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A técnica freudiana como exercício da autonomia 1

Resumo
O presente artigo tem como objetivo discutir um elemento considerado central e atual
da técnica freudiana. A partir das novas traduções realizadas da obra de Freud para o
português, percebe-se que elementos importantes do seu pensamento não ganharam o
devido destaque nas antigas traduções. Desse modo, a proposta freudiana de que o
processo analítico deve proporcionar e obter como resultado a autonomia do sujeito ou
do analisando ganha seu merecido destaque nas novas traduções. Portanto, a finalidade
deste trabalho é a de descrever como esse tema da autonomia perpassa boa parte dos
escritos sobre a técnica em Freud e motivo de sua técnica ainda ter relevância nos dias
atuais por meio da promoção de autonomia aos indivíduos.

Palavras-chave: Psicanálise; Técnica freudiana; Autonomia.


_____________________________________________________________________

Nós cuidamos da autonomia final do


paciente (...) que tem com o resultado
necessário uma melhora duradoura de
sua situação psíquica (Freud, 1912, p.
116).

O texto de Freud (1912) Sobre a dinâmica da transferência nos fornece uma


chave de leitura fundamental referente à essência e ao objetivo do processo e da técnica
analítica. Visto que, como Freud expressou diversas vezes, a clínica é soberana – até
mesmo em relação à teoria –, essa chave de leitura torna-se essencial para revermos
nossas perspectivas sobre não somente a clínica freudiana, como também sobre a
técnica e sua teoria. Portanto, quando Freud (1912) diz que o objetivo do processo
analítico é a melhora duradoura do sujeito, o autor percebe que o êxito analítico na
verdade se caracteriza, assim, como a conquista por parte do mesmo de sua autonomia
final. Logo, percebemos que essa conquista da chamada autonomia final se dá ao longo
do processo analítico como um esforço e um exercício contínuo da própria autonomia
antes de conquistá-la – compreendendo conquista aqui não como aquisição, mas, sim,
como práxis. A chave de leitura adotada por este trabalho, então, é a que compreende o
processo analítico como exercício da autonomia e temos como objetivo, aqui, revelar

1
Autor: Prof. Drº Daniel Cardozo Severo
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Professo de Psicanálise da Universidade de Taubaté (Unitau).
como esse elemento central da técnica, a autonomia, aparece-nos nos mais variados
momentos e textos técnicos freudianos.
A escolha do texto Sobre a dinâmica da transferência de Freud (1912) se deu
não somente por revelar nossa chave de leitura de forma nítida, mas também por ser um
texto central e histórico da técnica da Psicanálise, diríamos até um texto “canônico”.
Freud (1912) visa, como uma das primeiras vezes em sua obra, sistematizar o que seria
a transferência, apresentando-a como o pivô ou o centro do processo analítico, tendo ela
como um processo dinâmico e interminável. Ao estabelecer a centralidade da
transferência no processo analítico, Freud (1912) deixou repercussões nas obras dos
mais relevantes pós-freudianos – tais como Klein, Winnicott, Lacan e Bion. Essa marca
se deu devido ao fato de que o texto freudiano apresenta a transferência como o
elemento estrutural do processo analítico e sua superação pelo sujeito como conquista
da autonomia. O processo analítico – seu início, seu meio e seu fim – ocorre por meio
da transferência, bem como a cura – aqui definida como ascensão à autonomia. Logo, a
transferência condensa em si tanto a cura e o exercício da autonomia quanto a
resistência como busca por manter-se na servidão.
A incógnita se revela nessa ambiguidade. Freud (1912) percebe que a
transferência é, ao mesmo tempo, a mais forte resistência ao processo analítico, que nos
leva a sua forma mais indigna, que é a servidão, e, simultaneamente, “portadora do
efeito de cura e condição para o sucesso do tratamento” (p. 109-110). Desse modo, a
busca pela servidão e/ou a resistência “acompanha o tratamento a cada passo” e “cada
ato do analisando precisa prestar contas” (p. 112) a ela, pois a transferência “coloca-se
como um acordo entre as forças que objetiva a cura e aquelas mencionadas, que a elas
se opõem” (p. 112). Portanto, ao longo de todo o processo analítico, a transferência se
apresenta “como a arma mais poderosa da resistência, e podemos concluir que a
intensidade e a duração da transferência são um efeito e uma expressão da resistência”
(p. 114, grifo nosso). Essa tensão fomentada pela ambiguidade da transferência se dá
devido à importância da renúncia e da responsabilização que nos conduz à autonomia –
por isso Freud (1912, p. 114; 1940, p. 89) vê que o peso da confissão é reflexo do
problema e não sua solução. A subversão gestada pela importância da renúncia e da
responsabilização se apresenta, também, no centro, ou concentram-se ou convergem aos
meandros do lembrar. Freud (1912) percebe que os impulsos inconscientes resistem a
serem lembrados, pois almejam se reproduzir acionando as paixões. Vemos, assim, que
a tensão entre autonomia e servidão se dá no campo das ações, no que tange não
somente ao agir ou não, mas também ao modo de ação em si, ou seja, sobre o campo da
modulação existencial. Freud (1912) não define em Sobre a dinâmica da transferência
o que seria o lembrar, mas ele o faz em Lembrar, repetir e perlaborar. Nesse texto,
Freud (1914) diz que o lembrar é “o reproduzir em âmbito psíquico” (p.158) os
impulsos e as repetições, e por isso Freud (1912) percebe que os impulsos inconscientes
se opõem a serem lembrados, almejando se reproduzir acionando as paixões. Dessa
forma, o ponto aqui em questão não é a posse de uma recordação, mas, sim, se
conseguimos reproduzir em âmbito psíquico, de lembrar, nossas ações de modo
autônomo, ou seja, se nos responsabilizamos por nossos atos e, desse modo, nos
conscientizamos deles. Por isso o termo perlaborar é mais fiel ao pensamento freudiano
do que elaborar, pois o que se encontra em jogo aqui é uma tensão constante que perfaz
a ação continuamente, exigindo superação da submissão proposta pela resistência.
Freud (1914), após fazer uma breve genealogia da técnica analítica, revela que o
estado atual dela, naquele momento, era o de reconhecer a resistência e, por meio das
interpretações, torná-la consciente. Esse tornar-se consciente se enquadrada no papel
dinâmico do processo, somente possível após a superação das resistências de recalque.
Vale notar que o tornar-se consciente versa-se sobre dois elementos: sobre a lembrança
e sobre a própria resistência. Sobre a lembrança requer se empoderar das ações se
responsabilizando por elas, mas, para isso, faz-se necessário tornar-se consciente da
resistência, visto que é a resistência que determina todo o universo do esquecido e que
estrutura eu não sei e sempre soube2 – base da nossa relação com a verdade e o amor à
verdade (Freud, 1926, p. 212; 1937b, p. 355; 1940, p. 99-101). O atuar e o repetir
emergem como resistência ao lembrar, não só no sentido de que impede o tornar-se
consciente uma lembrança, mas também de impossibilitar de tornar-se consciente da
própria ação praticada nesse atuar e repetir. Impede-se que a reprodução em âmbito
psíquico se dê ou se complete em um processo de emancipação. O a posteriori
(Nachträglich), que ultrapassa a repetição pela significação das experiências ou das
ressignificações das mesmas, fica impedido de efetivar-se, e “a partir daí, então, são as
resistências que irão definir a sequência daquilo a ser repetido” (Freud, 1914, p. 156).
Lembrar significa um ato complexo que ultrapassa o significado comum dado a ele. Em
Freud (1914), o lembrar compreende um ato de significação e de apropriação de

2
SEVERO, D. C. Carne e Consciência: je ne sais pas et jel’ai toujours su . In: O Projeto de uma
Psicanálise Ontológica em Merleau-Ponty. 2018. Tese (Doutorado em Filosofia) – Programa de Pós-
Graduação em Filosofia da Unifesp, Guarulhos-SP.
experiências e ações, no qual a resistência visa impedir negando esse movimento e
fomentando submissão. Perlaborar, ou superar a resistência, requer se responsabilizar
por doar significados e pelos significados dados às experiências, bem como se
responsabilizar pelos atos cometidos. Autonomia, aqui, significa produzir e reproduzir
psiquicamente e se responsabilizar pelo produzido, dois pontos que a resistência visa
negar para nos manter na servidão.
Encontramos essa luta entre autonomia e servidão no cerne do centro
gravitacional psíquico, pois Freud (1940), em Compêndio de Psicanálise, observa que o
Eu precisa ao mesmo tempo “suprir as exigências de suas três formas de dependência” e
de “preservar sua autonomia” (p. 85). Assim, em sua face de resistência, a transferência
reproduz relacionamentos e suas ambivalências, visando apenas substituir as primeiras e
antigas dependências por uma nova em nossas relações. O Eu depara-se com o seguinte
problema: ou manter-se na dependência; ou conquistar, ou preservar ou lutar pela sua
autonomia. Freud (1940) percebe que há um único caminho tangível à autonomia, e ele
passa pelo (auto)conhecimento, pois “a perda desse conhecimento significa para o Eu
prejuízo em termo de poder e influência; é mais próximo indício tangível de que ele está
sendo constrangido e tolhido pelas exigências” (p. 99) de suas resistências. À medida
que o Eu provém-se de (auto)sabedoria, maior a consonância com as intenções do
trabalho e do tratamento analítico, pois o Eu consegue “tomar a ofensiva, a fim de
reconquistar o que foi perdido” (p. 103). Dessa forma, o processo analítico rumo à
autonomia sempre se dá por meio de uma “luta que se desencadeia quando alcançamos
nossa intenção movendo o Eu rumo à superação de suas resistências” (p. 103). Uma vez
superada a resistência, via (auto)conhecimento e (auto)sabedoria, ocorre “uma alteração
vantajosa do Eu, a qual será conservada ao longo da vida” (p. 103), pois as relações de
dependência, submissão e servidão foram superadas.
O exercício da autonomia proporcionada pela análise perpassa pelo (auto)saber e
(auto)conhecimento. Percebemos o reflexo dessa conquista no modo pelo qual
construímos nossa história, ou nosso esquecido (Freud, 1937a). As repetições através da
transferência nos revelam sinais de submissão ou de autonomia nas reações do sujeito
diante da comunicação que o analista lhe faz – de uma construção ou interpretação. Um
movimento produtivo, em que novas lembranças emergem, denota uma busca pela
autonomia. Enquanto que a expressão de resistência denota permanecer na submissão –
Freud (1937a) percebe até as sutilezas desse movimento, pois ele entende que “o
analisando, na verdade, não está renegando o que lhe foi comunicado, mas fundamenta
sua oposição com base na parte ainda não revelada” (p. 372). Dessa forma, a resistência
nos provê confirmações da verdade de modo indireto, pautadas nessas reações do
analisando sobre a veracidade do que lhe foi comunicado. A única percepção segura da
reação do analisando que nos fornece dados da aproximação da verdade sob resistência
é apontada pela insegurança frente ao não revelado. A reação terapêutica negativa nos
mostra a face vitoriosa da submissão, enquanto que a aproximação da verdade de nossas
comunicações (construção e interpretação) nada mais é que a aproximação da
autonomia, por isso a comunicação segura da verdade emerge com o aparente
contrassenso da “piora” dos sintomas. Portanto, um paradoxo se revela a Freud (1937a),
uma vez que, na relação com a verdade da posição autônoma, de seu cume, percebe-se
que a atitude submissa da resistência coloca uma porção de “verdade histórica” no lugar
da realidade rejeitada. A resistência substitui parte da realidade que é renegada no
presente por outra parte que foi renegada nos primórdios (verdade histórica). Assim, é
desse modo, desconstruindo as “verdades históricas” construídas pela resistência, que a
autonomia (re)constrói a história por meio do presente – do presente ao passado e não o
inverso3.
Retomando a luta entre autonomia e servidão a partir do centro gravitacional
psíquico, percebemos o aprofundamento das descrições freudianas frente a esse ponto
em A análise finita e a infinita a partir do vértice do sacrifício da verdade. Nesse texto
Freud (1937b) adota duas perspectivas distintas para analisar os meandros da técnica e
seus benefícios. De um lado, temos a experiência analítica ou clínica, e, do outro, as
especulações metapsicológicas e a teorização. Adotando o vértice da experiência
clínica sempre como soberana e como soluções dos impasses psicanalíticos, o autor
volta-se aos problemas referentes à domação das pulsões pelo Eu e dos mecanismos de
defesa. Tendo como uma das metas analíticas a domação das pulsões pelo ponto de
vista teórico e metapsicológico especulativo, a experiência clínica nos revela o quanto a
teoria e as especulações metapsicológicas encontram-se equivocadas, quando
determinam essa domação como meta da análise. Essa meta teórica sucumbe às
constatações clínicas de que é utópica a diferença entre o Eu e o Isso (fonte das pulsões
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Vale notar em que Freud (1908), em O poeta e o fantasiar, diz que “as relações da fantasia com o tempo
são muito significativas. Deve-se dizer: uma fantasia paira entre os três tempos, os três momentos
temporais de nossa imaginação. O trabalho psíquico se acopla a uma impressão atual, a uma oportunidade
no presente, capaz de despertar um dos grandes desejos da pessoa; remonta a partir daí à lembrança de
uma vivência antiga, na sua maioria uma vivência infantil, na qual aquele desejo foi realizado e cria então
uma situação ligada ao futuro, que se apresenta como a realização daquele desejo, seja no sonho diurno
ou na fantasia, que traz consigo os traços de sua gênese naquela oportunidade e na lembrança. Ou seja,
passado, presente, futuro se alinham como um cordão percorrido pelo desejo” (p. 58).
a serem domadas) e que a ideia de um “Eu normal”, a quem confiaríamos a missão de
domínio psíquico, não passa de uma ficção ideal (p. 339). No fim, o que a clínica
sempre nos revela é um Eu alterado, que não se diferencia do Isso de modo seguro e
completo. Desse modo, do ponto de vista da clínica, Freud (1937b) define uma nova
função do Eu. Em vez de domar pulsões, o Eu precisa executar a mediação entre seu
Isso e o mundo externo, bem como proteger o Isso contra os perigos do mundo externo
(p. 399), em vez de tentar domar seu Isso. Nessa nova função do Eu, não há formas de
dependência, submissão e dominação, e, sim, a busca de preservação da autonomia e a
promoção de cuidados – do Isso até. Uma vez que o Eu falha em sua “nova” tarefa, a
verdade sempre será sacrificada (p. 341). O sacrifício da verdade surge devido à
incapacidade do sujeito em sustentar as angústias da autonomia, optando, assim, pela
posição de submissão. Visando evitar o perigo, a angústia e o desprazer, resta ao sujeito
transferir de fora para dentro o perigo no intuito de dominá-lo. A fantasia transforma em
interior o perigo antes que seja exterior e, com isso, entram em ação os mecanismos de
defesa. Logo, os mecanismos de defesa emergem com o objetivo de escorar a servidão,
pois eles têm um papel elementar no processo analítico, eles conseguem transformar a
cura (autonomia) em perigo (posição de submissão). Freud (1937b) percebe que “o fato
decisivo é que os mecanismos de defesa contra os perigos antigos reaparecem no
tratamento como resistências contra a cura. Decorre daí que a cura é tratada como um
novo perigo, até pelo Eu” (p. 343-4).
Um novo desafio surge frente a nossa preservação da autonomia ou conquista da
mesma. Visto que os mecanismos de defesa são os verdugos da verdade, percebe-se
mais um elemento central da resistência, a resistência contra o desvelamento da
resistência – para que se possa sustentar o sacrifício da verdade. Uma vez adotada a
postura submissa que estrutura a servidão, faz-se necessário para o sucesso dessa atitude
que ela não seja perceptível pelo sujeito. A resistência não pode ser somente contra a
impossibilidade de tornar-se consciente da própria ação praticada no atuar e repetir ou
ao lembrar, ela precisa também ser contra a autopercepção da atitude tomada, ou seja,
estamos submissos, mas não percebemos nossa submissão. A resistência ao
desvelamento da resistência apresenta-se como negação da atitude submissa que
adotamos sustentada pelos mecanismos de defesa. Freud (1937b) conclui que “há uma
resistência contra o descobrimento de resistências, e os mecanismos de defesa realmente
fazem jus ao nome que lhes demos inicialmente” (p. 345), pois os mecanismos de
defesa “são resistências não só contra a conscientização dos conteúdos do Isso, mas
também contra a própria análise e, consequentemente, contra a cura” (p. 345). Portanto,
o autor vê somente um caminho para a superação das resistências e da resistência da
resistência, a saber: o processo analítico requer uma reformulação do Eu. Ao exercício
da autonomia, a “melhora duradoura de sua situação psíquica” (Freud, 1912, p. 116)
requer ascensão à cura e relação com a verdade. O sacrifício à verdade não coaduna
com o exercício da autonomia, logo “a resistência não permite que se produza uma
modificação [ou reformulação do Eu], deixando tudo como está” (Freud, 1937b, p. 361)
por meio dos mecanismos de defesa.
Assim, Freud (1926), em A questão da análise leiga, vê que o sujeito, ao
sacrificar a verdade, estrutura uma ambiguidade existencial sobre a oposição entre o si-
mesmo e sua vida anímica. São contraposições ao si-mesmo que impossibilitam a
conscientização de um processo anímico. Esse jogo demarcado pela contraposição
habita até a própria palavra. Freud (1926) compreende que, no princípio, era o ato, e a
ação, quando nomeada, se reduz a ela, e é essa a fonte que permite a palavra ser um
instrumento poderoso. Ela, ao mesmo tempo, permite que nós comuniquemos
sentimentos, mas é o mesmo caminho que permite influenciarmos ou sermos
influenciados pelo outro. Vemos, assim, que na própria palavra, meio de comunicação,
habita a ambiguidade e contraposições ao si-mesmo. A palavra não só reduz a ação e
nunca consegue esgotá-la, mas ela também pode inibir a própria expressão enquanto
fonte vital, permitindo que sejamos influenciados pelo outro. Ela como instrumento de
comunicação, como diz Freud (1926), pode ser usada como resistência e submissão, ou
como fonte de cura. No processo analítico, para que a palavra sirva como fonte de cura,
impõe-se ao sujeito a necessidade de seguir um caminho distinto da submissão para que
ele encontre suas satisfações, isto é, uma atitude “diferente da adaptação ao mundo
exterior” (p. 226). O analisando precisa perceber que “pode intervir no mundo exterior
de forma modificadora e nele produzir propositalmente as condições que possibilitam a
satisfação” (p. 226). Essa atitude modificadora seria uma das faces da atitude autônoma
fomentada pela análise, pois essa atitude nasce de uma atividade gestada pela sabedoria,
se tornando “o produto mais elevado” (p. 226) do sujeito. Desse modo, o sujeito
autônomo consegue, por meio da palavra, desenvolver virtudes que permitem a ele
perceber “quando é mais adequado dominar suas paixões e se curvar diante da realidade
ou tomar partidos delas e se defender do mundo exterior” (p. 226). Essas virtudes sábias
geram uma consonância no si-mesmo que faz Freud (1926) perceber que, ao exercê-las,
atenuam-se ou desaparece a separação entre o Eu e o Isso e, consequentemente, o
Super-Eu. Suas separações só fazem sentido nas desarmonias. Ou seja, na autonomia
não faz sentido falarmos de cisões no interior do aparelho psíquico, somente na
submissão que o recalque separa e cinde o si-mesmo em Isso e Eu. A desarmonia nasce
dos traumas, afetos de angústia e ansiedade, bem como dos “perigos” pulsionais –
perigos porque se faz necessário que o indivíduo se adapte ao mundo externo em vez de
modificá-lo em prol de suas satisfações. Só há sentido, portanto, em falar de um Eu e de
um Isso na desarmonia, pois na consonância mantém-se a unidade psíquica que faz não
ter sentido dizer que existe um Isso e um Eu, ou um Super-Eu, porque só há o todo. A
desarmonia nasce da atitude de tornar-se dependente do mundo externo ou do outro, isto
é, de simplesmente só se adaptar.
Freud (1926) compreende que a busca da resistência é que essa desarmonia
citada acima se mantenha, impactando a atitude do sujeito frente à análise, expressando-
se por uma intenção ambivalente frente à cura. Logo, Freud (1926) percebe que não se
pode contar com a assistência do analisando no processo e, sim, só com sua submissão,
pois o analisando “está disposto a colocar todos os empecilhos possíveis no caminho do
trabalho conjunto, resumindo: que ele não quer se curar” (p. 251). O analisando
apresenta uma vontade dúbia frente ao processo e isso se dá devido a sua perda de
unidade, portanto ele “quer se curar, mas ao mesmo tempo ele não quer” (p. 252), ele
quer saber e/ou conhecer, mas, ao mesmo tempo, ele não quer. Desse modo, Freud
(1926) compreende que se faz necessário realizar uma convocação do sujeito à verdade
e à tomada de conhecimento. Entretanto, a submissão detém armas que inviabilizam
essa tomada e essa convocação, apresentando formas distintas de resistência; resistência
do Super-Eu (sensação inconsciente de culpa e punição), resistência do Eu (sensação de
angústia, ansiedade e medo) e resistência do Isso (manutenção do objeto de desejo).
Essas resistências só são possíveis pela cisão do sujeito e estruturam no analisando uma
“atitude emocional especial” em relação ao analista, a qual alude aos empecilhos citados
acima no tratamento. Essa atitude deve ser usada pelo analista como força motriz para
incentivar o analisando a superar as suas resistências – por isso a convocação do sujeito
à verdade e à tomada de conhecimento. Mas, ao mesmo tempo, o sentimento gestado
por essa atitude emocional especial é o apaixonar-se, com toda sua essência de
fenômeno patológico, ou melhor, com toda sua essência de amor transferencial – como
tal prestando serviços à resistência. O que o analisando “nos mostra, portanto, é o cerne
de sua história de vida íntima, ele o reproduz de forma tangível, como se fosse presente,
em vez de recordar dele” (Freud, 1926, p. 259) por meio de sua forma de amar – e por
isso essa ambiguidade frente à cura. Portanto, ele nos mostra, de um lado, a face de
submissão do amor, isto é, o amor transferencial como expressão da resistência que não
fomenta, de outro lado, a autonomia desejada, mas, sim, a servidão ao outro, pois, em
vez do fazer valer sua convocação à verdade e à tomada de conhecimento, o analisando
se apaixona, desarmonizando-se e cindindo-se.
Desse modo, apesar de Freud (1926) atribuir resistências ao Isso e ao Super-Eu,
o centro das resistências sempre será o Eu, pois, apesar de haver manutenção de objetos
de desejo ou uma sensação inconsciente de culpa e punição que fomentam as
resistências, sempre será do Eu que emanarão os atos de recalques e de resistências
(Freud 1923, 1926). Essas dificuldades apresentadas pelo Isso e pelo Super-Eu somente
o são devido à desunião do si-mesmo criada pelos recalques vindos do Eu e mantidos
pelas resistências por meio do Eu. Assim, o Isso e o Super-Eu apresentam critérios ao
Eu para resistir, mas é ao Eu que cabe a tarefa da resistência e da servidão. Portanto,
percebemos que, para Freud (1923, 1926, 1937b, 1940), há uma ambiguidade na
natureza do Eu frente ao problema da autonomia e da servidão. Freud (1923, 1926,
1937b, 1940) oscila entre um Eu servo ou dependente de instâncias ou da realidade e
um Eu autônomo e independente que visa exercer a liberdade. Assim, não é à toa que os
pós-freudianos resolvem esse problema, grosso modo e respeitando a complexidade dos
conceitos, por meio de uma quarta força responsável pela autonomia do sujeito,
retirando da essência do Eu essa função, isto é, a genealogia do exercício da autonomia
pelo sujeito se dá ou pelo Sujeito do Inconsciente, no caso francês, ou pelo Self, no caso
inglês. Em ambos os casos, o processo analítico visa, com certo grau de consonância
com Freud (1937b) e sua proposta de reformulação do Eu, uma extirpação do Eu – seja
por uma desconstrução do Eu em prol do Sujeito do Inconsciente, ou de uma diluição e
absorção do Eu pelo Self.
Dessa forma, Freud (1923), em O Eu e o Id, reverbera essa atitude submissa do
Eu. Tendo em mente que é do Eu que procedem os recalques e as resistências, Freud
(1923) vê que o Eu terá sempre que se confrontar, durante a análise, com aquilo que o
recalque pôs de lado, resistindo a esses elementos. Portanto, torna-se “uma importante
tarefa da análise vencer a resistência que o Eu tem a entrar em contato, tomar
conhecimento e se ocupar do recalcado” (p. 31). Em prol de manter sua coesão, o Eu
sacrifica a unidade do sujeito, e vemos no interior do sofrimento do analisando um
conflito entre um Eu coeso e um recalcado que dele se cindiu. Esse sacrifício da unidade
do sujeito reverbera em sua liberdade, significando também o sacrifício de sua
autonomia e permitindo a manutenção de sua atitude submissa. Desse modo, partindo
do prisma e da perspectiva da resistência, “acabamos por encontrar no próprio Eu algo
que também é inconsciente, algo que se comporta exatamente como o recalcado” (p.
31), ou seja, no caso do Eu, seria o contato com o impulso autônomo por meio de sua
oposição à cura. A aproximação à cura é temida pelo Eu por ser vista como um perigo.
A resistência articula esse processo, formando o perigo, garantindo os ganhos da doença
e satisfazendo o sentimento de culpa. Logo, para o Eu renunciar a sua posição submissa
e se curar, ele terá de renunciar à proteção do ganho da doença e ao castigo infligindo
pelo sofrimento. Por isso, o Eu expressa sua resistência e a razão de continuar doente. A
busca de manter-se doente pelo analisando faz com que Freud (1920), em Além do
Princípio de Prazer, ressalte novamente a importância da análise não só em revelar as
resistências, mas também em renunciar a elas. O caminho apontado por Freud (1920)
para essa renúncia é pela arte de interpretação, isto é, decifrar o inconsciente, e também
por meio das construções, que devem ser confirmadas pelo analisando por meio de sua
convicção da verdade (Freud 1920, 1937a). O Eu coerente opõe-se ao recalcado, e a
resistência à análise advém desse Eu coerente, relegando o recalcado à compulsão à
repetição – suscita-se assim o problema da destrutividade da pulsão de morte. Portanto,
a resistência força o Eu a manter o recalque – garantindo a proteção do ganho da doença
e o castigo infligindo pelo sofrimento, mas, para sucesso “total” nessa empreitada, faz-
se necessário atrair a compulsão à repetição ao lado do Eu em vez de fazer o Eu
confrontar-se com o recalcado. Gruda-se o recalcado no princípio de prazer, mitigando,
assim, o impacto da pulsão de morte e sustentando o sintoma.
Ao sustentar o sintoma, a resistência, propõe Freud (1917) em Conferências
Introdutórias à Psicanálise, faz insurgir a sugestão que emergirá durante o processo, e o
intuito terapêutico é de suprimi-la. A terapêutica psicanalítica percebe que a sugestão
revela, à medida que apresenta os conflitos que produzem os sintomas, as raízes dos
sintomas, e o analista transporta essa sugestão a modificar o sentido e o destino desses
conflitos. Desse modo, o uso analítico da sugestão se faz para diluir as resistências, que
fomentam a própria sugestão, e, uma vez diluídas, a vida psíquica do analisando
modifica-se. Sua modificação se dá porque houve um salto no grau “evolutivo” – no
sentido de conseguir apoderar-se e se responsabilizar por suas ações exercidas. Uma vez
conquistada sua autonomia, enquanto o analisando conseguir sustentá-la, Freud (1917)
compreende que o analisando estará protegido contra toda nova possibilidade
patogênica. Dessa forma, compreende o autor, o êxito do tratamento não repousa sobre
a sugestão que emerge durante o processo, mas, sim, no resultado da supressão das
resistências, e da própria sugestão, que promovem modificações da atitude do
analisando frente a si-mesmo e aos demais. Essas modificações se dão no analisando
pelo trânsito do inconsciente à consciência, uma vez que o elemento que se encontra na
consciência requer do analisando sua responsabilização por ele. A responsabilização,
compreende Freud (1917), revela que houve a supressão do recalque, que permite
substituir o inconsciente pelo consciente. Portanto, para que todo o processo se dê, faz-
se necessário procedê-lo em duas etapas: primeiro, a busca da resistência, para, depois,
digladiarmos com a supressão dela. A supressão da resistência requer, uma vez ela
descoberta, a atração sobre ela da atenção do analisando por meio de interpretações e
construções. Freud (1917) compreende que a resistência não faz parte do inconsciente,
mas do Eu, logo não basta para que a resistência desapareça somente a interpretação ou
a construção proferida pelo analista ao analisando. Não basta a descoberta da resistência
pelo Eu promovida pela atenção, faz-se extremante necessário que “trabalhemos com as
seguintes forças motivacionais: contamos, ante tudo, com o desejo que o analisando
abriga de recobrar a saúde, desejo que decidiu entrar em colaboração conosco” (p.
2395).
Freud (1917) entende, assim, que, ao buscar a resistência por meio da sugestão,
da interpretação e da construção, ao descobri-la e assinalando o que está recalcado por
ela, conseguiremos, junto com uma tomada de atitude do analisando, superá-la. O
sucesso analítico, entende o autor, se dá, então, por um lado, em “vencer as resistências,
levantar o recalque e transformar em consciente o material inconsciente” (p. 2395).
Entretanto, por outro lado, durante o trabalho analítico, em “cada uma das resistências
que devemos vencer, se desenvolve na mente do analisando uma violenta luta”, travada
“entre duas motivações contrárias, isto é, entre forças que tendem manter a contracarga
[resistência] e outras que impulsionam a abandoná-las” (p. 2395). Assim, quando chega
o momento em que o analisando começa a lutar contra as suas resistências reveladas
pela análise, faz-se necessário que o impulso à cura decida a luta contra a resistência na
direção da autonomia para que a cura se efetive. Caso a efetivação da autonomia não se
dê, repete-se a primitiva solução do conflito que fez e faz o analisando adoecer, ou seja,
retoma-se o recalque e mantém-se inconsciente tudo aquilo que se tencionou tornar-se
consciente, mas que não se efetivou devido à impossibilidade da tomada de
responsabilização do sujeito sobre o seu conteúdo. Freud (1917) situa esse movimento e
momento no campo da intencionalidade, pois ele percebe que “o fator que decide o
resultado não é a introspecção intelectual do analisando, faculdade que carece de
energia e liberdade suficientes para isso, senão unicamente sua atitude” (p. 2400).
Freud (1917) percebe, portanto, que a cura que os analisandos buscam, que visa
libertá-los de seus sintomas, eles a ela se opõem, impondo ao trabalho terapêutico a
resistência, e utilizando-a ao longo de todo o processo. Como o analisando não
reconhece sua resistência, Freud (1917) já considera um êxito terapêutico fazer o
analisando dar-se conta dela. A resistência, por sua vez, ou a tendência do analisando à
servidão, adota as mais variadas e sutis formas de manifestação, que dificultam sua
(a)percepção e seu reconhecimento. Mas, apesar da variabilidade de manifestações, em
sua estrutura, a resistência coloca-se de tal forma que, no lugar de lembrar, o analisando
repete aqueles sentimentos e atitudes de sua vida, e que a transferência passa a ser
utilizada como mecanismos de resistência contra o próprio processo analítico. Portanto,
Freud (1917) entende que “a supressão destas resistências constitui a mais importante
função da análise, e ao mesmo tempo a única parte de nosso trabalho que poderá nos dar
a certeza que prestamos ao analisando um verdadeiro serviço” (p. 2304). O autor coloca,
assim, o problema final da análise sobre a tomada de atitude do analisando em direção à
cura, pois ele percebe que toda situação afetiva do analisando é dirigida por sua
resistência. Isso permite que a resistência consiga se transformar frequentemente, seja
sua intensidade, visto que ela aumenta sempre que se abeira de um tema “novo”, seja
em sua resolução, pois ela alcança seu maior grau exatamente no momento de sua
perlaboração.
Finalizamos, por conseguinte, este trabalho caminhando junto com Freud (1919)
em Caminhos da Terapia Analítica. Nesse texto, Freud (1919), além de resumir o que
foi dito acima, conclui que a resistência atua especificamente contra a ampliação do
(auto) conhecimento. A superação da resistência, que impede a ampliação do
conhecimento de si, se dá via transferência, na dimensão da repetição do conflito com o
analista. A nossa vida anímica acaba por ser dilacerada e cindida por essas resistências.
A conscientização, imprescindível à autonomia, só é possível seguindo os passos
terapêuticos de descoberta e de superação das resistências. Para que o processo analítico
seja bem-sucedido, ele deve ocorrer na privação e na abstinência. Freud (1919) faz
questão de salientar que o que ele chama de abstinência não pode ser confundida com o
que o senso-comum denomina por essa palavra. A abstinência precisa ser compreendida
por meio da dinâmica do adoecimento do analisando, bem como pelo seu
restabelecimento. Dessa forma, privação e abstinência terapêuticas estão diretamente
vinculadas ao impedimento (Versagung). Logo, a melhora do estado de sofrimento do
analisando não é sinônimo de cura, pois há uma ambiguidade essencial. A suposta
melhora, por fim, só retarda a velocidade do restabelecimento do analisando e diminui
sua força motriz que o impele à cura, facilitando o trabalho da resistência. Faz-se
necessária a manutenção do sofrimento eficaz à busca da autonomia. O analisando deve
ter uma vasta gama de desejos não realizados para, assim, abdicar de seu lugar e postura
de submissão. Assim, a proposta analítica ao analisando consiste em uma práxis que
busca “a libertação e a concretização de sua própria essência” (p. 199). Concretizar a
própria essência do analisando para que ele se liberte e exerça sua autonomia exige do
analista que ele não “se coloque a serviço de uma determinada visão de mundo
filosófico e que a imponhamos ao paciente com a finalidade de seu enobrecimento.
Quero dizer que isso é apenas violência” (p. 199).

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