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Tiradas geniais: Lições e ousadias de um craque

por Reinaldo Polito

Na história da comunicação conheci um verdadeiro expert em sair do lugar comum.


Pendurava chuteira na porta, trocava sapatos de pés e conseguia estar sempre na primeira
página dos principais jornais do País.
Se você está pensando em conquistar um lugar na galeria dos vencedores, prepare-se
para sair da mesmice e se destacar. Essa história de seguir trilhas batidas dá muita
segurança, mas é o caminho de todos e, por isso, não tira ninguém do limbo. Na história da
comunicação conheci um verdadeiro craque em sair do lugar comum, Jânio Quadros.
Quando todos pensavam que ele seguiria numa determinada direção, lá estava ele fazendo
suas traquinagens e encontrando novas formas de se promover. Um de meus alunos, João
Mellão Neto, que foi seu secretário da administração, me contou que ao despachar com o
prefeito ficava impressionado com a lucidez e a visão política do ex-presidente. Sabia
exatamente as conseqüências de cada uma das decisões tomadas e antecipava com
perfeição milimétrica as reações da oposição e da imprensa. Só que na hora de pôr em
prática o que tinham decidido com tanto critério se transformava em notícia. Pendurava
chuteira na porta, trocava sapatos de pés, vestia camisa do Corinthians e conseguia estar
permanentemente na primeira página dos principais jornais do País.
Venceu as eleições à prefeitura de São Paulo em 1985, graças a sua criatividade e
capacidade de comunicação. Enfrentou Fernando Henrique Cardoso, que era muito
admirado e respeitado pela elite intelectual, mas pouco conhecido pela maioria da
população. Fernando Henrique tinha quase 30 minutos de tempo na televisão e podia utilizá-
lo como bem entendesse para se promover e deslanchar sua campanha. Jânio tinha menos
de um terço desse tempo, não chegava a 10 minutos. Mas, por causa do seu jeitão
engraçado de falar e de suas tiradas sarcásticas e sempre bem-humoradas, fascinava os
telespectadores e conquistava excelente receptividade. Sabendo que sua audiência era
elevada e que Fernando Henrique lutava para se destacar e ficar conhecido, toda vez que se
referia a ele usava um artifício para confundir ainda mais o eleitorado, tratava-o por Senhor
Cardoso. Ora, se as pessoas ainda não sabiam bem quem era Fernando Henrique, Senhor
Cardoso, então, não passava de um ilustre desconhecido.
Assim, com pequeno jogo de palavras, evitava fazer a propaganda do opositor. Certa
vez fui convidá-lo para ser paraninfo de uma das turmas do nosso curso de expressão
verbal. Combinei de encontrá-lo numa palestra que ele faria para uma associação de
distribuidores de derivados de petróleo. Atrasou quase uma hora. Quando chegou, a platéia
já estava impaciente e aguardando algum tipo de explicação pelo atraso. Ao entrar
caminhando com dificuldade, ainda no corredor, parou bem no meio do auditório, olhou com
calma para todas as pessoas e disse com voz arrastada: "Os senhores estão diante de um
paletó surrado a procura de um cabide". O público explodiu numa gostosa gargalhada,
enquanto ele se encaminhava para a mesa de honra. Ao se sentar, ninguém queria saber
mais de desculpas, todos já estavam dispostos a ouvir sua mensagem.
Ele aceitou meu convite e foi paraninfar a turma de formandos. Nessa formatura os
alunos recebiam o certificado de conclusão e se dirigiam à tribuna para dizer algumas
rápidas palavras, como último exercício, aproveitando a oportunidade para falar diante de
uma platéia numerosa. Após sua chegada à solenidade teve de aguardar quase 100
formandos que um a um foram se apresentando antes dele. Quando chegou sua vez de
discursar, as pessoas já estavam cansadas de tanto ouvir discursos. Por esse motivo, depois
que começou a falar, em poucos minutos a platéia naturalmente começou a perder a
concentração. Com sua experiência e extraordinária habilidade conseguiu reverter a situação
que caminhava para o fracasso e fazer com que todos o acompanhassem até o final, como
se fosse o primeiro orador daquela manhã. Num determinado momento, interrompeu o que
estava dizendo e contou esta história que obrigou a todos a se prender a sua comunicação:
"Recorda-me, por exemplo, quando eu fazia uma conferência em uma das faculdades
de São Paulo – e chamo conferencia pomposamente a uma palestra – aluno que me
interpelou pouco mais ou menos assim, ‘você poderia dizer-me?’ Eu cortei o cerce. Você é
uma contração do pronome Vossa Mercê, muito usado pelos Senhores para se dirigir aos
seus escravos. Já ouviu falar em Benjamin Franklin? Não, eu não me refiro ao inventor do
pára-raios, mas sim ao pensador, ao diplomata, ao orador. Pois, ele disse certa vez,com
muita propriedade, que a intimidade só produz aborrecimentos e filhos. E com o Senhor não
desejo nem uma coisa nem outra".
Enquanto as pessoas riam a ponto de perder o fôlego, ele saboreava sua façanha,
convicto de que naquele momento havia conquistado o público e que teria a atenção de
todos até o final. São atitudes ousadas, espirituosas, inteligentes como essas que fazem uma
pessoa sobressair e se destacar nas suas atividades. Se você tiver presença de espírito,
sensibilidade para entender as pessoas e tocar a emoção delas, não se imponha limites
restringindo-se às atitudes comuns adotadas pelo comodismo da maioria. Seja ousado e use
seus atributos para ter sucesso e se tornar um vitorioso. Pare para pensar, talvez você
descubra que a solução que imaginava estar tão distante, depende apenas da sua mudança
de atitude. Quem sabe não tenha chegado sua hora de pendurar um par de chuteiras na
porta, ou de se transformar num paletó surrado à procura de um cabide.

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