, passando por centros de distribuição, alfândega de
saída e de entrada, entrepostos aduaneiros e outros. É um processo
que deve garantir o cumprimento de prazos e qualidade nas condi-
ções esperadas pelos clientes. Também envolve um grande fluxo de
informações, que mantém a cadeia integrada. Empresas que fazem
comércio exterior podem ajudar a internacionalizar, inclusive, seus
fornecedores internos. Por exemplo, um fornecedor nacional de lan-
ternas para automóveis de uma grande indústria automotiva, também
poderá ser o fornecedor do mesmo item para outras plantas, em ou-
tros países, como forma de ganhos de escala e redução de custos para
todos os parceiros;

 pode contribuir para o equilíbrio no balanço de pagamentos, que re-


gistra as contas nacionais (entradas e saídas de divisas do país);

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 contribui para a previsibilidade de ações governamentais, bem como


com um sistema legal capaz de oferecer garantias para as partes. Os
acordos da OMC contribuem para um ambiente pacífico e de maior
respeito, bem como a ampla gama de outros acordos assinados no
âmbito do direito internacional;

 estimula investimento em infraestrutura física, como estradas, aero-


portos, portos e áreas contíguas, de forma a permitir o fluxo e o trânsi-
to de mercadorias com maior eficiência, segurança e rapidez.

Ampliando seus conhecimentos

Como a Tiffany foi parar em Botswana


(O’CONNELL, 2009)

Há muito tempo que as clássicas caixinhas azuis da Tiffany & Co. abrigam
alguns dos diamantes mais caros do mundo. Agora, um número crescente
delas contém pedras lapidadas por alguns dos artesãos menos experientes
do setor.

Numa fábrica sem janelas nesta vila africana, a Tiffany está ensinando mais
de 80 trabalhadores a transformar diamantes brutos em gemas para os anéis
de noivado da marca. Recentemente, enquanto novatos pressionavam dia-
mantes do tamanho de ervilhas contra lâminas giratórias, um executivo da
Tiffany em visita descobriu um problema.

“Dá para ver as linhas de polimento!”, disse Mark Hanna, diretor da divisão
de diamantes da Tiffany baseado na Antuérpia, na Bélgica. “Os diamantes da
Tiffany não podem ter marcas de polimento.”

Esse é um dos riscos enfrentados pela varejista nova-iorquina enquanto


tenta se transformar numa produtora de diamantes em meio a uma década
de expansão e colapso do setor. A Tiffany decidiu que, para preservar e ex-
pandir seu negócio de US$2,9 bilhões por ano, ela precisa desta fábrica – com
seus altos custos, baixa produtividade e operários que fizeram dois dias de
greve este mês.

A Tiffany é um exemplo extremo de uma mudança no setor que começou


durante o último boom de produtos de luxo. Como a maioria dos varejistas de

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diamantes, a Tiffany sempre comprou a maioria de seus diamantes já lapida-


dos e polidos de intermediários. Mas como as vendas mundiais de diaman-
tes explodiram no início da década, a Tiffany e outros passaram a temer que
teriam de disputar uma oferta cada vez menor.

Então a Tiffany começou a se aventurar rumo a um segmento que ela


evitou durante boa parte de seus 172 anos – comprar as gemas brutas, lapidar
e polir seus próprios diamantes. “Decidimos dar um passo para trás” na cadeia
de suprimento, diz o diretor-presidente, Michael Kowalski.

A varejista investiu em operadoras de minas e, em 2002, começou a abrir


instalações de lapidação e polimento no Canadá, Bélgica, África do Sul e
Vietnã. Nos últimos dois anos ela comprou fábricas desse tipo na China e em
Maurício. A divisão da Tiffany fundada em 2002 para administrar essas fábri-
cas, chamada Laurelton Diamonds, agora emprega 1 100 pessoas, ou 14% do
total de funcionários da empresa. Ela vai fornecer mais de 50% dos diamantes
da Tiffany este ano – 40% a mais que no ano passado. Em 2003, não forneceu
nenhum.

Outras empresas fizeram apostas semelhantes. A varejista Graff Diamonds


International, de capital fechado, controla uma atacadista e polidora de dia-
mantes com instalações da Antuérpia a Nova York e Botswana. Os fornecedo-
res também fizeram incursões na seara dos varejistas. A gigante da mineração
De Beers Group opera lojas em sociedade com a LVMH Moët Hennessy Louis
Vuitton S.A. A mineradora canadense Aber Diamond adquiriu o controle da
varejista americana Harry Winston em 2004.

Alguns analistas do setor consideram arriscado administrar operações que


vão da mineração e acabamento ao varejo e marketing de luxo. “São tipos de
atividades totalmente diferentes – e é preciso ter muita expertise, perícia e
infraestrutura para ser realmente competitivo” em cada uma dessas áreas, diz
Chaim Even-Zohar, diretor da Tacy Ltd., uma consultoria do setor sediada em
Telavive.

Algumas empresas podem perder economias que resultam da competição


nessas áreas especializadas, acrescenta Even-Zohar, e podem se arriscar a usar
partes da cadeia de suprimento para subsidiar outras. “A integração vertical
soa maravilhosa de uma perspectiva de promoção e marketing. Mas muitas
vezes não faz sentido do ponto de vista econômico.”

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O risco é ainda maior agora que a escassez de diamantes deu lugar a uma
queda na demanda. Calcula-se que o mercado varejista mundial de diaman-
tes vá encolher 16% este ano, para US$65 bilhões. Cerca de 900 joalherias es-
pecializadas devem fechar as portas nos EUA este ano, depois de 1 500 no
ano passado. Os gigantes do setor se entrincheiraram: a Signet Jewelers Ltd.,
matriz das varejistas Kay Jewelers e Sterling Jewelers, parou recentemente de
comprar gemas brutas e terceirizar o polimento na Índia, como fazia desde
2005. Um porta-voz disse que o programa ficou em ponto de equilíbrio.

A Tiffany também tem sentido a pressão. Seu estoque subiu para US$1,5
bilhão este ano, ante US$1 bilhão no início de 2005. Pela primeira vez na me-
mória recente, afirma a Tiffany, ela baixou os preços de diamantes. Os anéis de
noivado que vende nos EUA têm saído por 10% menos que no ano passado.
Em geral, a empresa prevê declínio acima de 15% nas vendas das lojas ameri-
canas abertas há mais de um ano.

A Tiffany admite sua falta de experiência em mineração. Embora tenha lu-


crado bem com a venda de uma fatia de 40% na proprietária de uma mina
canadense, em 2004, ela divulgou recentemente baixa contábil de US$12,4
milhões num pequeno projeto de mineração em Serra Leoa. Ela também deu
baixa num empréstimo de uns US$44 milhões para um ex-fornecedor cuja
mina fechou. “Acho melhor deixarmos a mineração para as mineradoras”, disse
o diretor financeiro, James Fernandez.

Mas a Tiffany garante que sua estratégia de lapidação e polimento das


gemas é sólida. Num mercado menos aquecido, afirma a empresa, ela pode
congelar as compras de fornecedores externos. Quando a demanda voltar,
haverá estoques baratos garantidos. “Houve muita gente no setor achando
que estávamos cometendo uma loucura”, diz Kowalski, mas as operações de
lapidação e polimento “ultrapassaram nossas expectativas”.

Se há um elo fraco na cadeia mundial de suprimento de diamantes da Ti-


ffany, é a unidade de polimento em Botswana. Um olhar para esse recanto
do mundo dos diamantes mostra os altos custos, logística difícil e problemas
trabalhistas que a Tiffany está disposta a aguentar para manter sua oferta de
diamantes.

Os executivos da Tiffany fizeram a primeira viagem de reconhecimen-


to à capital de Botswana, Gaborone, em 2004. “Precisamos mesmo ter
presença em Botswana?”, lembra-se Hanna de ter perguntado na época.

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“Concluímos que ‘Sim, mas ainda não sabemos direito como’”.

Em 2006, a Tiffany adquiriu o controle de uma das 16 firmas internacionais


autorizadas pelo governo a construir unidades de polimento no país, a Rand
Diamonds. A Rand abriu uma fábrica em meio às concessionárias de carros
usados e quartéis de Mogoditshane, um antigo ponto de venda de gado na
periferia da capital.

Quando a unidade finalmente abriu as portas, no início de 2007, os empre-


gados nativos trabalhavam com diamantes marrons baratos, supervisionados
por lapidadores experientes trazidos da Índia e de Maurício em contratos
temporários.

Há tensão na fábrica. Os nativos e os gerentes, cujos nomes foram forne-


cidos por um sócio da fábrica, disseram em entrevistas que os supervisores
estrangeiros fazem trabalhos demais, atrasando o desenvolvimento dos tra-
balhadores nativos.

Os operários enviaram aos diretores da fábrica, em 7 de outubro, uma carta


com várias reclamações, à qual o Wall Street Journal teve acesso. Assinando
como “a equipe local”, eles se queixaram de não receber aumentos por desem-
penho, ter um ambiente de trabalho que “é como uma prisão”, e de terem sido
ameaçados por um gerente de produção da Bélgica descrito como “corrupto,
racista, vulgar, abusivo, sádico” e “sem profissionalismo”.

No dia seguinte, todos os operários nativos exceto cinco se reuniram na


recepção da fábrica, se recusando a trabalhar até que o diretor-geral aten-
desse às reivindicações, segundo o gerente de recursos humanos da fábri-
ca, Meshack Lejuta. O diretor pediu que Lejuta falasse com os operários. A
paralisação acabou no meio do dia seguinte, diz Lejuta, quando ele avisou
aos compatriotas que eles poderiam perder o emprego porque a greve era
ilegal.

A Tiffany afirmou que os operários expressaram suas preocupações como


parte de uma iniciativa de sindicalização. Ela informou que pretende solucio-
nar as queixas com um representante sindical, incluindo “quaisquer tensões,
erroneamente caracterizadas como racistas, que possam ter surgido porque
trabalhadores experientes de outras nações africanas e da Ásia foram contra-
tados para treinamento”.

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Atividades de aplicação
1. Com relação às orientações econômicas que um país pode assumir de-
vido à questão cultural, assinale a correta.

a) A orientação mais individual é comum nos países da Ásia.

b) A orientação mais coletivista é comum nas Américas.

c) A orientação individual é uma característica de economias libe-


rais.

d) A orientação liberal é uma característica de economias que prati-


cam mais o protecionismo econômico.

2. Explique as diferenças substanciais entre economia planificada e eco-


nomia de mercado.

3. Sobre as características do comércio internacional, assinale a correta.

a) Estimula a concorrência com distribuição igualitária de renda.

b) É capaz de gerar desenvolvimento para todos os países da mesma


forma.

c) Pode causar desequilíbrios econômicos e sociais.

d) Contribui para a redução da competição e inovação.

Referências
O´CONNELL, Vanessa. Como a Tiffany foi parar em Botswana. 2009. Valor Econô-
mico, The Wall Street Journal Americas, 29 out. 2009, p. B 11

WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business. New
Jersey: Pearson, 2008.

Gabarito
1. C

2. Alguns dos elementos abaixo podem ser identificados como diferen-

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ças entre estas orientações econômicas:

– na economia planificada as decisões de investimentos são determina-


das pelo Estado; na economia de mercado, pelos agentes econômi-
cos.

– na economia planificada o índice de preços é determinado pelo Esta-


do; na economia de mercado, pela livre concorrência.

– na economia planificada, o comércio internacional não é um fator pri-


mordial, a menos que seja útil para prover suprimentos que não haja
em quantidade suficiente internamente; na economia de mercado, o
comércio internacional é fundamental para estimular a concorrência,
aumentar os lucros e aumentar a eficiência econômica.

– na economia planificada, há várias restrições econômicas e muitas


regras na economia; na economia de mercado, a liberdade é um dos
valores mais caros.

3. C

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Instituições internacionais
promotoras e reguladoras
do comércio internacional

Cristiano Morini

O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e


a Organização Mundial do Comércio (OMC)
O final da Segunda Guerra Mundial levou grande parte da Europa Oci-
dental e Japão à iminência do colapso econômico, político e social. A devas-
tação pós-guerra ameaçava a própria estabilidade do sistema financeiro e
comercial mundial.

Por esse motivo, em 1944, líderes de países do ocidente reuniram-se na


Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, com o objetivo de criar
um ambiente de maior cooperação na área econômica internacional e de
criar um ambiente favorável à recuperação econômica.

Assim, em consequência da conjuntura daquela época, em que os Esta-


dos buscavam se unir (por intermédio de uma organização internacional)
para juntos atingirem objetivos comuns, adicionados à necessidade de se
criar um ambiente internacional estável e seguro, que garantisse a durabi-
lidade da paz mundial no período pós Segunda Guerra Mundial, os Estados
ocidentais agiram conjuntamente e criaram as chamadas instituições de
Bretton Woods.

O acordo de Bretton Woods, como ficou conhecido, foi um acordo assi-


nado no ano de 1944, por 44 países em um hotel em New Hamsphire, nos
Estados Unidos da América (EUA). Esse acordo previa o estabelecimento 1
Organizações Interna-
cionais são associações
de um novo sistema monetário e financeiro internacional, sustentado por voluntárias de Estados
que podem ser definidas
três grandes colunas, ou três importantes organizações internacionais1: FMI como uma sociedade
entre Estados, constituída
(Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional de Reconstru- por meio de um Tratado,
com a finalidade de buscar
ção e Desenvolvimento) e o GATT (sigla em inglês de Acordo Geral Sobre interesses comuns e uma
permanente cooperação
Tarifas e Comércio). entre seus membros (SEI-
TENFUS, 2008).

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Instituições internacionais promotoras e reguladoras do comércio internacional

O FMI, criado em 1944, surgiu com o objetivo de monitorar as políticas


econômicas dos países membros, oferecer financiamento para equilibrar
2
Balança de pagamentos a balança de pagamentos2 de países deficitários, proporcionar um sistema
é o registro contábil das
transações financeiras dos
residentes em um país
multilateral de comércio e pagamentos e impedir as práticas de deprecia-
com o exterior. Registra
entradas e saídas de ca-
ção competitivas que tinham gerado tanta instabilidade no período entre
pitais, nas diversas contas
nacionais, como balança
guerras.
comercial, balança de
serviços, transferências
unilaterais e balança de Criado no mesmo ano, o BIRD, também conhecido como Banco Mun-
capitais.
dial, ficou incumbido de financiar a reconstrução dos países destruídos pela
guerra, incentivando os mesmos a desenvolverem políticas de crescimento
de longo prazo. Hoje em dia o Banco Mundial atua em financiamento a pro-
jetos que propiciem desenvolvimento para os países solicitantes.

O GATT, terceiro pilar de sustentação do novo sistema monetário e finan-


ceiro internacional, só viria a ser criado em 1947, três anos depois do acordo
de Bretton Woods. Mas, segundo Srinivasan (1998), as origens do GATT se
deram já em 1945 num convite feito pelos EUA a outros quinze países (in-
cluindo o Brasil), de se realizar um encontro para negociar a redução de tari-
fas e outros tipos de barreiras que constrangiam o comércio na época, convi-
te este conhecido como “Propósitos para a Expansão do Mundo Comercial e
do Emprego”. A partir de então, as negociações em busca das reduções tari-
fárias, iniciadas por influência dos EUA, continuaram a ser realizadas durante
certo tempo, até resultar na assinatura do GATT por 23 países, em 1947.

Diferentemente das outras duas instituições do tripé (FMI e BIRD), o GATT


não foi criado com o caráter de uma instituição internacional, mas sim como
um compromisso firmado entre os países signatários, acordo que deveria se
materializar no âmbito da OIC (Organização Internacional do Comércio), a
ser criada na Conferência de Havana.

Como resultado da Conferência de Havana, realizada no mesmo ano do


surgimento do GATT, criou-se a Carta da OIC, em 1948. Entretanto, “a não
ratificação pelo congresso norte-americano da Carta de Havana condenou a
OIC à morte prematura” (GONÇALVES et al., 1998, p. 57). Sendo assim, o GATT,
que até então era um acordo provisório, passou a ser a base do sistema de
comércio internacional por quase meio século seguinte.

Durante a vigência do GATT como entidade maior de regulação e pro-


moção do comércio internacional (1947-1994), ocorreram oito rodadas de
negociações multilaterais de comércio. Durante as quatro primeiras reuniões

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Instituições internacionais promotoras e reguladoras do comércio internacional

(Genebra [1947], Aneccy [1948], Torquay [1950/1951], e Genebra novamen-


te [1955/1956]), a principal pauta das negociações foi a redução das barrei-
ras tarifárias impostas ao comércio entre os países membros do acordo e a
adesão de novos membros no tratado.

Até a quinta rodada, as nações em desenvolvimento tiveram pouco ou


nenhum peso nas negociações, por sua escassa representação numérica
(sete países ibero-americanos; cinco asiáticos; e quatro africanos, em 1960).
Entre as razões dessa situação, estão a de que o processo de descolonização
africana apenas começava e de que diversos países ibero-americanos ainda
estavam vinculados ao padrão comercial herdado do período colonial, o que
dificultava sua inserção competitiva no comércio internacional.

A penúltima reunião foi a Rodada Tóquio (1973/1979), na qual participa-


ram cerca de 102 países, que juntos representavam por volta de 90% do co-
mércio mundial. Teve a particularidade de produzir vários “códigos”, parale-
los ao Acordo Geral do GATT, com o intuito de regularizar questões específicas
como: os subsídios e medidas compensatórias, antidumping3 revisado, aero- 3
Dumping é o termo
utilizado para designar a
naves civis, produtos lácteos, carne bovina e outros. exportação de um produ-
to com preço inferior ao
preço de venda do mesmo
A Rodada Uruguai foi a oitava rodada de negociações, a mais ambiciosa, produto no mercado in-
terno do pais exportador.
complexa e também a mais longa de todas no âmbito do GATT, pois se ini- Antidumping são medidas
que tem por objetivo neu-
ciou em 1986, sendo concluída apenas no ano de 1994. Com uma agenda tralizar danos causados
pelas importações objetos
repleta de inovações nas negociações, a Rodada Uruguai tratou de temas de dumping.

nunca antes abordados a fundo pelo acordo, como é o caso dos temas li-
gados à liberalização dos serviços, agricultura, propriedade intelectual e in-
vestimentos. Anteriormente, esses temas eram comercializados com regras
especiais para cada país, preservando assim o protecionismo ao comércio.

Ao final desta última rodada, os ministros do comércio acordaram sobre a


necessidade de se criar um novo GATT, onde os resultados das negociações,
até aquele momento, seriam a base para a assinatura de um novo tratado.

Assim, em 15 de abril de 1994, é estabelecida a OMC. A nova organiza-


ção, tal como o GATT, era baseada em dois princípios: reciprocidade e não
discriminação. E, de acordo com seu estatuto, essa organização tinha como
objetivo ser “o quadro institucional comum para a condução das relações
comerciais entre seus membros nos assuntos relacionados com os acordos
e instrumentos legais conexos incluídos nos Anexos ao presente Acordo”
(GONÇALVES et al., 1998, p. 62).

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Esses instrumentos legais conexos eram os Acordos Comerciais multila-


terais, firmados sob a égide do GATT de 1994, documento que continha as
conclusões da Rodada Uruguai. Finalmente o objetivo preconizado durante
a Conferência de Havana havia sido alcançado: a criação de uma organização
internacional para tratar de assuntos de comércio, não mais OIC, mas OMC,
para se diferenciar daquela que não teve apoio à época.

O cenário internacional prévio à época da criação da OMC não era está-


vel. Durante a década de 1980, o mundo vinha assistindo a uma crescente
“guerra comercial” entre as principais potências econômicas, envolvendo
EUA, países da União Europeia (UE), asiáticos e da América do Sul. Com o
acirramento das disputas e para gerir os conflitos de interesses, uma série
de mecanismos artificiais (como a administração do comércio por acordos
de exportação entre países, o controle do comércio por cotas ou licenças e
outros), foram criados à margem das regras de comércio então estabelecidas
dentro do antigo GATT.

Foi dentro do contexto de acirramento dos conflitos internacionais na


área comercial, derivados dos processos de globalização e de interdepen-
dência das economias, que surgiu a necessidade de se iniciar, em 1986, uma
nova e ampla negociação multilateral entre os países, sobre o comércio ex-
terno. Alguns temas como investimentos, propriedade intelectual e serviços,
de grande interesse dos países desenvolvidos, passaram a ser discutidos,
diferentemente das negociações anteriores, em que apenas se abordavam
temas relacionados à redução de barreiras tarifárias e não tarifárias. Entre-
tanto, os interesses dos países em desenvolvimento ficaram centrados em
temas mais tradicionais, como acesso a mercados de bens, agricultura, têx-
teis e regras operacionais que coibissem atitudes consideradas protecionis-
tas por parte dos países desenvolvidos, contra importações dos países em
desenvolvimento (THORSTENSEN, 2001).

Após o fim da Rodada Uruguai e a consolidação da OMC como uma orga-


nização internacional, as rodadas de negociações passaram a ser realizadas
no âmbito da OMC. Várias foram as rodadas realizadas nesse âmbito. Como
as rodadas ou reuniões têm a participação dos ministros das Relações Exte-
riores ou chanceleres, as reuniões também ficam conhecidas como reuni-
ões ministeriais. Algumas delas: Cingapura (1996), Genebra (1998), Seattle
(1999), Doha (2001), Cancún (2003) e Genebra (2009).

As rodadas ou reuniões ministeriais foram idealizadas para acontecerem

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a cada dois anos, mas desde o grande impasse de negociação da Rodada


Doha (2001), o calendário não pode ser cumprido adequadamente.

Doha foi a última rodada de negociação em que novos temas foram colo-
cados à mesa. Novos temas só podem ser incluídos quando ocorreram acor-
dos com os temas colocados à mesa. A Rodada Doha tinha um horizonte
temporal para encerrar as negociações em 2005. Mas, como ainda não foram
produzidos acordos dos temas de Doha, esta rodada continua tecnicamente
em aberto. Cancún (2003) e Hong Kong (2005) foram reuniões de desdobra-
mentos de Doha. Em 2007 não houve reunião, porque os temas não estavam
avançando nos bastidores, com as equipes técnicas que preparam as nego-
ciações dos ministros de Estado. Em 2009, o secretário geral da OMC fez um
apelo para a conclusão da rodada Doha, na reunião de Genebra (2009), mas
a crise internacional deixou os países ainda mais protecionistas e arredios a
discutir temas de liberalização comercial.

O primeiro encontro ministerial, realizado após a criação da OMC, foi a


Reunião Ministerial de Cingapura, no ano de 1996. O fortalecimento da OMC
como foro para negociações, a contínua liberalização do comércio dentro
de um sistema baseado em regras, a revisão e a avaliação multilateral das
políticas de comércio eram algum dos principais objetivos dessa primeira
reunião dos ministros.

Os compromissos assumidos pelos ministros durante esse encontro


foram: construir um sistema de comércio justo, equitativo e aberto, basea-
do em regras; liberalização progressiva e eliminação das tarifas e barreiras
não tarifárias no comércio de bens e serviços; rejeição de todas as formas de
protecionismo; eliminação de tratamento discriminatório nas relações inter-
nacionais de comércio; integração dos países em desenvolvimento e menos
desenvolvidos e economias em transição dentro do sistema multilateral; e, o
maior nível possível de transparência.

Ficou acordado durante o encontro de Cingapura que os países membros


da OMC não mediriam esforços para tentar tornar o sistema multilateral um
promotor do crescimento e do desenvolvimento sustentável. A declaração
que foi produzida ao final da reunião reconheceu, também, o papel crescen-
te dos acordos regionais de comércio nas relações comerciais, bem como
o seu crescimento em número, abrangência e cobertura. Concordou ainda
que tais iniciativas podem promover maior liberalização e podem ajudar
os países em desenvolvimento a se integrarem no sistema internacional de
comércio.
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Acordaram em incluir também, em negociações futuras, os temas: agri-


4
TRIPs: Sigla em inglês cultura, serviços, TRIPs4, solução de controvérsias, antidumping, valoração
– Trade-Related Aspects
Intellectual Property Rights (determinação de valores mínimos e referenciais ao comércio, para evitar
– em referência ao acordo
sobre os aspectos do di-
reito da propriedade in-
práticas de subfaturamento), licenças de importação, inspeção pré-embar-
telectual relacionados ao
comércio.
que, regras de origem, salvaguardas, subsídios, barreiras técnicas, têxteis,
5
TRIMs5 e o mecanismo de revisão de políticas comerciais.
TRIMs: sigla em inglês –
Trade-Related Investment
Measures – que significa Foi declarado que a implementação completa e fiel do acordo da OMC
medidas de investimento
relacionadas ao comércio. é imperativa para a credibilidade do sistema multilateral de comércio e in-
dispensável para se manter o momento de expansão global do comércio,
promovendo a criação do emprego e aumentando os padrões de vida.

A terceira reunião ministerial da OMC realizou-se em dezembro de 1999,


na cidade de Seattle, EUA, reunindo cerca de 135 países. O tão esperado en-
contro de Seattle, mais conhecido como Rodada do Milênio foi um verdadei-
ro fracasso perante o sistema multilateral de comércio.

Os principais motivos da decepção da Rodada do Milênio foram a distân-


cia entre as posições dos principais participantes, sobretudo em relação à
prática de subsídios agrícolas (praticados fortemente por EUA, UE, Japão) e
o ambiente político desfavorável, com grupos de pressão (sociais e partidos
políticos) divulgando as consequências nefastas da globalização, como nível
de desemprego e baixos padrões de vida, que ameaçavam normas sociais e
valores culturais da época (LOPEZ; GAMA, 2007).

Um dos pontos mais importantes para se entender o impasse de Seattle


deve ser buscado no conflito de interesses entre os membros da OMC sobre
a identificação dos setores econômicos a serem liberalizados, bem como nas
percepções distintas sobre a negociação de cada um desses temas, à luz dos
interesses nacionais.

Quando a OMC foi criada, em 1995, alguns membros defendiam que, a


partir de então, novas rodadas não seriam mais necessárias, uma vez que a
organização estaria capacitada para analisar todos os temas de seu interesse
e iniciar negociações de acordos sobre eles, desde que houvesse consenso
entre seus membros. Tais temas incluíram setores ainda não concluídos pela
Rodada Uruguai, como agricultura e serviços.

No entanto, prevaleceu a ideia de lançamentos de novas rodadas. Os


diversos membros da OMC passaram a discutir as questões com o enten-
dimento de que os custos e os benefícios de cada tema negociado seriam

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balanceados, e que ao final do processo, todos poderiam obter ganhos equi-


valentes nas atividades do comércio exterior.

Durante a quarta reunião ministerial, realizada em Doha, Qatar, os 142


então países-membros da OMC lançaram a chamada “Agenda Doha para o
Desenvolvimento”.

Tal agenda abordava os seguintes temas:

 Agricultura – foi estabelecido compromisso de negociação para eli-


minação progressiva das barreiras ao comércio agrícola, assunto de
particular importância para o Brasil. Os EUA praticam picos tarifários6 6
Pico tarifário é uma
terminologia técnica utili-
sobre produtos agrícolas. A média dos impostos de importação de en- zada na área para indicar
tarifas muito mais eleva-
trada nos EUA é mais baixa que a média dos impostos de importação das que o normal (a média
praticada). Por exemplo,
de entrada no Brasil, mas os EUA possuem picos de tarifas que chegam uma tarifa de 80% é um
exemplo de pico tarifário.
a mais de 200% de alíquota, justamente sobre produtos agrícolas de
interesse do Brasil (como açúcar, fumo e suco de laranja). O Brasil não
pratica picos tarifários e o imposto de importação mais alto praticado
pelo Brasil é para automóveis e produtos têxteis (alíquota de 35%).

 Comércio e meio ambiente – o tema foi proposto pela UE, implicando


na implementação de mecanismos que vinculem as regras de comér-
cio internacional com as obrigações previstas nos acordos ambientais.
A preocupação dos países em desenvolvimento é que venha a se cons-
tituir em nova barreira ao comércio.

 Têxteis – discussão de mecanismos que acelerem a redução das bar-


reiras impostas ao comércio do setor nos mercados mais desenvolvi-
dos. Desde 2005, o comércio de produtos têxteis está isento de cotas,
sendo um comércio apenas regulado por tarifas de importação e não
outras restrições ou barreiras ao livre comércio.

 Antidumping – definição de regras mais claras sobre o assunto.

O encontro ministerial de Cancún, em 2003, foi considerado pela maioria


dos países participantes da rodada como um segundo fracasso no âmbito
das negociações da OMC. O impasse durante as negociações foi tão grande,
que os chefes de estados ali presentes temiam que a Ministerial de Cancún ti-
vesse resultados piores do que os obtidos durante a Conferência de Seattle.

O conflito de interesses foi o principal motivo para tal desentendimen-


to entre os países membros da OMC. Enquanto alguns membros como EUA

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e os países da UE priorizavam a liberalização de certos setores como o de


serviços, compras governamentais e direito da propriedade intelectual, por
exemplo, os outros membros, formados principalmente por países em de-
senvolvimento, chamado de G20 (grupo de vinte países em desenvolvimen-
to), priorizavam um maior acesso a mercados e liberalização no comércio
agrícola.

A partir de Cancún, a OMC não conseguiu fazer avançar acordos de li-


beralização comercial. As posições dos países negociadores se tornaram in-
conciliáveis, de modo a entravar por completo as negociações. Não houve
mais assuntos em comum e as posições não chegaram a uma intersecção de
interesses favorável à assinatura de um novo acordo.

Desde 2003, a OMC teve sucesso apenas na resolução de casos de con-


trovérsias entre os países, o que pode parecer pouco, mas é uma forma im-
portante de salvaguardar os interesses dos países menos desenvolvidos no
sistema multilateral de comércio.

Objetivos dos acordos GATT-OMC


Os principais objetivos do GATT-OMC são (World Trade Organization,
2010):

 promover uma maior liberalização do comércio entre os países, garan-


tindo a elevação dos padrões de vida dos povos, assegurando o pleno
emprego e um crescimento amplo e estável do volume de renda real
e demanda efetiva;

 expansão da produção e do comércio de bens e serviços;

 proteção e manutenção do meio ambiente;

 otimização do uso dos recursos naturais, em níveis considerados sus-


tentáveis;

 concentrar esforços para garantir que os países em desenvolvimento


participem efetivamente do comércio internacional;

 celebrar acordos destinados a obter, com base na reciprocidade e na


vantagem mútua, a redução substancial das tarifas e dos demais obs-
táculos que constrangem o comércio entre os membros do Acordo,
assim como a eliminação do tratamento discriminatório nas relações
comerciais internacionais.
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As funções da OMC
A OMC possui basicamente cinco funções:

 servir de foro para as negociações multilaterais entre os países-mem-


bros do Acordo;

 administrar o entendimento relativo às normas e procedimentos que


regulam as soluções de controvérsias, ou seja, o “tribunal” da OMC;

 trabalhar em conjunto com as demais instituições internacionais que


fazem parte do fomento de políticas econômicas em nível mundial
(FMI, BIRD, OMA, OMPI e outras);

 administrar o Mecanismo de Revisão de Políticas Comerciais (TPRM,


Trade Policy Review Mechanism), com o objetivo de fazer revisões pe-
riódicas das políticas de comércio exterior de todos os membros da
OMC, apontando os temas que estão em desacordo com as regras ne-
gociadas;

 facilitar a implantação e a administração dos temas dos acordos da Ro-


dada Uruguai.

Estrutura da OMC
e seu processo de tomada de decisão
A OMC, como organização internacional, possui a seguinte estrutura:

 Conferência Ministerial – órgão máximo da organização, formado


por representantes de todos os países-membros (Ministros das Rela-
ções Exteriores e/ou Ministros do Comércio Exterior). Tem o compro-
misso de se reunir no mínimo a cada dois anos. Esse órgão tem a com-
petência para tomar decisões sobre todos os assuntos no âmbito de
qualquer um dos Acordos Multilaterais.

 Conselho Geral – é o corpo diretor da OMC, composto por repre-


sentantes de todos os países-membros, normalmente integrado por
embaixadores ou delegados que são representantes permanentes em
Genebra, sede da OMC. O Conselho Geral costuma se reunir sempre
que é necessário.

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 Órgão de Solução de Controvérsias – é um órgão que busca facili-


tar a solução de conflitos na área do comércio. Possui um sistema de
regras e procedimentos para impedir totalmente controvérsias sobre
as regras estabelecidas pelo Acordo. Em suma, esse órgão, assume o
papel de “tribunal” da OMC para problemas comerciais internacionais.

 Órgão de Revisão de Política Comercial – esse órgão tem a função


de confrontar a legislação e a prática comercial dos membros da orga-
nização com as regras estabelecidas nos acordos, além de oferecer aos
demais membros uma visão geral da política seguida por cada país,
dentro do princípio da transparência. É integrado pelos delegados das
missões dos membros em Genebra ou por membros dos governos dos
países-membros.

 Conselho para Bens, Serviços e Propriedade Intelectual – foram


criados três conselhos para acompanhar a implementação das regras
negociadas em cada uma das áreas que resultaram da Rodada Uru-
guai. São eles: conselho sobre o comércio de bens, conselho sobre o
comércio de serviços e o conselho sobre os direitos de propriedade
intelectual relacionados ao comércio. Os integrantes desses conselhos
são os delegados dos membros residentes em Genebra, ou membros
dos governos enviados especialmente para as reuniões.

 Comitês – por meio de 30 comitês, subordinados aos Conselhos, que


se desenvolvem as atividades da OMC. Seus integrantes são normal-
mente os delegados residentes em Genebra e técnicos dos ministérios
enviados especialmente para as reuniões de cada grupo de trabalho.

 Secretariado – a OMC recebe o apoio de um Secretariado, que está


sob chefia de um Diretor Geral, nomeado pela Conferência Ministerial,
e vários vice-diretores. É composto por um corpo técnico-burocrático
de aproximadamente 500 funcionários.

O processo de tomada de decisão no âmbito da OMC segue os mesmos


padrões que antes eram adotados no GATT, ou seja, as decisões são tomadas
por consenso entre os membros presentes. Isso significa que as decisões são
lentas, porque precisam do aceite de todos, sem exceção. Além disso, cada
país possui um voto, o que acaba por tornar a OMC uma instituição demo-
crática, desse ponto de vista. Somente no órgão de solução de controvérsias
que a tomada de decisão é diferente, não sendo necessário o consenso, mas
a maioria simples dos juízes.

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Temas e acordos da OMC


Entre a ampla gama de temas relacionados ao comércio que a OMC regu-
lamenta, destacam-se alguns:

Propriedade intelectual
Este tema relaciona-se aos direitos de marcas, patentes, direitos de cópia
(copyright, relacionados a direitos de reprodução de áudio, vídeo e material
impresso) e o tema da indicação geográfica. A proteção de marcas, paten-
tes e copyright são os mais conhecidos. São protegidos e têm o objetivo de
coibir a pirataria e exigir o pagamento de direitos de reprodução (royalties).
O tema da indicação geográfica está relacionado aos fatores naturais e hu-
manos que atribuem características únicas a um produto. Exemplos de pro-
dutos que têm a indicação geográfica protegida: Champagne, Tequila e o
queijo Roquefort. Para se produzir tequila, por exemplo, que é originária do
agave, só é permitido dentro de uma região protegida no centro do México,
sob condições de clima, solo, plantio e cultivo controlados por um Conselho
de Acreditação. Isso significa que plantar agave, esperar dez anos para extrair
sua pinha, passar por um processo de fermentação e dupla destilação, até se
obter a tequila, só pode e deve ocorrer dentro de determinadas condições
de controle e sob regras definidas. O objetivo da indicação geográfica é fazer
com que o cliente, ao consumir o produto, encontre exatamente o gosto e as
condições esperadas para o consumo.

Defesa comercial
Este tema relaciona-se especificamente aos temas de dumping, subsídios
e salvaguarda comercial. Dumping é uma medida ilegal, de distorção do
preço do produto para baixo, com o fim de ganhar mercado da concorrência.
É uma prática ilegal inclusive no comércio interno, porque provoca distorção
do fluxo comercial de maneira não natural, mas provocada por medidas de
alteração artificial de preços para baixo, o que é ilegal. O remédio para essa
prática ilegal é o direito antidumping, que geralmente ocorre com a aplica-
ção de sobretaxa à alíquota de importação, compensando o preço baixo do
produto por uma tarifa maior.

A prática de antidumping é comum no Brasil, e deve ser solicitada pelo


interessado (empresa ou setor prejudicado por dumping), à Secretaria de

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Comércio Exterior (Secex), Departamento de Defesa Comercial (Decom),


cujo formulário está disponível diretamente no site do Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio Exterior (www.mdic.gov.br).

Outro tema abordado são os subsídios. Subsídios são formas de ajuda do


governo para entidades privadas, o que faz com que a entidade privada possa
vender seu produto de forma mais barata, porque teve parte dos custos de
produção bancados pelo governo. Esse recurso é comum para o setor agríco-
la na UE, que destina vultosos recursos do orçamento para compensar as ine-
ficiências de seus agricultores frente à concorrência internacional. O acordo
sobre subsídios é permitido até um determinado nível. Quando o subsídio
destinado a uma entidade privada acaba distorcendo o preço da mercado-
ria no comércio internacional, como aconteceu com o caso do algodão dos
7
O caso do algodão ini-
ciou-se em 2006, quando
EUA7, a medida é considerada ilegal, cujo remédio deve ser a suspensão dos
o Brasil questionou, na
OMC, os subsídios agríco- subsídios não permitidos e a adoção de medidas compensatórias, como a
las americanos fornecidos
aos produtos de algodão. sobretaxação da entrada do produto em determinado mercado, tornando-o
Esses subsídios distorciam
o preço do algodão não mais caro e compensando a ajuda recebida do governo.
apenas no mercado ame-
ricano, mas também no
mercado internacional, Já as salvaguardas comerciais são uma medida de proteção à indústria
atrapalhando os produto-
res de algodão brasileiros. nacional não especificamente contra uma medida ilegal praticada pela con-
O Brasil conseguiu provar
na OMC que os subsídios corrência, mas porque um setor produtivo não está tendo condições de
eram fornecidos de forma
ilegal. competir frente ao concorrente estrangeiro, a ponto de levar a uma grave
ameaça ao setor, que está na iminência de quebrar. Esse foi o caso no Brasil
do setor de brinquedos e têxteis, no final dos anos 1990 e início dos anos
2000. Esses setores estavam com o parque industrial ultrapassado e obso-
leto, com pouco investimento e inovação. Com a abertura da economia em
1990, e a adoção do real em 1994, as importações cresceram exponencial-
mente, afetando seriamente estes setores a ponto de levar ao fechamento
de centenas de fábricas no Brasil, desempregando milhares de pessoas. Uma
vez comprovada a grave ameaça ao setor, o Brasil adotou a elevação da alí-
quota de importação para criar condições dos setores nacionais reagirem.
Essa elevação, contudo, é transitória e descendente ano após ano, até que,
em cinco anos, volte à tarifa praticada no início da salvaguarda. É um perío-
do de adaptação às empresas para que elas tenham fôlego para competir. A
salvaguarda só pode ser repetida uma vez mais, ou seja, pode ser aplicada
por até 10 anos. No gráfico 1, pode ser visualizado no eixo da abscissa (x),
os anos 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999. No eixo das ordenadas (y), pode ser
visualizada a alíquota do imposto de importação, que é elevado em 1995 e
gradualmente reduzido até o nível original, em 1999.

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Salvaguardas comerciais
35

Cristiano Morini.
30
25 Em 1999, voltou-se a pra-
20 ticar o mesmo imposto
de importação de 1995
15 (antes da salvaguarda),
10 no exemplo, de 10%.
5
0
1995

1996

1997

1998

1999
Gráfico 1 – Exemplo de mecanismo de aplicação de salvaguarda comercial.

Agricultura
O tema agrícola é o tema mais controverso em negociação nos acordos
da OMC. Isso porque a OMC é um organização que promove e tenta esti-
mular o livre comércio, mas, no que tange ao tema “agricultura”, os países
desenvolvidos tentam bloquear o avanço do acordo por conta de não contar
com competitividade suficiente frente aos produtos agrícolas dos países em
desenvolvimento. Isso significa que, efetivamente, o comércio internacional
poderia estimular o desenvolvimento de países que ainda não galgaram
determinados níveis de renda e consumo, mas esse tema é entravado na
agenda internacional porque não interessa às grandes economias. EUA, UE
e Japão são países com relativa ou baixa competitividade no comércio agrí-
cola, tornando-os protecionistas frente aos produtos agrícolas originários de
Brasil, Argentina, Caribe e Índia, por exemplo. O setor agrícola é o que mais
recebe subsídios nos países desenvolvidos. Esses subsídios são tantos que,
em alguns casos, são questionados por outros países no órgão de solução de
controvérsias, por avançarem sobre os limites permitidos. Além do objetivo
de redução dos subsídios e liberalização no comércio desses produtos, os
países em desenvolvimento trabalham para a redução do apoio domésti-
co dos países ricos aos seus agricultores, redução de barreiras não tarifárias
(como questões sanitárias e fitossanitárias) e redução dos picos tarifários.

Serviços
O tema serviços envolve principalmente os seguintes assuntos: telecomu-
nicações, serviços financeiros, serviços profissionais, turismo e transporte.
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Serviço é um bem intangível, fundamental ao comércio internacional. O


acordo envolve a tentativa de liberalização do comércio de serviços, em um
acordo que recebeu a sigla GATS (em inglês, acordo geral sobre comércio de
serviços). Os países mais desenvolvidos têm maior interesse em liberalizar o
comércio nesse assunto, porque são detentores que grandes companhias na
área. Brasil e outros países em desenvolvimento não são favoráveis ao livre
comércio nessa área.

Redução de tarifas
O tema “corte de impostos de importação” foi a principal preocupação
do GATT desde o seu início. As principais rodadas do GATT trataram deste
assunto, conforme já explicado. O corte tarifário foi o principal instrumento
que proporcionou o aumento do comércio internacional nos anos que se
seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial.

Barreiras técnicas ao comércio


Este tema está relacionado às medidas que os governos adotam para
garantir qualidade e segurança ao consumidor. As normas podem e devem
determinar os padrões mínimos de qualidade para entrada em determina-
do mercado. Na UE, por exemplo, existe um selo de qualidade e respeito a
normas técnicas, especificado como CE (Comunidade Europeia). Se houver
o cumprimento de determinada norma, há a emissão do selo. No Brasil, o
órgão responsável por regulamentar a questão é o INMETRO, que define
Normas Brasileiras (NBRs). A grande questão é quando as normas técnicas
se transformam em barreiras não tarifárias para conter o ingresso de merca-
dorias em um determinado país. Por exemplo, exigir o cumprimento de uma
norma técnica para um brinquedo importado é mais do que justo, porque
tem o objetivo de proteger a saúde da criança. Mas colocar exigências que
só permitam o ingresso de bonecas loiras de olhos azuis, já passa a ser uma
barreira não tarifária, com objetivo protecionista, porque não há alegação
técnica que justifique a proibição ou o controle de entrada de bonecas mo-
renas. Os acordos internacionais assinados no âmbito da OMC estabele-
cem regras para embalagem, rotulagem e procedimentos de avaliação de
conformidade.

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Solução de controvérsias
O tema da solução de controvérsias especifica que, se um país-membro
da OMC se sentir prejudicado por alguma prática desleal ou ilegal de comér-
cio, que descumpra os acordos estabelecidos no âmbito da OMC, poderá
iniciar um processo de controvérsia. A OMC trabalhará para a sua solução,
daí a expressão solução de controvérsia.

Desde 1995, quando foram iniciados os trabalhos do Órgão de Solução


de Controvérsias (OSC) da OMC, por volta de 20 a 30 casos por ano foram
analisados, totalizando mais de 400 casos até hoje. Esses casos são o que
conhecemos hoje por “guerras comerciais”. Isso significa que os países têm
utilizado o OSC como uma forma de tribunal para analisar e decidir, por meio
de recomendações, que um país está ou não em desacordo com a norma
estabelecida. O OSC da OMC tem desempenhado um bom papel, sendo a
grande contribuição hoje em dia da OMC, desde que a Rodada Doha não
avançou. Conforme comentamos, as rodadas do sistema multilateral estão
entravadas pela falta de acordo desde 2003, quando em Doha os países-
membros colocaram à mesa temas comerciais para negociação.

Não fosse o significativo papel desempenhado pelo OSC, a OMC estaria


inoperante e poderia ser considerada uma organização internacional fadada
ao seu fim iminente. Apesar do papel atuante do OSC como um tribunal para
a solução de conflitos comerciais internacionais, há críticas à atuação do
mesmo, tais como: o processo de solução de controvérsias não está previsto
no orçamento da OMC, o que significa que cada vez que o tribunal é aciona-
do, os Estados-parte da causa deverão arcar com seus custos, o que torna o
sistema acessível somente aos Estados que têm condições de bancá-lo.

Ao analisar a lista de casos por países, diretamente no site da OMC


(www.wto.org), pode-se perceber que o Brasil é um dos países em desenvol-
vimento de maior participação, mas há vários países que sequer acionaram
o mecanismo desde 1995, como é o caso de países africanos como Costa do
Marfim, Chade, Quênia e outros; outra crítica que se faz ao OSC é que não há
transparência na escolha dos árbitros.

Há uma extensa lista de árbitros indicados pelos países-membros, mas é


recorrente a repetição de alguns nomes e a não atuação de muitos outros.

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É importante destacar que o principal caso que o Brasil participou até hoje
foi sobre o comércio de aeronaves civis, para o qual o Brasil recebeu alegação
de fornecimento de subsídios não permitidos ao setor. Esse caso foi iniciado
pelo Canadá, como reclamante, em 1996, alegando que o Brasil estava forne-
cendo subsídios não permitidos à Embraer, o que estava tirando mercado da
companhia produtora de aviões canadense, a Bombardier. Em 1997, o Brasil
iniciou outro caso, agora como reclamante, alegando que o Canadá também
possuía um mecanismo não permitido de financiamento que beneficiava
a empresa Bombardier. Assim, dois casos semelhantes tramitaram no OSC,
um Canadá versus Brasil e outro Brasil versus Canadá. Ambos os reclaman-
tes tiveram ganhos de causa em suas questões, o que fez com que Brasil e
Canadá, ao final de quase oito anos de disputas comerciais, estabelecessem
um acordo político, para que não houvesse perdas aos dois.

Quando um país ganha uma controvérsia na OMC, ele tem direito a reta-
liar o outro país.

A retaliação é uma ação contrária aos interesses do outro país, até o valor
que proporcionou a perda comercial ao país inicial. Isso porque, no direito
internacional público, onde se insere as normas da OMC, não há aplicação
de multas pecuniárias (em dinheiro) ou assemelhadas, o que faz com que as
ações de retaliação sejam autorizadas pela OMC, até o limite do montante fi-
nanceiro que deu origem à causa. Por exemplo, com o “auxílio” que a Embra-
er recebeu do governo brasileiro (alegado como subsídios não permitidos
pelo Canadá), proporcionou uma perda comercial à Bombardier no valor de
“X”. Este “X” é o valor autorizado e revisto pela OMC para que o Canadá prati-
que retaliações ao Brasil, que pode materializada no fato de deixar de com-
prar carne do Brasil, para comprar da Argentina ou da Austrália, por exemplo.
Esse é um exemplo de que as decisões da OMC repercutem no dia a dia das
empresas no Brasil, mesmo que elas não tenham acionado o mecanismo de
solução de controvérsias da OMC, porque o produtor de carne não tem ne-
nhuma relação com o produtor de aviões, mas tem o seu negócio afetado
pela prática de retaliação de outro país.

Dessa maneira, é possível constatar a importância do devido entendi-


mento do funcionamento de organizações internacionais, como a OMC, pois
há repercussões nos negócios e nas estratégias das empresas nacionais.

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Ampliando seus conhecimentos

Antidumping como mecanismo


legítimo de defesa comercial
(BATTILANI; C; BUENO, 2009, p. E2)

Durante muito tempo, alguns países buscaram proteger suas economias,


principalmente em tempos de crise, com o aumento de tributos incidentes
sobre as importações. Foi assim após a grande crise de 1929. Não obstante,
desde a criação do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT)
em 1947, sucedido pelo GATT 1994, momento da constituição da Organização
Mundial do Comércio (OMC), as medidas protecionistas têm se diversificado
cada vez mais.

Hoje, medidas burocráticas relativas às importações, tais quais os sistemas


de licenciamento não automático de importação, preços de referência, bar-
reiras técnicas, barreiras sanitárias e fitossanitárias, têm sido aplicadas cons-
tantemente por muitos países. Apesar de normalmente essas medidas terem
justificativas na proteção do meio ambiente, na saúde pública ou outro aspec-
to de interesse nacional, na realidade, elas muitas vezes se apresentam como
medidas meramente protecionistas, restritivas ao comércio internacional,
quer por se apresentarem excessivas, quer por estarem fundamentadas em
legislações complexas que dificultam o cumprimento por parte de quem está
sujeito à aplicação das mesmas. Estas situações tendem a levar a um aumento
das disputas no âmbito da OMC.

Seguindo essa tendência, as medidas antidumping, em tempos de crise,


têm sido utilizadas como uma alternativa legítima para a defesa da indústria
doméstica que sofre com exportações a preços de dumping, ou seja, quando
as importações de um determinado produto chegam a um determinado país
com preços inferiores àqueles praticados no mercado interno do país expor-
tador. As medidas antidumping se materializam, após a condução de uma in-
vestigação, com aplicação de uma sobretaxa ao imposto de importação. Esta
poderá ser aplicada por meio de uma alíquota específica ou ad valorem sobre
o valor do produto importado.

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Sua frequente utilização deve-se aos seguintes fatores: (i) serem permiti-
das pelas normas da OMC, desde que cumpridos os requisitos aplicáveis; (ii)
caracterizarem-se pela natureza privada, tendo em vista que é uma empresa
ou um conjunto de empresas que solicitará(ão) a abertura de uma investiga-
ção; e (iii) seletividade, uma vez que a investigação deve especificar e se limi-
tar ao produto e ao país que está praticando o dumping. Essas características
restringem o seu alcance como uma medida protecionista e, sendo assim, mi-
nimizam possível resistência por parte dos países que sofrem com a aplicação
dessas medidas.

Nesse cenário, vale relembrar que a crise russa culminou com o início de
366 investigações em 2001, e, desde então, é possível observar uma queda no
número de investigações. Entretanto, o número de investigações, em 2008,
voltou a crescer, aumentou 27% em relação ao ano anterior, atingindo 207
novas investigações. Este comportamento revela uma tendência, pois, segun-
do o último relatório da OMC, foram estimadas a abertura de 77 novas inves-
tigações antidumping até 19 de junho de 2009.

No segundo semestre de 2008 foram iniciadas 120 investigações antidum-


ping, com destaque para os seguintes setores: metal de base (43 investiga-
ções), químico (22), têxtil (19), plásticos (14) e máquinas e equipamentos elé-
tricos (7). Naquele semestre, o Brasil figurou como o segundo maior usuário
de medidas antidumping, com 16 novas investigações iniciadas, 8 a mais que
no segundo semestre de 2007 e apenas atrás da Índia, com 42 novas investi-
gações iniciadas. Destaque também para a Argentina que ficou em 3.º lugar,
com 11 investigações iniciadas.

Atualmente, 26 investigações antidumping estão sendo conduzidas no


Brasil. Produtos originários da: China, Estados Unidos da América, Índia, Ban-
gladesh, Argentina, Chile, Áustria, Equador, Peru, Indonésia, Tailândia e Taiwan,
poderão ser afetados pela aplicação de direitos antidumping. Essas investiga-
ções abrangem uma ampla gama de produtos, tais como: calçados, pneus,
resinas de polipropileno, fios de viscose, cobertores, resina de PET, canetas
esferográficas, entre outros.

Por outro lado, o grande destaque entre os países que sofrem com aplica-
ções de medidas antidumping é a China que, entre 1995 e 2008, sofreu com a
aplicação de 479 medidas, sendo que o Brasil aplicou 38 destas. Esta tendên-
cia não deve parar por aí, uma vez que a forte política de subsídio às exporta-

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ções chinesas, reforçada pelo anúncio de redução de imposto de exportação


de cerca de 600 artigos, bem como a queda na demanda por produtos nos
Estados Unidos da América e na União Europeia deverá deslocar as expor-
tações chinesas para os países em desenvolvimento com grandes mercados
consumidores, como o Brasil.

A China também ganha destaque como alvo das medidas antidumping por
ser autorizada pelas regras da OMC e ser tratada como uma “economia não
predominantemente de mercado” por diversos países até o ano de 2016. Isso
significa dizer que o país que aplica uma medida antidumping poderá descon-
siderar os preços praticados no mercado interno chinês, elegendo um terceiro
país, para realizar a comparação deste preço com o preço exportação que o
determinado produto chega ao país investigador.

Como vimos, o Brasil aparece como um importante aplicador dessas medi-


das. Entretanto, é importante notar que também temos sido alvo dessas me-
didas. Nesse aspecto, vale destacar que a Argentina, somente este ano, iniciou
cinco investigações antidumping que incluem o Brasil como país alvo. Estas
investigações poderão afetar os setores têxtil, de talheres, de eletroportáteis
(no segmento de aparelhos multiprocessadores de alimentos), de tintas para
impressão e de compressores de gás.

Apesar dos altos custos e complexidade, muitos países optam por contes-
tar as medidas antidumping a eles aplicadas diante da OMC. Desde o estabele-
cimento da OMC, 60 disputas foram originárias de investigações antidumping.
Essas disputas surgem em função das divergências quanto ao cumprimento
adequado das regras estipuladas no Acordo Antidumping, em especial às que
dizem respeito ao devido processo legal e à discricionariedade que o referido
acordo confere às autoridades no procedimento investigatório.

Portanto, as medidas antidumping têm ganhado destaque entre os países


aplicadores, principalmente em momentos de recessão, pelas suas próprias
características que delimitam o seu alcance como uma medida de defesa co-
mercial legítima, ao contrário de outras medidas que usualmente estão sendo
adotadas. Tratando-se de medida de defesa comercial legítima, estas inves-
tigações antidumping devem observar as normas aplicáveis, com destaque
para as relativas à publicidade, transparência, contraditório e devido processo
legal.

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Atividades de aplicação
1. Com relação aos objetivos do GATT-OMC, assinale a correta.

a) Promover acordos bilaterais entre os países, como forma de au-


mentar o volume do comércio internacional.

b) Estabelecer um sistema internacional de comércio previsível,


transparente e não discriminatório.

c) Criar normas de proteção a mercadorias originárias de países ára-


bes.

d) Estabelecer uma cooperação entre as alfândegas de todo o mun-


do.

2. Explique sobre o cenário de surgimento do GATT como um acordo in-


ternacional de comércio.

3. Sobre as reuniões ou rodadas de negociação do GATT-OMC, assinale a


correta.

a) Acontecem sempre a cada dois anos, independentemente de


qualquer evento econômico ou político.

b) Discutem temas de relevância para o combate ao terrorismo inter-


nacional.

c) Grande parte dessas reuniões ocorreram em Genebra, na Suíça,


que passou a ser a cidade sede da OMC.

d) As rodadas acontecem com os presidentes da república ou chefes


de Estado dos países-membros, daí o nome de reuniões ministe-
riais.

Referências
BATTILANI; C; BUENO, F. Antidumping como mecanismo legítimo de defesa. Valor
Econômico, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2009, p. E2.

GONÇALVES, R; BAUMANN, R; CANUTO, C; PRADO, L. A Nova Economia Interna-


cional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

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LOPEZ, J. M. C; GAMA, M. Comércio Exterior Competitivo. São Paulo: Aduanei-


ras, 2007.

SEITENFUS, R. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre: Livraria


do Advogado, 2008.

SRINIVASAN, T. N. Developing Countries and The Multilateral Trading System:


from the GATT to the Uruguay Round and the future. Boulder (Colorado)/Oxford:
West View Press, 1998.

THORTENSEN, V. OMC – Organização Mundial do Comércio: as regras do co-


mércio internacional e a nova rodada de negociações multilaterais. São Paulo:
Aduaneiras, 2001.

Gabarito
1. B

2. No final da Segunda Guerra Mundial, as relações comerciais e finan-


ceiras internacionais estavam comprometidas pela instabilidade. As-
sim, líderes de países do chamado primeiro mundo reuniram-se em
um hotel em New Hampshire, nos EUA, chamado de Bretton Woods,
para discutir os novos rumos da economia internacional. Nessa reu-
nião, entre outros desdobramentos, surgiu o pensamento da criação
de um tripé de proteção ao grande capitalista, qual seja: O FMI (Fundo
Monetário Internacional), o Banco Mundial e a OIC (Organização Inter-
nacional do Comércio), que não logrou êxito, e dentro de suas restri-
ções, foi capaz de criar um acordo geral de tarifas e comércio (GATT).
Assim, é importante destacar que o grande capital precisava de um
conjunto de proteção para garantir seu interesse em um mundo que
estava para se globalizar econômica e financeiramente. O GATT foi um
dos mecanismos criados para garantir segurança, estabilidade e previ-
sibilidade nas relações de troca.

3. C

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Integração econômica regional

Cristiano Morini

O tema da integração econômica regional é tão importante quanto o


tema da globalização no estudo dos negócios internacionais. Os processos
de integração internacional orientam também as estratégias internacionais
das empresas.

Um processo de integração não é igual ao outro. Há processos que en-


volvem maior integração de temas e comprometimento entre as partes. Há
processos iniciais e avançados de integração, mas todos os estágios de in-
tegração visam o aumento das trocas comerciais, à cooperação política (em
certo grau), ao aumento das oportunidades de emprego, ao aumento dos
lucros do empresariado, a uma forma de galgar maior desenvolvimento para
o país. Os processos de integração também podem ser entendidos como
uma câmara de preparação para a globalização. A integração com poucos
países é uma forma de preparação para uma competição mais ampla, que é
a competição internacional propriamente dita.

Nesse ponto de vista, a Organização Mundial do Comércio (OMC), que


defende os acordos multilaterais de comércio, não é contrária aos acordos
regionais, porque entende que contribuem para uma etapa intermediária
rumo à globalização total e à multilateralização dos acordos. Mais de 300
acordos regionais e bilaterais foram informados à OMC e estão atualmente
em vigor. A OMC administra a teia de acordos internacionais de comércio.
Dessa forma, a integração regional pode ser vista como uma miniglobali-
zação, em que as reduções tarifárias e a facilitação do acesso aos mercados
contribuem para maiores trocas comerciais. O processo de integração regio-
nal também pode provocar uma nova divisão internacional do trabalho, em
que empregos e investimentos são realocados para economias mais abertas
e competitivas.

Em termos de sustentação teórica que analisa os motivos dos países se


integrarem, segundo a perspectiva neofuncionalista1 da teoria das relações 1
O neofuncionalismo
explica a integração entre
internacionais, a decisão de proceder com a integração, ou se opor a ela, os países, de uma ótica de
ganhos múltiplos.
depende das expectativas de ganhos ou perdas conduzidas pelos maio-

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Integração econômica regional

res grupos. Essa perspectiva assevera que a integração internacional busca


o bem estar por meio de medidas que devem considerar fatores sociais e
esferas públicas e privadas. Além disso, o cenário internacional modificado
pelo processo de integração pode tanto contribuir para a confirmação dos
objetivos iniciais da integração, quanto levar à reavaliação dos resultados e
propósitos e conduzir o processo à desintegração (KAUPPI; VIOTTI, 1993).

É interessante destacar que a existência de um bloco em uma região não


impede a existência de outros blocos, em fases ou estágios de integração
diferenciada. Muitas vezes um bloco se extingue para o surgimento de outro,
com propósitos mais avançados em termos de integração, fenômeno que é
chamado de building blocs (construindo blocos). Para entender a tipologia
dos acordos de integração regional, destacam-se os seus estágios ou níveis
de integração.

Níveis de integração econômica regional


O economista húngaro Bela Balassa (1928-1991) traçou grandes contri-
buições para a teoria da integração econômica regional. Entre suas contri-
buições, há uma tipologia de formas de integração econômica amplamente
adotada nos dias de hoje. É importante destacar que, de um tipo para outro,
a integração se torna mais aguda, ou seja, a etapa iniciante é a da área de
preferências tarifárias até a etapa mais avançada, representada pela união
econômica e monetária. As características existentes em uma etapa vão
se acumulando nas demais, além de serem incluídas novas características.
Também é útil destacar que essa tipologia define condições básicas dos es-
tágios ou condições puras. No dia a dia dos acordos regionais, há subtipos
e desdobramentos dessas condições mínimas, mas sem deixar de se enqua-
drar nestas formas que serão apresentadas (BALASSA, 1961, apud SIMÕES;
MORINI, 2006).

 Área de preferências tarifárias – etapa inicial de integração econô-


mica, consiste na adoção recíproca entre dois ou mais países, de níveis
tarifários preferenciais. Ou seja: as tarifas incidentes sobre o comércio
entre os países-membros do grupo são inferiores às tarifas cobradas
de países não membros. Entre os países-membros do acordo há tarifas
preferenciais, também chamadas de margens de preferência (ou redu-
ções tarifárias). Na prática, o comércio de uma mercadoria de um país

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Integração econômica regional

“A” para um país “B”, membros do acordo, fará com que haja redução
da alíquota do imposto de importação (II). Exemplos de áreas de pre-
ferências tarifárias são os acordos celebrados no âmbito da Associação
Latino Americana de Integração (ALADI). Grande parte dos acordos de
integração celebrados em todo o mundo enquadra-se como “de pre-
ferências tarifárias”.

 Área de livre comércio – a segunda etapa de integração é a área de


livre comércio (também chamada de FTA, em inglês), que consiste na
isenção do imposto de importação de grande número de mercadorias
no comércio entre os países-membros. Segundo as normas estabele-
cidas pelo General Agreement on Tariffs and Trade2 (GATT), um acordo 2
Acordo Geral de Tarifas e
Comércio.
é considerado área de livre comércio quando abarca ao menos 80%
dos bens comercializados entre os membros do grupo. É fundamental
definir a origem de uma mercadoria, para que o importador possa se
beneficiar da isenção do imposto de importação, evitando-se a práti-
ca de operações triangulares, em que se envia uma mercadoria para
um país para, a partir dele, exportar para outro. Exemplos de FTA em
funcionamento é o Acordo de Livre Comércio da América do Norte
(NAFTA), que envolve Estados Unidos, Canadá e México, e o Acordo de
Livre Comércio da América Central (CAFTA-DR), que envolve países da
América Central continental, República Dominicana e Estados Unidos.

 União aduaneira – corresponde a uma etapa de integração econômi-


ca na qual os países-membros de uma área de livre comércio adotam
uma mesma tarifa às importações provenientes de terceiros países,
chamada de Tarifa Externa Comum (TEC). Quando isso ocorre, esta-
belece-se uma união aduaneira. Isso significa dizer que se o país Alfa
importar uma mercadoria de um terceiro país e pagar uma alíquota
“X” do imposto de importação, o país Beta, também membro do acor-
do, pagará a mesma alíquota “X”. A aplicação da TEC faz com que seja
constituído um território aduaneiro comum entre países-membros, si-
tuação que torna necessário o estabelecimento de disciplinas comuns
em matéria alfandegária e, em última análise, a adoção de políticas
comerciais comuns. O Mercosul é um caso de união aduaneira latino-
-americana. Em uma união aduaneira, os países devem negociar como
uma entidade única com outros organismos internacionais.

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 Mercado comum – outro estágio de integração é o chamado Mercado


Comum. A integração da União Europeia (UE) é o principal exemplo.
Desde 1992, a UE atingiu o estágio de mercado comum. A maior dife-
rença entre o mercado comum e a união aduaneira é que esta última
regula apenas a livre circulação de mercadorias, enquanto o mercado
comum prevê também a livre circulação dos demais fatores produti-
vos: capital e trabalho. Da liberalização desses fatores decorre, por um
lado, a livre circulação de pessoas (trabalhadores) e, por outro, a livre
circulação de capitais (investimentos e remessas de lucro). No que se
refere ao capital, a condição de mercado comum supõe a adoção de
critérios regionais que evitem restrições nos movimentos de capital
em função de critérios de nacionalidade. O mercado comum pressu-
põe a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais (defini-
ção de metas comuns em matéria de juros, gastos públicos, inflação e
outros).

 União econômica e monetária – a união econômica e monetária


(UEM) constitui uma das etapas mais avançadas e complexas de um
processo de integração. Ela está associada, em primeiro lugar, à exis-
tência de uma moeda única e uma política comum em matéria mo-
netária conduzida por um Banco Central comum. A grande diferença
em relação ao mercado comum está, além da moeda única, na exis-
tência de uma política macroeconômica, não mais “coordenada”, mas
“comum”. O único exemplo é a União Europeia. Em janeiro de 1999 é
lançado o euro, que estabelece uma paridade fixa entre as moedas
nacionais e o valor referencial do euro, tornando-se, desde então até
hoje, a moeda única de 16 dos 27 países membros da UE. No estágio
de união econômica, os países membros concedem parte da sobera-
nia nacional a uma entidade supranacional.

 União política – este é um estágio de integração econômica que avan-


ça para a integração política. Canadá e Estados Unidos são exemplos
de uniões políticas, e seria o estágio máximo de uma integração entre
nações (WILD; WILD; HAN, 2008). A figura 1 ilustra a tipologia.

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(WILD; WILD; HAN; 2008, p. 221. Adaptado.)


Sentido do aumento da
integração. O tamanho do
Área balão representa o número de
acordos estabelecidos em todo
de preferência o mundo (há mais acordos
tarifária de preferências tarifárias que Área
uniões políticas).
de livre
comércio

União
aduaneira
União
política

União
econômica
Mercado
comum

Figura 1 – Níveis da integração econômica regional.

Integração na Europa
O processo de integração na Europa, do século XX para cá, é o de maior
sucesso. Motivados pela necessidade de superação das mazelas da guerra (a
Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939-1944), da necessidade de cres-
cimento econômico e exploração conjunta de uma região rica em carvão
(Alsácia-Lorena), França e Alemanha adicionaram esforços integracionistas
em uma região em que Bélgica, Holanda e Luxemburgo (Benelux, em inglês)
já haviam se integrado, em 1948. Os Estados Unidos incentivaram a integra-
ção na região, pois era uma forma de conter o avanço comunista da Europa
do Leste.

Em 1951, foi assinado o Tratado de Paris, em que os países do Benelux,


além de França, Alemanha e Itália, decidiram pela criação da Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Já nessa época eliminaram impostos

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Integração econômica regional

de importação do comércio entre eles e definiram a criação da Comunidade


Econômica Europeia e a Comissão Europeia de Energia Atômica (Euratom),
em 1957, com os Tratados de Roma. Era o embrião do que conhecemos hoje
como Comunidade Europeia (ou União Europeia).

Um simples acordo de livre comércio entre Bélgica, Holanda e Luxembur-


go, evoluiu para a formação de uma união aduaneira em 1957, e para a fusão
das Comunidades (Econômica, CECA e Euratom) na Comunidade Europeia
(CE) em 1967. Constituiu um mercado comum em 1992, e chegou a uma
união econômica e monetária, em 1999. Mais de cinquenta anos de história
de integração de países europeus.

O processo de alargamento (ou introdução de novos membros) foi im-


pressionante: de três para vinte e sete países. Em 1973, Inglaterra, Escócia,
País de Gales, Irlanda do Norte, Irlanda e Dinamarca se tornaram membros.
Em 1981, a Grécia aderiu ao acordo. Em 1986, Portugal e Espanha. Em 1986,
já eram 12 membros (considerando Inglaterra, Escócia, País de Gales e Ir-
landa do Norte como Reino Unido), quando se definiu a bandeira da União
Europeia, representada por doze estrelas douradas em círculo, com o fundo
azul. Em 1994, mais três países se tornaram membros: Áustria, Suécia e Fin-
lândia. Em 2004, mais dez países: as pequenas ilhas de Chipre e Malta; Repú-
blica Checa; Hungria; as três repúblicas separatistas do oeste da União Sovi-
ética, Estônia, Letônia e Lituânia; Polônia; Eslováquia e Eslovênia. Em 2007, o
último alargamento: Romênia e Bulgária. Há outros países candidatos para o
3
Dados de 2010. acesso ao acordo, como Croácia e Turquia3.

A integração europeia é formada por uma extensa gama de tratados inter-


nacionais que consolidaram a integração tal como se conhece hoje, dentre
eles destacam-se o Tratado de Fusão, o Tratado de Maastricht, Tratado de
Amsterdã, Tratado de Nice e Tratado de Lisboa. A integração europeia ex-
pressa nesses tratados englobou assuntos como política de defesa, política
externa, cidadania europeia, democracia, cooperação bancária/monetária,
estabelecimento de uma política de defesa comum e cooperação em vários
outros níveis que extrapolam os objetivos exclusivamente econômicos.

O grande diferencial da integração europeia é o fato de ter atingido o


nível de união econômica e monetária. Nenhum outro processo de integra-
ção econômica em curso atingiu este tão elevado nível. A moeda única (o
euro) foi estudada entre 1979 e 1999, quando entrou em vigor. As moedas

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nacionais dos países que aderiram ao euro foram substituídas e não se en-
contram mais em circulação. Isso significa um avanço enorme em termos de
coordenação de política monetária, pois moedas tradicionais como o marco
alemão, florim holandês, peseta espanhola, escudo português e franco fran-
cês, por exemplo, não mais circulam.

Estabeleceu-se uma paridade fixa do valor de um euro com as moedas


nacionais de cada um dos países membros da União Econômica e Monetá-
ria. A paridade fixa significa que observando o crescimento das economias
europeias e seus desempenhos exportadores por vinte anos (1979-1999),
estabeleceu-se uma relação de cada moeda com o valor de um euro. Esse
valor é fixo e não se altera mais. Os Bancos Centrais de cada um dos países
membros estabeleceram um calendário de troca das moedas nacionais pelo
euro, conforme as paridades fixas estabelecidos no quadro 1.
Quadro 1– Taxas de conversão irrevogáveis com relação ao valor de
1 euro

(Disponível em: <www.europa.eu.int>. Acesso em: 15 jul. 2009)


Valor de um Entrada
euro em na união
Antiga moeda Abre-
País relação à Data de fixação econô-
nacional viatura
antiga moe- mica e
da nacional monetária
marco alemão DEM 1,95583 31 de Dezembro de 1998 1999
Alemanha
xelim austríaco ATS 13,7603 31 de Dezembro de 1998 1999
Áustria
franco belga BEF 40,3399 31 de Dezembro de 1998 1999
Bélgica
peseta espanhola ESP 166,386 31 de Dezembro de 1998 1999
Espanha
marco finlandês FIM 5,94573 31 de Dezembro de 1998 1999
Finlândia
franco francês FRF 6,55957 31 de Dezembro de 1998 1999
França
libra irlandesa IEP 0,787564 31 de Dezembro de 1998 1999
Irlanda
lira italiana ITL 1936,27 31 de Dezembro de 1998 1999
Itália
franco luxemburguês LUF 40,3399 31 de Dezembro de 1998 1999
Luxemburgo
florim neerlandês NLG 2,20371 31 de Dezembro de 1998 1999
Paíse Baixos
escudo português PTE 200,482 31 de Dezembro de 1998 1999
Portugal

125

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Integração econômica regional

Valor de um Entrada
euro em na união
Antiga moeda Abre-
País relação à Data de fixação econô-
nacional viatura
antiga moe- mica e
da nacional monetária
dracma grego GRD 340,750 19 de Junho de 2000 2001
Grécia
tólar esloveno SIT 239,640 11 de Julho de 2006 2007
Eslovênia
libra cipriota CYP 0,585274 11 de julho de 2007 2008
Chipre
lira maltesa MTL 0,429300 11 de Julho de 2007 2008
Malta

Para que um país já membro da UE adentre à zona do euro, é necessário


atingir alguns fatores de convergência, controlando indicadores como infla-
ção, taxa de juros, dívida pública e deficit público, cujas metas são definidas
pelo Banco Central Europeu. É importante destacar que três países, embora
tenham atingido esses indicadores, optaram por não participar do euro (até
o momento): Reino Unido, Suécia e Dinamarca. Nesses países, o acesso à
zona do euro foi negado em plebiscito popular.

Entre as vantagens que o euro proporciona, destacam-se (WHANON,


2002):

 facilita a transparência de preços, permitindo a comparação rápida e


direta entre preços, salários e produtividade, entre os diferentes países
membros da UE;

 proporciona maior estabilidade de preços;

 desaparecimento dos riscos cambiais no mercado intraeuropeu;

 proporciona agilidade nas trocas.

Dentre as desvantagens, apontam-se a renúncia dos Estados-membros


em termos de medidas de desvalorização competitiva de suas moedas, uma
vez que a moeda circulante já não é mais do Estado “A” ou “B”, mas da comuni-
dade, configurando-se como uma perda da soberania monetária (WHANON,
2002), pois os bancos centrais de cada país-membro delegaram as decisões
sobre a moeda para o Banco Central Europeu.

Outra característica fundamental da integração europeia é a existência


de instituições supranacionais, como o Banco Central Europeu, com sede em
Frankfurt, na Alemanha. O BCE não substitui o papel de cada Banco Central,

126

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Integração econômica regional

que continuam existindo, mas atua de maneira coordenada. A existência de


uma instituição supranacional pode significar que uma instituição nacional
deixou de ser a última instância recursal. No Brasil, a Constituição Federal
não permite que instituições estrangeiras decidam sobre questões internas
ao país. Na UE, há as seguintes instituições supranacionais, que dividem fun-
ções e competências distintas (NAIME, 2005):

 Tribunal de Justiça Europeu – compete deliberar por questões de


interpretação da legislação europeia. Está previsto uma coordenação
entre os tribunais nacionais e o europeu. Sua sede fica em Luxembur-
go.

 Parlamento Europeu – é o órgão de representação popular na UE.


Os deputados são eleitos pela população. Tem função legislativa e de
controle orçamentário. Os países mais populosos elegem o maior nú-
mero de delegados. As sessões plenárias acontecem em Estrasburgo,
na França.

 Comissão Europeia – é o órgão executivo. Tem a função de propor


novas leis ao Parlamento e ao Conselho da UE. Tem sede em Bruxelas,
na Bélgica.

 Conselho da União Europeia – é formado por ministros que se reú-


nem em Bruxelas. Tem função legislativa e de controle orçamentário,
juntamente com o Parlamento Europeu. Celebra acordos internacio-
nais e define a política externa do bloco.

 Conselho Europeu – é formado pelos chefes de Estado e define


diretrizes políticas gerais. A concepção de um novo tratado no orde-
namento jurídico europeu passa por esse Conselho. Não é o mesmo
que o Conselho da Europa, que é um conselho que não pertence à
estrutura da UE.

 Tribunal de Contas – tem a função de acompanhar a correta execu-


ção do orçamento. Fica em Luxemburgo.

Além da UE, a Europa também é palco do acordo chamado de EFTA (Eu-


ropean Free Trade Agreement). Alguns países não desejam fazer parte de um
mercado comum, como é o caso de Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça,
que estabeleceram “somente” uma área de livre comércio entre eles (com
isenção do imposto de importação entre os países membros).

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Integração econômica regional

Integração nas Américas


Uma primeira tentativa de integração nas Américas é datada do final
do século XIX. No entanto, as tentativas da época não tiveram êxito. Com o
avanço da integração europeia, novas tentativas de integração emergiram
nas Américas. Em 1960, o Tratado de Montevidéu estabeleceu a criação da
Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC). A tentativa dos
países Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, México, Chile, Peru, Bolívia, Co-
lômbia e Equador também não teve sucesso, a ponto de ter sido substituída
pelo Tratado de Montevidéu de 1980, com a instituição da Associação Latino
Americana e de Integração (ALADI). É importante destacar que a integração
da ALALC era contrária aos interesses dos Estados Unidos na região.

Com a ALADI, além dos países membros indicados, Cuba também aderiu.
Outros países, descontentes com o desempenho da ALALC, constituíram um
subgrupo regional andino (da Cordilheira dos Andes) e firmaram o Acordo
de Cartagena (1969), criando o Pacto Andino, mais tarde rebatizado como
Comunidade Andina (CAN), formado pelos países dos Andes, à exceção do
4
Denúncia é um termo Chile, que denunciou4 o acordo em 1976, e Argentina.
jurídico para a saída de
um país de um acordo.
Atualmente, entre a gama de acordos que foi assinado no âmbito da
ALADI, destacam-se os chamados Acordos de Complementação Econômica
(ACEs), que são do tipo “preferências tarifárias”, como:

 ACE n.° 35: Mercosul e Chile

 ACE n.° 36: Mercosul e Bolívia

 ACE n.° 39: Brasil e Peru

 ACE n.° 43: Brasil e Cuba

 ACE n.° 53: Brasil e México

 ACE n.° 54: Mercosul e México

 ACE n.° 55: Mercosul e México (regime automotivo)

 ACE n.° 58: Mercosul e Peru

 ACE n.° 59: Mercosul, Colômbia, Equador e Venezuela

 ACE n.° 62: Mercosul e Cuba

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Como exemplo de preferências tarifárias outorgadas, pode-se visualizar o


quadro 2 que exemplifica que, quanto mais desenvolvido um país da região,
menor é o desconto preferencial da entrada de produto originado deste
país em um país comprador. Isso significa que um país menos desenvolvido,
como a Bolívia, terá mais facilidade de exportar produtos para outros países
da região. Esta “facilidade” é expressa em maior Margem de Preferência (MP)
ou em maior desconto do imposto de importação do país importador. Exem-
plo: se um país Alfa (membro da ALADI) importar a mercadoria “A” da Bolívia,
o país Alfa aplicará o desconto de 24% do imposto de importação, enquanto
se mesma importação ocorrer do Brasil, o desconto será de apenas 8%. Essa
prática estimulará a compra de produtos da Bolívia, ajudando o país a se
desenvolver. Há casos em que a margem de preferência é 100%, ou seja, o
imposto de importação cai para zero.

Quadro 2 – Exemplos de margens de preferências de acordos estabe-


lecidos no âmbito da ALADI

(Disponível em: <www.aladi.org>. Adaptado.)


País beneficiário
Países de menor desen- Países de desenvolvi-
Demais países:
volvimento relativo: mento intermediário:
Colômbia, Chile, Cuba, Argentina, Brasil e
Bolívia, Paraguai
Uruguai e Venezuela México
Mercadoria A 24% 12% 8%
Mercadoria B 24% 12% 8%
Mercadoria C 34% 20% 12%
Mercadoria D 48% 28% 20%

Em 1960 também é criado o Mercado Comum Centro Americano (MCCA),


com o objetivo do estabelecimento de um mercado comum entre El Salva-
dor, Honduras, Guatemala, Nicarágua e Costa Rica. Estes passaram a adotar
uma Tarifa Externa Comum (TEC) desde 1993.

Em 1973 é formado o CARICOM (Mercado Comum da Comunidade do


Caribe), formado por países da bacia do Caribe.

Na trama de acordos na América Latina, em 31 de dezembro de 1994 entra


em vigor o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Em 2004, os membros da
CAN assinam a Declaração de Cuzco, com o intuito de criar a Unasul (União

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das Nações Sul-americanas), como objetivo de estabelecer um acordo de


livre comércio entre CAN e Mercosul (SOUZA, 2007).

Em 1995, entra em vigor o NAFTA (sigla em inglês para Acordo de Livre


Comércio da América do Norte), formado por Estados Unidos, Canadá e
México.

Em 2007, entra em vigor o CAFTA-DR (sigla em inglês para Acordo de Livre


Comércio da América Central), formado por Costa Rica, El Salvador, Nicará-
gua, Honduras, Guatemala (todos países da América Central continental),
República Dominicana (país da América Central insular, daí a sigla DR, em
inglês) e os Estados Unidos. Por volta de 50% das importações e exporta-
ções desses países da América Central são com os Estados Unidos. O acordo
do CAFTA-DR estabelece uma área de livre comércio com alíquota zero para
80% dos produtos da pauta comercial.

IESDE Brasil S. A. Adaptado.

Figura 2 – Os países membros do CAFTA.

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Mercosul
Em 1991, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai assinam o Tratado de Asun-
ción, acordo de livre comércio que objetiva atingir o nível de um mercado
comum. Desde 1985, Brasil e Argentina, que haviam acabado de sair de pe-
ríodos militares, estabelecem as bases para a cooperação bilateral comercial.
Desde então, os presidentes da Argentina (Raúl Alfonsín) e do Brasil (José
Sarney) estabeleceram uma agenda de aproximação comercial mútua, que
acabou por incluir Paraguai e Uruguai, pela dependência destes com relação
ao comércio exterior daqueles. Brasil e Argentina são os dois principais par-
ceiros de Paraguai e Uruguai, que se viram motivados a fazer parte do acordo
entre Argentina e Brasil.

A integração Brasil–Argentina foi impulsionada por três fatos principais:


a) a superação das divergências geopolíticas bilaterais; b) o retorno à pleni-
tude do regime democrático; c) a crise do sistema econômico internacional.

O acordo estabeleceu as regras de origem, cujo índice de conteúdo local


foi definido como 60%. Isso significa que, ao serem produzidas mercadorias
para serem exportadas para algum dos países membros do bloco, há a ne-
cessidade de se atingir o índice de 60% de conteúdo local para que o impor-
tador goze do benefício da isenção do imposto de importação. É necessário
destacar que por “conteúdo local” entende-se quaisquer bens ou insumos
adquiridos em quaisquer dos quatro países originais do Mercosul, podendo
ser integralizados outros 40% de países terceiros. Se se atingir o índice de
60%, o exportador providenciará a emissão de um certificado de origem, o
qual beneficiará o importador do produto, que ficará isento da alíquota do
imposto de importação de um produto originário de um país do bloco.

Entre 1994 e 1998 (etapa I do gráfico 1), o comércio entre os países do


Mercosul aumentou significativamente. Entre 1999 e 2002 (etapa II do grá-
fico), com as crises econômicas no Brasil e, principalmente, na Argentina
e devido às desvalorizações cambiais (primeiro do real e depois do peso

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argentino), o comércio sofreu um duro golpe. De 2001 a 2003 o comércio


internacional avançou pouco. De 2003 a 2005 (etapa III do gráfico), as trocas
comerciais regionais aumentaram significativamente até que a crise inter-
nacional de 2009 revertesse novamente esse movimento. A crise de 2009
atingiu duramente a economia argentina. O gráfico 1 ilustra o desempenho
das exportações dentro do bloco (intrabloco, dos países membros para os
países membros) desde 1990.
Quadro 1– Exportações intrabloco (Mercosul) e PIB dos quatro países membros
23.000

(SICA, 2006)
1.200
21.109
1.150 1.132
1.115 21.000
1.100 1.078
Etapa II Etapa III
1.050 19.982 19.000
1.000 990 17.317 990

Etapa I 17.000
950
Mercosul (bilhões de US$)

Comércio intrabloco (milhões de US$)


912
900
15.000
850 829 836
803
800 12.770 770 13.000

750
12.001 11.000
700 697

639 10.204
650 621 645 9.000
615
600
563
7.000
550

500
4.126 5.000
450

400 3.000
1.990

1.991

1.992

1.993

1.994

1.995

1.996

1.997

1.998

1.999

2.000

2.001

2.002

2.003

2.004

2.005

PIB Mercosul

Exportações intrabloco

O Mercosul não possui instituições supranacionais, como a UE. Sua estru-


tura orgânica é composta por:

 Conselho Mercado Comum (CMC) – é o órgão superior do Mercosul,


formado por ministros das relações exteriores ou ministros da econo-
mia.

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 Grupo Mercado Comum (GMC) – é o órgão executivo do Mercosul.


Negocia acordos internacionais em nome do Mercosul. Suas decisões
são tomadas por consenso entre os quatro Estados-parte.

 Comissão de Comércio do Mercosul – deve velar pela aplicação dos


instrumentos de política comercial comum.

 Comissão Parlamentar Conjunta – é um órgão consultivo. É integra-


do por representantes legislativos dos Estados-membros. Não tem ca-
ráter legislativo e seus membros não são eleitos pela população para
essa função, como na UE, em que a população escolhe diretamente os
representantes do seu país para o Parlamento Europeu.

 Foro Consultivo Econômico e Social – é um órgão consultivo da so-


ciedade civil.

 Secretaria Administrativa – órgão de apoio operacional, tem sede


em Montevidéu.

Entre os acordos produzidos internamente ao Mercosul, destacam-se os


seguintes protocolos: Brasília, Ouro Preto e Olivos. O Protocolo de Olivos
(2002) consolidou o sistema de solução de controvérsias no Mercosul, esta-
belecendo um tribunal permanente.

Desde 2006, a Venezuela está em processo de acessão ao Mercosul, tendo


registrado a denúncia ao acordo da Comunidade Andina. Os congressos dos
quatro países membros do Mercosul precisam aprovar a entrada de um novo
sócio. Como a Venezuela é presidida por um líder cuja defesa da democracia
não é evidente, há fortes tendências políticas contrárias à entrada da Vene-
zuela como membro pleno do Mercosul. A democracia é considerada condi-
ção fundamental para participar do Mercosul, assim como prevê o Tratado
de Asunción. Em 2009, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, realizou
uma alteração constitucional que garante sua permanência de forma vitalí-
cia no poder, o que tem dificultado a entrada da Venezuela no bloco.

NAFTA e ALCA
Em 1988, Estados Unidos e Canadá assinam um Tratado de Livre Comér-
cio (FTA, em inglês). O México se une depois, em 1992, quando é assinado o
acordo do NAFTA, que entra em vigor em 1994.

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Como um acordo de livre comércio, o NAFTA objetiva ser uma área de


livre trânsito de mercadorias, com isenção do imposto de importação entre
os países do bloco. Não se cogita a evolução do acordo do NAFTA em outra
forma ou tipo de integração regional. O trânsito de pessoas é bastante con-
trolado, apesar de, contrariamente aos interesses dos Estados Unidos, ter au-
mentado o fluxo migratório após a entrada em vigor do NAFTA.

O acordo do NAFTA, mesmo sendo uma área de livre comércio, extrapola


em termos de outras questões associadas. O acordo do NAFTA regulamenta
sobre diversas matérias, como investimentos, compras governamentais, sub-
5
Ocorre quando um pro-
duto é vendido abaixo do sídios, dumping5, comércio de serviços, direitos de propriedade intelectual e
preço de custo ou abaixo
das condições normais outros. O capítulo de investimentos é um dos mais controversos, dando po-
de mercado, para destruir
a concorrência. É uma deres aos investidores para não respeitar direitos de trabalhadores e direitos
prática ilegal em todo o
mundo. ambientais, ou seja, o direito econômico está acima desses outros direitos.

Com o NAFTA, o volume comercial entre os países-membros aumentou


enormemente, embora haja fortes críticas sobre o investimento estaduni-
dense no México, em cidades fronteiriças como Ciudad Juárez. As condições
de trabalho são de longas jornadas e poucos direitos, em que a geração de
empregos é contestada pelo nível de bem-estar estabelecido.

Entre outras críticas que são feitas ao NAFTA, é a transferência de fábricas


dos Estados Unidos para o México, o que faz gerar desemprego nos Estados
Unidos. Esse fenômeno aumentou a rejeição popular do acordo do CAFTA,
que foi aprovado no congresso americano pela diferença de dois votos (217
a favor e 215 contra).

O NAFTA também impulsionou a instalação de fábricas maquiladoras no


México. A maquila é uma fábrica que recebe insumos e matéria-prima do ex-
terior (com benefícios fiscais), utiliza mão de obra local barata e industrializa
algum produto tendo como destino prioritário o mercado de exportação.
Esse tipo de indústria existe no México desde 1965, quando o governo dos
Estados Unidos vislumbrou que instalar fábricas no México conteria o fluxo
migratório de entrada. Desde então, as maquilas mexicanas se instalaram
principalmente na fronteira do México com os Estados Unidos. Depois, espa-
lharam-se pelo território mexicano. O NAFTA intensificou o investimento dos
Estados Unidos em empreendimentos como essas indústrias maquiladoras
no México.

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As maquiladoras são, na maioria, dos setores de eletroeletrônicos (Canon,


Cassio, Kodak, Ericsson, Hewlett Packard, IBM, Motorola, General Eletric, Phi-
lips, Samsung, Sanyo, Sony) e automotivo (BMW, Ford, Volkswagen, Renault,
General Motors, Honda).

O acordo do NAFTA está situado acima dos direitos dos Estados que o
compõem. Nos Estados Unidos, Canadá e México, o direito internacional está
hierarquicamente acima do direito dos países. Essa é uma das principais crí-
ticas que se faz ao eventual acordo da ALCA (Área de Livre Comércio das
Américas ou FTAA, inglês), que tinha o objetivo de criar uma área de livre
comércio hemisférica, envolvendo todos os países das Américas, à exceção
de Cuba. O texto do acordo da ALCA era uma cópia do acordo do NAFTA. Isso
permitiu um fácil exercício de analogia, verificando os efeitos que o NAFTA
causou na economia mexicana e os possíveis efeitos que a ALCA causaria
nos países da América Latina, principalmente no Brasil, a grande economia
da região.

Em 1994, quando os chefes de Estado e de governo das 34 nações de-


mocráticas do hemisfério ocidental se reuniram em Miami para a histórica
Primeira Cúpula das Américas, um passo fundamental foi dado para uma
maior interdependência nas Américas, ou seja, o objetivo da construção de
uma Área de Livre Comércio das Américas para 2005, na qual as barreiras ao
comércio (de bens e serviços) e ao investimento seriam progressivamente
eliminadas. O acordo da ALCA não logrou êxito, principalmente por causa
dos interesses contrários no Brasil. As análises apontavam que haveria um
aumento muito maior das importações brasileiras de produtos norte-ame-
ricanos, que o contrário; haveria também um aumento da importação de
serviços, que não era de interesse do Brasil; e haveria que se verificar como
implementar o capítulo do acordo que tratava dos investimentos, haja vista
a experiência mexicana.

O insucesso do acordo da ALCA, que era um objetivo dos Estados Unidos,


levou o governo americano a lançar uma série de iniciativas de acordos de
livre comércio, de forma bilateral, com vários países latino-americanos, como
foi o caso do próprio acordo do CAFTA, do acordo com o Chile e do acordo
com o Equador.

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Integração na Ásia
Na Ásia destacam-se alguns acordos de preferência tarifária e de livre co-
mércio. A ASEAN (Association of Southeast Asian Nations) é uma associação
para cooperação econômica, política, social e cultural formada em 1967, e
integrada por 10 países: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia,
Brunei, Laos, Mianmar e Camboja. Como associação, tem o objetivo de pro-
mover o desenvolvimento econômico e cultural da região, promover a esta-
bilidade política e econômica e estabelecer-se como um foro de discussões
que contribuam para a paz e a cooperação.

Já a APEC (Asia Pacific Economic Cooperation) foi formada em 1989 e com-


porta 21 países membros. Os países da APEC são responsáveis pela metade
do volume do comércio internacional. A APEC é um acordo que objetiva
formar uma área de livre comércio, com isenção dos impostos de impor-
tação entre os países membros, para o ano de 2020. Entre os membros da
APEC, estão quase todos os que são banhados pela bacia do Pacífico, como
Estados Unidos, Canadá, México, Peru, Chile, Rússia, China, Japão, Coreia do
Sul, Papua-Nova Guiné e Austrália.

Integração no Oriente Médio e África


Como na Ásia, no Oriente Médio e África não há grande número de acor-
dos de integração regional. Podem ser destacados o ECOWAS (Economic
Community of West African States), formado em 1975, com o Tratado de Lagos,
com o objetivo de estabelecer uma união aduaneira entre vários países da
África subsaariana, como Senegal, Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria,
Cabo Verde, Gâmbia, Mauritânia, Costa do Marfim, Mali, Burkina Faso, Gana,
Togo, Benin, Nigéria e Níger.

Outro acordo envolve 19 países no Mercado Comum da África Oriental e


Austral (COMESA), em um acordo assinado em 1993.

A South Africa Customs Union (SACU), ou União Aduaneira do Sul da África


(África Austral) é um dos acordos de integração mais antigos, estabelecido
em 1910 entre África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Namíbia e Botswana. Prati-
ca a isenção do imposto de importação e adota uma tarifa externa comum
(TEC). Moçambique está em processo de acessão ao acordo.

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O Conselho de Cooperação Regional de Países do Golfo objetiva a in-


tegração e cooperação em assuntos econômicos, sociais e culturais entre
seus países membros: Barein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados
Árabes Unidos (KEEGAN; GREEN, 1999).

A posição do Brasil
frente aos acordos de integração econômica
O Brasil faz parte de vários acordos de integração econômica, mas pra-
ticamente todos com países da América Latina. O Brasil participa de vários
acordos de complementação econômica (ACEs) e do Mercosul. Além desses,
não integra nenhuma outra iniciativa em termos de integração econômica.
É claro que participa de acordos políticos, de cooperação internacional e de
outras naturezas com outros países, mas não na área econômica.

O setor empresarial critica a política externa brasileira por não ser mais
agressiva e por não ter assinado acordos de livre comércio com economias
de maior desenvolvimento e de maior peso econômico. Enquanto o México
possui acordos de livre comércio com 42 países, entre eles Estados Unidos,
União Europeia e Japão, o Brasil se restringe aos acordos com países latino-
-americanos. O Chile também tem uma política externa agressiva, possuin-
do acordos de livre comércio com metade do PIB mundial, inclusive com a
China.

A alegação do governo brasileiro é a proteção ao emprego nacional e à


indústria nacional. No entanto, quem paga esse preço da falta de acordos é
o consumidor, que acaba consumindo mercadorias com um valor mais alto
(devido às alíquotas dos impostos de importação), com desestímulo à livre
concorrência e à variedade de produtos ofertados. Uma economia relativa-
mente protegida como a do Brasil faz que o acesso aos produtos importados
seja dificultado pelo custo da nacionalização.

Esse fenômeno pode ser facilmente visualizado com as compras que


os turistas brasileiros fazem no exterior, sejam no Chile, Europa ou Estados
Unidos, pagando preços que chegam a cinco vezes menos, em média, que
6
o praticado no Brasil. É bom lembrar que há limites para trazer mercadorias Free shop ou loja franca
é um regime especial que
como bagagem de viajante, sem a incidência do imposto de importação (a permite a aquisição de
mercadorias até um de-
cota de isenção é de US$500 por via aérea e US$300 por via terrestre), além terminado limite em valor,
com isenção do pagamen-
do limite de compras no free shop 6 (também de US$500). to de impostos, para aten-
der às necessidades do
viajante internacional.

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A ênfase no acordo do Mercosul parece ser excessiva e insuficiente, ha-


vendo a necessidade de firmar novos acordos, com Israel, países árabes, Índia
e outros. Desde 2002, o Mercosul negocia acordos em bloco, o que significa
que o Brasil já não tem mais essa característica de soberania, de negociar
acordos individualmente. Os críticos apontam que, se a diplomacia brasileira
já tinha dificuldades de assinar acordos internacionais, com o Mercosul, a di-
ficuldade passou a se tornar uma barreira, porque há a necessidade de con-
senso entre os países membros para a assinatura de um novo acordo. Isso
significa que precisamos ter o apoio de todos, além do apoio da Argentina.
Dessa forma, os acordos do tipo 4+1 (Mercosul mais outro) não avançaram.

O argumento que a não assinatura de acordos protege o emprego na-


cional deve ser relativizado. Isso porque, enquanto o Brasil e o Mercosul não
fazem acordos, todos os outros países ao nosso redor o fazem, o que acaba
fornecendo mais vantagens aos nossos vizinhos do que a nós mesmos. A
não realização de um acordo pode proporcionar perda de mercados con-
sumidores, que poderiam continuar a gerar mais empregos internamente.
As exportações brasileiras de uma ampla gama de setores industriais com-
petitivos aumentariam, gerando mais empregos. A posição do Brasil e do
Mercosul pode deixar esses países isolados dos grandes fluxos comerciais
internacionais e das cadeias de suprimentos internacionais.

Ampliando seus conhecimentos

América Latina é alvo prioritário


dos empresários paulistas
(VALOR ECONÔMICO, p. A3, 2008)

Os países asiáticos, especialmente China e Índia são os que mais incomo-


dam setores industriais do país, em caso de negociações de livre comércio,
constata um estudo patrocinado pela Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp). Na pesquisa com 23 associações empresariais, apenas o
agronegócio mostrou interesse em acordo comercial com os chineses e três
(balas e chocolates, madeira e móveis e couro) disseram ser indiferentes. Com
a Índia, dez setores apontaram “sensibilidades”, e só os empresários da agroin-
dústria, as montadoras e os fabricantes de equipamentos médicos e hospita-
lares mostraram interesse.

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O estudo da Fiesp analisou a tendência das vendas brasileiras e do cres-


cimento dos mercados e concluiu que, somadas a vontade política, o grau
de ambição possível e a compatibilidade com as regras internacionais para
realização dos acordos, a América Latina seria a maior prioridade para o Brasil,
seguida do México (excluído na pesquisa do restante dos países latino-ameri-
canos), a União Europeia e os Estados Unidos. A SACU, união aduaneira lidera-
da pela África do Sul viria a seguir, com o Canadá e o Japão. Os países árabes
do Conselho de Cooperação do Golfo teriam prioridade “média”, por não des-
pertarem tanto interesse e, ao mesmo tempo, ameaçarem a “sensibilidade” de
setores como o petroquímico.

Os países do Sudeste Asiático reunidos na ASEAN, ou a Coreia, isoladamen-


te, não interessam ao setor privado – embora sejam alvo de aproximação dos
diplomatas, que planejam reuniões com a ASEAN no fim deste ano. A indús-
tria paulista não descarta algum tipo de negociação para redução de tarifas
entre o Brasil e a ASEAN, ou mesmo sondagens para acordos de livre comércio
com a Coreia. Para a Fiesp, o contexto em que devem se realizar as negocia-
ções é “altamente favorável” para buscar acordos de redução tarifária (não de
livre comércio, ainda) com o México, o restante da América Latina, a África do
Sul, a Índia e o Conselho do Golfo.

Na África nenhum país, além da África do Sul, aparece entre as prioridades


listadas pela indústria paulista, apesar de estarem no continente alguns dos
mercados-alvo dos esforços negociadores do Itamaraty que, em outubro, re-
alizam reuniões com diplomatas da Jordânia e do Egito – este último é hoje
um mercado de mais de US$1 bilhão para os produtos brasileiros. Embora
seja evidente o interesse em firmar esses acordos como contraponto político
ao acordo recém-firmado entre Mercosul e Israel, os diplomatas argumentam
que, além de diversificar mercados, essas negociações também mostram uma
tentativa de manter ativa a agenda de negociações.

Ainda neste ano, deve ser assinado formalmente o acordo já concluído


de preferências tarifárias (redução de tarifas de importação) entre Mercosul
e SACU, que inclui, além da África do Sul, os pequenos Botswana, Lesoto, Na-
míbia e Suazilândia. O acordo, limitado, inclui cerca de mil tipos de produtos,
grande parte já com tarifa zero de importação. Pelo menos 15 setores empre-
sariais têm interesse nesse mercado e, segundo a Fiesp, gostariam de partir
para um acordo de livre comércio.

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Integração econômica regional

Seguindo uma tendência que começa a se disseminar entre representan-


tes do setor privado, como a Coalizão Empresarial, o diretor de Negociações
Internacionais da Fiesp, Mário Marconini, defende a ampliação do alcance dos
acordos comerciais bilaterais e regionais negociados pelo Brasil, para incluir
dispositivos de proteção a investimentos e propriedade intelectual, além do
comércio de serviços.

O governo apoia a ideia de estender aos serviços as negociações hoje res-


tritas a mercadorias, e aponta o recente acordo de serviços firmado, neste ano,
entre Brasil e Chile, como modelo. Mas não há nenhum interesse do Itamaraty
em avançar nas discussões de proteção a investimentos e à propriedade inte-
lectual. Na avaliação da diplomacia, as patentes e direitos de autor do Brasil
têm proteção adequada nos acordos já existentes na Organização Mundial de
Comércio (OMC).

A discussão sobre acordos de proteção a investimentos está paralisada


no governo pela rejeição ao modelo tradicional desses acordos, que fere a
Constituição em pontos como a permissão a investidores para acionarem di-
retamente os governos em cortes internacionais. Os diplomatas argumentam
que, apesar das recomendações dos especialistas, são inexistentes as deman-
das diretas de empresários brasileiros por esse tipo de mecanismo.

Atividades de aplicação
1. Explique o que são áreas de preferências tarifárias.

2. Explique o que é margem de preferência.

3. Sobre a integração europeia, assinale a correta.

a) Há instituições supranacionais que fortalecem o bloco.

b) O Banco Central Europeu substituiu os bancos centrais de todos os


países que adotaram o euro.

c) O euro ainda varia em termos de taxa de conversão com relação às


moedas dos países que o adotaram.

d) Os Tratados de Roma foram responsáveis pela criação da


BENELUX.

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Integração econômica regional

Referências
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WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business. New
Jersey: Pearson, 2008.

Gabarito
1. É a etapa inicial de integração econômica, consiste na adoção recípro-
ca entre dois ou mais países, de níveis tarifários preferenciais. Ou seja:
as tarifas incidentes sobre o comércio entre os países membros do
grupo são inferiores às tarifas cobradas de países não membros. Entre

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Integração econômica regional

os países membros do acordo há tarifas preferenciais, também cha-


madas de margens de preferência (ou reduções tarifárias). Na prática,
o comércio de uma mercadoria de um país “A” para um país “B”, mem-
bros do acordo, fará com que haja redução da alíquota do imposto
de importação (II). Exemplos de Áreas de Preferências Tarifárias são os
acordos celebrados no âmbito da Associação Latino Americana de In-
tegração (ALADI). Grande parte dos acordos de integração celebrados
em todo o mundo enquadra-se como “de preferências tarifárias”.

2. Margem de preferência é um desconto no imposto de importação que


o país comprador/importador oferece ao país vendedor/exportador.
Geralmente as margens de preferências são maiores para países com
menor desenvolvimento relativo, justamente para auxiliar no desen-
volvimento dessas economias. Na América Latina, os acordos do tipo
de complementação econômica preveem várias margens de preferên-
cias.

3. A

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Estratégias globais

Cristiano Morini

“A mudança é a preocupação central e o foco da gestão estratégica”


(FAHEY; RANDALL, 1999, p. 16). Estratégia é sinônimo de escolhas. É como
uma empresa cria ou alavanca as mudanças ambientais. Em uma gestão es-
tratégica, o corpo diretivo da empresa deve escolher caminhos. Alguns prin-
cípios da gestão estratégica são:

 análise do relacionamento entre a empresa e o mercado;

 análise do ambiente e das mudanças;

 busca por oportunidades;

 compartilhamento da estratégia para todos os níveis da empresa;

 deve ser voltada para atender e desenvolver clientes;

 exige a definição clara de produtos, clientes e recursos disponíveis;

 exige que seja reinventada constantemente, buscando inovação e


aprimoramento;

 análise da globalização juntamente com a localização;

 exige o adequado mapeamento da cadeia de valores. A cadeia de


valores envolve as atividades de apoio da empresa, como infraestru-
tura, gestão de pessoas, desenvolvimento de tecnologia, compras de
bens e serviços; e as atividades primárias, como logística de entrada,
operações, logística de saída, marketing, vendas e serviços pós-venda
(FAHEY; RANDALL, 1999).

A diferença entre uma empresa com estratégia de atuação local e uma


empresa com estratégia de atuação global relaciona-se com a maior liber-
dade de ação das empresas globais, em termos de desenvolvimento de
fornecedores, busca de matérias-primas, escolha por modais de transporte,
formas de inserção no mercado estrangeiro e outras.

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Estratégias globais

A adoção de estratégias globais é cada vez mais comum, desde que o


mundo se tornou “plano” (FRIEDMAN, 2005). A ideia de que o mundo é plano
é defendida por Thomas Friedman, onde são identificadas dez forças que
“planificaram” o mundo:

 a queda do muro de Berlim (em 1989);

 o advento da internet (em 1995);

 a adoção de mesmos softwares em vários países, fazendo com que as


empresas conversem em termos de sistemas;

 a colaboração entre as comunidades de cientistas;

 a busca por fornecedores mais competitivos e a terceirização;

 a movimentação e instalação de fábricas em países mais competiti-


vos;

 a importância da logística e da gestão da cadeia de suprimentos para


garantir o fluxo internacional de mercadorias;

 a diversificação de serviços prestados;

 o livre acesso à informação sobre tudo;

 as tecnologias móveis, digitais, virtuais e pessoais.

Essas dez forças, segundo Friedman (2005), contribuíram para que o


mundo se integrasse de tal forma irreversível que unificou ou planificou efe-
tivamente o mundo no século 21.

Às estratégias globais são acrescentadas desafios adicionais, como barrei-


ras linguísticas, diferenças culturais, diferentes percepções da realidade e do
mercado, diferente gestão do tempo, dificuldades aduaneiras e outras que
devem proporcionar diferentes maneiras de gerir a cadeia de valores (FAHEY;
RANDALL, 1999).

Há desafios em termos de como gerir as cadeias de suprimentos glo-


bais com as especificidades locais. Na verdade, para cada atividade da
cadeia de valor pode haver uma estratégia global: pode haver uma es-
tratégia global de recrutamento e seleção de mão de obra eficiente; pode
haver uma estratégia global de alocação de recursos de informática;
pode haver uma estratégia global de compras; uma estratégia global de lo-
gística, de marketing e outras.
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Estratégias globais

Entre os elementos utilizados para a formulação de uma estratégia, desta-


cam-se: a determinação da missão e os objetivos. A missão é uma afirmação
escrita do motivo da empresa existir e o que ela planeja alcançar. Relaciona-
se com a satisfação dos desejos dos stakeholders (ou pilares de sustentação
do negócio, como acionistas, trabalhadores, fornecedores e clientes). Uma
missão pode ser “refrescar o mundo em corpo, mente e espírito” (Coca-Cola),
“se você tem um corpo, você é um atleta” (Nike), “equipar as pessoas para
fazer a diferença no mundo” (Timberland), “fazer coisas diferentes, inovado-
ras e estar sempre um passo à frente dos outros” (Sony), “criar e comerciali-
zar produtos e serviços que promovam o bem-estar e o estar bem” (Natura),
“a melhor experiência de um restaurante em termos de serviço rápido”
(McDonald´s). Essas missões dizem qual a razão de existir da empresa.

Além disso, a empresa precisa ter clara quais são suas competências es-
senciais (ou habilidades únicas). As competências essenciais são as habilida-
des de uma companhia que os concorrentes terão dificuldade em superar.
As competências essenciais referem-se a múltiplas habilidades de uma com-
panhia. A Sony, por exemplo, tem uma competência essencial de miniaturi-
zar componentes eletrônicos.

Para a elaboração da estratégia, também é importante identificar os ele-


mentos constantes nas cinco forças de Porter (2005): o grau de rivalidade (há
mercados com maior número de concorrentes, enquanto há outros merca-
dos em que há concentração e equilíbrio); barreiras de entrada (como neces-
sidade de altos investimentos, escala de produção, especificações técnicas);
ameaça de substitutos (produtos que possam substituir, sem ser necessaria-
mente do mesmo setor, como exemplo, a possibilidade de novos tipos de
plástico capazes de substituir o aço); o poder dos fornecedores (os forne-
cedores têm a capacidade de definir preços ou é o contrário? O fornecedor
é tratado como um parceiro estratégico?); e o poder dos compradores (os
compradores têm a capacidade de definir preços ou é o contrário?).

Este capítulo enfocará algumas estratégias globais de marketing e de lo-


gística de forma correlacionada, envolvendo quatro elementos principais,
que são chamados de composto (ou mix) de marketing (ou 4 Ps): promoção,
distribuição (ou praça), produto e preço. Outras formas de explicação pode-
riam ter sido adotadas, como distinção entre estratégia política, estratégia
de negócios, estratégia de aquisição, entre outras. Para o estudo do tema
Administração de Mercado Exterior, optou-se por apresentar as estratégias
globais de marketing e logística de forma correlata, objetivando-se à venda
de produtos em mercados estrangeiros.

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Estratégias globais

Promoção
A promoção de uma mercadoria em território estrangeiro deve observar
a legislação local em termos de direitos de proteção do consumidor local. As
marcas e patentes já registradas prevalecem sobre as novas, dentro do prin-
cípio da anterioridade do registro. Assim, ao ser feita a promoção comercial
de um produto no exterior, devem ser observados alguns passos:

a) A marca ou o nome do produto a ser comercializado já foi registrado por


outrem? Uma marca pode ter sido registrada em um país, mas o regis-
tro da marca no Brasil (no Instituto Nacional da Propriedade Intelectu-
al, INPI) não elimina a necessidade de registro em outros países. A Or-
ganização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) e outros acordos
internacionais sobre esse assunto têm buscado uma maior coopera-
ção e harmonização nos registros em nível internacional, mas o Brasil
ainda não possui estrutura para acompanhar esses regramentos.

b) O nome do produto (modelo) ou marca apresenta aspectos negativos na


cultura do país importador, como conotação sexual, ofensa aos bons cos-
tumes e hábitos? Há agências de publicidade que são contratadas por
indústrias de automóveis para desenvolverem um nome de produto
(ou modelo) que possa ser utilizado em todo o mundo. Hoje, várias in-
dústrias de automóveis fazem lançamentos globais ao mesmo tempo.
A utilização de um nome só facilita as campanhas de publicidade, que
podem ser exportadas e compartilhadas com vários mercados de des-
tino, sem que tenham que ser traduzidas. São produzidas campanhas
com imagens e músicas. Assim foi feito para o lançamento do Honda
Fit e Toyota Corolla da Coleção 2010.

c) O nome do produto ou marca está associado a que imagem da empre-


sa? Qual é a imagem que será trabalhada juntamente com o produto?
As agências governamentais ajudam a divulgar o produto associado à
imagem de um país. Por exemplo, a Agência de Promoção às Exporta-
ções e Investimentos (APEX-Brasil) busca associar as marcas nacionais
ao imaginário de um país alegre, cooperativo, hospitaleiro, despoja-
do, jovem e tropical. Assim, quando se divulga a marca Havaianas no
exterior, a marca Brasil é associada, ou seja, a ideia de que a pessoa
que adquire um par de chinelos dessa marca é uma pessoa jovem,
alegre e despojada, de bem com a vida. Exemplos de outras agências
de promoção comercial: Prochile (agência chilena, com a função de

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Estratégias globais

prospectar novos mercados e modernização do sistema de informa-


ção comercial); Austrade (agência australiana, com a função de prover
informações detalhadas para empresas que buscam novos mercados,
estudos comparativos de preços, desenvolvem estratégias de venda
e outros); Secofi (agência mexicana, tem a função de desenhar e su-
pervisionar a execução de programas de exportação por empresa). A
imagem é tão relevante em termos de formulação de estratégias que
os franceses, que possuem uma imagem consolidada de alta gastro-
nomia, passaram a desenvolver marcas de alto luxo no ramo de chás,
buscando diversificar aromas, misturas de flores e frutas para comple-
mentar os paladares dos consumidores que gostam da gastronomia
francesa. As grifes de chás têm se consolidado, como a Mariage Frère,
principalmente em países de renda alta e clima frio.

d) O nome do produto ou marca é de fácil pronúncia no país estrangeiro?


No Brasil, há várias entidades trabalhando na internacionalização da
cachaça. A cachaça é um destilado de cana de açúcar, que pode va-
riar em vários graus ou teores alcoólicos. Seu processo de promoção
comercial no exterior segue os mesmos passos do caso de sucesso da
tequila. A tequila é um destilado de agave que conquistou o paladar
do mundo. O caso da cachaça tenta obter o mesmo sucesso da tequila,
como uma bebida espirituosa e bastante aceita em coquetéis, para o
público jovem. Ainda é cedo para dizer se a cachaça galgará o mesmo
sucesso que a tequila, mas uma coisa é certa: como os estrangeiros
pronunciarão o nome “cachaça”? O “ch” não existe em vários idiomas,
bem como o “ç”. Isso dificulta a sua aceitação, pela dificuldade de sua
pronúncia. Seria o mesmo que um produto que chegasse no país com
o nome “oeuvre” (com o “o” e o “e” se fundindo, formando um fonema
de uma palavra francesa que não existe em português). Como pronun-
-ciá-lo?

e) A embalagem para o consumidor final atende às normas de defesa do


consumidor e possui uma cor adequada para comercialização? Cada país
tem um conjunto de normas de defesa do consumidor que definem,
por exemplo, a necessidade de tradução das especificações contidas
na embalagem para o idioma do país importador. Segundo Carnier
(1996, p. 170), “a embalagem é um assunto tão sério que, dependendo
do caso, poderá representar mais que o valor de seu conteúdo”. Nessa
área a teoria das cores desempenha um papel fundamental. Há cores
que são proibidas por lei se associadas na embalagem de produtos,
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Estratégias globais

em certos países. Em outros, culturalmente, a cor representa uma as-


sociação negativa que desestimula o comprador a adquirir o produto.
Baseado na experiência internacional de análise de comercialização de
produtos, o autor identifica, no quadro 1, um quadro em que as cores
podem apresentar aspectos positivos ou negativos, dependendo da
cultura/história e/ou da legislação de um país. É importante destacar
que, no Brasil, não é feita a associação de cores na embalagem com
aspectos negativos.
Quadro 1– Teoria das cores

(CARNIER, 1996)
Favorável Negativa
Cingapura, Japão. Branco China (representa luto), Coreia do Sul, Indonésia,
México, Nova Zelândia, Tailândia.
China, Coreia do Sul, Amarelo Malásia (é a cor do rei), Sudão, Venezuela, Dina-
Hong Kong, Inglaterra, Ín- marca, Hungria, Irã, Iraque.
dia, Japão, Tailândia.
Índia, Paquistão. Laranja (não é negativa em nenhum país)
Cingapura, Itália, Iugoslá- Vermelho Austrália, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala
via, Nicarágua. (é associada a movimentos de guerrilha), Indoné-
sia, Japão, Nova Zelândia.
Japão. Roxo Sri Lanka e Inglaterra (associa-se esta cor com o
revestimento interno dos caixões de defunto).
Inglaterra. Azul China, Hong Kong, Indonésia, Venezuela.
Índia, Indonésia, Irã, Ira- Verde França, Malásia, México.
que, Paquistão (a cor ver-
de é favorável nesses pa-
íses, porque é associada
ao nacionalismo).
– Preto África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argenti-
na, Áustria, Bélgica, China, Cuba, França, Grécia,
Hong Kong, Itália, Japão.
Cingapura, Japão, Malá- Dourado Costa Rica, Guatemala, Irã.
sia.
Argentina, Chile, Colôm- Tons pastéis e –
bia, Venezuela. cores suaves

Há produtos, por sua vez, que não precisam ser promovidos, como é o
caso das commodities. As commodities são mercadorias comercializadas
sem marca, geralmente associadas a produtos agrícolas, como açúcar, soja,
milho, algodão, trigo e também petróleo, alumínio e outros minérios, cujos
preços são definidos em bolsas de mercadorias. Conforme a maior ou menor
demanda por eles, seu preço é alterado internacionalmente. Como são pro-
dutos básicos da vida do ser humano ou do desenvolvimento de um país,
não precisam ser promovidos.
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Estratégias globais

As estratégias relacionadas à promoção podem ser:

 marketing de massa – em meios de comunicação de ampla visibilida-


de, como televisão, por exemplo. Esse tipo de marketing demandará
grande investimento;

 marketing de nicho ou de foco – divulgação de matéria em revistas


especializadas, anúncio e patrocínio em eventos específicos e outros.
Esse tipo de marketing demandará um investimento menor que o an-
terior, mas ainda assim considerável. O marketing de nicho também
pode acontecer em feiras internacionais setoriais;

 marketing individual – em que campanhas de publicidade serão pro-


duzidas de forma customizadas, a atender o cliente de forma única e
voltada para sua realidade específica.

Outro aspecto correlato à promoção é a distribuição – não adianta


promover um produto que não seja encontrado para ser adquirido pelos
consumidores.

Distribuição
O tema da distribuição também está associado ao tema “praça” ou local
de destino. No comércio internacional, nem tudo pode ser exportado para
qualquer destino, por se tornar inviável ou impróprio ao consumo, mesmo
com o nível de avanço tecnológico que oferece o mundo de hoje.

Por exemplo, o Brasil é um grande produtor de frutas e flores, mas não


fornece flores para o Japão. Vender flores para o Japão demanda uma lo-
gística de distribuição que é vital para o próprio negócio. As flores são um
produto frágil e perecível, o que as tornam inviáveis de serem transportadas
por via marítima. Por via aérea seria possível, mas o custo do transporte e das
operações associadas (como embalagem, armazenagem) encarece o produ-
to final, tornando as operações associadas muito mais caras que o próprio
produto em si (o principal).

No entanto, as inovações tecnológicas têm permitido alternativas de dis-


tribuição física internacional, como é o caso da exportação de flores para
Europa. A região de Holambra, no estado de São Paulo, produz e exporta
grande quantidade de flores e derivados para a Europa, em uma operação
desenhada cuidadosamente para viabilizá-la. O tempo zero começa com a

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Estratégias globais

chegada da aeronave no Brasil. Daí, para trás, são somados os tempos de


transporte de Holambra ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, o tempo
do trâmite de alfândega, do embalamento do produto e o tempo da colheita.
Esse sincronismo de operações permite viabilizar a vida útil do produto, que
segue em mais 12 horas de voo para o destino final. Lá, outras operações são
adicionadas, com o desembaraço aduaneiro no destino e transporte final até
o distribuidor/cliente.

Para minimizar a geração de tempo que não agregue valor ao cliente


final, para vários tipos de produtos são utilizadas centrais de consolidação de
cargas internacionais. Essas centrais, também chamadas de hub, podem ser
alfandegadas ou não. Por exemplo, para exportar para a Síria ou Egito, desti-
nos em que não há voos diretos, uma alternativa é enviar a mercadoria para
um centro consolidador na região, como em Dubai, nos Emirados Árabes
Unidos. De lá, a mercadoria segue até o destino final. Com o estabelecimen-
to de voos diretos para a Turquia, ela também pode passar a ser considerada
como um centro consolidador de cargas para o leste europeu e Ásia menor.

Assim também ocorre no modal marítimo. O porto de Roterdão, na Ho-


landa, é o maior centro consolidador de cargas para a Europa ocidental. É um
porto que recepciona, separa, consolida volumes para determinados países
e os embarca via fluvial ou ferroviária, principalmente.

Christopher (2009) destaca que os produtos hoje em dia têm ciclos de


vida mais curtos, o que torna a gestão do tempo essencial. Há que se iden-
tificar tempos que agregam valor (horizontais) e tempos que não agregam
valor (verticais), com o objetivo de reduzir o lead time (tempo de condução
da mercadoria) entre o recebimento dos pedidos e a entrega dos produtos.
A ênfase passou a ser na compressão do tempo ao longo de toda a cadeia de
suprimentos. Um exemplo de tempo horizontal é aquele para configurar um
computador do modo que o cliente deseja. O cliente está disposto a esperar.
Um exemplo de tempo vertical é o tempo de atendimento ao pedido do
cliente em caso de estoque insuficiente. O cliente não está disposto a espe-
rar algo que deveria estar disponível na prateleira.

Na gestão da cadeia de suprimentos internacional, a gestão da distribui-


ção é importante para controlar estoques em trânsito, estoques em centros
de distribuição e estoques no cliente. O conceito de cadeias de suprimentos
envolve o controle e o planejamento da produção, estoque e armazenagem,
desde a colocação do pedido pelo cliente, até a compra de matérias-primas

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Estratégias globais

e outros suprimentos, logística de entrada, produção, armazenagem e logís-


tica de saída. Processos esses que são abastecidos e reabastecidos por um
fluxo de informações que circula desde o fornecedor do fornecedor até o
cliente final. A figura 1 exemplifica a cadeia de suprimentos internacionais,
identificando algumas de suas etapas.

Na cadeia de suprimentos internacionais, deve-se destacar que produ-


tos que cruzam fronteiras estão sujeitos a complicações e atrasos imprevisí-
veis devido aos procedimentos aduaneiros e aos longos tempos de trânsito
(DORNIER et al., 2000).

(IBM, 2005. Adaptado.)


Distribuição de
Fornecedores Logística de entrada Fábrica Centros de Distribuição produtos acabados Cliente

Embalamento do Gerenciamento de Industrialização Terceirização Transporte Informação


produto materiais Recebimento Gestão de inventário Consolidação
Consolidação Controle de inventário Expedição Gestão de informação Desembaraço
Pré-fabricação Entregas Just in Time
Operações de aduaneiro
consolidação Transportador
internacional

Figura 1– Cadeia de suprimentos internacional/operações em cada etapa.

Quando há fornecedores e/ou clientes em outros países, a sua comple-


xidade aumenta de maneira exponencial, porque é requerida a gestão do
tempo, dos custos, das vulnerabilidades e da imprevisibilidade, exigindo res-
postas mais criativas, mais ágeis e mais eficazes. Há o desafio de identificar o
canal de distribuição mais adequado para cada operação. “A escolha do canal
de distribuição é uma das principais decisões que o profissional de marke-
ting deverá tomar” (SPERS; SPERS, 2006, p. 253). Em um canal de distribuição,
a principal função é fazer a ligação entre o produtor e o consumidor.

A quantidade de intermediários envolvidos em um canal de distribuição


determina se os canais serão diretos ou indiretos. Um canal direto é aquele
que não possui intermediário, no qual a venda é feita diretamente, do pro-
dutor ao consumidor. Um canal indireto pode ter um ou mais intermediários,
como atacadistas, varejistas e representantes do fabricante (SPERS; SPERS,
2006).

A logística é vital para conquista e manutenção de mercados estrangeiros.


A meta de um sistema logístico eficiente é prover o cliente com baixo custo,
no tempo certo, na condição certa e na quantidade que o cliente desejar.

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Estratégias globais

Segundo Larrañaga (2003), a maior diferença das operações domésticas e


internacionais é o tempo de ciclo, com longos tempos de transporte e ciclos
menos consistentes e flexíveis. A redução da consistência aumenta as difi-
culdades de planejamento logístico e resultam na necessidade de maior in-
ventário. A figura 2 exemplifica alguns hubs aéreos utilizados pela empresa
Panalpina, um prestador de serviço internacional que atua no agenciamento
de cargas, transporte, gerenciamento de inventário e desembaraço aduanei-
ro. As cidades que aparecem no mapa atuam como centros de consolidação
de cargas.

(PANALPINA, 2008)
Figura 2 – Centros de consolidação de carga aérea, gerenciados pela Panalpina.

Entre as estratégias globais associadas à gestão da distribuição, destacam-


se:

 colaboração/cooperação entre os elos da cadeia de suprimentos;

 parcerias locais com agentes locais, como distribuidores, por exemplo;

 verticalização do processo, como é o caso das trading companies ja-


ponesas (sogo shosha), que atuam desde a fabricação até a entrega ao
consumidor final, com linha de navios próprias;

 localização – com a concretização de estratégias globais com solu-


ções locais (pensar global e agir local). A globalização da competição
permitiu que as empresas conquistassem a vantagem competitiva
pela maneira como configuram e coordenam a cadeia de valores em
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Estratégias globais

bases globais, sem eliminar a importância da localidade na competi-


ção (FAHEY; RANDALL, 1999). A rede de restaurantes McDonald´s atua
globalmente, mas possui menus locais. No México, à carne bovina é
adicionada certa quantidade de pimenta, além de serem oferecidas
porções adicionais de pimenta, porque é assim o gosto do consumi-
dor desse país;

 terceirização;

 crescimento;

 redução de despesas.

Produto
As estratégias globais que enfocam o produto devem considerar vários as-
pectos, como segmentação do mercado e posicionamento. A segmentação
do mercado refere-se ao exercício de dividir o mercado em distintos grupos
de compradores, com expectativas variadas em termos de preço, qualidade
e apresentação do produto. Algumas formas de dividir um mercado podem
ser por faixa etária, classe social, área geográfica, estilos de vida, orientações
religiosas e outras.

Se a empresa sabe ou define em que setor quer atuar, poderá orientar sua
estratégia global de forma a atingir o objetivo de vendas. Por exemplo, se
uma indústria de aparelhos ortopédicos definir que atuará no segmento de
mercado para pessoas de idade avançada, poderá definir estratégias especí-
ficas para países com alto índice de idosos. Há países em que a taxa de nata-
lidade é decrescente, com grande parcela da população acima dos 50 anos.
Por outro lado, há outros em que a taxa de natalidade é bastante elevada, em
que a maioria da população encontra-se com até 30 anos.

Outro aspecto é o posicionamento do produto. Posicionar um produ-


to significa conhecer seus atributos e competências que o distinguem dos
outros, de forma a saber como o produto ou o serviço é percebido pelo mer-
cado consumidor. Por exemplo, como é posicionado um produto eletrônico
chinês no Brasil? Como um produto de alta qualidade e vida útil ou como um
produto barato?
Atributos como preço e qualidade são os mais facilmente percebidos
como relacionados aos produtos. Um produto de alta qualidade significa

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Estratégias globais

que expressa confiabilidade e previsibilidade nas funções que se propõe a


desempenhar. Um produto de baixo preço pode se relacionar a uma vida
útil menor, proporcionando menos previsibilidade em termos desempenho.
Qual será a melhor aquisição? Dependerá do nicho de mercado a se atingir.
Todos desejam qualidade, mas nem todos estão dispostos ou têm condições
de pagar por ela. Quando isso acontece, abrem-se oportunidades para pro-
dutos de vida útil menor, para atingir mercados de renda menor.

Japão e China dependem imensamente do mercado exterior para gera-


ção de receitas. Enquanto o Japão adotou uma estratégia global de interna-
cionalização por posicionamento de qualidade (assim como a Coreia do Sul
e Alemanha), grande parte das empresas chinesas se posicionou por produ-
tos de mais baixo preço.

A Cecrisa, indústria brasileira de revestimentos cerâmicos, reposicionou-se


no mercado norte-americano depois da crise de 2009. Com a forte queda em
vendas para o setor residencial, o foco passou a ser a área comercial (hotéis,
hospitais, escritórios e shopping centers). O reposicionamento da Cecrisa
advém das expectativas futuras de negócios, com o aumento de empreendi-
mentos do tipo “negócios próprios”, em um cenário de menos emprego.

A empresa brasileira Gomes da Costa, produtora de pescado (atum e


sardinha enlatados), levantou informações sobre o consumo de peixe per
capita no mundo e teve uma surpresa: a Líbia, no norte da África, é o país que
mais consome peixe no mundo. O embarque para a Líbia e outros países de
maioria muçulmana não requer a adoção de rituais islâmicos exigidos para
o abate de frangos e bovinos (para obtenção do certificado “Halal”), mas há
alterações técnicas para se enquadrar no paladar do consumidor. A principal
delas são as adaptações nos rótulos das embalagens e a adição de quanti-
dade menor de sal. Esses mercados preferem um peixe menos salgado que
o consumido no Brasil. As adaptações técnicas são muito importantes de
serem verificadas antes da definição da estratégia de exportação.

Outras formas de barreiras técnicas podem ser a exigência de determi-


nados certificados, como o ambiental (ISO 14000, por exemplo), de contro-
le de emissão de ruído, de controle de emissão de poluentes, de qualidade
(ISO 9000, por exemplo), de segurança, de questões religiosas e culturais
específicas.

Outra forma de estratégia global é a de diferenciação, como fazem os ita-


lianos com o design. A indústria italiana é referência mundial em termos de

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Estratégias globais

design e inovação por arrojo. O design também pode ser associado ao po-
sicionamento de determinadas marcas internacionais. A indústria da moda
e a indústria automotiva italianas são referências mundiais em termos de
inovação e agregação de valor em termos de design. A Irlanda também se
internacionalizou adotando uma estratégia global de diferenciação e diver-
sificação da pauta exportadora, que era predominantemente de produtos
agropecuários (na década de 1970), para produtos de maiores valores agre-
gados e conteúdo tecnológico, como produtos químicos, farmacêuticos, de
software e equipamentos (nos anos 1980 e 1990).

Outro caso de estratégia global de diferenciação é o da Natura, que busca


inovação e bem-estar relacionados à preocupação com a preservação do
meio ambiente, utilizando recursos naturais de forma sustentável.

Assim, algumas estratégias globais associadas ao produto:

 estratégia de diferenciação;

 estratégia de liderança em custos;

 estratégia de terceirização da produção;

 estratégia de economia de escala. A Samsung, por exemplo, é o maior


fabricante de chips de memória para computadores, líder em memória
flash, maior fabricante de televisores do mundo e disputa a liderança
na fabricação de celulares (atrás da Nokia) e a liderança mundial em
vendas de telas de cristal líquido (disputando com a LG). Na área de
tecnologia, é a maior empresa do mundo em receita. Além da econo-
mia de escala, a Samsung também pratica a estratégia de verticaliza-
ção: produz os componentes dos eletrônicos e também os próprios
aparelhos de consumo final;

 estratégia de especialização. A Embraer adotou a estratégia de fabri-


cação própria do mobiliário dos jatos executivos Phenom. A fábrica da
cidade de Gavião Peixoto (interior de São Paulo) montou também uma
fábrica de móveis customizados para os clientes de seus aviões.

Preço
Preço e custos são elementos essenciais em qualquer estratégia global.
Reduzir custos significa, muitas vezes, conquistar mais clientes, ter maiores
margens de lucro ou simplesmente sobreviver. A ideia principal é oferecer
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Estratégias globais

valor ao cliente. O valor percebido pelo cliente pode extrapolar o que o


produto efetivamente oferece. Um produto bem posicionado pode ter um
preço diferente de um outro produto de qualidade equivalente, mas não tão
bem posicionado.

Há custos que agregam valor que não são percebidos pelos clientes.
Esses custos devem ser minimizados. E também há custos que são percebi-
dos pelos clientes como algo útil e diferenciador. Por exemplo, para o cliente
não interessa se o produto estrangeiro foi transportado por navio ou avião.
O que interessa para o cliente é o produto escolhido estar disponível no mo-
mento desejado. É claro que se o produto foi transportado via aérea, o custo
do transporte aéreo será repassado ao preço final que o cliente pagará (o
custo do frete marítimo seria menor). No entanto, esse é um custo que não
agrega valor, a menos que o cliente esteja disposto a pagar por isso, em uma
situação específica.

Uma forma de reduzir custos sem comprometer a qualidade percebida


pelo cliente final é a economia de escala. Comprar mais dos fornecedores
atribui um maior poder de barganha ao comprador, o que lhe permite pagar
menos. Quanto mais globalizado um negócio de vendas internacionais,
também maior será o poder de barganha do vendedor, o que lhe permitirá
negociar melhores condições de frete internacional, custos de terminais por-
tuários, despesas de operações agregadas e outras.

Se a economia de escala permite que o volume de operações reduza o


custo, é interessante que as empresas adquiram economias de escala para
serem mais competitivas. Isso é o que a maior rede varejista do mundo tem
feito, o Walmart. O Walmart iniciou sua estratégia global em 1991. Desde
então, atua, além dos Estados Unidos, no Canadá, México, Argentina, Brasil,
Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, El Salvador, Porto Rico, China,
Índia, Japão e Reino Unido. A principal escolha do Walmart é vender por
menos, adotando a missão: “vender por menos para as pessoas viverem
melhor”. Isso significa que os grandes contratos assinados pela companhia
têm garantido uma vantagem competitiva ao Walmart em termos de me-
nores preços para os consumidores. O lucro do Walmart é de centavos por
produto, alcançando o posto de maior empresa do mundo em receita.

Nos anos 1980, os japoneses inverteram a lógica de formação de preço.


Ao invés de desenvolver um produto, agregar custos e chegar ao consumi-
dor final, os japoneses fizeram o contrário. Definiram um preço final ao con-

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Estratégias globais

sumidor (com base em pesquisas de mercado) e voltaram para trás, determi-


nando custos com base no preço final já definido. Essa prática de trabalhar
com custo-alvo força toda a empresa a trabalhar de forma colaborativa, de
modo a eliminar os custos desnecessários.

A entrada em um mercado estrangeiro demanda uma pesquisa de mer-


cado bem feita, a fim de estudar os preços praticados pela concorrência e
a capacidade do consumidor de absorver o produto para o qual se busca
internacionalizar. Após a pesquisa de mercado é que serão desenvolvidas
estratégias para determinado mercado.

As estratégias de preço visam também a explorar oportunidades nas ca-


deias de suprimentos internacionais, buscando um fornecedor mais com-
petitivo onde ele estiver, não necessariamente em preço, desenvolvendo
parcerias estratégicas em termos de melhor aproveitamento de rotas inter-
nacionais, operadores logísticos e outros.

Para Christopher (2009), a competição atual também se dá entre cadeias


de suprimentos, na qual há que se atentar para os 4 Rs (do inglês):

 responsividade (responsiveness) – as cadeias têm que ser capazes de


fornecer respostas/soluções alternativas às adversidades que surgi-
rem;

 confiabilidade (reliability) – as cadeias têm que ser confiáveis e previ-


síveis, resistentes a adversidades;

 resiliência (resilience) – as cadeias têm que ter a capacidade de voltar


às condições normais depois dos problemas; têm que superar as ad-
versidades. É um conceito associado ao de “responsividade”;

 relacionamentos (relationships) – os relacionamentos são a base das


cadeias de suprimentos eficazes. Poucos são os casos de cadeias de
suprimentos com integração vertical. Desse modo, desenvolver boas
relações de parcerias é vital para o próprio negócio.

Destacam-se algumas estratégias globais associadas ao preço:

 estratégia de diferenciação;

 estratégia de liderança em custos;

 estratégia de economia de escala.

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Além dessas estratégias identificadas para o composto de marketing (pro-


moção, produto, distribuição e preço), Mauborgne & Kim (2008) criaram um
modelo de análise de estratégia baseado na criação de novos mercados ou
novos espaços, em que a concorrência não atue, chamado de “oceano azul”,
para diferenciar do “oceano vermelho” repleto de tubarões (concorrentes).
No oceano azul, a empresa cria mercados novos, em que prevalecem a colo-
cação de produtos únicos e inovadores, fazendo da atuação da concorrência
algo irrelevante.

O objetivo da estratégia do oceano azul não é atuar com um desempenho


espetacular na indústria existente, mas criar um novo espaço de mercado ou
oceano azul. As diferenças relevantes entre o oceano vermelho e azul podem
ser visualizadas no quadro 2.

Quadro 2 – Os oceanos ou mercados existentes

(MAUBORGNE; KIM, 2008)


Oceano vermelho Oceano azul
- Um espaço de mercado conhecido. - Um espaço de mercado desconhecido, novo.
- Fronteiras entre as indústrias: conhecidas e - Competição sem fronteiras.
aceitas.
- Regras competitivas do jogo são conhecidas. - Nova demanda é criada.
- As companhias competem para ganhar uma - A competição é irrelevante, porque as regras
participação maior no mercado. do jogo ainda não foram colocadas.
- Como o espaço de mercado está saturado, - Criar um novo mercado ou espaço significa
lucros e crescimento são reduzidos. estar sozinho nele, pelo menos por um tempo,
até que haja a necessidade de criação de novos
espaços.
- Os produtos se tornam commodities na - Como o oceano azul está intocado, o cresci-
competição feroz, ou seja, muitas vezes a mar- mento dos lucros é vasto e profundo.
ca não importa mais, mas o preço.

Que companhias podem ser identificadas como pertencentes ou criado-


ras do oceano azul? Alguns exemplos:

a) Cirque du soleil – um misto de espetáculo único em termos de con-


certo musical, entretenimento, circo tradicional e teatro tradicional.

b) Compaq – com a criação de mega servidores, por um lado, e compu-


tadores pessoais, por outro.

c) Starbucks – um misto de bar, espaço de convivência e café, com pro-


dutos diferenciados e boa localização.

d) Ryan Air – empresa aérea irlandesa que inovou em termos de trans-

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porte barato, cobrando para despachar bagagem, pelo uso dos ba-
nheiros a bordo e pelo consumo de comida e bebida a bordo. Para a
Ryan Air, o viajante precisa de transporte, não de outras benfeitorias.
A Ryan Air está pensando agora em permitir o transporte de passa-
geiros em pé nos aviões, para permitir que mais pessoas viajem, a um
custo ainda menor.

e) Google – de uma empresa nova no ramo de buscas na internet, pas-


sou a atuar em publicidade e planeja entrar na área de comunicações.

f ) Apple – empresa inovadora, lançadora de tendências e produtos sem


concorrência.

Para concluir, as estratégias devem ser analisadas, criadas e recriadas


continuamente. As estratégias determinadas pelos gerentes determinam a
estrutura de uma empresa. Os ambientes nacionais também afetam as de-
cisões da gerência, incluindo se haverá necessidade ou não de alterar o pro-
duto (padronização ou adaptação), onde localizar as fábricas (produção cen-
tralizada ou descentralizada) e que tipo de tomada de decisão implementar
(centralizada ou descentralizada). As decisões estratégicas impactam na
forma da empresa de entrar em mercados internacionais (formas de interna-
cionalização), na forma de contratação de pessoas e no gerenciamento diário
da produção, do marketing e outras operações (WILD; WILD; HAN, 2008).

Ampliando seus conhecimentos

Integração vertical está de volta


graças à crise mundial
(WORTEN; TUNA; SCHECK, 2009, p. B9)

Larry Ellison é conhecido por estar sempre com a cabeça no futuro. Mas
com seu novo modelo de negócios, o bilionário diretor-presidente da fabri-
cante de software Oracle Corp. está se baseando na experiência do passado.

Ellison pretende comprar a Sun Microsystems Inc. e transformar a Oracle


em uma fabricante de software, computadores e componentes para computa-
dores – uma empresa mais parecida com os conglomerados americanos dos

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anos 1960 do que com a indústria tecnológica dos últimos anos, tão fragmen-
tada. “É a volta para o futuro”, disse Ellison a analistas financeiros em outubro.

Ellison é um dos executivos que estão revivendo a “integração vertical”, es-


tratégia centenária em que uma empresa controla os materiais, a fabricação e
a distribuição. Outras que vêm tomando esse rumo ultimamente são a Arce-
lorMittal, a PepsiCo Inc., a General Motors Co. e a Boeing Co.

Os motivos variam. A Arcelor, maior siderúrgica mundial, deseja ter mais


controle sobre suas matérias-primas. A Pepsi quer mais autoridade sobre a
distribuição. GM e Boeing estão mudando por necessidade, para garantir a
quantidade e a qualidade de peças de importância vital, fabricadas por for-
necedores que enfrentam dificuldades. Algumas estão recomprando negó-
cios que venderam recentemente. “O pêndulo passou da desintegração para
a integração”, diz Hal Sirkin, chefe da divisão de operações globais do Boston
Consulting Group. Ele atribui essa mudança à busca de novas fontes de renda,
à volatilidade no preço das commodities e às pressões financeiras sobre os
fornecedores – desafios exacerbados pela recessão.

Há apenas dois anos, por exemplo, Ellison disse que a o Oracle iria continu-
ar concentrada no seu foco tradicional, o software. hardware para computado-
res não é “um negócio em que temos qualquer ambição”, disse ele na época.
Em um pronunciamento em setembro, Ellison qualificou essa opinião como
fundamentalmente errada. Ellison não quis comentar para esta reportagem.

Essa passagem para a integração vertical é uma mudança em relação à


tendência do último meio século, quando as empresas buscaram se espe-
cializar cada vez mais, terceirizando funções como fabricação e aquisição de
matérias-primas. Nos anos 1980 as siderúrgicas venderam suas operações de
mineração; nos anos 1990, as montadoras gigantes descartaram suas unida-
des fornecedoras de peças. As empresas de tecnologia pararam de fabricar
todas as peças de um sistema computacional e se especializaram em chips,
armazenamento de dados ou software.

O princípio básico era que a especialização aumentaria a eficiência e a qua-


lidade. Hoje, um sistema de informática típico de uma empresa pode ter sido
montado pela Accenture Plc., com sistemas de armazenamento de dados da
EMC Corp. e computadores da Hewlett-Packard Co. que usam chips da Intel
Corp. para rodar softwares da Oracle. Agora a Oracle está tentando combinar
todas essas funções.

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Outros estão atrás de estratégias semelhantes. A Pepsi espera recomprar


engarrafadoras que vendeu em 1999. Naquela época os executivos da em-
presa queriam se concentrar em marketing e deixar a maior parte das deci-
sões operacionais para as engarrafadoras. Agora que os consumidores estão
preferindo refrigerantes não carbonados, a Pepsi quer ganhar mais controle
sobre a distribuição do seu crescente leque de ofertas, diz a porta-voz Jenny
Schiavone.

Esses passos não anunciam, necessariamente, uma volta ao início do século


XX, com os conglomerados verticais como os de Andrew Carnegie ou Henry
Ford. Na época, a siderúrgica Carnegie Steel Co. e a Ford Motor Co. possuí-
am minas de minério de ferro e controlavam tudo, da fabricação às vendas.
“A visão histórica da integração vertical era que você tinha controle total da
cadeia de suprimentos e era capaz de administrá-la da melhor maneira”, diz
Mark Gottfredson, consultor da Bain & Co. Hoje a abordagem é mais nuança-
da. As empresas estão comprando elementos fundamentais de suas cadeias
de suprimentos, mas a maioria não deseja assumir o controle total do proces-
so, do início ao fim.

Algumas iniciativas podem encontrar resistência das autoridades regu-


ladoras. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, por exemplo,
está examinando o plano da Pepsi de comprar suas duas maiores engarrafa-
doras. No Departamento de Justiça, o equivalente americano ao Ministério da
Justiça, a chefe das operações antitruste, Christine Varney, já sinalizou que há
interesse em realizar um exame detalhado desses acordos verticais.

Nas últimas décadas os reguladores permitiram a maioria das fusões ver-


ticais, presumindo que estas tornam as firmas mais eficientes, reduzem os
custos e beneficiam os consumidores, diz M. J. Moltenbrey, advogado da firma
de advocacia Howrey LLP em Washington. Em vez disso, os reguladores têm
se concentrado em evitar que uma única empresa domine um determinado
mercado.

A União Europeia já tomou providências para impedir a aquisição da Sun


pela Oracle devido a esses motivos, temendo que a Oracle acabaria deten-
do um controle excessivo de um nicho de software (uma porta-voz da Oracle
disse que a empresa não vê tal conflito e está segura de que receberá auto-
rização para o negócio.) A UE, porém, não expressou preocupações quanto à
entrada da Oracle no mercado de hardware.

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Estratégias globais

Enquanto muitas empresas, como a Coca-Cola Co. e a Toyota Motor Corp.,


resistem à tendência de controlar seus sistemas de distribuição e suprimen-
tos, outras estão descobrindo que não têm muita opção senão fazer a inte-
gração vertical. Nos últimos dois anos a Boeing comprou uma fábrica e uma
participação de 50% em uma joint venture que fabrica peças para o seu jato
787 Dreamliner, que ela tem tido dificuldades para levar a cabo.

Essas iniciativas reverteram, em parte, a estratégia agressiva de terceiri-


zação da Boeing, que estava montando o Dreamliner com peças fabricadas
por centenas de fornecedores. Os problemas de suprimento e montagem já
atrasaram o lançamento do Dreamliner em mais de dois anos. O diretor-pre-
sidente da Boeing, Jim McNerney, diz que a empresa continua comprometida
com a terceirização.

Da mesma forma, em outubro a GM comprou quatro fábricas e assumiu


participação minoritária na Delphi Automotive LLP, sua maior fornecedora de
peças, quando esta saiu da recuperação judicial. A GM, que desmembrou a
Delphi em 1999, quis, com a aquisição da fatia, garantir o fornecimento inin-
terrupto, segundo uma porta-voz da empresa.

A Johnson Controls Inc., outra grande fabricante de peças, comprou no


ano passado 70% da divisão de produtos para o interior dos veículos da forne-
cedora Plastech Engineered Products Inc., que estava em recuperação judicial,
para garantir o fornecimento.

Várias siderúrgicas também estão adotando essa mudança, penetrando


mais fundo nos negócios de matérias-primas, abandonados por siderúrgicas
mais antigas. Nos últimos anos a Arcelor adquiriu minas no Brasil, Rússia e Es-
tados Unidos e expandiu suas operações de mineração já existentes.

O estrategista-chefe Bill Scotting diz que a empresa de Luxemburgo está


tentando se proteger contra as flutuações de preços do minério de ferro e do
carvão, em vista do aumento do consumo chinês de aço e da consolidação
das mineradoras. “Se você compra tudo de um certo mercado, você depende
da cadeia de suprimentos desse mercado”, diz Scotting.

A Nucor Corp., que fabrica aço a partir de metal reciclado, comprou no ano
passado uma grande processadora de sucata. A Nucor tomou essa iniciativa
quando o preço do ferro-velho subiu muito. Desde então o preço caiu, mas
o diretor-presidente Dan DiMicco diz que possuir uma fornecedora ajudará

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a Nucor a administrar seus estoques com mais eficiência e acabará por gerar
uma economia anual de mais de US$100 milhões para a empresa. “A infor-
mação sobre os mercados é extremamente valiosa no setor de sucata”, disse
ele. Ao controlar os suprimentos, “você tem mais controle sobre o seu próprio
destino.”

Talvez a virada mais acentuada esteja ocorrendo na indústria de tecnolo-


gia, onde a especialização e a terceirização dominaram durante décadas. Na
Oracle, a mudança realizada por Ellison é das mais radicais do setor. Durante
32 anos Ellison foi um grande defensor – e beneficiário – da especialização, no
que chamava de “indústria horizontal da computação”. O forte da Oracle era
o software empresarial, programas que ajudam as empresas a gerir suas ope-
rações com mais eficiência. Esse modelo gerou grandes lucros para a Oracle,
evitando o custo de fabricar computadores.

Com o acordo feito com a Sun, Ellison descartou essa estratégia. Agora
ele quer vender “sistemas completos”, compostos por chips, computadores,
servidores para armazenamento de dados e software da Oracle. Ellison está
apostando que essa combinação vai atrair os clientes empresariais já cansa-
dos de montar sua infraestrutura de informática com componentes vindos de
diversos fornecedores. “Antes nós não estávamos no negócio de hardware,
mas agora estamos mergulhando com os dois pés”, disse Ellison no evento
de outubro. Notando que a Oracle está indo contra uma tendência que já
tem décadas no setor, Ellison disse: “Ou somos realmente brilhantes, ou então
somos idiotas.”

Atividades de aplicação
1. Com relação à cadeia de valores, assinale a correta.

a) Envolve atividades de apoio, como gestão de pessoas e outros re-


cursos.

b) Está relacionada com a forma de internacionalização da empresa.

c) Relaciona-se com a análise da concorrência.

d) É utilizada para elaborar pesquisas de mercado.

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2. Explique quais são os 4 Ps. do composto de marketing e o que uma


empresa deve observar em cada um desses fatores, para a prática do
comércio com outros países.

3. Dentre as estratégias relacionadas a preço, assinale a correta.

a) A de liderança em custos envolve promover mais vendas.

b) A de diferenciação é a própria redução de custos.

c) A economia de escala refere-se a ampliar a produção para pagar


menos.

b) A localização significa fazer a cobrança da mercadoria em moeda


local.

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1996.

CHRISTOPHER, M. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos:


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FAHEY, L.; RANDALL, R. M. MBA Curso Prático em Estratégia. Rio de Janeiro:


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FRIEDMAN, T. L. The World is Flat: a brief history of the Twenty-First century. Nova
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MAUBORGNE, R; KIM, W. C. A Estratégia do Oceano Azul: como criar novos mer-


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Estratégias globais

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terior. Campinas: Alínea, 2006.

WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business. Nova
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mundial, The Wall Street Journal, Valor Econômico, p. B 9, 01 dez. 2009.

Gabarito
1. A

2. Os quatro Ps são produto, preço, distribuição (praça) e promoção.


Também são chamados de marketing mix ou composto de marketing.
O produto é o bem que será comercializado. Deve ser comercializado
após uma pesquisa de mercado para indicar a preferência do consu-
midor. Essa pesquisa, em mercados internacionais, deve ser feita ob-
servando a cultura e os hábitos locais. O preço deve ser definido com
base na análise do mercado de destino, na análise da concorrência,
na segmentação e posicionamento do mercado. No caso de mercados
internacionais, o preço deve estar orientado pela estratégia de inser-
ção em determinados mercados, observando a concorrência e outras
despesas associadas, como despesas aduaneiras e frete internacional,
por exemplo. A distribuição (ou praça) envolve a análise da cadeia de
suprimentos, as decisões de localização ou não, entre outras, lembran-
do que, nas operações internacionais, as cadeias de suprimentos são
mais longas e sujeitas a maiores incertezas. A promoção relaciona-se
à imagem do produto e do país envolvido. Deve ser feita uma análise
em termos de marca, embalagem, especificações técnicas, observan-
do-se a teorias das cores e as normas de defesa do consumidor do país
comprador.

3. C

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Formas de internacionalização

Cristiano Morini

A forma de internacionalização relaciona-se à escolha do modo de


entrada no mercado estrangeiro. As estratégias globais e o plano de
marketing adotados pela empresa também devem considerar as formas de
internacionalização.

Antes de selecionar a forma de internacionalização para determinado


destino, é útil realizar uma pré-análise de mercados potenciais. Para tanto,
há quatro passos (WILD; WILD; HAN, 2008):

Passo 1 – identificar as necessidades básicas: as empresas se inter-


nacionalizam para aumentar vendas/lucros e também para ter acesso a re-
cursos como disponibilidade de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento,
matéria-prima e outros recursos necessários. Muitas empresas reposicionam
suas fábricas para ter acesso à mão de obra mais barata, provocando novas
configurações em termos de divisão internacional do trabalho. Apesar disso,
devem considerar a disponibilidade de material ou a importação de itens,
analisando a carga tributária e as barreiras de entrada. Outro fato é o acesso
ao financiamento. As lojas Virgin, de um empresário britânico, foram abertas
no Japão porque o custo do capital financiado disponível no Japão era um
terço do custo no Reino Unido. Além disso, há casos de países que deman-
dam produtos que não são produzidos internamente. Nesse caso, a empresa
exportadora tem facilitada a sua entrada em terceiros mercados, por ser uma
necessidade do país importador, como é o caso, por exemplo, de importação
de alimentos pela Rússia.

Passo 2 – acesso ao ambiente de negócios local de outro país: o am-


biente nacional de negócios varia muito de país para país, em termos de
cultura, política, leis e economia. As forças culturais relacionam-se com idio-
mas, atitudes, crenças religiosas, tradição e costumes. Alguns produtos são
comercializados em diferentes mercados com pouca ou nenhuma modifica-
ção, como é o caso de máquinas industriais e artigos de luxo. Outros exigem
adaptações enormes, como livros, revistas e alimentos. A experiência da
Coca-Cola na China foi interessante. Os chineses tomam com frequência um

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Formas de internacionalização

antigripal com gosto semelhante ao da Coca-Cola. Para a Coca-Cola conse-


guir entrar no mercado chinês foi necessário desenvolver uma campanha de
publicidade específica, associando o produto à imagem da cultura america-
na. Nos países árabes (como Irã e Paquistão) e Índia, essa associação não é
bem-vinda. A regulação governamental também deve ser analisada, porque
pode criar um ambiente superprotegido e controlado, que afugente o ca-
pital estrangeiro em novos empreendimentos. Assim foi o caso recente da
Bolívia, que em 2009 nacionalizou investimentos estrangeiros. A estabilida-
de política é outro elemento a ser analisado. Em um país como a Venezuela,
a política gera um risco extra sobre os negócios. O excesso de regulações
pode inibir a abertura de novos negócios, assim como é o caso do próprio
Brasil. Estudo do Banco Mundial, chamado Doing Business 2010, aponta que
o Brasil se situa na posição 129, de um total de 183, em termos de “facilida-
de de fazer negócio”. Ainda em comparação com 183 economias, o Brasil se
situa na 126.º posição em termos de abrir um negócio e na 131.º posição
em termos de fechar um negócio. Esses indicadores afugentam o investidor
estrangeiro (quadro 1).

Quadro 1– Posição do Brasil no Doing Business 2010

(DOING BUSINESS, 2009)


Item Posição do Brasil (de um total de 183)
Facilidade de fazer negócios 129
Abrir um negócio 126
Obter licenças para construir (um armazém) 113
Contratação de trabalhadores 138
Registro de propriedade (tempo transcorrido
entre a transferência de propriedade do ven- 120
dedor para o comprador)
Obtenção de crédito 87
Proteção a investidores 73
Pagamento de impostos 150
Desempenho do comércio exterior 100
Cumprimento de contratos 100
Fechar um negócio 131

Além dos elementos apontados, também deve ser analisado neste se-
gundo passo o custo do transporte de materiais e a cadeia de suprimentos
envolvida, bem como a imagem do país. Em um passado não muito distante,
a imagem de produtos originários da América Latina não era boa, ao con-
trário de produtos originários do Japão, por exemplo. Além disso, há países

170

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que praticam impostos de importação altíssimos, praticando alíquotas que


podem chegar a mais de 200% sobre o valor CIF da importação (custo da
mercadoria, mais seguro e frete internacional). Além de altas alíquotas de
impostos de importação, pode haver contingenciamento ou cotas de impor-
tação, em que o mercado de importação é subdividido para os exportadores,
em troca de acesso de outros produtos no outro mercado.

Passo 3 – medir o potencial de mercado: para buscar informações sobre


determinados mercados, é possível encontrar informação de acesso gratuito
e informações a serem comercializadas. A APEX-Brasil (Agência de Promoção
às Exportações e Investimentos1) fornece informação sobre inteligência co- 1
<www.apexbrasil.com.br>.

mercial de maneira gratuita. No que tange a informações que podem ser


adquiridas mediante pagamento, há o Euromonitor2 e o Relatório Interna- 2
<www.euromonitor.com>.

cional do Serasa3, por exemplo. Algumas variáveis de análise são: tamanho 3


<www.serasa.com.br>.

do mercado, taxa de crescimento do mercado, intensidade de mercado


(medido em termos de consumo per capita, PIB per capita e paridade de
poder de compra), infraestrutura comercial (analisando os canais de distri-
buição e comunicação), liberdade de mercado, fluxo comercial internacional
e risco país.

Passo 4 – selecionar o mercado: para esta etapa, é aconselhável uma


viagem de negócios após analisar os números e as informações in loco. É
uma oportunidade de experimentar uma cultura, observar a força de tra-
balho, participar de uma reunião, observar a concorrência ou fazer contato
pessoal com novos consumidores ou distribuidores.

Segundo Mendoza-Molina (2002), há também a seleção passiva e a ativa.


Na seleção passiva, a empresa exportadora é contatada pelo importador,
que muitas vezes obteve informações do exportador em anuários de fabri-
cantes ou exportadores, material publicitário (folhetos), por intermédio de
escritórios comerciais, câmaras de comércio, participação em missões ou
feiras comerciais. A seleção ativa implica que a empresa tome a iniciativa na
busca e segmentação de mercados estrangeiros, tratando-se de uma ação
de marketing, como a obtenção e análise de informações comerciais.

Após a análise dos mercados potenciais, a empresa pode definir a forma


de entrada no mercado estrangeiro, juntamente com a realização de uma
pesquisa de mercado.

171

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A pesquisa de mercado
A pesquisa de mercado é precedida de uma seleção prévia de eventuais
mercados de destino das mercadorias a serem exportadas. A seleção prévia
é útil para evitar a obtenção de um grande número de informação, sem se
aprofundar em nenhum destino específico. Após essa seleção, a busca por
informações mais detalhadas é fundamental. Os primeiros candidatos serão
escolhidos de acordo com critérios culturais, geográficos, econômicos, de-
mográficos e outros (MENDOZA-MOLINA, 2002).

É importante estabelecer, nessa seleção prévia, uma forma de avaliar os


quesitos identificados, de zero a cinco, por exemplo, a fim de ter em mente
uma gradação em termos quantitativos. Isso favorecerá pontuar os países,
de modo a fazer uma relação em ordem de prioridade. Nem todos os desti-
nos possuem somente aspectos positivos ou negativos, por isso a importân-
cia dessa pontuação e classificação dos países. Essa prática de pontuar, de
maneira ponderada segundo o interesse de cada empresa, é destacada pelo
autor espanhol Mendoza-Molina (2002).

Para iniciar a atividade, é necessário buscar fontes de informações con-


fiáveis, que não distorçam os objetivos a serem atingidos. As fontes oficiais
de cada país tendem a valorizar a qualidade do país em análise; as fontes
de organismos internacionais privados podem conter vícios, dependendo
do interesse do patrocinador do estudo. Dessa maneira, alternar a utilização
de organismos internacionais privados, organismos internacionais públicos,
órgãos nacionais privados e órgãos nacionais oficiais é uma boa prática.

Os principais aspectos a pontuar e a observar são:

 proximidade geográfica – geralmente empresas que não se inter-


nacionalizaram iniciam esse processo por países de fronteira. Isso em
geral não é uma regra, mas uma prática comum. Esse fato é muito co-
mum na Europa. O comércio intra-Europa ou entre os próprios países
da Europa é o maior do mundo em termos de fluxo comercial;

 contatos estabelecidos – o estabelecimento de um contato em uma


feira internacional ou por indicação de um conhecido, também é um
bom início de seleção prévia de um país. Nem sempre o contato se efe-
tiva em negócio, mas sem dúvida é um forma de ganhar experiência
sobre o assunto, preparando-se para eventuais contatos melhores;

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 afinidade cultural – modos de ver o mundo de forma assemelhada,


religião em comum, idiomas estrangeiros com raízes em comum fa-
cilitam o estabelecimento de busca de informações e reuniões para
a concretização de um negócio. Assim é o caso do comércio entre os
países árabes muçulmanos, entre os países latino-americanos, entre os
países do sudeste asiático;

 existência de acordos internacionais em comum – se o país “A” tem


acordo comercial com o país “B”, o comércio entre os países é facilitado
pela redução ou inexistência de tarifas de importação entre eles. Isso
significa que o comércio entre eles é mais vantajoso pela redução do
imposto de importação que de países terceiros. Assim é o caso do co-
mércio intra-Mercosul e intra-União Europeia;

 potencial de comercialização ocasionado por fato específico – ven-


der produtos de materiais de construção para um país que necessita
recuperar-se de um período de guerra ou um desastre da natureza é
um potencial que deve ser avaliado de forma muito positiva. Assim
foi feito com fornecedores brasileiros de telhas de cimento para os es-
tados da Flórida e Lousiana, após a passagem de vários furacões em
2005, inclusive o Katrina, que devastou Nova Orleans. Também é o caso
de várias empresas brasileiras do setor de construção civil, vendendo
materiais de construção para Angola e Moçambique, cujas reconstru-
ções começaram próximas do ano 2000;

 potencial de comercialização em relação ao tamanho do mercado


– país com renda per capita elevada e grande fluxo de comércio tende
a ser o destino padrão para aquelas empresas que não querem investir
muito em pesquisas de mercado, por ser grande a aceitação para am-
pla variedade de itens;

 perfil da população de um país – países com grande número de


crianças ou com grande número de idosos devem ser considerados
em termos de perfil demográfico e potencial de mercado para produ-
tos específicos;

 estabilidade política e econômica – não faz sentido vender para um


empresário que depois não consiga remeter o valor das divisas para o
país vendedor. Muitas vezes, países com instabilidade política e eco-
nômica restringem a remessa de capitais para o exterior, o que invia-
bilizaria o negócio;

173

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 condições logísticas – as condições logísticas relacionam-se com a


capacidade de estabelecer um armazém ou centro de distribuição,
contratar um operador logístico local, trafegar pelo país (em ferrovias,
rodovias ou rios). Se a distribuição física for inviabilizada, não há como
estabelecer relações comerciais duráveis;

 condições de comunicação – a liberdade de expressão, o acesso a


notícias e a facilidade de comunicação (via telefone ou internet) é uma
condição que permite a consistência do negócio. No Japão, por exem-
plo, em qualquer ponto do país pode ser acessada a internet sem fio,
mesmo em um trem em movimento ou ao pé do Monte Fuji. Em con-
trapartida, a internet na América do Sul é lenta e ainda de difícil acesso,
à exceção de alguns centros comerciais em cidades grandes. O que
dizer do acesso à internet no interior dos países africanos?;

 sistema legal – o direito é estabelecido de maneiras diferentes em vá-


rios países. Há países de regimes autoritários em que não há qualquer
garantia via direito. Em países democráticos, há uma ampla gama de
garantias para proteger e estimular os negócios de qualquer porte.
Além disso, a origem de um sistema legal pode estar associada ao di-
reito comum (Common Law, com ênfase na tradição, nos usos e costu-
mes), em países como Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Irlanda, Nova
Zelândia, Estados Unidos e outros países da Ásia e África, principal-
mente ex-colônias; ao direito romano (originário do legado de Roma),
cujas regras são demasiadamente detalhadas em diversos códigos,
em países de tradição ibero-americana, como América Central, Améri-
ca do Sul (incluindo Brasil), Europa ocidental e outros países da Ásia e
África, principalmente ex-colônias; e ao direito teocrático, relacionado
à religião e a forças espirituais, como o direito islâmico (países muçul-
manos) e o direito hindu (Índia);

 concorrência local – analisar a concorrência exige conhecer o nível de


preços praticados, os principais produtores ou importadores. As fontes
dessas informações podem ser listas telefônicas, catálogos, anuários,
publicações especializadas, análise de sites, nas quais poderão ser ob-
servados os anunciantes. A participação de cada competidor em uma
determinada economia pode ser feita em parceria com instituições de
pesquisa, público ou privadas;

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 sistema bancário e acesso ao crédito – o sistema bancário também


é orientado pelo sistema legal. Nos países muçulmanos o sistema ban-
cário é impedido de cobrar juros (assim como está escrito no Corão) e
parte dos lucros devem ser repartidos entre os correntistas. Essa é uma
diferença considerável ao sistema bancário ocidental;

 câmbio e paridade do poder de compra – o câmbio refere-se à troca


de moedas para a realização de uma operação comercial internacio-
nal. Há moedas fortes ou conversíveis que não precisam ser trocadas,
mas quase todo o comércio exterior que o Brasil faz depende do câm-
bio (à exceção do comércio com a Argentina, onde é permitido o paga-
mento e recebimento em pesos, embora o montante seja desprezível
em relação ao total), porque o real não é uma moeda forte ou conver-
sível. Países com instabilidade política e econômica oferecem maiores
riscos cambiais, porque as moedas podem sofrer alterações a qualquer
momento, com a prática de desvalorizações competitivas. Desde 1971,
não há mais um padrão financeiro internacional, o que significa que as
moedas variam entre si. Um país com dificuldade de honrar compro-
missos financeiros internacionais pode praticar a desvalorização de
sua moeda, tornando a economia mais competitiva em termos de
atração de investimento estrangeiro e aumento de exportações. No
entanto, comercializar com países com maior risco cambial representa
um risco que pode causar perdas financeiras significativas. A paridade
do poder de compra relaciona-se ao câmbio do país e ao índice geral
de preços. Em um país de câmbio muito desvalorizado não significa
que tudo é barato, se o índice de preços for alto. Assim como Chile
(US$1 = 500 pesos chilenos aproximadamente) e Japão (US$1 = 91.000
ienes)4, países de moedas bastante desvalorizadas, mas com índice de 4
Com base em valores de
jan/2010.
preços e custo de vida elevados;

 particularidade cultural e nas negociações – há características es-


senciais ou particularidades de determinados mercados que podem
inviabilizar o negócio de determinada empresa, como o comércio
de carne de porco e bebida alcoólica para países muçulmanos, por
exemplo. Por outro lado, há particularidades que podem potencializar
as vendas, como o fato das mulheres muçulmanas apreciarem mui-
to roupas íntimas com cores vibrantes (calcinhas e sutiãs vermelhos
e amarelos, por exemplo). Há particularidades que costumam chocar

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também, como o fato de Espanha, Itália e Grécia importarem grande


quantidade de carne de cavalo para a elaboração de seus pratos gas-
tronômicos. Quanto às negociações, há detalhes fundamentais, como
o fato de se evitar qualquer tipo de negociação no mês de Ramadã,
mês árabe em que os muçulmanos não comem, bebem e não podem
ter prazer durante a luz do dia. Já os chineses são lentos nas negocia-
ções, além das negociações só se desenvolverem após estabelecido o
guanxi, ou relacionamento. Os chineses não negociam com quem não
têm informações prévias ou não conhecem.

Cada empresa pode fazer a pontuação para cada item identificado, esta-
belecendo pesos diferentes para cada item, se achar conveniente. Por exem-
plo, o item concorrência local pode valer peso 1 ou 2, nesse caso se for mais
importante dentro dos critérios estabelecidos por cada empresa. Assim, ao
final da análise, cada mercado terá uma pontuação. A maior pontuação in-
dicará maior facilidade de entrada ou de internacionalização. Por exemplo,
ao estabelecer que o item “potencial de comercialização” é 4 ou 5, significa
grande potencial, enquanto 0 ou 1 significaria ausência de potencial. Assim
como um “sistema legal” do país de destino conhecido ou próximo do Brasil,
seria 4 ou 5, enquanto um sistema legal completamente exógeno significaria
0 (zero). Um país de “câmbio” de alto risco e “instabilidade política” represen-
taria 0 ou 1, enquanto um país com baixo risco cambial seria 4 ou 5. Se a
“afinidade cultural” existir, leva uma pontuação 4 ou 5; se ela não for nem tão
discrepante nem tão próxima, 3; e se for provocador de choques culturais,
levaria 0 ou 1. Quanto à concorrência, quanto maior a concorrência, menor a
pontuação. Se em um mercado não há concorrência, a pontuação é 5. O item
“particularidade” pode ser desconsiderado para fins de pontuação.

Ao final da análise, é possível identificar países como mercados de maior


potencial ou não, sem que um elemento ou outro atrapalhe a análise sistê-
mica como um todo. O mercado de maior potencial será o de maior pontua-
ção. Os pesos podem ser aplicados conforme a conveniência de cada empre-
sa. Dessa maneira, a fórmula ilustra como pode ser composta a Pontuação
Média das Variáveis (PMV), sendo V1, V2 e V3 as variáveis um, dois e três, até
a variável “n”. No divisor, o peso de cada variável.

Cálculo da média ponderada da pontuação das variáveis

PMV = (peso1 · pontuação_V1)+(peso2 · pontuação_V2)+...+(peson · pontuação_Vn)


(peso1+peso2+...+peson)

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Vamos passar a um exemplo, de uma empresa industrial brasileira do


ramo de materiais de construção, que ainda não exporta para nenhum
mercado, utilizando como possíveis mercados de destino: Emirados Árabes
Unidos (EAU) e África do Sul (quadro 2).

Quadro 2 – Análise de mercado de destino: EAU X África do Sul

Cristiano Morini.
Item Emirados Árabes Unidos África do Sul
Posição no Doing Business 33.º (não entra no cálculo,
2010 (com relação à facilidade apenas para ter em mente 34.º
de fazer negócios) outro referencial de análise)
Proximidade geográfica 2 (país distante) 2 (país distante)
Contatos 0 (não dispõe) 0 (não dispõe)
1 (país de colonização inglesa
Afinidade cultural 0 (país árabe) e holandesa, pratica o Com-
mon Law)
Existência de acordos com o 0 (não dispõe) 0 (não dispõe)
Brasil
4 (grande potencial com
Potencial de comercialização/ 5 (grande potencial, em Abu negócios imobiliários relacio-
fato específico Dhabi: e Dubai, por exemplo) nados à Copa do Mundo, por
exemplo)
Potencial de comercialização/ 5 (país de renda alta) 3 (grande população)
tamanho do mercado
5 (são por volta de 5 milhões 2 (são por volta 49 milhões
de habitantes, com a 12.ª de habitantes, sendo a 105.ª
maior renda per capita do maior renda per capita do
Perfil da população mundo). Média de idade mundo). Média de idade da
da população é de 30 anos. população é de 24 anos. Ex-
Expectativa de vida: 78 anos pectativa de vida: 49 anos
Estabilidade política e econô-
4 3
mica
Condições logísticas 3 3
Condições de comunicação 2 4
Sistema legal 0 1
Concorrência local 2 3
Câmbio 4 3
TOTAL (considerando peso 1 2,46 2,23
para todas as variáveis. PMV)

Com base na pré-análise calculada, é mais vantajoso iniciar a interna-


cionalização rumo aos Emirados Árabes Unidos, no caso da empresa do
ramo em específico. Ainda assim, ambas as pontuações foram baixas, o que
pode significar que há outros mercados mais atrativos para se iniciar na
internacionalização.

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As formas de internacionalização mais usuais


Há formas diretas e indiretas de internacionalização. Há formas simples-
mente de venda de mercadorias e há formas em que se instala uma fábrica
em outro país. Foram identificados os principais canais de entrada no merca-
do estrangeiro, dos quais se destacam:

 venda direta – exportação direta (para filial de vendas, filial de produ-


ção, consumidor final, pelo correio, para o importador), representantes
de vendas, distribuidores, prestação de serviço;

 venda indireta – exportação via trading company, exportação via


agentes de compras, vendor managed inventory;

 investimento direto – subsidiária de vendas, subsidiária de produção,


aquisição, franquia (quando for com capital próprio);

 investimento indireto – franquia (quando for com capital de tercei-


ros, franqueados);

 associações – parcerias diversas, joint ventures, consórcios, cooperati-


vas (mais relacionados a mercadorias do setor primário);

A seguir, serão dados mais detalhes sobre algumas dessas formas de


internacionalização.

Exportação direta
A prática da exportação é a venda de mercadoria para empresa ou pessoa
situada no exterior. É uma forma direta de internacionalização e também
uma das mais usuais e iniciantes. Geralmente uma empresa testa mercados
previamente analisados em pesquisa de mercado exportando diretamente
para alguma empresa ou pessoa situada no exterior. O envio de amostras é
também considerado uma forma de exportação, embora sem valor comer-
cial (o que significa que não há envio de pagamento em contrapartida ao re-
cebimento de uma mercadoria). É importante destacar que é definido como
amostra o que for “representada por quantidade, fragmentos ou partes de
qualquer mercadoria, estritamente necessários para dar a conhecer sua na-
tureza, espécie e qualidade” (BRASIL, 2009). A legislação brasileira também
permite a exportação temporária (sem transferência da propriedade), para
os casos de envio ao exterior de materiais para exposições, competições,
mostras, conserto, reparo ou manutenção.
178

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Muitas empresas possuem vendedores próprios, como parte do corpo de


funcionários de uma empresa, para promover as exportações. Os vendedo-
res próprios devem viabilizar uma negociação que tem a meta de exportar
para determinado mercado.

A empresa também pode contratar um agente de vendas, remunerado


por comissão de vendas. A comissão incide geralmente sobre valores EXW
(preço no local de fabricação) ou FOB (preço da mercadoria livre a bordo do
navio, no país de origem). É fundamental que o agente de vendas tenha co-
nhecimento de mercados estrangeiros, tenha contatos locais, saiba divulgar
o produto, conhecendo características de um determinado setor de atua-
ção. Por exemplo, um agente de vendas que atue na área moveleira deve
ser capaz de conhecer os principais concorrentes do setor, o diferencial de
produto a produto, os tipos de madeira, os tipos de dobradiças etc.

Geralmente a empresa que se utiliza de agente de vendas dispõe de uma


carteira de agentes por mercados ou por regiões. Por exemplo, um agente
para atuar no leste europeu, um agente para atuar na península da Indochina
e assim por diante. O agente também não deverá representar interesses de
empresas concorrentes e deverá trabalhar comunicando-se continuamente
com a empresa, a fim de obter detalhes sobre o funcionamento de produ-
tos, informações técnicas e outras. O vendedor contratado da empresa ou o
agente de vendas também é conhecido como trader.

A exportação direta também poderá ser para distribuidor ou atacadista


local. O distribuidor é um representante exclusivo para uma determinada
área geográfica. As câmaras de comércio ajudam a oferecer uma carteira de
interessados em representar interesses de empresas estrangeiras, por mer-
cado. A vantagem da utilização de um distribuidor local é o conhecimento
que este tem das características essenciais do mercado. Uma vez estabeleci-
do esse canal, há a necessidade da confiança mútua entre as partes.

Exportação via trading company


A trading company é uma empresa que compra mercadorias em um mer-
cado e revende para outro, podendo, inclusive, ser uma empresa industrial.
A figura 1 ilustra a atuação de intermediação da trading.

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Cristiano Morini.
Empresa venda direta Empresa
no Brasil no exterior

Trading
company
venda indireta
Figura 1 – Exportação direta e exportação indireta.

A venda de mercadoria nacional para empresa trading equipara-se à ex-


portação, em termos de benefícios fiscais envolvidos. Há isenção de imposto
de exportação, não incidência de ICMS (Imposto Estadual sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços), imunidade de IPI (Imposto sobre Produto Indus-
trializado) e isenção de PIS/PASEP (contribuições sociais) e COFINS (contri-
buições fiscais).

A empresa trading tem a obrigação de revender para o exterior o que foi


adquirido no mercado interno, em um prazo de até seis meses, comprovando
a exportação em um documento chamado de memorando de exportação.

A trading é uma empresa assim conhecida globalmente, que detém


grande quantidade de informação comercial e contatos locais, a fim de viabi-
lizar sua atuação. A trading pode ser remunerada por comissão ou por lucro
na compra e revenda.

Vendor Managed Inventory


Também conhecido como Inventário Gerenciado pelo Fornecedor, con-
tribui para a cooperação e integração entre o fabricante e seu fornecedor e
entre varejistas e fabricante. O Vendor Managed Inventory (VMI) é, essencial-
mente, um arranjo entre o dono da mercadoria (consignante) e a outra parte
(consignatário). O consignante entrega a mercadoria para uso ou venda pelo
consignatário. Após o consignatário usar ou vender a mercadoria, há a re-
messa do valor da venda para o consignante. (FAGEL, 1996).

O VMI viabiliza que o fornecedor administre o estoque do comprador,


mas simplesmente mantém esse estoque próximo ao cliente industrial. O
pagamento das mercadorias utilizadas só será considerado no momento da
efetiva necessidade do cliente industrial, ou seja, quando o item é retirado
do estoque.

180

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Vollmann e Cordon (1998) apontam a importância das parcerias no rela-


cionamento fornecedor-cliente para que se logrem resultados positivos na
gestão de demanda, cujo principal motivador são os benefícios da “organi-
zação virtual”. Em uma típica implementação de VMI, o fornecedor monitora
o nível de inventário no recinto designado pelo comprador, além de assumir
a responsabilidade de reposição de inventário, o que implica em confiança e
confidencialidade no relacionamento entre as partes.

Para Achabal (2000), o VMI tem sido introduzido na indústria de manu-


fatura para melhorar tanto o serviço ao cliente do varejo quanto o giro de
estoque, o que provoca o aumento de vendas devido à acurácia. O autor ar-
gumenta que o fornecedor tem uma melhor percepção do custo de stockout
(falta de estoque) que o varejista, principalmente porque a margem de lucro
do fornecedor, por unidade, é menor que a do varejista ou porque o consu-
midor simplesmente pode substituir sua compra por um produto similar, na
mesma loja, quando ocorrer stockout. É um tipo de parceria ganha-ganha.

Para tentar equacionar os benefícios do VMI para as partes, dentro de uma


perspectiva ganha-ganha, Achabal (2000) identifica os seguintes benefícios:

 para o cliente:

 gestão de inventário mais efetivo e menos incerto, com maior giro


de estoque e melhor serviço ao cliente, pois evita perda de vendas.
O pedido de compra é eliminado do processo;

 um meio efetivo de custo para melhor planejamento de vendas e


serviço de gestão de inventário, pois o fornecedor é responsável
pelo ressuprimento.

 para o fornecedor:

 um método para aumentar a disponibilidade do produto na loja;

 uma forma de evitar o “efeito chicote”, causado pela sazonalidade


e incerteza da demanda, provocando diferenças entre a demanda
real e a previsão, a qual é aumentada, em cada parte da cadeia, para
evitar falta de material em estoque. Esse aumento da previsão de
consumo em cada parte da cadeia gera grande distorção ao mon-
tante. Evitando-se o “efeito chicote”, a produção é mais próxima da
demanda real e a informação de consumo é mais precisa, com ex-
pectativas mais realistas, facilitando seu planejamento de produ-
ção e logística e reduzindo excesso de inventário e stockouts.
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Subsidiária de produção
Segundo Minervini (2005, p. 150), o objetivo de uma subsidiária de pro-
dução pode ser superar proibições às importações ou evitar pagar impostos
elevados, além de reduzir custos com a utilização de mão de obra e matérias-
-primas locais.
A instalação de um fábrica em outro país passa pela prévia análise do
mercado, pela capacidade do país de ser utilizado como ponte de exporta-
ção para terceiros, pela existência de acordos comerciais internacionais (que
permitam que o produto originário de um país adentre em outro com redu-
ção ou isenção do imposto de importação), pela quantidade e qualidade da
mão de obra disponível, pelo papel do sindicato, pela dificuldade de remes-
sa de lucros, pela facilidade de importação de insumos, pela infraestrutura
logística, entre outros elementos.
O processo de globalização provocou um grande número de abertura de
subsidiárias de produção ao redor do mundo, proporcionando uma redefini-
ção da divisão internacional do trabalho. A instalação de fábricas no México
5
Tratado Norte-America-
no de Livre Comércio.
foi impulsionada pela entrada em vigor do NAFTA5 (1994), a instalação de
fábricas na América Central também foi impulsionada pela entrada em vigor
6
Acordo de Livre Comér- do CAFTA-DR6 (2007), bem como a China passou a atrair grande quantidade
cio da América Central e
República Dominicana. de investimento estrangeiro, desde sua entrada na Organização Mundial do
Comércio (em 2002).
Muitas vezes a instalação de subsidiária de produção acontece com a
aquisição de uma empresa local por uma estrangeira. A aquisição se tornou
comum na época da crise internacional de 2008-2009, em que empresas
quebradas foram facilmente adquiridas por outras.

Franquias
Com a garantia de padronização do layout, produtos, serviços e fornece-
dores, as franquias oferecem ao consumidor a previsibilidade de produtos e
padrões de qualidade esperados. A remuneração costuma ser por um paga-
mento inicial ao franqueador, mais um percentual de vendas.
A grande vantagem da franquia para o franqueado é entrar em um negó-
cio já conhecido e testado. Isso reduz a taxa de mortalidade das empresas.
A prática de franquias a ser adotada em outros países deve ser previamente
testada na cultura local, uma vez que um sucesso em um país não significa,
necessariamente, sucesso certo em outro de cultura distinta.
182

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Joint venture
A joint venture caracteriza-se pela associação de duas empresas para ex-
plorar um novo negócio juntas, formando uma terceira companhia inde-
pendente das que lhe deram origem. A participação de cada empresa não
precisa ser necessariamente na proporção de 50%-50%, podendo assumir
participações distintas.

É um tipo bastante avançado de relacionamento. A figura 2 apresenta


uma gradação do nível de relacionamento entre as partes. As joint ventures
são alianças entre empresas que assumem um estágio bastante avançado
em termos de parceria.

(COOPER; GARD-
NER, 1993, p. 17)
Relacionamento
Relacionamento Relacionamento
de extensão do Alianças Joint Integração
de uma pequena de uma área
“comprimento estratégicas. ventures. vertical.
área específica. maior.
do braço”.

Figura 2 – Gradação no relacionamento entre as partes.

Consórcios de exportação
Corresponde ao grupamento de diversas empresas, geralmente de porte
pequeno, normalmente pertencentes ao mesmo setor, que acordam formar
uma associação para gerir globalmente os interesses dos sócios no exterior.
Em grupo, as empresas rateiam custos de realização de estudos de merca-
do, promoção comercial, prospecção de mercados, defesa dos interesses do
setor, entre outras. Devem dispor de recursos financeiros e humanos, impar-
cialidade por parte da sua direção e ter objetivos compatíveis com os in-
teresses comerciais de todos os associados. As receitas de exportação são
igualmente rateadas entre os participantes (MENDOZA-MOLINA, 2002).

A empresa consorciada mantém intacta sua independência e autonomia


para comercialização no mercado interno. A associação refere-se exclusiva-
mente à exploração de mercados no exterior, o que seria difícil de acontecer
se a atividade fosse feita de forma isolada ou individualizada.

Como são empresas pequenas, a capacidade de produção geralmente é


limitada, de tecnologia nem sempre moderna, carentes de condições para o
cumprimento de exigências e normas internacionais. A ideia de que todos
juntos são mais fortes que a simples soma das partes é uma realidade para
essa forma de internacionalização.
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Formas de internacionalização

Ampliando seus conhecimentos

Antes de se instalar
na China, é bom planejar
(BRUTON; AHLSTROM; YUAN, 2009, p. B13)

Se você é um executivo sob pressão para transferir negócios para a China,


pense cuidadosamente antes de se comprometer com alguma estratégia.
Considerando que há 30 anos a China vem tendo um crescimento econômico
rápido e sustentado, e é hoje o país que mais recebe investimento estrangeiro
direto, não surpreende que muitas empresas sintam a necessidade não só de
responder à concorrência dos produtos chineses, como também de entrar e
concorrer no mercado chinês.
O problema é que algumas firmas estão entrando às pressas, sem uma
compreensão realista das oportunidades apresentadas pela China e das con-
cessões inevitáveis que elas implicam. Embora a China tenha muitos pontos
fortes, o quadro geral econômico não é tão cor-de-rosa como alguns acre-
ditam. Por exemplo, embora seja uma das maiores economias do mundo, a
China continua sendo um país pobre, em desenvolvimento, em termos de
renda per capita, classificado em 100.º lugar do mundo no ano passado.
As exportações de maior valor agregado que vêm da China normalmente
são produzidas por fábricas de países ricos, e não firmas chinesas, e os salários
baixos, que foram a mola mestra do crescimento econômico chinês, aumen-
tam continuamente em um quadro de escassez de mão de obra na região
litorânea do país, a mais desenvolvida.
Por esse motivo e outros, as empresas precisam pensar cuidadosamente
sobre o que esperam realizar na China antes de fazer um grande investimen-
to. Será o objetivo estratégico ganhar uma vantagem competitiva utilizando
a mão de obra chinesa de baixo custo para reduzir os gastos? Ou ficar mais
perto de clientes multinacionais que operam na Ásia? Será a principal priori-
dade competir no mercado doméstico chinês, ou simplesmente mandar fazer
produtos acabados na China? Para ajudar as empresas a pensar sobre uma
possível entrada na China, eis uma visão de quatro possíveis estratégias.
Firmar uma presença na China para melhorar o desempenho da cadeia de
suprimentos. Algumas empresas querem incorporar a China em suas plata-
formas de fabricação e fornecimento para melhorar o desempenho de suas

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Formas de internacionalização

cadeias de suprimentos mundiais. Essas empresas não são atraídas para a


China principalmente pelo baixo custo da mão de obra ou pela oportunidade
de competir no mercado local. Elas esperam ganhar sobretudo ao entregar
produtos mais depressa a clientes ocidentais que atuam na região, ou então
atingir um tamanho tão grande na região que lhes permita conseguir econo-
mias de escala. Essas empresas normalmente não estão comprometidas em
permanecer na China. Se seus clientes se mudarem para outra região geográ-
fica, eles irão atrás.
A vasta maioria das manufaturas chinesas para exportação se localiza na
região litorânea do Delta do Rio das Pérolas (que inclui Hong Kong), do Delta
do Rio Iangtsé (área de Xangai), da província de Zhe Jiang e da região de Bohai
(área de Tianjin e Pequim). Os executivos estrangeiros devem ter consciência
de que instalar-se fora dessas regiões pode elevar seus custos – pois o trans-
porte continua muito caro na China – e exigir muito mais treinamento dos
empregados.
Passar a fabricação para a China para aproveitar o baixo custo da mão de
obra. Algumas empresas querem estabelecer fábricas na China para aprovei-
tar a mão de obra barata do país e as zonas francas. O salário mínimo na China
é de menos de US$1 por hora, o que daria US$151 por mês numa jornada de
35 horas semanais. Essa estratégia pode ser de especial interesse durante uma
baixa na economia quando as empresas sofrem pressão para cortar os gastos.
Tal como na primeira estratégia, as empresas que adotam essa abordagem
procuram apenas mandar fazer produtos na China, e não competir no mer-
cado local. Muitas fábricas de móveis americanas e europeias adotaram essa
estratégia para manter seus custos baixos.
É preciso fazer concessões, porém, jogando com a qualificação dos empre-
gados e os baixos salários. Um diploma universitário não significa, necessaria-
mente, a mesma coisa na China que nos EUA. Por exemplo, embora a China
forme mais de 300 000 engenheiros por ano, menos de 10% são capazes de
trabalhar segundo os padrões internacionais da engenharia. Assim, embora os
salários na China muitas vezes sejam mais baixos, é bem provável que o nível
de capacitação e, portanto, os níveis de qualidade e produtividade, também
sejam consideravelmente mais baixos para muitos tipos de profissões.
Competir no mercado chinês com base na força da marca. Algumas multina-
cionais veem um grande potencial de longo prazo na China e querem compe-
tir no mercado doméstico do país. Elas decidiram confiar em sua rede global
mundial – muitas vezes no poder da sua marca – para ganhar uma vantagem

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Formas de internacionalização

competitiva, em vez de competir nos preços. Veja por exemplo a Procter &
Gamble Co., grande fornecedora de bens de consumo na China. Ela depende
da imagem de boa qualidade e bom preço que seus produtos têm para os
consumidores chineses. Em geral as marcas internacionais são bem recebidas
pelos consumidores chineses devido à sua confiabilidade.

Mas como os consumidores chineses têm uma renda mais baixa e vivem
em espaços menores, as empresas estrangeiras podem precisar reduzir o ta-
manho dos produtos que ali vendem. Mais ainda – os mercados locais da China
apresentam diferenças de estilo de vida, regulamentação e infraestrutura. Por
esse motivo as empresas que vendem bens ou serviços para a China podem
ter que criar diversas estratégias de marketing e distribuição, uma para cada
região do país onde entrarem.

Competir no mercado chinês local com base na força da mão de obra barata.
Algumas empresas querem tanto fabricar como vender na China, usando a
mão de obra barata como fonte de vantagem competitiva. Elas costumam
se tornar conhecedoras do mercado chinês, passando a conceber produtos e
serviços específicos para o mercado local. A americana Yum! Brands Inc., por
exemplo, dona de redes como KFC e Pizza Hut, vende pratos especiais, tais
como escargots, que atendem ao gosto do consumidor local.

Os executivos que adotam essa estratégia devem estar conscientes de que


a concorrência é intensa na maioria dos mercados domésticos chineses. O
pesado envolvimento do governo na economia resultou em excesso de in-
vestimentos e de capacidade em certos setores. Ao mesmo tempo as firmas
chinesas costumam se diversificar em excesso, ou seja, muitas vezes mantêm
uma determinada divisão em funcionamento, em vez de reestruturá-la. Tudo
isso leva a preços abaixo do que parece razoável.

A conclusão é que as multinacionais precisam ter uma imagem mais nuan-


çada na China antes de decidir se, e como, vão explorar as oportunidades que
o país apresenta. O otimismo é uma coisa boa, mas tomar decisões com base
em informações realistas é melhor ainda.

Bruton é diretor acadêmico do Programa de Empreendedorismo Neeley,


na Escola de Administração Neeley da Universidade Cristã do Texas, em Fort
Worth, Texas. Ahlstrom e Lu são professores de administração da Universida-
de Chinesa de Hong Kong. Ahlstrom também é editor sênior do “Asia Pacific
Journal of Management”.

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Formas de internacionalização

Atividades de aplicação
1. Como pode ser feita uma pré-análise do mercado potencial de
destino?

2. Considerando a análise necessária em uma pesquisa de mercado, assi-


nale a correta.

a) Informações sobre a cultura de outro país são desprezíveis nos ne-


gócios.

b) O comportamento do consumidor é padronizado em todo o mun-


do.

c) É importante entender o perfil da população em um determinado


país.

d) As condições logísticas são menos importantes que aspectos


como acesso à comunicação, existência de acordos internacionais
e outros.

3. Com relação à internacionalização via trading companies, assinale a


correta.

a) São sempre empresas estrangeiras que buscam negócios no Brasil


e no mundo.

b) Caracterizam-se pela busca de informações comerciais internacio-


nais e pelo trabalho de intermediação entre compradores e vende-
dores.

c) São empresas que compram mercadorias e as revendem para ou-


tras indústrias dentro de um mesmo país.

d) Atuam somente no ramo de móveis e mobiliário em geral.

Referências
ACHABAL, D. D. A decision support system for vendor managed inventory. Jour-
nal of Retailing, Nova York, v. 76, n. 4, p. 430-454, 2000.

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Formas de internacionalização

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ro. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasí-
lia, DF, 06 fev. 2009. Disponível em: <www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/
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BRUTON, G. D.; AHLSTROM, D.; YUAN, L. Antes de se instalar na China, é bom pla-
nejar. The Wall Street Journal, Valor Econômico, 02 dez. 2009, p. B 13.

COOPER, M.; GARDNER, J. Building Good Business Relationships – More than Just
Partnering or Strategic Alliances? International Journal of Physical Distribution
& Logistics Management, Arizona, v. 23, n. 6, p. 14-26, 1993.

DOING BUSINESS 2010. Banco Mundial. Washington, 2009. Disponível em:


<www.doingbusiness.org/Documents/CountryProfiles/BRA.pdf>. Acesso em: 04
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FAGEL, A. J. Selling on consignment: another tool in the credit arsenal. Business


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MENDOZA-MOLINA, A. G. Mercados Internacionales. In: Factbook Comercio Ex-


terior. Navarra, España: ESIC/Aranzadi & Thomson, 2002.

MINERVINI, N. O Exportador. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

VOLLMANN, T. E.; CORDON, C. Making Supply Chain Relationships Work, Institute


of Management Development, Lausane, n. 8, 1996.

WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business. New
Jersey: Pearson, 2008.

Gabarito
1. Observando os quatro passos principais: identificar as necessidades
básicas (acesso a recursos como matérias-primas, mão de obra e ou-
tros); acesso ao ambiente de negócios local de outro país (os princi-
pais indicadores econômicos, sociais, geográficos, demográficos e
culturais); medir o potencial de mercado (analisando tendências e
oportunidades); e selecionar o mercado (de forma ativa ou passiva).

2. C

3. B

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A organização da empresa para o
comércio exterior

Cristiano Morini

Quando uma empresa decide exportar, um importante passo já se cum-


priu: a consciência das vantagens da exportação.

Muitas empresas brasileiras já consolidadas e de tradição no mercado


brasileiro não exportam porque seus dirigentes ainda não se conscientiza-
ram dos benefícios da exportação. Esse é um ponto a se considerar. Por outro
lado, existem os dirigentes que estão ansiosos para exportar, mas não estão
devidamente preparados para tanto. Entre essses dois opostos, estão as em-
presas que se conscientizaram que pode haver muitos ganhos com a expor-
tação de seus produtos, e buscam preparar-se para tanto.

Minervini (2005, p. 8) alerta para os erros mais comuns no início do pro-


cesso de exportação, que são, entre outros:

 não avaliar a própria capacidade de internacionalização;

 não difundir na empresa a cultura da internacionalização;

 não contar com uma adequada assistência especializada nas várias


temáticas, como contratos, aspectos fiscais, marketing, logística e ou-
tros;

 não considerar os aspectos culturais dos vários países;

 não adaptar o produto às exigências do mercado;

 não selecionar parceiro com o qual trabalhar no mercado;

 não efetuar pesquisa, registro e monitoramento da marca;

 não conhecer as normas de defesa do consumidor no país importa-


dor;

 não monitorar a atividade dos concorrentes.

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A organização da empresa para o comércio exterior

Para que se evite a prática de erros como esses, será analisada a estrutura
necessária, interna e externa de uma empresa, antes de se iniciar a prática da
exportação.

Estrutura interna
Considerando que a empresa já cumpriu a etapa de conscientização (para
a prática da exportação) e os dirigentes se convenceram de que a exporta-
ção é uma forma alternativa de minimizar riscos e aumentar o faturamento,
algumas perguntas podem ser levantadas.

Qual produto/linha de produtos


de uma empresa pode ser exportado?
A empresa deve ser capaz de olhar para dentro dela mesma e identificar
possíveis produtos com potencial de exportação. Por exemplo, uma empresa
do ramo de tintas e vernizes é capaz de identificar que tem aspectos positi-
vos em sua linha de tintas à base de água, um produto relativamente novo e
ainda não muito explorado. Em compensação, outros produtos tradicionais
de sua fabricação poderiam ser deixados de fora em um primeiro momento.
É importante destacar que a empresa deve fazer uma autoanálise em termos
1
A análise dos pontos de pontos fortes e fracos1. Um ponto forte ligado a essa linha de produtos à
fortes e fracos (como
parte da análise interna),
oportunidades e amea-
base de água pode ser uma certificação de reconhecimento internacional.
ças (como parte da aná-
lise externa) baseia-se no
Se a empresa possui a certificação ISO 9000 ou ISO 14000 também já está
modelo SWOT (strengths,
weaknesses, opportunities,
previamente credenciada a entrar em determinados mercados, uma vez que
and threats), de Porter
(2005).
a preocupação por qualidade e proteção ambiental já faz parte da cultura da
maioria dos países.

A empresa está preparada para exportar?


Essa pergunta pode ser respondida analisando-se alguns aspectos, como:
o departamento de vendas seria capaz de negociar em outros idiomas? A
empresa possui um site em inglês ou outro idioma estrangeiro? A cultura or-
ganizacional estaria aberta a mudanças de alguns paradigmas, como dupla
conferência na expedição, reforço na embalagem de exportação, entre
outras?

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A organização da empresa para o comércio exterior

Saber se a empresa está preparada para exportar também deve levar em


conta a análise dos recursos, capacidades e competências essenciais. Hitt,
Ireland e Hoskisson (2007) definem que os recursos são a fonte das capacida-
des da empresa, e que há recursos tangíveis (que podem ser quantificados,
como os recursos financeiros, os recursos organizacionais, recursos físicos e
recursos tecnológicos) e intangíveis (como os recursos humanos, os recursos
de inovação e os recursos de reputação). “As capacidades são representadas
pela habilidade que a empresa tem de organizar os recursos que foram inte-
grados propositadamente para alcançar uma condição final desejada” (HITT,
IRELAND; HOSKISSON, 2007, p. 108). Com o conhecimento sobre os recursos
e capacidades (e a combinação entre eles), as empresas estarão preparadas
para identificar suas competências essenciais. As competências essenciais
diferenciam uma empresa da concorrência. Cada empresa deve ser capaz de
identificar suas competências essenciais para desenhar um plano de marke-
ting e um plano de internacionalização.

Quais as adaptações necessárias


no produto a ser exportado?
Essas adaptações têm relação com aspectos técnicos. O modo de trans-
missão e sistema operacional de uma televisão digital difere entre os países.
Há países que adotam o sistema inglês de direção, em que o motorista fica
posicionado no lado direito do carro. O Brasil é um grande produtor e expor-
tador de automóveis, mas não exporta veículos para o Reino Unido, Japão,
África do Sul e outros, porque o custo da adaptação é muito grande para
compensar a internacionalização rumo a esses mercados. As adaptações
também se referem à cultura do país de destino. Na Europa, por exemplo,
o nível de açúcar em iogurtes adoçados é inferior ao iogurte adoçado no
Brasil. Isso significa que, apesar de ser o mesmo produto – iogurte adoçado
–, há necessidade de adaptação com a redução do nível de açúcar para aten-
der o paladar do consumidor europeu. Há muitas outras adaptações que se
referem à cultura: determinados cortes de aves para atender o consumidor
árabe (dedos dos pés de frango, por exemplo); dimensionamento de toalhas
de banho para a França, que é maior que o padrão adotado no país; ônibus
conversível para a Arábia Saudita, em que a Marcopolo teve que adaptar o
produto para atender a necessidade de um cliente que vive em um país em
que chove pouco; proibição de determinados conservantes em produtos ali-
mentícios, e outros.

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A embalagem atual
é adequada para a exportação?
Quando se menciona sobre a embalagem, há que se considerar a emba-
lagem para o consumidor final e a embalagem para transporte. “A embala-
gem tem funções de proteger e promover o produto [...]. A embalagem final
constrói a imagem da empresa no mercado interno e projeta a identidade
nacional no externo” (SPERS; SPERS, 2006, p. 250). A embalagem para o con-
sumidor final deve ser adaptada em relação às normas de defesa do con-
sumidor do país importador, inserindo informações que podem ou não ser
comuns no Brasil, além do que as informações do produto devem estar na
língua do país importador.

No tocante à embalagem para exportação, há que se considerar que o


transporte marítimo é o mais utilizado no comércio internacional. O trans-
porte marítimo apresenta várias vantagens, como a acessibilidade para
qualquer continente, o transporte de grandes volumes e pesos e o custo
reduzido. No entanto, há que se atentar que há produtos que poderão ser
sensíveis à ação da maresia, durante o período de trânsito. Assim são os ci-
lindros hidráulicos que compõem as máquinas da Caterpillar. A Caterpillar é
a maior fabricante mundial de máquinas rodoviárias e possui uma cadeia de
suprimentos bastante globalizada, com máquinas que são exportadas para
todo o mundo. As máquinas muitas vezes são transportadas no convés do
navio, o que faz com que fique sujeita à ação da maresia em determinados
itens. Para tanto, foi desenvolvida uma embalagem para transporte do pro-
duto, que consiste no embalamento via plastificação de maquinário pesado.
A máquina é literalmente ensacada, com vistas à proteção de itens sensíveis
à ação da umidade. Outro caso é o de embalagem para o transporte aéreo,
que deve ser reforçada para variações de pressão e os solavancos que uma
aeronave está sujeita quando em voo.

Haverá a necessidade
de investimento para começar a exportar?
Uma das perguntas mais usuais é se a exportação trará lucros imediatos
ou se haverá necessidade de investimento prévio. Há empresas que possuem
máquinas com investimento já amortizado, as quais não estão em operação.
Nesse caso, para colocar a máquina para funcionar não demanda investimen-

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tos, talvez demande apenas contratação de mais mão de obra ou a realoca-


ção dos próprios funcionários. No entanto, pode haver a situação em que a
empresa opere no limite da capacidade produtiva. Nesse caso, buscar novos
mercados fará com que haja a necessidade de aumento da produção, o que
só acontecerá com novos investimentos. Se a empresa não estiver devida-
mente conscientizada dos benefícios da exportação, a necessidade de inves-
timento se tornará uma barreira interna ao processo de internacionalização.

É importante destacar, contudo, que sempre haverá um mínimo de inves-


timento a ser realizado, como a elaboração de uma versão do site da empresa
para outros idiomas, um curso de capacitação para o pessoal de vendas, um
curso de reciclagem de inglês para a secretária do gerente, a produção de
folders em inglês, a contratação dos serviços de um despachante aduaneiro
e assim por diante. A dúvida sobre qual o nível de investimento a ser feito
sempre pairará sobre a direção da empresa. Comprar uma máquina nova
(ou um equipamento novo), por exemplo, para aumentar a capacidade pro-
dutiva, requererá um alto investimento que deve ser amortizado o quanto
antes.

Mas como prever que as exportações gerarão receitas suficientes para


amortizar o investimento e ainda gerar lucros? Outra questão é se o pedido
de vendas do exterior for grande demais para a capacidade instalada. Isso
significa que a empresa terá que optar, em um dado momento, se atende-
rá a demanda de exportação ou a demanda do mercado interno. Cignacco
(2009) apresenta a definição de saldo exportável, que é a diferença entre a
produção total de uma empresa, deduzida do que foi vendido no mercado
nacional. O autor defende a ideia de que, no conceito de saldo exportável,
dá-se prioridade para o atendimento da demanda doméstica. A solução para
essa empresa seria a aquisição de novos equipamentos, a ampliação das ins-
talações produtivas, o aumento da jornada de trabalho e da quantidade de
trabalhadores.

Qual será o plano de marketing?


Decidir exportar ou buscar outro canal de internacionalização demanda-
rá a elaboração de um plano de marketing.

Um plano de marketing deve buscar o posicionamento do produto em


termos de atributos, qualidade, preço e usuário ou uso (KEEGAN; GREEN,

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1999). Os atributos são as características essenciais do produto, que o dife-


renciará de outros e o identificará em termos de produtos concorrentes. A
qualidade é expressa em um continuum entre um produto de pequena vida
útil ou de grande vida útil, por exemplo. O preço indicará a que público se
destina o produto, em termos de classe socioeconômica, e dependerá do
país-alvo a ser introduzido. E o usuário ou uso indicará o público-alvo do
produto. O plano de marketing deve também identificar as oportunidades
de negócios; indicar a forma de entrada no mercado estrangeiro; definir os
objetivos, políticas, programas e estratégias; definir um horizonte temporal
para a realização das ações e definir responsáveis pelas tarefas (LÓPEZ QUE-
SADA, 2002). É importante destacar também as quatro variáveis de marke-
ting, também chamadas de marketing mix: produto, preço, praça e promo-
ção. Todo plano de marketing deve considerar esses elementos, tendo em
vista o mercado a que se objetiva internacionalizar.

Qual marca será utilizada na exportação: a já


existente ou será desenvolvida uma nova?
A decisão em termos de marca deve seguir a orientação do plano de
marketing. A exportação com marca própria deve ser precedida de uma con-
sulta e registro da marca no país importador. Isso envolve um custo que nem
sempre uma empresa está disposta a arcar.

Se a empresa optar por não fazer pesquisa de marca, correrá o risco de


comercializar produtos com marca de outrem, o que provoca multas e ações
judiciais, já que prevalece o registro da anterior.

Qual a política externa corporativa da empresa?


Sarfati (2007, p. 23) define a noção de Política Externa Corporativa (PEC)
como “o conjunto de objetivos que definem como uma empresa se relaciona
com governos, mercado e sociedade. Essa política deve ser desenhada para
alavancar a posição global da empresa e assegurar a defesa dos interesses
dos acionistas”. A elaboração de uma PEC está relacionada a empresas de
grande porte.

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Como e onde buscar


financiamento para a exportação?
Buscar financiamento nem sempre é uma tarefa fácil em um país em de-
senvolvimento, como é o caso do Brasil. A escassez de recursos financeiros
é expressa na exigência de grande burocracia de acesso ao crédito, na difi-
culdade e competição por linhas disponíveis e na priorização de acesso a
empresas de grande porte. O acesso ao crédito de exportação deve ser esti-
mulado e diferenciado do usual, a fim de estimular as exportações.

No Brasil, há linhas específicas para a exportação, como é o caso do


BNDES-EXIM (gerida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social – BNDES2) e o PROEX (Programa de Incentivo às Exportações, geren- 2
O BNDES financia tanto
o exportador quanto o
ciado pelo Banco do Brasil3). comprador estrangeiro
do produto brasileiro,
como forma de alavancar
Há linhas fornecidas também por bancos privados nacionais e estrangei- as exportações. Até 1997
era chamado de FINAMEX
ros, embora com maior dificuldade de acesso principalmente pelos peque- e está disponível em três
modalidades: pré-embar-
nos e médios empresários exportadores. As linhas fornecidas pelo Estado que, pós-embarque e pré-
-embarque especial.

levam em consideração a redução de custos financeiros por meio da redução 3


Criado em 1991, o
da taxa de juros. Torres Filho e Carvalho (2006, p. 310) definem que o “suces- PROEX é oferecido na mo-
dalidade “financiamento”
so da estratégia exportadora, seja ela de uma firma ou de um país, depende e na modalidade “equali-
zação de taxa de juros”.
[...] da existência de um sistema nacional de crédito à exportação”. Os autores
complementam afirmando que o acesso ao crédito é dificultado por conta
de um conjunto de riscos adicionais (como os riscos cambial e político).

Torres Filho e Carvalho (In: VASCONCELLOS; LIMA; SILBER, 2006) distin-


guem dois conjuntos de operações de crédito às exportações: o export finan-
ce e o trade finance.

O export finance envolve transações de mercadorias de valor unitário alto,


enquanto o trade finance está associado a transações de mercadorias de
valor unitário menor, como as commodities. Os autores exemplificam os tipos
de export finance: crédito bancário (os bancos privados como a mais tradicio-
nal fonte de recursos para o export finance), que pode ser visualizado no
Adiantamento do Contrato de Câmbio (ACC) ou no Adiantamento da Cam-
bial. Entregue (ACE). No ACC, o exportador recebe do banco um adiantamen-
to do valor da operação antes mesmo de embarcar a mercadoria. O banco

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será ressarcido, com juros, quando do pagamento do importador ao expor-


tador. No ACE, o embarque já ocorreu, e o banco antecipa as parcelas a vencer
para o exportador. Quando o importador pagar, o exportador quita sua
dívida com o banco. Tanto o ACC como o ACE são formas de antecipar o re-
cebimento, contribuindo para o capital de giro da empresa. Além do crédito
bancário, há outras formas não tradicionais de financiamento, como forfai-
ting, factoring4, leasing5 e seguros e garantias. Já com relação ao trade finan-
4
Ambos funcionam como
desconto de recebíveis,
ce, destacam-se as instituições públicas no financiamento às exportações,
realizado geralmente por
empresas não financeiras
como os benefícios já mencionados no Brasil: BNDES-EXIM e PROEX.
independentes. O forfai-
ting é utilizado para finan-
ciamento de operações de É importante destacar que há elementos da análise interna que se confun-
grande valor, com prazos
de pagamento que vão de dem com elementos da análise externa, como o próprio plano de marketing,
meses até 7 anos, enquan-
to o factoring é utilizado que deve ser elaborado com informações internas e externas à empresa.
para operações de peque-
no valor, por prazos de 90
a 180 dias (TORRES FILHO;
CARVALHO, 2006).
5
Arrendamento de um
bem por parte do pro-
Estrutura externa
prietário para uso de
terceiros. A análise da estrutura externa demanda o levantamento de grande
número de informações, monitoramento, avaliação e capacidade de realizar
previsões. Entre algumas perguntas que se deve fazer à empresa, destacam-
se:

 Os fornecedores da empresa têm condições de responder a esta demanda


adicional? Os fornecedores mais importantes seriam capazes de au-
mentar o número de entregas? Qual é a confiabilidade do fornecedor
em termos de entregas no tempo esperado? O fornecedor aceitaria
uma renegociação de preços com base em um pedido maior? O forne-
cedor estaria disposto a participar da cadeia de suprimentos interna-
cional da empresa compradora? Essas questões devem ser respondi-
das para que a empresa se prepare para o processo de exportação.

 Exportar para qual país? A decisão de exportação deve levar em con-


ta a análise dos potenciais países-alvo das exportações. Um potencial
país-alvo pode ser uma região em que a concorrência não é tão forte.
Para isso é necessário analisar a concorrência e as cinco forças de Por-
ter. Porter (2005) identifica que o modelo de análise da concorrência
deve se basear na observância do seguinte: ameaça dos novos entran-

198

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tes; poder de negociação dos fornecedores; poder de negociação dos


compradores; ameaça de produtos substitutos; e a rivalidade entre as
empresas concorrentes. Essa análise demanda tempo e não é simples
de ser feita, mas é uma ferramenta importante que auxilia a tomada de
decisão de uma empresa rumo a novos destinos.

Devem ser buscadas informações sobre potenciais mercados-alvo,


com a análise estatística de indicadores econômicos, sociais, demográ-
ficos e culturais. Há que se considerar também a paridade do poder de
compra, que indica o poder de compra do consumidor, considerando
a variação cambial, bem como a existência de barreiras técnicas ao co-
mércio.

 Qual o preço de exportação? Formar preço é uma tarefa complexa para


pequenos empresários. A carga tributária interna no Brasil é grande e
não é fácil definir as margens. Para a exportação, há isenção de impos-
to de exportação, COFINS e PIS, não incidência do ICMS e imunidade
de IPI6. Há despesas no mercado interno que também não incidem na 6
COFINS: Contribuição
para o Financiamento da
exportação, bem como outras despesas novas. A formação de preço Seguridade Social. PIS:
Programa de Integração
deve considerar também a negociação com o cliente em termos de Social. ICMS: Imposto
sobre Circulação de Mer-
condições de venda (ou incoterms, em inglês). Os incoterms definem as cadorias e Serviços. IPI:
Imposto sobre Produtos
responsabilidades e os custos do exportador. O que não for arcado Industrializados.

pelo exportador, será por conta do importador. Há treze tipos de inco-


terms que devem ser bem conhecidos e bem analisados antes de se
iniciar uma negociação internacional (quadro 1). Os incoterms são indi-
cados por um conjunto de três letras, representando uma sigla em in-
glês para as seguintes condições: EXW (ex works; no local de fabrica-
ção), FAS (free alongside ship; entregue no costado do navio), FCA (free
carrier; livre no transportador), FOB (free on board; livre a bordo), CPT
(carriage paid to; transportador pago para), CFR (cost and freight; custo
e frete), CIP (cost and insurance paid to; custo e seguro pago para), CIF
(cost, insurance, and freight; custo, seguro e frete), DES (delivered ex ship;
entregue no navio), DAF (delivered at frontier; entregue na fronteira),
DEQ (delivered ex quay; entregue no cais), DDU (delivered duties unpaid;
entregue com os impostos não pagos), DDP (delivered duties paid; en-
tregue com os impostos pagos).

199

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Quadro 1: os incoterms, suas responsabilidades e custos envolvidos

(MORINI, 2006, p. 419)


Incoterm versus

EXW
FAS
FCA
FOB
CPT
CFR
CIP
CIF
DES
DAF
DEQ
DDU
DDP
Responsabilidade do vendedor (exportador)
Entrega a mercadoria embalada, marcada, no chão, no re- •
cinto produtor. TODOS OS MODAIS.
Carrega a mercadoria e a entrega livre no costado do na- •
vio no porto de origem. MODAL MARÍTIMO.
Carrega a mercadoria e a entrega ao transportador •
no local designado, pagando frete e seguros internos.
TODOS OS MODAIS.
Entrega a mercadoria arcando com todos os custos, livre a •
bordo do navio, no país de origem. MODAL MARÍTIMO.
Entrega a mercadoria à transportadora, arcando com to- •
dos os custos, no país de origem, e paga o frete interna-
cional. TODOS OS MODAIS.
Entrega a mercadoria, arcando com todos os custos, a •
bordo do navio, no país de origem, e paga o frete interna-
cional. MODAL MARÍTIMO.
Entrega a mercadoria à transportadora, arcando com to- •
dos os custos, no país de origem, e paga o frete e o seguro
internacionais. TODOS OS MODAIS.
Entrega a mercadoria, arcando com todos os custos, a •
bordo do navio, no país de origem, e paga o frete e o se-
guro internacionais. MODAL MARÍTIMO.
Entrega a mercadoria no país de destino, a bordo do na- •
vio, arcando com todos os ônus até este ponto.
Entrega a maercadoria na fronteira, desembaraçada para •
exportação (não é obrigatória a contratação do seguro in-
ternacional.) RODOVIÁRIO e FERROVIÁRIO (mais usuais).
Entrega a mercadoria no cais do país de destino. Todas •
as despesas a partir daí, inclusive o desembaraço na im-
portação, são de responsabilidade do importador (não
é obrigatória a contratação do seguro internacional).
MODAL MARÍTIMO.
Entrega a mercadoria no local designado no país de •
destino, não desembaraçada na importação (não é
obrigatória a contratação do seguro internacional).
TODOS OS MODAIS.
Entrega a mercadoria no local designado no país •
de destino, desembaraçada na importação (não é
obrigatória a contratação do seguro internacional).
TODOS OS MODAIS.

200

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 Quais despesas ocorrem somente na exportação? Para a exportação,


há despesas com contratação de câmbio, honorários de despachante
aduaneiro, armazenagem em terminais portuários (quando utilizado o
modal marítimo), outras despesas portuárias (capatazia, terminal han-
dling charge, demurrage), outras despesas aeroportuárias (ataero), des-
pesas com agentes de carga, embalagens especiais para exportação,
adaptação da embalagem e manuais técnicos para as normas de defe-
sa do consumidor do país de destino, entre outras. Além disso, depen-
dendo do incoterm negociado, há a necessidade de calcular despesas
adicionais, como seguro, transporte, desembaraço aduaneiro no país
de destino e outros (vide quadro 1).

 Qual a forma de transporte mais adequada para a entrega ao país com-


prador? Essa questão também se refere ao tipo de incoterm negociado
entre o vendedor (exportador) e o comprador (importador). É impor-
tante considerar que o modal aéreo é mais recomendado para merca-
dorias de maior valor agregado e cujos processos precisam de maior
agilidade (também apresenta o maior custo), enquanto o marítimo é
aconselhado para mercadorias de grande peso e volume (apresenta o
menor custo de transporte). O modal rodoviário praticamente se res-
tringe aos países do cone sul da América Latina, no caso das expor-
tações brasileiras. O Brasil utiliza muito pouco o modal ferroviário no
comércio exterior.

 Há a necessidade de firmar contrato internacional de compra e venda? A


realização de um contrato de compra e venda internacional é uma for-
ma jurídica altamente recomendada. No entanto, na grande maioria
dos casos isso não ocorre entre o exportador e o importador, porque
essa etapa é substituída, na prática, pelo aceite da fatura pro forma.
A fatura pro forma é uma espécie de orçamento que, se aceito pelo
importador, é transformada em fatura comercial. A simples aceitação
pelo importador dos termos colocados na fatura pro forma, via e-mail
ou confirmação telefônica, estabelece a relação jurídica entre as par-
tes. No entanto, a realização de um contrato de compra e venda in-
ternacional é fundamental para evitar constrangimentos e surpresas
no processo, como a entrega de uma mercadoria não conforme (ou
em quantidade não esperada) ou o não adimplemento da obrigação
financeira. O contrato deve estabelecer as obrigações de ambas as

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partes, o foro de solução de conflitos, o direito a que se sujeita (direito


internacional ou o direito do país “A” ou do país “B”), eventuais multas
e obrigações que contribuem para dar maior garantia às partes. Um
contrato geralmente é assinado e recebe o visto consular em ambos
os países. Por ser um procedimento que consome tempo e dinheiro no
comércio internacional, muitas vezes exportador e importador pres-
cindem dessa ferramenta de segurança.

 Há a necessidade de oferecer serviço pós-venda no país comprador? De-


pende do produto a ser ofertado. Se for um bem de consumo durá-
vel (eletrodoméstico, por exemplo) ou um bem de capital (máquinas
e equipamentos), essa é uma condição fundamental. Caso a empre-
sa pretenda exportar um bem de consumo não durável (alimentos,
por exemplo), não haverá necessidade de contratação de um servi-
ço pós-venda. Um serviço pós-venda é estabelecido com a parceria
com prestadores de serviços locais, já estabelecidos, como é o caso
das assistências técnicas de marcas reconhecidas no Brasil que passam
a oferecer assistência técnica a marcas novas, que recém-chegaram,
como as chinesas, por exemplo, no caso de liquidificadores, cafeteiras
e ares-condicionados, por exemplo.

 Qual é a melhor forma ou canal de internacionalização? A forma de inter-


nacionalização deve ser definida também no plano de marketing. Ela
se refere à exportação direta ou via uma empresa interveniente (uma
trading company, por exemplo), além de outras formas usuais, como
parcerias diversas com empresas locais, franquias no exterior, joint ven-
tures, aquisições, filial de vendas, filial de produção e outras. O canal
de internacionalização também pode auxiliar no plano de marketing,
no que tange à determinação de aspectos de promoção comercial e
distribuição no mercado externo.

 Quais são os riscos existentes? Comercializar com o exterior amplia


consideravelmente os riscos para a empresa. Riscos conhecidos no
mercado interno, como o inadimplemento do comprador, o prazo de
entrega não cumprido pelo transportador, problemas de qualidade
advindos do fornecedor, atraso no cumprimento de obrigações tribu-
tárias e outros são maximizados e ampliados no comércio internacio-

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nal. No comércio com outros países, há o risco-país, ou risco político,


de proibir a saída de divisas do país (com a decretação de uma mora-
tória ou default); há o risco cambial de variação da moeda local frente à
estrangeira, que pode provocar variações de preço de conversão para
mais ou para menos; há o risco dos longos tempos de trânsito, que
pode provocar a necessidade de contratação de coberturas adicionais
de seguros, além de dificultar e ser menos “responsivo” a variações de
demanda; há o risco técnico de o produto não se adaptar às normas
brasileiras (NBRs); além do risco jurídico de ter de acionar a justiça em
casos de descumprimento de algumas das obrigações.

Órgãos de apoio
Órgãos de apoio podem ser públicos ou privados, que auxiliam no pro-
cesso de levantamento de informações comerciais, oportunidades comer-
ciais e informações técnicas. Auxiliam em uma feira ou missão internacional
e proveem serviços que facilitem o acesso de mercadorias brasileiras no mer-
cado internacional. Entre esses órgãos, destacam-se:

Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
O MDIC fornece um grande número de informações gratuitas sobre esta- 7
<http://aliceweb.desen-
tísticas de comércio exterior (que podem ser encontradas no site7), dicas de volvimento.gov.br>

como realizar uma primeira exportação, informações sobre determinados 8


<www.aprendendoaex-
setores e a prática de exportação8, encontros de comércio exterior9, análise portar.gov.br>

de mercados e produtos10, defesa comercial, acordos internacionais e 9


<www.encomex.desen-
volvimento.gov.br>
outras.
10
<http://radarcomer-
Podem-se destacar também as informações estatísticas sobre exportação cial.desenvolvimento.gov.
br/radar>
e sobre importação do AliceWeb, as quais podem ser consultadas inserindo-
se a classificação fiscal de mercadorias.

Outro destaque se faz ao Radar Comercial, que é um instrumento de se-


leção de mercados e produtos que apresentam maior potencial para as em-
presas brasileiras, por meio de um sistema de busca e cruzamento de dados

203

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estatísticos.

Agência Brasileira de Promoção


de Exportações e Investimentos (Apex)
No site www.apexbrasil.com.br, no link Inteligência Comercial, há infor-
mações sobre o cruzamento estatístico da pauta exportadora nacional com
a pauta importadora internacional, a fim de fornecer informações sobre
oportunidades de negócios brasileiros, por setor, no exterior. O trabalho de
inteligência comercial auxilia o empresário na elaboração de estratégia para
tomada de decisão. Uma das diferenças entre esse serviço e o oferecido pelo
Radar Comercial é que, no caso da Apex, há uma seleção e análise de setores
mais dinâmicos com potencial de vendas para um determinado país.

A Apex também auxilia setores a se organizarem em arranjos produtivos


locais e consórcios de exportação, na realização de projetos setoriais, even-
tos no exterior e na participação em feiras internacionais.

Ministério das Relações Exteriores (MRE)


O MRE disponibiliza informações gratuitas sobre acordos comerciais e po-
11
<www.mre.gov.br> lítica externa brasileira11. Possui um site específico para pesquisas de merca-
do e oportunidades de negócios no exterior, o <www.braziltradenet.gov.
br>.

No site do Brazil Trade Net podem ser feitas pesquisas sobre deman-
das de importação de produtos brasileiros e sobre pesquisas de mercados
no exterior, selecionando um país importador.

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização


e Qualidade Industrial (Inmetro)
O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Inmetro) é uma autarquia do governo federal criada em 1973. Nos últimos
anos, o Inmetro passou a oferecer o serviço gratuito chamado de Alerta Ex-
portador, apresentando exigências técnicas por países e por produtos, além

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das barreiras técnicas propriamente ditas. O Inmetro é o órgão brasileiro cre-


denciado na OMC para a observância do acordo sobre Barreiras Técnicas ao
Comércio, sendo chamado de Ponto Focal.
12
www.inmetro.gov.br
No site do Inmetro também podem ser realizadas pesquisas sobre mer-
12

cados de destino por mercadorias, verificando a existência ou não de barrei-


ras técnicas ao comércio.

Entidades privadas ou não governamentais


No Brasil, as empresas de um determinado setor ou ramo de atividade
estão organizadas em uma associação, entidade ou sindicato de classe que
representam e defendem os interesses do grupo. As indústrias de máquinas
e equipamentos dispõem da Abimaq, as indústrias de pisos e revestimentos
cerâmicos da Anfacer, as têxteis da Abit, as de embalagem da Abre, as de
plásticos da Abiplast, a indústria de componentes para veículos automoto-
res está organizada no Sindipeças, e assim por diante.

Essas organizações, em maior ou menor grau, estudam os mercados e


captam informações sobre estatística de produtos estrangeiros exportados
para o país, principais fabricantes, preço da concorrência, oportunidades co-
merciais no exterior, benefícios fiscais para o setor, defesa comercial, certifi-
cado de origem, cursos e seminários específicos, participação em feiras no
Brasil e no exterior, organização de viagens de negócios e oferecem pesqui-
sas de mercado para os associados.

As câmaras de comércio são outra forma de obtenção de informações


sobre oportunidades comerciais. Essas entidades, que representam o inte-
resse de pessoas jurídicas no âmbito do direito privado, prestam orientações
jurídicas, culturais, aduaneiras, buscam parceiros, consultam sobre a idonei-
dade de potenciais clientes, oferecem pesquisas de mercado, assistência
técnica, registro de marcas, traduções e intérpretes, organizam reuniões de
negócios, cursos, seminários, feiras, descontos em hospedagem e passagens
aéreas, orientam sobre obtenção de vistos e outros.

Algumas câmaras de comércio atuantes no Brasil são as dos Estados


Unidos, da China, da Espanha, da França, da Holanda, da Inglaterra, da Itália,
do Japão, do México, do Paraguai e da Venezuela.

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Ampliando seus conhecimentos

Confecções do Sul
preferem usar recursos próprios
(ZAPAROLLI, 2009)

“Não conheço nenhuma outra empresa de pequeno ou médio porte que


tenha conseguido financiamento”, ironiza Beatriz Dockhorn, empresária que
comanda a marca de roupas de ginástica Bia Brazil há quinze anos. A empresa
direciona 90% de sua produção para o mercado externo. Nunca buscou cré-
dito para exportação, embora venda para 33 países. Entretanto, em 2005, um
incêndio destruiu parte de sua produção e trouxe a necessidade de financia-
mento para retomá-la.

“Quando a fábrica pegou fogo, a ideia era encerrar atividades, mas os clien-
tes de exportação começaram a antecipar pagamentos para que a gente aba-
tesse dos pedidos”, explica Beatriz. Sem infraestrutura, a empresária foi atrás
de uma linha de capital de giro. Depois de avaliar os juros, procurou o BNDES,
que financiou o projeto por meio da parceria com a Caixa de Fomentos RS.
“Eles fizeram o possível para me ajudar, porque a empresa precisava voltar a
andar. A Bia Brazil era uma exceção, pois a criamos para a exportação.”

Mesmo assim, a empresária não se conforma com o excesso de burocra-


cia e com o valor da garantia, que custou três vezes a quantia solicitada pela
Bia Brazil. “Hoje, nenhum financiamento sai se o gerente da conta da empre-
sa não visita as instalações. E o gerente está diretamente em contato conos-
co. Não tem tanto risco. Ele sabe de todos os câmbios que a empresa fecha
mensalmente.”

Este ano, a Bia Brazil pretende quitar o financiamento. Só volta a pedir cré-
dito quando for construído o novo depósito da marca. Para as vendas ao ex-
terior, nem pensar. “Cobro adiantado um valor entre 50% e 60% do cliente”,

206

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afirma Beatriz. “Quando está pronto o pedido, ele paga o resto e a mercadoria
embarca. Prefiro fazer isso e ficar longe das taxas dos bancos.”

A empresa de biquínis Chocollate Brazil é outra que prefere manter dis-


tância de crédito por enquanto. Fundada há um ano, a empresa faturou cinco
vezes o investido inicialmente em 2008 e projeta aumento de 100% nas vendas
em 2009, atuando em cinco estados e exportando para Espanha e Havaí. “A
gente tem recebido e-mails pelo contato do site da empresa. Estamos nego-
ciando vendas em Capri e Londres”, conta uma das sócias da empresa, Daniela
Pasin Luz. Psicóloga de formação, ela se uniu ao advogado Gérson Salvi Cunha
para fundar a Chocollate. “Hoje estamos com o negócio estável, pensando na
nova coleção, mas seguimos trabalhando nas nossas respectivas áreas para
financiar a empresa.”

A Chocollate é atendida por duas terceirizadas. Uma delas é a fábrica que os


próprios sócios montaram no segundo semestre do ano passado com quatro
costureiras e que passou a produzir mil biquínis por mês a partir de dezembro.
A unidade foi vendida pela empresa com a condição de que o novo proprietá-
rio siga fabricando um número determinado de peças para a marca por mês.
A outra terceirizada os atende quando os pedidos ultrapassam a média.

Segundo a empresária, a marca só não investe mais em exportação porque


a operação demanda muito capital de giro. Mesmo assim, a hipótese de finan-
ciar as vendas externas está fora de cogitação no momento. “Antes de tomar
crédito, precisamos fazer mais um verão.”

A Gueto, de Solange e Karin Wittmann, parece ser exceção. As sócias utili-


zam as ferramentas Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e Proger
Exportação desde que começaram a vender para fora do país, em 2003. A
Gueto é conhecida no mercado por criar e produzir mercadorias ecologica-
mente corretas e prestar consultoria em projetos de ecodesign. Cerca de 90%
da produção é voltada para exportação. A empresa faturou R$100 mil em
2008 e tem quatro funcionários de um ateliê do setor coureiro-calçadista do
Vale dos Sinos. A matéria-prima vem dos resíduos da indústria de calçados.

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Atividades de aplicação
1. Com relação aos órgãos de apoio às exportações no Brasil, assinale a
correta.

a) O MDIC ajuda no fornecimento de informações sobre acordos in-


ternacionais dos quais o Brasil é parte.

b) A Apex contribui para o fornecimento de informações de inteli-


gência comercial, além de auxiliar na participação em feiras.

c) O MRE contribui para a definição de barreiras técnicas que os pro-


dutos brasileiros recebem ao tentar entrar em mercados estran-
geiros.

d) O Inmetro é o órgão responsável pelo fornecimento de informa-


ções aduaneiras, de assessoria fiscal e contábil para a empresa ex-
portadora.

2. Identifique três características ou aspectos que devam ser analisados


na estrutura interna da empresa que iniciará a prática da exportação.

3. Sobre as adaptações técnicas que um produto pode receber para ser


exportado, assinale a correta.

a) Preferências culturais nunca influenciam questões técnicas.

b) Normas de defesa do consumidor podem determinar ajustes ne-


cessários.

c) O atendimento a normas internacionais, como ISO 9000 e ISO


14000, é obrigatório na exportação.

d) A embalagem é sempre aceita em mercados de países que man-


têm acordos internacionais, não sendo necessária nenhuma adap-
tação em especial.

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Referências
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MINERVINI, N. O Exportador. São Paulo: Prentice Hall, 2005.

MORINI, C. Os incoterms e o comércio exterior. In: MORINI, C; SIMÕES, R. C. F.;


DAINEZ, V. I. Manual de Comércio Exterior. Campinas: Alínea, 2006.

PORTER, M. Estratégia Competitiva. São Paulo: Campus, 2005.

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nacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007.

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oportunidades, planejando e introduzindo produtos e negócios no mercado in-
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terior. Campinas: Alínea, 2006.

TORRES FILHO, E. T.; CARVALHO, M. E. Financiamento às exportações: instrumen-


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Gestão de Negócios Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2006.

ZAPAROLLI, Domingos. Confecções do sul preferem usar recursos próprios. Valor


Econômico, p. F2, 28 maio 2009.

209

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Gabarito
1. B

2. Definição do produto exportável, a definição da marca exportável, as


adaptações necessárias para a exportação, a adequação da embala-
gem para a exportação, se haverá necessidade de investimento, se ha-
verá a necessidade de buscar financiamento, a elaboração do plano de
marketing e outros.

3. B

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Habilitação para exportação
e despacho aduaneiro

Cristiano Morini

Quando uma empresa decide que vai entrar no mercado externo, ela, pri-
meiramente deve preparar-se para isso. Após a empresa ter decidido e se
preparado para exportar, o próximo passo é a sua habilitação para a prática
da exportação em si. Não adianta a empresa exportadora contratar uma em-
presa prestadora de serviços para exportar seus produtos, porque a habilita-
ção deve ser feita para o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) da em-
presa exportadora, a menos que se utilize uma forma de internacionalização
indireta, que é a exportação via trading company1. No Brasil, a habilitação da 1
Trading companies são
companhias que buscam
empresa como exportadora e/ou importadora é gerida pela Secretaria da oportunidades comerciais
em todo o mundo, em
Receita Federal do Brasil (RFB), ligada ao Ministério da Fazenda. nome de outrem. Prestam
um serviço ao comércio
exterior, comprando e
O registro como exportadora e importadora cumprirá os passos conti- revendendo mercadorias
para o mercado interna-
dos no Radar (Ambiente de Registro e Rastreamento da Atuação dos Inter- cional. Embora menos
comum nos países oci-
venientes Aduaneiros) da RFB, com o objetivo de habilitar a empresa para dentais, também podem
ser empresas industriais.
utilização do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), bem como
credenciar os respectivos representantes para as práticas de exportação e
importação. No Siscomex serão registradas todas as operações de entrada
e saída de mercadorias do país, salvo exceções, em procedimentos que po-
derão ser registrados diretamente pelo exportador/importador ou por seu
representante legal. É interessante destacar que este capítulo focará a ativi-
dade de exportação.

O Siscomex é um sistema que integra Banco Central (e o seu sistema, o


Sisbacen), Secretaria de Comércio Exterior (Secex, responsável pelo controle
comercial) e Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB, responsável pelo
controle aduaneiro e cambial). O Siscomex foi introduzido em 1993 na ex-
portação, e em 1997 na importação. Funciona como um sistema consolida-
dor de informações ou também chamado de janela única (single window)
para os órgãos atuantes no comércio exterior brasileiro, dentro das tendên-
cias mais modernas em termos de facilitação de comércio. No Siscomex são
registradas todas as operações de exportação e importação, salvo exceções.

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

O tema de facilitação de comércio refere-se às atividades relacionadas ao


fluxo comercial entre as fronteiras. Várias são as ações, por vários organismos
2
OMC: Organização Mun-
dial do Comércio. OMA:
internacionais (OMC, OMA e UNCTAD2, por exemplo), para tornar o fluxo co-
Organização Mundial de
Aduanas. UNCTAD: United
mercial mais previsível, ágil, seguro e sem intercorrências. O Brasil, embora
Nations Conference on
Trade and Development.
ainda possua um tempo de desembaraço elevado (em média), adota proce-
dimentos dos mais modernos rumo a um papel aduaneiro de vanguarda, já
implementando ações de facilitação de comércio como o despacho adua-
neiro expresso ou “linha azul”.

A participação no “linha azul” é voluntária e ainda com bastante exigên-


cias. As empresas que aderirem ao programa devem adotar um conjunto de
procedimentos que facilita o controle aduaneiro (virtual) por parte da RFB
(com um sistema informatizado) e torna o fluxo comercial mais ágil, que é
o objetivo do exportador-importador, e mais seguro, que é o objetivo das
alfândegas de todo o mundo.

Dessa forma, todo o registro de informação no Siscomex é confrontado


com outras informações de sua base de dados, em um sistema cuja acurácia
dos dados é bastante elevada. Registrar mercadorias com peso muito discre-
pante do valor (alto peso e baixo valor) pode indicar alguma irregularidade
que é apontada pelo sistema, indicando ao fiscal aduaneiro a necessidade
de conferência física, por exemplo, por indicar um risco maior.

Segundo Morini (2006), o Radar tem o objetivo de aperfeiçoar o controle


e a captação de informações da empresa que atua no comércio exterior, com
o fim de coibir atos ilícitos, bem como executar o credenciamento e habi-
litação das empresas atuantes no comércio exterior. São solicitados vários
documentos para a habilitação, como: atos constitutivos da pessoa jurídi-
ca, certidão da junta comercial contendo o histórico das alterações dos atos
constitutivos, documento de identificação do responsável pela pessoa jurí-
dica, balanço patrimonial, cópia dos documentos pessoais de quem assina
procurações em nome da empresa, demonstrativo de resultado do exercício,
dados dos principais fornecedores no país e no exterior, dados dos principais
clientes no país e no exterior, volume de operações financeiras destinadas à
prática de exportação, elementos indicativos da atuação comercial da em-
presa e várias outras informações contábeis.

214

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

Além do Radar, a Secretaria de Comércio Exterior também mantém um


registro das empresas exportadoras e importadoras. A inscrição no Registro
de Exportadores e Importadores (REI) da Secex é automática, sendo realiza-
da no ato da primeira operação de exportação em qualquer ponto conec-
tado ao Siscomex. A inscrição no REI não gera qualquer número (BRASIL,
2007). Ela poderá ser negada, suspensa ou cancelada nos casos de punição
em decisão administrativa final, por infrações de natureza fiscal, cambial e de
comércio exterior ou por abuso de poder econômico (MDIC, 2010).

O Brasil se posiciona na 100.º colocação (de 183 economias), em termos


de procedimentos aduaneiros para o comércio exterior (DOING BUSI-
NESS, 2009). A tabela 1 apresenta a média de dias e os custos médios por
exportação.
Tabela 1– Natureza dos procedimentos de exportação

(DOING BUSINESS, 2009)


Natureza dos procedimentos Duração Custo
de exportação (em dias) (em US$)
Preparação de documentos 6 400
Desembaraço aduaneiro e controles técnicos 2 100
Movimentação em portos e terminais 3 190
Transporte interno e movimentação 1 850
Total 12 1540

Comparando o Brasil com outros países, tem-se o seguinte quadro.


Tabela 2 – Comércio entre fronteiras

(DOING BUSINESS, 2009)


Média dos países da OCDE
América (Organização para
Indicador Brasil Latina Cooperação e Desenvolvi-
e Caribe mento Econômico.
Países de altos PIBs)
Documentos para exportar 8 6,8 4,3
(número)
Tempo para exportar (em 12 18,6 10,5
dias)
Custo para exportar (US$ 1540 1243,6 1089,7
por container)

215

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

Habilitando a empresa como exportadora


A RFB publicou um grande número de normas relativas à área aduaneira,
3
<www.receita.fazenda.
gov.br>
que estão disponíveis no seu site3. A pesquisa pode ser feita na guia Aduana
e Comércio Exterior, por assunto ou por ato legal, quando se conhece o nome
e número do ato (como decreto, instrução normativa, atos declaratórios e
outros).

No que tange à habilitação da empresa para a exportação/importação,


o ato legal referente é a Instrução Normativa (IN) número 650/2006 (bem
como alterações posteriores, além do Ato Declaratório COANA n.º 3/2006).

A IN 650/2006 define que há algumas modalidades ou tipos de habilita-


ção para a exportação, das quais se destacam:

 ordinária – para pessoas jurídicas que atuem habitualmente no co-


mércio exterior;

 simplificada – para pessoas físicas; para pessoas jurídicas que realizem


4
FOB: Free on Board. Sig- exportações de até US$300 mil FOB4 em um período de seis meses.
nifica que a mercadoria
será entregue desemba-
raçada no porto do país
exportador. A partir daí,
Despachantes aduaneiros, dirigentes ou empresas da pessoa jurídica re-
todas as despesas seguem
por conta do comprador,
presentada poderão ser credenciados como representantes da pessoa física
como o frete internacio-
nal, por exemplo.
ou jurídica. A utilização de despachante aduaneiro não é mais obrigatória,
desde a publicação do Decreto-lei 2.472/88, embora aconselhada.

A atividade de despachante aduaneiro é regulamentada pelo Decreto


646, de 1992. Entre as principais funções de um despachante aduaneiro,
na importação e na exportação, identificam-se: preparação e assinatura de
documentos que servem de base ao despacho aduaneiro; verificação do
enquadramento tarifário da mercadoria; providências para o pagamento
de tributos, contribuições e taxas; representação perante órgãos públicos;
cumprimento de trâmites no Siscomex; acompanhamento do despacho; re-
cepção de intimações, notificações e autos de infração; classificação fiscal de
mercadorias; e outras.

Passo a passo do despacho aduaneiro


Uma vez habilitada a empresa a realizar operações de exportação, bem
como o credenciamento de seu representante legal, poderá ser iniciado o
registro da operação no Siscomex, em um passo que é chamado de início do
despacho aduaneiro.
216

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

O despacho aduaneiro é o procedimento mediante o qual é verificada a


exatidão dos dados declarados pelo exportador em relação à mercadoria a
ser exportada, aos documentos apresentados e à legislação específica, com
vistas ao desembaraço aduaneiro e a sua saída para o exterior (BRASIL, 2009).
O desembaraço aduaneiro é o ato pelo qual é registrada a conclusão da con-
ferência aduaneira, e autorizado o embarque ou a transposição de fronteira
da mercadoria. Corresponde ao procedimento final do despacho aduaneiro.
Com o desembaraço aduaneiro, a mercadoria está liberada para seguir para
o exterior.

O despacho aduaneiro na exportação é iniciado com o Registro de Expor-


tação (RE), depois a Declaração de Exportação (DE), seguida do desembaraço
aduaneiro e da averbação do embarque (confirmação da saída da mercado-
ria do país), emitindo-se, ao seu final, o Comprovante de Exportação (CE).

Há casos em que é necessário o Registro do Crédito (RC) antes do RE, na


hipótese de venda de mercadoria ao exterior para recebimento do paga-
mento em mais de 360 dias, o que é considerada operação financiada pelo
Banco Central, daí a necessidade de registro do RC antes do RE. Há outra situ-
ação que deve ser registrada antes do RE: quando forem mercadorias do tipo
commodities (cujas cotações são determinadas em bolsas de mercadorias no
exterior). Para essas mercadorias, é necessário fazer o Registro de Venda (RV),
antes de propriamente começar a registrar o RE.

Assim, o passo a passo na exportação pode ser visualizado da seguinte


forma:

Registro de Venda (RV)


O registro de venda gerará um número que deve ser mencionado no Re-
gistro de Exportação. As vendas poderão ser realizadas com preço fixo ou a
fixar, devendo, em ambos os casos, estar de acordo com as informações diá-
rias de preços da bolsa do produto indicada no Anexo “N” da Portaria Secex
36/2007. Exemplos de mercadorias que estão sujeitas ao RV: café tipo ará-
bica (cujo preço de referência é definido pela Bolsa de Nova York), café tipo
robusta (cujo preço de referência é definido pela Bolsa de Londres), açúcar,
alumínio e álcool (BRASIL, 2007).

Segundo Lopez (2001), é inviável a maioria das empresas brasileiras atu-


arem diretamente nas bolsas internacionais, pelos encargos envolvidos e di-

217

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

ficuldades derivadas da manutenção de conta corrente no exterior. Assim, o


RV permite que o exportador brasileiro opere segundo as regras das bolsas
internacionais de mercadorias, sem sua participação direta nos pregões e
com o reconhecimento do Governo Federal.

Registro de Crédito (RC)


Segundo Vazquez (1999), cada RC corresponde a um pacote financeiro
e pode abranger a exportação de diversas mercadorias, com previsão para
um ou para múltiplos embarques. O RC tem um prazo de validade para em-
barque, dentro do qual devem ser efetuados os correspondentes Registros
de Exportação (REs) vinculados. Os financiamentos poderão ser concedidos:

a) com recursos do Programa de Financiamento às Exportações (Proex),


previsto no Orçamento Geral da União e operacionalizado pelo Banco
do Brasil, na qualidade de agente financeiro da União, por meio das
modalidades financiamento e equalização;

b) com recursos do próprio exportador ou instituições financeiras autori-


zadas a operar com câmbio de moedas (BRASIL, 2007).

Registro de Exportação (RE)


Compreende o conjunto de informações de natureza comercial, financei-
ra, cambial e fiscal que caracteriza a operação de exportação de uma merca-
doria e define o seu enquadramento (BRASIL, 2009). O RE tem validade de
60 dias.

Para cada classificação fiscal de mercadoria é registrado um anexo do RE.


Portanto, um RE poderá abranger diferentes tipos de mercadorias, registra-
das em diferentes anexos. O registro poderá ser efetuado com a mercadoria
fisicamente na própria empresa ou em qualquer outro local, até no ponto
aduaneiro de saída.

5
São informações solicitadas no RE: nome e CNPJ do exportador, número
Incoterms, ou termos
internacionais de comér- do RV (quando existente), número do RC (quando existente), unidade da Re-
cio, identificam o custo
e a responsabilidade do ceita Federal de despacho e de embarque, dados do importador, país de des-
vendedor no momento
da negociação interna-
cional e na determinação
tino final, incoterm5, modalidade e esquema de pagamento, moeda, classifi-
das condições de venda.
O que não couber ao
cação fiscal da mercadoria, descrição da mercadoria, quantidade de
vendedor (exportador)
fica sob responsabilidade
mercadorias, peso líquido, comissão de agente (se houver), estado produtor
e custo do comprador
(importador).
e observações complementares.
218

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O enquadramento da operação especifica o tipo de exportação, se


normal, por exemplo, utiliza-se o código 80000; 80102, para exportação em
consignação; 80106, para exportação de material usado; 81301, para expor-
tação sujeita a RV; 90003, para mercadorias destinadas a feiras e exposições;
entre outros.

Além da modalidade normal de exportação, também poderão ser re-


gistradas operações do tipo drawback, exportação temporária, exportação
temporária para aperfeiçoamento passivo, entreposto aduaneiro na expor-
tação, Depósito Alfandegado Certificado (DAC) e Zona de Processamento de
Exportação (ZPE). Esses conceitos serão definidos a seguir.

Drawback
O drawback é um benefício à empresa importadora e exportadora indus-
trial. É uma prática utilizada em todo o mundo. A empresa que importa insu-
mos e matérias-primas para serem industrializados, com destino final o mer-
cado estrangeiro, poderá importar esses itens com suspensão ou isenção
dos impostos incidentes (Imposto de Importação, Imposto sobre Produtos
Industrializados, ICMS, PIS e COFINS). Uma vez confirmada a industrialização,
utilizando no mínimo 60% de conteúdo nacional no preço final da mercado-
ria a ser comercializada, desobriga-se o pagamento dos impostos incidentes
na importação, uma vez que o fim definitivo da mercadoria não é o mercado
nacional, mas o estrangeiro. Assim, no drawback, até 40% do preço final da
mercadoria poderá ser com os custos dos produtos importados. Ultrapas-
sado esse limite, não pode ser feito drawback, a menos que a operação seja
autorizada pela Secex. O drawback é o regime aduaneiro especial mais utili-
zado pela empresa exportadora.

Segundo Meira (2002, p. 211), o “drawback foi concebido com o intuito


de estimular a exportação de produtos manufaturados”, cuja previsão legal
existe desde 1966. O controle do drawback é feito pelo Banco do Brasil, nas
suas modalidades suspensão e isenção. O drawback restituição é de respon-
sabilidade da Receita do Brasil.

Exportação temporária
A exportação temporária é destinada a mercadorias que temporariamen-
te permanecerão no exterior e depois voltarão ao Brasil, como é o caso de
mercadorias destinadas a competições esportivas, feiras, exposições e testes,
219

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Habilitação para exportação e despacho aduaneiro

por exemplo. Quando a mercadoria for destinada a um reparo ou manuten-


ção no exterior, caracteriza-se a operação de exportação temporária com
“aperfeiçoamento passivo”.

Entreposto aduaneiro
O regime especial de entreposto aduaneiro, na exportação, é destinado
ao depósito de mercadoria em um recinto alfandegado, com o intuito de
ser desembaraçado na zona secundária (em pontos que não sejam portos,
aeroportos e fronteira), para seguir diretamente para a zona primária (jus-
tamente os portos, aeroportos e fronteira), já conferida pela fiscalização. A
carga segue lacrada sob um regime chamado de trânsito aduaneiro, de uma
cidade no interior do país para o porto de Santos, por exemplo. A vantagem
de se utilizar o entreposto aduaneiro na exportação é reduzir o tempo na
cadeia de suprimentos, uma vez que a conferência da carga na zona secun-
dária (em um porto seco, por exemplo), tende a ser mais ágil que na zona
primária, pela grande concentração de carga nessa região.

Depósito Alfandegado Certificado


Nas exportações que utilizam o Depósito Alfandegado Certificado (DAC),
a mercadoria que for introduzida em uma área segregada, chamada de de-
pósito alfandegado certificado, será considerada exportada para todos os
efeitos fiscais, creditícios e cambiais, sem que haja a necessidade da carga ter
saído efetivamente do país.

Zonas de Processamento de Exportação


Já as zonas de processamento de exportação (ZPEs) são áreas de livre co-
mércio destinadas à instalação de empresas cuja produção será destinada ao
exterior. A empresa que se instala nessa zona tem a suspensão dos tributos
incidentes na importação, tendo o compromisso de exportar pelo menos
80% de sua receita bruta total de venda de bens e serviços. O projeto de
criação das ZPEs é antigo, mas apenas recentemente tem sido concretizado
no Brasil.

220

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Declaração de Exportação (DE)


É considerada, pelo Regulamento Aduaneiro, como o documento base
do despacho aduaneiro. A DE deverá ser instruída com a primeira via da nota
fiscal de saída, a via original do conhecimento de embarque (documento
emitido pelo transportador) e outros documentos exigidos pela legislação
específica.

A DE poderá conter um ou mais REs, desde que se refira ao mesmo expor-


tador, que a negociação tenha sido na mesma moeda e mesmo incoterm, e
que sejam as mesmas as unidades da Receita Federal de despacho e embar-
que (MORINI, 2006).

São informações solicitadas na DE: unidade de despacho e unidade de


embarque, identificação do veículo, modal de transporte, data de embarque,
incoterm, quantidade de REs vinculados à DE, quantidade de Notas Fiscais
vinculadas à DE, valor total, moeda, peso líquido total, peso bruto total, quan-
tidade total de volumes. A DE deverá ser instruída com a primeira via da Nota
Fiscal; a via original do conhecimento de carga (apenas nas modalidades ter-
restre e fluvial); e outros documentos exigidos pela legislação específica.

Presença de carga
A presença de carga indica, para a autoridade aduaneira, que o processo
já pode ser conferido pelo fiscal, se for o caso. Feita a presença de carga e en-
tregue os documentos para a autoridade fiscal, estão cumpridos os trâmites
sob responsabilidade do exportador.

Parametrização do Siscomex
Depois de registrada a DE, o Siscomex seleciona a DE para os filtros ou
canais de parametrização do sistema, ou seja, seleciona a DE para que se
cumpram os seguintes procedimentos de fiscalização aduaneira, segundo
parâmetros do sistema (que seguem um conjunto de informações de análise
de risco):

221

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 Canal verde – o Siscomex promove o desembaraço aduaneiro auto-


mático do despacho, sem que haja a necessidade de ação do fiscal
aduaneiro;

 Canal laranja – a autoridade aduaneira confere os documentos en-


tregues pelo exportador ou seu representante legal. Os documentos
têm suas informações conferidas entre si e com relação aos dados de-
clarados no Siscomex. Os documentos mais utilizados são: nota fiscal,
extrato do RE, fatura comercial e conhecimento de embarque;

 Canal vermelho – a autoridade aduaneira procede a conferência do-


cumental (já prevista no filtro anterior), além da conferência física das
mercadorias (em termos de volume, peso e adequação da mercadoria
com o que foi declarado).

Em todo o mundo, a conferência pela autoridade aduaneira segue parâ-


metros semelhantes, na impossibilidade de conferência de 100% da carga
que flui pelas fronteiras.

Averbação do embarque
É a confirmação da saída física da mercadoria do país (BRASIL, 2009). Uma
mercadoria já desembaraçada pode estar aguardando a aeronave para em-
barcar. Ela só será considerada exportada, para todos os efeitos legais, após a
decolagem da aeronave, a saída do navio ou o cruzamento de fronteira pelo
caminhão.

Comprovante de Exportação (CE)


É o último procedimento de um despacho aduaneiro de exportação no
Siscomex. As mercadorias contidas no CE foram desembaraçadas e efetiva-
mente saíram do país. Concluída a operação de exportação, com a sua aver-
bação no Sistema, a RFB fornecerá ao exportador, quando solicitado, o Com-
provante de Exportação, emitido pelo Siscomex (BRASIL, 2007).

A figura 1 esboça o passo a passo do despacho aduaneiro de


exportação.

222

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(MORINI, 2006, p. 350)


Filtros ou canais de parametrização:
verde, laranja ou vermelho

Averbação do embarque
Presença de carga
RV

RE DE CE

RC

De responsabilidade do exportador ou
seu representante legal.
Figura 1 – Despacho aduaneiro de exportação.

Documentos mais usuais


Dentre os documentos mais usuais para promover o despacho aduaneiro
de mercadorias, destacam-se (MORINI, 2006):

Fatura pro forma


Documento que faz o papel de orçamento ou proposta, emitido prelimi-
narmente à fatura comercial. Sua não aceitação não implica em penalidades,
pois, como uma oferta, pode ser recusada, aceita ou renegociada. As infor-
mações contidas na fatura pro forma (proforma invoice, em inglês), são prati-
camente as mesmas contidas na fatura comercial. Segundo Vazquez (2001),
não implica pagamento por parte do comprador, sendo geralmente emitida
para atender a determinações de autoridades aduaneiras, como as licenças.
Aceita e assinada pelo comprador, representa o contrato de compra e venda
na prática (o contrato de compra e venda internacional muitas vezes não é
elaborado, conferido e assinado pelas partes, na tentativa de reduzir custos
e tempo de operação). Segundo Garofalo Filho (2003), esse documento não
gera obrigações de pagamento por parte do importador.

Fatura comercial
Documento de natureza contábil (commercial invoice, em inglês), emiti-
do pelo exportador ao importador, transfere a posse, comprovando a venda
da mercadoria. Segundo Luna (2000), substitui a nota fiscal nas operações

223

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internacionais. As informações que devem constar em uma fatura comercial


são:

 nome e endereço completos do exportador;

 nome e endereço completos do importador;

 especificação das mercadorias na fatura poderá ser em um dos idio-


6
GATT-OMC envolve um mas do GATT-OMC6, ou na língua do país importador;
conjunto de acordos mul-
tilaterais de comércio in-
ternacional. A sigla GATT
(General Agreement on
 descrição detalhada da mercadoria;
Trade and Tariffs) significa
Acordo Geral de Comércio
e Serviços. OMC é a orga-  marca e número de referência dos volumes;
nização internacional que
surgiu a partir dos acor-
dos do GATT, chamada  quantidade e espécie dos volumes;
de Organização Mundial
do Comércio. Os idiomas
utilizados no GATT-OMC  peso bruto e peso líquido dos volumes;
são: inglês, espanhol e
francês.
 país fabricante, país de aquisição e país de procedência;

 preço unitário e total de cada espécie de mercadoria;

 condições de pagamento e moeda;

 incoterm;

 outras informações exigidas pelos clientes ou por outros países.

Romaneio de carga
Documento emitido para fins de transporte (packing list, em inglês), emi-
tido pelo exportador, não é um documento contábil. O romaneio de carga é
utilizado pelos transportadores para fins de verificação do espaço físico a ser
reservado ou utilizado na unidade de transporte, especificando as dimen-
sões da carga (altura, comprimento, largura). É um documento que deve ser
anexado à fatura comercial, ou apresentado conjuntamente. As informações
que devem constar em um romaneio de carga ou packing list são:

 descrição da mercadoria;

 descrição das dimensões físicas da carga: altura, comprimento, largura


e volume;

 número total de volumes;

224

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 marcações dos volumes (identificação de um número para cada paco-


te ou volume);

 peso líquido e bruto individual e total da carga.

Conhecimento de carga
Emitido pelo transportador, é um título de crédito. Constitui prova de
posse da mercadoria e comprova que a mercadoria está a bordo do meio de
transporte. Pode ser endossado para terceiros. Recebe várias denominações,
dependendo do modal de transporte: aéreo, chama-se Air Way Bill (AWB);
marítimo, Bill of Lading (B/L); rodoviário, chama-se Conhecimento Rodoviário
de Transporte (CRT) ou Carta Porte. As informações normalmente contidas
em um conhecimento de carga ou conhecimento de embarque são:

 número do conhecimento de carga e da fatura comercial;

 nome e endereço do embarcador ou carregador;

 nome e endereço do consignatário, ou a quem a mercadoria será des-


tinada no país de destino, podendo ser o importador original ou al-
guém em seu nome;

 nome da parte que será notificada (normalmente nos documentos de


transporte marítimo e aéreo);

 porto, aeroporto ou ponto de embarque e de chegada;

 nome da unidade de transporte (se embarcação), número da placa (se


caminhão) ou número do voo (se aeronave);

 peso bruto e peso a ser tarifado (chargable weight) no caso de embar-


que aéreo; peso bruto e peso líquido no caso de embarque marítimo
ou rodoviário;

 descrição simplificada das mercadorias;

 na exportação, deve ser mencionado o número do RE, da DE e da clas-


sificação fiscal das mercadorias;

 tarifas de frete e outras, se houver;

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 quais tarifas deverão ser pagas na origem (prepaid) e quais serão pagas
no destino (collect);

 é opcional mencionar o valor da mercadoria;

 outras informações exigidas pelos clientes ou por outros países.

Certificados
Documento utilizado para fins de comprovação de diferentes objetivos,
como origem (no caso de um acordo internacional), qualidade, peso, sanida-
de, questões ambientais, questões culturais, questões governamentais em
virtude de embargo ou boicote, determinações originárias de acordos téc-
nicos internacionais, benefício do Sistema Geral de Preferência (SGP) e Siste-
ma Geral de Preferências Comerciais (SGPC), e outras finalidades, conforme
Anexo “O” da Portaria SECEX n.º 25/2008. Podem ser emitidos por entidades
credenciadas, como associações, entidades de classe, federações de indús-
tria, comércio e agricultura, muitas vezes recebendo o reconhecimento das
Câmaras de Comércio. Exemplos: certificado de origem do Mercosul, certifi-
cado de origem da Aladi, certificado de abate árabe, certificado fitossanitário,
certificado de fumigação, certificado de controle de emissão de poluentes e
certificado de controle de nível de ruído.

Nota fiscal
Documento fiscal brasileiro obrigatório para o acompanhamento do des-
locamento de mercadorias pelo território nacional. Indica também a necessi-
dade de pagamento e o valor da obrigação tributária quando da transferên-
cia da propriedade da mercadoria. Na exportação, o empresário deve emitir a
Nota Fiscal de saída, indicando que a operação é de exportação (deve conter
os termos: não incidência de ICMS e imunidade de IPI).

A nota fiscal deve indicar os dados da fatura comercial, além de outros,


como o código fiscal da operação (CFOP). Se a exportação for direta, a nota
fiscal de saída deve ser emitida em nome da empresa importadora. Caso a
exportação seja indireta, via trading company, por exemplo, a nota deve ser
emitida em nome desta empresa (com suspensão dos tributos), que ficará
responsável pela comprovação da efetiva exportação das mercadorias indi-
cadas na nota fiscal.

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Carta de crédito
A carta de crédito não tem fins aduaneiros, mas é um dos principais do-
cumentos utilizados como modalidade de pagamento internacional. As mo-
dalidades de pagamentos internacionais são:

 pagamento antecipado – quando o envio do pagamento pelo im-


portador ocorre antes do embarque. Proporciona risco para o impor-
tador;

 remessa sem saque – quando o exportador embarca a mercadoria


antes do pagamento pelo importador. Representa risco para o expor-
tador;

 saque, cambial ou letra de câmbio – quanto o exportador embarca


a mercadoria e envia os documentos para um banco; o banco rece-
be os documentos e entrega para o importador contra pagamento ou
contra aceitação da dívida/duplicata, caso o pagamento seja feito de
forma parcelada;

 carta de crédito ou crédito documentário – quando um banco do


país do importador emite um crédito para o importador adquirir mer-
cadoria de um exportador; se o importador não honrar o compromis-
so, um banco confirmador ou garantidor paga o exportador. Para o
importador também há a conferência, pelo banco intermediário, dos
documentos enviados pelo exportador.

A carta de crédito é a modalidade mais cara (pelas comissões cobradas


pelos bancos intervenientes) e também a mais utilizada, porque ela repre-
senta garantias tanto para o importador (que receberá os documentos para
fins de aduana em ordem) quanto para o exportador (que receberá o pa-
gamento de sua exportação). Na hipótese de discrepância de informações
entre os documentos, o banco emitente não credita o valor na conta do
exportador. Segundo Lunardi (2000), a carta de crédito é um compromisso
bancário de pagamento condicionado. Pode representar um pagamento à
vista ou a prazo.

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Outros documentos
Em algumas situações específicas, podem ser necessários outros docu-
mentos, como por exemplo, fatura consular, documento de inspeção pré-
-embarque, apólice de seguro, contrato de câmbio (o contrato de câmbio
define a data da venda da moeda estrangeira recebida ou a receber pelo
exportador, definindo sua cotação. É um contrato feito entre um banco au-
torizado e um exportador. No Brasil, não é permitido ter contas bancárias em
moeda estrangeira, daí a necessidade de se efetuar o contrato de câmbio).
No caso de benefícios fiscais, deverão ser apresentadas certidões negativas
referente à Previdência Social (INSS), dívida ativa na União e Fazenda Nacio-
nal (PGFN).

A figura 2 ilustra o fluxograma do processo de exportação, com um passo


a passo para a exportação.

(MDIC, 2010)
FLUXOGRAMA DE EXPORTAÇÃO
1 2 3 4 5
Preço prazo NCM
Negociação com Envio da fatura
Pesquisa de Elaboração da
Planejamento o importador pro forma ao
Mercado fatura pro forma
Pagamento importador
incoterms
6 7 8 9 10
Importador
Exportador
vai ao banco Exportador Exportador Exportador
prepara
e solicita a analisa a carta elabora a fatura elabora o
mercadoria para
abertura da de crédito comercial packing list
embarque
carta de crédito
11 12 13 14 15
Recebimento
Exportador Exportador
Pagamento do do
Exportador providencia o solicita o
frete e seguro conhecimento
emite nota fiscal pré-transporte despacho
pelo exportador de embarque
até o porto aduaneiro
(B/L)
16 17 18 19 20
Exportador
Desembaraço e Emissão do Exportador
Exportador entrega
averbação junto comprovante consolida toda a
contrata câmbio documentação
à SRF de exportação documentação
ao banco
21 22 23
Exportador
Exportador
liquida o
envia carta de FIM
câmbio e
agradecimento
recebe os reais

Figura 2 – Fluxograma de exportação.

228

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Ampliando seus conhecimentos

Facilitação do comércio e procedimentos


aduaneiros nas negociações da OMC:
os impactos para o direito aduaneiro do Brasil
(SCORZA, 2007)

Diante da crescente liberação do comércio multilateral, que vem ocorren-


do a partir do estabelecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC),
em 1995, a questão da facilitação do comércio tem ganhado cada vez mais
importância. Tal se dá em função do crescimento constante do comércio
mundial, que faz com que as aduanas tenham que processar um número
cada vez maior de operações, necessitando de maior eficiência. Outro fator
determinante é a formação de uma economia cada vez mais global, que exige
dos países maior inserção nos mercados e o máximo de competitividade por
parte de suas empresas para que possam crescer economicamente. Frente a
essa realidade de intensas trocas comerciais e alta concorrência, procedimen-
tos aduaneiros inadequados minam a competitividade das indústrias locais e
atravancam o desenvolvimento econômico.

Assim, surge a necessidade de, por meio de medidas de facilitação do co-


mércio, se superar o atraso nas aduanas a fim de criar maiores oportunidades
comerciais e alavancar o crescimento dos países beneficiados por essas me-
didas. Em 2001, o tema da facilitação do comércio foi introduzido no âmbito
das negociações da OMC a fim de promover o desenvolvimento através do
aumento dos fluxos comerciais [...].

A facilitação do comércio
e a questão dos procedimentos aduaneiros
Segundo definição adotada pela Organização para a Cooperação e o De-
senvolvimento Econômico (OCDE), facilitação do comércio é a simplificação
e padronização de procedimentos e fluxos de informações exigidos para que
se dê o movimento internacional de bens do vendedor para o comprador e a
movimentação de pagamentos no sentido contrário.

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Esses procedimentos e coletas de informações incluem aqueles relacio-


nados aos transportes, seguros, pagamentos internacionais, procedimentos
e formalidades derivados de exigências regulamentais e administrados por
agências governamentais, incluindo as aduanas, agências de saúde, seguran-
ça, meio ambiente e outras intervenientes. [...] Das diversas definições, pode-
se extrair que a facilitação do comércio tem como objetivo diminuir os custos
das operações do comércio internacional relativos ao transporte de cargas,
aos trâmites aduaneiros e às regulamentações comerciais, de forma a promo-
ver um aumento nos fluxos de comércio entre os países envolvidos.

Segundo a OCDE, tais custos variam entre 1% e 15% do valor total da tran-
sação comercial, dependendo essa variação da eficácia das administrações de
cada país, de especificidades das mercadorias comercializadas e da dimensão
e tipo do negócio realizado.

Entre os fatores que mais contribuem para o aumento dos custos das tran-
sações comerciais internacionais, destacam-se os problemas provenientes
da logística dos transportes, especialmente a deficiência das infraestruturas
portuárias, e a ineficácia dos procedimentos e regulamentações das aduanas
e outras agências dos governos. A atuação dos órgãos dos governos que in-
tervêm no comércio internacional tem como objetivo, teoricamente, executar
as regulamentações internas do Estado e, ao mesmo tempo, impor o mínimo
possível de obstáculos a esse comércio.

Entre esses órgãos dos governos, os principais são as aduanas. Cabe a elas
impor a aplicação das políticas de comércio exterior dos governos através do
controle da entrada e saída de produtos. Sua principal função é verificar as
informações prestadas pelos atores do comércio exterior para se assegurar
de que estão em conformidade com os controles estabelecidos e verificar as
mercadorias comercializadas para se assegurar de que estão conformes com
as informações prestadas.

A fim de exercer as suas atribuições, as aduanas impõem aos atores do


comércio exterior uma série de exigências e procedimentos. O cumprimento
dessas exigências, bem como o tempo gasto com questões procedimentais,
adicionam custos para a transação. A redução desses custos ao mínimo é o
principal alvo da facilitação do comércio.

Procedimentos aduaneiros inadequados podem trazer diversos proble-


mas, como o aumento da corrupção entre as autoridades aduaneiras, dificul-

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dades na valoração das mercadorias, diminuição na arrecadação de tributos,


imprevisibilidade e atrasos na liberação de mercadorias, entre outros. Assim,
uma administração para os seus negócios, diminuindo as possibilidades de
recebimento de investimentos e obrigando-as a manter grandes estoques.
Como consequência, tem-se o aumento dos custos, o que torna os produtos
menos competitivos em relação a produtores externos e traz prejuízos aos
consumidores.

Para os países menos desenvolvidos e para os países em desenvolvimento,


as perdas causadas pela ineficiência aduaneira são mais expressivas. São estes,
portanto, os que têm mais a ganhar com a facilitação do comércio. Quanto
menor o nível de desenvolvimento de um país, maiores costumam ser os pro-
blemas encontrados em suas aduanas, de forma a haver uma grande margem
para melhorias e ganhos através da implementação de medidas de facilitação
do comércio.

Em função do amplo reconhecimento dos benefícios das medidas de facili-


tação do comércio, têm sido ampliados os esforços para a sua implementação,
especialmente nos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento [...].

As propostas sobre
procedimentos aduaneiros em discussão na OMC
Quatorze propostas foram apresentadas por diversos países, sendo a maio-
ria delas trazida pelas Comunidades Europeias:

a) não discriminação;

b) revisão periódica de exigências e procedimentos;

c) redução/ limitação de formalidades e exigências de documentos;

d) adoção de padrões internacionais;

e) adoção de códigos aduaneiros uniformes;

f ) aceitação de informações comercialmente disponíveis e de cópias;

g) automatização;

h) single window e entrega única de documentos;

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i) eliminação das inspeções pré-embarque;

j) eliminação gradativa do uso obrigatório de despachantes aduaneiros;

k) unificação de procedimentos aduaneiros dentro de uniões aduaneiras;

l) métodos de teste baseados em características específicas dos produ-


tos;

m) uniformização de formulários e de exigências documentais relativas ao


desembaraço aduaneiro dentro de uma união aduaneira;

n) opção de devolução de mercadorias rejeitadas ao exportador [...].

Além das propostas enumeradas, há outras relativas a tratamento e proce-


dimentos desnecessários, como a requisição de informações já disponíveis e
a exigência de um mesmo documento por mais de uma vez, bem como atu-
alizar e simplificar os procedimentos e exigências que se mostrem defasados,
adequando-os às novas circunstâncias e tecnologias [...]. Entre essas propos-
tas, podem-se destacar:

[...] adoção de padrões internacionais


Quando um operador do comércio internacional possui parceiros em di-
versos países, a existência de diferentes formas de preenchimento de formu-
lários, de exigências de documentos e de procedimentos traz grandes custos
e dificuldades ao obrigá-lo a adotar modos de agir divergentes, conforme o
destino dos bens comercializados.

Segundo estudo da OCDE, a padronização tende a aumentar os fluxos


do comércio entre parceiros comerciais e a transparência em suas relações.
Pode, quando adotada em relação aos documentos, reduzir a probabilidade
de erros em seu preenchimento e apresentação e facilitar o intercâmbio de
informações entre agências e governos através de sistemas padronizados de
dados [...].

[...] revisão periódica de exigências e procedimentos


[...] Já em relação à padronização de procedimentos aduaneiros, as pro-
postas envolveram especialmente as convenções desenvolvidas no âmbito da
OMA. Em particular, foi sugerida a adoção da International Convention on the

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Simplification and Harmonization of Customs Procedures, em sua versão atual,


conhecida como Convenção de Quioto Revisada. Esse documento tem como
objetivo promover a facilitação do comércio e o controle aduaneiro efetivo,
apresentando padrões de procedimentos simples, transparentes e eficazes
[...].

Automatização
A automatização tem como função servir como ferramenta destinada a
otimizar a implementação de outras medidas de facilitação do comércio. Tra-
ta-se do uso de tecnologias de informação e comunicação nos procedimentos
de comércio exterior.

Segundo a OCDE, a automatização aumenta a eficiência dos procedimen-


tos aduaneiros, agilizando o desembaraço [...]. A implementação de sistemas
automatizados pode ser complexa e custosa, envolvendo os custos dos equi-
pamentos, programas, manutenção e treinamento de pessoal, além da neces-
sidade de adaptação de regulamentos. Por outro lado, os potenciais benefí-
cios podem superar largamente os custos de implementação. Desse modo,
a assistência técnica e a capacitação tornam-se essenciais para que os países
menos desenvolvidos possam ter acesso a tecnologias de automatização.

[...] análises de risco


e agentes do comércio autorizados
Técnicas de avaliação e gerenciamento de riscos racionalizam a aplicação
dos recursos nas aduanas, de forma a alocá-los onde há verdadeiramente a
necessidade de uma fiscalização mais minuciosa e da presença próxima da
administração.

O uso de técnicas de análise de riscos permite que cargas consideradas de


baixo risco sejam processadas rapidamente, sofrendo o mínimo de interven-
ção por parte das autoridades aduaneiras. Também permite um aumento na
eficiência da fiscalização aduaneira, diminuindo a necessidade de inspeções
físicas e aumentando a arrecadação [...].

O sistema de agentes autorizados permite que empresas que cumpram


com determinados requisitos possam gozar de tratamento diferenciado por
parte das aduanas. Trata-se de empresas que operam constantemente no co-

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mércio exterior e contam com um histórico positivo no cumprimento de suas


obrigações perante as autoridades aduaneiras. Assim, esses agentes autoriza-
dos contariam com exigências mais brandas, que permitam a rápida liberação
dos produtos por eles comercializados [...]

Single window e entrega única de documentos


Essa proposta diz respeito à coordenação entre as diversas agências gover-
namentais que possam estar envolvidas nas operações de comércio exterior.
Dependendo do tipo de produto ou da natureza da negociação, pode-se ter
um número maior de agências governamentais influindo na entrada de bens
em determinado país. Cada uma dessas agências pode exigir documentos e
adotar procedimentos próprios. Quando não há coordenação entre as agên-
cias, os custos e dificuldades das transações comerciais tendem a aumentar
[...].

Trata-se aqui de coordenar sob um único órgão as exigências de cada uma


das agências. Esse órgão – a single window – é responsável por centralizar as
exigências das agências governamentais envolvidas, servindo como uma in-
terface única entre estas e os operadores do comércio exterior. Assim, todos
os documentos e informações exigidas podem ser entregues a esse único
órgão, que depois os distribui conforme as exigências de cada agência.

Atividades de aplicação
1. Com relação à autorização que a empresa brasileira deve ter para ini-
ciar a prática da exportação, assinale a correta.

a) Deve ser solicitado o ingresso da empresa no Registro de Exporta-


dores e Importadores (REI), administrada pela Secretaria da Recei-
ta Federal do Brasil.

b) Devem ser cumpridas as exigências do Radar, administrado pela


Secretaria de Comércio Exterior.

c) A empresa interessada deve cumprir as exigências definidas no


Siscomex.

d) O cumprimento das exigências contidas no Radar, administrado


pela Receita Federal, e REI, cujo registro é automático.
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2. Explique o passo a passo dos registros necessários no despacho adua-


neiro de exportação.

3. Com relação ao despachante aduaneiro, assinale a correta.

a) A contratação dos serviços de um despachante aduaneiro é obri-


gatória no Brasil.

b) Presta serviços como recepção e entrega de documentos, recebi-


mento de intimações e autos de infração, classifica mercadorias e
outros.

c) Atua no despacho aduaneiro, conferindo os embarques que forem


parametrizados no canal laranja.

d) Participa de negociações comerciais internacionais.

Referências
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pública Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 nov. 2007. Dispo-
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ro. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasí-
lia, DF, 06 fev. 2009. Disponível em: <www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/
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VAZQUEZ, J. L. Dicionário de Termos de Comércio Exterior. São Paulo: Atlas,


2001.

Gabarito
1. D

2. O despacho aduaneiro de exportação inicia-se pelo Registro de Ex-


portação (RE), seguido da Declaração de Exportação (DE), presença de
carga, canais de parametrização ou filtros (verde, laranja e vermelho),
averbação do embarque e emissão do Comprovante de Exportação
(CE). Em certos casos, é necessário registrar antes do RE: o Registro de
Venda (RV), no caso de mercadorias do tipo commodities, cujos preços
são definidos em bolsas de mercadorias; e o Registro de Crédito (RC),
no caso de exportações financiadas.

3. B

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