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RESENHA  1

Marcel Mauss Redux observa Sergio Miceli na apresentação que abre


cada volume, ela transforma tal teoria em objeto
Marcel Mauss Redux de investigação, incitando os leitores a uma postura
correspondente. Até o momento, sucederam-se seis
CONSOLIM, Marcia; LÓPEZ, Noemí Pizarroso & volumes organizados pelos coordenadores da cole-
WEISS, Raquel (orgs.). Relações reais e práticas en- ção em parceria com editores convidados, tratando
tre a psicologia e a sociologia: Marcel Mauss. Tradu- de textos de Durkheim, Henri Hubert, Antoine
ção de Rafael Faraco Benthien e outros. Coleção Meillet, Marcel Mauss e François Simiand. E, uma
Biblioteca Durkheimiana, v. 5. São Paulo, Edusp,
vez que, de acordo com o escopo abrangente do
2018. 280 páginas.
projeto sociológico durkheimiano, tais autores de-
Rodrigo Ramassote (1) bruçaram-se sobre questões muito diversas – do pa-
 http://orcid.org/0000-0002-5272-2692 pel político dos intelectuais ao fundamento social
dos sentidos das palavras, da magia nas sociedades
Luís Felipe Sobral (2) australianas à razão fiduciária da moeda e assim por
 http://orcid.org/0000-0003-4380-3420
diante –, a Biblioteca Durkheimiana delineia um
DOI: 10.1590/3510315/2020 universo temático amplo que concerne às ciências
(1) Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico humanas em geral.
Nacional (Iphan), Brasília – DF, Brasil. O livro resenhado, quinto volume da coleção,
E-mail: ramassote@hotmail.com não se afasta dessas balizas. Organizado por Ra-
(2) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
quel Weiss, Marcia Consolim e Noemí Pizarroso
Campinas – SP, Brasil. E-mail: lf_sobral@yahoo.com López, tal volume apresenta em uma nova tradu-
ção a conferência “Relações reais e práticas entre a
psicologia e a sociologia”, proferida por Mauss em
1924, durante uma sessão da Sociedade Francesa
Desde 2016, encontra-se em curso a coleção de Psicologia, e publicada nesse mesmo ano em seu
Biblioteca Durkheimiana, publicada pela Editora periódico oficial, o Journal de Psychologie Normale
da Universidade de São Paulo (Edusp) e coordena- et Pathologique. O sociólogo presidia essa sociedade
da pelo historiador Rafael Faraco Benthien (UFPR) desde o ano anterior, a convite de seu secretário, o
e pela socióloga Raquel Weiss (UFRGS), respecti- psicólogo Ignace Meyerson; a plateia compunha-se
vamente secretário e diretora do Centro Brasileiro de seus principais membros: Georges Dumas, Hen-
de Estudos Durkheimianos (CBED). O objetivo ri Piéron, Pierre Janet, Henri Wallon, Henri Dela-
da coleção é apresentar ao público brasileiro textos croix, além do próprio Meyerson. Tal conferência
menos conhecidos, jamais traduzidos em portu- já havia sido incluída em Sociologia e antropologia, a
guês ou em novas traduções, de Émile Durkheim bem conhecida coletânea de textos de Mauss, edi-
e dos intelectuais que, entre o final do século XIX tada por Georges Gurvitch e lançada em 1950; os
e as primeiras décadas do século XX, articulavam- leitores brasileiros muito provavelmente conhecem-
-se ao grupo da Escola Sociológica Francesa. Cada -na nesta versão. A despeito, porém, da ausência de
volume organiza-se substancialmente em quatro ineditismo, a nova tradução, pautando-se na versão
partes: apresentação; uma edição bilíngue e crítica original, recupera parte da discussão que se segui-
do texto que lhe dá título; um dossiê crítico reu- ra à conferência e que acabou suprimida na edição
nindo as contribuições de especialistas brasileiros e de Gurvitch. Esse cuidado filológico, o dossiê crí-
estrangeiros no tema em questão; um conjunto de tico e os anexos que completam o volume tornam
anexos com documentos (cartas, resenhas, comen- possível não somente restituir o sentido original do
tários, artigos etc.) contemporâneos do texto prin- texto, mas também situá-lo propriamente no deba-
cipal. Dessa maneira, a coleção recusa uma apreen- te envolvendo a sociologia e a psicologia na França
são imediata da teoria canônica, pois, como bem entreguerras, assim como questionar os parâmetros
das apropriações posteriores que foram feitas da
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obra e da figura intelectual de Mauss. poroso – ainda que feito de “proposições e acordos
Na apresentação, as organizadoras compendiam temporários” (p. 22). De um lado, uma coalizão de
e antecipam um conjunto de questões aprofundado forças diante do surgimento de “novas teorias do in-
nos textos que compõem o dossiê crítico. De modo consciente na França da década de 1920, em espe-
geral, elas discorrem sobre dois assuntos correlatos. cial a psicanálise” (p. 22); de outro, uma estratégia
Em primeiro lugar, a posição ocupada por Mauss de sobrevivência mobilizada pelos sociólogos devido
na Escola Sociológica Francesa e as vicissitudes pelas à tibieza institucional de sua disciplina e à perda de
quais seu legado intelectual passou após o seu fale- inúmeros membros da Escola Sociológica Francesa
cimento em 1950. Desde a publicação, no final dos durante a Primeira Guerra Mundial. Acima desses
anos 1960 e sob a coordenação de Victor Karady, fatores, pairava a existência de uma “espessa rede de
da edição em três tomos dos textos de Mauss, os amizades e afinidades sociais, intelectuais e políticas”
estudos referentes ao seu diálogo com a psicologia (p. 22) entre os praticantes de ambas as disciplinas,
“tornaram-se parte de uma pauta maior: as relações situando-os do mesmo lado do espaço intelectual
entre as obras de Durkheim e as de Mauss, a fim mais amplo.
de se averiguar a originalidade do sobrinho em rela- Munido de tais informações, o leitor enfren-
ção ao tio” (p. 27). Retomando parte desse debate, e ta “Relações reais e práticas entre a psicologia e a
contrariando as leituras que defendem as interven- sociologia” de maneira mais armada e compreen-
ções de Mauss como uma tentativa de instaurar um siva. Mauss inicia sua conferência anunciando que
território comum entre a sociologia e a psicologia, as empreenderá “uma dessas espécies de revisões de
autoras identificam na conferência uma indiscutível conjunto, dessas comparações, desses balanços
demarcação de fronteiras disciplinares no intuito de entre duas ciências, que, de tempos em tempos,
defender a soberania da explicação sociológica, sus- têm sua utilidade” (p. 41). Ao longo de sua expo-
citando reações contundentes de alguns membros sição, proferida em um tom ameno e cuidadoso,
da plateia. Como lembram acertadamente, “o que porém firme, ele empreende uma verdadeira par-
importa compreender”, entre as suas várias apropria- tilha de atribuições e tarefas entre a sociologia e
ções e retratos póstumos, “é de que maneira Mauss, a psicologia, delimitando fronteiras disciplinares,
um continuador de Durkheim que pretendia ser reivindicando frentes de estudo específicas, distri-
apenas ‘sociólogo’, defende e faz viver o projeto so- buindo áreas temáticas legítimas e estimando as
ciológico” (p. 17). contribuições substantivas que ambas as discipli-
Em segundo lugar, elas retraçam o pano de fun- nas oferecem uma à outra. Seu ponto de partida é
do institucional e intelectual sobre o qual se deram o pressuposto de uma diferença fundamental en-
as relações entre a psicologia e a sociologia na França tre a psicologia e a sociologia: enquanto a “psico-
da primeira metade do século XX. “Até os anos de logia humana estuda apenas fatos de consciência
1920, esses dois novos domínios do conhecimento observados no comportamento do indivíduo” (p.
não estavam nem definidos, dado que projetos dis- 47), a sociologia examina “não somente os fatos
tintos disputavam sua definição legítima, nem bem da consciência, mas ainda outros fatos, e nume-
delimitados, pois as fronteiras entre saberes não es- rosos, que não são de consciência” (p. 47). Nesses
tavam estritamente estabelecidas” (p. 19), explicam. outros fatos – referentes aos fenômenos morfoló-
Se até o falecimento de Gabriel Tarde, em 1904, as gicos, estatísticos e históricos – reside a autonomia
relações entre os praticantes de ambas as ciências fo- da sociologia diante da psicologia; assim, o espaço
ram marcadas por tensões e animosidades, a partir comum entre ambas se delimita pela investigação
da década de 1910 tal estado de coisas passou por das representações coletivas. Em contrapartida,
inflexões importantes. Progressivamente, a recepção tanto a sociologia como a psicologia humana são
dos postulados da sociologia durkheimiana entre os partes integrantes da antropologia, entendida por
psicólogos se ampliou. Segundo as autoras, são várias sua vez como um ramo da biologia, ou seja, como
as explicações que respondem por tal aproximação o conjunto das ciências que consideram o homem
e pela conformação de um espaço de diálogo mais um ser vivo, consciente e sociável. Vê-se então que
RESENHA  3

a atenção de Mauss, orientada pela convicção se- sa, quanto o conteúdo substantivo de sua conferên-
gundo a qual o progresso do conhecimento ocorre cia. Com vistas a recuperar as percepções e reações
nas fronteiras entre as ciências, incide particular- contemporâneas sobre o texto, o autor defende que
mente sobre os limites entre a psicologia e a socio- se suspenda “por um instante a grossa camada sedi-
logia. “E como não formulo a questão de método, mentada de comentários consagrados ao sobrinho
a dos pontos de vista em que podemos e devemos de Durkheim” (p. 104) e se retome “as condições
nos opor”, afirma ele, “mas formulo a questão dos estruturais dessa discussão” (p. 104). Segundo Hirs-
fatos comuns em cujo estudo devemos colaborar ch, as ciências do homem na França repousavam,
sob diversos pontos de vista, demarcar seus con- nesse momento, sobre um paradoxo: um acentua-
fins já significa dizer para onde se pode desejar do desenvolvimento teórico, que resultou na emer-
que nossas pesquisas se dirijam” (p. 55). gência de uma profusão de modalidades de conhe-
O restante da conferência é dedicado sobre- cimento (a emergência e a consolidação da Escola
tudo à descrição desses fatos comuns, começando Sociológica Francesa, a psicologia, mas também os
com os serviços recentes prestados pela psicologia Annales e a etnologia), em contraste com as estritas
à sociologia, que consistem substancialmente em possibilidades de se deslanchar uma inserção ins-
quatro noções: a noção de vigor mental, a noção titucional (confinadas às carreiras de filosofia e de
de psicose, a noção de símbolo e de atividade sim- história). Daí, de um lado, uma acirrada disputa e
bólica do espírito, a noção de instinto. Quanto às concorrência entre áreas afins, a partir de constan-
contribuições da sociologia à psicologia, elas ainda tes demarcações de terreno, frequentes tentativas de
estão por serem feitas e se referem ao problema devoração mútua e insistentes revisões de tarefas;
dos símbolos míticos e morais, que se situam além de outro, uma proximidade objetiva entre seus pra-
da consciência individual, e à questão do ritmo, ticantes, que ocupavam posições equivalentes den-
presente por exemplo na dança. Segundo Mauss, tro do campo acadêmico e cultivavam entre si laços
trata-se de fatos muito complexos e que “propo- de amizade e afinidades intelectuais. É nesse con-
nho chamar de fenômenos de totalidade, nos quais texto que tem lugar a conferência. Que o leitor não
participam não apenas o grupo, mas ainda, por se engane pelo tom afável e pela ênfase nos fatos
seu intermédio, todas as personalidades, todos os sociais totais, tampouco pelas leituras e apropria-
indivíduos em sua integridade moral, social, men- ções póstumas de Mauss asseverando que ele “teria
tal e, sobretudo, corporal ou material” (p. 79, gri- se distanciado da excessiva ambição de seus camara-
fo do autor). No entanto, a pesquisa desses fenô- das sociólogos para estabelecer as condições de uma
menos depende de certos avanços que concernem discussão equilibrada e desapaixonada” (p. 104): o
especialmente ao estudo psicológico do chamado sociólogo francês jamais deixou de referendar a “su-
homem total, uma noção que, articulada com a perioridade do poder explicativo da sociologia” (p.
concepção de fato social total, ocupará um lugar 118), reduzindo a área de atuação da psicologia e
de destaque no ensaio sobre a dádiva, redigido estabelecendo correlações com a ciência biológica.
também nesse período. Em seguida, em “Psicólogos e sociólogos nos
O dossiê crítico inclui quatro textos que, co- anos de 1920: debates e controvérsias”, a historia-
tejando fontes diversas com a conferência, torna dora da psicologia Annick Ohayon resgata, de ma-
a leitura desta mais complexa. No primeiro deles, neira cuidadosa, o contexto mais amplo em que se
“Onde os professores se devoram uns aos outros – realizou a conferência de Mauss, como também o
sociologia e psicologia segundo Marcel Mauss”, o “clima intelectual desse período” e os “principais
historiador Thomas Hirsch revisita o debate entre artífices desses encontros” (p. 121), enfatizando
a sociologia e a psicologia, “um dos principais estí- os avanços e recuos das diferentes ramificações da
mulos à criatividade científica dos sociólogos fran- psicologia francesa ao longo da última década do
ceses entre 1895 e 1945” (p. 103), de modo a com- século XIX até os anos 1920. Nesse percurso, ela
preender com maior rigor tanto a posição na qual indica a progressiva inserção institucional e a fun-
se encontrava Mauss na Escola Sociológica France- dação de veículos impressos de difusão das ideias
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de seus principais representantes, culminando no interdisciplinares, nas quais tanto a sociologia como
exame do Traité de psychologie, de 1923, publica- a psicologia situavam-se em uma posição dominada
ção coletiva, organizada por Georges Dumas em por referência à filosofia e às ciências naturais; em
dois tomos, preenchidos com a participação de 35 seguida, nas trajetórias institucionais de sociólo-
colaboradores, entre os quais filósofos, psicólogos, gos e psicólogos, que “provinham do mesmo meio
fisiologistas, neurologistas, sociólogos e antropólo- escolar parisiense e compartilhavam um conjunto
gos. De suas páginas, “sobressai a imagem de uma de práticas e de valores muito extenso” (p. 163).
disciplina fragmentada” (p. 128), transigente à in- A partir dessas afinidades é que se torna possível
fluência durkheimiana – sensível na contribuição compreender plenamente não apenas a colaboração
de André Lalande, Charles Blondel, Wallon, Dela- entre Mauss e Dumas, mas também as críticas que
croix e do próprio Dumas – e ao imperialismo da lhe foram dirigidas. Assim fazendo, Consolim é ca-
sociologia. Em tais circunstâncias, não surpreende paz de formular uma proposição mais geral desse
que, em sua conferência, Mauss tenha proclamado debate, pautada na articulação entre dois critérios:
que, entre a dimensão fisiológica e social, interpõe- de um lado, a concepção disciplinar (filosófica ou
-se uma camada muito fina da consciência indivi- científica); de outro, a trajetória institucional (pro-
dual; tampouco que, em seu “generoso balanço dos fessor universitário ou pesquisador).
serviços prestados pela psicologia à sociologia” (p. “Henri Delacroix, Ignace Meyerson e Marcel
132), ele enfatize o que foi utilizado para a reali- Mauss. Uma rede desconhecida”, assinado pela
zação dos seus próprios trabalhos antropológicos, historiadora da psicologia Noemí Pizarroso López,
aquilo “que nessas pesquisas o interessou” (p. 132). completa o dossiê crítico. A autora propõe um exa-
Embora tenha sido, entre todos os durkheimianos, me da relação de amizade que Mauss manteve com
“aquele que nutriu o diálogo mais constante com os dois psicólogos; além de ter sido ignorada até o
os psicólogos” (p. 136), suas considerações não dei- momento, tal relação mostra-se importante para a
xaram de expor lacunas bibliográficas, afirmações compreensão da conferência de Mauss e do diálogo
pouco adequadas e referências tortuosas e esquivas. entre a psicologia e a sociologia. A amizade com
Em sua contribuição ao volume, intitulada Delacroix, catedrático de psicologia da Sorbonne,
“Georges Dumas e Marcel Mauss: diálogo sobre a remonta à chegada de Mauss a Paris, em 1894; a
expressão das emoções e dos sentimentos”, a soció- relação com Meyerson data de alguns poucos anos
loga Marcia Consolim examina as razões que esti- antes da conferência de 1924. Debruçando-se es-
mularam o diálogo entre a sociologia e a psicologia pecialmente sobre a correspondência trocada entre
nos anos 1920, um período caracterizado pela espe- eles, parte dela inédita, mas também sobre a biblio-
cialização científica e pela concorrência entre ambas grafia produzida a partir desse diálogo, a autora
as disciplinas, então estabelecidas recentemente na oferece duas contribuições valiosas: primeiro, ela
universidade. Para tanto, ela se debruça particular- reconstrói a trajetória de Mauss, do final do sécu-
mente sobre os termos da proposta de colaboração lo XIX à Primeira Guerra, segundo a perspectiva
entre Mauss e Dumas. “Trata-se principalmente de de sua relação com Delacroix, mostrando como o
analisar as fronteiras acordadas por ambos para essa diálogo com os psicólogos precedeu em muito a
colaboração”, anuncia a autora, “que focalizava um conferência; em seguida, ela argumenta que a con-
objeto específico – a expressão das emoções (Du- versa de Mauss com Meyerson, ao contrário do que
mas) ou a expressão dos sentimentos (Mauss) –, a intervenção deste no debate que se seguiu à con-
pensado a partir de pontos de vista distintos e, por ferência pode dar a entender, consistiu menos em
isso, complementares” (p. 141). No entanto, em uma disputa epistemológica do que uma discussão
vez de considerar somente os fatores conjunturais e sobre as várias psicologias possíveis.
estratégicos referentes a essa aproximação, ela esco- Nos anexos, finalmente, as organizadoras
lhe destacar o que denomina afinidades eletivas en- reúnem os seguintes documentos: duas resenhas
tre os dois grupos intelectuais. Tais afinidades ma- curtas sobre a conferência de Mauss, uma redigida
nifestam-se em dois registros: primeiro, nas relações por Meyerson, outra pelo político (e futuro cola-
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boracionista) Marcel Déat; excertos de artigos de BIBLIOGRAFIA


autoria de Mauss e de Blondel; o debate subse-
quente a uma conferência de Jean Piaget de 1931; CLIFFORD, James. (1988), The predicament of
a correspondência pessoal que Mauss trocou culture. Twentieth-century ethnography, literatu-
com Dumas, Delacroix e Meyerson; a alocução re, and art. Cambridge, MA/London, Harvard
de Mauss ao assumir a presidência da Sociedade University Press.
Francesa de Psicologia e uma breve nota do mes-
mo a respeito do psicólogo Théodule Ribot. Desse
conjunto, destaca-se a intervenção de Meyerson,
que, após sintetizar os principais argumentos de
“Relações reais e práticas entre a psicologia e a so-
ciologia”, enumera os pontos que o afastam das
declarações do sociólogo francês e subverte, sem
rodeios, a divisão estipulada por ele: “A sociologia
é apenas um ramo da psicologia e o sr. Mauss é
tão somente um psicólogo” (p. 211).
A classificação de Mauss como psicólogo jun-
ta-se aos vários epítetos que lhe foram atribuídos
ao longo do tempo, alguns deles assinalados pelo
antropólogo James Clifford: leal durkheimiano,
precursor do estruturalismo, antropólogo, histo-
riador, estudioso da religião, iconoclasta, defen-
sor de uma visão socialista e humanista, brilhante
teórico de gabinete, agudo observador empírico e
assim por diante. “As diferentes versões de Mauss
não são irreconciliáveis, mas elas não se integram
completamente. As pessoas que o leem e que dele
se recordam sempre parecem encontrar algo de si
próprias [...]”, observa Clifford (1988, p. 125, tra-
dução nossa). Isso não quer dizer que tais epítetos
sejam equivocados ou enganosos; todavia, antes de
endossá-los ou rejeitá-los, os leitores devem buscar
se familiarizar com o Mauss que precedeu todas
as suas apropriações futuras, o que não é possível
sem esse esforço de trazê-lo de volta em sua própria
espessura histórica. O livro em questão, reunindo
rigor filológico, análise crítica e um rico corpus do-
cumental, oferece uma oportunidade valiosa para
tanto: diante dele, os leitores são convidados, mas
igualmente desafiados, à elaboração de um exame
mais complexo da relação entre a teoria produzida
pelas ciências humanas e a história multifacetada
desse conjunto de disciplinas.

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