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O sonho de aristóteles*

Jacques Lacan

Coloca-se uma diferença entre o objeto e a representação. Sabe-se disso, para


representá-lo mentalmente. Batam palavras que, como se diz, "evocam", ou "convocam"
a representação.
Como Aristóteles concebe a representação? Só sabemos disso por meio do que um certo
número de alunos de seu tempo retiveram. Os alunos repetem o que diz o mestre, mas
com a condição de que o mestre saiba o que diz. Quem julga isto senão os alunos?
Portanto, são eles que sabem. Infelizmente - é aí que devo testemunhar como
psicanalista - eles sonham também.
Aristóteles sonhava, como todo mundo. Será que foi ele quem acreditou ter a obrigação
de interpretar o sonho de Alexandre conquistando Tiro? "Sátiro - Tiro é tua".
Interpretação-jogo que é típica.
O silogismo - Aristóteles o praticou -, ele vem do sonho? É preciso dizer que o
silogismo é sempre capenga - em princípio triplo, mas na realidade aplicação do
universal ao particular. "Todos os homens são mortais", logo, um dentre eles também o
é. Freud chega aí e diz que o homem o deseja.
O que prova isto é o sonho. Não há nada mais assustador do que sonhar que se está
condenado a viver repetidamente. Disso decorre a ideia de pulsão de morte. Os freudo-
aristotélicos, com a pulsão de morte em mente, supõem que Aristóteles articula o
universal e o particular, isto é, o atribuem algo como psicanalista.
O psicanalisante silogiza ocasionalmente, ou seja, aristoteliza. Deste modo Aristóteles
perpetua seu domínio; o que não significa que ele viva - ele sobrevive em seus sonhos.
Em todo psicanalisante há um sonho de Aristóteles. Mas é preciso dizer que o universal
se realiza ocasionalmente na baboseira.
Que o homem tagarela, é certo. Ele coloca condescendência nisso. O mesmo se vê no
fato de que o psicanalisante retorna ao psicanalista no horário marcado. Ele acredita no
universal, não se sabe porquê, uma vez que é como um indivíduo particular que se
entrega aos cuidados do que se chama de psicanalista.
É na medida em que o psicanalisante sonha, que o psicanalista tem no que intervir.
Tratar-se-ia de despertar o psicanalisante? Mas este não o quer de modo algum - ele
sonha, ou seja, importa-se com a particularidade de seu sintoma.
O Peri psyches não tem a menor suspeita dessa verdade, que constitui a resistência à
psicanálise. É por isto que Freud contradiz Aristóteles que, nesses assuntos da alma, não
diz nada de bom - se é que o que restou escrito é um dizer fiel.
A discriminação entre o to ti esti e o to ti en einai, que traduzimos por "essência" e
"substância" como limitada - to horismon - reflete uma distinção no real, aquela entre o
verbal e o real por ele afetado. Isto que eu mesmo distingui como simbólico e real.
Se é verdade, conforma enunciei, que não há relação sexual, a saber, que na espécie
humana não existe um universal feminino, que não existe um "todas as mulheres", disso
decorre que sempre existe, entre o psicanalista e o psicanalisante, alguém a mais. Existe
isto que enunciarei não como representação, mas como apresentação do objeto. Essa
apresentação é o que no caso denomino objeto a. Ele tem uma complexidade extrema.
Aristóteles negligenciou isto porque acreditava na existência da representação, o que
conduz ao que Freud escreve. Aristóteles pensa - ele não conclui que seja por isso -, ele
pensa o mundo, nisto que sonha como o que denominamos 'todo mundo', ou seja, as
pessoas. O mundo que ele pensa, ele o sonha, assim como todos aqueles que falam. O
resultado é - eu disse isto - que é o mundo quem pensa. A primeira esfera é o que ele
nomeio como nous.
Não há como saber a que ponto o filósofo delira sempre. Freud, evidentemente, também
delira. Delira, mas registra que ele fala de números e superfícies. Aristóteles poderia ter
suposto a topologia, mas não há nenhum vestígio disto.
Falei do despertar. Ocorre que recentemente sonhei que o despertador tocava. Freud diz
que sonhamos com o despertador quando não queremos de modo algum acordar.
Neste caso, o psicanalisante cita Aristóteles. Isto faz parte de seu material. Portanto há
sempre quatro pessoas entre o psicanalista e o psicanalisante. No caso, o analisante
apresenta Aristóteles. Mas o psicanalista tem por trás de si seu inconsciente, do qual se
serve ocasionalmente para dar uma interpretação.
É tudo o que posso dizer. Que eu alucine em meu sonho de despertador tocando,
considero isto um bom sinal, já que, contrariamente ao que diz Freud, ocorre que, de
minha parte, eu acordo. Pelo menos estou, neste caso, acordado.

Tradução: Teresinha N. Meirelles do Prado

[Opção lacaniana n° 79 julho 2018] Jacques Lacan - Conferência na Unesco

Notas
* Conferência na Unesco, no Colóqui para 23 centenário de Aristóteles. Publicada
originalmente em francês, em Sinaceur M. A. (dir) Aristote, aujourd'hui, Tolouse: Ères,
1988. A presente tradução foi feita a partir de uma segunda publicação em La cause du
désir (97), de novembro de 2017.

Lacan na Unesco
Lacan foi convidado para o Colóquio internacional que aconteceu na UNESCO por
ocasião do 2300 aniversário da morte de Aristóteles. Ele apresentou seu discurso na
sessão solene de abertura, no dia 1 de junho de 1978. A referência ao sonho de
Alexandre o Grande, do qual Aristóteles foi preceptor, remete à menção de Freud, no
capítulo XV das "COnferências introdutórias à psicanálise". A interpretação pela
equivocidade entre "Sátiro - Tiro é tua" foi inicialmente relatada por Plutarco em As
vidas dos homens ilustres. A teoria do silogismo serviu ainda ao inventor da psicanálise
para a noção de proton pseudos histérico no Entwurf einer Psychologie ("Projeto para
uma psicologia científica"), de 1895. E os escritor de Aristóteles sobre o sonho como
atividade do espírito durante o sonho são citados por Freud em diversos lugares. Lacan
evoca deste modo os freudo-aristotélicos que fazem do estagirita um precursor da
psicanálise.
Laura Sokoowsky

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