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O capítulo 18 de Mateus é muito instrutivo e bem prático. Já aprendemos que para entrar no reino devemos
nos espelhar nas crianças, a partir das crianças aprendemos também que não devemos ser motivo de tropeço para
nenhum cristão, pois, cada cristão tem sua importância diante de Deus. Contudo, mesmo com sua importância o
cristão não está livre e nem isento da disciplina, sendo que a restauração é o objetivo maior.
O perdão é uma grande virtude, é a chave para a unidade da igreja, para relacionamentos significativos. É
o que constantemente derruba as barreiras que tentam através do pecado serem construídas para nos separar umas
das outras, nos isolar, nos tornar amargos, zangados e vingativos. Ef 4:32; Cl 3.13
Nosso Senhor acaba de concluir uma seção sobre disciplinar os pecadores. E ele segue com uma seção
sobre perdoá-los. Primeiro de tudo, no versículo 21, a investigação sobre perdão. Depois de toda a discussão sobre
disciplina e como devemos confrontar o pecador, repreendê-lo e restaurá-lo, Pedro fez uma pergunta.
“Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?”
Pedro, pois, compreende que deve perdoar o irmão que pecou contra ele, isto é, que deve tomar a iniciativa
de procurar uma completa reconciliação; mas, quantas vezes deve revelar essa atitude compassiva, essa disposição
de doce racionalidade? Deve perdoar "até sete vezes”?
Por causa de textos como Amós 1.3,6 e Jó 33.29 os judeus concluíram, então, que uma pessoa poderia ser
perdoada até três vezes. O rabino José Ben Hanina dizia: "Aquele que roga a seu vizinho que o perdoe não deve
fazê-lo mais de três vezes." O rabino José Ben Jehuda dizia: "Se alguém cometer uma ofensa uma vez, perdoem-
no, se cometer uma ofensa pela segunda vez, perdoem-no, se cometer uma ofensa pela terceira vez, perdoem-no,
se a cometer pela quarta vez, não o perdoem." (BARCLAY)
Fica subentendido que Pedro está se mostrando generoso, magnânimo. Ele está excedendo e muito o que
os rabinos daquela época ensinavam. Por sua resposta percebemos que os anos de convivência com Jesus tiveram
algum impacto sobre ele. Sem dúvida Pedro captou o espírito misericordioso, generoso, gracioso, gentil e
perdoador de Jesus. E é por isso que ele sabia que Jesus iria muito além, pelo menos duas vezes e uma vez, da
tradição de seu próprio povo. Então ele viu que Jesus certamente amaria e perdoaria de uma maneira além do tipo
restrito de limites do judaísmo.
“Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete...”
Pedro pensava que estava indo muito longe porque toma as três vezes rabínicas, multiplica-as por dois,
adiciona uma e sugere, muito satisfeito consigo mesmo, que bastará perdoar sete vezes. Jesus apenas pega o
número de Pedro e o multiplica por dez e por sete novamente. Ele apenas brinca com o número que Pedro sugeriu
e realmente está dizendo que não há limite para isso.
Ele faz isso para mostrar que o espírito do genuíno perdão não conhece fronteiras. É um estado de coração,
não matéria de cálculo. Qualquer leitor sente imediatamente que quando Jesus disse: “até setenta vezes sete”, ele
não quis dizer “exatamente quatrocentos e noventa vezes, mas não quatrocentos e noventa e uma vezes”.
Obviamente, o que ele quis dizer foi: “Perdoe sem jamais cessar. Seja magnânimo para com seu irmão... sempre.”
(Lc 17.3,4)
Oswald Sanders disse: “Jesus lida conosco como lidamos com os outros. Ele nos mede pelo critério que
usamos nos outros. A oração não é ‘Perdoa-nos para que perdoemos aos outros’, mas ‘perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores’. O perdoar, então, é básico para ser perdoado”.
“Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos...”
Os que vivem no reino servem a um grande rei que, invariavelmente, perdoa muito mais do que eles
jamais perdoarão uns aos outros. Portanto, não perdoar exclui o indivíduo do reino, cujo padrão é perdoar.
Em um grande império colonial, a designação “servos” (douloi, lit., “escravos”) pode incluir servos civis
de alta categoria, pois o valor da dívida é astronômico (v. 24), o que não seria comum para um escravo de “casa”.
Aqui os servos chamados a prestar contas certamente são os governadores provinciais que serviam ao rei
governando certas áreas do seu reino. Principalmente, isso se resumia à cobrança de impostos, que seriam
entregues ao rei para o apoio de todo o reino e para o tesouro real. Todavia, Jesus pode estar apenas usando de
exagero para tornar claro o quanto os herdeiros do reino foram realmente perdoados.
Deus criou o homem e o colocou na terra, Ele deu ao homem domínio sobre a terra. Ele fez do homem
um mordomo de tudo o que possui. Ao homem tudo foi confiado como tesouro dado por Deus. Sua própria vida
e respiração são um presente de Deus. Riquezas, talento, capacidade, potencial, etc., tudo vem de Deus para o
homem.
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E é por isso que no versículo 23 diz que o rei resolveu ajustar contas. Devemos atentar que o ajuste de
contas aqui não é um ajuste final, definitivo. Parece mais uma contabilidade anual, algum período em que o rei
queira fazer um inventário, talvez a cada ano ou a cada dois anos, ou a cada semestre, esses governadores
provinciais tiveram que trazer para ele todos os impostos que haviam coletado. Eles tiveram que dar ao rei e seu
reino no tesouro real a porcentagem adequada e manter para si mesmos em sua própria operação o que era justo
para eles.
Desta forma, podemos entender que Deus chama os homens a prestar contas de suas vidas.
Periodicamente, porém, através do fluxo da vida, como os homens possuem em suas mãos a mordomia das coisas
que Deus possui, eles são chamados a prestar contas de suas vidas. E haverá muitos relatos desse tipo antes que
o veredito final do julgamento seja proferido no grande trono branco.
a eternidade no inferno não paga toda a dívida que os homens têm com Deus, mas, eles vão passar a eternidade
lá pagando o máximo que puderem. E quando as pessoas são enviadas para o inferno, é justo, porque Deus é um
Deus justo que diz que o pecado é uma dívida impagável. A falência total de todo filho de Adão torna impossível
para ele pagar a dívida que ele deve a Deus.
pai o que lhe devia, o que lhe era devido. O pai, entretanto, teve compaixão dele, correu ao seu encontro sequer
ouviu a proposta do filho - o abraça, o beija, lhe dá vestes novas, anel, sandálias e uma festa de boas-vindas.
Talvez não pensemos muito nisso, mas, a maior humilhação quem sofreu foi o pai, que foi morto no coração de
seu filho quando de sua saída, e ainda o recebe com a dignidade de filho em seu retorno.
“Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários...”
O mesmo servo que experimentara tão portentosa misericórdia, ao sair da presença do rei encontra um
conservo que lhe devia cem denários. Em comparação com a grande dívida mencionada anteriormente, esta era
uma mera bagatela.
E preciso notar que ele começou essa crueldade agarrando pela garganta, etc., antes mesmo de falar com
seu conservo. Então lhe disse: Pague-me tudo o que você me deve
Quando esse homem esqueceu o que havia sido perdoado? Quando ele esqueceu a compaixão de seu
Senhor? “O mesmo servo” - e enfatiza “o mesmo servo que acabara de ser” - "perdoado". O mesmo perdoado,
“saiu e encontrou” - em outras palavras, a ideia é que ele estava procurando alguém. Não foi um incidente que
ele não esperava. Ele estava lá fora procurando por esse sujeito. E quem foi? Observe: “um de seus companheiros
de comunhão”, “companheiro”.
E assim o Senhor leva a parábola para a família daqueles que são companheiros em Cristo, que estão na
comunhão. É usado de maneira consistente no restante da parábola nas quatro vezes em que aparece. Então, ele
encontra outro servo, não apenas outro servo em algum lugar do mundo, mas alguém que serve o mesmo rei,
aquele que é servo. E isso pode ser visto como um termo para identificar os crentes nessa parábola.
Pode ter sido que ele era um governador da província e esse cara era um de seus cobradores de impostos
locais, mas ambos serviram ao mesmo rei. E o que acontece é realmente absurdo. Está além da crença. Ele vai,
encontra o sujeito, coloca as mãos nele, pega-o pela garganta, literalmente o grego diz "ele foi sufocando-o" e
dizendo: "Pague-me o que você me deve".
Há quem diga que este homem não é um cristão verdadeiro, entretanto, como pode ele ter sido perdoado,
não sendo um cristão verdadeiro? Se ele não era cristão de verdade a parábola não tem nenhum sentido,
significado. Não esperamos que ele perdoe se não for perdoado. Não esperamos que ele aja como Deus, se ele
não tiver Deus em seu coração. Não esperamos que ele faça o que Deus fez se não souber que Deus fez isso ou
se Deus não fez isso.
Se o perdão dele não era genuíno, o resto da parábola não significa nada. Não é uma parábola sobre
salvação genuína. É uma parábola sobre perdão e validade do perdão, e um crente perdoando outro. E o que torna
a parábola tão poderosa, tão dramática, é que o sujeito foi realmente perdoado. Ele é realmente salvo. E ele coloca
as mãos no seu companheiro e começa a sufocá-lo.
“Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me
suplicaste”
O original é muito enfático. Põe as palavras, “aquela dívida toda”, bem no início do que vem depois de
“servo perverso”. Isso reproduz a ênfase melhor do que fazem as traduções que desconsideram a ordem das
palavras. E assim se destaca a imensidade da dívida, e também o extraordinário caráter da generosidade que se
revelara, bem como a vileza da recusa do primeiro servo de permitir que esse nobre espírito governasse suas
ações.
O dever desse homem era não só viver cheio de perene gratidão, mas também deixar que a misericórdia
de seu senhor, da qual ele, o servo, fora o beneficiário, fosse e continuasse sendo um padrão ou exemplo de seu
próprio sentimento e conduta para com seu conservo.
O extraordinário caráter da descrição é também realçado pelo uso contrastado dos pronomes pessoais
pronunciados; literalmente: perdoei a você quando você suplicou a mim. Não devia você também ter tido
misericórdia de seu conservo, assim como eu de você tive misericórdia?” No original, como nas traduções, a
pergunta é de tal modo construída que a resposta que se espera é “Sim”.
Ao ouvir o que havia ocorrido, o rei, cheio de justa indignação, revoga sua clemência anterior. O castigo
ordenado no versículo 25 é agora executado. Além disso, o servo inclemente é entregue aos “verdugos'', termo
que ocorre só aqui em todo o Novo Testamento. Eles eram oficiais designados pelos tribunais para torturarem os
que haviam cometido crimes atrozes. (Apocalipse 9.5; 18.7). As palavras, “até que pagasse toda a dívida”,
definitivamente implicam: “O que jamais poderá se concretizar.”
Essa é a coisa mais libertadora que existe. É totalmente libertador. Alguém te deve algo. Eles fizeram algo
para machucá-lo. Eles fizeram algo para irritar você. Eles te ofenderam, disseram algo sobre você que não era
verdade, disseram algo sobre sua esposa que não era verdade, ou seu marido, ou seus filhos, ou o que for, e
fizeram algo para machucá-lo e ofendê-lo . E eles talvez tenham feito algo para defraudá-lo economicamente, ou
em termos de propriedade, ou qualquer outra coisa, e você deixará a coisa queimar em você ou você receberá o
que é devido. Não. Apenas tenha compaixão. Eles são fracos. (Gl 6.1)
Conclusão
Duas coisas se destacam nesta parábola. Primeiro, devemos perdoar - razão positiva - porque fomos - O
quê? - muito perdoados. Razão negativa, devemos perdoar, porque se não o fizermos, seremos castigados.
Essa é a parábola. Você deve ver o quanto foi perdoado. Podemos permanecer orando pela unidade do
Espírito e pelo vínculo de paz, mas experimentaremos isso quando aprendermos a perdoar, não é?
Três estágios no perdão. Etapa um, sofrimento. O sofrimento cria a condição que traz a necessidade de
perdão. Alguém faz algo para machucá-lo, você sofre, fica ofendido, machucado. Segundo, cirurgia. Aqui está a
resposta interna em que o perdão deles realiza uma cirurgia espiritual em sua memória, exatamente como Deus
fez, que não se lembra mais dos nossos pecados. Claro que você sofreu, e agora você fará uma cirurgia e cortará
da sua mente todas essas coisas. E você faz isso pelo poder de Deus e pela meditação sobre Seu perdão. Terceiro,
começando de novo. O perdão é completo quando pessoas separadas e distantes são totalmente reconciliadas.
Agora, quando você perdoa, isso não significa que você esqueça. Nossas mentes ficam muito tempo, não
é? Isso significa que você encerra o ciclo de dor e restaura o relacionamento. É disso que nosso Senhor está atrás.
Somos filhos amados. Entramos como crianças, temos que ser tratados como crianças, protegidos como crianças,
disciplinados como crianças, e precisamos perdoar um ao outro, porque somos apenas humanos. E se somos uma
sociedade de perdoar pessoas, seremos tão diferentes do mundo, não é?
"Aquele que não pode perdoar os outros quebra a ponte sobre a qual ele próprio deve passar". Lorde
Herbert