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Introdução

No século XIX, vários pensadores tinham grande preocupação em dar respostas aos
vários problemas sociais que se desenvolviam no seio da sociedade capitalista. Os
socialistas utópicos foram os primeiros a proporem e teorizarem meios que
pudessem resolver a expressa diferença percebida entre os membros do
proletariado e da classe burguesa. Além disso, ao se pensar numa teoria do Estado,
nos remetemos imediatamente a Karl Marx, que desenvolveu a mais interessante e
provocativa teoria econômica do Estado, visto que na época em que foi
desenvolvida, nenhum economista havia começado a considerar a questão.
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Origem

Foi no estado alemão, agitado e cheio de problemas, que nasceu o marxismo.


Essa teoria não foi concebida apenas por Karl Marx (1818 - 1883), ele teve uma
colaboração ideológica e financeira de Friedrich Engels (1820 - 1895). Eles
escreveram em parceria o Manifesto Comunista (1848) e A ideologia alemã.
Algumas das obras de Marx foram O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Contribuição à
crítica da economia política, e a mais importante que foi O Capital. Já Engels
escreveu Anti-Dühring, A dialética da natureza, A origem da família, da propriedade
privada e do Estado e outras.

Eles formularam seu pensamento baseado na realidade social da sua época, que
era de um grande avanço técnico e aumento do controle da natureza pelo homem
mas por outro lado, a classe trabalhadora sofria mais opressão e ficava cada vez
mais pobre. Sua doutrina partiu do estudo dos economistas ingleses Adam Smith e
David Ricardo e da filosofia de Hegel. Essa doutrina se compõe de uma teoria
científica, o materialismo histórico, e de uma teoria filosófica, o materialismo
dialético. Segundo o materialismo, o mundo material é anterior ao espírito e este
deriva daquele. Marx chama de infra-estrutura a estrutura material da sociedade, sua
base econômica, que consiste nas formas pelas quais os homens produzem os bens
necessários à sua vida. A super estrutura corresponde à estrutura jurídico-política e
a estrutura ideológica. A posição do marxismo, é que a infra-estrutura determina a
superestrutura, mas ao tomar conhecimento das contradições, o homem pode agir
ativamente sobre aquilo que o determina. As manifestações da superestrutura
passam a ser determinadas pelas alterações da infra-estrutura decorrentes da
passagem econômica do sistema feudal para o capitalista. O movimento dialético da
história se faz por um motor, que é a luta de classes. Essa luta acontece porque as
classes tem interesses antagônicos. No modo de produção capitalista essa relação
de antagonismo se dá porque o capitalista detém o capital e o operário não possui
nada, tendo que vender a sua força de trabalho.

A teoria marxista desenvolve-se em quatro níveis fundamentais para a análise:


filosófico, econômico, político e sociológico em torno da idéia central de
transformação permanente. Em suas Thesen über Feuerbach (1845, publicadas em
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1888; Teses sobre Feuerbach), Marx escreveu: "Até o momento, os filósofos apenas
interpretaram o mundo; o fundamental agora é transformá-lo." Para transformar o
mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união
conceitualizada como práxis. Interpretada por diversos seguidores, a teoria tornou-
se uma ideologia que se estendeu a regiões de todo o mundo e foi acrescida de
características nacionais. Surgiram assim versões como as dos partidos comunistas
francês e italiano, o marxismo-leninismo na União Soviética, as experiências de
cooperativas no leste europeu, o maoísmo na China, Albânia, Coréia do Norte, de
Cuba e dos partidos únicos africanos, em que se mistura até com ritos tribais. As
principais correntes do marxismo foram a social-democracia, o bolchevismo e o
esquerdismo além do comunismo de conselho. Muitas dessas interpretações de
Marx e Engels pouco têm a ver com as obras dos autores e por isso há constantes
conflitos entre elas.
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História

Em 1848, os pensadores Karl Marx e Friedrich Engels apareceram com um


elaborado arcabouço teórico que visava renovar o socialismo. Para tanto, realizaram
um complexo exercício de reflexão sobre as relações humanas e as instituições que
regulavam as sociedades. Como resultado, obtiveram uma série de princípios que
fundamentaram o marxismo, também conhecido como socialismo científico.

Por meio do chamado materialismo histórico, compreenderam que as sociedades


humanas viabilizam suas relações a partir da forma pela qual os bens de produção
são distribuídos entre os seus integrantes. Dessa forma, as condições
socioeconômicas (infraestrutura) acabavam determinando como a cultura, o regime
político, a moral e os costumes (superestrutura) se configurariam. Um exemplo
dessa condição pode ser vista no processo revolucionário francês. Nesse evento
histórico, o socialismo científico observa que o desenvolvimento da economia
capitalista foi impondo a criação de um novo regime político, leis e costumes que se
adequavam a essa nova realidade. Nesse sentido, os arcaicos costumes feudais
bem como seus demais representantes acabaram sendo combatidos.

Além disso, o pensamento marxista alega que o materialismo dialético seria uma
das molas propulsoras fundamentais que alimentam as transformações históricas.
Dessa forma, no momento em que um sistema econômico passa a expor os seus
problemas e contradições, os homens passam a refletir e lutar por novas formas de
ordenação que possam se adequar às novas demandas. Por isso, ao avaliar os
mais diferenciados contextos históricos, Marx e Engels chegaram à conclusão de
que a história das sociedades humanas se dá por meio da luta de classes. Nessa
perspectiva, o marxismo aponta que a oposição que se desenvolvia entre nobres e
camponeses na Idade Média seria uma variante da mesma relação de conflito que,
no mundo contemporâneo, ocorre entre a burguesia e o proletariado.

Pensando estrategicamente as contradições do capitalismo, Marx e Engels


defendiam que a superação definitiva de tal sistema seria alcançada por uma
sociedade sem classes. Contudo, para que isso fosse possível, os trabalhadores
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deveriam conduzir um processo revolucionário incumbido da missão de colocar a si


mesmos frente ao Estado, com a instalação de uma ditadura do proletariado. Esse
regime ditatorial teria a função de assumir os meios de produção e socializar
igualmente as riquezas. Dessa forma, seriam dados os primeiros passos para o
alcance de uma sociedade igualitária. Na medida em que essa situação de
igualdade fosse aprimorada, o governo proletário cederia lugar para uma sociedade
comunista onde o Estado e as propriedades seriam finalmente extintas.
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Pensamento Filosófico Alemão

Os elementos filosóficos de Marx foram em boa parte baseados no pensamento de


Friedrich Hegel(1770-1831). A influência que a filosofia de Hegel teve sobre Marx
exerceu-se por intermédio de duas fontes diferentes nas quais o hegelianismo
surgiu. Uma dessas fontes foi os ensinamentos de Eduard Gans (1797-1839), que
aliava o hegelianismo a elementos do Saint-Simonismo. Outra fonte foi a obra de
Ludwig Feuerbach (1804-1872) A essência do Cristianismo, de 1841.

Entretanto, Marx admirou os avanços, mas não adotou integralmente a concepção


materialista de Feuerbach. Mas em muitos pontos dos Manuscritos Econômicos e
Filosóficos, obra de 1844, está patente esta influência. Feuerbach tentava inverter as
premissas idealistas da filosofia de Hegel, afirmando categoricamente que o estudo
da humanidade tem de ser feito a partir do homem real, vivendo num mundo real e
material. Ao contrário de Hegel que considera o real como uma emanação do divino,
para ele o divino é um produto ilusório do real, o ser precede o pensamento, na
medida em que os homens não começam a refletir sobre o mundo antes de nele
agirem. Hegel pensava a evolução da comunidade em termos de uma divisão de
Deus contra si mesmo. Para Feuerbach, Deus é um ser inventado, no qual o homem
projetou os seus mais altos poderes e faculdades, e que é assim considerado
perfeito e todo poderoso. Por outro lado, porém, segundo Feuerbach, a comparação
entre Deus e o homem pode constituir uma inspiração positiva para a realização das
capacidades humanas. Compete à Filosofia ajudar o homem a recuperar sua
essência alienada através de uma crítica transformadora que inverta a perspectiva
hegeliana e afirme o primado do mundo material.

O que Marx filtrou de Feuerbach e Hegel eram as possibilidades que essas filosofias
ofereciam para operar uma síntese entre a análise crítica e a realização da filosofia,
isto é, da desalienação real, material, do homem. Contudo, Marx nunca renunciou à
perspectiva histórica de Hegel.
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Pensamento Político Francês

No século XIX, com as condições econômicas e o capitalismo se desenvolvendo


desde a revolução industrial, as cidades incham de proletários com baixos salários.
As críticas ao liberalismo passam a se intensificar e resultam da constatação de que
a livre concorrência não trouxe o equilíbrio prometido e, ao contrário do que pregava,
instaurou uma ordem de expropriação, competição e opressão econômica. As novas
teorias exigem então a igualdade real e não apenas a ideal. Em 1848 Marx lança o
manifesto comunista e em 1864 é fundada em Londres a Associação Internacional
dos Trabalhadores, mais tarde conhecida como Primeira Internacional (face à
segunda, terceira e quarta, constituídas posteriormente), visando a luta para
emancipação do proletariado através da libertação da classe operária. Esta união de
grupos operários de vários países europeus teve em Marx seu principal inspirador e
porta-voz, tendo este lhe dedicado boa parte do seu tempo.

Na França, o pensamento socialista teve como porta-vozes Saint-Simon, Fourier e


Proudhon, mas sem haver ocorrido uma grande industrialização tal como na
Inglaterra.

Os diversos teóricos do socialismo (utópico) têm idéias diferentes e propõem


soluções diversas, mas é possível reconhecer traços comuns:

• Tentam reformar a sociedade através da boa vontade e participação de todos.


• Todas as tentativas não vão alem de uma tendência fortemente filantrópica e
paternalista: melhoria de alojamentos e higiene, construção de escolas,
aumento de salários, redução de horas de trabalho.

Saint-Simon pensa uma sociedade industrial dirigida por produtores (classe operária,
empresários, sábios, artistas e banqueiros). Fourier tenta organizar os Falanstérios
(pequena unidade social abrangendo entre 1.200 e 5.000 pessoas vivendo em
comunidade). Proudhon teve plena consciência do antagonismo entre as classes,
afirmava que a propriedade privada significava uma espoliação do trabalho. Ele
preconizava a igualdade e a liberdade, que para ele era sinônimo de solidariedade,
pois o homem mais livre é aquele que encontra no outro uma relação de
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semelhantes. Isso já é um forte indício de uma crítica ao individualismo da


concepção burguesa de liberdade.

Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos são inócuos porque são


paternalistas, pois eles não colocam nenhuma iniciativa histórica e nenhum
movimento político que lhe seja próprio. Idealistas, não reconhecem quais seriam as
condições históricas materiais da emancipação. Ainda segundo Marx e Engels, eles
são moralistas, pretendem reformar a sociedade pela força do exemplo, pensam que
as experiências em pequenas escalas poderão se frutificar e se expandir, por meios
pacíficos. A grande questão aqui é também histórica, está dentro da pretensão
cientificista do século XIX, positivista, que vê no socialismo utópico o precursor
ultrapassado do marxismo científico, que mostra o movimento operário em sua
plenitude.
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O Pensamento Econômico Britânico

O pensamento econômico britânico é o que baseia e constitui a essência da


chamada Escola Clássica, a qual serviu de inspiração a Marx na formulação de suas
teorias que mais tarde compuseram seu modelo econômico.

Quando Marx começou a se dedicar ao estudo da economia


política, na quinta década do século XIX, esta ciência já tinha
recebido uma formulação teórica bastante completa,
abrangentemente sofisticada por uma série de autores, que
passaram a ser conhecidos como "clássicos". Estes autores
produziram suas principais obras no último quartel do século
XVIII e no primeiro quartel do século XIX e eram, em sua
maioria da Grã-Bretanha - onde transcorria então a Revolução
Industrial. (Singer, 1982)

Apesar da configuração básica do pensamento econômico britânico ter sido


instalada quando a Grã-Bretanha se tornou um Estado de fato esta sofreu algumas
modificações ao passo que as relações econômicas também se modificaram – do
Mercantilismo, que representou o capitalismo comercial até a Revolução Industrial,
que inaugurou o capitalismo industrial.

É centrado nas transformações do processo produtivo trazidas pela Revolução


Industrial a partir da segunda metade do século XVII, que se desenvolve o
pensamento econômico clássico na Inglaterra, sendo seus principais expositores
Adam Smith e David Ricardo.

Adam Smith é reconhecido como o pai de economia moderna. Este em sua mais
importante obra “A Riqueza das Nações” procurou demonstrar que a riqueza de uma
nação não era resultado somente das decisões do Estado, mas também da ação
dos indivíduos os quais na busca de seus próprios interesses acabavam por
contribuir para o crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico do país.
Ele observou que o trabalho encarado como uma mercadoria, colocando os salários
nos custos de produção, possuía um valor menor do que aquele agregado ao
produto final, ou seja, era menos do que a mercadoria após vendida poderia
comprar em horas de trabalho; era isso que explicava a existência do lucro e sua
origem seria determinada pelo mercado, proveniente da oferta e da procura.
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Smith acreditava também que o governo deveria interferir minimamente no


andamento da economia dando a iniciativa privada liberdade plena, estimulando a
livre concorrência. O Estado deveria agir como uma “mão invisível” que apenas
indicasse os meios pelos quais os indivíduos alcançariam seus interesses e a
sociedade o bem-estar.

Porém, de quem Marx retirou as inspirações para algumas de suas obras da


juventude (como o Manifesto Comunista) foi David Ricardo cujas idéias
influenciaram também e principalmente os economistas neoclássicos. Ricardo
discorreu em sua obra sobre a distribuição dos frutos do trabalho por entre a
sociedade, dividindo a contribuição no processo produtivo em três classes: os
latifundiários, os proletários e os capitalistas; essa divisão, segundo ele, seria
orientada pela ciência econômica o que determinava uma divisão desigual e na
maioria dos casos desproporcional dos valores, mas ainda assim os salários sempre
gravitavam em torno de um nível “natural”, ou seja, que garantisse um mínimo de
subsistência fisiológica. Segundo ele os lucros nada mais eram que os restos que
sobravam ao empresário depois de pagos os salários e os demais custos de
produção.

Outra relevante teoria levantada por Ricardo foi a das “vantagens comparativas”,
demonstrando que uma nação pode ser considerada rica se possuir uma variedade
de mercadorias para através das quais estabelecer ruas relações econômicas,
pretendendo provar assim que duas nações podem beneficiar-se do comércio livre
mesmo que existam disparidades produtivas visíveis entre elas.

Os pensamentos de Smith e Ricardo se tangenciam em muitos pontos, pois, além


de ambos serem criadores do liberalismo econômico, propondo a teoria do “valor-
trabalho” segundo a qual o trabalho que é a fonte real do valor.

A partir das teorias elaboradas por David Ricardo, Marx inspirou-se para a
construção de conceitos como: o de valor, de acumulação primitiva de capital e o de
mais-valia, por exemplo.
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A mais-valia

Mais-valia foi o conceito dado por Marx a diferença entre a quantidade de trabalho
realizada pelo operário e o salário pago por seu patrão, que seria a base do lucro no
sistema capitalista. Tomando como ponto de partida o pensamento da escola
clássica britânica, sobretudo as idéias de Adam Smith e David Ricardo, Marx elabora
sua teoria a respeito do valor do trabalho e do lucro capitalista. O trabalho não
possui um valor físico, o valor do trabalho é abstrato, partindo da acepção que o
“valor padrão” de uma atividade qualquer e para uma determinada jornada de
trabalho que é determinado pela demanda agregada pelo Mercado.

A mais-valia é concebida quando o trabalhador vende sua força de trabalho por um


dado valor, acordado em um contrato. Entretanto ocorre deste mesmo trabalhador
produzir uma quantidade maior do que a esperada, que em termos práticos
superaria a quantia necessária para alcançar o valor de seu pagamento sendo,
portanto, um excedente. É esse excedente que é a mais-valia, cujos benefícios não
são divididos com o trabalhador. Portanto, para que a mais-valia se estabeleça
prescinde a venda lucrativa do produto e esta venda dependerá das demandas do
mercado, da relação oferta x procura então nem sempre esse excedente se realizará
nos níveis esperados.

As estratégias adotadas pelos capitalistas para ampliar sua margem de lucro


caracteriza a mais-valia em duas espécies: a mais-valia absoluta, que ocorre quando
é estendida a duração da jornada de trabalho, mas mantendo o salário constante e a
mais-valia relativa, ocorrida quando se opta por aumentar a produtividade através da
mecanização. Por essa distinção Marx nega a posição adotada por David Ricardo do
lucro como um resíduo dos ganhos com o processo produtivo percebendo que os
capitalistas podem ampliar seus lucros sem necessariamente depender dos custos
da representação física da mão-de-obra, ou seja, do operariado.

O conceito de mais-valia propicia o surgimento de outro conceito, o de alienação. A


alienação se dá na medida em que o trabalhador vende sua mão-de-obra e vai se
tornando estranho ao produto que concebeu, separando a concepção e a execução
do produto deixando o proletário refém à linha de montagem e tirando dele o
controle sobre seu ritmo de trabalho.
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Materialismo Histórico

Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo


pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator
determinante da organização política e das representações intelectuais de uma
época.

Assim, a base material ou econômica constitui a "infraestrutura" da sociedade, que


exerce influência direta na "super-estrutura", ou seja, nas instituições jurídicas,
políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época.
Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas (que são as
ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite a produção) e por
relações de produção (relações entre os que são proprietários dos meios de
produção as terras, as matérias primas, as máquinas - e aqueles que possuem
apenas a força de trabalho).

Ao se desenvolverem as forças produtivas trazem conflito entre os proprietários e os


não-proprietários dos meios de produção. O conflito se resolve em favor das forças
produtivas e surgem relações de produção novas, que já haviam começado a se
delinear no interior da sociedade antiga. Com isso, a super-estrutura também se
modifica e abre-se possibilidade de revolução social.

Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os homens
organizam a produção social de bens. A produção social, segundo ele, engloba dois
fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção. As forças
produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. Representam as
matérias primas, os instrumentos, as técnicas de trabalho e até os próprios homens.
Reconhece-se o grau de desenvolvimento das forças produtivas de uma nação a
partir do aperfeiçoamento da divisão do trabalho. As relações de produção são a
forma pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Elas
se referem às diversas maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos os
elementos envolvidos no processo de trabalho. Assim, as relações de produção
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podem ser cooperativistas (como um mutirão), escravistas (como na antiguidade),


servis (como na Europa feudal) e capitalistas (como na indústria moderna). Forças
produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda a
atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas existem e
são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx determinou de
modo de produção. Para ele, o estudo deste é muito importante para a compreensão
de como se organiza a sociedade. Enfim, o materialismo histórico pode ser
sintetizado pela seguinte citação de Marx: “As relações sociais são inteiramente
interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens
modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam todas
as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o
moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial.”
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Materialismo Dialético

A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da


realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só
tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a
realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é
apenas contradição externa, mas unidade das contradições, identidade: "a dialética
é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente idênticas,
como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar
essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas,
móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta."

A dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a


única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas
sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento
são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na
síntese que é a "verdade" dos momentos superados. Hegel considerava
ontologicamente (do grego onto + logos; parte da metafísica, que estuda o ser em
geral e suas propriedades transcendentais) a contradição (antítese) e a superação
(síntese); Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a
certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava
demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente); Marx
apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições
internas da sociedade de classes e as exigências de superação.

O materialismo dialético investiga a transformação do mundo como um movimento


progressivo do inorgânico ao orgânico, e daí a forma superior de desenvolvimento
da matéria (a sociedade). O que estabelecemos é a teoria do movimento do mundo,
ou o princípio do desenvolvimento do mundo, segundo o materialismo dialético. Esta
doutrina é a essência da filosofia marxista. Se o proletariado e todos os
revolucionários seguram esta arma consistentemente científica, poderão então
compreender o mundo, e transformar o mundo. A dialética olha a natureza não
como uma acumulação acidental de objetos, de fenômenos separados uns dos
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outros, isolados e independentes uns dos outros, mas como um todo unido,
coerente, em que os objetos, os fenômenos, estão ligados organicamente entre eles,
dependem um dos outros e condicionam-se reciprocamente; olha a natureza, não
como um estado repouso e de imobilidade, de estagnação e de imutabilidade, mas
como um estado de movimento e transformação perpétuos, de renovação e
desenvolvimento incessantes, em que sempre nasce e desenvolve-se qualquer
coisa, desagrega-se e desaparece qualquer coisa. Ao contrário da metafísica, a
dialética parte do princípio que os objetos e os fenômenos da natureza encerram
contradições internas, pois todos eles têm um lado negativo e um lado positivo, um
passado e um futuro, todos eles têm elementos que desaparecem ou que se
desenvolvem; a luta destes contrários, a luta entre o velho e o novo, entre o que
morre e o que nasce, entre o que se desagrega e o que se desenvolve, é o conteúdo
interno do processo de desenvolvimento da conversão das mudanças quantitativas
em mudanças qualitativas.

Se é verdade que o mundo se move e se desenvolve perpetuamente, se é verdade


que o desaparecimento do velho e o nascimento do novo constituem uma lei do
desenvolvimento, é claro que não há regimes sociais “imutáveis”, “princípios
eternos” de propriedade privada e de exploração; que não há “idéias eternas” de
submissão dos camponeses aos grandes latifundiários, dos operários aos
capitalistas. Por conseqüência, o regime capitalista pode ser substituído pelo regime
socialista, do mesmo modo que o regime capitalista substituiu na devida altura, o
regime feudal. Conseqüentemente, é preciso basear a ação, não nas camadas
sociais que não se desenvolvem mais, mesmo que representem no momento a força
dominante, mas nas camadas sociais que se desenvolvem e que têm futuro, mesmo
que não representem no momento a força dominante, no caso, o proletariado. Se é
verdade que a passagem das mudanças quantitativas lentas a mudanças
qualitativas bruscas e rápidas é uma lei do desenvolvimento, é claro que as
revoluções realizadas pelas classes oprimidas, constituem um fenômeno
absolutamente natural, inevitável. Conseqüentemente, a passagem do capitalismo
ao socialismo e a libertação da classe operária do jugo capitalista podem ser
efetuadas, não por transformações lentas, não por reformas, mas somente por uma
mudança qualitativa do regime capitalista, pela revolução.
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Marxismo e Estado

Para Marx o Estado é o instrumento no qual uma classe domina e explora outra. Sendo o
Estado necessário para proteger a propriedade e adotar qualquer política de interesse da
burguesia, seria o comitê executivo da burguesia.

O Estado compreende dois aspectos distintos analiticamente e situados em níveis


diferentes de abstração: ele é de um ponto de vista mais geral e abstrato, uma estrutura
de poder que concentra, resume e põe em movimento a força política da classe
dominante. Essa é, em resumo, a essência de toda concepção marxista sobre o Estado,
sintetizada com notável clareza na conhecida fórmula do Manisfesto Comunista: "O
executivo do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os
assuntos comuns de toda burguesia". O próprio Engels expressou a mesma idéia numa
passagem igualmente célebre: "A força de coesão da sociedade civilizada é o Estado,
que, em todos os períodos típicos, é exclusivamente o Estado da classe dominante e, de
qualquer modo, essencialmente uma máquina destinada a reprimir a classe oprimida e
explorada".

A teoria marxista da política implica, portanto numa rejeição categórica de uma


determinada concepção segundo a qual o Estado seria o agente da "sociedade como um
todo" e do "interesse nacional". Assim, contra toda uma tradição do pensamento político,
os marxistas:

"Vêem claramente que o que precisa ser examinado é a relação do Estado com a
sociedade burguesa, e propõem-se examinar a fundo essa relação. Estão assim
corrigindo uma grande falha da teoria tradicional do século XX [tanto a "liberal",
quanto a "pluralista"], que aceitou a sociedade burguesa, mas não examinou as
implicações dessa aceitação. Uma caraterística da tradição geral, se
considerarmos o período que vai do século XVII a começos do século XX, é o fato
de ter trocado uma visão materialista do homem e da sociedade por uma visão
idealista. Não se pode dizer que seja essa a causa do eclipse da tradição geral no
século XX: afinal, a teoria do Estado de Hegel é bem mais profunda do que a de
Locke ou a de Bentham, pois Hegel sabia que estava falando do Estado na
sociedade burguesa. Mas pode-se dizer que, posteriormente, os idealistas foram
afastando-se cada vez mais dessa visão e que menosprezaram, ou praticamente
descartaram, ou então não souberam lidar com o fato de que era o Estado
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burguês, ou o Estado na sociedade burguesa, que merecia atenção. [...] Em todo


caso, os teóricos tradicionais do século XX não deram muita atenção à natureza
específica do Estado na sociedade capitalista".

Mais concretamente, o Estado é, também, uma organização burocrática, isto é, um


conjunto de instituições e organismos, ramos e sub-ramos, com suas respectivas
burocracias, destinado a cumprir aquela tarefa (a dominação) através do jogo
institucional de seus aparelhos. A questão decisiva é saber precisamente como, em
condições historicamente dadas, o Estado desempenha a função de reprodutor das
relações (econômicas e políticas) de classe.

Não sem certa dose de razão, no conhecido debate em torno da existência ou não de
uma "teoria marxista do Estado", Norberto Bobbio chamou a atenção para a ausência, no
interior do pensamento político de Marx, de um tratamento mais aprofundado do
"problema das instituições". Ao insistir na natureza de classe do poder de Estado, os
clássicos do marxismo não tematizaram os diversos "modos" pelos quais esse poder
pode ser exercido. Essa forma de abordagem teve repercussões negativas sobre sua
"teoria das formas de governo", já que eles sempre estiveram preocupados com o
"quem" da dominação política e não com o "como": numa sociedade dividida e
estratificada em classes, o governo, qualquer governo, sob qualquer "forma" (seja
"democrática", seja "ditatorial"), estaria sempre voltado a cumprir os interesses gerais da
classe dominante. É o que se aprende na seguinte passagem:

"Marx e Engels (e sobre sua linha, um chefe revolucionário como Lênin),


convencidos como estavam de que a esfera da política fosse à esfera da força (e
nisto tinham perfeitamente razão), colocaram-se sempre o problema do argumento
histórico desta força, individualizado na classe dominante de tempos em tempos,
ao invés do problema dos diversos modos pelos quais esta força possa ser
exercitada (que é o problema das instituições), resultando daí uma teoria do
Estado essencialmente ‘incompleta’ e parcial.”

Segundo Bobbio, os atrasos, lacunas e contradições da ciência política marxista, nesse


particular, tornaram mesmo difíceis o desenvolvimento de uma reflexão mais articulada a
respeito da forma de organização do Estado socialista — a "ditadura do proletariado" — e
de suas instituições específicas.

É bastante conhecido para ser retomado aqui o fato de que, embora constasse do projeto
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intelectual de Marx submeter o Estado a um tratamento mais sistemático — como


atestam, por exemplo, suas cartas a F. Lassalle (de 22/02/1858), a F. Engels (de
02/04/1858) e a J. Weydemeyer (de 01/02/1859), redigidas bastante cedo, antes mesmo
da publicação, em Berlim, de Para a crítica da economia política —, isso nunca tenha se
realizado. Igualmente, o próprio estudo sobre o "capital" (e, dentro dele, o capítulo sobre
as "classes") permaneceu incompleto. Norberto Bobbio apóia-se nesse fato, entre outras
razões, para sustentar a incipiência de uma teoria política marxista.

Como reconheceu Poulantzas, os textos dos clássicos do marxismo — nomeadamente,


os de Marx e Engels, mas também os de Lênin e Gramsci — não trataram o nível político
de forma sistemática (o que equivale dizer: não realizaram explicitamente sua "teoria", no
sentido rigoroso do termo).

Ao contrário, o que se pode encontrar nas suas obras principais são:

• ou conceitos no "estado prático", isto é, presentes em toda argumentação


mas não teoricamente elaborados (pois foram pensados para dirigir a atividade
política revolucionária numa conjuntura concreta);
• ou elementos de conhecimento teórico da praxis política e da
superestrutura do Estado não inseridos, entretanto, num discurso ordenado;
• ou, ainda, uma concepção implícita do lugar e da função da estrutura
política na problemática marxista — mas não um tratamento "orgânico" do
problema do Estado.

Isso, contudo, não impediu que a partir do conjunto dos trabalhos de Marx — sejam os
textos sobre a economia capitalista, os textos de luta ideológica ou os textos políticos
propriamente ditos (de análise ou de combate) — se pudesse elaborar e construir uma
"teoria do Estado capitalista". Aqui, entretanto, é preciso evitar o recurso fácil às citações
consagradas e ao que Norberto Bobbio chamou, com razão, de reverência exagerada às
passagens clássicas ou aos intérpretes autorizados. "O que importa realmente [...],
prescindindo da oratória e do dogma", sustenta Göran Therborn, "é o conteúdo da teoria
e não sua forma de expressão".
Uma das conquistas teóricas mais fundamentais para a teoria política moderna foi a
determinação da natureza de classe dos processos de dominação política pelos clássicos
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do marxismo. Todavia, se a determinação da natureza de classe do aparelho de Estado é


uma condição necessária para a análise do "sistema estatal", quando se trata de
compreender sua configuração interna, seus níveis decisórios e as funções que os
diversos centros de poder cumprem, seja como produtores de decisões, seja como
organizadores políticos do "bloco no poder", ela é amplamente insuficiente. "O Estado
apresenta uma ossatura material própria que não pode de maneira alguma ser reduzida
simplesmente à dominação política". O aparelho do Estado, lembra Poulantzas, "não se
esgota no poder do Estado". Embora a dominação política esteja "inscrita na
materialidade do Estado", é essencialmente através dessa materialidade institucional que
ela se realiza concretamente.

Nesse sentido, a função de mediação que o aparelho do Estado desempenha através de


suas atividades administrativas e burocráticas rotineiras adquire aqui uma importância
decisiva para a determinação de seu caráter de classe. De forma análoga, esse último
problema não pode se referir, exclusivamente, aos "resultados da política estatal, que
estão ligados à questão, analiticamente distinta, porém empiricamente muito próxima, do
poder estatal, mas à forma e conteúdo intrínseco" assumidos pelo sistema estatal numa
conjuntura concreta.

Precisamente por isso é que na análise das instituições públicas, é preciso diferenciar
duas ordens de problemas bastante distintos: de um lado, a natureza de classe da
dominação política — o caráter de classe do Estado; de outro, as formas concretas
através das quais ela se realiza (o funcionamento do Estado). Esse segundo aspecto
refere-se também a duas questões muito particulares: (i) a natureza de classe da política
estatal; e (ii) o modo de organização interna do aparelho do Estado e suas repercussões
sobre o encadeamento do processo decisório. Evidentemente, eles fazem parte de uma
problemática comum e só podem ser separados analiticamente. Dependendo do seu
objetivo específico, as análises políticas privilegiarão, contudo, uma ou outra dimensão.

O traço mais marcante no desenvolvimento da teoria política marxista contemporânea foi,


paradoxalmente, a ausência das questões referentes aos processos organizativos
internos do aparelho de Estado. As exceções mais significativas a esse respeito são os
trabalhos do próprio Poulantzas, de Claus Offe e de Göran Therborn publicados nos anos
1970. Eles fornecem uma série de conceitos estratégicos que possibilitam estudar os
22

processos de decisão e as contradições internas do Estado capitalista.

Contudo, Marx e Engels desenvolveram uma concepção de Estado que foge da linha do
pensamento dominante de sua época e, inclusive, de Hegel, grande influência dos
autores. Para Marx o Estado não é o ideal de moral ou de razão, mas uma força externa
da sociedade que se põe acima dela não para conciliar interesse, mas para garantir a
dominação de uma classe por outra e a manutenção da propriedade. Engels, em seu
livro A origem da propriedade privada, do Estado e da família esclarece que o Estado
surgiu junto com a propriedade privada para protegê-la.

Para os autores a propriedade privada gerou um conflito inconciliável, o conflito entre as


classes sociais. Para impedir que os membros da sociedade se devorassem a classe
dominante criou o Estado, forma pela qual se mantém no poder. Por isso todo Estado,
por mais democrático que seja é uma ditadura. Marx e Engels mostram que as principais
características do Estado são a burocracia, a divisão dos súditos por território e uma
força militar, um exército permanente.

Marx, ao perceber que o Estado é um aparelho de dominação de uma classe por outra,
percebe também que a revolução armada para a construção do socialismo é uma forma
passageira de Estado, mas segundo ele é um Estado que já não é mais Estado, pois não
só inverte a relação de domínio como cria as bases para seu próprio fim. Esse é o Estado
Operário.

Marx e Engels defendem, no entanto, esse Estado apenas para triunfar sobre o
adversário, para acabar com a divisão da sociedade em classes. Com o fim do
capitalismo, desaparecem com eles as classes sociais e, portanto, o Estado, pois só
pode haver dominação de classe numa sociedade dividida em classes. Engels, em Do
socialismo Utópico ao Socialismo Científico esclarece: "Quando já não existir nenhuma
classe social que precise ser submetida; quando desaparecerem, juntamente com a
dominação de classe, juntamente com a luta pela existência individual, engendrada pela
atual anarquia da produção, os choques e os excessos resultantes dessa luta, nada mais
haverá para reprimir, nem haverá necessidade, portanto, dessa força especial de
repressão que é o Estado.

O primeiro ato em que o Estado se manifesta efetivamente como representante de toda a


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sociedade - a posse dos meios de produção em nome da sociedade - é ao mesmo tempo


o seu último ato independente como Estado.". Esse que tem como objetivo triunfar sobre
o adversário é a Ditadura do Proletariado caracterizada por uma absorção das funções
que a sociedade destinou ao estado bem como pela luta contra o capitalismo.

Em Guerra Civil na França Marx e Engels explicam que a ditadura do proletariado busca
a gestão social de todas as esferas da política e da administração e para isso defende
democracia direta a partir das cidades, elegibilidade com mandatos imperativos aos
técnicos necessários a administração e formação de uma mílicia popular. Assim
desapareciam as características do Estado como a burocracia e o exército permanente
separado da sociedade. O caráter ditatorial seria dado pela imposição do comunismo à
burguesia e expropriação forçada dos meios de produção.

A partir de Marx e Engels, a doutrina marxista do Estado em parte se degenerou e em


parte se ampliou. Lênin passa a defender que alguns anos após a revolução ainda
haveria necessidade do Estado, Trotsky, em Revolução Traída, vê a necessidade da
permanência de um Estado muito depois da revolução, pois Engels afirma que o Estado
só desaparece com o fim da luta pela existência individual (ignorando que segundo Engel
ela resulta da propriedade privada) e Stálin acaba por identificar o socialismo, o que Marx
chamava de primeira fase da sociedade comunista, com a ditadura do proletariado.
Apesar disso, muitos autores como Gramsci e mesmo Trotsky e Lênin contribuíram
positivamente com a concepção marxista de Estado com o conceito de Hegemonia, por
exemplo.

O Modo de Produção Comunista


24

Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo
qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da
organização política e das representações intelectuais de uma época. Assim, a base
material ou econômica constitui a "infraestrutura" da sociedade, que exerce influência
direta na "super-estrutura", ou seja, nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado)
e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época.

Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas (que são as ferramentas,
as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite a produção) e por relações de
produção (relações entre os que são proprietários dos meios de produção as terras, as
matérias primas, as máquinas - e aqueles que possuem apenas a força de trabalho).

Ao se desenvolverem as forças produtivas trazem conflito entre os proprietários e os não-


proprietários dos meios de produção. O conflito se resolve em favor das forças produtivas
e surgem relações de produção novas, que já haviam começado a se delinear no interior
da sociedade antiga. Com isso, a super-estrutura também se modifica e abre-se
possibilidade de revolução social.

No Prefácio do livro "Contribuição à crítica da economia política", Marx identificou na


História, de maneira geral, os seguintes estágios de desenvolvimento das forças
produtivas, ou modos de produção: o asiático (comunismo primitivo), o escravista (da
Grécia e de Roma), o feudal e o burguês, o mais recente e o último baseado no
antagonismo das classes porque dará lugar ao comunismo, sem classes, sem Estado e
sem desigualdades sociais.

A evolução de um modo de produção para o outro ocorreu a partir do desenvolvimento


das forças produtivas e da luta entre as classes sociais predominantes em cada período.
Assim, o movimento da História possui uma base material, econômica e obedece a um
movimento dialético. O modo de produção, portanto, permite compreender a maneira
pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e os distribui. O modo
de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações de
produção existentes nessa sociedade. Podemos utilizar uma fórmula simplificada,
entendendo tratar-se de um recurso meramente didático: modo de produção = forças
produtivas + relações de produção. Portanto, o conceito de modo de produção resume
25

claramente o fato de as relações de produção ser o centro organizador de todos os


aspectos da sociedade.

As características de cada modo de produção podem ser definidas de acordo com as


relações de produção dominantes.
O modo de produção do comunismo primitivo designa uma formação econômica e social
que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A
comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período
compreendido pelo escravismo, pelo feudalismo e pelo capitalismo mal ultrapassa cinco
milênios. Na comunidade primitiva, os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de
produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, ou seja, de todos. Não
existia ainda a idéia da propriedade privada dos meios de produção, nem havia a
oposição entre proprietários e não proprietários.

As relações de produção eram relações de cooperação e ajuda entre todos; elas eram
baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, com a terra ocupando papel
preponderante. Também não existia o Estado. Este só passou a existir quando alguns
homens começaram a dominar outros. O Estado surgiu como instrumento de
organização social e de dominação. Portanto, como característica fundamental, temos a
não existência da propriedade privada nesta formação social, e , consequentemente,
como tampouco havia exploração de uma classe por outra, todo mundo trabalhava por si
e por todos.

Marx e Engels elaboraram minuciosamente o modo de produção comunista. Segundo


eles o comunismo seria dividido em duas fases. Durante a primeira fase, o socialismo,
Marx propõe a divisão da produção segundo o trabalho, pois primeiro não haveria
produção suficientemente para distribuir segundo as necessidades, segundo a
mentalidade coletiva ainda estaria vinculada a moral burguesa e, por isso, o homem não
poderia trabalhar a quantidade de horas que quisesse pela sua própria consciência e
mesmo assim iria requerer mais do que os outros. Assim neste momento a produção
deveria ser distribuída segundo o trabalho.

"A sociedade entrega-lhe um bônus consignando que prestou tal ou qual quantidade de
trabalho (depois de descontar o que trabalhou para o fundo comum), e com este bônus
26

ele retira dos depósitos sociais de meios de consumo a parte equivalente à quantidade
de trabalho que prestou. A mesma quantidade de trabalho que deu à sociedade sob uma
forma, recebe-a desta sob uma outra forma diferente.".

Assim, como Marx explica em critica ao programa de Gotha haveria um fundo comum ou
social e um fundo individual. Ao planejar a economia os trabalhadores criariam uma cota
de trabalho para cada trabalhador ao fundo comum e esse trabalho seria destinado a
manter asilos, hospitais, escolas, obras de infra-estrutura e etc. Ou seja, para toda
sociedade. O trabalhador, no entanto, poderia trabalhar mais quantas horas quisesse
para o fundo individual.

Essa quantidade de horas seriam quantificadas em uma quantidade de produção


equivalente e com isso o trabalhador receberia um bônus para retirar dos armazéns
públicos essa quantidade de produtos em outra forma. Assim, digamos que feitas as
devidas deduções um trabalhador trabalhou 1000 horas (em trabalho socialmente
necessário), ele poderia adquirir o equivalente a 1000 horas em outros produtos. Mas
com a evolução da sociedade a produção poderia ser distribuída completamente
segundo as necessidades.

"Na fase superior da sociedade comunista, quando houver desaparecido a subordinação


escravocrata dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre o trabalho
intelectual e o trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida,
mas a primeira necessidade vital; quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em
todos os seus aspectos, crescerem também as forças produtivas e jorrarem em caudas
os mananciais da riqueza coletiva, só então será possível ultrapassar-se totalmente o
estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras:
De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades."

Em relação à estatização. O Bolchevismo, diferente das outras correntes marxistas,


defendem a estatização como sinônimo de socialização, mas Marx e Engels defendiam
apenas a segunda. No próprio Socialismo Utópico ao Cientifico, Engels critica os que
acreditam que estatizar é construir o socialismo.

"Mas as forças produtivas não perdem sua condição de capital ao converter-se em


propriedade das sociedades anônimas e dos trustes ou em propriedade do Estado. No
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que se refere aos trustes e sociedades anônimas, é palpavelmente claro. Por sua parte,
o Estado moderno não é tampouco mais que uma organização criada pela sociedade
burguesa para defender as condições exteriores gerais do modo capitalista de produção
contra os atentados, tanto dos operários como dos capitalistas isolados. O Estado
moderno, qualquer que seja a sua forma, é uma máquina essencialmente capitalista, é o
Estado dos capitalistas, o capitalista coletivo Ideal. E quanto mais forças produtivas
passe à sua propriedade tanto mais se converterá em capitalista coletivo e tanto maior
quantidade de cidadãos explorará. Os operários continuam sendo operários
assalariados, proletários. A relação capitalista, longe de ser abolida com essas medidas,
se aguça."

Essas correntes marxistas, no entanto, não percebem que Engels está a falar do Estado
moderno (ou Estado burguês) e que, realmente a estatização da produção sob o Estado
burguês realmente não representa a socialização dos meios de produção. Mas o
bolchevismo de Lênin trata da propriedade estatizada pelo Estado Operário, pelos
mecanismos de poder que a classe constitui ainda na sociedade capitalista como
organismos de duplo poder e se convertem em Poder de Estado. Sendo o Estado
Operário a gestão coletiva organizada nos mecanismos de poder do proletariado, os
meios de produção administrados por este "Estado que já não é mais um Estado
propriamente dito" são socializados.

Marxismo e Socialismo Real

Economicamente, podemos classificar as sociedades de acordo com diferentes sistemas.


28

A Teoria Marxista inspirou uma gama de sistemas econômicos.

Apesar de alguns países ainda se afirmarem socialistas e pregarem o chamado


Socialismo real, a figura do Estado não foi completamente abolida por eles. Sendo assim,
conceitos como classes sociais, trabalho assalariado e mais-valia se fazem presentes,
assim como a idéia de propriedade privada. Logo, dentro da lógica marxista e de
conceitos amplamente discutidos em O Capital, tais sociedades mantiveram as
principais características do capitalismo.

Há então muitas divergências ao tentar conceituar essas sociedades e encaixá-las em


uma determinada categoria. Autores como Trotsky e Lênin classificaram-nas como
“Estado Operário Burocraticamente Deformado”, diziam que era necessário extinguir a
burocracia e acreditavam que elas eram superiores em razão da tentativa de abolição da
propriedade privada. Alguns estudiosos afirmam que não há um Socialismo propriamente
dito e sim, um “Capitalismo de Estado”, enquanto outros autores defendem a tese de um
sistema misto, onde características das mais variadas se fazem presentes.

Com o advento da globalização e a constante busca por inserção, hodiernamente, a


maioria das economias tornou-se mista e são poucos os países que ainda podem ser
ditos socialistas ou de forte influência marxista, a exemplo dos países de economia
centralizada. Rússia, China, Coréia do Norte e Cuba são exemplos de países que
adotaram tal modelo. Cuba já tem apresentado condições de abertura de mercado e a
China é hoje uma das maiores potências econômicas mundiais com sistema misto.
Apenas a Coréia do Norte e Mianmar (na Birmânia) têm mantido sua economia fechada
de fato. Atualmente, a maioria tem apresentado características de economia de mercado,
fazendo com que seus sistemas tornem-se mistos.

Marxismo Cultural, Influências e Efeitos:

O Marxismo Cultural tem por objetivo a substituição dos meios, com a manutenção do
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objetivo final da teoria clássica marxista, criticando e desconstruindo valores e costumes


elementares à cultura ocidental de modo a promover a aceitação do socialismo.

Para Lukács, considerado precursor do Marxismo Cultural, a revolução proletária não


viria passivamente, e sim como resultado da tomada de consciência pelo proletariado.
Para Gramsci, a escola era responsável por estabelecer os valores, hábitos e até mesmo
noções de cidadania em sociedade. Logo, as escolas seriam as responsáveis por um
processo de transformação cultural das massas, criando intelectuais capazes de conduzir
o processo revolucionário.

O uso prático das idéias e conceitos descritos por Marx por alguns países no século XX,
ainda que parcialmente, na implementação de reformas sociais, desencadeou conflitos
internos e guerras civis responsáveis por milhões de perdas em vidas humanas. A
aplicação de reformas econômicas equivocadas, onde os conceitos marxistas foram
usados como justificativas, também foi responsável por milhões de mortes no século
passado. Podem ser citadas especialmente as catástrofes de famintos em 1921-1922 e
1931-1934 na União Soviética. Na China, entre 1959 e 1960, milhares de cidadãos
também morreram de inanição devido à interpretação errônea de conceito marxistas
apicados em seu governo na época, promovendo uma situação de pobreza e caos entre
a polução.

"A Revolução Russa lançou um vasto experimento de engenharia social - talvez o


maior na história da humanidade. (…) O experimento funcionou terrivelmente errado,
nem tanto devido à malícia de seus líderes, muitos dos quais partiram de altos
ideais, mas por que seus ideais eram eles mesmos impossíveis. (…) E ainda, visto
que o modelo Soviético levou frequentemente aos mesmos fins desastrosos - apesar
de ter sido aplicado em diferentes formas locais em lugares tão diversos como
China, sudeste da Ásia, Europa oriental, África sub-Saariana e Cuba - alguém só
pode concluir que o problema fundamental relaciona-se muito mais com princípios do
que contingências.” (Orlando Pipes)

Era comum haver uma situação de “tolerância repressiva”, na qual tudo que viesse da
direita fosse intolerado e reprimido com violência, enquanto elementos vistos como sendo
de esquerda eram tolerados e apoiados pelo Estado.
Ainda hoje, o Marxismo desperta grande fascínio sobre os jovens, o que provoca grandes
30

impactos na sociedade, gerando uma verdadeira revolução cultural.

Conclusão:

Diversas sociedades lutaram e conquistaram vitórias orientadas pela Teoria Marxista.


Marx demonstrou que a existência de classes não era eterna, que estava ligada às
formas historicamente determinadas do desenvolvimento da produção e das relações de
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produção baseadas na propriedade privada dos meios de produção.

Além disso, Marx mostrou o caminho para a eliminação das classes e indicou qual a
força social que libertaria a sociedade do antagonismo das classes. Ainda hoje, seus
conceitos são amplamente discutidos.

Referências:

• MANUAL DE ECONOMIA. Equipe de Professores da USP. 2 ed. São Paulo:


Saraiva, 1996
32

• PINHO, Diva Benevides Vasconcellos (org.); Marco Antonio Sandoval (org.).


Manual de economia. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

• SINGER, Paul. Karl Marx – Economia. São Paulo: Ática, 1982. 200p
(Coleção grandes cientistas sociais vol. 31)

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo Acesso em 16/11/2010 às 13:44h.

• http://www.brasilescola.com/sociologia/conceitos-marxismo.htm
Acesso em 16/11/2010 às 14:07h

• http://www.webartigos.com/articles/1190/1/A-Teoria-Marxista-E-As-
Classes-Sociais/pagina1.html#ixzz16uy6JxMe Acesso em 18/11/2010 às
10:38h.

• http://pt.shvoong.com/humanities/488878-teoria-marxista-classes-
sociais/ Acesso em 18/11/2010 às 11:00h.

• http://www.unicamp.br/cemarx/adriano.htm Acesso em 22/11/2010 às


14:12h.

• http://pcb.org.br/portal/docs/modosdeproducao.pdf Acesso em
22/11/2010 às 15:01h.

• http://www.algosobre.com.br/historia/materialismo-historico-o-karl-
marx.html Acesso em 23/11/2010 às 09:47h

• http://wapedia.mobi/pt/Marxismo?t=4.#7 Acesso em 23/11/2010 às


12:05h.
33

• http://www.webartigos.com/articles/1190/1/A-Teoria-Marxista-E-As-
Classes-Sociais/pagina1.html#ixzz16jbvWBH1 Acesso em 27/11/2010 às
13:53h.

• http://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/21/teoria.htm
Acesso em 29/11/2010 às 10:16h

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