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Cadernos de
Museologia
Centro de Estudos de Socio-Museologia
ISMAG/ULHT
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
1-1993
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 2
ÍNDICE
Apresentação ................................................................................ 3
Mário MOUTINHO
Sobre o Conceito de Museologia Social ............... 5
Agostinho RIBEIRO
Novas Estruturas / Novos Museus ................................................ 9
Luís MENEZES
O Primado do Discurso
Sobre o Efeito Decorativo ........................................................... 29
Luís MENEZES
A Evolução de Conceitos entre as
Declarações de Santiago e de Caracas
Texto 1 ........................................................................................ 77
Francisco PEDROSO de LIMA
A Evolução de Conceitos entre as
Declarações de Santiago e de Caracas
Texto 2 ........................................................................................ 85
APRESENTAÇÃO
Efeito e causa da verdadeira revolução teórica e prática que, nos últimos tempos, vem tendo
lugar na área das Ciências do Património e da Museologia, o Curso de Especialização em Museologia
Social, quer pela sua qualidade substantiva quer pela quantidade das pessoas já formadas, deu um
contributo decisivo para a consolidação entre nós, das novas vidências e vivências museológicas, que se
procuraram sintetizar na designação terminológica e epistemologivamente inovadora de Museologia
Social ou Socio-Museologia.
No momento em que em que o referido Curso de Especialização em Museologia Social se vai
transformar no primeiro Curso de Mestrado do ISMAG/ULHT e em ordem à prossecução, intensificação
e alargamento dos seus objectivos originais, é criado no âmbito da mesma Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias o Centro de Estudos de Socio-Museologia (CESM).
Nada melhor que estas palavras fundadoras do Centro de Estudos de Socio-Museologia
(Ordem de serviço de 26 de Março de 1993) para colocar nas primeiras páginas de uma
iniciativa como a dos Cadernos de Museologia, a qual vem demonstrar com factos (que, por
sinal, também são palavras escritas) a verdade daquelas afirmações, além de constituir, para os
demais centros e áreas de estudo da ULHT, o "bom exemplo", que deverá servir não de
imitação, mas de inspiração...
Na sua voluntária discreção, não poderiam estes Cadernos de Museologia constituir
também os primeiros passos em ordem a uma já necessariamente menos discreta Revista de
Humanidades e Tecnologias do conjunto de todos os departamentos e outras unidades
científico-académicas da ULHT ?
SOBRE O CONCEITO DE
MUSEOLOGIA SOCIAL
Mário MOUTINHO
responsáveis dos museus assim como das estruturas das quais eles
dependem;".
Na Declaração de Caracas de 1992,que o ex-presidente do ICOM,
Hugues de Varine, considerou como a mais profunda reflexão colectiva
sobre museus e museologia dos últimos vinte anos estes princípios são
claramente reafirmados e considerados como fundamentais para o
desenvolvimento da museologia e estruturam a prospectiva apresentada no
Relatório de Síntese da XVI Conferência Geral do ICOM.
A abertura do museu ao meio e a sua relação orgânica com o
contexto social que lhe dá vida tem provocado a necessidade de elaborar e
esclarecer relações, noções e conceitos que podem dar conta deste
processo.
O alargamento da noção de património, é a consequente redefinição
de "objecto museológico", a ideia de participação da comunidade na
definição e gestão das práticas museológicas, a museologia como factor de
desenvolvimento, as questões de interdisciplinaridade, a utilização das
"novas tecnologias" de informação e a museografia como meio autónomo
de comunicação, são exemplo das questões decorrentes das práticas
museológicas contemporâneas e fazem parte de uma crescente bibliografia
especializada.
Em Portugal, apesar deste movimento ser mais recente, deve-se
reconhecer que estas questões têm sido amplamente debatidas no presente
contexto de descentralização, de reforço do poder autárquico e da
democratização da vida cultural e associativa.
Refira-se a título de exemplo e em particular as "Jornadas sobre a
função social do Museu" organizadas pelo MINOM (Movimento
Internacional para uma Nova Museologia) em Vila Franca de Xira 1988,
Portimão 1989, Vilarinho da Furna 1990, Lisboa 1991 e Setúbal 1992 e os
"Encontros Nacionais de Museologia e Autarquias" que já tiveram lugar em
Lisboa 1990, Beja 1991 e Setúbal 1992.
A importante participação nessas reuniões de museólogos,
conservadores, autarcas, responsáveis associativos, investigadores e
professores universitários, ligados sempre e de formas diferentes a
processos museológicos que cobrem todo o país, testemuham claramente
que a comunidade museológica portuguesa se integra e é cada vez mais
actora neste processo geral de transformação, renovação e inovação que
percorre os museus e a museologia.
É pois neste contexto nacional e internacional, que a formação no
domínio da museologia, deve ser entendida como um factor fundamental no
desenvolvimento das nossas estruturas museológicas,
Esta formação que em nosso entender deve ter obrigatoriamente por
base o quadro geral da museologia, tal como está definido no Art. 3 do
Estatuto do ICOM, deve ter também em consideração as novas
condições sociais da produção museológica.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 7
durabilidade, tal realidade de conjunto nunca poderá ser considerada como algo rígido e
imutável mas sim como um todo dinâmico em permanente transformação.
Nesta perspectiva de base sociológica um museu pode ser considerado uma subestrutura
em permanente relação e interdependência com as restantes subestruturas que, no seu conjunto
formam o todo social.
Se o desajuste existe, ou seja, se o museu não mantém nem potencia tais relações, a sua
própria razão de ser deixa de ser válida ou importante para o conjunto. Perdida a noção desta
relação a sua utilidade passa a ser discutível e a sua função perde eficácia.
Neste contexto, não importa distinguir se estamos perante novas ou tradicionais correntes
museológicas. Vale para todas na medida em que todas se constituem e existem em função do
todo social. A diferença residirá nas inadaptações de algumas destas subestruturas por razões de
natureza, a mais das vezes, operacional. A inadaptação técnica e/ou humana estará quase sempre
na base destes desajustes.
Com efeito, um museu, independentemente do seu programa, espaço e colecções, possui
em si mesmo todo o potencial e apetência indispensáveis para uma correcta e eficaz inserção no
todo social. O protagonismo humano, técnico e profissional, é que dará possibilidades ou não de
inserção nesse mesmo todo.
Isto remete-nos para o grande e grave problema da formação, que deve ser activa e
permanente para, precisamente o factor humano consiga adaptar-se e adequar estratégias ao
constante movimento e mutações que a sociedade contemporânea traduz.
Assim, para podermos progredir numa reflexão cuidada em torno das novas estruturas que
caracterizam os tecidos sociais actuais, eles próprios em constante movimento, é imprescindível
proceder a uma caracterização, ainda que muito sumária, da própria sociedade, aos diversos
níveis perceptíveis para a maioria das pessoas.
Na sua totalidade, isto é, à escala planetária, põe-se em evidência as grandes dicotomias
que não só a identificam como também resultam mais sensíveis à percepção humana. São os
grandes problemas ou, para utilizar uma expressão mais corrente na cadeira, as grandes
angústias com que a humanidade se debate, tantas vezes impotente para resolvê-las, dadas a
amplitude e natureza das mesmas.
Caracterizar a sociedade actual não é tarefa fácil e o rigor de tal análise é sempre muito
discutível, porque subjectiva na valoração dos fenómenos políticos, económicos, sociais e
culturais dos seus autores.
A grande questão é a de saber o que marca e define, verdadeira e decisivamente a
sociedade actual, do ponto de vista universal?
A verdadeira revolução tecnológica que, por exemplo, ao nível das telecomunicações,
produziu a "aldeia global"?
O extraordinário desenvolvimento científico que permite a manipulação e domínio em
áreas do saber que vão do infinitamente grande ao infinitamente pequeno?
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 9
museológica que tenha em conta estas realidades e as consiga, senão resolver, pelo menos
minimizar.
Pela extrapolação, a proposta é válida para todo o lado, salvaguardadas que devem estar as
respectivas especifidades comunitárias, num processo de adequação às realidades concretas de
cada zona do globo. O que está em causa não é, propriamente, a descoberta da panaceia
universal, mas tão somente a prestação de um contributo que pode ser, em diversas
circunstâncias, decisivo para a resolução de problemas de cariz social, por mais pequenos e
irrelevantes que eles nos possam parecer à primeira vista.
Curiosamente, toda a declaração nos remete para uma proposta de profundas mudanças,
sobretudo ao nível das atitudes dos responsáveis, de estruturas museológicas pré-existentes -
não é absolutamente necessário que, para se conseguir atingir tais objectivos, se criem novas
estruturas e se construam novos museus, como se esta fosse uma questão vital para a
sobrevivência das novas correntes museológicas. É possível, embora se reconheça difícil,
"contruir" novos museus a partir dos museus existentes.
Tudo depende, afian, do labor humano que em torno da estrutura se pode, ou não,
construir.
Um museu dito tradicional, pode, em qualquer momento, revêr o seu programa, reformular
os seus espaços, repensar as suas colecções, formar e actualizar os seus quadros, integrando
novas funções mais compatíveis com os desafios da sociedade contemporânea.
Do ponto de vista teórico, nada impede que tal aconteça. Na prática, sabemos bem que as
resistências são muitas e as possibilidades de êxito bastante reduzidas. No entanto, este será um
exercício aliciante e construtivo para quem quiser e ousar pô-lo em prática.
É importante que as barreiras que separam a "nova" museologia da "tradicional", se
esbatam e se tente construir um espaço intermédio de intervenção que resulte em algo mais que
simples actualizações dos esquemas tradicionais, tão gratos à maioria dos museus existentes sem
chegar ao ponto de negar a herança museal que a identifica e, de certo modo, a justifica.
Resta pois considerar que é desejável que os novos museus surjam e laborem a partir de
novas estruturas. Isso é inquestionável, mais que não fosse, por uma questão de eficácia.
Tal não implica, entretanto, as reais possibilidades e pouco exploradas apetências dos
existentes, capazes de também contribuir para uma nova museologia, mais virada para o homem
que para o objecto.
Até porque qualquer objecto só tem valor e tem valor precisamente porque foi construído
pelo homem.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 11
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 12
NOVOS MUSEUS
NOVOS PERFIS PROFISSIONAIS
Maria Madalena CORDOVIL
I - INTRODUÇÃO
A escassez do espaço disponível não permite uma análise cuidada dos pressupostos e das
conclusões das duas declarações em apreço, mas não podemos deixar de sublinhar, pela síntese
que representa, o seguinte ponto da Declaratoria de Oaxtepec: "É necessário fortalecer e
desenhar acções que integrem vontades políticas conscientes, a fim de preservar a cultura viva,
o património material, o desenvolvimento sócio-económico e a dignidade humana".
Curiosamente, mas mais tarde, em 1987, durante o IIIº Atelier Internacional da Nova
Museologia, reunido em Aragão, René Rivard, retomou as mesmas ideias ao afirmar que "A
nova museologia tem essencialmente por missão favorecer por todos os meios, o
desenvolvimento da cultura crítica no indivíduo e o seu desenvolvimento em todas as camadas
da sociedade como melhor remédio para a desculturização, a massificação ou a falsa cultura". E
mais adiante: "Dependendo do tipo de instituição na qual opera, a nova museologia, utiliza,
então, as culturas etnológicas e as culturas eruditas para proporcionar o desenvolvimento desta
cultura crítica que permite adquirir o sentido da qualidade, libertar-se dos estereótipos e
portanto, assegurar ao maior número uma estratégia de vida individual e colectiva do mesmo
modo que uma identidade mais forte". (Museologie et Cultures, p.p. 3/4. Sublinhados do autor).
Para o desenvolvimento desta consciência cultural e patrimonial como meios de
desenvolvimento integral, os participantes da Assembleia de Oaxtepec recomendavam:
. "Formação de promotores seleccionados no próprio meio.
. Criação de estruturas associativas.
. Criação de uma museografia popular, incluindo inventariação, conservação, apresentação,
valorativa e difusão.
. Preparação e participação de profissionais para um diálogo consciente com a
comunidade".
O que, definido que está o Novo Museu, implica que se encontre para ele o perfil do
profissional adequado.
A Mesa redonda de Santiago do Chile sublinhava com ênfase a "orientação eminente social
do papel da museologia". Tal directiva foi assumida e reforçada em Oaxtepec. Esta declaração
vai mesmo mais longe ao terminar afirmando ver na "museologia um instrumento para o livre
desenvolvimento das comunidades".
Duas décadas decorridas, os participantes reunidos em Caracas reafirmam esta função
social do museu atribuindo-lhe uma nova dimensão que "é a de ser protagonista do seu tempo"
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 15
3 - O Novo Museólogo
Ao novo Museu incumbem então diferentes funções, muito para além da tradicional
conservação de uma colecção. O IV Atelier da Nova Museologia define como objectivos
comuns do Museu a favor das populações:
* favorecer a tomada de consciência, contribuir para o despertar da dimensão política,
cultural e social com vista à reapropriação do território, do património para um
autodesenvolvimento individual e colectivo;
* estimular a criatividade em função de uma qualidade de vida, da felicidade e do prazer;
* favorecer as trocas culturais reconhecendo o saber das populações. (Cadernos de Minom,
nº1, p. 13).
Por outro lado, é claro que esta acção se faz com as populações e para elas, pondo sempre
a tónica na liberdade e na criatividade das próprias comunidades. Tais intenções ressaltam nas
conclusões do grupo III das citadas Ias Jornadas, quando se afirma que "a museologia (...
instrumentos...) a par de outros, de desenvolvimento integral das populações e com as
populações". (p. 33).
E mais adiante: "nesse sentido, o que há de novo nas práticas da Nova Museologia é a
demonstração da capacidade (e a prática disso) de as populações se auto-organizarem para gerir
o seu tempo e o seu futuro". Ou ainda "a acção da N. M. supõe a acção criadora da população
no seu próprio desenvolvimento, ainda que haja a consciência de que essa participação se
manifesta de modo vário, respeitando a diversidade de interesses, o grau de desenvolvimento e
as necessidades em número de participantes em cada projecto (...)".
E a finalizar: "o novo Museu é um agente de desenvolvimento através de um trabalho
criador e de sentido libertador feito pela população (em que se integra a equipa museal), para a
população (...)", (p.34).
O mesmo documento dá um assinalável contributo para a definição, o enquadramento e o
papel do museólogo ao afirmar que se reconhece "o carácter mais vasto da acção do museu e do
museólogo que não pode confinar-se à acção cultural (que no entanto é essencial) e ao espaço
local, mas reveste muitas vezes o carácter de intervenções nos domínios do social, do
económico e até, do político (...)". Adiante e nas mesmas conclusões, afirma-se: "Na perspectiva
do desenvolvimento integral da população a primeira obrigação do Museu e da equipa museal é
detectar as carências do meio e responder-lhes de modo correcto e eficaz (...) na detectação e
resposta a esses problemas têm papel fundamental os técnicos (museólogos, investigadores,
animadores, agentes de desenvolvimento...) cuja acção se desenrola em ligação com os restantes
elementos que integram o projecto e tem de ser sempre orientado para a resolução dos interesses
da população. Nesse sentido o Museu é um centro de formação de criadores".
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 17
Do que acima fica transcrito ressalta que o museólogo do novo Museu é um profissional de
tipo novo, que, além do domínio das áreas tradicionais da museologia (que me parece não
deverem ser esquecidas), tem de ser capaz de detectar e gerir os problemas com que se defronta
a comunidade, de responder a solicitações variadas que vão das questões culturais às socio-
económicas e políticas.
Tem de ser capaz de integrar uma equipa que tome as decisões aos vários níveis,
empreender, incentivar ou coordenar os vários trabalhos de investigação que decorram na área
do Museu e finalmente, gerir o Museu.
Tal perfil implica um museólogo capaz de se integrar na população e se manter com ela um
diálogo permanente. Um profissional deste tipo tem naturalmente de ser polivalente e de possuir
uma formação transdisciplinar.
O que põe, finalmente, o problema da formação de museólogos para criar museus.
4 - Comunicação e Linguagem
Sejam quais forem os problemas concretos com que se defronta cada projecto museal, os
museólogos sabem que "a função museológica é, fundamentalmente, um processo de
comunicação que explica e orienta as actividades do museu (...)". (Declaração de Caracas, p.6).
A linguagem específica do museu deve merecer ao museólogo e a toda a equipa um cuidado
especial.
De facto, as linguagens utilizadas devem ser variadas e facilmente descodificáveis por
todos os públicos de modo a que a comunicação seja eficaz e tenha utilidade. Além de que a
comunicação no museu deve ser sempre entendida como um processo multidireccional e
interactivo capaz de manter "um diálogo permanente que contribua para o desenvolvimento e o
enriquecimento mútuos e evite a possibilidade de manipulação ou imposição de valores e
sistemas de qualquer tipo". (id. p.7). Semelhante ideia já tinha de resto, sido afirmada nas
Conclusões das Ias Jornadas Sobre a Função Social do Museu.
Os principais textos teóricos da Nova Museologia, nomeadamente a Declaração de
Caracas, insistem ainda em que o museu dirija o seu discurso para o presente, mostrando que os
objectos têm significado na cultura e na sociedade contemporânea e são por elas iluminados, e
não apenas como meros testemunhos da produçaõ cultural do passado, para concluir que, "nesse
sentido o processo importa mais do que o produto" (id. p.8)
Quanto às tecnologias ou informação, que estão omnipresentes no mundo actual, a
Declaração de Caracas aponta para que se aproveitem os seus benefícios e ensinamentos,
utilizando-os de modo crítico, ao mesmo tempo que se aproveita a sua utilização para
desmistificar o uso de tecnologias sofisticadas sempre que seja em proveito do homem na sua
integridade.
Eis, pois uma nova vertente do perfil do novo museólogo.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 18
Definidos que estão o novo museu e o perfil do novo museólogo, não queremos terminar
sem abordar uma questão que nos parece essencial: a formação dos novos profissionais à qual as
instituições tradicionais não poderiam ter dado resposta.
Já as Declarações de Santiago e de Oaxtepec insistiam em dois ítems fundamentais no que
respeita ao pessoal dos museus: por um lado, uma participação acrescida da população que
gradualmente deverá dominar as técnicas e o saber museológico e por outro, a formação de
novos profissionais, sensíveis à problemática acima enunciada, capazes de se integrar nas
comunidades, partilhar com elas as responsabilidades e a gestão de projectos museais e dotados
de um saber pluridisciplinar.
Coloca-se então, claramente o problema da formação profissional do novo museólogo.
Não deixa de ser sintomático que logo nas Ias Jornadas do Minom um dos temas em debate
tenha sido "A profissão do museólogo no quadro de uma nova Museologia".
Nas conclusões desse grupo de trabalho, de que este texto é largamente tributário, assinala-
se no ponto 7:
"Perante a impossibilidade de as instituições actuais darem resposta cabal à formação dos
profissionais de museus de acordo com as necessidades actualmente sentidas, justifica-se uma
formação alternativa.
Recomenda-se que saia destas Jornadas uma Comissão encarregada de constituir um
Centro de estudos para uma Nova Museologia que tenha nos seus objectivos a formação de
novos profissionais, a criação de ateliers práticos locais e a formação permanente e que se
assuma como interlocutor válido junto das Universidades e Institutos que promovem ou possam
vir a promover a formação profissional."
Cremos que terá sido aí dado um primeiro passo para a resolução deste problema.
V - CONCLUSÃO
para funcionar como um utensílio de intervenção social, pela valorização das competências, por
estruturas de gestão não hierarquizadas e participadas." ("Museologia e Economia", in Textos de
Museologia, p.66, Cadernos do Minom, nº1.)..
O que em última análise, implica com a capacidade e o trabalho de dinamização que o
museólogo for capaz de transmitir à comunidade em que se desenvolva o seu trabalho.
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O PRIMADO DO DISCURSO
SOBRE O EFEITO DECORATIVO
Luís MENEZES
Já entrado o século XX, e ainda antes da I Guerra Mundial, a museografia tende cada
vez mais a desprender-se do objecto, e a colecção propriamente dita a distanciar-se.
Acompanhando o passo dado pela museografia através do primado do discurso, a abstração leva
até ao surgimento das maquetes e modelos mecânicos nos museus, e à própria interactividade -
quando a lei científica se entende como o objecto do trabalho museográfico - em que é já o
público por si mesmo a tornar-se o objecto de experiências, de apresentação e exposição. Refira-
se o exemplo pioneiro de interactividade do museu de modelos mecânicos de Munique,
inaugurado em 1905, como posteriormente a inauguração do Planetarium de Paris em 1913, o
grande instrumento de explicação do cosmos.
Ao mesmo tempo que surgem neste período os primeiros museus pedagógicos e da
ciência, constata-se a orientação ecológica dos museus de história natural.
Como afirmava Georges Henri Rivière, é este o ponto em que o discurso museológico
se interioriza, "...o que conta é a experiência vivida por cada um no museu".
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 23
Após a II Guerra, enquanto os serviços educativos e culturais dos museus ganham cada
vez mais recursos e maior eficácia, e a noção de museu-laboratório posto em prática pelos
museus de história natural estão em franco desenvolvimento, como a expressão museológica da
geologia e da biologia, e os museus de arte contemporânea passam a acolher a fotografia, e
meios audio visuais, os museus de arte em geral não sofrem alterações significativas na sua
forma de apresentação.
Actualmente a tendência da museologia é para a animação e para a
interdisciplinariedade, cujo exemplo paradigmático desta é o ecomuseu nascido nos anos 70,
mas não deixa contudo de se lhe colocar o desafio perante a evolução dos meios de animação e
difusão cultural, e uma cada vez maior massificação e comercialização cultural.
Dentro desta problemática, e ao apresentarmos estes exemplos de suportes expositivos,
não pretendemos realçar, senão caricaturar, um caso pontual ilustrativo da relação existente
entre a museologia e a museografia, perspectivando aqui o texto como ao longo da história dos
museus se foram encontrando outras formas e meios de apresentação ou exposição.
O paradoxo que se pretende evidenciar aqui, é o da primazia da estética num processo
museográfico, ou na forma de estruturação de um espaço museológico, convertendo o suporte
expositivo num elemento ilustrativo de si próprio, como um fim em si mesmo.
Esta justaposição, ferindo a coerência material e formal de uma apresentação, entende-
se como inversa à consciência de que a qualidade de uma exposição depende em primeiro lugar
de tratamento do tema, e não do detalhe dos seus acessórios. O mesmo será dizer, de forma
banal, que a consideração de um bom livro não depende da sua capa ou papel de impressão, mas
do seu conteúdo.
Os meios de apresentação numa exposição devem ser judiciosamente seleccionados em
função da sua eficácia, e não por razões decorativas, ou motivos de divertimento, uma vez que
toda a forma de exposição induz sentimentos e valores que transformam o objecto em análise.
Por outras palavras, não devem expôr-se entre o objecto e o público como elementos
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 24
decorativos, embora a museografia deva estar consciente dos modernos processos tecnológicos
disponíveis para uma mais eficiente e eficaz divulgação e informação cultural, deve estar ao
mesmo tempo consciente de que isso pode reverter-se numa nova obsessão pelo espectáculo, em
detrimento da perda dos princípios de seriedade cultural e científica da museologia, ou da
identidade do discurso museológico.
Conclui-se, que um projecto de exposição deve determinar a organização do espaço,
definindo as distâncias espaciais ou museográficas que correspondem à hierarquia das ideias do
discurso apresentado. Aos experts na matéria, cabe por fim conceber um projecto que responda
com eficácia a uma pontuação do espaço, adequado à organização ideológica da problemática a
transmitir, sem exibir os meios operativos, ou procurando o seu "anonimato" e neutralização
perante o objecto focalizado na exposição.
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CONSERVADOR E MUSEÓLOGO:
ABORDAGEM DE CONCEITOS
Texto 1
A tomada de consciência da força que as mensagens "passadas" pelos Museus têm, como
contributos para o desenvolvimento integral dos cidadãos, permitiu reequacionar o seu
posicionamento social destas organizações, concluindo-se que na sociedade actual as funções
que os Museus devem desempenhar já não são consentâneas com as exposições-repositórios de
curiosidades tradicionalmente produzidas e mantidas, nem mesmo os espaços que
tradicionalmente lhes têm sido atribuidos, isto é os edifícios (independentemente da sua
funcionalidade e equipamento).
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 26
É nesta perspectiva que muitos Museus têm vindo a defender, ao entenderem que a função
museológica é fundamentalmente um processo de comunicação que serve para estabelecer uma
interacção da comunidade com os processos e os produtos culturais. Assim, fazendo apelo a
novas museografias, recorrendo às novas tecnologias de comunicação e revalorizando o
significado dos materiais exibidos têm vindo a renovar completamente as suas exposições, e o
modo como estas são concebidas e montadas, criando de si próprios uma nova imagem.
Quando nos propomos analisar o conjunto de Museus que conhecemos, deparamos sem
grande dificuldade com a existência lado a lado com dois grandes tipos de Museus, que
perseguindo diferentes objectivos e atingindo diferentes públicos, podemos, em certa medida,
assimilar as duas diferentes facetas ou correntes da Museologia: por um lado a visão clássica da
função museal, na linha da qual são produzidas e mantidas exposições "científicas" sobre as
mais variadas matérias; por outro uma "nova Museologia", prática emergente da verificação de
que os Museus contém os elementos que possibilitam a consciêncialização das comunidades em
que se inserem e que os Museus devem estar ao serviços da sociedade (Declaração de Santiago,
1972).
Pautando-se pelas linhas tradicionais, vamos encontrar os grandes Museus tutelados pelos
Governos ou ligados a grandes instituições culturais: seguindo a outra linha de trabalho, vamos
encontrar alguns Museus de âmbito local, muitos deles de menores dimensões, que embora não
dispondo do "mediatismo" dos anteriores estabelecem fortes laços com a população e "passam"
mensagens com muito maior facilidade.
Em contraste temos pois, Museus centrados no engrandecimento das suas colecções,
canalizando para elas os recursos necessários à sua preservação, conservação e exibição, e os
Museus de comunidade, em que a acção se desenvolve não sobre os objectos mas sobre as
pessoas que os criaram e os utilizam; noutra perspectiva poderia dizer-se que o contraste se nota
também pelas exposições surgem não para "dar ar às peças" ou para mostrar o que valem os
seus conservadores, mas pela produção de exposições que resultam duma necessidade sentida e
participada pela comunidade, que nelas se revê".
Em ambos os casos há necessariamente uma diferença abismal entre o conteúdo das
mensagens e da sua formalização, havendo apenas em comum, o rigor que as duas respeitam.
No primeiro caso temos uma linguagem hermética, codificada, atigindo apenas públicos
determinados; no segundo, as mensagens são simples e abrangentes, de forma que qualquer
pessoa as possa apreender e interiorizar.
Este contraste é ainda mais nítido no caso específico dos recentes ecomuseus, onde em vez
de um espaço limitado se tem toda uma região e em vez de uma colecção se tem toda uma
comunidade com o património que a caracteriza.
Conservadores ou Museólogos ?
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 27
Compatibilidade ou Incompatibilidade ?
Formação Profissional
CONSERVADOR E MUSEÓLOGO:
ABORDAGEM DE CONCEITOS
Texto 2
Reference source not found.? O Conservador, dirigente dos velhos postulados da museologia
tradicional?
Se limitarmos o papel do Conservador ao técnico que tem por funções inventariar,
conservar e expor as colecções está obviamente desajustado do novo Museu. Tal como se deu
uma transformação ao nível dos objectivos da Museologia, têm também que operar-se
transformações ao nível das mentalidades e formação dos técnicos dos Museus. Os
conservadores - personagens centrais de uma museologia tradicional - ou mantêm-se
unicamente como técnicas de conservação ou urge a necessidade de uma reciclagem e adaptação
aos novos rumos da Museologia.
Uma Museologia de tipo novo pressupõe técnicos com outra formação e com outro tipo de
requesitos. E aqui surge: o Muséologo -técnico da nova museologia que ultrapassa e subverte as
típicas funções do técnico Conservador.
Vejamos; uma vez que a Museologia de tipo novo pressupõe um campo de actividade
interdisciplinar constituindo um palco de acção transdisciplinar é necessário clarificar o perfil
profissional do Museólogo:
Museólogo-Comunicador.
Muséologo-Gestor
Gestor social no sentido que tem de trabalhar como todo um sector de recursos humanos
(inserido-se aqui a comunidade envolvente, mas também todos os trabalhadores dos Museus).
Nesta função de gestor social, o museólogo tenta igualmente aprofundar a relação Museu/
Meio, explorando um recurso importante que é o potencial humano que trabalha nos Museus e
que usufrui destes mesmos Museu.
Além disso apesar dos museus serem denominados instituições sem fins lucrativos, é
importante existir da parte do museólogo um conhecimento das necessidades económicas da sua
casa no sentido de poder minimamente rentabilizar o seu produto cultural.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 31
O Museólogo gestor consegue ainda uma abordagem muito mais sistematizada do Museu
enquanto instituição, permitindo-lhe noções mais exactas das potencialidades recursos e
necessidades do projecto que pretende levar a cabo.
Também neste Sector o Museólogo gestor deve recorrer a uma gestão em que participa a
própria comunidade envolvente responsabilizando-a pelo produto cultural.
Museólogo-Animador
Museólogo e a pluridisciplinaridade
- A ruptura verificada entre conservador e museólogo acentua-se cada vez mais quando
entramos nos princípios metodológicos de cada um. O conservador recorrendo a métodos de
investigação centrados exclusivamente no objecto a expôr; o museólogo introduzindo a gestão
participada da comunidade com as suas memórias colectivas passadas e vividas presentemente.
Por consequência, o raio de acção que o conservador e que uma museologia tradicional pretende
atingir limitam-se ao público que visitará a sua exposição. Por oposição, o museólogo e a nova
museologia derrubam os muros do museu indo ao encontro da comunidade, ela própria
produtora e produto deste museu.
NOTA
1.
In Declaração de Caracas, Caracas 16 de Janeiro a 06 de Fevereiro de 1992, p. 13.
BIBLIOGRAFIA
"Resolution adopted by the round table of Santiago (Chile)" In Museum, nº 3, Unesco, Paris,
1973
Declaration de Quebec
Declaration de Oaxtepec
Declaração de Caracas
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 33
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 34
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MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO
Texto 1
de 1992, em Caracas, Venezuela, põe à nossa disposição alguns dos princípios e desafios
fundamentais do Museu contemporâneo.
Baseada na observância da maioria dos problemas levantados vinte anos antes em Santiago
do Chile, como o reconhecimento do êxito de algumas experiências que visem: (...) "transformar
o Museu num organismo vital para a comunidade e um instrumento eficaz de desenvolvimento
integral".
A aceleração do processo histórico, o fim de barreiras políticas e ideológicas julgadas
intransponíveis, o acentuar das clivagens entre os vários mundos económicos, o
desenvolvimento impensável da ciência e da tecnologia, trouxe consigo o estigma da "sociedade
da comunicação" pelo aproximar das distâncias que fez acelerar a standartização cultural, pela
difusão de paradigmas, perante os meios tecnológicos, que elegeram a realidade virtual, como
processo de informação intercontinental.
Não faz assim sentido, o Museu manter uma atitude passiva, perante a aceleração da
história, e talvez por isso, um dos pressupostos, ou reptos, do papel do Museu na sociedade
contemporânea levantada em Caracas seja precisamente "Museu e Comunicação".
Os declarantes de Caracas afirmam que: "(...) a função museológica é fundamentalmente,
um processo de comunicação, na acepção de que o seu papel ultrapassa largamente o seu
estatuto tradicional, enquanto fonte de informação ou instrumento de educação, mas sobretudo a
sua definição enquanto espaços e meios de comunicação, num processo interactivo da própria
comunidade, que o elege como instrumento e não como fim.
Assim deve antes demais constatar-se que o museu como instrumento de comunicação,
equaciona problemas, com referências a objectos ou ideias e que essas mensagens, são à partida
próximas a uma linguagem não verbal. É que o primado da linguagem verbal, cerceia outros
campos de intervenção.
Se a comunicação pressupõe a interacção de dois pólos, a liberdade de construção dos
códigos ou linguagens, que definem essa comunicação, devem ser à partida um processo
livremente escolhido pelo homem enquanto ser social.
Espaço de comunicação, o Museu não deve intentar na elaboração de códigos de
comunicação que se encontrem desenquadrados com a realidade social em que estão integrados,
na certeza de que um processo de comunicação não é unidireccional, mas interactivo,
dificultando acções de manipulação ou controlo.
Na declaração de Caracas, toma-se consciência de uma das dificuldades de empreender a
comunicação como processo interactivo, pelo desajustamento entre as linguagens e os códigos
do Museu e os da população, não tendo na maioria dos casos consciência do seu enorme
potencial de comunicação se reelaborados, na sua aproximação ao que mais interessa às
populações.
Se se aceitar a importância do museu, enquanto integrada num processo educativo do
indivíduo, deve compreender-se a variedade dos campos que constituem as acções educativas,
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 39
MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO
Texto 2
"Que le musée est une institution au service de la société dont il est partie intégrante et qu'il
possède en lui-mème les élèments que lui permettent de participer à la formation de la
conscience des communautés qu'il sert; qu'il peut contribuer à entrainer les communautés dans
l'action en situant leur activité dans un cadre historique qui permette d'eclairer les problémes
actuels, c'est-à-dire en ratachant le passé au présent, en s'engageant par rapport aux changements
de structure, en cours et en provoquant d'autres changements à l'intérieur de leur réalité
nationale respective."1
Esta definição de Museu, que é aplicável em qualquer contexto, exigiu, ao nível regional,
uma reavaliação e transformação do papel da instituição museal, bem como um agenciamento e
equacionamento dos problemas e conceitos no âmbito da actividade museológica.
De instituições estáticas e distantes, principalmente dirigidas para a conservação e
inventário científico de património artístico, natural ou edificado, alguns museus, já sob
influência dos novos ventos soprados de Santiago do Chile, têm progressivamente realçado o
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"...que los museos no son sólo fuente de información o instrumentos de educación, sino
espacios y medios de comunicacion que sirvam para estabelecer una interacción de la
comunidad con el proceso y los productos culturales."2
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 44
Isto significa que os museus, como instituições de interesse público e patrimonial, devem
estar abertos e disponibilizar os seus próprios espaços para a realização de outras experiências
comunitárias, outros saberes, que não os que derivam das suas colecções e da sua própria
natureza.
Que esta interacção só é autêntica se estabelecida, no quadro de uma ampla participação e
responsabilidade dos "promotores" envolvidos no processo.
Que ela sugere novas perspectivas, novos equilíbrios, na forma de comunicar, através do
diálogo e do intercâmbio conseguido entre a Instituição museal e a comunidade.
Estas questões, constituem, de facto, um desafio e apontam para uma total reconversão de
valores tradicionalmente pré-concebidos na actividade museológica.
Não será muito arriscado concluir que o maior contributo da Mesa Redonda de Santiago e
posteriormente da Declaração de Caracas, foi o alerta, a sensibilização dirigida aos museus e
seus responsáveis, para a necessidade urgente de ajudar as populações a adquirir uma
consciência social e política que se projecte no futuro de uma forma positiva.
2 - EDUCAÇÃO -
COMUNICAÇÃO - DESENVOLVIMENTO
"Un jour, deux hommes faisaient un voyage en ballon lorsque une brusque tempête les fit
dévier de leur route. Lorsqu'elle se calma, ils réalisèrent qu'ils étaient complètement perdus. Par
chance, ils aperçurent un homme qui cheminait au-dessus d'eux. "Holà! crièrent-ils, où sommes-
nous?" - "Vous êtes dans un ballon" répondit, du sol, la petite silhouette. Les deux hommes se
regardèrent, et l'un dit : "Il doit s'agir d'un conservateur de musée" - "Qu'est-ce qui te fait dire
cela ?" demanda l'autre. "C'est que l'information qu'il nous a donné est parfaitement exacte, mais
totalement inutile!" (4)
Esta "história" reflecte bem a imagem e a realidade da maioria dos nossos museus.
No quadro diversificado de instituições culturais, cujas fronteiras se tornam cada vez mais
indefinidas, os museus afirmam-se como lugares privilegiados para a preservação e
representação da nossa "memória colectiva".
Esta afirmação não deixa de ser verdadeira. Mas, se prestarmos bem atenção, O que vemos
representado nos nossos museus ? Os museus transmitem uma imagem real, verdadeira,
da diversidade cultural da nossa sociedade ? Que critérios são usados ?
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 45
"La communication, avant même d'education, est maintenant considerée comme l'objectif
primordial des musées. Est-ce aussi notre avis à nous, muséologues"(5)
A forma insistente com que se fala da missão ou serviços educativos, e num sentido mais
amplo, do museu enquanto agente de comunicação, explica-se pela importância vital que estes
aspectos vêm assumindo na vida dos museus, tidos para uns, como factores da sua própria
sobrevivência, e para outros, como meios de expansão e prosperidade.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 46
"Le rôle éducatif du musée doit être repensé si l'on veut qu'il atteigne sa vraie dimension.
Mais (et ceci constitue l'un des point les plus forts de mon approche du problème) cette
transformation ne peut être realisée para le service éducatif. Si elle n'est pas partie intégrante de
la nouvelle approche de l'institution muséale dans sa totalité, rien de vraiment nouveau ne
pourra advenir."(16)
Julgo ser pertinente aqui questionar, em que medida as grandes ou mesmo pequenas
instituições museológicas, que se encontram fortemente dependentes e pressionadas por um
sistema administrativo e financeiro, demasiadamente rígido, podem "sobreviver", quebrar o seu
próprio "isolamento" e se adaptar a uma nova realidade.
Ao promover um novo processo de distribuição e participação comunitária das tarefas e
responsabilidades na gestão e organização dos recursos culturais e patrimoniais, os novos
mentores da museologia, preconizam uma maior aproximação desta a outras áreas científicas,
nomeadamente a economia, pela existência de factores comuns entre estas duas disciplinas.
"(. . .) O aprofundamento das questões museológicas passará pelo reconhecimento da
necessidade permanente de alargar o estudo da museologia ao mundo da economia. De certa
forma, trata-se de retirar a museologia do gheto da cultura."(10)
Assim, a museologia deve beneficiar das experiências inovadoras que o mais recente
pensamento económico transpôs para um novo tipo de empresa, de organização, que reconhece
no indivíduo e nas suas capacidades de criatividade, o seu principal "capital".
Observar-se que são os próprios museus que não têm sabido adaptar-se às novas
condicionantes políticas e sócio-culturais.
Falar de comunicação não faz muito sentido se a situação estratégica dos museus continua
a mesma.
É necessário que os museus se mostrem interessados e preocupados pelos grandes
problemas de desenvolvimento e da informação no mundo actual. Só assim a comunidade se
identificará com o espaço/museu e com as suas actividades.
O museu deverá servir de catalizador de desenvolvimento programado pelos próprios
governos, explicando quais os seus objectivos e participando nos seus próprios projectos de
desenvolvimento, de maneira que estes se tornem melhor adaptados à sociedade presente e
futura.
Muitas vezes os organismos de tutela, não querem ou não podem assegurar os mecanismos
financeiros ou administrativos de forma a permitir que o museu cumpra com as suas
responsabilidades. Necessário se torna a discussão pública destas questões.
Por outro lado, importa que as autoridades responsáveis reconheçam a gravidade da
situação e manifestem vontade política para iniciar a mudança.
Isto é particularmente importante para as instituições (mais antigas), que, muitas vezes
negligenciadas ou esquecidas e isoladas do meio ambiente, atestam com o seu silêncio, a sua
própria "certidão de óbito".
Parece, à primeira vista, ser bem mais difícil "dar vida" a uma instituição clássica e
ultrapassada, do que criar um novo museu.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 50
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
(3) Idem, p. 7.
(5) HUSHION, Nancy, "Les musées: y a t-il des limites?", in NOUVELLES DE L'ICOM,
Vol. 45, nº 2, 1992, p. 17.
(7) MOUTINHO, Mário, "O Papel da "Nova Museologia" ou "Museologia Social" na Sociedade
Contemporânea", in O Lugar e o Papel das Ciências Sociais e Humanas na Modernização de
Portugal Contemporâneo, Edições Universitárias Lusófonas, Lisboa, 1992, p. 61.
(9) Ibidem.
HUDSON, Keneth, "O Prémio do "Museu Europeu do Ano" como Indicador de Tendências",
conferência integrada nas actividades da Comissão Nacional do ICOM, Museu Calouste
Gulbenkian, 15 de Maio de 1990.
MAYRAND, Pierre, "La nouvelle muséologie afirmée, in MUSEUM, nº 148, 1985, p. 199/201.
A EVOLUÇÃO DE CONCEITOS
ENTRE AS DECLARAÇÕES
DE SANTIAGO E DE CARACAS
Texto 1
Luís MENEZES
EVOLUÇÃO CONCEPTUAL
NOTAS
1. Expressão a nosso ver pouco feliz, uma vez que o termo "visitante" nos parece desadequado
relativamente à concepção museológica expressa.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 56
A EVOLUÇÃO DE CONCEITOS
ENTRE AS DECLARAÇÕES
DE SANTIAGO E DE CARACAS
Texto 2
"On dirait que l'humanité ignore ce que sont les musées et à quoi ils servent
réelment."
Para finalizar não deixa de ser curioso reflectir nas palavras de Mário Teruggi na
revista museum acima citada: "...il est fort probable que les conséquences de La Table
Ronde de Santiago auront une répercussion profunde et durable dans le monde de la
museologie. Non seulement à cause de lá conception du musée intégral qui en est
resulté, mais aussi parce qu'il semble que ce soit une très bonne politique d'inviter à
l'avenir aux réunion de muséologues des personalités éminentes de diférents domaines
du savoir. Jusqu'à présent, seuls les éducateurs y ont participé fréquemment..." .
II - Declaração de Caracas
BIBLIOGRAFIA
TERUGGI, Mário E., La table ronde de Santiago du Chili, in Museum vol., XXV,
nº 3.
A EVOLUÇÃO DE CONCEITOS
ENTRE AS DECLARAÇÕES
DE SANTIAGO E DE CARACAS
Texto 3
modo global, poder-se-à dizer que esta declaração se afirma como uma nítida rejeição à usual
introspecção dos museus, mais característica de um coleccionismo individual mesquinho, e
preconiza uma atitude de intervenção social que terá de ter em conta os desafios inerentes às
grandes transformações mundiais, bem como os cenários produzidos por um desenvolvimento
tecnológico acelerado, não acompanhado por um desenvolvimento cultural, principal
responsável pelo desequílibrio cultural e sócio-económico entre os países.
Fruto de uma profunda reflexão multidisciplinar, numa atmosfera de preocupação pelos
problemas da América Latina, a Declaração de Santiago do Chile concretiza uma nova
concepção de Museu - o Museu Integral. Este novo conceito assenta sob o postulado de que os
Museus são instituições ao serviço da sociedade e que contêm elementos que lhes permitem
ajudar a moldar a consciência das comunidades em que estão inseridos, estimulando o seu
desenvolvimento, através da ligação de um passado/memória a um presente/realidade e
procurando projectar em antevisão, um futuro/vontade.
Assim, cortando radicalmente com a usual perspectiva histórica direccionada para o
passado, é proposta uma reformulação do discurso museal, que, assente numa visão dinâmica da
dimensão temporal, reverte o sentido do direccionamento dos museus, fazendo-os partir do
passado e projectando-os no presente e no futuro. Nesta perspectiva os museus são enquadrados
num processo de desenvolvimento das comunidades, constituindo-se como uma consciência
colectiva, força motriz de uma evolução sustentada. Deste modo pretende-se que seja
equacionada a problemática do homem enquanto indivíduo e do homem enquanto ente social,
integrado e identificando cada um com o seu meio natural e humano.
Esta nova concepção assume para os museus uma função social que até então lhes era
negada, e procura a sua adequação aos problemas e aspirações das comunidades, intervindo
activamente no seu desenvolvimento. O museu passa a ser sede de preocupações pertinentes de
um presente/realidade, onde os problemas ambientais, de saúde pública, de analfabetismo, de
nutrição, de gestão dos recursos naturais, e tantos outros, irão constituir alvos privilegiados,
norteadores da actuação/intervenção dos museus.
Estamos perante novos conceitos que não constituem, contudo, uma negação dos museus
existentes, nem mesmo pretendem uma mudança teórico-operatória que constitua uma ruptura
epistemológica fundamental com a museologia. Desta forma, continua subjacente aos novos
conceitos a existência de objectos, ou num sentido mais amplo - um património colectivo, que
por reformulação, adequação e actualização da museografia serão instrumentos privilegiados de
intervenção. Uma negação do objecto, ou de um património museológico, consistiria no
estabelecimento de uma ruptura tendente a originar um outro qualquer tipo de missão social. É
requerida a desmistificação do objecto mas é aceite que sobre ele se edifica a museologia como
ciência estruturada.
As novas correntes de pensamento da museologia, que aqui encontram os seus
fundamentos de partida, tão somente pretendem que os museus assumam a sua função social e
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 65
BIBLIOGRAFIA
TERUGGI, Mário E. 19.. . La Table Ronde de Santiago Di CHILI. Rev. Museum. Paris.
EVOLUÇÃO DE CONCEITOS
ENTRE AS DECLARAÇÕES
DE SANTIAGO E DE CARACAS
Texto 4
"Eu tenho uma antena parabólica na minha casa e sei tudo o que se passa na Europa, mas
não sei quem mora no meu prédio, nem conheço bem a minha rua."
Anónimo, IV Jornadas MINOM 1991, in Boletim Informativo do
MINOM, nº 4 , Jan. 1992.
Pensar o Museu nos nossos dias é pensar numa organização perfeitamente integrada na
comunidade para a qual existe. Desta forma, o Museu não poderá encerrar-se no espaço físico
do seu edifício nem centrar as suas investigações nas colecções que possui, mas alargar-se a um
campo de investigação multidisciplinar relacionado com a região onde se insere. Assim, o
Museu deixará de ser um mero depósito da memória e passará, a par de outras instituições, a
porpôr alternativas para o desenvolvimento local.
Esta maneira de sentir o Museu consubstanciou-se na declaração de Santiago do Chile,
após uma reflexão conjunta acerca do "Papel dos Museus na América Latina". Na Mesa
Redonda efectuada naquela cidade evidenciou-se que a resolução dos problemas dos países
latino-americanos passava através do entendimento pela comunidade dos aspectos políticos,
técnicos, económicos, sociais, culturais e naturais que os envolvem. Neste campo o Museu seria,
além de um espaço, um veículo para a tomada de consciência por parte da população não só da
sua verdadeira situação bem como da intenção de a resolver através de uma acção participativa e
dinâmica de forma a beneficiar com essa resolução.
A realização desta Mesa Redonda inseriu-se no contexto de uma tomada de consciência de
que se por um lado a humanidade tinha atingido um substancial desenvolvimento científico e
tecnológico, o mesmo não acontecia em termos de bem estar económico, cultural e natural.
Verificou-se igualmente a existência de um notório desequilíbrio entre os países desenvolvidos
e os em vias de desenvolvimento, para além de que a resolução deste desequilíbrio não se
encontrava numa única ciência ou disciplina, mas sim numa "visão de conjunto e tratamento
integrado dos seus vários aspectos". Dentro desta visão de conjunto o Museu, sem negar a
importância e o valor dos existentes, deveria ultrapassar os seus fins tradicionais de recolha,
conservação, investigação e divulgação do seu acervo, e abrir-se a um novo conceito de Museu
que passaria a ter não só uma função cultural mas igualmente uma função social.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 69
Este Museu activo e participativo teria, de acordo com a sua função social, de recorrer a
saberes multidisciplinares de forma a poder ser um veículo não só de promoção de uma maior
consciencialização por parte da população da importância da salvaguarda da sua herança
cultural, patrimonial e natural mas igualmente de disseminação de conhecimentos científicos e
tecnológicos com a finalidade de melhorar o bem estar económico, físico, social, cultural e
natural da comunidade onde está inserido. Assim o Museu deve:
1. Conjuntamente com a população que serve e para a qual existe, intensificar esforços de
recuperação da sua herança cultural, patrimonial e natural;
2. Actualizar as técnicas museológicas e museográficas de forma que os objectos expostos
sejam melhor compreendidos pelo público/população;
3. Utilizar técnicas que levem o Museu a aperceber-se da receptividade na comunidade das
acções por si realizadas;
4. Promover a educação permanente da comunidade;5. Estimular o desenvolvimento
tecnológico baseado nas condições reais da população.
4 - A Gestão. A Gestão do Museu deve estar ligada à sua função na comunidade. Função
esta que será elaborada após ter sido feito um diagnóstico do ambiente externo. Esta função
manifestar-se-à num programa de acções/intervenções a curto, médio e longo prazo. O sucesso
desta gestão está relacionado com a capacidade de se conseguir responder às solicitações do
ambiente externo; de um óptimo aproveitamento dos recursos financeiros, técnicos e humanos; e
da existência de boas relações com o poder e outras organizações;
5 - Os Recursos Humanos. Uma das novas atitudes de uma boa gestão do Museu será a de
dar ênfase aos recursos humanos, já que são estes os possuidores da criatividade e do
conhecimento, noções tão caras a quem faz depender o verdadeiro sucesso de uma organização
do seu recurso informação. Assim o Museu, terá de propôr formação ao seu pessoal, orientada
não só na valorização deste recurso bem como na importância da multidisciplinaridade para se
conseguir ter uma acertada forma de comunicação com a comunidade para quem as suas acções
existem.
Em suma, pretende-se que o Museu seja cada vez mais o utensílio e não o fim da acção
museal, que passará a pertencer à informação. Só assim o Museu será um verdadeiro
protagonista do seu tempo; valoriza o seu papel na sociedade e assume-se como um dos
principais agentes para o desenvolvimento integral do Homem.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 72
INTERNATIONAL
SUMMER SCHOOL OF MUSEOLOGY
(ICOM/UNESCO)
2 a 30 de Julho de 1993
José Manuel Brandão
Museu Nacional de História Natural
R. Esc. Politécnica, 58
1294 LISBOA codex
Desde há sete anos que o ICOM, através do ICOFOM (comité para a formação), vem a
desenvolver actividades de formação intensiva, de âmbito internacional, destinadas ao
aperfeiçoamento dos quadros técnicos dos Museus, dando assim cumprimento às resoluções
tomadas durante os trabalhos da 23ª Conferência Geral do ICOM. Estes cursos, patrocinados
pela UNESCO, têem decorrido no departamento de Museologia da Universidade Masarik em
Brno, República Checa, com o apoio do Museu da Morávia.
Durante o mês de trabalho, os estudantes participam num intenso programa de
conferências, seminários e visitas de estudo a museus e exposições, conduzidos pelos
responsáveis dos cursos e por um grupo internacional de convidados, especialistas nos vários
domínios da Museologia.
É dificil resumir um intenso mês de trabalho em meia dúzia de páginas; deixamos no
entanto algumas notas sobre os pontos altos do curso em que participámos.
1 - A UNIVERSIDADE DE MASARIK
2 - O MUSEU DA MORAVIA
cobrindo os diversos ramos da História Natural e das Ciências Humanas, contando com um
acervo global de cerca de à milhões de objectos.
3 - ACTIVIDADES LECTIVAS
3.1.2. Metamuseologia
* MUSEOLOGIA HISTORICA
* MUSEOLOGIA SOCIAL
* MUSEOLOGIA TEORICA
Teoria da Selecção
Teoria da "Thesaurisação"
Numa segunda fase, a Museologia tende para a constituição duma colecção, pilar
fundamental para a preensão e exploração dos valores culturais a preservar (os "thesaurus"ou
colecções).
Teoria da "Apresentação"
3.1.7. Museografia
Engº F. Gale - Management e marketing dos Museus
Dr. P. van Mench(9) - Museus: de que têm necessidade? Como dirigir um Museu?
Engº A. Morgos(10) - Introdução aos problemas da conservação
Arqº. M. Ghafouri(11) - A arquitectura dos Museus
Em Praga, o grupo foi recebido pelo Director-Geral dos Museus (Ministério da Cultura)
e pela Presidente do Comité nacional do ICOM, que fizeram um breve historial dos Museus
Checos e um levantamento das principais dificuldades e desafios postos na presente situação de
transição para a democracia.
3.2.2.. As exposições
4 - NOTA FINAL
12 J.A.Comenius (1592-1670), foi uma das mais ilustres personalidades Checas, cujo trabalho
como historiador, filósofo e pedagogo se projectou na cultura Europeia do século XVII. Durante
a sua atribulada vida, numa Europa central repartida entre várias correntes filosóficas e
religiosas, J. Comenius viveu e trabalhou na Moravia, em Inglaterra, na Polónia, na Suécia,
vindo a falecer na Holanda onde se radicara em 1656. O seu trabalho inspirou e influenciou o
pensamento de várias gerações e a sua mensagem humanista sobre a paz no mundo ainda hoje
permanece viva.
ESTÁGIO DE MUSEOLOGIA NO
CENTRE INTERNATIONAL
en FORMATION ÉCOMUSEALE,
QUEBEQUE:
O BALANÇO DE QUATRO ESTAGIÁRIAS
1.
O curso de pós-graduação de Museologia Social, ministrado pelo ISMAG, proporciona
aos finalistas vários estágios em instituições museológicas portuguesas e estrangeiras.
De entre estes, destacamos o estágio no Centre International en Formation Écomuséale,
orientado pelo Prof. Pierre Mayrand, da Universidade do Quebeque, a que as signatárias deste
artigo tiveram acesso.
À partida, este estágio constituía uma promessa de contacto com a PRÁTICA
museológica (depois da aprendizagem TEÓRICA do curso de Museologia Social em Portugal),
em instituições de uma qualidade verdadeiramente modelar, a todos os níveis, e com a
colaboração de excelentes profissionais.
Estas expectativas vieram a confirmar-se por inteiro. Além disso, o estágio veio a
revelar-se como uma oportunidade única de contacto com personalidades e instituições
conhecidas internacionalmente pelo seu mérito profissional e pelo seu vanguardismo e espírito
de inovação no chamado movimento da Nova Museologia.
Fazemos aqui questão de salientar o papel do Prof. Pierre Mayrand, que nos orientou e
acompanhou ao longo deste estágio com uma sapiência e com uma amizade que jamais
poderemos esquecer.
Para ele e para Renée Rivard, que nos acolheu de braços abertos, os nossos sinceros
agradecimentos, assim como para Michel Noel, Nicole Lamontaigne, todos os colaboradores do
"Écomusée de la Haute Beauce" e, de um modo geral, todos os profissionais ligados à
museologia com quem contactámos e que tão bem nos receberam.
Por último - last but not least ! - a estagiária Leonor Sá gostaria de agradecer o
estímulo e o apoio que lhe foram dados pelo director do Instituto Nacional de Polícia e Ciências
Criminais, Dr. Ferreira Antunes, sem o qual o Museu Criminalístico não teria beneficiado desta
oportunidade única de aprendizagem e experiência.
2.
A estrutura do estágio revelou-se extremamente útil e eficaz em termos de resultados,
tendo como base dois vectores principais:
- por um lado, o estipular de locais de trabalho bem precisos e definidos e a
obrigatoriedade de cumprimento de tarefas e prazos;
- por outro lado, uma grande liberdade de acção, que permitiu uma abordagem
multifacetada e optimizada de toda uma vasta quantidade de informação.
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 80
- 1ª fase -
- Relatórios críticos sobre a Maison du Granit e sobre o Centre de St.Evariste
(Ecomusée de la Haute Beauce), apresentados a 7. 8. 93 ao coordenador do estágio, Prof. Pierre
Mayrand.
- 2ª fase -
- Balanço geral e propostas de trabalho relativamente ao Écomusée de la Haute Beauce,
apresentados a 22. 8. 93 ao coordenador do estágio, Prof. Pierre Mayrand.
- Organização de uma Soirée Cultural Portugal-Quebeque (a 21. 8. 93) noticiada pela
imprensa local (ver anexo 2).
- 3ª fase -
- Relatório final apresentado ao coordenador do curso de Museologia Social, Prof.
Mário Moutinho.
Para acompanhamento da estrutura do estágio, ver documentos dos Anexos.
3.
Gostaríamos de salientar os seguintes contactos estabelecidos, por se terem revelado
particularmente interessantes e profícuos:
- Pierre Mayrand, Professor de Museologia da Universidade do Quebeque,
coordenador do Centre International de Formation Écomuséale e fundador do Écomusée de la
Haute Beauce.
- Renée Rivard, consultor especialista e teórico da Nova Museologia.
- Michel Noel, Secretário Geral do MINOM internacional.
- Michel Laurent, conservador responsável pelo sector das reservas do "Musée de la
Civilization".
- Gilles Gagné, museólogo responsável pelo Economuseu do Bronze, em Inverness.
- Os elementos das equipas de trabalhadores que integram o Écomusée de la Haute
Beauce, particularmente as directoras do "Centre de St. Évariste" e da "Maison du Granit",
respectivamente Nicole Lamontaigne e Ginette Gagnon.
4.
De um modo geral, vimo-nos confrontadas no Quebeque com uma realidade
museológica a todos os títulos notável, resultado de uma acção cultural empenhada e eficaz que
CADERNOS DE MUSEOLOGIA Nº 1 – 1993 81
não se tem poupado a esforços, principalmente nas três últimas décadas, como teremos ocasião
de especificar num próximo artigo.
Por todo lado e a cada passo nos defrontámos com os sinais visíveis de uma acção
efectiva com vista à conservação e divulgação sistemáticas do património natural e cultural
canadiano. Com efeito, apesar da exiguidade relativa da sua história, de uma densidade
populacional das mais baixas do mundo e da vastidão dificilmente abarcável do seu território, o
Canadá (e, mais especificamente, o Quebeque), conseguiu valorizar o seu património de um
modo que poderemos considerar dificilmente excedível.
Verificámos também que esta valorização encontra pleno eco no público, que acorre
em massa a diversas destas instituições museológicas, tanto no Canadá como nos Estados
Unidos, apesar do elevado custo de algumas entradas, se confrontado com os preços praticados
no nosso país. (Políticas de redução de preços para crianças, estudantes, grupos escolares,
famílias, a chamada "idade de ouro", etc., ou direccionadas para horários muito específicos
facilitam a entrada dos economicamente mais vulneráveis, assim como a vulgarização de
esquemas associativos de amigos dos museus permitem uma optimização dos custos para os
visitantes mais assíduos).
Esta preocupação fundamental implica uma inversão total na própria génese e nas
directrizes orientadoras dos museus:
o museu já não nasce nem vive em função dos objectos e das coleccções que possui,
mas nasce a partir de ideias e desenvolve-se em função desses valores que tem de preservar e
transmitir, servindo-se dos objectos para os comunicar.
Este facto significa tão só que os objectos, num museu, deixam de constituir um fim
em si mesmo e passam a ser encarados como meios preciosos de transmissão de mensagens
com variadíssimos fins culturais.
Simultaneamente, dá-se outro facto muito importante, sem o qual não se torna possível
abarcar o fenómeno global de mudança:
as ideias que se procuram transmitir não são ideias feitas, estáticas e prontas a ser
consumidas por um público passivo, mas ideias que, para além de transmitir conhecimento,
procuram também estimular a reflexão perante diversas questões importantes, ou seja,
transformam o espectador num interveniente activo.
ÍNDICE DE ANEXOS
1- Programa de estágio
2- Comunicado do Comité d'action touristique et culturelle de St.Hilaire sobre
comemorações e actividades na mesma aldeia, incluindo uma "soirée culturelle
portugaise/québéquoise organisée par un groupe de stagiaires portugaises em muséologie
sociale"