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SEMANA DE 22 almejavam uma tal liberdade criadora para o artista,

Essa arte nova aparece inicialmente através da que ele não se sentisse cerceado pelo limites da
atividade crítica e literária de Oswald de Andrade, realidade.
Menotti del Picchia, Mário de Andrade e alguns outros Essa divisão entre os defensores de uma estética
artistas que vão se conscientizando do tempo em que conservadora e os de uma renovadora, prevaleceu por
vivem. Oswald de Andrade, já em 1912, começa a falar muito tempo e atingiu seu clímax na Semana de Arte
do Manifesto Futurista, de Marinetti, que propõe “o Moderna realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de
compromisso da literatura com a nova civilização 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. No interior do
técnica”. Mas, ao mesmo tempo, Oswald de Andrade teatro, foram apresentados concertos e conferências,
alerta para a valorização das raízes nacionais, que enquanto no saguão foram montadas exposições de
devem ser o ponto de partida para os artistas artistas plásticos, como os arquitetos Antonio Moya e
brasileiros. Assim, cria movimentos, como o Pau-Brasil, George Prsyrembel, os escultores Vítor Brecheret e W.
escreve para os jornais expondo suas idéias Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di
renovadores de grupos de artistas que começam a se Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João
unir em torno de uma nova proposta estética. Fernando de Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira,
Antes dos anos 20, são feitas em São Paulo duas Vicente do Rego Monteiro e Di Cavalcanti (o idealizador
exposições de pintura que colocam a arte moderna de da Semana e autor do desenho que ilustra a capa do
um modo concreto para os brasileiros: a de Lasar catálogo).
Segall, em 1913, e a de Anita Malfatti, em 1917. Manifesto Antropofágico
A exposição de Anita Malfatti provocou uma grande Publicado na Revista Antropofagia (1928), propunha
polêmica com os adeptos da arte acadêmica. Dessa basicamente a devoração da cultura e das técnicas
polêmica, o artigo de Monteiro Lobato para o jornal O importadas e sua reelaboração com autonomia,
Estado de S. Paulo, intitulado: “A propósito da transformando o produto importado em exportável. O
Exposição Malfatti”, publicado na seção “Artes e nome do manifesto recuperava a crença indígena: os
Artistas” da edição de 20 de dezembro de 1917, foi a índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que
reação mais contundente dos espíritos conservadores. assim estavam assimilando suas qualidades.
No artigo publicado nesse jornal, Monteiro Lobato, A idéia do manifesto surgiu quando Tarsila do Amaral,
preso a princípios estéticos conservadores, afirma que para presentear o então marido Oswald de Andrade,
“todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis deu-lhe como presente de aniversário a tela Abaporu
fundamentais que não dependem do tempo nem da (aba = homem; poru = que come).
latitude”. Mas Monteiro Lobato vai mais longe ao criticar Estes eventos da Semana de Arte Moderna foram o
os novos movimentos artísticos. Assim, escreve que marco mais caracterizador da presença, entre nós, de
“quando as sensações do mundo externo uma nova concepção do fazer e compreender a obra
transformaram-se em impressões cerebrais, nós de arte.
‘sentimos’; para que sintamos de maneira diversa,
cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do - ANÁLISE TEXTUAL
universo sofra completa alteração, ou que o nosso CIDADES MORTAS – MONTEIRO LOBATO
cérebro esteja em ‘pane’ por virtude de alguma grave
lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer Pelas ruas ermas, onde o transeunte é raro, não
normalmente no homem, através da porta comum dos matracoleja sequer uma carroça; de há muito, em
cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá matéria de rodas, se voltou aos rodízios desse
‘sentir’ senão um gato, e é falsa a ‘interpretação que do rechinante símbolo do viver colonial – o carro de boi.
bichano fizer um totó, um escaravelho ou um Erguem-se por ali soberbos casarões apalaçados, de
amontoado de cubos transparentes”. dois e três andares, sólidos como fortalezas, tudo
Em posição totalmente contrária à de Monteiro Lobato pedra, cal e cabiúna; casarões que lembram ossaturas
estaria, anos mais tarde, Mário de Andrade. Suas idéias de megatérios donde as carnes, o sangue, a vida para
estéticas estão expostas basicamente no “Prefácio sempre refugiram. Vivem dentro, mesquinhamente,
Interessantíssimo” de sua obra Paulicéia Desvairada,
vergônteas mortiças de famílias fidalgas, de boa
publicada em 1922. Aí, Mário de Andrade afirma que:
“Belo da arte: arbitrário convencional, transitório - prosápia entroncada na nobiliarquia lusitana. Pelos
questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, salões vazios, cujos frisos dourados se recobrem da
natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte pátina dos anos e cujo estuque, lagarteado de fendas,
não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. esboroa à força de goteiras, paira o bafio da morte. Há
Todos os grandes artistas, ora conscientes (Rafael das nas paredes quadros antigos, cray ons, figurando
Madonas, Rodin de Balzac.Beethoven da Pastoral, efígies de capitães-mores de barba em colar.
Machado de Assis do Braz Cubas) ora inconscientes (a
grande maioria) foram deformadores da natureza. Há sobre os aparadores Luís XV brônzeos candelabros
Donde infiro que o belo artístico será tanto mais de dezoito velas, esverdecidos de azinhavre. Mas nem
artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do se acendem as velas, nem se guardam os nomes dos
belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me enquadrados – e por tudo se agruma o bolor râncido da
importa”. (Mário de Andrade, Poesias Completas) velhice. São os palácios mortos da cidade morta.
Embora existia uma diferença de alguns anos entre a Avultam em número, nas ruas centrais, casas sem
publicação desses dois textos, eles colocam de uma janelas, só portas, três e quatro: antigos armazéns hoje
forma clara as idéias em que se dividiram artistas e fechados, porque o comércio desertou também. Em
críticos diante da arte. De um lado, os que tendiam que certa praça vazia, vestígios vagos de “monumento” de
a arte fosse uma cópia fiel do real; do outro, os que
vulto: o antigo teatro – um teatro onde já ressoou a voz
da Rosina Stolze, da Candiani…

Não há na cidade exangue nem pedreiros, nem


carapinas; fizeram-se estes remendões; aqueles,
meros demolidores – tanto vai da última construção. A
tarefa se lhes resume em especar muros que deitam
ventres, escorar paredes rachadas e remendá-las mal
e mal. Um dia metem abaixo as telhas: sempre vale
trinta mil-réis o milheiro – e fica à inclemência do tempo
o encargo de aluir o resto.

Os ricos são dois ou três forretas, coronéis da Briosa,


com cem apólices a render no Rio; e os sinecuristas
acarrapatados ao orçamento: juiz, coletor, delegado. O
resto é a “mob”: velhos mestiços de miserável
descendência, roídos de opilação e álcool; famílias
decaídas, a viverem misteriosamente umas, outras à
custa do parco auxílio enviado de fora por um filho mais
audacioso que emigrou. “Boa gente”, que vive de
aparas.

Da geração nova, os rapazes debandam cedo, quase


meninos ainda; só ficam as moças – sempre fincadas
de cotovelos à janela, negaceando um marido que é um
mito em terra assim, donde os casadouros fogem.
Pescam, às vezes, as mais jeitosas, o seu
promotorzinho, o seu delegadozinho de carreira – e o
caso vira prodigioso acontecimento histórico, criador de
lendas.

Toda a ligação com o mundo se resume no cordão


umbilical do correio – magro estafeta bifurcado em
pontiagudas éguas pisadas, em eterno ir-e-vir com
duas malas postais à garupa, murchas como figos
secos.

MONTEIRO LOBATO, J. B. R. Cidades mortas. São


Paulo: Brasiliense, 1995. p. 22-23.

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