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TRADICIONAIS
Resumo
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Mestrando em História pela Escola de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de
São Paulo (EFLCH-Unifesp) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP).
A partir dessa abordagem os territórios e as práticas acontecem mediante tensões
que se estabelecem a partir da interação, nem sempre convergente, entre os poderes
públicos e, neste caso, as comunidades tradicionais. Esta ênfase no território se faz
necessária, pois, uma vez que as séries de mudanças, objetivas ou discursivas, que
contribuiu para intensas transformações no contexto social das comunidades, não
acontecem apenas no contexto territorial enquanto espaço geográfico, mas,
principalmente, nos campos simbólicos e nas experiências. Neste sentido, a construção
de territorialidades acontece também no tempo, segundo vivências e apropriações que
correspondem a configurações que também se transformam conforme o contexto. Dessa
forma, os territórios se entrelaçam, perpassando o material e o imaterial (imaginário,
simbólico), onde também se estabelecem trocas e conflitos em espaços ora de controle e
disciplinarização das práticas, ora de apropriações inventivas, circularidades e
transculturações (CERTEAU, 1998).
Rogério Haesbaert (2006), por sua vez, estabelece uma relação entre território e
identidade cultural. Neste sentido opera a construção identitária conforme se
transformam também as acepções acerca dos territórios. Haesbaert não concorda com o
pressuposto de que as transformações e mudanças das territorialidades contribuam para
o desaparecimento de indentidades. Sobretudo, salienta as interlocuções que se
estabelecem no processo de mobilidade e fluidez territorial que implica mudanças nas
conceituações e nas acepções práticas dos térritórios. Para tanto, em Haesbaert e
Mondardo (2010) emprega conceituações que contribuem para a compreensão deste
processo:
Ainda neste âmbito, Paul Elliott Little (2002) condiciona a territorialidade aos
usos que determinados grupos fazem do território. Segundo o antropólogo, a
territorialidade se apresenta como um aspecto imanente aos grupos sociais e se
manifesta segundo necessidades específicas da historicidade de cada grupo. Para Little
(2002) é necessário analisar em uma perspectiva histórica, como tais esforços coletivos
estabelecem identidade e territorialidade, no sentido de reconhecer as especificidades de
cada processo em suas dimensões sociais e políticas (LITTLE, 2002, p. 252-253).
Como apontado por Secchi (2013), Lima (2012) e Souza (2006), o estudo das Políticas
Públicas é bastante recente no Brasil, havendo certa polissemia em relação a definições
da abrangência do campo do conhecimento, assim como do próprio conceito. Contudo,
a disciplina apresenta alguns pressupostos úteis para a análise em outros âmbitos, neste
caso, para a compreensão da historicidade dos territórios no contexto das comunidades
tradicionais. Dessa forma, entende-se que as políticas públicas contribuem, enquanto
fenômeno de ordem político-administrativa, para a convergência de conflitos e
mudanças, seja nas configurações territoriais, seja, a partir dessas, mudanças nas
mentalidades.
Como objetivo central deste trabalho e a partir dos pressupostos que tangem as relações
entre a concepção e aplicação de políticas públicas e os processo de
(des)territorialização das comunidades tradicionais, buscou-se observar o caso
específico da comunidade caiçara de Camaroeiro do município de Caraguatatuba,
Litoral Norte do Estado de São Paulo. Esta comunidade enfrentara a partir da década de
1950 um intenso processo de mudanças e deslocamentos que alteraram profundamente
aspectos inerentes à sua identidade e territorialidade.
Para além dessa compreensão que reduz a cultura caiçara das comunidades
tradicionais a uma naturalização, é necessário problematizar a trajetória de determinada
comunidade que apresente especificidades tais que não se encaixe de maneira precisa
nos pressupostos abrangidos no conceito de cultura caiçara. Até meados do século XX,
a Comunidade de Camaroeiro se desenvolveu segundo o que se pressupõe para uma
comunidade tradicional, se estabelecendo como comunidade rústica fechada e
conservadora (CANDIDO, 1987; MARCÍLIO, 1986). Contudo, sua proximidade com o
centro do município de Caraguatatuba proporcionou contatos precoces dessa
comunidade com os processos de avanço do turismo e intensa urbanização que
transformaram a cidade de Caraguatatuba a partir da década de 1950. Com este
fenômeno as famílias que compunham a comunidade de Camaroeiro foram removidas
de seu espaço original, a orla das praias da região central do município, e tiveram de se
adaptar a novas configurações de espaço geográfico em bairros interiorizados, como o
Bairro Ipiranga.
A aridez dos novos bairros, marcados por uma grande quantidade de casas
desabitadas na maior parte do ano também pode ter contribuído para a manutenção do
modelo anterior, no que fortaleceu os laços da comunidade, uma vez que neste novo
espaço os membros do antigo grupo ainda se apresentavam como referência para a
sociabilidade. Habitando desta vez uma área suburbana no município, os caiçaras
precisaram fortalecer seus laços identitários uma vez que a nova configuração de
comunidade levava ao processo de decadência dos costumes tradicionais. Dessa forma,
é possível afirmar que este fazer-se e refazer-se é próprio da cultura popular (caiçara) no
que também se inserem os processos de (des/re)terriorialização, uma vez que a cultura
neste caso se ressignifica conforme as novas demandas do contexto em que está
inserida, de certa forma mesclando formas de resistências e resiliência no sentido de se
manter coerente, preservando traços de sua originalidade, mesmo diante de todos os
processos de transformação enfrentados (CHARTIER, 1995).
Considerações finais
Bibliografia