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1
Veja Anexo I.
2
Para uma compreensão mais ampla sobre o tema, veja o Anexo III: Jusnaturalismo.
obediência
decorrentes
de
diferenças
naturais.
Ora,
os
jusnaturalistas
jamais
negaram
a
existência
de
diferenças
entre
cada
uma
das
pessoas,
no
entanto,
consideram
que
tais
diferenças
naturais,
constitutivas
de
cada
um,
não
servem
de
fundamento
para
desigualdades
morais
e
políticas3.
É
importante,
então,
bem
compreender
o
que
significa,
neste
contexto,
igualdade
e
liberdade:
igualdade,
baseada
no
reconhecimento
das
inúmeras
diferenças
existentes
entre
cada
pessoa
(econômica,
social,
cultural,
religiosa,
sexual,
afetiva...),
significa
o
direito
de
cada
um
ser
a
si
mesmo.
Considerar
cada
pessoa
como
um
ser
individual
e
singular
implica,
por
um
lado,
que
igualdade
não
é
identidade
(A=A)
ou
homogeneidade;
por
outro
lado,
que
as
pequenas
diferenças
entre
uns
e
outros
não
legitimam
qualquer
subordinação
à
vontade
ou
à
força
de
outrem.
Liberdade,
enquanto
direito
natural
destas
pessoas
singulares,
significa
a
capacidade
de
cada
um
pensar,
decidir
e
agir
por
si
mesmo.
Significa
participar
das
tomadas
de
decisões
sobre
as
questões
comuns
sem
qualquer
subordinação
em
relação
a
quem
quer
que
seja.
Concebendo
a
igualdade
e
liberdade
como
direitos
naturais
próprios
a
cada
indivíduo4,
os
jusnaturalistas
criaram
condições
para
subverter
as
relações
sociais
e
políticas
do
Antigo
Regime.
O
poder
político
do
monarca
absoluto
foi
contestado
e
todo
vínculo
de
subordinação
à
vontade
imperativa
de
outrem
(seja
o
monarca,
o
patrão,
o
mais
forte)
foi
rompido.
Partindo
do
suposto
que
ninguém
está
naturalmente
subordinado
a
outrem
e
que
cada
um
pode
determinar
a
si
mesmo,
os
jusnaturalistas
entenderam
que
a
estrutura
jurídico-‐política
–
o
estado
–
depende
da
vontade
e
da
ação
dos
próprios
indivíduos,
os
quais
voluntariamente
dão
origem
ao
estado,
visando
à
preservação
de
seus
direitos
naturais.
A
perspectiva
do
indivíduo
passa
a
nortear
todas
as
relações
das
pessoas
entre
si
e
com
o
mundo:
cada
um
é
capaz
de
pensar
e
3
Neste sentido, afirma Rousseau no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens: “Conclui-se, ainda, que a desigualdade moral, autorizada unicamente pelo direito positivo, é
contrária ao direito natural (...)” (pág. 282). Rousseau se inspirou no romantismo e no iluminismo
4
Ainda que a concepção contemporânea não aceite que existam direitos decorrentes da natureza humana,
mas que todo direito funda-se de lutas historicamente dadas, considera-se, contudo, que a igualdade e a
liberdade são condições necessárias à dignidade humana e, portanto, precisam ser declaradas e protegidas.
agir
segundo
regras
que
possam
aceitar
para
si
e,
ao
mesmo
tempo,
que
possam
–
reciprocamente
-‐
ser
aceitas
por
todos
aos
demais.
Esse
é
o
espírito
da
Declaration
des
droits
de
l’homme
et
du
citoyen,
que
expõe
solenemente
a
concepção
dos
deputados
representantes
do
povo
francês:
“...os
direitos
naturais,
inalienáveis
e
sagrados
do
homem,
a
fim
de
que
esta
declaração,
sempre
presente
a
todos
os
membros
do
corpo
social,
lhes
recorde
sem
cessar
seus
direitos
e
seus
deveres;
a
fim
de
que
os
atos
do
poder
legislativo
e
do
poder
executivo
possam
ser
a
cada
instante
comparados
com
a
finalidade
de
toda
instituição
política,
sendo
mais
respeitados;
a
fim
de
que
as
reclamações
dos
cidadãos,
fundadas
doravante
sobre
princípios
simples
e
incontestáveis,
tendam
sempre
à
manutenção
da
Constituição
e
à
felicidade
de
todos”.
(Déclaration
des
doits
de
l´homme
et
du
citoyen)
Partindo
do
direito
natural
à
igualdade
e
à
liberdade,
os
jusnaturalistas
encontraram
a
justificativa
necessária
para
limitar
a
ação
do
estado
absoluto
sobre
o
indivíduo,
bem
como
para
integrar
a
todos
na
participação
das
tarefas
comuns.
John
Locke
e
de
Jean-‐Jacques
Rousseau,
por
exemplo,
consideram
que
antes
de
haver
governo
é
necessário
haver
um
povo5.
Apenas
este
corpo
coletivo
chamado
povo
detém,
segundo
eles,
o
poder
soberano,
ou
poder
supremo
no
estado.
Soberano
e
governo,
a
partir
de
então,
passam
a
ser
distintos:
soberano
é
o
povo,
o
corpo
coletivo
formado
por
todos
os
indivíduos
participantes
do
Estado;
governo
é
um
corpo
parcial,
subordinado
ao
soberano
e
instituído
para
viabilizar
a
convivência
comum
e
a
preservação
dos
direitos
naturais
dos
indivíduos6.
5
As palavras de Rousseau, neste sentido, são muito claras: “Antes, pois de examinar o ato pelo qual um
povo elege um rei, conviria examinar o ato pelo qual um povo é povo, pois esse ato, sendo
necessariamente anterior ao outro, constitui o verdadeiro fundamento da sociedade.” (Contrato Social.
Livro I, cap. 5, pág. 31). Veja também: Locke. Segundo tratado sobre o governo. Capítulo 8.
6
Acerca da subordinação do governo ao povo soberano, afirma Rousseau: “(...) Isso não passa, de modo
algum, de um emprego, no qual, como simples funcionário do soberano, exercem em seu nome o poder
A
concepção
de
soberania
do
povo
ressalta
não
apenas
a
existência
de
um
poder
imanente
à
comunidade,
superior
aos
poderes
ordinariamente
constituídos,
mas
também
dá
origem
a
uma
nova
concepção
de
estado
no
qual
a
integração
e
a
participação
de
todos
os
indivíduos
é
primordial.
A
igualdade
e
a
liberdade
de
cada
cidadão
exige
que,
reciprocamente,
todos
os
demais
membros
da
comunidade
sejam
iguais
e
livres.
A
condição
de
falar
por
si
mesmo,
manifestar
sua
perspectiva
acerca
daquilo
que
concerne
a
toda
comunidade
ou
é
uma
possibilidade
para
todos
os
membros
da
comunidade,
ou
é
uma
possibilidade
restrita
apenas
a
um
grupo.
Essa
segunda
possibilidade
está
em
direta
oposição
à
primeira,
que
se
baseia
na
liberdade
e
na
igualdade
das
pessoas
e
pode
dar
origem
a
um
estado
no
qual
o
respeito
à
diversidade
social
transparece
na
participação
de
todos
nas
tomadas
de
decisões
comuns;
a
segunda
possibilidade,
aquela
na
qual
a
manifestação
é
restrita,
baseia-‐se
na
submissão
de
uma
parte
dos
membros
da
comunidade
à
outra.
Ainda
que
os
autores
jusnaturalistas
tenham
sua
própria
classificação
das
formas
de
estado
e
governo,
podemos
compreender
–
a
partir
de
seus
pensamentos
–
como
estados
democráticos
ou
republicanos
tão
somente
aqueles
cuja
ordem
social
e
política
seja
baseada
na
inclusão
da
diversidade
de
indivíduos
singulares
como
igualmente
cidadãos
e,
portanto,
participantes
das
decisões
políticas
que
dizem
respeito
à
comunidade.
Em
oposição
a
estes,
só
restam
formas
opressivas
e
excludentes
de
organização
do
Estado,
o
que
significa
ditadura,
tirania
ou
despotismo.
Apesar
de
muitos
pensadores
admitirem
a
necessidade
de
representação
do
poder
soberano
e
de
divisão
das
tarefas
governamentais
em
vários
corpos,
com
base
em
considerações
de
ordem
política
(necessidade
de
controle
ao
exercício
do
poder
político),
social
(a
integração
da
pluralidade
social
nas
instâncias
decisórias),
econômicas
(impedimento
ao
uso
de
mão
de
obra
escrava),
geográficas
(dimensão
territorial),
a
responsabilidade
de
legislar,
julgar
e
executar
passou
a
ser
entendida
de que ele os fez depositários, e que pode limitar, modificar e retomar quando lhe aprouver”. (Contrato
Social. Livro III, cap. 1, pág, 75).
como
uma
responsabilidade
dos
próprios
cidadãos,
que
a
exercem
diretamente
ou
por
meio
de
representantes.
A
representação
não
desresponsabiliza
os
cidadãos,
pois
se
entende
que
o
corpo
governamental
(que
detém
as
tarefas
de
legislar,
executar
e
julgar)
está
necessariamente
subordinado
ao
corpo
soberano
ou
corpo
do
povo.
A
legitimidade
da
ação
governamental
deriva
de
sua
adequação
aos
propósitos
do
corpo
soberano,
que
se
caracteriza
fundamentalmente
pela
garantia
à
igualdade
e
à
liberdade
dos
indivíduos
que
compõem
o
estado.
O
estado
será
democrático
na
medida
em
que
a
manifestação
pública
de
ideias
dos
cidadãos
não
seja
privilégio
de
alguns,
mas
uma
possibilidade
aberta
para
todos.
Exatamente
por
isso,
os
princípios
de
liberdade
e
igualdade
exigem-‐se
mutuamente
e
estão
na
base
de
um
estado
respeitoso
e
participativo7.
Tal
exigência
não
é
apenas
retórica.
É
mesmo
uma
condição
necessária
para
existência
de
um
comportamento
social
baseado
na
igualdade,
na
liberdade,
no
respeito
e
na
participação
de
cada
membro
da
coletividade.
Partimos
das
concepções
de
autores
jusnaturalistas
modernos
acerca
da
pessoa
humana
e
do
modo
como
constituem
suas
relações
sociais
e
políticas
e
compreendemos
como
tais
concepções
tornaram-‐se
princípios
fundamentais
do
estado
democrático
e
das
declarações
de
direitos
humanos
que
conhecemos
no
mundo
contemporâneo.
Trata-‐se
agora
de
investigar
porque,
passados
mais
de
dois
séculos
desde
a
Declaração
dos
Direitos
do
Homem
e
do
Cidadão
pelos
Revolucionários
Franceses,
ainda
hoje
encontramos
uma
série
de
dificuldades
para
a
efetivação
destes
direitos.
Dificuldades:
7
Neste sentido, Alexis de Tocqueville afirma: “É possível imaginar um ponto extremo, onde a liberdade e
a igualdade se tocam e se confundem. Suponhamos que todos os cidadãos concorram para o governo e
que cada um tenha igual direito de concorrer para ele. Neste caso, ninguém será diferente de seus
semelhantes, ninguém poderá exercer um poder tirânico; os homens serão perfeitamente livres, porque
serão todos inteiramente iguais; e serão todos perfeitamente iguais porque serão inteiramente livres. É
para este ideal que tendem os povos democráticos.” (Democracia na América. Tomo II, parte 2, cap. 1,
pág. 383).
Mesmo
tendo
partido
do
suposto
que
princípios
e
propósitos
estão
diretamente
imbricados,
posto
que
princípios
visam
orientar
a
ação,
a
passagem
–
dos
princípios
aos
propósitos
de
ação
-‐
não
é
trivial.
A
ideia
genérica
de
que
todos
os
cidadãos
de
um
estado
democrático
são
iguais
e
livres
e,
portanto,
devem
ser
respeitados
e
participantes
dos
processos
de
decisão,
não
transparece
imediatamente
no
cotidiano
social
e
político
das
comunidades8.
O
reconhecimento
universal
da
liberdade
e
da
igualdade
de
todos
os
seres
humanos,
por
meio
da
Declaration
des
droits
de
l´homme
et
du
citoyen
de
1798,
foi
um
primeiro
passo
importante
para
instituição
de
limites
contra
a
ação
desrespeitosa
e
excludente
da
sociedade
e
do
estado.
Mas,
o
mero
reconhecimento
de
direitos
naturais
dos
indivíduos
não
foi
historicamente
suficiente
para
garantir
a
cada
um
o
respeito
e
a
participação
de
todos.
Foi
necessário
o
transcurso
de
muito
tempo
e
de
muitas
lutas
para
que
os
princípios
universais
da
Declaration
pudessem
penetrar
amplamente
nas
concepções
e
nos
costumes,
de
modo
a
transformar
os
comportamentos
sociais
e
as
leis
do
estado9.
Alexis
de
Tocqueville,
em
uma
viagem
que
fez
aos
Estados
Unidos
em
1830
e
que
está
descrita
no
livro
A
Democracia
na
América
(Tomo
I,
Livro
2,
cap.
7),
relata
uma
cena
de
desrespeito
e
exclusão
que
o
deixou
perplexo:
durante
um
processo
eleitoral
na
Pensilvânia,
ele
observou
que
os
negros
alforriados
não
compareceram
às
urnas
para
votar.
Incomodado
com
o
fato,
perguntou
a
um
“anglo-‐americano”
a
razão
de
tal
ausência:
8
Sobre esse assunto, veja: DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Cap. 5: Revoluções e
declarações: os direitos dos homens, dos cidadãos e de alguns outros.
9
Concepções e costumes não se alteram facilmente. Logo após a memorável Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão em 1789, pela Assembléia Constituinte Francesa, Olympia de Gouges propôs a
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã; no entanto, tal declaração não encontrou o mesmo apoio
popular e Olympia foi julgada pelo tribunal revolucionário e guilhotinada. Em tempos de desigualdade
entre homens e mulheres, a simples declaração dos direitos da mulher e da cidadã revelou-se como
afronta às concepções e aos costumes vigentes que justificaram o terrível castigo imposto à Olympia por
sua ousadia declaratória.
10
-‐
Explique-‐me,
por
favor,
como
num
estado
fundado
por
quacres
e
conhecido
pela
sua
tolerância,
os
negros
alforriados
não
são
admitidos
a
exercer
os
direitos
de
cidadão.
Pagam
o
imposto,
não
é
justo
que
votem?
–
Não
nos
faça
a
injúria,
respondeu-‐me
ele,
de
acreditar
que
os
nossos
legisladores
tenham
cometido
um
tão
grosseiro
ato
de
injustiça
e
intolerância.
-‐
Então,
em
seu
estado,
os
negros
têm
direito
de
votar?
–
Sem
a
menor
dúvida.
–
Então,
como
se
explica
que,
no
colégio
eleitoral,
esta
manhã,
não
percebi
sequer
um
na
assembléia?
–
Isso
não
é
culpa
da
lei,
retrucou-‐me
o
americano;
os
negros
têm,
na
verdade,
o
direito
de
se
apresentar
às
eleições,
mas
se
abstêm
voluntariamente
de
comparecer.
–
Isso
é
muita
modéstia
da
parte
deles.
–
Oh,
não
é
que
se
recusem
a
ir,
mas
que
temem
ali
ser
maltratados.
Entre
nós,
ocorre
certas
vezes
faltar
força
à
lei,
quando
a
maioria
não
a
apóia.
–
Ora,
a
maioria
está
imbuída
dos
maiores
preconceitos
contra
os
negros,
e
os
magistrados
não
sentem
a
força
de
garantir
a
estes
os
direitos
que
o
legislador
lhes
conferiu.”
(TOCQUEVILLE,
1977,
p.
195)
Em
que
pese
a
importância
das
leis
para
regular
condutas
sociais
e
políticas,
o
diálogo
travado
entre
Alexis
de
Tocqueville
e
um
habitante
da
Pensilvânia
em
1830
nos
faz
compreender
que
as
leis
são
insuficientes
para
transformar
práticas
sociais
profundamente
arraigadas.
É
por
meio
das
leis
que
o
estado
garante
aos
cidadãos
direitos
civis
e
políticos,
na
medida
em
que
regulam
as
ações
dos
demais
indivíduos
e
do
próprio
estado,
assegurando
a
cada
um
a
inviolabilidade
de
seus
direitos
fundamentais.
No
entanto,
em
um
estado
em
que
“a
maioria
está
imbuída
dos
maiores
preconceitos”,
a
lei
não
encontra
força
para
impor-‐se,
pois
os
comportamentos
sociais
desafiam
a
determinação
legal.
Tal
desafio
nem
sempre
é
direto,
afinal
não
encontramos
nenhum
relato
de
contraposição
ao
legislador
ou
de
desrespeito
à
lei.
O
10
Em meio às guerras religiosas que assolaram a Europa no século XVII, surgiu na Inglaterra uma
religião cristã protestante conhecida como “sociedade religiosa dos amigos” ou “Quakers”, fundada por
George Fox, em 1652. Muitos perseguidos e castigados na Inglaterra, inúmeros Quakers buscaram
refúgio na colônia norte-americana – um lugar onde as pessoas de todas as crenças teriam liberdade
religiosa. Participaram ativamente do período colonial dos Estados Unidos promovendo a tolerância
religiosa e política.
desafio
é,
antes,
indireto,
posto
que
ameaça
aos
beneficiários
da
lei
impedindo-‐os
de
gozarem
daquilo
que
lhes
foi
formalmente
garantido.
Apesar
da
importância
da
proteção
jurídica
por
meio
das
leis
e
das
instituições
do
estado
democrático,
o
exemplo
dado
por
Tocqueville
mostra
de
modo
eloquente
que
estes
são
ainda
insuficiente
para
impedir
práticas
violadoras.
A
insuficiência
das
leis
para
o
estabelecimento
de
comportamentos
sociais
e
políticos
coerentes
com
a
democracia
e
os
direitos
humanos
não
decorre
apenas
de
seu
texto
ou
dos
poderes
públicos
que
devem
zelar
pela
sua
aplicação11.
Decorre
antes
de
concepções
e
costumes
compartilhados
pela
sociedade.
Ainda
que
os
legisladores
busquem
criar
condições
jurídico-‐políticas
para
coibir
situações
de
desrespeito
e
exclusão,
que
violam
a
igualdade
e
a
liberdade
humana,
nem
sempre
encontram
respaldo
nos
comportamentos
de
grupos
sociais.
Frequentemente
os
comportamentos
sociais
reproduzem
condutas
discriminadoras
forjadas,
ao
longo
dos
tempos,
em
concepções
desrespeitosas
e
excludentes
de
modo
acrítico,
ou
seja,
em
concepções
preconceituosas.
Concepções
e
costumes
sociais
baseados
no
reconhecimento
da
igualdade
e
da
liberdade
promovem
comportamentos
respeitosos
e
participativos.
Pode-‐se
dizer
que
as
concepções
e
os
costumes
democráticos
e
o
respeito
às
leis
e
instituições
democráticas
são
duas
faces
da
mesma
moeda12.
No
entanto,
sabemos
que
a
declaração
solene,
por
meio
das
leis
-‐
do
sufrágio
universal,
para
aproveitar
mais
uma
vez
o
exemplo
que
tomamos
de
Tocqueville
–
ainda
que
encontre
resistência
em
comportamentos
sociais
desrespeitosos
e
excludentes
e
não
seja
suficiente
para
alterá-‐los,
é
de
fundamental
importância.
Tão
somente
com
base
nas
leis
é
que
todo
cidadão
pode
exigir
dos
demais
e
do
estado
o
reconhecimento
da
igualdade
e
da
11
Sobre a relação entre as leis e a proteção aos direitos humanos veja, o texto: RIFIOTIS, Theophilos;
MATOS, Marlise. Judicialização, direitos humanos e cidadania.
12
Tocqueville afirma: “Estou convencido que a situação mais feliz e as melhores leis não podem manter
uma constituição a despeito dos costumes, ao passo que estes tiram partido ainda das posições mais
desfavoráveis e das piores leis. A importância dos costumes é uma verdade comum, à qual o estudo e a
experiência conduzem sem cessar.” (Democracia na América. Tomo I, parte 2, cap. 9, pág. 237)
liberdade
de
todos.
Assegurando
a
possibilidade
de
reivindicar
publicamente
o
reconhecimento
e
proteção
aos
direitos,
as
leis
podem
ser
instrumentos
de
luta
contra
práticas
sociais
e
políticas
violadoras
dos
direitos
humanos.
Preconceito
e
discriminação:
Conhecendo
a
relação
íntima
entre
concepções,
costumes
e
leis,
instituições
democráticas,
podemos
compreender
que
o
problema
que
ainda
resta
não
é
propriamente
de
ordem
legal
ou
formal
–
no
sentido
de
instituição
e
fiscalização
de
regras.
Mal
ou
bem,
temos
uma
série
de
proteções
jurídicas
à
democracia
e
aos
direitos
humanos,
tanto
no
plano
interno
como
no
plano
externo.
O
problema
é
mais
profundo,
pois
diz
respeito
a
concepções
e
costumes.
A
sociedade
brasileira
continua
reproduzindo
em
seu
comportamento,
veladamente
ou
impensadamente,
concepções
e
costumes
desrespeitosos
e
excludentes.
Sem
a
formação
de
concepções
e
costumes
baseados
na
igualdade
e
na
liberdade,
dificilmente
teremos
comportamentos
sociais
baseados
no
respeito
à
diversidade
e
na
participação
de
todos.
Para
discutirmos
de
modo
mais
localizado,
tomo
como
exemplo
a
Lei
nº
10.639,
Lei
10.63913,
sancionada
pelo
Presidente
da
República
em
janeiro
de
2003,
que
incluiu
no
currículo
oficial
da
rede
de
ensino
o
tema
“História
e
Cultura
Afro-‐
brasileira”.
Apesar
dos
mais
de
10
anos
de
vigência
da
lei,
facilmente
percebemos
que
o
comportamento
social
discriminador
da
sociedade
brasileira
pouco
foi
modificado.
Isso
não
significa
que
a
lei
não
seja
cumprida,
nem
que
haja
problemas
estruturais
nas
escolas
ou
no
material
didático
que
afrontem
diretamente
à
lei.
Há
um
esforço
de
adequação
das
escolas
à
lei.
A
principal
dificuldade
em
vista
da
qual
o
comportamento
social
discriminador
não
modificou
significativamente
nestes
10
anos
deriva
de
concepções
preconceituosas
por
parte
de
inúmeras
pessoas
envolvidas
no
processo
13
Remeto à mesa-redonda "Dez anos da Lei 10.639/03: balanços e perspectivas", com Nilma Lino Gomes
(UFMG) e Petronilha Gonçalves (UFSCar), organizada no dia 19 de abril de 2013 pelo NAP Brasil África
(USP). O acesso é possível em: https://www.youtube.com/watch?v=8WbLZOPcXUs
educacional,
que
reproduzem
em
suas
atitudes
cotidianas
comportamentos
discriminadores.
Semelhante
descompasso
(entre
a
lei
e
a
ação)
não
deve
ser
atribuído
a
qualquer
arbitrariedade
de
quem
quer
que
seja,
mas
a
concepções
e
costumes
sociais
largamente
arraigados
e
reproduzidos
acriticamente.
Podemos
então
experimentar,
em
relação
à
prática
escolar,
semelhante
perplexidade
e
indignação
de
Tocqueville
ao
saber
que,
mesmo
a
lei
estendendo
o
direito
ao
sufrágio
aos
negros,
eles
não
compareciam
às
urnas
porque
o
comportamento
social
não
lhes
garantia
o
direito
legal;
ou
ainda,
mesmo
a
lei
brasileira
instituindo
o
ensino
de
história
e
cultura
afro-‐brasileira,
o
comportamento
social
continua
marcado
por
formas
de
preconceito
e
discriminação
racial.
A
escola
é
uma
pequena
sociedade
dentro
do
Estado
e,
por
isso,
pode
ser
tomada
como
exemplo,
pois
o
preconceito
e
a
discriminação
racial
que
se
manifestam
no
dia
a
dia
escolar
são
o
reflexo
das
concepções
e
costumes
que
estão
presentes
na
sociedade
inteira.
Como
dissemos,
tais
comportamentos
sociais
não
são
arbitrários,
têm
origens
profundas
na
história
da
humanidade.
De
acordo
com
Munanga
(2006),
o
conceito
de
raça
foi
estabelecido,
em
bases
biológicas,
no
século
XVIII.
Naquela
época
houve
a
tentativa
de
encontrar
uma
relação
intrínseca
entre
características
biológicas
e
qualidades
(morais,
psicológicas,
intelectuais
e
culturais)
dos
indivíduos
e
dos
grupos,
com
base
na
qual
diferentes
raças
humanas
poderiam
ser
classificadas
e
hierarquizadas.
Apesar
dessa
concepção
já
não
encontrar
mais
respaldo
científico
no
mundo
contemporâneo,
o
racismo,
no
entanto,
permanece.
Do
conceito
de
raça
à
classificação
e
hierarquização
de
grupos
humanos,
o
racismo
ultrapassou
o
registro
Interessante
estritamente
biológico
e
metamorfoseou-‐se.
No
século
XX,
a
classificação
e
a
hierarquização
já
não
se
decorriam
exclusivamente
a
partir
de
características
biológicas,
passou
a
integrar
também
características
históricas,
culturais,
econômicas,
sociais.
O
racismo
tornou-‐se
mais
abrangente:
“Trata-‐se
aqui
de
um
racismo
por
analogia
ou
metaforização,
resultante
da
biologização
de
um
conjunto
de
indivíduos
pertencendo
a
uma
categoria
social.
É
como
se
essa
categoria
social
racializada
(biologizada)
fosse
portadora
de
um
estigma
corporal.”
(MUNANGA,
2003,
p.
9).
Assim,
pouco
a
pouco
o
racismo
prescindiu
do
conceito
de
raça
para
“decretar
a
existência
de
diferenças
insuperáveis
entre
grupos
estereótipos”
(MUNANGA,
2003,
p.
9),
tais
como
homossexuais,
pobres,
mulheres,
árabes,
cujas
características
comuns
explicam
suficientemente,
do
ponto
de
vista
racista,
sua
condição
hierarquicamente
inferior.
O
racismo
se
manifesta,
em
primeiro
lugar,
como
preconceito,
na
medida
em
que
acolhe
acriticamente
a
hierarquização
(superior-‐inferior)
de
grupos
humanos
com
base
na
concepção
de
características
intrínsecas
e
determinantes;
e,
em
segundo
lugar,
manifesta-‐se
como
discriminação
racial
posto
que
favorece
comportamentos
sociais
desrespeitosos
e
excludentes.
A
grande
dificuldade
não
é
tanto
coibir
a
ação
discriminatória.
Estas
práticas
podem
ser
interpeladas
juridicamente
com
base
nas
leis.
Muito
mais
difícil
é
aniquilar
as
“representações
e
imaginários
coletivos”
que,
à
revelia
de
qualquer
crítica
científica
acerca
do
conceito
de
raça
ou
de
grupos
estereótipos,
sustentam
o
racismo
na
forma
de
preconceitos.
A
inclusão
do
ensino
de
“História
e
Cultura
Afro-‐brasileira”
como
conteúdo
obrigatório
no
currículo
escolar
visa,
em
primeiro
lugar,
a
instrução
dos
alunos
a
partir
valorização de
agentes
de
uma
perspectiva
abrangente
da
história
brasileira,
na
qual
peculiaridade
e
a
desvalorizados
e
importância
dos
diversos
agentes
sejam
valorizadas.
Neste
sentido,
a
instrução
traz
reconfiguração
representativas
novos
conhecimentos
que
informam
sobre
situações
vividas,
relações
econômicas,
esteriotipadas
através do
avanços
científicos,
ao
mesmo
tempo
em
que
possibilita
a
alteração
de
concepções
e
ensino de
História e
costumes.
Entretanto,
adverte
Tocqueville,
a
"instrução
que
esclarece
o
espírito"
não
cultura
afro-brasileira
pode
estar
separada
da
"educação
que
regula
os
costumes",
pois
"não
basta
ensinar
os
homens
a
lerem
e
escreverem
para
logo
fazê-‐los
cidadãos"
(DA.T.
I,
parte
2,
cap.
9,
p.
352).
A
instrução
é
uma
condição
necessária,
mas
ainda
insuficiente.
Mais
do
que
as
leis
e
as
instituições
do
Estado,
mais
do
que
o
ensino
de
um
importante
conteúdo
determinado,
a
transformação
do
comportamento
social
depende
da
alteração
das
concepções
e
dos
costumes,
os
quais
só
podem
ser
modificados
pela
ação
das
próprias
pessoas
envolvidas14.
Não
se
trata
nem
de
lições,
nem
de
imposições
de
uns
sobre
outros,
mas
da
abertura
de
cada
um
para
a
perspectiva
do
outro.
As
lutas
pelo
reconhecimento
dos
princípios
de
igualdade
e
liberdade
dos
indivíduos
oriundas
da
Declaration
de
1789
foram
marcadas
–
ao
longo
do
século
XIX
–
pela
participação
popular
em
uma
diversidade
de
reivindicações
e
lutas
sociais,
econômicas,
culturais:
a
abolição
da
escravatura,
o
reconhecimento
de
direitos
trabalhistas,
o
ensino
laico
e
a
universalização
do
acesso
à
escola,
a
extensão
do
direito
ao
sufrágio
aos
trabalhadores,
por
exemplo.
Essas
lutas
contribuíram
largamente
para
transformação
de
concepções
e
condutas
sociais.
A
participação
direta
das
pessoas
nas
reivindicações
e
lutas
contra
todas
as
formas
de
desrespeito
e
exclusão
contribuiu
para
a
ampla
transformação
de
concepções
e
costumes
da
sociedade.
A
adesão
às
novas
concepções
e
costumes
–
quaisquer
que
sejam
-‐
não
advém
espontânea
e
simultaneamente
aos
corações
e
mentes
das
pessoas,
mas
decorre
de
vivências
historicamente
dadas.
Apenas
quando
todos
os
cidadãos
estiverem
imbuídos
de
concepções
e
costumes
que
os
façam
respeitar
os
demais
membros
da
comunidade
como
indivíduo
igual
e
livre,
as
leis
poderão
contribuir
na
eliminação
de
comportamentos
sociais
preconceituosos
e
discriminadores.
Do
nosso
ponto
de
vista,
há
uma
relação
direta
entre
a
formação
de
concepções
e
costumes,
coerentes
com
os
princípios
que
fundamentam
os
direitos
humanos
e
a
democracia
e
a
alteração
de
comportamentos
sociais
discriminadores.
O
destino
da
sociedade
e
do
Estado
depende
do
compromisso
de
cada
um
com
os
princípios
democráticos
de
igualdade,
liberdade,
respeito
e
participação,
assim
como
de
uma
estrutura
jurídico-‐política
que
zele
e
garanta
a
vigência
desses
valores
e
princípios.
Segundo
Costas
Douzinas,
toda
reivindicação
de
direitos
envolve
o
reconhecimento
de
outros
e
de
seus
direitos:
14
O site DHnet é uma fonte de pesquisa sobre diversos temas de direitos humanos que contribuem para
formação de concepções e comportamentos respeitosos e participativos. Sugiro, no que diz respeito à
promoção da igualdade e à valorização da diversidade como formas de combater o preconceito e a
discriminação, o artigo extraído do site DHnet e colocado como Anexo IV do presente texto.
Não
pode
haver
algo
como
um
direito
autônomo,
absoluto,
pois
tal
direito
violaria
a
liberdade
de
todos,
exceto
a
de
seu
detentor.
Não
pode
haver
nenhum
direito
positivo,
pois
direitos
são
sempre
relacionais
e
envolvem
seus
sujeitos
em
relações
de
dependência
de
outros
e
de
responsabilidade
perante
a
lei.
Os
direitos
constituem
um
reconhecimento
formal
do
fato
de
que
antes
da
minha
subjetividade
(jurídica)
sempre
e
já
existia
outra.
Relacionado
a
isso
está
o
reconhecimento
de
que
os
direitos
humanos
possuem
a
capacidade
de
produzir
novos
mundos,
ao
continuamente
empurrar
e
expandir
os
limites
da
sociedade,
da
identidade
e
da
lei
(DOUZINAS,
2009,
p.
349).
Tal
como
os
sans-‐coulotte,
revolucionários
de
1798
que
subverteram
a
ordem
de
uma
sociedade
marcada
pela
desigualdade
e
pela
subserviência,
faz-‐se
necessário,
no
mundo
contemporâneo,
subverter
os
comportamentos
sociais
preconceituosos
e
discriminadores.
A
possibilidade
de
tal
subversão
implica
instigar
a
formação
de
comportamentos
sociais
comprometidos
com
a
igualdade,
a
liberdade,
o
respeito
à
singularidade
e
à
participação
nas
decisões
comuns.
Afinal,
assim
como
as
leis
e
as
instituições
do
Estado,
a
instrução
também
não
é
suficiente
para
alterar
as
condutas
largamente
arraigadas.
Além
das
leis
e
da
instrução
é
preciso
envolver
toda
a
sociedade
com
a
formação
de
comportamentos
sociais
e
políticos
contrários
a
concepções
preconceituosas
e
atitudes
de
discriminação
racial15.
Formação:
A
formação
de
comportamentos
sociais
e
políticos
contrários
a
atitudes
de
preconceito
e
discriminação
racial
exige
a
participação
de
todos,
de
cada
membro
singular
da
comunidade,
capaz
de
falar
e
agir
por
si
mesmo
junto
com
cada
um
dos
demais.
Junto
com
as
leis,
as
instituições
do
Estado
e
com
a
instrução
propriamente
dita,
a
participação
livre
e
igual
de
cada
um
é
condição
sine
qua
non.
Isso
significa
que
ninguém
está
dispensado,
nem
tem
qualquer
posição
privilegiada
na
construção
de
15
Uma forma de luta pode ser vista na literatura de Cristiane Sobral – veja o poema “Não vou mais lavar
os pratos” em: http://arquivo.geledes.org.br/patrimonio-cultural/literario-cientifico/literatura/18318-nao-
vou-mais-lavar-os-pratos-poesia-de-cristiane-sobral
concepções
e
costumes
que
estão
na
base
de
comportamentos
sociais
coerentes
com
o
respeito
a
cada
um
e
com
a
participação
de
todos.
Esta
exigência
repousa
sobre
a
compreensão
de
que
só
há
duas
possibilidades:
ou
reciprocamente
reconhecemos
cada
um
dos
demais
como
iguais
e
livres,
a
quem
devemos
respeitar
por
ser
uma
pessoa
singular
e
capaz
de
tomar
parte
nas
decisões
comuns,
ou
favorecemos
relações
hierarquizadas,
preconceituosas
e
discriminadoras;
não
há
meio
termo.
Pois,
da
concepção
que
todos
os
indivíduos
são
iguais
e
livres
segue-‐se,
em
primeiro
lugar,
que
cada
um
tem
o
direito
de
reivindicar
o
respeito
a
si
mesmo
e
de
participar
das
decisões
que
lhe
afetam;
mas
segue-‐se
também
que
tal
reivindicação
é
exatamente
a
mesma
para
cada
um
e,
portanto,
só
se
realizará
se
for
recíproca.
Ora,
a
reciprocidade
exige
que
cada
um
seja
capaz
de
colocar-‐se
no
lugar
do
outro
e
conceder-‐lhe
aquilo
que
reivindica
para
si16.
Assim,
consideramos
que
a
formação
de
comportamentos
sociais
e
contrários
a
atitudes
de
preconceito
e
discriminação
racial
exige,
de
cada
um,
o
esforço
de
suspender
o
juízo
e
colocar-‐se
no
lugar
do
outro.
Se
as
ações
discriminatórias
podem
ser
combatidas
por
meio
das
leis
e
das
instituições
jurídico-‐políticas
do
Estado,
o
preconceito
–
muito
mais
difícil
de
ser
extirpado
–
depende
de
mudanças
de
concepções
e
de
costumes.
Se
a
perspectiva
de
cada
um
está
centrada
sobre
si
mesmo
é
porque
cada
um
julga
o
outro
e
suas
relações
a
partir
de
si
e
em
vista
de
si
mesmo.
Segue-‐se,
em
consequência,
que
a
principal
dificuldade
reside
na
própria
maneira
pela
qual
cada
um
compreende
a
si
mesmo
e
as
suas
relações.
A
eliminação
de
preconceitos
depende
da
capacidade
de
cada
um
ampliar
a
própria
perspectiva
incluindo
a
perspectiva
do
outro:
“na
perspectiva
da
alteridade,
os
direitos
do
outro,
a
sua
negação,
me
interpelam
e
por
sermos
humanamente
interpelados,
somos
também
responsabilizados
pela
implementação
desses
direitos,
pela
sua
defesa”
(RUIZ,
2010,
p.
220).
Ser
interpelado
pelo
outro,
longe
de
significar
aniquilação
da
própria
16
Para aprofundar este tema, sugiro a leitura do texto: RUIZ, Castor Bartolomé. Os direitos humanos
como direitos do outro..
singularidade,
supõe
que
a
possibilidade
de
ser
o
que
se
é
depende
da
aceitação
recíproca
da
singularidade
de
cada
um,
depende
de
compromissos
recíprocos
de
cada
um
com
cada
um.
Neste
sentido,
o
primeiro
artigo
da
Declaração
Universal
dos
Direitos
Humanos,
de
194817,
afirma
que:
“Todas
as
pessoas
nascem
livres
e
iguais
em
dignidade
e
direitos.
São
dotadas
de
razão
e
consciência
e
devem
agir
em
relação
umas
às
outras
com
espírito
de
fraternidade”.
É
justamente
esse
“espírito
de
fraternidade”,
ou
seja,
essa
concepção
de
proximidade
em
relação
ao
outro,
que
pode
nortear
comportamentos
sociais
comprometidos
com
o
respeito
à
singularidade
e
com
a
participação
de
todos,
porque
exige
uma
alteração
na
perspectiva
de
cada
um:
é
preciso
que
se
sintam
afetadas
pelos
outros,
que
se
sintam
parte
de
uma
relação
necessária.
Esta
ampliação
da
perspectiva
insere
cada
um
na
comunidade,
cujo
significado
primordial
advém
do
compartilhamento
de
laços
(históricos,
sociais,
culturais,
afetivos...)
que
tornam
todos
corresponsáveis
pelo
que
há
de
comum.
Para
finalizar,
retomamos
o
propósito
deste
texto
expresso
logo
de
início:
contribuir
com
a
discussão
acerca
da
formação
de
comportamentos
sociais
contra
o
preconceito
e
a
discriminação
racial.
A
palavra
discussão
expressa
nosso
entendimento
acerca
da
necessidade
de
abertura
para
acolher
a
diversidade
de
posições
e,
ao
mesmo
tempo,
o
inacabamento
da
tarefa.
Do
nosso
ponto
de
vista,
a
formação
de
comportamentos
sociais
contrários
ao
preconceito
e
à
discriminação
racial,
a
fim
de
fundamentar
práticas
coerentes
com
os
princípios
dos
direitos
humanos
e
da
democracia,
precisa
ser
continuamente
realizada
pela
ação
dos
próprios
envolvidos.
O
respeito
e
a
participação
igual
e
livre
de
cada
um
traz,
como
consequência,
possibilidades
inusitadas.
Compartilhar,
integrar,
acolher
o
outro
leva
cada
um
a
reelaborar
suas
concepções
e
alterar
a
própria
prática.
17
Veja o Anexo II.
REFERÊNCIAS
ARENDT,
Hannah.
O
que
é
política.
Rio
de
Janeiro:
Bertrand
Brasil,
2002.
______.
Da
revolução.
São
Paulo:
Ática;
Brasília,
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UnB,
1988.
ARISTÓTELES.
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política.
Brasília,
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BIELEFELDT,
Heiner.
Filosofia
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humanos.
São
Leopoldo:
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2000.
BOBBIO,
Norberto.
A
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Rio
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Janeiro:
Elsevier,
2004.
BOVERO,
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Contra
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piores
-‐
uma
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Rio
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Janeiro:
Campus,
2002.
DOUZINAS,
Costas.
O
fim
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humanos.
São
Leopoldo:
Unisinos,
2009.
HUNT,
Lynn.
A
invenção
dos
direitos
humanos:
uma
história.
São
Paulo:
Cia
das
Letras,
2009.
LEFORT,
Claude.
A
invenção
democrática.
São
Paulo:
Autêntica,
2011.
LOCKE,
John.
Segundo
tratado
sobre
o
governo.
São
Paulo:
Abril
Cultural,
1978.
(Coleção
Os
Pensadores).
MUNANGA,
Kambengele.
Uma
abordagem
conceitual
das
noções
de
raça,
racismo
identidade
e
etnia.
In:
COSTA,
OSÓRIO,
e
SILVA.
(Orgs.)
Gênero
e
raça
no
orçamento
municipal:
um
guia
para
fazer
a
diferença.
v.
1,
Orientações
Básicas.
Rio
de
Janeiro:
IBAM,
2006.
REIS,
Helena
E.
Dos
princípios
à
ação:
dificuldades
do
ajuste.
In:
LOPES,
Ana
Maria;
MAUÈS,
Antônio
(Orgs.).
A
eficácia
nacional
e
internacional
dos
direitos
humanos.
Rio
de
Janeiro:
Lumen
Juris,
2013.
RIFIOTIS,
Theóphilos;
MATOS,
Marlise.
Judicialização,
direitos
humanos
e
cidadania.
In:
FERREIRA;
ZENAIDE;
PEREIRA;
SILVA
(Orgs.).
Direitos
humanos
na
educação
superior:
subsídios
para
educação
em
direitos
humanos
nas
ciências
sociais.
João
Pessoa:
UFPB,
2010.
ROUSSEAU,
Jean-‐Jacques.
Do
contrato
social.
São
Paulo:
Abril
Cultural,
1978.
______.
Discurso
sobre
a
origem
e
o
fundamento
da
desigualdade
entre
os
homens.
São
Paulo:
Abril
Cultural,
1978.
RUIZ,
Castor
Bartolomé.
Os
direitos
humanos
como
direitos
do
outro.
In:
FERREIRA;
ZENAIDE;
PEQUENO
(Orgs.).
Direitos
humanos
na
educação
superior:
subsídios
para
educação
em
direitos
humanos
na
filosofia.
João
Pessoa:
UFPB,
2010.
SANTOS,
Antônio
Carlos
(Org.).
O
outro
como
problema:
o
surgimento
da
tolerância
na
modernidade.
São
Paulo:
Alameda,
2010.
SEGATO,
Rita
Laura.
Antropologia
e
direitos
humanos:
alteridade
e
ética
no
movimento
de
expansão
dos
direitos
humanos.
Revista
Mana,
12
(1),
2077.
TOCQUEVILLE,
Alexis.
A
democracia
na
América.
São
Paulo:
EDUSP;
Belo
Horizonte:
Itatiaia,
1977.
TOURAINE,
Alain.
O
que
é
a
democracia?
Petrópolis
:
Vozes,
1996.
WOLFF,
Francis.
Quem
é
bárbaro?
In:
NOVAES,
Adauto.
(Org.)
Civilização
e
barbárie.
São
Paulo:
Cia
das
Letras,
2004.
ANEXO
I
DECLARAÇÃO
DOS
DIREITOS
DO
HOMEM
E
DO
CIDADÃO
-‐
1789
Os
representantes
do
povo
francês,
reunidos
em
Assembleia
Nacional,
tendo
em
vista
que
a
ignorância,
o
esquecimento
ou
o
desprezo
dos
direitos
do
homem
são
as
únicas
causas
dos
males
públicos
e
da
corrupção
dos
Governos,
resolveram
declarar
solenemente
os
direitos
naturais,
inalienáveis
e
sagrados
do
homem,
a
fim
de
que
esta
declaração,
sempre
presente
em
todos
os
membros
do
corpo
social,
lhes
recorde
sempre
seus
direitos
e
seus
deveres;
a
fim
de
que
os
atos
do
Poder
Legislativo
e
do
Poder
Executivo,
podendo
ser
a
qualquer
momento
comparados
com
a
finalidade
de
toda
a
instituição
política,
sejam
por
isso
mais
respeitados;
a
fim
de
que
as
reivindicações
dos
cidadãos,
doravante
fundadas
em
princípios
simples
e
incontestáveis,
dirijam-‐se
sempre
à
conservação
da
Constituição
e
à
felicidade
geral.
Em
razão
disto,
a
Assembleia
Nacional
reconhece
e
declara,
na
presença
e
sob
a
égide
do
Ser
Supremo,
os
seguintes
direitos
do
homem
e
do
cidadão:
Art.1º.
Os
homens
nascem
e
são
livres
e
iguais
em
direitos.
As
distinções
sociais
só
podem
fundamentar-‐se
na
utilidade
comum.
ROSSEAU
Art.
2º.
A
finalidade
de
toda
associação
política
é
a
conservação
dos
direitos
naturais
e
imprescritíveis
do
homem.
Esses
direitos
são
a
liberdade,
a
propriedade,
a
segurança
e
a
resistência
à
opressão.
Art.
3º.
O
princípio
de
toda
a
soberania
reside,
essencialmente,
na
nação.
Nenhum
corpo,
nenhum
indivíduo
pode
exercer
autoridade
que
dela
não
emane
expressamente.
Art.
4º.
A
liberdade
consiste
em
poder
fazer
tudo
que
não
prejudique
o
outro.
Assim,
o
exercício
dos
direitos
naturais
de
cada
homem
não
tem
limites
senão
aqueles
que
asseguram
aos
outros
membros
da
sociedade
o
gozo
dos
mesmos
direitos.
Estes
limites
só
podem
ser
determinados
pela
lei.
Art.
5º.
A
lei
não
tem
o
direito
de
proibir
senão
as
ações
nocivas
à
sociedade.
Tudo
que
não
é
vedado
pela
lei
não
pode
ser
obstado
e
ninguém
pode
ser
constrangido
a
fazer
o
que
ela
não
ordene.
Art.
6º.
A
lei
é
a
expressão
da
vontade
geral.
Todos
os
cidadãos
têm
o
direito
de
concorrer,
pessoalmente
ou
através
de
mandatários,
para
a
sua
formação.
Ela
deve
ser
a
mesma
para
todos,
seja
para
proteger,
seja
para
punir.
Todos
os
cidadãos
são
iguais
a
seus
olhos
e
igualmente
admissíveis
a
todas
as
dignidades,
lugares
e
empregos
públicos,
segundo
a
sua
capacidade
e
sem
outra
distinção
que
não
seja
a
das
suas
virtudes
e
dos
seus
talentos.
Art.
7º.
Ninguém
pode
ser
acusado,
preso
ou
detido,
senão
nos
casos
determinados
pela
lei
e
de
acordo
com
as
formas
por
esta
prescritas.
Os
que
solicitam,
expedem,
executam
ou
mandam
executar
ordens
arbitrárias
devem
ser
punidos;
mas
qualquer
cidadão
convocado
ou
detido
em
virtude
da
lei
deve
obedecer
imediatamente,
caso
contrário
torna-‐se
culpado
de
resistência.
Art.
8º.
A
lei
apenas
deve
estabelecer
penas
estrita
e
evidentemente
necessárias
e
ninguém
pode
ser
punido
senão
por
força
de
uma
lei
estabelecida
e
promulgada
antes
do
delito
e
legalmente
aplicada.
Art.
9º.
Todo
acusado
é
considerado
inocente
até
ser
declarado
culpado
e,
se
julgar
indispensável
prendê-‐lo,
todo
o
rigor
desnecessário
à
guarda
da
sua
pessoa
deverá
ser
severamente
reprimido
pela
lei.
Art.
10º.
Ninguém
pode
ser
molestado
por
suas
opiniões,
incluindo
opiniões
religiosas,
desde
que
sua
manifestação
não
perturbe
a
ordem
pública
estabelecida
pela
lei.
Art.
11º.
A
livre
comunicação
das
ideias
e
das
opiniões
é
um
dos
mais
preciosos
direitos
do
homem.
Todo
cidadão
pode,
portanto,
falar,
escrever,
imprimir
livremente,
respondendo,
todavia,
pelos
abusos
desta
liberdade
nos
termos
previstos
na
lei.
Art.
12º.
A
garantia
dos
direitos
do
homem
e
do
cidadão
necessita
de
uma
força
pública.
Esta
força
é,
pois,
instituída
para
fruição
por
todos,
e
não
para
utilidade
particular
daqueles
a
quem
é
confiada.
Art.
13º.
Para
a
manutenção
da
força
pública
e
para
as
despesas
de
administração
é
indispensável
uma
contribuição
comum
que
deve
ser
dividida
entre
os
cidadãos
de
acordo
com
suas
possibilidades.
Art.
14º.
Todos
os
cidadãos
têm
direito
de
verificar,
por
si
ou
pelos
seus
representantes,
a
necessidade
da
contribuição
pública,
de
consenti-‐la
livremente,
de
observar
o
seu
emprego
e
de
lhe
fixar
a
repartição,
a
coleta,
a
cobrança
e
a
duração.
Art.
15º.
A
sociedade
tem
o
direito
de
pedir
contas
a
todo
agente
público
pela
sua
administração.
Art.
16.º
A
sociedade
em
que
não
esteja
assegurada
a
garantia
dos
direitos
nem
estabelecida
a
separação
dos
poderes
não
tem
Constituição.
Art.
17.º
Como
a
propriedade
é
um
direito
inviolável
e
sagrado,
ninguém
dela
pode
ser
privado,
a
não
ser
quando
a
necessidade
pública
legalmente
comprovada
o
exigir
e
sob
condição
de
justa
e
prévia
indenização.
ANEXO
II
Preâmbulo
Considerando
essencial
que
os
direitos
humanos
sejam
protegidos
pelo
Estado
de
Direito,
para
que
o
homem
não
seja
compelido,
como
último
recurso,
à
rebelião
contra
tirania
e
a
opressão,
Artigo I
Todas
as
pessoas
nascem
livres
e
iguais
em
dignidade
e
direitos.
São
dotadas
de
razão
e
consciência
e
devem
agir
em
relação
umas
às
outras
com
espírito
de
fraternidade.
Artigo II
Artigo IV
Ninguém
será
mantido
em
escravidão
ou
servidão,
a
escravidão
e
o
tráfico
de
escravos
serão
proibidos
em
todas
as
suas
formas.
Artigo V
Artigo VI
Artigo VII
Todos
são
iguais
perante
a
lei
e
têm
direito,
sem
qualquer
distinção,
a
igual
proteção
da
lei.
Todos
têm
direito
a
igual
proteção
contra
qualquer
discriminação
que
viole
a
presente
Declaração
e
contra
qualquer
incitamento
a
tal
discriminação.
Artigo VIII
Toda
pessoa
tem
direito
a
receber
dos
tributos
nacionais
competentes
remédio
efetivo
para
os
atos
que
violem
os
direitos
fundamentais
que
lhe
sejam
reconhecidos
pela
constituição
ou
pela
lei.
Artigo
IX
Artigo X
Toda
pessoa
tem
direito,
em
plena
igualdade,
a
uma
audiência
justa
e
pública
por
parte
de
um
tribunal
independente
e
imparcial,
para
decidir
de
seus
direitos
e
deveres
ou
do
fundamento
de
qualquer
acusação
criminal
contra
ele.
Artigo XI
Artigo XII
Ninguém
será
sujeito
a
interferências
na
sua
vida
privada,
na
sua
família,
no
seu
lar
ou
na
sua
correspondência,
nem
a
ataques
à
sua
honra
e
reputação.
Toda
pessoa
tem
direito
à
proteção
da
lei
contra
tais
interferências
ou
ataques.
Artigo
XIII
1.
Toda
pessoa
tem
direito
à
liberdade
de
locomoção
e
residência
dentro
das
fronteiras
de
cada
Estado.
2.
Toda
pessoa
tem
o
direito
de
deixar
qualquer
país,
inclusive
o
próprio,
e
a
este
regressar.
Artigo XIV
1.
Toda
pessoa,
vítima
de
perseguição,
tem
o
direito
de
procurar
e
de
gozar
asilo
em
outros
países.
Artigo XV
Artigo XVI
Artigo
XVII
1.
Toda
pessoa
tem
direito
à
propriedade,
só
ou
em
sociedade
com
outros.
2.
Ninguém
será
arbitrariamente
privado
de
sua
propriedade.
Artigo XVIII
Artigo XIX
Toda
pessoa
tem
direito
à
liberdade
de
opinião
e
expressão;
este
direito
inclui
a
liberdade
de,
sem
interferência,
ter
opiniões
e
de
procurar,
receber
e
transmitir
informações
e
ideias
por
quaisquer
meios
e
independentemente
de
fronteiras.
Artigo XX
1.
Toda
pessoa
tem
direito
à
liberdade
de
reunião
e
associação
pacíficas.
2.
Ninguém
pode
ser
obrigado
a
fazer
parte
de
uma
associação.
Artigo XXI
1.
Toda
pessoa
tem
o
direito
de
tomar
parte
no
governo
de
seu
país,
diretamente
ou
por
intermédio
de
representantes
livremente
escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3.
A
vontade
do
povo
será
a
base
da
autoridade
do
governo;
esta
vontade
será
expressa
em
eleições
periódicas
e
legítimas,
por
sufrágio
universal,
por
voto
secreto
ou
processo
equivalente
que
assegure
a
liberdade
de
voto.
Artigo XXII
Artigo XXIII
1.
Toda
pessoa
tem
direito
ao
trabalho,
à
livre
escolha
de
emprego,
a
condições
justas
e
favoráveis
de
trabalho
e
à
proteção
contra
o
desemprego.
2.
Toda
pessoa,
sem
qualquer
distinção,
tem
direito
a
igual
remuneração
por
igual
trabalho.
3.
Toda
pessoa
que
trabalhe
tem
direito
a
uma
remuneração
justa
e
satisfatória,
que
lhe
assegure,
assim
como
à
sua
família,
uma
existência
compatível
com
a
dignidade
humana,
e
a
que
se
acrescentarão,
se
necessário,
outros
meios
de
proteção
social.
4.
Toda
pessoa
tem
direito
a
organizar
sindicatos
e
neles
ingressar
para
proteção
de
seus
interesses.
Artigo XXIV
Toda
pessoa
tem
direito
a
repouso
e
lazer,
inclusive
a
limitação
razoável
das
horas
de
trabalho
e
férias
periódicas
remuneradas.
Artigo
XXV
1.
Toda
pessoa
tem
direito
a
um
padrão
de
vida
capaz
de
assegurar
a
si
e
a
sua
família
saúde
e
bem-‐estar,
inclusive
alimentação,
vestuário,
habitação,
cuidados
médicos
e
os
serviços
sociais
indispensáveis,
e
direito
à
segurança
em
caso
de
desemprego,
doença,
invalidez,
viuvez,
velhice
ou
outros
casos
de
perda
dos
meios
de
subsistência
fora
de
seu
controle.
Artigo XXVI
1.
Toda
pessoa
tem
direito
à
instrução.
A
instrução
será
gratuita
pelo
menos
nos
graus
elementares
e
fundamentais.
A
instrução
elementar
será
obrigatória.
A
instrução
técnico-‐profissional
será
acessível
a
todos,
bem
como
a
instrução
superior,
esta
baseada
no
mérito.
3.
Os
pais
têm
prioridade
de
direito
na
escolha
do
gênero
de
instrução
que
será
ministrada
a
seus
filhos.
Artigo
XXVII
1.
Toda
pessoa
tem
o
direito
de
participar
livremente
da
vida
cultural
da
comunidade,
de
fruir
as
artes
e
de
participar
do
processo
científico
e
de
seus
benefícios.
2.
Toda
pessoa
tem
direito
à
proteção
dos
interesses
morais
e
materiais
decorrentes
de
qualquer
produção
científica,
literária
ou
artística
da
qual
seja
autor.
Artigo XVIII
Toda
pessoa
tem
direito
a
uma
ordem
social
e
internacional
em
que
os
direitos
e
liberdades
estabelecidos
na
presente
Declaração
possam
ser
plenamente
realizados.
Artigo XXIV
1.
Toda
pessoa
tem
deveres
para
com
a
comunidade,
em
que
o
livre
e
pleno
desenvolvimento
de
sua
personalidade
é
possível.
Artigo XXX
Jusnaturalismo
Módulo
II
–
Conselhos
dos
Direitos
no
Brasil
Para
falar
de
igualdade
é
importante
pensar
sobre
a
instituição
das
categorias
para
criação
das
diferenças
e
o
uso
político
destas
para
o
exercício
do
poder.
A
diferença
compreendida
como
constituidora
da
diversidade
humana
é
bela,
enriquece
a
vida
humana
e
afirma
cada
ser
na
sua
singularidade.
Esse
modelo
passa
a
ser
o
centro
de
todos
os
discursos,
filosóficos,
religiosos,
médicos,
jurídicos,
científicos,
etc.,
reafirmando-‐o.
Nossa
forma
de
pensar
e
de
falar,
ou
seja,
nossa
linguagem
e
nosso
imaginário
foram
aos
poucos
construídos
em
torno
desse
centro,
desse
modelo
universal
de
humano.
Assim,
o
que
não
corresponde
a
ele,
rapidamente
foi
conduzido
à
condição
de
“outro”,
ou
seja,
desqualificado.
A
luta
por
direitos
humanos
trouxe,
por
um
lado,
uma
série
de
conquistas
destes
direitos
afirmados
em
nossa
legislação.
Entretanto,
a
conquista
destes
direitos
na
lei
não
foi
suficiente
para
alterar
a
realidade
de
discriminação
e
de
preconceito,
construída
historicamente
e
que
se
encontra
inserida
na
cultura
e
na
mentalidade
de
nossa
sociedade
e
presente
no
cotidiano
de
violações
destes
direitos.
Uma
pessoa
pode
ter
preconceito
com
relação
a
idosos
e
assim
mesmo
ceder
seu
lugar
no
ônibus,
em
função
da
pressão
social
ou
de
um
imperativo
legal.
Bem
como
uma
instituição
pode
não
ter
preconceito
com
relação
a
pessoas
com
necessidades
especiais
e
simplesmente
construir
uma
escola
sem
condições
de
acessibilidade
para
cadeirantes
aos
banheiros,
como
acontece
em
inúmeras
escolas
em
que
há
rampas
de
acesso
para
as
salas,
mas
não
é
possível
acesso
aos
banheiros.
É
necessário
agir
legalmente
diante
de
ações
discriminatórias
e
de
ações
coletivas
que
interfiram
nas
concepções
e
valores
das
pessoas.
As
últimas
décadas
do
século
XX
foram
marcadas
por
grandes
mobilizações
de
todos
os
segmentos
mais
atingidos
pelo
preconceito
e
discriminação.
A
bandeira
da
igualdade
e
o
reconhecimento
da
diversidade
como
direito
foi
a
principal
pauta
introduzida
pelo
conjunto
destes
movimentos
que
conquistaram,
já
na
Constituição
de
1988,
a
inclusão
de
alguns
artigos
para
a
garantia
desses
direitos
e
criação
de
mecanismos
de
exigibilidade
e
de
deliberação
e
controle
de
políticas
de
promoção
de
direitos.
A
criação
dos
conselhos
temáticos
de
direitos
e
de
políticas
sociais,
como
por
exemplo,
o
Conselho
Nacional
de
Combate
à
Discriminação
(CNDC),
o
Conselho
Nacional
de
Promoção
da
Igualdade
Racial
(CNPIR),
o
Conselho
Nacional
dos
Direitos
da
Mulher
(CNDM),
é
resultado
também
da
pressão
dos
movimentos
por
igualdade
de
direitos
e
combate
à
discriminação.
O
Conanda,
em
2005,
colocou
pela
primeira
vez
na
pauta
da
conferência
nacional
o
tema
específico
da
igualdade
e
diversidade.
Isto
significou
que
todo
o
País
foi
convidado
a
discutir
os
direitos
de
crianças
e
adolescentes,
considerando
o
direito
à
diferença.
Assim,
a
ação
dos
conselheiros
deve
ser
nos
dois
sentidos.
Diante
de
um
preconceito
praticado
pelos
indivíduos,
ou
na
prática
discriminatória
das
instituições,
tem
que
agir
legalmente.
A
violência
contra
os
fóruns
e/ou
focos
de
diversidades
leva
à
necessidade
de
atenção
especial
face
às
práticas
de
violência,
como
a
violência
doméstica,
a
homofobia,
pois
estas
situações
demandam
ações
de
promoção,
de
proteção
e
de
defesa
que
promovam/valorizem
a
igualdade
e,
ao
mesmo
tempo,
mantenham
e
reconheçam
as
diversidades.
As
violações
contra
os
direitos
humanos
geram
necessidades
de
programas
de
defesa
de
direitos,
e
serviços
como
delegacias
especializadas,
programas
que
respeitem
as
diferenças
diante
das
violações,
como
Brasil
sem
Homofobia,
as
Casa
Abrigo,
os
Centro
de
Referência,
entre
outros.
http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/cc/2/promocao.htm