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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância

Educação,
Diversidade e
Inclusão Social
Criança e Adolescente em
situação de
vulnerabilidade social

Autor: Salette Marinho de Sá

EAD – Educação a Distância


Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação
SUMÁRIO

UNIDADE 1 – CRIANÇA E ADOLESCENTE ......................................................... 04


1.1 Noções sobre infância ...................................................................................... 05
1.2 Adolescência: uma discussão necessária ........................................................ 09

UNIDADE 2 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) .............. 15


2.1 O Código de Menores ....................................................................................... 16
2.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente........................................................... 20

UNIDADE3 - ECA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO ................................................ 29


3.1 O Conselho Tutelar e as medidas de proteção ................................................. 32
3.2 O Conselho Tutelar e a violência doméstica ..................................................... 35
3.3 O ato infracional e a questão da imputabilidade penal ...................................... 39

UNIDADE 4 – ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTE ..................................................................................................... 42
4.1 Proteção Social Básica...................................................................................... 45
4.2 Proteção Social Especial ................................................................................... 49

UNIDADE 5 – CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA ................................ 54


5.1 Assistência social no atendimento à criança e aos adolescentes ..................... 56
5.2 A retirada da criança e do adolescente do convívio familiar.............................. 60

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 65

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Introdução

Fonte: http://migre.me/8B5yM

Discutir o tema criança e adolescente é complexo e uma tarefa desafiadora.


Para tanto, organizamos esta disciplina para contribuir na discussão de assuntos
vivenciados no cotidiano de professores, assistentes sociais, psicólogos, educadores
físicos, entre tantos outros profissionais que atuam nas diversas políticas públicas.
Sabemos que as escolas e demais locais onde estamos inseridos não se constituem
de situações estáticas, mas trata-se de um processo que tem movimentos e
dinâmicas diversas, conforme a correlação de forças presentes na sociedade.
Realizamos uma breve retrospectiva da legislação relativa à infância, a partir da
aprovação do primeiro Código de Menores em 1927 que introduz o conceito de
“abandono” e, posteriormente, é incluído o conceito de “situação irregular” pelo
Código de Menores reformulado em 1979, até a promulgação da Constituição
Federal em 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, consagrando
a “doutrina da proteção integral”.

A aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) trouxe


mudanças no atendimento às crianças e aos adolescentes, apresentando
discussões que merecem ser aprofundadas, devido aos avanços significativos na
efetivação da doutrina de proteção integral trazida pelo ECA. Assim essa disciplina
tem a intenção de contribuir com reflexões sobre essa temática, apontando questões
referentes à trajetória da criança e do adolescente, as mudanças após o Estatuto da
Criança e do Adolescente (1990), destacando a implantação de órgãos como
Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar.

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UNIDADE 1- CRIANÇA E ADOLESCENTE

[...] Criança, no meu tempo de criança,


não valia mesmo nada.
A gente grande da casa
usava e abusava
de pretensos direitos
de educação.

Por dá-cá-aquela-palha,
ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas
não faltavam [...]

(Cora Coralina, Antiguidades,1965)

Cora Coralina apresenta no poema Antiguidades (1965) a condição da


criança na sociedade brasileira no final do século XIX. Percebemos que, felizmente,
essa condição experimentou muitas transformações.
A mais importante dessas transformações é o reconhecimento da criança e
também dos adolescentes, como sujeito de direitos.
Muitas vezes, ainda as crianças e adolescentes são vistos como adultos em
miniaturas. Infelizmente é comum a ideia de "adultizarmos" as crianças, isso se
manifesta, por exemplo, na maneira de vestir, na imposição de modelos de
comportamento adulto para as crianças, nas responsabilidades que determinamos
para as crianças, no uso de uma linguagem conceitual, no impedimento da
brincadeira, no acúmulo de atividades que
levam as crianças ao estresse. Isto não
significa que a educação será feita sem
colocar limites e responsabilidades. A
educação deve ocorrer respeitando a
condição de infância da criança. Se
quisermos uma sociedade saudável,
devemos começar a cuidar melhor das
crianças, o que, em síntese, significa
deixar a criança viver a sua infância.
Fonte: http://migre.me/8Hruz

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Ultimamente estamos tão
preocupados em preparar as crianças para
o mundo globalizado e tecnológico que
descuidamos de algo muito importante:
deixar a criança aproveitar a sua infância,
ter contato com a natureza, brincar com os
amigos, usar a imaginação e a criatividade
nas várias situações que lhes são
apresentadas.

Fonte: http://migre.me/8HryI

A contribuição da família, profissionais, defensores dos direitos e ainda


legisladores e poder público deveria ser reconhecer na criança um cidadão em
desenvolvimento, com necessidades e direitos.
A regra básica é que a criança e o adolescente devem ter todos os direitos
que têm os adultos e que sejam aplicáveis à sua idade. E, além disso, devem contar,
ainda, com direitos especiais decorrentes de sua caracterização como pessoa em
condição peculiar de desenvolvimento pessoal e social.
Certos direitos são reconhecidos a todos os seres humanos independente de
sua idade, como a proteção contra tortura, contra o trabalho abusivo e explorador,
com acesso aos serviços de saúde e à liberdade de crença e opinião.
Outros direitos, no entanto, são específicos das crianças e dos adolescentes,
como o acesso à educação, enquanto condição imprescindível do seu
desenvolvimento, juntamente com o esporte, o lazer e a recreação.

1.1 Noções sobre infância


Ao iniciarmos as discussões sobre a infância, vale atentar-se para o que
Korczak, ao escrever sobre a criança, afirmou:

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Somente poderá amar cada criança com amor sábio, quem se
interessar por sua vida espiritual, por suas necessidades, por seu
futuro. Quanto mais se aproximar da criança, mais verá nela coisas
dignas de sua atenção. E é nessa observação escrupulosa que
encontrará sua recompensa e a coragem para novos esforços, que
permitam que vá sempre em frente. (KORCZAK, 1983, p.234).

O pesquisador francês Philippe Ariès (1960), em sua obra História Social da


Criança e da Família, afirma que o conceito ou a ideia que se tem da infância foi
sendo historicamente construído e que a criança, por muito tempo, não foi vista
como um ser em desenvolvimento, com características e necessidades próprias, e
sim como um adulto em miniatura. Vigorava a noção de que a criança deveria vestir-
se como adulto, trabalhar nos mesmos locais, com jornadas de mesma duração,
frequentar os mesmos ambientes. Ariès aponta que a construção do sentimento de
amor pelas crianças foi, durante muitos séculos, despercebido, chegando mesmo a
não existir. Sua tese indica o surgimento da
noção de infância apenas no século XVII, junto
com as transformações que começam a se
processar na transição para a sociedade
moderna.
Aparecem retratos de crianças vivas,
quando começa a surgir nessa época,
interesse pela criança na organização da
família. Começam a surgir pinturas de retrato
de crianças, pequenos príncipes, filhos de
senhores burgueses ricos. No século XIX a
pintura foi substituída pela fotografia.
Príncipe Baltasar Carlos (séc. XVII)
Fonte: http://migre.me/8Hs4x
Os sentimentos em relação à criança tiveram algumas transformações no
decorrer da história: o primeiro sentimento foi chamado de paparicação, surgido no
meio familiar, onde a criança era considerada ingênua, inocente e graciosa e por
isso precisava de cuidados.
Logo depois surge um novo tipo de sentimento oriundo dos meios
eclesiásticos ou dos homens da lei e de homens moralistas, que estavam

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preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes. As crianças eram
vistas como criaturas frágeis de Deus que precisam ser preservadas e disciplinadas.
Esse sentimento passou para a vida familiar, onde a criança passou a ser vista como
ser incompleto e imperfeito, que necessitava de moralização e da educação do
adulto.
Até o século XVIII a família era um espaço aberto em que tinham trânsito
livre, os avôs, filhos, amigos, mas a criança não tinha nenhuma garantia e nem
consideração especial. A família era considerada mais como realidade social e
moral. A criança foi ocultada por muito tempo pela família. A partir do século XVIII,
aliou-se aos sentimentos de paparicação e de disciplina, o sentimento de
preocupação com a higiene e com a saúde. A criança conquista o lugar junto a
seus pais, tornando-se um assunto sério e digno de atenção. Sua simples existência
era digna de atenção. A criança começa a ser vista como um indivíduo social, dentro
da coletividade, e a família tem grande preocupação com sua saúde e sua
educação.
Destacamos que também a partir do século XIX a adolescência passou a ser
definida com características específicas, que a diferencia da infância e da idade
adulta. Percebe-se que a trajetória da criança é marcada pela discriminação,
marginalização e exploração.

http://migre.me/8AYaU

Nos últimos 50 anos, várias concepções de crianças acerca da infância vêm


sendo expressas e indicam novas concepções: sujeito social e histórico,
constituído no seu presente, cidadão portador e produtor de cultura. Essas novas

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concepções aparecem especialmente no âmbito educacional, e no Brasil, são frutos
tanto da ação de movimentos sociais quanto do desenvolvimento das ciências que
estudam a infância.
O século XX é o século da descoberta, valorização, defesa e proteção da
criança. Nessa perspectiva a infância passa a ser vista não mais como um tempo de
“preparação para...”, mas como um tempo em si, tempo de sorrir, de brincar, de
jogar, de sonhar. Ou seja, um tempo que incorpore tudo o que a criança é e vive
como sujeito de direitos.

1.1.1 Sujeitos de Direitos

A criança e o adolescente já não poderão mais ser tratados como objetos


passivos da intervenção da família, da sociedade e do estado. A criança tem direito
ao respeito, à dignidade e à liberdade, e este é um dado novo que em nenhum
momento ou circunstância poderá deixar de ser levado em conta.

1.1.2 Pessoas em Condição Peculiar de Desenvolvimento

Serem consideradas pessoas em condição peculiar de desenvolvimento foi


uma das principais conquistas. Isso significa que, além de todos os direitos de que
desfrutam os adultos e que sejam aplicáveis à sua idade, a criança e o adolescente
têm ainda direitos especiais decorrentes do fato de que:
 ainda não têm acesso ao conhecimento pleno de seus direitos;
 ainda não atingiram condições de defender seus direitos frente a
omissões e transgressões capazes de violá-los;
 não contam com meios próprios para arcar com a situação de suas
necessidades básicas;
 por se tratar de seres em pleno desenvolvimento físico, emocional,
cognitivo e sociocultural, a criança e o adolescente não podem
responder pelo cumprimento das leis e demais deveres e obrigações
inerentes à cidadania da mesma forma que os adultos.

1.1.3 Prioridade Absoluta


A prioridade absoluta da criança e do adolescente é entendida como:

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 primazia em receber proteção e socorro em qualquer circunstância;
 precedência no atendimento por serviço ou órgão público de qualquer
Poder;
 preferência na formação e execução das políticas sociais públicas;
 destinação privilegiada de recursos públicos às áreas relacionadas com
a proteção da infância e da juventude. (COSTA, 1994)

1.2 Adolescência: uma discussão necessária

Fonte: http://migre.me/8AY6i

A discussão proposta neste texto é importante para entender a adolescência


como um processo psicossocial, com mudanças biológicas, psicológicas e
sociológicas - portanto ela terá diferentes peculiaridades, dependendo do ambiente
social, econômico e cultural em que o adolescente se desenvolve, como um
processo de construção de identidade. Portanto, a adolescência deve sempre ser
compreendida em um contexto amplo, numa perspectiva de história de vida, de
possibilidades, de oportunidades, de características pessoais, individuais e
relacionais.
Assim é fundamental para o profissional que trabalha diretamente com esta
população, refletir sobre concepções de adolescência e de família, visto que essas
concepções nortearão suas práticas e formas de intervenção.
Sem dúvida, precisamos retomar a discussão a respeito da necessidade de
garantir os direitos. Pensar em adolescentes que não têm acesso a uma educação

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de qualidade, a espaços públicos de lazer com segurança e equipamentos para
saúde, trabalho, cultura entre outros, significa que os direitos não estão garantidos,
como se afirma na Constituição Federal.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), desde 1980, publica o
relatório Situação Mundial da Infância. Na edição de 2011, tem o título: “A
adolescência: uma fase de oportunidades” e trouxe como foco de análise a
adolescência, apontando a importância e a urgência da discussão do tema.
O relatório afirma que a adolescência é, antes de tudo, uma fase especial de
desenvolvimento, que precisa ser abordada a partir da perspectiva dos direitos.
Argumenta que é um equivoco entender a adolescência como um problema.
Muitos adolescentes são vistos como ameaça para suas famílias e para a
sociedade, no entanto, deveriam ser reconhecidos como sujeitos da sua própria
história e suas necessidades deveriam ser pauta das políticas públicas. O
interessante no relatório é que há uma convocação para todos inverterem a lógica
tradicional, que costuma reduzir a adolescência a uma fase de riscos e
vulnerabilidades. A ideia proposta é a visão dessa fase da vida como oportunidade
não apenas para os próprios adolescentes, mas também para suas famílias, suas
comunidades, os governos e a sociedade. Oportunidade de socialização, construção
de identidade e autonomia. Afirma o Relatório:

Para as famílias, a adolescência é um convite para descobrir um


mundo novo. As escolas podem aproveitar a facilidade de
aprendizado dessa fase e contribuir para que os estudantes
adquiram o conhecimento necessário para desenvolver seu
potencial. A comunidade se beneficia com a característica natural da
adolescência de agir coletivamente. Na esfera das políticas públicas,
devem ser ampliados os canais para que os adolescentes exerçam
seu poder de influência e construam uma perspectiva crítica em
relação à sua realidade. (UNICEF1, 2011)

Na discussão trazida pelo relatório, não há valorização de dados sobre a


gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e infrações
cometidas, uso de drogas. O relatório aborda essas questões ressaltando a
necessidade de se compreender as trajetórias de vida para identificar as razões e

1
Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/br_sowcr11web.pdf>. Acesso em 29/01/2012.

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reverter a falta de acesso a direitos básicos que levam a estatísticas devastadoras
para a adolescência.
Importante destacar que é na adolescência que meninas e meninos possuem
imenso potencial para seu próprio desenvolvimento e podem consolidar de forma
sustentável e duradoura as experiências vivenciadas. Portanto, investir no
desenvolvimento dos adolescentes é disponibilizar ferramentas para que encarem os
desafios do seu tempo e se engajem em um esforço coletivo para melhoria de sua
vida, da sua família, da sua comunidade e do seu país.
O Brasil possui uma população jovem: 30% dos seus 191 milhões de
habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população possuem entre 12 e 17 anos,
uma população de mais de 21 milhões de adolescentes. Por isso, é essencial que o
Brasil atenda às necessidades específicas da adolescência nas suas políticas. Caso
contrário, corre-se o risco de que um grupo tão significativo e estratégico para o
desenvolvimento do País fique invisível para as políticas públicas que priorizam a
infância e a juventude.
No Brasil, as políticas destinadas a esse público, estão mais voltadas para
dois desses aspectos que veem a adolescência/ juventude como problema e a
juventude como ator estratégico para desenvolvimento. Em ambos os processos
deve-se considerar a identidade desses adolescentes e jovens, identificar sua
cultura, suas necessidades, transformando-as em ações, projetos e políticas
públicas. Com certeza, dessa forma eles
se sentirão mais dispostos para interagir
com profissionais, com outros jovens e
com sua própria família.
Alguns fatores como: falta de
oportunidades educacionais e
profissionais, mortes violentas, relações
sexuais precoces desprotegidas,
HIV/AIDS e trabalho infantil são alguns
dos principais riscos que podem impedir
que os adolescentes se desenvolvam até
chegar a vida adulta.
Fonte: http://migre.me/8Hzzb

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Os desafios são muitos, mas destacamos que para enfrentar essas situações
e outras, é necessário que as políticas públicas sejam voltadas para a adolescência,
para sua promoção e desenvolvimento, com investimentos e educação, cuidados de
saúde, proteção e participação dos adolescentes, principalmente para os mais
pobres e vulneráveis. A questão da vulnerabilidade social será discutida a seguir.

É fundamental enxergarmos os jovens como cidadãos de direitos,


quais os diferentes espaços de participação. A juventude precisa estar em
espaços de participação de seus municípios, desde a escola até a
prefeitura, passando pela igreja, pelas associações, pelos diversos grupos
juvenis, buscando melhoria para todos. Acesse o site do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate a Fome e veja a Política Nacional
da Juventude (http://www.mds.gov.br Atalho: http://migre.me/8HtCS)

1.2.1 Vulnerabilidade social

A situação de vulnerabilidade social se encontra diretamente ligada à miséria


estrutural, agravada pela crise econômica que lança o homem ou a mulher ao
desemprego ou subemprego. Pode ser entendida como resultado negativo da
relação entre recursos materiais disponíveis e acesso às oportunidades sociais,
econômicas, culturais, responsabilidade do Estado, da relação mercado e
sociedade. Essa situação se traduz em desvantagem social para os jovens e suas
famílias, como por exemplo, no caso de mobilidade social.
À medida que a família encontra dificuldades para cumprir satisfatoriamente
suas tarefas básicas de socialização e amparo/serviços aos seus membros, criam-se
situações de vulnerabilidade. São apresentados dados secundários sobre educação,
saúde, cultura, lazer e trabalho que demonstram a dificuldade de acesso dos
adolescentes e jovens a essas políticas, o que contribui com a situação de
vulnerabilidade social. A questão agrava-se em situações que fomentam o aumento
da violência e da criminalidade. Ressaltamos aqui que embora muitos casos, a
violência esteja associada à pobreza, não é sua consequência direta, mas sim
resultado das desigualdades sociais, a negação do direito ao acesso a bens e

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equipamentos de lazer, esporte e cultura opera nas especificidades da cada grupo
social desencadeando comportamentos violentos.
As políticas públicas voltadas aos adolescentes e jovens têm como desafio
combinar políticas universais, compreendendo eles não isolados em um mundo à
parte, e políticas afirmativas, compensatórias, sensíveis à particularidade da
identidade juvenil, já que eles compõem uma geração com linguagens,
necessidades e formas de ser específicas – reconhecendo o protagonismo juvenil.
O protagonismo juvenil é parte de um método de educação para a cidadania
que prima pelo desenvolvimento de atividades em que o jovem ocupa uma posição
de centralidade, e sua opinião e participação são valorizadas em todos os
momentos. No combate à vulnerabilidade social é necessária a superação dos
enfoques setoriais e desarticulados de grande parte das políticas sociais.

Saiba o que o Governo federal está fazendo para contribuir à


superação da miséria no Brasil
(http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/expansao-dos-servicos-de-
protecao-social-basica-e-especial-2012-2013-plano-brasil-sem-miseria
Atalho: http://migre.me/8HtVN).

Expansão dos Serviços de Proteção Social Básica e Especial


2012 – Plano Brasil sem Miséria - Decreto nº 7.492 de junho de 2011,
que instituiu o Plano Brasil Sem Miséria – com expansão dos serviços
socioassistenciais e promovendo a integração e a articulação de políticas
públicas, programas e ações.

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UNIDADE 2 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Cada época, dependendo dos determinantes econômicos com suas


implicações sócio-político-culturais, elaborou um tipo de discurso sobre a questão da
criança em situação de vulnerabilidade, sugerindo formas de encaminhamento para
a sua solução.

Fonte: http://migre.me/8AYE2

Para falar do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), é


necessária uma comparação com a lei que anteriormente existiu no país: o Código
de Menores.
O Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam
duas visões jurídicas sobre a criança: a Doutrina da Situação Irregular e a Doutrina
da Proteção Integral. O ECA traduz esta última em lei, que está em vigor desde
1990, dividindo até hoje opiniões e práticas quanto ao modo de cuidar as crianças e
adolescentes.

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Quadro 1 – Duas visões jurídicas sobre a criança

Doutrina da Situação irregular Doutrina de Proteção Integral

Trata-se da doutrina que orientou o Código Trata-se da nova concepção jurídica


de Menores. Preconiza a atuação do segundo a qual o Governo, o Estado e a
Estado, através do Judiciário, quando o Sociedade são obrigados a propiciar a todas
menor se encontra em alguma situação as crianças e adolescentes, o respeito a
considerada irregular: os abandonados, seus direitos fundamentais. O Estatuto da
vítimas de maus-tratos, miseráveis e Criança e do Adolescente concebe a
infratores. criança e o adolescente como sujeitos de
direitos, e pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento.

Fonte: Elaboração própria a partir do Código de Menores e Estatuto da Criança e do


Adolescente

2.1O Código de Menores


O lema do Código de Menores (1979) era a preservação da ordem social e o
Estado era responsável por providenciar a assistência às crianças e adolescentes
abandonados, para “reeducá-los” ou “recuperá-los”. Crianças e adolescentes
abandonados eram chamados de “menores”.
O discurso moralizador existente na época atribuía às famílias consideradas
“desajustadas” a incapacidade de oferecer educação e afeto aos seus filhos, que
viviam nas vias públicas, convivendo com o mundo dos vícios e com a “escola” do
crime. Com tal entendimento, era necessário frear a ação dos infratores que
ameaçavam a ordem pública. Surgiram nessa época as primeiras instituições para
menores abandonados ou envolvidos com o crime. O debate que se propunha era
de um lado a prevenção e de outro, a punição.
A criação do Juízo de Menores por meio do Decreto nº 16.272, de
20/12/1923, indicava que a pessoa do juiz deveria determinar o tipo de tratamento
para cada situação apresentada pelos “menores abandonados ou infratores”.
O Juiz de Menores era uma figura atípica dentro da estrutura do Estado. Ele
aplicava a lei e detinha poderes de vigilância, proteção e regulação da vida dos
menores.
A responsabilidade do Estado consagrou-se no Direito através da edição do
primeiro Código de Menores em 1927. Passetti afirma:

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que foi com o Código de Menores (Decreto nº 1734/A, de 12 de
outubro de 1927) que o Estado respondeu pela primeira vez com a
internação, responsabilizando-se pela situação de abandono e
propondo-se a aplicar os corretivos necessários para reprimir o
comportamento delinquência. Os abandonados estavam na mira do
Estado. (1999, p.355)

O mesmo autor relata que nos primeiros 30 anos da República, a criança


pobre era considerada abandonada e potencialmente perigosa, e cabia ao Estado,
incutir-lhe a obediência. A educação, sob o controle do Estado, direcionava-se
assim, para disciplinar os cidadãos demonstrando uma política centralizadora e
repressora.
A correção de comportamento em nome da educação elevou o número de
prisões e internatos, onde os “desajustados” deveriam ser reeducados. “Ao escolher
políticas de internação para crianças abandonadas e infratores, o Estado escolhe
educar pelo medo.” (PASSETTI, 1999, p.356).
O argumento para as internações fundamentava-se no princípio de que era
preciso combater o indivíduo perigoso. No entanto, o infrator que deveria ser
reintegrado socialmente era totalmente alijado da sociedade e o internato em vez de
corrigir, deformava. A integração ocorria pelo avesso na ilegalidade e a austera vida
de interno orientada pela rotina perpetuava a individualidade e a delinquência.
O Código de Menores (1927) regulamentou também o trabalho infantil até que
com a Constituição de 1934, determinou-se a proibição do trabalho dos menores de
12 anos em todo o território brasileiro.
Esse Código introduziu timidamente a discussão sobre os castigos de pais
contra filhos, referindo-se a punição apenas para castigos imoderados. Era aceita a
disciplina corporal de crianças e adolescentes, com a finalidade de educar.
O Estado, através do Juiz de Menores,
Pátrio poder é um poder-dever
atribuído aos pais em benefício podia destituir o pátrio poder, decretando a
dos filhos. Os pais só podem
usá-lo para a realização desse sentença da “situação irregular do menor”. Era
dever. Por ser exercido por determinado pelo Juiz ao “menor carente”,
ambos os pais, a expressão
pátrio poder foi substituída por considerado criança em perigo, que a rede de
poder familiar no Código Civil
atendimento abarcasse com todos os efeitos da
de 2002. É o conjunto de direitos
e deveres referentes aos pais pobreza, assumindo funções de abrigo, escola,
com relação a seus filhos e
respectivos bens, com a hospital e, às vezes, prisão.
finalidade de protegê-los.

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O Juiz, ao determinar que a criança fosse retirada das ruas, da sua família ou
comunidade, acreditava, fundamentando-se no Código, que o atendimento seria, no
mínimo, melhor que o oferecido anteriormente, o que efetivamente, na prática, não
ocorria. Sempre houve denúncias sobre a situação dos internatos, os quais
funcionavam como depósitos.
A lógica utilizada pelo Código era aparentemente simples: “se a família não
pode ou falha no cuidado e proteção do menor, o Estado toma para si esta função”.
(FALEIROS, 1995b, p.54).
Devido à complexidade na disputa pela guarda dessas crianças, que não eram
órfãs e sim carentes, entre o Juiz de Menores, a família e as entidades de
atendimento, muitas famílias acabavam abandonando os filhos nos internatos. Esse
abandono era apontado pelos profissionais (psicólogos, assistentes sociais, e
outros) dos internatos como imoralidade das famílias, desconsiderando a dificuldade
destas para reaver o chamado poder familiar.
De acordo com Arantes,

embora a prática do internato de crianças não seja fato recente no


Brasil, apenas com a criação da FUNABEM na década de 60 e a
revisão do Código de Menores na década de 70, quando também,
com a ditadura militar os menores foram considerados ‘questão de
segurança nacional’, consolida-se a ideia de que lugar de criança
pobre é no internato. (1995, p.213).

Por não satisfazer as necessidades do


momento e apoiado nas críticas ao antigo Serviço
de Assistência ao Menor, o regime militar
substituiu o SAM pela Fundação do Bem-Estar do
Menor (FUNABEM) criada em 1º de dezembro de
1964, pela Lei nº 4513, vinculada ao Ministério da
Justiça, reforçando seu caráter policial frente à
problemática que deveria atender.
Fonte: http://migre.me/8HzQq
À FUNABEM coube a tarefa de implementar a Política Nacional do Bem-Estar
do Menor (PNBM), que deveria por fim ao emprego de métodos repressivos e
primitivos nas instituições para “menores” e, através da ação conjunta com a

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“comunidade”, desenvolver outras estratégias de atendimento que não priorizassem
mais a internação ou a institucionalização da criança.
Para assegurar o controle da situação, a FUNABEM, desencadeou, na década
de 70, um processo de sensibilização dos governos estaduais, dando origem às
Fundações Estaduais do Bem-Estar do MenorFEBEMs.
No entanto, as unidades da FEBEM em cada estado se revelavam lugares de
tortura e espancamentos, nos moldes dos esconderijos militares, onde subversivos
eram torturados.
Os prejuízos resultantes da marginalização eram alarmantes, chegando a
formar a Comissão Parlamentar de Inquérito em 1976, constituindo a CPI do Menor.
A CPI concluiu seu trabalho, apresentando como recomendação a criação do
Ministério Extraordinário, coordenador de todos os demais organismos envolvidos,
financeiramente apoiado por um Fundo Nacional de Proteção ao Menor. Entretanto,
não veio a concretizar-se.
Ao final da década de 70, era promulgado o novo Código de Menores, através
da Lei 6697, de 10/10/79, que pretendia inaugurar uma nova postura jurídica frente à
questão dos “menores”. O Código de Menores em 1979 passou a ser o único
diploma a regular a matéria que dita normas de proteção e assistência aos
brasileiros menores de 18 anos.
Para exemplificar, citamos o Art., 2º:
Para efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o
menor: I- privado de condições essenciais à subsistência, saúde e
instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta
de omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade
dos pais ou responsável para provê-las; II – vítimas de maus-tratos
ou castigos imoderados impostos por pais ou responsável; (...) VI-
autor de infração penal.

O Código autorizava os juízes a internarem crianças que se encontram em


“situação irregular” e define a carência como uma das hipóteses dessa situação.
Em 1984 a FUNABEM passa a subordinar-se ao Ministério da Previdência e
Assistência Social (MPAS). Os anos 80, no campo das políticas de atendimento à
população infanto-juvenil, surgem como um ciclo de grandes transformações.
A partir das lutas e pressões sociais, e dentro das correlações de forças
possíveis, em 1986, os direitos da criança são colocados em evidência por inúmeras
organizações, destacando-se o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua,

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Pastoral do Menor, entidades de direitos humanos, ONG’s. As organizações sociais
se opunham à desumana, bárbara e violenta situação a que se encontrava
submetida a infância pobre no Brasil; e também à omissão e ineficácia das políticas
sociais e das leis existentes em fornecer respostas satisfatórias face à complexidade
e gravidade da chamada questão do “menor”.
À medida que se pôde efetivamente questionar o modelo de assistência
vigente, tornou-se possível a emergência de novas proposições contidas na
Constituição Federal (1988), como veremos a seguir.

2.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90, de 13 de julho de


1990 – concretiza um notável avanço democrático, ao regulamentar as conquistas
relativas aos direitos de criança e adolescente consubstanciadas no Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988.
O Estatuto da Criança e do Adolescente é o reflexo, no direito brasileiro, dos
avanços obtidos na ordem internacional, em favor da infância e da juventude. Ele
representa uma parte importante do esforço de uma Nação, recém-saída de uma
ditadura de duas décadas, para acertar o passo com a comunidade internacional em
termos de direitos humanos.
O ECA é a regulamentação num sentido amplo do art. 227 da Constituição,
reconhecendo e garantindo os direitos das crianças e dos adolescentes,
consagrando a Doutrina da Proteção Integral.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e


ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (BRASIL, 1988).

Absoluta prioridade não é simplesmente uma expressão, mas um princípio


que gera direitos e obrigações jurídicas.
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de
julho de 1993), com inúmeros títulos, capítulos e artigos que garantem a imagem da

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nossa última Constituição, direitos fundamentais – respeito à vida e à saúde, à
liberdade e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, cultura,
esporte e lazer, à profissionalização e proteção no trabalho, à prevenção, vem não
só ratificar a Declaração Universal da Criança, mas reconhecer e consagrar a
criança e o adolescente como indivíduos e, portanto, cidadãos.
O ECA resgata o valor da criança e do adolescente como seres humanos –
sujeitos de direitos – que devem receber o máximo de dedicação, em virtude de sua
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento.

Fonte: http://migre.me/8B5CF

A criança e o adolescente passam a ser percebidos como seres em


desenvolvimento, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico e social, com
necessidades que precisam ser supridas nestas três esferas.
O Estatuto da Criança e do Adolescente exige um tratamento especial,
prioritário, e, para garanti-lo, obriga o conjunto da política, da economia e da
organização social a operar um reordenamento; a revisar prioridades políticas e de
investimentos; a colocar em questão o modelo de desenvolvimento e respectivo
projeto da sociedade, excludente e perverso, que desconhece, na prática, estes
seres sujeitos de direitos: a criança e o adolescente.
Este reordenamento tem uma configuração legal, formal, que deve expressar-
se ao longo de um processo em todos os campos da vida social: das organizações
governamentais e não governamentais, das políticas sociais básicas e da
organização familiar.

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Para o cumprimento do chamado Sistema de Garantia de Direitos, introduzido
pelo Estatuto, o art. 86 desta Lei propõe uma nova gestão desses direitos, “através
de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
A primeira e importante novidade desse artigo é, justamente, a expressão
política de atendimento. Isso porque, como vimos, o atendimento à criança e ao
adolescente foi, ao longo da história, predominantemente isolado e fragmentário.
Tanto que sempre se falou em “atendimento”, mas apenas com o ECA ganhou força
a expressão “política de atendimento”, visando designar ações articuladas e
integradas.
O Sistema de Garantia de Direitos
Conselhos de Direitos da
Criança e do Adolescente são
apresenta três eixos fundamentais: promoção,
órgãos cuja função é formular as defesa e controle social. Estes eixos devem
políticas públicas (básicas,
assistenciais e de garantia), nas funcionar de maneira articulada – órgãos
esferas federal, estadual e
governamentais e não governamentais.
municipal, compostos de maneira
paritária, por representantes do O eixo da “promoção” corresponde à
Poder Executivo e de entidades
da sociedade civil. deliberação e formulação política de atendimento
Conselhos Tutelares são dos direitos, articulada com as demais políticas
órgãos de fiscalização, aos quais
públicas. Destacam-se como exemplo de atores
compete averiguar o
descumprimento dos direitos desse eixo os Conselhos de Direitos.
fundamentais às crianças.
Existem nos municípios e são No eixo da “defesa”, temos os Conselhos
compostos por cidadãos eleitos Tutelares, Centros de Defesa, Ministério
na comunidade.
Público, entre outros atores. Esse eixo
Centros de Defesa são
assegura a exigibilidade dos direitos, cada vez organizações da sociedade civil,
sem fins lucrativos, criadas para
que estes são violados. garantir, defender e promover os
Por fim, o eixo do “controle social”, que direitos da pessoa humana, no
caso específico, da criança e do
diz respeito à vigilância do cumprimento dos adolescente.
Ministério Público, de acordo
preceitos legais. Deve haver uma articulação da com a Constituição Federal de
sociedade civil para agir, controlar e fazer 1988, é “instituição permanente,
essencial à função jurisdiscional do
funcionar esse sistema. Estado, imcumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis”
(Art.127).

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Os fóruns são um espaço de É este o espaço da sociedade civil
mobilização e organização, em articulada em “fóruns”: Fóruns de Defesa das
geral. É instrumento legítimo de
promoção, convocação (política) Crianças e Adolescentes; o Fórum de Combate
e fortalecimento das assembleias
amplas para a escolha dos ao Trabalho Infantil, entre outros. Os mesmos
representantes da Sociedade fazem o papel também de controle e vigilância
Civil Organizada para
constituição dos Conselhos. São, social sobre a ação governamental e
em especial, espaços de
representam a retaguarda dos conselhos
articulação do poder e do saber
da sociedade, espaço de debate, deliberativos.
de divulgação de ideias, de
estímulo a propostas de políticas Ainda no eixo do controle social, também
e estratégias que façam avançar se produz conhecimento, pois nele residem
as conquistas democráticas, e de
articulação com parlamentares e todos os esforços das instituições de estudos e
magistrados.
pesquisas que fazem propostas para os
Conselhos e que têm papel fundamental na formação social para a cidadania, para o
exercício dos direitos, para a participação na relação com o Estado e no subsídio
para as políticas públicas.
A sociedade civil possui importante papel político para garantir a continuidade
das políticas públicas. O Ministério Público só se pronuncia quando provocado,
embora tenha o papel de vigiar o cumprimento da lei.
Assim, cabe à sociedade civil fazer uma articulação entre os três eixos para
garantir que as políticas públicas sejam universais, suficientes e mais adequadas às
normas do Estatuto.

2.2.1 Os Conselhos de Direito - espaços institucionais de participação

Os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos instituídos por


representação paritária de entidades governamentais e não governamentais2, são
responsáveis por elaborar e fiscalizar as políticas destinadas à sua área de
competência, infância e adolescência, estando presente nos níveis municipal,
estadual e nacional; denominando-se respectivamente Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho Estadual dos Direitos da

2
Lembramos que o Ministério Público, Poder Judiciário e Poder Legislativo, apesar de órgãos do
Estado, não são propriamente “governo”, muito menos sociedade civil, logo não podem participar dos
conselhos.

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Criança e do Adolescente (CEDCA) e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (CONANDA).
Considerados novos atores no cenário da política nacional, os Conselhos dos
Direitos constituem-se na primeira iniciativa legal de implantação de conselhos
paritários com poder deliberativo; assim também como espaços privilegiados de
participação popular e como meios para comprometer, democraticamente, Estado e
Sociedade com a política de atendimento à criança e ao adolescente. (Art. 86 ECA),
e controlar as ações públicas dela decorrentes (Art. 88 ECA):
Art. 86 A política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 88 São diretrizes da política de atendimento:


I- Municipalização do atendimento;
II- Criação de Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos
direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e
controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais [...].

Discutir conselhos deliberativos significa apresentá-los como espaço formal


da sociedade onde são discutidas as políticas sociais. Portanto, é parte de um todo,
que se relaciona com outras, influencia e sofre influência de toda a dinâmica social,
podendo provocar alterações substanciais na vida da sociedade.
Sendo órgãos deliberativos, não lhes cabe a primazia na formulação de
políticas. Elas podem e devem ser formuladas pelo Conselho, mas outros órgãos do
governo também podem ter suas políticas. Ocorre que, para que essas políticas
sejam executadas, o Conselho terá que apreciá-las e aprová-las. A política
relacionada às crianças e aos adolescentes, que não foi aprovada pelo Conselho de
Direitos, é ilegal, pois fere o Estatuto e a Constituição.
Pensando na atribuição deliberativa e controladora do Conselho de Direitos,
conclui-se que uma determinada política se concretiza através de ações organizadas
em programas e projetos.
Ocorre, porém, que toda organização que desenvolve atividades com
crianças e adolescentes deve, juridicamente, ser uma instituição com a característica
de política de atendimento, e seus programas devem estar inscritos no CMDCA,
conforme o ECA preconiza no Art. 90, Parágrafo único:

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As entidades governamentais e não governamentais deverão
proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes
de atendimento, na forma definida neste artigo, junto ao Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá
registro das inscrições e suas alterações, do que fará comunicação
ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.

Estes últimos são os responsáveis pela aplicação das medidas de proteção e


socioeducativas, previstas no ECA.
Outro aspecto a ser evidenciado, refere-se ao Art. 91 do Estatuto que permite
o funcionamento das entidades não-governamentais somente após seu registro no
CMDCA, pois é a partir dele que tais entidades passarão a integrar de fato a rede de
atendimento de que o município disporá para atender a criança e o adolescente.

Art.91 As entidades não-governamentais somente poderão funcionar


depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar
e à autoridade judiciária da respectiva localidade.

Para que os programas e projetos efetivamente se realizem é necessário,


evidentemente, que tenham recursos financeiros. Uma das mais importantes
atribuições dos conselhos municipais é o gerenciamento do respectivo fundo,
porquanto o desenvolvimento de ações na área sempre depende da existência e
disponibilidade de recursos financeiros. A fonte privilegiada dos mesmos é o
orçamento público, na medida em que é constituído, basicamente, de tributos pagos
pela população. Portanto, a deliberação do Conselho de Direitos tem força normativa
sobre esse orçamento. Porém, o orçamento é aprovado na forma de lei, com
vigência de um ano, o que pode trazer certos impasses, dado o rigor próprio da lei. É
por isso que existe o Fundo da Infância e da Adolescência – FIA, como uma espécie
de reserva de recursos voltados, exclusivamente, para a área infanto-juvenil e
subordinado ao poder político do Conselho de Direitos. Essa é uma maneira de
assegurar que a política de atendimento garanta a proteção integral aludida, já que
sem recursos nada acontece.
Recomenda-se, que os recursos do FIA sejam destinados ao financiamento
de Projetos de Proteção Especial, pois estes estão mais diretamente ligados à área
de intervenção do CMDCA, especialmente aqueles elencados no artigo 90 do ECA.

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Art.90 As entidades de atendimento são responsáveis pela
manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e
execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a
criança e adolescente, em regime de:
I- orientação e apoio sociofamiliar;
II- apoio socioeducativo em meio aberto;
III- colocação familiar;
IV- abrigo;
V- liberdade assistida;
VI- semiliberdade;
VII- internação.
Parágrafo único: As entidades governamentais e não-
governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas,
especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste
artigo, junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas
alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à
autoridade judiciária.

Vale lembrar que o Fundo angaria recursos provenientes não apenas do


orçamento público (embora este deva ser sua principal fonte), mas de doações e
multas, dentre outras formas.
Isto posto, entendemos que adequar os procedimentos de tomada de decisão
à lógica democrática de participação, igualdade, liberdade e pluralidade é o desafio
para a realização de uma organização social, que se pretende democrática e que
não se limita ao arcabouço institucional.
Portanto, Estado e sociedade civil necessitam de uma profunda
democratização para tornar possível a participação e intervenção de diversos
sujeitos políticos na construção da democracia representativa e de novas formas de
democracia participativa.
Torna-se assim evidente que o processo de constituição e funcionamento do
CMDCA é dificultado, ou até mesmo, é impedido por fatores já elencados como:
irregularidades nas Leis que criam os Conselhos, a falta de paridade, ausência da
participação popular e também falta de condições de funcionamento. Fatores que
explicam em parte o imobilismo dos conselhos no sentido da não operacionalização
do ECA, com superposições de ações, pulverização de recursos e sem capacidade
de gerenciamento.
Destacamos que na condução da política de atendimento aos direitos da
criança e do adolescente, a missão dos conselhos é garantir com prioridade
absoluta o direito de todas as crianças e adolescentes. Nessa perspectiva, o

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objetivo dos Conselhos é a melhoria integral das condições de vida da população
infanto-juvenil.
Garantia de prioridade compreende a primazia, a precedência, a preferência e
a destinação privilegiada de recursos públicos. Então, se a política da criança não
tiver essa característica, não há cumprimento do Estatuto e da Constituição Federal.
É importante frisar que o conselheiro deve superar-se em seu papel, pois
representa os interesses das crianças e dos adolescentes.

Plano Decenal
Documento aprovado pelo CONANDA no dia 19 de abril de 2011. Contém
Eixos, Diretrizes e Objetivos Estratégicos. Principal desdobramento da 8ª.
Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Plano Decenal é
um documento que prevê as diretrizes da Política Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente para os próximos dez anos. Sua principal finalidade é orientar e
cobrar do poder público na esfera federal a implementação de políticas que
efetivamente garantam os direitos infanto-juvenis.
(http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/bv-politicas-planos/file/102-plano-decenal-
2011).

CÓDIGO DE MENORES (1979) ECA (1990)


DOUTRINA DA SITUAÇÃO DOUTRINA DA
IRREGULAR PROTEÇÃO INTEGRAL

INVISIBILIDADE VISIBILIDADE
SOCIAL SOCIAL

AÇÕES ASSISTENCIALISTAS TITULARES DE DIREITOS


OU AUTORITÁRIAS,
PENALIZANTES E
CRIMINALIZADORAS

Figura 1 - Algumas diferenças entre o Código de Menores e o ECA


Fonte: elaboração própria

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UNIDADE 3 – ECA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO

Segundo a Constituição Federal,

Art.227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (BRASIL, 1988).

No Brasil, principalmente, após a Constituição de 1988, ocorreram avanços


no âmbito jurídico e legal, no que tange aos direitos das crianças como cidadãs, bem
como às relações de responsabilidades sociais compartilhadas entre governo,
família e sociedade, quanto ao cuidado e atenção à criança e ao adolescente.
Entretanto, para além dos avanços, constata-se que há uma distância entre as
condições reais de vida das crianças brasileiras e o que lhes cabe por direito. Por
outro lado, e apesar de se ter ampliado em qualidade e extensão o acesso ao
conjunto de bens e serviços que lhes são destinados, fica ainda o desafio de que é
necessário desenvolver estratégias e instrumentos gerenciais, de forma a promover
a universalização e a equidade do atendimento proporcionado pelas políticas
públicas.
O Estatuto exige um tratamento especial, prioritário, e, para garanti-lo, obriga
o conjunto de política, economia e da organização social operar um reordenamento;
revisar prioridades políticas e de investimentos. Deve-se desencadear uma série de
inúmeras inovações de método e gestão, que contribuirão para a construção de uma
nova sociedade.
É pertinente lembrar que cabe às entidades governamentais e não-
governamentais, o atendimento de crianças e adolescentes em programas e
projetos.
A partir daí, foi-se construindo um Sistema de Garantias dos Direitos da
Criança e do Adolescente com a implantação do CONANDA – Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos Conselhos Tutelares, Juizados da

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Criança e do Adolescente, das Delegacias da Criança e do Adolescente e de
Proteção da Criança e do Adolescente, descritos abaixo:

 Justiça da Infância e Juventude é o órgão encarregado de aplicar a


lei para solução de conflitos relacionados aos direitos da criança e do
adolescente. O ECA faculta (e estimula) a criação das chamadas varas
especializadas e exclusivas para a infância e a juventude, mas, até o
momento, há poucas no país. Nos municípios que não as têm, suas
atribuições são acumuladas por juiz de outra alçada, conforme dispuser a
Lei de Organização Judiciária.
 Ministério Público (MP) é responsável pela fiscalização do
cumprimento da lei. Promotores e promotoras de Justiça têm sido fortes
aliados do movimento social de defesa dos direitos da criança e do
adolescente.
 Defensoria Pública é o órgão do estado encarregado de prestar
assistência judiciária gratuita a quem dela precisar, por meio da
nomeação de defensores públicos ou advogados. A Constituição Federal
assegurou esse direito e determinou a criação de defensorias públicas e o
Estatuto da Criança e do Adolescente estendeu esse direito a todas as
crianças e adolescentes.
 Delegacia Especializada é órgão da polícia civil encarregado de
investigar e apurar fatos em que crianças e/ou adolescentes são vítimas
de crimes. Esse tipo de delegacia foi a solução encontrada para superar
tanto o problema da falta de preparo das delegacias comuns quanto a
priorização dos crimes cometidos contra a infância, que normalmente se
diluem nas já sobrecarregadas delegacias comuns.
 Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) configura-se
como uma unidade pública e estatal, que oferta serviços continuados a
famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
 Centros de Defesa são organizações não governamentais que atuam
no campo da defesa jurídica de crianças e adolescentes que têm seus
direitos violados. Atuam, também, na divulgação dos direitos infanto-

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juvenis, na sensibilização da população local sobre esses direitos e no
controle da execução das políticas públicas.
 Organizações não governamentais (ONG’s): Essas organizações da
sociedade civil são parte integrante da Rede de Proteção, nas funções de
Promoção (nos Conselhos de Direitos), Atendimento (em programas nas
áreas de saúde, educação, assistência, cultura, profissionalização e
proteção especial), Controle (Fóruns DCA), Defesa e Responsabilização
(Centros de Defesa).

Para o funcionamento do Sistema são essenciais a integração e a articulação


entre órgãos do poder público, sociedade e poder judiciário. Essa integração supõe
uma reflexão sobre cada um desses atores quanto a sua identidade e com definição
de estratégia para cada um dos espaços, com instrumentos e atores próprios.
O desafio é posicionar-se eficazmente dentro da estratégia geral do Estatuto,
no que se refere à defesa do seu conteúdo, reafirmando a responsabilidade de
todos: não há concorrência, mas sim trabalho em conjunto.
A figura a seguir identifica as políticas públicas e as relações entre as
organizações governamentais, não-governamentais e comunidade para atendimento
à criança e ao adolescente, como prioridade absoluta. Todos interligados num
grande sistema a favor da criança e da adolescente.

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Figura 2 – Sistema de proteção
Fonte: Elaboração própria

3.1 O Conselho Tutelar e as medidas de proteção

Art. 18 É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (ECA, 1990)

Fonte: http://www.fundacaofia.com.br/ceats/eca_gibi/08.htm

O Estatuto da Criança e do Adolescente institui como um dos principais


mecanismos de execução das políticas para crianças e adolescentes a instalação
dos Conselhos Tutelares.
O Art. 131 do Estatuto conceitua e define a finalidade do Conselho Tutelar: “O
Conselho Tutelar é órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta Lei”. (ECA, 1990).
O Conselho Tutelar é um órgão permanente, isto representa que uma vez
instalado, deve funcionar ininterruptamente, cumprindo seu papel na comunidade.
Ser autônomo significa ter liberdade e independência na atuação funcional, suas
decisões não são submetidas a escalas hierárquicas, no âmbito da administração. A
revisão judicial (prevista no Art.137) não fere essa autonomia, porque é de caráter
jurisdicional e não administrativo.

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Ser não jurisdicional significa não pertencer ao Poder Judiciário (Art.92 da CF).
Não cabe ao Conselho Tutelar estabelecer qualquer sanção para forçar o
cumprimento de suas decisões. Se necessário, terá que representar ao Poder
Judiciário.
O Conselho Tutelar é o mais legítimo instrumento de pressão e prevenção
para que de fato o Estatuto seja vivenciado no Brasil, pois força a implantação de
mecanismos necessários ao atendimento digno dos direitos de todas as crianças e
dos adolescentes brasileiros, independentes das situações em que estejam
envolvidos.
O conselheiro é escolhido pela comunidade, em processo conduzido sob a
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
com fiscalização do Ministério Público. Cada conselho é formado por cinco
conselheiros titulares e cinco suplentes, escolhidos em eleição direta.
Cumpre destacar que a Lei 8069/90-ECA, coerente com a diretriz da
municipalização, adotada pela Constituição Federal, torna obrigatória a existência de
pelo menos um Conselho Tutelar para cada município, fixando o número de seus
membros e a forma de sua escolha. O Art. 132 do ECA prevê: “Em cada município
haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar, composto por cinco membros, escolhidos
pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução”.
O Conselho é uma expressão da sociedade organizada, através de seus
escolhidos. O fato de conselheiros serem escolhidos pela comunidade local, e não
indicados política ou administrativamente, torna-os mais legítimos no desempenho
de suas funções, evitando inibições para acionar o Ministério Público, contra as
instituições e poderes constituídos, quando estes violarem os direitos contidos no
Estatuto.
É função do Conselho Tutelar receber denúncias, comunicações e
reclamações envolvendo violação dos direitos da criança e do adolescente, devendo
aplicar as medidas de proteção às vítimas, quando os direitos, reconhecidos no
ECA, “forem ameaçados ou violados por ação de omissão ou abuso dos pais ou
responsável e em razão da própria conduta”. (Art. 98 do ECA).
Ao comentar o Art. 98 do Estatuto, devemos ressaltar a premissa de que é
dever da sociedade em geral e do Poder Público em especial, além da família,
assegurar os direitos básicos às crianças e aos adolescentes. Cabe ao Conselho

31
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Tutelar, quando acionado, propiciar maior agilidade no atendimento às denúncias,
utilizando os serviços existentes na própria comunidade para ressarcir os direitos
violados, aplicando medidas de proteção estabelecidas no ECA, no artigo 136:
I- atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos
Arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no Art. 101, I a VII;
II- atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as
medidas previstas no Art. 129, I a VII;
III- promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto:
a) requisitar serviços públicos na área de saúde, educação, serviço
social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
descumprimento injustificado de suas deliberações;
IV- encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou
adolescente;
V- encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI- providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária,
dentre as previstas no Art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de
ato infracional;
VII- expedir notificações;
VIII- requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou
adolescente quando necessário;
IX- assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos
da criança e do adolescente;
X- representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação
dos direitos previstos no Art. 220,§ 3, inciso II da Constituição
Federal;
XI- representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda
ou pátrio poder.

O Conselho Tutelar é autônomo nas suas decisões e é parte integrante da


estrutura governamental, possuindo vínculo administrativo. Ao definir o Conselho
Tutelar, o Estatuto utiliza a terminologia “órgão”, mas não acrescenta a palavra
“público”. Entretanto, na leitura do Art.131 do Estatuto, compreende-se o Conselho
Tutelar como um dos órgãos que compõem a administração pública municipal. O
ECA estabelece que os recursos que são destinados ao Conselho Tutelar devem ser
dotados na Lei Orçamentária Municipal.

O principal fator determinante para a dinâmica de funcionamento do Conselho


Tutelar é a demanda. O Conselho é um ótimo termômetro para detectar a existência
de problemas na comunidade.

O que não se admite é que alguma criança ou adolescente deixe de ser


atendido por falta de organização ou planejamento.

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3.2 O Conselho Tutelar e a violência doméstica

A violência doméstica contra a criança e o adolescente, embora repudiada


socialmente, pode ser considerada fato cotidiano. Governos e sociedade civil
despertam para a importância de se dar mais atenção ao grupo social formado por
esse segmento.

Fonte: http://migre.me/8HGZv

A conjuntura apresentada é marcada pela exclusão social, injustiças,


marginalização, violências e com conflitos étnicos surgindo a cada momento, aponta
para a necessidade de não mais ser ignorada a problemática da violência contra a
criança e o adolescente e de, ao contrário, serem viabilizados investimentos para
esse segmento da população.
A Violência Doméstica é entendida como uma forma de linguagem que não
expressa apenas o intuito de educar ou de corrigir comportamentos inadequados,
mas quer comunicar o poder dos pais sobre a criança, ou seja, o poder do mais forte
sobre o mais fraco. [...] “a violência na família brasileira existe, esta família não é
sagrada, nem intocável e pode em alguns momentos oferecer grandes riscos à
integridade de uma criança”. (GUERRA, 1998, p.154).
A notificação sobre violência física doméstica é a que mais chega aos
serviços de proteção e de saúde, pois é facilmente detectada, através das marcas
deixadas no corpo da criança ou adolescente. Reconhecemos o Conselho Tutelar
como legítimo instrumento de pressão e prevenção para que de fato o Estatuto da
Criança e do Adolescente seja vivenciado no Brasil, destacando a legitimidade do

33
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órgão para atender às denúncias que lhes são apresentadas e quais suas reais
possibilidades para o enfrentamento da violência de pais contra filhos.
Importante lembrar que a aprovação de uma lei não é suficiente para mudar
uma concepção tão arraigada na nossa sociedade, mas é capaz de oferecer
instrumentos para a mudança. Assim, podemos afirmar que nenhum Conselho
poderá desempenhar o seu papel sem o apoio e reconhecimento dos demais
organismos que atuam seja na esfera do poder público, seja no âmbito da sociedade
civil, voltados para a problemática dos direitos da infância e da adolescência.
O ECA reconhece a importância da denúncia de casos de violação de
direitos, conforme traz o Art.13: “Os casos de suspeita de maus-tratos contra a
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências”.
Ao aplicar uma das medidas do art. 101 ou 109, o Conselho Tutelar, está
emanando um ato administrativo. Portanto, os conselheiros devem estar atentos aos
cinco requisitos necessários à formação do ato administrativo válido: Competência,
Finalidade, Forma, Motivo e Objeto. Limitações são impostas muitas vezes, ao
Conselho pela própria forma como os poderes públicos, na esfera municipal, atuam
no sentido de dificultar sua viabilidade, bem como a própria ação dos conselheiros.

Ao inter-relacionar família-comunidade-sociedade-Estado, como o


quarteto assegurador de direitos, geradores da paz social que emana
da família e que tem no Estado a garantia de sua recomposição
quando fraturada, ou assumindo seu lugar quando por qualquer
razão fracassa, o ECA, novamente, revela sua faceta
intervencionista. (PASSETTI, 1999b, p.56).

E essa intervenção, concluímos, dá-se através do Conselho Tutelar, que tem


a função de atender as denúncias de violação dos direitos de crianças e
adolescentes. Diante do caso concreto, cabe-lhe agir para que cesse a violação
ressarcindo os direitos violados e promover a responsabilização do agressor.

A despeito das dificuldades para a aplicação das medidas de proteção,


acreditamos que o Conselho Tutelar tem atuado como braço social e institucional de
garantias de direitos. Sem dúvida, acreditamos que o primeiro passo para enfrentar
a violência doméstica é indignar-se, recusar sua banalização e a partir disso,

34
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construir alternativas para que progressivamente seja alijada no cotidiano das
famílias e da própria sociedade.

A cultura trazida pelo ECA implica que os que estão fazendo repensem sua
prática, e os que estão pensando, reforcem suas teorias, numa relação dialética.
Desse movimento, deve brotar um conhecimento profícuo e ações que respondam
às exigências da realidade de nossas crianças e adolescentes.

3.2.1 Violência sexual

O novo olhar sobre a situação da criança e do adolescente, a partir do ECA,


fez com que começasse a se tornar visível a triste realidade de violência perpetrada
contra meninos e meninas em todo o mundo. Este é um fenômeno que atinge todas
as classes e ambos os sexos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente juntamente com outras normas e
acordos internacionais, fez com que o abuso e a exploração sexual de crianças e
adolescentes deixassem de ser apenas um crime contra a liberdade sexual e se
transformassem numa violação dos direitos humanos, ou seja, direito ao respeito, à
dignidade, à liberdade, à convivência familiar e comunitária e ao desenvolvimento de
uma sexualidade saudável.
A partir de 1991 ocorreu a disseminação do paradigma dos direitos da criança
e do adolescente, difundido pelo movimento dos direitos da criança e expresso no
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que criou as bases para o surgimento
de um sentimento de intolerância em relação à violência sexual contra crianças e
adolescentes. Esse paradigma deu origem na sociedade brasileira, a uma nova
consciência de que as crianças têm “o direito de terem direitos”, criou novos
parâmetros para aferir as violações maciças dos direitos da criança, bem como
gerou novos instrumentos legais para o enfrentamento das violações dos direitos da
criança. (SÁ. 2001)
A complexidade da violência sexual demanda ações urgentes e enérgicas,
capazes de interromper a reprodução do ciclo de violência.
Apesar de o abuso sexual doméstico representar a maioria dos casos de
violência sexual contra crianças e adolescentes, o eixo da exploração sexual
(prostituição infanto-juvenil, pornografia, sexo-turismo e tráfico de crianças e

35
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adolescentes para fins sexuais) transforma-se gradativamente em carro-chefe da
mobilização social brasileira tendo em vista seu poder aglutinador.

3.2.2 Formas da violência sexual

O abuso sexual intra e/ou extrafamiliar pode se expressar de diversas formas:


a) Abuso sexual sem contato físico: São práticas sexuais que não
envolvem contato físico:
 O assédio sexual caracteriza-se por propostas de relações sexuais. Baseia-
se, na maioria das vezes, na posição de poder do agente sobre a vítima, que
é ameaçada pelo autor da agressão.
 O abuso sexual verbal pode ser definido por conversas abertas sobre
atividades sexuais destinadas a despertar o interesse da criança ou do
adolescente ou a chocá-los.
 Os telefonemas obscenos são também uma modalidade de abuso sexual
verbal. A maioria deles é feita por adultos, especialmente do sexo masculino.
Podem gerar muita ansiedade na criança, no adolescente e na família.
 O exibicionismo é o ato de mostrar os órgãos genitais ou se masturbar
diante da criança ou do adolescente ou no campo de visão deles. A
experiência pode ser assustadora para algumas crianças e adolescentes.
 O voyeurismo é o ato de observar fixamente atos ou órgãos sexuais de
outras pessoas, quando elas não desejam serem vistas e obter satisfação
com essa prática. A experiência pode perturbar e assustar a criança e o
adolescente.
 A pornografia é uma forma de abuso que pode também ser enquadrada
como exploração sexual comercial, uma vez que, na maioria dos casos, o
objetivo da exposição da criança ou do adolescente é a obtenção de lucro
financeiro.
b) Abuso sexual com contato físico
São atos físico-genitais que incluem carícias nos órgãos genitais, tentativas
de relações sexuais, masturbação, sexo oral, penetração vaginal e anal. Podem ser
tipificados em: atentado violento ao pudor, corrupção de menores, sedução e
estupro.

36
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c) Pedofilia
O conceito social de pedofilia define-se pela atração erótica por crianças.
Essa atração pode ser elaborada no terreno da fantasia ou se materializar em atos
sexuais com meninos ou meninas. Nesse aspecto, há muitos pedófilos pelo mundo
que não cometem violência sexual, satisfazem-se sexualmente com fotos de revistas
ou imagens despretensiosas de crianças, mas que geram neles intenso desejo
sexual. Atuam na fantasia e, muitas vezes, não têm coragem de por em ato seu real
desejo. Estudos vêm apontando que o indivíduo adepto da pedofilia e/ou da prática
de pedofilia é indivíduo aparentemente normal, inserido na sociedade. Muitos têm
atividades sexuais normais com adultos, não têm fixação erótica única por crianças,
mas são fixados no sexo.

3.3 O ato infracional e a questão da imputabilidade penal

Uma das distorções mais frequentes quando tratamos a questão do ato


infracional é acreditar que as crianças e adolescentes que cometem ato infracional
não são responsabilizados. Essa crença, de boa parte da opinião pública, advém da
dificuldade que muitos profissionais e muitas pessoas têm em diferenciar
“imputabilidade” e “impunidade”.

Imputabilidade significa a possibilidade legal de receber uma punição por


seus atos. A Constituição Brasileira dispõe que até a idade de 18 anos, um
adolescente é considerado inimputável, ou seja, não pode ser punido conforme
previsto no Código Penal, mas recebe as medidas socioeducativas previstas no
ECA.

Como consequência de seus atos, a criança deve ser submetida às medidas


de proteção, previstas no ECA (Art. 101). A partir dos 12 anos de idade, aplicam-se
as medidas socioeducativas (art. 112 do ECA), que são muito mais severas do
que as de proteção e devem ter caráter construtivo, como prestação de serviço à
comunidade, ou até privação de liberdade, como a internação. Ainda temos as
medidas de: advertência, obrigação de reparar o dano; liberdade assistida; inserção
em regime de semiliberdade.

Em resumo, no Brasil, adolescentes são penalmente responsáveis, isto é,


pode-se atribuir a eles conduta definida na lei criminal (morte, roubo, furto ou

37
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agressão). Entretanto, não respondem pelos seus atos de acordo com o Código
Penal. Conforme determinado no ECA, respondem pelos seus atos diante do Juiz da
Infância e da Juventude.

Atualmente temos o SINASE - Sistema Nacional de Atendimento


Socioeducativo, que regulamenta a execução das medidas socioeducativas
aplicadas aos adolescentes:

Sancionada lei que institui o Sistema Nacional de


Atendimento Socioeducativo (Sinase)

A presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei 12.594, que institui o Sistema


Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que regulamenta a execução das
medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que estejam em conflito com a lei.
O Sinase busca uniformizar, em todo o País, o atendimento aos adolescentes em
conflito com a lei e o processo de apuração de infrações cometidas. O projeto de 88 artigos,
aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro de 2010, estabelece as medidas
socioeducativas que devem ser adotadas para reinserção sociocultural do adolescente.

Veja a notícia na íntegra, disponível em:


<http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/todas-noticias/571-sancionada-lei-que-institui-
o-sinase> Acesso em 17 abr. 2012.

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UNIDADE 4 – ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

Sabe-se que a educação, cultura, arte, lazer e esporte podem ser


instrumentos eficientes, capazes de contribuir, inclusive, com o fim da violência e
com a formação de uma consciência cidadã. Assim, devemos procurar formas de
fazer a nossa parte.
Ser cidadão é buscar formas de participar ativamente das decisões de sua
comunidade, influenciar modos de vida de maneira positiva ao seu redor, exercer os
direitos constitucionais adquiridos e lutar
pelos que virão. É preservar o meio
ambiente, a natureza, os animais, os seus
semelhantes, os opostos. É ser solidário,
político, flexível, decidido e, principalmente,
estar consciente de todas as atitudes
tomadas em prol da sociedade.
Fonte: http://migre.me/8It57
Dallari ressalta que:

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a


possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu
povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da
vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de
inferioridade dentro do grupo social (1998, p. 14).

Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direito à vida, à


liberdade, à propriedade, à igualdade de direitos, enfim, direitos civis, políticos e
sociais. E ainda, ser cidadão implica em cumprir com seus deveres enquanto
membro da coletividade.
Cidadania, segundo Marshal (1972), se refere a tudo o que vai desde o
direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar,
por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os
padrões que prevalecem na sociedade.

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Ao longo da história, as crianças e adolescentes não tiveram acesso às
questões de cidadania. Fato que se alterou principalmente após a promulgação da
Constituição Federal de 1988 e também do
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), que
provocaram uma mudança significativa no que se
refere ao reconhecimento da criança e do
adolescente como cidadãos de direitos, bem
como no que tange à construção de uma rede de
proteção e de atendimento que favorecessem o
desenvolvimento familiar e comunitário das
mesmas.
Fonte: http://migre.me/8IuO6

Neste sentido, a regulamentação dos dispositivos constitucionais


relativos à infância e à adolescência por meio do Estatuto da Criança
e do Adolescente - ECA estabeleceu nova concepção, organização e
gestão das políticas de atenção a este segmento da sociedade,
dando origem a um verdadeiro sistema de garantia de direitos. Do
ponto de vista da concepção, esse sistema destaca-se pelo caráter
abrangente, pois incorpora tanto os direitos universais de todas as
crianças e adolescentes brasileiros quanto a proteção especial a que
fazem jus aqueles que foram ameaçados ou violados em seus
direitos. (AQUINO, 2004, p. 328)

Portanto, promove a articulação entre os diferentes atores e políticas


setoriais para a proteção de crianças e adolescentes, reconfigurando o aspecto da
integralidade desta rede de proteção. Esta rede de proteção abrange muitos
atendimentos, diferenciados pelo nível de proteção a que pertencem e ao grau de
vulnerabilidade, de violação de direitos de cada criança. Envolve a articulação entre
a Política Nacional de Assistência Social no âmbito do Sistema Único de Assistência
Social; o Sistema Único de Saúde; Sistema Educacional; Sistema de Justiça;
Conselho Tutelar; Segurança Pública e Conselhos de Direitos (CNDCA/CNAS,
2009).

40
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Fonte: MDS/SUAS/PSB (2009, p. 27)

Nesta concepção de rede encontram-se os aspectos estruturantes de


diversas políticas, entre elas a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que reorganizaram a assistência social
no Brasil. Tendo como foco a matricialidade familiar, a PNAS e o SUAS, se voltam
para a oferta de bens e serviços a todos os membros que compõem a família.
Portanto, cada membro da família, dividida por segmentos, terá uma rede de
atendimento. Assim, há uma rede de atendimento que é específica para as crianças
e adolescentes.

Fonte: MDS/SUAS/PSB (2009, p. 12)

41
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4.1 Proteção Social Básica
Com base no preconizado pela PNAS e materializado pelo SUAS, a
proteção social no Brasil se divide em níveis de Proteção, que são definidos pelo
grau de vulnerabilidade e fragilidade dos vínculos comunitários e familiares. Assim,
temos a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial (Média e Alta
Complexidade) que ofertam e operam bens e serviços que contribuem para o
fortalecimento da rede de proteção de crianças e adolescentes. (BRASIL, 2004).

Proteção Social Básica: [...] tem como objetivos prevenir situações


de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e
aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade
social decorrente de pobreza, privação (ausência de renda, precário
ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou,
fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento
social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências,
dentre outras). Prevê o desenvolvimento de serviços, programas e
projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias
e de indivíduos, conforme identificação da situação de
vulnerabilidade apresentada. (BRASIL, 2004, p. 27-28)

Os serviços, programas e projetos realizados pela Proteção Social Básica


têm como referência de atendimento os Centros de Referência da Assistência Social
(CRAS), que estão localizados no próprio território de moradia dos indivíduos, o que
facilita o acesso contínuo às atividades no local.
Como o foco de atuação nos CRAS
está no “fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários” os serviços, programas e projetos
realizados se voltam para atendimento de
grupos intergeracionais, crianças e
adolescentes, cursos de geração de renda entre
outros. Ele também é o responsável pela
articulação da rede socioassistencial do
território com vistas ao atendimento integral das
famílias (MDS/SUAS/PSB, 2009).
Fonte: http://migre.me/8IuDB
O principal Serviço ofertado no CRAS é o Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF), que:

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Fonte: http://migre.me/8IuYy

[...] é um trabalho de caráter continuado que visa a fortalecer a


função de proteção das famílias, prevenindo a ruptura de laços,
promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida. Dentre os objetivos do Paif,
destacam-se o fortalecimento da função protetiva da família; a
prevenção da ruptura dos vínculos familiares e comunitários; a
promoção de ganhos sociais e materiais às famílias; a promoção do
acesso a benefícios, programas de transferência de renda e serviços
socioassistenciais; e o apoio a famílias que possuem, dentre seus
membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da
promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências
familiares. O Paif tem como público famílias em situação de
vulnerabilidade social. São prioritários no atendimento os
beneficiários que atendem aos critérios de participação de programas
de transferência de renda e benefícios assistenciais e pessoas com
deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de
fragilidade.3

No quadro abaixo identificaremos os atendimentos que são voltados


especificamente para as crianças e adolescentes e ofertados pelos CRAS. É
importante ressaltar que, devido às particularidades de cada município e de acordo
com a estrutura física de cada CRAS, as atividades podem ser diferenciadas, não
estando presentes nos CRAS, mas presentes em outras instituições (públicas ou
não) que fazem parte da Rede Socioassistencial do território.

3
Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/servicos/protecao-
e-atendimento-integral-a-familia-paif/servico-de-protecao-e-atendimento-integral-a-familia-
paif>. Acesso em: 5 Mar. 2012.

43
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Quadro 2 - Atendimento de crianças e adolescentes na Proteção Social Básica
– Centros de Referência de Assistência Social.
Serviço Foco Objetivos
Desenvolvimento de atividades com
crianças, familiares e a comunidade, para
Serviço para fortalecer vínculos e prevenir ocorrência
Deve possibilitar meios para que as
crianças até de exclusão social, de violência
famílias expressem suas dificuldades,
doméstica e de trabalho infantil.
6 anos Desenvolve atividades com crianças,
soluções encontradas e demandas,
(articulado de modo a construir soluções e
inclusive com deficiência, e seus
alternativas para as necessidades e
ao PAIF) familiares. Busca desenvolver atividades
os problemas enfrentados.
de convivência e fortalecimento de
vínculos, centradas na brincadeira.
Constituição de espaço de convivência,
formação para a participação e cidadania,
desenvolvimento do protagonismo e da
autonomia das crianças e adolescentes, a
Serviço para Ressignificar vivências de isolamento
partir dos interesses, demandas e
crianças e e de violação de direitos, bem como
potencialidades da faixa etária. As
propiciar experiências favorecedoras
adolescentes intervenções devem ser pautadas em
do desenvolvimento de sociabilidades
de 6 a 15 experiências lúdicas, culturais e
e na prevenção de situações de risco
esportivas como formas de expressão,
anos social.
interação, aprendizagem e proteção
(articulado social. Inclui crianças e adolescentes com
ao PAIF) deficiência, retirados do trabalho infantil
ou submetidos a outras violações.
Possibilitar o desenvolvimento de
Fortalecimento da convivência familiar e
habilidades gerais, tais como a
comunitária, o retorno dos adolescentes à
capacidade comunicativa e a inclusão
escola e sua permanência no sistema de
digital, para orientar o jovem para a
ensino. Isso é feito por meio do
escolha profissional consciente,
desenvolvimento de atividades que
ProJovem estimulem a convivência social, a
prevenindo a sua inserção precoce no
Adolescente mercado de trabalho. Abordar temas
participação cidadã e uma formação geral
que perpassam os temas
(15 a 17 para o mundo do trabalho. O público-alvo
transversais, abordando conteúdos
anos) é, em sua maioria, jovens cujas famílias
necessários para compreensão da
(articulado são beneficiárias do Bolsa Família,
realidade e para a participação social.
estendendo-se também aos jovens em
ao PAIF) situação de risco pessoal e social,
Por meio da arte-cultura e esporte-
lazer, visa a sensibilizar os jovens
encaminhados pelos serviços de
para os desafios da realidade social,
Proteção Social Especial do Suas ou
cultural, ambiental e política, e
pelos órgãos do Sistema de Garantia dos
possibilitar o acesso aos direitos e o
Direitos da Criança e do Adolescente.
estímulo a práticas associativas.
Programa de O Peti atende mais de 820 mil
crianças afastadas do trabalho em
Erradicação
mais de 3,5 mil municípios.
do Trabalho Articula um conjunto de ações visando à Reconhece a criança e o adolescente
Infantil (Peti) retirada de crianças e adolescentes de como sujeitos de direito, protege-os
(articulado até 16 anos das práticas de trabalho contra a exploração do trabalho e
ao Programa infantil, exceto na condição de aprendiz a contribui para o desenvolvimento
partir de 14 anos. integral. Oportuniza o acesso à escola
Bolsa
formal, saúde, alimentação, esporte,
Família) lazer, cultura, profissionalização e a
convivência familiar e comunitária.
Fonte: Elaboração própria4

4
Dados retirados de: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica>. Acesso em:
15/03/2012.

44
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Todos os atendimentos especificados no quadro anterior estão focados na
prevenção e fortalecimento dos vínculos familiares e de uma forma ou de outra, se
articulam com outros serviços/programas disponibilizados na rede socioassistencial
e na Proteção Social Básica (PSB). Neste sentido já se estabelecem alguns
aspectos de interligação de políticas públicas direcionadas para o fortalecimento dos
vínculos, que no caso da PSB ainda não foram rompidos, mas necessitam de
proteção/prevenção.
A articulação com os serviços PAIF, e mesmo com o Programa Bolsa
Família, infere para um atendimento que se volta para o monitoramento das famílias
atendidas, com vistas a possibilitar às mesmas a saída da situação de
vulnerabilidade na qual se encontram. Assim, ao mesmo tempo em que a criança ou
adolescente está inserido em um
destes atendimentos, os outros
membros da família também
recebem atendimento específico
como acesso a programas de
transferência de renda; grupos de
geração de renda; programas de
qualificação profissional; inserção
em programas de habitação,
entre outros.
Fonte: http://migre.me/8IvDs

Esta articulação também prevê o diálogo entre as políticas setoriais, mas


principalmente, a referência e a contrarreferência de atendimento entre as
instituições da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial.

45
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Fonte: MDS/SUAS/PSB (2009, p. 10).

Esta articulação é primordial, principalmente se reconhecermos que nos


atendimentos específicos de violação de direitos realizados pelos Centros de
Referência Especializados da Assistência Social (CREAS) a família ainda continua
no território que é de referência do CRAS e, portanto, necessita da intervenção
daquele nível de Proteção Social. Quanto maior for a interligação entre as ações
desenvolvidas nos CRAS e nos CREAS, maior a possibilidade de superação das
vulnerabilidades pela família atendida.

4.2 Proteção Social Especial

Os CREAS fazem parte de outro nível de Proteção Social, tem um foco de


atendimento mais específico, pois sua atuação se volta para casos de violação dos
direitos e rompimento dos vínculos familiares ou comunitários. Esta unidade de
atendimento se insere na Proteção Social Especial (PSE) que:

[...] destina-se a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal


ou social, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados. Para

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integrar as ações da Proteção Especial, é necessário que o cidadão
esteja enfrentando situações de violações de direitos por ocorrência
de violência física ou psicológica, abuso ou exploração sexual;
abandono, rompimento ou fragilização de vínculos ou afastamento do
convívio familiar devido à aplicação de medidas. Diferentemente da
Proteção Social Básica que tem um caráter preventivo, a PSE atua
com natureza protetiva. São ações que requerem o
acompanhamento familiar e individual e maior flexibilidade nas
soluções. Comportam encaminhamentos efetivos e monitorados,
apoios e processos que assegurem qualidade na atenção5.

Neste nível de Proteção Social, as ações são diferenciadas e mais


complexas, “[...] têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo,
muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário,
Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo” (BRASIL, 2004, p. 31).
Por sua complexidade é subdividida em dois níveis: média e alta
complexidade.

Quadro 3 – Níveis de Proteção Social


- Serviço de Orientação e apoio
sociofamiliar;
São considerados serviços - Plantão Social;
de média complexidade - Abordagem de Rua;
aqueles que oferecem - Cuidado no Domicílio;
MÉDIA atendimento às famílias e - Serviço de Habilitação e
COMPLEXIDADE indivíduos com seus direitos Reabilitação na comunidade das
violados, mas cujos vínculos pessoas com deficiência;
familiar e comunitário não - Medidas socioeducativas em meio-
foram rompidos. aberto (Prestação de Serviços à
Comunidade – PSC e Liberdade
Assistida – LA)
Os serviços de proteção - Atendimento Integral Institucional;
social especial de alta - Casa Lar;
complexidade são aqueles - República;
que garantem proteção - Casa de Passagem;
integral – moradia, - Albergue;
alimentação, higienização e - Família Substituta;
ALTA
trabalho protegido para - Família Acolhedora;
COMPLEXIDADE famílias e indivíduos que se - Medidas socioeducativas restritivas
encontram sem referência e/ e privativas de liberdade
ou em situação de ameaça, (semiliberdade, internação provisória
necessitando ser retirados de e sentencional);
seu núcleo familiar e/ou - Trabalho protegido.
comunitário.
Fonte: Adaptado de Brasil (2004, p. 31-32)

5
Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaoespecial> Acesso em:
15/03/2012.

47
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O foco de atendimento, ou melhor, a prioridade de atendimento na Proteção
Social Especial, são as crianças e adolescentes, todavia, os serviços ofertados neste
nível de proteção social são disponibilizados para quaisquer indivíduos que tenham
seus direitos violados.
Na efetivação dos serviços ofertados na Proteção Social Especial o Serviço
de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi) deve ser
um instrumento de apoio para os profissionais e deve ofertar:

[...] apoio, orientação e acompanhamento especializado a famílias e


indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos.
Compreende atenções e orientações direcionadas à promoção de
direitos, à preservação e ao fortalecimento de vínculos familiares,
comunitários e sociais e o fortalecimento da função de proteção das
famílias diante do conjunto de condições que causam fragilidades ou
as submetem a situações de risco pessoal e social6.

Todas as ações desenvolvidas na Proteção Social Especial são


reconhecidas como um Serviço, tendo em vista a continuidade de atendimento
exigida para a reconstrução dos vínculos familiares e comunitários que foram
rompidos pela violação de direitos.
Esta modalidade de atendimento requer uma articulação específica com as
instituições e órgãos que compõem a rede de proteção integral às crianças e
adolescentes. Requer ainda, um comprometimento da sociedade em efetivar todos
estes atendimentos com vistas ao pleno desenvolvimento das ações propostas pelos
diversos aparatos legais que constituem a “trama” da rede socioassistencial de cada
município.

Saiba Mais!

Para conhecer o documento que estrutura a Tipificação Nacional dos Serviços


Socioassistenciais, acesse o site disponível no endereço:
<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Tipificacao%20Nacional%20de%20Servicos
%20Socioassistenciais.pdf/view>. Nele você encontrará o detalhamento de todas as ações
dispostas nesta unidade e reconhecerá outros serviços disponíveis na rede socioassistencial.

6
Disponível em:
<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaoespecial/mediacomplexidade/atendimento
-especializado-a-familias-e-individuos-paefi>. Acesso em 5 Mar. 2012.

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UNIDADE 5 – CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Fonte: http://migre.me/8Ix9n

Muitos estudos apontam para a importância da convivência familiar e


comunitária no desenvolvimento de crianças e adolescentes, indicando as questões
de pertencimento, limites e possibilidades, de vínculos e reconhecimento de suas
necessidades nos dois ambientes citados, que podem ao mesmo tempo, e de
acordo com as influências exteriores, favorecer positiva ou negativamente o
processo de desenvolvimento das crianças e adolescentes.

O ambiente familiar é o ponto primário da relação direta com seus


membros, onde a criança cresce, atua, desenvolve e expõe seus
sentimentos, experimenta as primeiras recompensas e punições, a
primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos de
comportamento – que vão se inscrevendo no interior dela e
configurando seu mundo interior. Isto contribui para a formação de
uma ‘base de personalidade’, além de funcionar como fator
determinante no desenvolvimento da consciência, sujeita a
influências subsequentes. A família também desenvolve um papel
importante nas formas de representação do mundo exterior, pois é
através dela que se dá a inserção do sujeito neste mundo e onde
começa a apreensão do conjunto de determinações – processo este
que lhe possibilita viver o universal de forma particular e, neste
movimento, construir-se. (SOUSA; JOSÉ FILHO, 2008, p. 2)

49
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Neste sentido, é na família que temos os primeiros contatos com outros
indivíduos, que estruturamos nossos vínculos afetivos e também nos preparamos
para a vida em sociedade, apreendendo conceitos e ações que reproduziremos no
meio social, e acima de tudo, reflete a questão de proteção.
As situações que as famílias enfrentam no cotidiano relacionado ao
desemprego, fragilidade de políticas públicas como a saúde, assistência social,
educação, habitação entre outros, são alguns dos fatores que muitas vezes
contribuem para que a família em situação de crise acabe maltratando de forma
violenta aqueles que deveria proteger.

A família é o espaço indispensável para a garantia de sobrevivência,


de desenvolvimento e da proteção integral dos seus membros,
independente do arranjo familiar ou da forma com que vem se
estruturando. É a família que propicia aportes efetivos e, sobretudo
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus
componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação
formal e informal, são em seus espaços que são absorvidos os
valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de
solidariedade. É também em seu interior que se constroem as
marcas entre as gerações e são observados os valores culturais.
(KALOUSTIAN, 1994, p.12)

Nesse sentido, reconhecendo a importância da família para o


desenvolvimento humano é que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
dispõe de um capítulo específico para a questão da Convivência Familiar e
Comunitária e afirma que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral
e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

O Estatuto normatiza a política de atendimento à infância e à


juventude, mediante uma articulação entre ações governamentais e
não-governamentais da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, determinando absoluta prioridade às crianças e aos
adolescentes. Envolve as políticas sociais básicas, programas e
políticas de assistência social em caráter supletivo, serviços
especiais de prevenção, atendimento médico e apoio social às
vítimas de negligência, exploração, maus-tratos, abuso, crueldade e
opressão. E ainda, os serviços de localização e identificação de pais
e responsáveis desaparecidos, assim como a proteção jurídica e

50
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social por parte de entidades de defesa dos direitos da criança e do
adolescente. (IAMAMOTO, 2010, p. 263)

5.1 Assistência Social no atendimento às crianças e aos


adolescentes

Com vistas ao atendimento das determinações especificadas no Estatuto da


Criança e do Adolescente, outros aparatos legais foram se estabelecendo na
sociedade brasileira. Como já observado nos itens anteriores o “fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários” está presente em todas as ações disponibilizadas
pela Assistência Social na composição do atendimento integral de crianças e
adolescentes.

Fonte: http://migre.me/8IxEq

Na Proteção Social Básica e, em alguns casos na Proteção Social Especial


de Média Complexidade, as crianças e adolescentes permanecem em seus lares,
com suas famílias, próximos da comunidade onde se desenvolvem, mas na
Proteção Social de Alta Complexidade estas crianças e adolescentes são retiradas

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de seu meio familiar e encaminhadas para instituições de longa permanência para
que seus direitos sejam salvaguardados.

Crianças e adolescentes têm o direito a uma família, cujos vínculos


devem ser protegidos pela sociedade e pelo Estado. Nas situações
de risco e enfraquecimento desses vínculos familiares, as estratégias
de atendimento deverão esgotar as possibilidades de preservação
dos mesmos, aliando o apoio socioeconômico à elaboração de novas
formas de interação e referências afetivas no grupo familiar. No caso
de ruptura desses vínculos, o Estado é o responsável pela proteção
das crianças e dos adolescentes, incluindo o desenvolvimento de
programas, projetos e estratégias que possam levar à constituição de
novos vínculos familiares e comunitários, mas sempre priorizando o
resgate dos vínculos originais ou, em caso de sua impossibilidade,
propiciando as políticas públicas necessárias para a formação de
novos vínculos que garantam o direito à convivência familiar e
comunitária. (BRASIL, 2006, p. 19)

Neste sentido, reforçam a questão da proteção dos vínculos familiares. No


caso em que estes vínculos são rompidos, outro tipo de proteção deve ser realizado.
Fora dos lares, longe da família e da comunidade em que cresceram crianças e
adolescentes são encaminhados para lares substitutos, famílias acolhedoras,
instituições de longa permanência, abrigos ou lares provisórios, onde possam ter
seus vínculos reestabelecidos ou reconfigurados.
Assim, o afastamento do convívio familiar (nuclear ou extenso, considerando
seus diversos arranjos), deve ser uma medida excepcional, utilizada em casos onde
há risco à integridade (física e/ou psíquica) da criança ou adolescente (BRASIL,
2009).

Crianças e adolescentes têm o direito a uma família, cujos vínculos


devem ser protegidos pela sociedade e pelo Estado. Nas situações
de risco e enfraquecimento desses vínculos familiares, as estratégias
de atendimento deverão esgotar as possibilidades de preservação
dos mesmos, aliando o apoio socioeconômico à elaboração de novas
formas de interação e referências afetivas no grupo familiar. No caso
de ruptura desses vínculos, o Estado é o responsável pela proteção
das crianças e dos adolescentes, incluindo o desenvolvimento de
programas, projetos e estratégias que possam levar à constituição de
novos vínculos familiares e comunitários, mas sempre priorizando o
resgate dos vínculos originais ou, em caso de sua impossibilidade,
propiciando as políticas públicas necessárias para a formação de
novos vínculos que garantam o direito à convivência familiar e
comunitária. (BRASIL, 2006, p. 19)

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Para a efetividade das ações que envolvem a convivência familiar e
comunitária, além do estabelecido no ECA (1990), foi criado o Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária (2006), reunindo diversas políticas públicas para análise da
situação dos abrigos no Brasil e das necessidades de revisão da postura do Estado
e da Sociedade na Proteção das crianças e adolescentes que foram privados do
convívio familiar e comunitário, bem como na viabilização de novas ações para a
prevenção desses vínculos.

Os espaços e as instituições sociais são, portanto, mediadores das


relações que as crianças e os adolescentes estabelecem,
contribuindo para a construção de relações afetivas e de suas
identidades individual e coletiva. Nessa direção, se o afastamento do
convívio familiar for necessário, as crianças e adolescentes devem,
na medida do possível, permanecer no contexto social que lhes é
familiar. Além de muito importante para o desenvolvimento pessoal, a
convivência comunitária favorável contribui para o fortalecimento dos
vínculos familiares e a inserção social da família. (BRASIL, 2006, p.
34)

Todas as ações previstas, e orientadas Redes primárias: São conjuntos


para o desenvolvimento das crianças e de pessoas que se conhecem
entre si, unidas por vínculos de
adolescentes, partem da premissa da família, amizade, vizinhança,
trabalho, estudo e lazer.
organização social das famílias em redes de Configuram uma totalidade em que
solidariedade, quer sejam primárias ou seus membros estão unidos por
relações de natureza afetiva –
secundárias. Pensar a estruturação social por positiva ou negativa, mais do que
por seu caráter funcional.
meio das redes sociais é ressignificar os vínculos Redes Secundárias: Conjuntos
que unem as pessoas e as instituições, que sociais instituídos normativamente,
estruturados de forma precisa para
transformam e influenciam os indivíduos e suas desenvolver uma série de missões
e funções específicas (escola,
famílias, mas também são transformados e
empresa, comércio, hospital, etc.)
influenciados pelos mesmos. (GRUPO E.I.E.M, 1998, apud
KERN, 2004, p. 120).

As ações pensadas em redes socioassistenciais devem permitir que as


famílias mantenham seus vínculos com a comunidade em que vivem e possam, a
partir dos serviços ofertados pela rede, fortalecer os seus vínculos familiares e
comunitários por meio do acesso a bens e serviços que favoreçam a autonomia e
empoderamento das mesmas. Nesse sentido, fica mais fácil compreender a

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organização da Política Nacional de Assistência Social em níveis de Proteção Social
e articulada a outras políticas públicas.
Os atendimentos efetivados nos diferentes níveis de proteção, que integram
a rede de proteção integral às crianças e adolescentes, primam pela preservação
dos vínculos familiares e comunitários em diferentes processos de intervenção, com
metodologias específicas e instrumentais de trabalho determinados pela prática da
intervenção. Por mais que estejam estabelecidos os meios para a aplicabilidade das
medidas de proteção, identificados os setores envolvidos e os encaminhamentos
necessários, é preciso que o profissional saiba respeitar as particularidades de cada
família e de cada território de atuação.
Repensar a metodologia na prevenção dos vínculos familiares e
comunitários foi também um processo construído a partir das novas disposições da
Constituição Federal (1988) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que
ressignificaram a infância e as possibilidades de intervenção para proteção destes
cidadãos.
Portanto, na atuação os níveis de Proteção Social estão articulados e têm
como foco a preservação dos vínculos familiares. Todavia, quando estes vínculos
estão fragilizados ou rompidos, há a necessidade de inclusão das famílias em
medidas protetivas, que perpassam a Proteção Social Básica e a Especial.

De forma geral, quando as medidas protetivas já estão em pauta, os


programas de apoio sociofamiliar devem perseguir o objetivo do
fortalecimento da família, a partir da sua singularidade,
estabelecendo, de maneira participativa, um plano de trabalho ou
plano promocional da família que valorize sua capacidade de
encontrar soluções para os problemas enfrentados, com apoio
técnico-institucional. Os Programas devem abarcar as seguintes
dimensões:
·superação de vulnerabilidades sociais decorrentes da pobreza e
privação – incluindo condições de habitabilidade, segurança
alimentar, trabalho e geração de renda;
·fortalecimento de vínculos familiares e de pertencimento social
fragilizados;
·acesso à informação com relação às demandas individuais e
coletivas;
·orientação da família e, especialmente, dos pais, quanto ao
adequado exercício das funções parentais, em termos de proteção e
cuidados a serem dispensados às crianças e adolescentes em cada
etapa do desenvolvimento, mantendo uma abordagem dialógica e
reflexiva;

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·superação de conflitos relacionais e/ou transgeracionais, rompendo
o ciclo de violência nas relações intrafamiliares;
·integração sociocomunitária da família, a partir da mobilização das
redes sociais e da identificação de bases comunitárias de apoio;
·orientação jurídica, quando necessário. (BRASIL, 2006, p. 39)

Nesse ínterim se encontram as instituições que atuam na Proteção Social


Especial de Alta Complexidade, pois devem garantir a proteção integral das crianças
e adolescentes, e em alguns casos de suas famílias, em instituições que ofertarão
além do abrigo, alimentação e acesso a outros bens e serviços.

Fonte: http://migre.me/8Iy3T

5.2 A retirada da criança e do adolescente do convívio familiar

A retirada da criança ou adolescente do convívio familiar deve ser uma


“excepcionalidade” decorrente de fatores que possam colocar em risco sua
integridade física e psicológica. Nesse sentido não pode ser fator motivador para
retirada da criança e do adolescente do convívio familiar a falta de recursos
materiais e a falta, ou precariedade, de condições de habitação da família. Para
estes casos deve-se recorrer a programas sociais específicos e encaminhamento
das famílias para sanar estas questões por meio da articulação das diferentes
políticas setoriais existentes no território (BRASIL, 2009).

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Atenção!

É importante destacar que os serviços de acolhimento para crianças e


adolescentes não devem ser confundidos com estabelecimentos organizados para
acompanhamento de adolescentes que estejam cumprindo medidas socioeducativas de
internação em estabelecimento educacional (ECA, art. 112), bem como com
estabelecimentos destinados à Educação Infantil, regidos pela Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. (BRASIL, 2009, p. 13).

Nos casos em que o afastamento familiar for necessário, ressaltando aqui a


existência de riscos à integridade das crianças e adolescentes, a rede de proteção
deve se articular para que a criança e/ou adolescente retorne ao convívio familiar e
comunitário “no menor tempo possível”.

Todos os esforços devem se empreendidos para que, em um período


inferior a dois anos, seja viabilizada a reintegração familiar – para
família nuclear ou extensa, em seus diversos arranjos – ou, na
impossibilidade, o encaminhamento para família substituta. A
permanência de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento
por período superior a dois anos deverá ter caráter extremamente
excepcional, e estar fundamentada em uma avaliação criteriosa
acerca de sua necessidade pelos diversos órgãos que acompanham
o caso. (BRASIL, 2009, p. 19)

Envolvidos neste processo de efetivação das ações de proteção às crianças


e adolescentes, devem estar profissionais comprometidos com a questão e,
principalmente, qualificados para a atuação em equipes interdisciplinares e
multidisciplinares. Que saibam os limites e as possibilidades de intervenção
profissional e que compreendam a atuação em redes socioassistenciais.
No que se refere à metodologia de atendimento nas instituições de
acolhimento, a Coordenadoria da Infância e Adolescência (2009) apresenta
orientações metodológicas para organizar esta demanda e “visam contribuir para a
melhoria dos atendimentos prestados nestes serviços” (BRASIL, 2009, p. 24).
Vejamos os procedimentos a serem realizados pelas equipes interdisciplinares e
pelas instituições que acolherão estas crianças e adolescentes.

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Quadro 4 – Fluxo do atendimento
Tem como objetivo subsidiar a decisão acerca do afastamento da
criança ou adolescente do convívio familiar. [...] deve incluir uma
criteriosa avaliação dos riscos a que estão submetidos a criança ou
Estudo adolescente e as condições da família para superação das violações
Diagnóstico dos direitos observadas e o provimento de proteção e cuidados. Com a
devida fundamentação teórica, o estudo deve levar em conta a
proteção e a segurança imediata da criança e do adolescente, bem
como seu cuidado e desenvolvimento a longo prazo. (p. 24)
Devem constar objetivos, estratégias e ações a serem desenvolvidos
tendo em vista a superação dos motivos que levaram ao afastamento
Plano de do convívio e o atendimento das necessidades específicas de cada
Atendimento situação. A elaboração deste Plano de Atendimento deve ser realizada
Individual e em parceria com o Conselho Tutelar e, sempre que possível, com a
Familiar equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude. Tal
Plano deverá partir das situações identificadas no estudo diagnóstico
social que embasou o afastamento do convívio familiar. (p.26-27)
A implementação de uma sistemática de acompanhamento da situação
familiar, iniciada imediatamente após o acolhimento, é fundamental,
pois, com o passar do tempo, tanto as possibilidades de reintegração
Acompanhamento
familiar, quanto de adoção podem tornar-se mais difíceis. [...] Caso
da Família de
conclua que a manutenção do afastamento da criança ou adolescente
Origem
do convívio familiar não é necessária, a equipe técnica responsável
pelo acompanhamento deve proceder aos encaminhamentos para
viabilizar a imediata reintegração. (p.33)
Os Serviços de Acolhimento integram o Sistema Único de Assistência
Social, tendo interface com outros serviços da rede socioassistencial e
com demais órgãos do Sistema de Garantia dos Direitos. Sua atuação
Articulação deve basear-se no princípio da incompletude institucional, não devendo
Intersetorial ofertar em seu interior atividades que sejam de competência de outros
serviços. A proteção integral a que têm direito as crianças e os
adolescentes acolhidos deve ser viabilizada por meio da utilização de
equipamentos comunitários e da rede local de serviços. (p. 37)
Para garantir a oferta de atendimento adequado às crianças e aos
adolescentes, os serviços de acolhimento deverão elaborar o Projeto
Político-Pedagógico, que deve orientar a proposta de funcionamento do
serviço como um todo, tanto no que se refere ao seu funcionamento
Projeto Político-
interno, quanto seu relacionamento com a rede local, as famílias e a
Pedagógico
comunidade. Sua elaboração deve ser coletiva, de modo a envolver
toda a equipe do serviço, as crianças, adolescentes e suas famílias.
Após a elaboração, o Projeto deve ser implantado, sendo avaliado e
aprimorado a partir da prática do dia a dia. (p. 43)
Na história do nosso país, os serviços de acolhimento foram geridos e
tinham o quadro de pessoal composto principalmente por pessoas
voluntárias, religiosos ou leigos. Aos poucos esta realidade tem se
Gestão do modificado, mas ainda hoje há a prevalência da concepção de que
Trabalho e “basta o bom coração” para se trabalhar nesses serviços. O
Educação reconhecimento de que todos os profissionais que atuam em serviços
Permanente de acolhimento desempenhem o papel de educador, impõe a
necessidade de seleção, capacitação e acompanhamento de todos
aqueles responsáveis pelo cuidado direto e cotidiano das crianças e
adolescentes acolhidos. (p. 55-56)
Fonte: BRASIL, 2009.

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No que se refere à convivência familiar e comunitária, tivemos muitos
avanços que permitiram às crianças e adolescentes a permanência em seus seios
familiares e a cautela na aplicabilidade da retirada dos mesmos da convivência
familiar. Todavia, os processos burocráticos e a longa permanência de algumas
crianças e adolescentes em instituições de abrigo precisam ser revistos para agilizar
o retorno destas crianças e adolescentes ao convívio familiar e comunitário.
Como vimos anteriormente, as redes socioassistenciais possuem diferenças
se considerarmos o território onde se estabelecem. O importante, nesta atuação em
redes de proteção é reconhecer todas as instituições que compõem esta rede, os
serviços que são ofertados e como proceder quanto aos encaminhamentos para a
utilização destes serviços.
Assim, não importa o tipo de rede ou mesmo o território onde estão
identificadas as questões de vulnerabilidades, o importante é o reconhecimento dos
serviços e a metodologia adequada para favorecer que as crianças e/ou
adolescentes e suas famílias tenham acesso a bens e serviços que contribuirão para
o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Não há uma única maneira “engessada” para esta atuação. Há uma
multiplicidade de possibilidades, que variam de acordo com a especificidade de cada
território e da composição da rede socioassistencial.

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