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Departamento de Sociologia
Licenciatura em Sociologia
2.º Ano/1.ºsemestre
Ano Lectivo 2010/2011
Ficha de Leitura
“No Princípio era o Corpo”
Miguel Vale de Almeida
- Referência Bibliográfica:
ALMEIDA, Miguel Vale de, 1997, "No Princípio era o Corpo", in JORGE, Vítor Oliveira;
ITURRA, Raúl (coords.), Recurperar o Espanto: O Olhar da Antropologia, Porto,
Afrontamento, 67-79.
- Bibliografia Complementar:
- Palavras-chave:
- Resumo:
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No Princípio era o Corpo Miguel Vale de Almeida
como defende o autor, a diferença entre o ser masculino e feminino é uma “assimetria
simbólica”.
Almeida num dos seus estudos acerca da masculinidade conclui, provisoriamente, que
o processo social através do qual os indivíduos adquirem as normas, os valores e as regras de
ser masculino é um processo inacabado e, por isso, contínuo. Para o autor, a masculinidade
(ou identidade masculina) constrói-se através da socialização, quer na família, quer através
dos códigos do meio em que o indivíduo se insere, o que quer dizer que, numa primeira
abordagem, Almeida defendia que eram transmitidos códigos de masculinidade ao indivíduo,
através dos quais ele vai construindo a sua própria identidade masculina. Todavia, ao longo
do texto apercebemo-nos que a sua visão vai-se alterando e as diferenças entre masculino e
feminino podem explicar-se como sendo um sistema de classificações simbólicas que define
as diferenças entre homens e mulheres e ainda como um sistema de significações ou ideias
para entender a acção e o comportamento dos indivíduos. Segundo o autor (1997:69) a
diferença entre ser masculino e feminino é uma “assimetria simbólica”. Este conceito é
defendido pelo autor, uma vez que o mesmo considera que normalmente as características
moralmente negativas são femininas e as positivas são masculinas, e ainda que não o sejam é
apenas entendido numa hierarquia dos sectores do trabalho social. A hierarquia pelo género
estabelece-se, pois, numa lógica do sistema de classificações. Quanto à hegemonia – ou
supremacia do masculino – a sua principal característica é o exercício do poder (neste caso,
do masculino), através do consentimento (do feminino), ou seja, a própria mulher “habituou-
se” à superioridade do homem.
Para o autor, os estudos do género promoveram novas perspectivas de interpretação
antropológica ou de estudo das culturas. O objectivo de Miguel Vale de Almeida é tentar
perceber até que ponto a dominação masculina intimamente associada à supremacia do
masculino é uma realidade que aliena tantos homens como mulheres (1997:71). De acordo
com as palavras do autor (1997:71-72), e de um modo funcionalista, podemos pensar que a
dominação masculina resulta essencialmente no seguinte: eliminações de orientações sexuais
que não sejam a heterossexualidade; controlo da sexualidade feminina, de modo a garantir a
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No Princípio era o Corpo Miguel Vale de Almeida
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No Princípio era o Corpo Miguel Vale de Almeida
- Conclusão:
Neste texto, Miguel Vale de Almeida considera que o estudo do género deve ser feito
através do cruzamento desta com outras variáveis, uma vez que a variável género não se
produz e reproduz por si própria, antes resulta de um conjunto de factores a que o corpo –
homem e mulher – estão expostos ao longo da sua vida, ou seja, ao longo da construção social
da sua identidade. O título No Princípio era o Corpo reflecte a ideia de todo o texto, de que
no início o corpo ou o facto de se nascer homem ou mulher determinava por si só o género – o
ser masculino ou feminino – sem olhar a tudo o que o rodeia e ao que a ele está intrínseco, ou
seja, sem ter em consideração a cultura e a sociedade em que o indivíduo está inserido.