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Somos uma organização sem fins lucrativos que iniciou sua jornada em 2015 com o objetivo
de aproximar jovens da ciência, por meio de atividades voltadas para a educação científica e a
aprendizagem baseada em projetos. Enxergamos a iniciação científica no ambiente escolar como
uma ferramenta para gerar desenvolvimento pessoal, científico e transformação social.

Nossa missão é levar a iniciação científica para dentro das escolas, despertando a
curiosidade e o potencial de estudantes e de seus professores. Assim, contribuímos para a
formação de pensamento crítico e para o desenvolvimento de habilidades e competências
essenciais para o século XXI.

Com o uso da tecnologia, nossas iniciativas são focadas em orientar, capacitar e desafiar
estudantes e professores para que criem projetos científicos centrados em problemas reais e
atuais, em qualquer área do conhecimento, e ampliem a cultura da pesquisa em suas escolas.

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
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2ª edição, revisada e lançada pela primeira vez de forma aberta em 2020. Porto Alegre/RS.

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Texto, revisão e diagramação: Kawoana Trautman Vianna, Mariana Ritter Rau e Barbara Alves Zolet.

Ícones: FlatIcon

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Querido professor, oriente nossos sonhos! ............................................................................... 5

Vamos alinhar nossas expectativas? ......................................................................................... 9

O que é alfabetização científica e para que serve ................................................................... 10

Afinal, por que ciência? .............................................................................................................. 12

A iniciação científica é uma forma de despertas as competências para o século XXI ....... 16

O que são os projetos científicos no ensino básico ............................................................... 20

Como implantar o ensino de projetos científicos na escola .................................................. 22

Provas de que fazer pesquisa transforma os jovens .............................................................. 28

Tríade dos bons projetos ........................................................................................................... 33

Aprendendo a convivência com alunos ................................................................................... 37

Estabeleça desafios ................................................................................................................... 43

O papel das feiras de ciências .................................................................................................. 46

O orientador ideal ....................................................................................................................... 51

9 Mitos sobre Iniciação Científica ............................................................................................ 54

Por que orientar projetos científicos no ensino básico? ........................................................ 59

Bibliografia .................................................................................................................................. 61

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“Se não morre aquele que escreve um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o
educador que semeia a vida e escreve na alma.”
Bertold Brecht

Abaixo você encontra a introdução da primeira edição do e-book, lançada em 2016, escrita
pela Kawoana Vianna, fundadora do Cientista Beta. A mensagem segue verdadeira até hoje.

Quando jovens querem se aventurar no mundo da ciência e decidem fazer um projeto de


pesquisa, é preciso mais do que apenas um sonhador e o seu sonho. Uma peça é essencial: um
professor que aceite ser o orientador desse jovem. Ele não precisa ser cheio de títulos e
diplomas, mas deve encontrar tempo, empenho e dedicação para catalisar uma transformação.

Em 2009, eu e duas colegas do ensino médio decidimos criar um curativo com


nanopartículas, capaz de reduzir chances de infecções e de acelerar a cicatrização. Esse era nosso
3o projeto, havíamos começado anos antes com projetos mais simples. A ideia surgiu de uma
experiência pessoal bastante marcante, o processo de amputação da minha avó. A ideia de poder
fazer uma pesquisa nesse assunto nos animava bastante. Porém, havia um problema: na nossa
escola, ninguém entendia do assunto e nós precisávamos de um professor orientador.

Começamos a buscar por possíveis nomes em livros de nanotecnologia e encontramos o


nome da professora Sílvia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela orientava alunos de
mestrado e doutorado e seria a orientadora perfeita, pois já trabalhava com projetos que alinhavam
nanotecnologia e saúde. Conseguimos marcar uma reunião com a Sílvia e explicamos nossa ideia
de projeto, ela ficou curiosa e quis saber mais e mais. Depois de algumas horas conversando, a
resposta veio: “Vocês podem usar meu laboratório e eu vou ajudar em tudo o que for preciso!”. Para
ela, era algo inédito orientar alunas de ensino médio, e para nós, era algo incrível sermos orientadas
por ela!

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É difícil descrever a sensação que temos ao encontrar um professor que acredite na nossa
ideia e aceite nos orientar em nossas pesquisas. Quando alguém mais experiente nos diz que
embarca na nossa viagem de cientista, isso nos traz a segurança de que precisamos para alçar
grandes voos. É como aquela criança que está com medo de brincar, olha para a mãe e, ao ouvir um
“pode ir, eu estou aqui cuidando de você”, sente a coragem para explorar o mundo, sabendo que
está sendo vigiada por um olhar protetor.

Nunca quisemos que a Sílvia fizesse nosso trabalho: éramos nós que trazíamos as ideias,
escrevíamos nossos planos, fazíamos os testes no laboratório. Sempre discutíamos tudo com ela,
e sua sabedoria e experiência nos proporcionavam ricas conversas e aprendizados. Nos momentos
de desespero, ela nos tranquilizava e nos ajudava a encontrar motivação para continuar, assim
como os bons orientadores fazem.

Porém, a Sílvia era bastante ocupada, e acabamos nos aproximando muito da Ana Luiza, na
época aluna de doutorado orientada pela Sílvia. A Ana conseguia estar mais presente, nos ensinava
muito sobre a rotina do laboratório e virou nossa coorientadora. Hoje, é uma grande amiga!

Houve outros professores que também foram extremamente importantes na minha jornada
científica, como as professoras Dalva, Carla e Solange. A Dalva nos ensinou sobre metodologia
científica e nos orientou em nosso projeto do 2o ano, um herbicida com folhas de eucalipto. A Carla
era nossa professora de Microbiologia e era um tanto mãe de todos os alunos do Curso Técnico em
Química da Fundação Liberato (NH-RS), onde estudávamos. A Solange era quem cuidava da gente
na preparação para as feiras internacionais. Todas, da sua maneira, foram essenciais.

Ouço histórias de professores apaixonados por seu trabalho, que fazem uma jornada dupla
para que consigam orientar jovens sonhadores cientistas. Esses professores são um tanto heróis.
Eles sabem que não queremos que façam o projeto em nosso lugar: queremos conselhos, apoio e
orientação nessa busca pelo saber. Queremos que nos digam onde podemos melhorar, exijam mais
da gente, transmitam sua sabedoria e nos instiguem a redefinir nossos limites. Esperamos que
você, professor, nos diga que podemos nos jogar de cabeça em nossos projetos, pois quando algo
der errado, você estará ao nosso lado, nos apoiando.

Professores, vocês são capazes de mudar o mundo! Ao orientar um aluno que desenvolve
um projeto científico, você mostra na prática como é sonhar grande, ter metas, determinação e
resiliência. Nossos mestres tornam-se eternos à medida que catalisam nossa transformação, e
transmitem a certeza de que podemos ser melhores.

Esse livro está sendo escrito para inspirar e ajudar diversos professores espalhados pelo
Brasil. Não tenho uma formação em pedagogia, não sou professora. Sou uma estudante que sentiu

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sua vida mudar por ter encontrado mestres que apoiaram meus sonhos. É por isso que aqui escrevo,
para que você possa despertar o mesmo em seus alunos. Para que você possa vivenciar o poder
transformador da ciência.

Kawoana Vianna, autora primeira edição 2016

Cá estamos, em 2020. O que mudou até aqui?

Entre os anos de 2016 e 2019 criamos e conduzimos um Programa de Iniciação Científica


chamado Decola Beta, com foco em mentoria e jovens cientistas que iniciavam o desenvolvimento
das suas pesquisas e buscavam um apoio a mais. O programa aconteceu on-line, imerso em uma
rede de pessoas que atuavam como mentores de jovens cientistas e acreditam no poder da ciência,
fortalecendo esse ecossistema de pesquisa em todas as regiões do país.

No primeiro ano do Programa, os estudantes faziam a sua inscrição independente de ter ou


não um professor orientador. Com base em observações, nos anos seguintes passamos a exigir
que esses estudantes já fossem atrás de um orientador no momento da inscrição. Entendemos que
todo o apoio que oferecemos fazia mais sentido e podia ser melhor aproveitado quando o jovem
cientista possui um apoio local, presencial, por meio do olhar incentivador de um professor. Com
isso, atingimos diversos professores que sequer conheciam a possibilidade de desenvolver um
projeto científico ainda na escola. Estes, corajosos, embarcaram na aventura de conhecer esse
universo juntamente com seus orientandos.

A partir de todo o aprendizado que colhemos com o Programa de Iniciação Científica voltado
para estudantes, percebemos que podíamos ir mais além. Estávamos prontas para dar um novo
passo. A certeza veio no final de 2018, quando recebemos o apoio do edital de divulgação científica
do Instituto Serrapilheira para conduzir um programa semi-presencial de ensino de iniciação
científica, voltado para a capacitação de professores orientadores no ensino básico. Era uma forma
de tornar nosso impacto na educação científica mais escalável, permitindo que qualquer professor
capacitado pudesse acompanhar diversos estudantes, ao longo de vários anos que viriam pela
frente.

O Programa de Ensino de Iniciação Científica Decola Beta Professores andou por 7 estados
de todas as regiões do país. Lá conhecemos professores de formações, realidades e origens muito
distintas, mas com anseios, dúvidas e propósitos semelhantes. O Programa nos permitiu conhecer
a educação básica e o universo das pesquisas científicas a partir de um novo lugar. A partir de um

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outro olhar: o dos professores. Estes que nem sempre carregavam certezas ou verdades absolutas,
que também sentiam inseguranças, mas que por alguma razão seguiam conectados a esse
propósito de ir além do mínimo e se desafiar a embarcar na orientação de projetos. Muitas vezes
aprendendo com os seus alunos.

Nós somos todos Beta. E ao longo de 2019, nesse novo ciclo de aprendizado como
organização, pudemos ter a certeza de que existem professores em todo o país que também estão
em busca da sua melhor versão. É para todos eles, e é para você, que escrevemos esta segunda
edição, que carrega os aprendizados e as vivências que tivemos ao conhecer educadores incríveis
de todo o país.

Mariana Rau, revisão da edição 2020

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Complete as lacunas seguintes:

Eu decidi buscar esse livro porque


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_________________________________________________________________________________.

Aqui dentro, espero encontrar


_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________,

para que eu possa


_________________________________________________________________________________.

Seria incrível se, após essa leitura,

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_________________________________________________________________________________.

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A alfabetização científica é definida por um de seus estudiosos, o brasileiro Attico Chassot,
como saber ler a linguagem em que está escrita a natureza, o universo. Para ele, a ciência é uma
linguagem, construída pelos seres humanos para explicar o nosso mundo natural. Ele ainda
acrescenta:

“Seria desejável que os alfabetizados cientificamente não apenas tivessem facilitada a leitura do
mundo em que vivem, mas entendessem as necessidades de transformá-lo – e, preferencialmente,
transformá-lo em algo melhor. ”

Nesse sentido, o analfabeto seria alguém que vê o mundo, mas não o compreende. Os
alfabetizados conseguem enxergar, compreender, questionar e ter a capacidade de modificar seu
entorno.

A leitura de mundo pela linguagem da ciência não deve ser exclusiva de cientistas
profissionais. Compreender o mundo dá poder para atuar de forma ativa, não como um mero
espectador. Para afirmar a importância da alfabetização científica, um dos maiores
cientistas da atualidade, Neil deGrasse Tyson diz:

"Quando você é uma criança, você nasce cientista. [...] As crianças estão explorando seu mundo
pela experimentação. Isso é o que nós fazemos como seres humanos. [...] O objetivo aqui não é
transformar todos em cientistas. Que mundo chato seria esse. Nós queremos artistas, músicos,
romancistas, poetas. Queremos tudo isso. O que importa é que estejam alfabetizados
cientificamente e que mantenham essa alfabetização e essa curiosidade ao longo da vida. As
pessoas acham que alfabetização científica é ser capaz de recitar fatos. E não é isso. É parte disso,
mas não é a parte principal. A parte principal é: como você olha para o mundo? Como é o mundo
através de seus olhos? E se você é alfabetizado cientificamente, enxerga o mundo de forma
diferente. E essa compreensão lhe dá poder."

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A alfabetização científica na escola passa por questionamentos, exploração,
experimentação, hipóteses, conclusões. É algo muito mais divertido do que um professor na frente
de uma turma de estudantes, explicando como ocorre a fotossíntese. A alfabetização não é
aprender e decorar como as coisas funcionam, mas experimentar, tirar as próprias conclusões. Nós,
do Cientista Beta, acreditamos que a alfabetização científica é poderosa e pode ser construída por
meio do desenvolvimento de projetos científicos por estudantes ainda em fase escolar.

Não dá para fazer alfabetização científica sem entender melhor o conceito de


ciência. Para darmos o pontapé inicial, indicamos a leitura do artigo “Para uma imagem
não deformada do trabalho científico”, discutido no vídeo “O Que é Ciência?”. No artigo, o
autor discute o que não é ciência, e como até mesmo as pessoas dentro do ambiente
acadêmico podem ter uma visão distorcida da ciência.

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A grande questão humana é entender qual o sentido da vida. Em paralelo, acho que a questão
que perturba os estudantes é entender qual o sentido da escola. Precisamos dar mais sentido à
escola e entender que, no século XXI, o aprendizado ocorre também fora da sala de aula. É fora da
escola que encontramos problemas urgentes que precisam ser resolvidos e não problemas fictícios
cuja resolução nos prepara para provas. O conhecimento fora do ambiente escolar é abundante e
disponível nos mais diversos canais. A habilidade de filtrar e interpretar de forma crítica essas
informações se tornou mais importante do que carregar saberes prontos. A escola tem que se
aproximar do que vai além de seus muros, proporcionar aos estudantes que mergulhem mais no
mundo, acompanhados por professores que possam guiar suas descobertas e orientar seu
aprendizado.

Talvez você tenha chegado aqui querendo buscar um imenso COMO. Como engajar alunos
a gostarem de ciência? Como auxiliar os jovens a fazerem um projeto científico? Como melhorar o
rendimento escolar?

Antes precisamos falar sobre o PORQUÊ. Nossa vida escolar já está cheia de COMOS E O
QUÊS. Todos os dias os professores ensinam COMO fazer cálculos, COMO escrever uma redação,
COMO ocorreu a Revolução Francesa. Por isso, é comum que os estudantes se perguntem: “POR
QUE eu preciso aprender isso? Aposto que isso nunca será útil na minha vida”. E certamente, o único
PORQUÊ que eles recebem é a famosa resposta “isso cai no vestibular”. Pensamos um pouco
diferente disso.

A escola convencional está ultrapassada e há talentos sendo subaproveitados nesse ambiente.


Faltam desafios, falta propósito, falta protagonismo. A educação é muito mais prazerosa e efetiva,
quando nos conectamos com o PORQUÊ das coisas. É por isso, que precisamos começar pelos
muitos PORQUÊS de promover a iniciação científica. As razões pelas quais acreditamos que a
ciência é transformadora que a alfabetização científica como ferramenta de transformação pode
ser algo revolucionário.

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Alguém tempo atrás, li o livro Start With Why (Comece com o Porquê) do Simon Sinek. Ele
defende que os grandes líderes inspiram as pessoas a agir deixando claro o porquê, a causa pela
qual lutam, quais são suas motivações. E que se queremos convencer alguém a contribuir de
alguma forma conosco, é mais efetivo nos comunicarmos pelo propósito que existe por trás de algo
do que pela ação em si. O mesmo vale para vender algum produto. Ele argumenta que as empresas
mais bem-sucedidas deixam claro qual é a razão pela qual existem, e não o produto que oferecem.

Somos motivados por causas, todos queremos deixar um legado a ponto de tornar nossa
realidade melhor e viver uma vida com mais propósito. Nunca vi alguém que tenha escolhido a
carreira de educador apenas pelo salário, ou para poder passar o dia falando em uma sala de aula.
Essa geralmente é uma escolha motivada por um propósito de vida.

É a vontade de se superar que faz com que a tenista Serena Williams seja
considerada uma das maiores atletas de todos os tempos. Certamente, não é a vontade
simples de mover suas pernas e queimar algumas calorias. Se você perguntar o porquê de ela
treinar todos os dias, ela sabe dizer que quer buscar estar entre os grandes, inspirar as crianças e
as meninas. Há algo maior do que simplesmente jogar tênis, algo maior do que um troféu em si.

É claro que apenas motivação não basta, é preciso que ela seja
transformada em ação. A maneira de manter as pessoas engajadas
em uma ação é deixando claro qual é o propósito dela. Não é O QUÊ.
Não é COMO. É o PORQUÊ. Assim, vejo os projetos científicos. Eles
são apenas um O QUÊ, para o qual há vários COMOS. O Círculo
Dourado, criado pelo Simon Sinek é uma representação dessa ideia.
No centro está o PORQUÊ, que e a parte mais importante. Só depois,
fala-se no COMO e no O QUÊ.

Por acreditar nisso, preciso lhe contar porque o Cientista Beta


existe: para causar transformação social e desenvolvimento humano
por meio da ciência. Esse é o nosso propósito. É essa a razão pela qual tanta gente acredita no que
estamos fazendo. E quando você sabe o porquê existe, não tem medo de mudar a rota. Não é a
divulgação científica que nos define, nem os guias que publicamos, nem nossos programas de
iniciação científica: o que nos define é a vontade de mudar o mundo pela ciência.

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Vamos começar pelo Círculo Dourado da iniciação científica:

Ao se apropriar da ciência e sentir-se capaz de desenvolver um projeto científico em uma


área que seja do seu interesse, os estudantes desenvolvem protagonismo, proatividade,
responsabilidade com o mundo em que vivem. Todo jovem que se proponha a resolver um problema
real por meio da ciência redefine seus limites e passa a estar mais capacitado a ser um agente de
transformação, pronto para enfrentar os problemas do mundo contemporâneo. Além disso, aprende
a se comunicar melhor, trabalhar em equipe, desenvolve disciplina e pensamento crítico, dentre
muitos outros benefícios.

O processo consiste em encontrar um assunto que seja do interesse do aluno, iniciar uma
conexão a um professor orientador, utilizar os espaços da escola e institutos de pesquisa, interagir
e aprender nas feiras de ciências. A experiência é cheia de altos e baixos, desafios, dúvidas,
inseguranças. Não há uma resposta prévia, sabemos de onde partimos, mas não há como prever
com precisão onde iremos chegar. É por isso, que a essa vivência é tão significativa e proporciona
tanto crescimento, porque tira o estudante de sua zona de conforto, coloca o estudante para
experimentar uma forma ativa de aprendizado.

O resultado é o desenvolvimento de um projeto científico. Além disso, muitas vezes o


estudante conquista prêmios, reconhecimentos e até mesmo bolsas em universidades.

Não queremos apenas que os jovens façam pesquisas científicas, queremos que eles e seus
professores saibam PORQUE as fazem. Às vezes, enquanto está nessa jornada, o estudante não
consegue mensurar tudo que está por trás dessa experiência. Cabe ao professor compreender as
razões pelas quais a iniciação científica pode ser tão relevante. É o professor que precisa ter claro
que desenvolver uma pesquisa vai muito além de COMO fazê-la. A base está na motivação de querer
preparar o jovem para o mundo, para que ele possa ser protagonista de sua história, um agente de
transformação, utilizar ao máximo seu potencial.

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É por isso, que nosso objetivo com o Cientista Beta nunca foi formar uma legião de
cientistas, mas sim, utilizar o poder transformador da ciência para cultivar uma legião de pessoas
habilitadas e dispostas para mudar o mundo. A pesquisa científica é apenas O QUÊ nós queremos
ver os jovens fazendo. O porquê disso você já deve ter compreendido.

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Não vivemos uma era de mudanças. Vivemos uma mudança de era.

Você já ouviu falar no mundo VUCA? VUCA é um acrônimo para Volátil, Incerto,
Complexo e Ambíguo. É muito utilizado atualmente para descrever a sociedade
contemporânea e as suas questões. A todo o momento nos deparamos com situações voláteis,
inseridas num cenário incerto, amarradas a uma rede complexa, sobre a qual paira a ambiguidade
de informações.

Nessa nova era, os desafios do mundo estão cada vez mais complexos de serem resolvidos.
Nosso modelo de educação não acompanhou a evolução desses desafios. A escola tradicional já
não prepara mais o aluno para que ele resolva os problemas que enfrentará no mundo profissional,
e muito menos para que ele lide com suas emoções e com o fracasso, por exemplo.

Um possível solução é repensar o ensino a partir das “competências para o século XXI” que
são um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, que vão muito além do
aprendizado convencional presente nas disciplinas escolares. Para definir quais são as
competências, o National Research Council (EUA) fez um extenso estudo, que acabou por
resultando no livro digital “Educação para a Vida e para o Trabalho: Desenvolvendo
Transferência de Conhecimento e Habilidades do Século XXI”. De uma forma simplificada,
é possível definir as competências em 4Cs: Comunicacão, Colaboracão, Criatividade e pensamento
Crítico.

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E como a escola pode preparar os estudantes para lidar com temas como sucesso e
fracasso, emoções, depressão, ansiedade? Para isso, há as “habilidades socioemocionais”, que se
dividem em:

1) ABERTURA A NOVAS EXPERIÊNCIAS - que mostra quando o jovem está aberto a novas
experiências estéticas, culturais e intelectuais, pois isso torna-o mais imaginativo, artístico,
excitável, curioso e com amplos interesses;

2) CONSCIÊNCIA - que resume habilidades como eficiência, organização autonomia, disciplina, e


não impulsividade;

3) EXTROVERSÃO - que engloba habilidades como amigabilidade, sociabilidade, autoconfiança e


entusiasmo;

4) AMABILIDADE - que é a tendência a agir com amor e cooperação - tolerância, modéstia, altruísmo
e objetivo;

5) ESTABILIDADE EMOCIONAL - saber lidar com suas emoções - preocupação, irritação, entre
outras.

Sabemos que o jovem, ao escolher um assunto de seu interesse e conduzir uma pesquisa,
desenvolve fortemente esses grupos de habilidades, inconscientemente. Com um
acompanhamento consciente promovido pelo orientador, o desenvolvimento essas habilidades
podem ser ainda mais potencializado.

Um grupo de pesquisadores da UFRGS, no trabalho “Arquiteturas Pedagógicas para


Educação a Distância: Concepções e Suporte Telemático”, fala sobre o papel das interações
em rede para a educação mediada por tecnologia no mundo contemporâneo, e sobre a importância
de pensarmos numa Pedagogia da Incerteza.

“Partimos do pressuposto que o conhecimento não está assentado nas certezas, como propõe a
ciência mecanicista, mas sim nasce do movimento, da dúvida, da incerteza, da necessidade da
busca de novas alternativas, do debate, da troca.”

Segundo eles, educar para a incerteza implica em:

Educar para a busca de soluções de problemas “reais” - (...) discutir e solucionar problemas
que tenham significado para os sujeitos, que os aproximem da realidade. A incerteza, as

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contradições, a indeterminação não são resíduos a serem eliminados, mas elementos constituintes
do processo.

Educar para transformar informações em conhecimento - se conhecer implica em


interpretar, relacionar e comparar informações, não será suficiente oferecer aos sujeitos um
ambiente rico em informações, mas sim proporcionar situações que privilegiem a busca de
informações e interações significativas para a construção de conhecimento articulado, capaz de
romper com os limites disciplinares.

Educar para a autoria, a expressão, a interlocução - as atividades de autoria e expressão,


definidas pelo próprio sujeito, permitem que esse possa construir e reinventar seus projetos para
receber e para responder a desafios, para manifestar seu mundo interior (...).

Educar para a investigação, para a criação de novidades - se o conhecimento pode ser


compreendido, conforme Piaget (1985) como um processo de criação de novidades, de
descobertas e invenções, uma educação para a incerteza deverá apoiar a atitude investigativa,
permitindo que os sujeitos realizem experimentações, simulações em busca de soluções para
questões significativas do ponto de vista do sujeito. Essas experimentações, contudo, implicam em
um interjogo dos recursos internos do sujeito (recursos esses tanto afetivos quanto cognitivos,
estéticos, éticos etc.) com os objetos do ambiente, com os materiais disponíveis, com as interações
com outros sujeitos, etc.

Educar para a autonomia e a cooperação - a autonomia intelectual implica na palavra ou


ação própria, liberando o pensamento do que a tradição ou as ideologias procuram impor. Na
educação para a autonomia e a cooperação, as situações de aprendizagem buscarão ativar a
discussão de pontos de vista divergentes, em detrimento da pura repetição de idéias e crenças,
porém auto-subordinados às regras do respeito mútuo e da cooperação.

Ao longo do desenvolvimento de um projeto científico, os estudantes têm a oportunidade de


se deparar com situações em que os 5 pontos acima estão presentes.

Os alunos se motivam a criar um projeto para resolver uma dor real, que eles veem ao seu
redor ou que eles mesmos sofrem. Para tornar uma ideia de projeto realidade, precisam a todo o
tempo transformar informações em conhecimento, por meio de um filtro crítico que os permita criar
de fato uma solução. Solução esta de autoria do estudante, que simboliza a expressão do seu
anseio por uma realidade que seja diferente. A investigação e a criação de novidades é por si só o
pano de fundo em que todo o projeto acontece. E por fim, ninguém chega longe com um projeto

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sozinho: desenvolver uma pesquisa coloca os estudantes frente a desafios pessoais muito fortes,
incentivando o desenvolvimento de autonomia, e ao mesmo tempo da capacidade de pedir ajuda e
colaborar com outras pessoas para ser capaz de chegar mais longe.

Estamos certos de que educar para um mundo em transformação e de incertezas é educar


pela pesquisa.

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Quando falamos em alfabetização científica, é natural que professores pensem em feiras de
ciências com vulcões e maquetes. Claro que há valor nesse tipo de atividade, mas elas são a
reprodução do conhecimento e não sua construção/exploração.

Projetos científicos feitos por jovens estudantes têm a mesma lógica daqueles projetos que
vemos na universidade: seguem o método científico e contam com a realização de experimentos,
coleta de dados ou pesquisas bibliográficas para responder questões ou resolver problemas. Cada
um na sua proporção de complexidade, de acordo com o contexto em que se está.

Não há motivos para subestimar o potencial dos jovens enquanto cientistas. Não é o
conhecimento adquirido na graduação que torna adultos aptos ao fazer científico, e sim, as
oportunidades que eles recebem no ambiente acadêmico. Eles aprendem fazendo. Justamente por
isso, jovens não precisam de uma bagagem de conhecimento preestabelecida para serem
cientistas. Precisam da oportunidade para exercer esse papel!

Os projetos científicos do ensino médio (e até mesmo o ensino fundamental) são


desenvolvidos contando com o protagonismo dos estudantes, que tomam a frente das pesquisas.
O sucesso está no bom uso do método científico combinado a ideias mais originais do que uma
maquete de um vulcão com fumaça.

Confira alguns vídeos e textos:

O líder, o discurso e a comunidade: Um olhar sobre a localidade rural de Aroeira Vilany e o


participar nas lutas sociais (Ariele e Leila)

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Utilização de nanopartículas na adsorção de petróleo derramado (Ana Carolina e Junia)

Relieve to live: dispositivo para redução das dores causadas pela fibromialgia (Bruna Land)

Embalagem biodegradável para substituir bandejas de isopor, feita do bagaço da cana de


açúcar (Sayuri Magnabosco)

Aceleração do processo de recuperação de áreas antropicamente degradadas com plantas


da espécie Catteya intermedia (Arthur Sulzbach)

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Se você chegou até aqui sem pular as dezenas de páginas anteriores, certamente você já foi
apresentado a diversas razões para levar a iniciação científica para sua escola. Agora, vamos ajudá-
lo com mais informações sobre como colocar isso tudo em prática.

Primeiro, vamos falar sobre o método científico e suas etapas, por onde os estudantes
devem começar um projeto científico, como se programar para o desenvolvimento do projeto, feiras
de ciências, mitos e verdades.

O método científico, também conhecido como processo científico, é um conjunto de regras


e normas seguidos no desenvolvimento de uma pesquisa. São as etapas que todo cientista,
profissional ou não, realiza para chegar a uma conclusão sobre um determinado fato ou problema.

Antes de entrar mais a fundo nas etapas do método científico, devemos fazer distinção entre
este e o método de engenharia. Enquanto o primeiro existe para responder a uma hipótese, o
método de engenharia costuma ser utilizado para criar coisas novas, que podem resolver problemas
do mundo real ou gerar inovação. Como os objetivos são diferentes, as etapas do processo têm
algumas diferenças também. No universo dos projetos de pesquisa, essa divisão nem sempre é
clara, e, muitas vezes, os dois métodos se misturam. Sugiro a leitura de dois textos curtos que fazem
essa diferenciação.

Metodologia Científica

Metodologia de Engenharia

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O cientista começa pela observação, encontra um problema, cria uma hipótese, planeja uma
forma de testar essa hipótese, e então geralmente faz algum tipo de teste, por meio do qual obtém
resultados que o levam a uma conclusão.

A observação é sempre a etapa inicial de uma pesquisa. É nela que resgatamos o olhar
curioso de uma criança. A observação, muitas vezes, pode surgir da leitura de uma notícia, de uma
situação cotidiana ou de um problema observado. É a observação que leva à criação do problema
da pesquisa. Essa é uma fase bastante difícil para muitos jovens cientistas. Eles afirmam “não ter
uma ideia de pesquisa”. Isso acontece porque instintivamente muitos alunos tendem a começar a
pensar em uma solução, antes de pensar em um problema. Naturalmente, ter uma ideia original e
revolucionária para uma pesquisa é mais difícil do que numerar problemas e dores que o estudante
enxerga ao seu redor. Em uma simples caminhada pela cidade, podemos visualizar diversas
questões que poderiam ser diferentes e que incomodam qualquer estudante. Incentive seus alunos
a se conectarem primeiro com algum problema, para depois imaginar prováveis soluções.

Um projeto científico deve surgir de um interesse genuíno do estudante pelo tema. O


professor pode sugerir leituras e assuntos, mas não deve jamais determinar em qual deles o
estudante deve desenvolver um projeto. Não tem jeito: um estudante que não escolhe um assunto
que faça seu coração bater mais forte terá seu potencial subutilizado.

Fábio Ribeiro Mendes, autor do livro Iniciação Científica para Jovens Pesquisadores, relata
que há três possibilidades na hora de escolher o tema, cada um com vantagens e desvantagens.

A primeira, é o estudante escolher um tema livre, que seja do seu interesse. A vantagem é
que dessa forma o estudante já começa a pesquisa motivado, e a desvantagem é que corre o risco
de seu professor orientador não estar familiarizado com o tema.

A segunda opção, é o professor oferecer um leque de temas sobre os quais ele já tem
conhecimento suficiente para orientar o estudante. A vantagem é justamente que ao conhecer o
tema, o professor poderá oferecer uma orientação tecnicamente melhor. A desvantagem é que o
estudante pode demorar para encontrar uma identificação genuína ao tema da pesquisa. Fábio,
porém, alerta que à medida que o estudante conduz o projeto, vai adquirindo mais conhecimento
no tema e passa a sentir-se motivado.

Já a terceira possibilidade é um meio termo entre as anteriores: professor e estudante


encontrarem juntos um tema, o que segundo o autor, parece ser o mais interessante.

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Quando trabalhamos com o ensino médio, é comum que os professores orientadores não
tenham experiência em pesquisa nos temas escolhidos por seus alunos. O professor das escolas
convencionais não tem uma linha de pesquisa como dentro da universidade, permitindo ao
estudante maior liberdade na escolha de seu tema de pesquisa, e uma atuação mais protagonista
no desenvolvimento do projeto.

O fato é que, nessa etapa, professor e aluno estão à frente de um universo de dúvidas e
possibilidades, para o qual nenhum deles tem a resposta. Juntos, poderão buscá-la. O essencial é
que o professor entenda sobre metodologia científica e, então, está apto a orientar um jovem
cientista independente do problema de pesquisa que ele escolher.

Para que surja uma ideia de pesquisa, não basta simplesmente o estudante observar a
realidade que o cerca até que encontre um problema. Isso gera uma ansiedade desnecessária e
para alguns é o ponto em que desistem de ingressar na jornada. E uma boa ideia de pesquisa não
é necessariamente algo complexo. A qualidade dos projetos está relacionada com a boa execução
e com o uso correto do método científico, não sendo uma função da complexidade do assunto
pesquisado.

Para ajudar o professor a guiar o estudante na busca de um problema de pesquisa, segue


um roteiro de perguntas que podem ser feitas aos estudantes!

PERGUNTAS PARA ENCONTRAR UMA IDEIA DE PESQUISA

• Pense nas atividades que você costuma fazer na hora de lazer. Há algum problema que você
percebe enquanto faz essas atividades?
• Há alguma questão/problema sobre o qual você tem pensando ultimamente? Pode ser a
poluição atmosférica, transporte público, a fila do SUS, etc.
• Alguém que você conhece está passando por um problema que te marcou de alguma
forma?
• Há algum problema no local em que você mora, na sua cidade ou perto de sua escola, que
te atinge direta ou indiretamente?
• Existe algum assunto que você andou estudando na escola e que te despertou vontade de
se aprofundar para saber mais?

Talvez o estudante não tenha respostas para todas as perguntas, de imediato. Então, uma
possibilidade é deixar as perguntas com ele e dar a missão de trazê-las respondidas dentro de uma
semana. Ao final desse período, estudantes e professor podem trocar ideias sobre as observações
feitas pelos estudantes. A partir disso, juntos, vocês podem definir o tema.

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DELIMITANDO O TEMA

Inicialmente, o tema indicado pode ser bastante abrangente. Tal qual fazer uma pesquisa
sobre câncer, futebol ou educação. Este é o primeiro passo. Dentro dessas áreas, é preciso que o
estudante encontre um foco no qual trabalhar. Por exemplo, pode ser estudar as propriedades
antitumorais de uma determinada planta, avaliar o impacto da prática de futebol na autoestima de
estudantes, ou uma nova forma de ensino da matemática com o uso de desenhos animados. Para
que o estudante delimite o escopo de seu projeto, é necessário que tenha mais informações sobre
o problema inicial. Então, é preciso partir para a pesquisa bibliográfica, sobre a qual falaremos logo
mais.

ESCREVENDO O PROBLEMA (PERGUNTA NORTEADORA)

O problema de pesquisa deve ser escrito na forma de uma pergunta norteadora. A execução
da pesquisa deve servir para responder a essa pergunta, sendo justamente por isso que dizemos
que essa pergunta dá o norte à pesquisa.

É a etapa na qual se busca o conhecimento que já existe sobre o tema da pesquisa, que foi
construído por outros cientistas, para entender bem o problema da pesquisa. Nos projetos que
visam propor uma solução para um problema real, é nessa etapa que se busca conhecer todas as
soluções já propostas, pois isso evita que alguém crie algo que já existe ou resolva um problema
que já tem solução. É com base no conhecimento prévio que avançamos, e uma pesquisa
bibliográfica bem feita evita que o cientista reinvente a roda.

Para realizar uma boa pesquisa bibliográfica, é necessário que o estudante passe a se
familiarizar com fontes confiáveis. Para encontrar um tema de pesquisa, ele até pode utilizar sites
de notícias. Na etapa seguinte é preciso que comece a buscar livros e artigos científicos. É
fundamental que o professor orientador não pressuponha que o estudante saiba utilizar sites de
busca ou interpretar artigos. A recomendação é acompanhar o jovem cientista em um tour pelos
sites de busca aos quais ele pode ter acesso e realizar a leitura dos primeiros artigos em conjunto.

Os estudantes registram um resumo de cada fonte de leitura no seu diário de bordo, em


fichas de leitura, que contém a referência bibliográfica, data da leitura e resumo dos tópicos mais
importantes encontrados no texto. Essas fichas de leitura são muito úteis para consultas
posteriores.

25
Depois de fazer a revisão bibliográfica, cria-se uma hipótese, que deve ser justificada no
conhecimento teórico.

A hipótese é a resposta à pergunta norteadora, sendo uma espécie de palpite (bem


embasado) sobre o que o cientista pressupõe encontrar ao final de sua pesquisa. As hipóteses
podem se mostrar verdadeiras ou falsas, e é preciso partir para a experimentação para responder
essa questão. Note que a hipótese responde à pergunta previamente, mas é a experimentação que
confere a certeza da veracidade dessa hipótese. Para que o estudante crie sua hipótese de
pesquisa, é preciso que esteja bem embasado na literatura científica, e isso reforça a importância
de uma boa pesquisa bibliográfica antes de qualquer fase experimental.

Entre a hipótese e a experimentação, há o planejamento da pesquisa, por meio da escrita de


um Plano de Pesquisa. [Dica Beta: confira o Guia do Cientista Beta sobre como fazer um Plano de
Pesquisa!]. Depois de ter uma hipótese, o cientista estuda métodos já existentes para responder
sua pergunta de pesquisa. Ele pode seguir uma técnica já utilizada em trabalhos semelhantes ou
desenvolver alguma nova. A experimentação deve ser planejada com o foco em testar a veracidade
da hipótese.

Os resultados são obtidos ao analisar os dados coletados na experimentação. É preciso que


eles sejam avaliados da forma mais correta possível, para evitar interpretações erradas, e depois
descritos de maneira objetiva, ilustrando os achados da pesquisa.

A conclusão é aquilo que se pode constatar com base nos resultados encontrados. Na
conclusão, interpretamos os resultados, mas não devemos fazer isso de acordo com a nossa
opinião, e sim de acordo com o que podemos afirmar baseado nos dados obtidos. A conclusão deve
responder se a hipótese inicialmente estabelecida mostrou-se verdadeira ou não.

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A ciência sempre tem novas questões a serem respondidas, e dificilmente os resultados
esperados são encontrados na primeira tentativa. Afinal, quando iniciamos uma pesquisa, temos
ideias e hipóteses. Não temos como saber os resultados que virão, já que se pressupõe que a
pesquisa sirva justamente para trazer respostas que ainda não temos. É normal que, ao fazer um
projeto de pesquisa, se obtenha resultados diferentes do que se previa em hipótese. Quando isso
acontece é necessário voltar alguns passos, estudar mais o assunto, mudar a metodologia e tentar
mais uma vez.

Contam que Thomas Edison conseguiu criar a lâmpada elétrica após dez mil tentativas. Essa
é a prova de que atingir bons resultados requer muito esforço. Os “fracassos” são relativos, pois
trazem novas hipóteses e aprendizados, estimulando a resiliência do cientista. Talvez por isso a
iniciação científica ensine tanto aos jovens.

Assista este TED Talk do pesquisador Uri Alon, com o título “Porque

a ciência inovadora exige um mergulho no desconhecido”

27
Como você percebeu no texto que abriu esse livro, eu sou alguém que teve a oportunidade
de desenvolver projetos científicos ao longo do ensino médio e técnico. Percebi que essa
experiência havia me transformado e eu sentia uma imensa gratidão pelas pessoas que me deram
essa oportunidade: meus professores.

Em 2015, há havia passado 4 anos desde que me desliguei do universo da ciência pré-
universitária, mas essa experiência ainda reverberava na minha vida e abria muitas portas. Fazer
pesquisa havia me transformado numa versão melhor de mim mesma e eu carrega isso onde quer
que fosse. Então, era a hora de aflorar novamente meu espírito investigativo e avaliar se meus pares
também sentiam o mesmo: que algo mudou depois de ter feito pesquisa.

Coletei depoimentos de dezenas de jovens que haviam desenvolvido projetos científicos.


Ao ler o que eles haviam escrito, fiquei arrepiada. Era exatamente assim que eu me sentia! Se o que
todos nós tínhamos em comum a experiência de ter feito um projeto científico, havia de ter alguma
associação entre a experiência de desenvolver uma pesquisa com o crescimento que tivemos
durante os anos do ensino médio. Foi o resultado desses depoimentos que me deu um sentido de
urgência para criar o Cientista Beta.

Agora, você vai poder ver alguns depoimentos de jovens cientistas e o que eles perceberam
de mudança após essa experiência.

“Foi através da pesquisa que me descobri como uma pessoa capaz de ‘mudar o mundo’. Entendi que
através da pesquisa eu poderia traçar objetivos que pudessem contribuir muito para a sociedade. Isso
é o que eu faço até hoje: tento verificar na minha volta tudo aquilo o que eu acho importante mudar
ou dar visibilidade.” Larissa Gehlen da Silva

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“Descobri um mundo por mim antes desconhecido, e percebi que ele não necessariamente estava tão
distante de mim - ele só não era tão divulgado e incentivado no meu meio. Encontrei na ciência a
possibilidade de propor soluções para problemas reais. O envolvimento com pesquisa me fez
amadurecer, me ensinou a gostar de desafios e a ter determinação para alcançar meus objetivos.
Acima de tudo, descobri que esse era o caminho que eu desejava seguir na minha vida profissional e
acadêmica.” Adymailson Santos

“Ao ver que a pesquisa que eu fazia poderia realmente afetar a vida de muitas pessoas, também
comecei a perceber todas as outras coisas em que eu poderia contribuir positivamente. Passei, por
exemplo, a fazer trabalho voluntário ensinando química a jovens e adultos carentes para que
tivessem chances ao prestar vestibular na UFRGS.” Gabriela Schaab

“O envolvimento com pesquisa me fez amadurecer, me ensinou a gostar de desafios e a ter


determinação para alcançar meus objetivos.” Adymailson Santos

“Normalmente não temos muitas chances de nos envolvermos com grandes desafios na época da
escola/ensino médio e os projetos científicos ajudam mostrando objetivos e tarefas novas que nos
tiram da zona de conforto. Por isso, acredito que a educação científica deve ser parte essencial do
desenvolvimento de estudante.” Victor Paolillo Neto

“A maior contribuição foi a mudança na minha forma de pensar e ver os problemas. Após iniciar as
pesquisas, os problemas me parecem oportunidades a serem exploradas e não apenas ‘coisas ruins
sobre as quais precisamos reclamar’.” Juliana Hoch

“Foi um grande divisor de águas. Mudei completamente a forma de olhar o mundo ao meu redor.
Passei a encarar os problemas cotidianos como desafios a serem vencidos e não como barreiras
intransponíveis.” Lucas Ribeiro Mata

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“Desenvolver o pensamento crítico, capacidade de questionar, transformação social, networking,
propulsionar minhas próprias ambições pessoais e intelectuais, e abrir a mente". Ivan Ferreira

“Passei a ter mais confiança em questionar conhecimentos já estabelecidos na faculdade. Isso me


ajudou a compreender melhor os conceitos e me aprofundar.” Carlos Henrique Leite da Silva

“Acredito que o autoconhecimento ao fazer ciência foi fundamental para o meu desenvolvimento
pessoal.” Victor Paolillo Neto

“A pesquisa me fez decidir o que eu queria para o meu futuro, e consequentemente que curso fazer
na graduação. Não é preciso dizer que essa é uma grande escolha da vida, e o fato de que estou na
reta final do curso que escolhi e não me arrependo me mostra como a pesquisa de fato contribuiu
para a minha vida neste aspecto! Gabriela Schaab da Silva

“Comecei a perceber o quanto minhas ações eram importantes e o quanto eu poderia mudar o
mundo.” Túlio Vinícius Andrade Souza

“Conforme resultados positivos da pesquisa foram aparecendo, comecei a desenvolver também um


pouco mais de autoconfiança no que se tratava de capacidade de aprender e inovar.” Gabriela
Schaab da Silva

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“Com a pesquisa o que mais aprendi foi a ser determinada e não desistir dos meus objetivos. Os altos
e baixos da pesquisa definitivamente me ajudaram a ser uma pessoa mais persistente e corajosa.”
Paula Sarue

“Fazer pesquisa mudou minha vida, pois aprendi a organizar melhor o meu tempo, aprendi a
trabalhar sozinha, ser independente e a me organizar de modo geral. Pesquisar abriu a minha
cabeça e fez com que eu me preocupasse muito mais em ajudar pessoas e solucionar problemas do
que em agir em meu próprio benefício. Outro ponto positivo foi eu ver que eu poderia fazer muito
mais e crescer como pessoa.” Deise Carvalho

“Com a pesquisa, tive a impagável oportunidade de me apaixonar. Sim, me apaixonar. Apaixonar-


me pela ideia, pela solução, pelo resultado, pelo futuro do projeto e do meio ambiente. Deixar um
legado, ser reconhecido, contribuir, INOVAR. É uma mistura de sentimentos inenarrável que age
como uma força propulsora interna que nos move incessantemente todos os dias. Embora o projeto
que desenvolvi tratasse de aproveitamento de resíduos, sustentabilidade, o que mais se reciclou
durante o desenvolvimento fui eu, o próprio autor. Reciclar é fazer diferente todos os dias. É fugir do
simples, do usual, do convencional, do habitual e dedicar-se exclusivamente à arte de criar,
transformar o mundo e a si mesmo.” Maurício Gammertt Röhnelt

Esses depoimentos comprovam o quando a iniciação científica é uma poderosa ferramenta


de transformação dos estudantes. Foi para verificar esse impacto, que a pesquisadora
Adriana Depieri, em sua tese de doutorado, estudou as percepções dos estudantes que
participaram de feiras de ciências. Deixando claro que a feira é uma ação final de um longo processo

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de ensino-aprendizagem, Adriana percebeu que os estudantes referem diversas habilidades e
competências que foram desenvolvidas e aprimoradas pelo desenvolvimento de projetos
investigativos. Os alunos referem que o que mais desenvolveram é a comunicação oral, trabalho
em equipe e tomada de decisões. Além disso, a pesquisa mostrou que a participação em feiras de
ciências, com todo o desenvolvimento prévio do projeto apresentado, refletem em uma escolha de
carreira mais consciente. Estudantes que participam dessas atividades percebem que elas foram
importantes para encaminhar uma escolha de curso na graduação.

Quando falamos do PORQUÊ acreditamos no poder transformador da iniciação científica,


dissemos que esses estudantes desenvolvem protagonismo, proatividade, responsabilidade com o
mundo em que vivem. Deixam de ser espectadores e passam a participar das soluções dos
problemas do mundo contemporâneo. Após esses depoimentos, não há dúvidas de que a
experiência de fazer um projeto investigativo é uma forma de semear nos jovens o amanhã, prepará-
los para transformarem a história a sua maneira.

Não custa reforçar. O estudante que desenvolve projetos científicos durante seu ensino
médio passa a:

• Ser agente de transformação


• Gostar de desafios
• Enxergar oportunidades onde muitos apenas veem problemas
• Pensar criticamente, questionar e não aceitar as coisas como são
• Ser mais autoconfiante
• Desenvolver autoconhecimento
• Aprender o poder da resiliência
• Comunicar-se melhor
• Valorizar o trabalho em equipe
• Crescer!

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Algum tempo atrás, paramos para pensar o que definia se um projeto de autoria de um
estudante se tornaria um "bom projeto". Observamos diversos casos de projetos desenvolvidos e
chegamos até a proposta de um modelo.

Primeiramente, precisamos alinhar o que


entendemos como um “bom projeto”. Para nós,
bons projetos são aqueles que são bem
executados, seguem uma metodologia coerente e
adequado ao tema de pesquisa, que possuem
rigor científico, caráter inovador, que desafiam o
jovem e, ao mesmo tempo, tenham potencial para
solucionar ou mitigar algum problema
contemporâneo. Às vezes, esses projetos são
premiados. Mas essa não é uma regra ou
exigência para que possam ser entendidos como
bons projetos.

Após algumas avaliações e discussões, definimos que há três pontos-chave nos bons
projetos, os quais gostaria de expor aqui, para que os professores possam refletir e, de alguma
forma, levar esse olhar para a prática de orientação junto aos seus alunos. A ideia é pensar sobre
como os projetos que você orienta podem se aproximar desses pontos-chave. Para nós, os bons
projetos devem conciliar: interesse dos estudantes, recursos bem utilizados e relevância social.

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É o que separa um “projeto” de um “projeto incrível”. Por quê? Porque nós, seres humanos,
tendemos a nos destacar e ter melhor desempenho naquilo que nos motiva intrinsecamente. É esse
interesse, o amor por um projeto, que permite atravessar as adversidades, ignorar quem diz que isso
é impossível e ir além do mínimo.

Segundo Daniel Pink, em seu aclamado livro “Motivação 3.0”, nós, seres humanos temos três
sistemas operacionais motivacionais. A motivação 1.0 é o impulso biológico que inclui fome, sede
e sexo. A motivação 2.0 é conhecida como “recompensas e punições”, como: eu melhoro meu
trabalho assim que meu chefe ameaça me demitir; o chimpanzé abre uma fechadura porque sempre
ganha uma maçã, etc. Em terceiro, temos a motivação 3.0, chamada de “motivação intrínseca”.

Após muitos testes e pesquisas, a motivação 3.0 se mostrou mais forte e duradoura que a
motivação 2.0. Segundo Daniel Pink, o atual sistema moldado sobre motivadores externos não
funciona e, na maioria das vezes, nos prejudica. É justamente por isso que não podemos deixar toda
a motivação de um aluno de pesquisa científica montada sobre o compromisso assumido com
prazos, oportunidades das feiras, os prêmios, viagens, etc. E se, de primeira, o plano dá errado e ele
não consegue nenhuma dessas recompensas? Por outro lado, se estiver munido de um projeto que
realmente lhe faça sentido, seguindo um modelo de “aprender, criar e melhorar o mundo”,
apostamos que ele passará mais suavemente pelos desafios que encontrar.

Ela é sustentada por três nutrientes, sendo eles: autonomia, excelência e propósito.

Autonomia: todos os seres humanos, para trabalharem com empenho e dedicação,


precisam trabalhar tendo autonomia sobre: 1) a tarefa em si (aquilo que fazem). Precisamos deixar
que os alunos decidam o que querem pesquisar, nem que, para isso, tenhamos que entrar em um
cenário desconhecido; 2) o tempo (quando o fazem). Isso quer dizer que o jovem deverá estabelecer
e planejar quantas horas irá dedicar ao projeto. Obviamente, isso deve ser alinhado com o orientador
e com o tempo de entrega de resultados.; 3) a técnica (como fazem). Se o jovem gosta mais de
anotar as coisas num computador do que num caderno, para quê obrigá-lo a entregar resumos
escritos à mão? Deixe-os trabalhar da forma mais fluida possível; 4) a equipe (como quem o fazem).
O jovem precisa escolher quem é seu parceiro ou equipe de projeto, caso não se trate de um projeto
individual.

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Excelência: Para garantir a excelência e tornar-se melhor em algo relevante é importante
observarmos três regras básicas: 1) ela é um estado mental: temos que enxergá-la não como uma
prática finita, mas sim como uma habilidade passível de melhora contínua; 2) ela é dolorosa,
exigindo esforço, determinação e prática deliberada; 3) ela é uma assíntota, nunca seremos 100%
excelentes, mas podemos chegar muito perto disso.

Propósito: por natureza estamos em busca de propósito, uma causa que seja maior e mais
duradoura que nós mesmos. Esse tópico será abordado mais profundamente na terceira parte da
tríade, intitulada de “relevância”.

Além da motivação, o interesse está relacionado à curiosidade. É preciso não ter a resposta
antes, e sim, um vasto leque de perguntas. Afinal, como dizia Einstein, não são as respostas que
movem o mundo, são as perguntas.

Há três recursos que são fundamentais no desenvolvimento das pesquisas dos jovens
estudantes. O primeiro é um professor que aceite orientá-lo, que acredite nos seus sonhos. O
segundo é o espaço físico para o desenvolvimento de seu projeto, que depende das necessidades
de cada projeto (biblioteca, acesso a computadores com internet, laboratório, etc). Por último, é
preciso que o estudante encontre tempo entre as demais atividades que desempenha, para se
dedicar ao desenvolvimento do projeto.

Os jovens estudantes devem compreender bem o contexto em que estão inseridos e


conhecer quais recursos dispõem para que possam fazer o melhor projeto científico que for
possível. Quando necessário, é preciso buscar por apoio fora do ambiente escolar.

Por último, os bons projetos científicos contam com um tema que seja relevante para a
sociedade. Eles visam responder perguntas ou resolver problemas que não afetam apenas ao
pesquisador e cujos potenciais benefícios vão além deste. É um sentimento de que não interessa

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tanto POR QUEM o projeto está sendo feito, mas sim, PARA QUEM. Esse sentimento de que está
fazendo algo relevante coloca o brilho nos olhos do jovem.

O mesmo sentimento se relaciona a uma noção de legado. O legado é a noção de que o


projeto será algo útil para outras pessoas, dentro de algum intervalo de tempo. Ou seja, é encontrar
uma resposta genuinamente satisfatória para a pergunta “Para que(m) serve isto que estou me
esforçando um monte para desenvolver?”. Mesmo que o impacto que vai além do “eu” não seja
imediato, o potencial de beneficiar os outros gera uma sensação de preenchimento.

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Orientar projetos é orientar sonhos. E por trás de todo sonho existe um grande sonhador ou
sonhadora. Aprender a conviver com essas pessoas que tão jovens carregam tantos anseios e
desejos é um grande desafio. Orientar uma pesquisa vai muito além de saber como funciona o
método científico e de deter conhecimento sobre a área de pesquisa. É preciso também aprender a
se relacionar, nutrindo um vínculo saudável com seus alunos.

Desde o início da existência do Cientista Beta, buscamos facilitar relações de mentoria entre
mentores e jovens cientistas de todo o país. Os aprendizados decorrentes dessas relações nos
permitiram elaborar algumas dicas sobre como conhecer, conviver e lidar com jovens cientistas e
com os seus desafios. Confira!

Quanto mais você conhecer sobre os seus orientandos, melhor poderá ajudá-los. É
importante entender quais são as suas alegrias, as suas dores, o que está ao seu redor... Portanto,
tenha em mente alguns questionamentos:

Qual é a rotina do seu aluno? Como ele costuma lidar com dificuldades? Como ele gerencia seu
tempo? Qual é a forma mais efetiva de conversar com ele? Qual o filme favorito dele e por quê? E
o livro? E a música? Qual o propósito dele ao fazer pesquisa? Quais são suas metas pessoais?

Quando você entende essas coisas, desde as mais relativas ao projeto até as mais pessoais,
a relação é bem mais natural e o trabalho flui melhor, permitindo que você encontre pontos que não
estão diretamente relacionados ao projeto, mas que afetam a jornada do jovem cientista (rotina
pesada da escola, conflitos familiares, semanas de provas, gestão emocional, entre outros).

Quando falamos em conhecer melhor outras pessoas, precisamos falar sobre

empatia. Empatia é colocar-se no lugar do outro experimentando os sentimentos dele a partir das

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perspectivas e contexto dele, é você dar ao outro o que o outro precisa, e não o que você acha que
ele deveria querer. Empatia não é "fazer pelo outro o que gostaria que fizessem para ti",
mas "fazer pelo outro o que o outro gostaria de receber”.

Nem tudo é flores na orientação de jovens cientistas. É possível que você se depare com
algumas situações complicadas. Separamos algumas delas abaixo, juntamente com sugestões de
como mediar uma saída saudável.

No capítulo da Tríade dos bons projetos nós falamos sobre o item motivação. Para buscar
a motivação dos seus alunos, é importante que se conheça do que se trata e como se constrói
motivação.

Se você sente seus alunos desmotivados, pode ser importante checar os seguintes pontos:

Eles estão tendo espaço para tomar decisões por conta própria? Eles estão fazendo algo
que gostam? Se o projeto é em dupla ou trio, o trabalho está bem distribuído entre a equipe? A
equipe está coesa ou enfrenta algum conflito? Quantas vezes por semana vocês estão se
encontrando? Existe um porquê bem definido no que estamos fazendo? Meus alunos ainda
lembram por quê começaram a fazer pesquisa?

Além disso, é comum que o maior remédio para um aluno desmotivado seja conhecer a
história de outros alunos, que assim com ele já estiveram desmotivados e mesmo assim fizeram
seu projeto científico acontecer. Aqui vai um exemplo! Ative legendas em português!

Ele precisa de um feedback sobre isso. O feedback é, na sua essência, um processo pelo
qual uma pessoa fornece informações a outra com o intuito de contribuir para a melhoria de seu
desempenho em determinada atividade. Feedbacks são essenciais para o crescimento.

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O feedback NÃO é a expressão de um sentimento ou de uma emoção, ele deve trazer fatos,
sempre, sejam eles sobre atitudes ou trabalhos realizados. Para ajudar você nisso, aqui vai uma
lista com 7 dicas para dar um bom feedback:

1 Sempre salientar algo bom

Está provado que o ser humano precisa de um elogio 2x maior do que o “puxão de orelha”
para não sentir-se magoado e nem catastrofizar o feedback. É como se uma crítica tivesse muito
mais peso do que um elogio. Existe uma técnica para driblar a nossa tendência pessimista de
interpretação e utilizar esse balanço de coisas boas e coisas não tão boas, de forma que fique mais
agradável para quem recebe o feedback. A técnica se chama “shit sandwich”. Isso mesmo.

Um feedback adequado e elaborado para evitar alertar os sistemas de defesa de quem


recebe é composto, nesta ordem, por: elogio + crítica + elogio/agradecimento. Faça um sanduíche.
Anotou?

É importante que os elogios sejam genuínos, utilizados para reforçar comportamentos,


características e ações positivas.

2 Exemplifique com fatos o problema em questão

Se possível, traga exemplos diretos, ou diga onde os itens a melhorar estão. Isso ajuda o
feedback a não ficar “solto” e generalizado e também direciona o aluno para o local correto onde a
melhora pode ser feita. Dependendo do caso, traga exemplos do que poderia ser o jeito certo de
fazer.

3 Verifique se a sua crítica não está estruturada de maneira pessoal

Ao invés de “você fez isso da forma errada” use “isso foi feito da maneira errada”. O nome
disso é voz passiva, e ela transfere a ênfase da pessoa para o objeto.

Por que fazer isso? Uma crítica em voz passiva é focada no comportamento em questão, e
não em um conjunto geral ou na pessoa agente. Usando a voz passiva, o foco é no item que pode
ser melhorado, não na personificação do erro.

4 Verifique se a sua crítica não está estruturada de maneira atemporal

Da mesma forma como falamos acima para especificar com relação à ação, especifique com
relação ao tempo. Pense comigo: é complicado receber uma crítica que diga que determinada coisa
nunca é feita certa, e é melhor de receber um feedback especificando em que momento isso foi
feito errado.

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5 Senso comum nem sempre é tão comum assim

Sempre alinhe expectativas, por mais óbvias que pareçam. Pode ser que o estudante não
tenha atingido determinado requisito porque ele simplesmente não entendeu como fazer, ou não
conhece por onde começar, ou não prestou atenção nas instruções. Deixe claro o que você esperava
e o que foi atingido, comparativamente.

6 Mudança de comportamento depende de habilidade

Às vezes, as pessoas não mudam porque não sabem fazer o que foi pedido. Garanta que
seu aluno entendeu o processo, e dê condições para que ele atinja o sucesso na tarefa esperada,
oferecendo mais leituras, um outro horário de conversa, o contato de alguém que pode ajudar, um
exemplo de anos anteriores, etc.

7 Faça um ensaio mental do feedback sendo dado

Tão importante quanto “o que” dizer é “como” dizer. Revise. Reveja. Isso ajuda a levantar
potenciais objeções, ajuda a garantir que o feedback está “redondinho” e que você construiu
corretamente o que chamamos no item 1 de “shit sandwich”.

Indique pra ele o Guia de Gestão de tempo, que faz parte da coleção de materiais do Cientista
Beta! O guia contém dicas e ferramentas para auxiliar na organização.

Sugerimos também a leitura desse texto (em inglês) da Harvard Business Review, onde o
autor e pesquisador Tony Schwartz fala sobre as três dimensões da energia e como
precisamos geri-la ao invés de gerir nosso tempo.

Tente entender onde o seu aluno está usando o seu tempo e a sua energia. Alguns minutos
por dia talvez já seja suficiente, desde que haja consistência.

Talvez haja algum problema relacionado ao desinteresse pela pesquisa. De qualquer forma,
você deve começar restaurando a sua capacidade de se comunicar adequadamente com o
estudante, abrindo um canal efetivo de trocas.

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Para isso, a comunicação não-violenta (CNV) é uma técnica utilizada por muitos diplomatas
há milhares de anos - os mais recentes casos foram Luther King Júnior e Mahatma Gandhi - para
resolver conflitos pacificamente. A CNV assume que todos os seres humanos são compassivos por
natureza e que todos compartilhamos as mesmas necessidades humanas básicas - e agimos para
sanar essa necessidades sempre que necessário. A CNV resgata o que há de mais genuíno nas
pessoas: as emoções e os valores, permitindo que toda pessoa aja com mais empatia sem
situações de conflito.

Marshall Rosenberg, PhD em psicologia clínica pela Universidade de Wisconsin, foi o


responsável por popularizar a CNV e institucionalizá-la como método. No seu modelo, a CNV deve
seguir quatro passos: Observar o Fato, Identificar o Sentimento, Enxergar a Necessidade, Fazer um
Pedido.

Para saber mais sobre a CNV e como aplicá-la no contato com seus alunos, sugerimos que você
assista estes vídeos:

O que é comunicação não-violenta?

Comunicação não-violenta na prática

É comum que os alunos façam pesquisa, atividade física, ajudem os pais em algum negócio,
estudem para o ENEM, estudem para olimpíadas, sejam engajados em algum voluntariado… tudo
ao mesmo tempo, além das aulas regulares.

Primeiro você precisa saber se essa multiatividade realmente está atrapalhando o


desempenho do seu aluno. Pois é natural que se tenha interesses diversos. Caso sim, sugerimos
uma orientação baseada nesse artigo super didático. O artigo fala sobre o quão perigoso
é pulverizar a sua atenção e tempo em várias iniciativas diferentes.

Imagine que você esteja engajado e comprometido com diversas coisas diferentes, e que
cada uma dessas coisas é uma abelha dentro de uma mesma bolinha oca. Cada uma dessas
abelhas está voando para um lado diferente e a bolinha não vai para lugar nenhum. Mas se você
está comprometido mais seriamente com uma (ou poucas) grande(s) atividade(s), é como se dentro
da bolinha houvesse uma ou poucas abelhas, empurrando para o mesmo lado. Apenas assim a
bolinha irá se mover para onde você quer ir. Com isso, o artigo sugere que suas conquistas são

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resultado do seu potencial dividido pelo número de direções diferentes que você toma ao quadrado.
Assim: Conquistas = Seu potencial / (Direções)² isso significa que quanto mais direções diferentes
você tem, menor é a sua chance de sucesso nos seus resultados.

Esperamos que estas dicas possam auxiliar você a lidar com os desafios mais comuns de
conviver com estudantes enquanto exerce seu papel de professor orientador!

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Em abril de 2016, iniciamos a primeira edição do Programa de Iniciação Científica Decola
Beta, focado em conectar mentores a estudantes do ensino médio que tivessem vontade de
desenvolver um projeto científico, ou já o estivessem fazendo. Resolvemos oferecer aos estudantes
um material didático escrito por nós, para de certa forma nivelar o conhecimento sobre pesquisa. E
para tornar mais tangível o desenvolvimento dos projetos, criamos mais de dez desafios a serem
cumpridos ao longo dos 6 meses do programa. Parte dos desafios é focada no projeto científico, e
outra parte no desenvolvimento humano dos estudantes.

O que percebemos? Estabelecer desafios para cumprir dá um senso de urgência e uma


direção para os jovens cientistas. Os desafios podem ser desde a inscrição em feiras de ciências,
apresentação do projeto para a turma de aula, uma saída de campo para conversar com pessoas
que sejam o público alvo da pesquisa…

Esses desafios eram fechados para os participantes dos programas. Mas recentemente
liberamos eles, juntamente com uma coleção que contém toda a nossa metodologia. Você
pode acessá-los no nosso site e utilizar livremente com os seus alunos.

Buscamos a resposta para isso em estudos de gameficação para a educação. Ter uma série
de desafios para cumprir no projeto significa ter algumas micromissões a cumprir, com desfechos
esperados, algumas recompensas (intrínsecas pessoais ou recompensas reais) e degraus de
dificuldade a subir. Com o que isso se parece? Com fases de um jogo.

César Coll, em Psicologia da educação virtual, listou a que se deve o potencial motivador do
uso de jogos e ferramentas de gameficação em educação. Ressaltamos 7 pontos trazidos por ele
e, ao lado, relacionamos cada item com o universo da pesquisa científica:

Apesar de sério, o desenvolvimento de uma pesquisa pode ser divertido.

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É preciso vencer uma missão mais simples no início, tal qual concluir a leitura do primeiro
artigo científico sozinho, para ir se acostumando a tarefas mais densas e ser capaz de, ao final,
executar uma atividade como a escrita de um relatório de pesquisa.

Tenha certeza de que os alunos estarão sempre se perguntando “para que serve, mesmo,
isso que estou fazendo/que me pediram para fazer?”. Por isso, se as atividades se tornam desafios
com micromissões, o propósito de cada micromissão deve estar explícito. Com isso, fica claro o
“para que serve isto”.

Ver as partes de um desafio sendo resolvidas deve dar uma sensação de progresso e
satisfação. Pois nos torna cientes de cada degrau avançado.

O típico pensamento de “se eu consegui até aqui, talvez eu consiga ir um pouco mais além
no meu projeto”. Se não existem desafios, não existem esses “pontos de checagem”, portanto não
é comum que os estudantes se deem conta das dificuldades superadas e da própria evolução ao
longo da jornada.

Experimente ter mais de um grupo de alunos desenvolvendo projeto. Como se trata de


pessoas, e pessoas são diferentes, cada grupo terá um ritmo de desenvolvimento diferente. Os
desafios propostos não devem ser rígidos a ponto de não respeitarem a singularidade do
aprendizado e do desenvolvimento de cada grupo.

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Um pouco mais difícil de visualizar, pode ser atingido quando se tem alguma identificação
dos orientandos com elementos simbólicos, como a criação de um nome e de um mascote para o
clube de ciências da escola. Criar um nome para a equipe do projeto também pode auxiliar bastante
a entender a jornada de fazer pesquisa como a jornada de um personagem por um caminho
inesperado. Os nomes podem ser como “Pandas do cerrado”, “Meninas super sustentáveis”...

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As feiras de ciências são a cereja do bolo no mundo dos jovens cientistas. Muitas vezes, ao
visitar uma feira de ciências os estudantes vislumbram pela primeira vez a possibilidade de fazer
um projeto científico para que no ano seguinte sejam eles expondo seus feitos na mesma feira.
Outras vezes, os estudantes têm a vontade despertada ao ver outro colega voltar para a escola e
contar como foi sua viagem para uma feira de ciências em outra cidade, estado ou até país.

Devemos reconhecer o valor que as feiras têm em disseminar o gosto pela ciência. Os jovens
não iniciam projetos científicos simplesmente porque buscam crescimento, isso é algo que eles
percebem depois. É por isso que esses eventos são tão importantes, eles são uma motivação
enorme para que os estudantes se esforcem ao longo de um ano inteiro em seus projetos. Mas,
afinal, como explicar o poder das feiras de ciências? Acho que a melhor forma de fazer isso é deixar
que você antes leia um relato da Kawoana, que foi o primeiro texto publicado em nosso
site. Acesse neste link ou na íntegra aqui abaixo.

O sonho estava começando a se concretizar... Depois de sair de Porto Alegre, passar dois dias
trancada em um hotel em SP, ser entrevistada pela Polícia Federal, realizar meu primeiro grande vôo
internacional, fazer escala no Texas e uma breve entrevista na imigração americana – enfim,
desembarquei pela primeira vez nos EUA, mais especificamente em San Jose, cidade da Califórnia.
Caramba! Eu havia passado por tanta coisa nos últimos meses. Foi um longo período semeando, e
tudo indicava que estava na hora de colher um pouco dos frutos. Eu estava na Califórnia e, embora
estivesse muito próximo de Hollywood, meu sonho não tinha nenhuma relação com a vida de
uma estrela de cinema, exceto pelo fato de que eu me sentia dentro de um filme.

Chegamos no local do evento e fomos receber nossas credenciais. Logo na entrada, havia uma
placa imensa dizendo: “Welcome to Tomorrow”. “Bem-vindo ao amanhã”? Como assim?

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Juntos, éramos umas 40 pessoas, vestidas de verde e amarelo, constituindo a delegação
brasileira. Todos estavam treinados para que chegassem aos EUA, competissem e, de preferência,
voltassem para o Brasil com prêmios e medalhas. Cada um de nós vinha de um canto do Brasil e tinha
uma história inteira de vitórias e derrotas até chegar ali, mas algo nos unia: a perseverança. Eu estava
simplesmente na MAIOR FEIRA DE CIÊNCIAS DO MUNDO – a Intel ISEF – esse era o ano de 2010 e eu
tinha 17 anos. Consegue imaginar a emoção? Eu me sentia como uma atleta de ponta, com a honra e
a responsabilidade de representar o Brasil em uma Olimpíada. Como já dizia o Tio Ben, em Homem
Aranha: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.”

Tive que trabalhar muito para chegar até ali: um seleto grupo de jovens brasileiros, autores de
dezoito incríveis projetos científicos. Aquela era uma meta havia 3 anos: desde 2007, quando entrei
no ensino médio. Eu não estava sozinha: minha dupla era a Gabriela, uma ruiva que era tão elétrica
quanto eu. Foram duros anos com portas se fechando, momentos de desespero, desesperança, choro
e pessoas nos dizendo que o melhor caminho era desistir. Uma jornada incrível, em que cada novo
passo era maior que o anterior, cada derrota significava baixar a cabeça e fazer melhor, semear mais
em terra cada vez mais fértil.

Até o início de 2010, nunca


tínhamos sentido o gosto da vitória.
Cada derrota doía, mas servia de
aprendizado. Sentia que estar ali nos
EUA vestindo minha camiseta amarela
era sinal de que havia brotado algo do
tanto que plantamos. Nosso projeto
consistia na produção de um novo
curativo (gaze, sabe?) com
nanopartículas que poderia aumentar as Fonte: acervo pessoal

chances de um membro reimplantado ser bem-aceito pelo corpo humano – nosso organismo é um
tanto temperamental e, às vezes, não aceita que um pedaço seu seja reinserido em seu local de
origem. Quando isso ocorre, uma parte do corpo precisa ser amputada, e era justamente isso que eu
e a Gabriela queríamos evitar com nosso curativo. Apresentamos nossa pesquisa em uma feira
chamada FEBRACE em março de 2010 e, após catorze exaustivas e intermináveis avaliações, fomos
selecionadas para fazer parte da delegação brasileira que iria para os EUA em maio.

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Foram sete dias com festas incríveis, intercâmbio cultural, sotaques diversos, palestras e
conversas com vencedores de Prêmios Nobel. Entrevistas para a televisão, apresentações em inglês,
brilho no olho e paixão por aquilo que fizemos. Fomos todos tratados como grandes estrelas da
ciência, e numa das cerimônias, lembro do discurso da Wendy Hawkins, diretora executiva da Intel
Foundation, dizendo: “olhe para o seu lado, daqui sairão a cura de doenças, daqui sairão futuros
presidentes”. Lá, as pessoas realmente nos mostravam o poder e a responsabilidade de construirmos
o mundo em que queremos viver, por meio de nossos projetos e de nossas atitudes. Não era mais
possível voltar atrás. Fiz grandes amigos, muitos dos quais mantenho até hoje. Foi uma das melhores
experiências da minha vida, uma das primeiras realmente transformadoras. Passei a ter mais fé no
futuro, e entendi que realmente estava recebendo boas-vindas do amanhã.

Voltei para casa e já não era


mais a mesma. Afinal, uma mente que
se abre a uma nova ideia jamais volta
a ter o mesmo tamanho, como já dizia
Einstein. Eu já havia me tornado uma
sonhadora-realizadora. Ainda não
havia colhido tudo que queria, então
Fonte: FEBRACE era preciso semear mais.

Por causa da pesquisa, eu vivi momentos únicos: passei férias dentro de laboratórios, criei
uma meia para diabéticos, apareci na televisão, fui escolhida para um intercâmbio em um grande
instituto de pesquisa, atravessei o deserto de Israel. Conheci pessoas incríveis, fiz viagens
inesquecíveis e percebi que podemos aprender muito quando somos agentes ativos na nossa
educação, protagonistas de nosso destino. O mundo é muito maior e muito mais divertido que a sala
de aula convencional.

Hoje, consigo olhar para trás e ver que Steve Jobs estava certo quando dizia que nós não
conseguimos conectar os pontos olhando para frente; só conseguimos fazê-lo olhando para trás.
Ando conectando vários pontos da minha história e tentando construir outros para conectar no futuro.
O que aprendi com tudo isso é que quando estamos dispostos a nos transformar, cada novo dia se
inicia com um “Welcome to Tomorrow”.

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Esse relato da Kawoana é apenas
um exemplo de que os jovens voltam das
feiras de ciências completamente
transformados. A experiência de expor
um projeto seu, falar de algo que fez com
orgulho, responder dúvidas dos
avaliadores, conhecer jovens de outras
realidades, sentir-se parte de um grupo
maior de cientistas, está dentre as
inúmeras razões pelas quais a feira de
Fonte: acervo pessoal
ciências é sensacional!

Além disso, as feiras de ciências reconhecem alguns projetos com prêmios. Dentre eles, está
viagens para outras feiras maiores, bolsas em universidades, cursos, etc. Os estudantes percebem
seu valor na sociedade, reafirmam sua vontade de fazer algo maior. Para muitos, não conquistar
um prêmio é uma decepção amarga, mas eu garanto que se bem canalizada, ela pode ensinar muito
mais do que o reconhecimento. Este é um dos seus papeis como professor orientador: guiar os
sonhos e aspirações dos estudantes.

A feira só é tão significativa porque ela significa o resultado de um ciclo de aprendizado ao


longo de meses em que um estudante se dedicou ao projeto. Ao longo dessa jornada, o jovem
aprende muito, falha, obtém êxitos. Apresentar tudo isso para outras pessoas, seja o público ou
avaliadores, é fazer o jovem ouvir a si mesmo, perceber como sua história está sendo transformada
pela experiência desse desafio.

Em geral, há duas formas de participar de um evento desses: fazendo a inscrição e


submetendo um projeto científico, ou recebendo uma credencial por meio de outra feira de ciências.
Em ambos os casos, é preciso que o estudante tenha um projeto em desenvolvimento e, em geral,
já com ao menos alguns resultados e conclusões. Para realizar a inscrição, as feiras solicitam o
Plano de Pesquisa e os formulários adicionais necessários dependendo do tipo de pesquisa. Além
disso, podem solicitar um resumo do projeto ou relatório sintético.

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Quando chega a hora da exposição, o estudante deve levar esse material impresso, além de
seu diário de bordo (item obrigatório) e um pôster do projeto. O pôster varia em tamanho e estilo
para as diferentes feiras. Na feira, esse estudante apresenta a pesquisa para o público e para
avaliadores, esperando-se que ele consiga fazer isso sozinho, sem o auxílio de seu professor. Afinal,
na pesquisa científica pré-universitária, o estudante é o protagonista!

para saber melhor como se preparar para uma feira de ciências, recomende

aos seus alunos o Guia de comunicação de pesquisa, um dos materiais da coleção aberta do
Cientista Beta!

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O orientador ideal é aquele que consegue obter o melhor de seu aluno. E, para isso,
acreditamos que é necessário ter em mente sempre se a orientação a ser passada vai extrair o
melhor do jovem cientista. Não adianta dizer que algo é muito difícil, ou apenas elogiar. É preciso
de muito amor pela orientação de pesquisa para nem sempre fazer o que é mais fácil.

O orientador ideal é humilde e sabe que não tem todas as respostas, mas não se satisfaz
com isso, busca se aprimorar. Ele não diz o que deve ser feito, mas dá as direções possíveis e deixa
que o estudante assuma o comando de sua jornada.

O orientador ideal é presente, e não deixa que o estudante sinta-se abandonado. Responde,
critica, aconselha e apoia. Além disso, é ele que pensa, acima de tudo, se os estudantes não estão
se expondo a riscos desnecessários e se estão seguindo padrões éticos em seus projetos.

Por fim, o orientador é alguém ESSENCIAL, mas sabe que nessa história da iniciação
científica, seu papel é de coadjuvante. Ele não deve fazer pelo jovem, não deve decidir, não deve
tomar a frente. Deve ser o apoio, a força do estudante. A pessoa que o estimula a não desistir e
busca conhecimento para ajudar. Fica feliz com as conquistas de seus orientados, e o crescimento
deles, é a sua satisfação.

Ao longo de 2019, a equipe do Cientista Beta teve contato presencial com mais de 150
professores em 7 diferentes estados do país. Nessas oportunidades, passamos 16 horas imersos
com cada uma das 9 turmas de professores, ensinando e aprendendo muito sobre o universo da
pesquisa. Uma das atividades conduzidas nessas formações era um exercício de imaginar o que
seria um professor orientador ideal.

Para desenhar essa persona, cada professor deveria pensar em 3 pilares: 1) O que sabe um
professor orientador? 2) O que sente o professor orientador nesse processo? 3) o que faz/quais são
as práticas de um professor orientador? Cada professor deveria pensar em respostas para essas
questões e contribuir com um grande mural de respostas, que depois era analisado e debatido em
conjunto.

A cada edição, muitas respostas se repetiam. Pudemos aprender sobre quais traços devem
estar presentes em um professor orientador ideal, a partir do olhar dos próprios professores.
Compartilhamos aqui com vocês as respostas do mural de uma das formações:

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Talvez você tenha se enxergado em diversas dessas características enumeradas como
presentes em um professor orientador ideal. E também é provável que tenha se preocupado por não
ter tão desenvolvidas outras características. Em cada uma das formações, foi salientada a
importância de se trabalhar em rede com outros professores, de se aprender com cada aluno e
buscar melhorar a cada instante, reconhecendo que nenhum professor nasce pronto para orientar.

Não buscamos que você se torne o professor orientador ideal, após ler este e-book, e sim
que reconheça que não está pronto, mas pelo menos sabe por onde começar. E o principal: que
esteja atento para aprender a cada novo passo dado.

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Há diversos mitos quando se fala iniciação científica para jovens. Se falamos em redefinir
os limites dos jovens cientistas, precisamos repensar a veracidade desses mitos.

Esse é um dos maiores mitos existentes na pesquisa científica. É fácil de compreender que
a maioria das pessoas conhece jovens cientistas por meio das notícias colocadas na mídia. Na
maioria delas, esses jovens são colocados como gênios mirins, que fizeram projetos que são
incríveis e estão prontos para mudar o mundo. Ninguém fala das dificuldades, momentos de
insegurança e que, boa parte desses estudantes, obtém reconhecimento após muito esforço. O
êxito não é um fruto exclusivo da inteligência com a qual nasceram.

Muitos estudantes desacreditados dentro da forma convencional de avaliação, desenvolvem


excelentes projetos científicos, capazes de causar grande impacto na sociedade. Nesses casos,
estudantes até então subestimados, reconhecem seu valor e sentem-se mais seguros. Gostamos
desses exemplos, pois isso mostra que todo mundo pode fazer pesquisa, sendo o melhor aluno da
sala ou não. E os professores devem investir e acreditar em todos os estudantes interessados,
tomando cuidado para não investir apenas nos considerados mais inteligentes. Apoiar a todos,
especialmente aqueles que demonstram grande motivação e determinação para desenvolver um
projeto científico, é essencial.

Leia este relato do jovem cientista Matheus Röhnelt “Nem sempre o

melhor aluno é o nota 10”.

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Somos cientistas desde o nascimento. O que acontece é que nosso lado cientista é calado
ao longo do tempo, com cada vez menos oportunidades para colocar a curiosidade da infância em
prática por meio de experimentações. Ao invés de fazermos descobertas e construções, somos
ensinados a receber e aceitar conteúdos prontos, que estão nos livros. Tem-se a visão do cientista
como alguém distante que, quando não é o estereótipo do louco com cabelos brancos em um
laboratório, é ao menos alguém graduado, com décadas de estudo acumulado. Os estudantes não
são vistos naturalmente como cientistas, mas podem ser.

Ser cientista não é ter um mestrado ou doutorado, é uma maneira de pensar e agir perante
o mundo, com o olhar curioso de uma criança e a vontade de mudar o mundo típica da juventude, e
isso, independe da idade e grau de escolaridade.

No vídeo institucional do Cientista Beta, o jovem cientista Arthur Sulzbach

conta brevemente sobre como se sentiu sob o olhar de outros pesquisadores mais seniores. Ainda
assim, apesar desses olhares, o Arthur seguiu o desenvolvimento da sua pesquisa em um
laboratório improvisado na própria casa, participou da maior feira de ciências da América
Latina e foi credenciado para apresentar esse projeto em uma feira nos Estados Unidos,
a I-Sweeep.

É natural que busquemos resultados positivos. Ninguém inicia um projeto científico


querendo descobrir como algo não funciona, ou querendo criar algo que não resolva um problema.
Queremos respostas. É nossa vontade de obter êxito que nos move. E para construirmos coisas
grandes, há de se correr riscos. Não há como acertar todas as tentativas. Errar não é sinal de
fracasso, é sinal de que se ousou fazer algo para o qual não havia uma resposta conhecida. Erros e
resultados negativos fazem parte do processo de aprendizado e nos aproximam da resposta
verdadeira, do êxito.

É comum que os cientistas não valorizem os resultados negativos, ignorando-os quando


falam de seus projetos. É preciso falar dos erros, para desfazer a imagem dos cientistas como seres
iluminados que jamais erram. Precisamos estimular os jovens a não pularem a etapa do erro, e sim
refletir sobre ele, repensar porque um resultado não foi o

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esperado, o que aprenderam com isso, como se sentem. E depois, estimular que comuniquem todos
esses passos eles quando apresentaram seus projetos. É a capacidade de lidar com o erro sem
medo que nos permite testar soluções impensáveis, e por fim, chegar a soluções inovadoras.

Não. Não é preciso. Para orientar um projeto, é preciso compreender como o método
científico funciona, querer ver a transformação de seus estudantes e apoiá-los para que se
desafiem. Não é preciso de títulos, anos de experiência em pesquisa ou algo do tipo. É claro que
quanto mais conhecimento o professor adquire, mais fácil se torna sua atividade enquanto
orientador. Qualificar-se torna qualquer um melhor orientador, mas ser super qualificado não
garante que alguém será um bom orientador. Além disso, é muitas vezes no trabalho de orientação
que os professores passam a sentir vontade de voltar para a universidade de fazer um mestrado ou
doutorado. Ou seja, orientar projetos também motiva os professores e se aprimorarem em sua
profissão.

Isso não é verdade. As escolas públicas também se destacam pelo desenvolvimento de


projetos científicos, especialmente algumas Fundações e Institutos Federais. No relatório publicado
pela FEBRACE (Feira Brasileira de Ciência e Engenharia), uma das maiores feiras de ciências
brasileiras, foi divulgado que na edição de 2018, 70,8% das inscrições vieram de jovens estudantes
de escolas públicas. Essa pode, inclusive, ser uma ótima forma de melhorar o ensino público!

Jovens motivados e bem orientados tiram leite de pedra! Utilizam os ambientes,


equipamentos e recursos que estão a sua disposição. E quando estes não são suficientes, vão atrás
de locais mais adequados para realizar seus experimentos, como laboratórios de universidades ou
institutos de pesquisa. É claro que devemos buscar oferecer melhores condições para a
experimentação dos projetos, mas uma condição precária também pode ser contornada e permitir

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o desenvolvimento de excelentes pesquisas, ao se pensar no que é possível fazer com os recursos
disponíveis.

Da mesma forma, ter acesso amplo a estrutura não significa que o projeto desenvolvido terá
grande relevância e rigor científico.

As universidades podem não estar acostumadas a receber estudantes de ensino médio, mas
isso não significa que eles não têm capacidade de trabalhar em grandes laboratórios de pesquisa.
Esse trabalho geralmente é supervisionado por pesquisadores dos laboratórios, por se tratar de
alunos quase sempre menores de idade e que estão tendo seu primeiro contato com determinadas
técnicas. Com vontade de aprender e alguém disposto a ensinar, esses jovens dão conta do recado
e desenvolvem seus projetos de maneira independente!

É natural pensarmos que toda ideia que não compreendemos por tamanha a complexidade
é uma ideia boa. Com frequência, os projetos aparentemente "simples" têm seu valor subestimado,
afinal, se eu entendo o que o jovem fez, provavelmente é porque ele fez "só isso". No entanto, ideias
simples bem desenvolvidas, se aproximam mais de soluções eficazes do que ideias complexas que
apenas impressionam.

Então, um projeto aparentemente simples não se trata de “apenas” avaliar tendência a


depressão de uma turma da escola, ou de “apenas” mapear a qualidade da água de poços de uma
região quanto a presença de coliformes. Estes dois foram trabalhos reais desenvolvidos por jovens
mentorados em 2017 e 2018 no Programa de Iniciação Científica Decola Beta, que por terem sido
bem executados receberam reconhecimentos na MOSTRATEC, a maior feira da América Latina.

Geralmente, quando se inicia uma pesquisa, não se sabe muito sobre o assunto escolhido. Não é
preciso ser um mestre da matemática para fazer uma pesquisa na área, desde que o estudante

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esteja motivado e interessado, disposto a aprender. Não é preciso ser um psicólogo para fazer uma
pesquisa na área de Humanas. É completamente possível que um jovem do ensino médio a faça,
desde que corra atrás de aprender os conteúdos necessários. Essa forma ativa de aprendizado é
muito mais gratificante e efetiva, pois surge do interesse a das demandas do jovem cientista.

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Se você chegou até aqui, imagino que você esteja realmente interessada ou interessado em
orientar seus alunos no desenvolvimento de pesquisas na escola. A questão que fica é: por que
orientar?

Da nossa parte, podemos garantir que o impacto que um professor causa na vida dos seus
alunos é inigualável. A dimensão é difícil de explicar. Por isso, recomendamos que você assista a
este vídeo em que a jovem cientista Maria Vitória Valoto conta sobre a sua trajetória na pesquisa e
pontua, diversas vezes, a importância do seu professor orientador Fabio nas conquistas
que ela obteve e na pessoa que ela se tornou.

Mas voltamos para a questão que dá nome a este capítulo: Por que orientar projetos
científicos no ensino básico? Para responder a essa pergunta, convidamos professores
participantes do Programa de Ensino de Iniciação Científica Decola Beta Professores. Ninguém
melhor do que um professor orientador para contar por quê outro professor deveria orientar! Confira:

“Orientar projetos na educação básica é questionar através da curiosidade das


crianças, experimentar hipóteses e por fim transformar o conhecimento e a realidade.”

(Professora Tais Fritsch de Lima)

“Acredito no potencial do professor orientador , como um semeador, que já cultiva no Jardim da


Infância, que colhe os frutos da curiosidade no Ensino Fundamental e que potencializa a produção no
Ensino Médio, cujas experimentações colaboram para que a semente se torne novamente semente,
mas com muito mais vigor! “

(Professora Gisele Cristina Ost Maldaner)

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“Acredito que orientar um trabalho científico é possibilitar aos estudantes a oportunidade de vivenciar
momentos de envolvimento e colaboração na realização de um trabalho investigativo, assumindo o
papel de pesquisadores. Durante o trabalho acontece a aplicabilidade dos saberes acadêmicos às
atividades humanas, pois em busca de respostas os estudantes/pesquisadores conectam mais de
um componente escolar e, por vezes, com o aprendizado de novos conteúdos, na validação das
possíveis soluções por eles encontradas. Orientar, desta forma, é aprender junto com os
pesquisadores a percorrer caminhos entre a aplicabilidade e a utilidade dos conteúdos acadêmicos
nas práticas sociais. É ser um instrumento desencadeador e norteador da investigação, essencial
para o bom desenvolvimento da pesquisa a ser vivenciada.”

(Professora Leila Inês Pagliarini de Mello)

60
Alfabetização Científica — Neil deGrasse Tyson. Max Schlickenmeyer (traduzido por Science subs),
2014. Vídeo (2 min). Science subs. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=61aLLEgqd6U.
Acesso em: 07 fev 2020.

CARVALHO, Marie Jane S.; DE NEVADO, Rosane Aragon; DE MENEZES, Crediné Silva. Arquiteturas
pedagógicas para educação à distância: concepções e suporte telemático. In: Brazilian Symposium
on Computers in Education (Simpósio Brasileiro de Informática na Educação-SBIE). 2005. p. 351-
360.
CHASSOT, Attico Inácio. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ed. Unijuí,
2003.

DEPIERI, Adriana Anunciatto. A engenharia sob a ótica dos pré-universitários e o impacto das feiras
de ciências. 2014. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

EMBERTON, Oliver. If you want to follow your dreams, you have to say no to all the alternatives.
Disponível em: <https://oliveremberton.com/2014/if-you-want-to-follow-your-dreams-you-have-to-say-no-
to-all-the-alternatives/>. Acesso em: 10 fev. 2020.

FEBRACE. Inspirando e Despertando Futuros Líderes. Edição revisada agosto 2018. Disponível em:
<https://issuu.com/febrace/docs/febrace_16anos>. Acesso em: 10 fev. 2020.

MENDES, Fábio Ribeiro. Iniciação Científica para jovens pesquisadores. Simplissimo Livros Ltda,
2019.

National Research Council. Education for Life and Work: Developing Transferable Knowledge and
Skills in the 21st Century. Washington, DC: The National Academies Press, 2012.

PÉREZ, Daniel Gil et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação
(Bauru), v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001.

61
PINK, Daniel H. Motivação 3.0: os novos fatores motivacionais para a realização pessoal e
profissional. Tradução de Bruno A. Rio de Janeiro: Elsevier Capus, 2010.

SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a


aprendizagem. trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SINEK, Simon. Start with why: How great leaders inspire everyone to take action. Penguin, 2009.

A todos os professores e professoras com quem pudemos aprender ao longo desses anos. Aos
alunos e professores que cederam materiais, exemplos ou depoimentos para compor este livro.
Tudo o que construímos é feito a partir de muitas mãos, então todos vocês têm o nosso muito
obrigado!

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial-
Compartilha Igual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0).

Kawoana Trautman Vianna, Mariana Ritter Rau e Barbara Alves Zolet

Professor de Cientistas, 2ª edição, 2020. Instituto Cientista Beta.

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