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IGREJA BATISTA NACIONAL DA GRAÇA

AV. PIO XII QD 07 LT 06 - CENTRO - IPORÁ-GO

ESTUDOS EM EFÉSIOS

NOME _____________________________
04/03/2020-1

CARTA AOS EFÉSIOS

Introdução
A carta aos Efésios é 10º livro do Novo Testamento. Nos escritos paulinos está na seguinte posição:
Grupo 1 - I e II Tessalonicenses - escritas de Corinto entre 50-52 d.C.
Grupo 2 - Gálatas, 1ª e 2ª aos Coríntios e aos Romanos - escritas durante a terceira viagem
missionária entre os anos 55-58 d. C.
Grupo 3 - Efésios, Colossenses, Filemom e Filipenses - escritas de Roma, conhecidas como Cartas
da Prisão, entre os anos 60-63 d. C.
Grupo 4 - 1Timóteo, Tito e 2Timóteo - escritas possivelmente da Macedônia (I Tm e Tito) e de
Roma (2 Tm) são conhecidas como epístolas pastorais, entre os anos 64-67 d. C.

Efésios é uma das epístolas mais lidas e estudadas do NT. Grandes homens foram fortemente
impactados por Efésios ao longo da história. João Calvino considerava Efésios seu livro favorito da Bíblia;
John Knox pediu que os sermões de Calvino, em Efésios, fossem lidos para ele em seu leito de morte.
Efésios define a posição do salvo pela graça, apresentando implicações práticas à vida cristã.É consenso
entre comentaristas e pesquisadores que a carta se apresenta em duas partes - uma teórica (1-3) e outra
prática (4-6).

1- Frases ditas sobre Efésios:


a) “a composição mais divina do homem”. Samuel Coleridge
b) “a expressão mais sublime e mais majestosa do evangelho”. Martyn Lloyd-Jones
c) “Efésios une de forma equilibrada, doutrina e vida; teologia e ética”. Hernandes Dias Lopes
d) “é o Evangelho da igreja”. John Stott
e) “a essência destilada da religião cristã”, e “o compêndio mais autoritário e consumado da fé
cristã”. William Hendriksen
f) “Efésios é o banco espiritual do crente, onde ele fica sabendo de todos os privilégios que tem em
Cristo Jesus; mas, também, é onde ele fica sabendo os deveres decorrentes destes privilégios”. John
MacArthur
Aos Efésios tem 6 capítulos e 155 versículos, e pode ser lida em 19 minutos em ritmo cadenciado.
Entretanto seu conteúdo é por demais denso e profundo. O comentário de Martyn Lloyd-Jones sobre Efésios
tem 8 volumes e 3.014 páginas.Os 48 sermões de Calvino sobre aos Efésios somam 705 páginas. O puritano
William Gurnall, em “O cristão de armadura completa”, leva quase 1.200 páginas para explicar Efésios 6:
10-20.
A carta apresenta um problema em 3 manuscritos mais antigos por não conter a expressão “em
Éfeso” no primeiro versículo. Assim, muitos estudiosos acreditam que “aos Efésios” era uma carta
destinada à distribuição entre várias igrejas no oeste da Ásia Menor, com Éfeso a principal cidade e igreja.
A similaridade do conteúdo desta carta com o da Carta aos Colossenses é tanta que e se contam mais de 55
versículos idênticos e da carta aos Colossenses nos vem uma informação importante: “E, uma vez lida esta
epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a
igualmente perante vós” (4.16), pode ser então que a carta que temos destinada “aos Efésios”, seja na verdade
a carta aos laodicenses. Entretanto, a dificuldade de apontar os destinatários, não tira a importância e a
centralidade desta carta na vida cristã.

2-Alguns assuntos presentes nesta carta:


a) As incomparáveis bênçãos que recebemos porque o Pai nos escolheu (1: 4-6);
b) Contraste sobre o que éramos antes de encontrarmos Cristo, morto em nossos pecados, com o
que Ele fez por nós por Sua graça (2: 1-10);
c) Deus em Seu soberano, eterno propósito de juntar todas as coisas em Cristo (1: 9-11; 3:11).
d) A rica salvação que Ele graciosamente nos concedeu, apesar de nossos pecados (1: 3-23; 2: 1-
22).
Nesse sentido, a palavra “riqueza” ocorre cinco vezes; "graça" ocorre 12 vezes; "glória" ocorre oito
vezes; "plenitude", "preenchido" ou "preenchimentos" ocorrem seis vezes; e a frase "em Cristo" ocorre 15
vezes.
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e) Como a graça da salvação de Deus e as profundezas do que isso significa são incompreensíveis
para a mente humana sem ajuda, duas vezes Paulo ora para que Deus dê entendimento sobrenatural a essas
verdades gloriosas (1:15-23; 3:14-21).
f) o papel do Espírito Santo na salvação e na vida diária do cristão. Recebemos o selo do Espírito
como penhor de nossa salvação (1:13-14; 4:30). Temos acesso em um Espírito ao Pai (2:18). Estamos sendo
construídos em uma habitação de Deus no Espírito (2:22). O Espírito agora revelou o mistério de Cristo
aos apóstolos e profetas (3:5). O Espírito nos fortalece com poder no homem interior (3:16). Devemos
manter a unidade do único Espírito (4:3,4). Devemos tomar cuidado para não entristecer o Espírito Santo
(4:30), mas para sermos cheios do Espírito (5:18), para manusear bem a espada do Espírito (6:17) e para
orar o tempo todo no Espírito (6:20).
g) A base de todos esses temas é a centralidade e supremacia do Senhor Jesus Cristo. Deus propôs
resumir todas as coisas no céu e na terra em Cristo (1:10). Assim, devemos conhecê-lo e seu poder (1:17,
19). Deus O ressuscitou dentre os mortos e O colocou à sua direita, muito acima de todos os outros poderes,
não apenas nesta era, mas também na era futura (1:21-23). Tudo no trato de Deus conosco centra-se na
pessoa e obra de Jesus Cristo e em nossa unidade orgânica de estar "Nele".

Um comentário de Lloyd-Jones sobre o conteúdo de Efésios


“Permitam-me ressaltar também que esta carta não foi destinada a alguns cristãos incomuns e
excepcionais, não é uma carta dirigidaa algum grande erudito ou teólogo, não é uma carta dirigida
aprofessores, não é uma carta dirigida a eruditos especializados noestudo das Escrituras. Não é uma carta
para especialistas, porémpara membros de igreja comuns. Esta é, sob todos os pontos devista, uma
observação muito importante, e pela seguinte razão, quetudo o que o apóstolo diz aqui acerca dos cristãos
e membros dasigrejas deve, portanto, ser verdade a nosso respeito”. Muitos deles eram escravos. A maioria
deles eram gentios que antes eram idólatras pagãos sem nenhum conhecimento do Deus vivo e verdadeiro.

Conteúdo

Ef 1.1-2 - saudação
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em
Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Primeiro, há Paulo
O autor desta carta. Sua descrição de si mesmo nos diz algumas coisas sobre quem ele era e como
ele veio a ser assim. Ele não usa uma série de títulos e nomes tão comuns em nossos dias, onde as pessoas
gostam exibir seus D’s, seus PH’s, e outros tantos...Ele era apóstolo de Cristo Jesus.

Significava que pertencia a Cristo. Sua vida não era sua própria para dispor dela a seu gosto: era
possessão de Jesus Cristo e devia vivê-la de acordo com o que Cristo exigia. Paulo é apóstolo de Cristo não
por inspiração própria, ou por usurpação, nem mesmo por qualquer indicação dohomem, mas por vontade
de Deus.

Quando lemos a narrativa de sua conversão, precisamos entender que Paulo não estava buscando
uma nova fé, nova religião (Atos 8: 3; 9: 1), ele estava feliz no judaísmo, no farisaísmo (Gl 1:15-16).Em
outras palavras, Paulo não teve nada a ver com sua dramática conversão e sua nomeação como apóstolo.
Pelo contrário, tudo aconteceu pela vontade soberana de Deus. Paulo estava se opondo ferozmente a Deus
no exato momento em que Deus literalmente o deteve, cegou-o fisicamente, mas abriu os olhos
espiritualmente para ver o Salvador ressuscitado. Como apóstolo, Paulo foi designado e enviado por Deus
para pregar o evangelho, especialmente aos gentios, a quem ele anteriormente desprezava com paixão.

Embora talvez nenhum de nós tenha tido uma conversão tão dramática quanto a de Paulo, se
conhecemos a Cristo como Salvador, sabemos que não foi por nossa causa. Estávamos espiritualmente
mortos em nossos pecados (Ef. 2:1), vivendo em futilidade, obscurecidos em nosso entendimento, excluídos
da vida de Deus por causa de nossa ignorância e dureza de coração, entregues à sensualidade e impureza
com ganância (4:17-19).
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Em segundo lugar temos os destinatários da carta


Que de antemão são apresentados como “santos” e ele não chama um grupo, uma minoria
espiritualmente mais qualificada de santos, não, eles - a igreja toda são santos, no sentido de serem
separados por Deus. Ao contrário do uso popular, “santos” não é um termo que descreve crentes
extraordinários, que se destacam acima de todos nós. Fala da separação que sofremos e da vocação
implantada em nós. Assim, somos separados deste mundo mau e separados para Deus para Seus santos
propósitos. - I Pd 2.9,10: Hb 10.10,14

Também são chamados de “fiéis em Cristo Jesus”. Pode significar que eles são confiáveis ou
obedientes, mas aqui provavelmente tem o significado de "crentes". Ninguém é salvo além de acreditar
pessoalmente em o Senhor Jesus Cristo. Ele é o objeto de nossa fé e, portanto, devemos entender algo de
quem Ele é e o que Ele fez quando morreu na cruz.

Embora a fé salvadora seja um presente de Deus (Ef 2:8-9; Fp 1:29), é ao mesmo tempo algo que
devemos exercitar. Quando Deus abre nossos olhos cegos para ver nossa própria condição de culpa e
também a beleza e a glória da pessoa de Jesus Cristo e Seu sacrifício na cruz, paramos de nossos esforços
para salvar a nós mesmos. Nós nos lançamos totalmente em Cristo. Deus nos coloca "em Cristo Jesus",
para que tudo o que é verdadeiro dele se torne verdadeiro para nós. 1 Co 1:30-31

A descrição que Paulo dá dos seus leitores, portanto, é compreensível. São santos porque pertencem
a Deus; são fiéis porque confiaram em Cristo; e têm dois lares, porque residem igualmente em Cristo e em
Éfeso.

De fato, todos os cristãos são santos e são fiéis, e vivem tanto em Cristo quanto no mundo secular,
ou seja, nos lugares celestiais e na terra. Muitos dos nossos problemas espirituais surgem do nosso
esquecimento de que somos cidadãos de dois reinos. Nossa tendência é ou seguir a Cristo e retirar-nos do
mundo, ou ficar preocupados com o mundo e esquecer de que também estamos em Cristo.

Terceiro, há a saudação
“Não há duas palavras mais importantes em toda a nossa fé do que 'graça' e 'paz'. No entanto, quão
levemente tendemos a deixá-los de fora da língua sem parar para considerar o que eles significam. Estes
dois substantivos são especialmente apropriados no começo de Efésios: “graça” indica a iniciativa
salvadora e gratuita de Deus, e “paz” indica o nível de vida em que passamos a viver desde que ele
reconciliou os pecadores consigo mesmo e uns com os outros na sua nova comunidade.

“Graça” e “paz”, portanto, são palavras-chaves de Efésios. Em 6:15 as boas novas são chamadas de
o evangelho da paz. Em 2:14 está escrito que o próprio Jesus Cristo é a nossa paz, porque fe z a paz pela
sua cruz (v. 15) e depois veio e evangelizou paz aos judeus e aos gentios (v. 17). Logo, seu povo deve
esforçar-se diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (4:3). A “graça”, do outro
lado, indica como e por que Deus tomou a iniciativa da reconciliação. A “graça”, pois, é sua misericórdia
livre e não merecida. É “pela graça” que somos salvos, aliás pela “suprema riqueza da sua graça” (2:5,7,8),
e é pela mesma graça que recebemos dons para o serviço (4:7; cf. 3:2,7). Por isso, se desejamos um resumo
sucinto das boas novas que a carta anuncia, não poderíamos achar nada melhor do que esta: “paz pela
graça”.

HINO DE SALVAÇÃO- Ef 1.3-14


Quão ricos somos em Cristo

No grego original, estes doze versículos formam uma única sentença gramatical complexa, no
original é uma frase com 202 palavras. Enquanto Paulo vai ditando, as palavras fluem da sua boca numa
torrente contínua. Não faz pausa para tomar fôlego, nem pontua as frases com pontos finais. Os
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comentaristas têm procurado metáforas bem vividas para transmitir o impacto desta explosão inicial de
adoração. Segundo B. F. Westcott, esta passagem é "um salmo de louvor pela redenção e consumação das
coisas criadas, cumpridas em Cristo pelo Espírito segundo o propósito eterno de Deus". William
Hendriksen assemelha-a a “uma bola de neve rolando colina abaixo, ganhando volume ao descer”. Todo o
parágrafo é um hino de louvor, uma doxologia ou, realmente, um elogio, pois é esta a palavra que Paulo
emprega.

1- A fonte das bênçãos de salvação, 1.3

Bendito é, em grego, eulogetos, que é palavra composta que carrega a ideia de louvar a, falar bem
de... é usada apenas com referência a Deus. Deus é bendito quando é louvado por tudo o que gratuitamente
confere ao homem e ao seu mundo. Por que devemos louvar a Deus? O que Paulo nos apresenta como
motivo de adoração a Deus, o Pai?
“...que nos tem abençoado...” - ou nos abençoou (no tempo e modo verbal que se encontra reflete
uma ação concluída, terminada). Isso significa que as bençãos que Paulo enumerará a seguir foram dadas
no passado, se quisermos podemos remontar à eternidade, as palavras de Deus modelam o mundo.
Entendemos não ser verdade que o Antigo Testamento considera os bens materiais como sendo de
mais elevado valor que os bens espirituais; o oposto é claramente ensinado em passagens tais como Gêneses
15.1; 17.7; Salmos 37.16; 73.25; Provérbios 3.13,14; 8.11,17-19; 17.1; 19.1,22; 28.6; Isaias 30.15. O Novo
Testamento, conquanto de modo algum deprecie as bênçãos terrenas (Mt 6.11; l Tm 4.3,4), põe toda ênfase
na bênção espiritual (2Co 4.18), bem pode ser que, para acentuar essa diferença entre a antiga e a nova
dispensação, declara-se aqui que o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos abençoou com toda bênção
espiritual. O contexto indica que o apóstolo está pensando particularmente em todos os benefícios que ele
ainda mencionará neste parágrafo, ou seja, a eleição, a adoção, a redenção, o selo, etc.
Na continuidade do parágrafo Paulo vai ressaltar os aspectos da redenção divina e, ao mesmo tempo,
cada estrofe termina com o estribilho “para o louvor da glória da sua graça” (1.6), “para o louvor da sua
glória” (1.12) ou “em louvor da sua glória” (1.14) que nos reforça os ensinamentos das bênçãos que a obra
redentora de Deus nos oferece
A frase “nas regiões celestiais” ou, simplesmente, “nos lugares celestiais” (usada no em 1.20; 2.6;
3.10) indica que essas bênçãos espirituais são celestiais em sua origem, e que do céu vieram para os santos
e crentes que se acham na terra (Fp 3.20; Cl 3.1).
A designação nos lugares celestiais não é um termo incorreto, porque a vida interior do homem em
Cristo foi invadida pelo poder do céu. Ele possui vida eterna e está no Reino dos Céus. Em espírito, ele é
erguido acima do terrestre, do mundano e do temporal. O cristão está temporariamente no mundo, mas ele
não é do mundo (cf. Jo 17.13-16).

“...em Cristo”, esta frase ou seu equivalente ocorre mais de 10 vezes neste curto parágrafo (1.3-14),
cerca de 30 vezes na epístola inteira.Evidência clara de que o apóstolo considerava Cristo como o próprio
fundamento da igreja, isto é, de todos os seus benefícios, de sua plena salvação. E é em conexão com Cristo
que os santos e crentes de Éfeso (e de qualquer outro lugar) têm sido abençoados com toda bênção
espiritual: eleição, redenção, certificação como filhos e herdeiros e todos os demais benefícios incluídos
sob esses títulos. Fora dele não só nada podem fazer, com também nada são, ou seja, espiritualmente nada.

2- Salvação promulgada antes do tempo, 1.4-6

a) A Eleição (1.4)
A eleição divina não foi um plano de última hora porque o primeiro plano de Deus fracassou. O
pecado de Adão não pegou Deus de surpresa. Deus não ficou roendo as unhas com medo de o homem
estragar tudo no Éden. Deus planejou a nossa salvação antes mesmo de lançar os fundamentos da terra.
Naquela eternidade antes da criação, Deus fez alguma coisa. Formou um propósito na sua mente. Este
propósito dizia respeito tanto a Cristo (seu Filho unigênito) como a nós (ele se propôs a nos tornar filhos
adotivos, e também filhas, pois, naturalmente, a palavra abrange os dois sexos). Note-se bem a declaração:
nos escolheu nele. A posição dos pronomes é enfática: Deus colocou a nós e a Cristo juntos na sua mente.
Resolveu tornar-nos (mesmo quando ainda não existíamos) seus próprios filhos através da obra redentora
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de Cristo (que ainda não fora realizada). Foi uma decisão específica, porque o verbo escolheu (exelexato)
é outro aoristo e implica numa ação terminada.
A eleição é uma afirmação básica da Bíblia. Ela enfatiza a verdade que a iniciativa em ocasionar a
redenção do homem é tomada por Deus e não pelo homem. Jesus expressou esta verdade nas palavras de
João 15.16: "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós".
A Bíblia nunca argumenta a doutrina da eleição; simplesmente a põe diante de nós. A Bíblia não só
não discute o tema, mas nos proíbe de discuti-lo: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também
endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à
sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura, pode o objeto perguntar a
quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.18-20).
Há algumas correntes na teologia que defendam posições diferentes, acreditando que cabe ao ser
humano aceitar ou não a salvação em Cristo, o que pode ser notado neste comentário de Wesley afirmando
que os eleitos são "judeus e gentios, a quem ele (Deus) previu que creriam em Cristo (1 Pe 1.2)". Contudo,
à medida que o homem reflete cada vez mais em sua experiência, percebe que "até os primeiros impulsos
do coração que o levaram a escolher Cristo foram obra do Espírito Santo".

John Stott nos diz que a ideia de eleição, temida por muitos e banalizada por outro tanto, precisa ser
bem entendida pelo cristão. Ele diz que o texto nos mostra verdades sobre a eleição que não podemos
desprezar:
*A doutrina da eleição é uma revelação divina e não uma especulação humana - Exemplo no Antigo
Testamento: Êx 19:4-6; Dt 7:6ss.; Is 42:1 e 43:1. Exemplo no Novo Testamento: 1 Pe 2:9-10
* A doutrina da eleição é um incentivo à santidade, e não uma desculpa para o pecado - Ef 5:27; Cl
1:22;
* A doutrina da eleição é um estímulo à humildade, não um motivo para o orgulho - Dt 7:7-8

Augustus Nicodemos chama a atenção num sermão sobre este texto no que diz respeito a eleição
efetuada por Deus:
1- A eleição era motivo de louvor e adoração, pois deve ser bendito por tal obra... não chateado e
nem preocupado...
2- a eleição foi feita antes da fundação do mundo:
- não foi baseada no comportamento, na fé, na fidelidade, nos méritos, ou na moralidade de nenhum
de nós
- não é com base na criatura
- a escolha é feita em Cristo...para que não fiquemos imaginando o que faz um ser eleito e outro
rejeitado... Ex. Esaú e Jacó (Rm 9.13).

- Santos (hagios) O termo grego por santo é hagios que contém sempre a ideia de diferença e
separação. Algo que é hagios é diferente das coisas ordinárias. Manifesta a diferença interior e moral que
prevalece quando a graça de Deus é opera em nosso coração.
Assim, pois, Deus escolhe o cristão para que seja diferente de outros homens. Mas a Igreja moderna
tende a diminuir a diferença entre Igreja e mundo. A verdade é que o cristão deveria poder ser identificado
no mundo. Deve-se lembrar sempre que a diferença em que Cristo insiste não é a que tira o homem fora do
mundo, mas sim o homem seja diferente dentro do mundo.
Spurgeon argumentava: por que você reclama da eleição divina? Você quer ser santo? Então você
é um eleito. Mas se você diz que não quer ser santo nem viver urna vida piedosa, por que você reclama por
não ter recebido aquilo que não deseja?

- Irrepreensíveis (amomos). Segundo a Lei judia, antes que um animal pudesse ser devotado em
sacrifício devia ser examinado e inspecionado; se fosse encontrado algum defeito devia ser rechaçado como
inadequado para a oferenda a Deus. Só o melhor era apto para ser devotado a Deus (Lv 1.3,10).
Esta palavra não significa que o cristão deve ser respeitável; significa que deve ser perfeito. O cristão
amomos é aquele que desterra toda complacência própria e toda satisfação com menos que o melhor; é um
desafio para que o homem faça tão perfeita sua vida inteira que possa oferecê-la a Deus.
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Não somos escolhidos para viver na lama, mas para viver como luzeiros do mundo e apresentar-nos
a Jesus como a noiva pura, santa e sem defeito (5.27).

Não há eleição se não existe santidade e busca de uma vida reta diante de Deus e na sociedade - a
escolha foi para...

3- A benção da Adoção

A eleição tem como objetivo a adoção. Realmente, quando as pessoas nos fazem a pergunta
especulativa de por que Deus continuou com a criação quando sabia que seria seguida pela Queda, uma
resposta que podemos dar é que ele nos destinou para uma dignidade mais alta do que a própria criação
poderia nos outorgar. Pretendia “adotar-nos”, fazer-nos filhos e filhas da sua família.
O verbo grego traduzido por nos predestinou (proorisw) significa literalmente "decidido ou
designado de antemão".

Qual a diferença entre escolher e predestinar:

Na eleição temos a separação que Deus fez - dentro todos os perdidos Deus escolheu os que Ele...
Na predestinação temos um destino predeterminado, previamente estabelecido.

O sentido é paralelo à ideia da eleição, indicando uma vez mais o fato de que o plano de Deus fora
determinado desde a eternidade. Paulo especifica o meio pelo qual foi alcançado, isto é, a adoção por Jesus
Cristo. Deus criou o homem para ter comunhão com ele como seu filho (Gn 1.26; At 17.28), mas o pecado
rompeu essa relação e tornou o homem um estranho para a casa divina. Deus determinou que, por Jesus
Cristo, a restauração à filiação estaria garantida àqueles que aceitam o Filho eterno.

Deus nos predestinou pra si mesmo... para sermos seus filhos...

Adoção (huiothesia) é uma ideia peculiar aos escritos paulinos, ocorrendo cinco vezes (Rm 8.15,23;
9.4; Gl 4.5; Ef 1.5). Pelo visto, o conceito proveio do costume romano e não do costume judaico." E na lei
romana (que faz parte do contexto dos escritos de Paulo) os filhos adotivos desfrutavam dos mesmos
direitos dos filhos legítimos.
No mundo romano, a família baseava-se no regime patriapotestas, ou seja, o poder do pai. Sob a
lei romana, o pai possuía poder absoluto sobre seus filhos enquanto estes vivessem. Podia vendê-los,
escravizá-los e até mesmo matá-los. O pai tinha direito de vida e de morte sobre os filhos. A adoção
consistia em passar de um patriapotestas para outro. O filho adotivo ganhava uma nova família, passava
a usar o nome do novo pai e herdava seus bens. Essa adoção apagava o passado e iniciava uma nova
relação.
Adoção, no sentido de transferência legal de uma criança de uma família para outra, não existia na
lei judaica, mas era possível na jurisprudência romana, embora não sem considerável cerimônia formal.
Westcott comenta que o termo filho (uios), que forma parte da palavra adoção, deve ser distinguido do
termo criança (teknon). O primeiro dá a ideia de privilégio e não de natureza.'
Para Paulo, nossa filiação não se baseia na relação natural, na qual os homens estão diante de Deus
por terem sido criados por ele, mas numa nova relação pela graça efetivada na obra de Cristo. Neste sentido
espiritual, adoção para Paulo significa a aceitação na família daqueles que, por natureza, não lhe
pertencem."
Eleição e predestinação, que resultam em nossa adoção como filhos e fornecem a base para uma
vida santa e irrepreensível, expõem "a majestade superlativa da graça, glória, sabedoria e poder de Deus".
Elas estão de acordo com o bom prazer da vontade de Deus (cf. 9). O termo grego eudokia, traduzido por
beneplácito, expressa o pensamento de boa vontade, benevolência ou "bom propósito" (NVI). A vontade
ou desejo de Deus em nos levar à filiação não é por mérito que possuamos, mas surge de "sua pura bondade,
originando-se única e exclusivamente da liberdade de seus pensamentos e deliberação amorosa".

4- O Supremo Propósito de Deus (1.6)


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A pergunta de sempre é: SE Deus sabia que o homem pecaria, porque não fez alguma coisa? Por
que não impediu? Tudo o que vem junto com a queda de Adão...
A adoção dos homens como filhos de Deus é paralouvor da glória de sua graça(6). Este refrão
aparece novamente nos versículos 12 e 14. O propósito da vida humana é louvar a Deus (Is 43.21; Mt 5.16;
1 Co 4.5) e a esperança do cumprimento do propósito eterno de Deus para nós fornece a base para esse
louvor. Glória é o esplendor que se relaciona com o caráter de Deus como Redentor. Quando Deus tem
sucesso em adotar um filho, a glória divina irrompe no interior do homem e, por conseguinte, seu coração
ergue-se em louvor.
Segundo a definição clássica de "o favor imerecido de Deus",' o apóstolo qualifica a graça na frase
anexa: que ele nos concedeu gratuitamente no Amado(6). A frase nos fez agradáveis é expressa pelo verbo
charitoo," que é derivado do substantivo (charis) graça. Paulo está dizendo que Deus "nos tratou
graciosamente" ou "nos visitou com graça"" no Amado. Objetivamente, o verbo expressa a noção de
concessão de favor.

Dois pontos devem estar claros:


* A incorporação do crente em Cristo é a expressão suprema da graça de Deus;
* Não há modo de os homens conhecerem a graça redentora de Deus, senão por Cristo.
Deus nos predestinou para sermos conformes à imagem de seu Filho (Rm 8.29). O interesse divino
é que sejamos transformados em réplicas, imagens de Jesus Cristo e retratos vivos dele.
Toda a obra de salvação com os aspectos por ele apontados: eleição, predestinação, adoção, santos
e irrepreensíveis - tudo Deus nos fez “no Amado”.
Observemos a sua ênfase. Esta é a chave que nos introduz em todo o mistério da encarnação, e de
tudo quanto Deus fez em SeuFilho. É isso que torna o cristianismo e asalvação contida nele, único, separado
e diferente de tudo mais.Ele não é o registro das tentativas feitas pelo homem para subir a Deus e para
encontrar Deus; é o registro do que Deus fez, especialmente do que fez por meio de Seu Filho unigênito.
(Mt 17.5; Lc 20.13). A nossa redenção foi realizada, e foi possibilitada porque Deus enviou a este mundo
o Seu Filho amado - o resplendor, a imagem da glória, a refulgência de Deus (Hb 1.3).

AS OBRAS E AÇÕES DO DEUS FILHO EM NOSSA SALVAÇÃO - Ef 1.7-12

Após mostrar as obras de Deus Pai em nossa salvação - Eleição, Predestinação e Adoção - e enfatizar
que tais coisas foram feitas de acordo com o “bom proposito” de Deus e com vista à Sua própria glória,
Paulo passa a falar sobre os benefícios que o Deus filho nos traz:

1- ...no qual temos a redenção


Paulo nos ensina que é no Amado (v.6) que temos a redenção. O Dicionário Houaiss define essa
palavra assim: “ato ou efeito de remir; resgate”, o termo no original “indica libertação como resultado do
pagamento de um resgate”.
Este é o idioma de um mercado de escravos. A escravidão era comum no mundo antigo (60 milhões
na época de Paulo). Um escravo tinha poucos direitos, era como uma mobília que podia ser vendida,
trocada ou substituída de acordo com a vontade de seu senhor. E ele não tinha esperança de liberdade, a
menos que alguém o comprasse e depois libertasse.
Paulo poderia ter usado o agorazw, que descreveria o ato de comprar um escravo no ágora, no
mercado. Ou exagorazw que nos levaria um passo adiante e descreveria o ato de comprar o escravo e tirá-
lo do mercado.
Em vez disso, Paulo usa a palavra composta apolutrosis - não só para comprar o escravo e levá-lo
para fora do mercado, mas depois libera-lo de sua escravidão.Isso quer dizer que estamos livres da lei (G1
5.1), da escravidão do pecado (Rm 6.1), do mundo (G1 1.4) e do poder de Satanás (Cl 1.13,14).
Para entender a redenção devemos nos lembrar que o pecado se tornou o senhor do homem, por
consequência o homem é escravo do pecado (Jo 8.34; Rm 3.10,19; 5.12). Na morte de Jesus nós temos o
preço pela liberdade do homem pago (I Co 6.19-20; Ap 5.9).
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Lloyd-Jones chama a atenção para entendermos, conforme escrito por João (Ap 5.9) e por Paulo
(1.7; Rm 3.25), por Pedro (IPd1.18,19), pelo escritor “Aos Hebreus” (9.12, 19-22)que a redenção foi
realizada no sangue de Jesus. Não apenas Sua morte, mas, especificamente pelo Seu sangue (Lv 17.11).
Assim, de acordo com o escritor, se cumprem em Cristo os sacrifícios do Antigo Testamento, onde uma
vítima (cordeiro, ovelha, bezerro, pombo, etc.) sem culpa era imolada no lugar do ofensor, entretanto, lá
era apenas uma sombra, um sacrifício “temporário” que apontava para o sacrifício último - em Cristo Jesus.
Naquele tempo, além de ser imolado o sacrifício tinha seu sangue recolhido e depois aspergido (Lv
16.14,15), o autor de Hebreus nos diz que na morte de Cristo o mesmo processo foi feito - sendo ele mesmo
o sacrifício e o Sumo sacerdote (Hb 9.23-25).

2- A remissão dos pecados


Estes dois - a. redenção pelo sangue e b. remissão dos pecados - vão juntos. A redenção não seria
completa sem a aquisição do perdão (remissão). Não esquecendo que a palavra (aphesis) usada por Paulo
significa “remissão ou perdão, de pecados (permitindo que sejam apagados da memória, como se eles nunca
tivessem sido cometidos), remissão da penalidade”. (Sl 103.12; Is 44.22; Jr 31.34; Ml 7.19)
Cristo morreu para levar nossos pecados embora a fim de que nuncamais sejam vistos. Não há
qualquer acusação registradacontra nós, pois nossos pecados foram levados embora. Onosso perdão é
baseado no sacrifício expiatório de Cristo (2 Co 5.19-21).O perdão de Cristo é completo. Ele morreu para
removera culpa do nosso pecado. Ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1.29; 1 Jo 1.9). Agora
nenhuma acusação podeprosperar contra nós, porque Cristo já rasgou o escrito dedívida que era contra nós
(Cl 2.14).
Olhando novamente para Lloyd Jones, ele nos afirma que o perdão de pecados, ou iniquidades é um
grande problema, pois se pensarmos que Deus criou todas as coisas (visíveis e invisíveis) pelo poder de
Sua Palavra, podemos buscar o perdão apenas com uma palavra proferida pelo Pai, contudo, não foi assim
que Deus estabeleceu que perdoaria a humanidade, deveria haver derramamento de sangue - a única
maneira era pelo sangue de Seu Filho.
Também, levanta ele a questão da justiça que há no perdão (Rm 3.24-26). Não estimularia o ofensor
a voltar a praticar a ofensa sabendo que Deus perdoa a iniquidade?Não quis Deus perdoar os pecados em
vista do sacrifício de Seu Filho? A resposta desta pergunta é sim, sim, foi desta forma que Deus estabeleceu
- punir o pecado em Cristo (Is 53.5). E de alguma forma, até difícil para que entendamos humanamente
falando, mesmo havendo a possibilidade do pecador voltar a ofender a Deus com o mesmo pecado
anteriormente perdoado, Ele trabalha, com Seu amor visando restaurar o pecado e dissuadi-lo da prática
rotineira.
Os nossos pecados, em Cristo, são perdoados absoluta, final e completamente; para que não sevejam
nunca mais.Só Deus poderia fazer isso. Eu e vocês dizemos que perdoamos as pessoas, mas achamos difícil
esquecer. A glória da doutrinado perdão dos pecados nas Escrituras é que Deus não somenteperdoa, mas
também esquece. “Nunca mais me lembrarei dos seuspecados.” (Jr 31.34).
Ora, o perdão se concretiza segundo as riquezas de sua graça [do Pai]. Observe que o Pai
perdoa, conforme asuas riquezas, as riquezas da graça. Ilustração: Eis duas pessoas muito ricas.
Quando solicitadas a contribuírem para uma boa causa, ambas dão de suas riquezas. A primeira,
entretanto, doa uma soma miserável, muito menor que o esperado. Ela simplesmente dá de,não
conformesuas riquezas. A segunda é liberal em seu apoio a toda causa nobre. Ela dá conformeao
volume de suas riquezas. Deus sempre dá e perdoa conforme a suas riquezas. A parábola do Pai (filho
pródigo) retrata bem com Deus perdoa com suas riquezas - roupa, anel, sandália e novilho cevado
(Lc 15.22-24)

3- desvendando-nos o mistério da sua vontade

3- desvendando-nos o mistério da sua vontade


Aqui devemos olhar em primeiro lugar para a palavra “mistério”. O termo mistério não tem relação
alguma com coisas sinistras. Antes, refere-se a "um 'segredo sagrado' outrora oculto, mas agora revelado
ao povo de Deus". Nós, cristãos, fazemos parte do "círculo mais íntimo" de Deus. Nos dias de Paulo, certos
cultos obrigavam seus devotos a fazerem “tremendos juramentos” no sentido de não revelarem seus
segredos aos não-iniciados.
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Foi da vontade do Pai que o mais sublime segredo fosse publicado aos quatro ventos, e que
penetrasse profundamente nos corações dos seus. O plano de Deus para a salvação, portanto, devia ser dado
a conhecer para que pudesse ser aceito pela fé, porquanto é pela fé que os homens são salvos.
A História não é sem significado nem sem propósito. Está avançando para um alvo glorioso. O que,
pois, é este mistério que Deus desvendou, este segredo revelado, esta vontade, ou propósito, ou plano
divino?
Antes de responder a essa questão, devemos entender que a frase “segundo o seu beneplácito”,
denota que a ação redentora de Deus não era resultado de pressão externa, mas foi ocasionada pelo
"propósito gracioso" de Deus.
O que é este "segredo revelado"? Paulo não nos diz imediatamente, mas, à medida que prosseguimos
na leitura da carta, mais é revelado sobre esse segredo. O mistério não era o evangelho por si; quer dizer, o
fato de que Deus deseja nos redimir. Incluía "o propósito de Deus com respeito aos seus limites e esfera".
O versículo 10 descreve a dimensão envolvente do mistério, a saber, Deus congregará em Cristo todas as
coisas.
O verbo grego traduzido por tornar a congregar (anakephalaioo) significa literalmente "levar para
uma cabeça". Era usado para indicar um somatório. Este verbo também era empregado na retórica para
referir-se ao sumário no fim de uma composição literária. Denotava em geral todo tipo de resumo ou
reunião, até mesmo a laçada de um grupo de linhas ou cordas.' O verbo está na voz média e denota uma
ação reflexiva. Pelo visto, Paulo está declarando que Deus propôs reunir, para si mesmo, todas as coisas
em Cristo. “A harmonia que Deus originalmente queria que prevalecesse fora destruída pelo pecado, mas
agora em Cristo Jesus ele inicia um movimento para restaurá-la."
Cristo já é cabeça do seu corpo, a igreja, mas um dia todas as coisas reconhecerão a sua autoridade
como cabeça. No tempo presente ainda há discórdia no universo, mas na plenitude do tempo esta cessará,
e aquela unidade pela qual ansiamos virá com o domínio de Jesus Cristo.
Na “plenitude dos tempos”, isto é, “no tempo apropriado”. Como é evidente à luz de 1.20-23, no
presente caso a referência tem a ver com toda a era do Novo Testamento, particularmente com o período
que teve início com a ressurreição e coroação de Cristo. Não findará até que o Senhor, em seu glorioso
regresso, tenha pronunciado e executado o juízo (I Co 15.24,25).
Quais são essas “todas as coisas” que convergirão em Cristo e estarão debaixo de Cristo como
cabeça? Será que Paulo estaria insinuando uma salvação universal? Com certeza, elas incluem os cristãos
vivos e os cristãos mortos, a igreja na terra e a igreja no céu. Ou seja, os que estão em Cristo agora (1.1) e
que em Cristo receberam bênção (1.3), eleição (1.4), adoção (1.5), graça (1.6) e redenção (1.7). Parece
também que Paulo está se referindo à renovação cósmica, à regeneração do Universo, à libertação da criação
que geme.
4- no qual fomos também feitos herança
O apóstolo muda do pronome nós (ele mesmo, com os demais crentes judeus) para também vós
(seus leitores gentios) e para nossa herança (na qual os dois grupos participam igualmente). Está dando uma
amostra prévia do seu tema da reconciliação entre judeus e gentios, que desenvolverá na segunda parte do
capítulo 2. Porém, com a repetição de nele e em quem (vs. 11, 13), enfatiza que é Cristo quem faz a
reconciliação e que é mediante a união com Cristo que o povo de Deus é um só.
Observe a palavra “também”, significando: não apenas nós, em união vital em Cristo, temos
recebido bênçãos tais como a redenção, o perdão dos pecados e a iluminação espiritual (sabedoria,
discernimento), mas, além desses favores iniciais, os quais, embora tenham significado permanente,
focalizam a atenção sobre o passado (livramento daquele terrível poder que nos mantinham atados, perdão
dos pecados passados, dissipação das antigas trevas), nos foi concedido o direito à gloria futura.
Algumas versões da Bíblia dizem "no qual fomos também feitos herança", mas essa frase pode ser
traduzida por "no qual fomos também feitos herdeiros". As duas afirmações são verdadeiras, e uma inclui
a outra. Em Cristo, temos uma herança maravilhosa (1 Pe 1:1-4), e em Cristo somos uma herança. Somos
preciosos para ele.
A ideia de herança, de ser feito herdeiro nos remete a Israel, ao pacto que Deus fez com aquela
nação, fato tão presente no Antigo Testamento (Dt 9.29; 32.9; Sl 33.12; 106.40). O pensamento óbvio é
que Israel era a porção de Deus especialmente escolhida, não para seu privilégio pessoal, mas para fins de
salvação.' O conselho de Deus foi realizado pelo antigo Israel, na velha ordem; agora, o plano de Deus está
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sendo realizado pelo novo Israel, na nova ordem. Paulo deixa claro que a herança estava relacionada com
Cristo. E, por conseguinte, os judeus também têm de ir a Cristo para tomar parte nessa herança.
Beacon, chama nossa atenção para alguns aspectos dessa nossa herança:
1) A herança de Deus não foi coisa incidental, mas foi predestinada pelo próprio Deus (11b). Desde
a eternidade, Deus determinou ter um povo de sua propriedade.
2) "Seja o que for que Deus tenha proposto, o cumprimento é certo. Este texto descreve que é ele
aquele 'que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade' ".' Visto que Deus não age caprichosa
e arbitrariamente, ele se move efetivamente em direção ao seu alvo, apesar das numerosas barreiras erguidas
pelas ações pecadoras dos homens.
3) A escolha de Israel como instrumento de salvação de Deus tinha o propósito de que esta nação
vivesse para o louvor da sua glória (12a; cf. 6,14).
4) Havia alguns judeus piedosos dos tempos do Antigo Testamento "que apreciaram a esperança no
Cristo da promessa e da profecia antes do surgimento de Cristo na história". O texto tem em vista os judeus,
fato indicado pela frase precisamente traduzida: os que primeiro esperamos em Cristo. O grego diz: "os que
esperamos antes em Cristo [o Messias]".

AS OBRAS E AÇÕES DO DEUS ESPÍRITO EM NOSSA SALVAÇÃO - Ef 1.13,14


Da eternidade passada (Ef 1:4-6) e da história passada (Ef 1:7-12), vamos agora para a experiência
imediata dos cristãos efésios. O Espírito Santo havia operado na vida deles, e sabiam disso.
1- O selo do Espírito
Antes de falarmos sobre o selo do Espírito na vida do cristão, devemos olhar atentamente para as
palavras que antecedem este fato:
“...depois que ouvistes a palavra da verdade...”
“...tendo nele também crido...”
O processo todo da salvação é apresentado nesse versículo, ele nos mostra de que maneira um pecador
torna-se um santo. Primeiro, o pecador ouve o evangelho da salvação. São as boas-novas de que Cristo
morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou (1 Co 15:1ss). Os efésios ouviram "a palavra da
verdade" e descobriram que era, para eles, "o evangelho da vossa salvação" (Ef 1:13).
Podemos afirmar que aqui temos a nossa missão, mesmo sabendo que a eleição é obra exclusiva de
Deus, nós eleitos fomos chamados para anunciar o Evangelho (Mc 16.15). Apenas anunciamos a verdade
do evangelho e convidamos os outros a crerem em Cristo. O Espírito Santo cuida do resto. (Rm 10.14; cf.
Mt 1.21; Jo 14.6; At 4.12)
Segundo, eles creram em Cristo. Depois do ouvir vem o crer. É mais que mera confiança; é a
resposta obediente às exigências divinas de arrepender-se dos pecados e entregar a vida para Deus.
Considerando que os cristãos mantêm Cristo em vista, não há a idéia de "fé cega". Sabemos como Cristo é
e confiamos nele. (Rm 10:13-15; At At 4.12; 16.31).
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Quando os efésios creram, foram "selados com o Santo Espírito". A expressão "tendo nele também
crido" indica que receberam o Espírito no mesmo instante em que creram em Cristo. No tempo do Novo
Testamento, as cartas, contratos e documentos oficiais eram fechados com uma gota de cera morna sobre a
qual o signatário pressionava sua identificação. Wiersbe nos apresenta alguns usos do selo no contexto
neotestamentário:
Em primeiro lugar, indica uma transação concluída. Até hoje, quando documentos legais
importantes são tramitados, recebem um selo oficial para indicar a conclusão da transação. Jesus consumou
sua obra de redenção na cruz. Ele comprou-nos com seu sangue. Jo 19.30
Esse selo também indica posse: Deus colocou seu selo em nós, pois nos comprou, de modo que
pertencemos a ele (1 Co 6:19, 20; I Pe 2.9). O gado e até mesmo os escravos eram marcados com um selo
por seus donos a fim de indicar a quem pertenciam. Mas tais selos eram externos, ao passo que o de Deus
está no coração. Deus poe seu Espírito no interior de seu povo a fim de marcá-lo como sua propriedade.
Indica, ainda, segurança e proteção. O selo romano colocado no túmulo de Jesus tinha esse
significado (Mt 27:62-66). Assim, o cristão pertence a Deus e está seguro e protegido, pois faz parte de
uma transação completada. De acordo com João 14:16,17, o Espírito Santo habita no cristão para sempre.
É possível entristecer o Espírito e, desse modo, perder as bênçãos de seu ministério (Ef 4:30), mas ele não
nos abandona.
Um selo também era usado como marca de autenticidade. Assim como a assinatura numa carta
atesta a genuinidade do documento, a presença do Espírito prova que o cristão é autêntico. "E, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8:9). O que garante a autenticidade de nossa fé não é
apenas a confissão de nossos lábios, nossas atividades religiosas ou boas obras, mas também o testemunho
do Espírito.
Além disso, esta terceira pessoa da Trindade é aqui chamada “o Santo Espírito da promessa”, ou
seja, o Santo Espírito prometido, a saber, aquele que foi outorgado em cumprimento das promessas divinas
( Jl 2.18; Jo 14.16,17; 15.26: 16.13; Lc 24.49; At 1.4). Ao pensar no próprio fato de como em sua vinda e
obra as promessas divinas se cumpriram gloriosamente, porventura não é para nós sinal inconfundível de
que também as promessas de bênçãos futuras para os crentes alcançarão também um agradável
cumprimento?

2- O Espírito Santo, nosso penhor


No tempo de Paulo, a palavra “penhor” significava "uma entrada paga para garantir a compra
final de um bem ou propriedade". Nos manuscritos, a palavra se refere com freqüência a certa quantia
de dinheiro dada antecipadamente na compra de um animal ou mesmo de uma esposa. Na tradução
de Gênesis 38.17-20, feita na LXX, a palavra se repete três vezes.
O Espírito Santo é a "primeira prestação" e garantia de Deus a seus filhos de que ele terminará sua
obra e, no devido tempo, os conduzirá à glória. O "resgate da sua propriedade" refere-se à redenção do
corpo na volta de Cristo (Rm 8:18-23; 1 Jo 3:1-3). Esse "resgate" dá-se em três estágios:
•Fomos remidos pela fé em Jesus Cristo (Ef 1:7).
•Estamos sendo remidos à medida que o Espírito Santo opera em nossa vida e nos torna mais
semelhantes a Cristo (Rm 8:1-4).
•Seremos remidos quando Cristo voltar e nos tornarmos como ele.
No entanto, o termo traduzido por penhor também significa uma "aliança de noivado". É assim que
esse termo costuma ser usado hoje em dia na Grécia. Afinal, o anel de noivado não é uma garantia de que
as promessas serão cumpridas? Nosso relacionamento com Deus, por meio de Cristo, não é simplesmente
de caráter comercial; é uma experiência pessoal de amor. Cristo é o noivo e a Igreja é a noiva. Sabemos
que ele voltará para tomar sua noiva para si, pois ele nos fez essa promessa e nos deu o Espírito como
"aliança de noivado".
Além disso, a combinação que temos aqui em Efésios 1.14, a saber, “...a própria possessão (de Deus)
... para o louvor de sua glória”, nos faz lembrar imediatamente de Isaias 43. 21: “... ao povo que formei
para mim, para celebrar o meu louvor...”
Todas essas riquezas vêm pela graça de Deus e são para a glória de Deus. Toda a obra do Pai (1.6),
do Filho (1.12) e do Espírito Santo (1.13,14) tem uma fonte (a graça) e um propósito (a glória de Deus).
O nosso fim principal é glorificar a Deus, e o fim principal de Deus é glorificar a si mesmo.
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UMA ORAÇÃO DE GRATIDÃO COM PROFUNDOS PEDIDOS – Ef 1.15-23

Após uma breve saudação, Paulo irrompe as grandes bênçãos que recebemos, o que Deus fez por
nós, o que possuímos em Cristo e o que o Espírito em nossas vidas nos garante. Ele fala de eleição,
predestinação, adoção, redenção, perdão, herança, selo e penhor. O apóstolo sabe que essas verdades estão
muito além daquilo que a mente humana pode compreender. (cf. 1 Co 2.9,10)
Assim, Paulo passa a orar pelos leitores da carta, para que possam entender essas verdades. Não
adianta apenas ter o conhecimento (saber) se não forem entendidos de forma clara e absoluta não poderão
ser vividos, experimentados.
Olhando para a estrutura da carta que temos estudado constatamos que Paulo, ensina e depois ora:
1.3-14 (ensino)  1.15-23 (oração); 2.1-22 (ensino)  3.14-21 (oração). E a seguir diz: agora vivam (4-
6). Com isto, podemos inferir que não há como viver antes de se compreender, e não há como apenas
ensinar sem orar para que Deus faça compreender.
Sobre isso nos diz MacArthur: “Você não pode viver com princípios que você não conhece. Nenhum
cristão vive a vida cristã sem saber o que isso significa”, por isso, temos muitos cristãos frustrados, pois
não entendem o que significa ser cristão e muitos ministros desiludidos por não verem uma resposta correta
aos ensinos apresentados rotineiramente na igreja. Entre o ensino e a prática deve haver compreensão, e
essa, só é possível pela ação direta de Deus, por meio do Espírito, na vida do cristão. Lembra o autor:
“Quem sabe, não seja por isso que os apóstolos entenderam que seu ministério envolvia palavra e oração.
(At 6.4)”
Votando ao nosso texto, vemos que Paulo ora ao Deus, o Pai. Meses atrás enquanto estudávamos
sobre a oração, vimos que apesar de crermos na Trindade e na divindade absoluta das três pessoas – Pai,
Filho e Espírito, cada pessoa desempenha um papel na obra de salvação e que as Escrituras são claras ao
apontar que é ao Deus Pai que dirigimos nossas orações, no nome de Jesus (nos méritos e na obra dele)
com a intercessão do Espírito Santo.
A razão e o conteúdo de sua oração merecem um pouco de nossa atenção, o verso 15 começa: “por
isso”, no original começa com a preposição dia (o motivo ou razão pela qual algo é ou não é feito, por causa
de,), assim entendemos que o parágrafo anterior (1.3-14) é a razão, a motivação da oração que se seguirá.
Em termos práticos nos leva a pensar o que move nossas orações, por que oramos?
No que diz respeito ao conteúdo percebemos que Paulo em sua oração aqui ou em outra parte (Ef
3:14-21; Fp 1:9-11; Cl 1:9-12), não pede nenhuma “benção” material, não faz nenhuma reivindicação de
direitos, ou determinações de prosperidade financeira. “Sua ênfase é sobre a percepção espiritual e sobre
o verdadeiro caráter cristão. Não pede que Deus lhes dê aquilo que não têm, mas sim que Deus lhes revele
o que já possuem”.
Se peneirarmos as nossas orações quanto delas são gastas em petições materiais? Lembrando-nos
que devemos orar por todas as nossas necessidades, inclusive as materiais, porém, não raras vezes limitamos
as orações que fazemos a elas. Quando foi que oramos para que a fé de um irmão fosse fortalecida? Que
ele entendesse as bênçãos celestiais das quais pode desfrutar? Que Deus iluminasse seu entendimento...

Vejamos algumas particularidades desta oração, quais são os pedidos feitos:

1- “...vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele...”


Algumas versões grafam “Espírito”, ao invés de “espírito” com base em textos como: Is 11.2; Jo
15.26; Rm 8.15, além do fato de que as coisas que Paulo pede aqui não são inerentes à humanidade.
Entendemos que o que se pede é uma ação especifica ou mesmo uma iluminação em área especial –
sabedoria e revelação. Russell Shedd entende que sabedoria representa olhar para a vida com os olhos
de Deus e perceber o que ele está fazendo, para, depois, envolver-se nisso. E revelação significa “a
visão de todas as coisas, não apenas deste mundo que está desaparecendo, segundo Paulo (I Co 7.31),
mas a visão dos valores tal como eles são traduzidos no céu”.
Pensando um pouco mais sobre a necessidade de sabedoria, Barclay lembra que Paulo ora para que
a Igreja possa aprofundar cada vez mais no conhecimento das verdades eternas. Segundo ele, tal
aprofundamento requer:
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a) Envolvimento no pensar – apesar de falarmos e ensinarmos sobre fé, o cristianismo deve ser
pensado, analisado e verificado.
b) A necessidade do ensino das Escrituras – diz respeito a que a verdade ensinada não é a do
pregador, e sim a das Escrituras.
c) A preeminência do ensino das Escrituras - da centralidade do ensino em nossas vidas, igreja e
cultos.
Uma coisa é conhecer a respeito de Deus; outra, bem diferente, é conhecer a Deus. O cristão deve
crescer no conhecimento de Deus (Os 6.3). A salvação é o conhecimento pessoal de Deus (Jo 17:3). A
santificação é o conhecimento crescente de Deus (Fp 3:10). A glorificação é o conhecimento perfeito de
Deus (1 Co 13:9-12). Uma vez que fomos criados à imagem de Deus (Gn 1:26-28), quanto melhor o
conhecermos, melhor conheceremos a nós mesmos e uns aos outros. Não basta conhecer a Deus
somente como Salvador. Devemos conhecê-lo como Pai, Amigo e Guia, e, quanto melhor o conhecermos,
mais gratificante será nossa vida espiritual.
Conhecimento (epignosis) deve ser distinguido de gnosis, cuja tradução também é "conhecimento".
“A palavra composta epignosis é uma amplitude de gnosis, denotando um conhecimento mais amplo e mais
completo”. Este conhecimento pleno é aquele que advém de intimidade experimental. É mais do que
conhecimento acadêmico e teórico. É pessoal
Stott diz que sem sabedoria e a revelação dada pelo próprio Deus, o homem não terá jamais o
conhecimento das verdades sobre Ele. A filosofia que toma o homem por seu centro diz “conhece-te a ti
mesmo”; somente a palavra inspirada que procede de Deus tem conseguido dizer “conhece pessoalmente a
Deus”.
O crescimento cristão no conhecimento e na graça é essencial. Todo profissional sabe que é um
risco deixar de estudar. Nenhum médico pensa que concluiu sua aprendizagem quando deixa as salas de
aula da universidade. Sabe que cada semana e quase cada dia se descobrem novas técnicas, medicamentos
e tratamentos. E se deseja conservar sua habilidade como médico, e continuar sendo útil aos que padecem
enfermidade e dor, deve manter-se em dia. O mesmo sucede com o cristão. A vida cristã pode descrever-
se como o esforço em conhecer cada dia melhor a Deus. Uma amizade que não se vai estreitando com os
anos, tende a desvanecer-se. O mesmo acontece entre nós e Deus.
2- ILUMINADOS OS OLHOS DO VOSSO CORAÇÃO
O Antigo Testamento deu aos homens esperança de um futuro em termos de vinda de luz a um
mundo em trevas e de abertura dos olhos dos cegos (Is 9:2; 35:5; 42:6; 60:1- 19). Quando Cristo veio, Sua
presença foi descrita em termos de alvorecer de um novo dia, de jorrar a luz de Deus (Mt 4:16; Lc 1:79; Jo
1:9; 8:12; 2 Co 4:6).
É necessário lembrar que, na linguagem bíblica, o coração (no grego kardia) não é conhecido como
em nossa cultura - sede das emoções e sentimentos, função que tanto entre os hebraicos quanto gregos era
dada ao intestino, aos rins... Lá o coração é o centro da personalidade, do intelecto, da compreensão e da
vontade do ser humano. (Pv 17:3; 24:12; Sl 17:3; 1 Sm 16:7; Mt 12:33-35).
Paulo está orando para que Deus traga luz, ilumine, esclareça, acabe com qualquer ignorância que
possa impedir o cristão de “enxergar” e enxergar bem. A construção da frase no original visa muito mais
que aquele “entendimento” buscado pelo mestre ao ensinar determinado assunto, onde o aluno responde:
“Ah! Sim, agora já sei tudo! e inquerido sobre o mesmo assunto minutos depois ele diz: “não entendi!”.
Paulo busca um entendimento que permanece e guia na caminhada da fé cristã.
Muitas vezes deparamos com cristãos que se escondem atrás de algumas ideias, tais como: “Eu amo
Jesus, e as outras questões não são importantes”, “Não me importo com teologia, é muito complicado, gosto
das coisas simples!”. Alguns até acham que estudar teologia é espiritualmente perigoso. Mas eles estão
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sendo intelectualmente preguiçosos e se expondo ao perigo espiritual! Paulo achou oportuno ensinar aos
crentes simples, muitos dos quais eram escravos, as grandes doutrinas de Romanos e Efésios e suas outras
cartas.
Depois de orar para que Deus iluminasse os olhos de nossos corações, Paulo especifica três coisas
que Deus queria que eles soubessem, e certamente que nós também saibamos:

2.1- QUAL A ESPERANÇA DE NOSSO CHAMAMENTO.


Ao abraçar a fé, ao cristão pode surgir a pergunta: “Para que fui chamado?”. É certo que Deus nos
chamou para alguma coisa. No meio evangélico é conhecido o chavão: “Deus não chamou ninguém para
ser crente de banco”, entretanto, tal expressão não deve ser a primeira que devemos considerar.
Aqui está o convite de Deus ao homem para aceitar os benefícios de Sua salvação, "a esperança de
Seu chamado". Em primeira instância Deus nos chamou para:
a) santidade - I Co 1.1,2; I Pe 1.15; I Ts 4.7;
b) paz e a pacificação - Cl 3.15
c) liberdade - Gl 5.1
d) sofrimento - I Pe 2.21
e) comunhão com Jesus - I Co 1.9
f) eterna glória - I Pe 5.10
Aqui repousa o alicerce, a base, o fundamento da fé cristã. E certamente o que deve nos levar a
entender que ao abraçar a fé, abraçamos novos sentidos, novas metas, nova vida, novo modo de proceder,
de viver e de ver as coisas. Acredito que muitos que abraçam a fé sofrem de um grande problema, é feito
muita força para trazê-los à fé, inseri-los no rol de membros, entretanto, uma vez “dentro” eles não sabem
o que fazer, como proceder, o que buscar. Paulo ora para que os cristãos tenham entendimento claro do
chamado de Deus para eles, também nós devemos orar para tanto nós quanto os novos convertidos
entendam claramente para o que Deus nos chama.

2.2- A RIQUEZA DA GLÓRIA DA HERANÇA NOS SANTOS


A expressão grega, como também em português, pode significar ou a herança de Deus ou a nossa,
ou seja: ou a herança que ele recebe ou a herança que ele outorga. Mas a passagem correlata em Colossenses
1:12 sugere fortemente a outra interpretação, a saber: que a “herança de Deus” refere-se àquilo que ele nos
dará, pelo que devemos dar graças ao Pai.
Neste caso, se o chamamento de Deus aponta de volta para o começo da nossa vida cristã, a herança
de Deus aponta para a frente, para o seu fim, para aquela herança final da qual o Espírito Santo é a garantia
(v.14) e que Pedro descreve como sendo “para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível,
reservada nos céus para vós outros”. (I Pe 1.4). Rm 8.16,17
Será que conseguimos entender a mudança que Deus faz em nós? De mortos e destituídos da gloria
dele, somos transformados em herança e ainda teremos uma herança na eternidade. “Que Deus estabeleça
um valor tão alto em uma comunidade de pecadores, resgatada da perdição e ainda tendo muito muitos
vestígios de seu estado anterior, poderiam muito bem parecer incríveis se não estivesse claro que ele os vê
em Cristo, pois desde o começo ele os escolheu em Cristo”. (FF Bruce)
04/03/2020-15

Paulo quer que tenhamos um vislumbre de nosso futuro glorioso, para que possamos viver à luz
dele agora. Nosso futuro é que, por toda a eternidade, realmente participemos da glória de Cristo (Ef 5.27;
Cl 1.12, 27)

2.3- A GRANDEZA DO PODER DE DEUS


Se o chamamento de Deus olha para trás, para o começo, e se a herança de Deus olha para a frente,
para o fim, então, decerto, o poder de Deus garante ambos, pois somente o seu poder pode cumprir a
expectativa que pertence ao seu chamamento e nos trazer com segurança às riquezas da glória da herança
final que nos dará no céu.
Paulo está convencido de que o poder de Deus é suficiente, e acumula palavras para nos convencer
dessa certeza. Ele usa quase todas as palavras possíveis para descrever o poder de Deus em relação a nós
que cremos: a) poder (dunamis), b) força (ischus) e c) poder (kratos)
O uso das três palavras num mesmo texto certamente não foi aleatório ou despretensioso, Paulo quis
enfatizar o poder do Deus que nos chama e nos promete uma herança. Dunamis é o poder, a capacidade de
realizar algo; ischus é a força inerente; kratos significa "domínio manifestado". Deus é muito, muito
poderoso ( Lc 1.51-55; Ap 1.8; 7.11,12).
Como chegaremos a conhecer a suprema grandeza do poder de Deus? Porque ele deu uma
demonstração pública na ressurreição e exaltação de Cristo (vs.20-23). Paulo realmente refere-se a três
eventos sucessivos:

a) ressuscitando-o dentre os mortos (v. 20a);


A morte é uma inimiga amarga e implacável. Chegará a todos nós, um dia. E, depois da morte, nada
pode impedir o processo de decadência e de decomposição. Até mesmo as técnicas mais sofisticadas de
embalsamento usadas pelos agentes funerários mais capazes não podem conservar o corpo para sempre.
Não: somos pó, e para o pó inevitavelmente voltaremos.
O poder mais poderoso já lançado nesta terra não foi o poder das bombas atômicas lançadas no
Japão. Não era o poder de um terremoto, vulcão, tornado, furacão ou inundação. O poder mais poderoso já
desencadeado nesta terra foi quando Deus ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos. Satanás e todas as suas
forças malignas estavam alinhadas em plena força de batalha quando Jesus estava no túmulo. Se ele pudesse
impedir Jesus de ressuscitar dentre os mortos, Satanás teria sido triunfante.
Deus, porém, Jesus Cristo dentre os mortos. Primeiro, paralisou o processo natural da decadência e
não permitiu que seu Santo visse a corrupção. Depois, não somente inverteu o processo, restaurando a vida
ao Jesus morto, mas também o transcendeu. Levantou Jesus para uma vida totalmente nova (imortal,
gloriosa e livre), que ninguém experimentara antes.

b) fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e
poder... (vs.20b , 21),
Depois de haver ressuscitado a Cristo dentre os mortos, Deus manifestou seu poder fazendo-o
assentar-se “à sua direita” (1.20,21). A “direita” de Deus é uma figura de linguagem indicando o lugar de
supremo privilégio e autoridade. A mais alta honra e autoridade no Universo foi tributada a Cristo (Mt
28.18).
c) E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas... (v. 22b , 23).
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A cabeça que um dia foi coroada com espinhos leva agora o diadema da soberania universal. Todas
as coisas estão sujeitas a Cristo. Todo o joelho se dobra diante dele no céu, na terra e debaixo da terra (Fp
2.9-11). Tanto a igreja como o Universo têm em Cristo o mesmo Cabeça.
O fato de Cristo ser o Cabeça da igreja ressalta três coisas: primeiro, Cristo tem autoridade suprema
sobre a igreja. Ele a governa, guia e dirige. Segundo, entre Cristo e a igreja existe uma união vital, tão
íntima e real como a da cabeça com o corpo. E uma união íntima, terna e indissolúvel. Terceiro, a igreja é
inteiramente dependente de Cristo. De Cristo, a igreja deriva sua vida, seu poder e tudo quanto é necessário
à sua existência.
Estes três eventos são interligados. É em função da ressurreição de Cristo dentre os mortos e sua
entronização sobre os poderes do mal que ele se tornou o cabeça da igreja. A ressurreição e a ascensão eram
demonstrações decisivas do poder divino. Pois se há dois poderes que o homem não pode controlar, mas
que, pelo contrário, sobre ele exercem domínio, são a morte e o mal. O homem é mortal. Não pode evitar a
morte. O homem está caído. Não pode vencer o mal. Deus em Cristo, porém, derrotou a morte e o mal e,
portanto, pode nos salvar de ambos.
Conclusão
É importante notar que Paulo não está orando para que Deus nos dê esse poder poderoso, mas para
que os olhos de nossos corações sejam iluminados ao saber que esse poder já foi exibido em nós se crermos
em Jesus Cristo. Seu argumento aqui é que o mesmo poder que ressuscitou Cristo do morto e sentado à
direita de Deus é o poder que nos salvou.
Portanto, a oração de Paulo é que Deus ilumine os olhos de nossos corações, para que possamos
conhecer a grandeza superior de Seu poder que nos salvou. É o próprio poder que ressuscitou Cristo dentre
os mortos.
À luz do que Paulo [orou], como você avalia a sua vida espiritual? Você tem usufruído as riquezas
que tem em Cristo? Você tem crescido no relacionamento íntimo com Deus? Você conhece mais a Deus?
Você tem fome de Deus? Você compreende a esperança do seu chamado: de onde Deus o chamou, para
que Deus o chamou e para onde Deus o chamou? Você compreende o quão valioso você é para Deus?
Você tem experimentado de forma prática o poder da ressurreição em sua vida? (HERNANDES)

A VIDA SEM CRISTO E A GRAÇA DE DEUS - Ef 2.1-10

No primeiro capítulo dessa carta Paulo acentua o amplo alcance do plano de Deus, o qual inclui
o Universo todo e se estende de eternidade a eternidade. Agora, no segundo capítulo, ele nos mostra o
plano que estava na eternidade sendo desenvolvido na história e na vida das pessoas.
Nessa porção, Paulo pinta um contraste entre o que o homem é por natureza e o que se torna
mediante a graça de Deus: “...estando vós mortos...” (v.1), “...nos deu vida...” (v.5). O parágrafo todo é uma
espécie de biografia espiritual contando como eram os destinatários da carta de Paulo antes de conhecer
o evangelho de Cristo (2.1-3), o que vieram a ser “em Cristo Jesus” (2.4-6) e qual o propósito de
Deus em realizar tão extraordinária transformação (2.7-10)

I - O HOMEM POR NATUREZA 2.1-3


Nestes três versículos de forma contundente e direta Paulo pinta o retrato da humanidade sem Deus,
não apenas de um grupo decadente, ou de uma nação especialmente degradada. Este é o diagnóstico do
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homem caído na sociedade caída em todos os lugares. Aqui seleciona três verdades terríveis sobre o ser
humano não-regenerado, que nos inclui também, até Deus ter misericórdia de nós.
1) ESTÁVAMOS MORTOS 2.1
A contundência de Paulo é amenizada em nossas versões (ARA e ARC), pois a expressão “E vos
vivificou” foi inserida no texto original, segundo alguns para dar fluência à leitura do texto. O versículo 1
na NVI vem grafado assim: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados...”.
Certamente que Paulo não está falando sobre a morte física, e não deve ser entendida de forma
figurada como em Lucas 15.24 “...este meu filho estava morto...”. Morte aqui é espiritual, ou seja, a
impossibilidade do homem “natural” buscar vida e relacionamento com Deus. A incapacidade do homem
entender e apreciar as coisas espirituais. Ele não possui vida espiritual nem pode fazer nada que possa
agradar a Deus.
Não existe nenhum termo mais forte que “morte”. Depois de se dizer que um homem está morto,
não há mais o que dizer. Não é “quase morto”; ele está morto de fato; não é que ele esteja
“desesperadamente mal”, está “morto”. Não há vida nenhuma ali.
O que nos faz lembrar daqueles momentos retratados em filmes em que uma pessoa é levada à
emergência de um hospital e uma equipe médica se junta e faz todo o possível para mantê-la viva, são
muitos aparelhos, muitos medicamentos, muitas pessoas em volta, até que a morte chega de forma
irreversível... aparelhos são desligados, equipe médica anota hora e causa da morte, por fim o que
enxergamos é o corpo inerte e solitário e após isso as luzes se apagam.
Assim é o homem para com Deus em seu estado natural: morto. Para ilustrarmos ainda mais essa
condição do ser humano sem Deus Lloyd Jones usa a seguinte ideia: “na Bíblia a vida é sempre descrita e
definida em termos da nossa relação com Deus. Em João 17.3, temos uma definição do que é a vida. Que
é a morte? O oposto disso. Deus é o Autor da vida - “Aquele que tem , ele só, a vida e a imortalidade”. Ele
é a fonte da vida, o mantenedor da vida. Deus é Vida e dá vida, e fora de Deus não há vida. Portanto,
podemos definir a vida como segue: a vida é conhecer a Deus, estar em relação com Deus, ter prazer em
Deus, corresponder-se com Deus, ser semelhante a Deus, compartir a vida de Deus e ser abençoado por
Deus. Portanto, ao definirmos a morte, devemos defini-la como o oposto daquilo tudo”.
A seguir Paulo passa a falar sobre o que causou a morte do homem: “delitos e pecados” (ARA);
“ofensas e pecados” (ARC); “transgressões e pecados” (NVI). Já estudamos sobre essas duas palavras
meses atrás:
a) Paraptoma - “cair ao lado ou próximo a algo”; “deslize ou desvio da verdade e justiça”,
“escorregão”. Usa-se para a pessoa que perde o caminho ou se extravia, ou para a pessoa que não consegue
adquirir a verdade ou se afasta dela. O pecado, a transgressão consiste em tomar o mau caminho quando
poderíamos e deveríamos ter escolhido o bom caminho; é “escorregar” de uma verdade que poderíamos e
deveríamos ter conhecido e nela andado. E por isso pecar é não conseguir chegar à meta e no fim da viagem
empreendida. Mateus 6:14; Efésios 1:7 2.1; Romanos 5:15-18, 20 ; Cl 2.13; Tg 5.16
b) Hamartia - “errar o alvo”, “estar errado”; “errar ou desviar-se do caminho de retidão e honra,
fazer ou andar no erro”; “violação da lei divina em pensamento ou em ação”. Literalmente significa errar o
alvo. Um homem atira sua flecha e não acerta o alvo: isto é hamartia. O pecado é, pois, errar o alvo na vida;
pecado é não chegar a ser o que a pessoa deveria ou poderia ser. (Mt 3.6; 9.2; Mc 2.5-9; Jo 1.29; 8.34).
Juntas, as duas palavras paraptoma e hamartia abrangem os aspectos positivo e negativo, ou ativo e
passivo, do mau procedimento do homem, ou seja, nossos pecados de comissão e omissão. Diante de Deus
somos tanto rebeldes como fracassados. Como resultado disso, estamos mortos. O salário do pecado é a
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morte (Rm 6.23). Morte é separação. Da mesma forma que a morte separa o corpo da alma, a morte
espiritual separa o homem de Deus, a fonte da vida.
A explicar a ideia de Paulo que a humanidade sem Deus está morta em seus delitos e pecados,
Barclay lista as direções nas quais o efeito do pecado é de fato canalizado:
a) O pecado mata a inocência. Ninguém é exatamente o mesmo depois de pecar. Os psicólogos
dizem que nada absolutamente passa ao esquecimento. Pode ser que alguma coisa não tenha ficado na
consciência, na memória ou na superfície das coisas que lembramos; mas tudo o que alguma vez temos
feito, visto ou ouvido se mantém em nossa subconsciência.
b) O pecado mata os ideais. Na vida de muitos há algo assim como um processo trágico. Num
começo o homem olha as coisas más com horror. Num segundo momento é tentado a fazer o mal. Mas
justamente quando o realiza sente-se infeliz, incômodo e com plena consciência de estar agindo mal. O
terceiro tempo é quando realiza uma coisa com tanta frequência que perde todo escrúpulo. Por seu poder
fatal o pecado faz com que cada ato cometido facilite o seguinte; que cada concessão faça mais fácil a
seguinte.
c) o pecado mata a vontade. No começo o homem se entrega a alguns prazeres proibidos porque
assim o deseja; no final se entrega a eles porque não pode agir de outra maneira. Quando uma coisa faz-se
hábito não está longe de fazer-se necessária. Quando alguém permitiu que algum hábito, concessão, secreto
ou prática proibida o dominem, faz-se seu escravo. Sua vontade é impotente; sua capacidade morre. Como
o expressa o antigo provérbio: "Semeie um ato e colherá um hábito; semeie um hábito e colherá um caráter;
semeie um caráter e colherá um destino".

2- ÉRAMOS ESCRAVOS 2.2


Apesar da palavra usada por Paulo - andastes - trazer uma ideia de liberdade, com possibilidades de
apreciação da paisagem. Ali não havia nenhuma verdadeira liberdade mas, sim, uma escravidão pavorosa
a forças que nos controlavam por completo. Quais eram elas? A resposta de Paulo, quando colocada na
terminologia eclesiástica posterior, é o mundo, a carne e o diabo.
a) O mundo. A palavra mundo aparece no Novo Testamento por 177 vezes. E na língua original 3
palavras diferentes são usadas: kosmos, aion, oikoumene.
Kosmos é a palavra mais usada (principalmente por João, que em seu Evangelho e suas Cartas a usa
por 102 vezes). Em geral é empregada em referência ao nosso habitat físico, a terra. ((João 1:10; Hb. 1:2-
3; Cl. 1:16). Foi utilizada também para definir a humanidade (Jo 3.16; 4.42; Ap 14.6). Pode designar a
terra em particular (Mt 4.8; Mc 1.49, Jo 11.9). Um grande grupo (Jo 12.19). É usada para definir o universo
como um todo (Atos 17:24). É usada para definir somente os crentes (Jo 1:29; 3:16,17; 6:33; 12:47; 1 Co
4:9; 2 Co 5:19). É usada para definir os gentios em contraste com os Judeus (Rm 11:12).
Entretanto, o cosmos, ou o mundo significa um sistema - religioso, econômico, político, moral e
social que se opõe a Deus e tudo que lhe diz respeito. Fazendo com que as pessoas vivam alienadas de
Deus, criando uma sociedade organizada sem referência a Deus. As pessoas são escravas desse sistema do
mesmo modo que os súditos eram arrastados pelos generais romanos por grossas correntes amarradas no
pescoço depois de uma conquista.
Há muita coisa que se faz e chamamos de cultura, e não podemos negar que algumas práticas são
culturais, todavia, como cristãos não deixamos de enxergar uma tendência anti-Deus ou diabólica nessas
práticas. O adultério se encaixa neste exemplo - é considerado cultural, contudo a Bíblia diz que é pecado,
ou seja, o contexto anterior do adultério não é a cultura, é a queda de Adão e suas consequências na
humanidade.
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Poderíamos falar de tantos outros exemplos: as questões que envolvem a sexualidade e suas
definições - heterossexuais, bissexuais, homossexuais, assexuais, etc.; o aborto e suas implicações; a
corrupção; as bebidas alcoólicas; os ritmos musicais.
Portanto, a grande questão sempre foi aquela do limite: onde eu risco a linha de separação? Até que
ponto os cristãos podem desfrutar deste mundo, até onde podem se amoldar à cultura deste mundo e fazer
parte dela? E quando é a denominação que rompe essa linha?
Vivemos tempos em que é comum ouvir e dizer: “o mundo entrou na igreja”, ou que a “igreja tal é
mundana”. Essa “mundanização” é real, e por causa da ideia de proporcionar ao membro um espaço para
que ele ponha para fora o estresse - igrejas viram boates, centros esportivos,
“O grande desafio que Jesus e os apóstolos deixaram para os cristãos foi exatamente este, de estar
no mundo, ser enviado ao mundo, mas não ser dele (Jo 17:14-18). Implica em não se conformar com o
presente século, mas renovar-se diariamente (Rm 12:1-3), de não ir embora amando o presente século,
como Demas (2Tm 4:10). É ser sal e luz”. (NICODEMUS)
E quando o sistema do mundo está presente na igreja?
Vivemos tempos em que é comum ouvir e dizer: “o mundo entrou na igreja”, ou “a igreja tal é
mundana”. Mas, o que de fato é uma igreja munda? Vejamos alguns indícios:
 A sede pelo poder já derrubou inúmeros líderes que tiveram inícios humildes... E caíram na
tentação do maligno - Lc 4:5s;
 O culto à personalidade está presente em muitos locais, grandes fotografias são colocadas
em portas de igrejas, pregadores são anunciados com luzes e sons, grupos e cantores tem milhões de
seguidores... Fã clubes são erigidos e enaltecem a criatura ao invés do criador;
 A política partidária é feita em cima dos púlpitos. Igrejas e líderes se “vendem” na busca
pelo poder temporal;
 A Bíblia não ocupa espaço na vida dos crentes, nos cultos e nas pregações;
 Os cultos oferecem todo tipo de atrativo e deve ser a cada dia mais inovador;
 As músicas cantadas nas igrejas não mais exaltam a Deus, a obra de Jesus... São focadas no
homem e em “suas necessidades”.

b) a carne - A segunda influência que nos mantém na escravidão são as inclinações da nossa carne
(v. 3a). Esta palavra “carne” é empregada nas Escrituras de quatro principais maneiras:
a) A humanidade toda ou uma nação – Is 40.6, Rm 9.3
b) O corpo, revestimento dos ossos – Jó 19.26; Jo 1.14;
c) A natureza humana num estado de pecado, o homem em pecado - Gl 5.17
É essa última definição que nos interessa neste contexto de Efésios. É a completa natureza do
homem sem a graça renovadora de Cristo; assim, abrange a alma e as faculdades morais e intelectuais, bem
como o corpo. É o homem em pecado, o homem todo, sem a graça de Cristo. Inclui, portanto, o meu corpo
e as suas funções, a minha mente, os meus afetos, o meu tudo; o homem total, a totalidade do homem num
estado de pecado.
Paulo fala sobre as “inclinações” da carne, ressaltando que o homem em seu estado natural, de
pecado, anda segundo os desejos, anseios e vontade da carne. Quando nós nos referimos às vezes a certas
pessoas como sendo elas pecadoras usamos alguns adjetivos: bêbados, assassinos, adúlteros etc. Entretanto,
há pessoas que denominamos excelentes, que nunca se fizeram culpadas dessas coisas citadas, porém,
vivem segundo os desejos da carne.
A palavra que ele emprega é diferente de “forte desejo” (cobiça). Desejo é uma ordem, uma ordem
categórica. Desejo é ter uma vontade imperiosa que nos incita à ação, que nos leva à ação. Quais desejos
podemos pensar? fome, sede, sono, prazer, felicidade, realização, satisfação, sexo... e a lista seguirá.
Devemos entender que estes desejos são naturais ao ser humano, Deus nos fez assim. Quando Deus fez o
homem, em acréscimo ao restante da criação, olhou tudo, o homem inclusive, “e viu que era muito bom”.
Em seu estado de pecado o homem é dominado pelas inclinações da carne. Os desejos tornam-se
imperiosos em suas exigências, começam a reclamar direitos e impelir-nos. Os psicólogos falam de
“impulsos”, a Bíblia fala em “apetite desordenado” (ARC) e “paixão lasciva” (ARA) - Cl 3.5
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Todos precisamos dormir, mas existe isso de ser glutão de sono, e nesse ponto passou a ser um
desejo da carne, e pode arruinar o homem. Não há nada de errado com o prazer, mas quando o prazer
começa a dominar e a tornar-se tão importante. Não há nada errado em comer, mas, quando comemos
desenfreadamente e somos dominados pelo comer, consequentemente estamos sob domínio da carne.
Deus ordenou o sexo - porém Deus nunca ordenou a prática do sexo pelo sexo. Não há nada errado
em toda gente desejar parecer bela e atraente; entretanto, quando você começa a ter toda a sua mente
centralizada nisso, e quando você vive para isso, pensa nisso e fala disso, e gasta com isso muito dinheiro,
passou a ser um desejo da carne.
Como podemos vencer a carne? O que devemos fazer para não sermos vencidos pelos desejos?
Como uma criancinha que não tem condições de sobreviver sozinha, assim também o espírito independente
não dispõe de condições necessárias para vencer o pecado que se esconde em seus membros (Cl 3.5).
“Vigiai e orai... o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). O pastor Russel Shedd
nos encoraja a vencer a carne com as seguintes estratégias:

a) A destruição das fontes de sustento - devemos tomar medidas para sufocar a carne, privando-a
de tudo que a sustenta. Romanos 13.14 - “disponhais” = fazer provisões, premeditar, cuidar de antemão,
providenciar, idealizar como satisfazer, ter cuidado. Gálatas 5.13 - “ocasião” = um termo militar aplicado
a uma base de operações, os recursos que utilizamos ao empreender ou realizar algo. O cristão deve se
resguardar em fornecer meios para que a carne se fortaleça e o domine.
Na prática, temos que privar os desejos malignos de qualquer “direito” ou “posição privilegiada”
que dê alguma vantagem sobre nós. Diligência em cortar os meios, condições e práticas que alimentam a
carne é um passo eficiente para enfraquecer as tentações promovidas por ela. Passamos muito tempo
maquinando situações, preparando momentos, providenciando meios para satisfazer a carne.

b) A mortificação da carne - Devemos “matar” a nossa natureza terrena (Cl 3.5). Este assassinato
espiritual, “de nossos membros que estão sobre a terra”, fala das práticas que se utilizam dos membros do
corpo para efetuar suas atividades. Como podemos tirar a vitalidade ou força das paixões que nos
atormentam? Paulo indica que a mortificação é também uma operação do Espírito: “...mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” (Rm 8.13). O carrasco executará a sentença,
matando os “desejos” da carne se nós assim decidirmos.
Com o auxílio do Espírito afastaremos, uma por uma, as fontes que incitam a carne: se for o sexo,
devemos cortar os incentivos, tais como filmes, revistas, leitura, internet, enfim, todo e qualquer
relacionamento, atividade ou local que alimente a concupiscência ou lascívia.
Para matar a nossa “natureza terrena” nós devemos nos entregar inteiramente ao Senhor. Para Deus
ter tudo de nós, precisamos parar de dividir nossas vidas entre: a) “tempo e atividades para Deus” e b)
“tempo e atividades para nós”.
Quantas vezes ouvimos as pessoas supervalorizarem diversões, práticas esportivas, o sono, o
dinheiro, o sexo e algumas frases são comuns: “nosso corpo precisa disso”, “não bebo, não fumo, só tenho
este vício e não faz mal para ninguém”; “homem precisa de sexo todos os dias, se não encontra em casa ele
procura noutro lugar”.

c) O afastamento das paixões - A vitória sobre a força maligna em nós mesmos demanda fuga (1
Tm 6.11). O “homem de Deus” deve correr em direção oposta à avareza, do amor ao dinheiro (I Tm 6.9,10).
O cristão deve fugir da idolatria (I Co 10.14). O cristão deve fugir da prostituição, da impureza (I Co
6.18,19). Dos desejos malignos da juventude (2 Tm 2.22a).
Podemos acrescentar a isso também o prescrito no Salmo 1: a) não andar no conselho dos ímpios,
b) não se deter no caminho dos pecadores, c) não se assentar na roda dos escarnecedores.
Mas, como sabemos o cristianismo não é baseado em coisas que não fazemos apenas, ou seja, não
basta não fazer o que é errado. É preciso fazer o que é certo, precisamos “seguir a justiça, a piedade
(santidade), a fé, o amor, a constância, a mansidão” (l T m 6.11). A vitória sobre a tendência para o pecado
requer mais do que negação e abandono. Requer uma busca pela virtude corretas e práticas cristãs sadias.
(Hb 12.14; 2 Tm 2.22b; Mt 6.33, Cl 3.1).
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Aqui também podemos acrescentar a outra parte do salmo 1, pois, o bem-aventurado n]ão é
conhecido apenas por aquilo que ele não faz, mas, também pelo que ele faz: a) o seu prazer está na lei do
SENHOR, b) e na sua lei medita de dia e de noite.

d) O despojamento da carne. Em quarto lugar, a Bíblia nos exorta a nos despojarmos do “velho
homem” e nos revestirmos do “novo homem” (Ef 4.22,24s.; Rm 13.12, 14; Cl 3.8; Hb 12.1; Tg 1.21; 1 Pe
2.1).
A figura de tirar as roupas da velha vida, anterior ao arrependimento e conversão, surgiu do batismo.
O novo convertido, uma vez convicto de que a vida sujeita aos apetites da carne não era digna da nova
criação (2 Co 5.17), despojava-se de suas velhas roupas, recebia o banho cristão (Jo 13.10) e, em seguida,
vestia trajes novos que representavam a pureza de vida.

Martin Lloyd Jones chama nossa atenção para vermos que além dos desejos (inclinações) da carne,
Paulo também menciona os desejos dos “pensamentos” ou “das habilidades intelectuais” ou “da mente”.
Para defender seu ponto de vista, ele aponta pecados e transgressões que muitas vezes não são trazidos ao
nível material (como o adultério o é), mas que dominam mente, sentimentos e pensamentos como: ciúme,
inveja, malícia, orgulho, ódio, ira, crueldade... que muitas vezes povoam nossas mentes, mas, achamos que
não é ruim por que não se materializa como a gula, a preguiça, etc.
Ele cita ainda a ambição, a cobiça de riqueza; o desejo de posição; o desejo de determinado “status”
social; o desejo de ser importante na vida; o desejo de poder; o desejo de sucesso. Os mexericos e as
conversas governadas pelo desejo de ser importante; sabemos algo que algum outro não sabe, e ficamos
alegres com o fato, nos sentimos importantes, mais sabidos. Acrescenta ele ainda mais: prazer em
argumentar, discutir, criticar e exibir inteligência.
Ele insiste, podemos pensar nisso em termos das pessoas com os seus passatempos, com os seus
jogos e com os seus interesses. Estas coisas são inocentes. Tudo bem com um passatempo, tudo bem com
um jogo desportivo; mas se você vive para isso, não está certo; tornou-se um desejo que domina a mente.
E conclui dizendo que o domínio dos pensamentos, ou a escravização da mente se mostra em tempos
de recessão. Segundo ele, mesmo com elevado aumento de preços as pessoas não deixam de consumir,
porque são levados por seus impulsos, são cativos. Vontade é força, é poder. Aumenta-se o preço, mas eles
continuarão a comprar. E isso continuará sendo assim. Por quê? Porque o homem é impulsionado por
desejos, por cobiças. Não consegue impor disciplina a si mesmo.
Podemos refletir nessa afirmação de Jones, podemos discordar dela, entretanto, se pararmos para
pensar em algumas recessões que já passamos - alimentos específicos (tomate, carne); combustível; objetos
que compramos e não precisávamos deles, mas, nosso vizinho ou amigo comprou e nós também
compramos; etc. teremos que dar razão para ele, o que não queremos é admitir que somos dominados.
De fato, conforme a exposição de Paulo em Filipenses 3:3-6, a carne abrange todas as formas de
autoconfiança, até mesmo o orgulho dos antepassados, dos pais, da raça, da religião da justiça. Sempre que
o “eu” levanta a sua terrível cabeça contra Deus ou contra o homem, eis aí a carne.
Conforme F. F. Bruce corretamente comenta, “pode manifestar-se em formas respeitáveis bem
como nas atividades infames do paganismo do século I”. E, por mais respeitável que seja a aparência externa
(ou o disfarce em público) que ele adota, o nosso egocentrismo inveterado é uma escravidão horrível.
c) o diabo - A terceira influência que nos mantém na escravidão é o diabo. O mundo antigo cria
vigorosamente nos demônios. Pensavam que o ar estava tão infestado deles que era impossível inserir entre
eles um alfinete.
A Bíblia nos mostra o diabo feroz como um leão que ruge, faminto e cruel, à procura de alguém
para devorar (1 Pe 5.8). Está fora de moda hoje em dia na igreja (mesmo estando o satanismo vicejando
fora dela) crer num diabo pessoal ou em inteligências demoníacas pessoais, sob o comando dele. Não há,
porém, nenhuma razão óbvia para que seja a moda eclesiástica o que dirija a teologia, já que o ensino claro
de Jesus e dos seus apóstolos (sem mencionar a igreja dos séculos subsequentes) endossava a existência
malévola deles.
Uma frase adicional é do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. Visto que a palavra
espírito está no genitivo, não está em aposição a príncipe (acusativo). Devemos entender, pelo contrário,
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que “o príncipe da potestade do ar” também é “o príncipe do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência”. “Espírito” então passa a ser uma força ou disposição impessoal que esta ativamente
operando nas pessoas não cristãs.
Como as Escrituras identificam o diabo não apenas como a fonte das tentações ao pecado, mas
também como um leão e um assassino, podemos com segurança fazer remontar a ele, em última análise,
todo o mal, todo o engano e toda a violência.
A Bíblia apresenta eficientes meios para resistir ao que ruge como leão:
a) Amarrar o Homem Forte (o Maligno) - Um guerreiro valente, que guarda sua própria casa, não
teme um adversário, a não ser que ele seja “mais valente”. Este título representa o próprio Filho de Deus
que “vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos” (Lc 11.21s.). Jesus, cheio do
Espírito Santo (Lc 4.1, 14), demonstrou, com Sua vitória, uma força maior que a do diabo. Era o poder do
“reino de Deus que certamente é chegado sobre vós” (Lc 11.20).
Para algemar o demônio é necessário que haja uma intervenção de Deus na pessoa do Espírito (Mt
12.28). Mas as áreas da vida humana que não estiverem sob o Seu controle estarão sujeitas a serem
reconquistadas pelo valente Satanás. Toda vitória vem de Deus, mas a derrota é nossa. Por isso, é de máxima
importância pedir o enchimento do Espírito (Lc 11.13; Ef 5.18), que é a estratégia prioritária nesta guerra
espiritual.
b) Não Dar Lugar ao Diabo (Ef 4.27) - Lutar com sucesso contra este inimigo infernal requer uma
ampla compreensão deste curto versículo. No contexto, Paulo faz transparecer que um crente concede
espaço livre para Satanás operar dentro de si e na igreja, sempre que a ira persiste no seu íntimo mais do
que poucas horas. Não pecamos, necessariamente, cada vez que ficamos zangados (Ef 4.26).
Qualquer ira guardada de um dia para outro transforma-se em um campo arado e fertilizado para o
diabo semear sua erva daninha. “Abandona o furor; não te impacientes; certamente isso acabará mal” (Sl
37.8). Este é um conselho bíblico que, ao ser rejeitado, traz tristeza eterna. “Melhor é o que domina o seu
espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32).
c) Reivindicar a União com Cristo - Um dos objetivos da vinda de Jesus Cristo ao mundo foi
“destruir as obras do diabo” (1 Jo 3.8). Foi na cruz que se travou a batalha principal. Os principados e
potestades (provavelmente os mais poderosos servos na hierarquia do Maligno) caíram em confusão diante
dessa investida. Paulo declara que foram despojados quando Cristo “publicamente os expôs ao desprezo,
triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). Pela sua morte vicária, nosso Senhor aniquilou o poder de Satanás
sobre suas vítimas que, em seguida, passaram a pertencer a Jesus (Ef 4.8).
A realidade da vida vitoriosa sobre Satanás deve ser atingida unicamente pela fé; “Não sou eu quem
vive” (G1 2.20) abre espaço para a verdade de que “Cristo vive em mim”. O Senhor venceu o diabo
totalmente. Esse fato, por ser real, deve servir de base para a afirmação da nossa fé. Posicionalmente, nossa
vitória sobre Satanás é fato consumado. Na experiência do dia a dia, podemos aproveitar a vitória de Cristo,
crendo nisso e considerando reais os fatos declarados na Bíblia (Rm 6.11)
d) Vestir Toda a Armadura de Deus (Ef 6.10-18) - De acordo com o conhecido trecho de Efésios,
sabemos que nossa luta não é contra pessoas físicas (“carne e sangue”), mas contra inteligências
desencarnadas que dominam as trevas do mundo. Essas “forças espirituais do mal” (Ef 6.12) tornam efetiva
a força presente de Satanás. Quem cai diante delas é vencido pelo diabo.
A vitória é nossa se resistirmos no dia mau (v. 13), após vencer tudo que destruiria nossa fé. Se os
nossos inimigos infernais são tão numerosos e cheios de poder (e.g., “potestades, dominadores deste
mundo”), há certeza absoluta de que qualquer resistência contra eles será inútil, a não ser que estejamos
vestidos com toda a armadura de Deus. As trevas são ineficazes contra as armas fornecidas por Deus
04/03/2020-23

3 - ESTÁVAMOS CONDENADOS 2.3


Paulo ainda não terminou de descrever o nosso estado pré-cristão. Ele tem mais uma verdade
desagradável para nos contar acerca de nós mesmos. Não somente estávamos mortos e escravizados, diz
ele, mas também estávamos condenados:
“Éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (v. 3b).
Durante bom número de anos, o conceito moderno é, em geral, que Deus é um Deus de amor e que
só devemos pensar em Deus em termos de amor. Falar sobre a ira de Deus, é o que nos dizem, é totalmente
incompatível com toda ideia de Deus como um Deus de amor. Há cristãos que defendem que o Deus do
Antigo Testamento sim era um Deus de ira, de castigos, de punições e o do Novo Testamento está sempre
com a bandeira da paz e do amor em Sua mão, não mais executando ira sobre a humanidade.
Existem pessoas que interpretam completamente mal o termo ira. Pensam em ira como uma
manifestação descontrolada de raiva. Não podem pensar em ira sem ligá-la à ideia de alguém tremendo de
furor e roxo de raiva, alguém que perdeu o domínio próprio, que fala e age violentamente.
Este tipo de reação pode ser comum no ser humano, mas, quando se fala de ira de Deus, biblicamente
falamos da manifestação de indignação baseada na justiça. É a hostilidade pessoal, reta, e constante de Deus
contra o mal, sua recusa firme de ceder o mínimo que seja para o mal, e sua resolução de condená-lo.
A ira parece mais uma atividade de Deus do que uma emoção. Expressões que se referem à ira de
Deus nunca são ligadas ao coração. A ira de Deus no Antigo Testamento vem sobre indivíduos: Moisés (Ex
4.14; Dt 1.37); Arão (Dt 9.20); Arão e Miriã (Nm 12_9); Nadabe e Abiú (Lv 10.1-2); Israel (Ex 12.10 e
muitas outras referências); e as nações (Sl 2.5; Is 13.3,5, 13; 30.27; Jr 50.13, 15; Ez 25.4; 30.15; Sf 3.8).
A ira de Deus no Antigo Testamento vem sobre indivíduos: Moisés (Ex 4.14; Dt 1.37); Arão (Dt
9.20); Arão e Miriã (Nm 12_9); Nadabe e Abiú (Lv 10.1-2); Israel (Ex 12.10 e muitas outras referências);
e as nações (Sl 2.5; Is 13.3,5, 13; 30.27; Jr 50.13, 15; Ez 25.4; 30.15; Sf 3.8).
A doutrina também está presente no Novo Testamento. O primeiro pregador do Novo Testamento
foi João Batista. Que é que ele dizia? Dizia: “Fugi da ira vindoura”; “Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado, fugi da ira vindoura”. Os fariseus vieram para ser batizados por João, e ele os fitou e lhes
disse: “Quem vos ensinou a fugir da ira futura?” (Mateus 3:7).
Em João 3:16 sabemos que o oposto da vida eterna é perecer, que ensina isso. O versículo 36 é mais
enfático ainda: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. Noutras palavras, todos os homens estão
sob a ira de Deus, e se não cremos no Filho de Deus, a ira de Deus permanece sobre nós. Paulo, também
pregou sobre a ira de Deus (At 17.31), escreveu sobre ela (Rm 1.18; Ef 5.6; I Ts 1.10). João escreveu em
Apocalipse (6.16; 14.10; 19.150.
Então, não apenas o Antigo, mas, também o Novo Testamento fala da ira de Deus. E a ira de Deus
é uma expressão do Seu ódio ao pecado, uma expressão da punição do pecado. Uma clara afirmação neste
sentido é que, se morrermos em nossos pecados, iremos para o castigo eterno. Esse é o ensino das Escrituras.
A ira de Deus contra o pecado manifesta-se finalmente no inferno, onde os homens e as mulheres continuam
fora da vida de Deus, em miséria e angústia, escravos dos seus próprios desejos e cobiças, egoístas e
egocêntricos.

Em que sentido por natureza éramos objeto da ira e do julgamento de Deus?


Todos nós éramos por nosso próprio nascimento filhos da ira, como os outros também. Notem que
o apóstolo não diz “nos tornamos” filhos da ira por causa da nossa natureza; diz ele que “éramos”. Noutras
palavras, em harmonia com a Bíblia toda, o apóstolo não ensina que nascemos neste mundo num estado de
inocência e num estado de neutralidade, e que depois, porque pecamos, nós nos tornamos pecadores e
passamos a estar debaixo da ira de Deus.
O apóstolo não está dizendo que estamos sob a ira de Deus somente por causa da nossa natureza ou
da manifestação da nossa natureza. Ele afirma que estamos nesta situação “por nascimento”. Aqui devemos
nos lembrar de que não apenas somos descendentes de Adão que pecou e caiu, mas que, estávamos em
Adão (Rm 5.13,14)
04/03/2020-24

A lei foi dada por intermédio de Moisés, vocês se lembram; todavia houve aquele longo intervalo
entre Adão e Moisés, provavelmente pelo menos um período de quase dois mil e quinhentos anos. Pois
bem, durante todo aquele longo período o pecado estava no mundo, mas, diz ele, o pecado não é imputado
quando não há lei.
Noutras palavras, se não há uma lei para definir o pecado, o pecado não é dado a conhecer ao
homem. Cabe à lei dar a entender o pecado à mente, ao coração e à consciência do homem. Se, por exemplo,
não houvesse leis sobre estacionamento e trânsito, eu e você poderíamos continuar a praticar coisas errôneas
e más, porém, se não houvesse lei sobre estas questões, não poderíamos ser punidos. É o que ele está
dizendo, “o pecado não é imputado, não havendo lei”. “No entanto”, diz ele, “a morte reinou desde Adão
até Moisés”.
Eis o problema: embora a lei não tenha sido dada até o tempo de Moisés, não obstante, de Adão a
Moisés as pessoas morreram. Todos os que nasceram no mundo morreram. Por que morreram? Que foi que
causou a morte daquelas pessoas, apesar de não haver lei imputando o pecado naquele período? A resposta
do apóstolo é que há somente uma explicação; todos eles morreram porque foram envolvidos no pecado de
Adão. Não há outra explicação. A única razão pela qual a morte reinou de Adão até Moisés é que aquele
único pecado de Adão trouxe a morte a toda a sua posteridade. Noutras palavras, nascemos “por natureza
filhos da ira”.
Notem então o ponto subsequente, que é mais extraordinário ainda. Diz ele que a morte reinou de
Adão a Moisés, “até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”. Que é que
isso pode significar? Significa que a morte reinou até sobre as pessoas que realmente não cometeram um
ato de pecado como fez Adão quando caiu. Quem eram?
E há só uma resposta possível: eram crianças que morreram na infância. Todos os outros homens
pecaram. Todos os que viveram, desde Adão, cometeram atos deliberados de pecado. Os únicos que não
pecaram à semelhança da transgressão de Adão, que não pecaram deliberadamente, são as crianças
demasiado novas para exercerem a sua vontade por serem incapazes de usar a consciência. A morte reinou,
diz Paulo, de Adão a Moisés, até mesmo sobre as crianças pequenas. Porque estas morrem? Há somente
uma resposta. Morrem porque a transgressão de Adão as envolve. “A morte reinou desde Adão até Moisés,
até sobre aqueles que não pecaram à semelhança de Adão.”
Adão era toda a humanidade e representava a humanidade toda. Ele foi o nosso cabeça federal.
Assim como o Senhor Jesus Cristo é o representante de todos os que são salvos, assim como a Sua justiça
nos é imputada, igualmente Adão foi o nosso representante e o seu pecado nos é imputado. Nele nós caímos,
nele e por causa da sua ação sofremos a condenação eterna. Exatamente da mesma maneira, os que crêem
em Cristo são redimidos por Ele, são salvos nEle e são justificados nEle, por causa da Sua ação a nosso
favor.
A morte, a escravidão e a condenação: estes são os três conceitos que Paulo junta para retratar nossa
condição humana perdida. É por demais pessimista? Bem, devemos concordar (como ele teria feito) que
esta não é a verdade total acerca da raça humana. Nada diz aqui acerca da “imagem de Deus”, em que os
seres humanos foram originalmente criados e que — agora lastimavelmente danificada — ainda retêm,
embora certamente creia nela e fale da nossa redenção em termos de uma nova criação na imagem de Deus
(v. 10 e 4:24).
É por não reconhecerem a gravidade da condição humana que tantas pessoas buscam soluções com
remédios superficiais. A educação universal é altamente desejável. Assim também são as leis justas
administradas com retidão. Ambas agradam a Deus que é o Criador e o justo Juiz de toda a humanidade.
Mas nem a educação nem a legislação podem salvar os seres humanos da morte, do cativeiro ou da
condenação espirituais. Uma doença séria exige um remédio sério.

II. O HOMEM DEBAIXO DA GRAÇA DE DEUS - 2.4-10


O versículo começa com uma conjunção adversativa. Mas Deus... E estas duas palavras contrapõem
à condição desesperadora da humanidade caída a iniciativa graciosa e a ação soberana de Deus.
Éramos o objeto da sua ira, mas Deus... por causa do grande amor com que nos amou teve
misericórdia de nós. Nós estávamos mortos, e os mortos não ressuscitam, mas Deus nos vivificou com
Cristo.
04/03/2020-25

Éramos escravos, numa situação de desonra e incapacidade, mas Deus nos ressuscitou juntamente
com Cristo e nos colocou à sua própria mão direita, numa posição de honra e poder. Deus então agiu para
inverter a nossa condição no pecado.
É essencial manter unidas as duas partes deste contraste, ou seja: o que somos por natureza e o que
somos pela graça, a condição humana e a compaixão divina, a ira de Deus e o amor de Deus.

1- O QUE DEUS FEZ


Deus nos salvou - verdade declarada nos versos 5 e 8: “... Pela graça sois salvos...”
Nos dois versículos Paulo usa o verbo no particípio perfeito, o que enfatiza uma ação passada e
completa, essa verdade deve ser entendida assim: “Sois pessoas que fostes salvas e que permaneceis salvas
para sempre!”
Para assegurar a salvação efetuada por Deus em nosso favor, o autor retoma o pensamento do
capítulo anterior quando quis mostrar o poder e a grandeza de Deus através das obras que Ele fez em Cristo
- ressurreição, ascensão e exaltação - e nos liga a Cristo nestes eventos:
a) “...nos deu vida juntamente com Cristo...” v.5
b) “...juntamente com ele, nos ressuscitou...” v.6a . (Jo 5.24)
c) “...nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus...” 6b
Dessa forma, a salvação é muito mais que perdão de pecados (que já é uma grande vitória para nós).
Há uma identificação nossa com Jesus. O que Deus fez por nós espiritualmente, diz o apóstolo, é
comparável ao que Ele fez a Jesus Cristo quando O ressuscitou dentre os mortos e O levou para Si para que
Ele Se assentasse nos lugares celestiais.
Todos os tempos verbais que o apóstolo emprega justamente nestas palavras que estamos estudando
estão no passado; ele não diz que Deus vai nos ressuscitar, vai nos vivificar, vai fazer-nos sentar nos lugares
celestiais; ele afirma que Ele já o fez, que quando estávamos mortos Ele nos vivificou. E o tempo verbal
certifica que é algo que se completou, e uma vez por todas já foi feito. Assim é que temos que dizer de nós
mesmos, como cristãos, que fomos vivificados (regenerados), fomos ressuscitados, e estamos sentados nos
lugares celestiais.

2- POR QUE DEUS FEZ?


Paulo vai além de uma descrição da ação salvadora de Deus; faz-nos compreender a sua motivação.
Na realidade, a ênfase principal deste parágrafo é que o que levou Deus a agir em nosso favor não foi algo
em nós (algum suposto mérito) mas, sim, algo nele mesmo (seu próprio favor que não merecíamos).
Paulo reúne quatro palavras para expressar as origens da iniciativa salvadora de Deus:
a) “misericórdia” de Deus (Deus, sendo rico em misericórdia, v. 4a);
b) “amor” de Deus” (...grande amor com que nos amou, v. 4b);
c) “graça” de Deus (pela graça sois salvos, vs. 5 e 8);
d) “bondade” de Deus (em bondade para conosco, em Cristo Jesus, v. 7).
Estávamos mortos e, portanto, incapazes de salvar-nos a nós mesmos: somente a misericórdia podia
alcançar os incapazes, pois misericórdia é amor para com os totalmente privados de recursos.
Estávamos debaixo da ira de Deus: somente o amor poderia triunfar sobre a ira.
Nada merecíamos nas mãos de Deus a não ser o julgamento, por causa dos nossos delitos e pecados:
somente a graça poderia salvar-nos do que merecíamos, pois a graça é o favor imerecido
Por que, pois, Deus agiu? Movido pela sua pura misericórdia, pelo seu amor, pela sua graça e por
sua bondade!
Ao ressuscitar e exaltar a Cristo, Deus demonstrou “a suprema grandeza do seu poder” (1:19-20);
mas ao nos ressuscitar e exaltar demonstrou também “a suprema riqueza da sua graça” (2.7). Por natureza,
Deus é amor e o amor de Deus na relação com os pecadores é revelado em Sua graça e misericórdia. Somos
salvos pela misericórdia e pela graça de Deus. Tanto a misericórdia como a graça vêm a nós por meio do
sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Foi no Calvário que Deus demonstrou seu repúdio ao pecado e seu amor
pelos pecadores. (Rm 5.8,9)
Os versículos 8-10 desenvolvem o tema da graça de Deus, e explicam por que Deus demonstra a
sua graça e bondade para conosco em Cristo Jesus. É por causa da nossa salvação. Deus nos mostrará a sua
graça porque foi por ela que nos salvou. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
04/03/2020-26

vós, é dom de Deus. Aqui temos três palavras fundamentais das boas novas cristãs — a salvação, a graça e
a fé.
A salvação é mais do que o perdão. É a libertação da morte, da escravidão e da ira descritas nos
versículos 1-3. Inclui a totalidade da nossa nova vida em Cristo, juntamente com quem fomos vivificados,
exaltados e feitos assentar no âmbito celestial. A graça é a misericórdia de Deus, livre e imerecida, para
conosco, e/e é a confiança humilde com que nós a recebemos.
Para reforçar a soberana ação de Deus na salvação do homem, Paulo acrescenta duas negações:
a) “...e isto não vem de vós...”
b) “...não de obras, para que ninguém se glorie...”
Nunca devemos pensar na salvação como sendo um tipo de transação entre Deus e nós, onde ele
contribui com a graça e nós contribuímos com a fé. Quando Paulo diz que “isto não vem de vós” devemos
entender que a afirmação se refere à frase anterior: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé...”.
Não se trata da vossa realização (isto não vem de vós) nem como recompensa por quaisquer dos
vossos atos de religião ou de caridade (não de obras). Não havendo, então, lugar para o mérito humano,
também não há lugar para a arrogância humana. A salvação é dom de Deus, para que ninguém se glorie.
Os cristãos não se sentem bem com o orgulho, pois entendem a sua incoerência.
A salvação é dom de Deus, para que ninguém se glorie. “O céu estará cheio das façanhas de Cristo
e dos louvores de Deus. Realmente haverá uma demonstração no céu. Não uma demonstração de nós
mesmos, mas, sim, uma demonstração da incomparável riqueza da graça, da misericórdia e da bondade
de Deus por meio de Jesus Cristo”.(STOTT)

3- PARA QUÊ DEUS FEZ? V.10


Poderíamos imaginar que Paulo já ensinou sua lição e está pronto para passar para outro tópico. Mas não,
está decidido a não deixar o tema até que o tenha exposto além de qualquer possível mal-entendido. Assim, acrescenta
mais uma afirmação positiva, decisiva e gloriosa (v. 10): A primeira palavra na frase, no original é “dele”.
Paulo já declarara que a salvação não é nossa realização. Agora, não apenas declara o oposto, ou
seja, que é realização de Deus, mas vai além. Deixa para trás qualquer ideia de salvação como algo isolado,
fora e à parte de nós mesmos. Está preocupado conosco, com seres humanos vivos que estávamos mortos.
O que somos agora? Somos feitura de Deus (“sua obra de arte, sua obra-prima”) e “criados” em Cristo
Jesus.
As duas palavras gregas falam de criação. Até esta altura, Paulo já descreveu a salvação em termos de uma
ressurreição dentre os mortos, uma libertação da escravidão e um salvamento da condenação. E cada uma destas
descrições declara que a obra é de Deus, porque os mortos não podem ressuscitar a si mesmos, nem as pessoas presas
e condenadas podem libertar a si mesmas.
Mas agora explana a questão sem deixar a mínima sombra de dúvida. A salvação é a criação, a nova criação.
E a linguagem da criação é um contrassenso a não ser que haja um Criador; a autocriação é uma contradição patente
de termos.
Não é que permanecemos passivos e inertes. Alguns críticos têm pensado assim e supõem que a doutrina de
Paulo da salvação pela graça somente nos encoraja a viver no pecado. As boas obras são indispensáveis para a
salvação - não como sua base ou meio, mas, sim, como sua consequência e evidência.
Não somos salvos por causa de obras {vs. 8-9), mas, sim, somos criados em Cristo Jesus para boas obras (v.
10), boas obras estas que Deus de antemão preparou, segundo o seu desígnio, numa eternidade passada e para as
quais nos criou, a fim de que continuadamente andássemos nelas.
Assim termina o parágrafo como começou, com o nosso andar humano, uma expressão idiomática hebraica
para a nossa maneira de viver. Antigamente andávamos em delitos e pecados nos quais o diabo nos prendera; agora
andamos nas boas obras, conforme Deus eternamente planejou que fizéssemos. O contraste é completo. É um
contraste entre dois estilos de vida (o mau e o bom) e, por trás deles, dois senhores (o diabo e Deus). O que poderia
ter ocasionado semelhante mudança? Somente uma nova criação pela graça e pelo poder de Deus.
Paulo não nutria ilusões a respeito da degradação da raça humana. Recusou-se a passar uma demão de cal na
situação, pois isso poderia levar a propostas de soluções superficiais de sua parte. Pelo contrário, começou este
parágrafo com um retrato fiel do homem na sua sujeição a três poderes terríveis: o pecado, a morte e a ira. Porém,
recusou-se a cair em desespero porque acreditava em Deus.
É verdade que a única esperança para os mortos acha-se numa ressurreição. Mas, afinal, o Deus vivo é o
Deus da ressurreição. Mais ainda, ele é o Deus da criação. As duas metáforas indicam a necessidade indispensável
da graça divina. A ressurreição, pois, é dentre os mortos, e a criação é do nada. Este é o verdadeiro significado da
salvação.
04/03/2020-27

UMA NOVA HUMANIDADE - Ef 2.11-22


Em 2: 1-10, Paulo mostrou nosso passado terrível quando andávamos em nossos pecados (2: 1-3),
seguido por esse glorioso contraste, “Mas Deus”, levando às incríveis bênçãos que agora desfrutamos em
Cristo ( 2: 4-9). Então ele explica a consequência de Deus nos criar de novo, para que agora andemos em
boas ações (2:10).
Paulo repete a mesma progressão em 2: 11-22, mas com o foco não tanto em nossas bênçãos
individualmente, mas corporativamente. Ele nos lembra nosso passado espiritual (2: 11-12), quando éramos
alienados de Deus e de Seu povo da aliança. Então ele volta novamente com o glorioso contraste: “Mas
agora”, seguido pelas nossas atuais bênçãos corporativas de reconciliar-se com Deus e Seu povo (2: 13-
18). Ele conclui (2: 19-22) mostrando, que agora estamos sendo construídos juntos em um templo sagrado
onde o próprio Senhor habita no Espírito.

I - “PORTANTO, LEMBRAI-VOS...”
Precisamos notar que na mente de Paulo, e certamente isso sob inspiração do Espírito, não há tempo
para o cristão “baixar a guarda” e nem espaço para qualquer tipo de orgulho espiritual. Há verdades que
não devem ser esquecidas, sendo assim ele nos traz um imperativo de “lembrar”, e pela conjunção
“portanto”.
“Portanto”, isto é, porquanto vocês, efésios, uma vez mortos, foram vivificados pela graça mediante
a fé e para boas obras (vs.1-10), considerem seu atual e elevado estado à luz de sua anterior e
miserável posição, a fim de que possam glorificar a Deus. O que deve ser lembrado?

1) Que eles eram gentios incircuncisos


O termo traduzido por gentios, no Antigo Testamento (goyim), em primeiro lugar designava apenas
as nações de forma genérica (Gn 10.5, 20,31).
Ainda em Gênesis, na aliança que Deus estabeleceu com Abraão, vemos como seus descendentes
passaram a ser distinguidos das outras nações (Gn 12:2,3; 18:18; 22:18; 26:4). Os descendentes de Abraão
seriam uma nação eleita, escolhida pelo próprio Deus, e responsáveis por ensinar outras nações acerca dos
mandamentos do Senhor (Êx 19:4-6; Dt 26:5; Is 42.6).
Os judeus eram circuncisos, os outros não. Mas isso não era para ser uma barreira. Deus não criou
uma nação para não se importar com as outras; Ele criou a nação dos judeus para falar por meio deles ao
mundo inteiro. Entretanto o judeu o tinha entendido erroneamente. Ele transformara essa diferença numa
barreira, mantinha-se separado e desprezava os demais.
Não somente “na carne”, mas também “por mãos humanas,” diz Paulo, isto é, puramente humana.
Quais são as coisas que estão causando divisão na Igreja hoje?
No decorrer dos tempos, a expressão “gentios” passou a ser usada de forma pejorativa, aplicada
principalmente de uma forma que enfatizava o estado idólatra e decaído dos outros povos que não os judeus.
(Sl 9:5; 10:16).
Ao longo do Antigo Testamento, diversas vezes notamos como os israelitas eram tentados a se
misturar com as práticas idólatras e imorais praticadas pelos gentios (1 Reis 14:24; Ez 5.5-7)
Por conta da desobediência, o povo de Israel fracassou em ser o que pretendia ser, isto é, Israel
deveria ser luz para os gentios que estavam em trevas, mas acabou servindo de escândalo ao nome de Deus
(Isaías 52:5; Romanos 2:19).
O propósito era que Israel fizesse as demais nações se voltar ao SENHOR, porém, na história do
povo de Deus percebemos que a noção de um “povo escolhido para levar luz”, foi trocada pelo orgulho
espiritual, pela ideia de exclusividade e pelo menosprezo das nações.
Era uma ordenança de Deus que o judeu fosse circuncidado, porém o judeu exagerava isso ao ponto
de dizer que só havia uma verdadeira nação na terra, a nação judaica. Imaginem os judeus vivendo no
período de Hitler e ouvindo que eles deveriam ser exterminados, por serem considerados uma “raça
deformada’.
Alguns ensinos e práticas que os judeus anunciavam contra os gentios:
- Os gentios tinham sido criados por Deus para ser combustível para o fogo do inferno.
- Os judeus viam os gentios como “cães” impuros.
04/03/2020-28

- Não era permitido ajudar a uma mãe gentia a dar à luz, pois seria simplesmente trazer ao mundo
um gentio a mais. Era preferível, de acordo com os judeus, deixar mãe e bebê morrerem.
- Os homens judeus oravam todas as manhãs: “Senhor, obrigado por não me fazer gentio ou mulher.”
Eles nunca comeriam com um gentio (Atos 11: 2-3).
- Se um judeu ou uma judia se casasse com um gentio, era feito o funeral do jovem ou da jovem
judeu.
Nos dias de Jesus, não era permitido aos gentios a entrada no Templo era proibida (At 21.28,29).
Havia dentro dos muros e bem por fora dos Templo um espaço destinado aos gentios, que podiam ver, mas,
não podiam entrar naquele lugar. Um muro (barreira de separação, 2.14) de cerca de 1,5 metros foi erguido
e nele eram colocados avisos como este: “Os que ultrapassarem a barreira serão mortos”.
Sobre a barreira nos diz o texto de Josefo: “Sua construção era muito elegante; sobre ela havia
pilares a distâncias iguais, declarando a lei da pureza, alguns com letras gregas, outros com letras romanas,
alertando que “nenhum estrangeiro entrasse naquele santuário”.

2- As alienações dos gentios incircuncisos

a) Sem Cristo
Durante todo o período antes de Cristo, os gentios não estavam em Cristo nem com Cristo mas,
sim, separados de Cristo, nem sequer tinham a expectativa de um Messias vindouro. Até nos dias de maior
tribulação e amargura os judeus jamais duvidaram da vinda do Messias. Mas os gentios não possuíam tal
esperança. Jamais conheceram nem esperaram um Messias.
Desde a queda houve a promessa de UM que viria e redimiria a humanidade (Gn 3.15; 1Cr 17, 11;
Is 9.6,7). Para o judeu a história sempre conduzia a uma meta; como quer que fosse o presente, o futuro se
previa glorioso; toda a vida era o chamado de um presente impossível a um futuro radiante
Para os gentios, por outro lado, a história não se dirigia a nenhuma parte, em geral a crença era numa
história ou vida cíclica - onde se começava, vivia, morria e começava a viver novamente. Sem nenhuma
intervenção divina nessa história.
Os gentios - e nós também - haviam vivido, sim, tateando no escuro, na imundícia, no desespero
que o pecado provoca. A luz, a santidade e a esperança que desfrutam aqueles que obtêm o conhecimento
de Cristo não se tomara ainda sua porção
Os que afirmam que todas as religiões são tão aceitáveis para Deus quanto a fé cristã terão
dificuldade em aceitar essa passagem, pois Paulo refere-se à situação dos efésios sem Cristo como uma
tragédia incontestável.
Esse termo, “separado de Cristo”, deve sobrecarregar nossos corações com compaixão por aqueles
ao redor do mundo que ainda não ouviram o evangelho! Devemos orar e ir a esses grupos e pessoas ainda
não alcançados com as boas novas de Jesus Cristo!

b) separados da comunidade de Israel


Deus chamou o povo de Israel e os constituiu em uma nação, à qual ele deu suas leis e bênçãos. Um
gentio podia passar a fazer parte de Israel como prosélito, mas não nascia nessa nação tão especial. Israel
poderia se referir a Deus como "o Deus de Israel" (Sl. 72:18 ). Mas isso não era verdade para nenhuma
nação gentia. A relação do povo de Israel com Deus era diferente (Ex 19.3-6; Juízes 8:23; Sl 145.1; Am
3.2)
Deus via todas as nações, porém não as conhecia, não tinha esse interesse especial por elas; elas
estavam fora da comunidade de Israel, eram estranhos. De fato, a palavra empregada por Paulo aqui é muito
interessante. Aqui se lê “(estáveis) separados”; a tradução deveria ser “tendo-se feito separados”, ou “tendo-
se tomados separados”. Noutras palavras, nunca houve o propósito de que alguém estivesse nessa situação;
é tudo consequência da Queda, consequência do pecado. O homem separou-se, passou a estar fora do
interesse peculiar de Deus.
Hoje é a Igreja Cristã que corresponde à comunidade de Israel. A coisa mais terrível acerca do não
cristão é que ele está fora daquele círculo e não pertence ao povo de Deus.
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c) estranhos às alianças da promessa


Deus o chamou e lhe disse: Eu pus Meus olhos em você, vou abençoar você, empenho-Me
pessoalmente com você. Como nos lembra o autor da Epístola aos Hebreus, Deus o fez com juramento
(6:13-18). Empenhou-Se e fez um juramento, para a segurança de Abraão e sua semente.
Os judeus criam que Deus se aproximou deles com um oferecimento particular: “Tomar-vos-ei por
meu povo e serei vosso Deus” (Êxodo 6:7).
A relação do pacto implicava a observância da Lei e dependia do cumprimento e da obediência
desta Lei dada por Deus. Êxodo 24:1-8 nos traça um quadro dramático de como o povo judeu aceitou a
aliança e suas condições: “Tudo o que falou o SENHOR faremos” (Êxodo 24:3,7).
As nações gentílicas nada sabiam sobre as promessas, ou sobre a aliança de Deus. Enquanto que o
povo peculiar de Deus, os judeus, recebia estas grandes mensagens e se regozijava nelas, os outros
absolutamente não as conheciam - eram estranhos, absolutamente estranhos, nada tinham ouvido dessas
promessas, não sabiam nada a respeito, e não estavam interessados nelas.
Essa continua sendo a verdade sobre todos os que estão “fora de Cristo”, sobre os que não estão
ligados vitalmente a Cristo. Podem ler a Bíblia, e não se comovem. Podem ver estas “preciosas e mui
grandes promessas” (2 Pedro 1:4), e ainda indagam: a quem se aplica isso?

d) sem esperança
Um ditado popular diz que a “esperança é a última que morre”, na situação em que os efésios
viveram anteriormente (e nós também), não havia sequer a noção de esperança.
Olhando de forma breve para o mundo nos tempos de Paulo constatamos que o tudo ali era tomado
pelo pessimismo - o Hinduísmo, uma das religiões mais antigas, encerrava e encerra as pessoas debaixo de
um sistema de castas e de encarnações e reencarnações sucessivas ensinando que não havia e não há
nenhuma esperança para as pessoas. O Budismo, diante do sofrimento, dificuldades e problemas presentes
na existência humana, prega a resignação e negação de todos os prazeres e diz que a única esperança para
as pessoas é a morte e a reencarnação até que a existência humana se apague, tal qual o fogo de uma vela.
Não havia esperança para as pessoas na religião grega, os filósofos em sua maioria eram pessimistas.
Apesar de todos os progressos e desenvolvimentos experimentados nos últimos séculos, ainda
vivemos num mundo sem esperanças. As questões climáticas, políticas, econômicas, sociais, etc.
vivenciadas pela humanidade são obscuras, difíceis e nos submergem num mar de medo, insegurança,
incertezas e desespero.

e) sem Deus
Embora Paulo tenha usado a palavra grega atheoi, não devemos concluir que os gentios eram ateus
(não crendo). Eles tinham muitos deuses (Atos 17.16-23; I Co 8.5) mas não conheciam o Deus verdadeiro
nem tinham relação alguma com ele (I Co 8.4-6).
Eles não conheciam a Deus e não estavam em comunhão com Deus; portanto, eles estavam sem a
ajuda, a paz e a alegria que vêm mediante o conhecimento de Deus e a fé nEle. Os cristãos também têm
problemas nesta vida, ocorrem acidentes, as coisas vão mal; quanto às circunstâncias, o cristão pode ser
idêntico a outro homem. Mas há esta grande diferença: o outro está sem Deus; o cristão tem Deus e conhece
a Deus. (Sl 3.5; 23.1-4; 27:10; Hb 13.5,6; 2 Tm 4:16-17)

II- O RETRATO DO CRISTO QUE FAZ A PAZ (vs. 13-18)

O paralelo entre duas seções de Efésios 2 é óbvio. Primeiro vem, em ambos os casos, uma descrição
da vida anterior: mortos, escravos e condenados (vs. 1-3) e alienados: sem Cristo, sem cidadania, sem
promessas, sem esperança e sem Deus (vs. 11-12). Segue-se, também em ambos os casos, os grandes
adversativos: “Mas Deus” (v. 4) e “Mas agora” (v. 13). A distinção principal é que na segunda seção Paulo
ressalta a experiência gentia.
“Mas, agora...” aponta intervenção de Deus pela graça em favor dos pecadores, no tempo e no
espaço - Deus “entrando” na história deles. De alguma forma esse contraste no texto deve apontar também
para o contraste de nossa vida antes de Cristo nela agir e a nossa vida depois.
Outro detalhe importante é a forma como Paulo trata o assunto, ele não diz que os efésios (e nós
também) fizeram alguma coisa para romper a separação e o distanciamento. Ele não diz “progrediram”, ou
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“melhoraram”, ou “agora estão vivendo uma vida melhor”. O autor, uma vez mais, está falando de algo que
é feito por Deus e não por nós ou por alguma coisa que possamos fazer que nos tornará melhores: “fostes
aproximados”.
No verso 13 temos também duas referências importantes a Cristo. Declara que a nossa proximidade
de Deus é em Cristo Jesus e pelo sangue de Cristo. Assim, as duas expressões dão testemunho às duas
etapas pelas quais os que estavam longe são aproximados. Primeiro, a conversão cristã, ou a experiência
contemporânea da união com Cristo. E segundo, o evento histórico da cruz, onde Seu sangue foi derramado
em nosso favor e aceito por Deus. (Hb 9.14). O que mais uma vez não permite que seja por alguma coisa
em nós que Deus nos aproximou de si. (Lc 18.9-14)
“Há um sentido em que ninguém está mais longe de Deus do que o homem que pensa que a sua
bondade tem algum valor, por pequeno que seja, na presença daquele fogo ardente, daquele fogo
consumidor, a santidade de Deus”. (JONES)

1- “...Ele é a nossa paz...”


Neste versículo quatorze o apóstolo nos mostra que o pecado não se detém na ação de separar os
homens, vai além; o pecado põe os homens em inimizade; e não somente em inimizade uns com os outros,
porém também com Deus. Isso é o cúmulo do pecado, o aspecto deveras horrível do pecado; é onde se vê
a extrema feiura do pecado.
O pecado não somente separa os homens de Deus e uns dos outros, produz um estado de inimizade
contra Deus e de uns contra os outros. Por isso o grande problema atual é o problema da paz. Essa é a razão
das conferências que se realizam. Essa é a grande preocupação de todo o mundo - não haveria um jeito de
banir a guerra, de reconciliar os homens, de estabelecer uma paz durável, segura e permanente? Como
poderão os homens ser reconciliados? O mundo todo parece estar num estado de luta e inimizade. Por quê?
Vemos o mundo e os seus homens, os seus grandes homens, assim chamados, visivelmente perdendo tempo
tentando o impossível.
O pecado é a causa do problema; ele põe o homem em inimizade contra Deus, e põe o homem em
inimizade contra o homem. A causa radical de toda a inimizade é o orgulho do homem; o homem
interessado em si mesmo, o homem querendo impor-se como um ser autônomo, até mesmo face a Deus, e
pronto a dar ouvidos às perguntas: “É assim que Deus disse?” Quem é Deus para dizer-lhe o que você pode
ou não pode fazer?
Por que você não se levanta sobre os seus próprios pés, por que não faz afirmação do seu ser, por
que não se firma em sua dignidade e não exige os seus direitos? Não se rebaixe, levante-se! E ele se
levantou, e por isso caiu.
É ele, Cristo Jesus, que derramou o seu sangue na cruz e que se oferece ao seu povo hoje para ser
unido com ele; é ele quem, pelo que fez no passado e que agora oferece, é a nossa paz, ou seja, é o
pacificador entre nós e Deus. Uma verdade importantíssima que não devemos esquecer - é a parte ofendida
que levanta a bandeira da paz colocando fim à inimizade.
“Somente Cristo é a nossa paz. Sem Ele não há paz. O mundo pode continuar a desenvolver-se
intelectualmente e em todos os outros aspectos, pode aumentar o seu conhecimento da ciência, da
sociologia, da psicologia e de tudo mais, pode multiplicar as suas instituições, pode instruir-nos neste e
naquele aspectos, porém isso não levará a nada, porque o problema nunca poderá ser solucionado, exceto
em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e por meio dEle”. (STOTT)
Voltamo-nos agora à questão de como Cristo o fez. O que fez quando morreu na cruz, para afastar
a inimizade entre os judeus e os gentios, entre o homem e Deus? A resposta é dada nos versículos 15 a 18:

a) A abolição da lei dos mandamentos (v. 15a)


A primeira afirmação que Paulo faz é que Cristo derrubou a parede, a hostilidade, quando aboliu
na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças.
Não seria uma contradição Paulo afirmar que Cristo aboliu a lei... se ele mesmo disse que não veio
revogar a Lei... (Mt 5.17)? uma olhada mas cuidadosa nos ajuda a entender que Paulo fala aqui de um tipo
de lei e que Jesus fala de outro. O Senhor falava da Lei moral e Paulo fala da lei cerimonial, ou seja, de
todas as ordenanças, regras e rituais que cercaram e às vezes ocultaram a Lei.
A passagem correlata em Colossenses alude à circuncisão, e também a “comida e bebida” e
regulamentos acerca de “dia de festa, ou lua nova, ou sábados” (2:11,16-21). Tais mandamentos, e
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ordenanças levantaram uma barreira séria entre os judeus e os gentios, mas Jesus deixou de lado esta parte
cerimonial. E o fez na sua carne (uma referência à sua morte física), porque na cruz cumpriu todas as
prefigurações do sistema cerimonial do Antigo Testamento.
Ao mesmo tempo segundo Stott, Cristo de forma clara também aboliu a Lei moral, como caminho
da salvação. Não conseguimos, pois, obedecê-la, por mais que tentemos. O próprio Jesus, porém, obedecia
perfeitamente à lei na sua vida, e na sua morte carregou sobre si as consequências da nossa desobediência.
Tomou sobre si “a maldição da lei” (o julgamento que paira sobre aqueles que a desobedecem) a fim de
nos livrar dela. (Cl 2.13-14)

b) A criação de uma nova humanidade (v. 15b)


Os judeus e os gentios estavam alienados uns dos outros e havia inimizade entre eles. Uma vez que
a lei separadora foi deixada de lado, nada havia para manter as duas divisões da humanidade separadas.
Pelo contrário, Cristo as trouxe juntas mediante um ato soberano de criação. Literalmente: “criou os dois
em um só homem novo, fazendo assim a paz!’
O que Paulo está mencionando, na realidade, não é um “novo homem” mas, sim, uma “nova raça
humana”, unida por Jesus Cristo na sua própria Pessoa. Noutras passagens Paulo diz que também abole
distinções sexuais e sociais, “...onde não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão,
bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo e em todos!’ (Cl 3.11; Gl 3.28)
De acordo com Barclay a palavra que usa Paulo para “novo” aqui é kainos (uma coisa é kainos,
nova, no sentido de que brinda ao mundo algo de uma nova espécie, uma nova qualidade que antes não
existia) e significa que Jesus une o judeu e o gentio e com eles produz um novo tipo de pessoa.
Segundo Lloyd Jones é por meio da Igreja que Deus faz essa nova raça. Os judeus, na qualidade de
judeus, deixaram de ser o povo especial de Deus. Agora os cristãos (judeus e gentios) é que são o povo de
Deus (I Pd 2.9,10). Na Igreja e como cristãos, não há separação por causa da nacionalidade, da cor, da
condição financeira, formação educacional ou profissional, etc.
Não é que os fatos da segregação humana sejam removidos. Os homens permanecem sendo homens
e as mulheres permanecem mulheres, os judeus permanecem judeus, e os gentios, gentios. A desigualdade
diante de Deus, porém, é abolida. Há uma nova unidade em Cristo.
Na história da Igreja, uma das causas apontadas como motivos para a perseguição imperial nos
primeiros séculos foi a igualdade evidente no convívio dos cristãos. O escravo se sentava no mesmo banco
que o seu senhor e os dois se tratavam como irmãos.
Outro exemplo, negativamente falando, pode ser visto na igreja de Corinto que estava em grande
dificuldade, e Paulo teve que escrever-lhe uma carta. Havia divisões lá: “Eu sou de Paulo. Eu sou de Apolo.
Eu sou de Cefas.” Qual é melhor pregador? Qual o mais eloquente? De qual deles você gosta? (I Co
1.11,12). Moviam ações judiciais uns contra os outros; havia certas disputas, e as levavam aos tribunais
públicos (6.1-8). De fato, em Corinto se dividiam até sobre a questão dos dons espirituais. Os que tinham
dons mais espetaculares gabavam-se disso e desprezavam os outros. Tudo isso porque não tinham
compreendido a doutrina da Igreja como o corpo de Cristo.
Nos dias de Tiago também acontecia divisões e acepção de pessoas por causa de questões
financeiras (Tg 2.1-4)

c) A reconciliação de judeus e gentios com Deus (v. 16)


Aqui a inimizade é claramente entre Deus e os homens, assim como no versículo 14 era
principalmente entre os judeus e os gentios. Não se trata de ter sido somente uma rebeldia a nossa atitude
para com ele; trata-se também de sua ira ter estado sobre nós por causa do nosso pecado (v. 3).
O mesmo ensina Paulo em Romanos 3.22,23. A cruz de Cristo destruiu a inimizade do homem com
Deus. A cruz de Cristo matou a inimizade que existia entre o homem e Deus. A cruz foi onde Deus puniu
o nosso pecado.
Há somente um modo de ser reconciliado com Deus. “Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus
e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Timóteo 2:5). Não há caminhos diferentes rumo ao reino de Deus
para o judeu e o gentio; há somente um caminho, e este é, de novo, “um corpo”.
Não há reconciliação sem a cruz. E que é que a cruz significa? A passagem paralela de Colossenses
1:20 o diz perfeitamente: “...havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz...”. É a morte, a vida entregue
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abnegadamente, o sangue derramado, a vida vertida. É como Deus faz a paz, é como Cristo faz a paz, é
como se concretiza a reconciliação.
Apesar dele usar o termo “reconciliar” - “katalasso” em outras partes (Rm 5:10; 2 Co 5:18,19 e 20),
aqui e em Cl 1.20.21 ele usa o termo junto com a preposição “apo” formando “apokatalasso” que nos faz
pensar nos seguintes significados:
 Mudança de uma relação hostil para uma relação amistosa;
 A ação completada, terminada. Significa que a inimizade é eliminada tão completamente que a
amizade toma o lugar. E a ênfase aqui está no caráter completo da ação. Não é remendar uma desarmonia.
Produz amizade e concórdia completa onde antes havia hostilidade de uma vez por todas.
 Não é meramente que os dois envolvidos num problema ou numa disputa ou numa contenda
decidam entrar em acordo. Esta palavra utilizada pelo apóstolo implica que é uma das partes que toma a
iniciativa da ação, e que é a parte superior ou mais elevada que o faz.
 A palavra tem o sentido de restabelecimento de algo que havia antes. Pois bem, a nossa palavra
“reconciliar” (do latim “reconciliare”), sugere isso: conciliar novamente, trazer de volta para onde estavam;
ajuntar novamente.
O pecado trouxe inimizade entre o homem e Deus. Deus odeia o pecado. A ira de Deus manifesta-
se contra o pecado. E antes que possa haver reconciliação, antes que Deus possa abençoar de novo, esta
inimizade terá que ser removida pelo sangue da cruz. Por que ele menciona o sangue, por que a cruz, por
que a morte? Porque essa é a explicação de todo o ensino do Velho Testamento acerca dos sacrifícios. Esse
foi o método de Deus, foi Deus que ordenou isso tudo como figura daquilo que seria feito em Cristo.
Tomavam o animal e punham as mãos sobre a sua cabeça. Que é que significava isso? Eles estavam
transferindo simbolicamente os seus pecados e os pecados do povo ao animal. Depois o animal era morto
e o seu sangue era derramado; e o sangue era apresentado como oferta; o animal era oferecido como um
sacrifício. Esse é o ensino. E é precisamente esse o ensino do Novo Testamento acerca da morte de Cristo
na cruz. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados.” Por
que não? Porque Ele imputou os pecados do mundo a Ele\ Deus tomou os meus pecados e os seus e os
colocou sobre a cabeça de Cristo, e então, na qualidade de Cordeiro de Deus, Ele O matou. Não lhes
imputando os seus pecados! Porque “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele
fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

d) evangelizou paz (v.17)


Já fomos informados que ele é a nossa paz (v. 14) e que criou uma nova humanidade, fazendo a paz
(v. 15). Mas agora ele evangelizou paz, publicando as boas novas da paz que fizera na cruz.
Qual é o ensino? Vamos resumi-lo da seguinte maneira: obviamente, a primeira grande afirmação é
que a necessidade fundamental do homem é paz com Deus. Essa é a paz que o nosso Senhor prega, a paz
com Deus. A paz anunciada por Jesus é tanto para os que estavam longe - gentios, quanto para os que
estavam perto - judeus.
Promessa feita em Isaías 57.19 e que traz no verso 20 uma figura daqueles que não estão em paz
com Deus - “mar agitado”, hoje sabemos que o mar sofre influência da lua e das forças magnéticas da terra,
além de ventos e tempestades. É a figura do homem sem Deus, inquieto como o mar revolto.
O homem estava no Éden, em paz e comunhão com Deus, não havia nenhuma inquietação no
Paraíso. Não havia infelicidade, não havia problema, não havia dificuldade, não havia ansiedade. O homem
estava num estado de inocência e de completa paz, quietude e liberdade. No entanto, o homem caiu. Deu
ouvidos a outra força, a outro poder, e ao lhe dar ouvidos, ficou sujeito a esse poder. O poder do diabo, o
poder do mal, o poder do inferno começou a atuar sobre ele, e daquele momento em diante a vida do homem
foi de inquietude e conflito. Jesus veio restabelecer a paz.
O segundo ponto é que a paz é a necessidade de todos os homens, não somente de alguns. “E, vindo,
ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto.” Os judeus precisavam da
mensagem tanto como os gentios que estavam longe, e exatamente da mesma maneira que eles. O que pode
ser aplicado na verdade que todos os homens (humanidade), independente se é um terrível pecador
enlameado no poço profundo do pecado ou se é um moralista, um intelectual aparentemente não tão sujo
quanto o anterior, todos precisam de paz.
Um detalhe importante é que “longe” e “perto” são termos relativos, porém não são distintivos
quando o que se deseja é estar “dentro” do reino. Não há vantagem se numa fila estou em 11º, se o
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atendimento será apenas para 10 pessoas, estou tão fora quanto o que está em 20º, não adianta viver no
quase, no que diz respeito ao reino. Estar um centímetro fora do reino não é nenhuma vantagem sobre o
homem que está a mil km de distância. “Paz aos que estavam longe, e, aos que estavam perto.” Todos têm
necessidade da paz.
Terceiro ponto: Cristo, e somente Cristo, oferece e é capaz de dar esta paz a todos os que veem a
necessidade dela. E nisso que o apóstolo se gloria. Cristo o fez e abriu o caminho. Nenhum homem pode
achar a Deus procurando-O. Nenhum homem pode reconciliar-se com Deus. Todavia, como vimos, Cristo
fez a paz entre o homem e Deus pelo sangue da Sua cruz. (Jo 14.27)
Foi ali que Ele aboliu a inimizade, e o fez tomando-a sobre Si. Não somente os pecados vis, torpes,
patentes, flagrantes, mas também os pecados de justiça própria, de presunção, de arrogância, de moralismo,
como se isso fosse espiritualidade. Ele tomou isso tudo sobre Si. (1 Pedro 2:24).

e) ambos temos acesso ao Pai em um Espírito (v. 18)


Paulo, agora, diz que por meio de Jesus, judeus e gentios têm acesso ao Pai em um Espírito (2.18).
“Acesso” é provavelmente a melhor tradução da palavra grega prosagoge. Nas cortes orientais, havia um
prosagoge que introduzia as pessoas à presença do rei. O pensamento pode ser o de considerar Cristo como
o prosagoge, mas a forma da expressão na cláusula inteira sugere antes que, por meio dele, há um caminho
de aproximação (3.12). Ele é a Porta, o Caminho para o Pai (Jo 10.7,9; 14.6); por intermédio dele, os
homens, embora pecadores, uma vez reconciliados, podem se aproximar “com confiança do trono da graça”
(Hb 4.16).
E ao desfrutar deste livre acesso a Deus, descobrimos que não temos qualquer dificuldade prática
com o mistério da eterna Trindade. Nosso acesso, pois, é ao Pai, por ele (o Filho que fez a paz e a pregou),
e em ou por um Espírito, o Espírito que regenera, sela e habita em seu povo, que testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus, que nos socorre em nossa fraqueza e que nos ensina a orar, e que nos
une enquanto oramos. Somos, pois, ambos, judeus e gentios, membros da nova sociedade de Deus, e agora
abordamos nosso Pai conjuntamente.

III- O RETRATO DA NOVA SOCIEDADE DE DEUS (vs.19-22)


Assim, Paulo começa o seu resumo. Explicou passo a passo o que Cristo tem feito para aproximar,
de Deus e do seu povo, aqueles que anteriormente no mundo gentio estavam longe. Cristo aboliu a lei dos
mandamentos, criou uma única nova humanidade no lugar das duas, reconciliou ambas com Deus, e pregou
a paz para aqueles que estavam perto e longe.
Assim, qual é o resultado da realização de Cristo e da sua proclamação da paz? É este: “vós” (os
gentios) já não sois aquilo que éreis, estrangeiros e peregrinos, “estrangeiros nem estranhos” (BLH),
visitantes sem direitos legais. Pelo contrário, vossa condição mudou dramaticamente. Agora “sois de casa”
de uma maneira como nunca fostes antes. Éreis refugiados; agora tendes um lar. A fim de indicar a riqueza
da sua nova posição, e de seus novos privilégios em Cristo, Paulo apela para três modelos familiares da
igreja:
Em primeiro lugar, ele fala sobre uma nação (2.19a). “...já não sois estrangeiros e peregrinos,
mas concidadãos dos santos...” Israel era a nação escolhida de Deus, mas eles rejeitaram seu redentor e
sofreram as consequências disso. O reino foi tirado deles e dado a outra nação (Mt 21.43). Essa outra nação
é a igreja (I Pe 2.9). O pecado dividiu a humanidade, mas Cristo faz dela uma nova nação. Todos os crentes
das diferentes nacionalidades formam a nação santa que é a igreja.
Em segundo lugar, Paulo fala sobre uma família (2.19b). “...sois da família de Deus.” Pela fé,
entramos para a família de Deus, e Deus tornou-se nosso Pai. Essa família está no céu e também na terra
(3.15). Os crentes vivos na terra e os crentes que dormem em Cristo no céu; não importa a nacionalidade,
somos todos irmãos, membros da mesma família.
Em terceiro lugar, Paulo fala sobre um santuário (2.20-22). No livro de Gênesis, Deus andou
com seu povo(5.22,24; 6.9). No livro de Êxodo, Deus decidiu “morar” com seu povo (25.8). Deus “habitou”
no Tabernáculo (Ex 40.34-38). A seguir, Deus “habitou” no templo (l Re 8.1-11). Hoje, por meio de seu
Espírito, Deus habita na igreja, não no templo de pedra (At 7.48-50). Ele habita no coração daqueles que
confiam em Cristo (I Co 6.19,20) e na igreja coletivamente (2.20-22).
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PAULO, O PRISIONEIRO DE CRISTO - EF 3.1-13

Ao entrar neste capítulo devemos entender que “por esta causa”, indica por si só sua estreita conexão
material com o capítulo precedente. Visto que bênçãos tão numerosas foram concedidas, respectivamente
a judeus e a gentios - reconciliação com Deus e uns com os outros, e o levantamento de um único santuário
consistindo de judeus e gentios.
É de opinião da maioria dos comentaristas que Paulo intenta orar pelos irmãos e por alguma razão
seus pensamentos o assaltam e o levam a explicar aos efésios a razão de sua prisão, voltando no verso 14
ao assunto que começou a falar no verso 1. “Os versículos 2-13 são um longo parêntese” (BARCLAY).
“[Paulo]... faz uma pausa, hesita, e não a diz, senão ao chegar ao versículo 14, onde vemos de novo a mesma
fórmula - “Por esta causa (eu)” - e depois prossegue, dizendo-lhes que está orando por eles. (JONES).
Neste parágrafo o apóstolo faz aos efésios um relato do seu ministério - sua vocação, seu ofício - e
do seu grande objetivo e propósito. Depois, havendo feito isto, ele volta ao seu tema e diz o que estava
começando a dizer no versículo primeiro.
Logicamente, esta passagem é uma divagação, mas tem tremendo valor, pois se estende sobre o
tema central do propósito da epístola: O propósito de Deus era e é unir todas as coisas em Cristo (1.9,10).
Este trecho também apresenta a missão de Paulo no mundo. Foi-lhe confiada a tarefa de levar todos os
homens a verem qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que
tudo criou (3.9).

“...sou o prisioneiro...”
Quando Paulo escrevia esta carta estava na prisão romana esperando comparecer em juízo perante
Nero. É verdade que estando na prisão Paulo desfrutava de certos privilégios: podia habitar na casa que
alugava e recebia a visita de seus amigos. Apesar de tudo era dia e noite prisioneiro; estava encadeado dia
e noite a um soldado romano que o custodiava e cujo dever era o de não permitir que Paulo escapasse.
Nesta circunstância Paulo se chama "o prisioneiro de Cristo".
Humanamente falando, não era o prisioneiro de Cristo, mas, sim, de Nero. Apelara ao Imperador e,
portanto, tinha sido levado preso para ser julgado diante dele. (At 25.11,12). Paulo não olhava para a vida
a partir de uma perspectiva puramente humana. Ele sempre via a vida pela ótica da soberania de Deus (3.1;
4.1; 6.20). Já havia ele recebido a visitação do Senhor dizendo que deveria pregar também em Roma (At
23.11).
Paulo nunca se considerou detido pelas autoridades romanas, mas sim padecendo pela causa de
Cristo. O ponto de vista faz toda a diferença. O que nos leva às perguntas: “Como nós nos enxergamos?”
“Como nos vemos diante de situações difíceis?”
Paulo não murmura por causa de sua condição presente. Nem por um segundo ele permite que entre
em sua mente ou em seu coração a indagação: é justo? Servi a Deus durante anos, viajei, tenho sido
infatigável, sofri, envelheci antes do tempo no serviço de Deus - por que me sobrevêm isto? Não há o mais
leve vestígio disso! Nem uma palavra. Nada de queixas, nada de lamentações!
Entretanto, notamos também notamos que Paulo não se resignou simplesmente, face ao problema,
com uma espécie de estoico. Ele não escreveu: “bem, você sabe, você tem que receber o mal com o bem
num mundo como este; fiz muita coisa errada e agora estou pagando o mal que fiz”.
Segundo JONES, devemos chegar à conclusão de que o apóstolo parece alegrar-se em meio às suas
provações. Há uma nota de exultação aqui, uma nota de triunfo. No fim do versículo 13 ele diz: “...vos peço
que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória”. Ele não está apenas
suportando as circunstâncias que o envolvem; está indo além, está exultando em seu sofrimento. Está
triunfante, está jubiloso. Ele diz graças a Deus por tudo o que está acontecendo com ele (Fp 1.12; 2 Tm 1.7;
3.12). Também ensinado por Pedro (I Pe 4.12-14).
Num tempo como o nosso em que se prega uma vida de vitória, sem problemas, sem lutas, em que
se deve rejeitar qualquer tipo de sofrimento, a vida de Paulo precisa nos servir de inspiração (Fp 1.29; I Ts
2.2; II Co 11.23-27). Além disso, ainda temos os ensinos e exemplo de Jesus (Jo 16.33; Mt 5.10-12; I Pe
2.21-23)
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“...por amor de vós...”


Ele não está na prisão por algo de errado que tenha feito ou praticado pessoalmente. Está ali porque
é pregador do evangelho de Cristo, por causa do seu zelo pelo nome e pela glória de Cristo. O que realmente
colocou Paulo na prisão foi que ele ia por toda parte pregando que o evangelho de Jesus Cristo era tanto
para os judeus como para os gentios.
Ele está preso por pregar que os gentios foram reconciliados com Deus e reconciliados com os
judeus para formar um só corpo em Cristo. Deus o chamou para pregar aos gentios (At 9.15; 26.13-18).
Paulo, por ser apóstolo dos gentios, foi acusado, perseguido e preso pelos judeus (At 21.30-33). Os judeus,
quando souberam que ele, Paulo, tinha levado o evangelho para os gentios, atiraram-se contra ele (At
22.21,22).

“...graça de Deus a mim confiada...”


Apesar do versículo 2 não começar como o 2.11 trazendo “lembrai-vos”, a ideia é a mesma - é um
convite à lembrança. Nossa versão começa com “se” como pudesse existir a possibilidade deles (os efésios)
não saberem, contudo, a ideia original é que eles sabem com certeza como mostra a NVI: “Certamente
vocês ouviram...”.
Vocês sabem tudo sobre isto, diz o apóstolo, mas outra vez vou fazê-los recordá-lo. A quintessência
do bom ensinar é a repetição. Todos nós pensamos e supomos que sabemos certas coisas, porém quando
somos examinados a respeito delas, muitas vezes descobrimos que não as sabemos. Não só isso; conquanto
possamos sabê-las teoricamente, de um modo ou de outro ao ver-nos em dificuldade ou com problemas,
falhamos na aplicação do conhecimento. É, pois, necessário que nos façam recordá-las. É o que o apóstolo
faz aqui.
Paulo faz uma combinação idêntica de palavras gregas, que são traduzidas por “a graça de Deus a
mim confiada” (vs 2 e 7). Está se referindo a dois privilégios que Deus, num favor não merecido, lhe
concedera.

1) A revelação divina a Paulo. (3.2,3)


Devemos notar a repetição que o autor faz da palavra “mistério” (3,4,9). É uma palavra- chave para
a nossa compreensão do pensamento de Paulo. Em português um “mistério” é algo obscuro, oculto, secreto,
enigmático, inexplicável, até mesmo incompreensível. No grego, embora continue sendo um “segredo”, já
não está cuidadosamente guardado mas, sim, revelado. Originalmente, a palavra grega se referia a uma
verdade em que alguém tinha sido iniciado. No cristianismo, não há “mistérios” reservados para uma elite
espiritual.
Qual é o segredo aberto ou verdade revelada, que “em outras gerações não foi dado a conhecer aos
filhos dos homens...” (v. 5) e que de modo sem igual, Paulo acrescenta, me foi dado conhecer? (v. 3). Ele
chama este mistério no versículo 4 (Cl 4:3) de o mistério de Cristo.
Paulo declara a natureza exata do mistério com ênfase e clareza no versículo 6. A saber, que os
gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio
do evangelho. Assim, o mistério diz respeito a Cristo e ao seu único povo, judeu e gentio.
A fim de defini-lo (o mistério) com mais exatidão, Paulo reúne três expressões compostas e
paralelas. Cada uma tem o mesmo prefixo syn, “juntamente com”, e indica aquilo que os crentes gentios
agora têm e são, em conjunto com os crentes judeus. Que expressões são estas?
Os gentios são “coerdeiros” (synklêronoma), “membros do mesmo corpo” (syssõma) e
“coparticipantes” (summetochos) da promessa. O que Paulo está declarando é que os cristãos, tanto gentios
como judeus, são agora herdeiros juntos da mesma bênção, membros comuns do mesmo corpo, e
participantes da mesma promessa. E este privilégio compartilhado é tanto em Cristo Jesus (porque é
desfrutado igualmente por todos os crentes, tanto judeus como gentios, posto que estejam em união com
Cristo) e por meio do evangelho (pois a proclamação do evangelho inclui esta unidade e assim a torna
disponível para todos os que creem).
Resumindo, o mistério de Cristo é a união completa entre judeus e gentios por meio da união de
ambos com Cristo. E essa dupla união, com Cristo e entre eles, a essência do mistério. Deus revelara esse
mistério a Paulo (3.3), aos santos apóstolos e profetas (3.5) e aos seus santos (Cl 1.26).
O Antigo Testamento já revelara que Deus tinha um propósito para os gentios. Prometera que todas
as famílias da terra seriam abençoadas através da posteridade de Abraão (Gn 12.3; 28.14); que o Messias
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receberia as nações como sua herança (Sl 2.6-8). E Israel seria o meio pelo qual Deus alcançaria todas as
nações (Is 42:6; 49:6;). Jesus também falou da inclusão dos gentios e comissionou seus discípulos a fazer
discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20).
Ao invés de várias nações abençoadas por meio de um povo, Deus, mostra Paulo, faz com que
judeus e gentios sejam uma nova humanidade, por meio de Cristo e na sua igreja em igualdade, sem
qualquer distinção. Esta união completa entre judeus, gentios e Cristo era radicalmente nova, e Deus a
revelou a Paulo.

2) A comissão divina a Paulo (3.7-13)


Se o primeiro dom da graça de Deus a ele foi o próprio mistério que lhe fora revelado (vs. 2-3), o
segundo era o ministério que lhe fora confiado, e pelo qual ele o compartilharia a outras pessoas. Recebera-
o pela graça de Deus, e o exerceria segundo a força operante do seu poder.
O apóstolo Paulo fala sobre o grande privilégio de ser despenseiro desse mistério. Ele chama a si
mesmo de “o menor de todos os santos” (3.8) ou o membro mais vil do povo santo, ou “menor do que o
menor”.
Talvez estivesse deliberadamente jogando com o significado do seu nome. Seu nome romano,
“Paulus”, significa “pequeno”, e a tradição diz que era um homem pequeno. Ou então está dizendo,
“pequeno pelo nome, pequeno na estatura, e moral e espiritualmente menor do que o mínimo de todos os
cristãos”. Profundamente consciente tanto da sua própria indignidade, pois “noutro tempo fora blasfemo,
perseguidor e insolente” contra Jesus Cristo (I Tm 1.13), como também da misericórdia de Cristo que
transbordava para com ele.
Paulo desenvolve o privilégio de pregar o evangelho em três etapas:

a) pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo (3.8).


O que são essas riquezas?
- ressurreição da morte do pecado;
- libertação da escravidão da carne, do mundo e do diabo;
- entronização vitoriosa com Cristo nas regiões celestiais;
- reconciliação com Deus;
- reconciliação uns com os outros, a derrubada do muro da inimizade;
- o ingresso na família de Deus;
- a herança gloriosa em Cristo no novo céu e na nova terra.
Essas riquezas são anexniastos, “insondáveis”, ou seja, inesgotáveis, inexploráveis, inexauríveis. O
sentido literal da palavra grega anexniastos é “cuja pista não pode ser achada”. Como a terra é vasta demais
para ser explorada; como o mar é profundo demais para ser sondado, também o é o evangelho de Cristo.

b) Manifestar o mistério a todos os homens (v. 9)


A segunda parte ou etapa do ministério privilegiado de Paulo é expressa nestes termos: manifestar
qual seja a dispensação (plano) do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas.
Neste verso a pregação do evangelho agora é definida, não como euangelizw (“anunciar boas
novas”) mas, sim, como phwtizw (“iluminar”) usado antes em 1:18. O próprio Jesus tinha caracterizado a
comissão de Paulo nestes termos, pois lhe disse que o estava enviando aos gentios (At 26.18). O diabo cega
o entendimento das pessoas (2Co 4.4). Evangelizar é levar luz onde há trevas (2Co 4.6), para que os olhos
sejam abertos para ver.
A luz original é Cristo mesmo. É com referência a ele que está escrito: “A verdadeira luz que, vindo
ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Jesus chamou a si mesmo “a luz do mundo” (Jo 8.12). Num
sentido secundário, os seguidores de Cristo são também “a luz do mundo” (Mt 5.14). São candeeiros (Ap
1.20).

c) Tornar conhecida a sabedoria de Deus para os principados e potestades (v.10)


O propósito que Paulo tem em mente ao proclamar aos gentios as boas notícias das insondáveis
riquezas de Cristo, e ao iluminar a todos os homens sobre qual é a dispensação do mistério, é que por
meio dessas duas (até certo ponto superpostas) atividades, a igreja, sendo constituída e fortalecida, exiba a
maravilhosa sabedoria de Deus até mesmo ao mundo angélico.
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Principados e potestades (archai e exousiai) não podem significar qualquer tipo de governo
terreno, porque Paulo diz que eles estão em lugares celestiais. Não devem ser os poderes demoníacos, pois,
o poder de Deus seria mais apropriado para lidar com eles do que a sabedoria de Deus. Não há dúvidas de
que estes anjos de Deus, que dominam as esferas, têm interesse no esquema da redenção do homem (1 Pe
1.12).
Multiforme (polypoikilos) ocorre somente aqui no Novo Testamento. Significa "matizado, de
diferentes cores" (usado na LXX em Gn 37.3,23,32). A igreja, como uma comunidade multirracial e
multicultural é como uma bela tapeçaria. Seus membros vêm de uma vasta gama de situações singulares.
Nenhuma outra comunidade humana se assemelha a ela. Sua diversidade e sua harmonia são sem igual.
Noutras palavras, o argumento do apóstolo é que os anjos, estes principados e potestades, foram
levados a ver, mediante a Igreja, que a sabedoria de Deus é maior do que imaginavam; que é mais variada,
mais variegada; que nela há cores e matizes dos quais nunca tinham tido ciência. Havia nela glórias ocultas
das quais eles nada sabiam, apesar de terem vivido sempre na presença de Deus. Empregando a palavra
multiforme, o apóstolo nos transmite a ideia de que a luz, o brilho da luz da sabedoria de Deus, subitamente,
por assim dizer, irrompera nestas diversas cores do espectro e a exibira em suas partes componentes.

Conclusão
Quando você compreende o que é a igreja e o que a igreja tem em Cristo, isso lhe dá grande
confiança para viver uma vida poderosa. Paulo usa três palavras-chave no versículo 12: ousadia, acesso e
confiança.
Portanto, examinando isto em termos práticos, consideramos a maneira pela qual nos aproximamos
de Deus em oração. Podemos muito bem introduzir isto com a seguinte pergunta: como você ora? Qual é o
caráter da sua vida de oração? Como se sente quando se põe de joelhos em oração a Deus? Que acontece?
Você gosta? É livre? É certa? É segura? Que espécie de oração é a que você faz? Segundo o apóstolo, a
nossa aproximação deve ser caracterizada por “ousadia”. “Acesso com confiança” é uma verdadeira oração
cristã.
Ousadia significa destemor, isenção de toda apreensão, e de toda dúvida quanto a podermos ser
rejeitados. Significa liberdade de todos os aspectos do mal que tendam a impossibilitar a oração verdadeira.
Ousadia obviamente significa ausência de inibição ou medo, em toda e qualquer forma. A ousadia é o exato
oposto de tudo quanto indica fraqueza
Acesso, pode ser traduzido por "entrada”, “ingresso”. O uso que Paulo faz do termo significa, então,
que há uma relação entre nós e Deus pela qual sabemos que somos aceitáveis a Ele e temos a segurança de
que Ele tem disposição favorável a nós. Esta é a essência do termo “acesso”. Sabemos que Deus está pronto
a olhar-nos favoravelmente e que Ele está à nossa espera para receber-nos.
Depois Paulo usa a palavra confiança. Ele mostra-se tão interessado em firmar este ponto que diz a
mesma coisa de três maneiras diferentes, por assim dizer. Alguns pedantes chamariam a isso verbosidade
ou tautologia (uso de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia; redundância); o apóstolo o faz
para ênfase. E naturalmente o faz porque sabe como somos lentos para aprender estas coisas. Conhece os
nossos insucessos na oração, pelo que continua dando ênfase a isso e continua a repeti-lo uma e outra vez.
A confiança está sempre no fim de um processo. Quando alguém tem confiança, significa que esteve
praticando alguma coisa tão diligentemente que agora está seguro quanto àquilo.
Nossa porta aberta para Deus sempre esteve em seus planos para os homens. A base de nossa ousadia
e acesso é Cristo. É nele que temos esta liberdade. Não podemos ir a Deus por nosso mérito próprio; temos
de ir "no mérito infinito de um Salvador infinito". Os requisitos indispensáveis da comunhão pessoal com
Deus são a liberdade de expressão e a liberdade de acesso.
O plano eterno de Deus não dispensa você de orar. A soberania de Deus não anula a responsabilidade
do homem. Deus está no controle, mas Paulo pede que os crentes não desanimem. Deus está no controle,
mas Paulo se põe de joelhos para orar (3.13).
04/03/2020-38

X - PAULO ORA A FAVOR DOS EFÉSIOS 3.14-21

Uma das melhores maneiras de descobrir as principais ansiedades e anseios do crente é analisar o
conteúdo de suas orações e a intensidade com que as faz. Todos nós oramos acerca do que nos preocupa
e, evidentemente, não nos importamos com assuntos que não incluímos em nossas orações. A oração
expressa um desejo.
A expressão “Por causa disto” no versículo 14, como no versículo 1, refere-se ao que o apóstolo
estivera dizendo no fim do capítulo 2. Portanto, em nossa exposição da afirmação que vamos examinar,
devemos ter o cuidado de assegurar-nos de que se ligue com o que fora dito no fim do capítulo 2.
Seu ponto essencial era mostrar a estes efésios que eles tinham sido introduzidos num estado de
completa unidade, na Igreja Cristã, com os judeus que também tinham crido no evangelho. Vós não sois
mais, garantiu-lhes ele, “separados e estranhos, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; e sois
edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Jesus Cristo mesmo a principal pedra da
esquina; no qual todo o edifício bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor; no qual também vós
juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.

“Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai...”


Para os judeus, a posição habitual de oração era de pé com os braços estendi-dos para o céu (cf. Mt
6.5; Lc 18.11,13). O fato de Paulo ajoelhar-se dá a entender a intensidade e urgência de sua petição. (Ed
9:5ss.; Mt 26:39; Lc 22:41; At 7:59, 60). As Escrituras não definem regra alguma a respeito da posição
que devemos adotar quando oramos. É possível orar ajoelhado, em pé, sentado, andando, e até mesmo
deitado, entretanto, não podemos ser desleixados com nossa postura física quando nos apresentamos àquele
que está assentado num alto e sublime trono.
A palavra perante — “me ponho de joelhos perante” — é muito expressiva e significa “frente a” ou
“face a face”. Ele dobra os joelhos para ficar face a face com Deus. No momento em que compreendermos
que a oração significa vir e ficar face a face com Deus, não poderemos fazer outra coisa senão dobrar os
joelhos.
O fato de Paulo estar preso e mesmo assim se dispor a orar pelos efésios, mostra que a cela, as
cadeias, e os soldados em sua volta não eram empecilho para sua vida de comunhão e oração. Isso nos
ensina que não deve haver nenhuma circunstância, problema, dificuldade ou qualquer outra situação capaz
de nos impedir da prática da oração. Podem inclusive fechar nossa boca, ainda assim, nossa mente e nosso
espírito estarão livres para buscar ao nosso Deus e Pai.
“Não chegamos a Deus em oração, temendo que Ele seja algum tipo de divindade distante
indiferente, fria e sem amor. Não chegamos a Deus como alguns que devem ser apaziguados como os
pagãos. Chegamos a um Pai terno, amoroso, preocupado, compassivo e receptivo, que literalmente espera
com antecipação em Seu coração o momento em que entramos em Sua presença e nos abraça
ansiosamente”. MacArthur
No verso 15 o nosso (ARA) termo “família”, precisa ser esclarecido. Alguns acreditam que a melhor
tradução aqui seria “paternidade”, assim a frase seria: “De quem toda a paternidade nos céus e na terra
recebe o nome” (KJV). Se seguirmos essa tradução entenderemos que o arquétipo de toda a paternidade, e
todas as outras paternidades derivam-se de Deus. E concluiremos que a oração torna-se uma comunhão
genuína, quando nos damos conta de que Deus é o Pai no sentido mais sublime e mais nobre, e Ele é
acessível.
Se mantivermos a tradução que possuímos, devemos entender o texto da seguinte forma: Paulo tem
em mente a reconciliação dos gentios com Deus e dos gentios com os judeus, formando uma única igreja,
o corpo de Cristo. A igreja da terra e a igreja do céu são a mesma igreja, a família de Deus. Paulo fala aqui
da igreja militante na terra e da igreja triunfante no céu como uma única igreja. E também concluiremos
que a oração torna-se uma comunhão genuína, quando nos damos conta de que somos da família de Deus,
e como Ele é o nosso Pai (v.14), também nos é acessível.
Outro ponto importante presente na ARC e na NVI: “qual toda a família”; mas, não presente em
nossa versão: “toma o nome toda família”. Aquela tradução dá força à questão da unidade da família
(Igreja), nos remetendo a 4.4-6 e a I Co 12. A última versão deixa a possibilidade de existir “outras
famílias”.
04/03/2020-39

Paulo ora que Deus dê aos leitores alguns dons segundo a riqueza da sua glória. Ele não tem dúvida
alguma, nem de que Deus tem recursos inesgotáveis à sua disposição, nem de que com eles pode atender a
sua oração.

1- O conteúdo da oração de Paulo


Paulo ora inicialmente para que sejam fortalecidos pela inclusão de Cristo neles mediante o
Espírito; a seguir, que sejam arraigados e alicerçados em amor, em terceiro lugar, que conheçam o amor
de Cristo em todas as suas dimensões, embora esteja além do conhecimento; e, finalmente, que sejam
tomados de toda a plenitude de Deus.

a) sejam fortalecidos (vs. 16-17a)


Paulo não está pedindo que haja mudança nas circunstâncias em relação a si mesmo nem em relação
aos outros. Ele ora pedindo poder. A preocupação de Paulo não é com as coisas materiais, mas com as
coisas espirituais.
“A oração de Paulo não é apenas espiritual, mas também específica. Paulo não divaga em sua
oração. Ele não usa expressões genéricas. Ele não pede alívio dos problemas, mas poder para enfrentá-los.
O poder é concedido pelo Espírito”. LOPES
A presença do Espírito Santo na vida do cristão dá testemunho de sua salvação (Rm 8:9), mas o
poder do Espírito dá a capacitação necessária para sua vida, e é esse poder que Paulo deseja para
seus leitores. "Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo" (At 1:8). Jesus realizou seu
ministério na Terra pelo poder do Espírito (Lc 4:1,14; At 10:38), e esse deveria ser o único recurso
disponível para a vida cristã nos dias de hoje.
Ao lermos o Livro de Atos, vemos a importância do Espírito Santo na vida da igreja, pois o Espírito
é mencionado 59 vezes ao longo desse livro, o que corresponde a um quarto das referências feitas a essa
pessoa da Trindade em todo o Novo Testamento. Alguém disse: "Se Deus tirasse o Espírito Santo deste
mundo, a maioria das obras dos cristãos prosseguiria... e ninguém perceberia a diferença!" Uma afirmação
triste porém verdadeira, em dias como o nosso de tantas técnicas, métodos, etc.
“O Espírito Santo, quando realmente renova o nosso homem interior, dando este fortalecimento,
este domínio, pode nos preparar para enfrentar qualquer situação de sofrimento e de conflito que esteja à
nossa frente”. SHEDD

“...assim, habite Cristo no vosso coração...”


Cada cristão é habitado pelo Espírito Santo e é templo do Espírito Santo. A habitação de Cristo,
aqui, porém, é uma questão de intensidade. Os comentaristas chamam a atenção para a palavra usada para
habite (katoikeo), que, de acordo com eles, denota a residência em contraste com o alojamento, a habitação
do dono da casa no seu próprio lar em contraste com o viajante que sai do caminho para pernoitar em algum
lugar, sem que ali se torne de fato sua habitação.
Segundo Shedd, a palavra ainda significa tomar conta de toda a casa, tendo procuração ou
autorização completa, de forma a poder fazer limpeza nas despensas se quiser, mudar a mobília como
quiser, jogar fora o que quiser. Ele é o dono da casa. Por isso, Paulo ora ao Pai que Cristo, pelo seu Espírito,
se estabeleça nos corações deles e, a partir do trono ali colocado, os controle, os fortaleça.

b) Arraigados e alicerçados em amor (v. 17b)


Paulo ora para que os crentes sejam fortalecidos para amar. Nessa nova comunidade que Deus está
formando, o amor é a virtude mais importante. Precisamos do poder do Espírito e da habitação de Cristo
para amar uns aos outros.
Paulo usa duas metáforas para expressar a profundidade do amor: uma procedente da botânica
(arraigados) e outra, da arquitetura (alicerçados). Ambas enfatizam profundidade em contraste com
superficialidade. Devemos estar tão firmes como uma árvore enraizada e tão sólidos como um edifício
alicerçado. O amor deve ser o solo em que a vida deve ser plantada; o amor deve ser o fundamento em que
a vida deve ser edificada.
O amor é a principal virtude cristã (I Co 13.1-3). O amor é a evidência do nosso discipulado (Jo
13.34,35). O amor é a condição para realizarmos a obra de Deus (Jo 21.15-17). O amor é o cumprimento
da lei (I Co 10.4). O conhecimento incha, mas o amor edifica (I Co 8.2).
04/03/2020-40

Estar enraizado no amor retrata uma árvore robusta e em crescimento que afunda raízes que lhe
permitem resistir à seca e a tempestades violentas. Uma árvore é um organismo vivo e em crescimento.
Mesmo assim, a vida cristã é um relacionamento vivo e crescente com Deus e com os outros.
Estar edificado no amor retrata um edifício sólido, com uma fundação que vai até a base. Pode
suportar uma inundação ou um terremoto, porque é construído sobre a rocha. Isso representa um amor a
Deus e aos outros que não se baseia em sentimentos ou circunstâncias flutuantes. Pelo contrário, é sólido e
constante, sustentando tudo o mais na vida.
Alguns entram na vida cristã de uma educação em que o amor era inexistente. Eles conheceram
apenas raiva e abuso. Mas, eles ouvem sobre o amor de Cristo na cruz, confiam Nele como Salvador e
Senhor e entram em um mundo novo. Mas, como nunca experimentaram o amor genuíno, não sabem amar
os outros. Onde eles começam na vida cristã? As palavras de Paulo aqui sugerem que eles devem começar
a afundar raízes no amor de Deus e devem construir uma base centrada em amar a Deus e amar os outros.
O amor deve se tornar o motivo de tudo o que eles pensam e fazem.
Frequentemente, esses novos crentes são orientados a adquirir conhecimento da Bíblia. Conhecer a
verdade das Escrituras e suas grandes doutrinas é essencial. Não há crescimento na vida cristã à parte do
conhecimento. Mas, se você adquire conhecimento sem amor, apenas alimenta o orgulho (1 Cor. 8: 1).
Paulo diz que, se temos todo o conhecimento, mas não temos amor, não somos nada (1 Cor. 13: 2).
Às vezes, novos crentes também são direcionados para servir ao Senhor. Novamente, é vital que
todo crente use os dons que Deus confiou a ele em algum tipo de ministério. Mas, se esse serviço não está
enraizado e enraizado no amor, nada nos beneficia (1 Cor. 13: 3).
Mesmo se você foi criado em um lar cristão onde era amado e foi ensinado desde a infância a pensar
nos outros antes de si mesmo, ainda precisa trabalhar para afundar raízes e estabelecer um fundamento no
amor. Pois a vida cristã individual ou em comunidade nos leva a situações em que este amor precisará
realmente ser forte o suficiente a fim de que vençamos. Talvez Deus não responda nossas orações como
queremos; ou demonstremos amor por alguém que responde nos traindo ou difamando; ou então, nos
entregamos a um serviço altruísta, mas ninguém percebe ou diz obrigado. Então nossos sentimentos se
machucam.
Assim como o teste das raízes de uma árvore é uma forte tempestade e o teste da fundação de um
prédio é um terremoto ou inundação, o teste do seu amor é quando ocorrem esses tipos de provações.
Ficamos tristes ou irritados com Deus por causa de lutas, ou orações não respondidas? Ficamos bravos com
aqueles que nos prejudicaram ou que foram insensíveis ao nosso trabalho e dedicação? Nesse caso, nós
temos mais trabalho a fazer na fundação de nossa vida cristã. Precisamos aprofundar nossas raízes no amor.

c) “... a fim de poderdes compreender, com todos os santos...” (v.18a)


O foco muda no versículo 18, do amor em geral ao amor de Cristo por nós. O verbo grego traduzido
"pode ser capaz" significa "ter força". O verbo traduzido, "compreender", significa "segurar ou apreender".
Então, Paulo está orando para que possamos ter o poder de compreender ou compreender a imensidão do
amor de Cristo por nós, que, paradoxalmente, está além da compreensão.
Não é uma oração que possamos amar mais a Cristo, embora devêssemos. Em vez disso, Paulo está
orando para que possamos entender melhor o imenso amor de Cristo por nós. Ele está orando para que nós,
que já conhecemos o grande amor de Cristo, possamos experimentá-lo em níveis cada vez mais profundos.
“Paulo assume que seus leitores, por mais cristãos que sejam, não apreciam adequadamente o amor
de Cristo. Todo filho de Deus conhece o amor de Cristo de alguma maneira. Conhecer o grande amor de
Deus em Cristo está no coração de responder ao evangelho. Jo 3:16 Rm 5: 8". CARSON
No entanto, embora todo cristão verdadeiro conheça algo do grande amor de Cristo, como mostrado
na cruz, nem todos o conhecemos na mesma medida. Alguns são bebês em Cristo, que, como todos os
bebês, são bastante egocêntricos. Assim sendo, compreender o amor de Cristo requer o poder sobrenatural
de Deus, porque não é naturalmente discernido. É nossa necessidade como crentes, não importa quanto
tempo conhecemos a Cristo, conhecer Seu amor em um nível ainda mais profundo.
Paulo ora para que possamos compreender com todos os santos esse amor incomensurável de Cristo.
Santos, é claro, é uma referência a todos os crentes, não apenas a alguns crentes tidos como superiores. A
palavra significa "santos" ou aqueles que são separados do mundo para Deus.
04/03/2020-41

Há pelo menos duas maneiras pelas quais exige que todos os santos cresçam em nossa compreensão
do grande amor de Cristo. Primeiro, crescemos em nossa própria compreensão do amor de Cristo quando
ouvimos outros crentes contando como Ele os salvou e como os sustentou através de provações difíceis.
Uma segunda razão pela qual exige que todos os santos cresçam em nossa compreensão do grande
amor de Cristo é que a obra ou expressão de Seu amor chega até nós através de outros crentes. Muitas vezes
crescemos apaixonados quando outro crente demonstra o amor de Cristo por nós durante um momento de
necessidade. Às vezes, crescemos no amor de Cristo quando precisamos lidar com dificuldades relacionais
com outro crente.
Conhecer o amor de Cristo (18b,19) é um processo sem fim, porque é incognoscível. É um paradoxo
deliberado. Podemos conhecer algo do Seu grande amor, e é um conhecimento definido, não apenas
especulação. Mas, em outro sentido, nunca podemos conhecê-lo completamente, porque é insondável. Por
toda a eternidade, nunca chegaremos ao ponto de dizer que sabemos tudo o que há para saber do grande
amor de Cristo por nós.
As medidas que Paulo dá enfatizam a imensidão do amor de Cristo. Você pode ir para a esquerda
ou direita, para frente ou para trás, ou para cima ou para baixo, na medida do possível, e ainda não explorou
tudo o que há para saber sobre o grande amor de Cristo.
Paulo ora para que possamos compreender o amor de Cristo em suas plenas dimensões: qual a
largura, o comprimento, a altura e a profundidade dele (3.18). A referência às dimensões tem o propósito
de falar da imensurabilidade desse amor. O amor de Cristo é suficientemente largo para abranger a
totalidade da humanidade (Ap 5.9,11; 7.9; Cl 3.11), suficientemente comprido para durar por toda a
eternidade (Jr 31.3; Ap 13.8; Jo 13.1), suficientemente profundo para alcançar o pecador mais degradado
(Is 53.6,7) e suficientemente alto para levá-lo ao céu (Jo 17.24).

d) sejais tomados de toda a plenitude de Deus (v.19)


Chegamos ao degrau mais alto da escada (para usar a frase de Spurgeon): “para que sejais tomados
de toda a plenitude de Deus.” (3:19). "A plenitude de Deus" provavelmente se refere à perfeição da qual o
próprio Deus é pleno. Paulo está orando para que alcancemos a perfeição espiritual, tendo tudo o que Deus
nos enche para transbordar.
A palavra para "tomados" carrega a ideia de ser dominado por alguma coisa. Se você está cheio de
raiva, a raiva dominará sua vida. Se você está cheio de amor, então o amor domina sua vida. Se você está
cheio de alegria, a alegria domina sua vida. Quando você está cheio de Deus, o próprio Deus dominará sua
vida. Retrata a transformação total da personalidade humana em virtude da presença de Deus em sua vida.
Esse é um pensamento surpreendente - ser preenchido com toda a plenitude de Deus.
Vamos pensar nisso teologicamente. Colossenses 2: 9 nos diz que em Cristo a plenitude de Deus
habita em forma corporal. E quando chegamos a Cristo em fé, ele vem viver em nós. O resultado é o que o
versículo 19 prevê: Deus em Cristo agora reflete em nós. Isso deve levar a uma transformação total.
Seguindo a ideia de Paulo, vamos supor que tenhamos uma caixa d’agua com água barrenta que
desejamos ver se tornar numa caixa d’água limpa. Como é feita a transformação? Pegue uma mangueira e
ligue-a a uma torneira de água limpa, fresca e pura. Agora coloque a mangueira caixa d’água e ligue a água.
À medida que a água limpa corre, ela libera a água barrenta. Se você deixar a mangueira permanecer na
jarra por tempo suficiente, a água barrenta acabará sendo completamente deslocada pela água limpa.
Esta é uma parábola da vida cristã. Todos nós somos como a caixa d’água barrenta quando
chegamos a Cristo. Alguns são mais sujos e barrentos do que outros, mas todos somos sujos quando
encontramos o Senhor. É o trabalho de uma vida substituir a água barrenta de nossas inclinações
pecaminosas pela água pura do caráter santo de Deus.
Se acreditarmos que em Jesus Cristo habita toda a plenitude de Deus (e o cremos), e se cremos que
Cristo habita em nossos corações pela fé (e o cremos), então podemos acreditar que em nossas vidas a
plenitude de Deus, a beleza de Deus, a graça de Deus, a misericórdia de Deus, a santidade de Deus, a
bondade de Deus, tudo o que Deus é pode nos encher e expulsar o mal - luxúria, ganância, impaciência,
incredulidade, espírito crítico, e a intolerância, a ira... À medida que o Espírito Santo nos muda, a plenitude
de Deus se reflete em nós.
04/03/2020-42

Conclusão

Ao olharmos para trás e para baixo, vendo a escadaria que subimos com Paulo, não podemos deixar
de ficar impressionados com a sua audácia. Ele ora que os seus leitores recebam a força do Espírito e a
presença dominante de Cristo, o aprofundamento das suas vidas no amor, o conhecimento do amor de Cristo
em todas as suas dimensões, e a plenitude do próprio Deus. São petições ousadas. Quem sobe por esta
escada fica um pouco ofegante, até mesmo um pouco tonto. Mas Paulo não deixa em suspense.
Não importa o que pensemos, isso não é impossível. Tudo volta ao primeiro pedido. Quando somos
fortalecidos por dentro pelo Espírito Santo, este é o resultado final. No entanto, parece tão longe do nosso
alcance. A menos que Deus intervenha, nada disso poderá se tornar realidade para nós. Como podemos
saber que Deus fará isso?
Todos temos orações que já fizemos e não foi feito como pedimos. Já oramos por enfermos que não
foram curados, por casamentos que não foram restaurados, pessoas que oramos para que se arrependem-se
e não se arrependeram. E mesmo assim, Ele continua poderoso, capaz de fazer muito mais abundantemente
além do que pedimos ou pensamos. Simplesmente não podemos conhecer o quadro geral do que Deus está
fazendo e, portanto, sempre experimentamos decepções na oração.
Lembremo-nos de que, no contexto, a oração de Paulo para que Deus faça abundantemente além do
que pedimos ou pensamos não é uma oração para milagres físicos, mas para que Cristo habite no coração
dos crentes, para que possamos compreender Seu grande amor por nós, para que possamos crescer para
completar a maturidade espiritual.
Como Deus é capaz de fazer muito mais abundantemente além de tudo o que pedimos ou pensamos,
devemos orar por aquilo que promoveria Sua glória por meio de Cristo e Sua igreja.
A capacidade para responder às orações é declarada pelo apóstolo de modo dinâmico numa
expressão composta, com sete etapas (STOTT):
(1) Ele é poderoso para fazer ou para operar, pois ele não está ocioso, nem inativo, nem morto.
(2) Ele é poderoso para fazer o que pedimos, pois escuta a oração e a responde.
(3) Ele é poderoso para fazer o que pedimos ou pensamos, pois lê os nossos pensamentos; às vezes
imaginamos coisas que não ousamos pedir e então deixamos de pedi-las.
(4) Ele é poderoso para fazer tudo quanto pedimos ou pensamos, porque sabe de tudo e tudo pode
realizar.
(5) Ele é poderoso para fazer mais do que (hyper, “além”) tudo quanto pedimos, ou pensamos, pois
suas expectativas são mais altas do que as nossas.
(6) Ele é poderoso para fazer muito mais, ou mais abundantemente (perissõs), do que tudo quanto
pedimos ou pensamos, porque a sua graça não é dada por medidas racionadas.
(7) Ele é poderoso para fazer muitíssimo mais, infinitamente mais, do que tudo quanto pedimos ou
pensamos, pois é um Deus de superabundância.
A expressão “infinitamente mais” (huperekperissou) é de cunhagem paulina. A palavra tem três
partes: huper (acima e além) + ek (fora) + perissou (abundante). A palavra significa “infinitamente mais e
além de toda medida humana”. A capacidade de Deus está "fora de cogitação". Não pode ser medido. É tão
bom que nem se pode imaginar. Este versículo está nos ensinando a “excessiva, abundante, incomensurável
e infinita capacidade de Deus. Não há limites para o que Deus pode fazer. Não podemos nem imaginar o
que Deus pode fazer.

1- Deus é capaz de fazer muito mais além do que pedimos ou pensamos porque é onipotente.

a) o poder de Deus é visto na criação.


Deus criou todo o universo do nada somente por Sua palavra! Em Romanos 1:20, Paulo escreve: "
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram
criadas...". O salmista exclamou (Sl. 33: 6, 9): “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua
boca, o exército deles...Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”.
04/03/2020-43

b) o poder de Deus é visto em seus julgamentos.


Em toda a Bíblia há exemplos de Deus liberando uma pequena quantidade de Seu poder para julgar
pecadores rebeldes. Ele trouxe a inundação mundial nos dias de Noé. Ele confundiu as línguas dos homens
orgulhosos na torre de Babel. Ele destruiu Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre. Ele desencadeou as dez
pragas no Egito e depois destruiu o exército egípcio no mar. Em inúmeras ocasiões, Deus destruiu milhares
de pessoas em pouco tempo, através de pragas, guerras ou desastres naturais (Nm. 16: 25-35 , 46-49; 25:
9; Juízes 7:22 ; 2 Reis 19:35 ; 2 Crônicas 20: 22-23 ; Sl 18: 12-15 ).

c) o poder de Deus é visto nos pecadores que se convertem.


Quando o jovem rico se afastou da salvação, Jesus disse aos discípulos que era mais fácil um camelo
passar pelo buraco de uma agulha do que salvar um homem rico. Quando eles exclamaram: "Então quem
pode ser salvo?" Jesus respondeu ( Mt 19:26 ): "Para as pessoas isso é impossível, mas para Deus todas as
coisas são possíveis." Precisamos lembrar que a conversão de uma alma não é uma demonstração da força
de vontade humana, mas uma demonstração do poderoso poder de Deus em elevar os mortos
espiritualmente a uma nova vida.

d) o poder de Deus é visto em sua obra quando somos incapazes de fazer qualquer coisa.
O ponto principal da oração é pedir a Deus que faça o que não podemos fazer com nossa própria
força ou capacidade. Se pensarmos (erroneamente) que podemos fazer isso sozinhos, não precisamos orar.
Deus frequentemente coloca Seu povo em situações impossíveis para mostrar Seu poder e glória. Gên.
18:14; Hb 11:19; 2 Reis 6:16; Atos 12.5
E assim, embora Deus muitas vezes mostre Seu poderoso poder trabalhando quando somos
incapazes de fazer qualquer coisa em nossas próprias forças, às vezes por razões que geralmente não
entendemos, Ele escolhe não demonstrar Seu poder de tais maneiras. Nesses momentos, Seu poder é
demonstrado através do paciente, a alegre alegria de Seu povo no meio de seu sofrimento (Col. 1: 11-12 ;
2 Cor. 12: 7-10 ). Mas mesmo quando Deus escolhe não nos libertar, não é porque Ele está com falta de
poder. Ele é capaz de fazer muito além do que pedimos ou pensamos porque é onipotente.

2- Deus está disposto a fazer muito além do que pedimos ou pensamos, porque ele é bom.
Satanás tentou Eva, fazendo-a duvidar que Deus e Seus mandamentos são bons. Quando estamos
enfrentando grandes e difíceis provações, devemos estar atentos à mesma tentação. É fácil começar a
duvidar que Deus realmente se importa conosco. Assim, mesmo nas piores provações, devemos lembrar
que Deus em Sua bondade está disposto a fazer muito além do que pedimos ou até pensamos. Rm 8.31-32;
1 Pd 5.8-10

3- Devemos pedir o que promova a glória de Deus por meio de Cristo e Sua igreja (3:21).
A glória de Deus é o objetivo da redenção, como Paulo deixou claro (Efésios 1: 6, 12, 14, 18; 2: 7;
3:10, 16). Quando Deus salva as pessoas que antes estavam mortas em seus pecados (2: 1-3), as assenta
com Cristo nos lugares celestiais (2: 6) e as constrói em Seu santo templo (2:21), Ele é glorificado.
A ele seja a glória, exclama Paulo, a este Deus com poder para ressuscitar, ao Único que pode fazer
com que o sonho se torne realidade. O poder vem da parte dele; a glória deve ser dada a ele. A ele seja a
glória, na igreja e em Cristo Jesus, no corpo e na cabeça, na comunidade da paz e no Pacificador, por todas
as gerações (na História), para todo o sempre (na eternidade), Amém.

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