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1

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL


SÍNODO CENTRAL DE PERNAMBCO
PRESBITÉRIO LITORA SUL DE PRENAMBUCO

EXEGESE DE ATOS 9:31


JEFFERSON DE ANDRADE AZEVEDO

CABO
2017
2

PARECER DO PRESBITÉRIO LITORAL SUL DE PERNAMBUCO

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3

ABREVIAÇÕES

ACF – Almeida Corrida Fiel.

ARA – Almeida Revista e Atualizada.

ARC – Almeida Revista e Corrigida.

ASV – American Standard Version.

BJ – Bíblia de Jerusalém.

NAS – New American Standard.

NA27 – Texto grego editado por uma comissão composta 5 eruditos:

Majoritário – Edição do texto grego que aperfeiçoou o Textus Receptus. A semelhança de


seu predecessor, também privilegia os manuscritos bizantinos.

R60 – Bíblia Reina Valera.

Receptus – Literalmente “Recebido”. Texto primeiramente editado pelo humanista Erasmo de


Hoterdã. Posteriormente foi reeditado pelos irmãos Elsevir, e pelo erudito Robert Stéfanus.

UBS – Sociedade Bíblica Unida.1

Westcott e Hort – Eruditos ingleses que viveram no século XIX. Em parceria,


desenvolveram uma metodologia que aborda o texto bíblico numa perspectiva histórico-
crítica. Em sua metodologia, fatores externos tais como: historicidade e antiguidade (dos
manuscritos) são levados em altíssima consideração.

1
A presente exegese toma por base a 4ª edição revisada do texto editado e publicado pela UBS, e, que é
reproduzido no NA27.
4

SUMÁRIO

1. Texto grego/ português ............................................................................................... 5

2. Tradução literal de At 9:31 ........................................................................................ 6

3. Introdução ao livro de Atos ........................................................................................ 7

4. Análise morfológica/tradução .................................................................................. 13

5. Análise sintática ......................................................................................................... 16

6. Delimitação da perícope ........................................................................................... 17

7. Análise de versões ...................................................................................................... 18

8. Texto grego: UBS/NA27 e Receptus/Majoritário ................................................... 20

9. Análise léxica ............................................................................................................. 21

10. Análise manuscritológica ......................................................................................... 28

11. Tradução final de Atos 9:31 .................................................................................... 31

12. Paráfrase de At 9:31 ................................................................................................ 32

13. Análise teológica de At 9:31 .................................................................................... 33

14. Esboço homilético de At 9:31 .................................................................................. 36

15. Referências bibliográficas ....................................................................................... 37


5

EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO- ATOS 9:31

TEXTO GREGO/ PORTUGUÊS

Texto Grego ~H me.n ou=n evkklhsi,a kaqV o[lhj th/j VIoudai,aj kai. Galilai,aj
UBS/NA272 kai. Samarei,aj ei=cen eivrh,nhn oivkodomoume,nh kai. poreuome,nh
tw/| fo,bw| tou/ kuri,ou kai. th/| paraklh,sei tou/ a`gi,ou pneu,matoj
evplhqu,netoÅ
Texto Português ARA A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galileia e
Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e,
no conforto do Espírito Santo, crescia em número.
Texto Ai` me.n ou=n evkklhsi,ai kaqV o[lhj th/j VIoudai,aj kai. Galilai,aj
Receptus/Majoritário3 kai. Samarei,aj ei=con eivrh,nhn oivkodomou,menai( kai.
poreuo,menai tw/| fo,bw| tou/ kuri,ou kai. th/| paraklh,sei tou/
a`gi,ou pneu,matoj evplhqu,nontoÅ
Texto Português ACF Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galileia e Samaria
tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando
no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.

2
Esse texto toma como pressuposto a metodologia desenvolvida por Westcott e Hort, eminentes eruditos do
século XIX na área da crítica textual do NT. Nele predomina o emprego dos manuscritos mais antigos.
3
Esse texto respalda-se no testemunho dos manuscritos bizantinos. Ou seja, nos manuscritos que circularam em
grande medida a partir do VII d.C.
6

TRADUÇÃO LITERAL DE AT 9:314

Assim, a Igreja por toda a Judeia e Galileia e Samaria tinha paz, sendo edificada e
andando no temor do Senhor, e, na consolação do Santo Espírito, era aumentada.

4
A presente tradução foi empreendida por meio de três fontes: o recurso eletrônico Biblework7, Dicionários da
língua grega, e o Novo Testamento Interlinear do Dr. Wilson Scholz.
7

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE ATOS

TÍTULO DO LIVRO:
O título “Atos dos Apóstolos” foi utilizado pela primeira vez em um documento do II
século intitulado “Prólogo Antimarcionita” e em Santo Irineu.5 Escritores e documentos do II
e III séculos tais como Tertuliano e o Cânon Muratoriano, o intitulavam de: “O Memorando
de Lucas” e “Os Atos de Todos os Apóstolos”.6 Manuscritos do IV século, tais como: o
Códice Sinaítico (‫ )ﬡ‬e o Códice do Vaticano (B) trazem esse título.7

AUTOR:
Tanto o evangelho de Lucas quanto o livro de Atos são anônimos, no estrito sentido da
palavra.8 No entanto, tanto as evidências internas do livro, quanto o testemunho da Tradição
da Igreja apontam para Lucas (o médico) como o autor tanto do evangelho que leva o seu
nome, quanto do livro de Atos.9 Gundry assentindo com essa informação, chega a dizer que
“de acordo com a tradição da Igreja primitiva, Lucas foi o autor do livro de Atos. Assim
sendo, esse livro é a sequência do evangelho de Lucas”.10 Em relação às evidências internas, o
uso do plural “nós” em At 16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16 parece apontar que Lucas esteve
presente em alguns dos acontecimentos narrados nas passagens em apreço.11 Embora Papias
nada tenha dito com relação a autoria lucana do evangelho e de Atos, em relação ao
argumento com base na Tradição, é possível citar como apoio: o Cânon Muratotiano, Irineu, o
Prólogo Antimarcionita, Clemente de Alexandria, Tertuliano e Eusébio.12 Objeções quanto à
autoria lucana tanto do evangelho quanto do livro de Atos só surgiram com o surgimento do
criticismo bíblico no final do século XVIII.13

5
CARSON, D.A.; MOO, Douglas Jr.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
1997, p.203.
6
Ibidem, p.203.
7
HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983, p.125. Na
mesma página, Hale diz que Lucas provavelmente escreveu o texto sem He conferir um título, e que o mesmo foi
posto posteriormente.
8
CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p.208.
9
BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo testamento? 3ª ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2010, p.105.
10
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1998, p237.
11
BRUCE, 2010, p.116.; GUNDRY, 1998, p.237.; CARSON, MOO, MORRIS, 1997, p.209.
12
CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p.209-10.
13
Ibidem, p.210.
8

DATA:
Algumas datas têm sido sugeridas: 70 d.C.,14 70-85 d.C.,15 80-95 d.C., 115-130 d.C.16
Entretanto, nenhuma dessas datas fazem jus a natureza e fluxo dos eventos descritos no livro.
Embora não haja consenso entre os eruditos, boa parte deles apontam para uma data entre 61-
64 d.C.17

DESTINATÁRIO/PROPÓSITO:
A luz de Lc 1:3 e At 1:1 é possível identificar Teófilo, a quem Lucas se refere pelo
título de “excelentíssimo” como o destinatário imediato. Nada se sabe ao certo sobre a pessoa
de Teófilo. A luz de At 23:26, 24:2 e 26:25, textos nos quais Feliz e Festo também são
chamados pelo título honroso de “excelentíssimo” que Teófilo muito provavelmente exercia
uma alta patente no Império romano. A luz de Lc 1:3-4 e At 1:1 é possível afirmar que em
relação a Teófilo, Lucas desejava informá-lo acerca da vida e obra do Senhor Jesus Cristo.
Quanto a essas informações, Lucas as qualifica (em relação a Teófilo) como as verdades em
que Teófilo foi instruído18 (Lc 1:4). Tomando por base esse conhecimento prévio de Teófilo,
Gerhard Höster afirma em relação ao evangelho de Lucas, (fato que pode ser aplicado
também a Atos): “É possível também que ele quisesse se engajar na propagação desse livro
entre os grupos que conheciam a fé cristã. Sendo assim, o livro não seria endereçado somente
a um homem, mas a esse grupo de leitores”.19
Entretanto, é possível que Lucas não tivesse em mente que apenas Teófilo fosse
beneficiado com a escrita de seus livros.20 Certamente ele tinha um público maior. Quanto ao
propósito, Gundry diz: “O propósito do evangelho de Lucas foi o de narrar a vida de Jesus,
com ênfase sobre a sua certeza histórica. Já o propósito central do livro de Atos foi o de traçar
o triunfal progresso do Evangelho, a partir de Jerusalém, onde teve início, até Roma, a capital
do Império. Assim sendo, Atos é uma história seletiva e não compreensiva da Igreja

14
Hale sugere uma data entre 66-70 d.C. Ver in: HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983, p.130.
15
CHAMPLIN, Russell, Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. São Paulo:
Hagnus, 2002, p.5.
16
CARSON, D.A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo testamento. São Paulo: Vida Nova,
1997, p.215-216.
17
Ibidem, p.215; GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1998,
p.240; Bíblia de Genebra. São Paulo: Cultura Cristã; Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009, p.1417.
HÖSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Edições Evangélicas Esperança, 2008,
p.75.
18
CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p.221.
19
HÖSTER, 2008, p.49.
20
CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p.220.
9

primitiva”.21 Höster ainda afirma: “O objetivo principal de Atos é mostrar como a mensagem
de Jesus Cristo se tornou a boa notícia para todos os povos”.22

GÊNERO:
Nas palavras do professor Stéfano Alves,23 “os livros de Lucas/Atos são uma
epopéia”.24 Em favor desta compreensão, é possível recordar que quanto à expressão πραξεις,
no mundo antigo ela remetia a um gênero/subgênero caracterizado pela descrição de grandes
feitos de um povo ou de cidades.25 Alguns estudiosos situam Atos na categoria de
“História”.26 Como peça historiográfica, Atos combina “apanhados resumidos com extensas
descrições e inserções biográficas na forma de discurso”.27 Em suma, o livro de Atos pode ser
descrito como um livro de narrativas. Em relação à técnica literária empregada por Lucas e
sua semelhança com os escritos gregos clássicos (fato evidenciado pelos prólogos de
Lucas/Atos), Gundry apresenta um trecho escrito por Tucídides comprovando tal
semelhança.28

LOCAL DA ESCRITA:
Vários lugares poderiam ser sugeridos: Roma, Ásia Menor, Macedônia, Antioquia,29
Grécia.30 Nenhum deles, porém conclusivo. Höster compartilha do mesmo ponto de vista ao
dizer que não há “dados concretos a disposição”.31

FONTES:

21
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1998, p.240.
22
HÖSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Edições Evangélicas Esperança,
2008, p.71.
23
O Rev. Stéfano Alves é docente do Seminário Presbiteriano do Norte. Nessa instituição, ele leciona disciplinas
na área de grego, exegese do Novo Testamento, e língua portuguesa. Além de possuir um Mestrado em literatura
Greco-latina, está concluindo seu doutorado na mesma área.
24
Afirmação feita tanto e sala de aula quanto no sermão pregado por ocasião da formatura da turma de
convalidação.
25
CARSON, D.A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Introdução ao Novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997,
p.203.
26
Ibidem, p.219. Bruce exalta Lucas como historiador a ponto de colocá-lo acima de Eusébio n tocante ao ofício,
e conclui: “Depois de Lucas não surge nenhum a quem se possa realmente outorgar o título de historiador da
igreja cristã, nem mesmo Eusébio”. Ver In: BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo testamento? 3ª ed. São
Paulo: Vida Nova, 2010, p.106.
27
VIELHAUER, Philipp. História da Literatura Cristã Primitiva. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:
Editora Academia Cristã Ltda, 2012, p.429.
28
GUNDRY, 2011, p.373.
29
Champlim diz que alguns eruditos sugerem a cidade de Antioquia. In: CHAMPLIN, Russell, Norman. O Novo
Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. 1ª Ed. São Paulo: Hagnus, 2002, p.6.
30
VIELHAUER, 2012, p.436. Na mesma página Vielhauer afirma que a pergunta acerca do lugar da redação “é
insolúvel”.
31
HÖSTER, 2008, p.69.
10

O evangelho de Lucas e Atos formam por assim dizer dois volumes de uma única obra,
sendo o evangelho o primeiro, e o livro de Atos o segundo.32 Nesse sentido, ao dividir o livro
em: At 1-12 e 13-28 faz-se necessário pressupor que Lucas tenha se valido de multiformes
fontes de informação. No tocante ao seu evangelho, de acordo com Lc 1:1-2 muitos já haviam
empreendido uma narração dos fatos envolvendo Jesus e os primórdios do movimento que se
formou em torno dele. Interessante para o presente propósito é observar o uso que Lucas faz
das expressões “testemunhas” e “ministros da Palavra”, uma alusão aos apóstolos e alguns
outros (Maria, os irmãos de Jesus, Matias etc) que conviveram com o Senhor.33 Se for
possível determinar que Lucas é posterior a Marcos, então, é possível aventar a hipótese de
que ele tenha se valido desse documento. Em relação ao livro de Atos, é possível afirmar que
ele tenha se valido de suas memórias (já em que vários trechos ele usa o plural “nós” se
incluindo os fatos), de Paulo, dos irmãos de Antioquia da Síria, bem como de Silas, Timóteo,
Filipe.34 Há ainda quem mencione fontes orais como possibilidade.35

TEXTO:
O evangelho de Lucas, o livro de Atos e a epístola aos Hebreus possuem o grego mais
culto do Novo testamento.36 No caso de Lucas/Atos é possível identificar nas entrelinhas a
marca da cultura semita,37 bem como da Septuaginta.38 Em termos manuscritológicos, Atos
tem sido alvo de vários debates. A razão é que o texto grego desse livro tem sido
documentado de duas maneiras. A primeira é representada pelos Unciais/Maiúsculos Sinaítico
(‫ )ﬡ‬e Vaticano (B) que tem servido de base para as edições modernas do texto grego e das
traduções que adotam esse texto.39 A segunda é representada pelo Uncial/Maiúsculo Beza
(D)40 nas versões latina e siríaca, e também é citado pelos Pais da Igreja Irineu e

32
TENNEY, Merril C. O Novo testamento Sua Origem e Análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008, p.243-
244.
33
HENDRIKSEN, Wiliam. Comentário do Novo Testamento: Lucas. São Paulo: Cultura Cristã, 2203, P.85
34
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p.238.
35
HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983, p.130.
Bruce menciona tanto fontes consultadas quanto os dados da própria memória de Lucas. In: BRUCE, F.F.
Merece Confiança o Novo testamento? 3ª ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2010, p.106.
36
GUNDRY, 1998, p.238. Em conversa particular com este que escreve, o eminente erudito Humberto Gomes
de Freitas afirmou que o grego utilizado por Lucas, aproxima-se muito do Ático. Isso reflete o elevado grau
cultural de Lucas.
37
Ibidem, p.238.
38
Ibidem, p.238.
39
CARSON, D.A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo testamento. São Paulo: Vida Nova,
1997, p.227. Höster ainda acrescenta que a primeira forma é suportada: pelo Códice Alexandrino (A), pelo
Códice Efraimita (C), bem como pelos papiros Bodmer P 74 e P75. In: HÖSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do
Novo Testamento. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2008, p.72.
40
CARSON; MOO; MORRIS.1997, p.227.
11

Tertuliano.41Aqueles que seguem de perto o texto da tradição alexandrina consideram a


versão mais curta (B ‫ﬡ‬A C P74 P75) o texto original.42 Em relação ao texto Ocidental (D lat sir Irineu
Tertuliano) é possível ler: “O texto como um todo, deve ser considerado como uma revisão,
realizada no século III ou IV, do texto original mais curto de Atos”.43

FINAL:
O término é abrupto. O livro finda com a prisão de Paulo em Roma. Após ser preso,
Paulo aguardou dois anos para ser julgado por César. Várias razões tem sido sugeridas para
esse final abrupto. Gundry lista seis sugestões:
a) Uma vez que Lucas escreveu até o momento dois volumes, talvez desejasse escrever um
terceiro.
b) Talvez Lucas tenha chegado o final do rolo de pairo.
c) Uma catástrofe pessoal pode ter sobrevindo sobre Lucas, e este ficou impossibilitado de
prosseguir em seu registro.
d) Talvez At 20:225 e 21:4,10-14 sejam o suficiente para mostrar que Paulo foi martirizado
em Roma.
e) Talvez Lucas já tivesse alcançado seu propósito de mostrar o progresso do Cristianismo
desde sua origem (Jerusalém) até sua chegada a capital do Império (Roma).
f) Lucas narrou os ventos até onde eles haviam ocorrido.44 Gundry manifesta sua opinião
pessoal esposando esta última sugestão. Ele ainda conclui: “Em sentido teológico, o final
abrupto do livro de Atos sugere que a tarefa da evangelização mundial estava incompleta. O
que a Igreja primitiva começou, pois, compete a nós terminar”.45

MENSAGEM/TEMA:
A promessa no tocante a descida do Espírito Santo (fato que se cumpriu no Pentecoste),
e a ordem de testemunhar acerca de Jesus nas seguintes regiões: Jerusalém, Judéia, Samaria e
o mundo.46

41
HÖSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Edições Evangélicas Esperança,
2008, p.72.
42
Ibidem, p.72.
43
CARSON, D.A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo testamento. São Paulo: Vida Nova,
1997, p.228.
44
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 4ª Ed. rev. ampl. São Paulo: Vida Nova, 2011, p.376.
45
Ibidem, p.376.
46
KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Exposição de Atos dos Apóstolos. Vol. 1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 80.
12

ESBOÇO:
Aqui, é possível sugerir três esboços: um dividindo o livro em duas partes, um tomando
por base o texto de At 1:8, e um detalhando o livro:

a) Esboço dividindo o livro em duas partes


I. At 1-12 Predominância dos atos de Pedro, Estevão e Filipe.
II. At 13-28 Predominância dos atos de Paulo.

b) Esboço baseado em Atos 1:8


I. Introdução 1:1-11.
II. Origem da Igreja: Jerusalém 1:12-8:3.
III. Período de transição 8:4-11:18.
IV. Expansão para os gentios 11:19-21:16.
V. Prisão e defesa de Paulo (Cesaréia e Roma) 21:17-28:31.47

c) Esboço detalhado
I. Prefácio 1:1-3.
II. O dom do Espírito Santo 1:4-6.
III. A ascensão e o trabalho a ser feito na terra 1:6-11.

IV. Conclusão dos Doze em Jerusalém 1: 12 -26.


V. A festa de Pentecostes em Jerusalém 2: 1-47.
VI. O episódio sobre a porta do templo 3: 1-4:31.
VII. Hipocrisia na igreja primitiva 4: 32-5:11.
VIII. Novamente perante o Sinédrio, a fala de Gamaliel5: 12-42.
IX. Estevão diante do Sinédrio. 6: 1-8:3.

X. Filipe em Samaria 8:4-25.


XI. Filipe e o eunuco etíope 8:26-40.
XII. Saulo de Tarso na estrada de Damasco 91-31.
XIII. Pedro em Lida e Jope9:32-43.
XIV. Pedro e Cornélio a questão Gentílica 10: 1-11: 18.
XV. Barnabé, Saulo e a primeira igreja gentia 11: 19-30.
XVI. Herodes Agripa e da Igreja: o fim de uma era 12: 1-25.

XVII. A primeira viagem missionária 13: 1-14: 28.


XVIII. O Concílio de Jerusalém e a resolução da questão dos gentios 15: 1-16: 5.
XIX. A segunda viagem missionária torna-se 16: 6-18: 22.
XX. A terceira viagem e a decisão de ir a Jerusalém 18: 23-20: 12.
XXI. Adeus Paulo em Mileto: o fim de uma era 20: 13-38.

XXII. Contra os judeus: Jerusalém 21: 1-23: 11.


XXIII. Antes dos romanos: Cesaréia 23: 12 -26: 32.
XXIV. Em Roma 27: 1-28: 31.

47
TENNEY, Merril C. O Novo testamento Sua Origem e Análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008, p.244.
13

ANÁLISE MORFOLÓGICA/TRADUÇÃO

Palavra Grega Morfologia Tradução


Artigo definido
~H nominativo feminino a
singular
Essa partícula muitas vezes não é
me.n traduzida, como é o caso aqui no texto
em apreço.48
Partícula que expressa ou
ou=n simples sequência ou assim
consequência.49
Substantivo nominativo
evkklhsi,a feminino singular Congregação/Assembleia/Igreja
comum.
Forma de kaqa com
kaqV apóstrofo. Kaqa é um por
advérbio.50
Adjetivo genitivo
o[lhj toda
feminino singular
Artigo definido genitivo
th/j a
feminino singular
Substantivo genitivo
Ioudai,aj Judéia
feminino singular
kai. Conjunção e
Substantivo genitivo
Galilai,aj Galileia
feminino singular
kai. Conjunção e
Substantivo genitivo
Samarei,aj Samaria
feminino singular

48
Em outros contextos, essa partícula pode ser traduzida por: antes, mas antes, antes pelo contrário. Ver in:
TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. 10ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 2001, p.133
49
MOULTON, Harold K. Léxico Grego Analítico. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p.306.
50
Ibidem, p.217.
14

Verbo indicativo
ei=cen imperfeito ativo 3ª pessoa tinha
singular.
Substantivo acusativo
eivrh,nhn paz
feminino singular.
Verbo particípio presente
oivkodomoume,nh passivo nominativo sendo edificada
feminino singular.
kai. Conjunção E
Verbo particípio presente
poreuome,nh nominativo feminino andando
singular.
Artigo definido
tw/| dativo/locativo no
masculino singular
Substantivo dativo
fo,bw| temor
masculino singular
Artigo definido genitivo
tou/ do
masculino singular
Substantivo genitivo
kuri,ou Senhor
masculino singular
kai. Conjunção E
Artigo definido
th/| dativo/locativo feminino na
singular
Substantivo dativo
paraklh,sei consolação
feminino
Artigo definido genitivo
tou/ do
neutro singular
Adjetivo genitivo neutro
a`gi,ou Santo
singular
Substantivo genitivo
pneu,matoj Espírito
neutro singular
15

Verbo indicativo
evplhqu,neto
imperfeito passivo 3ª era aumentada
pessoa singular
16

ANÁLISE SINTÁTICA

Análise das Orações:


1ª Oração: Assim, a Igreja por toda a Oração coordenada sindética conclusiva.
Judeia e Galileia e Samaria tinha paz,
2ª Oração: sendo edificada Oração subordinada completiva nominal.
3ª Oração: e andando no temor do Oração subordinada adj. Restritiva
Senhor, reduzida de particípio.
4ª Oração: e, na consolação do Santo Oração coordenada sindética aditiva.
Espírito, era aumentada.

Sintaxe dos termos:


Palavra grega Sintaxe
Assim Conjunção coordenada conclusiva
a Igreja Sujeito.
tinha por toda a Judéia e Galiléia e Predicado.
Samaria,
tinha Verbo transitivo direto.
paz Objeto direto.
sendo edificada Verbo passivo/oração reduzida de
particípio.
e andando Oração subordinada reduzida de
particípio.
no temor do Senhor Adjunto adverbial.
e, Conjunção coordenativa conclusiva.
na consolação do Santo Espírito era Predicado verbal.
aumentada.
17

DELIMITAÇÃO DA PERÍCOPE

O presente texto (At 9:31)51 é uma perícope independente. Uma leitura atenta de 9:26-
30, 9:31 e 9.32-35 demonstra que o narrador (Lucas) opera uma mudança em relação as
cenas, aos assuntos e a ênfases nos personagens.
A cena descrita em 9:26-30 ocorre nas cidades de Jerusalém, Cesaréia e Tarso. Já a cena
descrita em At 9:32-35 ocorreu em Lida e Sarona. At 9:31 por outro lado situa a cena em:
Judéia, Galiléia e Samaria.
O assunto de 9:26-30 é a chegada do recém-convertido Saulo, o temor dos discípulos,
sua aproximação dos apóstolos por meio de Barnabé, e a pregação do mesmo. O assunto de
9:32-35 diz respeito a cura de Eneias e algumas conversões daqueles que observaram tamanho
milagre. Já o assunto de 9:31 é a paz, a edificação e o crescimento das Igrejas na Judéia,
Galiléia e Samaria.
Enquanto que em 9:26-30 tem destaque a figura de Saulo, em 9:32-35 a figura de
destaque Pedro. Já em 9:31, o destaque recai sobre a igreja da Judéia, Galiléia e Samaria.
Abruptamente Lucas desloca sua narrativa da pregação de Saulo em Jerusalém, e sua viagem
a Cesaréia e Tarso (9:26-30), para o crescimento e a paz da Igreja de Jerusalém (9:31). A
seguir, rompendo com o texto anterior, Lucas já narra Pedro curando Eneias (9:32-35).
Ou seja, no bloco que compõe 9:26-30/31/32-35 são narradas três cenas completamente
distintas entre si. Isso demonstra que 9:31 é uma perícope completa e independente.

51
Até que outra versão seja mencionada, as citações e consultas foram empreendidas a partir da ARA (Almeida
Revista e Atualizada), 2ª Ed.1993.
18

ANÁLISE DE VERSÕES

ARA- A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e
caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número.

ARC- Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram
edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito
Santo.

ACF- Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram
edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.

BJ- Entretanto, as igrejas gozavam de paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria. Elas se
edificavam e andavam no temor do Senhor, repletas de consolação do Espírito Santo.

ASV- So the church throughout all Judaea and Galilee and Samaria had peace, being edified;
and, walking in the fear of the Lord and in the comfort of the Holy Spirit, was multiplied.

NAS- So the church throughout all Judea and Galilee and Samaria enjoyed peace, being built
up; and, going on in the fear of the Lord and in the comfort of the Holy Spirit, it continued to
increase.

R60- Enton ceslas Iglesias tenían paz por toda Judea, Galilea y Samaria; y eran edificadas,
andando en el temor Del Señor, y se acrecentaban fortalecidas por el Espíritu Santo.

Observações:

a) Apenas a ARA introduz a fórmula “na verdade”. Nenhuma das demais versões a
introduzem. Até porque, ela não aparece no texto grego.

b) As versões ARA, ASV e NAS seguindo o texto da UBS 4ª edição traduzem o termo Igreja
no singular. Já as versões ARC, ACF, BJ e R60 seguindo o texto bizantino traduzem o termo
Igreja no plural.

c) Apenas as versões ARA e BJ traduzem o termo oivkodomoume,nh como: edificando-se e se


edificavam, transmitindo a ideia enganosa de que a edificação era fruto muito mais da ação da
19

Igreja. A versão NAS traduz o termo por “sendo construída”. E as versões: ARC, ACF, ASV
e R60 traduzem a expressão como “sendo edificada”. As duas últimas opções deslocam da
Igreja a capacidade ou o poder de se auto edificar.

d) A BJ não traduz o termo evplhqu,neto que pode ser traduzido como “era aumentada”, em
alusão ao crescimento numérico da Igreja.

e) A ARA traduz o termo paraklh,sei como “conforto”. As versões ARC, ACF, BJ, NAS
traduzem por “consolação”. E a ASV por “consolo”.
20

TEXTO GREGO: UBS/NA27 E RECEPTUS/MAJORITÁRIO

UBS/NA27 RECEPTUS/MAJORITÁRIO
~H me.n ou=n evkklhsi,a kaqV o[lhj th/j Ai` me.n ou=n evkklhsi,ai kaqV o[lhj th/j
VIoudai,aj kai. Galilai,aj kai. Samarei,aj VIoudai,aj kai. Galilai,aj kai. Samarei,aj
ei=cen eivrh,nhn oivkodomoume,nh kai. ei=con eivrh,nhn oivkodomou,menai( kai.
poreuome,nh tw/| fo,bw| tou/ kuri,ou kai. th/| poreuo,menai tw/| fo,bw| tou/ kuri,ou kai. th/|
paraklh,sei tou/ a`gi,ou pneu,matoj paraklh,sei tou/ a`gi,ou pneu,matoj
evplhqu,netoÅ evplhqu,nontoÅ

OBSERVAÇÕES:

a) O texto Crítico inicia o V.31 utilizando o artigo “~H” no singular ao aludir a paz desfrutada
pela Igreja de modo geral. Já o texto Receptus/Majoritário tomando por base as Igrejas
aludidas no texto (Judeia, Galileia e Samaria) e inicia utilizando o artigo “Ai`” no plural.
Nesse sentido, o texto crítico toma por base a unidade e a catolicidade da Igreja primitiva.

b) O texto Crítico utiliza o singular evkklhsi,a. O texto Receptus/Majoritário utiliza o plural


evkklhsi,a. Essas Igrejas aprecem na sequência do texto.

c) Mais uma vez, o uso do singular “ei=cen” retoma o uso singular de ~H e evkklhsi,a. Já o uso
do plural ei=con retoma o uso singular de Ai e evkklhsi,ai.

d) Morfologicamente oivkodomoume,nh e oivkodomou,menai são semelhantes. O sentido aqui é de


“fazer progressos espirituais, ser edificado”.

e) Tanto poreuome,nh quanto poreuo,menai indicam uma única e mesma coisa: a(s) Igreja(s)
era(m) edificada(s) ao caminhar no/pelo temor do Senhor.

f) Aqui mais uma vez verifica-se o uso do singular evplhqu,neto no texto Crítico, e do plural
evplhqu,nonto no texto Receptus/Majoritário. Ambos (cada qual a seu modo) retomam o início
do verso, valendo-se da opção manuscritológica adotada. Aqui mais uma vez, a diferença é
apenas no uso destoante entre singular e plural.
21

ANÁLISE LÉXICA52

Na leitura atenta e minuciosa do texto, 4 palavras mostraram-se dignas de menção


especial, a saber: Igreja, paz, temor e Senhor. A seguir será apresentada uma análise histórica
do uso dessas palavras na história da língua grega.

a) evkklhsi,a (Igreja) - Esse termo pode ser traduzido como: Assembleia, congregação,
reunião, Igreja, igreja ou congregação cristã.53 Essa palavra possui uma longa história que
inicia no grego clássico, passando pela Septuaginta (LXX), por fim chegando ao Novo
Testamento.

 evkklhsi,a no grego clássico - a palavra evkklhsi,a provém da palavra ek - kaleo. Este


último termo era empregado para convocar o exército a fim de que este se reunisse.
Como é possível observar, ek – kaleo é um termo formado por dois radicais gregos (ek
= para fora de54) e (kaleo =chamar55). Daí o sentido de “chamar para fora” referindo-
se ao exército. Essa palavra aparece já nos textos preservados de Eurípedes e
Heródoto. Nesses escritos refere-se à Assembleia popular dos cidadãos efetivos e
competentes da Polis. Alcançou sua importância máxima no V século a.C. Nesses
momentos algumas coisas ocorriam: sugestões para mudanças da lei, nomeação de
pessoas, contratos, estabelecimento de tratados, finanças etc. Essas Assembleias eram
abetas com orações e sacrifícios, os quais eram oferecidos as divindades das cidades.
A presidência da Assembleia a princípio cabia ao presidente do Pritaneis, mas a partir
do século IV a.C., a um colegiado formado por nove pessoas. Ver-se que antes dos
usos empregados pela LXX e pelo NT, evkklhsi,a era usada num contexto político.
Nessas ocasiões (nas Assembleias) predominava o espírito democrático. É digno de
menção que tanto na Grécia quanto nas comunidades helênicas, evkklhsi,a estava
associada a assembleia da Polis. Nesse contexto, evkklhsi,a não era utilizada em
contextos religiosos. Nesse contexto, a palavra mais usada para se referir a o momento

52
A presente análise léxica se ampara nas seguintes obras: COENEN, Lothar, e BROWN, Colin. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol.1. 12ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2000; RUSCONI, Carlo.
Dicionário do Grego do Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2005. TAYLOR, W. C. Dicionário do Novo
Testamento Grego. Rio de Janeiro: JUERP, 2001; GINGRISH, F. Wilbur, DANKER, Frederick W. Léxico do
NT Grego/Português. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1984.
53
Este último sentido pode ser encontrado in: GINGRISH, F. Wilbur, DANKER, Frederick W. Léxico do NT
Grego/Português. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1984, p.67.
54
SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê. Pequena Gramática do Grego Neotestamentário. 10ª ed. rev.
Patrocínio: CEIBEL,2011, p.17.
55
Ibidem, p.91.
22

de culto era: qiasoj (assembleia cúltica para adorar os deuses). Essa palavra não
entrou na LXX, nem no NT.

 evkklhsi,a na Septuaginta - Nessa versão, o termo evkklhsi,a ocorre cerca de 100 vezes,
22 das quais nos livros apócrifos. Dessas 100 aparições, 3 não encontram equivalente
no hebraico. O equivalente hebraico de evkklhsi,a é: qahal. Entretanto, qahalàs vezes é
traduzida como sinagoga e não como evkklhsi,a. Isso ocorre por exemplo em Gn, Lv e
Nm. É importante observar que qahal advém de qôl (voz), o que implica em uma
convocação para uma assembleia (para reunir-se). Algumas formas verbais
relacionadas a esse termo aparecem no AT tanto no Hifil quanto Niphal com o sentido
de: convocar uma assembleia ou reunir-se. Onde a LXX traduz o hebraico qahal, o
sentido é de: assembleia do povo ou assembleia jurídica, corpo político. Em Crônicas
é usado para designar a assembleia do povo para adoração. Cunrã também concorda
com a tradução encontrada n grego clássico (convocar um exército), mas também o
sentido também encontrado na LXX (santa congregação/congregação dos seus
eleitos).

 evkklhsi,a no Novo Testamento - É curioso que os discípulos de Jesus não


empregassem a palavra “synagoge” para se referir a suas reuniões. Exceção a isso é Tg
2:2. Mas esse fato é natural dada às raízes judaicas de Tiago. Na comunidade
primitiva, o emprego da palavra evkklhsi,a só passou a ser empregada para descrever a
comunhão que veio a existir após a ressurreição do Senhor, muito embora a
consciência da existência da Igreja já estivesse estabelecida. Em Paulo, evkklhsi,a é
empregada sempre num contexto de proclamação do Senhor Jesus. É possível que
Paulo empregasse evkklhsi,a com o mesmo sentido de Qahal. Também é empregada
com o sentido de “povo de Deus”. Ele ainda fala da evkklhsi,a como um evento e uma
comunidade local. Como comunidade, evkklhsi,a sempre está condicionada a um local
(e.g. “à Igreja que está em Corinto”). Em Ef, Cl e 1Co 12, Paulo utiliza evkklhsi,a
como metáfora de um corpo (o corpo de Cristo). Em Mateus, evkklhsi,a é utilizada para
descrever aqueles que se reúnem num único lugar: o Israel verdadeiro. A intenção aqui
é salientar que a Igreja é uma nova comunidade no sentido escatológico. Mas não se
deve excluir o fato de que Mateus use evkklhsi,a como sinônimo de Sinagoga. Em
Atos, evkklhsi,a tem o sentido inicial de comunidade local: Jerusalém, Antioquia que se
23

reúne nos lares. Em At 20:28 é dito a quem essa comunidade pertence: “à Igreja de
Deus”. Uma das características marcantes dessa comunidade é sua unidade (At 2:42-
47). No evangelho de João e em suas epístolas evkklhsi,a não parece. No Apocalipse
evkklhsi,a aparece como congregação. Também nesse livro, o caráter local é salientado
(cap. 2-3). Em Hebreus e Tiago, é usada como sinônimo de “Synagoge”. Ou seja, uma
congregação local com objetivos cúlticos.

b) eivrh,nh (Paz) - Esse termo pode ser traduzido como: paz, segurança, ordem,56 concórdia,
felicidade, isenção de ódio e estragos de guerra.

 eivrh,nh no grego clássico- No grego profano a partir de Homero passou a denotar a


antítese ou cessação da guerra. Em Platão e Epicteto designa uma “conduta pacífica”.
Epicteto e Marco Aurélio também utilizarão eivrh,nh com o sentido de “calma”. Nesses
autores trata-se de uma paz espiritual. Ainda é possível apontar o Cognato eirhnopoioj
tem o sentido de pacificação política pelo uso de armas de guerra.

 eivrh,nh na LXX (Septuaginta) - Na LXX, eivrh,nh é utilizado para traduzir o termo


veterotestamentário Shalom. No AT, Shalom ocorre mais de 250 vezes. Algumas
vezes é empregado para descrever o estado de bem estar advindo do próprio Deus. Na
LXX, eivrh,nh também é usada para traduzir os seguintes termos: descanso, segurança,
livramento dos cuidados, e confiança. Pode também ser usado para designar “bem-
estar geral”. Nem sempre a LXX concorda com o AT hebraico. Ao traduzir Shalom.
Neste, Shalom pode designar “prosperidade, saúde, adormecer, bons relacionamentos,
salvação. Em Nm 6:24 é eivrh,nh usado para resumir as bênçãos decorrentes da
presença de Yahweh.

 eivrh,nh nos Pseudepígrafos - Nesses escritos, eivrh,nh denota a salvação que pode
incluir a cessação da guerra. Aparece também como sustação (interrupção) do
julgamento, com o sentido de compaixão. Josefo segue o uso veterotestamentário. Filo
por outro lado utiliza o termo para designar “paz de espírito”, embora não desassocie
da paz externa. Filo (sob a influência da Filosofia grega) também usa eivrh,nh enquanto
paz interior para descrever a vitória sobre a tentação e a concupiscência.

56
RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2005, p.150.
24

 eivrh,nh na Comunidade de Qunrã - Por terem se distanciado do Israel aposta, os


partidários da comunidade de Qunrã se consideravam membros de uma comunidade
escatológica, e, portanto, já gozavam do repouso. Há vastas citações em seus escritos
falando da paz.

 eivrh,nh no NT - No NT eivrh,nh ocorre 91 vezes sendo 24 nos evangelhos. Em Mt 10


Jesus utiliza o termo 4 vezes. Em Mc só há uma ocorrência (Mc 5:34). E em Lc 13
ocorrências. Nos cap. 14-16 de João Cristo a utiliza 5 vezes denotando o dom que Ele
lhes conferia. As demais ocorrências no NT são como se segue: 7 vezes em At, 43
vezes nas epístolas de Paulo (inclusive 10 vezes em Rm e 8 vezes em Ef), 11 vezes
nas epístolas pastorais, 4 vezes em Hb e 2 vezes no Ap. Não é possível perceber
qualquer desenvolvimento no sentido de eivrh,nh no NT. Em grande parte, o NT segue
o AT hebraico, a LXX e o Grego Clássico. Entretanto, é possível encontrar no NT as
seguintes ideias associadas à eivrh,nh: a paz como o oposto de desordem, Cristo como o
mediador e proprietário da paz, a paz como coetâneo de plenitude. Em 2Tm 2:22 e Hb
12:14 eivrh,nh é usado no sentido de harmonia ou concórdia. Uma única vez
(Rm15:13), a paz (eivrh,nh) associada com a alegria é descrita como um poder que pode
permear a totalidade da personalidade.

c) fo,boj| (Temor) - Esse termo pode ser traduzido como: temor, terror, atemorização, medo,
alarme, susto, reverência, respeito, temor respeitoso.

 fo,boj| no grego clássico - No grego clássico, fo,boj| literalmente designa: pânico, susto,
medo, temor, reverência. No grego miceneano, designa também “temor dos
deuses/temor santo”.

 fo,boj| na LXX (Septuaginta) - Na Septuaginta, além dos sentidos supra aludidos,


fo,boj| também pode apontar para alguém ou algo que deve ser temido. O adjetivo
fo,boj| (temível, terrível, assustador) era empregado no grego secular a partir do século
V a.C. para falar de Deus em suas obras. Diferentemente dos gregos, os judeus não
nutriam apenas fo,boj| em relação ao seu Deus. Ele também sentiam o amor dEle, e o
amavam em contrapartida.
25

 fo,boj| No NT - No NT segue o sentido que o grego Clássico e a LXX atribuíram a


fo,boj|. O NT emprega fo,boj| com relação: ao aparecimento de anjos, catástrofes
relacionadas ao escathon, a morte, magistrados, e curiosamente aos judeus (enquanto
perseguidores). No NT, fo,boj| também é empregado no sentido de ansiedade, timidez
e desânimo. Frequentemente fo,boj| é usado para descrever o medo, a reverência e o
temor diante de Deus. Esse último sentido ocorre também com relação a Cristo (At
9:31). O próprio Cristo em Mt 10:28 exortou o temer ao Pai. Por outro lado, o mesmo
texto desaconselha o temer aos homens. Em relação ao medo, o NT ainda ensina que a
vitória sobre o mesmo já foi conquistada por Jesus (Hb2:15).

d) kuri,oj (Senhor) - Esse termo pode ser traduzido como: senhor, “Senhor”, amo, dono,
patrão, possuidor, proprietário.

 kuri,oj no grego Clássico - Desde Píndaro enquanto adj. aparece como: poderoso,
autoritativo. Sob a forma to kuri,oj: poder, força. Enquanto substantivo. Pode ser
traduzido como: senhor, soberano, quem tem controle. Invariavelmente, tem o sentido
de legalidade e autoridade. É possível empregar kuri,oj pareado com despothj. Este
último designa alguém que é “dono” (às vezes associado a arbitrariedades). Mais
tarde, pessoas dotadas de autoridade eram tratadas por esse título. Tal influência se fez
sentir no Heb. do Talmude, da Midrash e no Aramaico. No período clássico mais
antigo kuri,oj não era empregado como título divino. Esse termo só passou a ser usado
com referência aos deuses no I século a.C. Augusto foi chamado de qeo.j kai. Ku.rioj
(deus e senhor). Mais tarde, Calígula, Nero e Domiciano também buscaram tal
tratamento. Altos oficiais também podiam ser tratados por esse título. Era empregado
geralmente com algum sufixo pronominal que designasse posse (meu, minha).

 kuri,oj na LXX (Septuaginta) - Na Septuaginta, kuri,oj ocorre acima de 9.000 vezes.


190 vezes refere-se a homens. É utilizado para traduzir o Heb. “Adon”. Também é
usado 15 vezes para traduzir o termo ba’al (senhor). Interessante que Yahweh
raramente é chamado de dono na comunidade que o adora, mas SENHOR. kuri,oj
também pode traduzir o Aram. Mara (senhor). Também pode substituir o tetragrama,
ou nome pactual de Yahweh. Sendo assim, kuri,oj as vezes substitui Adon. Tem
havido algumas discussões se os tradutores da LXX substituíram o Tetragrama
(YHWH) por kuri,oj. Manuscritos hoje disponíveis apontam o oposto. Ao que parece,
26

o emprego de kuri,oj para representar o Tetragrama foi um hábito desenvolvido por


escribas cristãos.

 kuri,oj na literatura judaica pós-AT - Nesse período, kuri,oj aparece como termo
para referir-se a Deus pela primeira vez Sabedoria (cerca de 27 vezes). Mais tarde,
Filo e Josefo fizeram tal emprego com frequência. Filo transpõe o Tetragama por qeo.j
e não por kuri,oj. Ao utilizar qeo.j, Filo tem em mente salientar o poder gracioso de
Deus, enquanto que ao usar kuri,oj, salientar o poder soberano de Deus. Paralelos
egípcios e sírios também evidenciam que o uso de kuri,oj para representar o
Tetragrama provém de influências extra judaicas.

 kuri,oj na Comunidade de Qunrã - Nos manuscritos hebraicos da Comunidade de


Qunrã é possível encontrar o emprego de Adonay para transcrever o Tetragrama. Uns
poucos manuscritos anda conservam a escrita do antigo hebraico. A maioria utiliza as
fontes quadráticas. Na Comunidade de Qunrã, Adonay era utilizado especialmente nas
orações e nos contextos litúrgicos.

 kuri,oj no NT - O termo kuri,oj aparece no NT cerca de 717 vezes. Nos escritos de


Lucas 210 vezes, e nos escritos de Paulo 275 vezes. Nos demais livros do NT, aparece
como segue: 18 vezes no evangelho de Marcos, 80 vezes no evangelho de Mateus, 52
vezes nos escritos de João, 16 vezes na epístola aos hebreus, 8 vezes em 1Pedro, 14
em 2Pedro, 7 vezes em Judas e 23 vezes no Apocalipse. No emprego secular, kuri,oj
era usado em contraste com o escravo. No NT, Deus aparece como kuri,oj, Cristo
aparece como kuri,oj, muito mais ainda após a ressurreição. No caso de Deus, a
referência ao mesmo como kuri,oj tem sua maior frequência nas citações do AT.
Talvez isso reflita o costume judaico de não mencionar o nome de Deus (YHWH). Em
relação a Jesus, muitas vezes aparece como uma forma cortês de tratamento. Cristo
também foi chamado de Rabi. Isso demonstra respeito em relação a ele, ao esmo
tempo prontidão para obedecê-lo. Após sua ressurreição, Jesus ao ser chamado de
kuri,oj é reconhecido como o soberano do universo (Fl 2:5-11). O alvo desse senhorio
nas palavras de Paulo é para que “Deus seja tudo em todos” (1Co 15:25-26). Outra
questão não menos importante é a relação existente entre a ação sobrenatural do
Espírito Santo e o kuri,oj ressurreto. Na teologia paulina é dito que o reconhecimento
27

de Cristo como Senhor é uma obra do Espírito Santo. Ou seja, o Espírito Santo é o
Espírito do Senhor. Também cabe recordar que a eucaristhia é lembrada como a ceia
do Senhor. A Parousía é descrita como o “Dia do Senhor”. Ou seja, no NT, a figura
de Cristo enquanto Senhor toma vários contornos e desdobramentos.
28

ANÁLISE MANUSCRITOLÓGICA

Mediante a prévia leitura fornecida pelo aparato crítico do UBS/NA27, é possível


verificar a existência de três variantes, bem como a evidência manuscritológica
correspondente no texto de At 9:31, a saber:

Variante grega Evidência manuscritológica


Essa variante é atestada pelas seguintes
1ª Variante: {A}~h ... evkklhsi,a ... ei=cen
evidências manuscritológica: P74‫ ﬡ‬A B C
... oivkodomoume,nh ... kai. poreuome,nh ...
36 81 181 307 453 610 945 1175 1678
evplhqu,netoÅ
1739 1891 l 1178 itc, dem, ro, w vg (sirp)
A ...Igreja ...tinha ... sendo edificada ... e
(copsa, boa, fai, meg) armetiPs-Dionísio.
andando ... era aumentada.
Essa variante é atestada pelas seguintes
evidências manuscritológica: 614 1409
2ª Variante: ai` … evkklhsi,ai ... ei=con ...
2344 Biz [L P] Lec (l 422 l 1154 omitem
oivkodomou,menai( kai. poreuo,menai ...
kai poreuo,menai; l 680 ei=con
evplhqu,nontoÅ
lhtaibomenai[sic] em lugar de
As ...Igrejas ...tinham ... sendo edificadas,
poreuo,menai; itar, gig, (p) sirh(copbomss) geo
e andando ... eram aumentadas.
esl Crisóstomo; (Agostinho) Beda1/4.
3ª Variante: Ai` … evkklhsi,ai pasai
Essa variante é atestada pelas seguintes
...ei=con ... oivkodomou,menoi kai.
evidências manuscritológica: E (Ψ ~h ...
poreuo,menai ... evplhqu,nontoÅ
evkklhsi,a ... ei=con ... oivkodomh,menoi k. p. ...
As ... Igrejas todas ...tinham ...
eplhqu,neto) ite.
sendoedificadase andando ... eram
aumentadas.

OBSERVAÇÕES:

a) Uma rápida leitura da primeira variante é suficiente para justificar a opção dos editores
da UBS/NA27. Logo no início, os editores colocaram entre as chaves { } a letra A.
Essas chaves ao incluírem uma letra (e.g. “A” como é o caso da variante em apreço),
indicam o grau relativo de certeza para a leitura adotada no texto.57 Em relação à letra
“A”, sua inserção no aparato indica que perante a comissão aquela variante (indicada
57
O Novo Testamento Grego. 4ª ed. revisada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, xxxviii; WEGNER, Uwe. 4ª ed.
Exegese do Novo testamento. Manual de Metodologia. São Leopoldo: Sinodal/Paulus, 1998, p.61.
29

por ela) é a variante correta, ou o texto certo. Há de se observar também que a maioria
esmagadora de testemunhas arroladas pela comissão da UBS/NA27 remete aos textos
de tradição alexandrina, o que é coerente com a metodologia adotada pela mesma.
Inclusive, os cinco primeiros são fundamentais para a comissão. São eles: P 74 ou
papiro Bodmer (hoje em poder do Vaticano ao lado do P75), o Códice Sinaítico, o
Códice Alexandrino, o Códice do Vaticano, e o Códice Efraimita, os
Unciais/Maiúsculos (36 81 181 307 453 610 945 1175 1678 1739 1891), o Lecionário
1178, a Itala (manuscritos antigos Latinos e seus respectivos manuscritos)58, a
Vulgata, a Siríaca Peshita,59 Copta (Saídica, Boarítica, Faiúmica, Médio-Egito),
Armênia, Etíope, e o Pseudo-Dionísio. Boa parte deles foram escritos no Egito.60

b) A segunda variante é atestada pelos Unciais/Maiúsculos (614 1409 2344), a maioria


dos manuscritos bizantinos, o texto Majoritário (Lec).61 Os seguintes Lecionários
apresentam leitura semelhante, porém com algumas divergências em alguns detalhes: l
422 l 1154 omitem kai. poreuo,menai (“e andando”). O Lecionário 680 introduz uma
leitura anormal, a saber: ei=con lhtaibomenai em lugar de poreuo,menai (“andando”).
Apoiam também essa variante a Antiga Latina em vários de seus manuscritos, a
Geórgica, a Eslava, Crisóstomo, Beda¼ e a Siríaca Heracleana. Alguns Pais, Agostinho
e a versão Copta Boarítica apresentam pequenas divergências em relação à variante
em apreço. Em relação aos Unciais/Maiúsculos L (Códice Angelicus) e P (Códice
Guelferbytanus), ambos ao serem inseridos entre colchetes, indicam procedência
bizantina. Estes também apóiam a variante em apreço.

c) A terceira e última variante é atestada pelo Uncial/Maiúsculo Laudiaus (E) e por


alguns manuscritos latinos antigos. O Uncial/Maiúsculo “Ψ” (Códice Athous
Lavrensis) apresenta a seguinte leitura: ~h... evkklhsi,a ... ei=con ... oikodomhme,noi k. p. ...
eplhqu,neto. Como se percebe, o emprego de , aponta uma pequena divergência ao
divergir tanto do UBS/NA27 quanto do Lec.

58
O Novo Testamento Grego. 4ª ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblia do Brasil, xxvi-xxvii.
59
Quando um manuscrito é colocado entre parêntesis, isto indica que sua leitura apresenta pequenas
divergências ou alterações no tocante à variante ou texto que está sendo estudado. Ver: WEGNER, Uwe.
Exegese do Novo Testamento. Manual de Metodologia. 4ª ed. São Leopoldo: Sinodal/Paulus, 1998, p.50.
60
Para maiores informações consultar: ALAND, Kurt e ALAND, Bárbara. O Texto do Novo Testamento.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p.107, 116-118; PAROSCHI, Wilson. Origem e Transmissão do
Texto do Novo Testamento. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, p.46, 48-52.
61
Uma excelente defesa da metodologia majoritária pode ser encontrada em: ANGALDA, Paulo R.
Manuscritologia do Novo Testamento. Ananindeua: Knox Publicações, 2014.
30

Em relação ao aparato de segmentação, é possível apontar as seguintes questões:


a) eivrh,nhn - Em relação a este termo, o aparato sugere que o mesmo indica uma
separação entre cláusulas ou palavras. Essa separação implica numa mudança de
sentido no texto. De fato, isto mostra-se verossímil uma vez que At 9:31 é a quebra da
narrativa anterior. As seguintes versões apóiam tal noção: TR, TEV, Seg, FC, NIV,
(Lu)62 e a TOB.

b) oivkodomoume,nh - Como no termo anterior, o aparato sugere que novamente uma


separação de cláusulas. As seguintes versões suportam tal conclusão: WR, RSV, Seg,
NIV, VP, (Lu), e NRSV.

c) kuri,ou - Por mais uma vez, o aparato faz a mesma assertiva. As seguintes versões
atestam essa assertiva: TR, AD, M, (Seg), FC, (Lu), NJB, TOB e REB.

d) evplhqu,neto - No tocante a esse termo, o aparato sugere que o mesmo opera uma
separação de parágrafo. Nas seguintes versões é possível encontrar apoio para esta
afirmação: WR, AD, NA, M, Seg e REB.

62
O uso dos parêntesis no aparato de segmentação “mostra que a autoridade citada concorda com a segmentação
apresentada, mesmo que haja divergências em pequenos detalhes”. In: WEGNER, Uwe. Exegese do Novo
Testamento. Manual de Metodologia. 4ª ed. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p.65.
31

TRADUÇÃO FINAL DE ATOS 9:31

Assim, a Igreja tinha paz por toda a Judeia, e Galileia e Samaria: sendo edificada, e
andando no temor do Senhor, e, na consolação do Espírito Santo era edificada.
32

PARÁFRASE DE ATOS 9:31

Entretanto, a Igreja da região da Judeia, Galileia e Samaria desfrutava de paz. Era


fortalecida e caminhava continuamente no temor do Senhor Jesus, e na consolação do Espírito
Santo, o que a levava a crescer em número.
33

ANÁLISE TEOLÓGICA DE AT 9:31

É impossível ler At 9.31 e não lembrar de Atos 1.8 e, até mesmo, de Mateus 28.19-20. E
por que? Porque são passagens que lidam diretamente com o “tendo ido” do Senhor Jesus
Cristo. São textos que mostram a catolicidade da Igreja. Ou seja, as testemunhas daquele que
é “o caminho” estão encarregadas por Ele de propagar a mensagem do Evangelho para todos
os povos, fazendo discípulos de todas as nações, mostrando o ministério mundial da Trindade
em operação através da mensagem verbal e traduzida em vida pela igreja que irradia sua luz
pelo mundo a fora.
Segundo o exegeta Simon Kistemaker, a passagem de At 9.31 é tida como uma
passagem “transicional” que tem como intuito relatar ou fazer um resumo geral da situação
da igreja, dizendo que, “as igrejas da Palestina entraram num período de paz”.63 E qual a
razão dessa paz? Alguns aventam a hipótese de que cessaram as perseguições ativas contra a
igreja, devido Saulo sair de cena, pois, segundo Marshall, “a despeito da oposição levantada
contra Saulo, à perseguição ativa da igreja cessou com a sua saída do cenário, e, por enquanto,
a igreja desfrutou de um período de paz. Por estes tempos, se espalhara pela totalidade da área
que chamamos de Palestina”.64
O Rev. Hernandes Dias Lopes também concorda com a ideia de que, com a partida de
Saulo para Tarso, a Igreja passou a ter paz. Diz ele que “depois que Paulo partiu, a igreja
passou a ter paz e a crescer (9.31)”.65 É surpreendente o processo que ocorre na vida de Saulo
devido à graça salvífica, pois de perseguidor, passa a convertido, depois missionário e, no
presente contexto, perseguido.
Trazendo o entendimento do ministério mundial da Igreja de Cristo (ou da igreja do
Deus Triúno), quando o texto bíblico fala da Judeia, Galileia e Samaria (as três principais
divisões da Palestina naquela época), segundo Kistemaker, o foco de Lucas é “sua atenção no
alvo final: os confins da terra”.66 Presume-se, portanto, que os crentes espalhados por toda a
Judeia e Samaria (At 1.8) ensinaram as boas-novas e foram instrumentos no estabelecimento
de igrejas.
Somente aqui em Atos é que Lucas menciona a Palavra Galileia. Podemos esperar que
os quinhentos irmãos a quem Jesus apareceu depois de sua ressurreição e antes de sua

63
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: exposição de Atos dos Apóstolos – Vol. 1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 466.
64
MARSHALL, Howard I. Atos: introdução e comentário. Tradução Gordon Chawn. Série Cultura Bíblica. São
Paulo, SP: Vida Nova/Editora Mundo Cristão, 1982, p.171.
65
LOPES, Hernandes Dias. Atos: a ação do Espírito Santo na vida da igreja. São Paulo: Hagnos, 2012, p. 203.
66
KISTEMAKER, 2003, p 466.
34

ascensão (1Co 15.6) tenham testemunhado de Cristo na Galileia”.67 Observa-se, segundo


Kistemaker, que o foco de Lucas, em elencar as referidas localidades, era os confins da terra.
Mas também, segundo outro comentarista, Howard Marshall, isso indicava que, “com a
introdução de Samaria, no entanto, foi feito o avanço mais importante em direção de pessoas
que não eram completamente judias, e logo depois disto, vários eventos convenceram a igreja
de que era vocacionada para levar as boas novas aos não-judeus”.68 É fato que os argumentos
de ambos os comentaristas, reforçam o entendimento em torno da catolicidade da igreja, ou
seja, que a completude da sua missão, dada por Deus, envolve o mundo inteiro, abrangendo
todos os povos (judeus e gentios).
Nota-se que Lucas transmite a ideia de que a igreja é única, é a mesma, não importando
onde ela esteja, indicando a unidade e a universalidade do corpo de Cristo, a harmonia do
viver cristão, independente do contexto geográfico.
A igreja é a mesma, está unida e vivendo uma situação de paz, devido, como foi falado
acima, por conta da conversão de Saulo, somado, a um período de substituições políticas no
governo da região, que promoveram ordem e estabilidade naquela faixa territorial, tendo com
isso, consequências sobre a força de perseguição dos judeus, agora desviada para combater,
por exemplo, ameaças políticas. Em meio a essa situação de tranquilidade, a igreja aproveita
para se fortalecer em Deus. O texto diz que a igreja estava sendo edificada, sendo fortalecida
na fé, caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescendo em
número. Além de ser fortalecida na fé, também aumentou numericamente.
Kistemaker afirma que, “em todas as áreas da Palestina, a igreja demonstrava aumento
substancial na sua membresia. Quando o medo da perseguição arrefeceu, incontáveis pessoas
confessaram abertamente a sua fé em Jesus Cristo”.69 O referido comentarista dar as razões,
advindas do próprio texto sagrado, para o crescimento vivenciado pela igreja naquele
momento, diz ele que, “Lucas menciona duas razões para esse aumento: primeiro, os cristãos
estavam vivendo no temor do Senhor. Significa que reverenciavam e honravam Jesus Cristo
como Senhor e Salvador em seu viver diário. Em segundo lugar, experimentavam o conforto
do Espírito Santo. Em suma, esses crentes primitivos demonstravam aos olhos do mundo a

67
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: exposição de Atos dos Apóstolos – Vol. 1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.466-467.
68
MARSHALL, Howard I. Atos: introdução e comentário. São Paulo, SP: Vida Nova/Editora Mundo Cristão,
1982, p.24.
69
KISTEMAKER, 2003, p. 468.
35

alegria de viver a vida cristã. Por intermédio de uma vida cheia do Espírito, atraíam inúmeras
pessoas no conhecimento salvador de Cristo”.70
Observa-se que o crescimento não é uma obra humana, e, sim, dependente da obra do
Espírito Santo de Deus. Portanto, a igreja estava unida, crescendo espiritual e numericamente,
sendo confortada no Espírito Santo e com o foco de estender-se até os confins da terra.

70
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: exposição de Atos dos Apóstolos – Vol. 1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.468.
36

ESBOÇO HOMILÉTICO DE ATOS 9:31

Tema: Três aspectos de uma igreja saudável

Pergunta sermonária: quais os aspectos de uma igreja saudável?

I. É edificada pelo Senhor (31b).

II. Anda no temor do Senhor (31b).

III. Tem no Espírito Santo o seu auxiliador (31c).


37

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