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DOSSIÊ

Christian Fuchs
Marisol Sandoval

Trabalhadores digitais do mundo


inteiro uni-vos: teorizando e analisando
criticamente o trabalho digital
RESUMO ABSTRACT
O objetivo geral desse artigo é elaborar uma tipologia The overall task of this paper is to elaborate a typology of
das formas de trabalho que são necessárias para a produ- the forms of labour that are needed for the production,
ção, circulação e uso das mídias digitais. Primeiramente, circulation, and use of digital media. First, we engage
perguntamo-nos o que é trabalho, quais suas dimensões with the question what labour is, how it differs from work,
básicas e como essas dimensões podem ser usadas para which basic dimensions it has and how these dimensions
definir o trabalho digital. Depois, introduzimos a noção can be used for defining digital labour. Second, we intro-
teórica de modo de produção como para conceituar o duce the theoretical notion of the mode of production as
trabalho digital. Em terceiro lugar, aprofundamos o olhar analytical tool for conceptualizing digital labour. Third,
nas dimensões dos processos de trabalho e as condições we have a deeper look at dimensions of the work process
nas quais se instalam. Em quarto, aplicamos a tipologia and the conditions under which it takes place. We present
de condições de trabalho à esfera do trabalho digital e a typology that identifies dimensions of working con- 27
identificamos diferentes formas de trabalho digital e suas ditions. It is a general typology that can be used for the
condições básicas. Por fim, nós discutimos as implicações analysis of any production process. Fourth, we apply the
políticas de nossa análise e o que pode ser feito para su- typology of working conditions to the realm of digital la-
perar as más condições de trabalho que os trabalhadores bour and identify different forms of digital labour and the
digitais estão enfrentando hoje. basic conditions, under which they take place. Finally, we
Palavras-chave: teoria crítica, economia política crítica da discuss political implications of our analysis and what can
comunicação e da mídia, teoria social, trabalho digital, be done to overcome bad working conditions that digital
mídia digital, filosofia. workers are facing today.
Keywords: critical theory, critical political economy of
communication and the media, social theory, digital la-
bour, digital work, digital media, philosophy

Muhanga é um mineiro escravizado em Kivu


(República Democrática do Congo). Ele extrai cas-
siterita, um mineral necessário para fabricação de
laptops e telefones celulares: “você rasteja por um bu-
raco apertado usando os braços e dedos para raspar
Christian Fuchs é professor de mídias sociais e não há espaço suficiente para cavar direito e você
na Universidade de Westminster e coeditor do jor- fica todo arranhado. Aí, quando você finalmente traz
nal tripleC: Communication, Capitalism & Critique a cassiterita, os soldados estão esperando armados
Marisol Sandoval é professora do Departamen- para tomá-la. Isso significa que você não tem nada
to de Cultura e Indústrias Criativas da City Universi- para comprar comida. Então, estamos sempre com
ty de Londres e coeditora do jornal tripleC: Commu- fome” (Finnwatch, 2007, p. 20).
nication, Capitalism & Critique. O engenheiro chinês Lu monta telefones celulares
na Foxconn de Shenzen. Ele relata trabalho excessivo
TRADUÇÃO: Anderson Marcusso e exaustão: “Nós produzimos a primeira geração de

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iPads. Nós ficávamos ocupados por um período de são trabalhadores da indústria. Mohan, Bob e Ann
6 meses e tínhamos que trabalhar aos domingos. Só são trabalhadores da informação criando softwares
tínhamos um dia de folga a cada 13 dias. E não havia e designs. Eles trabalham sob diferentes condições
compensação de horas extras pelos fins de semana como escravos, assalariados ou freelancers. Seus tra-
trabalhados. Trabalhar 12 horas por dia realmente balhos também diferem em relação à produção e uso
me deixava exausto” (SACOM, 2010, p. 7; para uma das tecnologias digitais e o lucro das companhias de
análise da Foxconn veja também Sandoval, 2013). TICs. Nesse artigo, discutimos as semelhanças e dife-
No Vale do Silício, o montador cambojano de TIC renças das vidas de trabalhadores como esses, identi-
(Tecnologia da Informação e Comunicação) Bopha ficando diferentes dimensões do trabalho digital.
foi exposto a substâncias tóxicas. Ele destaca: “Eu A seção 1 introduz uma perspectiva materialista-
falei com meus colegas de trabalho que sentiram a -cultural teorizando o trabalho digital. A seção 2 dis-
mesma coisa (que eu senti) mas eles nunca revelaram cute a relevância do conceito marxista do modo de
nada, com medo de perder seus empregos” (Pellow e produção para análise do trabalho digital. A Seção 3
Park 2002, 139). introduz a tipologia das dimensões das condições de
Mohan, um gerente de projetos na indústria do trabalho. A seção 4 é baseada nas seções anteriores
software em meados dos 30 anos explica que “Traba- e apresenta as ferramentas para análise do trabalho
lhadores escolhem uma prioridade (...). A área ocu- digital. Finalmente traçamos algumas conclusões na
pada pela família e por outros continua reduzindo” seção 5.
(DMello; Sahay 2007, p. 179). Bob, um engenheiro de
software no Google explica que, “por causa da grande 1.O TRABALHO E O TRABALHO DIGITAL: UMA
quantidade de benefícios (como comida grátis), pa- PERSPECTIVA A PARTIR DO MATERIALISMO
rece uma regra não-declarada que os empregados de- CULTURAL
vem trabalhar mais horas. Muitas pessoas trabalham
mais de 8 horas por dia e ainda mandam e-mails ou O debate sobre trabalho digital tem focado princi-
trabalham por algumas horas em casa à noite (ou nos palmente em entender os mecanismos de criação de
28 finais de semana). Pode ser difícil desempenhar bem valor nas empresas de mídias sociais como Facebook
o equilíbrio entre bom trabalho e vida pessoal. Con- e Twitter. Alguns autores têm discutido, por exem-
selho da Gerenciamento Sênior – dê aos engenheiros plo, a utilidade da teoria do valor do trabalho de Karl
mais liberdade para usar 20% do tempo para traba- Marx (Fuchs, 2010, Arvidsson; Colleoni, 2012, Fu-
lhar em projetos legais sem o stress de ter que traba- chs, 2012b, Schols, 2013), como a noção de alienação
lhar 120%” (fonte: www.glassdoor.com). pode ser usada no contexto do trabalho digital (An-
Ann, uma web designer, escritora, ilustradora, drejevic, 2012, Fischer, 2012), ou se, e como o con-
oferece seus serviços de mercado de trabalho fre- ceito de Dallas Smythe sobre o “trabalho das audiên-
elance na plataforma People Per Hour, que media a cias” pode ser usada para entender o trabalho digital
criação e contratação de produtos e serviços que não (para um panorama da discussão veja Fuchs, 2012a).
são remunerados por horas trabalhadas, mas por um O livro Social Media: A Critical Introduction (Fuchs
preço fixo por produto. Ela descreve seu trabalho: 2014b) dá uma introdução geral para muitos desses
assuntos. A tarefa geral tem sido a de entender e con-
Meus estilos de design são tão amplos quanto minha ceituar uma situação no qual os usuários, submetidos
base de clientes, de uma marca comercial forte e fa- a condições de vigilância comercial em tempo real,
mosa a desenhos manuais mais fluídos e desenhados.
Eu gosto de trabalhar com prazos embora frequente- criam uma commodity de dados que é vendida para
mente trabalhe num critério específico, alguns clien- clientes de publicidade. Isso envolveu a discussão
tes estão esperando por um momento de inspiração e da questão de quem exatamente cria o valor que se
é onde me sobressaio. Estou sempre pronta para um manifesta nos lucros das empresas de mídias sociais.
desafio e um briefing resumido é bem-vindo. Posso Mas indo além desses debates iniciais, estudar o tra-
produzir um trabalho para prazos bem apertados. Se
você estiver online, verá melhorias quase imediata- balho digital requer prestar atenção em todas as suas
mente! (Fonte: peopleperhour.com). formas.
A partir de uma definição de trabalho digital, po-
A vida dos trabalhadores Muhanga, Lu, Bopha, de-se aprender a partir de debates sobre como definir
Mohan, Bob e Ann parecem completamente diferen- trabalho cultural e comunicacional.
tes. Muhanga extrai minerais da natureza. Lu e Bopha

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1.1. DEFININDO TRABALHO CULTURAL só suporta a cognição, mas também a comunicação e
a colaboração e, por isso, ajuda os humanos a criarem
Existe um debate latente entre Vincent Mosco e e reproduzirem significados sociais. Engenheiros de
David Hesmondhalgh sobre como definir trabalho software não são apenas trabalhadores digitais. Eles
cultural e comunicacional, e como estabelecer li- são também trabalhadores culturais.
mites. De acordo com Hesmondhalgh (2013, p. 16) Hesmondhalgh se opõe à definição ampla de tra-
indústrias culturais “lidam essencialmente com a balho cultural de Mosco e McKercher, por causa “dos
produção industrial e a circulação de textos”. Assim, amplos riscos de se eliminar a importância específica
indústrias culturais incluem broadcasting, filme, mú- da cultura, da comunicação mediada e dos conteú-
sica, publicações eletrônicas e impressas, videogame dos de produtos de comunicação” (Hesmondhalgh e
e jogos de computador, propaganda, marketing e Baker 2001, p. 60). Nossa visão é a de que há muitas
relações públicas, e web design. O trabalho cultural vantagens de uma definição ampla como:
lida “essencialmente com a produção industrial e a 1. Evita o “idealismo cultural” (Williams 1977, 19)
circulação de textos” (Hesmondhalgh 2013, p. 17). que ignora a materialidade da cultura,
Segundo essa definição, Hesmondhalgh (2013, p. 20) 2. Pode levar em conta a conectividade entre tecnolo-
descreve trabalho cultural como “o trabalho dos cria- gia e conteúdo, e;
dores de símbolos”. 3. Reconhece a importância da divisão global do tra-
Vincent Mosco e Catherine McKercher apresen- balho, a exploração do trabalho em países em desen-
tam uma definição mais ampla de trabalho comuni- volvimento, escravidão e outras formas sofridas de
cacional incluindo “qualquer um na cadeia de pro- trabalho e assim, evita o paroquialismo ocidentalista
dução e distribuição de produtos de conhecimento” idealismo cultural.
(Mosco e McKercher, 2009, p. 25). No caso da indús- Provavelmente mais importante, a concepção am-
tria dos livros, essa definição inclui não apenas escri- pla de trabalho cultural pode informar solidariedade
tores, mas igualmente, bibliotecários e gráficas. política:
A definição de Hesmondhalgh sobre indústria
cultural e trabalho cultural foca na produção do con- uma visão mais heterogênea da categoria trabalho-co-
nhecimento, aponta para outro tipo de política, base-
teúdo e tende a excluir mídias sociais, hardware, pro-
ada em questões sobre se os trabalhadores do conhe-
29
gramas e fenômenos sociais como mídias sociais e cimento podem se unir cruzando fronteiras nacionais
mecanismos de busca. Assim, julga que as indústrias ocupadas, se eles podem manter sua recém fundada
do conteúdo são mais importantes que indústrias de solidariedade e o que eles deveriam fazer com isso
mídias digitais. O ideal é o de focar na produção de (Mosco; McKercher, 2009, p. 26).
ideias e excluir o fato que essas ideias só podem ser
comunicadas baseadas no uso de dispositivos físicos, Do mesmo modo, Eli Noam se opõe à separação
computadores, programas e a internet. Para Hes- de máquinas e produtores de conteúdo e discutem
mondhalgh (2013, p. 19), engenheiros de software, uma definição profunda da indústria da informação:
por exemplo, não são trabalhadores culturais por- “Os componentes físicos da mídia são parte do setor
que suas atividades são consideradas como “funcio- de informação? Sim, Sem transmissores e receptores,
nais” e não resultam um texto com significado so- uma estação de rádio é uma abstração. Sem PCs, ro-
cial. A engenharia de Software é altamente criativa: teadores e servidores, não há internet” (Noam, 2009,
não é apenas criar um trecho de código que serve p. 46). Noam discute a unidade materialista de conte-
a propósitos específicos, mas também, escrever có- údo e produtores de hardware na categoria da indús-
digos concebendo algoritmos que colocam desafios tria da informação.
lógicos para os engenheiros. Robert L. Glass (2006) Enquanto algumas definições de trabalho criati-
discute que o engenheiro de software é uma forma vo e indústrias criativas são entradas - e ocupações
complexa de resolver problemas que requer um alto – focadas (Caves, 2000; Cunningham, 2005; Hartley,
nível de criatividade que ele chama de criatividade 2005), a profunda noção de trabalho cultural que nós
de software. O software é semântico de várias manei- estamos propondo foca na indústria e no output. As
ras: a) quando seu código é executado, cada linha do definições de trabalho/indústrias culturais orienta-
código é interpretada pelo computador que resulta das para inputs e outputs refletem uma diferença que
em operações específicas; b) ao usar um aplicativo Fritz Machlup (1962) e Daniel Bell (1974) já usaram
online ou off-line, nosso cérebro constantemente in- em seus clássicos estudos da economia da informa-
terpreta a informação apresentada; c) o software não ção: entre definições ocupacionais e industriais so-

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bre o trabalho do conhecimento. Nossa abordagem ceitos que as teorias marxistas usaram para conceitu-
difere de ambas. Nós discutimos que trabalhadores ara relação entre economia e cultura: determinação,
culturais deveriam ser vistos como o que Marx cha- reflexão, reprodução, mediação e homologia. Ele
mou de Gesamtarbeiter. Marx descreve essa figura de argumenta que esses conceitos todos assumem um
trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter) nos Grundisse, relacionamento entre economia e cultura que, em
onde ele discute o trabalho como comunal ou com- vários graus, se formam por determinação casual ou
binado (Marx 1857/1958, p. 470). Essa ideia também casualidade mútua. Mas todos eles dividem a supo-
foi tirada do Capital – volume 1, onde ele define o sição da “separação da cultura da vida material so-
trabalhador coletivo como trabalhador, isto é, uma cial” (Williams 1977, p. 19) que Williams (1977, p.
combinação de trabalhadores (Marx, 1867, p. 644), 59) considera ser “idealista”. Na visão de Williams,
e argumenta que o trabalho é produtivo se for parte os problemas com essas abordagens não são tan-
de uma força de trabalho combinada: “Em vez de tra- to economicistas e materialistas, mas justamente o
balhar produtivamente, não é mais necessário que o contrário: elas não são “materialistas o suficiente”
próprio sujeito toque o objeto, basta ser um agente do (Williams, 1977, p. 92).
trabalho coletivo e fazer qualquer uma das funções Williams (1977, 78) discute que Marx se opôs à
de seus subordinados” (Marx, 1867, p. 644). O traba- “separação de ‘áreas’ entre o pensamento e a ativida-
lhador coletivo é um “trabalhador agregado”, no qual de. A produção seria distinta de “consumo, distribui-
“suas atividades combinadas resultam materialmen- ção e intercâmbio” tanto quanto as relações sociais
te num produto agregado” (Marx, 1867, p. 1040). (Williams, 1977, p. 91). As forças produtivas seriam
A “atividade de sua força de trabalho agregada” é “a “todo e qualquer meio de produção e reprodução da
produção imediata de mais-valia, a imediata conver- vida real”, incluindo a produção de conhecimento so-
são disso depois, em capital (Marx, 1867, p. 1040).). cial e cooperação (Williams, 1977, p. 91). A política
A questão de como definir trabalho cultural e, even- e a cultura seriam o domínio da produção material:
tualmente, também o digital, tem mais a ver com as classes dominantes produziriam castelos, palá-
questões gerais de como entender a cultura. Portanto, cios, igrejas, prisões, escolas, armas e uma impren-
30 faz sentido prestar alguma atenção aos trabalhos de sa controlada etc. (Williams, 1977, p. 93). Portanto,
um dos mais profundos teóricos culturais: Raymond Williams destaca “O caráter material da produção de
Williams. uma ordem política e social” e descreve o conceito de
superestrutura e evasão (Williams, 1977, p. 93). Aqui
1.2. MATERIALISMO CULTURAL Williams reflete a ideia de Gramsci que “crenças po-
pulares” e “ideias similares são, elas próprias, forças
Nos seus primeiros trabalhos, Raymond Williams materiais” (Gramsci, 1988, p. 215).
tentou entender a cultura da classe trabalhadora em Raymond Williams (1977, 111) formula um im-
contraste à cultura burguesa, nos quais ilustra sua portante postulado do materialismo cultural que
genuína posição socialista e seu interesse em cultu- “trabalho cultural e atividade não são (...) uma su-
ra. Entretanto, Williams reforça o foco na totalida- perestrutura” porque as pessoas usariam recursos fí-
de, isto é, na cultura como “o jeito de viver como um sicos para lazer, entretenimento e arte. Combinando
todo” (Williams, 1958, p. 281) e “um processo social as suposições de Williams de que o trabalho cultural
geral” (Williams, 1958, p 282). Nos seus primeiros é material e econômico e que as atividades físicas e
trabalhos, ele tendeu a separar cultura e economia ideacionais fundamentais à existência da cultura es-
categoricamente: “ainda que o elemento econômico tão interconectadas significa dizer que a cultura é a
seja determinante, determina todo o jeito de viver” totalidade que conecta todos os processos de pro-
(Williams 1958, p. 281). Essa noção de determinação dução física e ideacional que estão conectados e são
implica que os dois reinos, da economia e cultura, es- requeridos para existência da cultura. Colocando de
tão conectados, mas que, em primeira instância, eles maneira simples, significa que, para Williams, o fa-
são também separados. bricante do piano, o compositor e o pianista, são to-
Mais tarde, em Marxismo e Literatura, Raymond dos trabalhadores culturais.
Williams questionou a tendência histórica do mar- Williams (1977, p. 139) conclui que o materia-
xismo de ver a cultura como dependente, secundária, lismo cultural precisa ver “a unidade complexa dos
superestrutural: um reino de ‘meras’ ideias, crenças, elementos” requerida para a existência da cultura:
artes, coisas, determinadas pela história material bá- ideias, instituições, formações, distribuição, tecnolo-
sica (Williams, 1977, p. 19). Ele discute vários con- gia, audiências, formas de comunicação e interpre-

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tação. Um sistema mundial de sinais envolve as rela- bens, mas precisa ser estendido às áreas de produção
ções sociais que o produzem, as instituições nas quais econômica e criação de valor. O trabalho cultural é
são formados e seu papel como tecnologia cultural um conceito crucial nesse contexto.
(Williams, 1977, p. 140). Em vez de evitar “o real pe-
rigo de separar pensamento humano, imaginação e 1.3 UMA NOÇÃO MATERIALISTA DE TRABALHO
conceitos de processo da vida material dos homens” CULTURAL
(Williams, 1989, p. 203), alguém precisa focar na “to-
talidade da atividade humana” (Williams, 1989, p. Inspirando-se no materialismo cultural de Ray-
203) quando se discute cultura: Nós “precisamos en- mond Williams, é factível discutir por uma compre-
fatizar a prática cultural a partir do início social e ma- ensão ampliada sobre trabalho digital e cultural que
terial” (Williams 1989, 206). As “forças produtivas do transcenda o idealismo cultural dos recentes debates
‘trabalho mental’ tem nelas mesmas, uma inescapável sobre trabalho digital. Por um lado, Williams refu-
história material e social” (Williams, 1989, p. 211). ta a separação de cultura e economia tanto na base
Marx expressou bem a suposição básica do materia- quanto na superestrutura. Por outro, ele sustenta que,
lismo cultural salientando que a “produção de ideias, cultura como sistema de significado, é um sistema
de concepções, é primeiramente, diretamente entre- distinto da sociedade. Como pode fazer sentido as
laçada com a atividade material e as relações mate- reivindicações que, à primeira vista parecem ser mu-
riais dos homens” (Marx e Engels, 1845/46, p. 42). tuamente exclusivas? Se pensarmos dialeticamente,
então, o conceito de cultura como necessidade ma-
São os homens os produtores de suas represen- terial e econômica e, ao mesmo tempo, diferente da
tações, das suas ideias, etc., mas os homens re- economia é factível dizer que a cultura e a política
ais, os homens que realizam, tais como se en-
contram condicionados por um determinado são sublimações dialéticas (Aufhenbung) da econo-
desenvolvimento das suas forças produtivas e do in- mia. Na filosofia hegeliana, sublimação significa que
tercâmbio que a estas corresponde até as suas forma- um sistema ou fenômeno é preservado, eliminado e
ções mais avançadas (Marx e Engels, 1845/46, p. 42). levantado. Cultura não é o mesmo que economia: é
mais do que a soma de várias atividades de trabalho,
Pensar e comunicar para Marx são processos de têm qualidades emergentes – comunica significados 31
produção que são embutidos na vida cotidiana e no na sociedade – que não podem ser encontrados sozi-
trabalho humano. Os seres humanos produzem suas nhos na economia Mas, ao mesmo tempo, a econo-
próprias capacidades e realidades de pensar e comu- mia é preservada na cultura, que não é independen-
nicar no trabalho e nas relações sociais. te do trabalho, física e produtivamente, mas precisa
Em seus últimos trabalhos, Williams enfatizou dele e o incorpora.
particularmente a emergência de uma economia Wolfgang Hofkirchner introduziu um modelo de
da informação, na qual informação, comunicação e estágios como maneira de conceituar filosoficamen-
audiências são vendidas como commodities, o que te as conexões lógicas entre diferentes níveis de or-
requer repensar a separação da economia e cultura ganização. Em um modelo de estágios, “um passo
para enxergar a cultura como material. dado por um sistema em questão – que produz uma
camada – depende do estágio anterior mas, não se
Os processos de informação... se tornaram uma pode revertê-los! ... as camadas - que são criadas pe-
parte qualitativa da organização econômica (...) los passos – construídos sobre outras camadas abaixo
Assim, a maior parte de todo processo de traba-
lho moderno deve ser definido em termos do que dela mas, não pode ser reduzido a elas! (Hofkirchner
não facilmente separável teoricamente das tradi- 2013, 123f). A emergência é o princípio fundamen-
cionais atividades culturais (...) Muitos trabalha- tal do modelo de estágios (Hofkirchner 2013, 115):
dores estão envolvidos em operações e ativações um nível específico de organização de importância
diretas desses sistemas que dão novas complexida- tem qualidades emergentes então os sistemas orga-
des às classes sociais (Williams, 1981, p. 231-232).
nizados nesse nível são mais que a soma das partes,
às quais não podem ser reduzidos. O nível de orga-
Como a informação é um importante aspecto da
nização tem qualidades fundamentadas nos sistemas
produção econômica nas sociedades da informação,
subjacentes que são preservados no nível superior e
o conceito de cultura não pode ser restrito a questões
no qual a sinergia produz novas qualidades no nível
como cultura popular, entretenimento, trabalhos ar-
superior. Na linguagem da filosofia dialética, isso sig-
tísticos e a produção de significado pelo consumo de
nifica dizer que a qualidade emergente do nível de

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organização é uma sublimação (Aufhenburg) do nível zenamento e comunicação. O trabalho que cria in-
subjacente. formação e comunicação pela linguagem é especí-
Usar o modelo de estágio nos permite identificar fico para o trabalho conduzido no sistema cultural:
e relatar diferentes níveis de trabalho cultural e digi- trabalho informacional e comunicacional. Para ter
tal (ver figura 1). Trabalho cultural é um termo que efeitos sociais, a informação e a comunicação são or-
engloba níveis de trabalho organizacional que são ao ganizadas armazenadas, processadas, transportadas
mesmo tempo distintos e dialeticamente conectados: e criadas com ajuda das tecnologias de informação e
ele tem uma qualidade emergente, ou seja, o trabalho comunicação, como computadores, TVs, rádios, jor-
informacional cria conteúdo, que é baseado no traba- nais, livros, filmes, músicas, línguas etc. Essas tecno-
lho físico-cultural, que cria tecnologias da informa- logias são produzidas por trabalhos físico-culturais.
ção por meio dos processos industriais e agrícolas. O A cultura envolve: a) trabalho físico informacional
trabalho físico se instala dentro e fora da cultura: ele que cria tecnologias culturais (tecnologias da infor-
cria tecnologia da informação e seus componentes mação e comunicação); b) trabalho informacional
(trabalho físico-cultural) tanto quanto outros produ- que cria informação e comunicação.
tos (trabalho cultural não-físico) que não tem prin- Esses dois tipos de trabalho agem juntos no senti-
cipalmente funções simbólicas na sociedade (como do de produzir e reproduzir cultura. Os significados
carros, escovas de dentes e xícaras). Carros, escovas e julgamentos são qualidades emergentes da cultu-
de dentes e xícaras não tem o papel de informar ou ra que são criados pelo trabalho informacional. Eles
comunicar com os outros, em vez disso, ajudam os têm autonomia relativa, com efeitos dentro e fora no
humanos a realizarem as tarefas de transporte, lim- sistema econômico. Isso significa dizer que formas
peza e nutrição. O trabalho cultural e informacional, específicas de conteúdo criam cultura, mas cultura
entretanto retorna nesses produtos e cria significados não pode ser reduzida à economia – ela tem qualida-
simbólicos usados por companhias para vendê-los. des emergentes.
Trabalho cultural é uma unidade entre o trabalho Segundo Williams, a comunicação é “a passagem de
físico-cultural e o trabalho da informação, que inte- ideias, informações e atitudes de pessoa para pessoa”,
32 ragem um com o outro: são conectados, e ao mesmo ao passo que o conceito de “comunicações” significa
tempo distintos. “instituições e formas nas quais ideias, informações e
A produção de significados, normas sociais, mo- atitudes são transmitidas e recebidas” (Williams, 1962,
rais e a comunicação dos significados, normas e mo- p. 9). A informação e a comunicação são atividades
rais são processos de trabalho: eles criam valores de produtoras de sentido criadas pelo trabalho informa-
uso cultural. A cultura requer por um lado, criativi- cional. O trabalho físico-cultural cria comunicações
dade humana para criar conteúdos culturais e, por como instituições e formas que organizam a criação
outro lado, formas e meios específicos para arma- e a passagem de informação nos processos sociais.

Figura 1: Um modelo de estágio do trabalho cultural

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Marx identificou duas formas de trabalho infor- específicos de trabalho cultural, também não existem
macional: o primeiro resulta em bens culturais que independentemente do domínio digital: artistas pu-
“existem separadamente do produtor, isto é, eles po- blicam suas gravações em formatos digitais no iTu-
dem circular no intervalo entre a produção e o con- nes, Spotify e plataformas similares online. Os fãs
sumo como mercadorias, por exemplo, livros, pintu- trazem seus celulares para tirar fotos e extraem gra-
ras e todos os produtos de arte diferente do alcance vações do show que compartilham nas plataformas
artístico de praticar arte”. O segundo, “o produto não de mídias sociais. Hoje em dia, há pouco trabalho
é separável do ato de produzi-lo” (Marx 1867, 1047f). cultural que seja completamente independente do
O primeiro requer uma forma, instituição ou tec- domínio digital. As noções de trabalho digital e for-
nologia que armazene e transporte informação, como ça de trabalho digital se relacionam àquelas formas
no caso da comunicação mediada por computador, e de força de trabalho cultural que contribuem para a
o segundo usa a linguagem como principal meio (por existência de tecnologias e conteúdos digitais. É uma
exemplo, o teatro). O primeiro requer trabalho físi- forma específica de força de trabalho cultural. A figu-
co-cultural para organizar o estoque e o transporte ra 2 aplica o modelo de estágios de trabalho cultural
de informação, o segundo é possivelmente baseado ao trabalho digital.
apenas em trabalho informacional. Se cultura fosse algo meramente simbólico, ou
Dada a noção de trabalho cultural e um enqua- seja, algo relacionado somente à mente, ao espírito,
dramento teórico materialista-cultural inspirado em ao “imaterial”, ao superestrutural, ao informacional e
Raymond Williams, nós podemos, a seguir, pergun- a um mundo de ideias, então a força de trabalho di-
tar o que é específico sobre o modo de trabalho cul- gital como expressão da cultura claramente excluiria
tural digital. os trabalhos concretos de mineração e montagem de
hardwares que são necessários para produzir mídias
1.4 TRABALHO DIGITAL E FORÇA DE TRABALHO digitais. O materialismo cultural de Williams, con-
DIGITAL trário à posição do idealismo cultural, torna possível
argumentar que a força de trabalho digital inclui a
O reino das mídias digitais é um subsistema espe- criação de produtos físicos e informacionais, que são
cífico de indústrias culturais e do trabalho cultural. necessários para produção e uso de tecnologias digi- 33
O trabalho digital é uma forma específica de trabalho tais. Alguns trabalhadores digitais criam equipamen-
cultural que tem a ver com a produção e o consu- tos, outros componentes de equipamentos, minerais,
mo produtivo de mídias digitais. Há outras formas programas ou conteúdos que são todos objetivos ou
de trabalho cultural que são não-digitais. Pense por resultados da aplicação das tecnologias digitais. Al-
exemplo em música clássica ou show de rock. Mas guns trabalhadores, por exemplo, os mineradores,
essas formas de entretenimento ao vivo, que são tipos não apenas contribuem para a emergência de mídias

Figura 2: um modelo de estágio do trabalho digital

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digitais, mas para diferentes produtos. Se alguém co- mento frequente é incluir o trabalho do compositor
nhecer as vendas de minas, então é possível determi- e do pianista e excluir o do construtor do piano. Os
nar em que medida o trabalho realizado é trabalho elitistas culturais, então, argumentam que apenas o
digital ou de outro tipo. compositor e o pianista são realmente criativos, ao
A fim de ilustrar o fato de que a cultura é algo ma- passo que os materialistas vulgares sustentam que
terial, nós agora queremos retornar com mais deta- apenas o construtor do piano pode ser um traba-
lhes ao trecho em que Marx reflete sobre o trabalho lhador produtivo porque ele trabalha com as mãos
de fazer e tocar piano. e produz um artefato. Os dois julgamentos são isola-
cionistas e politicamente problemáticos.
Trabalho produtivo é simplesmente o trabalho que Tomando o exemplo da música de piano e trans-
produz o capital. Não é absurdo, pergunta, p. ex. (ou ferindo para as mídias digitais, nós encontramos cor-
algo similar), o senhor Senior , que o fabricante de
pianos seja um trabalhador produtivo, mas o pianista respondências: assim como encontramos construto-
não o seja, não obstante o piano sem o pianista seria res de pianos, compositores e pianistas na indústria
nonsense? Mas é exatamente assim. O fabricante de musical, também encontramos força de trabalho en-
pianos reproduz o capital; o pianista só troca seu tra- volvida na produção (construtores) de equipamentos,
balho por renda. Mas o pianista, que produz música no conteúdo e na produção de programas (composi-
e satisfaz nosso senso musical, também não o produz
de certa maneira? De fato, ele o produz: seu trabalho tores) e nos usuários produtivos (consumidor-produ-
produz algo; nem por isso é trabalho produtivo em tor, músicos) no mundo do trabalho digital. Na área
sentido econômico; é tão pouco produtivo como o do trabalho digital, devemos enfatizar que as práticas
trabalho do louco que produz quimeras. O trabalho “são, desde o início, sociais e materiais” (Williams,
só é produtivo na medida em que produz seu próprio 1989, p. 206).
contrário (Marx, 1857/58, p. 305)1. Há uma diferença se construtores, pianistas e
compositores o fizerem apenas como hobby ou para
Williams observa que hoje, diferentemente da criar mercadorias para serem vendidas. Essa diferen-
época de Marx, “a produção de música (e não apenas ça pode ser explorada baseada na distinção de Marx
os instrumentos) é um importante ramo da produ- entre o trabalho como atividade e o trabalho a partir
34 ção capitalista” (Williams 1977, 93). de suas relações com o capital.
Se a economia e a cultura são duas esferas sepa- O significado e uso de palavras se desenvolve his-
radas, então construir o piano é trabalho e parte da toricamente e pode refletir as estruturas e mudanças
economia e tocar não é trabalho, mas cultura. Marx da sociedade, cultura e economia. Dado que nós en-
não deixa dúvida, entretanto, que tocar o piano pro- contramos distinções etimológicas entre os aspec-
duz mais-valia que satisfaz ouvidos humanos e é por- tos gerais das atividades humanas de produção e as
tanto, uma forma de trabalho. Como consequência, a características específicas que refletem as realidades
produção de música deve, assim como a produção do das sociedades de classe, faz sentido categoricamente
piano, ser uma atividade econômica. Williams (1977, distinguir entre a dimensão antropológica das ativi-
p. 94) enfatiza que o materialismo cultural significa dades humanas criativas e produtoras que resultam
ver o caráter material da arte, das ideias, estéticas e em mais-valia satisfazendo as necessidades humanas
ideologias e que, quando considera os atos de fabri- e a dimensão histórica que descreve como essas ativi-
car e tocar piano, é importante descobrir e descrever dades estão embutidas nas relações de classe (Fuchs,
“relações entre todas essas práticas” e não assumir 2014a). Um modelo de processo geral do trabalho é
“que só algumas delas são materiais”. visto na figura 3.
Separadamente do construtor do piano e do pia- Os sujeitos humanos possuem força de trabalho,
nista, há ainda o compositor da música. Todas as três que, no processo de trabalho, interage com os meios
formas de trabalho são necessárias e relacionadas de produção (objeto). Os meios de produção consis-
a fim de garantir a existência de músicas de piano. tem de objeto de trabalho (recursos, matérias-pri-
Estabelecer uma das três atividades produtivas cate- mas) e instrumentos de trabalho (tecnologia). No
goricamente como cultura e excluindo as outras dos processo de trabalho, humanos transformam um ob-
limites da cultura, é não ver que uma não pode existir jeto (natureza, cultura), fazendo uso de sua força de
sem a outra. Juntamente com essa separação, vem as trabalho com a ajuda de instrumentos de trabalho. O
taxações políticas de entidades separadas. O procedi- resultado é um produto que une o trabalho objetifica-
1 Nota da tradução: Na edição brasileira, editada pelo Boi- do do sujeito com os materiais objetivos com os quais
tempo, 2011, p. 238. que ele(a) trabalha. O trabalho se torna objetificado

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balho alienado.
Dadas essas suposições preliminares, podemos
dar definições sobre trabalho digital, explicitando as
diferenças entre digital work e digital labour

Digital Work é uma forma específica de trabalho que


faz uso de corpo, mente e máquinas ou uma combi-
nação de todos esses elementos como instrumento de
trabalho no sentido de organizar a natureza, recur-
sos dela extraídos ou cultura e experiências humanas
de modo que é produzido e usado mídia digital. Os
produtos do trabalho digital são dependentes do tipo
de trabalho: minerais, componentes, ferramentas de
mídias digitais ou representações simbólicas digital-
mente mediadas, relações sociais, artefatos, sistemas
Figura 3: o processo geral de trabalho sociais e comunidades. Inclui todas as atividades que
criam valor-de-uso que são objetificadas em tecnolo-
num produto e o objeto é um resultado transformado gias de mídias digitais, conteúdos e produtos gerados
em valor-de-uso que serve às necessidades humanas. pela aplicação das mídias digitais. (Fuchs, 2014a, 352).
As forças produtivas são um sistema em que forças
produtivas subjetivas fazem uso de forças produtivas
técnicas a fim de transformar partes da natureza/cul- Digital Labour é trabalho digital alienado: é alienado
por si só, em relação aos instrumentos e objetos de
tura de modo a emergir um produto.
mão-de-obra e dos produtos de mão-de-obra. A alie-
O processo geral de trabalho é um modelo antro- nação é alienação do sujeito de si mesmo (a força da
pológico de trabalho realizado sob todas as condi- mão-de-obra é posta para uso e controle do capital),
ções históricas. A conexão do sujeito humano com alienação em relação ao objeto (os objetos e instru-
outros sujeitos (figura 4) indica que o trabalho não mentos do trabalho) e o sujeito-objeto (os produtos
do trabalho). Digital Work e Digital Labour são catego-
é normalmente conduzido individualmente, mas em
rias amplas que envolvem todas as atividades em pro-
relação aos outros. A sociedade dificilmente poderia dução de tecnologias e conteúdos de mídias digitais. 35
existir baseada em pessoas isoladas tentando sobre- Isso significa que, na indústria midiática capitalista,
viver independentemente. São necessárias relações diferentes formas de alienação e exploração podem
econômicas na forma de cooperação e organização ser encontradas. Exemplos são trabalhadores escravos
na extração de minérios, fabricantes de equipamen-
social da produção, da distribuição e do consumo.
tos tayloristas, engenheiros de softwares, criadores
Isso significa que o trabalho se estabelece sob rela- de conteúdo profissional online (exemplo: jornalistas
ções sociais de produção que são históricas e espe- online), agentes de Call Centers e prosumers de mídias
cíficas. sociais. (Fuchs, 2014a, 351).
Há diferentes possibilidades para organização das
relações de produção. Em geral, o termo trabalho (la-
bour) aponta em direção ao trabalho a partir das re-
lações de classe, por exemplo, relações de poder que
determinam que, alguns dos elementos do processo
de trabalho não são controlados pelos trabalhadores
mas, por um grupo de controladores econômicos. O
trabalho designa a organização de formas específicas
de trabalho nas quais os sujeitos não controlam sua
força de trabalho (é obrigado a trabalhar para outros)
e há falta de controle dos objetos de trabalho e/ou,
dos instrumentos de trabalho e/ou dos produtos do
trabalho.
Karl Marx explica essa falta de controle a partir
do termo alienação e entende a unidade dessas for-
mas de alienação e exploração de trabalho (Marx, Figura 4: mão-de-obra como alienação do processo de trabalho
1857/1958). A figura 4 mostra dimensões potenciais
do processo de mão-de-obra como processo de tra-

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O trabalho não é uma atividade individual isola- gem de sublinhar a relação de classe entre capital e
da, mas aparece como parte das relações sociais e dos trabalho e como em processos de lutas de classes, o
modos como a economia é organizada. Os conceitos capital tenta aumentar os lucros, diminuindo os seus
de digital work e digital labour precisam, portanto, custos globais de salários pela difusão global do pro-
ser relacionados a um conceito que pode descrever cesso produtivo. É também um conceito que envolve
a estrutura organizacional da economia: o conceito as lutas dos trabalhadores contra os efeitos negativos
marxiano de modo de produção da reestruturação capitalista.
A abordagem desse estudo está baseada está ba-
2 – TRABALHO DIGITAL E MODOS DE PRODUÇÃO seada em uma tradição marxista que salienta as con-
tradições de classe na análise da globalização. Ele ex-
Michael Porter (1985) introduziu a noção de ca- plora como a noção de modo de produção pode ser
deia de valor, definida como “uma coleção de ativi- conectada ao conceito da nova divisão internacional
dades que são realizadas para desenhar, produzir, do trabalho. A noção de modo de produção salienta
comercializar, entregar e dar suporte ao produto” uma interligação dialética entre, por um lado, as re-
(Porter, 1985, p. 36). O termo cadeia de valor se tor- lações de classe (relações de produção) e, por outro,
nou uma categoria popular por analisar a organiza- as formas de organização do capital, do trabalho e da
ção do capital, o que é indicado pelo fato de 11.682 tecnologia (forças produtivas). A relação de classe é
artigos indexados na base de dados acadêmica Busi- uma relação social que determina quem detêm a pro-
ness Source Premier usarem o termo em seu resumo priedade privada e tem o poder de fazer os outros
(acessado em 21 de maio de 2013). O termo também produzirem mais-valia que eles não têm e que é apro-
tem sido usado pelos principais economistas da mí- priada pelos donos das propriedades privadas. As re-
dia para analisar a cadeia de valor das mídias tradi- lações de classe envolvem uma classe proprietária e
cionais e TICs (Zerdick et al., 2000, p. 126-135). O uma classe não-proprietária: a classe não-proprietá-
principal problema do uso do conceito da cadeia de ria é compelida a produzir mais-valia que é apropria-
valor é que foca em estágios de produção de merca- da pela classe proprietária.
36 dorias e tende a negligenciar aspectos de condições As relações de produção determinam as relações
de trabalho e relações de classes. Também acadêmi- de propriedade (quem tem o quê para compartilhar
cos críticos têm usado a noção global de cadeia de (tudo, algo ou nada), a força de trabalho, os meios de
valor (por exemplo, Huws, 2008; Huws e Dahlmann, produção, produtos do trabalho), o modo de aloca-
2010). ção e distribuição de bens, o modo de coerção usado
Um conceito alternativo que foi introduzido por para defender as relações de propriedade e a divi-
estudos críticos é a noção de nova divisão internacio- são do trabalho. As relações de classe são formas de
nal de trabalho (NDIT): organização de relações de produção em que uma
classe dominante controla os modos de propriedade,
O desenvolvimento da economia mundial tem criado distribuição e coerção para explorar uma classe su-
condições (forçando o desenvolvimento de nova divi-
são internacional do trabalho) na qual a sobrevivência bordinada. Numa sociedade sem classes, as pessoas
de mais companhias pode ser assegurada pela realo- controlam propriedade e distribuição em comum.
cação da produção para novos locais industriais onde Toda economia produz uma certa quantidade de
a força de trabalho é barata para compra, abundante e bens por ano. Os recursos específicos são investidos e
bem disciplinada; em resumo, por meio da reorgani- há outputs específicos. Se não há contração da econo-
zação da produção transnacional (Fröbel, Heinrichs e
mia por causa de crise, então um superávit é gerado,
Kreye, 1981, p. 15)
por exemplo, sobre os recursos iniciais. As relações
de propriedade determinam quem detém os recursos
Uma questão adicional é que a “produção de mer-
iniciais da economia e a mais-valia. A tabela 2 (ver
cadorias tem sido subdividida em fragmentos que
adiante) distingue os modos de produção (patriarcal,
podem ser atribuídos seja qual for a parte do mun-
escravidão, feudalismo, capitalismo, comunismo)
do que possa prover a mais lucrativa combinação de
com base em vários modos de propriedade, isto é, re-
capital e trabalho” (Fröbel, Heinrichs e Kreye, 1981,
lações de propriedade.
p. 14). Nos estudos críticos de mídia e nos estudos
O modo de alocação e distribuição define como
culturais, Miller et al. (2004) tem usado esse concei-
produtos são distribuídos e alocados. Em uma so-
to para explicar a divisão internacional de trabalho
ciedade comunista, cada pessoa consegue aquilo que
cultural (DITC). O conceito de NDIT tem a vanta-
necessita para sobreviver e satisfazer as necessidades

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humanas. Nas sociedades de classes, a distribuição é transformar partes de forças produtivas naturais (que
organizada sob a forma de troca: isso significa que também são parte de forças produtivas objetivas), en-
um produto é trocado por outro. Se você não tem tão surge um produto do trabalho. Um objetivo do
nada para trocar porque não possui nada, então você desenvolvimento do sistema de forças produtivas é
não pode possuir bens e serviços dos outros, exce- aumentar a produtividade do trabalho, isto é, a saí-
to aqueles que não são trocado, mas providos gra- da (quantidade de produtos) que o trabalho gera por
tuitamente. Há diferentes formas de como as trocas unidade de tempo. Marx (1867, p. 431) falou no con-
podem ser organizadas: trocas gerais, valor de troca texto do desenvolvimento das forças produtivas. Ou-
(x mercadoria A = y mercadoria B), troca por valor tro objetivo do desenvolvimento de forças produtivas
máximo de troca e troca por acumulação de capital. pode ser o aprimoramento do autodesenvolvimento
O modo de coerção toma forma de violência física humano, reduzindo o tempo de trabalho necessário e
(seguranças, militares), violência estrutural (merca- trabalho pesado (fadiga).
dos, contrato de trabalho assalariado, proteção legal Em O Capital, Marx (1867) faz uma distinção
da propriedade privada, etc) e violência cultural (ide- tripla entre força do trabalho, o objeto do trabalho
ologia que apresenta a ordem existente como a me- e os instrumentos do trabalho: “Os elementos sim-
lhor ou única ordem possível e tenta diferir as cau- ples do processo de trabalho são (1) atividade inten-
sas de problemas societais por “bodes expiatórios”). cional, (2) o objeto em que o trabalho é realizado e
Numa sociedade livre, nenhum modo de coerção é (3) os instrumentos daquele trabalho” (Marx, 1867,
necessário. p. 284). A discussão de Marx do processo produtivo
A divisão de trabalho define quem conduz quais pode ser apresentada de maneira sistemática, usando
atividades em casa, na economia, na política e na cul- o conceito da dialética do sujeito e objeto de Hegel
tura. Historicamente tem havido uma divisão de gê- (1991) falou da relação dialética do sujeito e objeto:
neros do trabalho, uma divisão entre trabalho mental a existência de um sujeito produtivo é baseada num
e físico, em muitas diferentes funções, conduzidas meio objetivo externo que permite e restringe (por
por especialistas e uma divisão internacional do tra- exemplo, condições) a existência humana. As ativi-
balho por causa da globalização da produção. Marx dades humanas podem transformar os meios exter-
(1867), em contraste, imaginou uma sociedade de nos (social, cultural, econômico, político e natural). 37
generalistas que supera as divisões do trabalho para Como resultado da interação de sujeito e objeto, uma
que a sociedade seja baseada em atividades humanas nova realidade é criada – o resultado dessa interação
universalmente bem acertadas. A alternativa históri- sujeito-objeto de Hegel. A figura 5 mostra a noção de
ca é uma sociedade comunista e um modo de pro- Hegel para sujeito, objeto e sujeito-objeto a partir do
dução em que as relações de classe sejam dissolvidas triângulo dialético.
e a mais-valia de produtos e da propriedade privada Os instrumentos de trabalho podem ser o cérebro
sejam possuídas e controladas comumente. e o corpo humanos, ferramentas mecânicas e siste-
As relações de produção são dialeticamente co- mas complexos de máquinas. Eles também incluem
nectadas aos sistemas de forças produtivas: os su- organizações específicas de espaço-tempo, por exem-
jeitos tem força de trabalho que, no processo de tra- plo, locais de produção que são operados em períodos
balho, interage com os meios de produção (objeto).
Os meios de produção são compostos por objeto de
trabalho (recursos naturais, matérias primas) e ins-
trumentos do trabalho (tecnologia). No processo de
trabalho, humanos transformam o objeto do traba-
lho (natureza, cultura) fazendo uso de sua força de
trabalho com ajuda dos instrumentos do trabalho. O
resultado é um produto do trabalho que é o sujeito-
-objeto hegeliano ou, como diz Marx, um produto no
qual o trabalho passou a estar vinculado ao seu ob-
jeto; o trabalho é objetificado no produto e o objeto
é como resultado transformado em um valor de uso
que serve às necessidades humanas. As forças produ-
tivas são um sistema no qual forças subjetivas huma-
nas fazem uso de forças produtivas técnicas a fim de Figura 5: dialética do sujeito-objeto

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específicos de tempo. O aspecto mais importante do de privada pode ser encontrada na família patriarcal
tempo é o tempo necessário de trabalho que depen- (Marx e Engels, 1845/46). A família é um modo de
de do nível de produtividade. É o tempo necessário produção na qual força de trabalho não é mercado-
de trabalho por ano para garantir a sobrevivência da ria, mas organizada por relacionamentos pessoais e
sociedade. Os objetos e produtos do trabalho podem emocionais que resultam em comprometimento que
ser naturais, industriais e recursos informacionais ou inclui trabalho familiar que é não-remunerado e afe-
combinação deles. As forças produtivas são um siste- ta relações sociais e a reprodução da mente e corpo
ma de produção que criam mais-valia. Há diferentes humanos. Pode-se, portanto, se chamar trabalho re-
modos de organização das forças produtivas como as produtivo.
forças produtivas da agricultura, forças produtivas A força de trabalho do trabalhador assalariado
industriais e forças produtivas informacionais. A ta- tem um preço, seu salário, ao passo que a força de
bela 1 dá uma visão geral disso. trabalho escravo não tem preço – não é uma merca-
A figura 6 mostra dimensões das relações de pro- doria. Entretanto, o escravo por si só tem um preço,
dução e as forças produtivas. que significa que seu corpo todo (incluindo a men-
Escravidão clássica, servidão e trabalho assalaria- te) pode ser vendido como mercadoria, de um dono
do são três formas históricas importantes de relações de escravos para outro, que comanda totalmente seu
de classe que são modos específicos de produção tempo de vida escravo (Marx, 1857/58). O escravo
(Engels, 1884). Marx e Engels argumentam que a na escravatura antiga e no feudalismo é tratado como
propriedade privada e a escravidão têm suas origens uma coisa e tem o status de coisa (Marx, 1857/58).
na família: a primeira forma histórica de proprieda-

38

Tabela 1. Três modos de organização das forças produtivas.

Figura 6: Dimensões das forças produtivas e as relações de produção

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Na seção “Formas que precederam a produção gumenta que o stalinismo e o marxismo vulgar tem
capitalista” (Marx 1857/58, 471-514) dos Grundisse , conceituado a noção de modo de produção baseado
tanto quanto na seção “Feuerbach: oposição das pers- na suposição que um modo específico contém uma
pectivas materialistas e idealistas” da Ideologia Alemã única forma histórica de trabalho e apropriação da
(Marx e Engels 1845/46), Marx discute os seguintes mais-valia e elimina modos anteriores, com a His-
modos de produção: 1) A comunidade tribal basea- tória se desenvolvendo na forma linear de evolução:
da na família patriarcal; 2) a propriedade comum em escravidão → capitalismo → comunismo. Então, por
cidades na antiguidade (Roma, Grécia); 3) Produção exemplo, Althusser e Balibar (1970) discutem que o
feudal e zona rural; 4) Capitalismo. desenvolvimento histórico da sociedade é não-dialé-
A tabela 2 dá uma classificação de modos de pro- tico e envolve transições “de um modo de produção a
dução baseados nas formas dominantes de proprie- outro” (Althusser e Balibar, 1970, p. 307), então, um
dade. modo sucede ao outro. O conceito de História é uma
Mas como os modos de produção estão relacio- das razões pelo qual E.P. Thompson (1978, 131) ca-
nados uns aos outros? Historicamente, onde eles racterizou a abordagem de Althusser como “stalinis-
substituem uns aos outros? Jairus Bonaji (2011) ar- mo no nível da teoria”.

39
“formalismo metafísico-acadêmico” (Banaji, que integra “diversas formas de exploração e manei-
2011, p. 61) stalinista tem sido reproduzido na supo- ras de organização de trabalho no sentido de produ-
sição da teoria liberal de que há um desenvolvimento zir mais-valia” (p. 359).
histórico evolucionário da sociedade agrícola para a Um modo de produção é uma unidade entre for-
sociedade industrial para a sociedade da informação ças produtivas e relações de produção (Marx e En-
em que, cada estágio elimina o anterior (apud Bell gels, 1845/46, p. 91). Se esses modos são baseados
1974; Toffler 1980). Isso mostra que, no domínio da em classes como em suas relações de produção, en-
teoria, alguns liberais de hoje compartilham, em suas tão eles têm contradições específicas que podem,
teorias, elementos do Stalinismo. De acordo com Ba- por meio da luta de classes, resultar em revogação de
naji (2011), o capitalismo frequentemente intensifica um modo de produção e a emergência de um novo.
as relações de produção feudais ou semi-feudais. Em A emergência de um novo modo de produção não
partes da Europa e fora dela, o feudalismo só teria necessariamente abole, em vez disso, revoga, cance-
se desenvolvido como uma “empresa de produção de la velhos modos de produção. Isso significa que his-
mercadorias” (Banaji, 2011, p. 88). No mundo Islâ- tória é para Marx um processo dialético preciso no
mico o capitalismo teria de desenvolvido sem escra- triplo significado de Hegel para o termo Aufhebung:
vidão e feudalismo (Banaji, 2011, p. 6). 1) elevação, 2) eliminação, 3) preservação: Há novas
Banaji segue em oposição a interpretações forma- qualidades da economia; 2) A dominância de um ve-
listas, numa leitura complexa das teorias de Marx em lho modo de produção desaparece; 3) Mas esse velho
que, um modo de produção é “capaz de frequente- modo continua a existir de um novo modo em uma
mente subordinar formas muito anteriores” (Banaji forma específica e relacionado a esse novo modo. A
2011, p. 1), “formas similares de uso do trabalho po- elevação, por exemplo, do capitalismo, entretanto,
dem ser encontradas em modos de produção muito não trouxe um fim ao patriarcado, mas este último
diferentes” (p. 6), “o capitalismo está funcionando continuou a existir de tal forma que uma economia
com múltiplas formas de exploração” (p. 145) e” é doméstica específica surgiu, cumprindo o papel da
uma forma combinada de desenvolvimento” (p. 358) reprodução da moderna força de trabalho. A revoga-

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ção pode ser mais ou menos fundamental. Uma tran- po. No entanto, é um trabalhador industrial em 100%
sição do capitalismo para comunismo requer uma do tempo porque o conteúdo de ambas as atividades
fundamental eliminação do capitalismo. A questão de fabricações são conjuntos industriais de compo-
é, entretanto, se isso é imediatamente possível. Eli- nentes dessas mercadorias. As diferentes formas de
minação e preservação podem tomar lugar em dife- trabalho digital estão conectadas em uma divisão in-
rentes graduações. A revogação também não é uma ternacional de trabalho digital, em que todo trabalho
progressão linear. É sempre possível que relações que necessário para existência, uso e aplicação das mídias
se assemelham a modos anteriores de organização digitais é “desconectado, isolado... carregado lado
sejam criadas. a lado” e solidificado “em uma divisão sistemática”
O capitalismo está no nível das relações de produ- (Marx, 1867, p. 456).
ção organizadas em torno de relações entre donos do Dado um modelo de modo de produção, a ques-
capital de um lado, e trabalho pago/não-pago e de- tão aumenta sobre como se pode melhor analisar as
sempregados do outro. No nível de forças produtivas, condições de trabalho numa companhia específica,
se desenvolveu das industriais para as informacio- indústria ou setor econômico enquanto se conduz
nais. As forças produtivas informacionais não elimi- um processo de trabalho e análise de classes. Quais
nam, mas cancelam (Aufheben) outras forças produ- dimensões do trabalho devem ser levadas em conta
tivas (Fuchs 2014a): para produtos informacionais nessa análise? A próxima seção está voltada para essa
existirem, muita produção física é necessária, o que questão.
inclui produção agrícola, mineração e produção in-
dustrial. A emergência do capitalismo informacional 3. UMA TIPOLOGIA DAS DIMENSÕES
não virtualizou a produção ou a tornou sem impor- DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO
tância ou imaterial, mas está baseada na produção
física (Huws, 1999; Maxwell e Miller, 2012). Enquan- Um começo adequado para pensar um modelo
to o capitalismo é um modo de produção, os termos sistemático das diferentes dimensões de condições de
sociedade agrícola, sociedade industrial e sociedade trabalho é o circuito de acumulação de capital como
40 da informação caracterizam formas específicas de or- Karl Marx descreveu (1867; 1885). De acordo com
ganização e forças produtivas. Marx, a acumulação de capital, em um primeiro es-
A nova divisão internacional do trabalho organiza tágio, requer o investimento de capital para comprar
o processo de trabalho em espaço e tempo de ma- o que é necessário para produzir mercadorias, as for-
neira que componentes específicos da totalidade das ças produtivas: tempo de trabalho dos trabalhadores
mercadorias sejam produzidos em espaços específi- (T ou capital variável) por um lado e, equipamentos
cos na economia global e são remontados de modo de trabalho como máquinas e matérias primas (MoP
que um todo coerente seja vendido como produto. ou capital constante) por outro (Marx, 1885/1992, p.
Desse modo, pode comandar o trabalho no mundo 110). Assim, o dinheiro (D) é usado para comprar
todo durante todo o dia. A abordagem dos autores tanto força de trabalho quanto máquinas e recursos
nesse artigo defende um amplo entendimento de tra- como mercadorias (M). Então, em um segundo está-
balho digital baseado preferencialmente na indústria gio, entra o processo de trabalho e produz (P) uma
do que uma definição de ocupação/emprego com o nova mercadoria (M’) (Marx, 1885, p. 118). Essa
intuito de sublinhar a comunalidade da exploração, nova mercadoria (M) tem mais valor que a soma
o capital como inimigo comum de uma ampla exten- das partes, por exemplo, a mais-valia. A mais-valia
são de trabalhadores e a necessidade de globalizar e precisa ser realizada e transformada em mais dinhei-
lutar em rede a fim de superar a regra do capitalismo. ro (D), vendendo a mercadoria no mercado (Marx,
Alguns dos trabalhadores descritos nesse artigo não 1885/1992, p. 125). O circuito de acumulação de ca-
são explorados pelo capital midiático digital mas, às pital pode então ser descrito com a seguinte formula:
vezes também simultaneamente por outras formas de
capital. É então, uma questão de grau compreender D → M... P... M’ → D (Marx, 1885, p. 110)
em que medida essas formas de trabalho são digitais
ou outras formas de trabalho. Se imaginarmos uma De acordo com Marx, a mais-valia só pode ser
empresa com rotatividade de empregos em que cada gerada devido a qualidades específicas de força de
trabalhador em média monta laptops por metade de trabalho enquanto mercadoria. Marx argumenta que
seu tempo de trabalho e carros pela outra metade do a força de trabalho é a única mercadoria “cujo valor
tempo, ele é um trabalhador digital em 50% do tem- de uso possui a peculiar propriedade de ser fonte de

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valor, cujo consumo atual é por si só, uma objetifica- tradicionais ou nenhuma tecnologia, etc, formam a
ção do trabalho, consequentemente, uma criação de experiência de trabalho e tem grande impacto nos
valor” (Marx, 1867, p. 270). processos e condições de trabalho.
Assim, o trabalho é essencial ao processo de acúmulo • Forças produtivas – trabalho: os sujeitos do
de capital. O modelo na figura 6 toma o processo de processo de trabalho são trabalhadores por si só.
trabalho como seu ponto de partida para identificar Uma dimensão que impacta o trabalho em determi-
diferentes dimensões que formam condições de tra- nado setor é a questão de como a força de trabalho
balho (Sandoval, 2013). A proposta desse modelo é é composta em termos de gênero, comportamento
dar orientações compreensivas que podem ser apli- ético, idade, nível educacional, etc. Outra questão diz
cadas para um estudo sistemático de condições de respeito à saúde e segurança do trabalhador e como
trabalho em diferentes setores (para um estudo sis- isso é afetado pelos meios de produção, pelas rela-
temático sobre a irresponsabilidade corporativa em ções de produção, pelo processo de trabalho e pelas
relação às condições de trabalho em 8 empresas da leis trabalhistas. Fora os impactos externos no traba-
indústria midiática ver Sandoval, 2014). lhador, um fator importante é como os trabalhadores
O modelo mostrado na figura 7 identifica cinco sentem suas próprias condições de trabalho.
áreas que moldam as condições de trabalho em todo • Relações de produção: dentro das relações ca-
o processo de acumulação de capital: meios de pro- pitalistas de produção, os capitalistas compram força
dução, trabalho, relações de produção, o processo de de trabalho como mercadoria. Assim, uma relação
produção e o resultado da produção. Além disso, o entre capital e trabalho é estabelecida. A compra de
modelo inclui o impacto do Estado nas condições de força de trabalho é expressada pelo salário. Os salários
trabalho pela legislação do trabalho: são os meios primários de subsistência para trabalha-
• Forças produtivas – meios de produção: Os dores e a razão pelo qual eles entram numa relação
meios de produção incluem máquinas e equipa- de trabalho assalariado. O nível de salário, portanto,
mentos, por um lado, e recursos que são necessários é um elemento central das condições de trabalho. Os
para produção por outro. A questão de saber se os contratos de trabalho especificam as condições sob
trabalhadores operam grandes máquinas, trabalham as quais o capital e o trabalho entram nessa relação,
em linha de montagem, usam dispositivos móveis incluindo horas de trabalho, salário, regras e respon- 41
como laptops, manuseiam substâncias perigosas, sabilidades, etc. O conteúdo desse contrato é sujeito
usam equipamentos de alta tecnologia, ferramentas a negociações e frequentemente é pressionado pelo

Figura 7: Dimensões das condiçoes de trabalho

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capital e pelo trabalho. A relação entre capital e tra- outro lado, um outro aspecto do processo produtivo
balho é, então, estabelecida pela relação do salário é como ele é controlado e gerido. Diferentes estilos
formalmente declarada pelo contrato de trabalho que de gerenciamento podem se estender desde o estrito
é sujeito a negociações e debates. Essas três dimen- controle do comportamento do trabalhador e o pro-
sões de relação entre capital e trabalho estabelece o cesso de trabalho até altos graus de autonomia, auto-
cenário para o processo de trabalho capitalista. gerenciamento ou gerenciamento participativo, etc.
• Processo de Produção: condições acessíveis de Espaço, tempo, atividade e controle são qualidades
trabalho, além disso, requer olhar para especificida- essenciais do processo produtivo e, portanto, preci-
des do processo produtivo atual. Um primeiro fator sam ser considerados quando estudar as condições
nesse contexto é a localização espacial. Se for ligado de trabalho.
a certo local ou se sua é independente, se o lugar é • Produto: Por todo o processo produtivo, tra-
uma fábrica, um escritório, etc, são questões impor- balhadores colocam seu tempo, esforço e energia
tantes. Um segundo fator está relacionado à dimen- para produzir certo produto. Esse resultado real da
são temporal do trabalho. Questões relevantes dizem produção e como isso retorna ao trabalhador são di-
respeito à quantidade de horas regulares de trabalho, mensões que precisam ser consideradas para a com-
horas extras, ritmo de trabalho, flexibilidade ou rigi- preensão do trabalho em determinado setor.
dez dos horários de trabalho, à relação entre horas de • Finalmente, o Estado tem um impacto sobre
trabalho e horas livres, etc. Finalmente, as condições as condições de trabalho por meio leis trabalhistas
de trabalho são formadas essencialmente por como que regulam salários mínimos, durações máximas de
o processo produtivo é executado. Isso inclui, por trabalho, seguro social, padrões de segurança, etc.
um lado, a questão de quais atividades de trabalho A tabela 3 resume as dimensões das condições de
são realizadas. As atividades podem se estender de trabalho que descrevemos acima.
trabalho intelectual ao trabalho físico, ao de serviço, Dada uma identificação das dimensões das condi-
ao trabalho qualificado e desqualificado, de trabalho ções de trabalho, nós podemos agora trazer essa tipo-
criativo a tarefas monótonas e padronizadas, etc. Por logia junto a aspectos do trabalho digital.
42

Tabela 3: Dimensões das condições de trabalho

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minérios. Esses minérios entram no próximo proces-
4. AS CONDIÇÕES DO TRABALHO DIGITAL so produtivo como objetos nos quais se baseiam os
processadores, em processos produtivos físicos que
Na seção 1 nós introduzimos um modelo de tra- criam componentes das TICs. Esses componentes
balho a partir do materialismo cultural (figura 1) que entram no próximo ciclo de produção como objetos:
distingue trabalho cultural físico do trabalho infor- montadores constroem tecnologias de mídias digitais
macional. A figura 7 é uma aplicação desse modelo e tomam os componentes das TICs como entradas.
no domínio do trabalho digital: o trabalho digital é Os processadores e montadores são trabalhadores in-
uma forma especial de trabalho cultural que resulta dustriais envolvidos na produção digital. O resultado
na produção e uso das mídias digitais. Isso diferencia desse trabalho são tecnologias de mídias digitais que
três formas de trabalho digital que representa dife- entram em várias formas de trabalho informacional
rentes modos da organização das forças produtivas: como ferramentas da produção, distribuição, circu-
trabalho agrícola digital, trabalho industrial digital e lação, prosumo e consumo de diversos tipos de in-
trabalho digital informacional. Eles são articulações formação.
de três formas de organização das forças produtivas O trabalho digital não é um termo que apenas
que identificamos na tabela 1: forças produtivas agrí- descreve a produção de conteúdo digital. Nós prefe-
cola, industrial e informacional. O trabalho digital rimos usar o termo num sentido mais completo do
agrícola e industrial são formas de trabalho físico- modo de produção digital que contém uma rede de
-cultural no contexto das mídias digitais. O trabalho formas de trabalho agrícola, industrial e informacio-
digital informacional é uma expressão de trabalho da nal que permite a existência e uso das mídias digitais.
informação no reino da produção de mídias digitais. Os sujeitos envolvidos no modo de produção digital
A figura 8 mostra um modelo do principal pro- (S) – mineiros, processadores, montadores trabalha-
cesso produtivo que está envolvido no trabalho di- dores da informação e trabalhadores relacionados –
gital. Cada passo/emprego do processo envolve su- suportam específicas relações de produção que são
jeitos humanos (S) usando tecnologias/instrumentos ou relações de classe ou não. Então, o que designamos
do trabalho (T) em objetos do trabalho (O) e, então, como “S” na figura 7 é na verdade, uma relação S1-S2
surge um produto. A base do trabalho digital é o ci- entre diferentes sujeitos ou grupo de sujeitos. Na so- 43
clo agrícola de emprego no qual mineiros extraem ciedade capitalista contemporânea, a maioria dessas

Figura 8: A complexa rede de ciclos do trabalho digital

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relações de produção digitais tendem a ser moldadas forças produtivas (Fuchs, 2014a). Alguns exemplos
por trabalho assalariado, trabalho escravo, trabalho são trabalhadores escravos africanos que retiram mi-
não-pago, trabalho precário, e trabalho freelance. nérios que são usados para a produção de compo-
Na seção 2, introduzimos um modelo de processo nentes de mídias digitais, montadores de máquinas
de trabalho em geral (A seção 3 apresenta um mode- das TICs sob condições perigosas e Tayloristas em
lo para a análise das condições de trabalho no capi- lugares tóxicos, engenheiros de software bem pagos
talismo. Como estão conectados esses dois modelos? e altamente estressados – profissionais do conheci-
O primeiro é mais geral e apresenta tipologias para mento, freelancers precários de mídias digitais, tra-
todos os modos de produção (patriarcado, escravi- balhadores de Call Centers taylorizados, prosumido-
dão, feudalismo, capitalismo e feudalismo) e forças res de mídias sociais não-pagos criando mercadorias
produtivas (agricultura, indústria, informação). O de dados pessoais para corporações de mídias sociais
segundo modelo mostrado na figura 7 e tabela 3 mos- etc (Fuchs, 2014a). Essas condições de trabalho refle-
tra dimensões do trabalho dentro do modo de pro- tem vários modos de produção como escravidão, pa-
dução capitalista. A tabela 4 mostra como elementos triarcado e capitalismo, várias formas de organização
no modelo 1 (figura 4) corresponde a elementos no do modo de produção capitalista (trabalho fordista/
modo 2 (figura 7, tabela 3). taylorista, pós-fordismo, etc), diferentes formas de
Nós desenvolvemos uma análise sistemática do organização das forças produtivas e o trabalho nelas
trabalho digital de uma forma que ajuda a fazer per- conduzido (agrícola, industrial, informacional).
guntas sistemáticas sobre os processos de trabalho Jairus Banaji (2011) enfatiza que a teoria do modo de
envolvidos. Ela pode ser aplicada ao trabalho digi- produção de Marx mostra que
tal agrícola, industrial, informacional e combinações
dessas formas de trabalho. A tabela 5 apresenta o fer- as relações capitalistas de produção são compatíveis
com uma ampla variedade de formas de trabalho, da
ramental de análise do trabalho digital que é baseado escravidão de bens imóveis, parceria ou a dominação
no modelo mais geral apresentado na tabela 3. de mercados de trabalho casuais, dos trabalhos assala-
Estudos de caso e análises do trabalho mostra que riados peculiares mais coagidos a regimes coloniais e,
o trabalho digital é uma rede global de várias formas claro, trabalho assalariado ‘gratuito’ (Banaji, 2011, p.
44 359).
de trabalho que representam vários modos de pro-
dução interligados e vários níveis de organização das

Tabela 4: Dimensões das condições de trabalho

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Forças produtivas Máquinas e equipamentos Quais tecnologias ou combinações delas a) Máquinas não digitais
– meios de produção são usadas durante os processos produ- b) Máquinas digitais
tivos agrícola, industrial e informacio- c) Cérebro humano
nal que criam mídia digital e conteúdos? d) Mãos humanas
Recursos Quais recursos ou combinações delas a) Recursos físicos: recursos naturais
são usadas durante os processos produ- b) Informação/dados digitais e midia-
tivos agrícola, industrial e informacio- tizados
nal que criam mídia digital e conteúdos? c) Ideias humanas
d) Recursos físicos: recursos industriais
Forças produtivas - Trabalho Características da força de trabalho Quais são as importantes características a) Classe
da força de trabalho do trabalho digital na b) Gênero
agricultura, indústria e informação (Exem- c) Idade
plo: idade, gênero, ética, etc)? d) Etnicidade
e) Habilidades
f) Educação, etc
Saúde física e mental Como os meios de produção empregados a) Saúde física
e o processo de trabalho impactam men- b) Saúde mental
tal e fisicamente nos trabalhadores da
agricultura, indústria e informação?
Experiências de trabalho Como os trabalhadores agrícolas, indus- Saúde física e mental
triais e da informação sentem suas condi-
ções de trabalho
Relações de produção Contratos de trabalho Há contratos de trabalho ou não No caso a) Sem contrato
onde há contratos de trabalho: Quais tipos b) Contrato escrito/oral
de contrato os trabalhadores digitais rece- c) Contrato de trabalho de meio perío-
bem, o que eles regulam? do ou integral
d) Contrato de trabalho permanente ou
temporário
e) Contrato de emprego ou serviço
f) Freelancer ou empregado, etc
Salários e benefícios Há salários e benefícios específicos para a) Nível salarial
trabalhadores digitais ou não? No caso b) Benefícios de saúde inclusos ou não
onde há salários e benefícios: Quão alto c) Seguro aposentadoria incluso ou não
ou baixo são os níveis salariais e o que são (estado privado empresarial misto)
os outros benefícios para eles? d) Seguro desemprego incluso ou não
e) Regalias monetárias ou não monetá-
rias inclusas ou não
Existe a possibilidade de trabalhadoresa) Sindicatos amarelos
Lutas trabalhistas
b) Associações não trabalhistas
digitais de associações (liberdade ou asso- 45
c) Rede social informal
ciação)? Se sim, essas associações existem
e o que fazem? Como os trabalhadores d) Sindicatos reconhecidos pelo Estado
e) Sindicatos autônomos e movimentos
digitais se organizam e participam nas ne-
sociais
gociações com o capital e qual o papel dos
que protestam? f) Nível de companhias auto gerenciá-
veis, etc
Processo produtivo Espaços de trabalho Em quais espaços ou combinações de es- a) Natural (Ex: minas, parques) ou es-
paços o processo produtivo acontece? paços construídos (escritórios, fábricas,
cafeterias, casas, etc)
b) Espaço privado, público ou semi-pú-
blico
c) Espaços digitais ou não digitais
d) Limites claros, fluídos ou não exis-
tentes estre espaços de trabalho e ou-
tros espaços de vivência humana, etc.
Horários de trabalho Quantas horas de trabalho são comuns a) Horários de trabalho regulados ou
em certo setor, como ele é extrapolado enão regulados
como é a relação entre trabalho e tempo b) Horários de trabalho regulados ou
livre? não regulados contratualmente
c) Quantidade de horas trabalhadas
média por semana/mês/ano
d) Quantidade média de horas extras
pagas e não pagas por semana, mês e
ano
e) Limites claros, fluídos ou não exis-
tentes estre horário de trabalho e tem-
po livre etc.
Atividade do trabalho Que tipo de atividade mental e física a) Trabalho físico: agricultura
ou combinação delas os trabalhadores b) Trabalho físico: indústria
estão praticando? c) Trabalho da informação

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Mecanismo de controle Existem formas de controle que benefi- a) Sem mecanismo de controle
ciam outros às custas dos trabalhadores? b) Auto controle ou controle por ter-
Que tipos de mecanismos estão contro- ceiros
lando o comportamento dos trabalha- c) Controle social ou tecnológico
dores? Existem formas de controle que d) Controle social pelos pares
controlam os controladores? e) Controle social por supervisores e
gerentes
f) Controle tecnológico digital ou não
digital
g) Vigilância da força de trabalho, sa-
ídas, atividades, propriedade, consu-
midores, prosumidores, competidores
h) Controles inerentes ás tecnologias
de produção que são externas (Ex: tec-
nologias de controle separadas)
i) Formas de controle, contagem
(guardas, inspetores)
Resultados da produção Produto do trabalho Quais tipos de produtos ou serviços o tra-a) Produtos digitais ou não digitais
balho digital produz? b) Produtos online ou off-line
c) Produtos físicos (agrícolas, indus-
triais) e/ou produtos Informacionais e
sociais (menos serviços) etc
O Estado Legislação trabalhista Há leis governamentais que regulam o tra- a) Regulação e extrapolação do traba-
balho? Em quais regulamentações relacio- lho, contratos de serviço, solução de
nadas a salário mínimo, horas máximas disputas legais
de trabalho, segurança, seguro social, etc b) Legislação salarial: proteções sala-
estão estabelecidas e como são forçadas? riais, regulação do salário mínimo, etc
c) Legislação de horas de trabalho: ho-
rários de trabalho padrão, horas máxi-
mas de trabalho, regulações de horas
extras, descanso anual, período sabáti-
co, horas de treinamento no emprego,
e educação posterior, trabalho flexível,
rescisão empregatícia (proteção de de-
missão injusta, descontos redundantes,
etc), etc
d) Legislação de saúde e segurança:
46 regulação do espaço de trabalho, equi-
pamentos do trabalho e regulação dos
recursos, substâncias perigosas, equi-
pamento de proteção, etc
e) Legislação de benefícios do seguro
social: abandono parental, desemprego,
pensão, assistência médica, etc
f) Representação dos empregados e li-
berdade de associação
g) Taxação: taxas corporativas, imposto
de renda, salariais, etc

Tabela 5: Ferramenta de análise do trabalho digital

O conceito de Banaji do modo de produção im- Contudo, elas são criadas por desenvolvimento do
porta para entendimento da economia das mídias di- trabalho físico, agrícola e científico e são usados e
gitais porque, nessa economia, uma variedade de mo- aplicados como ferramentas de cognição, comunica-
dos de produção e organizações das forças produtivas ção e colaboração e ,portanto, tem dimensões cultu-
são articuladas incluindo escravidão na extração de rais cruciais do uso do trabalho. (Fuchs, 2014b).
minérios, formas militares de taylorismo industrial O mais alto nível do trabalho informacional é uma
em montagem de máquinas, uma organização infor- importante dimensão do trabalho digital. Ele contém
mal das forças produtivas do capitalismo que articu- aqueles trabalhadores digitais que criam conteúdos
lam uma aristocracia do trabalho do conhecimento digitais. Eles são trabalhadores de conteúdo/infor-
muito bem paga, trabalhadores de serviços precários, mação. A tabela 6 apresenta uma tipologia classifi-
assim como a exploração imperialista de trabalhado- cando trabalho digital da informação. A tabela iden-
res do conhecimento em países em desenvolvimento; tifica 8 dimensões específicas de trabalho digital da
reciclagem industrial e gerenciamento de lixo eletrô- informação. Essas oito dimensões são elementos do
nico tanto quanto trabalho com lixo eletrônico físico, processo de acúmulo de capital na indústria de con-
perigoso e informal (Fuchs, 2014a). teúdos digitais:
As mídias digitais são tecnologias de informação. 1) O sujeito se empenhando no trabalho

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2) Um capitalista buscando lucros
3) Um relacionamento econômico contratual
4) Tecnologias como instrumentos/meios de produ-
ção
5) Recursos como meios/objetos de produção
6) A saída da produção (produto)
7) A distribuição de produtos Tabela 6: Uma tipologia da digitalização do trabalho informacional
8) O consumo dos produtos

Estratégia de busca Empregador, Relações Tecnologia Objetos Produtos Distribuição Consumo


por emprego da contratante de
informação produção
1 online 1 online 1 online 1 cérebro 1 digital 1 digital 1 digital 1 digital
2 off-line 2 off-line 2 off-line 2 cérebro 2 não digitais 2 não digitais 2 off-line 2 não digitais
+
tecnologias digitais
3 mistas 3 cérebro 3 mistas 3 mistas
+
tecnologias
não-digitais
4 cérebro
+
tecnologias
digitais
+
tecnologias
não-digitais

O trabalho de informação digital pode tomar di- O número de formas lógicas de trabalho da informa-
ferentes formas. Uma primeira dimensão importante ção digital pode ser calculado multiplicando vários
é como trabalhadores da informação encontram tra- coeficientes binomiais:
balhos, projetos ou emprego. O trabalhador da in- 47
formação pode ter um perfil online/site/blog etc ou 2 x 2 x 3 x 4 x 3 x 3 x 2 x 2 = 1728
não para encontrar trabalho. Também o empregador
pode ter seu perfil online/site/blog etc ou não. É cla- Então, de um ponto de vista puramente lógico, há
ro que, provavelmente, esses trabalhadores e os em- 1728 diferentes formas possíveis de trabalho infor-
pregadores que se apresentam online e procuram por macional digital. Quais deles ocorrem de verdade ou
relações econômicas online também o fazem off-line. são logicamente praticáveis inclusos na categoria de
Eles então caem na categoria “1 online”. A diferença trabalho da informação digital é uma questão empí-
aqui é desenhar uma linha de separação entre aqueles rica e teórica. Essas 1728 possibilidades representam
que usam a internet para estabelecer relações econô- as forças produtivas do trabalho informacional digi-
micas e aqueles que não. A relação entre os dois pode tal que estão embutidas e interagem com específicas
ser estabelecida e mantida primeiramente online (por relações de produção.
exemplo, via plataformas como Amazon Mechanical É uma questão teórica se todas essas formas de
Turk, oDesk ou PeoplePerHour), off-line ou de ma- trabalho podem ser consideradas “trabalho digital”
neira mista. As tecnologias usadas para produção ou se só aquelas que satisfazem um número mínimo
sempre envolvem o cérebro porque estamos falando de características digitais deveriam ser consideradas
de trabalho informacional. Mas também ferramentas como trabalho digital. Ou deveriam todas as ativi-
digitais e não digitais podem ser usadas como meios dades caracterizadas pela tipologia que contém pelo
de produção. Os objetos nos quais o trabalho é rea- menos uma dimensão que é digital ser considerada
lizado podem ser inteiramente digitais, não- digitais como formas de trabalho digital? A tipologia mostra,
ou ambos. Os produtos criados podem ser digitais, em qualquer caso, que é possível observar e, com essa
não-digitais ou uma mistura dos dois. Sua distribui- tipologia, caracterizar a digitalização ou informatiza-
ção e seu consumo se estabelecem online ou off-line. ção de várias dimensões do trabalho como a maneira
Isso significa que há 8 dimensões de trabalho infor- que as pessoas procuram trabalho e a busca por força
macional digital que podem ter várias características. de trabalho dos empregados pelos empregadores, as

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relações de produção, os meios tecnológicos de pro- tal faz uso de seis posições simbólicas: cada uma des-
dução, os recursos utilizados, os produtos criados, as creve a dimensão do trabalho da informação digital
formas de distribuição e as formas de consumo. de acordo com a tabela 6. Cada expressão da dimen-
Rudi Schmiede (1996) usa o termo informatização são é definida de acordo com os códigos na tabela 6.
do trabalho para descrever como as tecnologias da A tipologia na tabela 6 descreve várias dimensões da
informação moldam o processo de trabalho. Ele não digitalização ou informatização em rede do trabalho.
delimita o termo informatização do trabalho, mas É uma questão teórica saber quais dessas formas de
menciona outras tecnologias da informação como o trabalho deveriam ser chamadas de trabalho infor-
serviço postal, o telégrafo, a escrituração, o livro con- macional digital e quais não.
tábil, os sistemas de cartão de arquivos (Schmiede,
1996). A digitalização do trabalho é uma forma espe- 5. CONCLUSÃO
cífica de informatização do trabalho: tecnologias de
mídias digitais moldam vários aspectos de diferentes Nesse artigo, nós introduzimos uma abordagem
formas de trabalho. Schmiede (1996) diz que o fato materialista-cultural para teorização do trabalho di-
de as tecnologias de informáticas terem possibilita- gital. Muitas abordagens são idealistas, em que eles
do as redes de informação possibilitou uma forma definem conceitos como trabalho digital, trabalho
de socialização abstrata (Vergesellschaftung) no capi- virtual, trabalho online, cibertrabalho, trabalho ima-
talismo: todas as formas de trabalho poderiam, em terial, trabalho do conhecimento, trabalho criativo,
princípio, ser moldadas e influenciadas pela com- trabalho cultural, trabalho comunicacional, traba-
putação em rede de modo que “a informatização do lho informacional, habilidade digital, serviço, pro-
trabalho societal abre acesso para a quantificação de sumo, trabalho de consumo, trabalho de audiência,
valor e valorização do trabalho de cada sujeito que é playbour, etc, apenas como externalização das ideias
integrado num princípio do contexto de informação humanas que são objetificadas em conteúdos e, des-
global” (Schmiede 1996, p. 125). A tipologia na ta- se modo, negligenciam que esse trabalho é baseado
bela 6 descreve várias dimensões da digitalização ou e somente possível porque há uma divisão global do
48 informatização em rede do trabalho. É uma questão trabalho em que muitas e diferentes formas de traba-
teórica compreender quais dessas formas de trabalho lho são conduzidas sob específicos modos de produ-
deveriam ser chamadas de trabalho informacional ção. Nós usamos a abordagem de Raymond Williams
digital e quais não deveriam. em relação ao materialismo cultural para argumentar
Permita-nos considerar um exemplo: uma blo- que deveríamos superar o idealismo digital e analisar
gueira que gera postagens para um site de um jornal o trabalho digital baseado no cenário de um materia-
e trabalha de casa. Ela conduz seu trabalho princi- lismo digital.
palmente online, isto é, ela posta no blog na internet Nós introduzimos conceitos específicos para
e, a presença de seu empregador para ela está no site uma teoria materialista-digital do trabalho digital:
do jornal. A comunicação entre a blogueira e o editor trabalho cultural, trabalho físico-cultural, trabalho
online do jornal se estabelece online, mas de tempos informacional, modos de produção, forças produ-
em tempos, há encontros reais para discutir a estra- tivas, relações de produção, trabalho digital, traba-
tégia online do jornal. Então, o relacionamento pro- lho físico-digital (trabalho agrícola digital, trabalho
dutivo tem uma característica mista. A blogueira usa industrial digital), trabalho informacional digital.
seu cérebro e tecnologias digitais como um notebook Mais adiante, sugerimos uma análise da ferramenta
conectado à internet e uma plataforma de blog, então de análise de trabalho digital que diferencia elemen-
as tecnologias utilizadas são o cérebro humano e tec- tos do trabalho digital que processa e pode ser usado
nologias digitais. Os objetos de trabalho são a expe- como cenário para uma análise empírica concreta de
riência, opiniões e pensamentos da blogueira (infor- formas específicas de trabalho digital. A realização
mação não-digital) e outros documentos digitais em de tais análises, muitas vezes, enfrenta o problema
que ela se liga (digital), então, os objetos do trabalho de saber quais são os elementos de análise. O nosso
são mistos. O produto é um texto digital que é distri- argumento vai na direção de evitar análises particu-
buído e consumido online em formato digital. Usan- lares que focam somente em elementos simples de
do a tipologia na tabela 4, nós podemos caracterizar processos produtivos simples e no sentido de condu-
o trabalho da blogueira como um exemplo de traba- zir análises holísticas que focam na totalidade de ele-
lho informacional digital versão número 11323111. mentos e redes que determinam e moldam o trabalho
Essa caracterização do trabalho da informação digi- digital. A ferramenta permite analisar a totalidade de

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elementos de elementos dos processos de trabalho ALTHUSSER, Louis; BALLIBAR, Étienne.. Reading Capi-
digital. A análise do trabalho digital deveria também tal. London: NLB, 1970
focar numa específica forma de trabalho digital que ANDREJEVIC, Mark. Exploitation in the Data Mine. In:
é analisada, conduzida e articulada com outras for- FUCHS, Christian et ali. Internet and Surveillance. The
Challenges of Web 2.0 and Social Media, edited by New
mas de trabalho digital que expressam certas formas
York: Routledge, 2012, p. 71-88.
organizacionais das forças produtivas e relações de
ARENDT, Hannah. The Human Condition. Chicago: Uni-
produção. versity of Chicago Press, 1958.
O mundo das mídias digitais é formado por uma ARVIDSSON, Adam; COLLEONI, Eleanor. Value in In-
complexa articulação global de vários modos de pro- formational Capitalism and on the Internet. The Informa-
dução que, juntos constituem o modo capitalista de tion Society 28 (3): 135-150, 2012.
criar e usar mídias digitais. As ferramentas digitais BANAJI, Jairus. Theory as History. Essays on Modes of
que são usadas para escrever, ler, comunicar, enviar, Production and Exploitation. Chicago: Haymarket Books,
buscar, colaborar, conversar, fazer amizade ou curtir, 2011.
estão embutidas num mundo de exploração. A maio- BELL, Daniel. The Coming of Post-Industrial Society. Lon-
ria de nós ainda não pode e não quer imaginar um don: Heinemann, 1974
BOLTANSKI, Luc; HONNETH, Axel. Soziologie der Kri-
mundo sem mídias digitais. Então, a alternativa não
tik oder Kritische Theorie? In: JAEGGI, Rahel; WESCHE,
está no ludismo digital, mas na prática política.
Tilo (org.). Was ist Kritik?. Frankfurt am Main: Suhrkamp,
A análise do trabalho digital pode apenas interpretar 2009., p. 81-114.
o mundo das mídias digitais; o ponto é mudá-lo. A CAVES, Richard E. Creative Industries. Cambridge: Har-
mudança só pode ser boa se for informada. A teo- vard University Press, 2000.
ria crítica pode informar as lutas atuais e potenciais CUNNINGHAM, Stuart. Creative Enterprises. In:
para um mundo melhor. As realidades cotidianas de HARTLEY, John (org.). Creative Industries. Malden: Bla-
trabalho de diferentes pessoas e em diferentes par- ckwell, 2005, p. 282-298.
tes do mundo parecem tão heterogêneas, diferentes D’MELLO, Marisa; SAHAY, Sundeep. “I am a Kind of No-
e não-conectadas que é frequentemente difícil ver mad Where I Have to Go Places and Places” . . . Unders-
o que elas têm em comum. A teoria e a análise do tanding Mobility, Place and Identity in Global Software
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