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Diálogos Contemporâneos
Antônio Campos
CARPE DIEM
Diálogos Contemporâneos
2ª edição
Recife | 2010
Copyright© 2010 Antônio Campos
Reservados todos os direitos. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida
– em qualquer meio ou forma, seja mecânico, eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – nem
apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização do Autor.
Projeto gráfico
Patrícia Lima
Revisão
Norma Baracho Araújo
ISBN 978-85-62648-06-9
I. ENSAIOS BRASILEIROS – PERNAMBUCO. I.
I. Titulo.
CDU 869.0(81)-4
CDD B869. 4
PeR – BPE 10-0435
___________________________________________________
ISBN 978-85-62648-06-9
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Sumário
Jogo de Deus, 65
Jornal do Brasil, 3 de abril de 2010
Folha de Pernambuco, 5 de abril de 2010
A reinvenção do livro, 89
Jornal do Brasil, 24 de abril de 2010
Folha de Pernambuco, 26 de abril de 2010
O legado de Camus, 95
Jornal do Brasil, 1º de maio de 2010
Folha de Pernambuco, 3 de maio de 2010
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O BRASIL EXPERIMENTA o melhor momento de toda
sua história quanto à estabilidade econômica e, melhor,
com uma feliz perspectiva de crescimento. O país não só
resolveu a dívida externa, acumulada desde o tempo em
que era colônia de Portugal, como passou a ser credor
do Fundo Monetário Internacional (FMI). Vem obtendo
fechamentos cada vez mais positivos em sua balança co-
mercial e recebido fortes investimentos de companhias
estrangeiras, que apostam com vigor no mercado na-
cional. Descobriu uma extensa camada de óleo sob suas
águas (pré-sal) e até recebeu a concessão para sediar
sua segunda Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e a
primeira Olimpíada a ser realizada no continente sul-
-americano, que acontecerá no Rio de Janeiro, em 2016.
Além disso, atravessou uma das mais violentas crises
econômicas globais de todos os tempos e saiu praticamente
ileso. Por isso mesmo, o Fórum Econômico Mundial es-
colheu o presidente Lula como o primeiro vencedor do
recém-criado Prêmio Estadista Global, pela condução da
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Joaquim Nabuco:
intérprete do Brasil
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O CENTENÁRIo DE MoRTE do escritor, político, historiador,
jurista, jornalista, diplomata e abolicionista pernambucano
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910)
foi a referência histórica que deu origem à Lei Federal n.
11.946 que institui 2010 como o Ano Nacional Joaquim
Nabuco. Nada mais justo e oportuno, pois que permite à
nossa sociedade a chance de debater a relevância histórica
e a atualidade das ideias de um importantíssimo e mun-
dialmente respeitado brasileiro. Também em 2010, se vivo
fosse, Gilberto Freyre, outro grande escritor e pensador
pernambucano, completaria 110 anos. Portanto, este ano é
substancialmente importante no tocante a se reverenciar as
obras de dois grandes brasileiros e realizar iniciativas que
democratizem e perpetuem os seus legados.
Como quem reconhece um mestre, Gilberto Freyre
sempre enalteceu o conjunto da obra de Joaquim Nabuco.
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RECENTEMENTE, o presidente Lula participou, no Recife,
de uma cerimônia pelo Dia Internacional em Memória das
Vítimas do Holocausto. A Sinagoga Kahal Zur Israel — a
primeira das Américas, situada à Rua do Bom Jesus, antiga
Rua dos Judeus — ficou lotada para assistir a uma bela ce-
rimônia religiosa, incluindo apresentação artística com violi-
no e leituras poéticas. Alguns ali (os mais novos) talvez não
soubessem ser de autoria de um cristão-novo português cha-
mado Bento Teixeira o que para muitos é a primeira obra
poética do Brasil: Prosopopeia. Outros, porventura, desco
nhecem que há ainda os que defendem ser do intelectual ju-
deu português Isaac Aboab da Fonseca as primeiras poesias
escritas em nossas terras. O rabino Aboab da Fonseca foi o
primeiro religioso judeu, nas Américas, enviado ao Recife
para chefiar a então crescente comunidade judaica, quando
da tomada da cidade pelos holandeses.
Independentemente de qual corrente de historiadores
esteja certa, fica evidenciado que a semente da herança
cultural judaica no mundo ibero-americano foi plantada
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Clarice Lispector:
uma geografia fundadora
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Ao CHEGAR Ao RECIFE, com cinco anos de idade incomple-
tos (1925), Clarice já viajara muitas milhas: para nascer, obri-
gou a família emigrante a uma estada na aldeia Tchetchelnik,
em 10 de dezembro de 1920. Chaya (Clarice), os pais e as
duas irmãs ainda passariam por Bucareste para chegar ao
porto de Hamburgo, quando só então atravessariam o Atlân-
tico e chegariam a Maceió, em 1922. Fugiam dos pogroms, ata-
ques violentos aos judeus, que ocorreram em muitas partes do
mundo, antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Na cidade
alagoana, exceto Tania, todos da família mudariam de nome,
por iniciativa do pai, Pinkhas, que passaria a se chamar Pedro;
a mãe, Mania, Marieta; a irmã, Leia, Elisa; e Chaya, Clarice.
Mesmo assim, seu sobrenome, Lispector, causaria estranheza
aos menos avisados sobre a flor-de-lis no peito que ela era.
Singular em suas origens, Clarice acentuaria seu des-
tino emigrante: no Brasil, além de Maceió e do Recife,
viveu no Rio de Janeiro e em Belém do Pará; no exterior,
durante 16 anos, transitou entre várias cidades, residindo
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HÁ MAIS DE 3 MIL ANoS, na China, os livros eram feitos
com chapas de madeira e de bambu, ligadas por barbantes
de seda ou couro, e os caracteres eram pintados com pin-
céis feitos com pelos de animais. Hoje, produtos eletrônicos
como os audiobooks ou os e-books (livros eletrônicos), com
seus suportes portáteis como o Kindle, da Amazon, o Sony
Reader, da Sony, o Mix Leitor D, que está em vias de entrar
no mercado, ganham cada vez mais espaço de exposição e
discussão. Constatando esse crescimento, as editoras estão
discutindo essa nova realidade tecnológica e de negócio.
Realmente, o fulminante avanço tecnológico para a
publicação de conteúdo de texto mexeu com o mercado
editorial. Está na ordem do dia, na indústria do livro, o
debate sobre os impactos que as novas tecnologias trarão
para o processo de produção, edição, impressão e divulga-
ção de livros em sua forma convencional. Em novembro do
ano passado, já discutimos o tema na Fliporto Digital, que
é um dos braços da Fliporto, e lançamos pioneiramente o
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Diálogos culturais no
mundo global pós-moderno
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A GLobALIZAÇÃo ECoNÔMICA e financeira aliada ao pro-
gresso das tecnologias de comunicação e informação têm
tido impacto sobre as identidades culturais, colocando em
risco também a diversidade cultural no mundo.
As identidades nacionais, que têm nas culturas nacio-
nais as suas principais fontes, estão com uma tendência de
fragmentação, como resultado da homogeneização cultural
da pós-modernidade global. Novas identidades híbridas co-
meçam a ganhar força. Dialeticamente, algumas identidades
estão sendo reforçadas pela resistência à globalização, num
processo de tensão entre o local e o global, entre culturas.
O século XXI passou da diversidade como riqueza
para a interculturalidade como problema. As relações ou
diálogos entre as culturas estão sendo alterados pelos des-
locamentos de imigrantes, como também pela crescente
interdependência entre as sociedades, ante os efeitos da
globalização, surgindo daí um mundo sem fronteiras, o que
torna as relações mais complexas.
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O GRANDE PoEMA é uma oração. Particularmente, acre-
dito que também podemos orar a Deus, através de alguns
poemas, tal como se citássemos versos bíblicos. E não estou
sozinho nessa crença de que existem verdadeiros poemas-
orações, capazes de nos inspirar e até transformar nossos
pensamentos e atitudes, fortalecendo-nos para os embates
da vida. O escritor e documentalista Edson Nery da Fonseca
gosta de conversar com Jesus, declamando o poema Encontro,
de Deolindo Tavares:
Vou me encontrar com Cristo
a uma e meia da manhã.
Por que, então, neste momento
não me cega a estrela das grandes vigílias?
Preciso mais do que nunca estar desperto
e sinto que adormeço sobre finíssimas lâminas de ouro.
O poeta Manuel Bandeira assim começa um poema-
oração:
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HoMEM DE FoRMAÇÃo nacionalista e político maduro e coe-
rente, o deputado federal Aldo Rebelo, presidente da Comis-
são de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara
Federal, tem assumido fortemente ao longo de sua trajetória
parlamentar o cuidado com a causa indígena no Brasil. A
garantia e preservação dos direitos elementares para os povos
indígenas são fundamentais para a manutenção da identidade
nacional. Rebelo defende uma completa integração das etnias
indígenas com a sociedade brasileira, mas respeitando os di-
versos estágios de todas as populações de índios no país.
Sua visão é a de que os índios devem ser efetivamente
integrados à nossa sociedade, tendo liberdade e real opor-
tunidade para desenvolver atividades sustentáveis produti-
vas e exploradoras nas suas terras, e não viverem tutelados
tanto pelo Estado, quanto pelas ONGs nacionais e interna-
cionais. Com propriedade na causa, Aldo Rebelo observa
que os índios não têm direitos sobre suas reservas e que
hoje muitos deles não têm sequer como sobreviver. Os ín-
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Jogo de Deus
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VIvEMoS A ERA da velocidade e sob a pressão (opressão)
do relógio. O relógio antes ficava na praça. Depois inva-
diu nossa casa e passou a nos tiranizar na parede. Com o
progresso, foi entrando em nosso bolso e chegou ao nosso
pulso. Agora está dentro do coração, onde marca o passo.
Vivemos sob o feitiço do tempo, que é um jogo de
Deus. Mas é a eternidade que dá sentido à vida. Tempo é
movimento. Repouso é eternidade. A eternidade é um jogo e
uma esperança, já dizia Platão.
Rubem Alves, em seu Concerto para corpo e alma, apre-
goa-nos que:
Eternidade não é o tempo sem fim [...] Eternidade é o
tempo completo, esse tempo do qual a gente diz valeu a
pena.
A mente, esse portal do ser humano, lutando para
escapar do confinamento e do feitiço do tempo, insiste em
resistir e produz, entre outras coisas, arte. A arte é uma
tentativa de se eternizar. É uma briga do homem com a
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A LITERATURA SEMPRE foi fonte inspiradora para o cine-
ma. Mais recentemente, não só para a sétima arte. Além de
inspirar filmes, os livros passaram a contribuir com ideias
que podem se estender também na criação de jogos eletrô-
nicos. Com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento
dos e-books e audiobooks, o mercado editorial atravessa um
período de turbulência com o avanço no terreno do mundo
virtual. O caminho rumo ao digital é mesmo sem volta para
a produção literária. E junto a tudo isso são vistas, de for-
ma cada vez mais frequente, obras literárias que suscitam
imagens fantásticas na cabeça do leitor (muitas delas até
surreais) e servem de roteiros para filmes de linguagem e
exibição que exploram bastante a tecnologia. Alguns deles
lançados, também, em terceira dimensão (3D), recurso que
passa uma forte sensação de realidade às imagens.
No 1º Congresso Internacional do Livro Digital, rea-
lizado recentemente em São Paulo, o presidente da Feira
do Livro de Frankfurt, Juergen Boos, afirmou que o livro
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FoI UM GRANDE sucesso a exposição Amazônia da pinto-
ra Christina Oiticica, que teve início no dia 15 de março,
no Hotel Diplomat, em Estocolmo, na Suécia, por ocasião
da conferência O Brasil e o Futuro — Biocombustíveis, No-
vas Energias, Ciência e Cultura, uma iniciativa do Jornal do
Brasil, da Casa Brasil e da Câmara de Comércio Brasilei
ra na Suécia. Companheira do escritor Paulo Coelho, essa
talentosa artista plástica brasileira, que já expôs em tantos
países pelo mundo (França, Espanha, Estados Unidos, Suí
ça, Itália, Polônia, Bélgica, Alemanha, Holanda, Irlanda e
Eslováquia), agora vê sua arte brilhar na terra onde são
escolhidos os vencedores dos prêmios Nobel.
Christina Oiticica — como ela própria gosta de dizer
— planta quadros na terra. Em suas telas, a natureza pinta,
deixa marcas, sendo cocriadora da obra. Na realidade, a
terra é cocriadora de tudo, inclusive de nós. Dona de uma
arte originalíssima e apaixonante, sua pintura vem tendo o
reconhecimento crescente do público e da crítica. Apresen-
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APRESENTAR ÀS PESSoAS uma clara perspectiva de como
construir o mundo que desejamos, ou o que vai existir
independentemente de nossas vontades, analisando possi-
bilidades e pontos determinantes do passado e do presente
sobre um assunto específico é o objetivo da Futurologia, a
ciência que estuda o futuro. Apesar da exigência de eleva-
do grau de precisão em suas abordagens, o papel de um
futurólogo não é indicar o que vai acontecer, mas o que
pode vir a se desenrolar como tendências a médio e longo
prazo. Os cenários, portanto, são definidos como possíveis,
prováveis ou desejáveis.
A maioria das pessoas não está familiarizada com a
Futurologia, embora haja estudiosos e conhecimento do seu
exercício em quase todas as áreas da ciência: na Sociologia;
no Marketing; na História; na Demografia. Assim, a Futu-
rologia apresenta-se como uma significativa ajuda na toma-
da de decisões, mas o desenvolvimento de um bom trabalho
nesse campo depende de muitos estudos e pesquisas.
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A reinvenção do livro
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ONTEM (23 DE AbRIL) comemorou-se o Dia Internacional
do Livro e do Direito Autoral, data oficializada pela UNES-
CO, em 1996, e que é festejada em mais de 100 países. A
Espanha, desde 1926, já celebrava o livro na data da morte
de Shakespeare e Cervantes. Na região espanhola da Ca-
talunha, comemora-se, nessa data, o dia de São Jorge, da
rosa e do livro, ou seja, o dia do padroeiro, do amor e da
cultura. As mulheres recebem flores dos homens, que re-
tribuem, presenteando livros.
Diante da profusão de novas plataformas de leitura,
agentes da cadeia produtiva do livro começam a se preo-
cupar com o futuro do livro impresso. Após o surgimento
das novas tecnologias para a publicação de conteúdo, como
a Internet, o processo de produção, edição e impressão de
livros na forma convencional se tornou motivo de debate.
Não vamos confundir o futuro do livro com o futuro
do papel. Nunca tantas ideias foram escritas na era digital.
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O legado de Camus
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ESTAMoS No ANo do cinquentenário de morte do escri-
tor franco-argelino Albert Camus (1913-1960). Talento re-
conhecido em todo o mundo, Camus é um dos mais repre-
sentativos escritores do século 20. Nascido em uma família
pobre na cidade de Mondovi, na Argélia, então colônia da
França na África, teve uma vida sacrificada e dura. Perdeu
o pai (francês) quando tinha menos de um ano de idade,
vitimado em uma batalha da 1ª Guerra Mundial. Foi criado
pela mãe (espanhola), que não sabia ler nem escrever, e
uma avó, extremamente austera, em meio a uma condição
que contemplava apenas as necessidades essenciais de so-
brevivência, num subúrbio da capital Argel. Graças à ajuda
de um mestre (Jean Grenier), graduou-se em Licenciatura
em Filosofia, mas quando estava prestes a começar a do-
cência contraiu tuberculose.
A doença o acompanhou pelo resto de sua breve vida e
a frequente ameaça de morte o marcou profundamente, re-
fletindo de maneira significativa na sua visão de mundo e na
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vro Camus, mon père (Camus, meu pai), ainda sem tradução
para o português.
Meio século após sua morte, quando vivemos em um
mundo marcado por irracionalidades, intolerâncias e fana-
tismos, lembrar e recomendar a leitura desse extraordinário
escritor é fundamental para que possamos sempre buscar
um melhor entendimento sobre a aventura existencial do ser
humano. Sua obra nos deu uma admirável lição de auten-
ticidade. Nunca esqueci uma frase de Albert Camus que li
num monumento em Tipasa, quando estive na Argélia pela
primeira vez: Aqui, eu conheci a dor de viver e a glória de amar.
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As faces do quase
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VIvEMoS FUGINDo de uma palavra que expressa, na maio-
ria das vezes, um sentimento de frustração, de desaponta-
mento e de tristeza: quase. Mas nem todo fato que chega
próximo a se realizar, a acontecer é tido como frustrante.
Para os que têm verdadeiro pavor do quase, um conciso tex-
to escrito em 2003 por uma então estudante de medicina ca-
tarinense chamada Sarah Westphal Batista da Silva e lançado
na Internet com autoria atribuída ao cronista e escritor Luis
Fernando Verissimo tornou-se um ícone para uma legião
de pessoas que se identificam com aquela argumentação tão
bem colocada. Depois de tantas negativas de Verissimo de
que o texto tinha sido escrito realmente por ele, a autora de
O quase foi descoberta em 2005, quando o seu texto já havia
sido traduzido para o francês, numa coletânea de textos e
versos de brasileiros, entre os quais Clarice Lispector, Carlos
Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
Atribuído a Verissimo, estava lá O quase, de Sarah, que
na tradução virou Presque. Muito bem escrito, o texto sacode
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Vinicius de Moraes dizia que é melhor viver do que ser
feliz. O propósito da vida não é necessariamente a busca
da felicidade. O mais interessante na vida reside na curio-
sidade, nos desafios, no bom combate, com suas vitórias e
derrotas, na busca da harmonia, e coisas afins. A vida é
mais uma busca do que um encontrar. Fernando Pessoa
fala sobre a verdadeira história da humanidade: Ah! Quem
escreverá a história do que poderia ter sido?
Vivemos fugindo de uma palavra que expressa, na
maioria das vezes, um sentimento de frustração: quase. Um
texto escrito em 2003 por uma então estudante de medi-
cina catarinense chamada Sarah Westphal Batista da Silva
e lançado na Internet com autoria atribuída ao cronista e
escritor Luis Fernando Verissimo tornou-se uma referência
sobre a síndrome do quase. Depois de tantas negativas de
Verissimo de que o texto tinha sido escrito realmente por
ele, a autora de O quase foi descoberta em 2005, quando o
seu texto já havia sido traduzido para o francês numa co-
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O Google e os livros
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DEPoIS Do ORKUT e do e-mail que nunca está cheio (o
Gmail), um dos últimos projetos do Google é a ferramenta
Google Book Search, inaugurada em novembro de 2005.
Outro projeto é a venda de livros eletrônicos (e-books),
através do Google Editions, que começa ainda este ano.
Assim, o Google está fazendo a maior biblioteca e o maior
negócio livreiro do mundo.
A maior companhia da Internet tem uma meta nada
modesta nesse ramo: quer digitalizar praticamente todos
os livros do planeta. Segundo dados do Online Computer
Library Center (CLC), dos 55 milhões de títulos existentes
no mundo, 10% representam o catálogo ativo das editoras;
15% caíram em domínio público e 75% — ou 40 milhões
— são livros não mais comercializados, mas que ainda não
estão em domínio público. O foco inicial do Google são es-
ses dois últimos grupos. No fim de 2009, o total de títulos
convertidos em bits pela empresa já havia alcançado os 10
milhões. Os engenheiros da empresa Google criaram um
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O deserto do real
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O ESCRIToR E FILÓSoFo Slavoj Žižek nasceu em Liubliana,
na antiga Iugoslávia. Atua como professor na European Gra-
duate School e no Instituto de Sociologia da Universidade de
Liubliana. Žižek é conhecido pelas suas teorias sobre o real,
o simbólico e o imaginário.
Extrai seu pensamento do idealismo alemão e da psi-
canálise, sendo fortemente influenciado por Lacan, Marx,
Hegel e Schelling. Žižek defende o Real em sua violência
extrema como o preço a ser pago pela retirada das camadas en-
ganadoras da realidade. Afirma que o real é um enigma que
não deve ser equiparado com a realidade que enxergamos.
Segundo ele, nossa realidade foi construída a partir de
símbolos. A realidade seria uma ficção. É preciso anali-
sar constantemente aspectos como o antagonismo social, a
vida, a morte e a sexualidade para compreender melhor
esse contexto no qual estamos inseridos.
A obra de Slavoj Žižek tem estado na linha de frente
do debate filosófico, político e cultural nos últimos tempos.
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A obRA Não contem com o fim dos livros, escrita pelo ita-
liano Umberto Eco, foi lançada no Brasil em maio e faz
uma análise da existência do livro na atualidade. A ideia
da morte da literatura clássica e o pretenso fim dos livros
são duas das maiores obsessões de Umberto Eco, surgindo
daí o interesse em publicar o livro, numa parceria com o
ensaísta francês Jean-Claude Carrière, organizado pelo jor-
nalista Jean-Philippe de Tonnac.
Escritor, filósofo, semiólo, linguista e bibliófilo, Eco é
um estudioso das falhas humanas. Fascinado pela má-fé
e pela estupidez, o italiano acredita que o erro sempre
aponta para algo que não devemos esquecer, e que ressalta
a verdade. Para ele, existem apenas duas diretrizes no ce-
nário literário: ou o livro permanecerá sendo o suporte da
leitura ou existirá alguma coisa similar que fará com que
ele não peca seu valor original.
As variações em torno do livro como objeto não modi-
ficam sua função, nem sua construção gramatical. O livro é
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Aliança de civilizações
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APRESENTAR NovAS dimensões para os problemas entre
as diferentes culturas e chamar a atenção para questões
que afetam diretamente os países, como emigração, fome
e educação. Esses foram alguns eixos temáticos discutidos
durante o 3º Fórum da Aliança de Civilizações, que reu-
niu cerca de 7 mil participantes de 100 países, no Rio de
Janeiro. Realizado nos dias 28 e 29 de maio, o Encontro
abordou questões referentes aos conflitos mundiais e às
diferenças culturais, além de propor soluções, através do
diálogo, para superação dos conflitos entre as nações.
A Aliança de Civilizações é uma iniciativa da Organiza-
ção das Nações Unidas, cujo objetivo é mobilizar a opinião
pública a fim de superar preconceitos e ideias que, muitas
vezes, geram conflitos entre países e etnias diferentes. Foi
inicialmente proposta pelo presidente do Governo da Es-
panha, José Luis Rodríguez Zapatero, na 59ª Assembleia
Geral das Nações Unidas (AGNU), logo após os atentados
terroristas no metrô de Madri, em 2004.
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Direitos autorais e economia criativa
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O SÉCULo 21 É marcado por uma transição para a era da
economia do conhecimento. A riqueza revolucionária da 3ª
Onda, defendida por Alvin Toffler, é cada vez mais basea
da no conhecimento e está muito associada à tecnologia.
O Brasil pode ser o melhor do BRIC, por meio do
fortalecimento da economia criativa e da transformação da
inventividade em competitividade. A tendência é aumentar
a riqueza gerada pela economia baseada no desenvolvi-
mento das indústrias culturais e de criatividade. A revisão
da legislação que envolve o direito autoral é um impor-
tante instrumento para o desenvolvimento dessa economia
criativa no país.
Em 1998, quando a Lei dos Direitos Autorais foi pro-
mulgada, o Brasil vivia um cenário completamente dife-
rente deste que temos agora. As novas formas de mídias
sociais, sites de compartilhamento de arquivos e todas as
novidades tecnológicas fizeram os dias de hoje diferen-
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A estrela fria
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JoSÉ ALMINo RECoRRE às lembranças de sua vida pessoal
para a construção de seu pensamento poético e literário. O
poeta pernambucano, que é presidente da Fundação Casa
de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, já escreveu os livros de
poemas De viva voz (1982) e Maneira de dizer (1991) e as
novelas O motor da luz (1994) e O Baixo da Gávea, diário de
um morador (1996). Sua mais recente obra se chama A estrela
fria e é uma coletânea de poesias escritas por Almino ao
longo de sua história.
Almino, que nasceu no Recife, tinha apenas 19 anos
quando foi obrigado a partir para o exílio com sua famí-
lia. Lembranças dessa intervenção política são marcantes
nesse seu livro. A poética de Manuel Bandeira e o estilo
oposto presente nos textos de João Cabral de Melo Neto
são presentes no livro, que faz uma espécie de mistura de
linguagens literárias.
Autor de palavras peculiares, José Almino traz na obra
momentos de sua vida pessoal, relatos do cotidiano, lem-
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Criação imperfeita
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MARCELo GLEISER É FÍSICo, astrônomo, escritor e profes-
sor da Dartmouth College, em New Hampshire nos EUA.
No Brasil, é colunista da Folha de S.Paulo, mas ficou conheci-
do por escrever obras sobre física para o público leigo, como
A dança do universo e O fim da terra e do céu. Lançou recente-
mente sua obra Criação imperfeita. O livro, que faz uma refle-
xão de 250 anos de pensamento científico, vai de encontro
a um dos maiores mitos da ciência e da filosofia ocidental: o
de que uma Unidade nos liga ao resto do universo.
Há milhares de anos, a física tenta explicar como fun-
ciona a Natureza e, sobre ela, diz tratar-se da encarnação
científica do monoteísmo. Não é de hoje que cientistas afir-
mam que, escondida na complexidade existente na nature-
za, há uma única realidade que, por sua vez, é mais fácil
de ser compreendida. A “Teoria do Tudo” liga as tradi-
cionais leis da física, que regem grandes corpos e grandes
forças, à ideia de que as partículas, apesar de pequenas,
são essenciais. Foi com o objetivo de comprovar essa tese
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TIvE A oPoRTUNIDADE DE vER, há dois anos, no Insti-
tuto Tomie Ohtake, na capital paulista, a exposição José
Saramago: a consistência dos sonhos. A mostra, que também
foi exibida em países como Espanha e Portugal, reuniu
cerca de 500 documentos originais do escritor apresenta-
dos por meio de recursos digitais e audiovisuais. Organi-
zada pelo diretor da Fundação César Manrique, Fernando
Gómez Aguilera, o evento contou com obras inéditas, tra-
duções, manuscritos, notas, primeiras edições, fotografias
pessoais e vídeos. Foi uma forma de comemorar os 85 anos
bem vividos de Saramago. Uma bela exposição.
No último dia 18 de junho de 2010, uma nota publicada
pela Fundação José Saramago anunciara que o escritor por-
tuguês, homenageado pela Instituição, havia falecido, aos 87
anos. O intelectual sofria de leucemia e vinha lutando contra
a doença havia anos. No momento de sua morte, o autor
de Ensaio sobre a cegueira estava em casa junto da família no
arquipélago espanhol Lanzarote, onde vivia desde 2003.
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QUAL A SEMELHANÇA entre um gari desempregado de
rua e um médico? O que leva uma pessoa a sair de casa
em uma manhã de folga do trabalho para carregar sacolas
e cestas básicas? O que faz com que um morador de rua
dedique dez horas de seu dia ajudando pessoas tão pobres
e sofridas quanto ele? A resposta é mais simples do que se
imagina.
Recentemente, 69 municípios foram fortemente atin-
gidos pelas fortes chuvas que passaram por Pernambuco,
sendo 27 em estado de emergência e 12 em estado de
calamidade. Os municípios de Cortês, Escada, Palmares,
Barreiros e Catente são alguns dos locais que ficaram pra-
ticamente destruídos. O governo do Estado criou pontos
de apoio aos desabrigados e vítimas das enchentes, na ope-
ração reconstrução. As “embaixadas” – como foram cha-
madas – têm como objetivo prestar os serviços de maior
urgência às vítimas.
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No ÚLTIMo DIA 1º DE jULHo estivemos há exatos 50 anos
da morte do escritor pernambucano Carlos Pena Filho. O
poeta, que nasceu no Recife em 17 de maio de 1928, fa-
leceu em um acidente de carro ao lado de seu amigo José
Francisco de Moura Cavalcanti. Pouco antes, meu padri-
nho de crisma, o advogado Syleno Ribeiro, chegou a entrar
no mesmo veículo, mas saiu antes do ocorrido. Estudou o
primário e o ensino fundamental em Portugal, pois era
filho de portugueses.
Assim como eu, formou-se Bacharel em Direito pela
Universidade Federal de Pernambuco e descobriu logo
cedo sua paixão pela literatura. Com apenas 19 anos já
demonstrava habilidade com letras de música e poemas.
Em 1947, publicou, no Diario de Pernambuco, o soneto “Ma-
rinha”. Era o primeiro de vários que viria a lançar nos su-
plementos dos jornais nordestinos e em publicações do Sul
e Sudeste brasileiro.
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