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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

David Hume - Texto completo de onde foi extraído o


excero para o trabalho anterior

DAVID HUME: unicórnios, eus e homens não casados


Hume começa, tal como Locke, por considerar os conteúdos da mente, os objectos do R
entendimento humano ou – nas suas palavras – as percepções da mente ou materiais do O
pensamento. Hume divide estes conteúdos em impressões e ideias. Há uma clara distinção, já A
notada por Locke, entre sentir realmente dor, calor, raiva, ver uma paisagem, ouvir uma sirene u
ou desejar uma bebida fresca e recordar mais tarde ou imaginar estas experiências. Hume usa o c
termo «impressões» para indicar «as nossas percepções mais vívidas, quando ouvimos, ou d
vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos». As ideias têm menos força, são cópias fracas S
das impressões, trazidas à mente pela memória ou pela imaginação.
P

a
Qual, para Hume, é a relação entre ideias e impressões? Hume afirma que «todas as nossas
ideias ou percepções mais débeis são cópias das nossas impressões ou percepções mais
“vívidas”». Por outras palavras, as ideias derivam apenas da experiência. É claro que Hume
sabe que algumas ideias – por exemplo, a minha ideia de unicórnio – não correspondem L
exactamente a uma impressão particular. Mas as partes que compõem a minha ideia de um
unicórnio – ideias de cavalos e de chifres – são cópias de coisas que já vi no mundo. Limitei-me
a combinar ideias derivadas da experiência de uma maneira nova. A ideia de Hume é que
apesar de a mente parecer porventura quase ilimitada na sua capacidade de imaginar e pensar
abstractamente, a matéria bruta sobre a qual ela opera é sempre extraída de impressões.

É este o cerne do empirismo, e Hume oferece alguns argumentos em sua defesa. Sugere que
pensemos nas nossas próprias ideias e que tentemos apontar uma que não dependa de uma
impressão original. Ataca também directamente a ideia favorita dos racionalistas – a ideia de
Deus –, e mostra que podemos adquiri-la pensando nas qualidades das nossas mentes
exagerando depois tanto quanto quisermos o que há nelas de bom e de sábio. Finalmente,
considera os indivíduos que têm falta de uma aptidão sensorial – os cegos, por exemplo – e nota
que estes não têm nenhuma ideia de cor. A explicação, argumenta, é que as ideias são cópias
das impressões, e que quem nunca teve impressões relevantes não pode ter as ideias
correspondentes.

Há certos factos sobre impressões e ideias que nas mãos de Hume têm consequências
filosóficas de longo alcance. Comparadas com as impressões, as ideias são naturalmente fracas
e obscuras e é fácil cometer dois tipos de erros quando pensamos sobre elas. Em primeiro lugar,
podemos confundir uma ideia com outra, podemos pensar que se justifica tirar uma certa
conclusão acerca de uma ideia quando o que realmente acontece é que estamos a pensar numa
ideia semelhante, mas diferente. Em segundo lugar, e pior, usamos palavras para representar
ideias, e o nosso discurso pode desenrolar-se alegremente mesmo que as partes relevantes da
nossa linguagem não tenham correspondência com alguma ideia fixa ou determinada. Numa
disputa filosófica, quando não estamos a falar em cavalos e de chifres, mas em ideias muito
complexas e abstractas, é fácil termos uma conversa em que são usadas as mesmas palavras
para mencionar coisas diferentes. Podemos até discutir sobre nada. A nossa disputa poderá ser
sobre ideias ilusórias, meros fantasmas sem base na experiência – o equivalente filosófico dos
unicórnios.

Estas reflexões fornecem um procedimento que nos permite remover as ideias fictícias e
encontrar saídas para as disputas filosóficas, e mesmo para acabar com elas. Hume
escreve:

Quando por conseguinte temos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue
sem nenhum significado ou ideia (como é muito frequente), basta-nos perguntar sobre a
impressão de que a ideia supostamente deriva. E se for impossível encontrar alguma, isto
servirá para confirmar a nossa suspeita. Ao clarificar assim as ideias, podemos
razoavelmente esperar que possam ser removidos todos os conflitos que possam surgir
sobre a sua natureza e realidade.

As consequências destas linhas são estonteantes.

Consideremos a ideia de um eu durável, algo de substancial que persiste por detrás das
muitas mudanças que experimentamos ao vivermos a vida. Suponho, por exemplo, que
esta manhã sou essencialmente o mesmo eu que era quando me fui deitar a noite
passada. Não só isso, acho também que sou o mesmo eu que era na juventude que
desaproveitei. Acho que serei o mesmo eu enquanto viver. Sem dúvida, algumas coisas
mudaram: cresci, ganhei algumas cicatrizes, o meu cabelo está a tornar-se um pouco
grisalho. Contudo, parece haver algo de essencial, o meu verdadeiro eu, que persiste em
todas estas alterações acidentais.
Se concordarmos com o princípio de Hume sobre a relação entre ideias e impressões, e
se estivermos convencidos de que o seu método de remover ideias fictícias é o caminho
certo, temos apenas que perguntar: «De que impressão é a minha ideia derivada?» Ao
olhar para dentro de mim, afirma Hume, não encontro nada, excepto uma série de
impressões fugazes – ódio, amor, calor, dor, imagens, sons, cheiros e coisas do género –,
mas nada permanente, nada que persista em todas as alterações. Em suma, nenhuma
impressão corresponde à nossa ideia de eu. A ideia presente na palavra «eu» pode juntar-
se a «unicórnio»: «eu» é uma palavra que expressa uma ideia ilusória, uma ficção da
imaginação.

Mas as coisas tornam-se muito piores. A abordagem que Hume faz da natureza do
entendimento humano começa com uma distinção entre dois tipos de «objectos da razão
humana»: relações de ideias e matérias de facto. As relações de ideias podem ser descobertas
apenas pela razão. Podemos saber que os solteiros são homens não casados ou que duas
vezes cinco é metade de vinte pensando apenas sobre as relações entre as ideias em causa. As
matérias de facto, porém, podem apenas ser descobertas pela experiência. Podemos meditar o
tempo que quisermos sobre a proposição de que o sol está a brilhar, mas só saberemos se ela é
verdadeira olhando pela janela. Há outra diferença entre estes dois tipos de proposição. O
contrário de uma matéria de facto é possível, mas se negarmos uma relação entre ideias
verdadeira, incorremos numa contradição. O sol pode não ser brilhante, mas não se pode estar
mais longe da verdade do que quando alegamos que os solteiros são casados.

James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books (London, 2006, págs. 66-68). Trad.
Maria Miguel Pires (rev. científica Logosferas).

Postado por Helena Serrão às 01:29 Nenhum comentário:


Marcadores: Conhecimento, David Hume

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Texto para resumo para Mafalda 11I e Diogo Pauleta 11B


O problema da causalidade
«Talvez um exemplo concreto possa ajudar a compreender o modo como David Hume abordou o
problema da causalidade.
Imagine um bebé a quem os pais sempre tenham dado brinquedos macios e moles para se
entreter. Esse bebé atira frequentemente os brinquedos para fora do berço, e eles caem no chão
com um baque surdo. Um dia, o tio dá-lhe uma bola de borracha. O bebé examina-a de todos os
ângulos, cheira-a, mete-a na boca, apalpa-a, depois deixa-a cair. Não obstante o exame
cuidadoso a que submeteu a bola, o menino não tem maneira de saber que, em vez de cair P
suavemente no chão como os outros brinquedos, ela salta. Só pelo exame de uma coisa, diz-nos
Hume constantemente, não poderemos dizer quais os efeitos que ela pode produzir. Só
podemos determinar as suas consequências em resultado da experiência.
Imagine agora que o tio do menino ficou à espera de ver como brincaria ele com o seu presente.
Quando o tio vê a bola cair, espera que ela salte. Se você lhe perguntar o que fez a bola saltar,
ele responderá: ‘O meu sobrinho deixou-a cair’; ou ainda: ´Há uma conexão necessária entre
deixar cair uma bola e ela saltar’.
Mas Hume faz uma pergunta mais profunda. Qual é a experiência que o tio tem e que falta à
criança? O tio faz uso de conceitos como ´causa’ e ‘conexão necessária’. Se não se tratar
apenas de palavras vazias, têm de se reportar de algum modo à experiência. Mas qual é, no
caso presente, a experiência? A experiência do tio difere da experiência do sobrinho em quê?
A diferença consiste, para Hume, num facto simples. Ao
contrário do sobrinho, o tio pôde observar, num grande
número de casos, primeiro uma bola de borracha cair ao
chão e, depois, o salto que ela dá. Na verdade, nunca na
sua experiência houve um só caso em que uma bola de
borracha tenha sido deixada cair numa superfície dura sem
saltar, ou uma bola de borracha tenha começado a saltar
sem primeiro ter caído ou ter sido atirada. Segundo Hume,
há uma ‘conjunção constante’ entre a queda da bola e o
salto que dá.
Mas como é que essa diferença de experiências entre o tio
e o sobrinho engendra conceitos como ´causa’ e ‘conexão
necessária’? O tio viu uma bola de borracha cair ao chão e
saltar em muitas ocasiões, enquanto o sobrinho só viu isso acontecer uma vez. Todavia, o tio
não viu nada que o sobrinho não tivesse visto também, apenas teve mais vezes a mesma A
sequência de experiências. Ambos observam que uma bola cai e depois salta – nada mais. O
tio, porém, acredita que há uma conexão necessária entre a bola cair e saltar. E isto não é ▼

alguma coisa que ele encontre na sua experiência; a sua experiência é a mesma que a do
sobrinho, só que se repetiu muitas vezes. Então, donde vem a ideia de uma conexão necessária,
de uma ligação causal, se nunca foi directamente observada?
A ideia de que existem conexões causais entre os acontecimentos tem um papel importante no ►

modo como compreendemos o mundo. Mas, quando vamos atrás desta ideia com seriedade , ►

descobrimos que a conexão causal não é uma coisa que tenhamos alguma vez observado ►

concretamente. Podemos dizer que o acontecimento A causa o acontecimento B , mas, quando


examinamos a situação, descobrimos que é o acontecimento A seguido do acontecimento B
aquilo que de facto observámos. Não existe uma terceira entidade, uma ligação causal, que ►

também seja observada. Donde vem então essa ideia?» ►

Adapatado a partir de: Bryan Magee, Os grandes filósofos, Editorial Presença, Lisboa, 1989, pp. 141-143.




Postado por Helena Serrão às 13:28 Nenhum comentário:
Marcadores: David Hume, Resumo ►


quarta-feira, 27 de novembro de 2019 ►





Texto para resumo Ana Pinção 11B e Kleber 11I
"D
fa
q
o
e
e
e
re
p

R
O ataque de Hume aos princípios da causalidade e da indução

Para Hume, a ideia de causa é a ideia de «conexão necessária». O


seu argumento aponta em duas direções: primeiro, para a demolição da
ideia de que existem conexões necessárias na realidade; segundo, para
uma explicação do facto de nós termos, não obstante, a ideia de conexão
necessária. O argumento é objeto de importantes alterações na
primeira Inves gação e é abundante em sub lezas e complexidades
sobre as quais não nos podemos aqui deter. No essencial, reduz-se ao
seguinte.

A ideia de conexão necessária não se pode derivar de uma


impressão de conexão necessária, pois tal impressão não existe.
Se A causa B, não podemos observar nada da relação entre os
acontecimentos par culares A e B, a não ser a sua con guidade no
espaço e no tempo e o facto de A preceder B. Dizemos
que A causa B apenas quando a conjunção de acontecimentos do po A e
do po B é constante – ou seja, quando há uma conexão regular de
acontecimentos do po A e do po B, levando-nos a esperar B sempre
que observamos um caso de A. Tirando esta conjunção constante, nada
mais há que observemos, e nada mais que pudéssemos observar, na
relação entre A e B que pudesse cons tuir um vínculo de «conexão
necessária». Sendo assim, e dada a premissa de que todas as ideias
derivam de uma impressão, devia pensar-se que não há a ideia de
conexão necessária e que aqueles que falam dela estão apenas a proferir
frases vazias e sem sen do.

Porque se sente Hume tão confiante ao dizer que não se podem


observar «conexões necessárias» entre acontecimentos? O seu raciocínio
parece ser o seguinte: só existem relações causais entre
acontecimentos dis ntos. Se A causa B, A é um acontecimento dis nto
de B. Logo, deve ser possível iden ficar A sem iden ficar B. Mas
se A e B são iden ficáveis independentemente um do outro, não
podemos deduzir a existência de B da de A – a relação entre os dois pode
apenas ser matéria de facto. As proposições que dão conta de matérias
de facto são sempre con ngentes; só as que transmitem relações de
ideias são necessárias. Se houver uma relação de ideias entre A e B, pode
haver também uma conexão necessária – como acontece com a relação
necessária entre 2 + 3 e 5. Mas nesse caso A não se dis nguiria de B, tal
como 2 + 3 não se dis ngue de 5. A própria natureza da causalidade,
como relação entre duas existências dis ntas, afasta a possibilidade de
uma conexão necessária.

Dizemos que A causa B por causa da conjunção constante


entre A e B. Esta conjunção constante leva-nos a associar a ideia de B à
impressão de A e, portanto, a esperar B sempre que deparamos com A. A
força do hábito é tal que a experiência de A força em nós esta ideia de B,
surgindo com a espontaneidade e vividez que, segundo Hume, são as
marcas da crença. Somos assim levados a acreditar que B se seguirá de A,
e esta impressão de uma coisa que determina a outra dá lugar à ideia de
conexão necessária. A impressão não é uma impressão de uma relação
causal – ou uma impressão de qualquer outra coisa que pertença ao
mundo externo. É apenas um sen mento que surge em nós
espontaneamente, sempre que nos deparamos com uma conjugação
constante de acontecimentos. Porém, interpretamos erradamente a ideia
resultante, supondo que ela deriva de uma impressão de uma conexão
necessária entre A e B. É daí que vem a ideia de causa como conexão
necessária. Trata-se de um exemplo da tendência da mente para «se
disseminar sobre os objetos» –, para ver o mundo povoado com
qualidades e relações que têm a sua origem em nós sem correspondência
na realidade externa.

Hume colocou ainda um outro problema aos defensores da


inves gação cien fica, problema esse que veio a ser conhecido por
problema da indução. Posto que a relação entre objetos e
acontecimentos dis ntos é sempre con ngente, não pode haver
inferências necessárias do passado para o futuro. É, portanto,
perfeitamente concebível que um acontecimento que sempre ocorreu
com aparente regularidade e em obediência àquilo a que chamamos leis
da natureza, possa um dia não ocorrer. O sol pode não nascer amanhã e
isto seria perfeitamente compa vel com a nossa experiência passada. O
que jus fica então que afirmemos com base na experiência passada que
o sol nascerá amanhã ou mesmo que é provável que nasça? Este
problema pode ser reformulado a um nível mais geral. Dado que as leis
cien ficas afirmam verdades universais, aplicáveis em qualquer tempo e
qualquer lugar, nenhuma quan dade de provas pode esgotar o seu
conteúdo. Logo, nenhuns dados à disposição de criaturas finitas como
nós podem afiançar a sua verdade. O que nos autoriza então a afirmá-
las?

Roger Scruton, Uma Breve História da Filosofia Moderna (Tradução


Carlos Marques).

Postado por Helena Serrão às 01:01 Nenhum comentário:


Marcadores: David Hume

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Texto para resumo António Ferro

David Hume e o problema da causalidade

Todos os raciocínios que se referem aos factos


parecem fundar-se na relação de causa e efeito.
Apenas por meio desta relação ultrapassamos os
dados da nossa memória e dos nossos sentidos. Se
tivésseis que perguntar a alguém por que acredita na
realidade de um facto que não constata
efectivamente, por exemplo, que o seu amigo está no
campo ou em França, ele vos daria uma razão, e
esta razão seria um outro facto: uma carta que
recebeu ou o conhecimento das suas resoluções e
promessas anteriores. Um homem, ao encontrar um
relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta,
concluiria que outrora havia homens na ilha. Todos os
nossos raciocínios sobre os factos são da mesma
natureza. E constantemente supõe-se que há uma
conexão entre o facto presente e aquele que é
inferido dele. Se não houvesse nada que os ligasse,
a inferência seria inteiramente precária. A audição de uma voz articulada e de uma conversa
racional na obscuridade dá-nos segurança sobre a presença de alguma pessoa. Porquê?
Porque estes sons são os efeitos da constituição e da estrutura do homem e estão estreitamente
ligados a ela. Se analisamos todos os outros raciocínios desta natureza, verificaremos que se
fundam na relação de causa e efeito e que esta relação se acha próxima ou distante, directa ou
colateral. O calor e a luz são os efeitos colaterais do fogo, e um dos efeitos pode ser inferido
legitimamente do outro.

Portanto, se quisermos satisfazer-nos a respeito da natureza desta evidência que nos dá


segurança acerca dos factos, deveremos investigar como chegamos ao conhecimento da causa
e do efeito.
Ousarei afirmar, como proposição geral, que não admite excepção, que o conhecimento desta
relação não se obtém, em nenhum caso, por raciocínios a priori, porém nasce inteiramente da
experiência quando vemos que quaisquer objetos particulares estão constantemente conjugados
entre si. Apresente-se um objecto a um homem dotado, por natureza, de razão e habilidades tão
fortes quanto possível; se o objecto lhe é completamente novo, não será capaz, pelo exame
mais minucioso de suas qualidades sensíveis, de descobrir nenhuma de suas causas ou dos
seus efeitos. Mesmo supondo que as faculdades racionais de Adão fossem inteiramente
perfeitas desde o primeiro momento, ele não poderia ter inferido da fluidez e da transparência da
água que ela o afogaria, ou da luz e do calor do fogo, que este o consumiria. Nenhum objecto
jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, tanto as causas que o produziram
como os efeitos que surgirão dele; nem pode a nossa razão, sem o auxílio da experiência,
jamais tirar uma inferência acerca da existência real de um facto.

(...) Apresentai dois pedaços de mármore polido a um homem sem nenhum conhecimento de
filosofia natural; ele jamais descobrirá que eles aderirão de tal maneira que se requer grande
força para separá-los em linha recta, embora ofereçam menor resistência à pressão lateral.
Considera-se também indiscutível que o conhecimento dos eventos que têm pouca analogia com
o curso corrente da natureza se obtém por meio da experiência; assim, ninguém imagina que se
teria descoberto a explosão da pólvora ou a atração da pedra-ímã por argumentos a priori. Da
mesma maneira, quando se supõe que um efeito depende de um mecanismo complicado ou de
elementos de estrutura desconhecida, não temos dificuldade em atribuir todo o nosso
conhecimento à experiência. Quem será capaz de afirmar que pode dar a razão última por que o
leite e o pão são alimentos apropriados ao homem e não a um leão ou a um tigre?

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Sessão IV

Postado por Helena Serrão às 06:28 Nenhum comentário:


Marcadores: Conhecimento, David Hume

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Texto para apresentação Afonso 11B

Já David Hume foi bastante crítico em relação a Descartes nesta questão (de haver um
conhecimento absoluto) e avançou com a sua própria tese sobre o assunto. Diz Bertrand Russel
sobre o escocês:

"O que preocupa Hume é o conhecimento incerto, tal como o que é obtido de dados empíricos
por inferências que não são demonstrativas. Isso inclui todo o nosso conhecimento a respeito do
futuro, e a respeito de partes não observadas do passado e do presente. De facto, inclui tudo
excepto, por um lado, observação directa, e, por outro, a lógica e a matemática."
Em primeiro lugar, David Hume separa conhecimento de relação de ideias e conhecimento de
factos ou probabilidade. Se no conhecimento as “relações de ideias são dependentes das
próprias ideias”, na probabilidade existem três relações: a identidade, as situações no tempo e
lugar e a causalidade.

Assim, enquanto a negação do conhecimento de relação de ideias implica contradição, na


probabilidade (conhecimento dos factos), a negação é igualmente uma probabilidade. Desse
modo, as descobertas filosóficas devem ser caracterizadas pelo probabilismo, pois o Homem
tem várias limitações temporais e perceptivas. Ou seja, todas as explicações devem ser vistas
como tentativas destinadas a serem substituídas por outras, o que dá espaço à opinião e à
controvérsia.

David Hume rejeita “todo o tipo de ilusões metafísicas”, toda a crença em milagres. Segundo ele,
os milagres violam as leis da Natureza, que se baseiam na experiência.

No entanto, Hume, não é um céptico radical que negue totalmente a capacidade do sujeito para
conhecer algo, o que acaba por ser uma contradição, pois ao afirmar a impossibilidade de
alcançar o conhecimento, já está a concluir algo – conhecer que o conhecimento não é possível.

Hume nega a existência de princípios evidentes inatos em nós. Para ele, todo o conhecimento é
como que uma cópia de algo, cujo objecto já tivemos acesso de alguma maneira.

Hume põe ainda o problema da causalidade em cima da mesa. Ele refuta o princípio da
causalidade segundo o qual todas as acções têm uma relação causa efeito, submetendo-o a
uma análise critica bastante rigorosa, baseando-se na sua teoria de conhecimento segundo a
qual sem impressão sensível não há conhecimento, visto todas as ideias derivarem das
sensações, à qual deve corresponder uma impressão.

A partir daí, ele negou que possamos fazer qualquer ideia de causalidade pois ela é apenas
resultado do nosso hábito mental, visto que na Natureza nada nos mostra que sempre que
acontece alguma coisa, tem que acontecer outra.

Só temos essa ideia porque nos habituamos a ver a sucessão de fenómenos um por um, o que
nos induziu em erro.

Por exemplo, quando está vento e uma árvore abana dizemos que esta é uma relação causa
efeito, quando nada nos prova que assim é. Apenas o dizemos porque nos habituamos a ver os
dois fenómenos ocorrer muitas vezes simultaneamente. A experiência até nos pode dizer que o
vento pôs os galhos da árvore em movimento, mas ela nunca nos diz nada sobre
acontecimentos futuros, com os quais ainda não tivemos qualquer contacto: única fonte de
conhecimento valida. Isto porque a inferência causais estão sempre sujeitas ao erro perante
novos objectos, novos sujeitos e novas situações, que podem mudar as ideias que temos em
nós. Desse modo, vemos que para Hume, o conhecimento só pode corresponder a acções
passadas, ou quando muito actuais e nunca futuras. Para ele, “cada caso, é um caso” e nada
nos diz o que vai acontecer amanhã.

Esta questão é de grande importância para David Hume, porque o racionalismo de Descartes
apoia-se sobretudo nas relações causa efeito.

Provando que não existem relações na Natureza e apenas fenómenos desligados uns dos
outros, Hume rejeita, o inatismo cartesiano, introduzindo um dado novo nas teses empiristas
afirmando que a identidade entre a ordem das coisas e das ideias é fruto dos nossos hábitos
mentais ou na crença que existe uma ligação necessária entre os fenómenos.

A partir daí, Hume nega as três verdades de René Descartes (o ser, Deus e o mundo).

Em relação ao “eu”, que Descartes provara através da intuição, Hume não acredita que o
pensamento intuitivo seja um caminho seguro para a verdade, devido à impossibilidade do
Homem poder enumerar causas.

Todos nós mudados em muitos aspectos à medida que os anos passam, sem que nós próprios
mudemos em si mesmo. No entanto, Hume nega a distinção entre os vários aspectos de uma
pessoa e o sujeito que transporta essas mesmas características. Ou seja, para o escocês,
quando fazemos uma introspecção, notamos um conjunto de percepções, sentimentos,
memorias e pensamento, mas nunca nos apercebemos de algo a que possamos chamar de
“eu”. Ou seja, o ser humano não passa de um conjunto de “percepções transitórias” que a nada
pertencem e de um composto de elementos relacionados em permanente mudança.

Depois, relativamente à questão da existência de Deus, que Descartes provara baseando-se em


que tudo tem uma causa, e a primeira dessas causas era Deus,

Hume diz ser impossível conhecer Deus pois a provas cartesianas estão fundadas na existência
de ideias inatas, originárias da razão, nas quais não acredita. Ou seja, para ele o Homem não
pode conhecer algo do qual não tem uma única percepção.

Por fim, Hume nega igualmente a existência do mundo exterior que para ele não passa de uma
crença. E é uma crença que não podemos eliminar, mas que também não podemos provar por
qualquer tipo de argumento, seja ele dedutivo ou indutivo.

David Hume também refuta a ideia de um conhecimento universal, claro e distinto. Visto que
dentro das limitações o nosso conhecimento é sempre incompleto, a realidade reduz-se aos
fenómenos aos quais os nossos sentidos têm acesso, sendo que cada um pode ter sensações
diferentes nessa experiência, abrindo-se espaço à subjectividade.
in Trabalhos de Filosofia

Postado por Helena Serrão às 11:22 Nenhum comentário:


Marcadores: David Hume

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Texto para resumo Tomás 11B

Courbet

Hume quer atacar todas as conceções e ideias que não provêm de impressões sensíveis
correspondentes. Ele afirmava que queria afugentar a bagunça sem sentido que dominara
durante tanto tempo o pensamento metafísico e o desacreditara. Usamos conceitos complexos
no quotidiano sem nos questionarmos se possuem de fato legitimidade. É ocaso da ideia de um
eu ou de um núcleo da personalidade. Esta ideia constituía o fundamento da filosofia de
Descartes. Era a ideia clara e evidente sobre a qual edificou toda a sua filosofia.— Espero que
Hume não tenha negado que eu sou eu. Senão falava por falar.— Sofia, se há uma coisa que eu
quero que tu aprendas neste curso de filosofia, é que não podes tirar conclusões precipitadas.—
Continua.— Não, tu podes usar o método de Hume para analisares o que entendes pelo teu
“eu”.— Então tenho de perguntar primeiro se a ideia do eu é simples ou complexa. — E a que
conclusão chegas?— Tenho de admitir que me sinto bastante complexa. Por exemplo, sou
bastante bem humorada. É difícil decidir-me em relação a certas coisas. Além disso, posso
gostar e não gostar da mesma pessoa.— Nesse caso, a tua ideia do eu é complexa.— Está
bem. Agora tenho de perguntar se tenho uma impressão complexa correspondente a mim. E
tenho-a mesmo? Tenho-a sempre?— Não tens a certeza?— Estou sempre a mudar. Hoje já não
sou a mesma que há quatro anos. A minha disposição e a minha ideia de mim própria mudam de
minuto para minuto. Por vezes, sinto-me de repente uma pessoa totalmente nova.— Então a
sensação de se ter um núcleo de personalidade inalterável é uma ideia falsa. A nossa ideia do
eu consiste numa longa série de impressões particulares que tu nunca experimentaste
“simultaneamente”. Hume fala de um “conjunto de diversos conteúdos da consciência que se
seguem uns aos outros com uma rapidez inacreditável e estão constantemente em fluxo e
movimento”. A nossa consciência seria “uma espécie de teatro”, em que esses diversos
conteúdos “entram em cena uns a seguir aos outros, vão e vêm e se misturam entre si numa
variedade infinita de situações e disposições”. Para Hume não temos qualquer personalidade de
base formada em que essas opiniões e disposições vêm e vão. É como as imagens numa tela
de cinema: pelo fato de mudarem tão depressa, não vemos que o filme é composto por imagens
individuais. Na realidade, estas imagens não estão ligadas, ou seja, na realidade, o filme é um
conjunto de instantes.— Acho que desisto.— Isso quer dizer que desistes da ideia de teres um
núcleo de personalidade imutável?— Sim, significa isso.— E ainda há pouco tinhas uma opinião
completamente diferente! Tenho de acrescentar ainda que a análise de Hume da consciência
humana e a sua negação de um núcleo imutável da personalidade já tinham sido expostas dois
mil e quinhentos anos antes no outro extremo do planeta.— Por quem?— Por “Buda”. É quase
inquietante a semelhança do modo como ambos se exprimem. Buda via a vida humana como
uma série ininterrupta de processos mentais e físicos que alteram o homem a cada instante. O
bebê não é o mesmo que o adulto, e eu não sou o mesmo que ontem. Buda afirmava: “Nada há
de que eu possa dizer “isto é meu”, nada de que possa dizer “isto sou eu”. Não há, portanto,
nenhum eu nem nenhum núcleo constante da personalidade.”— Sim, isso tem uma semelhança
surpreendente com Hume.— Como continuação da ideia de um eu imutável, muitos racionalistas
tinham por evidente que o homem tem uma alma imortal. — Mas essa também é uma ideia
falsa?— Pelo menos é o que dizem Hume e Buda. Sabes o que se conta que Buda disse aos
seus discípulos imediatamente antes da sua morte?— Não, como é que posso saber?— “Todas
as coisas compostas estão sujeitas à corrupção.” Hume poderia ter dito o mesmo. Ou Demócrito.
Sabemos que Hume recusou qualquer tentativa de provar a imortalidade da alma ou a existência
de Deus. Isso não significa que achasse ambas as coisas impossíveis, mas achava um absurdo
racionalista acreditar que é possível provar a fé religiosa com a razão humana. Hume não era
cristão; mas também não era um ateu convicto. Ele era um homem a quem chamamos
“agnóstico”.— E o que significa isso?— Um agnóstico é uma pessoa que não sabe se Deus
existe. Ao receber a visita de um amigo no leito de morte, o amigo perguntou-lhe se acreditava
na vida após a morte. Diz-se que Hume respondeu que também era possível que um bocado de
carvão atirado ao fogo não ardesse.— Ah...— A resposta foi típica da sua incondicional ausência
de preconceitos. Ele apenas aceitava como verdade aquilo de que tinha experiências sensíveis
seguras. Deixava todas as outras possibilidades abertas. Ele não rejeitou nem a crença em
Cristo nem a crença em milagres. Mas em ambos os casos se trata justamente de “fé” e não de
“razão”. Podes dizer que a última ligação entre fé e saber foi desfeita com a filosofia de Hume.—
Disseste que ele não negou categoricamente os milagres.— Mas isso também não significa que
tenha acreditado em milagres. Ele sublinha que os homens têm uma forte necessidade de
acreditar naquilo a que hoje chamaríamos “acontecimentos sobrenaturais”. Mas todos os
milagres que se narram aconteceram muito longe de nós ou há muito tempo. Hume recusava os
milagres simplesmente porque não tinha visto nenhum. Mas ele também não viu que não pode
haver milagres.— Tens que ser mais preciso.— Hume caracteriza um milagre como uma rutura
das leis da natureza. Mas também não podemos afirmar que “percebemos” as leis da natureza.
Vemos que uma pedra cai no chão quando a largamos, e se não caísse também o veríamos.—
Eu chamaria a isso um milagre — ou algo sobrenatural.— Acreditas então em duas naturezas,
uma natureza e uma “natureza” sobrenatural. Não estarás a voltar ao absurdo nebuloso dos
racionalistas?— Talvez, mas acho que a pedra cai sempre ao chão quando a largamos.— E por
quê?— Estás a ser insistente.— Eu não sou insistente, Sofia. Para um filósofo, nunca é errado
fazer perguntas. Talvez estejamos a falar do ponto mais importante da filosofia de Hume.
Responde agora: como é que podes ter tanta certeza de que a pedra cai sempre ao chão?— Eu
vi-o tantas vezes que tenho a certeza.— Hume diria que viste muitas vezes uma pedra cair ao
chão, mas nunca viste que “cairá sempre”. Normalmente diz-se que a pedra cai ao chão devido
à lei da gravitação. Mas nós nunca vimos essa lei. Só vimos que as coisas caem.— Não é a
mesma coisa?— Não é bem a mesma coisa. Disseste que achas que a pedra vai cair ao chão
porque viste isso muitas vezes. É precisamente esse o problema de Hume. Estás tão habituada
a que uma coisa se siga à outra que esperas que, cada vez que deixas cair uma pedra, suceda o
mesmo. Deste modo, surgem ideias daquilo a que chamamos “leis constantes da natureza”.—
Ele quer dizer que se pode pensar que a pedra não caia ao chão?— Ele estava tão convencido
como tu de que a pedra vai cair ao chão sempre, mas diz que não percebeu “porque é que” é
assim.— Não nos afastamos das crianças e das flores?— Não, muito pelo contrário. Podes
consultar as crianças como testemunhas para as asserções de Hume. Quem te parece que
ficaria mais surpreendido se uma pedra ficasse no ar uma ou duas horas — tu ou uma criança
de um ano?— Eu ficaria mais surpreendida.— E por que, Sofia?— Provavelmente porque eu
compreendo melhor do que uma criança pequena que isso não seria natural.— E porque é que a
criança não entenderia?— Porque ainda não aprendeu o que é a natureza.— Ou porque a
natureza não se tornou para ela uma coisa habitual.— Eu percebo o que queres dizer. Hume
queria levar as pessoas a tomarem mais atenção.— Agora, dou-te a seguinte tarefa: se tu e uma
criança pequena veem juntas um grande ilusionista — que, por exemplo, põe alguma coisa
suspensa no ar —, qual das duas se divertiria mais durante o espetáculo?— Eu diria que era eu.
— E por quê? — Porque eu compreenderia o que estava errado.

Jostein Gaarder, O mundo de Sofia

Postado por Helena Serrão às 15:39 Nenhum comentário:


Marcadores: David Hume

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Resumo para a aluna Raquel 11B

Harry Gruyaert, n.1941, Antuérpia


O EMPIRISMO DE DAVID HUME

Hume começa, tal como Locke, por considerar os conteúdos da mente, os objetos do entendimento
humano ou – nas suas palavras – as perceções da mente ou materiais do pensamento. Hume divide estes
conteúdos em impressões e ideias. Há uma clara dis nção, já notada por Locke, entre sen r realmente
dor, calor, raiva, ver uma paisagem, ouvir uma sirene ou desejar uma bebida fresca e recordar mais tarde
ou imaginar estas experiências. Hume usa o termo «impressões» para indicar «as nossas perceções mais
vividas, quando ouvimos, ou vemos, ou sen mos, ou amamos, ou odiamos».
As ideias têm menos força, são cópias fracas das impressões, trazidas à mente pela memória ou pela
imaginação.
Qual é, para Hume, é a relação entre ideias e impressões? Hume afirma que «todas as nossas ideias ou
perceções mais débeis são cópias das nossas impressões ou perceções mais “vividas”». Por outras
palavras, as ideias derivam apenas da experiência. É claro que Hume sabe que algumas ideias – por
exemplo, a minha ideia de unicórnio – não correspondem exatamente a uma impressão par cular. Mas as
partes que compõem a minha ideia de um unicórnio – ideias de cavalos e de chifres – são cópias de coisas
que já vi no mundo. Limitei-me a combinar ideias derivadas da experiência de uma maneira nova. A ideia
de Hume é que apesar de a mente parecer porventura quase ilimitada na sua capacidade de imaginar e
pensar abstratamente, a matéria bruta sobre a qual ela opera é sempre extraída de impressões.
É este o cerne do empirismo, e Hume oferece alguns argumentos em sua defesa. Sugere que pensemos
nas nossas próprias ideias e que tentemos apontar uma que não dependa de uma impressão original.
Ataca também diretamente a ideia favorita dos racionalistas – a ideia de Deus –, e mostra que podemos
adquiri-la pensando nas qualidades das nossas mentes exagerando depois tanto quanto quisermos o que
há nelas de bom e de sábio. Finalmente, considera os indivíduos que têm falta de uma ap dão sensorial –
os cegos, por exemplo – e nota que estes não têm nenhuma ideia de cor. A explicação, argumenta, é que
as ideias são cópias das impressões, e que quem nunca teve impressões relevantes não pode ter as ideias
correspondentes.

Há certos factos sobre impressões e ideias que nas mãos de Hume têm consequências filosóficas de longo
alcance. Comparadas com as impressões, as ideias são naturalmente fracas e obscuras e é fácil cometer
dois pos de erros quando pensamos sobre elas.
Em primeiro lugar, podemos confundir uma ideia com outra, podemos pensar que se jus fica rar uma
certa conclusão acerca de uma ideia quando o que realmente acontece é que estamos a pensar numa
ideia semelhante, mas diferente.
Em segundo lugar, e pior, usamos palavras para representar ideias, e o nosso discurso pode desenrolar-se
alegremente mesmo que as partes relevantes da nossa linguagem não tenham correspondência com
alguma ideia fixa ou determinada. Numa disputa filosófica, quando não estamos a falar em cavalos e de
chifres, mas em ideias muito complexas e abstratas, é fácil termos uma conversa em que são usadas as
mesmas palavras para mencionar coisas diferentes. Podemos até discu r sobre nada. A nossa disputa
poderá ser sobre ideias ilusórias, meros fantasmas sem base na experiência – o equivalente filosófico dos
unicórnios.

Estas reflexões fornecem um procedimento que nos permite remover as ideias fic cias e encontrar saídas
para as disputas filosóficas, e mesmo para acabar com elas. Hume escreve:
Quando por conseguinte temos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem nenhum
significado ou ideia (como é muito frequente), basta-nos perguntar sobre a impressão de que a ideia
supostamente deriva. E se for impossível encontrar alguma, isto servirá para confirmar a nossa suspeita.
Ao clarificar assim as ideias, podemos razoavelmente esperar que possam ser removidos todos os
conflitos que possam surgir sobre a sua natureza e realidade.
As consequências destas linhas são estonteantes.
Consideremos a ideia de um eu durável, algo de substancial que persiste por detrás das muitas mudanças
que experimentamos ao vivermos a vida. Suponho, por exemplo, que esta manhã sou essencialmente o
mesmo eu que era quando me fui deitar a noite passada. Não só isso, acho também que sou o mesmo eu
que era na juventude que desaproveitei. Acho que serei o mesmo eu enquanto viver. Sem dúvida, algumas
coisas mudaram: cresci, ganhei algumas cicatrizes, o meu cabelo está a tornar-se um pouco grisalho.
Contudo, parece haver algo de essencial, o meu verdadeiro eu, que persiste em todas estas alterações
acidentais.
O EU
Se concordarmos com o princípio de Hume sobre a relação entre ideias e impressões, e se es vermos
convencidos de que o seu método de remover ideias fic cias é o caminho certo, temos apenas que
perguntar: «De que impressão é a minha ideia derivada?» Ao olhar para dentro de mim, afirma Hume,
não encontro nada, exceto uma série de impressões fugazes – ódio, amor, calor, dor, imagens, sons,
cheiros e coisas do género –, mas nada permanente, nada que persista em todas as alterações. Em suma,
nenhuma impressão corresponde à nossa ideia de eu. A ideia presente na palavra «eu» pode juntar-se a
«unicórnio»: «eu» é uma palavra que expressa uma ideia ilusória, uma ficção da imaginação.
Mas as coisas tornam-se muito piores. A abordagem que Hume faz da natureza do entendimento humano
começa com uma dis nção entre dois pos de «objetos da razão humana»: relações de ideias e matérias
de facto. As relações de ideias podem ser descobertas apenas pela razão. Podemos saber que os solteiros
são homens não casados ou que duas vezes cinco é metade de vinte pensando apenas sobre as relações
entre as ideias em causa. As matérias de facto, porém, podem apenas ser descobertas pela experiência.
Podemos meditar o tempo que quisermos sobre a proposição de que o sol está a brilhar, mas só
saberemos se ela é verdadeira olhando pela janela. Há outra diferença entre estes dois pos de
proposição. O contrário de uma matéria de facto é possível, mas se negarmos uma relação entre ideias
verdadeira, incorremos numa contradição. O sol pode não ser brilhante, mas não se pode estar mais longe
da verdade do que quando alegamos que os solteiros são casados.

James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books (London, 2006, págs. 66-68). Trad. Maria Miguel
Pires (rev. cien fica Logosferas).

Postado por Helena Serrão às 06:21 Nenhum comentário:


Marcadores: David Hume, Empirismo

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Texto para resumo Mariana 11E

David Hume e a ideia de causalidade


Em que consiste a ideia de relação de causa-efeito ou de causalidade?
Consiste na ideia de conexão necessária entre acontecimentos, isto é, que sempre
que, em certas condições, acontece A, acontece inevitavelmente B de tal maneira que A produz
necessariamente B.

Qual a posição de David Hume sobre a ideia de


causalidade?
Segundo Hume, todo o conhecimento e raciocínios (indutivos) das questões de facto
baseiam-se na relação de causa e efeito. O nosso conhecimento dos factos restringe-se às
impressões atuais e às recordações de impressões passadas. No entanto, muitas vezes
fazemos afirmações sobre o mundo que nos levam além da experiência imediata (ou passada).
Eis alguns exemplos: O sol vai nascer amanhã; Todos os corvos são negros; Esta barra de
metal dilatou por causa do calor. Todas estas afirmações referem-se a questões de facto, pelo
que Hume considera que são verdades contingentes, conhecidas a posteriori. Ora, dizer que o
sol vai nascer amanhã é afirmar algo que não foi observado. E também não podemos observar
os corvos todos. Finalmente, com base apenas nos sentidos, só podemos ver que a barra de
metal dilatou e que está quente – mas não que dilatou por causa do calor. Em qualquer destes
casos, estamos a ir além da experiência. Isso só é possível através do raciocínio indutivo (que
nos permite generalizar e prever a partir de casos semelhantes no passado e presente) e da
utilização da ideia de causalidade (que julgamos refletir uma relação de conexão necessária
entre acontecimentos, como por exemplo entre o calor – causa – e a dilatação da barra de metal
– efeito).

Mas será que podemos justificar esta relação de causalidade?


Há duas possibilidades: a relação de causa-efeito pode ser conhecida a priori ou baseia-se
inteiramente na experiência (a posteriori). Ora, segundo Hume, esta relação não pode ser
conhecida a priori. Se fosse possível saber a priori que certos factos têm o poder de causar
outros, poderíamos antecipar, sem nunca ter visto algo semelhante, que o impacto de uma bola
de bilhar noutra bola de bilhar produz o movimento da segunda. No entanto, sem experiência
não é possível saber nenhuma destas coisas.
Estará então a experiência em condições de justificar a relação de causa-efeito? A experiência
apenas pode revelar entre dois acontecimentos uma sucessão temporal e conjunção constante e
nada permite afirmar que o primeiro tenha realmente poder ou energia para produzir o segundo.
Portanto, o conhecimento da relação de causa-efeito não pode ser obtido a priori nem a
posteriori.

Segundo Hume, esta ideia forma-se na mente do sujeito em consequência de um


hábito, que é fruto da associação que se verifica na sua mente entre as ideias correspondentes
aos acontecimentos observados e não algo que descubramos nas próprias coisas. Assim, David
Hume diria que, em bom rigor, quando pomos a água ao lume, «não sabemos que a água vai
aquecer, ainda que esse facto seja possível ou muito provável até». Em tal caso, não temos um
saber, mas apenas uma crença ou suposição, e isto porque não existe qualquer justificação,
estritamente racional (a priori) ou empírica (a posteriori), para a nossa crença na existência de
relações causais. É o hábito baseado em repetições passadas, em que sempre que um
fenómeno ocorria, um outro se lhe seguia, que nos leva a crer, isto é, a ter a tendência
psicológica para formar a expetativa de que um é causa e o outro efeito. Com base no hábito
(psicológico) e não na razão ou nos próprios objetos, acreditamos na igualdade futura dos
acontecimentos. No entanto, não temos nenhum conhecimento direto do que seja a conexão
necessária dos fenómenos, pelo que as inferências feitas desse modo são apenas
provavelmente verdadeiras. A ideia de causalidade não é senão uma ficção, uma ilusão,
uma criação subjetiva ou psicológica da mente humana.

Postado por Helena Serrão às 13:34 Nenhum comentário:


Marcadores: David Hume, Resumo

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