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RESUMO
A autoeficácia pode ser definida, de forma geral, como um conjunto de crenças pessoais
que influenciam a capacidade das pessoas de exercerem controle sobre os eventos que
afetam suas vidas. Esse construto está, atualmente, no foco de estudo de diversificadas
áreas do conhecimento científico por sua ampla aplicação. Nesta pesquisa, porém, o
estudo do construto tem o enfoque de investigação por um referencial específico: a
Psicologia do Esporte. Nesse âmbito, os estudos sobre a autoeficácia se concentram na
avaliação de crenças e julgamentos dos atletas sobre suas capacidades de executar ações
exigidas para se atingir certo desempenho esportivo. O objetivo deste trabalho foi
investigar as contribuições dos estudos do fenômeno da autoeficácia na Psicologia do
Esporte, considerando a produção do conhecimento sobre a teoria da autoeficácia e seus
desdobramentos metodológicos em diferentes contextos. A metodologia utilizada nesse
trabalho foi a pesquisa bibliográfica. Os resultados da pesquisa apontam que a
autoeficácia tem associação e integração com os objetivos da psicologia esportiva.
Assim, é uma via de acesso para a construção de instrumentos psicológicos para sua
mensuração nesse contexto.
ABSTRACT
The self-efficacy can be defined broadly as a set of personal beliefs that influence
people's ability to exercise control over events that affect their lives. This construct is
currently the focus of study in diverse areas of scientific knowledge for its broad
application. In this research, however, the study of the construct is the focus of
investigation by a specific benchmark, the Sports Psychology. In this context, the
studies focus on self-efficacy in the evaluation of athletes' beliefs and judgments about
their ability to perform actions required to achieve certain performance sports. The aim
of this study was to investigate the contributions of studies of the phenomenon of self-
efficacy in Sport Psychology, considering the production of knowledge about the theory
1
Mestre em Psicologia, Doutorado em andamento em Psicologia na Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, Professora Titular do curso de Psicologia do Complexo do Ensino Superior de Santa
Catarina.
2
Pós-Doutorado – Universitat de Barcelona, Professor titular e pesquisador no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Coordenador do
Laboratório Fator Humano – UFSC.
3
Acadêmico do curso de Psicologia da UNIVALI.
Endereço para correspondência: Laboratório Fator Humano – Centro de Filosofia e Ciências Humana
Departamento da Psicologia - sala 13 a – Universidade Federal de Santa Catarina - Campus Universitário
Trindade – CEP 88040-970 – Florianópolis/SC - Brasil
of self-efficacy and their methodological consequences in different contexts. The
methodology used in this study was the literature search. The survey results indicate
that self efficacy is associated with integration and the objectives of sports psychology,
so it is an access route for the construction of psychological instruments for its
measurement in this context.
Keywords: Self efficacy, Development, Evolution, Sport, High-yield
INTRODUÇÃO
4
Albert Bandura, nascido em 1925, é psicólogo canadense, autor da Teoria Social Cognitiva, derivado do
behaviorismo da Psicologia, que atribui ao comportamento humano um componente cognitivo. Foi o
precursor dos estudos sobre autoeficácia, principalmente no contexto educacional, e através da teoria da
auto-eficácia, Bandura conseguiu descrever a relação entre as mudanças cognitivas e comportamentais.
5
Agência Humana: Significa em outros termos pessoa ou agente humano – “Os seres humanos não são os
únicos a terem desejos, motivações e escolhas. Eles compartilham com membros de outras espécies...
Parece ser particularmente característicos dos seres humanos a capacidade de formar... desejos de
segunda ordem” “... a capacidade de avaliar desejos é um traço crucial na agência humana” (TAYLOR,
1985 citado por SOUZA; MATTOS, org,).
descritos em termos de atitudes e julgamentos de ações baseadas no repertório de
experiências passadas, que orientam comportamentos futuros; 2- Processos
motivacionais: descritos como ações intencionais e dirigidas a uma meta, que depende
da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos); 3- Processos
afetivos: reações emocionais dos indivíduos, tais como estresse e ansiedade,
experimentados em situações ameaçadoras; 4- Processos de seleção: escolhas das
pessoas frente ao que vão fazer, de acordo com aquilo que se sentem capazes de
executar com sucesso.
Tais dimensões da autoeficácia descrevem como as pessoas refletem sobre suas
condutas perante determinadas situações e, portanto, a autoeficácia pode ser considerada
um fenômeno que afeta diretamente a vida das pessoas. Nesse sentido, é importante
ressaltar que a consciência funcional, inserida nas quatro dimensões da autoeficácia,
envolve o acesso intencional e o processo de ação deliberativa para a seleção,
construção, regulação e avaliação de cursos de ação (BANDURA, 2001). Carlson
(1997) ressalta a importância central do papel que a consciência desempenha na
regulação cognitiva da ação e do fluxo de eventos mentais.
A autoeficácia, também denominada autocrença (self-referent), influencia
igualmente as escolhas das pessoas, no que elas desejam fazer, na motivação e na
perseverança frente a dificuldades (RABELO; NERI, 2005). Essa autocrença que as
pessoas possuem sobre suas capacidades permite que exerçam o controle sobre esses
acontecimentos que influenciam suas vidas e exprimem realizações e motivações com
forte impacto sobre pensamento, afeto, motivação e ação (BANDURA, 1993). Ainda,
segundo o autor (2001), as crenças que as pessoas possuem em suas capacidades, para
fazer o que for necessário ao próprio sucesso, predizem melhor a conduta de suas
crenças de autoeficácia, tão relevantes para o domínio de desempenhos particulares.
Moreno, Rubistini e Machado (2006) afirmam que a autoeficácia incide no nível
de convicção de uma pessoa para executar com sucesso determinado tipo de
comportamento. Isso é necessário para o alcance do resultado desejado, ou seja, são os
pensamentos pessoais e a crença acerca das próprias capacidades em realizar
determinadas tarefas. Na perspectiva sócio-cognitiva de Bandura, a autoeficácia
desempenha características fundamentais no funcionamento humano, tais como: metas e
aspirações, expectativas de resultados, tendências afetivas, percepções dos
impedimentos (obstáculos) e oportunidades do meio social (BANDURA, 2001).
As crenças de autoeficácia, portanto, são “julgamentos cognitivos de
competência” e estão ligadas diretamente à maneira com que o indivíduo analisa sua
capacidade de exercer determinadas situações com sucesso, ou o alcance de objetivos
específicos ao contexto “orientados para o futuro” (PAJARES; OLAZ, 2008, p. 112).
No entender de Bandura (1997), as crenças de autoeficácia influenciam as escolhas
feitas pelos indivíduos, a intensidade do esforço desprendido, a persistência frente a
obstáculos, a qualidade do desempenho, além da forma como as pessoas se sentem. Um
desempenho bem sucedido em determinada habilidade poderá elevar as crenças de
autoeficácia, fortalecer os interesses e as metas de acordo com a habilidade específica
de cada indivíduo, caracterizando, dessa forma, o autoconceito positivo (PEDRON,
2007).
O julgamento de autoeficácia, termo usado por Bandura até o ano de 1986, como
sinônimo de crenças de autoeficácia, opera como intercessor entre as capacidades reais,
que são as aptidões, conhecimentos e habilidades, bem como o próprio desempenho do
indivíduo. Advém desse pressuposto o fato do ser humano possuir a necessidade de ser
bem sucedido e, de certa forma, quando o sucesso não é alcançado, surge uma forte
disposição ao abatimento, ao desestímulo, restringindo suas possibilidades de prosseguir
e obter seus objetivos (BANDURA, 1986, BZUNECK, 2001). Pessoas que detêm uma
forte percepção de autoeficácia conseguem planejar metas mais ambiciosas e
empenham-se em alcançá-las. Dessa forma, indivíduos com elevada autoconfiança
fazem uma autoavaliação positiva em relação a sua capacidade, a sua habilidade em
lidar com cada situação de sua profissão e assim se perceberão mais eficazes
(CHERNISS, 1993).
Diante disso, é possível perceber a relação da autoeficácia com a resiliência,
uma vez que ambas agem como formas da pessoa alcançar uma melhor qualidade de
vida na superação dos obstáculos, ampliando a capacidade de reagir de diferentes
formas diante do fracasso (BARREIRA; NAKAMURA, 2006). Atributos como
autoestima positiva, habilidade de dar e receber nas relações com os outros, ser
disciplinado, ter responsabilidade, reconhecer e desenvolver seus próprios potenciais,
ser receptivo a novas idéias, ser criativo, ter interesse no que faz e tolerar o sofrimento
são fundamentais para o desenvolvimento da resiliência (FLACH, 1991). Pesquisas
posteriores complementam que, para a ampliação da resiliência, as pessoas devem
possuir características como otimismo, organização, flexibilidade, concentração, e pró-
atividade (CONNER, 1995, BARREIRA; NAKAMURA, 2006).
O fenômeno da autoeficácia tem sido estudado por diversos pesquisadores em
produções e publicações na ciência psicológica, principalmente no cenário
internacional. Esse desenvolvimento teórico, produzido há décadas, ocorre nas
diferentes áreas de conhecimento da Psicologia, entre elas, a Psicologia do Esporte.
Entretanto, no cenário nacional esses estudos são desenvolvidos fundamentalmente no
contexto educacional, impulsionados pela ampliação da avaliação psicológica no Brasil.
A teoria da autoeficácia está pautada nos estudos de Albert Bandura, o precursor
desse construto, por volta do ano 1977, ao publicar o artigo Self-efficacy: Toward a
Unifying Theory of Behavioral Change, em que apresenta os estudos sobre o que
atualmente chamamos de autoeficácia, e atribui a esse construto um papel fundamental
na análise da mudança do comportamento humano.
É importante salientar a teoria da autoeficácia, baseada na teoria social-cognitiva
de Bandura, que demonstra uma visão do homem como “um indivíduo que se constitui
inserido em sistemas sociais, nos quais, por meio de trocas, ocorrem adaptações e
mudanças” (AZZI; POLYDORO, 2006 p. 17). Para Bandura (1986), na Teoria Social
Cognitiva, os indivíduos são auto-organizados, pró-ativos, autorreflexivos e
autorregulados, ou seja, o pensamento humano e a ação humana são considerados
produtos de uma inter-relação dinâmica entre influências pessoais, comportamentais e
ambientais. Portanto, a teoria sócio-cognitiva (TSC) ensina que a pessoa, em suas ações,
é produto e produtor dos sistemas sociais, ou seja, as pessoas podem desempenhar
influência sobre suas ações, demonstrando que a maioria dos comportamentos humanos
são interativos (NUNES, 2008, BANDURA, 1986). Importa destacar que essa teoria vê
o indivíduo como agente e produto das trocas sociais, sendo a ação dele, na
transformação de seu ambiente, explicada e teorizada pela teoria da “agência humana”
(AZZI; POLYDORO, 2006, p. 17).
Historicamente, o conceito de autoeficácia passou por modificações,
inicialmente compreendido como expectativa e percepção de resultados, derivando
assim, dimensões de análise relacionadas à convicção, ao julgamento e às crenças. Tais
mudanças foram detectadas ao longo dos trabalhos publicados por Bandura entre os
anos de 1977 a 1997 (AZZI; POLYDORO, 2006). É possível verificar diferenças na
definição do conceito, sendo que a principal mudança está na dimensão de análise, pois
decorria a idéia de produção bem sucedida (convicção) e, posteriormente, para uma
avaliação da competência pessoal (julgamento e crenças) (AZZI; POLYDORO, 2006).
Em resumo, o que se deduz dessa evolução histórica é que houve uma ampliação
na dimensão de análise em função da complexidade do fenômeno, atingindo, assim,
aspectos como escolhas, esforço desprendido nas atividades, grau de persistência
perante os obstáculos e como as pessoas se sentem em executar tais tarefas.
CONSIDERAÇÕES
6
Controle da ansiedade: de um atleta de alto-rendimento está ligado ao controle das consequências do
comportamento, tais como regulação das sensações provocadas pela ansiedade; respiração ofegante,
reações impulsivas – agressões à colegas e à adversários, preocupações excessivas com o desempenho.
Ansiedade é denominada um estado psíquico determinado por sentimentos e sensações que são frutos do
resultado de quanto às pessoas duvidam de suas habilidades para enfrentarem as situações que geram
estresse (PESCA, 2004).
ou geridos no âmbito da atividade esportiva em geral. Cabe ao psicólogo especialista
nesta área desenvolver e operar conhecimentos e métodos, visando compreender em que
medida a participação em esportes afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o
bem-estar dos atletas.
De modo mais específico, é fundamental investigar e intervir nas diferentes
dimensões psicológicas da conduta humana, seja ela cognitiva, motivadora, afetiva, ou
sensório-motora. Essas dimensões psicológicas centrais no papel do psicólogo esportivo
vão ao encontro dos processos da teoria da autoeficácia (cognitivos, motivacionais,
afetivos e de seleção) e dos mecanismos da agência pessoal.
Por fim, é necessário ressaltar a importância de instrumentos de medidas em
psicologia esportiva, produzidos no cenário nacional, uma vez que são escassos nessa
área de atuação, deixando a desejar no diagnóstico desses profissionais. O baixo
desenvolvimento instrumental é, atualmente, um dos maiores problemas enfrentados
pelos psicólogos que trabalham com atletas, por isso a necessidade de estudos rigorosos
em instrumentos psicológicos para o esporte. Pensando dessa maneira, e relacionando o
fenômeno autoeficácia aos objetivos da psicologia esportiva, percebe-se grande
associação e integração desse fenômeno com essa área de atuação e uma grande via de
acesso à construção de instrumentos psicológicos.
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